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Prática de Leitura e Escrita

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Prática de Leitura e Escrita

A palavra escrita

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Profa. Dra. Ana Elvira Luciano Gebara

Profa. Ms. Diana Maria de Morais

Revisão Textual:Profa. Ms. Silvia Augusta Albert

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• A palavra falada e a palavra escrita: comunicação e poder

• A escrita e sua importância

• O ato de escrever

É necessário que você leia com atenção os textos disponibilizados, visite os sites sugeridos, leia obras importantes da bibliografia e procure estabelecer relação entre a teoria e a prática, já que você perceberá que os textos foram concebidos com muitos exemplos.

Lembramos a você da importância de realizar todas as leituras e as atividades propostas dentro do prazo estabelecido para cada unidade, no cronograma da disciplina. Para isso, organize uma rotina de trabalho e evite acumular conteúdos e realizar atividades no último minuto. Em caso de dúvidas, utilize a ferramenta “Mensagens” ou “Fórum de dúvidas” para entrar em contato com o tutor.

É muito importante que você exerça a sua autonomia de estudante e que desenvolva sua proatividade para construir novos conhecimentos.

Bons estudos!!

· Nesta Unidade – “A palavra escrita” – você encontrará, no texto teórico, alguns caminhos possíveis para realizar a leitura de um texto escrito, identificando seu gênero e suas características.

A palavra escrita

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Unidade: A palavra escrita

Contextualização

A escrita como poder de inserção social

Por que aprender a escrever e a entender o funcionamento da escrita?Ao ser humano, cabe o privilégio de sonhar para além daquilo que é dado e feito. Dentro

desse princípio, em um determinado momento da história humana, a linguagem falada que possibilitava a comunicação entre os seres, já não atendia totalmente as necessidades do homem. Naquele momento, faltava-lhe o domínio da linguagem escrita, essencial para a realização de sua plena interação social. Hoje, principalmente porque vivemos em uma sociedade letrada, em que as relações entre as pessoas é mediada pela palavra escrita, em boa parte do tempo, o domínio da escrita é fundamental.

Destacam-se, desse modo, as diferenças de importância atribuídas ao domínio da palavra falada ou escrita em distintos períodos da história do homem. Em determinada época a oralidade era a força da comunicação para a persuasão e o convencimento e menor importância era dada à escrita. Esta foi adquirindo força com a modernização da sociedade, a invenção da imprensa, o advento das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s), pelo fato de o domínio da escrita ter se tornado um bem-social necessário para enfrentar o cotidiano em todo e qualquer contexto.

Pela maneira como foi introduzida culturalmente na vida do homem, a escrita tornou-se um símbolo de “educação, desenvolvimento e poder” (MARCUSCHI, 2004, p.17).

O caso de pessoas que, apesar de já adultas, ainda não dominam a escrita como meio de comunicação e de interação social, pode servir de ilustração para a afirmação acima. Essas pessoas percebem que só a oralidade não atende a todas as necessidades básicas nos dias de hoje e resolvem buscar o acesso à escrita meio da escola.

Para exemplificar, um fragmento da história de uma mulher, 46 anos, que trabalha como diarista. Viveu anos de aflição por chegar atrasada ao emprego. Como não conseguia ler, associava os itinerários dos ônibus a cores. Isso funcionou até que uma lei municipal determinou que todos os ônibus adotassem a mesma cor. Essa foi a maior razão que a levou à escola. No seu pedido de socorro, expressou: “preciso conhecer as letras e aprender a ler para poder trabalhar”.

Percebe-se que essa pessoa e outras tantas em situações semelhantes, por algum tempo, conseguiram atender às necessidades básicas de sobrevivência, comunicando-se por meio da linguagem oral e utilizando-se de suas leituras de mundo, pois trabalharam, constituíram família, puderam ter conta em bancos. Escrever, para essas pessoas, pode significar a vontade de ser “alguém na vida” como costumam dizer.

Podemos, então, afirmar que o desenvolvimento das ciências e das tecnologias passou a exigir o conhecimento de outras linguagens para a execução de atividades simples do dia a dia.

Os argumentos de que a posse da escrita dá certo poder liberador já são suficientes para justificar a busca por conhecimentos novos, mais amplos e elaborados.

Aprender a escrever auxilia o homem a assumir sua voz e conseguir autonomia nos meios em que circula: no trabalho, nas redes sociais, na educação etc. Vamos ver como isso se dá no texto principal da Unidade.

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A palavra falada e a palavra escrita: comunicação e poder

Palavras, palavras....palavras. Elas podem nos dar a sensação de poder e de prazer como nos diz a escritora Adélia Prado. O poder e o prazer de dizer.

Poder comunicar-se foi sempre uma necessidade humana. Uma necessidade suprida, inicialmente, pela palavra falada e depois por várias outras formas que, por meio de invenções e novas tecnologias, contribuíram para que as barreiras do tempo e da distância fossem rompidas.

As formas podem ser aqui destacadas pelos sinais deixados pelo povo da Antiguidade: os hieróglifos dos egípcios, os ideogramas dos chineses e japoneses e o alfabeto dos fenícios.

Já as invenções como o papel, a imprensa, o lápis e a caneta, usados até hoje, e atualmente, as novas tecnologias, surgiram para facilitar a comunicação escrita e marcarem a história da humanidade ao longo dos tempos. Um fato bem brasileiro que mostra a importância da escrita como registro da história é a carta de Pero Vaz de Caminha. Nela, foram retratadas características que permitem ao leitor, mais de 500 anos depois, voltar no tempo e compreender a história dessa terra e do povo que nela vivia.

Cada uma das inovações tecnológicas relacionadas à escrita permitiu avanços na socialização da palavra escrita. Pode-se dizer que surgiu um novo leitor, diferente do que se tinha até então, aquele que era considerado apenas um ouvinte de leituras realizadas por outros, uma vez que o conhecimento da escrita era poder de poucos. Então, esse novo leitor passou a ter acesso à palavra que já não era mais só falada e, assim, a utilizar tanto uma quanto a outra forma de expressão e comunicação, conforme sua necessidade.

Com isso, percebe-se que, em toda e qualquer situação da comunicação humana, faz-se necessário o uso da palavra, oral e/ou escrita, como forma de dizer. No entanto, é possível compreender a importância da escrita como garantia de registro da história e da evolução humanas.

Ainda menina, descobri o poder e o prazer da palavra. [...] É uma coisa fantástica escrever, descobrir sua própria voz. Quem escreve sabe disso.

Adélia PradoRevista Na Ponta do Lápis.dez. de 2010,pp. 2-3.

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Unidade: A palavra escrita

A escrita e sua importância

A expansão social do uso da linguagem escrita foi acompanhada pelo desenvolvimento social, pelas mudanças na política, na economia e na compreensão do homem a esse respeito.

Sabe-se que, há mais de três mil anos, o homem já fazia tentativas de registrar seus pensamentos, seus sentimentos e aspectos de sua vida por meio da escrita e que esse fato é justificado pelas linguagens gráficas que foram criadas ao longo da história, marcas de uma trajetória que registram a possibilidade de compreender a evolução do homem, enquanto ser social.

É possível observar um exemplo das tentativas acima citadas, por meio das pinturas e das gravuras rupestres aqui do Brasil, registradas no Parque Nacional Serra da Capivara, localizado no sudeste do estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias1 .Observe a seguir.

Figura 1 - Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Escolhida como logomarca doParque). Disponível em: commons.wikimedia.org

Conforme atestam os pesquisadores e as informações arqueológicas disponíveis, essa pintura e outras do Parque teriam sido realizadas na pré-história por vários grupos étnicos que habitavam aquela região. Também chamadas de arte rupestre, feita nas paredes de cavernas ou abrigos, são marcas que se apresentam tanto como formas de expressão para externar sentimentos quanto de comunicação.

No Brasil, outros registros da história chamam a atenção para um fato pouco difundido que é a familiaridade dos escravos com a escrita. Tal fato pode ser percebido em registros que tratam do “Movimento Malê” em que se faz referência aos revoltosos e às marcas trazidas no corpo e aos amuletos com papéis escritos por eles mesmos. Também chama a atenção um trecho de Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre, que fala da Bahia de 1835: “nas senzalas da Bahia havia talvez maior número de gente sabendo ler e escrever do que no alto das casas-grandes” (FREYRE, 1992, p. 49).1 As imagens fazem parte do acervo da FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano no Piauí. Podem ser encontradas no site www.fumdham.org.br/parque.asp

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Glossário

Movimento Malê - Levante de escravos e libertos islâmicos na Bahia, em 1835.

As pesquisas sobre tal tema buscam avaliar o poder atribuído aos negros que sabiam ler, escrever ou assinar o nome. Na época da escravidão no Brasil, quando um negro sabia assinar, já ocupava posição de certo poder numa sociedade basicamente iletrada.

Confira a pesquisa de doutorado de Christianni Cardoso Morais, do Departamento de Educação da Universidade Federal de São João-del-Rei, em Minas Gerais, sobre a disseminação da escrita e os tipos de assinaturas dos negros, na época da escravidão no Brasil.

A evidência da importância que era dada às pessoas que sabiam ler e escrever, no século XVIII e princípio do XIX, confirma-se em Freyre (1992) quando ele conta de como ricos fazendeiros buscavam um genro que “[...] em vez de quaisquer outros dotes apenas soubesse ler e escrever” (FREYRE, 1992, p. 5)

Com o tempo, a sociedade brasileira evoluiu quanto à aquisição da escrita e os fatos aqui citados demonstram a importância dada tanto à leitura quanto à escrita, sendo que esta é ainda compreendida pelos que não a têm como um salto de inserção social, na relação sujeito/mundo.

A escrita se revela como sinônimo de desenvolvimento e poder, quando é dada à escola, enquanto ‘detentora do saber’, a função de desenvolver no indivíduo as habilidades para escrever.

Por essa razão, a escrita deve ser ensinada e aprendida como “uma atividade cultural complexa [...], de forma que a leitura e a produção de textos devam ser consideradas como atividades constitutivas da vida dos sujeitos, na construção da cidadania”, conforme defende Perfeito (1999, p. 91).

A concepção do que é leitura e escrita se transformou ao longo desses séculos. Antes, a escrita era vista como decodificação ou representação da linguagem oral; dava-se, por exemplo, ênfase ao método de ensino e não ao processo de aprendizagem.

Percebeu-se, ao longo do tempo, que a escrita é um modo de compreender o mundo e que só dominar o código não significa que o sujeito domina a escrita e sabe fazer uso funcional dela. Percebeu-se também que a escola precisaria desenvolver as habilidades de ler e escrever a partir da alfabetização, mas priorizando a linguagem para o uso social, pois “ser um usuário competente da escrita é, cada vez mais, condição para a efetiva participação social” (BRASIL, 1997, p. 21).

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Unidade: A palavra escrita

O ato de escrever

Escrever não é mole, não.

Esse é um comentário que pode ser dito quando nos deparamos com o desafio de escrever. Não importa em que gênero se faz necessário a escrita. Pode ser um bilhete, uma carta, um conto, uma crônica, uma ideia para registrar. Isso porque o ato de escrever requer a organização de ideias para a intenção de dizer.

Vamos ver no texto de Marinho, se é possível para o escritor descobrir qual a sensação ou o sentido do ato de escrever.

Fonte do texto: Jorge Miguel Marinho – professor de literatura, ator, roteirista, escritor. In. Revista Na ponta do Lápis.n.11.ago.2009.

“João escreveu três palavras, colocou as três numa garrafa e jogou tudo no mar. Não se sentiu mais conhecido nem sentiu a vida melhor. Mas o sentimento de diminuir as distâncias ou aproximar as pessoas foi lá no fundo do seu coração. Acontece o seguinte: quando João escreveu as três palavras que um dia alguém achou na garrafa e não entendeu muito bem porque elas apenas diziam “Eu estou aqui”, ele procurou com todas as mãos e todas as letras de todos os tempos o primeiro “sentido de escrever”, que é partilhar com o mundo o que existe dentro de cada um.”

O partilhar com o mundo põe em cena um elemento importante da comunicação escrita: o enunciatário, aquele para quem se escreve, o leitor do nosso texto.

Assim, as perguntas que devemos fazer quando nos propomos a escrever devem levar em conta para quem escrevemos: Quem é esse leitor? Qual a relação que temos com ele? Quais os temas que podemos tratar se pensarmos nele? Quais os gêneros que podemos utilizar para nos comunicarmos com ele?

Fazer um recado escrito para alguém que faz parte do nosso cotidiano é um ato simples e mais fácil. Agora, quando se pensa em escrever para alguém com quem não se tem uma relação de proximidade ou para um leitor desconhecido, o desafio é maior. Precisamos identificar quem é esse leitor e como ele poderá reagir ao nosso texto, ou seja, atribuir sentidos e interagir com ele.

A partir daí, precisamos determinar qual o gênero com o qual vamos trabalhar.

Uma forma de identificarmos quais os gêneros que circulam no grupo em que vivemos é observarmos as formas de interação linguística. No ambiente virtual do curso, um dos gêneros que têm como função a comunicação é o e-mail. Se pensarmos nas formas de avaliação das unidades, os gêneros são os exercícios de autocorreção, os fóruns, as atividades de aprofundamento etc. Há outros gêneros no espaço virtual, os avisos, os esquemas de unidade entre outros.

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Como podemos começar a escrever em um determinado gênero? Primeiro, é importante ter tido contato com um texto desse gênero; sabermos qual a sua função, ou seja, em quais situações e espaços ele circula e quais temas ele pode abordar. Vamos tomar como exemplo, resposta ao Fórum de Discussão.

Qual o objetivo desse gênero? É a exposição de ideias, conceitos, comentários, relacionando o que você leu na unidade e o que construiu de conhecimentos sobre determinado tema a uma questão proposta. É também objetivo do fórum estabelecer uma troca de ideias, aliando a sua resposta a de outros colegas e às intervenções do tutor.

Quem são os leitores desse gênero? Os seus leitores serão o tutor e seus colegas de curso quando você escrever, depois há o deslocamento de posição e você será o leitor deles até que as participações no Fórum tenham seu término.

Como deve ser o nível de linguagem desse gênero? Como seus leitores estão longe de você no espaço e como não são próximos (você ainda os está conhecendo), a linguagem deve ser formal, sem gírias, expressões regionais, ou abreviações que podem confundir o leitor.

A língua portuguesa como todas as línguas do mundo refletem a organização da sociedade. Assim, a língua que chamamos portuguesa apresenta muitas variantes internas. Não falamos o português da mesma maneira do Oiapoque ao Chuí; há diversas variantes regionais. Também nos diferenciamos na língua de acordo com outras características, como a idade (adultos e crianças falam de forma diversa, por exemplo); sexo (mulheres e homens têm formas próprias para falar); escolaridade (o grau de escolaridade promove diferenças na linguagem); profissão (médicos falam de uma maneira enquanto os advogados de outra); entre outros. Essas variantes conferem identidade aos falantes e aos escreventes.

Para saber mais, sugerimos, neste primeiro momento, os fundamentos do Projeto Vertentes da Universidade Federal da Bahia. Lá você encontrará os suportes teóricos para compreender essas variações na língua: http://www.vertentes.ufba.br/projeto/fundamentos

Como deve ser a organização do texto que você vai escrever? A estrutura do texto, sua participação no Fórum, deve ser feita de forma direta para facilitar a compreensão, ou seja, as frases na ordem direta. Os períodos não devem ser longos. Além disso, o seu texto precisa manter uma relação com a pergunta proposta e, depois, você necessita relacionar seu comentário com os dos outros participantes.

Não se esqueça de que sua escrita é sua imagem para os outros participantes, assim, é importante verificar a ortografia das palavras (consulte um dicionário); a concordância verbal e nominal (por exemplo: 2% não gostam de revisar o texto – concordância verbal); a regência dos verbos e dos nomes (exemplos: quem gosta, gosta de algo; a referência ao fato).

Verifique também se as ideias não se contradizem, quer dizer, se você não afirmou que era a favor de algo e depois escreveu ser parcialmente contrário. Outro ponto a ser evitado é a repetição, que não faz o texto progredir e dispersa a atenção do leitor. Esses cuidados são chamados de revisão de texto e esses avisos servem para todos os gêneros escritos.

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Unidade: A palavra escrita

Vamos imaginar que você devia responder a uma questão como essa:

Leia a citação e escreva no Fórum se você concorda ou não com Fernando Sabino.

Escrevo sobre aquilo que não sei para ficar sabendo. Tenho a impressão de que tudo que a gente escreve, consciente ou inconscientemente, é sempre uma catarse. É uma forma de recuperação do sentido da vida.

Fernando Sabino (1923 – 2004), escritor e jornalista

Para poder responder à questão, você precisa entender o que Sabino escreveu. Há duas questões-chave para entender a fala de Fernando Sabino: a primeira se refere ao fato de que, para ele, escrever é construir o conhecimento sobre algo desconhecido; e a segunda é saber o que é catarse.

GlossárioCatarse é uma palavra de origem grega. Segundo o Dicionário Houaiss eletrônico,

Acepções

substantivo feminino

1. na religião, medicina e filosofia da Antiguidade grega, libertação, expulsão ou purgação daquilo que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por esta razão, o corrompe

(...) 1.2 Rubrica: estética.

No aristotelismo, descarga de desordens emocionais ou afetos desmedidos a partir da experiência estética oferecida pelo teatro, música e poesia

1.2.1 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: estética, teatro.

purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, esp. dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico

O verbete indica que o ato de escrever leva Sabino a uma purificação e a um estado de compreensão de seus sentimentos de sua natureza.

Com esses dois pontos principais, observe duas participações possíveis nesse Fórum:

1Acho que se a gente for escrever sobre o que não conhece, a escrita fica muito estranha. Como é que posso escrever sobre algo que ainda não sei? Não concordo com Sabino. Preciso saber sobre o que vou escrever, porque, se não souber, não consigo escrever.

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2Se a escrita for catarse, concordo com Sabino, porque, enquanto escrevo, posso descobrir novas ideias, elas são resultado dessa minha elaboração, como se eu fosse ao mesmo tempo o escritor e o leitor.

A participação 1 tem como ponto positivo se opor a ideia de Sabino, no entanto, está confusa por repetir a mesma ideia muitas vezes (não se pode escrever sobre o que não se sabe).

Já a participação 2 é mais clara. Começa retomando o texto de Sabino, e continua exemplificando o que acontece com o romancista: ser escritor e o primeiro leitor do texto.

As duas tomadas de posição pelos alunos são possíveis, pois os participantes podiam concordar ou discordar contanto que apresentassem boas razões para uma ou outra posição. No entanto, a participação 1 não satisfez o que se esperava por apresentar um discurso circular (repetir sem necessidade, sem acrescentar); enquanto a segunda soube trazer um argumento que concordava e exemplificava o que o Sabino havia proposto.

Vamos agora a mais dois exemplos.

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Gente, Sabino é o cara, né? Concordo que ele diz que quando a gente escreve rola uma sintonia com o mundo, num é? Eu mesmo estou maluco com esse papo de sintonia aqui.

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Não concordo com o Sarbino. Quando a gente escreve alguma coisa tem que ter na cabeça. A gente escreve porque quer diser muito alguma coisa para os outros.

No caso das participações 3 e 4, as participações são superficiais, não mostram porque concordam ou discordam da posição de Sabino.Nesse caso, os tutores estimulam os alunos a fazer novas participações. O que se sobressai em ambas é a concordância e a discordância com a citação de Sabino.

Quanto à forma como essas participações ocorreram, os comentários que o tutor poderia fazer para os alunos envolvidos são:

1) Na participação 3, foram utilizadas a) expressões da gíria (“rola uma sintonia” e “estou maluco com esse papo de sintonia”) que indicam uma proximidade que esse aluno não têm com os colegas no espaço virtual; b) uma concordância que poderia passar despercebida na fala, mas na escrita, fica clara a inadequação, “concordo que ele diz”. O verbo concordar exige a preposição “com”. O adequado seria “concordo com o que ele diz”.

2) Na participação 4, algumas coisas precisam ser adequadas, tais como a grafia errada do nome do autor e do verbo dizer; e a ausência de pontuação que pode levar a uma leitura equivocada do texto. A grafia errada pode dar a impressão de que a escrita não foi pensada

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Unidade: A palavra escrita

e de que não houve revisão. Já o caso do uso da vírgula evitaria uma leitura errada do que se pretendeu escrever. No período, “Quando a gente escreve alguma coisa tem que ter na cabeça.”, seria necessária uma vírgula separando a oração que indica a ocorrência do fato de escrever e a afirmação sobre esse fato. Do modo como está é possível ler “Quando a gente escreve alguma coisa”, e então a outra frase fica sem sentido “tem de ter na cabeça”. A vírgula separaria as orações e o resultado seria “Quando a gente escreve, alguma coisa tem de ter na cabeça.” Uma outra forma de evitar essa leitura equivocada seria o uso da ordem direta da segunda oração: “quando a gente escreve tem de ter alguma coisa na cabeça.”

GlossárioPeríodo é formado por uma ou mais orações. Os limites do período são a letra maiúscula até a pontuação que indica o fim do período (ponto final; ponto de exclamação; ponto de interrogação; e reticências).

Como vocês observaram nas participações, a escrita exige preparação e planejamento.

Como se planeja a escrita?

Começamos por observar as especificidades do gênero o qual vamos utilizar para escrever. A partir daí, vamos identificar as funções do gênero; os temas que podem ser objeto desse gênero; qual o nível de linguagem utilizado; quais as características composicionais presentes.

GlossárioGêneros “são textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.” Por isso, para trabalhar com gêneros é necessário saber quais as funções que eles assumem nas várias esferas em que vivemos socialmente (política, comercial, jornalística, privada etc.) e qual a relação entre o escritor/falante e leitor/ouvinte nesses textos no nosso tempo e no espaço em que vivemos. É necessário também conhecer sua estrutura e temas que aborda. Há vários gêneros que utilizamos para viver em sociedade: o requerimento de matrícula é um deles; outro é o anúncio de revista, entre tantos outros.

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BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Gêneros do discurso: unidade e diversidade.Disponível em: https://goo.gl/biso9A

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BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Gêneros do discurso: unidade e diversidade.

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A linguista apresenta o conceito de gênero tendo como base dois autores: Bakhtin e Marcuschi.

Com esses dados, podemos começar. Escrevemos uma primeira versão e, depois, relemos verificando o que pode não estar adequado aos nossos objetivos; daí reescrevemos e, então, colocamos o texto em circulação.

Vamos observar outro exemplo? O e-mail é um gênero que pode utilizar variados níveis de linguagem e pode ter vários objetivos.

Imaginemos um e-mail para um amigo e outro para seu chefe. Nos dois, você vai informar os leitores (em um o seu amigo e em outro, seu chefe) que você está cursando a licenciatura em Letras Online. Você já deve ter entendido que esses e-mails serão diferentes, porque as pessoas que vão ler o e-mail estabelecem uma relação diferente com você.

No caso do seu chefe, informar sobre o curso pode ser necessário porque há provas no fim dos módulos que você precisa fazer ou porque você quer acessar o site para estudar durante o horário de almoço. Já para o seu amigo, você pode querer contar para compartilhar algo que você acha interessante fazer, e os amigos são pessoas que ficam contentes com nossa felicidade, não é isso?

Afinal, escrever é entender, como dissemos anteriormente, as relações diversas entre as pessoas de um grupo social, e encurtar espaços e, às vezes, ultrapassar as distâncias temporais. É uma forma de projetar você e o que você quer ou precisa dizer, informar, apresentar, partilhar, desenvolver... Dessa forma, quando for escrever, não se esqueça de planejar começando por identificar em qual gênero você deve escrever, para quem, com qual objetivo e como dizer.

Vamos pensar agora o que fazer como professores na escola ao ensinarmos a escrever...

Escrever é um processo complexo, mas que pode ser ensinado e aprendido. Sabendo que a escola tem obrigação de ensinar a ler e a escrever, a maneira como o desenvolvimento desse processo acontece, dará o tom ao ato de escrever do aluno.

É isso que faz com que cada um tenha uma relação diferente com o ato de escrever. É preciso saber para quem dizer, o que se quer dizer e qual a melhor forma de fazê-lo. Eis a razão de focar a quem se destina a produção escrita.

Daí entra a situação do aluno que escreve para que o professor leia. Este último, na condição de autoridade, tem o “domínio do ato de escrever”. O aluno não pode ter medo de escrever, ele precisa ser estimulado e orientado a fazê-lo.

O escritor e jornalista José Castello2 conta que, quando ainda jovem, escreveu um conto e o enviou a Clarice Lispector. Um dia, já passado certo tempo, ela lhe disse por telefone: “você é um homem muito medroso e com medo ninguém escreve”. Para ele, esse foi o conselho literário mais importante e que ainda marca a sua vida.

2 Em entrevista dada a Revista Língua Portuguesa n. 74, dez. de 2011

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Unidade: A palavra escrita

Então, é preciso perder o medo e se aventurar neste mundo de descobertas do prazer que nos dão as palavras; as palavras faladas e as palavras escritas.

Assim, fica o convite para essa aventura. Como estímulo, fragmentos de entrevistas realizadas com duas conhecidas escritoras para que o mote inicial dessa unidade possa ser transformado: escrever é mole, sim.

Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. Se não soasse infantil e falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe perguntaria:como é que se escreve? Por que, realmente, como é que se escreve? que é que se diz? e como dizer? e como que se começa? e que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranquilo? Sei que a resposta, por mais que intrigue é a única: escrevendo.

Clarice Lispector.“Como é que se escreve”.

In. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999,pp.156-157.

Faço diário. Sobre tudo e sobre nada. Vou escrevendo como passarinho canta. Mas sempre gostei de escrever. Escrevo o tempo todo, não só quando estou diante do papel ou do computador – esse é só o momento final, em que as palavras saem de mim e tomam forma exterior.

Ana Maria MachadoRevista Na Ponta do Lápis. Julho de 2010, p. 2

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Material Complementar

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No conteúdo teórico dessa unidade, destacamos alguns princípios e características da escrita em fóruns de discussão em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA).

Para saber mais sobre a escrita em fóruns de discussão, acesse o link http://www.abed.org.br/congres-so2007/tc/415200753049PM.pdf

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Unidade: A palavra escrita

Referências

FREIRE, P. A importância do ato de ler. 34. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

FREYRE, G. Casa-grande e senzala. 28. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.

GHIRALDELLI JUNIOR, P. Filosofia e história da educação brasileira. Barueri, SP: Manole, 2003.

GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,

KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2000.

LAJOLO, M. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, R. (Org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996.

______. Do mundo da leitura à leitura do mundo. 6. ed.São Paulo: Ática, 2005.

MARCUSCHI, L.A. Gêneros Textuais: Definição e Funcionalidade. In: Gêneros Textuais e Ensino. DIONÍSIO, A.P.; MACHADO, A.R.; BEZERRA,M.A. (orgs) São Paulo: Parábola, 2010.

Revista Na Ponta do Lápis n.14, jul.2010. São Paulo. Disponível em http://cenpec.org.br/biblioteca/educacao/producoes-cenpec/revista-na-ponta-do-lapis-n-14 . Acesso em 10.08.2012.

Revista Na Ponta do Lápis n. 15, dez.2010.São Paulo. Disponível em http://cenpec.org.br/biblioteca/educacao/producoes-cenpec/revista-na-ponta-do-lapis-n-15 . Acesso em 10.08.2012.

Revista Na Ponta do Lápis n.17, ago.2011.São Paulo. Disponível em http://cenpec.org.br/biblioteca/educacao/producoes-cenpec/revista-na-ponta-do-lapis-n-17 . Acesso em 10.08.2012.

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Anotações

www.cruzeirodosulvirtual.com.brCampus LiberdadeRua Galvão Bueno, 868CEP 01506-000São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000

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Rua Galvão Bueno, 868

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