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IGREJA E ESCRAVIDÃO NO BRASIL RODRIGO FERNANDES MENEGATTI Por

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IGREJA E ESCRAVIDÃO NO

BRASIL

RODRIGO FERNANDES MENEGATTI

Por

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Considerações iniciais

Portugal e Espanha, países católicos, trouxeram junto com os navios e desbravadores, os sacerdotes, os quais tinham a missão de expandir a fé para essas novas terras. Encontraram sociedades nativas com costumes totalmente diversos, ou como diria o antropólogo Lévi Strauss, os europeus encontraram “outra humanidade”.

Na colonização espanhola viu-se uma verdadeira “Guerra de Imagens” e a condenação das práticas religiosas dos nativos sendo colocada como “idolatrias” ou “demoníacas”. Realmente essa colonização foi mais dura, observando essas questões, do que a portuguesa.

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A escravidão dos africanos já era uma prática pelas próprias tribos do continente e quando os portugueses passaram a avançar pelo litoral da África, muitas tribos começaram a vender esses escravos, fato que era muito bem visto pelos conquistadores. Com a chegada à América, esses escravos serão a base da mão-de-obra da América Portuguesa.

O projeto colonial português se afirmava desenvolvendo duas formas de intervenção drásticas para a sobrevivência dos povos indígenas: usurpação de suas terras e exploração da sua força de trabalho. Na realidade, os primeiros escravos do Brasil foram os índios, também chamados, na documentação oficial, de “negros da terra” ou “gentío da terra”.

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1. Contexto Histórico

Ao longo de mais de trezentos anos (1559-1888), os escravos negros foram responsáveis pela produção de boa parte das riquezas no Brasil, no qual milhões de africanos foram tirados de suas terras para uma viagem na qual aproximadamente a metade morria de fome, doenças e maus-tratos, ou, já em terras americanas de banzo.

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Transporte: navios negreiros

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Índice de mortalidade chegava a 25%

“Em fevereiro de 1841, ao largo da costa brasileira, próximo à cidade fluminense de Campos, foi capturado o navio Dois de Fevereiro e os escravos foram imediatamente trazidos para o convés. Um registo de bordo descreveu a cena: os vivos, os moribundos e os mortos amontoados em uma única massa. Alguns desafortunados no mais lamentável estado de varíola, sofrivelmente doentes com oftalmia, alguns completamente cegos, outros esqueletos vivos, arrastando-se com dificuldade para cima, incapazes de suportar o peso de seus corpos miseráveis. Mães com crianças pequenas penduradas em seus peitos, incapazes de dar a elas uma gota de alimento”.

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2. Tipos de Escravidão

Existem diversos tipos de escravidão mais os três principais são:

1. Escravidão por raça;2. Escravidão por dívida;3. Escravidão por guerra.

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3. A Escravidão Indígena

O trabalho escravo indígena foi usado sobretudo na exploração do pau-brasil, já que

(1) o trabalho nos engenhos de açúcar era muito diferente daquele que os indígenas estavam acostumados e

(2) ao governo português interessava mais que os indígenas continuassem a se dedicar à coleta das riquezas naturais da terra, como o pau-brasil.

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4. A Escravidão Negra Africana

O tráfico de escravos foi, durante séculos, uma

das atividades mais lucrativas do comércio

internacional, com a África sendo duramente

disputadas pelas principais potências da

Europa.

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5. O Comércio de Escravos Negros

Na África, os escravos eram adquiridos por traficantes a preços baixos e revendido a preços altos na América. Muitas vezes, o açúcar, o tabaco, a aguardente e outros produtos serviam de moeda de troca. Quando chegavam à América portuguesa, os escravos eram colocados à venda em mercados. Ficavam a mostra em exposição sendo tratados como mercadorias.

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ROTAS DOS ESCRAVOS PARA O BRASIL

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6. Origem dos Escravos Negros

A maioria dos africanos trazidos à colônia portuguesa como escravos pertencia a dois grandes grupos étnicos:

os bantos, originários de Angola, Moçambique e Congo, e que se tornaram mais numerosos no centro-sul e no Nordeste;

e os sudaneses, provenientes da Guiné, da Nigéria e da Costa do Ouro, e que foram levados principalmente para a região da Bahia.

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Não existe um número exato, mas estima-se que entre 1531 a 1855 cerca de 4 milhões de africanos desembarcaram no Brasil.

A travessia para o Recife durava em média 35 dias, para a Bahia 40 dias e para o Rio de Janeiro 60 dias.

Em razão das péssimas condições de viagem, inclusive acorrentados nos porões dos navios, o índice de mortalidade era alto, por isso os navios que transportavam os negros ficaram conhecidos como tumbeiros.

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7. O Cotidiano do Trabalho Escravo

Os escravos começavam o trabalho ao raiar o dia e só paravam ao escurecer.

Seu principal alimento era a mandioca. Os escravos viviam e trabalhavam vigiados por capatazes e feitores.

Quando fugiam, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que recebiam certa quantia por escravo capturado e devolvido ao senhor.

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Os escravos que vinham para o Brasil eram de várias etnias. Vejamos:

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O DIA-A-DIA DOS ESCRAVOS

Moravam em habitações coletivas, as senzalas coberta com sapé e feita de madeira e barro, quase sempre sem privacidade.

Os escravos começavam o trabalho ao raiar o dia e só paravam ao escurecer.

Seu principal alimento era a mandioca. Os escravos viviam e trabalhavam vigiados por

capatazes e feitores. Quando fugiam, eram perseguidos pelos capitães-do-

mato, que recebiam certa quantia por cada escravo que era capturado e devolvido ao senhor.

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A vida do escravo no brasil era muito penosa.

Frequentes vezes o cativo é considerado insolente, ocioso e corrompido por natureza. O seu dono deve trata-lo com rigor a fim de que seja produtivo. Pergunta Jorge Benci, sj: “Mas que obrigação pode dever o senhor ao escravo? O espírito santo nô-las dirá; o qual distinguindo no Eclesiástico o trato que se há de dar ao jumento e ao servo, diz que ao jumento se lhe deve dar o comer, a vara e a carga e que ao servo se lhe deve dar pão, o ensino e o trabalho. Deve-se o pão ao servo, para que não se desfaleça, o ensino, para que não erre; e o trabalho, para que se não faça insolente. De fato, continua o Jesuíta nas suas instruções: “O trabalho é o melhor remédio para trazer os servos sujeitos e bem domados. Só trabalhando ele, pode viver desancando o senhor. O trabalho do servo é descanso do senhor, e esta é a razão porque é tão necessário que o senhor ocupe e faça trabalhar os escravos: para trazer sujeitos, sossegados e mansos”.

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Existiram muitas formas de justificativas para a escravidão. Para manter os negros numa lógica de subordinação, foram atribuído toda espécie de mau: Preguiça; viagem. Caráter traiçoeiro e maldoso;

malícia para justificar até mesmo os castigos físicos.

Era preciso também inculcar neles uma auto ciência de inferioridade.

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8. Os Castigos Físicos

Os principais castigos físicos sofridos pelos escravos eram: Tronco – Os escravos ficavam presos imobilizados por

horas e as vezes dias, o que provocava inchaço das pernas, formigamento e forte dores;

Bacalhau – Espécie de chicote de couro cru, que rasgava a pele; muitas vezes os feitores passavam sal nos

ferimentos, tornando a dor ainda maior; Vira-mundo – Instrumento de ferro que prendia mãos e

pés; Gargalheira – Colar de ferro com várias hastes em forma

de gancho.

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INSTRUMENTOS DE TORTURA

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ANÚNCIOS DE ESCRAVOS

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9. Os Conflitos Culturais

As principais mudanças culturais impostas aos escravos negros africanos eram:

Alimentação – Eles comiam o que o senhor lhes dava;

Roupas – Eram obrigados a vestir grossos panos de algodão;

Língua – Eram obrigados a aprender a língua local dos portugueses;

Religião – Eram obrigados a adotarem o catolicismo como religião.

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Os escravos trabalhavam...

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A RESISTÊNCIA

As principais formas eram:

1. Empreendiam fugas para os quilombos;

2. Adoeciam (banzo);

3. Suicídio;

4. As mulheres provocavam abortos;

5. Assassinavam feitores, patrões.

6. Colocavam fogo no canavial;

7. Quebravam máquinas do engenho, etc.

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10. Os Quilombos

Grande parte do escravos negros fugitivos reuniram-se em comunidades chamadas de quilombos. A maior parte dos quilombos organizaram-se no Nordeste (Sergipe, Alagoas e Bahia). Os habitantes do quilombos eram chamados de quilombolas.

Dentre os quilombos mais conhecidos, destacam-se os da Serra da Barriga, região situada entre os atuais estados de Alagoas e Pernambuco.

Eram cerca de dez quilombos, unidos sob o nome de Palmares, que resistiram durante quase todo o século XVII aos ataques do governo e dos senhores de escravos. Palmares chegou a ter entre 20 mil e 30 mil habitantes e seu líder mais importante foi Zumbi.

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Localização do Quilombo de Palmares

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Zumbi Domingos Jorge Velho

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11. O Movimento Abolicionista

Evolução das leis

Lei Eusébio de Queirós (1850) – Proibia o tráfico de escravos no Brasil;

Lei do Ventre Livre (1871) – Determinava que os filhos de mulher escrava nascidos a partir daquela data seriam livres, mas

continuariam na condição de propriedade do senhor até os 21 anos de idade;

Lei do Sexagenário (1885) – Declarava livres os escravos com mais de 65 anos de idade;

Aurea (1888) – Declarava extinta a escravidão no Brasil.

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Palmares Com o tempo, Palmares constituiu-se em estrutura

alternativa a sociedade colonial. Os negros viviam de uma agricultura mais avançada que a da colônia – enquanto os senhores do engenho só praticavam a monocultura da cana, os negros livres plantavam algodão, milho, mandioca, feijão, cana, legumes, batatas e frutas. Em Palmares, roubo, adultério, deserção ou homicídios eram punidos com a morte. As funções sociais estavam definidas. A autoridade era reconhecida por todos. As decisões mais importantes eram tomadas em assembleias, das quais participavam todos os habitantes adultos. Palmares chegou a ser uma rede de aldeias. Chegou a ter onze povoados dos quais Macaco, na Serra da Barriga em Alagoas, era a capital.

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Uma suposta omissão e conivência

Este tema é muito polêmico e no que diz respeito ao papel da Igreja surgem muitas opiniões.

- Tentaremos ficar longe das afirmações generalizadas.

- O que se busca é resgatar os fatos históricos com parcialidade e honestidade.

Uma coisa é certa, jamais aa escravidão de seres humanos se justifica na perspectiva do Evangelho. O evangelho contem em seu bojo a condenação de qualquer escravidão da pessoa humana. “Não há mias nem judeu em grego; já não há mais nem escravo nem homem livre; já não há mais homem e a mulher; pois todos vós sois um só em Jesus Cristo” (Gl 3,23).

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Justificativas e coonestações da escravidão

Nada justifica a escravidão, mas existiam algumas compreensões que se fundamentavam até na doutrina católica. Afirmações como:

“O justo cativeiro de africanos é uma consequência do pecado original”

Afirmações de que os negros eram decentemente s de Caim e como consequência de seu pecado seus descendentes deveriam sofrer o castigo celeste.

Os negros como descendentes de Cam filho de Noé amaldiçoado por ter ridicularizado seu Pai nu e embriagado.

A ideia de purificação espiritual, pois se tinha que os africanos eram povos envoltos em trevas. Deveriam dar graças a Deus pela escravidão.

Natural inferioridade dos negros. Seres intermediários com os animais.

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As vozes da Igreja Existiram Papas que apoiaram o projeto colonial. Mas também existiram constantes intervenções dos Papas

denunciando a escravidão de negros e índios. Pio II (1456-1464): Impões penas canônicas aos que escravizam.

Paulo III (1534-1549): proibiu toda espécie de escravatura na Bula Veritas ipsa.

Urbano VIII )1623-1644): declarou extinta a escravidão nas Américas.

Gregório XVI (1831-1846): renovou com pouco êxito as condenações anteriores.

Pe. Antônio Vieira: era apontado como opositor a escravidão de índios, mas defensor da escravidão negra. As ele sempre condenou a coisificação do ser humano. Procurou minimizar os efeitos da escravidão sem possibilidade de atacar o sistema escravocrata.

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As festas de santos e os Domingos eram dias de descanso para os escravos;

Alguns senhores compravam escravos doentes, cegos, cochos e com lepra para pedir esmola pelas ruas com fins de ganhar dinheiro;

As fugas: Os escravos fugitivos eram marcados. Em 1741, uma ordem

da Coroa mandava que os fujões fossem identificados com a letra F impressa a fogo.

A reincidência de fugas o castigo era cortar uma orelha.

Foi proposta ao governo que se fizesse uma lei punindo a fuga com o Corte do Tendão de Aquiles.

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A catequese dos escravos

A Igreja dos negros eram um apêndice da Igreja oficial.

A catequese dos escravos era confiada a seu próprio dono.

As exigências das catequeses eram poucos. As virtudes mais propagadas eram: paciência, resignação e obediência.

Houve uma época por parte da Igreja louvável esforço para aproximar-se do negro e sua própria realidade cultural.

Destaca-se alguns nomes de Jesuítas que conseguiram falar e catequisar os negros nas suas línguas: Padre Manuel de Lima (1667-1718): compôs um catecismo na língua

dos Ardos.

Padre Pedro Dias (1662-1700): comunicou-se bem com os escravos.

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Batismo

Era uma porta de entrada do escravo a condição de cristão. E uma porta de saída do paganismo. Eram condição de status entre os escravos.

A marca era impressa não com a água mas com o fogo das brasas da marca de seu dono que significava também a do batismo.

Jorge Benci denunciava a pressa com que muitos senhores batizavam seus escravos.

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Casamento

O casamento regular entre escravos era quase uma exceção. Aliás, à maioria dos proprietários não interessava esse vínculo matrimonial que impedia a mobilidade de seus escravos.

O que interessava era a reprodução para ter vantagens.

Os abusos sexuais eram frequentes;

Os eclesiásticos também tinham muitos escravos, e muitos deles eram conhecidos como “dos santos”, daí a sobrenome dos santos tão difundido no Brasil.

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Por que a Igreja apoiou a escravidão africana?

 O contato dos africanos com o Cristianismo não começa nesse período.

Vemos que, ao longo da Idade Média (476-1453), esse contato com os mouros (árabes muçulmanos) no processo re reconquista da península ibérica desde o ano de 711. Vemos também na ação portuguesa em realizar o “périplo africano” nas Grandes Navegações, aonde o Cristianismo se propagou pela costa da África. A religião nativa era contrária aos princípios cristãos, a grande maioria não aceitou o Evangelho, além da religião Islâmica já estar bem propagada e por também não aceitar tais princípios dos cristãos. Podemos entender a postura da Igreja frente a essa problemática por vários ângulos diferentes, pois são muitas as explicações que são dadas. Eis uma explicação:

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Assim, a Igreja passou a ver esses que se recusaram a Fé, como descendentes de Cam, personagem bíblico, um dos filhos de Noé, que foi amaldiçoado pelo próprio pai. Tal fato é narrado no livro de Gênesis, no Antigo Testamento: “Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!” (livro do Gênesis 9, 25).

Os mouros foram assim combatidos ao longo de toda a Idade Média. Eram chamados também de infiéis. Os africanos assumem essa conformação e são vistos como escravos, assim como Cam. Contudo, o trabalho forçado garantiria a libertação deles do pecado do paganismo, para serem merecedores da graça eterna, da salvação na outra vida.

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Com a chegada à América, os nativos também passariam por esse crivo dos europeus. Por acreditarem que não tinham alma podiam ser tratados como “coisa”, logo eram inferiores e poderiam ser escravizados, explorados. Outros foram tratados da mesma forma que os africanos, pois algumas tribos eram canibais ou realizavam sacrifícios humanos, por exemplo. Surgia assim a chamada Guerra Justa. Os nativos que ficavam nas Missões (vilas administradas por jesuítas) eram evangelizados e não podiam ser escravizados. Porém, esses fatos não era algo perfeitamente concluso, pois gerava muitos debates por religiosos e autoridades na época.

Com o a chegada do Pe. Manuel da Nóbrega (1517-1570), junto com Tomé de Souza; José de Anchieta (1534-1597), em 1553; o padre Antônio Vieira (1608–1697); dentre muitos outros, temos a forte presença religiosa. Eles foram fundamentais para a ampliação da cristianização dos nativos na América Portuguesa, através de seus sermões que valorizavam a vida humana, atacavam os maus tratos dos senhores, assinalavam que os escravos precisavam trabalhar arduamente para purificar seus corpos visando a salvação... Os mesmos padres que apoiavam os senhores, em outros momentos puxavam suas orelhas devido aos maus tratos com os escravos e por privarem eles dos sacramentos da igreja. Em outros textos, os jesuítas criticam os escravos que são preguiçosos, que desafiam os senhores, pois deveriam ser “bons escravos”;

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Vemos uma igreja complexa, assim como a sociedade daquele período; não há como separar a Igreja do restante da sociedade, pois ela é regida pelos homens; ela estava dentro de um pensamento típico dos séculos XIV, XV, XVI, XVII, XVIII..., logo não podemos analisar essa Igreja segundo os parâmetros do século XXI; precisamos entender aquele processo histórico, as suas tensões, sua complexidade dentro do seu próprio contexto e imaginário.

Bem, a Igreja de Roma partia do princípio de que detinha a verdade e, por isso, obrigava pela força que todos os demais estivessem de acordo com suas ideias.

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Pedidos de Perdão de João Paulo II João Paulo II, em março de 2000, lançava um documento de 90 páginas,

agrupando as incorreções em blocos que abrangem praticamente toda a história da Igreja, pecados contra os direitos dos povos e o respeito à diversidade cultural e religiosa, ou seja, a evangelização forçada colocada a serviço da colonização de povos dominados, além de citar a Inquisição, as Cruzadas, ataques aos judeus, indígenas, árabes, dentre outros. Em 2004, novamente pedia perdão pelos "erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor" (Inquisição).

Ele pediu perdão pelos pecados cometidos pela Igreja Católica durante os últimos dois mil anos, incluindo o tratamento dispensado a pessoas de outras religiões. O Pontífice citou o uso da violência "a serviço da fé" e a hostilidade contra os praticantes de outras religiões.

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"Estamos pedindo perdão a Deus pelas divisões entre cristãos, pelo uso da violência que, por vezes, praticamente a serviço da fé e por atitude de desconfiança e hostilidade assumidas contra os praticantes de outras religiões", disse o Santo Padre; e humildemente também pediu perdão a Deus pelas "responsabilidades dos cristãos nos males de hoje".

O Sumo Pontífice pediu ainda perdão a Deus pelos "erros cometidos por outros contra cristãos. O Papa descreveu a sua ação como uma tentativa para "purificar a memória" de uma triste história de ódio e rivalidades.