ifpe - capitalismo.doc

6
Suplemento de Geografia. Profº Marcelo Miranda Aula: Capitalismo. Evolução do modo de Produção Capitalista. Capitalismo é o  sistema econômico e social que se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção, trabalho livre assalariado e acumulação de capital (riqueza). É traduzido em um sistema de mercado baseado na iniciativa privada, racionalização dos meios de produção e exploração de oportunidades de mercado para efeito de lucro. Situação histórica que determinou o surgimento do Capitalismo O Capitalismo tem seu início na Europa. Suas características aparecem desde a baixa idade média (do século XI ao XV) com transferência do centro da vida econômica social e política dos feudos para a cidade. O feudalismo passou por uma grave crise decorrente da catástrofe demográfica causada pela Peste Negra que dizimou 40% da população européia e pela fome que assolava o povo. Entretanto, a elevada taxa de natalidade permitiu o aumento progressivo da população que, em 1500, era de aproximadamente 70 milhões de habitantes em toda a Europa, o que significava recuperar os níveis anteriores à Peste Negra. Embora o povoamento fosse majoritariamente rural, havia ligeira tendência à migração da população para as cidades. No início do século XVI, algumas delas, como Nápoles, Paris, Sevilha e Lisboa, contavam com cerca de 200 mil habitantes. No mundo rural podem ser destacadas as seguintes transformações entre os séculos XV e XVI: O declínio progressivo da servidão; O pequeno crescimento das rendas agrárias em relação ao aumento das manufaturas ou no comércio. Com isso, os encargos impostos pela nobreza rural aos camponeses aumentara, de modo notável; A concentração da propriedade rural nas mãos das grandes famílias, com o pa ssar do tempo consolidaram alg uns traços e instituições mais característicos, como os matrimônios endogâmicos e as primogenituras. A pequena nobreza emigrou para as cidades;

Upload: rodrigohlfarias

Post on 07-Apr-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

8/6/2019 IFPE - Capitalismo.doc

http://slidepdf.com/reader/full/ifpe-capitalismodoc 1/6

Suplemento de Geografia. Profº Marcelo Miranda

Aula: Capitalismo.

Evolução do modo de Produção Capitalista.

Capitalismo é o sistema econômico e social que se caracteriza pela propriedadeprivada dos meios de produção, trabalho livre assalariado e acumulação de capital(riqueza). É traduzido em um sistema de mercado baseado na iniciativa privada,racionalização dos meios de produção e exploração de oportunidades de mercadopara efeito de lucro.

Situação histórica que determinou o surgimento do Capitalismo

O Capitalismo tem seu início na Europa. Suas características aparecem desde abaixa idade média (do século XI ao XV) com transferência do centro da vidaeconômica social e política dos feudos para a cidade.

O feudalismo passou por uma grave crise decorrente da catástrofe demográficacausada pela Peste Negra que dizimou 40% da população européia e pela fomeque assolava o povo. Entretanto, a elevada taxa de natalidade permitiu o aumentoprogressivo da população que, em 1500, era de aproximadamente 70 milhões dehabitantes em toda a Europa, o que significava recuperar os níveis anteriores à

Peste Negra.Embora o povoamento fosse majoritariamente rural, havia ligeira tendência àmigração da população para as cidades. No início do século XVI, algumas delas,como Nápoles, Paris, Sevilha e Lisboa, contavam com cerca de 200 mil habitantes.

No mundo rural podem ser destacadas as seguintes transformações entre osséculos XV e XVI:

● O declínio progressivo da servidão;● O pequeno crescimento das rendas agrárias em relação ao aumento das

manufaturas ou no comércio. Com isso, os encargos impostos pela nobrezarural aos camponeses aumentara, de modo notável;

● A concentração da propriedade rural nas mãos das grandes famílias, com o

passar do tempo consolidaram alguns traços e instituições maiscaracterísticos, como os matrimônios endogâmicos e as primogenituras. Apequena nobreza emigrou para as cidades;

8/6/2019 IFPE - Capitalismo.doc

http://slidepdf.com/reader/full/ifpe-capitalismodoc 2/6

● As revoltas camponesas, sobretudo no Sacro Império Romano-Germânico(atual Alemanha), provocadas por tributos senhoriais, secas, pragas e anosde fome.

Manifestou-se nas cidades o desejo recíproco de unir, pelo matrimônio, as famíliasburguesas e as da nobreza – classe burguesa. Esta nova classe social buscava olucro através de atividades comerciais.

Nesse contexto, surgem também os banqueiros e cambistas, cujos ganhosestavam relacionados aos dinheiro em circulação, numa economia que estava empleno desenvolvimento. Historiadores e economistas identificam nesta burguesia,e também nos cambistas e banqueiros, ideiais embrionários do sistema capitalista:lucro, acúmulo de riquezas, controle do sistema de produção e expansãodos negócios.

  A época moderna pode ser considerada, exatamente, como uma época de“revolução social” cuja base consiste na “substituição do modo de produçãofeudal pelo modo de produção capitalista”. Com as revoluções liberais da IdadeModerna o capitalismo se estabeleceu como sistema econômico predominante,pela primeira vez na história, nos países da Europa Ocidental. Algumas dessasrevoluções foram a Revolução Inglesa (1640-60), a Revolução Francesa (1789-99),e a independência dos EUA, que construíram o arcabouço de suporte aodesenvolvimento capitalista. Assim começou a era do capitalismo moderno.

Podemos compreender que a prática comercial experimentada nesse períodoimprimiu uma nova lógica econômica onde o comerciante substituiu a valor-de-usodas mercadorias pelo seu valor-de-troca. Isso fez com que a economia começassea se basear em cima de quantias que determinavam numericamente o valor decada mercadoria. Dessa maneira, o comerciante deixou de julgar o valor dasmercadorias tendo como base sua utilidade e demanda, para calcular custos elucros a serem convertidos em uma determinada quantia monetária. Com esseprocesso de monetarização, o comerciante passou a trabalhar tendo como fimmáximo a obtenção de lucros e o acúmulo de capitais.

FASES DO CAPITALISMO: O capitalismo como sistema de produção pode serdividido em três fases distintas que apresenta os contextos históricos dos períodosem que se caracterizam, sendo elas: o Capitalismo Comercial, o CapitalismoIndustrial e o Capitalismo Financeiro.

Primeira Fase: Capitalismo Comercial ou Pré-Capitalismo

 Este período estende-se do século XVI ao XVIII. Inicia-se com as Grandes

Navegações e Expansões Marítimas Européias, fase em que a burguesiamercante começa a buscar riquezas em outras terras fora da Europa. Os

comerciantes e a nobreza estavam a procura de ouro, prata, especiarias ematérias-primas não encontradas em solo europeu. Estes comerciantes,financiados por reis e nobres, ao chegarem à América, por exemplo, vão começarum ciclo de exploração, cujo objetivo principal era o enriquecimento e o acúmulode capital. Nessa fase surge as primeiras potências européias: Portugal e Espanha.

8/6/2019 IFPE - Capitalismo.doc

http://slidepdf.com/reader/full/ifpe-capitalismodoc 3/6

 

Neste contexto, podemos identificar as seguintes características capitalistas:busca do lucro, uso de mão-de-obra assalariada, moeda substituindo o sistema detrocas, relações bancárias, fortalecimento do poder da burguesia e desigualdades

sociais.

Segunda Fase: Capitalismo Industrial No século XVIII, a Europa passa por uma mudança significativa no que se refereao sistema de produção. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, fortalece osistema capitalista e solidifica suas raízes na Europa e em outras regiões domundo. Também a utilização do carvão mineral como fonte de energia para aindústria têxtil recebeu com o invento da máquina a vapor, a inserção de outras

nações no processo, como França, Alemanha, Estados Unidos e Japão. Oimperialismo europeu, a partilha colonial, o liberalismo e o surgimento dosocialismo também marcaram esse período. A Revolução Industrial modificou osistema de produção, pois colocou a máquina para fazer o trabalho que antes erarealizado pelos artesãos. O dono da fábrica conseguiu, desta forma, aumentar suamargem de lucro, pois a produção acontecia com mais rapidez. Se por um ladoesta mudança trouxe benefícios (queda no preço das mercadorias), por outro apopulação perdeu muito. O desemprego, baixos salários, péssimas condições detrabalho, poluição do ar e rios e acidentes nas máquinas foram problemasenfrentados pelos trabalhadores deste período.

O lucro ficava com o empresário que pagava um salário baixo pela mão-de-obra

dos operários. As indústrias, utilizando máquinas a vapor, espalharam-serapidamente pelos quatro cantos da Europa. O capitalismo ganhava um novoformato.

Muitos países europeus, no século XIX, começaram a incluir a Ásia e a Áfricadentro deste sistema. Estes dois continentes foram explorados pelos europeus,dentro de um contexto conhecido como neocolonialismo. As populações destescontinentes foram dominadas a força e tiveram suas matérias-primas e riquezasexploradas pelos europeus. Eram também forçados a trabalharem em jazidas deminérios e a consumirem os produtos industrializados das fábricas européias.

Terceira Fase: Capitalismo Monopolista-Financeiro 

8/6/2019 IFPE - Capitalismo.doc

http://slidepdf.com/reader/full/ifpe-capitalismodoc 4/6

Iniciada no século XX, esta fase vai ter no sistema bancário, nas grandescorporações financeiras e no mercado globalizado as molas mestras dedesenvolvimento. Podemos dizer que este período está em pleno funcionamentoaté os dias atuais.Nessa fase podemos caracterizar o que chamamos de Segunda RevoluçãoIndustrial, o descobrimento do petróleo como fonte de energia, invento do motorà combustão, a indústria automobilística e a evolução nos transportes, economia

monopolizada de indústria e finanças, a criação da União Soviética, Crash daBolsa de Nova York em 1929, intervenção do estado na

 economia, terminando com o liberalismo puro, a expansão e surgimento degrandes corporações e empresas transnacionais.

Grande parte dos lucros e do capital em circulação no mundo passa pelo sistemafinanceiro. A globalização permitiu as grandes corporações produzirem seusprodutos em diversas partes do mundo, buscando a redução de custos.

Estas empresas, dentro de uma economia de mercado, vendem estes produtospara vários países, mantendo um comércio ativo de grandes proporções. Os

sistemas informatizados possibilitam a circulação e transferência de valores emtempo quase real. Apesar das indústrias e do comercio continuarem a lucrar muitodentro deste sistema, podemos dizer que os sistemas bancário e financeiro sãoaqueles que mais lucram e acumulam capitais dentro deste contexto econômicoatual.

Uma das consequências mais importantes do crescimento acelerado da economiaCapitalista foi o brutal processo de centralização dos capitais. Várias empresassurgiram e cresceram rapidamente: Indústrias, Bancos, Corretoras de Valores eetc. A acirrada concorrência favoreceu as grandes empresas, levando a fusões eincorporações que regularam a partir dos fins do século XIX, na monopolização demuitos setores da economia.

Expansão do liberalismo - A aplicação prática das invenções técnicas àsindústrias e aos transportes (em especial a máquina a vapor e as novastécnicas de fundição), associada aos ideais do liberalismo, proporcionou umaespetacular expansão econômica e o alargamento dos mercados a umaescala mundial.

As empresas, sentindo uma necessidade crescente de expansão, recorreram ainvestimentos em máquinas e novas instalações, e também a processos deconcentração empresarial, ou seja, de eliminação dos concorrentes de menorporte. Assim, com o objetivo de financiar esse desenvolvimento, aprimoram-se osbancos e as corretoras de valores. Ao mesmo tempo, há o enfraquecimento da

livre concorrência.Os bancos emprestam dinheiro às empresas ou investem diretamente. O sistemabancário torna-se dominante e passa a controlar as demais atividades

8/6/2019 IFPE - Capitalismo.doc

http://slidepdf.com/reader/full/ifpe-capitalismodoc 5/6

econômicas. As indústrias, por sua vez, incorporam ou constituem bancos, a fimde ampliar sua capacidade de autofinanciamento.

As holdings e a internacionalização do capital Começam a surgir, então, osprimeiros trustes: grandes grupos que controlam todas as etapas da produção,desde a exploração da matéria-prima até a distribuição das mercadorias. Surgemtambém os cartéis: associações entre empresas para uma atuação coordenada,

estabelecendo um preço comum, restringindo a livre concorrência e, dessa forma,estabelecendo preços aviltantes para as mercadorias. Por fim, criam-se osconglomerados: corporações que atuam no sentido de criar holdings, ou seja, umaúnica organização que reúne várias empresas, dos mais diversos setores e ramos,o que garante a ampliação e a diversificação dos negócios, e, consequentemente,o controle da oferta de determinados produtos ou serviços.

Com a consolidação do capitalismo financeiro, as empresas tornam-se muito maispoderosas e influentes, acentuando a internacionalização dos capitais. Os grandesgrupos econômicos - como Mitsubishi, Exxon, General Motors, IBM, Siemens, entreoutros - surgiram nesse período.Em geral, essas grandes empresas têm um acionista majoritário, que pode ser

representado por uma pessoa, uma família, uma outra empresa, um banco ou umaholding. Ao mesmo tempo, milhões de outras ações (títulos negociáveis etransmissíveis que representam uma fração do capital da empresa ou da holding)estão nas mãos de pequenos investidores.

Um dos maiores conglomerados do mundo, por exemplo, é o Mitsubishi Group,que fabrica alimentos, automóveis, aço, aparelhos de som, televisores, navios,aviões, etc. O Mitsubishi tem como financiador o Banco Mitsubishi, que, após suafusão, quando se transformou em Banco Tókyo-Mitsubishi, tornou-se um dosmaiores do planeta.

Refletindo sobre o Modo de produção capitalista.

A explicação sobre as origens do capitalismo remonta uma história de longaduração onde nos deparamos com as mais diversas experiências políticas, sociaise econômicas. Em geral, compreendemos a deflagração desse processo com orenascimento comercial experimentado nos primeiros séculos da Baixa IdadeMédia, a partir do arrendamento de terras e a remuneração da mão-de-obra com osurgimento do salário.

Essas transformações marcaram a passagem da Idade Média para a IdadeModerna incentivaram o nascimento do chamado capitalismo mercantil e dasgrandes navegações. Esse período possibilitou uma impressionante acumulaçãode riquezas, o capitalismo mercantil criou uma economia de aspecto concorrencialonde as potências econômicas buscavam acordos, implantavam tarifas e

promoveram guerras com o objetivo de ampliar suas perspectivas comerciais.Foi nesse período que os princípios da filosofia iluminista defenderam uma maiorautonomia das instituições políticas e criticou a ação autoritária da realeza. Énesse contexto de valores que as revoluções liberais foram iniciadas pelaconvulsão sócio-política que ganhou espaço na Inglaterra do século XVII. Pelaprimeira vez, as autoridades monárquicas passaram a estar submetidas aointeresse de outro poder com forte capacidade de intervenção política. Não é poracaso que foi nesse mesmo lugar que o capitalismo passou a ganhar novas forçascom a Revolução Industrial.

A experiência da revolução imprimiu um novo ritmo de progresso tecnológico eintegração da economia onde percebemos as feições mais próximas da economia

experimentada no mundo contemporâneo. O desenvolvimento tecnológico, aobtenção de matérias-primas a baixo custo e a expansão dos mercadosconsumidores fez com que o sistema capitalista conseguisse gerar uma situação

8/6/2019 IFPE - Capitalismo.doc

http://slidepdf.com/reader/full/ifpe-capitalismodoc 6/6

de extrema ambigüidade: o ápice do enriquecimento das elites capitalistas e oempobrecimento da classe operária.

Chegando ao século XIX, percebemos que o capitalismo promoveu uma riquezacusteada pela exploração da mão-de-obra e a formação de grandes monopóliosindustriais. Nesse período vemos a ascensão das doutrinas socialistas em francacontraposição ao modelo de desenvolvimento social, econômico e político trazidopelo sistema capitalista. Mesmo movendo diversas revoluções e levantes contra o

sistema, o socialismo não conseguiu interromper o processo de desenvolvimentodo capital.

No século passado, o capitalismo viveu diversos momentos de crise ondepercebemos claramente os problemas de sua lógica de crescimento permanente.Apesar disso, vemos que novas formas de rearticulação das políticas econômicas eo afamado progresso tecnológico conseguiram dar suporte para que o capitalismoalcançasse novas fronteiras. Com isso, muitos chegam a acreditar que seriaimpossível imaginar um outro mundo fora do capitalismo.

No entanto, seria mesmo plausível afirmar que o capitalismo nunca teria um fim?Para uma afirmativa tão segura e linear como essa, podemos somente lançar a

mão do tempo e de suas transformações para que novas perspectivas possamoferecer uma nova forma de desenvolvimento. Sendo imortal ou mortal, ocapitalismo ainda se faz presente em nossas vidas sob formas que sereconfiguram com uma velocidade cada vez mais surpreendente.