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INTRODUÇÃO
A faixa urbanizada da orla na costa leste e sul - oriental do estado do Rio de Janeiro
sofre constantemente com a destruição de calçadões, ruas, muros e casas em
decorrência da ação de ondas de tempestade. A região apresenta forte crescimento
populacional com principais atividades econômicas associadas à indústria petrolífera
nas cidades de Macaé e Rio das Ostras, ao turismo da Região dos Lagos e além do
centro urbano já consolidado de Niterói. A urbanização em si não provoca erosão,
entretanto, a construção de edificações dentro da faixa de resposta dinâmica da praia
às tempestades, tende à retomada pelo mar da área construída (MUEHE, 2006).
A identificação de depósitos de material semelhante ou levemente mais grosso do
que o original, para recuperação de praias como opção de mitigação, representa uma
alternativa estratégica para manter a função de proteção exercida pelas mesmas e de
seu uso para o lazer. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo analisar a
compatibilidade de sedimentos superficiais da plataforma continental interna com as
areias de praias urbanas situadas entre as cidades de Niterói e Macaé – RJ, através da
comparação do diâmetro médio dos grãos desses dois ambientes.
METODOLOGIA
A caracterização granulométrica das dezesseis praias estudadas foi feita a partir da
análise textural de amostras da face de praia por peneiramento à seco em intervalos de
0,5 fi, e classificadas de acordo com Folk & Ward (1957). O teor de carbonato de
cálcio foi determinado pela queima do mesmo com ácido clorídrico a 20%.
Os dados da plataforma continental e antepraia são secundários de campanhas
oceanográficas pretéritas, que foram filtrados e digitalizados, totalizando cerca de
1200 pontos amostrais (Albino, 1994; Fernandez & Muehe, 1995; Machado, 2010;
Muehe, 1989; Muehe & Carvalho, 1993; Saavedra & Muehe, 1993; Silva, 1985;
Souza, 1991). O mapeamento foi processado no software Surfer 9.0 (Golden Software
Inc.) utilizando o método de krigagem para interpolação.
Em seguida foram delimitadas áreas de depósitos de areias compatíveis na
plataforma e calculados volumes aproximados para pacotes sedimentares de um metro
de espessura. Para o cálculo do volume necessário para um projeto de alimentação de
praia foi utilizado equação sugerida por Campbell et al. (1990):
O volume para cada unidade de comprimento de praia (m3/m) multiplicado pelo
comprimento do trecho de praia a ser recuperado, resulta no volume total do projeto
(Tabela 1). Assumiu-se a profundidade de fechamento em -10 metros (limite
submarino da orla sugerido por Muehe, 2004) assim como o valor médio de 3 metros
para altura da berma, a partir de levantamentos de perfis topográficos. Além do
deslocamento horizontal do perfil de 50 metros após o projeto.
RESULTADOS
IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIAIS JAZIDAS DE AREIA NA PLATAFORMA
CONTINENTAL INTERNA PARA RECUPERAÇÃO DE PRAIAS ENTRE AS
CIDADES DE NITERÓI E MACAÉ – ESTADO DO RIO DE JANEIRO/BRASIL
Julio F. de Oliveira1, Dieter Muehe2, Nelson L.S. Gruber3
1Programa de Pós-Graduação em Geociências - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. [email protected];
2Programa de Pós-Graduação em Geografia - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. [email protected];
3 Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica – CECO/IG/UFRGS – Lab. Gerenciamento Costeiro. [email protected]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A distribuição do tamanho médio dos sedimentos superficiais da plataforma
continental interna no setor do litoral entre Niterói e Arraial do Cabo, é
predominantemente composta por areias relíquias de granulometria média e
grossa. De Arraial do Cabo à Macaé nota-se uma maior influência de sedimentos
finos e lamosos, provavelmente associados às fontes fluviais presentes neste trecho
da costa fluminense.
No total, onze áreas foram delimitadas entre as profundidades de -10 e -30
metros, com depósitos de diferentes granulometrias (areia fina, média, grossa e
muito grossa), que poderiam vir a suprir necessidades futuras de sedimentos da
maioria das praias estudadas.
As praias de Itaipuaçu em Maricá, o meio e canto norte da Prainha de Arraial do
Cabo e Manguinhos em Búzios não apresentaram ocorrência de areias compatíveis
em áreas próximas aos seus litorais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-ALBINO, J. 1994. Morfodinâmica e processos de sedimentação nas praias da Barra de São José do Barreto, Macaé – RJ. Dissertação de mestrado. Programa de Pós
Graduação em Geografia. UFRJ. 1994
-CAMPBEL, T.J.; DEAN, R.G; MEHTA A.J.; WANG, H. 1990. Short course on principles and applications of beach nourishment. University of Florida, 1990.
-DEAN, R. G. 2002. Beach Nourishment: theory and practice. University of Florida. USA. 2002
-FERNANDEZ, G.B.; MUEHE, D.1995. Cobertura sedimentar recente e batimetria da plataforma continental interna entre Macaé e o cabo Búzios - RJ. VI Simpósio
Nacional de Geografia Física e Aplicada. Anais. 1 :196-203. 1995.
-FOLK, R.L; WARD, W.C. 1957. Brazos river bar: a study in the significance of grain size parameters. Journal of Sedimentary Petrology. v.23: p. 3-26. 1957
LINS-DE-BARROS, F.M. 2010. Contribuição metodológica para análise local da vulnerabilidade costeira e riscos associados: estudo de caso da Região dos Lagos,
Rio de Janeiro. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFRJ. 2010
-MACHADO, G.M.V. 2010. Análise morfossedimentar da praia, antepraia e plataforma continental interna da linha de costa do Parque Nacional de Jurubatiba – Rio
de Janeiro. Quaternary and Environmental Geoscience. Vol.2(1):01-17.
-MUEHE, D. 2004. Definição de limites e tipologias da orla sob os aspectos morfodinâmico e evolutivo. In: Ministério do Meio Ambeinte e Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (org.). Projeto Orla: subsídios para um projeto de gestão. MMA e MPO, Brasília, 104p. 2004.
-MUEHE, D. 2006. Erosão e progradação no litoral brasileiro. Ministério do Meio Ambiente.
Brasília. 476p. 2006
-MUEHE, D. 1989. Distribuição e caracterização dos sedimentos arenosos da plataforma continental interna entre Niterói e Ponta Negra. Revista Brasileira de
Geociências. 19(1):24-36. 1989.
-MUEHE, D. & CARVALHO, V.G. 1993. Geomorfologia, cobertura sedimentar e transporte de sedimentos na plataforma continental interna entre a Ponta de
Saquarema e o Cabo Frio (RJ). Boletim do Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo. SP. 41(1/2), 1993
-SAAVEDRA, L.; MUEHE, D. 1993. Innershelf morphology and sediment distribution in front of Cape Frio – Cape Búzios embayment. JOPS-I Workshop. Brazilian
German Victor Hansen Programme Joint Oceanographic Projects. Niterói. RJ.p. 29. 1993
-SILVA, A.G. 1985. Sedimentação e morfologia do fundo da plataforma continental interna nas proximidades da Ilha do Cabo Frio, RJ. Dissertação de mestrado.
Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFRJ. 126 p. 1985
-SOUZA, O.F. 1991. Associação de moluscos e equinodermos da plataforma continental interna entre Cabo Frio e Saquarema. Dissertação de mestrado. Programa de
Pós Graduação em Geografia, UFRJ. 142p. 1991
PRAIA CIDADE MÉDIA - fi CaCO3 % CLASSIFICAÇÃO VOLUME AREIA P/ ATERRO m3
TRECHO ATERRO km
ICARAÍ NITERÓI 1.69 2 AREIA MÉDIA 1.117.000 1.8 SÃO FRANCISCO NITERÓI 2.03 0 AREIA FINA 422.500 0.65 CHARITAS NITERÓI 2.49 0 AREIA FINA 1.300.000 2 PIRATININGA NITERÓI 1.3 0 AREIA MÉDIA 1.625.000 2.5 ITAIPUAÇÚ MARICÁ -0.34 0 AREIA MTO GROSSA 650.000 1 BARRA DE MARICÁ MARICÁ 0.99 0 AREIA GROSSA 975.000 1.5 PRAINHA ( CANTO SUL) ARRAIAL CABO 2.79 11 AREIA FINA 130.000 0.2 PRAINHA (CENTRO/NORTE) ARRAIAL CABO 0.8 35 AREIA GROSSA 520.000 0.8 FORTE CABO FRIO 2.49 0 AREIA FINA 975.000 1.5 GERIBÁ (CANTO LESTE) BÚZIOS 2.4 22 AREIA FINA 325.000 0.5 FERRADURA BÚZIOS 1.32 38 AREIA MÉDIA 780.000 1.2 MANGUINHOS BÚZIOS 2.81 23 AREIA FINA 4.550.000 7 ABRICÓ RIO DAS OSTRAS 1.01 3 AREIA MÉDIA 1.950.000 3 TARTARUGAS RIO DAS OSTRAS 1.09 4 AREIA MÉDIA 650.000 1 BOSQUE RIO DAS OSTRAS 0.78 3 AREIA GROSSA 650.000 1 CENTRO RIO DAS OSTRAS 1.55 4 AREIA MÉDIA 520.000 0.8 CAVALEIROS MACAÉ 1.78 5 AREIA MÉDIA 975.000 1.5
JAZIDAS CIDADE GRANULOMETRIA VOLUME m3
AREA_1 NITERÓI AREIA MÉDIA 4.079.264
AREA_2 NITERÓI AREAI FINA 1.919.467
AREA_3 NITERÓI AREIA MÉDIA 3.745.085
AREA_4 NITERÓI AREIA MÉDIA E GROSSA 9.968.294
AREA_5 MARICÁ AREIA GROSSA E MÉDIA 9.004.438
AREA_6 MARICÁ AREIA GROSSA E MÉDIA 10.380.469
AREA_7 CABO FRIO AREIA FINA 4.250.506
AREA_8 BÚZIOS AREIA FINA E MÉDIA 13.409.858
AREA_9 RIO DAS OSTRAS AREIA GROSSA E MUITO GROSSA 51.471.978
AREA_10 MACAÉ AREIA GROSSA E MÉDIA 12.018.906
AREA_11 MACAÉ AREIA GROSSA E MÉDIA 22.808.912
MARICÁ NITERÓI
CABO FRIO ARRAIAL
DO CABO
RIO DAS OSTRAS
MACAÉ
BÚZIOS REGIÃO DOS LAGOS
N
RIO DE JANEIRO
Figura 1: Localização da área de estudo Figurs 2 e 3: Praias do Forte em Cabo Frio e
Tartarugas em Rio das Ostras. Fonte: Arquivo pessoal
Figuras 4 e 5: Exemplo de perfil topobatimétrico da praia de Manguinhos – Búzios. Esquema representativo simplificado de um
projeto de alimentação praial com sedimento compatível. Modificado de Campbell et al (1990)
Figuras 7 : Mapeamento do diâmetro médio dos sedimentos
superficiais da plataforma continental interna entre Cabo
Frio e Macaé. Potenciais jazidas offshore destacadas.
Tabela 1: Classificação granulométrica das praias e volume aproximado
de areia necessário ao projeto.
Tabela 2: Volume aproximado das jazidas para 1 metro de
espessura do pacote sedimentar.
Δyo
B
h*
nível do mar
profundidade
de fechamento
altura da
berma
deslocamento horizontal
perfil original
volume de areia adicionado (V)
V = Δyo ( h* + B)
Figuras 6 : Mapeamento do diâmetro médio dos sedimentos superficiais da
plataforma continental interna entre Niterói e Cabo Frio. Potenciais jazidas
offshore destacadas.
Legenda