IDENTIFICAÇAO DE FONTES DE EXPOSIÇAO AO CHUMBO INORGANICO

Proposta para discussão elaborada por Gilmar da Cunha Trivelato, Pesquisador Titular da Fundacentro-MG

Informações gerais sobre o chumbo inorgânico

Chumbo Inorgânico: nome genérico atribuído ao chumbo metálico, puro ou na forma de ligas, e seus compostos inorgânicos (óxidos, sais, etc.) que, se absorvidos pelo organismo humano, a ação tóxica ocorrerá em função da presença do íon Pb2+ em vários tecidos.

As principais aplicações do chumbo metálico – puro ou na forma de ligas – são: Fabricação de acumuladores (baterias) chumbo-acido, quer sejam baterias de

ignição-iluminacao destinada a veículos automotores, baterias de tração ou baterias de suprimento de energia.

Revestimentos de cabos de energia subterrâneos ou submersos em água. Proteção radiológica (blindagem) Miscelânea de produtos tais como munições, contra-pesos para balanceamento de

rodas de automóveis, chumbadas para pesca, etc. Ligas de chumbo, em particular, liga de chumbo-estanho usada em processos de

solda eletrônica.

As principais aplicações de compostos de chumbo são: Fabricação de baterias chumbo-ácido (óxidos de chumbo) Pigmentos e outros aditivos de tintas (basicamente tintas anti-corrosivas e de

sinalização de segurança) Vidros e cerâmicas Ceramicas funcionais (para uso na industria eletronica) Aditivos para PVC (ex. estearato de chumbo)

Não há dados estatísticos oficiais sobre a produção e consumo de chumbo inorgânico no pais, mas os produtores de chumbo secundário no Brasil estimam que cerca de 80-85% do chumbo consumido no Brasil seja utilizado na industria de baterias chumbo-ácido e cerca de 15-20% em outros setores industriais. O Brasil não produz chumbo primário, isto é, a partir de minério de chumbo, mas produz chumbo secundário a partir da reciclagem de baterias usadas (cerca de 95% da baterias são recicladas) e outras sucatas contendo chumbo. Cerca de 70% do chumbo consumido no Brasil é chumbo secundário e cerca de 30% é chumbo primário importado (ver tabela anexada no final).

Assim, pode-se inferir que as principais fontes de exposição a chumbo inorgânico são as atividades do setor de baterias chumbo-acido. Os principais atores desse setor econômico, e respectivos potenciais para exposição humana são:

Fabricantes de baterias ou placas de baterias - há exposição ocupacional relevante a fumos e poeiras contendo chumbo. É pouco provável a exposição ambiental da

população vizinha. Os fabricantes podem ser de grande, médio e pequeno porte. Alguns fabricantes de pequeno porte são apenas montadores de baterias pois adquirirem as placas de fabricantes maiores (fabricantes de placas de baterias)

Distribuição de baterias por atacado, que também atua como captador de baterias usadas, que são enviadas aos fabricantes ou fundições secundarias por eles indicados. Não há exposição ocupacional ao chumbo nessa atividade, exceto se o distribuidor abrir as baterias usadas e envia-las na forma de sucata para as fundições secundarias.

Distribuidor de baterias a varejo – não há exposição ocupacional ou ambiental ao chumbo, exceto se o distribuidor também fizer recondicionamento ou reforma de baterias.

Consumidor final (pessoas jurídicas ou físicas) – não há exposição ao chumbo, exceto se o consumidor abrir a bateria usada para recuperar chumbo (ex. fazer chumbada) e, nesse caso, também pode ocorrer contaminação ambiental.

Coletor de baterias / negociador de sucata – Não há exposição ocupacional ou ambiental, exceto se as baterias forem abertas e encaminhadas na forma de sucata (miolos das baterias).

Reciclador de baterias – abre as baterias e faz a reciclagem do chumbo e do plástico da bateria. Há exposição significativa ocupacional, podendo haver exposição ambiental no entorno próximo (ate Max 1 km) . Há potencial de contaminação do solo da área industrial.. Alguns fabricantes de baterias também são recicladores (para consumo próprio)

Recondicionador ou reformador de baterias – faz abertura de baterias e substituição de elementos danificados visando o re-uso da bateria (não confundir com reciclagem de baterias para obtenção de matéria prima – chumbo e plástico). Nessa atividade há exposição ocupacional significativa e, geralmente, não são atividades formais (muitas vezes oficinas auto-elétricas, que também vendem baterias).

Recicladores de plásticos de baterias – reciclam os plásticos recebidos de fabricantes de baterias ou fundições secundarias. A exposição ocupacional é possível, mas não há informações disponíveis.

Busca ativa de possíveis atividades que constituem fontes de exposição ao chumbo

A sugestão é que esta busca deva ser prioritária no setor de baterias chumbo-acido e empresas produção de tintas ou pigmentos a base de chumbo, fabricantes de produtos de PVC ou produtos com elevado teor de chumbo.

As atividades do setor bateria chumbo-ácido tendem a se concentrar em certas regiões do pais onde se desenvolveu algum tipo de conhecimento ou experiência na fabricação, reforma ou reciclagem de baterias. Os estado para os quais já se tem certeza da existência de atividades que constituem fontes de risco sao:

São Paulo: grandes e médios fabricantes de baterias nas cidades de Bauru, Sorocaba, Piracicaba, Itapetininga, grande São Paulo (ex. fabricantes de baterias industriais em Guarulhos e região), uma fundição secundaria proxima a Catanduva e

refino de chumbo por alguns grandes fabricantes de bateriais. A atividade de reforma de baterias provavelmente é marginal.

Paraná – maior concentração de médios e pequenos fabricantes de baterias, fabricantes de placas de baterias e recicladores de baterias. Reforma de baterias pode ocorrer em cidades menores.

Santa Catarina e Rio Grande do Sul – fundições secundarias de médio porte e varias de fundições de pequeno porte, alguns fabricantes de pequeno e médio porte e atividades de reforma de baterias

. Minas Gerais – fabricante de bateria de grande porte / reciclador de médio porte em

Governador Valadares, varias fundições de pequeno porte no restante do estado ou fabricantes/montadores de baterias. A reforma de baterias pode ocorrer em pequenas cidades.

Pernambuco – grande fabricante/reciclador de médio porte em Belo Jardim, varias fundições secundarias de pequeno porte na região próxima a Belo Jardim.

Demais estados em se tem noticias confirmadas da existência de recicladores ou fundições secundarias de pequeno porte – Goiás (Anápolis, Itumbiara), Mato Grosso do Sul (Campo Grande), Paraíba, Rondônia e Rio Grande do Norte.

Nos demais estados não há informações que apontem para atividades significativas de produção ou reciclagem de baterias. A existência de reformadores de baterias deve ser investigada.

Possíveis estratégias para identificar empresas com atividades que constituem fontes de risco relativos ao chumbo inorgânico:

1.Busca ativa em bases de dados oficiais: Agencias ambientais estaduais ou municipais – podem indicar apenas as

atividades licenciadas.Limitação: tem informações apenas de empresas licenciadas, em particular de médio e grande porte. Muitas empresas que utilizam chumbo não são licenciadas ou até mesmo clandestinas/informais.

Ministério do Trabalho – busca ativa através do CNAE e do SFIT (sistema eletrônico da Inspeção do Trabalho). Limitação: muitas empresas não tem o CNAE correto (ex. postos de venda de baterias a varejo que também fazem reforma de baterias), alem de não cobrir atividades informais.

Ministério da Previdência/INSS: dados de trabalhadores que receberam benefícios em função de doenças decorrentes da exposição ocupacional ao chumbo, tendo como dado de entrada os respectivos CID10. Limitações: cobre somente trabalhadores formais, casos diagnosticados e muitas vezes a Previdência não repassa esses dados.

Ministério Público do Trabalho – relação de empresas sob investigação ou com termos de ajuste de conduta firmados.

2. Busca ativa junto a atores do setor economico Fabricantes de baterias: nome das fundições secundarias para onde enviam baterias

usadas que são coletadas ou adquirem chumbo secundário. Fundições secundarias: nome de possíveis clientes de chumbo secundário.

Fabricantes de suprimentos para fabricação de baterias: nome de possíveis clientes. Recicladores de plástico: nome das empresas que enviam plásticos contaminados

com chumbo para serem reciclados. Coletores de bateria (distribuidores por atacado, postos de venda ao consumidor,

negociadores de sucata): destino dado as baterias coletadas e nome de empresas que fabricam ou reciclam baterias.

Manuais de associações industriais (ex. ABINEE – baterias e material elétrico, ABRAFATI – tintas; ABIQUIM – produtos químicos contendo chumbo)

Páginas da Internet: muitos dos fabricantes ou distribuidores de produtos contendo chumbo tem suas informações disponibilizadas em páginas da Internet, que podem sem localizadas por buscadores tipicos (ex. Google)

Listas telefonicas – paginas amarelas podem conter informações sobre empresas que fornecem produtos contendo chumbo.

Limitações: as informações somente são fornecidas voluntariamente ou quando uma empresa, sob intervenção, tem interesse de informar o nome de seus concorrentes.

Sugestão: Criação de um banco de dados sobre empresas que potencialmente são fontes de risco, cujo acesso livre para alimentação de dados e consulta por todos os órgãos interessados (ex. criação de um grupo no Google). Possíveis informações:

Nome da empresa Endereço completo Atividades (que potencialmente expõem ao chumbo) CNAE Numero de empregados (total / potencialmente expostos) Status da informação Intervenções (realizadas ou em curso) Outras informações relevantes

Anexo: Informações estatísticas sobre produção e consumo de chumbo no Brasil, no ano de 2004.

Referencia:

Trivelato, G. C. Os (des)caminhos e riscos do chumbo no Brasil. Estudo de caso: análise sistêmica da gestão de riscos na reciclagem de baterias chumbo-acido, 1976-2005. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia, Programa de Pós-graducaçao em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 2006.