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VILA MARIM
IDENTIFICAÇÃO DA FONTE:Esta recolha foi realizada com a D. Marlene Teixeira Guedes Cabral, de 65 anos,
natural da freguesia de Vila Marim, concelho de Mesão Frio.
A senhora, que é minha Mãe, fez-me, o reconto das rezas, benzeduras e responsos
que se lembra de ouvir à minha Avó, Guilhermina da Conceição, que, naquela aldeia,
do Douro vinhateiro, se ocupava das lides domésticas, dos 8 filhos, fazia de “parteira” e
“enfermeira”, mas também das orações do Calendário Litúrgico, lengalengas e entreténs
que se lembra de dizer na sua infância.
Na década de 40, a vida era muito difícil, não foi fácil aos meus Avós criarem os
filhos sem passarem necessidades. Meu Avô trabalhava como “jornaleiro”, trazia para
casa 8 escudos, ao fim de uma manhã a cavar, para pouco chegavam. Assim, a minha
Avó, que tinha habilidade para a “enfermagem”, ajudava nos partos e na higiene de
pessoas acamadas. Como todos viviam com necessidades, o agradecimento era feito em
géneros agrícolas, que muito jeito davam para sustentar o agregado familiar.
Composições Líricas
Satíricas: Outras
De manhã dão-me peras,
Ao almoço, peras me dão,
Ao meio-dia pão com peras,
À noite peras com pão.
Azeitona miudinha
Que azeite pode render?
É como homem sem barba
Que respeito pode ter?
Azeitona miudinha
Apanhada p’r’ó lagar,
Estes rapazes de agora
De pouco se vão gabar.
Meninas, casai comigo,
Que eu sou bem afortunado,
Meu pai deixou-me uma quinta
Onde não cabe um cão deitado.
Meninas, casai comigo,
Não tendes medo à fome,
Meu pai deixou-me uma quinta
Que sustenta quem não come.
Padre-nosso rilha o osso,
Rilha-o tu, que eu já não posso.
A cantar ganhei dinheiro,
A cantar se me acabou,
O dinheiro mal ganhado,
Água o deu, água o levou.
Tenho tosse no cabelo,
Olores de dentes no cachaço,
Dói-me tanto esta vista,
Não enxergo deste braço.
Quem é que de mim fala?
Quem é que de mim quem é?
É uma rodilha suja
De limpar a chaminé.
A mulher enquanto nova
É um favo de doçura,
Depois que vai p’ra velha
Já ninguém a atura.
Meu rico Senhor da Pedra
Mandai varrer as areias,
Que eu já rompi os sapatos
E agora rompo as meias.
Se eu soubesse que voando
Almoçava c’o meu amor,
Ia já pedir à sopeira
As asas do assador.
Maldito o tempo que eu passei contigo;
Maldito o rosto que para mim sorria;
Malditos os olhos que para mim olhavam;
Malditos os lábios que a mim beijaram.
Ó mar alto, ó mar alto,
Ó mar alto a subir,
Quem ao mais alto sobe,
Ao mais baixo vem cair.
Ó mar largo, ó mar largo,
Ó mar largo sem ter fundo,
Vale mais andar no mar largo,
Do que nas bocas do mundo.
Pelo sinal, castanha longal,
Comi um figo, fez-me mal.
Se mais me dessem, mais eu comia,
Adeus compadre até outro dia.
Pelo sinal do bico real,
Comi um figo, fez-me mal.
Se mais me dessem mais eu comia,
Adeus compadre até outro dia.
Os homens de entre Douro e Minho
Calçam de pau e vestem de linho,
Comem pão de passarinho,
Bebem vinho de enforcado
E têm força que nem o diabo.
Salvé- Rainha
Mata a galinha,
Pergunta por ela!
Está na goela.
Menina que esta à janela
A olhar para quem passa
Tens olhinhos de cadela,
Venha comigo à caça.
A vida é um deserto
Que temos que atravessar,
Com um tolo de um rapaz
Que nos há-de vir buscar.
Composições Líricas
Lúdicas: Rimas Infantis e Lengalengas
Era uma vez um gato montês,
Tocava piano, falava francês.
Caracol, caracolinho,
Põe os pauzinhos ao sol.
Sape, gato lambareiro,
Tira a mão do açucareiro.
Caracol, caracolinho,
Sai de dentro do buraquinho,
Mostra a ponta do focinho.
Dlim, Dlão,
Morreu o Simão,
Com um ovo nesta testa,
Outro na mão.
Dlim, Dlão
Cabeça de cão,
Orelhas de gato,
Não tem coração.
Queixinho de rabeca,
Boquinha pequenina,
Nariz, narigueta,
Olhinhos de pisqueta,
Testinha de giesta,
Cabelinho loiro.
Arruma-te rapariga
Que vem aí o toiro.
Esta boca comedeira,
Este nariz narizete,
Estes olhos de pisquete,
Esta testa de giesta,
Este cabelinho louro.
Foge rapaz que te estouro!
Escolher quem fica na malha:
Pim, Pam, Pum
Cada bola mata um.
Um homem partiu para Galucho.
Ficou gorducho,
Que nem um bucho.
Ao fim de quinze dias de serviço
Ficou magriço
Que nem chouriço.
Um aviãozinho militar
Atirou uma bomba ao ar.
A que terra foi parar?
Café com leite é bestial
O ……………..(jogador)
Vai ganhar o festival.
Em cima do piano
Está uma bonequinha
Vestidinha de que cor?
(vermelho)
Vê lá se a tens ou não
No teu vestidinho
Arranjadinho.
Em cima do piano
Está um copo com veneno.
Quem bebeu morreu.
Bate e fica.
Ficas tu, eu não
Sim, tu.
Sola, sapato,
Rei, rainha,
Fui ao mar
Buscar tainha.
Para o filho
Do juiz
Que está preso
P’lo nariz.
As meninas a correr,
O Diabo a aprender,
Qual será a mais bonita
Que se vai
Recolher?
Eu fui à Bélgica
De avião,
No aeroporto encontrei
Um borrachão.
Pisquei-lhe o olho,
Apertei-lhe a mão,
O que ele queria
Era ponto de interrogação.
O teu pai é sinaleiro?
(É)
Quantos carros manda parar?
(4)
Um, dois, três, quatro.
O teu pai é sinaleiro?
(É)
Quantos carros já multou?
(4)
Um, dois, três, quatro.
Menino Jesus
Passou por aqui
Escolheu-te a ti.
O jogo “polícias e ladrões”
Aniki, bá, bá
Aniki, bá, bá
Passarinho tó, tó
Berimbau, cavaquinho,
Sacristão,
Tu és polícia
E eu não sou ladrão.
Zé Pirata
Tem piolhos
Na gravata.
Quantos conta? (3)
Quantos mata? (2)
(3+2)
Um, dois, três, quatro, cinco.
Lengalengas infantis
- Comes?
- Como.
- Como, comes?
- Como, como, comes.
- Comes, como, como?
- Como.
- Comes?
Um, catrapum,
Dois, bois,
Três, francês,
Quatro, sapato,
Cinco, brinco,
Seis, pasteis,
Sete, canivete,
Oito, biscoito,
Nove, pobre,
Dez, lava os pés.
Um por um,
Dois, bois,
Três, inglês,
Quatro e um gato,
Cinco e um brinco,
Seis, Maria dos Reis,
Sete, um espeque,
Oito, um canivete,
Nove, um pobre,
Dez, bate os pés.
Um, dois, três, quatro,
Foi na rua vinte e quatro,
Que a mulher matou o gato,
Com a ponta do sapato.
O sapato derreteu,
A mulher morreu.
Um, dois, três, quatro,
A galinha mais o pato
Fugiram da capoeira,
Foi atrás a cozinheira
Que lhes deu com o sapato,
Um, dois, três, quatro.
Um, dó, li, tá,
Caramelo de amêndoa,
Um sorvete colorete,
Um, dó, li, tá.
Era uma vez três:
Dois austríacos e um francês.
O francês mais audaz
Puxou a espada e … zás trás, trás, pás,
Mas não matou.
Eu vou contar como a história se passou:
Era uma vez …
Do calendário litúrgico:
Ana, Magana,
Rebeca, Susana,
Lázaros, Ramos,
Na Páscoa estamos.
Com animais:
Diz o galo para a galinha:
- Vamos casar a nossa filhinha.
- A nossa filhinha casada está.
O enxoval de onde virá?
Diz a aranha que está no aranhol
Que está pronta p’ra dar o enxoval.
- O enxoval já nós temos cá.
O padrinho de onde virá?
Diz o rato que está no buraquinho
Que está pronto p’ra ser padrinho.
- O padrinho já nós temos cá.
A madrinha de onde virá?
Diz a cobra que estava na vinha
Que está pronta p’ra ser madrinha.
- A madrinha já nós temos cá.
A dançarina de onde virá?
Diz a mosca que andava no ar
Que está pronta p’ra dançar?
- A dançarina já nós temos cá.
O gaiteiro de onde virá?
Diz o burro que está no palheiro
Que está pronto p’ra ser o gaiteiro.
- O gaiteiro já nós temos cá,
O casamento vai-se fazer já.
Contando botões:
Rei, capitão,
Soldado, ladrão,
Mona, menina,
Do meu coração.
Rei capitão,
Soldado, ladrão.
Mona, menina,
Macaca, pombinha.
Pipa nova,
Pipa velha,
Foi ao mar
E rebentou.
Com licença meus senhores
Aqui está que se….
Brincadeiras com os dedos:
Mínimo – eu sou o mindinho
Anelar – o seu vizinho
Médio – o pai de todos
Indicador – o fura-bolos
Polegar – e o mata-piolhos.
M – eu sou mindinho
A – o seu avozinho
M – o dedal
J – o fura-bolos
P – o mata-piolhos.
M – eu vou à água
A – eu vou à lenha
M – eu vou aos ovos
J – eu frito-os
P – eu como-os.
Pico, Pico, Pico,
Tanto milho eu piquei,
Fui levá-lo ao moinho,
O moinho não moeu.
Chamei por Santiago,
Santiago não me ouviu,
Ouviram dois ladrões
A apalpar os meus calções.
Eu pensei que era graça
O beber vinho de minha cabaça.
- Que está na varanda?
- Uma fita cor de ganga.
- Que está na janela?
- Uma fita amarela.
- Que está no poço?
- Uma casca de tremoço.
- Que está no telhado?
- Um gato-pingado.
- Que está na chaminé?
- Uma caixa de rapé.
- Que está na rua?
- Uma espada nua.
- Que está atrás da porta?
- Uma porta torta.
- Que está no ninho?
- Um passarinho.
Deixa-o no morno,
Dá-lhe pãozinho.
Dentro do ninho está um ovinho,
Dentro do ovinho está um passarinho.
É um passarinho,
Deixai-o voar!
No meio de Roma está uma rua;
No meio da rua está uma casa;
No meio da casa está uma mesa;
No meio da mesa está uma gaiola,
Na gaiola está um ninho,
Dentro do ninho está um passarinho.
Passarinho ao ninho, ninho à gaiola,
Gaiola à mesa,
Mesa à casa,
Casa à rua,
Rua à Roma.
Tão balalão,
Cabeça de cão,
Orelhas de gato,
Não tem coração.
- Lagarta pintada,
Quem te pintou?
- Foi uma ovelha que
Por aqui passou.
No tempo da eira
Fazia poeira.
Puxa, lagarta,
Por aquela orelha.
- Cá, cá, rá, cá,
Põe-te na pá,
Faz um bolinho,
Para o Joãozinho,
Que anda no monte,
Com a perna quebrada.
- Quem a quebrou?
- Foi a galinha.
- Que é da galinha?
- Foi pôr o ovo.
- Que é do ovo?
- Levou-o o padre.
- Que é do padre?
- Foi dizer a missa!
- Que é da missa?
- Já está dita.
- Lagarto pintado,
Quem te pintou?
- Foi uma velha
Que aqui passou.
- Lagarto azul,
Quem te azulou?
- Foi a onda do mar
Que me molhou.
- Lagarto amarelo,
Quem te amarelou?
- Foi o sol poente
Que em mim pousou.
A menina Chiquelinha
Fez xixi na panelinha,
Foi dizer para a cozinha
Que fez canja de galinha!
Ronda, ronda,
Qui, qui libonda,
Sol, lá, mi, ronda,
Filipe esconda.
Mel, catrapel,
Sai meu pastel.
Ficar, ficar que eu vou parar ao mar,
Apanhar peixinhos, p’ra o meu jantar.
De bote mudado,
Batata, batina,
Mulata, novena,
Menino, penedo.
Tijolo, janota, Pedrito,
Abafa palito,
Pevide, banana, filete
Alongante e viajante
Arranca nabos
E nabos ensaca
É de esfoça terra,
É um reco!
A, E, I, O, U,
Aqui ficas tu.
Em Viseu está uma casa,
Dentro da casa está uma mesa,
Em cima da mesa está uma gaiola,
Dento da gaiola está um ninho,
No ninho está um ovinho,
Dentro do ovinho está um passarinho.
- Serrobico, bico, bico,
Quem te deu tamanho bico?
- Foi o filho do Luís,
Que está preso pelo nariz.
Salta a pulga da balança,
Dá um salto e põe-se em França.
Os cavalos a correr,
As meninas a aprender,
Qual será a mais bonita
Que se vai esconder?
- Serrobico, bico, bico,
Quem te deu tamanho bico?
- Foi a ovelha chocadeira,
Que anda lá pela ribeira
A apanhar ovinhos de perdiz
Para a filha do juiz.
Os cavalos a correr,
As meninas a aprender,
Qual será a mais bonita
Que se vai esconder?
- Serrobico, bico, bico,
Quem te deu tamanho bico?
- Foi o d’ouro e o de prata
E o que salta para a buraca.
Os cavalos a correr,
As meninas a aprender.
- Serrobico, bico, bico,
Quem te deu tamanho bico?
- Foi a ovelha chocadeira,
Que anda lá pela ribeira
A apanhar ovinhos de perdiz
Para o filho do juiz,
Que está preso pelo nariz.
Os cavalos a correr,
As meninas a aprender,
Qual será a mais bonita
Que se vai recolher?
Composições Líricas
Mágicas e Religiosas: Orações e Responsos
Doze petições a Deus Nosso Senhor
(Não consegui registar as doze petições, de modo que transcrevo seguidamente
as dez que encontrei.)
O Vosso nome é Jesus de Nazaré,
Ainda espero morrer na vossa santíssima fé.
A Vossa sagrada coroa
Toda coroada de espinhos.
Tudo pelos nossos pecados
Sofreste tantos martírios.
O Vosso sagrado cabelo
É como fio de ouro.
Em troca dos meus pecados
Vale um grande tesoiro.
Os Vossos sagrados ombros
Denegridos como a madeira.
Tudo pelos meus pecados,
Senhor Deus tão verdadeiro.
A Vossa sagrada face
Toda cheia de chagas.
Tu pelos meus pecados
Sofreste tantos tormentos.
O Vosso sagrado peito
Estrepassado por uma lança.
Entre a minha alma por ela
Para bem-aventurança.
Os Vossos sagrados joelhos
De rodilha pela terra.
Entre a minha alma para vós
Dai-me salvação a ela.
Os Vossos sagrados pés
Alvos como a neve pura,
Vertendo rios de sangue
Pela rua da amargura.
Aquela mulher Verónica
Que Vos saiu ao caminho,
Vós de prémio lhe deixaste
O Vosso retrato divino.
Estas petições quem as sabe, não as diz,
Quem as ouve, não as aprende,
Mas no dia do Juízo
Verá como se arrepende.
Da noite
Nesta cama me deito
Para dormir descansado,
Se a morte vier, não lhe posso falar,
Apego-me aos cravos,
Abraço-me à cruz,
Entrego minha alma
Ao Sagrado Coração de Jesus.
Encomendo-me a Jesus
E à flor em que nasceu
E à hóstia consagrada
E à cruz em que morreu.
Jesus é meu,
Eu sou de Jesus,
Jesus anda comigo,
Eu ando com Jesus.
Antes das refeições
Abençoai, Senhor, este alimento,
Para melhor Vos servir e amar.
Em nome do Pai, do Filho
E do Espírito Santo
Ámen.
Dou-Vos graças, meu Deus,
Pelos alimentos que me destes
Sem eu merecer.
Dai-me o céu quando eu morrer.
Em nome do Pai, do Filho
E do Espírito Santo
Ámen.
Da noite
Maria, minha Mãe,
Livrai-me do pecado, durante esta noite!
Pelo poder que vos concedeu
O Pai Eterno.
Ave-Maria.
Maria, minha Mãe,
Livrai-me do pecado, durante esta noite!
Pela sabedoria que vos concedeu
O Filho.
Ave-Maria.
Maria, minha Mãe,
Livrai-me do pecado durante esta noite!
Pelo amor que Vos concedeu
O Espírito Santo.
Ave-Maria.
Com Deus me deito,
Com Deus me levanto,
Com a graça de Deus
E do divino Espírito Santo.
Com Deus me deito,
Com Deus me levanto,
Nosso Senhor me cubra
Com o seu divino manto.
Ó meu Deus crucificado,
Filho da Virgem Maria,
Guardai-me esta noite
E amanhã por todo o dia.
Nem meu corpo será preso,
Nem minha alma perdida,
Jesus, Ave-Maria.
Com Deus me deito,
Com Deus me levanto,
Com a graça de Deus
E do divino Espírito Santo,
Que me cubra com o seu divino manto.
Se eu bem coberto for,
Não terei medo, nem temor.
Senhor, de mim quero a minha alma
A Vós entregar.
Se eu dormir, acordai-me,
Se eu morrer, alumiai-me
Com as três velas acesas
Da Santíssima Trindade.
Com Deus me deito,
Com Deus me levanto,
Com a graça de Deus
E do divino Espírito Santo,
Nossa Senhora me cubra
Com o seu divino manto.
Se eu com ele coberto for,
Não terei medo, nem temor,
Nem coisa que má for.
Ó divino Espírito Santo,
Vós que me esclareceis de tudo,
Que iluminais todos os meus caminhos
Para que eu possa atingir a felicidade.
Vós que me concedeis o sublime dom
De perdoar as ofensas,
Ajudai-me a atingir a graça que vos imploro
E que possa alcançar
A vida eterna
Na vossa companhia
E de Jesus e Maria.
Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória.
Antes de qualquer acção
Ó Jesus, é por vosso amor,
Pela conversão dos pecadores
E em reparação pelos pecados
Cometidos contra o Imaculado
Coração de Maria.
Santa Maria, Santa Ana,
São José e São Joaquim,
Todos estes quatro Santos
Peçam ao Senhor por mim.
A Santa Bárbara
Santa Bárbara se vestiu e se calçou,
Ao caminho se botou,
Nosso Senhor a encontrou
E lhe perguntou:
- Onde vais, ó Santa Bárbara?
- Vou espalhar as trovoadas
P’r’ó monte maninho,
Onde não haja pão, nem vinho,
Nem beira nem eira,
Nem ramos de figueira,
Nem sinos a tocar,
Nem meninos a chorar,
Cordeiro na cruz,
Salvai-nos, Jesus.
Santa Bárbara se vestiu e se calçou,
Jesus Cristo a encontrou
E lhe perguntou:
- Santa Bárbara, onde vais?
- Vou abrandar aqueles tormentinhos
Que andam no monte maninho,
Onde não haja bafo de menino,
Nem cordeirinhos a berrar,
Nem galos a cantar.
Livrar dos raios
Santa Bárbara donzilha,
Livrai-nos duma centilha.
Jesus Cristo será cravado
Na madeira de uma cruz.
Gloria ao padre, ámen, Jesus!
Cristo viva, Cristo reine,
Cristo nos salve.
Uma voz ouvi do céu
De sua real majestade.
Chagas abertas, corações feridos,
Deus nosso Senhor se meta
Entre nós e os perigosos.
Santa Bárbara bendita,
Que no céu está escrita
Com cruzes e água benta,
P’ra apagar esta tormenta.
Ao Senhor do Horto
Senhor do Horto,
Foste vivo e foste morto,
Perdoaste na hora da tua morte,
Sendo ela tão cruel e tão forte.
Perdoai os meus pecados,
Uns esquecidos e outros lembrados
Que nunca os confessei,
Confesso-os a Vós
Para que me sejam perdoados
E eu possa atingir
A vida eterna
Na Vossa companhia e na da Virgem Maria.
Ao entrar na igreja
Nesta Casa Santa entrei,
Água benta tomarei
P’ra lavar os meus pecados.
Pecados, ficai aqui,
Que eu vou dar conta de mim
Ao meu Senhor Jesus Cristo,
Já há muito que não vi.
Minhas orações ao bom Jesus entrego.
No dia da minha morte,
Pela salvação
Que espero.
Salve-rainha pequenina
Rosa divina,
Cravo de amor,
Mãe do Senhor
Dá-nos juízo
E entendimento
Para receber
O Santíssimo Sacramento.
Pai-nosso pequenino
Padre-nosso pequenino,
Quando Deus era menino
Tinha as chaves do paraíso.
Quem lhas deu,
Quem lhas daria?
Foi a Virgem Santa Maria.
Cruz no monte,
Cruz na fonte,
Nunca o diabo a encontre,
Nem de noite, nem de dia.
Já os galos pretos cantam,
Já os anjos se levantam,
Já o Senhor subiu à cruz.
Para sempre,
Ámen, Jesus.
Acção de graças
Senhor, que nos deste p’ra agora,
Dai-nos para toda a hora!
Que bom proveito nos faça,
Mantenha-nos Deus na sua divina graça.
Orações das sextas-feiras
Goivos Santos, goivos Santos,
Três dias antes da Páscoa,
Quando o rebentar do mundo
Por seus discípulos chamava,
Chamava um a um,
Para a par se lhe juntavam.
Desde que os via fartos,
Um sermão lhes praticara,
Olhavam uns para os outros,
A todos tremia a barba,
E aqueles que a barba não tinham,
Sua cor se lhe mudava.
- Qual destes meus doze discípulos
Morrerá por mim amanhã?
Respondeu João Baptista
Que seu primo se chamava:
- Eu por Vós, ó meu Senhor,
Antes hoje que amanhã.
A tua morte João Baptista
…………………….
Estando nestas razões
Jesus Cristo caminhava
Descalcinho pela neve,
Rastos de sangue deixava,
Com uma soga na garganta
Por onde Judas puxava.
Cada vez que Judas puxa,
Jesus Cristo ajoelhava.
Uma cruz leva aos seus ombros,
Mui pesada e muito dura,
Vinte palmos tem de lado,
Outros tantos tem de altura.
Aí vêm as três Marias,
Todas três numa campanha:
Uma era Santa Marta,
Outra era a Santa Madalena,
Outra era a Virgem Maria,
A que mais paixão levava.
Indo a meio do caminho,
Um cavaleiro encontrara amado,
Atreveu-se e procurou
Por seu filho tão amado.
- O seu filho, ó Senhora,
O seu filho tão amado,
De judias e judeus
Ele vai rodeado!
Uns iam-lhe cuspindo,
Outros que iam atrás
Pedras lhe iam atirando.
A Senhora, que tal ouviu,
Caiu ao chão desmaiada,
Santa Marta a erguerá,
Madalena a ajudará.
Indemos Indemos,
Até chegar ao Calvário.
Por mais depressa que cheguemos,
Já está crucificado,
Já tem os espinhos tirados
E os cravos colocados;
Já está em cima do madeiro
Onde há-de ficar crucificado.
O sangue dele corre,
Corre num cálice sagrado,
Aquele que beber
Será bem afortunado.
Neste mundo será rei
E no outro coroado.
Maria, Mãe Imaculada de Jesus e nossa Mãe,
Aqui está nos teus joelhos,
Atribulados mas confiados,
Suplicando-vos humildemente.
São José e Maria,
Guardai a minha alma
Na última agonia.
Anjo da Guarda,
Minha companhia,
Guardai a minha alma
De noite e de dia.
Responso a Santa Helena
Santa Helena,
Rainha do Sena,
Moura foste,
Cristã te tornaste,
Por sobre as águas do mar andaste,
Com as onze mil virgens te encontraste,
Pão, peixe, salsa, com elas ceaste,
Dormiste e descansaste.
Com a cruz do Senhor sonhaste,
Onde sonhaste, lá a encontraste.
Três cravos que ela tinha,
Todos três lhos tiraste:
Um deitaste ao mar
Para ser sagrado;
Outro deste ao vosso filho Constantino
Para que com ele vencesse as batalhas da fé;
Outro guardaste-o no vosso coração.
Que me declareis em sonho se…
(graça pedida).
Se for verdade ou para bem,
Dai-me um sonho com:
Águas claras, casas caiadas, roupas lavadas
E jardins com flores;
Se for o contrário fazei com que eu sonhe com:
Águas escuras, casas sujas, roupa suja
E jardins sem flores.
Responso
(nome da pessoa).., eu te entrego a Jesus,
À sua Santíssima Cruz,
Ao Santíssimo Sacramento,
As três relíquias que ele tem dentro,
Às três missinhas de Natal
Que nem homem, nem mulher,
Nem coisa ruim te possa fazer mal.
Jesus, santo nome de Jesus,
Jesus, Maria, José, Virgem Maria,
Sejam contigo.
Jesus, santo nome de Jesus,
Jesus, Maria, José, Virgem Maria,
Sejam contigo.
Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.
Responso
(nome da pessoa), com as armas de Deus andas,
Armado com o leite de Nossa Senhora borrifado,
Jesus no teu corpo para que não sejas nem preso, nem ferido,
Nem morto, nem teu corpo envolto,
Nem tuas palavras mal dadas,
Nem tuas falas desprezadas.
Por caminhos e carreiros andarás,
Bons e maus encontrarás,
Os bons passarão,
Os maus não te encontrarão,
O Anjo da Guarda te guarde
Hoje, amanhã e todos os dias,
Assim como guardou o filho de Deus
No ventre divino da Virgem Maria.
Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.
Composições Líricas
Mágicas e Religiosas: Ensalmos
Talhar o ar
Deus te fez,
Deus te criou,
Deus te tire o mal
Que contigo entrou.
Ar de vivo,
Ar de morto,
Ar excomungado,
Sai deste corpo.
Ar de vivo,
Ar de morto,
Sai excomungado
Deste corpo.
Talhar o coxo
Eu te talho,
Bicho, bichão,
Sapo, sapão,
De toda a nação.
Em louvor de São Silvestre,
Sai daqui, ó grande peste.
Talhar o quebrante dos seios das mães que amamentam
Nosso Senhor quando pelo mundo andou,
Um homem bom encontrou,
Uma má lhe fez e cama.
Anda, meu menino,
Chupa e mama.
Talhar o “aberto” do pé ou da mão
Eu que coso,
Carne aberta com fio torto,
Eu te coso.
Em louvor de São Furtuoso. (7 vezes)
Em louvor da Virgem Maria,
Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.
Talhar a erisipela (zipla)
Zipla, Zipela,
Eu te talho com nove pedras de sal,
Nove folhas de carvalho.
Com o poder de Deus,
O poder da Virgem Maria
Este zipelão sairia.
Talhar o quebrante das dores de cabeça
Deus me fez,
Deus me criou,
Deus me desencanhe
Para quem me encontrou.
Defumar a casa dos males de inveja
O sol nasce na serra
E mete-se no mar.
Todo o mal que nesta casa entrou,
Vá parar ao fundo do mar.
Eu meu filho vou mostardar,
Para que nem bruxas,
Nem feiticeiras,
Lhe vão fazer mal.
Com três murros meus e três teus
E três de uma pata
E três de Maria Mateus
E três de uma velha candongueira,
Que levanta sete rasas de poeira,
Tudo para essa focinheira.
Eu te talho
Com palhas alhas,
Com seiscentas mil bugalhas,
Com a Maria palhas.
Impedir que o ar entre com quem diz
Tu és ferro,
Eu sou aço,
Tu és o diabo,
Eu te embasso.
Todo o mal que me querias deitar,
Te caia no teu regaço.
Tu és de ferro,
Eu sou de aço.
Todo o mal que me querias,
Te caia no teu regaço.
Composições LíricasSatíricas: Serrar a velha
Serra da velha
Infelizmente, tradições como esta vão caindo em desuso. Tardiamente
nos consciencializamos deste rico espólio que, daqui a alguns anos, será
impossível reaver.
A serra velha era um acontecimento que tinha lugar no meio da
Quaresma, época de meditação e penitências no calendário litúrgico.
Um grupo de rapazes juntava-se uma noite e arranjava uma serra e um
cortiço. Assim armados, dirigiam-se para casa da pessoa escolhida nesse ano,
que tinha de ser a mais idosa da terra. Chegando à porta da casa, pousavam o
cortiço e, enquanto fingiam serrá-lo, iam cantando:
Serra-se a velha,
Quem será ela?
É a ti “Joaquina”
Que é a mais velha.
Algumas vezes eram mal recebidos, pois ninguém gosta de ser chamado
“velho”; outras vezes, pelo contrário, davam-lhes vinho, broa e fumeiro. Depois
de tal ceia, despediam-se com o desejo de voltar ali para o ano seguinte, indicativo
de que todos seriam vivos.
Marlene Teixeira Guedes Cabral, 65 anos, Vila Marim