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IDENTIDADES REGIONAIS NA MÚSICA NATIVISTA DO RIO
GRANDE DO SULEncontro Estadual de Geografia - Erechim
Autor: Geógrafo Iuri Barbosa
COLÉGIO MÃE DE DEUSProfessor: Alexandre da Rosa – Geografia
Na música “nativista” prevalecem cinco distintas identidades regionais: Serra (Campos de cima da Serra, Missões, Fronteira (Oeste), Campanha (pampa) e Litoral (mar e lagoas)
Litoral
Campanha
Fronteira
Missões
Serra
Serra (Campos de Cima da Serra)
Elementos regionais: Campos serranos, pinheiro de araucária (e o
pinhão), frio Tropeiros (descendentes de portugueses),
colonização de descendentes de italianos Elementos musicais
Músicas voltadas a animação de baile, ritmos dançantes
Ritmos: Bugio, vaneira (ao), xote Intrumentos: gaita pianada, baixo, violão (ou guitarra
elétrica), bateria
Principais municípios: São Francisco de Paula, Bom Jesus, Vacaria, Esmeralda, Lagoa Vermelha Bento Gonçalves Caxias do Sul
Serrano, sim senhor!Os SerranosComposição: Flory Weger/ Jauro Ghelen/ Glauber Vieira.
Venho de cima da serraSou serrano, sim senhorSou um tigre peleadorGuardião dessa fronteiraSou abridor da porteiraPra aqueles que vêm em pazSou posteiro e capatazDa invernada brasileira (2x)
Se a minha bombacha é estreitaNão é por falta de panoPois a lida de vaqueanoMe proibe o exageroDe diferente é o apeloE a bota é a sanfonadaEu herdei das carreteadasE dos birivas tropeiros
(Refrão)Me orgulho em ser serranoPisador de geada friaDomador de ventaniaPara-peito pro MinuanoSou gaiteiro veteranoSapecador de pinhãoNo mundo que é meu galpãoSou monarca soberano (2x)
Trago retrechos na almaDe cordeonas fandangueirasDe guitarras choradeirasHerdadas do velho mundoAcordes do Pedro RaimundoClarinando a madrugadaAssobiando pela estradaNa volta de algum surungo (2x)
Pra demarcar a divisaPlantei a velha bandeiraLevantei esse trincheiraPra rebater o invasorSou eterno bombeadorDa pampa continentinaTive essa graça divinaSou Serrano, Sim Senhor!
/www.youtube.com/watch?v=Ceivb0bQ69w
São Francisco é terra boa (Honeide e Adelar Bertussi)
Com licença meu senhor vou falar da minha terraVou contar de São Francisco dos campos de cima da serra
Eu sou filho daqueles pagos terra boa e sem luxoÉ o coração serrano no Rio Grande o mais gaúcho
São Francisco é terra boa gente forte e hospitaleira
Todo serrano é pachola e a serrana é faceiraMuito gado na coxilha no bolso muito dinheiro
Prá cantar de improviso serrano não tem parceiro
São Francisco é um município entre os maiores do estadoA sua maior riqueza é a criação do gado
Fazendas de campo aberto coxilhas a campo foraOnde canta o quero-quero e onde o minuano chora
Eu saí de São Francisco, o interior fui visitar
Por Tainhas e Contendas, Aratinga e CambaráAlmocei na Jaquirana, resolvi continuar
Só em Cazuza Ferreira é que eu fui pernoitar
Vila Seca e Criúva, Apanhador e JuáPassei no Passo do Inferno e o Salto fui visitarNunca vi tanta beleza, no mundo igual não há
O que eu quero nestes versos é minha terra cantar
Quando chega fim de setembro, na saída do verãoO serrano então demonstra de gaúcho a tradiçãoMontando no seu cavalo ou nas lidas de galpãoDa ilhapa até a presilha o serrano é campeão
Quando estou longe dos pagos a saudade é de matar
Eu me sinto acabrunhado com vontade de voltarO serrano é um homem triste vivendo em outra terraO serrano só morre feliz, morrendo em cima da serra
MissõesElementos regionais:
Missões jesuíticas, terra vermelha, resistência guarany, ideal latino-americano
Figura de Sepé Tiaraju: “esta terra sem dono”
Elementos musicaisMais homogênea, principalmente pelos “troncos
missioneiros”
Poesia social, de luta, engajada
Ritmos: milonga, chamamé, rancheira, vaneira, chamarra
Istrumentos: violão, gaita ponto, contrabaixo
Elementos regionais: Missões jesuíticas, terra vermelha, resistência
guarany, ideal latino-americanoFigura de Sepé Tiaraju: “esta terra sem dono”
Elementos musicaisMais homogênea, principalmente pelos “troncos
missioneiros”
Poesia social, de luta, engajada
Ritmos: milonga, chamamé, rancheira, vaneira, chamarra
Istrumentos: violão, gaita ponto, contrabaixo
• Principais Municípios:
– Santo Ângelo
– São Luiz
– São Borja
– Bossoroca
– Santa Rosa
Gana Missioneira - Valdomiro Maicá, Cenair Maicá e Nilo Bairros de Brum
Esta gana missioneira que carrego inteira dentro do meu peitoMe faz caudatário de um rio que volta para o velho leitoE o mate que cevo pra sorver solito quando o sol se vaiÉ a seiva bugra da terra vermelha do alto uruguai Bis
Eu sou missioneiro nasci para a liberdadeMas aqui finquei meu rancho pra não sentir mais saudadeSou herdeiro de sepé retemperado na guerraE se precisa eu tranco o pé pra defender minha terra
Hay os que se perdem por perder raízes que não acham maisHay os que se encontram por voltar as fontes dos seus ancestraisE as encruzilhadas parecem caminhos a se afastarQuando na verdade são pontos de encontro pra quem quer voltar
Eu sou missioneiro sei de bailes e potreadasTambém sei de mutirões no cabo liso da enxadaPor saber tudo o que sei me sinto bem a vontadeSempre pronto a defender terra honra e liberdade
Fronteira (oeste)• Elementos regionais:
– Rio Uruguai, integração entre países
– Chibeiros, barranqueiros, pescadores, campeiros, êxodo regional
• Elementos musicais
– Mistura elementos das missões e da campanha, inclusive em seus interpretes/compositores
– Grande importancia dos festivais nativistas: California, Barranca e Martin Fierro na formação da identidade fronteiriça
– Ritmos: chamame, milonga, vaneira
– Instrumentos: gaita ponto, violão, bombo leguero
• Principais municípios
– Uruguaiana
– São Borja
– São Luiz
– Itaqui
– Quaraí
– Santana do Livramento
Barranca e FronteiraComposição: Antônio Augusto Fagundes e Luiz Telles
Quando chega o domingo eu encilho o meu pingo que troteando saiRumo as velhas barrancas de histórias tantas do rio UruguaiEu sou fronteiriço de rédea e caniço o perigo me atraiSou de Uruguaiana de mãe castelhana igual a meu pai
Se a terra não é minha se a vida é mesquinha o que se há de fazerMas o sonho nasceu e o rio se fez meu e nele vou descerPra encontrar quem me espera morena sincera que é meu bem quererMeu momento é ai no chão onde eu nasci e onde eu vou morrer
Tenho o verde dos campos nos teus olhosE um feitiço maleva que é puro veneno do caminharUma noite serena adormece morena em teus cabelosE o seu corpo bronzeado é um laço atirado a me pealar
Tristeza e alegria são meu dia-a-dia já me acostumeiSou de campo e de rio tenha sol, faça frio lá domingo estareiBarranca e fronteira canha brasileira assim me crieiCom carinho nos braços galopo meus passos e me torno um rei
Hoje meu dia-a-dia só tem alegrias tristezas deixeiEncontrei na verdade a outra metade que tanto busqueiBarranca e fronteira canha brasileira feliz estareiCom carinho nos braços da prenda os abraços e me sinto um rei
Campanha (pampa)
• Elementos regionais
– Cultura hegemônica do gaúcho
– pampa, campanha, criação de gado, latifundio
– Mais atrelada ao MTG
• Elementos musicais
– Ritmos: milonga, vaneira,
– Instrumentos: violão, gaita ponto, pandeiro
• Principais municípios
– Alegrete
– Bagé
– Piratini
– Pelotas
– São Gabriel
– São Jerônimo
– Santana do Livramento
– Santa Maria
Cantador de CampanhaComposição: Sergio Carvalho Pereira
Meu trabalho é de peão campeiroconforme diz meu documentosigo sem afrouxar nenhum tentode campanha, crioulo e fronteiro
Mas eu trago outro ofício no mundoque esses fundos já sabem qual écanto baile nos ranchos de campodo Retiro a Azevedo Sodré
Bendição que eu carrego comigoser um peão cantador de campanhacom o gaiteiro eu me entendo por sanhapra pobreza eu até já nem ligo
Me chamaram pra sábado agoracantar um baile na costa do Arealeu não tenho no bolso um realmas eu sou o cantador dessa gente de fora
Chão batido de saibro vermelhomeia água de quatro por cincovou mirando os buracos do zincoe cantando ao clarão do cruzeiro
Que faz ano a guria mais novalá do rancho do seu Gomercindoe eu não sei qual o semblante mais lindodas três filhas da comadre Mosa
A Isabel, a Canducha e a Rosanem te digo qual a mais bonitatodas três com vestido de chitacom pregueado de fita mimosa
O Amadeus na gaita de botãoe o Condonga no violão canhotoe um zumbido igual gafanhotono pandeiro do negro Bujão
Duas moças vem do Paradore uma prima de São Gabrielpode ser que a menina Isabelfaça uns olhos de graça pra este cantador
Se clareia agarremo a estradaque a pegada é só segunda feiravou cantando mais duas vaneirasdessas de iluminar madrugada.
Litoral (e lagoas)
• Elementos regionais:
– Lagoas e o mar
– Região cultural mais heterogênea
– Forte influência afro-açoriana
• Elementos musicais
– Importância dos festivais: Moenda, Tafona e Reponte
– Ritmos: vaneira, maçambique, samba, choro, terno de reis
– Instrumentos: violão (de 6 e de 7 cordas), cavaco, bandolin, tambor de sopapo, percussões, viola capira, djembe
• Principais Municípios
– Osório
– S. ª da Patrulha
– Tapes
– Camaquã
– S. Lourenço
– Pelotas
– Porto Alegre
Lago Verde AzulComposição: Helmo de Freitas
Um medo de andar solito, ouvindo vozes e gritosE até do barco um apito na sua imaginaçãoOlhos esbugalhados do moleque assustado, olhando aquele mar bravoOra doce, ora salgado, num temporal de verãoSem camisa na beirada bombachita arremangadaBotou petiço na estrada quando a areia lhe guasqueouSentiu um arrepio com aquele ar frio que o açude e rioE as águas que ele viu não lhe provocou
(Coqueiro e figueira dos matos e a bela Lagoa dos Patos, ó verdadeiro tesouroLago Verde e Azul que na América do Sul Deus botou pra bebedouro)
Tempos que ainda tinha o bailado da tainhaQuando o boto vinha com gaivota revoadaE entre outros animais, no meio dos juncaisSurgiam patos baguais e hoje não se vê mais este símbolo da aguadaNas noites de lua cheia, a gente sentava na areiaPara ver se ouvia a sereia entre as ondas cantandoE hoje eu volto ali, no lugar em que viviOnde nasci quando guri me olho lagoa em ti e me enxergo chorando
Afro-açoriano (Ivo Ladislau e Carlos Catuípe)
O vento e as areias,Em dança milenar,
Saudaram o açoriano,Andejo de além mar,E também ao negro
Na vinda pros canaviaisCharqueadas, pastoreios
Serviços gerais.Vieram os cantos
Riquezas culturais,O tempo repassou
Danças imortais
As carretas açorianas,Pela estrada da laguna
Povoaram esta faixaBranqueada pelas dunas
O braço nos canaviaisFoi negro por excelênciaHoje livre busca o espaçoPor toda essa querência.
Afro-açoriano
Ninguém pode negarNa alma, na construção
No jeito de cantar
Referências• MANN, Henrique. Um Século de Música no
Rio Grande do Sul. CEEE, 2001
• JACKS, Nilda. Mídia Nativa: indústria cultural e cultura regional. Ed UFRGS, Porto Alegre, 1998.
• SANTI, Álvaro. 2004. Do Partenon à Califórnia: o nativismo e suas origens. Porto Alegre: Editora da UFRGS.
• OLIVEIRA, Silvio de; VERONA, Valdir. Gêneros musicais campeiros no Rio Grande do Sul: ensaio dirigido ao violão. Porto Alegre: ED. Nativismo, 2008