idéias para a luta 1

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IDÉIAS PARA A LUTA [1] INSURREIÇÕES OU REVOLUÇÕES? O PAPEL DO INSTRUMENTO POLÍTICO MARTA HARNECKER 1. Os recentes levantamentos populares que sacudiram a Argentina e a Bolívia , em geral, a historia dos múltiplos confrontos sociais que aconteceram na América Latina e no mundo , demonstraram com veemência que não basta a iniciativa criativa das massas para alcançar a vitória sobre o regime existente. 2. Massas urbanas e camponesas empobrecidas se sublevaram, e sem uma direção política clara, tomaram estradas, povoados, bairros, saquearam centros de abastecimento, conseguiram tomar parlamentos, mas, apesar de ter mobilizado centenas de milhares de pessoas, nem a sua massificação nem a sua combatividade permitiram passar da insurreição popular para a revolução. Conseguiram derrubar presidentes, mas não foram capazes de conquistar o poder para iniciar um processo de transformações sociais profundas. 3. A história das revoluções triunfantes, pelo contrário, ratifica de forma teimosa o que se pode alcançar quando existe um instrumento político capaz, em primeiro lugar, de propor um programa alternativo de caráter nacional que permita canalizar a luta dos diversos atores sociais em direção a um objetivo comum; que ajude a articular entre eles e que seja capaz de promover a elaboração dos passos a seguir, de acordo com a análise da correlação de forças existentes. Somente assim poderia lançar as ações no momento e lugar mais oportunos, procurando sempre o elo mais débil da corrente inimiga. 4. Essa instância política é como o pistão que comprime o vapor de uma locomotiva no momento decisivo e permite que este não seja desperdiçado e se converta em força propulsora. 5. Para que a ação política seja eficaz, para que as atividades de protesto, de resistência e de luta mudem realmente as coisas, para DOCUMENT.DOC 1

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IDIAS PARA A LUTA [1]INSURREIES OU REVOLUES? O PAPEL DO INSTRUMENTO POLTICOMARTA HARNECKER1. Os recentes levantamentos populares que sacudiram a Argentina e a Bolvia , em geral, a historia dos mltiplos confrontos sociais que aconteceram na Amrica Latina e no mundo , demonstraram com veemncia que no basta a iniciativa criativa das massas para alcanar a vitria sobre o regime existente.. !assas ur"anas e camponesas empo"recidas se su"levaram, e sem uma dire#$o poltica clara,tomaram estradas, povoados, "airros, saquearamcentros de a"astecimento, conseguiram tomar parlamentos, mas,apesar de ter mo"ili%adocentenas de milhares de pessoas, nem a sua massificao nem a sua combatividade permitiram passar da insurreio popular para a revoluo. &onseguiram derru"ar presidentes, mas n$o foram capa%es de conquistar o poder para iniciar um processo de transforma#'es sociais profundas.(. A hist)ria das revolu#'es triunfantes, pelo contr*rio, ratifica de forma teimosa o que se pode alcan#ar quando e+iste um instrumento poltico capaz, em primeiro lugar, de propor um programa alternativo de carter nacional que permita canalizar a luta dos diversos atores sociais em direo a um objetivo comum, que a-ude a articular entre eles e que se-a capa% de promover a ela"ora#$o dos passos a seguir, de acordo com a an*lise da correla#$o de for#as e+istentes. .omenteassimpoderia lan#ar as a#'es no momento e lugar mais oportunos, procurando sempre o elo mais d"il da corrente inimiga./. 0ssa inst1ncia poltica como o pist$o que comprime o vapor de uma locomotiva no momento decisivo e permite que este n$o se-a desperdi#ado e se converta em for#a propulsora.2. 3ara que a a#$o poltica se-a efica%, para que as atividades de protesto, de resistncia e de luta mudem realmente as coisas, para que as insurreies desemboquem em revolues, se requer uma instncia poltica que ajude a superar a disperso e !atomizao" do povo explorado e reprimido, criando espa#os de encontro para aqueles que tm diferen#as,mas lutam contra um inimigo comum, que se-a capa% de potenciali%ar as lutas e+istentes e de promover outras, orientando as a#'es e tendo como "ase a an*lise da totalidade da din1mica poltica, que sirva de instrumento articulador das mltiplas e+press'es de resistncia e de luta.4. 5econhecemos que o terreno n$o frtil para se fa%er ouvir essas idias. !uitos n$o aceitam sequer discuti6las. 0 adotam essa atitude porque as associam 7s pr*ticas polticas antidemocr*ticas, autorit*rias, "urocr*ticas, manipuladoras que caracteri%arammuitos partidos de esquerda.8. Acredito que fundamental superar este bloqueio subjetivo e entender que quando falo de um instrumento poltico, no se trata de qualquer instrumento poltico. #rata$se de um instrumento poltico adequado aos novos tempos, um instrumento que temos que construir entre todos.9. !as para criar ou modelar o novo instrumento poltico preciso mudar primeiro a cultura poltica da esquerda e a sua viso da poltica. 0sta n$o pode se redu%ir a disputas polticas 279293058.DOC 1institucionais pelo controle do parlamento, dos governos locais, por ganhar um pro-eto de lei ou algumas elei#'es. :esta forma de conce"er a poltica, os setores populares e suas lutas s$o os grandes ignorados. A poltica tam"m pode limitar6se 7 arte do possvel.;. 3ara a 0squerda, a poltica deve ser a arte de tornar possvel o impossvel. 0 n$o se trata de uma declara#$o voluntarista.