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IDADE E CRESCIMENTO DE Iheringichthys labrosos NO RIO URUGUAI - RS
Soares, H. J(1); Gralha, T. S.(2); Pessano, E. F. C.(3); Querol, M. V. M.(2)
(1) Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, Pampa - RS, Brasil; (2) Centro de Tecnologia de Pesca e Aquicultura - CTPA, Pampa - RS, Brasil.
RESUMO A idade e crescimento são parâmetros necessários para o estabelecimento da dinâmica populacional de espécies de peixes e fundamentais para subsidiar o gerenciamento pesqueiro da Bacia do rio Uruguai. O objetivo é determinar a relação peso-comprimento, a idade e o crescimento de Iheringichthys labrosus (Lütken, 1874) na região de Uruguaiana, Bacia do rio Uruguai. O estudo foi desenvolvido no distrito de São Marcos, na cidade de Uruguaiana, no curso médio do rio Uruguai. Para cada exemplar registraram-se o comprimento total (Lt) em centímetros e peso total (Wt) em gramas. A relação peso total e comprimento total foi determinada com o propósito de estabelecer uma estimativa através do peso do peixe o seu respectivo comprimento e vice e versa, variáveis importantes para o cultivo da espécie em estudo, sendo que o melhor ajuste foi obtido através de regressão multiplicativa (W= a. Lt b). A idade foi determinada através da leitura de anéis etários e o crescimento pela equação de Bertalanffy (1938). Foram capturados 183 indivíduos dos quais 74 machos e 109 fêmeas. O crescimento em comprimento obtidos para os machos de Lt=32,51(1-e-0,3482(t-(-0,2841)) e para as fêmeas Lt=35,15(1-e-0,3118(t-(-0,2846)). A relação peso-comprimento obtida para os machos foi: Wt=0,007054*Lt^3,0240 e para as fêmeas Wt=0,007148*Lt^3,0290.
Palavras-chave: Relação Peso/Comprimento, Pampa Brasileiro, Anéis Etários.
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INTRODUÇÃO
Existem aproximadamente 28.000 (NELSON, 2006) a 32.700 espécies
de peixes conhecidas no mundo (PAULY; FROESE, 2013) no qual essa
grande riqueza de espécies reflete-se também na sua diversidade
morfológica e ecológica (LANGEANI, 2007). A maior parte desta
riqueza e diversidade encontra-se em águas tropicais (LOWE-
MCCONNELL, 1999). Muito se discute acerca da importância dos
estudos sobre idade e crescimento das espécies (MUSK et al, 2006),
este conhecimento fornece informações básicas sobre estratégia de vida
e crescimento das populações, devido a perturbações ambientais ou pela
pesca (DOMINGUES; HAYASHI, 1998). Segundo NEMON (1953), o
crescimento dos peixes não é uniforme, apresentando carácter cíclico
durante a vida do animal, podendo ser mais acelerado em determinada
época do ano e lento, ou até ausente, em outras. Este crescimento é
refletido nas partes duras do corpo, através de anéis concêntricos, que
apresentam o período de crescimento.
Estruturas com crescimento por aposição como escamas, vertebras,
otólitos e espinha peitoral têm sido frequentemente utilizados para
estudos de crescimento em peixes (AMBRÓSIO, 2003; LIZAMA,
2003; FRANCISCO, 2011). Segundo SANTOS e BARBIERI (1993) a
determinação da idade em peixes da região tropical é um desafio, pelo
fato de os anéis de crescimento não serem tão evidentes quando
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comparados aos de peixes de regiões temperadas, onde a variação
sazonal da temperatura e luminosidade são mais visíveis. É possível que
os eventos de importância secundária em regiões tropicais, como
reprodução (BARBIERE e MARINS, 1990), a migração, as mudanças
de comportamento (FABRÉ; SAINT-PAUL, 1998), ciclo hidrológico
(OLIVEIRA, 1999) e sua relação com o foto-período e hábito alimentar
também são sugeridos (ROSS; HUNTSMAN, 1982) para conduzir a
formação de marcas que tem clareza semelhante aos utilizados na
determinação sazonal de idade, isso requer cuidados adicionais na
validação dos anéis e consolidação dos dados.
Este trabalho portanto, tem com objetivo de estimar os parâmetros de
crescimento em comprimento, idade e relação peso-comprimento do
Mandi-Beiçudo (Iheringichthys labrosus) na Bacia do Rio Uruguai
Médio.
MATERIAL E MÉTODOS
O Rio Uruguai é um rio sul-americano que nasce na Serra Geral e que
se forma pela junção dos rios Canoas e Pelotas, na divisa entre os
estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o rio conta com uma
bacia de 365.000 km² e um comprimento de 1.838 km. As coletas foram
efetuadas no seu curso médio (figura 1), na localidade de São Marcos
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(Cantão), situado a (29°30’ 20,4”S/56°50’41,9”W) e município de
Uruguaiana (29° 46' 55"S/57° 02' 18"W) no Rio Grande Do Sul.
Figura 1. Localização dos pontos de coleta no Rio Uruguai
Iheringichthys labrosus (Figura 2) é uma espécie dulcícola de médio
porte, pertencente à família Pimelodidae da ordem Siluriforme,
conhecida popularmente na Bacia do Rio Uruguai como Mandi-
Beiçudo (ZANIBONI FILHO et al, 2004). Segundo TEXEIRA-DE
MELLO et al. (2008) a espécie é muito abundante na Bacia do Rio
Uruguai. Como característica possui uma pequena boca sub-terminal
como adaptação para a captura de alimentos do fundo dos ambientes e
seu maior exemplar em comprimento capturado para a espécie foi de
33,4cm (FAGUNDES et al, 2008).
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Figura 2. Mandi-Beiçudo (Iheringichithys labrosus)
Foram capturados um total de 183 indivíduos (109 fêmeas e 74 machos)
obtidos mensalmente dos dois pontos da Bacia do Rio Uruguai. O
período de coleta foi de agosto de 2012 a julho de 2013. Para as
capturas foram utilizados redes de 10 e 20 metros com malha de 1,5 e 2
cm. Os animais capturados tiveram formol 10% injetados em sua
cavidade celomática para a fixação dos exemplares e após, armazenados
em recipientes (MARTOJA; MARTOJA-PIERSON 1970). Em
laboratório foram obtidos o comprimento total (Lt) em centímetros,
peso total (Wt) em gramas e o sexo. Os animais foram eviscerados e
tiveram suas vértebras removidas a partir da região da coluna onde
termina o aparelho de Weber. As vértebras foram armazenadas em
vidros e antes da leitura passaram por um processo de fervura por
aproximadamente 20 minutos para a remoção da cartilagem e restos de
tecidos, após este processo foram imersas em solução de hidróxido de
sódio para melhor limpeza. Para a visualização dos anéis presentes nas
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vertebras se utilizou uma lupa com câmera acoplada que permite a
captura de imagem, na qual, as imagens foram salvas para uma
observação mais minuciosa dos anéis.
Para a determinação dos parâmetros de crescimento em comprimento,
foi efetuado o cálculo dos valores médios de comprimento total para
cada classe etária e ambos os sexos, estes valores foram expostos a
formula de LÊ CREN (1951), Wt = a.Ltb que permite a obtenção dos
valores de crescimento em peso e determinar se este crescimento é
alométrico ou isométrico. A equação de VON BERTALANFFY (1938)
ajustada pelo método de FORD-WALFORD (1946), foi utilizada para
estimar o crescimento em comprimento através da equação Lt=L∞(1-e-
k(t-to)), onde K (taxa de crescimento) e L∞ (comprimento máximo que a
espécie poderia atingir em condições ambientais favoráveis).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da relação peso/comprimento se obteve para a população Wt=
0,007661*Lt^3,0027 r=96,16 (figura 3), para os machos Wt=
0,007054*Lt^ 3,0240 r= 96,52 (figura 4) e para as fêmeas Wt=
0,007148*Lt^3,0290 r=95,52 (figura 5), os resultados obtidos são
semelhantes aos encontrados por HOLZBACH (2009) no rio Piquiri
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onde foi estudada a mesma espécie e encontrados coeficientes de
alometria muito semelhantes aos descritos neste trabalho.
As análises feitas nas vertebras de 183 indivíduos, segundo as médias
encontradas pela equação de VON BERTALANFFY (1938), indicam
que animais com um ano de idade apresentam o comprimento em torno
de 11 cm e animais com 5 anos um comprimento entre 27cm e 28cm, os
valores médios observados e os valores médios através da equação de
VON BERTALANFFY foram similares (figura 6), a formação do
primeiro anel acontece em torno de 10 cm de comprimento, a equação
determinou para os machos um crescimento máximo de Lt=32,51(1-e-
0,3482(t-(-0,2841)) (figura 7) e para as fêmeas Lt=35,15(1-e-0,3118(t-(-0,2846))
(figura 8).
A taxa de crescimento “K” encontrado para as fêmeas (K=0,31) de
Iheringichthys labrosos foi menor que a taxa dos machos (K=0,34).
Sabe-se que K geralmente é inverso ao valor do crescimento assintótico
(FERNANDES et al., 2002), valores de K inferiores sugerem um
crescimento mais lento para estas, que alcançam um crescimento
assintótico superior ao dos machos.
Durante o período total das amostras as fêmeas foram mais frequentes
nas capturas do que os machos, esta mesma frequência foi observada
por HOLZBACH (2009) e a relação foi de 1 macho para 1,4 fêmeas.
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As análises das classes de tamanho indicaram que a maioria dos
indivíduos capturados tinha um comprimento entre 14 cm e 16 cm
(figura 9) que representa aproximadamente 27% das capturas, o menor
indivíduo encontrado foi de 4,6 cm e o maior de 30,10 cm. O maior
indivíduo capturado apresentou uma idade superior a 5 anos, sendo
capturado apenas um indivíduo.
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CONCLUSÃO
Os dados obtidos para Iheringichthys labrosos (Mandi-Beiçudo),
através da relação peso e comprimento, demonstram que tanto para as
fêmeas como para os machos, a relação é isométrica. A relação entre
sexos mostrou um número maior de fêmeas do que machos e a maioria
dos animais capturados, apresentaram a faixa de 14cm a 16cm de
comprimento, sendo que as fêmeas tendem a ter um crescimento mais
elevado dos que os machos e a formação do primeiro anel, se dá por
volta dos 10 cm de comprimento. Ainda, verificou-se para o local de
estudo, que animais com um ano de idade, apresentam um comprimento
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médio de 11 cm, caracterizando um crescimento significativo no
primeiro ano de vida,
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