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NÚMERO 95, ANO VIII NOVEMBRO DE 2016
I
TAXAS DO SISCOMEX FORAM ELEVADAS ILEGALMENTE E É
POSSIVEL A RESTITUIÇÃO
Hoje, para se importar qualquer mercadoria, a Receita Federal exige o registro de
uma “Declaração de Importação”, ou “DI”, no chamado Sistema Integrado de Comércio
Exterior, ou “Siscomex”, criado por Decreto em 1992.
Alguns anos depois, como era de se prever, instituiu-se que uma taxa para a
utilização do sistema. Assim, os importadores passaram a recolher o valor de R$ 30,00
(trinta reais) por DI e de R$ 10,00 (dez reais) para cada adição de mercadoria à DI.
Pois bem. Em meados de 2011, por intermédio de uma portaria, o Ministério da
Fazenda reajustou a Taxa de Utilização do Siscomex. Com isso, o Registro de Declaração
de Importação (DI) pulou de R$ 30 para R$ 185 – variação de 516,6%. E cada adição de
mercadorias na DI saltou de R$ 10 para R$ 29,50 — variação de 195%. Individualmente
são valores reduzidos, mas, em grandes operações, e com o passar dos anos, viram um
custo mais razoável.
Por conta disso, o reajuste foi objeto de inúmeros questionamentos judiciais. Em
recente decisão, a 2ª Turma do STJ julgou como inexigível os reajustes da taxa acima do
INPC, por extrapolar, e muito, a variação de 131,6% do custo de vida medido pelo índice
neste período, outorgando ao importador o direito a restituição do valor pago acima
desta atualização.
A decisão é um excelente precedente, sendo certo que deve estimular os
importadores a entrarem em juízo para se creditarem, com correção pela Selic, de
valores já pagos a maior nos últimos 5 anos.
II
FRAUDES FISCAIS NA MIRA DA RECEITA
Quem acompanha nossos informativos já tem notado que a postura da Receita
federal e Procuradoria tem mudado. Com resultados pífios de arrecadação via execuções
fiscais, a postura passiva de ajuizar as ações e esperar resultados tem sido abandonada
pelos procuradores, em prol de novas estratégias. Em resumo, foco nos melhores casos
e atuação preventiva (extrajudicial).
Recente exemplo dessa nova postura é a criação do Grupos de Atuação Especial no
Combate à Fraude à Cobrança Administrativa e à Execução Fiscal (GAEFIS), com o
objetivo de identificar e prevenir fraudes fiscais que ponham em risco a recuperação de
créditos tributários da União.
As ações dos GAEFIS levarão em consideração os seguintes critérios: a
potencialidade lesiva da fraude, o risco de ineficácia da cobrança ou da execução fiscal e a
necessidade de adoção de medidas judiciais urgentes para assegurar a efetividade da
cobrança.
Para isso, poderão solicitar monitoramento patrimonial, solicitar a instauração de
procedimento prévio de coleta de informações, propor ações de busca e apreensão,
quebra de sigilo de dados ou outras medidas necessárias à produção de provas para
demonstração de responsabilidade tributária ou localização de bens e direitos em nome
do sujeito passivo ou de terceiro envolvido em fraude fiscal, bem como poderão propor
medida cautelar fiscal.
Vale lembrar que, há poucos meses, a Procuradoria da Fazenda Nacional instituiu o
Regime Diferenciado de Cobrança de Créditos, que nada mais é do que um conjunto de
medidas voltadas à otimização da cobrança da Dívida Ativa da União.
Cada vez mais a União está concentrando esforços em otimizar seus métodos de
cobrança, o que tem tornado os procedimentos céleres, todavia, em muitas situações a
Receita Federal e a PGFN estão simplesmente “atropelando” princípios basilares de
nosso ordenamento jurídico, deixando de observar o princípio da presunção de
inocência, o sigilo fiscal e bancário, bem como ignorando a ideia de que a má-fé não se
presume, deve ser comprovada.
Ao que parece a União está tentando importar para o Direito Tributário a
controversa Terceira Velocidade do Direito Penal (o chamado “Direito Penal do
Inimigo”), na qual direitos e garantias fundamentais são mitigados em detrimento de um
bem maior, no caso a satisfação do crédito tributário. No nosso entendimento, isso é
inadmissível e cabe ao Poder Judiciário afastar qualquer abuso ou excesso cometido pela
União.
Reiteramos que diante deste novo cenário, se torna vital que o contribuinte faça um
planejamento tributário eficaz, entendendo os riscos que corre e garantindo, assim, sua
proteção frente aos novos e contestáveis métodos de cobrança da União.
III
NOVIDADES NA PENHORA ONLINE
A ferramenta que permite que juízes bloqueiem saldos em conta bancária de
devedores é chamada de sistema Bacenjud, também conhecida como “penhora online”.
Desde que foi implementada, há mais de uma década, a ferramenta já sofreu muitas
modificações, e tem se tornado a principal forma de satisfação de créditos pela Justiça.
Pela extrema simplificação que trouxe para credores, houve um exagero inicial em
sua utilização, especialmente pelas Fazendas Públicas e Justiça do Trabalho. Havia juízes
que determinavam bloqueios “eternos”, até a satisfação do débito. Algo que podia muitas
vezes inviabilizar a atividade de uma empresa, ou arruinar uma pessoa física. Felizmente
hoje seu uso está mais disciplinado.
Entretanto, ainda hoje há falhas injustificáveis no sistema. Tome-se como exemplo
uma ordem de bloqueio de R$ 10.000 contra uma empresa. Essa ordem irá gerar
bloqueio repetido desse valor em todas as contas da empresa. Assim, se forem 5 contas,
teremos R$ 50.000 bloqueados no total. Ainda que o desbloqueio do excedente seja
aceito pelo juiz, após pedido da parte, e os valores liberados em pouco tempo, trata-se
de abuso de direito que se tornou “normal” com o passar do tempo, por estar
sancionado pelo software oficial.
Agora, o Banco Central está em vias de implementar mais uma leva de mudanças no
sistema, que devem ampliar ainda mais sua aplicação, bem como resolver alguns
problemas antigos. As principais mudanças:
- Até então, a existência de uma ordem de bloqueio pendente impedia outros juízes
de lançarem suas próprias ordens. Essa restrição será abolida.
- Há mais segurança sobre a tempo de incidência do bloqueio. Caso seja
determinado, ele impede saques e pagamentos das contas atingidas, “capturando”
quaisquer novos depósitos, durante todo o dia. O dia seguinte deverá estar liberado para
saques e recebimentos.
- O sistema passará a identificar contas-salário, que não devem sofrer penhoras por
conta de proibição legal (exceto para pagamento de pensões alimentícias).
O problema com o Bacenjud é essencialmente um. A conjuntura em que ele se
insere. Num ambiente de insegurança jurídica, facilitar em demasia a recuperação de
créditos acaba por tornar os credores institucionais “preguiçosos” e os trabalhistas
muito “vorazes”. Os Fiscos, por exemplo, não têm interesse por quaisquer outros ativos
além de dinheiro. O juiz trabalhista também não se preocupa se o bloqueio online irá
impedir o pagamento de salários de outros empregados.
Dessa forma, um devedor pessoa jurídica pode acabar privado de valiosos recursos
líquidos geralmente no momento em que mais precisa deles, o que não raro o leva à
ruina, ainda que tenha uma série de outros ativos. Em um ambiente com segurança
jurídica e tributação adequada, isso não seria um problema, pois os devedores seriam
apenas os que “fizeram por merecer”. Mas sabemos que não é exatamente o caso
brasileiro.