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I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar Material integrante do Projeto de Pesquisa (UEMA) e Extensão (FAPEMA): Cenários de São Luís Na Literatura Maranhense do Século XX, orientado por Grete Soares Pflueger, Maria de Fátima Ribeiro dos Santos e Josenilde C. Dorneles de Moraes. Orientandas: Bianca Barbosa, Pauliane Santiago e Rebecca Magalhães.

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Page 1: I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A Cidade na Poesia e na Prosa de Ferreira Gullar

I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar

Material integrante do Projeto de Pesquisa (UEMA) e Extensão (FAPEMA): Cenários de São Luís Na

Literatura Maranhense do Século XX, orientado por Grete Soares Pflueger, Maria de Fátima Ribeiro

dos Santos e Josenilde C. Dorneles de Moraes. Orientandas: Bianca Barbosa, Pauliane Santiago e

Rebecca Magalhães.

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I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar

INTRODUÇÃO

O projeto de pesquisa e extensão “Cenários de São Luís na Literatura Maranhense

do Século XX” retrata inúmeros autores maranhenses cujas obras são verdadeiros

retratos das cidades de São Luís ou Alcântara. O objetivo maior deste projeto é

apresentar como os escritores enxergam a cidade, seja de uma forma mais poética

ou realista. A partir dessas visões de cidade, desenvolver discussões

interdisciplinares, estimular a leitura de escritores maranhenses e, assim, incentivar

a valorização da cultura local.

FERREIRA GULLAR

Nascido José Ribamar Ferreira no dia 10 de setembro de 1930, na cidade

de São Luís, capital do Maranhão, quarto filho dos onze que teriam seus pais,

Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Desde pequeno demonstrou afeição pela

literatura, então ao fazer uma redação em homenagem ao dia do trabalho, onde

ironizava o fato de que os trabalhadores não iam ao trabalhar nesse dia, não

obteve a nota máxima devido a erros de grafia, desde esse dia se dedicou mais aos

estudos de gramática.

Ferreira Gullar não se prendia a uma única estética - a uma única forma. A

originalidade do autor é definida por sua dinâmica em diversos usos da linguagem,

das formas e dos sons. Sua obra é marcada por diferentes fases, do

experimentalismo ao lirismo, do neoconcretismo a literatura de cordel. Procurava

apontar em suas obras a problemática da vida política e social do homem brasileiro.

Foi um poeta, teatrólogo e intelectual que se importava tanto com as lutas e

conquistas do Brasil que em 1964 durante a ditadura militar foi preso e exilado.

Preso por possuir fazer uma literatura que ameaçava na época,

considerada perigosa. Mesmo quando saiu do Brasil, não parou de escrever.

Inspirou-se nas diversas cidades que conheceu, mas nunca deixou pra traz sua

nacionalidade e acima de tudo sua naturalidade.

Foi em Buenos Aires que escreveu sua obra mais famosa, considerada a

melhor por todos os críticos o Poema sujo. Livro cheio de conjugações carnais,

com lirismo cantado e realidades de sua cidade natal: São Luís do Maranhão.

Um dos aspectos mais importantes em sua obra é a dicção coloquial, falar como o

povo e fazer-se entender. Por utilizar essa linguagem, suas obras foram muito

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I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar

criticadas pelos tradicionalistas. Mas para Gullar permanecia a usar a linguagem

comum, pois acredita que o importante é escrever para ser compreendido.

CIDADES INVENTADAS

Sua primeira publicação deu-se no ano de 1997 e foi escrito assim como o

poema sujo em Buenos Aires enquanto o escritor estava exilado. O livro possui 25

contos, cada um deles retratando uma cidade criada pelo autor, mas com algumas

características pertencentes a cidades existentes. Podemos perceber o Interesse de

Gullar pela história das cidades e sua formação, o escritor não esconde sua

fascinação pelo cotidiano urbano. Abaixo uma cidade de Gullar retirada do livro

Cidades Inventadas. Você consegue identificar em qual cidade Gullar se inspirou

para criá-la?

Ailum

Uma gravura do século XVII –

não se sabe se cópia do natural ou trabalho de

imaginação – é o único ponto de referência

material de que dispõe o historiador acerca da

cidade de Ailum.

A gravura mostra Ailum como

uma construção arquitetônica irregular,

assentada sobre uma ilha montanhosa, que

ficaria a meia distância da África e da América

do Sul. A parte baixa da ilha é tomada por uma

amurada pedra, que constituía certamente o

cais do porto, a oeste da ilha. Partindo dessa

direção, temos a escadaria que leva a uma

espécie de fortaleza, de muros negros, e altos,

dominados por uma torre com ameias e

seteiras. À esquerda da fortaleza, derrama-se o

casario miúdo, erguido na encosta escarpada,

entre manchas de vegetação. Mais atrás, à

direita, sobre os telhados que se sucedem em

níveis diversos, alteiam-se os dois campanários

da catedral, outrora um convento.

Era o quintal dessa igreja que

havia um poço, de águas profundas e claras.

Tão claras que dava para ver, lá embaixo, a

cabeça colorida de uma serpente, tomando toda

a circunferência do poço. ‘‘A serpente dorme’’,

escreveu huns Dott* ‘‘e seu corpo se estende

sinuosamente imóvel por debaixo da terra, em

toda a extensão da ilha. O povo acredita que,

se um dia a serpente acordar e se mover,

Ailum, esfacelada, desaparecerá no oceano’’.

Ferreira Gullar. (GULLAR, Ferreira. Cidades

Inventadas. p 53-54)

POEMA SUJO

Ferreira Gullar criou o poema sujo enquanto se encontrava em exílio em

Buenos Aires. Foi publicado em 1976, Ferreira ainda se encontrava no exílio.

Colocado como a obra mais ousada do escritor que queria expressar todo o seu

passado em época de repressão e se expor através da escrita até que não houvesse

mais nada a ser escondido, pra finalmente se libertar. O poema tem esse título

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I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar

devido às palavras de baixo calão que são utilizadas durante toda a extensão do

poema.

Longe de casa Gullar retorna através de memórias de infância e de outras

fases de sua vida à sua cidade natal: São Luís do Maranhão, utilizando doses de

imaginação e fatos realistas. Tendo como ferramenta o desejo de falar sobre o

passado, Ferreira mostra uma São Luis de diversas faces, com seus defeitos e

qualidades. O Poema retrata de modo poético os cenários de São Luís, não somente

a parte estrutural, mas também a sociedade.

Abaixo, um trecho do Poema Sujo.

O homem está na cidade

como uma coisa está em outra

e a cidade está no homem

que está em outra cidade

Mas variados são os modos

como uma coisa

está em outra coisa:

o homem, por exemplo, não está na cidade

como uma árvore está

em qualquer outra

nem como uma árvore

está em qualquer uma de suas folhas

(mesmo rolando longe dela)

O homem não está na cidade

como uma árvore está num livro

quando um vento ali a folheia

A cidade está no homem

quase como a árvore voa

no pássaro que a deixa

cada coisa está em outra

de sua própria maneira

e de maneira distinta

de como está em si mesma

A cidade não está no homem

do mesmo modo que em sua

quitandas ,praças e ruas”.

(GULLAR, Ferreira.

Poema Sujo. p.92-93)

CONCLUSÃO

Através da literatura, explorar a urbanidade e fazer a integração entre

ambos. Ver a cidade de em todas as suas formas, por diferentes olhares e diversas

perspectivas. Relacionar o aspecto social com os aspectos urbanos, compreender

que o desenvolvimento urbano depende do desenvolvimento social. Avaliar a

opinião que o autor possui sobre a cidade e suas constantes mudanças e por fim

motivar através da escrita soluções necessárias às problemáticas tratadas.

REFERENCIAS

OLIVEIRA, Cissa de. Jornal de poesia (internet). Local desconhecido: Jornal de

Poesia. Atualizado em 2013; acesso: 13/05/2013. Disponível em:

http://www.revista.agulha.nom.br/gula.html

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I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar

NOGUEIR JÚNIOR, Arnaldo. Projeto releituras: resumo biográfico e bibliográfico.

Local desconhecido: Projeto Releituras. Atualizado em 2012; acesso 15/05/2013.

Disponível em: http://www.releituras.com/fgullar_bio.asp

GULLAR, Ferreira. Poema Sujo. São Paulo. Círculo do Livro, 1980.

GULLAR, Ferreira. Cidades Inventadas. São Paulo. Jose Olympio, 1997.

CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade: história literária. 5ª ed. São Paulo:

Nacional, 1976.