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Page 1: I. MUDANÇA ESTRUTURALE CONFLITO · 2. Esta teoria toem por função dar conta do confli-to de classe e das mudanças sociais que ele induz. Por não responderem a tais exigências,
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que lançamos para apreender certos aspectos tlarealidade.

2. Esta teoria toem por função dar conta do confli-to de classe e das mudanças sociais que ele induz.

Por não responderem a tais exigências, ficam, desaída, excluídos do campo de análise tanto o con-ceito weberiano de classe, definido pela situaçãode mercado, quanto os desenvolvimentos da teoriada estratifiCação social. "Toda definição de classeque utilize fatores que tornem possível a constru-ção de um contínuo hierárquico será uma definiçãoerrônea, isto é, o termo estará mal escolhido ...as classes, em seu sentido original, não são ... si-tuações dentro de uma estrutura dividida em se-tores hierarquizados, diferenciados entre si por umescalonamento graduai", mas grupos definidos porrelações de oposição, que tendem a agir de formaorganizada em situações de conflito,"

O problema pode ser formalizado, então, comose segue: a) como definir o conceito de classe pre-servando a sua intenção cognit,iva original e resol-vendo, ao mesmo tempo, os impasses que a tornamimprestável na versão marxista; b ) qual a posiçãoda teoria das classes sociais numa formulação maisgeral sobre o conflito e a mudança estrutural?

Aqui é preciso um esclarecimento.

I. MUDANÇA ESTRUTURALE CONFLITO

A tese é de que o conflito de classes é um dos fa-tores que induz à mudança, tendo seu lugar mar-cado numa teoria mais geral sobre o conflito. Aodirigir o foco para q problema da mudança e aomesmo tempo fazer aquela limitação, Dahrendorfé levado a esclarecer suas diferenças com Marx ecom a corrente sociológica que lhe serve de refe-rência, o estrutural-funcionalismo, na pessoa de seuexpoente máximo: Parsons. Comecemos por este.

f uma afirmação banal a de que o problema damudança constitui o ponto crítico da teoriaestru-tural-funcional. Parsons reconhece este fato, quan-do escreve, no Social system, que "no momentoatual da ciência é impossível uma teoria geral damudança dos sistemas sociais"," embora continued sustentar o caráter sistemático de sua teoria eecredl.e que ela possa ser ampliada, com a inclu-são de alqurnas categorias a mais, a fim de abar-car essa ordem de questões: "Se a teoria é uma'boa teoria', seja qual for a classe de problemas'que trata de um modo imediato, não há razão al-guma para não acreditar que ela possa aplicar-sede 'igual maneira' aos problemas da mudança, as:sim como aos problemas de processos de sistemasestabil izados. "4

A crítica de Dahrendorf ao estruturai-funcionalis-mo desdobra-se numa série de brilhantes artigos en-feixados em seu Iivro Sociedade e liberdade e emobservações dispersas por toda sua obra. Sua in-tervenção incide justamente na pretensão sistêmicade Parsons. Para ele, a incapácidade atual do fun-cionalismo de explicar a mudança não se relaciona

a uma situação conjuntural, mas está afeita à estru-tura mesma daquela teoria: "o problema do con-flito e da mudança - observa - designa o pontoem que a teoria estrutural-funcional fracasse emsua forma presente e em que deve fracassar, devidoà disposição de suas cetegorles"."

Essa dificuldade - afirma - não é bem expres-sa pela oposição estática-dinâmica, como supõemcertos críticos do "preconceito estático" de Per-sons. f relativamente fácil deslocar este tipo deobjeção: os termos papel e função, que ocupamuma posição central na análise funcionalista, sãointroduzidos precisamente para dar conta do as-pecto dinâmico das estruturas sociais. Com essascategorias é possível descrever os processos queocorrem ordinariamente (socialização, por exemplo)bem como explicá-los através de sua conexão comelementos estruturais. O que não conseguem é "des-crever tendências que, segundo sua intenção, trans-cendem os limites de uma estrutura estabelecida","tendências que, em última análise, produzam mu-danças na própria estrutura.

A questão toda se joga em torna das respostasde princípios alternativas ao que Parsons chamouuma vez o "problema hobbesiano da ordem"como representar a consciência da sociedade? Co-mo explicar este fato absolutamente estranho deuma infinidade de homens coesos graças ao fatode as instituições sociais existirem em unidadesmaiores chamadas sociedades?

Grosso modo, existem duas formas de se contes-tar esta pergunta, ambas com larga tradição nopensamento político-social moderno e com represen-tantes em correntes sociológicas contemporâneas: aresposta do próprio Hobbes - para protegerem-seda guerra original e "natural" de todos contra to-dos, os homens constituem-se em sociedades, abdi-cando de parte de suas liberdades em favor dodéspota, que garante a integridade da ordem social;e outra, que vincula Parsons e boa parte da socio-logia atual a Rousseau, na qual a sociedade aparececomo um conjunto de elementos em equilíbrio, in-tegrados em bases consensuais pela incorporaçãode normas e valores comuns.

Essa dualidade corta, como dissemos, o pensa-mento social, remetendo a dois modelos - o me-lhor seria dizer, talvez, duas representações da so-ciedade - que, embora não sejam esposados em 109seu estado "puro" por qualquer sociólogo, existemcomo arquétipos, e, como tal, se manifestam econformam análises teóricas e atitudes políticas: deum lado a teoria do consenso' e integração social,cujos postulados seriam:

1. Toda sociedade é um sistema (" relativamente")constante e estável de elementos (teses da esta-bilidade).

2. Toda sociedade é um sistema equilibrado deelementos (tese do. equi Iíbrio).

3. Cada elemento dentro da sociedade contribuipara o funcionamento desta (tese do funciona-lismo).

Classe e conflito em Dahrendorf

Classe e conflito em dahrendorf um comentário Sebastião C. V. Cruz

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4. Cada sociedade mantém-se graças ao consensode todos seus membros acerca de determinados va-lores comuns (tese do consenso).

E outro, a teoria coativa, caracterizada pelas tesesopostas:

1. Toda sociedade e cada um de seus elementosestá submetido, durante todo tempo, à mudança.

2. Toda sociedade é um sistema de elementos con-traditórios em si e explosivos (tese da explosivi-dade).

3. Cada elemento dentro da sociedade contribui pa-ra sua mudança (tese- da' disfuncionalidade e pro-dutividade) .

4. Toda sociedade mantém-se graças à coação quealguns de seus membros exercem sobre os outros(tese da coação) ,1

A principal objeção feita por Dahrendorf à teoriade consenso é a de que, ao postulara existência deum complexo normativo integrador permeando to-da a sociedade, ela é levada a identificar conflito edesvio social, o que é apenas uma forma de dizerque ela se interdita pensar os conflitos centrais,responsáveis pela transformação da estrutura. Paratanto, seria necessário admitir, com a teoria coati-va, que a própria estrutura define papéis confliti-vos, o conflito não sendo, portanto, transgressão àregra, mas a própria regra em carne e osso. Deacordo com tal modelo, "o caso patológico da vidasocial não está constituído pelo conflito e a mu-dança, mas pela estabilidade e a ordem"."

É interessante notar que, para Dahrendorf, essasduas teorias não são mutuamente excludentes. Elasiluminam aspectos diversos da estrutura social (elefala em dupla face da estrutura social), e ambaspodem ser sistematizadas de tal forma que a cadacategoria de uma delas possa apresentar-se uma ca-tegoria paralela na outra. Assim, "o conceito de in-tegração na esfera institucional se corresponde como de poder ou domínio, o conceito de valores naesfera do comportamento se corresponde com oconceito de interesse. Ordem tática e valores cons-

110 tituem categorias da teoria da integração, mando einteresse da autoridade da estrutura social"." Aquestão da realidade ontológica de uma ou outrateoria simplesmente não se coloca. Dahrendod va-re-se de um exemplo tomado de empréstimo à fí-sica para explicar a atitude lógica que adota: nocomeço do século XX, duas teorias disputavam oterreno da teoria física da luz - a teoria ondulare a teoria corpuscular da luz. Depois que a teoriaondular pareceu ter superado a dos corpúsculos,novas experiências exigiram uma revitalização da-quela (teoria dos quanta), até atingir-se o curiosoresultado descrito por Einstein e Infield em seulivro A evolução da física: "Existem fenômenos quepodem ser explicados por meio da teoria dos quan-

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ta e não. .. através da t~ria das ondas. .. Por ou-tro lado, conhecemos fenômenos que podem serexplicados por meio desta última teoria e não coma teoria dos quanta. Finalmente, existem, inclusive,fenômenos ... conciliáveis com ambas teorias."loEm relação à teoria sociológica ocorreria algo slml-lar, a teoria da integração dando conta, com exclu-sividade, de certa área de problemas (a socializa-ção, por exemplo), a teoria coetiva de outra (oconflito, dominação, mudança), o desvio social cons-tituindo a zona em que ambas seriam válidas.

Toda a disputa de Dahrendorf com o funciona-lismo parsoniano tem por objetivo trazer para ocentro do palco o problema da mudança estruturale do conflito. Esse tipo de preocupação ele com-partilha com Marx, mas a proximloede entre osdois não vai muito além, e isso fica patente quan-do nos perguntamos pelo conteúdo da noção demudança e pelo peso conferido à luta de classesneste processo.

"Até hoje, a história de todas as sociedades queexistiram até nossos dias tem sido a história daslutas de classes." "Somente em uma ordem de coi-sas na qual já não existem classes e antagonismosde classes, as evoluções sociais deixarão de ser re-voluções polít.icas." Essas passagens que abrem eencerram, respectivamente, duas obras clássicas -O manifesto de 48 e a Miséria da filosofia - con-jugam uma tese fundamental em Marx, a de que astransformações estruturais culminam processos re-volucionários de luta de classes. Dos dois ângulosDahrendod discorda dela: nem a luta de classes éesse fator demiúrgico da transformação social, nema mudança implica sempre um processo abrupto,que modifique de um golpe o conjunto da socie-dade.

Mudança e revolução - o "pecado metafísico"de Marx. O argumento é Interessante, vale a penaacompanhá-lo. Quando Marx dá como suposto ocaráter revolucionário de toda mudança de fundo,ele aproxima-se de forma insuspeitada de Parsons.Ambos levam ao extremo a visão da sociedade co-mo sistema e concebem a estrutura social como umacategoria estática. Nos seus esquemas de reprodu-ção ampliada, Marx fala, por certo, da lei dinâmicado desenvolvimento capitalista, mas esta não é maisque "a lei da evolução de um organismo, isto éo desenvolvimento paulatino de um 'sistema' emdireção a sua estrutura determinada".'> Assim, àpergunta - existe evolução estrutural? - restamapenas duas alternativas: não - a resposta de Par-sons; sim - a de Marx - elas são revolucioná-rias; ambas respostas a uma questão mal colocada.Segundo Dahrendod, essa posição nos. leva a umdoloroso impasse: para sermos coerentes devería-mos concluir que não houve evolução na Europa,visto não ter ela conhecido qualquer revolução vi-toriosa. O caminho há de ser outro. Se quisermosanalisar cientificamente a realidade devemos aban-donar o pressuposto metafísico hegeliano, que em-baralha a visão de Marx. "A transformação estru-

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tural deve interpretar-se ... como referida a aspec-tos constantes da sociedade. Assim, pode iniciar-seem certos âmbitos - como o da sociedade políti-ca, por exemplo - mas também pode permanecercircunscrito a um só plano."12

~ importante chamar a atenção para esse ponto.Em Dahrendorf temos uma diluição do conceito demudança, e apenas a leitura de seu livro pode dar-nos a verdadeira medida das implicações dessa pas-sagem: a certa altura, ele vai considerar a inclusãode um representante dos trabalhadores num órgãode direção da empresa, uma mudança estrutural.(É lógico que em tudo isso há um enorme quidpro quo em torno da noção, bastante generosa, deestrutura.) Por essa razão, Dahrendorf pode falarem mudança estrutural como 11 elemento constitu-tivo onipresente da estrutura scclel".'" Pela mesmarazão, ele pode contornar o problema sem saída, dequando começam e quando acabam os processosde evolução.

Ainda está para ser feito um levantamento dasforças capazes de provocar transformações estru-turais. No entanto, o 'estado atual de conhecimentonos permite afirmar com segurança que elas não sereduzem aos conflitos de classe. De saída é possí-vel distinguir analiticamente dois grandes gruposde fatores, ainda que empiricamente eles venhamsempre mesclados: os que têm origem fora de umaestrutura previamente determinada e aqueles quesão gerados ria própria estrutura. Para designá-los,Dahrendorf fala em mudança estrutural exógena emudança endógena, ambas podendo ser violentasou não. A segunda categoria é, por assim dizer, olugar próprio da sociologia, e nela o conflito jogaum papel importante. Entretanto, Dahrendorf fa-Ia genericamente em conflito - não existem ape-nas conflitos de classe: é uma tarefa inglória ana-lisar com ajuda da mesma categoria fenômenos tãodíspares quanto os conflitos entre escravos e livres,em Roma, brancos e negros no Sul dos' EUA, cató-licos e protestantes na Irlanda do Norte etc., todoseles geradores potenciais de mudança. Na realidadetrata-se de tipos diferentes de conflito, demandan-do, cada um deles, uma teoria particular. E ope-ra-se, assim, uma redução drástica no escopo dateoria das classes, que passa a ser vlsta como parteintegrante de uma teoria mais geral,'por enquantoprogramática, do conflito social.

A essa altura já adiantamos os resultados da aná-lise de Dahrendorf ·sobre as classes sociais. Seriainteressante ver como eles são atingidos.

2. FUNDAMENTOS SOCIOLOGICOS DAS CLASSESSOCIAIS

A exposição crítica da teoria de Dahrendorf envol-ve um problema difícil. Como dissemos no iníciodesse trabalho, pretende-se que ela seja a supera-ção da teoria marxista, e, nesse sentido, o primeiropasso será reccnstitulr aquela teoria e demonstrarsua precariedade. Ora, ao assinalar esse objetivo pa-ra sua démarche, Dahrendorf se oferece à crítica

sob dois aspectos: a) do ponto de vista histórico,quanto à validade de sua leitura de Marx e a con-testação de suas teses; b ) no que diz respeito àsua contribuição positiva, à avaliação de suas teses.A dificuldade consiste em que a análise daquilo queem Dahrendorf const.itui uma unidade nos leva acaminhos distintos e irreconciliáveis, o primeiro fa-zendo-nos mergulhar em Marx e explorar as possi-bilidades manifestas ou latentes de sua problemá-tica e nos levando, em contrapartida, a perder ocontato com Dahrendorf. É uma opção. A alterna-tiva é concentrar a atenção no apport de Dahren-dorf e, por essa via, o recurso a Marx será acessó-rio e estará sempre na dependência das necessida-des de exposição de sua própria teoria ou da dis-cussão dos problemas que ela sugere.

Aceita-se comumente a idéia de que a teoria dasclasses sociais em Marx não era um mero instru-mentai" de análise histórica, mas êonstituía a basenecessária para o estabelecimento de hipóteses so-bre as tendências da sociedade capitalista. Na me-dida em que essas hipóteses são sociológicas -Dahrendorf distingue elementos sociológicos e fi 10-sóficos na teoria marxista - elas são empirica-mente comprováveis, ou, mais precisamente, elassão falseáveis. Assim, o primeiro cuidado será o deanalisar a evolução das .sociedades industriais de-pois de Marx, destacar suas principais tendênciase verificar até onde se se, concretizam suas predi-ções.

Dahrendorf fala em sociedades industriais, não-em sociedades capitalistas. Não se trata, aqui tam-bém, de simples questão terminológica. O conceitode capitalismo - argumenta - será sempre por.demais genérico enquanto não se responda com to-do rigor a pergunta sobre o que é preciso perma-necer, dentre as características que o definem, paraque ele continue sendo o que e. Em uma palavra,enquanto não se enuncie qual sua differentia speci-fica. A maioria das definições tradicionais de socie-dades capitalistas (a de Marx inclusive) integramelementos que correspondem a dois grandes gru-pos: elementos ligados à forma fabril industrial, is-to é, mecanizada (por exemplo participação naprodução de dois grupos da população, função di-retiva de um grupo e executiva de outro) e ele-mentos característicos da forma peculiar da pro-dução industrial no século XIX (união entre pro- 111priedade e controle, miséria dos trabalhadores). Es-ses fatores, evidentemente, não possuem a mesmageneralidade; o primeiro grupo contém o segundo,a fusão entre propriedade e controle classifica aprodução industrial, não o inverso. A partir dessadistinção, Dahrendorf chega ao conceito limitativode capitalismo, definido pela fusão da propriedadee controle na produção industrial, como forma oumodalidade do conceito mais amplo de sociedadeindustrial, cujo traço distintivo é lia produção me-canizada de artigo nas fábricas e empresas"."

Essa passagem aparentemente tranqüila levanta,porém, mais problemas do que resolve. Sociedadeindustrial é um conceito (sic) extremamente ambí-

Classe e conflito em Dahrendorf

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guo. Com efeito, falar em sociedade industrlal sig-nifica dizer que a estrutura técnico-econômica -não o modo de produção, mas a maneira de pro-duzir - envolve sempre e em todo lugar determi-nadas implicações sociais que são referidas poraquele conceito. Ora, isto é extremamente proble-mático, e os estudos que se baseiam nesse tipo depresunção têm sido insistentemente criticados embases empíricas e teóricas." Dahrendorf não des-conhece esse fato e, embora o título de seu traba-lho faça menção a classes na sociedade indus-trial, ele não se atreve a tanto- Seu objeto é maisrestrito - ele fala apenas das classes nas socie-dades industriais mais desenvolvidas, modernas -Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. Mas esta éuma solução de compromisso. Qual o critério quelhe permite realizar a eleição? Por que incluir aAlemanha e não a França? Por que excluir o Japão?Para por o dedo na ferida, por que não estendera análise à União Soviética? Não serão elas socie-dades industriais desenvolvidas, ou esse conceitodiz mais do que pretende dizer? Trata-se aqui deum desvio típico da démarche empirista. Criticá-lo seria passar a limpo a postura epistemológicaque o sustenta, mas isto nos distanciaria demasia-do do curso de nosso trabalho. Devemo-nos con-tentar, portanto, com o silêncio de Dahrendorf.

Segundo Dahrendorf, as transformações opera-das nas sociedades industriais nesse último séculopodem ser interpretadas segundo quatro direçõesvalorativas, cujas derivações determinam mudan-ças na estrutura material da sociedade. São elas:a) o desenvolvimento do racionalismo econômico;b ) a imposição do princípio de rendimento; c) ageneralização da igualdade dos direitos; d ) a cons-tituição de formas de igualdade. Sua conjunção dásurgimento a fenômenos inéditos - a separação dapropriedade e do controle, especializações estrutu-rais e estratificações da classe trabalhadora; o apa-recimento da "nova classe média", o incrementoda mobilidade social nas duas direções - horizon-tal' e vertical - não previstos por Marx, e que re-futam em maior ou menor grau, grande parte de·suas teses mais import,antes. Além do papel nega-tivo de contestar teses de Marx, dois desses fenô-menos apresentam um interesse analítico particularpara Dahrendorf - é através da elaboração dessesdois temas que será levantada sua teoria das clas-ses:o surgimento da nova classe média e a sepa-ração da propriedade e do controle.

São bastante conhecidos os contornos da ques-tão: para Marx existem duas classes fundamentais,constitutivas do modo de produção capitalista -a burguesia e o proletariado. A pequena burguesia(pequenos proprietários, artesãos, camponeses tam-bém) como remanescentes de formas de produçãopretéritas, teria seu peso social gradativamente di-minuído e, teoricamente, estaria fadada ao desapa-recimento. Essa expectativa em grande medida rea-lizou-se. Embora ainda se mantenha, a importânciaeconômica e política da pequena burguesia é hojedesprezível nos países economicamente mais avan-çados.

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No entanto, a evolução das sociedades "indus-triais" nestes últimos 100 anos dá origem a umnovo segmento que, na opinião de alguns sociólo-gos (Mills é apenas o exemplo mais conhecido) éirredutível ao esquema marxista de classes, restan-do sempre como uma camada justaposta àquelasconhecidas e analisadas por Marx - falo evidente-mente dos assalariados não-produtivos, bancários,comerciários, vendedores, publicitários, gerentes,todo, esse amálgama designado abreviadamente por"nova classe média," white collar, etc. A rigor, aexistência desse setor não é recente. Recente é aimportância que adquiriu atualmente. Se foi pos-síyel para Marx em 1859 restringi r-se a algumaslinhas sobre a posição de classe dos empregados docomércio, essa atitude hoje não faz sentido. Qual-quer análise que não o leve em conta será de an-temão insuficiente.

O crescimento espetacular desse setor acompa-nha sempre o processo de burocratização crescen-te nas sociedades modernas, que teria como panode fundo o desenvolvimento do racionalismo a quejá aludimos. Desse ponto se alça a "teoria da de-legação" avançada por Crooner para dar conta da-quele fenômeno. O incremento da racionalizaçãotem como conseqüência necessária a segmentaçãode funções diretivas tanto na empresa quanto nasociedade política. Segundo Crooner, este é o fun-damento sociológico da categoria que estamos es-tudando. "A explicação da posição social peculiardos empregados est,á no fato de que suas tarefasforam algum dia tarefas empresariais." "O que dis-semos sobre a desintegração do poder do empresá-rio e o aparecimento de certos serviços na indús-tria, com ele relacionados, pode aplicar-se tambémao aparecimento dos serviços do funcionário. Aquinão se trata, naturalmente, do empresário, mas dochefe supremo do Estado, do rei, por exemplo, quecede determinados encargos desempenhados até porele a seus homens de confiança, que deste modorepresentam o rei dentro de sua esfera de ação.">Crooner não pretende analisar o conflito social e,para ele, classes significam a mesma coisa que se-tor. No entanto, sua teoria da delegação forneceum elemento importante para Dahrendorf: emboraele não o mencione explicitamente, sua "teoria dadelegação" dá como suposto o processo de separa-ção entre propriedade e controle, que é a pedra detoque de toda uma corrente sociológica da qualDahrendorf não é mais do que um representante- talvez o mais acabado.

Marx analisou repetidamente o duplo papel docapitalismo, como organizador da produção e comocapitalista propriamente dito. A generalização dassociedades por ações veio operar uma dissociaçãonesses papéis, diluindo, por um lado, o título jurí-dico de propriedade por um sem-número de acio-nistas e reservando as tarefas de direção e controlepara uma nova categoria social, os gerentes. Estes,no âmbito da indústria, "exercem o controle daspossibilidades dos empregados e trabalhadores ... "São eles também que decidem o que deve _ser pro-duzido e quando deve ser produzido, o número das

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pessoas que devem ser ocupadas, como deve or-ganizar-se a empresa e como se deve vender ecomprar. Se por propriedade entender-mos capa-cidade de controlar algo, podemos dizer que "osmanagers se acham na situação paradoxal de pos-suir uma propriedade quase ilimitada de uma em-presa que não lhes pertence"."

No curso do processo modificam-se as situaçõesfuncionalmente mais importantes, bem como o pes-soal chamado a desempenhá-Ias. Altera-se também,radicalmente, o fundamento da legitimidade na em-presa: a legitimidade da autoridade capitalista-em-presarial descansa na propriedade juridicamentegarantida; a autoridade dos managers é proporcio-nada pela confirmação de suas decisões pelos acio-nistas e, principalmente, pelo consenso de todos osparticipantes da empresa. Isto significa que o ca-pitalista, para alcançar sua posição, tem de adqui-ri-Ia ou herdar a propriedade privada, enquantoo gerente necessita, para o mesmo fim, provar"adequação", isto é, rendimento, formação e expe-riência. Como essa diferença radical de critériosqualifica desenvolvimentos diversos de personali-dade, Dahrendod aventa a hipótese de que "osmanagers da indústria atual procedem de outrossetores e têm outras orientações que seus prede-cessores nas mesmas funções, os empresários ca-pltaliatas "."

A forma empresarial da sociedade por ações datada segunda metade do século XIX, e, como assina-lamos, seu aparecimento não passou despercebido à

Marx. Em diversas passagens de O capital, Marx,como depois Lênin, refere-se expressamente a ela,considerando-a uma forma de transição para aeconomia social ista. Dahrendorf não discorda docaráter de transição desse tipo de empresa, masacrescenta: "A idéia de transição provoca a per-gunta: transição para onde?" Não, por certo, parao socialismo. Mas, ainda assim, "a separação depropriedade e controle conduziu a uma forma deestrutura própria, que, conforme o sentido rigorosode nossa definição, não é mais cepltallsta"."

Nova classe média, controle e propriedade ... emtorno dessas questões é possível reconstituir· umfio condutor ligando autores tão diferentes comoBurnhan, Crooner, e muitos outros; que, a despeitode suas divergências e de sua disparidade, elabora-ram os elementos que teriam tornado possível, hojeo salto qualitativo que representa a superação deMarx.

Desses, talvez seja Burnhan o que mais próximotenha chegado da solução do problema e, ao mes-mo tempo, o que mais afastado esteve dela. ParaBurnhan, o problema da separação entre proprie-dade e controle não fazia sentido. Ele argumentavanos seguintes' termos: "Na realidade, o conceito deseparação de controle e propriedade, qualquer queseja seu valor jurídico, carece de toda import,ânciasociológica ou histórica. Propriedade significa con-trole: onde não existe controle não existe tampoucopropriedade. .. Se realmente se separam proprie-dade e controle, aquela passa a quem detém o con-trole, enquanto a propriedade assim separada re-

presenta uma função sem sentido.'?" O comentárioque Dahrendod faz dessa passagem é fundamental,porque nele está contido o deslocamento que lhepermite a redefinição radical do conceito de classe,fundando-o nas relações de poder e autoridade."Burnhan - escreve Oahrendorf - procura supe-rar a teoria de Marx substituindo o conceito res-trito de propriedade jurídica por um conceito so-ciológico mais amplo. Inicialmente determina cor-retamente as relações de propriedade (o particular)por relações de dominação (o geral). Com a im-precisão teorética que o caracteriza, inverte logo,entretanto, tal determinação e explica as relaçõesde dominação (o geral) por relações de proprie-dade (o particular). Os managers têm propriedadeporque têm controle de fato... No pior dos ca-sos ... - e o caso de Burnhan é o pior - o vol-teio lógico implica um salto mortal empírico, qualseja, a afirmação de que só pode existir domínioonde existe propriedade ou, como o próprio Burn-nan diz, quando afirma que os 'meios de produçãoconstituem o assento da dominação sociológica' "."'A rejeição conseqüente dessa última formulação érica de conseqüências e projeta-nos diretamente nonúcleo da teoria de Dahrendod. "O conceito de au-toridade ou domínio não se limita ao mero con-trole dos meios de produção, mas será interpre-tado, independentemente, como um aspecto espe-cial das relações sociais. As estruturas de autori-dade ou dominação, tanto se ·trate de sociedadescompletas como, dentro destas, de determinadosâmbitos institucionais (p. ex., a indústria), cons-tituem, na teoria aqui apresentada, a causa deter-minante da constituição das classes e dos conflitosde classe. A modalidade específica das mudançassociais das estruturas provocadas pelas classes so-ciais, impelidas pelos conflitos de classes, baseia-sena distribuição diferencial dos postos de autoridadenas sociedades é em seus âmbitos institucionais. Ocontrole dos meios de produção constitui apenasum caso particular: de dominação e sua conexão coma propriedade prlvada legal, um fenômeno emprincípio casual, das sociedades industrial izadas eu-ropéles"." Chega-se, assim, à definição formal:"Classes são agrupamentos sociais em conflito, cujacausa determinante... se encontra na participaçãoe exclusão de domínio dentro de qualquer associa-ção de domlneçãc-'?"

Dahrendorf emprega o conceito de autoridade naacepção weberiana, como "possibilidade de que de-terminadas pessoas obedeçam uma ordem de de-terminado conteúdo", distinguindo-os do conceitode poder, mera possibilidade de impor, numa re-lação social, a própria vontade. Poder esté ligado apersonalidades individuais; autoridade e domínio,a determinados postos ou situações. A grande di-ferença reside na existência ou não de base legí-tima para o controle que é exercido em ambos oscasos." Poder ... é um domínio lIegítimo de fato;autoridade. .. seria um poder legrtimo baseado emnormas sociais instltuclonalizadas"," Por aí se vêque nem toda forma de controle é igualmente im-portante para a definição das classes sociais -

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não o ti, por exemplo, o poder momentâneo do de-magogo sobre o público que o seçue, o poder doclp1igosobre o amigQ, etc., pois não se assentamern posições institucionalizadas com expectativasfuncionais relativamente estáveis. Estas existemapenas em assoeiaçõesde dominação, tais como oEstado, a indústria, a Igreja e, de uma maneira ge-rai, qualquer organização permanente, onde o di-reito de exercer domínio está ligado a determina-das posições, que dispõem de meios próprios paragarantir a efetividade das ordens. O caráter dessesmeios serve de critério para a classificação das as-sociações de dominação. Assim, uso da força legí-tima:·a associação política, o Estado; outorga ounegação de bens de salvação: organizações hiero-cráticas, Igrejas.

Do exposto pode-se inferir algumas conclusõesque se chocam frontalmente com as noções co-mumente aceitas sobre as classes sociais. Por exem-plo, a idéia de uma estrutura de classes cortando oconjunto da sociedade é totalmente estranha a Dah-rendorf. As classes existem no interior de associa-ções de dominação. Isto equivale a dizer que existemtantas "estruturas de classe" quantas forem as as-sociações consideradas. Nesse sentido, classes eco-nômicas "são classes dentro de associações econô-micas" (a indústria); classes políticas, classes defi-nidas no interior de associações políticas, e assimpor diante. As diversas estruturas de classe, assimdefinidas, e os conflitos que nela se originam nãomantêm entre si qualquer relação de necessidade.Entre as classes dominantes pode haver coincidên-cia ou não; os conflitos na indústria podem gene-ralizar para outros âmbitos, como podem tambémpermanecer restritos a ela., O importante é que aunidade básica é sempre a associação particular.Tocamos aqui no tema do isolamento institucionalda indústria, que vai desempenhar um papel rele-vante na crítica de Dahrendorf à tese marxista daclasse dominante.

A essa altura pode-se levantar uma questão. Asclasses só existem em associações de dominação,mas cada indivíduo participa como membro de umapluralidade delas -'- ele é ao mesmo tempo cida-dão, trabalhador ou empresário, católico fervorosoe as posições que ocupa nesses âmbitos institu-cionais não são necessariamente equivalentes entresi. Pelo contrário, é legítimo esperar que elas nãoo sejam de todo. Sendo assim, como definir suaposição global, como atribuir-lhe uma posição declasse? A resposta é fácil e decorre logicamente doque já foi enunciado - simplesmente não se lheatribuiu' uma posição de classe, nesse sentido. Oimportante para a análise sociológica - argument,aDahrendorf - não são os indivíduos, mas as posi-ções sociais e os papéis por elas definidos. Cadaindivíduo desempenha na sociedade uma variedadede papéis, e não constitui problema o fato de nãopodermos reduzi-los a uma unidade. Pelo contr.á-rio, é justamente por este ato de desintegração dapessoa que se constrói o objeto da sociologia e elase inaugura tomo ciência do social (a esse respeitover seu livro, Homo sociologicus) .25

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Resta, porém, uma objeção que não pode ser tãofaci1mente descartada - a posição muito particulardo pessoal burocrático. Segundo Dahrendorf, umdos postulados da teoria das classes sociais é deque esta são determinadas por critérios que de-finem sempre ume dicotomia - a existência de doisgrupos antagônicos, numa r~la_çãoconflltlva. A prin-cípio, o critério proposto po~ ele parece preencheresta exigência: as relações de dominação cortam ver-ticalmente as associações, separando nit,idamentequem possuí e quem não possui autoridade. Os pro-blemas começam a surgir quando focalizamos aassociação política - o Estado - e procuramosanalisar a organização burocrática. Com efeito, nointerior da burocracia essa linha de demarcação se'diluí. A autoridade na organização burocrática estárepartida por um sem-número de postos e posiçõesdispostas numa ordenação hierárquica. Esta pareceser uma dificuldade séria -como classificá-Ia doponto de vista da teoria das classes? Como enqua-drá-Ia, então? Uma alternativa seria considerar quea burocracia, como um todo, faz parte da classedominante, pois na sociedade política ela exerce omonop6,lio da autoridade. Dahrendorf parece incli-nado a defender essa idéia quando afirma "que to-dos os titulares de funções burocráticas figuram, naassociação de dominação da sociedade política, domesmo lado da divisória que separa os titulares deautoridade daqueles que carecem dela".26 No en-tanto, outra característica da burocracia, não menosimportante, obstrui esta saída. Weber e, na mesmalinha, Bendiz, Merton e boa parte dos estudiososdo' fenômeno' burocrático são unânimes em assina-lar, de um lado, sua efetividade e, de outro, o seucaráter instrumental. "A razão decisiva para o pro-gresso da organização burocrática foi sempre a su-perioridade puramente técnica sobre qualquer ou-tra forma de organização." "Precisão, velocidade,clareza, conhecimento dos arquivos, continuidade,discrição, subordinação rigorosa, são levados aoponto ótimo na organização rigorosamente burocrá-tica ... " Essas características fazem da burocraciauma estrutura sólida, permanente. "Quando se es-tabelece plenamente, a burocracia está entre as es-truturas sociais mais difíceis de destruir", escreveWeber. "A idéia de eliminar essas organizações tor-na-se cada vez mais utópica." Mas essas mesmascaracterísticas definem o seu caráter instrumental."A indispensabilidade objetiva do aparato antesexistente ... significa que o mecanismo ... é facil-mente levado a funcionar para qualquer pessoa quesaiba como conseguir o controle sobre ele. "27 Esse"qualquer pessoa" podendo ser entendido comogrupos políticos, partidos antagônicos ou mesmoum exército invasor. E define-se assim o que pode-ríamos chamar o paradoxo da burocracia - "a bu-rocracia é todo-poderosa e ao .mesrno tempo inca-paz de determinar como deve ser empregado o seupoder",28 A burocracia detém o monopólio da au-toridade, mas não o exerce emseu nome, não o su-bordina a seus objetivos, não pode constituir, por-tanto, a classe dominante. Por isso, só resta a Dah-rendorf reconhecer que, do ponto de vista de sua

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teoria, a burocracia está numa "situação especial":"Ainda quando pertença sempre à classe dominantee suas funções sejam sempre funções positivas. deautoridade, a burocracia não é nunca a classe do-minante. "20 Para uma teoria que se quer sistemáti-ca, esta solução parece-nos de todo insatisfatória.

3. CLASSE E CONFLITO NA ASSOCIAÇAO DEDOMINAÇAO

A simples existência de uma dicotomia separando naassociação de dominação os que detêm a autoridadee os que estão desprovidos dela não constitui, paraDahrendorf, uma garantia de que esses conjuntosatuarão como grupo numa situação de conflito. Pa-ra nos atermos a seus próprios termos, essa rela-ção define apenas quase-grupos, que necessitamcontar com determinadas condições para que esta-beleçam uma situeção de conflito e dêem lugar agrupos de interesses. Na passagem do quase-grupoao grupo de interesse, Dahrendorf faz intervir asnoções de interesses latentes e interesses manifes-tos. Aqui, o conceito básico é o de interesse obje-tivo, e ele não vai sem problemas. Interesse é umtermo que denota imediatamente uma realidade psi-cológica. Interesse é sempre interesse de alguém porcertas coisas ou pessoas; como falar então em in-teresses objetivos, lnconscientes, que existem inde-pendente do que as pessoas ou grupos possam pen-sar? Essa objeção encontra-se em Weber,30 e Oah-rendorf a discute longamente em Geiger. Para eleé possível recuperar o conceito de interesse objeti-vo, se filtrarmos o possível significado empíricoque contém, isolando-o de toda conotação político-filosófica que ele representa nas mãos de Marx; ouseja, abdicando-se de lhe conferir qualquer sentidomaterial, definindo-o de maneira puramente for-mai, como interesses pela conservação ou modifi-cação de um status quo. Nessa acepção, "A suposi-ção de interesses 'objetivos' condicionados pelaposição constitui, inicialmente, uma mera constru-ção teórica, cujo valor aparece fundamentado nãoem sua exatidão, mas em sua fecundidade analí-tica. "31

A fundamentação que Dahrendorf faz dessa no-ção de interesse objetivo e seus correlatos, interes-ses latentes e manifestos, constitui uma traduçãopara os termos da teoria coativa da categoria par-soniana de papel-expectatíva. "... As funções so-ciais estão determinadas por certas expectativas,normas de expectativa que definem a conduta ade-quada às pessoas que desempenham determinadasfunções. "32 No quadro da teoria da integração, aconduta adequada é aquela que contribui para ofuncionamento do sistema social, para a manuten-ção do equilíbrio. O comportamento que foge a es-sa linha aparece como um caso de desvio social.Quando transportamos esse aparato para a teoriacoativa, os resultados ficam um pouco alterados. In-teresses objetivos são definidos como Interessesinerentes a uma função no interior de uma asso-ciação de dominação, isto é, são orientações de

comportamento ligadas a funções de autoridade.Aqui também, o titular da função pode correspon-der a elas ou apresentar uma conduta desviada. Aúnica diferença é que, na ótica da teoria de Oah-rendorf "ele se comporta 'em consonância' comsua função quando contribui para o conflito comos interesses opostos e não à integração do sis-tema."33

Os interesses derivados de uma função são doponto de vista do ator interesse latentes. O atorpode não tomar consciência deles, e eles podemnão se manifestar abertamente numa situação deconflito. t necessário que certas condições sejamdadas para que eles se transformem em objetivosconscientes e ganhem realidade psicológica. Estesobjetivos conscientes são os interesses manifestose constituem o programa de grupos organizados.

Quando Oahrendorf subordina o aparecimentodos interesses manifestos à prevalescência de cer-tas condições, ele desloca o foco da análise paratais condições. O que é preciso para que tal passa-gem se verifique, ou por outra, o que pode impe-dir a realização dela? O que é necessário para queum quase-grupo numa associação de dominação dêlugar a um ou mais grupo(s) de interesse? Citan-do Malinowski, Oahrendorf destaca seis condições:a existência de uma carta constitucional, um pes-soal, certas normas e um instrumental de carátermaterial, determinadas atividades, regulares e, fi-nalmente, uma função (objetiva). Desses pressu-postos, os mais importantes são: a) a carta cons-titucional, um sistema de valores manifestos, umprograma articulado: b ) o pessoal -'- não todos osmembros do grupo de interesse, mas os fundado-res, o grupo dirigente, aquela parcela mais ou me-nos reduzida que considera a "organização comocoisa sua "... A essas condições agrega-se umaoutra ordem de pressupostos, que são as condiçõespolíticas e sociais da organização: a) um estado decoisas em que esses grupos sejam autorizados afuncionar, e não reprimidos pela força policial (noEstado totalitário não pode existir grupos de in-teresse, pelo menos de tendência oposlclonlstajç=b ) a comunicação entre os membros dos quase-grupos - o que é magistralmente estudado porMarx, em suas análises sobre a impotência polí-tica dos cernponeses parcelares. Sobre essa baseorganizam-se os grupos de interesses que são "os 115verdadeiros sujeitos do conflito de classes","

Recapitulemos o caminho seguido até aqui: todaassociação de dominação apresenta uma estruturaautoritária que divide seus participantes em doisgrandes conjuntos: ligados por interesses latentes- os que possuem autoridade e aqueles que estãodesprovidos dela - e ligados por interesses opos-tos - a conservação ou a superação do status quo,base potencial para o conflito. Para que este eclo-da é necessário que determinadas condições favo-reçam o aparecimento de grupos organizados, cons-cientes de sua existência enquanto grupo e de seusinteresses próprios (o par conceitual interesse ma-nifesto e grupo de interesse). Estão aí presentes

Classe e conflito em Dahrenâor]

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duas teses de estatuto teórico diferentes - a pri-meira, referente à fundamentação da categoria declasses sociais; a segunda, representando a cone-xão dessa categoria com outras num modelo pos-tulado. No entanto, a conjunção dessas duas propo-sições dá origem a um problema traiçoeiro, queameaça comprometer a unidade da teoria como umtodo, ou, ao. menos, algumas de suas pretensõesprincipais. Poderíamos designá-lo como o círculovicioso da associação de dominação: até onde ascondições de existência de um grupo de interessesestável, nascido para dar expressão articulada aosinteresses do grupo dominado, não envolve, porsi próprio, a existência de uma associação de do-minação, cortando, ele também, os perticlpantes emduas categorias opostas - os dominantes e os do-minados? Pensemos no sindicato. Unia organizaçãosindical não será por acaso uma organização per-manente, "uma instituição" "organizada, ao menos,com um caráter intencional de certo modo estável?"Não encontraremos nela um quadro de funcioná-rios e de dirigentes, de um lado, e apenas associa-dos, de outro? Não disporá 19ualmente o sindica-to de sanções que dão efetividade às regras? Nãoserá ele palco de dissenções, luta, conflito, e nãohaverá no seu interior uma linha separando osinteresses dos altos dirigentes - trabalhadores ou-trora. - e do simples membro, que vê seus pro-blemas prementes serem resolvidos em reuniõesdistantes e em t,ermos para ele inacessíveis? Tra-tar-se-á afinal de uma associação de dominação oude uma organização de outro caráter? A respostaafirmativa a esta pergunta tem implicações sérias.Se os grupos de interesse estáveis constituem as-sociações de dominação, isto significa dizer que naluta entre eles os verdadeiros "sujeitos" são assuas respectivas classes dominantes. Significa esva-ziar a noção de conflito de classes de todo sentido- e conflito de classes torna-se mesmo uma im-possibilidade lógica. Os choques, sempre que ul-trapassem a mera agitação desorganizada, são sem-pre choques entre. associações de dominação, maisprecisamente entre seus escalões dirigentes. Talvezpor essa razão Dahrenderf tenha considerado corno"extreordinariementa importante" e problema, de"em que medida a 'organização dos sindicatos '~ãoconstitui por si mesma uma associação de domi-nação". Talvez pela mesma razão ele afirme aomesmo tempo - "só podemos tocá-lo de passa-gem".36

A crítica científica de uma teoria desenvolve-seem duas frentes que podem ser designadas, abre-viadamente, como crítica interna e externa de umateoria. Per crítica interna entendemos a análiselógica do discurso, quando se procura testar suacoerência, sondar suas implicações e recompor amatriz que o organiza e o torna viável. Esse tra-balho é preliminar à crítica prepriamente dita, e,nesta qualidade, ele é fundamental - apenas permeio dele é possível eliminar a crítica ideológica, acontestação empírica (rebatimente imediate aos"dados") ou a superposição pura e simples de umdiscurso exterior às teses que estejam sendo dls-

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cutidas, caso em que e 'original serve apenas comepretexto para a enunciação de uma verdade que jáse tem pronta e acabada. Ne trabalho era apresen-tado, procuramos cumprir parcialmente alguns dosobjetivos da crítica interna. Faremos agora uma'observação que transcende seus limites, e com elanos afastamos intencionalmente de Dahrendorf.

Ainda aqui o ponto de partida é Dahrendorf. Aodefinir o conceito de classe, Dahrendorf tema comounidade básica as associações de dominação e 'ob-serva com todo rigor que elas não mantêm entresi qualquer relação teoricamente necessária. "OEstade é uma associação de dominação e a produ-ção industrial é uma outra de igual caráter. Quea estrutura de uma delas coincida com a da 'outra,que os dirigentes na indústria sejam direta ou in-diretamente dirigentes de Estado... são questõesque ocupam necessariamente um lugar central emtoda análise das classes das sociedades indus-triais.":" Esta' tese é inquestienável, e, como vimosnão representa mais do que uma implicação lógicade que já fora postulado. Tudo estaria em paz seDahrendorf não concluísse o período cem umaobservação: "Assim, temos de rechaçar como hipó-tese insustentável, ou... corno uma generalizaçãoempírica refutada, a afirmação de Marx de que opoder político surge 'necessariamente' do poderindustrial. "38 (Grifo nosso.) O grande problema éque Marx jamais sustentou e jamais poderia sus-tentar semelhante "hipótese". Na maior parte dasanálises políticas tento de Marx (O dezoito brumá-rio, As lutas de classes na França, etc.), quanto deEngels, a burguesia industrial encontra-se afastadado exercício do poder político. No caso da França,sob Luís Felipe, bem como no regime de Bona-parte, é a burguesia financeira que aparece comodomlnante.w O comentário de Engels sobre a ten-dência bonapartista da burguesia é uma refutaçãomais contundente ainda daquela afirmação de Dah-rendorf. "O bonapartismo - escreve Engels - éa verdadeira religião da burguesia moderna. Vejocada vez mais claramente que a burguesia não foifeita para reinar diretamente; por conseguinte, umasemiditadura bonapartista torna-se a forma de g0-verno normal: ela toma em suas mãos os grandesinteresses da burguesia (contra a burguesia se fornecessário), mas não lhe deixa nenhum lugar nadornlnação.vw Essa· passagem já nos remete parauma outra ordem de questões, que não' é sequerpercebida por Dahrendorf. Com efeito, o importan-te não é o problema substantivo de determinar quala classe ou fração de classe que domina, se a bur-guesia industrial ou não, mas a relação entre' a das-se dominante e o Estado, a classe dominante e seusrepresentantes, o que é uma maneira alusiva de ex-pressar o problema teórico do poder e da domina-ção.

O que para múitos existe de absolutamente sur-.preendente em Marx é que no mesmo momentoem que afirma a dominação de tal ou qual classe,ele diz também que ela não detém os pestes demando - em 51, a burguesia abre mãe do poderpolítlco, ,mas é, e continua sendo, a classe domi-

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nante. E não se trata aqui de uma situação de con-juntura - todas as análises de Marx sobre a In-glaterra visam demonstrar que a aristocracia fun-diária, representada pelos tories, exerce o domí-nio na defesa dos interesses burgueses, monopoli-iando porém, as funções de domlnação.w

Todo o problema está radicado nesse ponto:Dahrendorf e, com ele, a quase totalidade da socio-logia acadêmica, concebe o poder como uma rela-ção interpessoal, direta, de tal forma que, ao falarem classe dominante, ele deve supor, ao menos,relações de parentesco, amizade, entre os membrosdesta classe e os ocupantes dos postos políticos.Leia-se esta passagem: "Quando os 'capitães de in-dústria' monopolizam por si mesmos ou por meiode parentes próximos os postos políticos diretivos(o que em certa medida pôde acontecer na socie-dade inglesa do século XIX, investigada por Marxcom preferência), tal fato não justifica, de ma-neira alguma a formulação de uma lei de validezgera\. "42 Importa acentuar que esta não é a únicarelação possível, e, precisamente, não é esta a re-lação referida por Marx quando falava em classedominante. E com o máximo de atenção que deve-mos ler o trecho abaixo:

"Não se deve imaginar ... que os representantesdemocráticos sejam na realidade todos shopke-epers ( loj istas) ou defensores entusiastas destesúltimos. Segundo sua formação e posição individualpodem estar tão longe deles como o céu da terra.O que os torna representantes da pequena bur-guesia é o fato de que sua rnentalldade não ultra-passa os limites que esta não ultrapassa na vida,de que são conseqüentemente impelidos, teorica-mente, para os mesmos problemas e soluções paraos quais o interesse material e a posição socialimpelem, na prática, a pequena burguesia. Esta é,em geral, a relação que existe entre os representan-tes políticos e llterérios de uma classe e a classeque representam.":"

A nosso ver esse passagem aponta para um con-ceito de poder e domínio radicalmente diverso docomumente encontrável na ciência política contem-porânea. Este conceito - e a teoria no interior daqual ele poderá ser explicitado - não recebeu aindauma formulação adequada. Poulantzas buscou al-cençé-la, mas sua tent,ativa, nesse particular, re-dunda em fracasso. Percebemos, por vezes, em au-tores não-marxistas,· desenvolvimentos paralelos -a noção de mobilization of bias de Bacharach eBaratz44 pode servir de exemplo. Assim como está,aberto, conceito em "estado prático", ele é funda-mentai e a tarefa de fundá-lo é uma das mais pro-metedoras que visualizamos na conjuntura teóricaatua\.45

A confusão de Dahrendorf sobre o conceito mar-xista de classe dominante não vai isolada. Devemostomá-Ia como sintoma de uma situação que, noslimites deste trabalho, só nos será possível afir-

mar, deixando para outra oportunidade o cuidadode demonstrá-lo: ao contrário do que Oahrendorfacredita quando se propõe a reter a "intenção co-gnitiva original" do conceito de classe em Marx,entre eles existe uma descontinuidade radical, nãouma tese, não uma categoria, mas o sistema de re-ferência interna os separa. Dahrendorf não se dáconta desse fato, e por essa razão toda sua discus-são da teoria marxista passa à margem do verda-deiro objeto. Se estamos certos, isto significa, entreOutras coisas, que a pretensão maior de Oahrendorfde ter superado a teoria de Marx é ilusória. Signi-fica que o encontro indispensável para tal supera-ção nunca se deu. Significa; por fim, que o con-ceito de classe social - não a palavra - só temsentido dentro do corpo teórico em que foi pro-duzido, e que seu questionamento e sua reformu-

"Iáção só poderão efetuar-se no interior desse corpoteórico, e que, fora dele - é também uma pos-sibilidade - estaremos tratando sempre, não desua superação, mas de seu abandono. O

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1 Dahrendorf, R. 1962. p. 36.

2 Id. 1962. p .. 114.

3 Id. 1971. p. 78.

4 Id. 1971. p. 82.

5 Id. 1971. p. 83.

Id. 1971. p. 83.

Id. 1971. p. 190.

8· Id. 1971. p. 84.

9 Id. 1962. p. 208.

10 Id. 1962. p. 206.

11 Id. 1962. p. 173.

12 Id. 1962. p. 175.

13 Id. 1962. p. 176.

14 Id. 1962. p. 59.

15 Goldthorpe, J. H. 1967.

118 16 Dahrendorf, R. 1962, p. 129.

17 Id. 1962. p. 66

18 Id. 1962. p. 68.

19 Id. 1962. p. 69.

20 .Id. 1962. p. 189 .

22 Id. 1962. p. 180.

23 Id. 1962. p. 182.

24 Id. 1962. p. 183.

Revista de Administração de Empresas

25 Id. 1969.

Id. 1962. p. 311.

27 Weber, M. 1963. p. 249, 264 e segs.

28 Dahrendorf. 1962. p. 314.

29 Id. 1962. p. 314.

30 Weber, M.1965.

31 Dahrendorf, R. 1962, p. 215.

82 Id. 1962. p .. 217.

33 Id. 1962. p. 218.

84 Id. 1962. p. 219

35 Id. 1962. p. 222.

36 Id. 1?62. p. 286.

37 Id. 1962. p. 192.

38 Id. 1962. p. 192.

39 J: interessante observar que nas 390 páginas de seu livro,Dahrendorf não menciona uma Onlca vez a existllncia de fra_ções da burguesia, tudo se passando como se este conceitopossursse extensão idllntica ao da burguesia industrial. A nossover, este fato deve ser atriburdo li versão sociologizante queDahrendorf fornece da teoria das c/asses em Marx. Transpor-tando para o obra de Marx uma distinção que lhe é estranhaentre economia e sociologia, Dahrendorf expurga todo elemento"econômlco" de "sua" teoria marxista das c/asses sociais, comose o conceito de burguesia e de proletariado não tivessem qual-quer relação com a teoria do valor-trabalho e com o conceitode mais-valia. A partir dar, torna-se-lhe impossrvel pensar aunidade da c/asse burguesa (por exemplo, o absurdo etimol6gi-co contido na expressão burguesia agrária), ou, antes, o con-ceito de fração de c/asse, que, em O npit.l, corresponde, noplano dos agentes, às formas desenvolvidas de mais-valia, quese definem no processo de circulação.

40 Engels, F., Carta a Marx do dia 13.4.1866 .• pud Pou-lantzas, Nicos. 1968. p. 281.

41 Ver Poulantzas. 1968. p. 94.

42 Dahrendorf, R. 1962. p. 190

48 Marx, K. 1969. p. 48.

44 Bacharach, P. & Baratz, M. 1967. A relação entre a noçãoproposta pelos autores e a análise marxista é assinalada porShin'Va Ono. (1967, p. 119), que observa: B.ch.r.ch .ndBu.tz notlon of lhe ••moblllatlon of blu", .nd the cone..,.of the v.rious groups "subst.ntlva" or "Institution.flzed" •• pectof flC'Wer, reler to M.rxl.n clus .n!lly.ls in .n obJique w.y.

45 Depois de concluída a redação deste trabalho tivemos emmãos o estudo de Cuélfar, O. (1971), onde a noção de poderé analisada exaustivamente a partir de uma perspectiva te6ricabem semelhante à que indicamos aqui.