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/. A evolução da economia brasileira; 2. O período de expansão da economia brasileira: /968-/973; 3. Aspectos da concentração econômica na indústria de transformação brasileira; 4. Progresso técnico e concentração econômica; 5. A estrutura da produção e do consumo no ramo de alimentos; 6. Algumas características tecnológicas da indústria de alimentos; 7. Análise conjuntural do ramo de produtos alimentícios; 8. Caracterização da amostra. Henrique Rattner R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, I. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA Para compreender o comportamento tecnológico das empresas estudadas neste projeto de pesquisa, mister se torna retroceder na história e analisar, mesmo resu- midamente, as principais características da economia brasileira no período pós-guerra. O período sobre o qual se estende a pesquisa caracteriza-se por fases alternadas de queda e expan- são de negócios em ritmo e intensidade acelerados, re- fletindo a evolução da economia brasileira, no período pós-guerra, que é marcada por um nítido padrão cíclico de expansão e recessão. Em retrospectiva, os períodos 1952-1956, 1962- 1967 e 1974-? se apresentam como fases de diminuição das taxas de crescimento, enquanto os períodos 1947- 1951, 1957-1961 e 1968-1973 são caracterizados por um crescimento e expansão das atividades econômicas acentuados. Contudo, a história não se repete, ou seja, os ci- clos de expansão e de retração das atividades produti- vas não constituem meras repetições das fases anterio- res, partindo-se cada vez da estaca zero. Bem ao contrário, cada um dos ciclos tem efeitos cumulativos, dando origem ora a um "ciclo virtuoso", ora a um "ciclo vicioso" de crescimento ou recessão, com pro- fundos reflexos nas estruturas sociais e políticas. Após a fase de crescimento de pós-guerra, o período do "Plano de Metas", com todas suas ino- vações no campo da economia, revelou também os pontos de estrangulamento e as contradições da estru- tura econômica e social brasileira. Nesta fase de expansão econômica do Brasil, ca- racterizada pelo auge do processo de industrialização por substituição das importações, surgem também os sinais de suas contradições e futuros problemas, tais como as escalas de produção relativamente amplas pa- ra um mercado de dimensões estreitas e a falta de bens intermediários e de produção no país, face a uma ca- pacidade de importar em declínio. De fato, a década de cinqüenta encerra-se com uma taxa de inflação em ascensão, e um déficit cres- cente no Balanço de Pagamentos enquanto a taxa de crescimento do PNB começa a declinar a partir de 1962, alcançando seu ponto mais baixo entre 1963- 1965. A queda da taxa de crescimento do PN8, provo- cando também uma queda da taxa de lucro, teve am- plas e profundas reflexões na vida social e política da nação. Coincidindo com pressões políticas e revindi- cações salariais das massas urbanas, que buscam man- ter sua participação na distribuição do "bolo" , a dinâ- mica do processo leverá ao desmoronamento da "aliança populista", à extensão de movimentos grevis- tas e, finalmente, à crise político-militar de 1964. No período seguinte sobre o qual se estende a pes- quisa, a economia brasileira atravessou uma fase de re- cessão econômica (1963-1967) orquestrada em parte pela política oficial e visando o controle da inflação provocada por "excesso de demanda", seguida, a par- tir de 1968, de uma nova fase de expansão prolongada 18(3): 17-36, jul./set. 1978 Aspectos econômicos e tecnológicos da indústria de alimentos brasileira

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Page 1: I. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA · plas e profundas reflexões na vida social e política da nação. Coincidindo com pressões políticas e revindi-cações salariais das

/. A evolução da economia brasileira;2. O período de expansão da economia

brasileira: /968-/973;3. Aspectos da concentração econômica

na indústria de transformação brasileira;4. Progresso técnico e concentração

econômica;5. A estrutura da produção e doconsumo no ramo de alimentos;

6. Algumas características tecnológicasda indústria de alimentos;

7. Análise conjuntural do ramo deprodutos alimentícios;

8. Caracterização da amostra.

Henrique Rattner

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,

I. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA

Para compreender o comportamento tecnológico dasempresas estudadas neste projeto de pesquisa, misterse torna retroceder na história e analisar, mesmo resu-midamente, as principais características da economiabrasileira no período pós-guerra.

O período sobre o qual se estende a pesquisacaracteriza-se por fases alternadas de queda e expan-são de negócios em ritmo e intensidade acelerados, re-fletindo a evolução da economia brasileira, no períodopós-guerra, que é marcada por um nítido padrãocíclico de expansão e recessão.

Em retrospectiva, os períodos 1952-1956, 1962-1967 e 1974-? se apresentam como fases de diminuiçãodas taxas de crescimento, enquanto os períodos 1947-1951, 1957-1961 e 1968-1973 são caracterizados porum crescimento e expansão das atividades econômicasacentuados.

Contudo, a história não se repete, ou seja, os ci-clos de expansão e de retração das atividades produti-vas não constituem meras repetições das fases anterio-res, partindo-se cada vez da estaca zero. Bem aocontrário, cada um dos ciclos tem efeitos cumulativos,dando origem ora a um "ciclo virtuoso", ora a um"ciclo vicioso" de crescimento ou recessão, com pro-fundos reflexos nas estruturas sociais e políticas.

Após a fase de crescimento de pós-guerra, operíodo do "Plano de Metas", com todas suas ino-vações no campo da economia, revelou também ospontos de estrangulamento e as contradições da estru-tura econômica e social brasileira.

Nesta fase de expansão econômica do Brasil, ca-racterizada pelo auge do processo de industrializaçãopor substituição das importações, surgem também ossinais de suas contradições e futuros problemas, taiscomo as escalas de produção relativamente amplas pa-ra um mercado de dimensões estreitas e a falta de bensintermediários e de produção no país, face a uma ca-pacidade de importar em declínio.

De fato, a década de cinqüenta encerra-se comuma taxa de inflação em ascensão, e um déficit cres-cente no Balanço de Pagamentos enquanto a taxa decrescimento do PNB começa a declinar a partir de1962, alcançando seu ponto mais baixo entre 1963-1965.

A queda da taxa de crescimento do PN8, provo-cando também uma queda da taxa de lucro, teve am-plas e profundas reflexões na vida social e política danação. Coincidindo com pressões políticas e revindi-cações salariais das massas urbanas, que buscam man-ter sua participação na distribuição do "bolo" , a dinâ-mica do processo leverá ao desmoronamento da"aliança populista", à extensão de movimentos grevis-tas e, finalmente, à crise político-militar de 1964.

No período seguinte sobre o qual se estende a pes-quisa, a economia brasileira atravessou uma fase de re-cessão econômica (1963-1967) orquestrada em partepela política oficial e visando o controle da inflaçãoprovocada por "excesso de demanda", seguida, a par-tir de 1968, de uma nova fase de expansão prolongada

18(3): 17-36, jul./set. 1978

Aspectos econômicos e tecnológicos da indústria de alimentos brasileira

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(até inclusive 1973) cujos principais fatores enumera-mos mais adiante.

O período de recessão de 1963-1967 foi caracteri-zado por uma série de medidas que prepararam um no-vo ciclo expansionista. Entre essas podemos destacar apolítica de controle da inflação, através da compressãosalarial e da intervenção nos sindicatos, visando repri-mir o "excesso de demanda", acompanhado de umasérie de estímulos à poupança privada, e favoresfiscais-tributários para os ganhos de capital, bem co-mo a liberação dos "ordenados" e das remuneraçõesdas funções técnico-administrativas nas empresaspúblicas e privadas.

Outro ponto que merece destaque se refere à ra-cionalização da administração pública, sobretudo emseus aspectos fiscais-tributários, e à melhoria da si-tuação econômico-financeira das empresas públicas,que passam a cobrar tarifas mais "realistas".

Essas diretrizes da política econômica, favorecen-do os ganhos de capital e os altos ordenados, enquantocomprimem violentamente os salários das categoriasmenos qualificadas da força de trabalho, levaram auma concentração das rendas, com amplos reflexos nademanda e, portanto, nos níveis de consumo.

Verifica-se, neste período, uma queda acentuadada demanda por bens de consumo leves e bens de capi-tal, enquanto a demanda por bens de consumoduráveis se mantém e, eventualmente, passa a crescerrapidamente, sobretudo a partir de 1967, em funçãodas políticas de renda, salarial e de crédito adotadaspelo governo.

A produção de bens de consumo duráveis se ba-.seia, via de regra, em processos e equipamentos maissofisticados, capital-intensivos e de grande escala, fa-vorecendo a penetração do capital estrangeiro repre-sentado por empresas transnacionais, cuja presença eatuação vão contribuir decisivamente para o processode concentração econômica, com repercussões nítidasna distribuição da renda e, portanto, na estrutura doconsumo.

1.1 O período de expansão ("o milagre brasileiro")'econômica 1968-73

Ao findar o ano de 1967, as condições estavam madu-ras para um novo ciclo de crescimento da economia,com base nos seguintes fatores favoráveis:

1. Internamente, existia uma capacidade de produçãoociosa, que permitia aumentar a produção, com custosunitários marginais decrescentes. A política de com-pressão salarial das massas urbanas, combinada comtoda a série de mecanismos e diretrizes de incentivos àpoupança privada, tornou os investimentos industriaisem alternativa válida para os capitalistas.

Concomitantemente, ocorreu um aumento acentuadode poupança do Estado, enquanto se criaram as con-dições propícias para o ingresso da poupança externa- capital estrangeiro - atraído pelos incentivos, os

Revista de Administração de Empresas

estímulos e as dimensões potenciais do mercado inter-no, sem falar da "segurança do investimento" repre-sentada pela política autoritária salarial e sindical.

2. A maturação e a combinação dos fatores internosfavoráveis coincidem a partir de 1968, com sua expan-são inédita do comércio internacional estimulada poruma liquidez excessiva de recursos financeiros ("eu-rodólares") e a necessidade de suprimentos crescentesde matérias-primas para a expansão das atividadesprodutivas nos países "desenvolvidos". O boomeconômico das nações industrializadas, enquanto con-duz à elevação substancial dos salários devido à escas-sez de mão-de-obra, também desperta os primeirosprotestos contra a poluição do meio-ambiente. Ambosos fatores contribuíram para o deslocamento, sob aforma de exportação de estabelecimentos completos,de atividades industriais para os países em desenvolvi-mento, por parte das corporações transnacionais.

Assim, não é de admirar-se do ingresso crescente docapital estrangeiro de risco no Brasil, representandoinvestimentos que ultrapassam 1 bilhão de USS aoano, a partir de 1970~

3. O ingresso de capitais estrangeiros atraídos por umasérie de vantagens, tais como baixos custos dematérias-primas e de mão-de-obra, mercado consumi-dor em expansão, política liberal de governo quanto àremessas de lucros e pagamentos por transferência detecnologia, e ainda, de forma crescente, os incentivos esubsídios' à exportação.

Os recursos maciços que entraram nos primeiros anosde setenta vieram juntar-se à poupança interna, priva-da e pública, sendo a primeira produto de uma políticaeconômica altamente favorável aos rendimentos de ca-pital e, portanto, concentradora das rendas, e a segun-da estimulada por meio de toda uma série de políticas,programas e diretrizes, visando à transferência de re-cursos para o poder público (FGTS, BNH, PIS, PA-SEP, sem falar dos empréstimos compulsórios para aEletrobrás, etc).

Uma das características mais salientes de todo esseperíodo é a participação crescente do Estado na pou-pança e na formação de capital, as quais, partindo deuma modernização da máquina fiscal e tributária, re-sultaram na expansão do setor público nos diversos ra-mos de indústria de base (siderurgia, mineração, refi-nação de petróleo, energia, etc) e na conquista de po-sições quase monopolísticas no setor de transporte fer-roviário, comunicações, saneamento, etc. A expansãoe diversificação das empresas públicas, cuja situaçãofinanceira melhorou sensivelmente a partir do momen-to em que foram autorizadas a cobrar "preços realis-tas" por seus produtos e serviços, processou-se a umritmo mais rápido do que das empresas privadas-nacio-nais. De fato, estalebeceu-se uma certa convergênciade interesses entre as corporações transnacionais, queaqui se instalaram ou ampliaram seus estabelecimen-tos, a partir de 1970, e as empresas estatais, encarrega-das de suprir a infra-estrutura produtiva e as "econo-

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mias externas", indispensáveis para a produção e asexportações das primeiras.

As tabelas I, 2, 3 e 4 permitem aferir o avanço dasempresas públicas, mesmo no curto período de 1972 a1976, em termos de sua participação no patrimôniolíquido, nas vendas e nas exportações das maiores em-presas brasileiras. Em 1972 (tabela 2) as empresaspúblicas não aparecem na relação das maiores, no ra-mo de alimentos, controlado por firmas estrangeiras(56,42010) e por privadas nacionais (43,58%). Contu-do, nos dados sobre exportações do mesmo ramo, ascompanhias de capital estrangeiro figuram com 75,9%e na relação exportação/faturamento, com 37,3%,contra apenas 14,6% das empresas nacionais privadas,listadas na amostra.

Os dados da tabela I, extraídos de "Quem éQuem na Economia Brasileira - 1974", e referentes auma amostra das 5.113 maiores empresas, apresentamapenas 1% do patrimônio líquido do ramo nas mãosde empresas públicas, 31% nas de companhias trans-nacionais, e 68010sob controle de empresas nacionaisprivadas. Contudo, em 1976 (tabela 4, extraída deExame. "Melhores e Maiores - 1977"), as empresasestatais do ramo alimentício aparecem com 10% dasvendas, contra 32,5% das estrangeiras e 54,5% dasprivadas nacionais, entre as 20 maiores do ramo.

A liderança das empresas públicas se manifestamais abertamente nos ramos de mineração, da siderur-gia, de combustíveis e lubrificantes e, em grau um pou-co menor, nos produtos químicos e nas resinas e fibrassintéticas.

A participação crescente das empresas públicas naindústria de transformação, embora com margens delucratividade inferiores às da média do setor, vem su-prir as necessidades das empresas privadas nacionais eestrangeiras, oferecendo-lhes os insumos básicos apreços que permitem subsidiar os custos de produçãodo setor privado.

Por outro lado, a capacidade de poupança do Es-tado a fim de financiar a expansão das empresaspúblicas é muito superior à do setor privado (nacio-nal), o que resulta em taxas de crescimento mais eleva-do daqueles. Ademais, uma série de condições estrutu-rais, produto da conjuntura e das relações econômicasinternacionais, parece propícia à expansão e intensifi-cação da participação do Estado nas atividades produ-tivas. Em todos os países que mantêm uma economiade mercado, verifica-se uma crescente tendência inter-vencionista - direta e/ou indireta - do Estado, esta-belecendo tarifas protecionistas ou quotas de impor-tação, celebrando acordos de mercadorias, e levantan-do ou eliminando obstáculos à movimentação de capi-tais, a fim de equilibrar o balanço de pagamentos naNação. Nos países em desenvolvimento, todavia, dadoo atraso com que chegaram à fase de industrialização,a baixa capacidade de poupança do setor privado in-terno e os baixos índices de rentabilidade das indús-trias de base, a intervenção do Estado se manifestatambém sob forma de atuação empresarial, predomi-nantemente nos ramos que suprem insumos básicos einfra-estrutura aos outros setores da economia.

Controlando as áreas estratégicas da infra-estrutura do sistema produtivo, de baixa rentabilidadeporém essenciais, e desenvolvendo seu potencial pro-

dutivo em estabelecimentos de grande escala, com es-truturas organizacionais e hierarquias administrativassemelhantes às das grandes empresas transnacionais, atecnoburocracia estatal se torna interlocutora maisválida e legítima das empresas transnacionais, do queos empresários privados nacionais.

Lidando ambos, os tecnoburocratas e os executi-vos, com grandes unidades, ou seja, organizaçõescomplexas que apresentam uma problemática seme-lhante e condicionam padrões de conduta e de "lide-rança" bastante similares, se estabelecem interesses,comunicações e relações de amizade, alimentados efortalecidos por um sistema de "circulação das elites",entre as grandes empresas estatais e estrangeiras, porum lado, e as posições de chefia na tecnoburocracia ci-vil e militar, por outro.

Não seria de admirar-se, portanto, que o tecno-crata do governo prefira lidar com grandes empresas,mais "produtivas, racionais e eficientes", do que comcentenas ou milhares de pequenas unidades produti-vas.

2. O PERÍODO DE EXPANSÃO DA ECONOMIABRASILEIRA: 1968-1973

A queda da taxa de crescimento do PNB entre 1963-1967, refletindo a diminuição das atividades produti-vas, deveu-se basicamente à redução da taxa de investi-mentos, em função da própria política econômica dogoverno (extinção do subsídio cambial às importações,combate à inflação visando reduzir a demanda agrega-da, etc) e resultou também num arrefecimento da dinâ-mica do setor industrial.

Contudo, nem todos os ramos da produção indus-trial foram afetados com a mesma intensidade pela re-cessão. Enquanto as empresas produtoras de bens deconsumo não duráveis (Têxtil, Alimentos, Calçados,Bebidas etc.) e as de bens de capital (Indústria Mecâni-ca) sofreram com mais rigor o impacto da política de-flacionária, os sub-ramos de bens de consumo durável(Automóveis, Eletrodomésticos etc.) foram menosatingidos. De fato, em função das diretrizes e medidasque visavam imprimir uma nova estrutura de financia-mento à economia e minimizar o impacto de inflação(a criação do Banco Central, a regulamentação domercado financeiro, a instituição da correção mo-netária, assegurando a rentabilidade dos papéis de ren-da fixa etc.), os ramos produtores de bens de consumoduráveis passaram a apresentar um crescimento apre-ciável, tornando-se os centros dinâmicos da Indústriade Transformação e da economia em geral.

O período 1968-1973 pode ser melhor analisadosubdividindo-o em duas fases: a primeira, de recupe-ração da economia de recessão precedente (1968-1969), e, em seguida, a de plena expansão e crescimen-to (1970-1973).

Na primeira fase - a de recuperação - as diretri-zes da política econômica do governo visam à elevaçãoda demanda agregada, lançando mão de instrumentosde política monetária e fiscal, para financiamento debens de consumo duráveis. O crescimento da produçãoque lhe segue é resultado da absorção da capacidadeociosa originária da recessão anterior.

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Indústrie de alimentos brasileira

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Tabela 1

Participação percentual, pelo patrimônio líquido, dos três grupos de empresas nos S .113 maiores do Brasil (1974)

Patrimônio Empresas Empresas es- Empresas priva-Setores Líquido em estatais trangeiras das nacionais

(milhões de CrS) em"'o em"" em"'.

Mineração 9.637 62 12 26Indústria de transformação 161.571 20 29 51Não metálicos 7.551 02 35 64Metalurgia 27.711 34 12 54Mecânica 8.293 01 46 53Aparelhos Elétricos ede Comunicação 6.476 61 39Mal. de Transporte 15.155 04 63 33Madeiras e Artefatos 8.782 09 91Mobiliário 577 1.00Borracha 1.834 06 61 33Couros e Peles 685 11 89Química 40.162 55 23 22Têxtil 12.411 13 87Alimentos 16.910 01 31 68Bebidas 3.571 14 86fumo 2.w~ QQ 01Editorial 2.143 02 98Diversos 8.211 47 53Agricultura, Silvicultura 4.825 01 03 96Construção civil 18.317 15 03 82Utilidades Públicas 97.836 88 07 06Transportes 19.052 78 01 21Outros 78.784 90 08 02Comércio 30.735 01 05 95Serviços 84.656 27 04 69

Total 407.557 37 15 48

Fonte: "Quem. Quem na Economia Brasileira"; Vistlo. 31.08.1975: 29.

20Tabela 2

Participação percentual, pelo patrimônio .líquido e pelo faturamento, dos três grupos de empresa na amostra(1972)

Patrimônio líquido (070) Faturamento ("'oj

Setores Governa- I Nacionais I Multina- Governa- I Nacionais I Multina-mentais privadas cionais mentais privadas cionais

Mineração 79,33 6,09 14,58 76,49 7,85 15,66Minerais não-metálicos 40,30 59,70 40,23 59,72Metalurgia 64,02 15,02 20,96 52,50 21,00 26,50Mecânica 35,24 64,76 25,35 74,65Aparelhos elétricos e decomunicação 8,67 91,33 23,84 76,16Material de transporte 11,86 88,14 3,56 96,44Madeiras e artefatos 74,15 25,85 82,41 17,59Papel e papelão 63,47 36,53 62,95 37,05Mobiliário 100,00 0,00 100,00Borracha 28,59 71,41 33,90 66,10Couros e Peles 76,98 23,02 (*) (*)Química 30,63 25,12 44,25 13,33 35,55 51,12Plásticos 23,14 76,86 29,87 70,13Petróleo e derivados 83,35 5,06 11,59 50,23 8,95 40,82Farmacêutico 7,47 92,53 6,97 93,03Perfumaria 90,72 9,28 96,70 3,30Têxtil 71,16 28,84 62,12 37,88Vestuário 51,17 48,83 50,29 49,71Alimentos 43,58 56,42 46,16 53,84Bebidas 87,08 12.92 85,35 14,65Fumo 0,43 99,57 0,10 99,90Editorial 98,00 2,00 99,01 0,99Diversas 53,13 46,87 33,64 66,36

Total 35,39 24,21 40.40 20,72 24,01 55,27

Fonte: Carlos Von Dollinger, "Empresas multinacionais na indústria brasileira"; "Quem é Quem"• Insuficiência de informações.

Revista de Administração de Empresas

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Tabela 3

Exportações e relação exportação/faturamento das firmas de amostra (1973)

Setores Empresas Empresas Empresas Multina- Empresasnacionais Governamentais nacionaís cionais Governamentais

Mineração 0,3 15,9 83,8 0,0 34,8 68,2

Minerais não-metálicos 25,7 74,3 1,6 3,0

Metalurgia 7,2 10,5 82,3 1,2 1,0 4,6

Mecânica 19,9 80,1 3,4 2,2Material elétrico 8,2 91,8 1,8 5,4

Material de transporte 14,4 85,6 5,0 2,4

Madeiras 44,3 55,7 8.4 15,6

Papel 24,7 75,3 3,3 17,1

Mobiliário 100,0 5,0Borracha 7,6 92,4 0,6 0,9

Couros e peles 7,2 29,8 27,1 35,1Química 0,2 84,1 14,7 0,0 0,5 0,4

Plásticos 15,0 75,0 0,9 0,8

Petróleo 7,2 -92,8 0,6 4,2

Farmacêutico 100,0 2,4

Perfumaria 9,4 90,6 0.2 6,0

Têxtil 84,0 16,0 12,3 3,8Vestuário 42,3 57,7 9,5 (*)

Alimentos 14,1 75,9 14,6 37,3Bebidas 12,4 87,6 0,2 6,4

Fumo 21,8 78,2 (*) 5,6

Editorial 100,0 2,5Diversas 72,8 77,2 7,3 1,7

TOTAL 9,8 51,4 38,8 4,8 7,9 11,5

Fonte: Carlos VORDoüinger, "Empresas multinacionais na indústria brasileira"; "Quem é Quem" .• Insuticiência de informações.

Tabela 4 21

Participação relativa das empresas nacionais, estrangeiras e estatais nas vendas das 20 maiores empresas de cada.setor, em 070, 1976

Nacionais Estran geiras

I. Agropecuária 95,332 Alimentos 57,47 35,523 Automobilístico 0,22 99,784 Autopeças 36,26 63,745 Bebidas e fumo 36,17 63,836 Comércio atacadista 46,35 50,087 Comércio varejista 87,84 12,168 Confecções 95,58 4,429 Construção civil 95,49 4,51

10 Construção pesada 81,83 15,30II Distribuição de petróleo 11,83 61,1512 Editorial e gráfico 100,0013 Eletroeletrônica 22,06 77,9414 Farmacêutico 100,0015 Higiene e limpeza 24,63 75,3716 Madeira e móveis 97,19 2,8117 Máquinas e equipamentos 40,63 59,3718 Material de escritório 15,65 84,3619 Material de transporte 30,78 58,7920 Metalurgia 71,81 28,1921 Mineração 28,69 .7,9922 Minerais não-metálicos 56,74 43,2623 Papel e celulose 79,17 20,8324 Plásticos e borracha 23,59 74,0825 Publicidade 75,72 24,2826 Química e petroquímica 4,32 19,5527 Revenda de veículos 96,11 3,8928 Serviços de eletricidade 29,1129 Serviços de transporte 49,7530 Siderurgia 29,04 8,1731 Supermercados 91,54 8,4632 Têxtil 29,45 70,55

Fonte: Exame/Melhores e Maiores/ 1977.

Estatais

4,6710,01

3;57

2,8727,02

10,43

63,32

2,33

76,13

70,8950,2562,79

Indústria de alimentos brasileira

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o sucesso dessa política foi reforçado e realimen-tado por um processo de redistribuição das rendas, viadiferenciais de salários, a favor das classes média emédia-alta, cujo poder aquisitivo crescente estimuloupoderosamente o crescimento industrial, mormentenos ramos de bens de consumo duráveis.

A expansão e diversificação do consumo ocorre-ram, portanto, a um nível de produtos sofisticados, dealto conteúdo tecnológico, cuja introdução se deveubasicamente às empresas transnacionais que predomi-nam no setor de bens de consumo duráveis.

Além das vantagens de um acesso mais fácil aocrédito externo (e provavelmente também ao nacio-nal), as estrangeiras .têm também maior flexibilidadede ajuste a condições diferentes. Com base na amostracitada, as empresas estrangeiras transferem para asregiões-problema do Norte e Nordeste, através dos in-centivos fiscais, maiores parcelas de seus ativos totais.A relação entre incentivos fiscais e ativos totais é de1,8070 para firmas nacionais e 2,1070 para subsidiáriasde firmas estrangeiras.

Também no comércio internacional as empresasestrangeiras são beneficiadas por suas redes de comer-cialização, já existentes. Verifica-se pela tabela 3 que,na amostra das maiores empresas, 51,4070 da expor-tação é realizada pelas estrangeiras e apenas 9,8070 pe-las empresas privadas brasileiras.

Quanto à relação entre exportação e faturamento,as estrangeiras, em 1973, exportavam 7,9070 de suasvendas, contra 4,8070 das empresas nacionais. Os11,5070 das empresas do Governo são devidos princi-palmente à atuação da Vale do Rio Doce no setor demineração. Evidentemente, as empresas estrangeirasimportam muito mais do que exportam, sobretudo asde substituição de importações, e o impacto global so-bre o balanço de pagamentos ainda está para ser estu-dado mais minuciosamente. É óbvio, no entanto, queas empresas estrangeiras desfrutam de uma série devantagens sobre as nacionais, além de escala e acessoao mercado de crédito.

Comparando os dados de 1972 baseados em"Quem é Quem" (tabela 2) com os de 1976 (tabela 4)da Revista Exame, verificamos o avanço contínuo dasempresas estrangeiras, sobretudo nos ramos mais di-nâmicos da indústria.

Assim, a participação das firmas estrangeiras nasvendas das 20 maiores nos respectivos setores e ramosde atividades econômicas ultrapassou, em 1976, os30070 nas Indústrias de Alimentos e de Minerais não-metálicos; alcançou 50070 até 75070, nas Indústrias deAutopeças, Bebidas e Fumo, Comércio Atacadista,Distribuição de Petróleo, Máquinas e Equipamentos,Material de Transporte, Plásticos, Borracha e Têxtil e,finalmente, representou de 76070 a 100070 nas IndústriasAutomobilísticas, Farmacêutica e de Material de Es-critório.

Por outro lado, pelos dados das tabelas acima ve-rificamos que a participação e o controle das empresasestrangeiras, entre as mais ou menos 5.000 maiores dopaís, em termos de percentual no total do PatrimônioLíquido, é predominante' nos ramos Elétrico (61'1.),

Revista de Administração de Empresas

Mecânico (46070), Equipamentos de Transporte (63070),Borracha (61070) e Fumo (99070).1

O crescimento e a expansão das empresas estran-geiras constituíram o elemento básico do modelo dedesenvolvimento orientado para o exterior, e adotadoa partir de 1964.

É na segunda fase do ciclo da expansão, com ocontínuo crescimento da produção de bens duráveis,que se manifesta também um crescimento paralelo dasindústrias de bens de capital. O aumento contínuo dademanda por bens duráveis, uma vez absorvida a ca-pacidade ociosa, começa a pressionar as empresas nosentido de aumentarem suas inversões, a fim de am-pliar a capacidade produtiva.

Na realidade, a rápida e contínua expansão daeconomia brasileira neste período (1969-1973) pode serexplicada tanto por fatores endógenos e cíclicos daeconomia brasileira como, também, por uma conjun-tura econômica internacional extremamente favorável.

A concomitância dessas duas tendências e suaconcretização mediante as diretrizes de política econô-mica executada nesse período fornecem uma visãomais correta do processo de expansão, sua precarieda-de e os problemas que deixou como herança.

Entre os fatores propícios e estimulantes do cres-cimento no período 1969-1973, convém destacar, emprimeiro lugar, a capacidade ociosa da indústria detransformação que teria chegado, segundo estimativasdiversas,2 a aproximadamente 25'10 do potencial insta-lado nos anos 1964-1967. O aproveitamento dessa ca-pacidade resultou em baixos custos industriais e numcrescimento da produção mais rápido do que do esto-que de capital.

Ao mesmo tempo, a política econômica do gover-no encorajou a expansão do aparelho produtivo, me-diante um sistema de incentivos, subsídios, créditospara a expansão de bens de capital e insenções fiscais etributárias.

Também, ao lado da demanda, uma série de me-didas de caráter fiscal e monetário, sobretudo linhasde crédito fácil para aquisição de bens duráveis, conse-guiu estimular o crescimento da produção industrial,especialmente de bens duráveis. Em conseqüência, en-quanto a produção industrial aumentou a uma taxa de14,7070 ao ano, entre 1967-1973, a de bens de consumoduráveis expandiu-se a 23,8070 ao ano.

Outro-aspecto, estreitamente relacionado com aexpansão da produção de bens de consumo durável, serefere à concentração da renda, já assinalada acima.

A demanda interna crescente por bens manufatu-rados foi reforçada por uma política de incentivos àexportação, o que elevou a participação de produtosindustrializados no total das exportações, de 5'10 em1968, para 18010em 1971.

Do lado das relações comerciais internacionais, ossuperávits do balanço de pagamentos brasileiro permi-tiram a expansão das importações de bens de capital ede matérias-primas, a fim de atender a demanda daindústria em expansão. Por outro lado, na década desessenta e nos primeiros anos de setenta verificou-se

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uma expansão intensa do comércio mundial, com for-tes movimentos do capital internacional (eurodólaresetc.) canalizado sob forma de empréstimos, créditosou financiamentos, ou também investimentos diretos,aos países em desenvolvimento. Alguns destes, entreos quais o Brasil, foram escolhidos pelo capital inter-nacional para neles investir em empreendimentos in-dustriais. A renda per capita relativamente elevada as-segurando um mercado real e potencial apreciável, apresença de uma mão-de-obra abundante, relativa-mente bem treinada e, sobretudo, controlada por umapolítica salarial e sindical repressiva, e last but notleast, as diretrizes a política econômica, concedendovantagens, incentivos, subsídios e insenções, tiveramcomo resultados uma elevada lucratividade e uma for-te atração para o capital estrangeiro, cujo ingresso per-mitiu manter, por mais algum tempo, as altas taxas decrescimento do PNB.

As diretrizes da política econômica interna foramelaboradas em função do objetivo precípuo - a maxi-mização do PNB -, sem muita preocupação com oscustos sociais e as conseqüências para a própria econo-mia a médio-longo prazos.

Assim, a política salarial funcionou como meca-nismo de transferência de renda dos assalariados parao capital, mantendo-se as organizações sindicais para-lisadas ou sob intervenção, enquanto a correção mo-netária e uma série de incentivos fiscais estimularampoderosamente a poupança e acumulação privadas.

Por outro lado, a poupança compulsória impostapelo poder público (FGTS, PIS, PASEP etc.) carreourecursos enormes para o Estado, os quais permitiram aexpansão dos empréstimos e financiamentos pelo setorpúblico ao privado a uma taxa anual de mais ou menos50OJo,em termos nominais, entre 1967 e 1975.

Finalmente, além dos incentivos fiscais e tri-butários concedidos, a política cambial de minidesva-lorizações, implantada a partir de 1968, contribuiu co-mo estímulo às exportações e ao ingresso de capital es-trangeiro, sem onerar excessivamente as importaçõesde bens de capital e de insumos. Os investimentos es-trangeiros realizados no período 1970-1974, se tiverampapel fundamental na manutenção da alta taxa decrescimento do PNB, também aceleraram e intensifi-caram os processos de concentração econômica, dadistribuição desigual da renda, e da elevação da dívidaexterna.

3. ASPECTOS DA CONCENTRAÇÃOECONÔMICA NA INDÚSTRIA O-ETRANSFORMAÇÃO BRASILEIRA

A concentração da produção em grandes empresas po-de ser considerada um processo histórico inexorávelpara todas as sociedades que se engajam no caminhoda industrialização e conseqüente modernização de seuaparelho de produção. No decorrer do processo de in-dustrialização, com a ampliação e diversificação de to-das as atividades econômicas, são criadas condiçõespropícias para aquelas empresas capazes de realizar"economias de escala" .

Essas empresas, por disporem de maiores recursosfinanceiros, têm acesso mais fácil à tecnologia moder-na e, assim, a um equipamento mais eficiente, reunin-do, também, contingentes crescentes de mão-de-obra ecapital sob seu controle.

O poder econômico das grandes empresas, suapolítica de preços e, freqüentemente, sua interferênciaem esferas extra-econômicas são assuntos altamentepolêmicos e sobre os quais existe uma vasta documen-tação.3

Importa, contudo, para os objetivos deste traba-lho, distinguir entre as duas fases ou formas diferentesde concentração.

Nos períodos de surto desenvolvimentista, carac-terizados pela expansão do sistema global, todas asempresas crescem e se expandem; aumenta o númerode estabelecimentos industriais, comerciais e de ser-viços; a produção se desenvolve por meio de atividadescada vez mais especializadas e diversificadas, dandoassim origem a um aumento contínuo da produtivida-de. Em virtude da ampliação dos mercados, nesta fase,também as pequenas e médias empresas conseguemconquistar uma parcela destes e, como base nos lucrosauferidos, aumentar seu capital e ampliar suas insta-lações e escalas de produção.

Em outras palavras, o aumento da dimensãomédia das empresas, em conseqüência de sua maior ca-pitalização, leva a um aumento da produtividade queresulta, normalmente, em maiores lucros, cujo rein-vestimento enceta um novo ciclo de expansão da eco-nomia e, portanto, das empresas.

A segunda metade dos anos cinqüenta e os anosde 1968-1973 constituem exemplos apropriados parailustrar a expansão geral do sistema, em que as indús-trias "modernas" criadas com recursos financeiros re-lativamente reduzidos e com facilidades de importaçãode equipamentos (por exemplo, a Instrução 113, daSUMOC) absorveram contigentes crescentes de mão-de-obra semi ou não-qualificada e concorreram parauma elevação do nível de emprego nas áreas metropo-litanas.

Com o início dos períodos de recessão (1963 e1974), verificou-se uma retração paulatina do mercadocomprador e, em conseqüência, dos níveis de pro-dução de bens e de serviços. As pequenas e médias em-presas não somente não crescem mais, cOI\lOmuitassão obrigadas a cerrarem suas portas ou, na melhordas hipóteses, a procurarem em fontes externas recur-sos para seu capital de giro, reequipamento, racionali-zação administrativa etc. Inevitavelmente,para não se-rem eliminadas do mercado, terão que procurar a as-sociação com empresas mais poderosas, isto é, commais capital e acesso à tecnologia moderna, nacionaisou estrangeiras.

Entretanto, a tendência geral à concentração eco-nômica fica também evidenciada nos períodos de re-cessão econômica. A racionalização das empresas quesobrevivem graças a facilidades de crédito e financia-mentos obtidos de instituições financeiras oficiais ouestrangeiras resulta novamente em elevação da produ-tividade, sem queos resultados desta atinjam, necessa-

23

IndústrÚl de alimentos brasileira

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riamente, o mercado consumidor. Ao contrário, a re-dução do número de empregados leva à diminuição dademanda agregada por bens de consumo. Logo, as em-presas tendem a diminuir sua produção, passando atrabalhar com capacidade ociosa e custos unitáriosmais elevados. Os custos mais elevados dos produtosresultam em nova redução do consumo e, assim,completa-se o círculo vicioso da queda de negócios eda redução do nível de emprego agregado.

Vários fatores atuam nesse processo universal ecaracterístico do sistema capitalista:

a) A grande empresa dispõe, geralmente, de técnicasde produção e de mercadização mais avançadas, o quelhe permite reduzir o custo unitário, através de umamelhor distribuição dos custos fixos, sobre uma quan-tidade maior de unidades produzidas. A restante pro-dução' em massa torna, pelo menos teoricamente, osprodutos mais baratos e mais acessíveis às camadasmais pobres da população.

Dizemos teoricamente porque, na realidade, as vanta-gens e custos mais baixos obtidos pela aplicação deuma técnica mais avançada freqüentemente são des-virtuados por práticas monopolísticas, em benefício deindivíduos ou grupos restritos, porém economicamen-tê poderosos, sem necessariamente resultar numa re-dução dos preços e, assim, na melhoria do nível de vi-da da população.

24b) À medida que aumenta a escala de produção dasempresas, torna-se imprescindível o emprego de quan-tidades de recursos cada vez maiores, para a moderni-zação constante do equipamento, através de pesquisase inovações, seja de técnicas de produção, seja da qua-lidade do próprio produto.

Isto favorece novamente a grande empresa que temacesso mais fácil ao mercado de capitais e aos organis-mos oficiais de financiamento. Por outro lado, a cres-cente racionalização e mecanização das operações ten-de a alterar paulatinamente as proporções do capitalvariável em relação ao capital fixo, a favor deste últi-mo. Assim, cada novo investimento exige importân-cias elevadas em capital para cada unidade de trabalho(mão-de-obra), sobretudo nos setores modernos daeconomia, como eletrônica, eletromecânica, química epetroquímica etc., o que elimina automaticamente aspequenas e médias empresas do mercado competitivoe, paulatinamente, também do setor. Essas, não dis-pondo das mesmas facilidades de crédito que as gran-des e produzindo com custos unitários mais elevados,também carecem de promoção e redes de distribuiçãode produtos que mantêm o nível das vendas bem maisestável, sobretudo nas épocas de crise e retração domercado comprador. As pequenas e médias empresas,que não podem acompanhar por seus próprios recur-sos a evolução, do mercado, sendo-lhes portanto im-possível conhecer a priori as tendências e a evoluçãodos setores do mercado em que operam, tornam-semuito mais sensíveis às suas flutuações cíclicas.

Revista de AdministraçiJo de Empresas

c) Finalmente, a política do próprio poder público, emmatéria de tributação e impostos, pode ter profundainfluência sobre o processo de concentração da pro-dução em grandes empresas. Um bom exemplo a res-peito nos é fornecido pela análise da situação naindústria automobilística no Brasil.

Trata-se de uma indústria em cujo produto final sãoincorporados milhares de peças dos mais diversos ma-teriais e processos de produção, tais como: borracha,fibras, plásticos, metais ferrosos e não-ferrosos etc. Orápido crescimento dessas empresas favorecia umaconcentração horizontal, estimulada também pelas au-toridades governamentais, interessadas em criar possi-bilidades para novos investimentos na indústria de au-topeças. Segundo os planos iniciais, iria processar-seuma integração horizontal das empresas produtoras deautomóveis, sendo que as próprias fábricas iriam mon-tar os veículos, recebendo grande parte das peças deestabelecimentos especializados e independentes, liga-dos apenas por subcontratos. Essa forma de produçãoiria permitir também uma maior descentralizaçãogeográfica, com vantagens óbvias para o planejamen-to urbanístico e social dos municípios, na área metro-politana de São Paulo.

A realidade, porém, parece ter levado a uma so-lução diferente e até diametralmente oposta à prevista.

Em primeiro lugar, a crise econômica a partir de1963 e a conseqüente retração do mercado forçavamvárias empresas menores, com níveis de produção re-duzidos, a associar-se com as grandes ou perecer.

Em segundo lugar, o gradual aperfeiçoamento doproduto nacional, principalmente de um produto tãocomplexo como é o automóvel, exigiu observância ri-gorosa das medidas e padrões de qualidade, normal-mente fora de alcance de pequenos e médios fabrican-tes, que não têm acesso ao know-how, às pesquisas,inovações e às patentes delas resultantes.

Finalmente, este setor de produção industrial so-freu um acúmulo de impostos e tributos, que consti-tuíram uma' sobrecarga pesada nos custos do produtofinal, e que levou as empresas a modificarem seus pla-nos iniciais, de apenas montar o veículo com as peçasfornecidas por terceiros, para passarem a fabricargrande parte de suas próprias peças e apetrechos, emvez de adquiri-las de terceiros, procedimento normal-mente mais em conta.

4. PROGRESSO TÉCNICO E CONCENTRAÇÃOECONÔMICA

A tendência central e fundamental do sistema econô-mico capitalista se manifesta na aceleração da acumu-lação de capital, por meio de inovação tecnológica e aconcorrência entre as empresas, nos mercados nacio-nal e internacional.

A aplicação de uma tecnologia mais capital-intensivo leva a um aumento da produtividade do tra-balho, como conseqüência de um maior domínio deequipamentos e processos (know-how) pelosoperários. Produzindo-se mais, com relativamente me-nos mão-de-obra, tende-se a aumentar as escalas de

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produção e aumenta-se, também, o número médio deempregados por empresas.

No período de "vacas-gordas", a euforia geral écompreensível pela expansão geral do sistema: todas asempresas - pequenas, médias e grandes -, sobretudoestas últimas, crescem por meio de concentrações, ouseja, ocorre um processo intenso de acumulação de ca-pital. Cresce a produção, os mercados se expandem eassim, também, as pequenas empresas conseguem umafatia do mercado, já que a pressão da concorrêncianão é tão sentida.

A segunda metade da década dos cinqüenta e oqüinqüênio 1968-1973 são caracteristicamente épocasde expansão do sistema industrial brasileiro, concen-trado no espaço geoeconômico da RMGSP. Mas, as-sim como em 1963, também em 1974 o processo deacumulação de riqueza social estancou ou diminuiusensivelmente, desencadeando a descapitalização e en-fraquecimento das empresas menores e menos bem or-ganizadas.

Importa frisar, todavia, a tendência imperiosa emdireção à racionalização e modernização das empre-sas, como condição essencial para sua sobrevivência.

Na luta pelo mercado minguante defender-se-ámelhor a empresa apta a inovar, isto é, a introduzirtecnologia poupadora de mão-de-obra, com conse-qüente redução de custos e elevação de lucros. Nova-mente, é a grande empresa que estará em condiçõesmais favoráveis de acesso ao know-how e de obterrecursos para investir em inovações tecnológicas. Daío aparente paradoxo: as grandes empresas continuama crescer e a se expandir, mesmo em períodos de reces-são ou de diminuição relativa das atividades econômi-cas. Entretanto, o preço a pagar pela racionalização emodernização, por meio de fusões, incorporações eabsorções de empresas menores, é, além do encerra-mento de atividades de muitas pequenas empresas, umaumento paulatino do desemprego tecnológico, cujasvítimas irão engrossar os contingentes do subempregoe do desemprego estrutural.

4.1 A concentração na indústria e a presença decompanhias transnacionais

Verifica-se que o grau de rentabilidade das empresaslíderes nos ramos de alta concentração está geralmentemais elevado do que nos ramos competitivos, o que re-sultará em maior capacidade de expansão, seja dentrodo ramo original ou em outro, por via de diversifi-cação e conglomeração.

Considerando que a expansão das companhiastransnacionais a nível mundial se verifica especialmen-te nos ramos cujas estruturas nos países de origem sãooligopolísticas, é de esperar-se que sua presença noBrasil coincida com os ramos mais concentrados, ouseja, aqueles que experimentaram a maior expansão,freqüentemente levantando recursos no mercado decapitais local para seus projetos de ampliação.

Segundo dados publicados recentemente+ o graude concentração em alguns dos setores-chave da eco-nomia brasileira tem avançado inexoravelmente, cons-

tituindo hoje motivo de sena preocupação de em-presários nacionais e da opinião pública, sobretudodaqueles que acreditam na relação indissolúvel entre adescentralização e o pluralismo econômico, por um la-do, e um regime político aberto e democrático, por ou-tro.

Tomando por base as vendas das empresas, "Me-lhores e Maiores" - que analisa 33 setores - identifi-cou forte concentração em dez setores"e relativa con-centração em outros dez. E as áreas mais concentradassão dominadas inteiramente pelas empresas estatais emultinacionais.

Tabela 5A concentração, segundo as vendas, na indústriabrasileira

Setores mais concentrados

Setores

Participação das Participação datrês maiores nas maior nas vendasvendas das 20 das 20 maiores"maiores empresas

do setor"em porcentagem

Química 75 69Mineração 74 57Automóveis 73 34Distribuidores de Petróleo 64 24Material de escritório 61 32Eletro-Eletrônica 62 29Bebidas e Fumo 57 37Plástico e Borrachas 54 30Serviços de Transportes 53 24 25Siderurgia 51 21

Setores menos concentrados

. Setores

em porcentagem

Participação damaior nas vendasdas 20 maiores"

Participação dastrês maiores nasvendas das 20maiores empresas

do setor"em porcentagem

MetalurgiaFarmacêuticoPapel e CeluloseConstrução PesadaAlimentosAutopeçasMáquinas e EquipamentosRevendedorasNão-MetálicosSupermercados

28283030323334343434

13131212131420181313

Fonte: "Melhores c Maiores", 1977/Exame• 15"70 seria a distribuição não concentrada.•• 5"110seria a distribuição não concentrada.

A 'rapidez e intensidade dos processos de concen-tação e centralização do capital no Brasil são docu-mentados pela tabela 6, sobre as maiores empresas noBrasil versus as maiores do mundo.

O número de empresas estabelecidas no Brasil.>que por seu faturamento teriam condições de figurarna lista de For/une, aumentou para 34 em 1976, masera de 30 em 1975, de 25 em 1974e apenas 19 em 1973(como se vê na tabela 6). Da mesma forma, cresceu o

Indústria de alimentos brasileira

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Tabela 6

As maiores empresas do Brasil x as maiores do mundo (as 500 maiores empresas do Brasil, relacionadas porMelhores e Maiores/Exame, comparadas com as 500 maiores dos Estados Unidos, relacionadas pela revistaFortune e as 500 maiores do mundo, excluídas as norte-americanas)

1976 1975 1974

Total das vendas (tm Cr$ bilhões de 1976)500 de Melhores e Maiores 622 597 525500 de Fortune 10.362 9.231 8.898500 do mundo 9.545 8.772

Crescimento das vendas (em 1170)500 de Melhores e Maiores 4,1 13,6 14,2500 de Fortune 5,8 -4,8 12,6500 do mundo -0,2 -3,0 20,6Crescimento em lucros (em 1170)500de Melhores e Maiores 10,7 -3,9 3,4500 de Fortune 23.2 -20.5 1,2500 do mundo 4.2 -17.5 4,6Lucro disponível sobre vendas (em 1170)500 de Melhores e Maiores 4,1 4,8500 de Fortune 5,1 4,3 5,2500 do mundo 4,2 4,0 3,0Lucro sobre patrimônio (em 1170)500 de Melhores e Maiores 12.4 14,4500 de Fortune 13,3 11,6 14,1500 do mundo 16,7 16,1 11,9Empresas com prejuízos500 de Melhores e Maiores 56 44 31500 de Fortune 12 28 21500 do mundo 60 80 3626Endividamento (em 1170)500 de Melhores e Maiores 56,3 56,7 55,8500 de Fortune 50,3 50,4 50,7500 do mundo 73,3 73,0 73,1Despesas financeiras s/vendas (em 'lo)500 de Melhores e Maiores 5,9 4,5 4,2400 de "Standard & Poors"> 1,5 1,6 1,6Quantas empresas do Brasilfigurariam em "Fortune 500" 34 30 25Quantas empresas do Brasilfigurariam em "The 2nd 500" 172 159 118

1973

4607.712

9,422,2

27,174,6

5,73,5

13,61l,7

169

21

51,049,171,4

3,51,5

19

101

• Anuário de dusines Week, onde sIo avaliádos os desempenhos das 400 maiores empresas norte-americanas.

número das que seriam incluídas entre as 1.000 maio-res norte-americanas consideradas a partir da 501 ~ co-locação (que aparecem em "The 2nd 500", deFortune).

Neste caso, 172 empresas brasileiras participariamda lista de Fortune contra apenas 101 em 1973, eviden-ciando aumento considerável do porte das empresasdo país.

Em termos de rentabilidade do patrimônio, nota-se uma situação de igualdade entre as brasileiras, asnorte-americanas e as do resto do mundo.

É preciso considerar, porém, que as comparações,neste caso, devem ser encaradas com algumas reservasdevido às diferenças de critérios contáveis vigentes nosvários países.

Do ponto de vista estritamente contábil, o endivi-damento das empresas brasileiras pode ser considera-

Revista de Administraçilo de Empresas

do tímido. De fato, as empresas brasileiras estão pou-co mais endividadas que as norte-americanas e muitomenos que as 500 maiores do mundo. Porém, o dadomais preocupante é a enorme diferença entre as despe-sas financeiras sobre vendas das 500 maiores do Brasile das 400 maiores norte-americanas, relacionadas por"Standard and Poors". As norte-americanas despen-dem 1,50/0 sobre vendas e as brasileiras, 5,90/0 - quase400% amais.

Pesados todos esses fatores, porém, econsiderando-se o aperto da conjuntura, pode-se con-cluir que, apesar de todas as adversidades, que começa-ram a partir de 1974, as grandes empresas brasileirasconseguiram evitar a crise.

Segundo um estudo apresentado recentemente 6tem se intensificado e aprofundado o processo de in-ternacionaliiação da economia brasileira desde a se-

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gunda metade dos sessenta e, sobretudo, a partir de1970.

Entre os 272 grupos estrangeiros que se destacamna amostra de empresas líderes que operam no Brasil,contam-se 114 grupos de capital de origem americananos quais 107 são filiais de empresas internacionais(constantes da lista das 500 maiores de Fortunei, ape-nas 5 são empresas maiores de capital privado ameri-cano, 43 são controladas por conglomerados financei-ros de origem americana.

Dos restantes 159 grupos, não americanos, pre-sentes na liderança industrial brasileira, a maioria é deorigem européia, mas só cerca de metade pertence àlista das grandes empresas.

De fato, apenas 84 são filiais de empresas interna-cionais (isto é, que operam em seis ou mais países, queconstam da lista -de Fortunet e os restantes represen-tam grupos menores de capital estrangeiro (54) e con-glomerados financeiros (24).

As empresas de capital estrangeiro (não interna-cional) são em geral de entrada mais recente no país ecorrespondem sobretudo à diversificação das indús-trias metal-mecânicas, química e de instrumentosquímicos e de instrumentos diversos. O desenvolvi-mento acelerado do período recente permitiu brechasde mercado ocupadas por empresas menores de capitaleuropeu e japonês, bem como a expansão igualmenterápida de pequenas e médias empresas nacionais.

A forma predominante e aparentemente aindamais eficaz, para o grande capital internacional, decontrole de mercado, continua através da operação defiliais fechadas que seguem as políticas tecnológica,comercial e financeira de suas respectivas matrizes. Asoperações inter-matriz-filial são as as que parecem res-ponsáveis por fenômenos tão citados na literatura re-cente, como lransferpricing, política atada deimportações-exportações, diversificação excessiva deprodutos, de tecnologia etc, dos quais o aspecto 9~déficit da balança de Contas Correntes que lhe é atri-buível tem sido apenas mais visível e dramatizado.

Durante o período do "milagre" (1968-1973) -fase de grande expansão da economia - houvetambém oportunidade de crescimento para as empre-sas nacionais e, portanto, não ocorreu uma desnacio-nalização acentuada da indústria brasileira.

A partir de 1974, as condições gerais do mercadosofreram mudanças - retração da demanda e dimi-nuição de investimentos governamentais -, o que de-ve ter enfraquecido as pequenas e médias empresas na-.cionais, face ao capiHdestrangeiro cujo ingresso conti-nuou em altos níveis" haja vista os problemas do Ba-lanço de Pagamentos.

Em conseqüência, deve-se esperar uma onda detake-over e de desnacionalização de empresas brasi-leiras de pequenas e médias dimensões, por parte docapital internacional, no período de "desaquecimentoda economia" . .

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5. A ESTRUTURA DA PRODUÇÃO E DOCONSUMO NO RAMO DE ALIMENTOS

A tendência geral à concentração industrial, mediantefusões, absorções e incorporações de empresas meno-res, que confere aos diferentes ramos seu caráter oligo-polista, se manifesta também crescentemente nos di-versos sub-ramos de alimentos. Os principais fatoresdinâmicos deste processo, além da necessidade do ele-vado investimento inicial para ter acesso à tecnologiasofisticada e capital-intensiva, são a perecibilidade dosprodutos matérias-primas, seu alto custo unitário detransporte e, devido à urbanização continua, o distan-ciamento cada vez maior das áreas produtoras em di-reção à fronteira agrícola.

A produção concentrada em estabelecimentos degrande escala, orientada para a exportação, e a políti-ca industrial do governo, facilitando o acesso aos equi-pamentos e processos alienígenos, favorecem a intro-dução de tecnologias, com proporções crescentes demáquinas e equipamentos mecamcos ou semi-automáticos, com uma correspondente diminuição doemprego da mão-de-obra. Por outro lado, dadas asfacilidades de importação (até a instituição do depósi-to compulsório, em fins de 1976)pouco ou nenhum es-forço tem sido realizado no sentido de diminuir a de-pendência tecnológica do País.

As tecnologias alternativas conhecidas para a pro-dução industrial variam com a escala de produção, quedependem da dimensão do mercado consumidor. Nocaso do setor alimentício, a escala é determinada peladisponiblidade e perecibilidade das matérias-primas, oque favorece, teoricamente, a descentralização da pro-dução. Os custos de transporte do produto acabado,todavia, podem contrabalançar as vantagens iniciaisobtidas com a localização das empresas perto de suasfontes de abastecimento em matérias-primas.

A concentração da produção, por tamanho dasempresas, pela própria natureza dos produtos e as pe-culiaridades de seu mercado consumidor, apresentaum perfil diferente quando comparada aos outros ra-mos da indústria de transformação.

Assim, em 1970, as empresas médias, ou seja, asque empregavam entre 50 e 500 pessoas, embora repre-sentassem 6070do número de estabelecimentos, absor-viam 46070dos empregados e geravam 54070do valor datransformação industrial. Trata-se, portanto, do seg-mento mais significativo do ramo alimentar.

27

Sem grande significado econômico, as pequenasempresas do ramo, com até 9 empregados, representa-vam 71070do número de estabelecimentos e participa-vam com apenas 9070do valor da transformação indus-trial.

No outro extremo, empresas com mais de 500 em-pregados - representando 0,31070do número de esta-belecimentos - geravam 12070do valor de transfor-mação industrial, conforme os dados da tabela 7.

Os estabelecimentos de mais de 10 e menos de 50empregados representavam aproximadamente 20070emrelação aos três aspectos comentados.

Indústria de alimentos brasileira

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Tabela 7

Indústria de alimentos. Por tamanho segundo pessoalocupado e V.T. I. 1970.

Grupo de Valor daPessoal Estabele- Pessoal Transfor-.Ocupado cimentos Ocupado mação

070

1a 4 30,71 (x) (x)5a 9 40,21 13,88 8,76

lOa 49 21,30 21,20 18,7450a499 5,89 46,35 53,63

500 a mais 0,31 12,37 11,58Sem declaração 1,58 6,20 7,29

Total 100,00 100,00 100,00

Fonte: IBGE: Censo InduSlrial- 1970.

28

Do ponto de vista da concentração, dentro do ra-mo alimentar, a situação resume-se no seguinte: existegrande número de pequenas empresas sem maior im-portância econômica; há o predomínio econômico esocial das empresas médias e, finalmente, são raras asgrandes empresas, sendo, porém, o seu significado naeconomia não desprezível.

As empresas, face à estrutura oligopolista do mer-cado e para conservarem suas posições, serão estimu-ladas a empregar tecnologias capital-intensivas. Oscustos do investimento inicial no equipamento k-intensivo constituem uma barreira à "entrada", nosub-ramo, de novos competidores. Ao mesmo tempo,as escalas de produção dos novos equipamentos -concebidos para os mercados de consumo nos paísesdesenvolvidos - são grandes demais para a estruturade consumo do País, determinada por uma distri-buição de renda extremamente desigual. Os efeitoscombinados serão altos custos unitários, devido à ca-pacidade ociosa, e o baixo nível de criação de empre-gos, atuando como espécie de "ciclo vicioso", no sen-tido de reprimir a demanda.

Em suma, a estreiteza do mercado interno é resul-tado da estrutura da produção que determina um altograu de concentração de renda,distorce os padrões deconsumo da população e orienta as atividades produti-vas para aqueles bens e serviços que estão ao alcancedos grupos com renda mais alta. .

Face às dificuldades para ampliar a demanda pe-los produtos alimentares "modernos", as empresasdeste ramo recorrem à diferenciação dos produtosexistentes ou à introdução de novos produtos, para in-crementarem suas vendas. Esta estratégica requer ver-bas elevadas para propaganda e promoção dos novosprodutos, dado que seus consumidores potenciais jáalcançaram níveis de satisfação razoáveis de suas ne-cessidades alimentares, tornando necessário estimularos gostos puramente gastronômicos. Os meios de co-municação de massa, todavia, atingem igualmente ascamadas de baixa renda, provocando nelas uma dis-torção dos padrões de consumo de alimentos nutriti-vos para outros de valor nutricional inferior, emborade custo mais elevado.

A distorção dos padrões de consumo sofre acele-ração constante pelo processo de urbanizaçãor. as

Revista de Administrarlo de Empruas

massas migrantes que abandonam a área rural tambémdeixam de produzir seus próprios alimentos. Essa ten-dência é agravada pela integração crescente da mulherao mercado de trabalho urbano que leva a populaçãourbana a consumir em grau crescente alimentos indus-trializados, cujo custo mais elevado se reflete desfavo-ravelmente no custo de vida.

A indústria de alimentos tem sido classificada ge-ralmente entre os ramos "tradicionais", significandouma relação de e/v (capital constante sobre o va-riável), com um baixo nível correspondente de produ-tividade. A produção se realiza predominantementeem estabelecimentos de pequena e média dimensão.Tecnicamente, o ramo caracterizar-se-ia por fortes li-gações "para frente - para trás" (forward e back-ward linkdgesi, porém de baixo efeito "multiplica-dor" dos investimentos, no sentido de relações inter-industriais.

Essas características do ramo alimentício estãosendo superadas pela evolução dinâmica da economia,pelo menos em alguns de seus sub-ramos que recebe-ram investimentos maciços de capital estrangeiro, nes-ses últimos dez anos.

Num estudo, com base em pesquisas sobre orça-mentos familiares," verifica-se que os produtos ali-mentícios industrializados constituem uma parcelaponderável do dispêndio familiar com alimentação.Esta parcela dos gastos com alimentação não varia sig-nificativamente com a variação do nível de renda, nementre as principais cidades do país. Contudo, algunsprodutos alimentícios têm consumo mais difundido,relativamente inelástico em relação á renda, enquantooutros são consumidos pelas famílias de maior nível derenda, aumentando seu consumo com o crescimentoda renda. Entre as da primeira categoria incluem-se:produtos beneficiados, pães, massas e biscoitos, óleose gorduras e, secundariamente, carnes preparadas. Nasegunda constam: produtos conservados, doces,geléias e produtos derivados de cacau, legumes emconserva, pescado industrializado e laticínios.

O mercado dos produtos da primeira categoriadepende basicamente do crescimento do nível de em-prego, enquanto o mercado dos produtos da segundacategoria depende do crescimento do emprego e darenda, bem como da distribuição desta.

Os dados estatísticos disponíveis levam à inferên-cia que esta segunda categoria teve um crescimentomaior e constitui, portanto, o segmento mais dinâmicodo setor alimentício. Convém ressaltar, todavia, as di-mensões de ambos os mercados consumidores: combase na distribuição da renda da população ativa,verifica-se que o primeiro segmento é bastante amplo,e tende a crescer à medida da elevação do nível de em-prego.

Na tabela 8 são apresentados alguns indicadoressobre o crescimento do produto interno bruto per capi-ta, do emprego e do consumo pessoal, no período}950-1970. Verifica-se, além de crescimento a taxasquase idênticas do emprego eda população, nas duasdécadas, o aumento mais rápido da população urbanae de empregos mais qualificados. Ademais, aparece

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claramente o deslocamento da renda para as camadasmais "ricas", caindo a participação dos 80070 mais"pobres" de 45,65070 para 37,76070 entre 1960 e 1970.Estes dados nos levam a uma divisão do mercado emdois segmentos, em função de seu dinamismo e de seuvolume de renda: o primeiro constituído por uma mas-sa de poder aquisitivo relativamente grande em termosagregados, mas baixo em termos unitários por pessoaocupado, com o dinamismo de crescimento sujeito ba-sicamente ao crescimento do nível de emprego. Trata-se do mercado de bens essenciais, de baixaelasticidade-renda. O segundo segmento é representa-do por um mercado constituído por uma massa de po-der aquisitivo grande em termos agregados e unitários,cujo crescimento depende fortemente do crescimentodo nível de emprego e da renda. Seus bens são de me-nor grau de essencialidade, elásticos à renda e consti-tuem a cesta de bens consumidos pelas famílias denível de renda mais elevado. Em termos de consumo,de produtos alimentícios e, particularmente, dos sub-ramos - objeto desta pesquisa -, consideramos osprodutos beneficiados em geral, as massas, os óleos eas gorduras vegetais como bens de consumo popular,com as características do primeiro segmento assinala-das acima. O segundo grupo de produtos alimentícios_ conservas de frutas e legumes, doces e geléias, bis-coitos e laticínios - se enquadram claramente no se-gundo segmento do mercado, de alta elasticidade-renda e, portanto, de difícil acesso às camadas menosafortunadas.

Tabela 8

6. ALGUMAS CARACTERÍSTICASTECNOLÓGICAS DA INDÚSTRIA DEALlMENTOS8

É difícil definir o conceito de "nível tecnológico" deuma indústria e, ainda mais, medi-lo adequadamente,tendo em vista a escassez e precariedade de dados dis-poníveis.

Admitindo as características seguintes como indi-cadores para avaliar Q nível tecnológico, tentaremosestabelecer algumas comparações interindustriais, re-ferentes ao setor de Indústria de Transformação Brasi-leira.

a) Intensidade "mecânica" dos investimentos. Dadoselaborados a partir do Censo Industrial de 1970 evi-denciam o mais baixo índice tecnológico da indústriade alimentos comparado com os de outros ramos, eaferido pela proporção do investimento em equipa-mento mecânico em relação ao investimento total doramo. Os respectivos índices são 0,551 (alimentos),0,772 (têxtil), 0,725 (produtos químicos), 0,713 (pro-dutos metálicos).

b) Tecnologia mecânica importada. Novamente, osdados disponíveis mostram que o ramo de alimentosapresenta os índices mais baixos entre os outros daIndústria de Transformação, quanto à importação demáquinas. De toda a maquinaria comprada pelo ra-mo em 1970, somente 16,3070 foi importada, enquan-

29

Brasil: Emprego, renda per capita, consumo pessoal per capita e consumo aparente de produtos alimentícios in-dustrializados

Discriminação 1950 1960

I. Emprego(a) Urbano 6.683 10.488

(b) Rural (I ()()()pessoas) 10.254 12.163

(c) Total 17.117 22.651

!tJo (a)/(c) 40,1 46,3

!tJo (b)/(c) 59,9 53,7

Taxa de Participação (!tJo)(Emprego/Força de Trabalho) 48,0 47,7

Emprego/População (!tJo) 32,9 31,9

Taxas anuais médias decrescimento do empregoUrbano 4,3 4,6

Rural 1,7 0,7

Total 2,8 2,7

n. PIS Real "Per Capita"*Crescimento médio anual (!tJo) 3,7 3,1

IlI. Consumo Pessoal!tJosobre o PIB*** 74,7 70,1

Consumo pessoal real "per capita" 3,2 3,1

Crescimento médio anual"

Fonte dos dados brutos:

1970

16.46713.09029.557

55,744,3

45,831,1

69,4

I. Almeida. José./nduslrializaçdo e emprego no Brasil. Rio de Janeiro,lPEA/lNPES, 1974; 11.Contas Nacionais -IBRE. FGV; 111.Contas Nacionais -IBRE, FGV .• Série publicada em Conjuntura Econômi('o .

•• Refere-se somente à população efeuvarnente trabalhando. isto é. excluindo os desempregados declarados e os que buscavam trabalho pela 1~ vez (28.962.390 pessoas) .••• Novas Contas Nacionais. FGV, Rio,1974 .•••• Entre 1960 e 1969.

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to o índice médio de toda a Indústria foi de 33,3%, eno ramo de têxteis, de quase 5011,10.

c) Tecnologia incorporada à mão-de-obra qualificada.Embora o ramo ocupe 13,8% do total da mão-de-obraempregada na Indústria de Transformação, somente6,311,10de todos os técnicos industriais nele estão lota-dos, o que compara desfavoravelmente com o ramo deprodutos químicos, por exemplo, que ocupa 9,8% detodos os técnicos, para uma parcela de 3,9% do totalda mão-de-obra industrial.

Os respectivos índices para ramos mais dinâmicos, taiscomo Mecânica e Eletro-Eletrônica, são de 16,0% e10,7% de técnicos para um contigente de 6,7% e 4,3%do total de mão-de-obra industrial, respectivamente.

30

d) Tecnologia importada, segundo royalties pagos. Es-ses pagamentos podem servir de indicador de nível téc-nológico do ramo, sendo que os dados novamente pa-recem confirmar as inferências feitas acima. Somente0,5% de todas as empresas do ramo pagaram royattiese estes representaram 1,2% do total pago a este título,pela Indústria de Transformação. Comparando essesíndices com aqueles da indústria química - 13% dototal dos royalties pagos por 30% das empresas do ra-mo -, confirma-se a baixa densidade tecnológica doramo, bem como sua menor dependência de fontes ex-ternas.

De todos os índices precedentes infere-se que o ra-mo de alimentos encontra seus insumos principais -máquinas e mão-de-obra qualificada - no mercadonacional e, portanto, não alcança níveis de sofisti-cação tecnológica comparáveis aos dos outros ramos.Por outro lado, essas mesmas características do ramoo destacam como exportador em potencial (vantagenscomparativas), gerador de empregos e, assim, fonte deredistribuição de renda.

Tabela 9

7. ANÁLISE CONJUNTURAL DO RAMO DEPRODUTOS ALIMENTÍCIOS9

O ramo de alimentos, de importância capital para opaís, por seus aspectos político-sociais, conseguiumodernizar-se e ampliar sua capacidade na últimadécada, apesar das habituais barreiras encontradas,como as oscilações dos preços das matérias-primas, re-sultado das quebras de safra, a deficiência na infra-estrutura de transporte e armazenagem e a estreitezado mercado interno. Os maciços investimentos dasempresas nos últimos anos podem ser atribuídos a trêsfatores principais. Primeiro, a expansão de algumasfaixas de mercado, com o aumento de seu poder aqui-sitivo. Em segundo lugar, a inovação das técnicas decomercialização (auto-serviço, novas embalagens etc.)e a ampliação das redes de distribuição. E, por últi-mo, a crescente importância das exportações naobtenção de divisas para o país.

Em 1973, o setor ganhou novo impulso com acriação de bases para a implantação de uma políticanacional de alimentação, cujo objetivo consistiu emcorrigir o estado de subnutrição de uma grande parcelada população, o que significa uma eventual ampliaçãodo mercado.

1. De fato, o ramo de produtos alimentícios, junta-mente com o de bebidas e fumo, teve um crescimentode 12% em 1976, uma das taxas mais altas registradasno período dentro da indústria de transformação. Odesempenho do ramo é fortemente influenciado pelasflutuações de volume e preço da produção agrope-cuária. Ao mesmo tempo, distinguem-se em seu inte-rior dezenas de atividades caracterizadas pelo tipo dematéria-prima empregada e técnicas específicas detransformação.

A tabela 9 fornece dados sobre o desempenho dosprincipais sub-ramos alimentícios, alguns dos quaissão destacados por fazerem parte de amostra pesquisa-da.

Indicadores econômico-financeiros de alguns sub-ramos alimentícios, em 1976

Patrimônio Faturamento LucroEmpregadosSub-setor líquido líquido

(CrS 106) (CrS 106)(CrS 106) (N? )

MOIFRIPESLATAÇUCAFOLVALM

3.344,73.751,71.575,41.031,7

12.876,51.377,73.083,18.677,4

6.326,720.274,01.692,94.937,3

26.049,94.649,9

12.727,534.182,6

865,2520,352,5

187,61.315,2

507,4763,0

2.268,5

9.45252.9209.954

14.66993.7426.123

15.35579.786

Fonte: Visdo,22deaaostode 1977.

Revista de Administraçêo de Empresas

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Em 1977, as pequenas e médias empresas conti-nuaram a enfrentar grandes dificuldades no que dizrespeito à obtenção de crédito, o que eventualmentecontribuiu para deprimir a produção. Para as grandesempresas, no entanto, as perspectivas são boas. Embo-ra não pareçam interessadas em proceder ao lançamen-to de novos produtos, muitas planejam ampliar sua ca-pacidade de produção, contando com as possibilidadesdo mercado externo.

Na realidade, a indústria alimentícia em geral,apesar de sua amplitude, apresenta uma expansão mo-derada mas segura, pois a demanda é crescente, emfunção do aumento vegetativo da população. Mas oramo enfrenta constantemente sérios riscos quanto aofornecimento de suas matérias-primas, e devido àpolítica de distribuição da renda regressiva.

Mesmo assim, empresas de grande porte, como aCICA, não conseguiram atender plenamente à deman-da.

A política da empresa foi explicitada nos seguin-tes pontos que parecem ser representativos para o ra-mo em geral: reavaliar e selecionar os investimentos;intensificar a análise das projeções; maximizar o girodo capital; aperfeiçoar a promoção comercial.

Por outro lado, alguns aspectos inovadores quepareciam ser promissores não tiveram confirmadas asexpectativas empresariais. É o caso de produtos gela-dos que pareciam oferecer boas perspectivas, princi-palmente nas grandes concentrações metropolitanasdo Rio e São Paulo.

Contudo, os resultados projetados se mostrarampouco promissores.

O ramo alimentício engloba só indústrias de bensde consumo, compreendendo oito sub-ramos que apa-recem na amostra de "Quem é Quem - 1977", com532 empresas e 282.201 empregados, e em 1976 soma-ram 35,7 milhões de cruzeiros de patrimônio líquido,110,I bilhões de faturamento e 6,6 bilhões de lucrolíquido.

Conforme a tabela 9 acima, o sub-ramo mais im-portante pelo critério de patrimônio líquido é o deaçúcar e álcool (AÇU), com 12,9 bilhões de cruzeiros,ou 34,30/0do total dessa conta, seguindo-se em ordemdecrescente de importância: produtos alimentares di-versos (ALM), com 8,7 bilhões, ou 24,3%; carnes fri-gorificadas e industrializadas (FRI), com 3,8 bilhões,ou 10,50/0-;moinhos (MOI), com 3,3 bilhões, ou 9,4%;óleos vegetais (OLV), com 3, I bilhões, ou 8,6%; pes-cado (PES), com 1,6 bilhões, ou 4,4%; café solúvel(CAF), com 1,4 bilhões, ou 3,9%; e laticínios (LAT),com I bilhão, ou 2,9%.

Os oito sub-setores têm estruturas mais ou menosparecidas no que se refere ao controle acionário e àconcentração do patrimônio líquido. Em todos eles aempresa nacional privada é predominante e a partici-pação direta do Estado é nula ou muito pequena, che-gando a um máximo de 6,4% do patrimônio líquidototal no sub-setor FRI; a empresa estrangeira, por suavez, está presente em todos os sub-setores, com ex-ceção do AÇU, numa proporção variável de 7,8% des-sa conta no sub-setor PES e 33,2% no sub-setor ALM.

Quanto à concentração, predomina em todos ossub-setores a média empresa, que detém um mínimode 50% do patrimônio líquido no sub-setor FRI e ummáximo de 85% no sub-setor PESo

No sub-ramo AÇU o desvio-padrão é igual a 3 ve-zes a média do patrimônio líquido, e a 3,3 vezes nosub-ramo ALM, o que reflete a presença de algumasempresas gigantes ao lado das de pequeno e médioporte: a Copersucar, 31~na ordem geral do "Quem éQuem" e primeira do sub-setor AÇU, com 23,5% dopatrimônio líquido do sub-setor; a Nestlé e 'a Sanbra,que juntas englobam 38,5% do patrimônio líquido dosub-setor ALM e se colocam em 78~e 95~posição, res-pectivamente, na ordem geral.

7.1 Carnes industrializadas f!frigorificadas:,(FRI)

O sub-ramo de carnes frigorificadas e industrializadas(FRI) atinge um grau de concentração superior ao damédia, porque as quinze maiores empresas das 72 noconjunto aparecem com patrimônio líquido médio emtorno de 38 milhões de cruzeiros e respondem por 67%do total de patrimônio líquido. Neste sub-ramo, ondetrabalham 52.920 pessoas, as quatro maiores empresas(Sadia, Anglo, Swift Armour e Bordon) representamcerca de 500)'0do PL (patrimônio líquido).

Depois de haverem realizado, em passado recente,importantes investimentos na ampliação e moderni-zação de suas instalações, os frigoríficos vêm enfren-tando atualmente dificuldades financeiras decorrentesda existência de capacidade ociosa nos períodos de en-tressafra, quando a venda de carne congelada é obri-gatória. Outro problema sério tem sido a dificuldadede colocação de produto brasileiro no mercado inter-nacional, devido ao seu preço demasiadamente eleva-do. Em dezembro de 1976 a carne estava cotada entre810 e 830 dólares a tonelada no Mercado Comum Eu-ropeu, enquanto o preço da carne brasileira chegava a1.300 dólares e o da carne argentina e uruguaia era de700 dólares. Ainda assim houve recuperação do volu-me das exportações no ano passado, embora sem atin-gir o nível de 1973. Com uma receita de 114milhões dedólares, as carnes industrializadas representaram 88%do total das exportações de carne, registrando-se umaumento em valor de 61% em relação a 1975.

Neste sub-ramo a tendência foi de retomada docrescimento depois de dois anos de estagnação e difi-culdades financeiras: o patrimônio líquido aumentou14,5%, contra um declínio médio de 5% ao ano em1974-1975; o faturamento aumentou 25,8%; o lucrolíquido, 30,2%; e o número de empregados, 35,7%,para taxas médias de 3,3%, 27,2% e 7,1% ao ano, res-'pectivamente, no biênio anterior. O faturamento porempregado caiu 7,2%. E os principais índices registra-ram os seguintes valores: liquidez igual a 1,2, endivida-mento de 63%, rentabilidade de 11,8%.

31

7.2 Óleos e gorduras vegetais

Neste sub-ramo houve equilíbrio entre a oferta e a de-manda internas durante o ano de 1976, apesar de os

Indústria de alimentos brasileira

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preços do óleo, de soja e de amendoim 'haverem al-cançado níveis mais compensadores no mercado exter-no do que no interno. Os preços internos dos óleos re-finados enlatados puderam, ainda que apenas parcial-mente, acompanhar o aumento dos custos da matéria-prima. Para as margarinas e gorduras hidrogenadas,no entanto, houve defasagem nos reajustes, o que po-derá criar dificuldades para os fabricantes num futuropróximo se essa situação persistir.

Dentro do índice do custo de vida no Rio de Ja-neiro, o óleo de algodão aumentou 330/0, o óleo de so-ja 59%, o óleo de milho 66% e a margarina 46%.

As exportações de óleo de soja chegaram a 175milhões de dólares, num crescimento em valor de 32%sobre 1975: as de óleo de amendoim montaram a 88milhões de dólares, com 88% de crescimento.

O sub-ramo de óleos vegetais (OLV) engloba qua-renta e nove empresas, empregando 15.355 pessoas. Onível de concentração é expressivo, pois apenas quatroempresas (Samrig, Olvebra, Alimonda e IndústriasCoelho) detêm 40% do total do patrimônio líquido dosub-ramo, representando as dez maiores cerca de 60%.

Em 1975os índices econômico-financeiros revela-ram ligeira queda. O ILG caiu de 1,13 para 1,06, aopasso que a rentabilidade sofreu maior decréscimo, co-mo se observa na evolução dos índices abaixo relacio-nados:

1974 1975

32 LLlPLLLlFat.

0,160,04

0,240,05

Quanto ao nível de produtividade expresso peloíndice faturamento/empregado, registrou-se o valorde 543.850 cruzeiros, em 1975, e de 828.000 cruzeiros,em 1976.

Em 1976, o sub-ramo ALM registrou um cresci-mento de 6,3% do patrimônio líquido, 22,4% do fatu-ramento, 33,2% do lucro líquido e 21,4% do númerode empregados, contra taxas de 11,8%,2,4%,0,2% e-0,8%, respectivamente, em 1975.

O faturamento por empregado permaneceu prati-camente estacionário, em termos reais, na faixa dos428.400 cruzeiros. A rentabilidade, calculada atravésdo lucro disponível pelo patrimônio, teve um aumentode 11,9% em relação a 1975, chegando a 21,7%. A li-quidez média foi igual a 1,5% e o endividamento, de56,8%.

O sub-ramo de produtos alimentares diversos éque apresenta maior nível de concentração, pois as 27empresas de maior porte (entre as 134, no conjunto,em 1975) representaram cerca de 75% do total do pa-trimônio líquido e as quatro maiores (Nestlé, Sanbra,União dos Refinadores e CICA), mais de 40%.

7.3 A evolução das contas

Este ramo apresentou um crescimento constante noperíodo de 1966a 1975em todas as suas contas, tendoo número de empresas aumentado de 453, em 1973,para 472, em 1974, e 532, em 1976.

Revista de Administração de Empresas

Os maiores acréscimos na conta do patrimôniolíquido foram verificados nos anos de 1967 e 1968,com um crescimento real de 40% em cada um destesanos.

O faturamento mostrou uma taxa de crescimentomédio, durante os últimos dez anos, de 26%. Nos anosde 1969, 1973 e 1974 as taxas de crescimento foram de7%, 11% e 15%, respectivamente. Estes índices fo-ram, porém, compensados pela grande expansão ob-servada nesta conta nos anos de 1967 e 1968, quandoocorreram aumentos de 33% e 56%, respectivamente.No ano em que houve o crescimento de 56% (1968) ofaturamento foi de 22 bilhões de cruzeiros, contra 14,1bilhões de cruzeiros em 1967, em termos reais.

A conta do lucro líquido tem acompanhado a ten-dência de expansão do faturamento, apresentando ta-xas excepcionais nos anos de 1967(89%),1971 (52%) e1973 (56%) em relação a cada um dos anos anteriores,resultando numa taxa de crescimento médio anual de39%. A julgar pela evolução desta conta, pode-se dizerque as empresas do ramo, em geral, tiveram bom de-sempenho ao longo dos últimos dez anos.

O disponível + realizável do setor também temcrescido regularmente, passando de 5,9 bilhões de cru-zeiros em 1966para 32 bilhões de cruzeiros em 1975. Aaplicação de capital de terceiros vem aumentando deano para ano, mostrando a necessidade de maior nu-merário para capital de giro ou, pelo menos, que aconta realizável do setor está aumentando à custa dadiminuição do capital de giro.

7.4 Análise econômico-financeira

A análise dos dados mostra uma diminuição do valordos índices patrimônio líquido/exigível a partir de1971, significando uma maior utilização do capital deterceiros. Nos anos de 1973 e 1974 estes índices apre-sentavam valores menores do que 1, ou seja, nessesanos havia, no setor, volume de capital de terceirosmaior do que o capital próprio.

O índice de liquidez geral oscilou muito neste de-cênio. Em alguns anos esse índice traduzia estar o setorem condições razoáveis de liquidar suas dívidas. Entre-tanto, a partir de 1971 o ILG vem decrescendo, o quedemonstra que a situação do setor está piorando. Em1974, por exemplo, o índice foi de 0,96, indicando queo setor dispunha de 0,96 cruzeiros para cada 1 cruzeirode dívida.

A lucratividade é igualmente baixa, como ressaltao índice lucro líquido/faturamento: menor que 0,5%no ano de 1966, ele melhorou um pouco nos seguintesanos, oscilando entre 3% e 6% (este último índice foiobtido nos anos de 1973e 1974).

Por outro lado, a rentabilidade tem-se caracteri-zado por índices mais elevados, demonstrando que,apesar de o lucro do setor ser pequeno, o retorno sobreo capital investido é bom.

Com efeito, a rentabilidade (lucro líquido/pa-trimônio) oscilou entre 6% e 17% no período analisa-do, tendo atingido o índice de 15%, em 1975.

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7.5 Con ••role acionário

A participação do capital estatal neste ramo é relativa-mente pequena e o número de empresas também. De1966 a 1969 houve apenas uma empresa estatal, comuma participação entre 0,5070e 1,0% sobre o total docapital. No ano de 1970a participação estatal foi nula,passando, contudo, para três empresas no ano seguin-te, com uma participação de 0,8% no total de capital.

O ano de 1974 registrou a entrada de mais. umaempresa estatal. E, com isso, a participação do Estadono total do patrimônio líquido subiu de 0,5%, em1973, para 1,0%, em 1974.

Em 1975o número de empresas estatais subiu pa-ra sete, com uma participação de 2% no patrimônio.

Neste ramo alimentício há um predomínio de ca-pital privado nacional sobre o estrangeiro, o mesmoocorrendo com o número de empresas. No ano de1966, o capital estrangeiro participava com 42,8% docapital total do ramo, através de doze empresas. En-quanto isso, 81 empresas nacionais privadas se respon-sabilizaram por 56,2% do capital. Nos últimos dezanos a participação do número de empresas estrangei-ras oscilou muito, não chegando a representar umatendência. Notou-se o inverso quanto às nacionais pri-vadas, que marcaram sua presença de forma semprecrescente, passando de 81, em 1966, para 444, em1975.

Em 1972, as empresas nacionais privadas respon-deram por 81,7% do total de capital, em termos reais.No-ano de 1975, a participação do setor privado nacio-nal no total do capital foi de 83%. Contudo, conformeassinalado acima, a presença do capital estrangeiro édestacada, mediante algumas empresas gigantes nossub-ramos mais "dinâmicos", como os de carnes fri-gorificadas e industrializadas, doces e conservas defrutas, e biscoitos.

Em resumo, os resultados econômico-financeiroscomparativos do ramo alimentício com o conjunto daeconomia, com base em "Quem é Quem - 1977", pa-recem indicar o caráter crescentemente dinâmico e mo-derno do mesmo.

A taxa de crescimento do sub-ramo, em 1976, foide 12% contra 4% apenas da indústria em geral.

Na amostra de "Quem é Quem - 1977", cons-tam 5.887 empresas, de 20 ramos divididos em 77 sub-ramos, representando um patrimônio líquido de 810,7bilhões de cruzeiros, um faturamento de 1.260 bilhõesde cruzeiros, um lucro líquido de 123,7 bilhões de cru-zeiros e 4.356.615 empregados.

O sub-ramo de alimentos figura na amostra com532 empresas, representando um patrimônio líquidode 35,7 bilhões de cruzeiros, um faturamento de 110,1bilhões de cruzeiros, um lucro líquido de 6,6 bilhões decruzeiros e 282.201 empregados.

Calculando o índice

L.L

P.L (Lucro líquido )

Patrimônio líquido '

obtemos 15,2% para toda a amostra e 18,5% para as532 empresas do ramo alimentício. .

Contudo, o índice

L.LF (

Lucro líquido )

Faturamento

é de 9,8% para a amostra, e 6,0% para o ramo ali-mentício. Finalmente, o lucro líquido por empregado,em 1976, alcançou Cr$ 186.085,00 para toda a amos-tra, enquanto o ramo de -alimentos apresentou umíndice de Cr$ 234.042,00 o que pode ser considerado,junto com os índices acima, uma indicação de umcampo promissor para os investimentos.

8. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A pesquisa de campo procurou abranger empresas dequatro sub-ramos, sendo dois considerados "moder-nos" (carne industrializada e conservas de frutas e le-gumes), e dois "tradicionais" (óleos e massas). A fa-bricação de biscoitos, embora orientada para consumi-dores de renda mais elevada, está incluída, junto comas massas, no mesmo sub-ramo.

No processo de amostragem tentou-se obter umacerta representatividade de pequenas e médias empre-sas, em cada um dos sub-ramos, bem como sua distri-buição regional, por três áreas.geoeconômicas impor-tantes no Brasil. O fato de a maior parte das empresasentrevistadas terem seus estabelecimentos fabris no Es-tado de São Paulo, reflete apenas a tendência geral àconcentração industrial nesta unidade da Federação,que responde por mais de 60% da produção industrialdo país.

Mesmo assim, foram realizadas 18 entrevistas noNordeste (Bahia, Pernambuco e Ceará), em empresasprodutoras de conservas de frutas, doces e óleos; e 12entrevistas no Sul (8 no Rio Grande do Sul, 2 no Pa-raná e 2 em Santa Catarina), e os restantes 28, em SãoPaulo.

Na classificação das empresas por tamanho, foiadotado, como critério de aferição, o número de em-pregados, informado pelas empresas, sendo até 100empregados .considerado estabelecimento pequeno,mais de 100 e até 500 como médio e acima de 500 em-pregados, estabelecimento grande.

A distribuição das empresas da amostra, por ta-manho segundo as classes acima e por sub-ramo, éapresentada na tabela 10.

Observa-se que as grandes empresas se encontramem proporção mais elevada nos sub-ramos "moder-nos", de carne e frutas e legumes industrializados, en-quanto as de dimensões médias predominam nos sub-ramos de massas e óleos.

Admitindo-se que o número de empregados sejainsuficiente como critério de avaliação de tamanho dasempresas, tendo em vista as diferenças em equipamen-tos e, portanto, a densidade de capital utilizado, tenta-mos aplicar um critério combinado para a classifi-cação segundo o tamanho qual seja capital: n? de em-

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Indústria de alimentos brasileira

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Tabela 10

Distribuição das empresas segundo tamanho e sub-ramo

sÓleosCarnes Massas Frutas Total

eeg~

I 3 7 6 17Menos 5,9 17,6 41,2 35,3 29,3de 10,0 17,6 46,7 37,5100 1,7 5,2 12,1 10,3

4 11 5 6 26De 101 15,4 42,3 19,2 23,1 44,8até 500 40,0 64,7 33,3 37,5

6,9 19,0 8,6 10,3Mais 5 3 3 4 15de 33,3 20,0 20,0 26,7 25,9501 50,0 17,6 20,0 25,0

8,6 5,2 5,2 6,910 17 15 16 58

Total 17,2 29,3 25,9 27,6 100,0

Tabela 11

Classificação das empresas por sub-ramos e índice c/e (em Cr$ 1.(00)

34 51 101 251 501 Dados Totale 75150 a a a a incompletoss 100 250 500 750~

Catne 2 4 2 1 10Massas-biscoitos 10 O 4 1 1 17Frutas-legumes 5 4 2 1 3 15Óleos I 3 8 2 2 16

Total 18 11 16 3 4 5 58

Tabela 12

Distribuição das empresas segundo sub-ramo e origem do capital

Sub-Ori- Ramos

gemdo Carnes Massas Frutas Óleos Totalcapital

9 15 15 14 53Nacional 17,0 28,3 28,3 26,4 91,4

90,0 88,2 100,0 87,515,5 25,9 25,9 24,1I 2 O 2 5

Estrangeiro 20,0 40,0 0,0 40,0 8,610,0 11,8 0,0 12,51,7 3,4 0,0 3,4

10 1,7 15 16 58Total 17,2 29,~ 25,9 27,6 100,0

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pregados, o que indicaria também níveis e graus dife-rentes de tecnificação da produção em cada sub-ramo.

A classificação obtida pela aplicação do indicadorc/e (capital: n?de empregados) é apresentada na tabela11.

Hipotetizando o índice de capital até Cr$50.000,00 por empregado como provável de estabeleci-mentos de pequena escala; de Cr$ 50.000,00 até Cr$250.000,00 por empregado como correspondente à di-mensão média e mais de Cr$ 250.000,00 por emprega-do - apesar dos 3 sub-ramos contidos na classe - co-mo grande unidade, teríamos 18 pequenos, 27 médiose 8 grandes estabelecimentos, sendo que 5 empresasforneceram dados incompletos, não permitindo suaclassificação.

8.1 Distribuição das empresas da amostra segundosua propriedade

o capital estrangeiro está presente em todos ossub-ramos da indústria alimentícia, numa proporçãovariável de 7,8070 do Patrimônio Líquido no sub-ramopesca até 33,2% no grupo de alimentos diversos (mas-sas e biscoitos, chocolates, doces e geléias, conservasde frutas e legumes). Na amostra, todavia, aparecemsomente cinco empresas estrangeiras, sendo uma doramo de carne; duas do de massas e biscoitos e duas dode óleos.

Essa proporção inferior à participação real nasatividades produtoras do ramo é devido a maior resis-tência da direção das empresas estrangeiras em divul-gar informações sobre problemas e práticas atinentes àtecnologia, chegando inclusive a recusar a concessãode entrevistas aos pesquisadores.

O cruzamento das variáveis origem de capital e ta-manho mostra que as empresas de capital estrangeiro

Tabela 13

se situam predominantemente no extrato médio (101- 500 empregados), devendo-se, todavia, consideraras recusas mencionadas acima, bem corno o fato co-nhecido de as duas maiores empresas do ramo ali-mentício, em termos de faturamento e patrimôniolíquido, serem de propriedade estrangeira.

Outra informação importante refere-se ao ano defundação da empresa, que pode ser significativa quan-to à idade do equipamento em uso, por um lado, e àmedida que revele o início mais recente das atividades(após 1970), indicaria algo sobre as escalas dos estabe-lecimentos e seu potencial produtivo, por outro. A ta-bela 14 mostra que apenas 7 estabelecimentos ou 12%da amostra representam empresas fundadas após1970, das quais 5 (71%) são pequenas, e 2 (29%)médias. 60% das empresas com mais de 500 emprega-dos foram fundadas antes de 1950, 26% entre 1950 e1960, e 14% entre 1960 e 1970.

Quanto à origem do capital, 6 das 7 empresas fun-dadas após 1970 são nacionais e apenas uma de capitalestrangeiro .

Outro aspecto indagado refere-se à ordenaçãojurídica das empresas do ramo alimentício. Dada apredominância de empresas pequenas e médias, encon-tramos um número significativo de "sociedades limita-das" - 24% -, nenhuma das quais no sub-ramo dacarne, porém 35% das empresas entrevistadas no sub-ramo de massas, 33,3% no de frutas e legumes e 19%no de óleos vegetais, são-sociedades limitadas.

Como seria de se esperar, a maior proporção deSociedades Limitadas encontramos entre as pequenasempresas, 9 ou 64% do total dessa categoria.

Finalmente, 13 empresas ou 93% das SociedadesLímitadas são de propriedade nacional, com apenasuma empresa estrangeira nessa categoria.

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Distribuição das empresas segundo o nf'de empregados e origem do capital

Indústria de alimentos brasileira

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Tabela 14

Distribuição das empresas segundo período da fundação e n?de empregados

N?deempregados Menos 101 Mais

de a de TotalPer. 100 500 501

de fundação

3 8 9 20Antes 15,0 40,0 45,0 34,5de 17,6 30,8 60,01950 5,2 13,8 15,5

3 8 4 15De 1951 20,0 53,3 26,7 25,9a 1960 17,6 30,8 26,7

5,2 13,8 6,96 8 2 16

De 1961 37,5 50,0 12,5 27,6a 1970 35,3 30,8 13,3

10,3 13,8 3,45 2 O 7

Depois 71,4 28,6 0,0 12,1de 1970 29,4 7,7 0,0

8,6 3,4 0,017 26 15 58

Total 29,3 44,8 25,9 100,0

Tabela 15

36 Distribuição das empresas segundo sua ordenação jurídica e sub-ramos

Sub-ramo

Orde- Carnes Massas Frutas Óleos Totànaçãojurídica

o 6 5 3 14Sociedade 0,0 42,9 35,7 21,4 24,1Limitada 0,0 35,3 33,3 18,8

0,0 10,3 8,6 5,210 11 10 13 44

Sociedade 22,7 25,0 22,7 29,5 75,9Anônima 100,0 64,7 66,7 81,3

17,2 19,0 17,2 22,410 17 15 16 58

Total 17,2 29;3 25,9 27,6 100,0

1 A estreita relação entre o "dinamismo" de certos ramos e a pro-priedade de capital estrangeira fica mais claramente evidenciada aoreduzir-se o número da amostra, trabalhando apenas com as 300-400 maiores empresas do país, como o fazem Doellinger e Cavalcan-ti (1975) ou a Revista Exame (1977).

6 Conceição Tavares, Maria da e Façanha, Luiz O. A Presença dasGrandes Empresas na Estrutura Industrial Brasileira. Comunicaçãoao V Encontro Nacional de Economistas, 1977.

2 Contador, C. R. Pleno emprego, inflação e política econômica noBrasil. IPEA/INPES, 1976,mimeo.

7 Pomeranz, L. A demanda de produtos alimentícios industrializa-dos no Brasil, EAESP IFGV, 1976, mimeo.

3 Vide Rattner, H. Industrialização e concentração econômica emSão Paulo. Fundação Getulio Vargas, R. Janeiro, 1972.

4 Revista Exame. "Melhores e Maiores - 1977".

8 Vide R. Daines, Samuel. Analysis oi industrial structure, technolo-gy and productivity in the food processing sector oi Brasil. V.l,M.l.T., 1975.

S Incluindo as estatais, estrangeiras e privadas nacionais.9 Baseado em "Quem é Quem na Economia Brasileira". Visão,31.08.76e 22.08.77.

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