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HUBERTO ROHDEN EDUCAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL UNIVERSALISMO

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Page 1: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

HUBERTO ROHDEN

EDUCAÇÃO DO HOMEM

INTEGRAL

UNIVERSALISMO

Page 2: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

ADVERTÊNCIA

A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar

é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e

dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior,

porque deturpa o pensamento.

Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a

transição de uma existência para outra existência.

O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado.

Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.

A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se

aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa

mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.

Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer

convenções acadêmicas.

Page 3: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

INTRODUÇÃO

Os leitores antigos deste livro, no Brasil e em Portugal, estranharão talvez a

modificação total do seu conteúdo, embora o assunto continue a ser o mesmo.

Visamos, de preferência, a tarefa do educador, e não tanto a do educando.

Nos últimos decênios, a elite mais avançada do mundo ocidental está

focalizando intensamente o problema central de autoconhecimento e auto-

realização – e esta mentalidade não pode deixar de ter o seu reflexo sobre o

problema da educação.

Devido a estas modificações, o livro se tornou quase um manual de auto-

realização para o educador. O leitor não encontrará, nas seguintes páginas,

esquemas cristalizados nem métodos fixos para serem usados em classe.

Tanto mais encontrará orientação para uma compreensão profunda da arte de

educar.

Os tempos modernos exigem cada vez mais uma nítida auto-determinação,

porque o ambiente social está avassalando tudo com o seu escravizante alo-

determinismo.

A fim de salvaguardar a dignidade e o destino humano, é necessário que o

homem tenha consciência nítida do seu verdadeiro ser, que deverá orientar

todo o seu dizer e fazer.

De propósito, repetimos em diversos capítulos esta idéia fundamental da auto-

educação e da auto-realização, para que a verticalidade da razão-de-ser da

existência prevaleça cada vez mais sobre a horizontalidade dos objetivos da

vida.

Esperamos que o educador saiba dar ao educando, em troco miúdo, o que o

autor apresenta apenas em notas grandes.

Page 4: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

Este livro, quando em sua primeira edição, foi escrito após a promulgação do

Decreto-lei n- 869, de 1969, que estabelecia “base filosófica” para a educação.

Como Professor de Filosofia, julgava eu de meu dever falar e escrever sobre

essa base filosófica para a educação. Neste sentido, realizei conferências,

elucidando o assunto, no Sul e Centro-Oeste do Brasil, inclusive no EMFA

(Estado Maior das Forças Armadas) e na Universidade de Brasília, como

também, mais tarde, em Portugal.

Depois de diversos anos de experiências, porém, acabei por convencer-me de

que não é possível dar à educação uma base filosófica, se por filosofia e

educação se entende o que eu entendo. Semenhante base seria possível

unicamente para uma auto-educação, mas não para a alo-educação do

programa oficial. Mas a auto-educação é idêntica à auto-realização, que, como

tal, não é da alçada dos poderes públicos, mas de iniciativa particular.

Por isto, na presente edição, deixei de parte o programa oficial da alo-

educação, legal e social, e me limitei à auto-educação individual. A alo-

educação gira em torno do problema social da moralidade do agir, ao passo

que a auto-educação focaliza o assunto individual da verdade do ser.

Indiretamente, é verdade, a filosofia da verdade do ser afeta também a

sociologia da moralidade do agir, mas as escolas não tratam diretamente

daquela.

De maneira que este livro, na forma atual, é sobretudo um estudo sobre a

verdade do ser individual, que é idêntica à auto-realização baseada em

autoconhecimento.

Esta filosofia individual não é organizável como base da educação oficial. A

filosofia da auto-educação ou auto-realização seria a única base sólida para

uma pedagogia eficiente.

Os físicos conhecem o fenômeno da “indução magnética”, produzida por uma

corrente elétrica de alta voltagem, que cria um campo magnético por indução,

sem nenhum contato direto entre eletricidade e magnetismo.

E por que não teria a física a sua contraparte na metafísica? Por que não

poderia uma alta voltagem de auto-educação individual criar, por indução

espiritual, um poderoso campo magnético na zona da alo-educação social? Se

é verdade que agere sequitur esse, que o agir é um transbordamento do ser,

Page 5: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

por que não poderia um educador plenamente realizado em si mesmo

influenciar beneficamente os educandos realizáveis, mesmo sem nenhum

programa de técnica externa?

Este livro deixou de ser, assim, um livro escolar, e se tornou, por assim dizer,

um manual de auto-realização. Indiretamente, porém, como dizíamos, pode

beneficiar a todos, por meio de indução espiritual. Basta que haja, na alma de

um indivíduo, uma fonte de alta voltagem parta que outros homens receptivos

sejam por ela beneficiados.

Page 6: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O PROBLEMA PARADOXAL

DA EDUCAÇÃO

Se possível fosse uma alo-educação, como os nossos programas parecem

supor, não haveria problema. Mas, como dizíamos, a única educação

verdadeira é uma auto-educação, que é totalmente individual.

Ninguém pode educar alguém.

Alguém só pode educar-se a si mesmo.

A verdadeira educação é essencialmente intransitiva, ou reflexiva, subjetiva.

Nem o próprio Cristo conseguiu alo-educar seus discípulos; do contrário não

teria Judas traído o Mestre. E mesmo os restantes discípulos não estavam

convertidos no dia da ascensão, depois de três anos de convivência com o

melhor dos educadores. Eles, e outros, se auto-educaram na gloriosa manhã

do Pentecostes, quando o espírito da verdade, que neles despertou, os

transformou total e definitivamente. O que o Mestre fez, e que todo mestre

pode e deve fazer, foi mostrar o caminho no qual o discípulo se pode auto-

educar. Mas nenhum mestre tem a certeza de que o seu discípulo siga esse

caminho. O livre-arbítrio do homem é uma fortaleza inexpugnável, cujas portas

não abrem para fora, mas só para dentro.

Não é verdade que o meio bom faça o homem necessariamente bom, embora

lhe facilite ser bom.

E, praticamente, é apenas isto que o educador pode fazer para seu educando.

De maneira que o educador se limita a mostrar o caminho certo ao educando.

Aqui, porém, entra em função um fator misterioso e dificilmente explicável: o

ser central do educador vitaliza o seu dizer periférico. E esse ser central

coincide com a auto-educação e a auto-realização do educador.

De maneira que, em última análise, o efeito decisivo da alo-educação radica na

auto-educação.

O exímio iniciado norte-americano Emerson ouviu o esplêndido discurso de um

elegante orador. Todos aplaudiram entusiasticamente, menos Emerson; à

pergunta sobre se não havia gostado, respondeu: “Não pude ouvir o que ele

disse, porque aquilo que ele é troveja mais alto”.

Page 7: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O nosso dizer e fazer só exerce impacto decisivo quando radica na plenitude

do nosso verdadeiro ser – que requer auto-educação. O nosso dizer e fazer

são canais, que têm de receber conteúdo do nosso ser.

De maneira que o impacto que o educador exerce sobre o educando é apenas

indireto, dependente do próprio educador.

Os programas educacionais não podem contar com esse ser individual do

educador, mas somente com o seu dizer e fazer social.

A educação moral, cívica e religiosa é, por conseguinte, uma alo-educação,

cujo efeito é sempre problemático, em face do livre-arbítrio do educando. Se no

educando não existe receptividade e ressonância propícia, o melhor dos

educadores não pode educar ou converter o educando.

Pergunta-se se o educador pode produzir no educando essa receptividade e

ressonância propícia. Diretamente, não.

Indiretamente, pode o educador despertar no educando potencialidades

dormentes, que melhorarão a receptividade dele. Praticamente, toda a arte de

educar consiste em descobrir e despertar no educando essas potencialidades

dormentes.

Se isto é base filosófica, então consiste ela no conhecimento exato da natureza

humana, que é fundamentalmente a mesma em todos os seres humanos.

Mas ninguém pode conhecer a natureza humana alheia sem conhecer a sua

natureza própria; só um autoconhecimento profundo abre o caminho para o

alo-conhecimento.

A educação é, portanto, antes uma arte do que uma ciência. A ciência joga

com análises intectuais, ao passo que a arte ultrapassa estas e atinge também

a intuição cósmica. O educador-artista sabe auscultar e vislumbrar os

imponderáveis existentes nas profundezas extraconscientes do educando.

O talento analisa.

O gênio intui.

A análise do talento é meridianamente consciente, ao passo que a intuição é

misteriosamente ultraconsciente.

Essa intuição do educador pode ser cultivada e aperfeiçoada através de

experiência e vivência, interna e externa.

Programas meramente analíticos e técnicos não atingem a verdadeira alma da

educação.

Page 8: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

De maneira que, em qualquer hipótese, a alo-educação externa recai sempre

na auto-educação interna.

É este o problema paradoxal da educação. Não existe nenhum caminho

psicotécnico que resolva satisfatoriamente esse problema, que é antes um

problema do educador, e não do educando.

O problema educacional é uma síntese orgânica de ciência e arte, que exige do

educador plenitude de autoconhecimento e auto-realização.

Como já lembramos, existe na física o processo chamado indução magnética,

base de toda a nossa indústria atual: uma corrente elétrica de alta voltagem

produz um campo magnético sem nenhum contato direto, somente por

indução. O campo magnético assim induzido é uma espécie de aura ou alma

gerada pela vizinhança de uma alta voltagem. Também na metafísica e na arte

de educar existe uma espécie de indução, não magnética, mas espiritual. Essa

indução espiritual, porém, supõe a presença de um indutor ou educador.

Somente a plenitude do educador pode transbordar em benefício do educando.

E somente essa plenitude é que pode solucionar o problema paradoxal da

educação.

Quem julga ser bom por medo de castigo ou esperança de prêmio é um

egoísta disfarçado.

Page 9: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

A CRISE EXISTENCIAL DO

HOMEM MODERNO

Tem-se dito que o grande problema moderno é a educação da juventude. Não

é bem exato – há um problema ainda maior. O grande problema, ou melhor, a

crise mais dolorosa do homem moderno é uma crise existencial – o homem de

hoje sofre de uma caótica frustração existencial. Outrora, escreveu Chesterton,

havia o homem perdido o seu caminho – hoje, porém, ele perdeu o seu próprio

endereço. Não sabe mais qual o seu destino, qual a finalidade da sua

existência, e nega até a existência de uma finalidade. O homem moderno

perdeu a noção da sua existencialidade. Escritores e filósofos proclamam

abertamente que a vida humana não tem finalidade alguma; o homem é um

simples joguete do acaso. Nascer, viver e morrer acontecem-nos à toa, assim

como a existência acontece a um cogumelo que nasce e morre num monturo;

dar uma finalidade à vida humana, dizem eles, é procurar num quarto escuro

um gato preto que não existe; é perder-se num matagal de misticismos e

mistificações.

Ora, se a vida humana não tem destino algum nem finalidade, o melhor é gozar

o que se pode gozar, evitar as coisas desagradáveis – e desaparecer no vácuo

de onde surgimos.

Esta desoladora mentalidade niilista de frustração existencial é o fruto maduro,

ou fruto podre, de uma visão visceralmente anticósmica da existência; é o

resultado de uma instrução unilateral do ego periférico, sem uma educação

unilateral do homem integral.

Toda a perspectiva parcial e unilateral do homem acaba fatalmente em

frustração, em pessimismo, em niilismo.

Há diversos séculos que a educação degenerou em simples instrução. Todas

as nações mantêm os seus Ministérios de Educação, mas todas tratam apenas

de instrução do ego periférico, intelectual, a que eles dão o nome fictício de

educação humana.

Uma vez que o homem moderno “perdeu o seu endereço”, não adianta que ele

corra cada vez mais, e mais aceleradamente, intensificando a instrução do ego

unilateral pela ciência e pela técnica. O que falta ao homem moderno é uma

orientação no meio da sua desorientação geral. O principal não é andar, e

correr muito: o principal é saber se é certa a direção em que ele vai.

Page 10: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

E esta direção não pode ser indicada pelo ego periférico, porque esse ego é

essencialmente um círculo vicioso em torno de um vácuo. Se o homem não

tem uma direção certa, se nada sabe da sua verdadeira natureza, do seu

destino humano, da sua finalidade real, não adianta correr muito, voar com

velocidade supersônica, que são coisas do seu ego intelectual; o homem deve

antes de tudo saber se todo esse progresso científico e técnico tem uma razão

de ser.

No seu livro Mein Weltbild, bem como na coletânea Aus meine spaeten Jabren,

escreve Einstein coisas geniais sobre esse assunto. O progresso da ciência é

técnica, diz ele, é certamente uma coisa maravilhosa, e eu não cairei na

suspeita de ser inimigo desse progresso. Mas a ciência não nos pode indicar

nenhuma meta certa, nem pode sequer justificar todo esse esforço, não pode

fornecer ao homem nenhuma finalidade certa da sua existência terrestre. Essa

certeza não vem do descobrimento de fatos, que são o escopo da ciência; a

única certeza da finalidade da nossa existência vem da creação de valores

dentro de nós mesmos; mas do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho

para o mundo dos valores – estes vêm de outra região.

O mundo dos fatos é o mundo do ego, de que se ocupa a instrução; o mundo

dos valores é o mundo do Eu, que é o escopo da educação.

Em quase todos os países do mundo, sem excetuar o nosso Brasil, o mundo

dos valores é quase totalmente negligenciado; sofre de uma atrofia calamitosa,

enquanto o mundo dos fatos está unilateralmente hipertrofiado.

Esse pavoroso desequilíbrio entre o atrofiamento da educação e a hipertrofia

da instrução provocou a crise da frustração existencial, de que agoniza a nossa

humanidade.

Os profetas e clarividentes de todos os tempos prevêem uma catástrofe

universal para o ocaso do segundo milênio. Essa tragédia não é outra coisa

senão o resultado natural do desenvolvimento desequilibrado da nossa

humanidade, cujo início remonta a séculos passados, quando os interesses do

nosso ego periférico começaram a ser afirmados unilateralmente, e a causa de

nosso Eu central foi grandemente negligenciada.

Não é possível reestruturar a nossa pedagogia sem dar à educação pelo

menos o mesmo valor que a instrução reclama para si.

Por mais que certos poderes insistam na necessidade da “educação moral e

cívica”, o certo é que nenhuma educação eficiente pode existir, como não

existe uma laranja real sem laranjeira, como o telhado de uma casa não pode

existir sem as paredes e o alicerce.

Page 11: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O gráfico, no final deste capítulo, ilustra a relação que pode haver entre a

realização ou a frustração do Eu, bem como a relação entre sucesso e

insucesso social do ego.

No diagrama a linha vertical simboliza o Eu. A linha horizontal representa o

ego.

As quatro linhas coordenadas pontilhadas indicam as quatro combinações

possíveis entre a realização ou frustração do Eu e o sucesso ou insucesso do

ego.

Na coordenada 1 temos a realização existencial do Eu combinada com o

sucesso social do ego.

Na coordenada 2 temos a realização existencial combinada com o insucesso

social.

Na coordenada 3 temos a frustração existencial do Eu combinada com o

sucesso social do ego.

Na coordenada 4 temos a frustração existencial do Eu e ao mesmo tempo o

insucesso social do ego.

Estas mesmas relações podem existir entre educação e instrução: pode haver

educação com instrução (1); educação sem instrução (2); instrução sem

educação (3); nem educação nem instrução (4).

O homem da realização existencial é sempre feliz, mesmo sem o gozo do

sucesso social.

O homem da frustração existencial é sempre infeliz, mesmo no gozo do

sucesso social.

É suprema sabedoria do Eu realizar a sua existência, porque o destino

supremo do homem é a sua felicidade. A felicidade é a única coisa que está

sempre ao alcance dele, porque depende da substância do seu Eu central, que

as circunstâncias do ego periférico não podem destruir.

É este o fim da verdadeira educação: a realização existencial do homem, que é

a sua felicidade.

Page 12: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O que faz o homem realmente bom é a consciência do seu ser e a

vivência do seu agir.

Page 13: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

VISÃO PANORÂMICA DA

EXISTÊNCIA TOTAL

Toda e qualquer felicidade verdadeira do homem depende da visão

panorâmica que ele tenha da sua existência total.

Por outro lado, toda a infelicidade do homem depende da falta dessa visão

panorâmica.

A visão panorâmica ou total da existência humana não identifica os poucos

decênios da vida terrestre com essa existência; é uma visão da existência do

homem em qualquer zona do Universo, mesmo após a morte corporal.

É absolutamente certo de que o homem, quando deixa o corpo material,

continua a existir conscientemente, em outras regiões do cosmos, tão

verdadeiramente como está vivendo agora no pequeno planeta Terra. A

vivência terrestre é uma parcela insignificante da sua existência total.

É importante que o homem adquira, aqui na Terra, a certeza da sua vivência

cósmica.

A felicidade não consiste em que o homem goze aqui todos os prazeres – a

felicidade consiste em que o homem viva em perfeita harmonia com as leis

cósmicas, que regem o Universo inteiro e também a vida do homem.

Estas leis exigem imperiosamente que o homem, mesmo aqui na Terra, viva

em harmonia com a verdade, a justiça, a honestidade, o amor, a bondade, a

fraternidade universal.

Muitas vezes, essa harmonia com as leis cósmicas exige sofrimento e

sacrifícios, renúncia a prazeres imediatos.

E é precisamente aqui que se dividem os caminhos da humanidade feliz e da

humanidade infeliz.

O homem de visão panorâmica aceite tranqüilamente o sofrimento e

dissabores transitórios que lhe exijam a obediência das leis cósmicas – e então

o homem é feliz, seja no gozo, seja no sofrimento.

A imensa maioria da humanidade, porém, não tem essa visão da sua

existência total; desobedece às leis cósmicas por causa de alguma satisfação

Page 14: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

pessoal momentânea – e estes homens são infelizes, mesmo em todos os

seus gozos e prazeres.

Ter e viver de acordo com a visão total da sua existência é sabedoria, é

felicidade.

Não ter essa visão panorâmica e não viver de acordo com as leis cósmicas é

ignorância, é infelicidade.

Esta visão panorâmica da existência integral do homem nada tem que ver com

esta ou aquela teologia, com esta ou aquela filosofia.

Esta visão panorâmica é uma experiência interna que o homem adquire

quando remove de si todos os obstáculos que possam impedir essas

experiências.

Essa experiência cósmica da fonte ou alma do próprio Universo flui para dentro

do homem somente quando este abre os seus canais humanos, quando

assume uma atitude da completa abertura ou recipiência em face da Fonte

cósmica, representada nele pela consciência.

É difícil explicar aos inexperientes em que consiste propriamente esta

experiência; o homem deve antes adivinhar e sentir, como que por empatia, o

que é essa experiência da Alma do Universo, que é a sua própria alma.

Quando o homem adquire certa facilidade em se esvaziar de todos os

conteúdos da sua personalidade, faz ele de si carta branca e silêncio total e

começa a auscultar a mensagem cósmica – e então está ele no caminho da

experiência da sua existência panorâmica, que o pode transformar e fazer

profundamente feliz.

Na vivência diária, o candidato a esta felicidade não deve jamais desobedecer

à voz da sua consciêcia, em troca de alguma satisfação pessoal. Deve antes

sofrer qualquer injustiça do que cometer uma só. Deve dizer a verdade, embora

lhe dê prejuízo e cause sofrimento. Deve incluir no seu amor todas as

creaturas. Não deve jamais odiar creatura alguma. Não deve enganar ou

defraudar alguém, a fim de ter alguma vantagem transitória.

Em todas as dificuldades deve o homem panorâmico dizer a si mesmo: a

minha felicidade permanente vale mais que todas as satisfações transitórias.

Nunca deve fazer o bem para receber alguma recompensa, mas unicamente

pelo próprio bem, porque ser bom é ser feliz, mesmo no meio de sofrimentos.

A visão nítida da sua existência total dará ao homem forças para tomar sobre si

qualquer desgosto ou sofrimento temporário.

Page 15: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

A maior desgraça do homem está em não ter esta visão panorâmica da sua

existência total e permanente. E é este o fundamento de toda a educação

verdadeira.

Auto-educação é auto-realização.

Page 16: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO

A instrução tem por fim fornecer ao homem o conhecimento e uso dos objetos

necessários para sua vida profissional.

A educação tem por fim despertar e desenvolver no homem os valores da

natureza humana; porquanto a natureza humana existe em cada indivíduo

apenas em forma potencial, embrionária.

Diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita que o ego é o pior inimigo do Eu,

mas que o Eu é o melhor amigo do ego. Diz ainda que o ego é um péssimo

senhor da nossa vida, mas um ótimo servidor.

O homem que vive apenas na consciência do seu ego externo não pode deixar

de ser um egoísta que hostiliza o Eu interno. Mas quando o Eu desperta

devidamente e se põe na vanguarda da vida, aparece o homem harmonioso,

que faz o grande tratado de paz com seu ego servidor, sob os auspícios do Eu

dominador.

O fim da educação é crear o homem integral, o ego instruído integrado no Eu

educado.

Tem-se dito que abrir uma escola é fechar uma cadeia. Infelizmente, isto não é

verdade. Os grandes criminosos e malfeitores da humanidade não foram,

geralmente, analfabetos; muitos deles eram homens de elevada erudição. Se

as nossas escolas fossem centros de educação, poderíamos abrir escolas para

fechar cadeias. Mas, no mundo inteiro, as escolas dão apenas instrução, que é

do ego. E onde há um ego instruído sem um Eu educado, aí há um malfeitor

potencial. Os egos pouco instruídos pouco mal podem fazer, os egos muito

instruídos podem fazer muito mal, se lhes faltar a devida educação do Eu, se a

consciência não contrabalançar a ciência.

O homem da ciência, diz Einstein, descobre os fatos da natureza, mas o

homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo.

Mas, continua ele, do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o

mundo dos valores. Com outras palavras: do simples fato de o homem ser

instruído, não se segue que tenha valor, que seja bom. O ser-bom não é um

efeito do ser-instruído. Os valores diz Einstein, vêm de outra região.

Page 17: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Os valores existem porque são a própria alma ou essência do Universo – e o

homem deve captar em si esses valores, porque somente a captação de

valores pela consciência torna o homem valioso e bom.

Pela ciência o homem descobre os fatos da natureza material.

Pela consciência o homem capta os valores do mundo imaterial.

Ser amigo da verdade, da justiça, do amor, da honestidade, da fraternidade etc,

é crear valores pela consciência, e isto torna o homem bom.

Ser bom quer dizer estabelecer e manter harmonia entre a consciência

individual e a Consciência Universal, que alguns chamam a alma do Universo,

outros denominam Deus.

Uma teoria moderna diz que os valores não existem objetivamente, mas são

uma construção mental subjetiva do homem; dizem eles que o homem não

capta, mas fabrica valores.

Se o homem pudesse fazer os valores, também os poderia desfazer a bel-

prazer, e neste caso, não existiria nenhuma norma objetivamente real para os

valores, e cada homem poderia fabricar outra espécie de valores.

Por vezes, a obediência aos valores é difícil e dolorosa; mas a consciência, que

é o eco dos valores, exige imperiosamente que o homem obedeça a essa

norma imutável.

Einstein diz que a ciência é maravilhosa, mas ela não pode valorizar a vida do

homem; o homem 100% científico pode ser 0% bom; 100% de instrução não é

necessariamente 100% de educação, precisamente porque os valores vêm de

outra região.

Se compararmos os fatos da ciência com uma linha horizontal, e os valores da

consciência com uma linha vertical, podemos acumular milhares e milhões de

linhas horizontais, mas nunca teremos uma linha vertical, porque os valores

estão numa outra outra dimensão.

O homem de ciência é um descobridor de fatos – o homem de consciência é

um creador de valores.

A humanidade não viverá em paz, e o homem nunca será feliz enquanto não

for um creador de valores dentro de si mesmo.

Em resumo descobrir fatos é instrução – crear valores é educação.

Instrução e educação são como duas linhas paralelas que não convergem (se

favorecem), nem divergem (se desfavorecem).

Page 18: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

A instrução está numa dimensão, e a educação está em outra dimensão. As

sua finalidades são totalmente diversas.

O ideal seria que um homem tivesse 100% de instrução e 100% de educação;

que fosse mestre em ciência e mestre na consciência.

Até hoje, os poderes públicos de todos os países insistem muito em instrução e

pouco em educação. Talvez tenham razão, porque a educação não é tarefa do

Estado ou de alguma organização social, mas sim do homem individual. O que

geralmente se chama educação moral e cívica não tem por finalidade tornar o

homem bom e consciencioso, mas sim torná-lo adaptável ao convívio social

com seus semelhantes. O motivo dessa educação não é de consciência, mas

apenas de conveniência.

Por esta razão, a educação moral e cívica não poderá jamais estabelecer uma

fraternidade geral e duradoura entre os homens e garantir a paz mundial.

Somente um homem educado pela consciência dos valores é que pode servir

de pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. Quando a ciência

se integrar totalmente na consciência, então o mundo terá paz e ordem

universal.

Ser educado é realizar explicitamente o que já é implicitamente.

Page 19: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O QUE O EDUCADOR DEVE

EDUZIR DO EDUCANDO

Se educar, como dissemos, quer dizer eduzir, que é que o educador deve

eduzir, ou conduzir para fora do seu educando?

Há quem considere a natureza humana como um repositório de coisas boas e

coisas más; e que o educador deva enduzir do educando as coisas boas e

reprimir as coisas más.

Na realidade, porém, não existe nada de bom nem de mau na natureza. O bom

e o mau só aparecem com o advento do livre-arbítrio, que faz o homem bom e

faz o homem mau. Bom é tudo que está em harmonia com as leis cósmicas;

mau é tudo que está em desarmonia. Bom e mau não são fatos objetivos, mas

são valores subjetivos. Não são facticidades físicas, são creações metafísicas.

O homem faz existir o que é bom, e o homem faz existir o que é mau.

O livre-arbítrio existe, potencialmente, em todo ser humano, porque faz parte

essencial da natureza do homem. Mas, no princípio, este livre-arbítrio potencial

não funciona; acha-se em estado dormente, latente. Nesse primeiro estágio, o

homem, embora potencialmente livre, não é atualmente livre.

Mas, depois de algum tempo, o livre-arbítrio potencial passa a ser um livre-

arbítrio atual – e a partir daí pode o homem ser bom ou mau. Se o homem der

preferência a valores positivos, ele é bom; se der preferência a valores

negativos, ele é mau.

Valores positivos são, por exemplo, a afirmação da verdade, da justiça, do

amor, da benevolência, da bondade, da fraternidade, etc. Valores negativos

são o seu contrário.

Quando o educando compreende que o despertar de valores positivos o faz

bom e feliz, então procura ele rrealizar em si esses valores – mesmo que essa

realização o faça sofrer e dê desvantagens a seu ego.

O educador não deve convidar o seu educando a agir para receber algum

prêmio por ser bom, nem a recear castigo por ser mau. Prêmio e castigo,

recebidos de fora, seja antes ou depois da morte, não são motivos honestos

para ser bom ou deixar de ser mau, porque essa mentalidade se baseia no

ego, que se guia por fatores egoístas, externos.

Page 20: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O único prêmio e o único castigo a que o educador deve apelar são a

realização ou frustração do próprio Eu central do homem. A realização

existencial é o único prêmio que o educador e o educando devem ter em vista;

e a frustração existencial é o único castigo que deve ser evitado.

Qualquer alo-prêmio ou alo-castigo é antipedagógico; somente o autoprêmio e

o autocastigo são fatores pedagógicos e eticamente aceitáveis.

A única finalidade da encarnação terrestre do homem é a sua auto-realização,

e o único desastre é a sua autofrustração.

Mas, para que o educador e o educando possam agir por esses motivos, é

necessário que tenham noção clara sobre a sua própria natureza integral. O

educador que não seja um auto-realizado não pode mostrar ao educando o

caminho a seguir. Palavras não são eficientes, se elas não forem o

transbordamento espontâneo da vivência do educador. O ser é a alma, o dizer

é apenas o corpo da verdadeira pedagogia. Assim como a alma gera o corpo

do homem e lhe dá vida, asssim o ser do educador dá vida e poder a todo o

seu dizer ou ensinar.

Antes de eduzir do seu educando esse valor, deve o educador eduzir de si

mesmo esse valor. A auto-educação é o segredo de toda a alo-educação.

Auto-realização é a raiz da alo-realização.

Page 21: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

VALORES VALORIZANDO

OS FATOS

As citadas palavras de Einstein “do mundo dos fatos não conduz nenhum

caminho para o mundo dos valores” são bem uma bandeira para uma nova

educação. A educação atual limita-se, quase exclusivamente, a fatos e

facticidades. E, por isto, é apenas instrução, e não educação. Nenhuma

instrução, por melhor que seja, torna o homem melhor, porque se limita ao

conhecimento de fatos já existentes. Como já dissemos, o velho slogan “abrir

uma escola é fechar uma cadeia” peca por uma ridícula ingenuidade. Os

maiores criminosos da humanidade não foram analfabetos; muitos deles eram

homens eruditos, conheciam os fatos da natureza pela ciência, mas não

crearam valores pela consciência.

Abrir uma escola é incentivar a ciência, mas não é intensificar a consciência.

Se houvesse consciência suficiente, não haveria necessidade de cadeias. Toda

a ciência das escolas não pode fechar uma cadeia; mas onde há consciência

não precisa haver cadeias.

As nossas escolas quase nunca tratam seriamente da educação, mas limitam-

se à instrução. A educação tem que ver com a consciência, a instrução é da

ciência. O nosso Ministério da Educação é, quase exclusivamente, um

ministério de instrução – e isto não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Nem o

governo nem as igrejas tratam seriamente da educação, no sentido verdadeiro

da palavra. O governo está interessado em instrução científica, e as igrejas

limitam-se à simples moralização. Mas nem isto nem aquilo é educação. Nem a

instrução nem a moralização tornam o homem realmente melhor. A instrução

torna o homem erudito, a moralização torna o homem altruísta. Mas nem

erudição nem altruísmo são educação verdadeira. Altruísmo é um egoísmo

sublimado, egoísmo que espera recompensa após-morte. O homem realmente

educado é bom, não simplesmente altruísta, não espera recompensa por ser

bom, nem antes nem depois da morte – ele é incondicionalmente bom.

É um equívoco generalizado que as teologias eclesiásticas eduquem o homem

para ser bom; elas apenas transferem o egoísmo terrrestre para um egoísmo

celeste, como diz o filósofo francês Bergson.

A metafísica de Einstein vale mais para a verdadeira educação do que todas as

instruções científicas dos governos e todas as teologias moralizantes das

igrejas.

Page 22: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Estamos denunciando os governos e as igrejas como responsáveis pela

situação calamitosa da educação. Estamos num vácuo educacional. Governos

e igrejas pecaram por omissão. Limitaram-se aos fatos – não se interessaram

pelos valores. E sem valores não há educação. Verdade, justiça, amor,

honestidade, veracidade, etc., são valores, creações da consciência, e não

simples descobertas da ciência, nem simples altruísmo moral.

O valor transforma radicalmente a natureza humana, assim como a realidade

do “1” realiza todas as irrealidades dos zeros: 1000000. Nenhuma nulidade se

pode desnulificar por si mesma; somente uma realidade pode realizar as

irrealidades; somente o valor da consciência pode valorizar os fatos da ciência.

A educação pode valorizar a instrução, mas nenhuma instrução pode valorizar

a si mesma.

Será que, algum dia, os governos e as igrejas vão tratar seriamente da

educação? Ou vão continuar a pecar por omissão, como fizeram e estão

fazendo até agora?

O homem instruído é erudito – o homem educado é bom.

Page 23: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

DEVE O EDUCADOR CASTIGAR?

Andam por aí livros pedagógicos que proíbem todo e qualquer castigo; que

exigem do educador que deixe o educando fazer tudo o que ele quiser, realizar

todos os seus caprichos e veleidades. O castigo, dizem esses autores, cria no

educando complexos e traumas funestos para a vida futura; somente uma

natureza totalmente livre de quaisquer inibições externas é que se realiza

harmoniosamente.

Tão fascinante é essa teoria que seduz a muitos incautos.

Entretanto, as experiêcias da vida real provam que é uma teoria meramente

idealista, e não realista, e portanto deletéria e contraproducente. E isto por

motivos profundamente lógicos: o homem não pode adulterar impunemente as

leis da natureza. Toda a criança, adolescente, e mesmo o homem maduro,

enquanto está no plano do ego, sofre de insegurança. Essa insegurança, é

diretamente proporcional à liberdade: 100% de liberdade é 100% de

insegurança.

O homem integral, porém, necessita de segurança com liberdade, ou liberdade

com segurança.

Para que, na vida posterior, o homem tenha esse equilíbrio de segurança e

liberdade, é necessário que alguém, na infância, acrecente à segurança, que a

criança não tem, a liberdade, que ela deve ter. Centrifuguismo sem

centripetismo acaba fatalmente em desequilíbrio e catástrofe.

Durante a infância, e em parte na adolescência, a segurança do educador deve

complementar a liberdade do educando. Mais tarde, esse equilíbrio heterônimo

se transformará num equilíbrio autônomo.

A humanidade levou milhares e milhares de anos para estabelecer certo

equilíbrio entre liberdade e segurança; por isso, seria insensato querer iniciar a

educação unilateralmente com 100% de liberdade e 0% de segurança.

Quanto aos supostos complexos e traumas, mostra a experiência que uma

pessoa que na infância não teve educadores de mão firme continua insegura

também na fase adulta. Para que haja equilíbrio autônomo na fase adulta, deve

haver equilíbrio heterônimo na infância.

A natureza humana é essencialmente bipolar, mas apenas um pólo funciona

inicialmente: o da liberdade. Complexos e traumas não se originam quando o

Page 24: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

educador sabe fazer ver ao educando a razão e racionalidade de uma

proibição.

Castigo não é punição. Punir para fazer sofrer é procedimento imoral; mas

castigar para melhorar é recomendável. Naturalmente, se o educando percebe

que o educador o faz sofrer para se vingar de alguma ofensa pessoal, cria ódio

dele e sente-se injustiçado; mas, quando o educador procede racionalmente, o

educando compreende que ele o castiga por amor, não por vingança, e, mais

tarde, lhe será grato pelo fato de o ter educado desse modo.

Por outro lado, porém, é experiência comum que um educando que teve todos

os seus caprichos e veleidades, mais tarde considera seu educador fraco, e

antes o despreza do que o estima.

É essencial que o educador faça ver ao educando que lhe proíbe isto ou aquilo

por amor, pelo bem dele. Neste caso, nenhuma proibição, nenhum castigo gera

complexos ou traumatismos, que são produtos de revolta e incompreensão

contra um educador insensato. Amor compeendido não gera complexos e

traumas.

De maneira que o principal problema da educação é o educador, e não o

educando.

O castigo, além de ser razoável e dado por amor, nunca deve degenerar em

violência ou brutalidade.

Quem conhece os fatos da natureza é instruído – quem realiza valores

dentro de si mesmo é educado.

Page 25: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

É POSSÍVEL A EDUCAÇÃO

DO HOMEM INTEGRAL?

O homem integral pode ser representado graficamente por três círculos

parcialmente sobrepostos e parcialmente independentes, deixando no centro

uma área comum a todos os círculos.

O círculo chanfrado, à direita, simboliza o corpo; o da esquerda representa as

emoções; e o de cima indica a mente. O centro incolor representa a alma.

Todos os três círculos se sobrepõem parcialmente, todos os três são atingidos

pelo triângulo central.

É sabido que tudo que acontece num dos três componentes da natureza

humana se reflete nos outros componentes, afetando-os, positiva ou

negativamente. As sensações do corpo modificam a mente e as emoções, e

estas afetam o corpo, porque a natureza humana não é uma justaposição

mecânica de partes, mas uma interpenetração orgânica.

No centro está a zona incolor do espírito, que, depois de ser revestido pelo

corpo, se chama alma.

Segundo a física, a luz incolor é a síntese de todas as cores. Quando a luz

incolor passa por um prisma triangular, ela se desdobra nas sete cores do arco-

íris. Na realidade, as cores produzidas pelo prisma são milhares, mas a nossa

retina visual percebe normalmente apenas sete.

Tomando por símbolo da alma a luz incolor do centro, compreendemos que

todos os círculos periféricos podem ser afetados pela luz incolor do centro.

Page 26: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

A verdadeira educação do homem integral só pode partir do centro do Eu,

porque só esta luz incolor atinge o corpo, a mente, e as emocões.

Geralmente, num desenho completo, o corpo é simbolizado pelo vermelho, a

mente pelo verde, e as emoções pela cor amarela.

Por aí se compreende que a verdadeira educação do homem integral só pode

ser uma auto-educação, partindo do centro da natureza humana, e não uma

alo-educação, partindo de algum dos círculos periféricos.

Se o educador não parte da perspectiva da luz integral, não exerce impacto

decisivo sobre as partes periféricas do corpo, da mente e das emoções.

O problema dessa educação central consiste na pergunta: como tomar

perspectiva na zona central do homem?

Einstein nos adverte: “Do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o

mundo dos valores, porque estes vêm de outra região”.

Os fatos são comparáveis aos três círculos periféricos, ao passo que os valores

são simbolizados pela zona incolor do centro.

Como chegar a esse centro senão através das periferias? Como ter noção dos

valores a não ser pelos fatos?

E, no entanto, os fatos, e mesmo a soma total dos fatos, não conduzem aos

valores. Os valores, diz acertadamente Einstein, vêm de outra região, isto é, da

Realidade Infinita, da Alma do Universo.

Mas se o homem não pode chegar aos valores, estes podem chegar ao

homem, suposto que o homem tenha canais abertos para essa entrada dos

valores.

Como explicamos em outra parte, todo o problema está na abertura ou

receptividade dos canais humanos. Um total esvaziamento é condição

preliminar para uma plenificação. E ao mesmo tempo, devem os canais estar

ligados com a fonte, deve o homem manter a consciência firmemente ligada ao

centro.

Nenhum homem pode achar Deus, mas Deus pode achar o homem, quando

este se torna achável, isto é, quando se esvazia dos conteúdos do seu ego e

fica na expectativa da alma do Universo.

Os fatos não conduzem aos valores, mas os valores conduzem aos fatos. E,

quando as facticidades estão repletas da Realidade, então está resolvido

também o problema das facticidades, do ego físico-mental-emocional.

Page 27: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Vai em tudo isso uma rigorosa lógica e perfeita matematicidade. Neste sentido,

diz o maior dos Mestres: “De mim mesmo, eu nada posso fazer; é o Pai em

mim que faz as obras”.

A educação do homem integral tem de principiar necessariamente no centro, e

daí invadir as periferias.

O homem profano só se interessa pelas periferias.

O homem místico isola-se no centro.

O homem cósmico, que é o homem integral, firma-se no centro, e desta base

parte rumo às periferias, plenificando-as com a luz e força do centro.

No plano espiritual, o centro é a consciência da presença de Deus, e desse

centro místico o homem permeia de vivência ética todas as periferias da sua

vida.

O centro é a fonte, as periferias são os canais. Ninguém pode tirar água de

canais sem fonte, mas podemos haurir água de uma fonte sem canal. O

homem integral, porém, descobriu a arte de canalizar a fonte do Eu pelos

canais do ego.

Pode o homem fazer bem sem ser bom – mas não pode ser bom sem

fazer bem.

Page 28: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

DEVE O EDUCADOR

FALAR EM DEUS?

Há quem negue categoricamente que a idéia de Deus deva fazer parte da

educação.

E eles têm razão, quando pela palavra “Deus” se entende o que quase todos

os teólogos ocidentais entendem.

Mas quando por “Deus” se entende o que os grandes iniciados de todos os

povos entendem, então essa idéia é o próprio alicerce da verdadeira educação.

No século 17, o filósofo Spinoza disse que Deus é a alma do Universo, e no

século 20, Einstein, o pai da Era Atômica, encampou essa idéia de Spinoza.

Aliás, já no primeiro século, disse Paulo de Tarso aos filósofos atenienses que

Deus é aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos a nossa existência”.

Nenhum homem de experiência profunda entende por Deus uma pessoa ou

individualidade, mesmo que eleve esse conceito à milionésima potência.

Pessoa significa invariavelmente uma limitação – e um Deus limitado não é

Deus, mas apenas um ídolo sublimado.

Deus é A REALIDADE UNIVERSAL, O SER, A INTELIGÊNCIA CREADORA, A

CONSCIÊNCIA CÓSMICA, A ALMA E O UNO DO UNIVERSO, cujo Verso é o

corpo visível do cosmos.

Para dar ao educando uma idéia mais ou menos adequada de Deus,

poderíamos simplesmente chamá-lo VIDA. E sobre esta base poderíamos

desenvolver o diálogo seguinte:

– Esta planta é viva?

– Sim, ela é viva, porque cresce, floresce e frutifica.

– Esta planta é a Vida?

– Não, ela é viva, mas não é a Vida.

– Que é que tu entendes por Vida?

– Vida é aquilo que faz os vivos serem vivos.

– Já viste a Vida?

Page 29: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

– Não, a Vida não se pode ver; só poderemos ver os vivos.

– Quer dizer que a Vida é invisível, que fez os vivos visíveis?

– É isto mesmo. Ou talvez melhor seria dizer: a Vida é a Essência, que se

manifesta em existências vivas.

– Quer dizer que a Vida e os vivos são idênticos?

– Idênticos na Essência, mas não na existência.

– Suponhamos que esta planta morra; então a Vida morreu?

– Não, morreu somente o vivo, mas não a Vida.

– Para onde foi a Vida?

– Não foi para lugar algum. A Vida está em toda a parte; ela é, por assim

dizer, a Alma do Universo.

– E os vivos?

– Os vivos são formas visíveis da vida invisível. Quando as formas

desaparecem, nós dizemos que o vivo morreu.

– Quer dizer, “morrer” é o desaparecimento de uma forma da Vida, de um vivo?

– É isso mesmo. Assim, quando uma forma da Vida aparece, nós chamamos

isto “nascer”.

– A Vida nasce e morre?

– Não, a Vida vive, mas não começa a viver, nem acaba de viver.

– Quer dizer, a Vida é eterna e imortal?

– É isto mesmo: a Vida é eterna e imortal. Nunca nasceu, e nunca morrerá,

mas sempre viveu, sempre vive e sempre viverá.

– Essa Vida até parece ser Deus.

– A Vida é Deus, ou melhor, ela é a própria Divindade.

– Quer dizer que os que dizem que Deus é pessoa, confundem a Vida com os

vivos?

– Exatamente. Como não se pode perceber, nem mesmo pensar a Vida, os

homens se agarram a um vivo, que se pode ver, pensar e analisar.

– Se não se pode perceber nem pensar Deus, a Vida, como o podemos

descobrir?

Page 30: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

– Nenhum homem pode descobrir Deus, mas Deus pode descobrir o homem.

– Deus pode descobrir o homem?

– Sim, quando o homem permite ser descoberto.

– Que quer dizer “permite”?

– Quando o homem vive de certo modo, Deus o descobre, e então o homem

tem certeza de Deus. Mas se o homem não vive de modo que Deus o possa

descobrir, o homem discute sobre Deus, mas não tem a certeza dele. Certeza

não é descobrir Deus; certeza é ser descoberto por Deus.

– A filosofia oriental diz: “Quando o discípulo está pronto, então o Mestre

aparece” – é isto ser descoberto por Deus?

– Exatamente.

– E quando é que o discípulo está pronto para ser descoberto pelo Mestre?

– O homem está pronto para essa descoberta divina quando ele diviniza toda a

sua consciência com a vida divina e harmoniza toda a sua vida ou vivência de

acordo com essa vida.

– Quer dizer que tudo depende do fato de o homem estar pronto, estar em

condições de ser descoberto pela Vida.

– E que tem isto que ver com educação?

– O educador, quando já foi descoberto por Deus, pode mostrar ao educando o

caminho certo onde Deus o possa descobrir.

– O caminho, quer dizer, a vivência do homem?

– Sim, o modo de viver dele.

– Isto é religião?

– Sim, isto é a única Religião, mas não é uma religião, uma teologia; é antes

uma sabedoria de ser e de agir. Se o homem está em harmonia com Deus,

pela consciência e pela vivência, então ele sabe o que é Deus, e vive de

acordo com esse saber. É religioso.

– Isto é felicidade?

– Sim, isto é a única felicidade.

Homem, conhece-te a ti mesmo.

Page 31: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

A MEDITAÇÃO

FAVORECE A EDUCAÇÃO?

Nos últimos decênios, generalizou-se, no mundo inteiro, a prática da

meditação.

Se a verdadeira meditação fosse praticada diariamente, durante certo tempo,

exerceria impacto favorável sobre a vida da pessoa, e portanto sobre a

educação. A dificuldade está apenas na prática de uma verdadeira cosmo-

meditação, que alguns chamam meditação transcendental, e que não deve ser

apenas uma suspensão de outras atividades, nem degenerar em simples

acrobacia mental ou cochilo devocional.

Durante a verdadeira meditação, a pessoa suspende quaisquer atividades do

seu ego periférico, físico, mental e emocional, conservando-se, porém,

plenamente consciente no seu Eu espiritual.

Segundo as leis cósmicas, onde há uma vacuidade acontece uma plenitude;

quem se esvazia totalmente de todos os conteúdos da sua ego-consciência

será plenificado pela cosmo-consciência – e esta invasão da cosmo-plenitude

na ego-vacuidade resolve todos os problemas da vida.

Mas esse ego-esvaziamento é praticamente impossível a uma pessoa que viva

habitualmente na dispersividade material, mental e emocional, favorecida

sobretudo por leituras fúteis, por trabalhos puramente materiais e, em nossos

dias, sobretudo pelo cinema, pelo rádio e pela televisão. Para estas pessoas é

sumamente difícil interiorizar-se no seu Eu central.

Por isto, quem se interessa realmente pela meditação verdadeira deve reduzir

ao mínimo possível a sua dispersividade social e praticar freqüêntemente a

concentração, por mais difícil que lhe seja de início.

O melhor período para a meditação é de manhã cedo, logo depois de acordar.

O meditante começa com poucos minutos de interioridade, passando aos

poucos a períodos maiores, até poder isolar-se no mundo do seu interior por

meia hora ou mais.

Entretanto, a meditação não é um fim em si mesma, senão apenas um meio

para outro fim. A finalidade da meditação é retificar e orientar a vida diária.

Tanto vale a meditação quanto vale a melhoria da vida do meditante.

Page 32: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O principiante confunde facilmente a meditação com certos cochilos

devocionais sobre Deus, ou quando não pensa, desce ao transe ou à auto-

hipnose, frustrando assim o verdadeiro fim da meditação. Meditar, repetimos,

não é pensar nem descer ao subconsciente. Meditar é esvaziar-se de todas as

atividades do ego humano, para que o homem possa ser invadido pelo Eu

cósmico.

Outros dão demasiada importância a certas técnicas, a certas posturas

corporais, certo método de respiração, certa convergência do olhar, etc.

O chamado Eu cósmico ou divino é idêntico à própria alma do Universo

existente nas profundezas da natureza humana. O macrocosmo sideral e o

microcosmo hominal são concêntricos; o centro do Universo é o centro do

homem, como mostra o gráfico seguinte, onde o círculo maior e o círculo

menor são ambos centralizados na cruz, símbolo do Infinito ou alma do

Universo, que as filosofias e religiões chamam Deus, Brahmam, Tao, Yahveh,

o Absoluto, etc.

Na meditação pode o meditante dizer: “As obras que eu faço não sou eu que

as faz, é o Infinito em mim que faz as obras”.

O educador e o educando que praticarem assiduamente a verdadeira

meditação verificarão que esse encontro consigo mesmos melhora todos os

setores da sua vida.

Abrir os canais rumo à Fonte do Infinito é ser beneficiado pelas águas vivas do

nosso centro cósmico, de onde emanam todas as coisas finitas da vida.

Educar é eduzir de dentro do homem os valores humanos.

Page 33: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

ORIGEM E NATUREZA

DO HOMEM

Não se pode tratar seriamente da educação sem ter noção exata sobre a

origem e a natureza do homem.

Até meados do século 19, era doutrina quase geral que o homem tinha vindo

diretamente de Deus, como um ser perfeito; mas que o diabo provocou a

queda do homem. Depois da queda, resolveu Deus mandar um Salvador à

humanidade para restabelecer o que o diabo havia destruído.

Desde a segunda metade do século 19, prevaleceu entre os cientistas a teria

de Darwin sobre a descendência animal do homem.

Nem uma nem outra teoria são aceitáveis em face da lógica e da história. O

educador tem de guiar-se por uma tese não-teológica, como a primeira, nem

pseudocientífica, como a segunda. O educador deve compreender a filosofia

correta sobre a origem e a natureza do homem.

O homem primitivo não foi creado em estado perfeito e definitivo, como a

teologia admite; nem como simples animal, como declara a ciência darwinista.

A verdade é que o homem de início aparece sobre a face da Terra como uma

creatura potencialmente humana, mas ainda não atualizada em sua

hominalidade. O corpo desse homem era o do animal, como é até hoje; mas

nesse corpo animal existia o germe ou a potencialidade para se tornar um

homem integral. O homem não era simplesmente animal; do contrário, não se

teria tornado homem, porque ninguém se torna o que não é, ninguém se torna

explicitamente o que não é implicitamente. Se um coquinho não fosse

implicitamente um coqueiro, nunca se tornaria explicitamente um coqueiro.

O homem era, desde o início, um ser humano em corpo animal.

Nesse homem primitivo existiam, desde o início, os dois pólos da natureza

hominal: o espírito e a matéria, mas o espírito ainda em estado primitivo. As

Potências Creadoras do Universo entregaram ao homem o seu destino futuro,

a sua evolução posterior. Disse um pensador moderno: “Deus creou o homem

o menos possível, para que o homem se pudesse crear o mais possível”.

É esta a verdade filosófica sobre a origem e a natureza do homem. O homem

era, de início, um verdadeiro ser humano, mas no estágio ínfimo da sua

evolução. Não ocorreu nenhuma “queda”, no sentido tradicional da teologia. O

Page 34: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

que houve, e continua a haver, é uma luta entre os dois princípios básicos da

natureza humana: espírito e matéria; e essa matéria se manifesta, no princípio,

como mente, que, no Gênese, aparece na forma simbólica da serpente,

enquanto o espírito é chamado o sopro de Deus.

Esta luta entre o fator espiritual e o fator mental do homem não é uma queda,

mas uma luta necessária para que o homem se possa crear maior do que Deus

creou. Sem resistência não há evolução.

Quando prevalece o elemento mental, a serpente, o homem se torna “pecador”

– quando prevalece o elemento espiritual, o homem se torna “justo”.

A tarefa do homem não consiste em extinguir elemento mental e desenvolver

unilateralmente o fator espiritual. A tarefa da vida e da evolução humana

consiste em estabelecer perfeita harmonia e equilíbrio entre os dois fatores

componentes da natureza humana, entre o sopro de Deus e o sibilo da

serpente.

Sendo, porém, que, segundo as leis da evolução, o fator mental se desenvolve

antes do fator espiritual, insistem os mestres da humanidade em frisar de

preferência o fator espiritual, a fim de conseguir o equilíbrio desse

desequilíbrio.

A verdadeira educação não tem outra finalidade senão essa: ela deve

estabelecer perfeita harmonia e equilíbrio entre o ego mental e o Eu espiritual,

porque a educação, de acordo com a filosofia, tem por fim realizar o homem

integral. O homem integral não é unilateralmente espiritualista, nem

unilateralmente mentalista – menos ainda materialista. O homem integral é

uma perfeita harmonia de ser e agir, de todos os componentes da sua

natureza.

Esse homem integral pode ser denominado homem cósmico, homem universal,

homem univésico.

Assim como o macrocosmo sideral é uma perfeita harmonia automática entre o

pólo centrípeto e o pólo centrífugo, assim deve o microcosmo hominal fazer de

si uma perfeita harmonia espontânea entre o seu Eu central e o seu ego

periférico.

Nem a teoria teológica, nem a hipótese darwinista representam o homem

integral.

Somente a tese filosófica do homem em permanente evolução creadora é que

satisfaz plenamente a todos os requisitos.

Page 35: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Por isto, deve o educador ter noção exata sobre a origem e a natureza do

homem, a fim de poder promover a relização do homem integral, que é a

finalidade suprema da verdadeira educação.

Page 36: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

POR QUE O HOMEM ESTÁ

NA TERRA?

Esta pergunta me foi feita, há tempo, por uma emissora de rádio-televisão em

São Paulo. Respondi para meus telespectadores e hoje respondo, mais

explicitamente, a todos os leitores no Brasil e em Portugal.

Quando eu era criança, tive de decorar na escola de catecismo que o homem

está na Terra para conhecer, amar e servir a Deus, e assim entrar no céu.

Esta resposta é oficial nas igrejas cristãs, embora nada diga da finalidade da

vida terrestre do homem; refere-se a uma teoria abstrata de conhecer, amar e

servir a Deus, com a finalidade póstuma de entrar no céu. Esta salvação

individual não visa à finalidade integral do homem, a sua auto-realização e seu

espontâneo transbordamento ético-social na vivência terrestre, a fraternidade e

o serviço à humanidade. A verdadeira fraternidade humana é impossível sem o

conhecimento e a realização do homem individual, sem uma educação do

homem integral.

Há quase 20 séculos que os governos e as igrejas cristãs falam em educação –

mas até hoje só tratam de instrução, ou então de uma educação para fins

póstumos, e não da educação do homem integral, aqui e além. A instrução visa

ao treinamento do ego intelectual, ao passo que a educação visa à realização

do homem integral, do homem como entidade hominal em todos os setores da

existência humana.

Os governos ameaçam com multa e cadeia o cidadão que cometer crimes –

mas nenhum governo do mundo fala da educação do homem integral. Evitar

castigos é um apelo para o egoísmo pessoal, mas nenhum homem é realmente

bom pelo fato de não cometer o mal para se preservar de sofrimentos.

As igrejas cristãs afirmam que vão além desses motivos de multa e cadeia na

vida presente, e convidam o homem a ser bom para evitar o castigo do inferno,

no mundo futuro, e, mais ainda, para ganhar o prêmio eterno do céu – como se

esses motivos não fossem igualmente motivos de egoísmo celeste, em vez de

egoísmo terrestre, como diz o filósofo francês Henry Bergson.

Quer dizer que os governos e as igrejas cristãs do mundo inteiro só conhecem

egoísmo, terrestre ou celeste, nesta vida ou na outra, como motivo de

educação – quando todo egoísmo é visceralmente antipedagógico,

Page 37: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

antieducacional. Pretendem educar o homem com argumentos flagrantemente

antieducativos.

Que poderia resultar de uma pseudo-educação tão desastrosa senão aquilo

que estamos vendo: crimes, terrorismos, desordens de toda a espécie?

A árvore venenosa plantada e adubada há quase 20 séculos está produzindo

os frutos venenosos que não podia deixar de produzir. Os governos e as

igrejas cristãs se mostram horrorizados em face dessa pavorosa frutificação da

árvore que eles plantaram e adubam cuidadosamente. E, para mostrar a sua

desaprovação, arrancam, de vez em quando, um ou outro dos frutos

venenosos que a árvore da pseudo-educação produziu, mas evitam

cuidadosamente arrancar a árvore pela raiz.

Que outros frutos poderia produzir o ego senão egoísmo? E que outra coisa se

poderia esperar do egoísmo dominante senão crimes, terrorismos e o caos

universal? Será que os nossos educadores ignoram que o ego é o pior inimigo

do Eu, como já disse, milênios atrás, a sabedoria do Bhagavad Gita? E como

escreveu Paulo de Tarso, há quase 20 séculos: “O homem intelectual (o ego)

não compreende as coisas do espírito, que lhe parecem estultícia, nem as

pode compreender, porque as coisas do espírito devem ser compreendidas

espiritualmente”...

Mas, perguntam os nossos educadores, civis e eclesiásticos, que outro motivo

poderia haver senão esse egoísmo, terrestre ou celeste, da educação cívica ou

religiosa? Porque outro motivo devia o homem ser bom e honesto senão para

evitar multa e cadeia ou inferno e ganhar o céu?

Nas páginas deste livro tentamos mostrar um motivo muito mais profundo e

verdadeiro.

Alguns anos atrás, após a primeira edição deste livro, fui chamado a Portugal

para dar conferências ou aulas sobre este assunto, que um grupo de leitores

lusitanos considerava de capital importância. O meu livro Educação do Homem

Integral achava-se esgotado.

Não julguei conveniente fazer nova edição do texto antigo, que não focalizava

suficientemente o desastre de uma educação baseada fundamentalmente em

egoísmo, terrestre ou celeste. Refundi totalmente o livro, frisando intensamente

a suprema necessidade de basearmos toda a educação em outros motivos. Fiz

ver que o homem não está aqui na Terra para conseguir certos objetivos da

vida, embora honestos, mas sim para realizar a razão de ser da existência

propriamente humana. Se o homem conseguir todos os objetivos da vida (que

são do ego), mas não realizar a razão de ser da sua existência (que é do Eu),

sucumbirá a uma frustração existencial, mas se realizar a razão de ser da sua

Page 38: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

existência, cumprirá a sua realização existencial, o porquê da sua existência

terrestre, e mesmo extraterrestre.

Enquanto os governos e as igrejas não derem à verdadeira educação a mesma

importância que até agora estão dando à instrução, a humanidade não tem

esperança alguma de melhores dias; a árvore venenosa continuará a produzir

os mesmos frutos que produziu até hoje, e frutos cada vez piores.

Não se trata absolutamente de uma tal ou qual alopatia superficial, que procure

evitar os sintomas imediatos do mal – trata-se antes de uma cosmoterapia

radical que atinja a raiz do mal e dê à educação pelo menos a mesma

importância que até agora se está dando à instrução.

Essa erradicação do mal é impossível enquanto a nossa filosofia educacional

não mudar totalmente; enquanto os governos e as igrejas não tomarem a sério

o ensinamento da natureza integral do homem, desde a escola primária até o

curso superior.

Esse conhecimento do homem como espírito, mente e corpo – e não apenas

como corpo e mente – nada tem que ver com crença, teologia ou dogma, mas

é simplesmente o retrato fiel da realidade do homem que, finalmente, pode e

deve deixar de ser “esse desconhecido”, esse “misto de miséria e grandeza”,

esse “fenômeno paradoxal”, como dizem os nossos escritores; mas pode e

deve realizar o imperativo milenar de todos os grandes pensadores:

Homem, conhece-te a ti mesmo!

Homem, realiza-te!

Homem, sê explicitamente o que és implicitamente!

Page 39: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

FALÊNCIA DA EDUCAÇÃO BASEADA

EM PRÊMIO E CASTIGO

A educação cívica e moral apela para fatores externos: o homem deve ser bom

e deve deixar de ser mau a fim de evitar castigo e receber prêmio.

A educação religiosa apela para o prêmio e castigo de Deus, após a morte.

Embora esses motivos externos devam ser tolerados temporariamente, eles

são ineficientes para tornarem o homem realmente bom. Toda idéia de prêmio

e castigo baseia-se em egoísmo, e com motivos egoísticos não se pode educar

e realizar o homem. Bergson, o filósofo francês contemporâneo, diz que as

religiões detestam o egoísmo terrestre, mas recomendam o egoísmo celeste,

porque argumentam com prêmio e castigo, com céu ou inferno, para educar o

homem.

Egoísmo não cura egoísmo, ainda que seja egoísmo póstumo.

Além desse caráter antipedagógico interno, o apelo para o céu e inferno, Deus

ou diabo, perde cada vez mais o seu impacto, porque muitos dos educandos

não crêem mais no Deus das teologias. Acresce a isto o aspecto antiético de

certas teologias, que prometem ao pecador que 5 minutos de arrependimento

possam cancelar 50 anos de maldades, invalidando assim o esforço ético do

pecador para se tornar melhor durante a vida, e só confiar na hora da morte.

O que poderíamos substituir por esses motivos inéticos de prêmio e castigo?

O único motivo ético e honesto para ser bom é o esforço para a realização da

sua verdadeira natureza humana em sua totalidade, do seu Eu central.

Mas, como já dissemos, essa auto-realização supõe autoconhecimento. Quem

se identifica com o seu ego ilusório vive num perpétuo círculo vicioso.

Por isto nenhum país do mundo pode estabelecer um sistema educacional

eficiente sem primeiro crear centros de autoconhecimento.

Mas esses centros supõe diretores que possuam em alto grau esse

autoconhecimento e o tenham demonstrado em forma de auto-realização. A

falta desses diretores torna praticamente impossível a educação em base de

autoconhecimento.

Page 40: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Assim como a falta de laranjas vem da falta de laranjeiras, a ausência de uma

educação eficiente vem da ausência de educadores. É certo que podemos

comprar laranjas artificiais, de plástico ou cera, por fora iguais a laranjas

verdadeiras, mas não são laranjas vivas. Toda a ciência e técnica humanas

não podem produzir uma única laranja verdadeira, nem outra fruta viva

qualquer.

Todas as nossas ciências e técnicas pedagógicas não podem substituir uma

pedagogia baseada em autoconhecimento e auto-realização.

O problema crucial da educação é, acima de tudo, um problema metafísico,

filosófico, cósmico – ou melhor, um problema profundamente humano. Os

poderes públicos deviam, em primeiro lugar, tratar de plantar laranjeiras, isto é,

de realizar educadores, em vez de se ocupar com métodos educacionais e

técnicas de ensino. Mas isto não é da sua alçada.

Quando, em 1969, o presidente Médici publicou o Decreto-lei n- 869 sobre a

necessidade de uma base filosófica para a educação, parece que ele se

inspirava na visão desta necessidade. A filosofia da educação seria o

conhecimento da natureza integral do homem.

Page 41: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

TEOLOGIAS

ANTIEDUCACIONAIS

Voltamos a um assunto já focalizado em outra parte. Certas teologias

eclesiásticas dominantes no Brasil, em vez de favorecer, desfavorecem a

verdadeira educação. Algumas ensinam que o homem pode pecar a vida

inteira mas, se se arrepender nos últimos momentos da vida, é absolvido de

todos os seus pecados, seja pela absolvição sacramental, seja por um ato de

crença no sangue de Jesus. Semelhantes sistemas teológicos são um

verdadeiro convite para ser mau, contanto que o homem seja bom nos últimos

momentos. Uma boa morte parece cancelar uma vida má; 5 minutos de

arrependimento parecem neutralizar 50 anos de maldades.

Essas teologias apelam para certas palavras de Jesus, sobretudo para as que

ele dirigiu ao ladrão penitente: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. É

questionável que estas palavras tenham o sentido que eles lhes dão. É

provável que o tal paraíso seja o primeiro passo, o início da verdade, após

meio século de erros, o início de uma linha reta após longo período de

ziguezagues em que o criminoso vivera – mas não é a entrada num céu

definitivo e imutável.

Aliás, todas as nossas teologias, de quase 2000 anos, professam ainda a idéia

obsoleta de que a morte física do homem decida sobre o seu eterno destino, no

céu ou no inferno. A ciência mais avançada dos últimos tempos já provou que a

vida após a morte continua mais ou menos no mesmo teor em que se

desenrolou antes da morte. Ninguém está no céu, ninguém está no inferno,

definitiva e imutavelmente; todos continuam a viver em corpo imaterial, no

ambiente que crearam durante a vida terrestre. A vida continua em outro corpo,

com as mesmas luzes e as mesmas sombras, com as mesmas virtudes e os

mesmos vícios da vida terrestre. Se há tal coisa como “destino definitivo” (o

que é muito improvável), será no ciclo final da evolução, que pode ser de

milhões de anos. A “vida eterna” não é uma chegada, uma parada inerte, é

uma incessante evolução, um processo dinâmico, afetado por todos os atos e

por toda a atitude da vida presente. O que o homem semeou no ciclo presente,

isto colherá ele no ciclo futuro. A vida eterna não é um estático ser, mas um

incessante devir.

Podemos conceber a vida eterna ao modo de uma teoria de relatividade: no

mundo dos finitos nada é absoluto, tudo é relativo; o relativo de ontem

determina o relativo de hoje, e o relativo de hoje molda o relativo de amanhã.

Page 42: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O vocábulo teológico “salvação” já foi substituído pela palavra filosófica “auto-

realização”. O homem não é salvo após a morte, num tal céu, nem é perdido

após a morte, num tal inferno – o homem realiza-se incessantemente em plena

vida, através de todas as existências, telúrica e cósmicas.

As teologias salvacionistas fariam bem em passar para a filosofia da auto-

realização, que favorece a verdadeira ética educacional. O principal não é

morrer bem, mas viver corretamente.

O Brasil, que é um país sem lastro filosófico nem teológico, que não é onerado

de taras ideológicas, como certos povos europeus, o nosso Brasil poderia e

deveria ser o berço de uma nova humanidade. O Brasil, no qual “em nele se

plantando tudo se dá”, poderia e deveria iniciar uma pedagogia educacional

isenta das taras tradicionais. Mas se nem o governo nem as igrejas estão em

condições de iniciar esses novos rumos para a educação, devem pessoas

individuais ou grupos sem preconceitos realizar essa educação verdadeira.

Alo-educação é impossível sem auto-educação.

Page 43: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

COBAÍSMO EDUCACIONAL

O maior problema da educação, como dizíamos, não são os educandos, mas

os educadores – e estes, por sua vez, dependem grandemente dos psicólogos

e dos respectivos governos, que dão ordens para realizar este ou aquele tipo

de educação.

No Brasil, tivemos ultimamente amostras desse cobaísmo educacional. E,

como a nossa cultura brasileira vem sempre meio século após a cultura

européia, a psicologia e psicanálise de Freud invadiram o Brasil, nos últimos 50

anos, quando, na Europa, o freudismo já estava em declínio, graças às idéias

mais sadias de Adler, Jung e outros.

Freud reduziu toda a vida humana a um produto da libido: tudo para ele, é

manifestação do sexo, desde do mamar da criança até o comer e o evacuar.

Nossas escolas, tempos atrás, tiveram ordem de ensinar sexualismo às

crianças da escola primária. Para que a criança, mais tarde, não tivesse

complexos e traumatismos sexuais, devia ela saber, desde o princípio, como a

criança era concebida na cama de casal e como nascia na maternidade.

Sobretudo a concepção era ponto central nesse cobaísmo. As fábricas de

celulóide e plásticos tiveram de fabricar os órgãos genitais do homem e da

mulher, e as professoras tiveram ordem de exibir nas escolas a função desses

órgãos. A tal ponto chegou esse pan-sexualismo freudiano que as crianças de

6 a 8 anos resolveram “brincar de casados”; uma menina de 8 anos pegou um

menino para brincarem de macho e fêmea no banheiro. Meninos e meninas

foram obrigados a se desnudarem em plena classe, para que a professora

pudesse descrever melhor a função dos órgãos genitais.

Felizmente, depois de muito descalabro, prevaleceu o bom senso dos pais

dessas cobaias; foi quase geral o protesto contra essa aberração da educação

infantil. Muitos pais se revoltaram contra essa profanação da infância – e os

poderes públicos tiveram o bom senso de bater em retirada.

A natureza é bem mais sábia que toda sapiência dos homens; ela sabe por que

circundou o paraíso da infância com a muralha protetora da ignorância e do

desinteresse pelas coisas sexuais. A própria natureza se encarrega de

despertar a libido no tempo da puberdade. E compete aos pais, sobretudo à

mãe, dar a seus filhos as necessárias explicações sobre o sexo. Aulas de

demonstrações sobre o uso do sexo são um verdadeiro atentado à natureza

humana.

Page 44: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Outro atentado à natureza é o cobaísmo educacional de Skinner e de outros

psicólogos desorientados, cuja influência deletéria se projetou sobre os

métodos da nossa educação.

Esses cientistas fizeram experiências psicotécnicas e, em face de seus testes,

proclamaram aos quatro ventos que o livre-arbítrio do homem é um mito, uma

fábula, uma ilusão tradicional; que o homem não passa de um joguete das

circunstâncias. O meio bom produz um homem bom, o meio mau produz o

homem mau. O homem é, portanto, uma máquina viva, que funciona

automaticamente como qualquer computador, cujos atos não podem ser

virtuosos nem viciosos, porque são todos necessários.

Se o homem não tem liberdade de agir, é evidente que não é responsável

pelos seus atos, bons ou maus. E, neste caso, é flagrantemente ilógico e

injusto infligir punição aos malfeitores; se eles agiram mal, agiram por

obrigação mecânica das circunstâncias, e não devem ser punidos, como não

se pune um computador que funcionou mal.

Esses psicólogos e psicanalistas erraram no ponto fundamental da lógica:

fizeram experiências com certo número de cobaias, provavelmente derrotadas

pelas circunstâncias, e daí tiraram a conclusão ilógica de que não há liberdade

em homem nenhum. Esse ilogismo inclui dois erros: 1) que de um certo

número de experiências se possa concluir para a totalidade do gênero humano;

2) que as cobaias que não fizeram funcionar a sua liberdade não possuíam a

possibilidade para isso. Se pelos gabinetes desses psicanalistas tivesse

passado um Buda, um Jesus ou um Gandhi, em vez de um Skinner, Marcuse

ou Reich, e suas cobaias, bem diferentes teriam sido os resultados.

Outro cobaísmo educacional em voga é a permissão de uma total indisciplina

para o educando. Os educadores, dizem eles, devem respeitar os direitos

humanos do educando; se este quiser espernear, quebrar móveis e janelas e

maltratar seus colegas, é dever do educador respeitar os sacrossantos direitos

do educando, porque através dele fala a própria natureza humana, que é

sempre boa e não deve ser cerceada em seus impulsos; a repressão dos

impulsos do educando malcriado, dizem, poderia traumatizá-lo e criar futuros

complexos negativos.

Esses psicólogos se esquecem de que a natureza humana funciona

bilateralmente, na base de instinto e de razão. Na infância e na adolescência

prevalece o instinto cego, que deve ser orientado e disciplinado pela razão dos

adultos. O contrário, o centrifuguismo do instinto sem o centripetismo da razão,

acaba em caos e catástrofe. Toda a arte de educar consiste em saber

equilibrar harmoniosamente essas duas forças da natureza humana,

aparentemente antagônicas, realmente complementares.

Page 45: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Todos esses cobaísmos educacionais modernos têm por base comum o

mesmo mal: o desconhecimento da natureza integral do homem. A civilização

humana reduziu a cultura a favor da tecnologia; a cultura respeita a natureza

integral, ao passo que a tecnologia considera o homem como uma máquina,

um robô, um computador vivo, cujo imperativo categórico é apenas o seu ego

físico-mental-emocional. E, como os governos aceitam o que lhes é oferecido

pelos técnicos, pelos cientistas e pelos psicólogos, tivemos os descalabros da

tecnologia aplicada a problemas de educação.

Outrora, recebia o Brasil o influxo da sua cultura de países europeus,

sobretudo da França. Mas as duas guerras mundiais, do Kaiser e de Hitler,

dificultaram e quase impossibilitaram as relações do Brasil com o velho mundo,

e a nossa cultura é sobretudo influenciada pelos Estados Unidos, cuja

tecnologia é máxima e cuja cultura é mínima. Entre nós, nesse último meio

século, tudo se americanizou; o Brasil importa as coisas piores da grande

república do norte, sobretudo no setor educacional, que passou a ser uma

simples tecnologia.

A natureza humana, porém, que é multimilenar, não sofre impunemente essas

adulterações; ela reage violentamente a essa desumanização.

Os setores mais tragicamente afetados por essa adulteração são a infância e a

juventude, que não têm meios de defesa.

É de imperiosa necessidade que a educação conheça a natureza humana e

não se deixe desviar dos trilhos que ela traçou para o homem.

Ora, a natureza humana não é uma justaposição mecânica de corpo e alma, de

matéria e espírito; a natureza humana é um intercâmbio orgânico entre corpo e

alma. E quem controla e harmoniza esse intercâmbio é uma faculdade cósmica

que aparece com nomes vários, como razão, intuição, consciência, Eu divino,

etc.

O homem unilateralmente empírico-mental não faz jus à natureza integral do

homem, que é o reflexo do próprio macrocosmo mundial. O homem integral

não é materialista, nem mentalista, nem espiritualista – ele tem tudo isto, mas

ele é cósmico, univérsico, integrando em si tudo que é material, mental e

espiritual, mas ultrapassando todos esses componentes e culminando na

grande síntese do composto.

Ser cosmicamente humano é a suprema aspiração da verdadeira educação,

cuja base é auto-realização, transbordamento espontâneo do

autoconhecimento.

Page 46: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

DISPERSIVIDADE E

CENTRALIDADE

Desde Freud, e muito antes, toda a nossa literatura de ficção está eivada de

sexualismo profano.

É fácil tirar edições de centenas de milhares de exemplares de um livro,

quando o escritor se faz fiel aliado das paixões animalescas que regem o

animal intelectualizado; 90% do seu sucesso literário já está de antemão

garantido pelos poderosos instintos da esfera animalesca do homem. E, com

esse poderoso contingente de sexualidade, é fácil ser um “gênio” – basta

acrescentar 10% do talento do escritor, e o sucesso é garantido. O escritor

pornográfico parece ter pouca confiança na sua capacidade, quando apela

para fatores alheios, já pré-existentes nos seus leitores. É fácil nadar à mercê

das paixões, é difícil orientar os instintos inferiores do homem.

Essa hipertrofia da libido sexual, disfarçada geralmente sob o eufemismo

“amor”, é um dos grandes percalços da verdadeira educação. Na educação

prevalece a razão superior, que impõe um freio ao instinto inferior.

Nos tempos modernos acresce a facilidade de difusão pela rádio-televisão, que

dispensa o telespectador de pensar – basta ver, ouvir e sentir.

É experiência geral que crianças e adolescentes habituados aos programas de

televisão são incapazes de disciplina e concentração mental; o seu

centrifuguismo derrota qualquer centripetismo. Muitas dessas cobaias são

incapazes de prestar 2 minutos de atenção a um determinado assunto. O seu

habitual derramamento exterior impossibilita qualquer concentração interior.

E não somente a educação, mas até a instrução sofre o impacto dispersivo

desses programas de televisão. Praticamente, não temos programas para

valorizar condignamente essas grandiosas conquistas da ciência e técnica do

século XX. A ciência e técnica progridem a passos de gigante, ao passo que a

moral e a ética continuam estagnando, ou até retrogradando.

Felizmente, nos últimos anos, se observa, ao menos numa elite da

humanidade, um interesse crescente por uma literatura mais sadia e mais

condizente com os valores humanitários do que com os instintos inferiores do

homem. Uma casa editora aqui em São Paulo – “Fundação Alvorada para o

Livro Educacional” – lança dezenas de livros de alto valor educativo, e até

Page 47: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

filosófico, em grandes tiragens, que se esgotam rapidamente em edições

sucessivas.

Mesmo no cinema, se faz sentir, embora vagarosamente, essa evolução

ascensional. Como todos estão fartos de saber, o cinema foi avassalado por

uma avalanche de filmes repugnantes de sexo e selvageria. Filme sem

sexualismo desbragado e selvageria sangrenta não poderia contar com

sucesso de bilheteria – que interessa às casas de cinema. Parece que,

ultimamente, uma crescente elite se enfastiou desse bagaço primitivo e sente

fome de um alimente mais humano e sadio. Alguns filmes de alto valor

estiveram nos cinemas da Paulicéia semanas e semanas a fio, e sempre com

os salões repletos de assistências silenciosas e atentas. Quando o homem é

supersaturado de um alimento grosseiro, começa ele a sentir fastio – e, após o

fastio, vem uma fome de manjares mais delicados.

O grosso da humanidade, como expus no meu livro A Nova Humanidade, se

acha ainda no estágio primitivo do animal ligeiramente intelectualizado do

pescoço para cima; mas o resto da sua natureza não foi ainda atingido pela

verdadeira hominalidade. Estamos nas baixadas do homem animal; alguns

subiram até o homem hominal – mas quem alcançou as alturas do do homem

integral, do home cósmico? Quando um homem superior aparece, qual solitário

obelisco no vasto deserto do homem animal, é ele crucificado, morto e

sepultado e desce aos infernos... O maior dos homens que surgiu no planeta

Terra foi difamado como louco, blasfemo, aliado de satanás, subversivo,

comilão, amigo de publicanos e pecadores – mas, apesar disto, está em

permanente ressurreição e ascensão. Dificilmente os pigmeus toleram ser

eclipsados pela sombra de um gigante. Instintivamente, o homem animal, ou

mesmo o homem intelectualizado, tenta degradar para suas baixadas um

homem que está nas alturas do homem cósmico. É mais cômodo fazer descer

um Cristo ao nível do infra-homem do que fazer subir ao nível do super-homem

um homem comum. A lei da inércia e do menor esforço governa em todos os

setores da nossa humanidade.

Nunca foi tão difícil como hoje a terefa da educação. Todo o ambiente é hostil à

subida, tudo é favorável à descida. O educador e o educando de hoje têm de

nadar contra a corrente. Mas o pouco que alguém consegue contra a corrente

vale mais do que o muito dos outros que vão à mercê da corrente. As coisas

fáceis são dos covardes – as coisas difíceis são para os heróis.

O talento analisa – o gênio intui.

Page 48: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

POR QUE DEVE

O HOMEM SER BOM

A educação tradicional, como vimos, proíbe ser mau e manda ser bom, para

não sofrer castigo e para ser recompensado, seja antes, seja depois da morte.

A verdadeira educação, porém, não apela para estes motivos,

fundamentalmente egoísticos, e, portanto, antiéticos e antipedagógicos.

Mas se o educando não se deve guiar por esses motivos de prêmio e castigo,

qual o motivo real para ele ser bom?

A resposta é que o homem deve ser bom e evitar ser mau por causa da sua

própria realização e aperfeiçoamento.

Entretanto, para muitos, é incompreensível esse motivo de auto-realização.

Por isto, passaremos a concretizar esse motivo. É absolutamente certo que a

consciência individual do homem, ou sua alma, não perece com o corpo físico,

mas continua a sobreviver conscientemente. Embora a ciência não possa

provar a imortalidade, contudo ela tem demonstrado com provas convincentes

a sobrevivência temporária da consciência individual, ou da alma humana.

E, nesse estado póstumo, o homem leva consigo os seus créditos e os seus

débitos adquiridos na vivência terrestre. Os créditos são o resultado dos seus

atos bons, honestos, da sua harmonia com as leis da verdade, da justiça, do

amor, da bondade, etc. Os seus débitos são os seus atos contrários, em

desarmonia com essas leis.

Nenhum homem entra, após a morte, num céu definitivo nem num inferno

definitivo, num lugar de gozo ou de sofrimento eterno. O céu é a sua

consciência de crédito, o inferno é sua consciência de débito. A morte não

assinala nenhum fim definitivo, nem um princípio novo; a morte é uma transição

para outro ambiente de existência; é uma continuação da vivência terrestre,

com todos os seus positivos e com todos os seus negativos. O homem, após-

morte, leva consigo todos os seus créditos e todos os seus débitos, que são o

seu céu e o seu inferno. Os créditos são felicidade, os débitos são infelicidade.

O escopo supremo da educação é tornar o homem feliz, realmente feliz.

Page 49: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Nem sempre a felicidade está isenta de dores, e nem sempre o gozo existe

sem a infelicidade. Pode um homem ser profundamente feliz no meio de

sofrimentos, e pode um homem ser infeliz no meio de gozos.

A verdadeira educação mostra ao homem o caminho para ser feliz, seja no

gozo, seja no sofrimento. Esta felicidade não é um “prêmio” dado ao homem

bom; a felicidade é ele mesmo, quando a sua consciência está em harmonia

com a alma do Universo. O homem bom é sempre um homem feliz, seja no

gozo, seja no sofrimento – e esta felicidade é o fim supremo da educação.

Gozo e sofrimento nos vêm das circunstâncias, que nem sempre estão sujeitas

ao nosso livre-arbítrio. Mas a felicidade ou a infelicidade vêm da nossa própria

substância, do nosso verdadeiro Eu. Não somos livres em gozar ou sofrer, mas

somos livres em sermos felizes ou infelizes.

A verdadeira educação visa portanto a felicidade do educando, que não é um

prêmio, mas que é o próprio homem plenamente realizado. Céu e inferno não

são lugares, mas são estados de consciência, creados pelo próprio homem.

Ninguém o manda para o céu nem para o inferno, senão ele mesmo.

É possível fazer compreender a qualquer educando que o fim da verdadeira

educação é a sua própria felicidade.

Page 50: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

EDUCAÇÃO REAL

E EFICIENTE

Embora já tenhamos tratado deste item em outro capítulo deste livro, julgamos

necessário voltar ao mesmo assunto, por ser de uma importância fundamental

e decisiva.

Em todos os setores da educação os educadores continuam a apelar para um

fator diametralmente oposto à verdadeira educação, fator flagrantemente

antipedagógico, antiético, antieducacional – o fator prêmio e castigo, fator

visceralmente egoísta.

Esse fator antipedagógico prevalece sobretudo na chamada educação

religiosa, que promete um céu póstumo aos bons e ameaça com um inferno

póstumo os maus, ambos de duração eterna.

Nenhum educando medianamente sensato se tornará melhor por essa

promessa de prêmio, ou ameaça de castigo póstumo. E isto por dois motivos:

1) por que os mais sensatos não acreditam no céu ou no inferno da teologia; 2)

por que os crentes nesses lugares póstumos sabem, de acordo com as

próprias teologias, que bastam 5 minutos de arrependimento ou confissão para

cancelar 50 anos de crimes e maldades. E quem se sujeitaria a meio século de

vida honesta, em vez de alcançar um céu eterno em 5 minutos?

De maneira que esses apelos para céu e inferno, Deus ou diabo, prêmio ou

castigo, são educacionalmente nulos e totalmente ineficientes – talvez não para

os bobocas, mas para qualquer educando medianamente normal.

Se o educador moderno não descobrir outro motivo para levar o seu educando

a ser bom, perde o seu tempo e trabalho.

Que outro motivo haveria?

A nossa educação corriqueira e superficial não sabe a que outro motivo apelar.

O único motivo eficiente é o apelo à felicidade do próprio educando. Mas a

felicidade não é algo que alguém possa receber de presente, por obra e mercê

de terceiros, mas que ele mesmo tem de fazer.

Ser realmente feliz só é possível a quem esteja em harmonia com as leis da

natureza humana; quem não é amigo intransigente da verdade, da justiça, do

amor, da honestidade, da fraternidade, não pode ser feliz; mas que é amigo

Page 51: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

intransigente da verdade, da justiça, do amor, da honestidade, da fraternidade,

esse é profundamente feliz, embora talvez sofra por circunstâncias externas.

Ninguém pode evitar todos os sofrimentos, que nos vêm das adversidades da

natureza ou da perversidade dos homens; mas cada um pode ser feliz, porque

a felicidade (ou a infelicidade) vem da própria substância ou consciência do

homem. O homem feliz pode sofrer, o homem infeliz pode gozar; mas o

principal não é sofrer ou gozar, o principal é ser feliz, seja no sofrimento, seja

no gozo.

Enquanto o educador não convencer disto o seu educando, perde o seu tempo

e trabalho.

Felizmente, é possível educar o educando neste sentido; depende sobretudo

da experiência pessoal do educador; se o seu íntimo ser não for felicidade, o

seu dizer não convencerá o educando. Só um educador realmente bom é que é

feliz. Bom não quer dizer bonachão, nem bonzinho ou bom-bonzinho; bom é

viver em perfeita harmonia com as eternas leis da verdade, da justiça, do amor,

da honestidade, da fraternidade.

Quando o íntimo ser do educador for ser-bom e ser-feliz, o educando, cedo ou

tarde, sentirá, como que por osmose ou indução vital, o ambiente interno do

educador e terá vontade de ser bom e feliz também ele. Mas, se o educador

apela a belas teorias pedagógicas, de que estão repletos os nossos livros,

perderá o seu tempo e trabalho. Nenhum educando tem vontade de ser bom e

feliz porque seu educador leu e decorou tais e tais teorias modernas e

morderníssimas.

O segredo da educação, como se vê, é essencialmente uma questão de ser e

não de dizer, nem mesmo de saber. É uma questão de auto-educação, de

auto-realização.

Toda a teoria, toda a técnica, toda a tecnologia, que formam o cavalo de

batalha dos educadores modernos e moderníssimos, são pura camuflagem e

palhaçada.

É vital que o educador desista de qualquer apelo para prêmio e castigo

póstumo e faça ver ao educando que ele deve a si mesmo ser bom e feliz. Céu

e inferno não são lugares longínquos e póstumos, mas são o estado de

consciência do próprio educando. O seu céu portátil é a felicidade, o seu

inferno portátil é a infelicidade.

Um céu externo ou um inferno externo nada têm que ver com a educação.

Nunca nenhum defunto viu Deus nem o diabo, não está no céu nem num

inferno local, mas está dentro de si. O educando deve a si mesmo estar no céu

da sua felicidade, e não no inferno da sua infelicidade. Enquanto o homem não

Page 52: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

fizer esta experiência própria, não tem base para uma educação real e

eficiente.

***

Se, por um lado, as nossas teologias humanas são antipedagógicas e

antieducacionais, por outro lado o espírito do Evangelho do Cristo oferece ao

educador a mais poderosa alavanca para uma educação real e eficiente.

Consideremos apenas as palavras do Cristo sobre o “reino de Deus que está

no homem”, isto é, o germe divino que faz parte da natureza humana e que

deve ser despertado e desenvolvido pelo homem. Diz o mestre que este

germe, o reino de Deus no homem, é um “tesouro oculto” que deve ser

descoberto; que é uma “luz debaixo do velador” que deve ser posta no alto do

candelabro; que é como uma “pérola preciosa no fundo do mar” que deve ser

trazida à tona.

Que é tudo isto senão puro autoconhecimento e auto-realização?

O educador tem de mostrar ao seu educando que ele é essencialmente bom e

divino, e que deve fazer a sua existência humana tão boa como é a sua

essência divina. Esta tarefa nada tem que ver com prêmio ou castigo depois da

morte, mas com realização em plena vida. O tesouro oculto deve ser revelado,

aqui e agora a luz sob o velador opaco tem de ser posta no alto do candelabro

da vida diária, individual e social; e a pérola preciosa do espírito divino no

homem deve ser trazida à tona e brilhar ao sol de cada dia.

O educando deve compreender que ele deve a si mesmo ser bom e feliz, aqui

e agora, porque é isto a razão de ser da sua existência, o sentido real da sua

vida terrestre.

O educando não deve nada a Deus ou ao diabo, após a morte; deve tudo a si,

à sua auto-realização humana, aqui e agora. O seu céu ou seu inferno não são

fenômenos póstumos em zonas longínquas, o seu céu é ser bom e feliz, aqui e

agora e para sempre, isto é obra sua, eminentemente sua.

“Eu sou o senhor do meu destino – eu sou o comandante da minha vida”.

Page 53: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

LIBERDADE COM

RESPONSABILIDADE

Todo o ser livre é responsável pelos seus atos livremente cometidos – toda a

liberdade cria responsabilidade.

Nos seres da natureza infra-humana não há liberdade, e por isto não há

responsabilidade. Uma fera que mata um homem não se sente responsável por

esse homicídio, porque não agiu com liberdade.

Mas o homem que comete algo contra a sua consciência sente se culpado, tem

remorsos do seu ato. Esse senso de culpabilidade não é produto de uma falsa

educação, como querem certos autores, mas é a reação da própria natureza

humana, que se sabe livre para o bem e para o mal; mas a liberdade para o

mal gera o senso da culpa e cria remorsos.

A consciência do homem não é outra coisa senão a voz das leis cósmicas, que

dão liberdade ao homem para ser mau, mas exigem dele que seja livremente

bom.

Todo o homem não-adulterado em sua íntima natureza se sente responsável

por seus atos livremente cometidos.

E esse senso de responsabilidade cresce na razão direta da consciência da

liberdade. Quanto mais livre o homem for, tanto mais responsável se sente ele

por sua liberdade.

A consciência da responsabilidade é uma espécie de contrapeso à consciência

da liberdade.

Por mais que tentemos, não conseguiremos jamais matar totalmente a voz da

consciência, que é o eco das eternas leis cósmicas que regem o Universo.

O homem que tenta ser livre sem ser responsável tenta adulterar as leis

cósmicas, o que jamais conseguirá; pode suicidar-se, como Judas Iscariotes,

sob o peso dos remorsos, mas não consegue modificar a constituição infalível

do Universo, que no homem individual se chama consciência.

O homem sensato e sábio age livremente, sentindo-se constantemente

responsável por sua liberdade.

Page 54: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Compete ao educador consciencioso desenvolver no educando essa relação

entre liberdade e responsabilidade, que é o rim principal da verdadeira

educação.

Pode o homem instruído ser mau e infeliz – o homem educado é sempre

bom e feliz.

Page 55: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

GUERRA E PAZ

ENTRE O EGO E O EU

Diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita: “O ego é o pior inimigo do Eu, mas

o Eu é o melhor amigo do ego”.

Tentaremos concretizar graficamente estas relações entre os dois pólos da

natureza humana. Representamos o ego por uma linha horizontal e o Eu por

uma linha vertical. Da combinação desses dois símbolos podem resultar

diagramas vários, como sejam:

Na primeira figura o ego oprime o Eu, e o Eu suporta o ego, isto é, o ego

hostiliza o Eu, mas o Eu tolera ou mesmo ama o ego. Quer dizer que o ego

(inferior) odeia o Eu (superior), mas o Eu ama o ego, assim como o tolo não

compreende o sábio, mas o sábio compreende o tolo.

No segundo caso, a linha horizontal do ego desceu pela linha vertical do Eu e

forma com este uma cruz, por enquanto uma cruz telúrica, com o pé mais

comprido, símbolo do sofrimento. Houve pois uma crucificação do ego pelo Eu,

ou melhor, o ego se espetou no Eu, sofrendo uma dilaceração, enquanto a

linha vertical do Eu continua intacta.

No terceiro desenho, o ego desceu pela metade do Eu, formando as duas

linhas uma cruz cósmica, com os quatro braços iguais, que é o símbolo da

glória e da vida eterna. Neste caso, o Eu fez um tratado de paz com o ego; não

o expulsou de si, mas integrou em si, como faz todo o homem plenamente

realizado.

No primeiro caso, teríamos o símbolo da instrução triunfante e da educação

oprimida, estado esse em que se encontra a quase totalidade do gênero

humano: 90% de instrução e 10%, de educação, se tanto. Nenhum governo do

mundo se interessa realmente pela educação do Eu, mas tão-somente pela

Page 56: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

instrução do ego. Praticamente, nem é possível que um governo favoreça o Eu,

porque a tarefa da autoridade pública é meramente legal-social, e não

individual. Não interessa ao governo que o cidadão seja bom ou mau;

interessa-lhe que não faça o mal; nem o mesmo exige do cidadão que faça o

bem, mas simplesmente que evite o mal. Para o governo, é suficiente que o

cidadão não faça o mal, entendendo-se por bem ou mal o respeito ou

desrespeito à ordem legal e social vigentes no país. Enquanto o cidadão não

destrói ou prejudica o regime legal e a ordem social, é ele considerado um

“bom cidadão”. Esse “bom” se refere ao não fazer mal, não compreendendo

sequer o fazer bem, e menos ainda o “ser bom”, de que não cogita a

autoridade pública, consoante o texto do Direito Romano: “De intimis nen curat

praetor” (das coisas internas não se ocupa o magistrado).

Uma boa educação é para o governo aquela que respeita a ordem legal e

social, não a destruindo nem a prejudicando. Isto é educação cívica. Alguns

exigem também educação moral, incluindo na educação também o fazer o

bem. É isto que se chama educação em base filosófica.

As religiões organizadas parecem exigir do homem que, além de fazer o bem e

evitar o mal, também seja bom. Mas esse ser bom é simples camuflagem,

porque o ser bom exigido pelas religiões, como já dissemos, é um egoísmo

disfarçado, porquanto a chamada moral religiosa tem como motivos a

promessa de prêmio e a ameaça de castigo – prêmio e castigo, ainda que

póstumos, são motivos do ego, e nenhum ego pode deixar de ser egoísta. De

maneira que nem no plano religioso existe verdadeira idéia de educação, que

seria auto-educação, ou realização do Eu, auto-realização.

Aliás, nenhum governo pode interessar-se pela auto-realização individual, que

é da alçada do Eu individual, e não do ego social. O máximo que se requer do

ego é que evite o mal. Toda e qualquer sociedade é um produto do ego, e o

seu campo de ação é meramente produtivo, no plano horizontal do fazer, e não

creativo no plano vertical do ser.

A vertical creativa do ser é tarefa exclusiva do Eu individual e não do ego social

e seus derivados.

Para a sociedade não existe o Eu individual, porque a sociedade é um produto

do ego social.

Quando, anos atrás, foi publicado no Brasil o decreto-lei sobre uma base

filosófica da educação, aconteceu algo tão paradoxal como um círculo

quadrado – e a lei foi praticamente silenciada. A verdadeira educação no

sentido de auto-educação ou auto-realização não comporta essa base filosófica

social. Possivelmente a lei se referia a outra espécie de filosofia. A alo-

educação que interessa ao governo está invariavelmente na faixa do ego e da

lei, e não na do Eu e da justiça.

Page 57: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

O lema “summum ius summa inioria”, gravado no frontispício do fórum de

Santa Maris (RS), é o perfeito paralelo às citadas palavras da Bhagavad Gita,

“o ego é o pior inimigo do Eu”; o ego só quer o “ius”, o direito, que, segundo o

lema citado, é a maior “iniaria” ou injustiça. O direito é do ego – a justiça é do

Eu.

Alo-educação corresponde ao direito do ego; auto-educação representa a

justiça do Eu. A justiça do ser bom é essencialmente creativa, ao passo que o

direito de fazer o bem é meramente produtivo. A creatividade se refere ao

sujeito do Eu, a produtividade refere-se aos objetos do ego; mesmo ao objeto

pessoal, que é o próprio ego, e que, por sua vez, produz os objetos

impessoais, que lhe dão segurança e garantia.

A educação, como ela é entendida pelos governos, tem por fim manter e

garantir a segurança nacional e a ordem social, que interessa ao ego. A

verdadeira auto-educação é creadora. Indiretamente, sim, essa creatividade

pode também favorecer a produtividade, mas não há um nexo causal e direto

entre a creatividade e produtividade. Às vezes, a creatividade do Eu é

flagrantemente improdutiva, e até antiprodutiva.

Quando o homem realiza plenamente o seu ser bom, então a sua plenitude

transborda na forma de fazer bem, queira ou não queira ele.

Voltando ao diagrama inicial, podemos dizer que o Eu e o ego, quando chegam

a formar a cruz cósmica da educação, beneficiam grandemente a cruz telúrica

da instrução. O ser bom próprio beneficia o fazer bem alheio.

Quando o grande iniciado hindu Ramana Maharishi foi interrogado sobre qual o

melhor modo de fazer bem à humanidade, respondeu ele: “O maior bem que

podeis fazer à humanidade é a vossa própria auto-realização.

O fim da educação é crear o homem integral.

Page 58: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

DE ONDE VÊM A PERDIÇÃO E A

SALVAÇÃO DO HOMEM?

Quase todos nós fomos educados na idéia de que, no princípio, houve uma

“queda” trágica do homem, provocada pelo diabo. Quer dizer, que o homem

primitivo foi vítima de uma perdição vinda de fora.

Foi-nos dito também que, depois desta queda, teria Deus prometido mandar à

humanidade um salvador, o Cristo, que livraria o homem dessa suposta queda.

Seria pois uma alo-salvação, neutralizando uma alo-perdição.

Deste modo, seria o homem um joguete manipulado por duas forças adversas:

o diabo da perdição e o Cristo da salvação.

Se assim fosse, não existiria tal coisa como o livre-arbítrio próprio, responsável

tanto pela perdição como pela salvação do homem. O homem seria apenas um

objeto passivo, e não o sujeito ativo do seu destino bom ou mau.

Nós sabemos, porém, que o homem é o senhor do seu destino e o comandante

da sua vida como diz um filósofo-poeta; que Deus creou o homem o menos

possível para que o homem se possa crear o mais possível, no dizer de um

pensador moderno.

Perdição e salvação não acontecem ao homem pelo favor ou desfavor das

circunstâncias más (diabo) ou das circunstâncias boas (Cristo); perdição e

salvação provêm da íntima substância do próprio homem, isto é, só existe auto-

perdição e auto-salvação.

Se o homem fosse um joguete passivo, ou uma bola chutada pelas

circunstâncias externas, inútil seria toda a tentativa de educação, e teriam

razão certos psicólogos modernos que afirmam que o homem é produto do

meio; que o meio bom faz o homem bom, e o meio mau faz o homem mau.

Neste caso, não deveríamos tentar educar o homem, mas modificar as

circunstâncias externas; nada teríamos que eduzir do homem, como a

educação pretende, mas simplesmente modificar o ambiente.

Na realidade, não houve, no princípio da humanidade, uma alo-perdição, nem

houve depois uma alo-salvação. A perdição e a salvação vêm da própria

substância do homem, que é a sua consciência, o seu livre-arbítrio, que o torna

mau ou bom.

Page 59: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Esta atuação dúplice do homem é possível, porque a natureza humana é

bipolar, negativa-positiva, como são, aliás, todas as coisas da natureza.

Esses dois pólos da natureza humana – que a filosofia antiga chama Aham e

Atmam, e a psicologia moderna denomina ego e Eu – não são contrários ou

antagônicos, mas complementares e mutuamente compatíveis.

O antagonismo do negativo e do positivo é aparente, a compatibilidade é real.

Toda a educação consiste, em última análise, em levar o educando a

estabelecer em si a complementação ou síntese do seu ego e do seu Eu, que

parecem antíteses, mas podem e devem constituir a grande síntese da vida

humana.

A realização do homem integral consiste no descobrimento e realização da

harmonia entre os dois pólos da natureza humana.

Por isto, o homem integral não é espiritualista, nem materialista, nem tampouco

mentalista; o homem integral é o homem que tem a nítida consciência, e

subseqüente vivência, de que ele é uma creatura creadora, que se pode fazer

atualmente bom pela síntese das suas potencialidade sintetizáveis, que, ao

ignorante, parecem antíteses inconciliáveis.

Autoconhecimento e auto-realização são a chave da verdadeira educação.

As circunstâncias externas podem dificultar, como também facilitar, a

realização do homem integral, mas não a podem jamais impossibilitar. De

resto, o próprio Cristo nunco afirmou que ele veio para nos fazer bons ou

justos; toda a sua doutrina gira em torno da possibilidade de o homem se tornar

bom ou mau. Ele, com o exemplo da sua própria vida, provou que o homem se

pode tornar integralmente bom, apesar das circunstâncias adversas.

A idéia de uma alo-perdição ou alo-salvação, que domina as teologias, é

visceralmente antipedagógica e antieducativa. Somente a verdade sobre a

natureza humana e sua realização pode tornar possível uma educação

eficiente.

Ninguém pode educar alguém, alguém só pode educar-se a si mesmo

Page 60: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

AMOR À NATUREZA

É inexplicável o instinto de destruição que domina certos meninos.

Se encontram uma árvore recém-plantada à beira da rua, têm de quebrá-la ou

arrancá-la.

Se passam diante de uma janela de vidro, têm de jogar pedras na vidraça.

Se encontram um muro recém-pintado, têm de sujá-lo com seu nome e/ou o

nome de sua namorada – nome de louco em cada toco...

O respeito ou desrespeito à natureza e ao ambiente são indícios do caráter da

pessoa.

Em face dessa mania de destruição que observo em tantos meninos, pergunto

a mim mesmo: por que esse ódio a quem nunca lhe fez mal?

Disse-me alguém que é uma vingança instintiva, uma reação de ódio

recalcado. Mas ódio a quem?

Sentimentos inconsciêntes não tem explicação. Parece que a educação

religiosa que muitos recebem na infância gera um senso de revolta, de protesto

tácito, de mania de vingança.

Nunca tive essa mania de destruição, mas fui rememorando o que me

aconteceu mais de meio século atrás, e que bem poderia ter criado em mim

essa revolta inconsciente. O Deus que eu conheci em criança era um Deus de

temor, e não de amor. Foi-me dito que eu devia temer a Deus, que os homens

tementes a Deus eram os santos. Imaginava que Deus devia ser um papão

perigoso para ser tão temido.

Hoje me lembro do que aconteceu a Voltaire, chamado o pai do ateísmo;

perguntado porque não aceitava Deus, respondeu: não posso aceitar um Deus

a quem não posso amar; o Deus que me ensinaram deve ser temido, e, porque

não o quero temer, prefiro ignorá-lo – é o que eles chamam meu ateísmo.

Lembro-me dos meus oito anos, quando uma professora piedosa e piegas me

preparava para a primeira comunhão. Disse-me que eu não devia calar

nenhum pecado mortal na confissão, porque isto era sacrilégio. Eu não sabia

bem o que queria dizer sacrilégio, mas palavra tão feia só podia ser coisa ruim.

E, para não cometer o tal sacrilégio, fui copiar do meu catecismo todos os

pecados que lá estavam enumerados contra os dez mandamentos – muitas

Page 61: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

dúzias, e muitos deles mortais. Levei comigo para o confessionário, inclusive

os meus homicídios contra o 5- mandamento e os meus adultérios contra o 6-

mandamento. Felizmente, o confessor, vendo um garotinho através da grade

do confessionário, não tomou a sério os meus homicídios e adultérios, e me

absolveu de tudo. Retirei-me, aliviado, e sem nenhum sacrilégio na

consciência, porque dizer pecados demais não podia ser sacrilégio; a

professora só dissera que eu não devia calar um pecado mortal. E, certamente,

Deus teria pena de mim por eu me ter feito mais pecador do que era.

Veio depois o tormento da minha primeira comunhão. A professora piedosa me

previnira severamente que eu não devia mastigar a hóstia sagrada, que era o

corpo de Jesus, e, para evitar tamanho sacrilégio, cortei em casa, uma série de

hóstis de papel e as fui engolindo cuidadosamente, sem as morder nem

encostar nos dentes. E, com tão cuidadoso ensaio, julgo não ter cometido

sacrilégios no dia da minha primeira comunhão.

Por muitos anos, durante a minha adolescência, só conheci, como Voltaire, um

Deus e um Cristo que deviam ser temidos. Não sei se não cheguei a odiar

secretamente esse papão do além...

Será que a revolta que muitos meninos têm contra as coisas inocentes da

natureza de Deus não revela uma revolta inconsciente contra o Deus da

natureza? Um complexo, um traumatismo, um recalque, como dizem os

eruditos?

Quem aprendeu a amar o Deus da natureza, ama também a natureza de Deus.

Naturalmente, não um Deus ausente e distante em algum céu longínquo, mas

um Deus presente em todas as suas creaturas, pequenas e grandes,

conscientes ou inconscientes. Por mais que os além-nistas afirmem que Deus

só está no céu, a alma cristã por sua própria natureza é aquém-nista e advinha

Deus em todas as coisas da terra, da água e do ar. Naturalmente, não um

Deus pessoal, tipo Papai Noel, mas um Deus em espírito e verdade, como dizia

o Divino Mestre, um Deus onipresente, sempre presente e nunca ausente.

Uma educação baseada na consciência da natureza de Deus e do Deus da

natureza já é uma educação religiosa, mesmo fora de qualquer “religião”.

Einstein, o maior matemático do século, e talvez de todos os tempos, diz de si

mesmo que ele era um homem “profundamente religioso”, porque via Deus em

todas as coisas do Universo.

Não adianta acoimar essa cosmo-vidência de “panteismo”; o certo é que todos

os homens realmente bons e felizes tinham e têm essa vidência, consciente ou

inconscientemente.

Page 62: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

A nossa educação religiosa devia insistir menos num suposto Deus pessoal, e

mais em levar o educando a ver Deus em tudo e tudo em Deus. E a plenitude

do amor a Deus levaria espontaneamente ao amor da natureza.

Santo Antão, do Egito, fugiu para o deserto da Tebaida – com medo do inferno.

Santa Teresa de Ávila fugiu para um convento – com medo de Deus.

Quando compreenderão os cristãos as palavras do Cristo: “Amarás o senhor

teu Deus com toda a tua alma, com toda a tua mente, com todo o teu coração e

com todas as tuas forças?

Antes de educar os outros, deve o homem educar a si mesmo.

Page 63: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

O PROBLEMA PARADOXAL DA EDUCAÇÃO

A CRISE EXISTENCIAL DO HOMEM MODERNO

VISÃO PANORÂMICA DA EXISTÊNCIA TOTAL

INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO

O QUE O EDUCADOR DEVE EDUZIR DO EDUCANDO

VALORES VALORIZANDO OS FATOS

DEVE O EDUCADOR CASTIGAR?

É POSSÍVEL A EDUCAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL?

DEVE O EDUCADOR FALAR EM DEUS?

A MEDITAÇÃO FAVORECE A EDUCAÇÃO?

ORIGEM E NATUREZA DO HOMEM

POR QUE O HOMEM ESTÁ NA TERRA?

FALÊNCIA DA EDUCAÇÃO BASEADA EM PRÊMIO E CASTIGO

TEOLOGIAS ANTIEDUCACIONAIS

COBAÍSMO EDUCACIONAL

DISPERSIVIDADE E CENTRALIDADE

POR QUE DEVE O HOMEM SER BOM

EDUCAÇÃO REAL E EFICIENTE

LIBERDADE COM RESPONSABILIDADE

GUERRA E PAZ ENTRE O EGO E O EU

DE ONDE VÊM A PERDIÇÃO E A SALVAÇÃO DO HOMEM?

Page 64: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

AMOR À NATUREZA

Page 65: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

HUBERTO ROHDEN

VIDA E OBRA

Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil

em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia

e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg

(Holanda) e Nápoles (Itália).

De regresso ao Brasil, trabalhou como professor, conferencista e escritor.

Publicou mais de 65 obras sobre ciência, filosofia e religião, entre as quais

várias foram traduzidas para outras línguas, inclusive para o esperanto;

algumas existem em braile, para institutos de cegos.

Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e

dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.

De 1945 a 1946 teve uma bolsa de estudos para pesquisas científicas, na

Universidade de Princeton, New Jersey (Estados Unidos), onde conviveu com

Albert Einstein e lançou os alicerces para o movimento de âmbito mundial da

Filosofia Univérsica, tomando por base do pensamento e da vida humana a

constituição do próprio Universo, evidenciando a afinidade entre Matemática,

Metafísica e Mística.

Em 1946, Huberto Rohden foi convidado pela American University, de

Washington, D.C., para reger as cátedras de Filosofia Universal e de Religiões

Comparadas, cargo esse que exerceu durante cinco anos.

Page 66: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

Durante a última Guerra Mundial foi convidado pelo Bureau of lnter-American

Affairs, de Washington, para fazer parte do corpo de tradutores das notícias de

guerra, do inglês para o português. Ainda na American University, de

Washington, fundou o Brazilian Center, centro cultural brasileiro, com o fim de

manter intercâmbio cultural entre o Brasil e os Estados Unidos.

Na capital dos Estados Unidos, Rohden frequentou, durante três anos, o

Golden Lotus Temple, onde foi iniciado em Kriya Yôga por Swami

Premananda, diretor hindu desse ashram.

Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado

para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University

(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e

Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade

japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi

nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não

tomou posse.

Em 1952, fundou em São Paulo a Instituição Cultural e Beneficente Alvorada,

onde mantinha cursos permanentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia,

sobre Filosofia Univérsica e Filosofia do Evangelho, e dirigia Casas de Retiro

Espiritual (ashrams) em diversos Estados do Brasil.

Em 1969, Huberto Rohden empreendeu viagens de estudo e experiência

espiritual pela Palestina, Egito, Índia e Nepal, realizando diversas conferências

com grupos de yoguis na Índia.

Em 1976, Rohden foi chamado a Portugal para fazer conferências sobre

autoconhecimento e auto-realização. Em Lisboa fundou um setor do Centro de

Auto-Realização Alvorada.

Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia

alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos

definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com

a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.

Quando estava na capital, Rohden frequentava periodicamente a editora

responsável pela publicação de seus livros, dando-lhe orientação cultural e

inspiração.

À zero hora do dia 8 de outubro de 1981, após longa internação em uma clínica

naturista de São Paulo, aos 87 anos, o professor Huberto Rohden partiu deste

mundo e do convívio de seus amigos e discípulos. Suas últimas palavras em

estado consciente foram: “Eu vim para servir à Humanidade”.

Rohden deixa, para as gerações futuras, um legado cultural e um exemplo de

fé e trabalho, somente comparados aos dos grandes homens do século XX.

Page 67: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

RELAÇÃO DE OBRAS DO PROF.

HUBERTO ROHDEN

COLEÇÃO FILOSOFIA UNIVERSAL:

O PENSAMENTO FILOSÓFICO DA ANTIGUIDADE

A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

O ESPÍRITO DA FILOSOFIA ORIENTAL

COLEÇÃO FILOSOFIA DO EVANGELHO:

FILOSOFIA CÓSMICA DO EVANGELHO

O SERMÃO DA MONTANHA

ASSIM DIZIA O MESTRE

O TRIUNFO DA VIDA SOBRE A MORTE

O NOSSO MESTRE

COLEÇÃO FILOSOFIA DA VIDA:

DE ALMA PARA ALMA

ÍDOLOS OU IDEAL?

ESCALANDO O HIMALAIA

O CAMINHO DA FELICIDADE

DEUS

EM ESPÍRITO E VERDADE

EM COMUNHÃO COM DEUS

Page 68: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

COSMORAMA

PORQUE SOFREMOS

LÚCIFER E LÓGOS

A GRANDE LIBERTAÇÃO

BHAGAVAD GITA (TRADUÇÃO)

SETAS PARA O INFINITO

ENTRE DOIS MUNDOS

MINHAS VIVÊNCIAS NA PALESTINA, EGITO E ÍNDIA

FILOSOFIA DA ARTE

A ARTE DE CURAR PELO ESPÍRITO. AUTOR: JOEL GOLDSMITH

(TRADUÇÃO)

ORIENTANDO

“QUE VOS PARECE DO CRISTO?”

EDUCAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL

DIAS DE GRANDE PAZ (TRADUÇÃO)

O DRAMA MILENAR DO CRISTO E DO ANTICRISTO

LUZES E SOMBRAS DA ALVORADA

ROTEIRO CÓSMICO

A METAFÍSICA DO CRISTIANISMO

A VOZ DO SILÊNCIO

TAO TE CHING DE LAO-TSÉ (TRADUÇÃO)

SABEDORIA DAS PARÁBOLAS

O QUINTO EVANGELHO SEGUNDO TOMÉ (TRADUÇÃO)

A NOVA HUMANIDADE

A MENSAGEM VIVA DO CRISTO (OS QUATRO EVANGELHOS TRADUÇÃO)

RUMO À CONSCIÊNCIA CÓSMICA

O HOMEM

Page 69: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

ESTRATÉGIAS DE LÚCIFER

O HOMEM E O UNIVERSO

IMPERATIVOS DA VIDA

PROFANOS E INICIADOS

NOVO TESTAMENTO

LAMPEJOS EVANGÉLICOS

O CRISTO CÓSMICO E OS ESSÊNIOS

A EXPERIÊNCIA CÓSMICA

COLEÇÃO MISTÉRIOS DA NATUREZA:

MARAVILHAS DO UNIVERSO

ALEGORIAS

ÍSIS

POR MUNDOS IGNOTOS

COLEÇÃO BIOGRAFIAS:

PAULO DE TARSO

AGOSTINHO

POR UM IDEAL – 2 VOLS. AUTOBIOGRAFIA

MAHATMA GANDHI

JESUS NAZARENO

EINSTEIN – O ENIGMA DO UNIVERSO

PASCAL

MYRIAM

COLEÇÃO OPÚSCULOS:

SAÚDE E FELICIDADE PELA COSMO-MEDITAÇÃO

Page 70: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral

CATECISMO DA FILOSOFIA

ASSIM DIZIA MAHATMA GANDHI (100 PENSAMENTOS)

ACONTECEU ENTRE 2000 E 3000

CIÊNCIA, MILAGRE E ORAÇÃO SÃO COMPATÍVEIS?

CENTROS DE AUTO-REALIZAÇÃO

Page 71: Huberto Rohden - Educação do Homem Integral