hÉrnia inguino-escrotal em ovinos

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC JOSÉ FERREIRA DA FONSÊCA NETTO RODRIGO CASTRO RIBEIRO LEITE HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS: relato de caso MACEIÓ - AL 2018/02

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Page 1: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

JOSÉ FERREIRA DA FONSÊCA NETTO

RODRIGO CASTRO RIBEIRO LEITE

HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS: relato de caso

MACEIÓ - AL 2018/02

Page 2: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

JOSÉ FERREIRA DA FONSÊCA NETTO

RODRIGO CASTRO RIBEIRO LEITE

HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS: relato de caso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito final, para conclusão do curso de Medicina

Veterinária do Centro Universitário Cesmac, sob

orientação da professora Ma. Fernanda Pereira da

Silva Barbosa e coorientação do professor PhD. Saulo

de Tarso Gusmão da Silva.

MACEIÓ - AL 2018/02

Page 3: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

REDE DE BIBLIOTECAS CESMAC

SETOR DE TRATAMENTO TÉCNICO

Bibliotecário: Evandro Santos Cavalcante – CRB/4 - 1700

F673h Fonseca Netto, José Ferreira da

Hérnia inguino-escrotal em ovinos: relato de caso / José Ferreira da Fonseca Netto, Rodrigo Castro Ribeiro Leite .- Maceió: 2018.

18 f.

TCC (Graduação em Medicina Veterinária) – Centro Universitário CESMAC, Marechal Deodoro, AL, 2018

Orientadora: Fernanda Pereira da Silva Barbosa

1. Hérnia. 2. Escroto. 3. Herniorrafia. I. Barbosa, Fernanda

Pereira da Silva. II. Leite, Rodrigo Castro Ribeiro. III. Titulo.

CDU: 619:636.3

Page 4: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

JOSÉ FERREIRA DA FONSÊCA NETTO

RODRIGO CASTRO RIBEIRO LEITE

HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS: relato de caso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito final, para conclusão do curso de Medicina

Veterinária do Centro Universitário Cesmac, sob

orientação da professora Ma. Fernanda Pereira da

Silva Barbosa e coorientação do professor PhD. Saulo

de Tarso Gusmão da Silva.

APROVADO EM: 06/11/2018

Profa. Ma. Fernanda Pereira da Silva Barbosa

BANCA EXAMINADORA

Profa. Ma. Muriel Magda Lustosa Pimentel

Profa. Ma. Lígia Buzzá Roo de Mendonça Câmara

Page 5: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao nosso Deus que sempre nos conduziu mediante a fé que

temos nele, por ser nosso porto seguro, em horas de alegrias e angústias, e por nunca

nos desamparar.

A orientadora, Professora Ma. Fernanda Pereira da Silva Barbosa, pelas

reflexões, por apresentar e estimular um conhecimento ímpar, de modo estruturado e

coeso, nos auxiliando valiosamente. Agradecemos também ao Professor PhD. Saulo

de Tarso Gusmão da Silva, que se fez presente durante nossa formação como um

companheiro, amigo e incentivador não só em nossa vida acadêmica, mas também

em nossa vida profissional.

Queremos agradecer a banca avaliadora por ter aceito o convite para correção

e avaliação desse trabalho, temos certeza que a contribuição de vocês será de

fundamental importância para o engrandecimento do mesmo.

A todos os amigos que fizeram parte dessa caminhada, que estiveram juntos

desde o começo, especialmente Ana Katharina, Keven Djalma, Italo Reis, João Góes,

Ruan Soares e Walber Vítor.

Em especial agradecemos a nossa família, por sua capacidade de acreditar е

investir em nós. As nossas Mães, pelo cuidado е dedicação eram e são a base para

ter esperança e seguirmos de cabeça erguida. Aos nossos Pais, onde sυа presença

significou segurança е certeza de qυе não estamos sozinhos nessa e em qualquer

outra caminhada.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, o

nosso muito obrigado.

Page 6: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS: relato de caso INGUINE-ESCROTAL HERNIA IN SHEEP: case report

José Ferreira da Fonsêca Netto

Graduando do Curso de Medicina Veterinária [email protected]

Rodrigo Castro Ribeiro Leite Graduando do Curso de Medicina Veterinária

[email protected] Fernanda Pereira da Silva Barbosa

Ma. em Ciência Veterinária [email protected]

Saulo de Tarso Gusmão da Silva PhD. em Agricultural Sciences

[email protected]

RESUMO Entende-se por hérnia como uma protrusão do conteúdo de uma cavidade do corpo, através de abertura congênita ou adquirida, podendo ser classificada de várias formas dependendo da sua estrutura, alteração funcional, conteúdo e anatomia. Diversos tipos de hérnias podem acometer ovinos, sendo umas delas à hérnia inguino-escrotal que é pouco relatada. Este presente trabalho tem como objetivo relatar dois casos de hérnia inguino-escrotal em ovinos da raça dorper, oriundos do mesmo plantel localizados no estado de Alagoas, que deram entrada na Clínica de Grandes Animais do Hospital Escola do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac em Marechal Deodoro-AL. Um dos animais foi encaminhado à clínica para realização da herniorrafia, e o outro apenas para acompanhamento do pós-cirúrgico, onde ambos receberam os devidos cuidados. A execução do tratamento cirúrgico está ligada ao valor zootécnico do animal, sendo às vezes inviável optar pela correção cirúrgica já que se trata de um animal de produção. Porém quando decidido realizar a herniorrafia, os resultados são na maioria dos casos favoráveis, sempre levando em consideração a escolha da técnica certa, além dos cuidados necessários no pré, trans e pós cirúrgico.

PALAVRAS-CHAVE: Hérnia. Escroto. Herniorrafia. ABSTRACT Hernia is understood as a protrusion of the contents of a body cavity, through congenital or acquired opening, and can be classified in various forms depending on its structure, functional alteration, content and anatomy. Several types of hernias can affect sheep, one of which is the inguino-scrotal hernia that is little reported. This paper aims to report two cases of inguino-scrotal hernia in dorper sheep, from the same school located in the state of Alagoas, which were admitted to the Clinic of Large Animals of the School Hospital of the Veterinary Medicine Course of the Centro Universitário Cesmac in Marechal Deodoro-AL. One of the animals was referred to the clinic for herniorrhaphy, and the other one was used only for post-surgical follow-up, where both were given the necessary care. The execution of the surgical treatment is linked to the zootechnical value of the animal, and it is sometimes impracticable to opt for surgical correction since it is a production animal. However, when deciding to perform herniorrhaphy, the results are in most cases favorable, always taking into account the choice of the right technique, as well as the necessary care in the pre, trans and postoperative periods.

KEYWORDS: Hernia. Scrotum. Herniorraphy.

Page 7: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6 2 RELATO DE CASO ................................................................................................. 8 3 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 13 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 16 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 17

Page 8: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos de forma precoce a pecuária passou por transformações no

setor agrário. Com a alta na produção seguida dos avanços tecnológicos (DE TARSO;

OLIVEIRA; AFONSO, 2016) houve um avanço progressivo na economia mundial de

alimentos provenientes de animais. No entanto, se faz necessário que a produção

pecuária existente dobre para que no futuro se alcance a demanda de produtos de

origem animal planejada (DELGADO et al., 2001; ALEXANDRATOS; BRUINSMA,

2012; GEROSA; SKOET, 2012).

Durante o período de 1950 a 2001, houve uma mudança significativa no

crescimento da população mundial de 2,5 bilhões para 6,1 bilhões e cresce a cada

dia. Simultaneamente o rebanho de ruminantes passou de 720 milhões para 1,53

bilhões (FAO/AIE, 2005). O consumo da proteína animal através da carne bovina

corresponde a 22,5% (BRADESCO, 2017). Sendo destaque na produção Estados

Unidos com 19,2%, o Brasil 13,2%, seguido da União Europeia e China com 13,0% e

11,5% respectivamente (USDA, 2009; BRADESCO, 2017).

O Brasil possui um rebanho de 18,43 milhões de ovinos em todo o seu território,

onde destaca-se a Região Nordeste com 63% desses animais, seguido da Região Sul

com 23,9% do efetivo da espécie (IBGE, 2016), acompanhadas pelas Regiões Centro-

Oeste 5,6%, Sudeste 3,8% e Norte 3,6% (IBGE, 2015). Esses rebanhos apresentam

algumas diferenças, considerando os sistemas de exploração que são utilizados e as

características raciais. No Rio Grande do Sul devido ao clima subtropical a criação

ovina é destinada a produção de lã e carne, entretanto no Nordeste por apresentar o

clima tropical e os ovinos em sua maioria são deslanados, sua produção é voltada

para carne e pele (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA; ALVES, 2009).

Diante desse cenário econômico, uma das causas de perda que reflete na

economia produtiva está relacionada com o manejo sanitário do rebanho

(ALBUQUERQUE; OLIVEIRA; ALVES, 2009), que visa controlar ou eliminar doenças

preservando a saúde dos animais buscando potencializar a rentabilidade e índices

produtivos (EMPARN, 2006). Dentre os principais problemas acometidos estão a

mastite, ectima contagioso, linfadenite caseosa, mortalidade dos cordeiros,

coccidioses, fotossensibilização, pododermatite, clostridiose, toxemia da gestação e

as verminoses (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA; ALVES, 2009).

6

Page 9: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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No sistema de produção dos pequenos ruminantes desafios de diversas ordens

necessitam de soluções imediatas como implementação nas práticas reprodutivas,

sanitárias, nutricionais, no melhoramento genético e nos cuidados na criação em

sistema de intensificação dos animais, elevando a produtividade e eficiência produtiva

(ALBUQUERQUE; OLIVEIRA; ALVES, 2009).

Dentre as enfermidades que causam defeitos morfológicos ou falhas ligadas ao

período de desenvolvimento embrionário e/ou puberdade, as hérnias assumem uma

casuística importante. Segundo Silva et al. (2012) a hérnia é uma protrusão do

conteúdo de uma cavidade do corpo, através de abertura congênita ou adquirida,

podendo ser classificada conforme a estrutura, alteração funcional, conteúdo e

anatomia. As hérnias frequentemente encontradas nos animais domésticos são hérnia

inguinal, hérnia diafragmática, hérnia abdominal traumática, hérnia umbilical, hérnia

perineal, hérnia incisional, hérnia escrotal e hérnia hiatal (SOUZA, et al., 2013).

Em pequenos ruminantes a hérnia escrotal é pouco relatada, são

desenvolvidas a partir do agravamento e extensão da hérnia inguinal. Ela ocorre

quando os órgãos abdominais são projetados através da dilatação do anel inguinal

para dentro do escroto (RADISIC, et al., 2010). A baixa incidência das hérnias

escrotais se dá devido às características anatômicas da região. Há um estreitamento

natural dentro da túnica vaginal exatamente na base do escroto (GILBERT; FUBINI,

2004). A doença foi descrita em algumas raças de carneiros, como Sulfoolk, Merino,

Naimi e Hampshire (RADISIC, et al., 2010).

A hérnia inguino-escrotal está associada, principalmente, à traumas causados

nessa região, embora possa manifestar-se através de uma anormalidade congênita

(FOSSUN, 2015), onde achados na necropsia foram diagnosticados em algumas

raças. Pouco se sabe a respeito da herdabilidade dessa patologia em ovinos

(RADISIC, et al., 2010). Essa enfermidade geralmente é unilateral, ocorrendo mais

comumente no lado esquerdo do escroto. Possivelmente esteja relacionado com a

posição anatômica do rúmen e seu peso, aliado à forma com que esses animais se

deitam de modo esternal, com a perna traseira tracionada, ocasionando uma maior

pressão. Por ser uma doença de característica crônica pode ocasionar uma alteração

na função de termorregulação do escroto, bem como na qualidade e característica do

sêmen, interferindo nas taxas reprodutivas (GILBERT; FUBINI, 2004).

Devido à escassez de relatos da ocorrência de hérnia inguino-escrotal presente

em pequenos ruminantes e de sua importância na ovinocultura, esse trabalho teve por

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objetivo descrever dois casos de hérnia inguino-escrotal, em dois ovinos machos, da

raça Dorper, entre 2,5 e 03 anos de idade, proveniente Maceió-AL, internado no setor

de Grandes Animais da Clínica Escola do Curso de Medicina Veterinária do Centro

Universitário Cesmac de Marechal Deodoro-AL.

2 RELATO DE CASO

Caso 1:

Um ovino da raça Dorper, macho, com aproximadamente dois anos e meio de

idade deu entrada na Clínica de Grandes Animais do Centro Universitário Cesmac de

Marechal Deodoro-AL, com a queixa de aumento de volume na região escrotal há

mais ou menos 15 dias.

No exame clínico foi observado os seguintes parâmetros: Frequência cardíaca:

42 bpm; Frequência respiratória 88 mrpm; Movimentos ruminais: Normais e

Temperatura: 39,5°C.

Durante a realização do exame físico, observou-se uma dilatação do canal

espermático esquerdo, o testículo deste mesmo lado apresentava uma compressão

por um conteúdo consistente, sem aderência, levemente rotacionado para a região

medial e sem alteração de temperatura. O animal ainda apresentava uma diminuição

na frequência e quantidade de fezes. O testículo contralateral possuía uma

consistência fisiológica e estava livre durante a palpação (Figura1).

Figura 1 - (a) e (b) Aumento de volume na bolsa escrotal esquerda de consistência amolecida. Fonte: Arquivo CESMAC, 2018.

8

(a) (b)

Page 11: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

9

No achado laboratorial de acordo com a (Tabela 1) foram encontrados os

seguintes resultados:

Tabela 1 – Hemograma + Fibrinogênio + Plaquetometria

ERITROGRAMA LEUCOGRAMA

Hemácias: 6,25 106/µl Leucócitos: 5.800

Hemoglobina: 9,1 g/dl Segmentados: 62%

Hematócrito: 25% Linfócitos: 31%

Plaquetas: 262.500 µl Monócitos: 4%

PPT: 7,0 g/dl Eosinófilos: 3%

Fibrinogênio: 800 mg/dl

Fonte: Laboratório de Análises Clínica CESMAC

O animal apresentava anemia normocítica normocrômica; Leucometria global

dentro do valor referencial, apresentando linfopenia; Plaquetometria dentro do valor

refencial; Proteína plasmática total (PPT) dentro do valor referencial e

hiperfibrinogenemia.

O exame ultrassonográfico foi realizado com transdutor linear, configurada para

5,0 MHz utilizando um equipamento (MylabFive, Esaote, Brasil) e ajuste de ganho

específicos para avaliação do trato reprodutivo. Ao exame revelou estrutura tubular

apresentando estratificação de parede, conteúdo hiperecogênico, apresentando

discreta motilidade, imagem esta, compatível com alça intestinal. Foi observado ainda

que a avaliação do testículo contralateral não apresentou alterações visíveis do

parênquima testicular, sendo observado livre dentro do escroto (Figura 2).

Figura 2 – (a) Utrassonografia do testículo esquerdo em escala de cinza demonstrando segmentos de alças intestinal. (b) Ultrassonografia em modo Doppler demonstrando a irrigação do plexo pampiniforme no escroto. Fonte: Arquivo CESMAC, 2018

9

(a) (b)

Page 12: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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Durante o exame andrológico o animal apresentou bom libido, porém não

respondeu bem ao uso da vagina artificial, não obtendo ejaculado para avaliação

espermática. Após os exames realizados foi indicada a herniorrafia inguino-escrotal.

Onde o animal ficou em jejum hídrico e sólido de 12 horas, com tricotomia ampla na

região operatória, antissepsia com álcool iodado a 5%, seguido de anestesia local a

base de lidocaína 2% com vasoconstritor 20ml e sem vasoconstritor 5ml (Figura 3).

Figura 3 – (a) Animal sedado. (b) Animal sendo encaminhado para o centro cirúrgico. (c) Animal em manutenção anestésica via inalatória e sendo feito anestesia local. (d) Incisão e divulsionamento na região inguino-escrotal. Fonte: Arquivo CESMAC, 2018.

Realizado todos os cuidados pré-operatórios necessários, após MPA com

Midazolan EV e manutenção anestésica via inalatória com Isofluorano, uma incisão e

divulsionamento na região inguino-escrotal detectou conteúdo herniário com

segmentos de alça intestinal dentro da túnica vaginal (Figura 3). O anel inguinal estava

enlarguecido, medindo aproximadamente 8cm de diâmetro. A túnica vaginal foi aberta,

o conteúdo foi reduzido à cavidade e o testículo esquerdo que estava rotacionado em

cerca de 180°, foi retirado com auxílio de emasculador (Figura 4 e 5).

10

(a) (c)

(b) (d)

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Figura 4 – (a) Exposição da túnica vaginal e torção manual. (b) Forçando o material intestinal a retornar ao interior abdominal. Fonte: Arquivo CESMAC, 2018

Figura 5 – (a) Abertura de túnica vaginal, exposição do testículo esquerdo. (b) Orquiectomia unilateral utilizando o emasculador. Fonte: Arquivo CESMAC, 2018.

Optou-se pela orquiectomia unilateral devido à grande área de redução,

diminuindo assim as chances de recidiva de herniação. O anel herniário foi fechado

com padrão simples embricado, usando fio polipropileno n°0, tomando-se o cuidado

de deixar passagem para a ártéria inguinal esquerda. Após abolição do espaço morto

e dermorrafia, o animal levantou-se prontamente, voltando a se alimentar (Figura 6).

Figura 6 – (a) Herniorrafia do anel inguinal com padrão embricado lateral de Mayo. (b) Aspecto final da região escrotal. Fonte: Arquivo CESMAC, 2018.

11

(a) (b)

(a) (b)

(a) (b)

Page 14: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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A recuperação total do animal se deu em dez dias após a cirurgia. No pós

operatório foi feita antibióticoterapia com 1,6 mg/kg de Ceftiofur SID (IM) e anti-

inflamatório com Flunixin Meglumine 1,5 mg/kg SID (IV), além de cuidados diários

com a ferida operatória com álcool iodado, alantol e spray prata. O testículo retirado

durante o procedimento cirúrgico foi encaminhando para histopatologia, não sendo

encontrado sinais de degeneração testicular.

Caso 2:

Um ovino da raça Dorper, macho, com três anos de idade deu entrada no setor

de Grandes Animais da Clínica Escola do Curso de Medicina Veterinária do Centro

Universitário Cesmac de Marechal Deodoro-AL, apresentando claudicação do

membro anterior direito devido a um procedimento cirúrgico de hérnia inguino-

escrotal, onde o animal permaneceu em decúbito dorsal por mais de uma hora, não

conseguindo levantar após a cirurgia.

Ao exame clínico foi observado os seguintes parâmetros: Frequência cardíaca:

84 bpm; Frequência respiratória 76 mrpm; Movimentos ruminais: Normais e

Temperatura: 40,7°C.

No exame físico, foi observado uma claudicação de grau 5, com

emboletamento do membro anterior direito. A ferida cirúrgica apresentava um aspecto

limpo e seco, o escroto direito apresentava áreas de aderência e fibrose, foi realizado

o teste de Godet sendo positivo. Em seguida foi realizado a punção do conteúdo

presente na região escrotal e encaminhado para o Laboratório de Análises Clínica

(Tabela 3).

No achado laboratorial foram encontrados os seguintes resultados (Tabela 2):

Tabela 2 - Hemograma + Fibrinogênio + Plaquetometria

ERITROGRAMA LEUCOGRAMA

Hemácias: 9,36 106/µl Leucócitos: 10.550

Hemoglobina: 10 g/dl Segmentados: 80%

Hematócrito: 27% Linfócitos: 13%

Plaquetas: 469.000 µl Monócitos: 04%

PPT: 8,0 g/dl Eosinófilos: 3%

Fibrinogênio: 600mg/dl

Fonte: Laboratório de Análises Clínica CESMAC

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Page 15: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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O animal apresentava eritrograma dentro do valor referencial; Leucometria

global dentro do valor referencial, apresentando neutrofilia e linfopenia;

Plaquetometria dentro do valor refencial; Plaquetas ativadas; Hiperproteinemia e

hiperfibrinogenemia (Tabela2).

Tabela 3 – Avaliação de Efusão Cavitária

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO CONTAGEM CELULAR

Volume: 08ml Proteínas: 6,0 g/dl Global:

Cor: Vermelho Fibrinogênio: 200 Leucócitos: 16.450/µl

Aspecto: Turvo/viscoso pH: 8,0 Diferencial:

Densidade: > 1040 Neutrófilos: 96%

Coagulação: Negativo Monócitos e outras células: 4%

Fonte: Laboratório de Análises Clínicas CESMAC

Predominação de neutrófilos degenerados com vacuolizações, presença de

inúmeras bactérias em formato de cocos. Amostra sugestiva de exsudato séptico.

O animal ficou internado, onde foi prescrito o tratamento com 5ml de

Dexametasona SID (IV) e 5 ml de Vitamina B1 SID (IM) durante cinco dias, Penicilina

10ml (IM) por três dias, massagem diária com Dimesol no membro anterior direito e

cuidados diários na região operada com álcool iodado, alantol e spray prata, pois o

animal durante a internação apresentou na região operada secreção

serosanguinolenta, sensibilidade ao toque e consistência rígida. Após 14 dias de

internação o ovino apresentou uma melhora no quadro clínico, onde recebeu alta

hospitalar, continuando o tratamento da ferida.

3 DISCUSSÃO

A hérnia inguino-escrotal em pequenos ruminantes ainda é pouco descrita

(RADISIC, et al., 2010), entretanto em um curto período de aproximadamente trinta

dias foram atendidos na Clínica Escola de Medicina Veterinária do CESMAC, dois

ovinos da raça Dorper apresentando essa patologia, onde ambos foram submetidos a

correção cirúrgica, sendo uma realizada na própria instituição e o outro apenas para

acompanhamento do pós-cirúrgico.

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Page 16: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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Segundo Gilbert Fubini (2004) esse fator acomete mais o lado esquerdo do

escroto, como observado nesses animais relatados. Provavelmente possa estar

relacionado com o peso, anatomia do rúmen e a forma com que esses animais se

deitam com a perna esquerda tracionada. Embora, há relatos em ovinos que tiverem

o lado direito do escroto herniado (ABDIN-BEY; RAMADÃ, 2001). Outra possibilidade

levantada por Al-Sobayil, Ahmed (2007) é que essa afecção possa está associado

com o fator hormonal. Pois, durante a estação de monta ocorre uma elevada pressão

intra-abdominal, favorecendo a herniação.

Na literatura ainda pouco se sabe a respeito da relação que essa patogenia tem

com o fator genético (RADISIC, et al., 2010). Todavia, nesses animais pode ser que

apresentem um caráter de hereditariedade, já que foram oriundos do mesmo plantel,

sendo eles da mesma linhagem, levando à uma suspeita da herdabilidade dessa

característica em ovinos.

No caso desses animais foi realizado a reparação cirúrgica através da

orquiectomia unilateral, onde Gilbert, Fubini (2004) indica para evitar que o testículo

contralateral sofra alterações de aumento de temperatura e pressão do testículo

afetado, resultando na produção anormal de espermatozóides, preservando assim

sua função reprodutiva.

De acordo com Gilbert, Fubini (2004) o reparo cirúrgico pode ser realizado

através da herniorrafia na região inguino-escrotal ou mediante a celiotomia pelo

flanco. A técnica consiste na abordagem feita pelo mesmo lado da hérnia, após o

acesso a cavidade abdominal o anel inguinal é identificado, o conteúdo herniado é

tracionado de maneira suave, causando uma redução do conteúdo herniado. Em

seguida é realizado o fechamento do anel com padrão de sutura simples interrompido

ou simples contínuo. Porém, a realização dessa técnica é mais complexa. Além de

que, a presença de gordura na região inguinal e aderência do conteúdo herniado na

túnica vaginal dificultam ou impossibilitam esse procedimento.

No caso relatado a opção pela escolha da técnica cirúrgica é semelhante à

técnica utilizada na espécie ovina por Gilbert; Fubini (2004). O tratamento cirúrgico

consiste numa incisão linear na região inguino-escrotal através da pele e fáscia,

seguido de divulsionamento e liberação da túnica vaginal, seguido da incisão e

abertura da mesma. O conteúdo herniado é colocado de volta para dentro do abdômen

através do anel inguinal e o cordão espermático é isolado normalmente usando uma

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Page 17: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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ligadura dupla, emasculado ou sutura transfixada, evitando assim, o deslizamento da

ligadura (RADISIC, et al., 2010).

Comparado com outras espécies de animais domésticos o procedimento usado

nesse caso se assemelha com o descrito na espécie bovina, equina e suína por

Turner, Mcilwraith (2002). A diferença nessas espécies é o tamanho da incisão que

vai ser realizada na região inguino-escrotal.

De acordo com Al-Sobayil, Ahmed (2007) o fechamento do anel inguinal pode

ser feito com fio de sutura absorvível (PDS ou Catgut), ou não absorvível (Seda),

apesar que o tamanho da abertura do anel herniário tem influência sobre o tipo de

sutura e fio que serão utilizados, onde eles preferiram usar Catgut ou PDS para

defeitos de abertura com menos de três dedos de diâmetro e o Seda para abertura de

hérnia maiores, com mais de quatro dedos de diâmetro.

O reparo do anel herniário em bovino segundo Turner, Mcilwraith (2002) é feito

usando qualquer tipo de material de sutura não absorvível, no padrão simples

interrompido. A sutura do subcutâneo é realizado com fio catgut cromado nº 1 ou nº

2, a pele é fechada com fio sintético monofilamentado no padrão simples interrompido.

Já Radisic, et al. (2010) utilizou o fio de sutura de ácido poliglicólico (PGA), tendo um

resultado favorável. Nesse caso, foi utilizado um fio não absorvível (Prolipropileno)

que ao final correspondeu positivamente ao que se era esperado.

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Page 18: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hérnia inguino-escrotal em ovinos ainda é considerada uma patologia pouco

relatada, onde existem poucos relatos no mundo, provavelmente devido as

particularidades anatômicas desses animais, já que apresentam um estreitamento no

canal inguinal, dificultando a protrusão de órgãos.

Uma anamnese detalhada e um exame clínico bem feito é fundamental para

chegar no diagnóstico. Porém uma avaliação ultrassonográfica é indispensável para

confirmação, além de auxiliar de forma significativa no planejamento da herniorrafia.

A execução do tratamento cirúrgico está ligada ao valor zootécnico do animal,

sendo às vezes inviável optar pela correção cirúrgica já que se trata de um animal de

produção. Porém quando decidido realizar a herniorrafia, os resultados são na maioria

dos casos favoráveis, sempre levando em consideração a escolha da técnica certa,

além dos cuidados necessários no pré, trans e pós cirúrgico.

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Page 19: HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL EM OVINOS

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REFERÊNCIAS

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