homogeneidade versus heterogeneidade cultural: um estudo em universidade publica

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    Homogeneidade Versus Heterogeneidade Cultural :um Estudo em Universidade Pblica

    HOMOGENEIDADEVERSUS

    HETEROGENEIDADE

    CULTURAL

    :UMESTUDOEMUNIVERSIDADEPBLICA

    Neusa Rolita Cavedon*

    Roberto Costa Fachin**

    RESUMO

    ste trabalho tem por objetivo identificar as significaes que uma Universi-dade Pblica possui para os diferentes atores que nela atuam cotidiana-

    mente. A partir da noo de representaes sociais desenvolvida na Antro-pologia Social e da viso de Martin e Frost (1996) sobre a culturaorganizacional como uma complementaridade entre fragmentao, diferenciaoe integrao, procurou-se desvendar o universo organizacional de uma universi-dade pblica. O mtodo utilizado foi o etnogrfico e compreendeu o perodo de1995 a 1998. Os resultados evidenciam que Escassez de recursose Universidaderenomadaso significaes acerca da Universidade partilhadas por alunos e pro-fessores (fragmentao). Professores e funcionrios partilham do mesmo signifi-cado com relao Falta de perspectivas profissionaispara os ltimos (fragmenta-o). J a Dificuldade de conciliar estudo e trabalho uma significao sobre a Uni-versidade restrita ao grupo dos alunos e a Liberdade uma significao sobre aUniversidade partilhada s pelo grupo de professores (diferenciao). J a repre-sentao da Universidade sob a tica da Deficinciaperpassa os trs grupos deatores, quais sejam, professores, funcionrios e alunos (representao

    integradora). O estudo representa uma contribuio para a discusso entrehomogeneidade e heterogeneidade na identificao de culturas organizacionais.

    E

    * Professora do Programa de Ps-graduao em Administrao e do Departamento de Cincias Admi-nistrativas da Escola de Administrao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pesquisadorado CNPq.** Professor da PUC Minas e Fundao Dom Cabral (MG). Professor-colaborador do Programa de Ps-graduao em Administrao da UFRGS.

    ABSTRACT

    his paper aims to search for the different meanings that different actors hold of apublic university located in the southern region of Brazil. The conceptual frameworkis based on the social representations notion which was developed in the field ofAntropology and on the organizational culture study by Martin & Frost (1996).

    Instead of finding an homogenous culture, Martin & Frost identify instead fragmentation,differentiation and integration as different facets of the culture of an organization. Themethod of the study was etnography and the period of study included the years from 1995to 1998. Results found that Resource Scarcity and Renowned Universitywere meaningshold by students and professors (i.e. fragmentation). Another meaning Lack of aprofessional perspective or a professional future was shared by Professors and theAdministrative support staff (also, fragmentation). Differentiation, however, appears whenone sees hat Difficulty of putting together work and study obligationsis a meaning that isbound to appear only with the students and a sense ofFreedom is particularly restricted tothe group of professors. An integrative representation is found when professors,administrative staff and students share the meaning of Deficiencyas an overall characteristicof the University. The study thus provides a significant contribution for the discussionregarding the homogeneity or heterogeneity of an organizational culture.

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    INTRODUO

    temtica cultura organizacional vem, no Brasil e no exterior, ao longo dasduas ltimas dcadas, recebendo uma ateno cada vez maior por partedos acadmicos e dos demais profissionais da rea de Administrao. To-davia, a profuso de trabalhos elaborados revela-se desconectada e

    multifacetada, segundo denunciam autores estrangeiros (Smircich, 1983; Martin eFrost, 1996) e nacionais (Fischer e McAllister, 2000), havendo, dentre eles, quemprocure ordenar o caos (Smircich, 1983).

    As discusses tem se articulado, dentre outros aspectos, em torno: a) dapossibilidade da cultura organizacional ser passvel de gerenciamento ou no; b)da identificao do mtodo de investigao, qualitativo ou quantitativo, que per-mita um descortinamento mais profundo do universo organizacional; c) da exis-tncia de uma cultura organizacional homognea ou heterognea.

    A questo da homogeneidade x heterogeneidade cultural do contextoorganizacional, parece persistir na discusso dos estudiosos da administrao, a

    tal ponto que Martin e Frost (1996) optaram, atravs da metfora do jogo O Reida Montanha, por mostrar as diferentes possibilidades de compreenso da cultu-ra organizacional entabulada por diversos pesquisadores evidenciando que amesma aparece ora como integrada, ora como diferenciadaou, ainda, como frag-mentada. A integraopressupe que a organizao como um todo possua amesma cultura. A diferenciao, por seu turno, enfoca as diferenas existentesentre os diversos grupos que compem a organizao. A fragmentaoconsistena viso de que na verdade o que existe em termos de cultura organizacional sovalores partilhados temporariamente pelos vrios indivduos que atuam na orga-nizao.

    A mesma questo aparece tambm no campo antropolgico. O exemplo maisrelevante a ser citado o de crticas direcionadas aos trabalhos de DaMatta(1983, 1991), veiculadas em encontros e fruns da rea, exatamente por suatendncia em ressaltar aspectos da cultura brasileira enfocando-os de forma ho-

    mognea.Martin e Frost (1996) propem que, ao estudioso da cultura organizacional,

    cabe adotar mltiplas perspectivas, ou seja, compatibilizar os diferentes enfoques.Apesar desse posicionamento, esses autores classificam os estudos clssicos,realizados na rea de Administrao - sobre rituais, histrias e normas - to so-mente como uma perspectiva integradora.

    A integrao dos diferentes saberes torna concilivel o que a princpio semostra enquadrado em compartimentos estanques e contraditrios, desse modoconcretizando-se o acionamento de mltiplas perspectivas, no s do ponto devista dos diferentes atores, mas acima de tudo pelos mltiplos saberes.

    Este trabalho busca construir um entendimento em torno da problemticahomogeneidade versus heterogeneidade cultural, a partir dos resultados de pes-quisa em torno de uma organizao universitria, leiga e pblica . A universidadeem questo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), criada comoUniversidade de Porto Alegre, atravs de decreto do Governo Estadual em 1934.Nessa ocasio era essencialmente um conjunto de escolas independentes criadasno final do sculo 19, incluindo a Faculdade de Medicina (criada em 1898), e asescolas de Engenharia (1896) e Direito (1900). A UFRGS, como costuma ser cha-mada, foi modificada para Universidade do Rio Grande do Sul em 1950 e federalizadaem 1950 (Hardy e Fachin, 2000, p. 43). O estudo, ora relatado, abrangeu as uni-dades que aambarcam os cursos de Cincias Econmicas, Cincias Administrati-vas e Cincias Contbeis, que sofreram diversas modificaes desde os primrdiosda universidade. Assim, a Faculdade de Cincias Econmicas originou-se da antigaEscola de Comrcio, criada pela Congregao da Faculdade Livre de Direito, em 26de novembro de 1909; funcionava como um anexo da Faculdade de Direito. Em1934, quando includa na Universidade de Porto Alegre, passou a ser uma unida-

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    de sob a denominao de Faculdade de Economia e Administrao. A denomina-o de Faculdade de Cincias Econmicas s passou a vigorar com a federalizaoem 1950, nome padronizado para todas as faculdades congneres do pas, per-

    tencentes ao sistema universitrio federal (Soares & Silva, 1992). Os cursos deAdministrao, Cincias Contbeis e Atuarias e Cincias Econmicas compunhama oferta da Faculdade de Cincias Econmicas at 06 de setembro de 1996, quan-do por aprovao do Conselho Universitrio (deciso n. 58/96), foi aprovada acriao da Escola de Administrao, que continuou a existir, at a concluso destetrabalho, dentro do mesmo espao fsico da Faculdade de Cincias Econmicas.

    A Faculdade de Cincias Econmicas possui, hoje, em nvel de graduao, osseguintes cursos: Cincias Econmicas, Cincias Contbeis e Atuariais. Em nvelde ps-graduao, na rea de Economia, possui cursos de Mestrado, Doutorado eEspecializao; na rea de Contbeis, curso de Especializao. A Faculdade pos-sui, como rgo auxiliar o Centro de Estudos e Pesquisas Econmicas (IEPE)

    A Escola de Administrao, funcionando, hoje, em espao fsico distinto, con-centra o curso de Administrao, em nvel de graduao, e os cursos de Mestrado,Doutorado e Especializao, em nvel de ps-graduao. Tambm possui um r-

    go auxiliar, o Centro de Estudos e Pesquisas em Administrao (CEPA).A coleta dos dados teve incio em 1995 e trmino em 1998, nesse perodo ocurso de Administrao compartilhava o mesmo espao fsico com os cursos deCincias Econmicas e Cincias Contbeis.

    A partir do conceito terico de representaes sociais (Magnani, 1986) ecom a contribuio do aporte filosfico de ordem/desordem de Morin (s.d.) para ainterpretao dos dados, a pesquisa buscou, como objetivo geral, descobrirquais as significaes que a instituio objeto de estudo apresenta para aquelesque a vivenciam cotidianamente. Uma vez identificadas as mltiplas facetas da(s)cultura(s) organizacional(is) da universidade, buscou-se compreender e interpre-tar a cultura organizacional da instituio, tendo-se por base as concepes acer-ca do que seja integrao, diferenciao, fragmentao, tendo claro, igualmente,o fato de se estar construindo uma interpretao de interpretaes.

    Em termos de objetivos especficos pretendeu-se:

    - trazer tona as representaes de cada grupo, ou seja, do grupo dosprofessores, do grupo dos alunos e do grupo dos funcionrios da instituio;

    - verificar as representaes partilhadas por indivduos independente dosgrupos de que faam parte, bem como as ambigidades existentes na instituio;

    - encontrar uma representao que se sobressaia no todo das unidades dainstituio.

    fundamental acentuar que o estudo e este trabalho buscou construiruma ponte entre a administrao e os mltiplos saberes, particularmente o saberantropolgico, no sentido de construo de um entendimento que passa pela de-fesa da complementaridade dos enfoques empricos e tericos. Este texto partirinicialmente da apresentao do conceito terico sobre representaes sociais,base do estudo, e do mtodo etnogrfico desenvolvido para a seguir apresentaros resultados do estudo em si mesmo e as concluses em torno da questohomogeneidade versus heterogeneidade.

    ASREPRESENTAESSOCIAISEOFAZERANTROPOLGICO

    Magnani (1986, p. 128) assim conceitua representao

    ... representao algo assim como uma espcie de imagem mental darealidade. Os ingredientes dessa imagem seriam, em primeiro lugar, asexperincias individuais decorrentes da realidade social em que o atorest imerso, realidade que se apresenta sob forma de crculos concntri-cos: famlia, a rede de vizinhana, o bairro, categoria profissional, parti-

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    do, classe social, etc. O segundo elemento a particular combinatria -sinttica e semntica - que junta esses pedaos, responsvel, entre ou-tras coisas, por todos aqueles erros de concordncia e regncia,

    cacofonias, pleonasmos e anacolutos que conferem sabor e autenticida-de aos depoimentos.

    A forma utilizada para captar-se as representaes tem sido atravs dodiscurso dos informantes. Magnani (1986) revela que, em princpio, as anlises decontedo como mtodo de anlise privilegiavam aspectos estatstico-quantitati-vos. Na medida em que este tipo de anlise descurava do desvendamento dasestruturas mais profundas presentes no discurso, necessrio se fez buscar apoiono cabedal fornecido pela anlise semntica. Tal nfase, porm, tambm deixoualgo de lado, e esse algo consistiu nos aspectos extra discursivos, como as condi-es de produo e de recepo, bem como o universo social onde tais discursosso acionados. Assim, os antroplogos, no af de minimizarem os problemas de-correntes desta anlise tcnica, trazida das cincias da linguagem, acabaram porabrir mo dos complexos procedimentos de anlise para deixar os informantesfalarem por si mesmos. O resultado foi o de, igualmente, empobrecer o trabalhode pesquisa, ao no dar conta de certas diferenas (heterogeneidade) contidasem um mesmo contexto scio-cultural, e que emergem ao ter-se presente o entor-no em que as falas so produzidas e captadas pelos atores. Buscando esclarecero conceito, Magnani (1986) tenta resgatar as questes atinentes noo de re-presentao e de anlise dos discursos tal como foram pensados e articuladospor Malinowski (1978), pai da observao participante, que embora acreditasseem uma totalidade, no a percebia como uma realidade homognea, mas simcomo algo que surge a partir de fragmentos, pois cotejando-se os diferentesdiscursos individuais, as condutas, os costumes e instituies que se conseguechegar a uma anlise final. Com respeito verossimilhana dos discursos aindaMagnani (1984, p. 55) quem afirma: O que est em jogo no saber se o discur-so falso ou verdadeiro em decorrncia de sua adequao com a realidade, masse verossmil, ou seja, capaz de parecer-se representao que se tem dessa

    realidade.As representaes encerram a noo de senso comum. Geertz (1994), aoteorizar sobre a questo do senso comum, procura enfoc-lo como um sistemacultural. No seu entendimento, o senso comum tem por base a convico de que arealidade no dispe de outra teoria seno a da prpria vida, sendo que essaquesto constitui-se em um fenmeno mais aceito do que analisado. No existemespecialistas reconhecidos quando a noo presente a do senso comum: cadaindivduo um perito e o sentido comum est disposio de todos os cidados.O senso comum representa o mundo como algo familiar, em que qualquer pessoapode ou poderia reconhec-lo. Para transitar pelos caminhos do senso comumbasta ao indivduo possuir uma conscincia lgica e prtica. Entre as qualidadesdo senso comum estariam (Geertz, 1994): a naturalidade, que concede um ar deobviedade s coisas, um sentido de elementariedade fazendo com que pareaminerentes situao; apraticidade, que aqui no possui o sentido de til, mas de

    astcia; a transparncia, em que as concepes do senso comum sobre esta ouaquela questo so exatamente o que parecem ser nem mais nem menos, impli-cando simplicidade; a assistematicidade, ou seja, a sabedoria do senso comumapresentando-se atravs de provrbios, anedotas, contos morais e no medianteteorias formais e axiomticas; e, finalmente, aacessibilidade,isto , o pressupostode que qualquer pessoa pode chegar a concluses de senso comum.

    Nos trabalhos de antroplogos contemporneos percebe-se claramente essaassimilao do individual, do subjetivo, mas sem nunca deixar de lado o social.Victora (1992), por exemplo, em sua pesquisa sobre Corpo e representaes: asimagens do corpo e do aparelho reprodutor feminino, realizada em uma vila po-pular, em Porto Alegre, ao ater-se sobre as representaes acerca da reproduo,observou que nesta comunidade h um domnio particular de significaes que asmulheres atribuem ao funcionamento do seu corpo, dando-lhe uma dimenso de

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    algo nico no compartilhado com nenhuma outra mulher. Todavia, apesar destaconstatao, a autora (1992, p. 50) termina a sua anlise expondo:

    No caso da representao destas informantes, o funcionamento do corpo

    individualizado, a vivncia de cada corpo, de cada menstruao e de cada gravi-dez so tidas como nicas. Mesmo que individualizadas, estas representaespertencem s representaes do grupo em estudo como um todo, obedecendo acertas regularidades.

    Mesmo resgatando a individualizao, a retomada do social aparece, emVictora (1992) quando, seguindo os passos de Durkheim, define representaessociais ou coletivas como categorias de entendimento produzidas e atualizadascoletivamente, ou seja, ...significados socialmente construdos que os indivduoscompartilham com o seu grupo social (1992, p. 33).

    O MTODOETNOGRFICO: EMBUSCADOSIMPONDERVEISDAVIDAREAL

    ELEMENTOSGERAISSOBREOMTODOETNOGRFICO

    O mtodo utilizado na pesquisa foi o etnogrfico. A coleta de dados de modomais sistemtico ocorreu em 1998, mas, a reunio dos primeiros materiais para apesquisa j tinha iniciado em 1995. A ida a campo, com um olhar deestranhamento, foi precedida pela consolidao da bagagem terica sobre oque seriam as representaes sociais.

    A tcnica de Malinowski, a observao participante, essncia do trabalhode campo, exigiu a disciplina do dirio de campo, em que o registro de todas asobservaes realizadas, no dia-a-dia, feito. A exemplo do dirio da adolescn-cia, as frustraes e alegrias, fruto da interao social determinada pelo contatocom os informantes, tambm precisavam ser anotadas, pois necessrio ter cons-

    cincia desses sentimentos ao redigir a etnografia, evitando-se, assim, posiesetnocntricas.

    Mesmo com essa preocupao e tendo em mente que autores que julgam aiseno de prenoes como invivel (Blalock Jr, 1973) de destacar nossa consci-ncia de que ao fazer o recorte das Unidades a serem estudadas um certoetnocentrismo esteve presente.

    Dois pontos relevantes no trabalho de campo merecem ser destacados: aateno para com o tempo dos informantes; e a sensibilidade em reconhecer omomento de perguntar ou quando era preciso calar, aguardando uma ocasiomais adequada para sanar as dvidas existentes. A sensibilidade um atributoessencial ao etngrafo, capaz de contribuir significativamente para a riqueza oupobreza dos dados coletados. Alm disso, a qualidade dos dados est profunda-mente relacionada com a capacidade de se ouvir e compreender o outro com basena emoo. Antes de constituir-se em um entrave execuo da pesquisa, a emo-o contribui no processo de desconstruo necessrio para a realizao do estu-do (sobre a emoo no trabalho etnogrfico ver Neves, 1986; DaMatta, 1987;Cavedon, 1992).

    A construo do texto etnogrfico foi feita aps decorrido um considervelespao de tempo da coleta de dados. De modo que este afastamento, se por umlado, permitiu uma interpretao mais distanciada do objeto, por outro, pode tergerado algumas distores. Afinal, o texto etnogrfico o que o pesquisador es-creve sobre o trabalho de campo (Geertz, 1978). Na elaborao do texto, foi privi-legiada a polifonia, ou seja, tanto os informantes, como os tericos consagradosna rea e os prprios autores do estudo possuem voz no texto. Contudo, foinecessrio atentar para que, na descrio, a distino entre o mico (categoriasdos informantes) e o tico (categorias dos etngrafos) ficasse perfeitamente

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    identificvel. Ao contrrio deste trabalho, no texto original que resultou da pesqui-sa foi sempre utilizada a primeira pessoa por estar mais conforme com o fazeretnogrfico. Tambm nesse texto original, a transcrio das falas apresentou-se

    tal qual os informantes se expressaram.

    OSINFORMANTESEACOLETADEDADOS

    Os atores escolhidos foram: os alunos de Graduao, os professores e osfuncionrios das Unidades que abrigam os cursos de Cincias Econmicas, Cin-cias Administrativas e Cincias Contbeis. Foi observado o critrio de tempo deenvolvimento de alunos, professores e funcionrios com a instituio pesquisadapara a seleo dos informantes. A escolha dos alunos da Graduao deveu-se aofato de ser esse segmento o que comporta um maior nmero de alunos e o quepermanece em contato com a instituio por mais tempo. A viso dos diferentesatores envolvidos em cada uma das instituies foi a determinante para identificaras diferenas e fragmentaes culturais e no a da diferenciao entre cursos.

    Foram assumidos como verdadeiros e absolutos os trs grupos oficiais, quaissejam, professores, alunos e funcionrios, que foram tratados de maneira homo-gnea, o que implicou a perda das diferenas existentes intra-grupos: ou seja,uma secretria de departamento, provavelmente, possui uma percepo sobre aUniversidade diferente daquela de um assistente administrativo que atua junto aum Programa de Ps-Graduao, um professor de 20 horas pode perceber a Uni-versidade de modo diferente de um professor de 40 horas, os alunos em incio decurso e aqueles em final de curso podem ter representaes antagnicas sobre aUniversidade. Estes pontos no abordados apontam para os limites da pesquisa.

    Utilizou-se inicialmente a planilha de horrios e prdios junto aos Departa-mentos para que se pudesse obter dados com os alunos. No demorou para quese comprovasse uma das falas mais constantes dos alunos: a da falta de assidui-dade dos professores e conseqentemente, a dificuldade sria da coleta de da-dos dessa forma. Tentou-se, ento, contatar com os professores previamentesolicitando a utilizao de um tempo de sua aula para aplicar o questionrio (umanica pergunta aberta) junto aos discentes. O trabalho mostrou-se maisproducente. Junto aos professores utilizou-se a entrevista, em face da boa acolhi-da a essa tcnica. Todos os professores fizeram um agendamento prvio e so-mente uma professora preferiu que fosse anotado seu depoimento ao invs defazer uso do gravador. Com os funcionrios foram utilizados questionrios e en-trevistas.

    O material documental, sempre que disponvel, serviu para comparar aquiloque consta dos registros com as vivncias dos atores.

    Tratando-se de pesquisa qualitativa, no se calculou amostra no sentidoclssico da expresso. Adotou-se procedimento de acordo com o preceituadopor Deslandes (1998, p. 43) que afirma que a definio da amostra na pesquisaqualitativa ... no se baseia no critrio numrico para garantir sua

    representatividade. Assim, a representatividade determinada pela pluralidadeno perfil dos informantes, ou seja, homens, mulheres, casados, solteiros, divor-ciados, com ou sem filhos, de diferentes idades, trabalhando ou no, residindona capital ou no e com tempo de vinculao institucional tambm diversificado,considerados como aspectos relevantes com relao representatividade naspesquisas de cunho qualitativo. Assim, na busca dessa diversidade forampesquisados 117 alunos; 74 homens e 43 mulheres. O aluno mais velho possua50 anos e o mais jovem 18 anos.A mdia de idade encontrada foi de 22 anos.Dos 117 alunos, 99 eram solteiros;17 eram casados; e, 1 tinham outra situaocivil ( (separados, divorciados). No que concerne aos filhos, 107 alunos no pos-suam filhos; 4 tinham 1 filho; e 6, 2 filhos. Quanto ao trabalho, 77 trabalhavame 40 no. A maioria dos alunos (68) trabalhava em Porto Alegre Moravam emPorto Alegre 95 alunos.

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    Foram 14 os professores entrevistados; 10 homens e 4 mulheres. O profes-sor mais velho possua 62 anos e o mais jovem 34 anos.A idade mdia era de 49anos. Dos 14 professores, 8 eram casados, 3 eram solteiros e 3 detinham outra

    situao civil (separados, divorciados). Seis dos professores no possuam filhos; 1tinha 1 filho; 4 possuam 2 filhos; 2 possuam 3 filhos; 1 tinha mais de 3 filhos. Dos14 professores, 13 residiam em Porto Alegre e 1 em So Leopoldo. Quanto forma-o: 11 possuam o titulo de Doutor; 1 era Doutorando; 1 Mestre; e 1 Especialista.

    Participaram da pesquisa 7 funcionrios sendo 5 mulheres e 2 homens. Aidade mdia dos funcionrios era de 39 anos. O funcionrio mais velho possua 45anos e o mais jovem 33 anos. Dos 7 funcionrios, 6 eram casados e 1 separado.Quanto ao nmero de filhos: 5 possuam 1 filho e 2 possuam 2 filhos. No queconcerne moradia: 5 residiam em Porto Alegre; 1 em Guaba e 1 em Canoas.Quanto escolaridade: 4 possuam superior completo; 2 possuam 2. Grau Com-pleto e 1 superior incompleto.

    Um clima de camaradagem e descontrao dominou toda a pesquisa e emalguns momentos contou com a emoo que longe de interferir negativamente,contribuiu na busca dos imponderveis da vida real acadmica.

    O TRATAMENTODOSDADOS

    Num primeiro momento foram lidos todos os questionrios respondidos pe-los alunos. A partir da, foram identificadas as categorias que se faziam presentesna maioria das falas. A seguir dentro de cada categoria, foram enquadrados ostemas. Os temas recorrentes foram selecionados. Em seqncia, foi estabelecido,em cada categoria, um ranking dos temas colocando-os em uma ordenao quevai da maior menor incidncia. Finalmente, diante do material assim classificadofoi possvel concluir acerca da ambigidade presente no contexto da universidadeestudada, mediante anlise do contedo dos temas.

    Idntico procedimento foi realizado com as entrevistas dos professores equestionrios e entrevistas dos funcionrios. Quanto ao contedo presente nostemas que compem cada categoria houve, em alguns casos, uma mescla de as-pectos positivos e negativos, tendo sido possvel, porm, detectar uma predomi-nncia.

    As falas de cada grupo de atores, ou seja, dos professores, dos alunos edos funcionrios foram analisadas sob o ponto de vista da dade excelncia/defici-ncia (Morin, s/d, 1996), para ao final ser verificado quais as representaes queaparecem como integradoras, diferenciadas ou fragmentadas.

    OSDISCURSOSACERCADAUNIVERSIDADE

    ASSIGNIFICAESNAFALADOSALUNOS

    As categorias reveladas nas falas dos alunos acerca de seu cotidiano naUniversidade foram: Universidade, Professores, Cursos, Alunos e sobre a PrpriaAtuao. A precariedade dos recursos da Universidade foi o temaque apareceuem primeirolugar na fala dos alunos dentro da categoria Universidade. A carnciade recursos, as salas de aula e os prdios em pssimo estado de conservao,bem como a inexistncia de material bsico, como o giz, para que a aula pudesseser ministrada pelo professor, pautou os depoimentos. O segundo tema retratoua organizao dos horrios em diferentes turnos refletindo-se no tema posicionadoem quinto lugar que a dificuldade em conciliar trabalho com estudo, podendoainda ser cotejado, igualmente, com um dos temas classificados em sextolugar,qual seja, a dificuldade dos alunos de encontrarem estgios de apenas seis horasdirias, isto , de conseguirem atender a uma determinao da Universidade que

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    afirmaram nada cai do cu ou nenhuma mo invisvel vai fazer nada por voc.Estar nesta universidade ter que assumir o compromisso de correr atrs do quese necessita, desde conseguir um bom horrio para as cadeiras, at um simples

    documento de que necessite (a burocracia enorme) (aluna de Administrao deEmpresas, 21 anos, 2. semestre). No dizer dos alunos essa sistemtica faz comque o aluno desenvolva a sua capacidade de tomar iniciativa acerca daquilo quelhe interessa.

    ASSIGNIFICAESNAFALADOSPROFESSORES

    As falas dos professores privilegiaram aspectos que puderam ser aglutinadosem quatro categorias:Universidade,Professores, Prpria Atuao e Funcionrios.

    Se por um lado os professores sentem orgulho por trabalhar na Universida-de, por outro, reconhecem as deficincias que a Instituio apresenta, dentreelas, a precariedade das condies da sua estrutura fsica que se encontra dete-riorada interferindo no trabalho do professor que diz no poder contar com os

    recursos materiais para apoi-lo na sua atividade docente (primeirotema nestacategoria). Essa deficincia pe em xeque, por exemplo, o discurso oficial quecompara a produtividade de um professor dos Estados Unidos ou da Europa coma produtividade de um professor brasileiro. Segundo um professor entrevistado,nas universidades norte-americanas, o professor que possui uma turma de cemalunos, conta com monitores e auxiliares, normalmente, alunos de Mestrado/Dou-torado, que aplicam as provas, corrigem, coordenam os trabalhos em grupo reali-zados com os alunos, etc., sendo que as aulas so ministradas de uma forma quese assemelha em muito a conferncias, alm de disporem de todos os recursosmateriais necessrios.

    A maioria dos professores entrevistados levantaram a inexistncia de umprdio nico, onde os alunos pudessem assistir a todas as aulas que fossem do seucurso. A maratona de percorrer 11 prdios foi mencionada pelos professores asse-verando que um prdio nico poderia criar uma identificao maior com os cursos.

    Os baixos salrios fazem com que os recursos humanos tambm se tornemdeficitrios e desmotivados.

    Um dos temas que ocupa a segundaposio dentro da categoria Universi-dade o que d conta do respeito que o nome da Universidade desfruta diantedos mais diferentes segmentos da sociedade. A tradio do nome como umreferencial em termos acadmicos foi ressalvado, em alguns depoimentos, com aassertiva de que a Universidade ainda goza de credibilidade junto a sociedade.O tema que ocupa a outra segunda posio nesta categoria a questo dainexistncia de controle sobre a atividade docente. Os mecanismos para que osprofessores se mantenham dentro das regras mnimas impostas pela instituioso difceis de serem operacionalizados em face da disperso dos locais onde asaulas so ministradas. Os casos mais graves que exigem uma atitude mais severaesbarram em procedimentos burocratizados que demandam tempo e que por

    vezes se mostram incuos diante da situao.O fato dos professores serem dedicados s suas atividades pode estar rela-cionado com a necessidade de auto-realizao (Maslow, 1993) presente, mais doque qualquer outro fator, dentre a maioria dos que trabalham no espao acadmicoe pode ser justificada pela colocao de um professor, no que tange vaidadedecorrente da produo intelectual: ... ns somos vaidosos, ns somos presuno-sos at, certo? (...) h (...) muita vaidade, a vaidade intelectual ... (professor nocurso de Administrao de Empresas, trabalha h 24 anos na Universidade).

    Tal vaidade, segundo o mesmo professor, histrica, na medida em queremonta aos primrdios da cincia, quando os cientistas entabulavam discussesatravs de longas correspondncias e atravs das sociedades cientficas. Hoje,essa disputa estaria centrada no nmero de publicaes, pois segundo esse pro-fessor: ns temos que publicar e publicar uma forma de aparecer; no fundo, no

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    fundo e da advm o envaidecimento de ter publicado um nmero maior de arti-gos do que o colega.

    A efetivao do controle e o cumprimento das normas tambm so cobrados:

    (...) eu acho que as pessoas deveriam ter mais profissionalismo e, h,tomar atitudes que s vezes se tornam antipticas tipo assim: no ttrabalhando direito meu caro, vai para a geladeira e se no conseguirresolver de jeito nenhum, vai embora, n?

    (...) essa palavra controle, sinto muito, mas ela necessria ... (profes-sora no curso de Administrao de Empresas, trabalha h 4 anos naUniversidade).

    A temtica que ocupa a terceiraposio a que classifica a Universidadecomo uma burocracia. Aqui cabe uma reflexo. O que se acabou de verificar nosdiscursos dos professores a inexistncia de controle, porm, a Universidade classificada como uma burocracia (Weber, 1971) pelos mesmos. Aparentementeh uma contradio, pois dada nfase em vrios discursos ao fato das normas

    serem cumpridas e, no entanto, alguns reclamam da falta de controle que reper-cute em baguna no Departamento. Todavia, o que parece estar presente, emalguns momentos, so as disfunes da burocracia, levantadas por Merton (1971),que se caracteriza dentre outros aspectos pelo excessivo apego s normas quepassam a ser consideradas absolutas e no de modo relativo. O estudo de Hardye Fachin (1996) em que a mesma universidade foi pesquisada, caracterizou-a comouma burocracia profissional, subtipo anarquia organizada.

    O tema que ocupa a quarta posio, dentro da categoria Universidade, oque enfatiza a liberdade existente nesse contexto. No dizer de uma professora docurso de Cincias Econmicas: cada um cria o seu espao (trabalha h 22 anosna Universidade).

    O tema que ocupa a primeiraposio, na categoria Professores, a utiliza-o do nome da Universidade, por certos professores, como vitrine, ou seja, elesvisam a obter, atravs da respeitabilidade do nome, prestgio junto a outras orga-nizaes onde atuam ou mesmo melhorar o valor da hora tcnica nas consultoriasque realizam. Os professores, ao fazerem referncia atitude desses colegas,reputam-na como danosa na medida em que h uma espcie de preocupao comos ganhos pessoais em detrimento da instituio. como se a Universidade fosseexplorada, uma vez que h uma apropriao das benesses fornecidas pela pr-pria grife, sem uma contrapartida em termos de trabalho e de apego institucional,como no depoimento abaixo:

    No existe comprometimento profissional dos professores com o Depar-tamento, isso causa um problema srio e, ningum v a universidadecomo uma atividade profissional; v como um carto, nem como um bico,como um carto; se fosse bico o salrio que ganha um professor nocompensa, ento mais como um carto de visita, sem dvida, e ainda carto de visita. Ento, os professores na maioria do meu Departamento

    v isso como um carto (professor no curso de Cincias Contbeis, tra-balha h 8 anos na Universidade).

    O tema que ocupa a segundaposio na categoria Professores a que peem confronto os sentimentos dos novos professores com os dos antigos. H umaespcie de tatear de ambos os lados, afinal, ainda, no sabem bem com quemesto lidando. Os dois lados parecem cautelosos.

    O tema que se fez presente nas falas de praticamente todos os professoresentrevistados, na categoria Prpria Atuao, foi a que apregoa o apego institui-o (primeira). A maior parte das pessoas entrevistadas (professores) foramalunos da Universidade (na Graduao). H nos discursos um orgulho e umenvolvimento com a Universidade que algumas vezes so justificados atravs deuma racionalizao de cunho ideolgico e que em outras transparece sob uma

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    gide de afetividade inexplicvel e sintetizada pela afirmao eu tenho orgulho,gosto daqui, ou ganha, ainda, um contorno de uma anlise psicanaltica. O lecionarnesta Universidade pode tambm ser classificado como algo natural em uma traje-tria de vida: Uma decorrncia natural, no ? Estudante, monitor, atividades queeu tinha sempre eram ligadas, inclusive no incio, sempre com professores daqui(professor no curso de Cincias Contbeis, trabalha h 20 anos na Universidade).

    Atrelado ao que foi exposto anteriormente existe tambm a noo de queas pessoas so vocacionadas para o ambiente acadmico e o ambiente idealpara o exerccio da prtica acadmica seria essa Universidade estudada.

    Dentre o grupo de professores entrevistados um dos pontos fortes da Uni-versidade seria a pesquisa, a excelncia em pesquisa, que atrai a quem quer umaatuao nesse mbito. Esse apego institucional to forte que para dois profes-sores o nome da Universidade foi associado expresso minha vida.

    O primeiro tema (e nico) acerca da categoria Funcionrios o que diz res-peito falta de incentivo a eles dado, seja em termos de remunerao, seja atravsda possibilidade de galgar postos mais elevados com funes mais desafiantes,repercutindo negativamente no moral e na auto-estima dos funcionrios.

    H ocupao de funes por professores que poderiam ter ficado nas mosdos tcnicos o que acaba por esvaziar a carreira dos primeiros.

    Para os professores, a frustrao de muitos funcionrios frente a essa rea-lidade acentuada em razo da sua qualificao, pois, quanto maior a qualifica-o menores os horizontes visualizados.

    ASSIGNIFICAESNAFALADOSFUNCIONRIOS

    A categoria privilegiada pelos funcionrios foi a da Universidade, e o temaem evidncia o da falta de perspectivas profissionais futuras.

    A crise salarial que vem desde 1995 (inexistncia de reajustes) e mais omau aproveitamento do potencial dos funcionrios emerge sob a forma dedesmotivao dentre esses integrantes da comunidade acadmica. O espao aca-dmico permite o crescimento de seus membros, porm, na hora em que os mes-mos julgam pertinente pr em prtica os conhecimentos adquiridos, esbarram com

    atividades rotineiras sem nenhum desafio maior. Ascenso na carreira e melhoriasalarial configuram-se como dois aspectos presentes em um horizonte nebuloso.A revelao da sua dificuldade em ver a luz no fundo do tnel assim expostapor um funcionrio a um suposto amigo:

    Quanto s possibilidades de ascenso no vejo nenhuma pois ns de-pendemos de concurso pblico. Quanto aos salrios, dependemos dogoverno Federal. Portanto se realmente queres ingressar numa organi-zao que no tem a menor possibilidade de visualizar um futuro promis-sor devemos analisar profundamente toda a possibilidade. Quer entrarpelos salrios? Pela possibilidade de realizao profissional? Pela estabi-lidade? Bom por esta ltima j no tenho mais certeza.

    Falando aqui, comeo a pensar, porque eu ainda continuo aqui? Porqueingressei (...)? Ser que eu j atingi meu nvel de incompetncia? At

    que ponto vale a pena lutar para que o servio pblico seja eficiente eeficaz?

    Dvidas, dvidas e mais dvidas que agora neste instante no consigoresponder (trabalha h 5 anos na Universidade).

    ENTRECRUZANDOASFALASDOSTRSGRUPOSDEATORES

    Os alunos e os professores colocaram a escassez de recursos como o pri-meiro tema dentro da categoria Universidade. Tambm existe uma identidade

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    nas falas a respeito do fato da Universidade ser renomada embora os rankingssejam diferentes (para os alunos ocupa a quarta posio e para os professores asegunda posio). Na categoria Professores, o despreparo dos professores, reve-lado na fala dos alunos, pode ser decorrncia da falta de controle (categoria Uni-versidade) e no uso da Universidade como vitrine (categoria Professores) revela-dos no discurso dos professores.

    Professores e funcionrios foram consoantes em seus depoimentos sobre afalta de incentivos e a desmotivao dos funcionrios. Os alunos no fizeram refe-rncias aos funcionrios.

    No quadro a seguir, os atores, categorias e temas evidenciados so coloca-dos de forma a tornar mais visvel para o leitor as representaes presentes naUniversidade estudada.

    ATORESCATEGORIAS

    ALUNOS PROFESSORES FUNCIONRIOS

    Universidade -Escassez derecursos d-Horriosquebrados d-Greves d-Universidade derenome - e-Dificuldade emconciliar estudo etrabalho d-Gratuidade e-Dificuldade emconseguir estgiode 6 horas d

    -Escassez derecursos - d-Universidade derenome - e-Falta de Controle -d-Burocracia - d-Liberdade - e

    -Falta deperspectivasprofissionais d

    Professores -Competentes e-Despreparados d

    -Uso daUniversidade comovitrine - d-Relacionamentoantigos e novos

    professores - d

    _______________

    Alunos -Capazes/de altonvel intelectual e

    ______________ _______________

    Cursos - Bons/timos e ______________ _______________ Prpria atuao - Responsvel pela

    aprendizagem/iniciativa e

    -Amor instituio- e

    _______________

    Funcionrios ______________ -Falta deperspectivasprofissionais - d

    _______________

    d - deficincia e - excelncia Fonte: Dados Coletados

    Aps a categorizao, a identificao dos temas e dos contedos permiteque se ponha a descoberto a dade ordem/desordem. A base filosfica de Morin

    (s/d) aponta para a indissociabilidade desses dois conceitos, que devem ser vis-tos como complementares. A ordem implica regularidade, repetio, constncia; adesordem caracterizada pela agitao, irregularidade, turbilho. Na Universida-de estudada esta dade se faz presente embora se observe predomnio da desor-dem (deficincia).1

    1Embora Morin possa levar o leitor a traduzir o conceito de desordem como ligado idia de defici-ncia, a idia de uma certa desordem pode traduzir alguns aspectos da anarquia organizada (Marche Olsen, 1976). Hardy e Fachin (2000, p. 57) assim definiram a Universidade: A UFRGS umauniversidade cuja ao se assemelha ao que ocorre nas anarquias organizadas onde o comportamen-to no intencional e se d ao acaso. As caractersticas do modelo da anarquia organizada ou latade lixo so: ambigidade em relao aos objetivos; tecnologia problemtica; participao fluida;profissionalismo e insumos do cliente (Baldridge et al., 1977). A maioria das condies aqui listadasest presente na UFRGS.

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    Homogeneidade Versus Heterogeneidade Cultural :um Estudo em Universidade Pblica

    Ao analisar-se a Universidade estudada possvel verificar a existncia deduas vertentes, uma que apregoa o papel social da Universidade, a gratuidade; eoutra que entende que a universidade deva cobrar uma mensalidade dos alunos.

    Tem-se, assim, a dade social/mercado.2

    assim, a partir do estudo de Rocha (1995) que identificamos que o dilemabrasileiro por ele encontrado se repete, no mbito social, no estudo da Universi-dade estudada.3Assim, os trs modelos so tambm encontrados na UFRGS:

    O romntico/civilizadorestaria em discursos tais como:

    Eu acho que a funo [desta Universidade], na minha opinio, coope-rar com a sociedade no sentido de criar novos caminhos, no ? Prasolucionar os problemas que a sociedade tem, em todos os sentidos, elano panacia de todos os problemas, mas um lugar onde se podepensar na soluo, criar soluo, discutir soluo (professora no cursode Administrao de Empresas, trabalha h 1 ano na Universidade).

    O corporativo/burocrticoaparece de forma negativa, na medida em que osprofessores e funcionrios faltam a seus compromissos, no se preocupando emavisar a quem de direito; tambm no caso dos professores que usam a Universi-dade como vitrine para obter um ganho maior em suas consultorias particulares. Avertentepositivadessa representao seria o amor inst ituio, o apego mes-ma e a vontade de v-la progredir, avanar.

    A representao elitista/predadora aquela que enfatiza serem os maisaquinhoados os que tem acesso Universidade Pblica, ou seja, a elite usufrui dealgo que deveria ser concedido aos mais pobres.

    CONCLUSO

    O desvendamento das representaes sociais da Universidade estudada, oquestionamento sobre homogeneidade ou heterogeneidade da cultura indicarama pertinncia da proposta terica de Martin & Frost (2000). Adiferenciaodacultura organizacional das unidades estudadas na Universidade torna-se eviden-te nas temticas divergentespresentes nas falas dos trs grupos de atores. Porexemplo, dificuldade de conciliar estudo e trabalho uma significao sobre a Univer-sidade restrita ao grupo dos alunos e a liberdade uma significao sobre a Uni-versidade partilhada s pelo grupo de professores. A fragmentaoencontra-senas temticas convergentesentre indivduos de grupos diferentes, ou seja: astemticas Escassez de Recursos e Universidade de Renome so partilhadas por

    2Rocha (1995) fez um estudo das representaes sociais presentes no Banco do Brasil. Diante doque encontrou, concluiu existir uma dupla imagem das atribuies do Banco do Brasil que atravessatanto seus funcionrios quanto a sociedade abrangente. Em suas palavras (Rocha, 1995, p. 49):Assim, uma dualidade caracterstica da cultura brasileira assume vrios contedos particularesquando traduzida para o contexto da cultura Banco do Brasil. (...) [identificando] o Banco do Brasil,por um lado, [como] uma empresa de mercado, cujo destino a obteno do lucro e, por outro, umaempresa social, cujo destino a responsabilidade por uma parcela significativa de nosso progresso.Estas representaes opostas so a eloqente presena de um dilema e sua angstia - real e/ousimblica - de ser alguma coisa e seu contrrio a um s tempo.3Rocha (1995) identificou trs vertentes ligadas s representaes do Banco do Brasil ligadas noo de banco social : a vertente romntico/civilizador, a corporativo/burocrtico e a elitista/predador. A primeira vertente tende a enfatizar o carter missionrio que o Banco precisaria assumirdiante do Brasil, isto , sustentar a agricultura, alavancar o desenvolvimento, auxlio cultura e educao. Esse modelo revela uma generosidade. O segundo modelo, o corporativo / burocrtico,traz tona imagens de funcionrio despreocupado em relao ao cliente, sem comprometimento coma empresa e que recebe um alto salrio. O modelo elitista/ predador aquele que atrela o banco idia de uso indevido do mesmo, a negcios de natureza duvidosa e privilgios s elites. Taiscategorias encontradas nessa obra de Rocha nos levaram a procurar categorias semelhantes (queencontramos) na Universidade estudada.

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    alunos e professores; a temtica Falta de Perspectivas Profissionais para os funci-onrios partilhada por funcionrios e professores. A integrao determinadapelo predomnio da deficincia (desordem para Morin).

    O descortinamento das representaes sociais, alm de evidenciar a dife-renciao, a fragmentao e a integrao cultural, permitiu extrapolarmos em ter-mos de anlise para aspectos mais macro-culturais e mesmo filosficos, os quais,dada a sua relevncia, foram inseridos nesta concluso.

    Ainda, e buscando no trabalho de Rocha (1995) elementos inspiradores,identificou-se representaes similares em trabalhos distintos, de pesquisadoresdistintos e de ambiente organizacional diverso, a possivelmente revelar caracte-rsticas presentes na cultura brasileira e nos dilemas enfrentados que podem le-var ao conhecimento melhor da cultura brasileira.

    Por outro lado, a Universidade estudada, ao encontrar em seu meio pesso-as que entendem ser preciso defend-la com abnegao e bravura, o que ficacaracterizado no amor pela instituio e na representao Universidade de reno-me, remete-nos reproduo, a, dos brios presentes no imaginrio do povogacho que julga necessrio lutar pelas instituies nas quais acredita e que lhes

    so caras e que simbolicamente se encontram quando de eventos sociais como oda Revoluo dos Farrapos (1935-1945). Assim, no se pode excluir, nessa inter-pretao, que, mais do que uma Universidade Federal, uma Universidade Fede-ral em territrio gacho, com renome nacional. Reproduzamos o pensamento deOliven (1992, p. 49-50):

    As peculiaridades do Rio Grande do Sul contribuem para a construo deuma srie de representaes em torno dele que acabam adquirindo umafora quase mtica que as projeta at nossos dias e as fazem informar aao e criar prticas no presente.

    Na construo social da identidade do gacho brasileiro h uma refern-cia constante a elementos que evocam um passado glorioso no qual seforjou sua figura, cuja existncia seria marcada pela vida em vastos cam-pos, a presena do cavalo, a fronteira cisplatina, a virilidade e a bravura

    do homem ao enfrentar o inimigo ou as foras da natureza, a lealdade, ahonra etc..

    Essa postura dos gachos evidencia igualmente a heterogeneidade pre-sente na cultura brasileira, ou seja, nesse mbito macro cultural tambm ocorrediferenciao, fragmentao e integrao, algo que sem dvida repercute no uni-verso micro, das organizaes.

    Pode-se, ainda, fazer outra considerao, decorrente do desvendamentode uma representao, qual seja, a de que, na Universidade estudada, h oprivilgio da erudio, da intelectualidade, evidenciada na fala dos alunos ao dis-correrem sobre si mesmos. O pensamento de Morin (1998) vem bem a propsitoaqui, quando adverte que a partir do sculo XVII, houve uma ruptura entre acincia, a tcnica que ficaram de um lado e a poesia e a cultura humanista que

    ficaram de outro. No momento atual, a poesia vem se separando da prosa. Apoesia, na cultura ocidental, passa a ser aceita nos momentos de lazer. S que ohomem precisa mesclar em sua vida as prticas e as tcnicas materiais necessri-as para a sua existncia (prosa) com a dana, a poesia, o amor (poesia), ou seja,buscar o entrelaamento desses opostos, tal como faziam os primitivos. Nas pala-vras de Morin (1998, p. 35):

    Inicialmente, preciso reconhecer que, qualquer que seja a cultura, o serhumano produz duas linguagens a partir de sua lngua: uma, racional,emprica, prtica, tcnica; outra, simblica, mtica, mgica. A primeira tendea precisar, denotar, definir, apoia-se sobre a lgica e ensaia objetivar o queela mesma expressa. A segunda utiliza mais a conotao, a analogia, ametfora, ou seja, esse halo de significaes que circunda cada palavra,cada enunciado e que ensaia traduzir a verdade da subjetividade.

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    Da vivncia dos pesquisadores e dos resultados colhidos, conclui-se quefalta Universidade em questo mais considerao, na vida ordinria, a aspectosvoltados ao lazer, convivncia, De acordo com Morin (1998) preciso haver o

    entrelaamento da prosa com a poesia. A Universidade estaria privilegiando aprosa e, portanto, no estaria mantendo essa complementaridade necessria.

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