hoje macau 26 mai 2015 #3337

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 7 EVENTOS CENTRAIS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 26 DE MAIO DE 2015 ANO XIV Nº 3337 NOVO MACAU Onde páram os livros de Sou Ka Hou? HOSPITAL DAS ILHAS Ampliações provocam atrasos ARMAZÉM DO BOI WHO CARES MANIFESTAÇÃO CONTRA O REGIME DE GARANTIAS FOI HÁ UM ANO Foi para muitos o ponto de viragem na relação entre o Governo e os cidadãos. Mais de 20 mil sairam à rua para protestar contra uma lei que garantia subvenções mensais para os titulares de altos cargos quando estes largassem as pastas. O Regime de Garantias continua na gaveta, um ano depois, sem data para regressar. O dia em que Macau tremeu hojemacau REPORTAGEM PÁGINAS 2-3 O método das rugas Vícios estivais PAULO MAIA E CARMO PEDRO LYSTMANN h

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Hoje Macau N.º3337 de 26 de Maio de 2015

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Page 1: Hoje Macau 26 MAI 2015 #3337

AgênciA comerciAl Pico • 28721006

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política Página 4

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Foi para muitos o ponto de viragem na relaçãoentre o Governo e os cidadãos. Mais de 20 mil sairamà rua para protestar contra uma lei que garantia subvenções mensais para os titulares de altos cargos quando estes largassem as pastas. O Regime de Garantias continuana gaveta, um ano depois, sem data para regressar.

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2 hoje macau terça-feira 26.5.2015reportagem

o dia de 25 de Maio de 2014 vai ficar na memória de muitos como o dia em que a

população saiu à rua como nunca antes o tinha feito. O grupo Macau Consciência e a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) conseguiram atrair, através das redes sociais, cerca de 20 mil pessoas para as ruas. Números que diferem, com as autoridades a apontarem oito mil manifestantes.

O rastilho para tão grande protesto, o maior desde 1999, foi o Regime de Garantias dos Titulares do Cargo de Chefe do Executivo e dos principais cargos. Uma lei que, à data, estava a ser analisada na Assembleia Legisla-tiva (AL) e, caso fosse aprovada na especialidade, iria permitir que o titular do Chefe do Executivo pudesse receber uma subvenção mensal de 70% do salário que auferia no cargo, enquanto que os titulares dos restantes cargos poderiam receber 14% do salário. Compensações que seriam atri-buídas antes da tomada de posse do cargo e depois da saída. Além da imunidade garantida ao Chefe do Executivo, caso este cometesse crimes enquanto no cargo.

Foi o maior protesto desde a transferência de soberania, que mobilizou desde jovens a adultos: a manifestação contra o Regime de Garantias, que fez o Governo recuar. Deputados, académicos e residentes recordam e analisam um protesto sobre uma lei que não tem data para regressar, mas que ainda merece a concordância de alguns. Muitos são os que, agora, apontam falhasnão analisadasantes e quepedem mudanças

Manifestação contra o regiMe de garantias - uM ano depois

O prOtestO que serviu de liçãO?Ieng Hoi, de 24 anos, foi uma

das participantes da manifestação. Esta empregada de escritório ainda se lembra bem da experiência. Soube que o Regime de Garantias poderia oferecer milhões e milhões de patacas para os ex-políticos e pensou tratar-se de “dinheiro a mais, para quem já tem salários altos”. Decidiu juntar-se a duas amigas, que pela primeira vez participaram numa iniciativa deste género.

“Ao princípio senti vergonha quando cheguei ao Tap Seac e um or-ganizador até me sugeriu que deixas-se de jogar no telemóvel e ajudasse a escrever slogans num cartaz.” Mais tarde, a vergonha passaria e a jovem seria uma de muitos a empunhar um dos muitos sinais onde se podia ler “Retirem a proposta” ou “Ali Baba e os 40 Ladrões”.

“Estava um dia soalheiro, com muito calor”, relembra Ieng Hoi, que não esquece o momento em que, apesar do suor, as pessoas continuaram até aos Nam Van a gritar “Retirem a proposta!”, “Chui Sai On, saia!” ou “Os titulares dos principais cargos estão loucos e querem corrupção”.

“Pareceu um dia de exercício intenso porque suei muito, mas a diferença é que foi algo significa-tivo, sobretudo quando soube que cerca de 20 mil pessoas estavam nas ruas, incluindo jovens como eu. Só por isso já valeu muito a pena”, contou ao HM.

Ieng Hoi diz não esquecer a emoção que sentiu quando soube da decisão de última hora quanto à retirada da proposta de lei da AL. “Foi muito comovente e acho que todos os participantes sentiram isso, porque percebemos que fi-zemos sucesso e que íamos fazer parte da história de Macau.”

“Uma lição para o Governo”Um ano depois, não há sequer um calendário para o regresso da proposta de lei. Chui Sai On já referiu, durante uma visita oficial

Ao continente, que ainda não há condições para mexer no diploma e tirá-lo da gaveta. O HM contactou também o Gabinete da Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, que confirmou não existir um calendário para a pro-posta. E, caso regresse, será alvo de uma consulta pública antes, adiantou ainda.

Mas, além da retirada da proposta, o que representa esta manifestação?

Para o deputado José Pereira Coutinho, a manifestação de há um ano representou “uma lição para o Governo”. “O Governo achou que os residentes seriam sempre frágeis e obedientes, mas hoje em dia, com a facilidade de comunicação nas redes sociais, a sociedade já está muito diferente em relação há uns anos. Os 20 mil manifestantes alteraram a história e a manifestação foi um ponto de viragem: agora os residentes dão mais atenção às políticas do Exe-cutivo”, acrescentou o deputado.

O também presidente da ATFPM, que co-organizou o protesto, assume ainda que “já não existem condições para que o Governo volte a apresentar a proposta”, justificando que, nos últimos 15 anos, os Secretários

não só fizeram mal o seu trabalho, como a sua responsabilização face aos erros não foi equacionada.

“Como é podem existir condi-ções para a obtenção de garantias após a cessação dos cargos? Será que os funcionários públicos têm garantias quando entram na re-forma? Quase nenhumas. E a sua qualidade de vida diminui muito aquando da reforma, só podem so-breviver, pois não têm subsídios de antiguidade ou habitação. Prevejo que essa desigualdade possa levar as pessoas a saírem novamente para a rua, incluindo os funcionários públicos. E já este ano”, disse o deputado ao HM.

Agnes Lam, docente de Comu-nicação da Universidade de Macau (UM) e ex-candidata a deputada, acredita que o Regime de Garantias se desviou do nível das mesmas relativamente aos funcionários públicos em geral. A ex-candidata às eleições legislativas defende que deve haver um sistema de garantias para os políticos que deixam os seus cargos e regressam ao sector privado, mas pede limites.

“É mais justo assim e até pode ser um pouco melhor do que o regi-me de previdência em geral, porque há uma tendência para que estes titulares deixem os seus cargos quando ainda não estão numa idade avançada e não podem trabalhar em empresas privadas”, começa por explicar. “[Mas] o pagamento de uma subvenção mensal equiva-lente a 70% do salário [do Chefe do Executivo ou de um Secretário] é demais e é um valor assustador. Diz-se que a percentagem foi decidida de acordo com os níveis das empresas privadas, mas eles são funcionários públicos, com o objectivo de servir a sociedade, por isso não deve ser assim.”

Danos e inflUências Para Agnes Lam, o Governo não explicou os objectivos do diploma,

“Foi muito comovente e acho que todos os participantes sentiram isso, porque percebemos que fizemos sucesso e que íamos fazer parte da história de Macau”ieng HOi empregadade escritório

“Os 20 mil manifestantes alteraram a história e a manifestação foi um ponto de viragem: agora os residentes dão mais atenção às políticas do Executivo”pereira COutinHO deputado

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3 reportagemhoje macau terça-feira 26.5.2015

Manifestação contra o regiMe de garantias - uM ano depois

O prOtestO que serviu de liçãO?

“Acredito que o Governo aprendeu com esta experiência, serviu de alerta.Não deve dar sinais de imaturidadecomo antes”Kwan tsui Hang deputada

nem ouviu as opiniões da popu-lação. Se 20 mil pessoas foram necessárias para que o Governo apresente propostas com mais cautela? Sim, mas só um pouco.

“Se tivermos como exemplo o projecto do edifício da Doca dos Pescadores, [o Executivo] nunca fez caso, em primeiro lugar, sobre a maioria das consultas públicas. Só posso dizer que depois desta experiência, o Governo deverá ter mais receio quando apresentar uma proposta, pensando mais na necessidade de consultas pú-blicas. Mas o efeito prático [das manifestações] é limitado, sendo

que o seu maior feito foi apenas o de obrigar o Executivo retirar a proposta. Não funciona para uma melhor governação.”

A ex-candidata diz inclusive que nem sequer houve uma boa recuperação da imagem do Gover-no face à população, após os pro-testos. “Alguém foi inapropriado na Administração? Houve alguma investigação sobre os problemas surgidos no Regime? Não vi nada sobre isso.”

Ng Kuok Cheong foca-se nos manifestantes jovens, quando é questionado sobre a manifestação de 25 de Maio. O deputado da ala democrática considera que foram despertadas consciências e poten-cialidades nos mais novos. Mas, se isso se deve, diz, à educação mais aberta, a verdade é que influências exteriores também tiveram o seu peso.

“Na altura, havia o movimento estudantil de Taiwan, Sunflower, os protestos contra a educação patrió-tica em Hong Kong e preparava--se ainda o movimento Occupy Central. Isso causou uma grande vontade aos jovens de Macau de apresentarem opiniões”, diz Ng Kuok Cheong, que acredita que os jovens só sem à rua “quando é mesmo necessário” ou quando influenciados pelas duas regiões vizinhas. “Como o Occupy Central falhou, os movimentos sociais de Macau estão em baixo.”

Agnes Lam concorda também que o protesto contra o Regime de Garantias é “um caso muito especial, porque os jovens não se queixavam e aguentavam” o que lhes era oferecido.

Mudanças a MeioEnquanto 20 mil se manifestavam nas ruas, cerca de mil optaram por protestar a favor do Regime de Garantias. Tratou-se da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau, que defendia uma lei “necessária e analisada em tempo oportuno”. “Caso não se ofereçam boas condições salariais, como é que se conseguem atrair talentos para o Governo e servir a socie-dade?”, questionou, na altura, Leong Pak Chon, presidente da Associação.

Um ano depois, o HM tentou contactar Zheng Anting, deputado directo à AL e vice-presidente desta Associação, o qual votou a favor do Regime de Garantias. Contudo, até ao fecho desta edição, o deputado disse estar ocupado, não tendo sido possível obter um comentário.

Kwan Tsui Hang, deputada da Federação das Associações dos

Operários de Macau (FAOM) que também votou a favor, na generalidade, disse “entender” que os protestos olhem para os benefícios dos ex-políticos, tendo admitido contudo que a subvenção mensal de 70% era “alta demais”, recordando as análises feitas no seio da Comissão.

“Quando o regime foi aprovado na generalidade, os critérios não eram assim. O pagamento de 14% era certo, porque não se poderiam oferecer garantias de reforma. Depois, durante a discussão na Comissão, o valor foi revisto para 30% e achei isso inaceitável. Mostrei-me contra e sempre achei que isso não era justo”, referiu ao HM. Apesar disso, acabou por se abster na votação da deliberação que pedia a retirada do regime, apresentada pelo deputado Ng Kuok Cheong.

Kwan Tsui Hang acredita que, caso queira um regresso do Regime de Garantias, o Governo deve explicar bem os objectivos e promover uma discussão aberta para que todos aceitem a lei.

“[O novo regime] deve abran-ger deveres e direitos e deve determinar claramente o que são garantias e quais as responsabili-dades”, frisou.

Gabriel Tong, deputado nomea-do, e Song Pek Kei, directa, tam-bém votaram a favor. Gabriel Tong referiu ao HM que ninguém quis criar um regime para beneficiar só um grupo de pessoas”, defendendo, contudo, que se a sociedade con-siderou que as subvenções seriam altas demais, foi impossível que se teimasse em continuar com a aprovação da proposta.

“Todos os regimes políticos e sociais necessitam de ser mais aper-feiçoados e devemos ter paciência, sem qualquer pressa”, defende.

Já Song Pek Kei defende que a ausência de um regime ou regu-lamento de garantias para o Chefe do Executivo e Secretários pode “causar um problema”. Conside-ra, contudo, que é preciso obter consenso e uma aceitação de todos para que o regime regresse.

O deputado Ng Kuok Cheong defende que os titulares dos prin-cipais cargos deveriam participar no regime de previdência, fazendo

“Só posso dizer que depois desta experiência, o Governo deverá ter mais receio quando apresentar uma proposta, pensando mais na necessidade de consultas públicas”agnes lam docentede Comunicação da um

descontos mensais para o Fundo de Segurança Social (FSS), como todos os residentes. Caso não o possam fazer, o Governo deve disponibilizar subsídios, defende.

a questão da iMunidade penal O Regime de Garantias trouxe ainda outra questão polémica, ao referir que “o procedimento penal não é aplicável ao Chefe do Executivo durante o seu mandato”. Agnes Lam continua a dizer “não”.

“É impossível ter a imunidade penal e tudo deve funcionar de acordo com os regulamentos da Função Pública. Caso o Chefe do Executivo viole a lei, então o crime será ainda mais grave”, apontou.

Kwan Tsui Hang disse aceitar “todos os tipos de imunidade para o Chefe do Executivo, excepto a penal”. “De facto o regime não foi aplicado com muita clareza, e quando surgiram dúvidas, o Go-verno devia ter explicado. Mas na altura o ambiente que se vivia na sociedade não o permitiu”, referiu.

Para a deputada da FAOM, a nova versão do Regime de Garantias deve ser precedido de uma consulta pública. “Acredito que o Governo aprendeu com esta experiência, serviu de alerta. Não deve dar sinais de imaturidade como antes”, concluiu.

Flora [email protected]

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4 hoje macau terça-feira 26.5.2015política

o presidente da Asso-ciação Novo Macau (ANM), Sou Ka Hou, organizou ontem uma

acção de distribuição de panfletos e exposição de fotografias conti-das no livro “Retirem a Proposta, lembram-se”, sobre a manifestação contra o Regime de Garantias. A decisão do também activista surge depois do livro, que deveria ter sido oficialmente apresentado ontem, ter sido alegadamente confiscado pelas autoridades chinesas.

Vários trechos do livro foram também distribuídos aos jorna-listas. Apesar das autoridades de Zhuhai já terem negado a apreensão do livro devido ao seu conteúdo, Sou Ka Hou mantém as acusações e diz que foi a empresa a quem foi encomendada a enca-dernação da obra, no continente, quem o alertou.

“Aquilo que se passou é muito claro. Temos facturas, recibos e, mesmo em relação ao confisco do livro, tudo está numa declaração escrita, por parte da gráfica”, disse Sou à TDM. “Em todo o processo, a Alfândega do continente negou, mas temos os documentos que o provam. A gráfica está inocente.”

O livro recorda a maior mani-festação ocorrida em Macau desde 1999 e os momentos principais da apresentação da proposta de lei na Assembleia Legislativa (AL) e a sua retirada do hemiciclo. Ao HM, Sou Ka Hou, autor do livro, explicou que a obra é composta por quatro partes, sendo que a primeira parte compila artigos sobre a mani-festação, incluindo comentários de deputados e académicos de Macau e Hong Kong.

Há ainda entrevistas realizadas durante esse período a professores e participantes no protesto, incluindo funcionários públicos e trabalha-dores do Jogo. “As histórias deles podem ajudar a construir as imagens da manifestação e revelar as sensa-ções vividas um ano depois”, contou o presidente da ANM.

Uma outra parte do livro traça uma perspectiva sobre o que pode-remos esperar depois do Regime de Garantias, contendo ainda uma parte com opiniões a favor da proposta de lei, consideradas “ridículas” por Sou Ka Hou. São, na sua maioria, de membros do

“Nunca pensei que o conteúdo do livro fosse sensível, porque o protesto contra o Regime de Garantias foi legal. A apreensão do livro é injusta. Se calhar tem a ver com o facto de se falar do Governo Central e do facto da introdução do livro ter sido escrita por Joshua Wong, um activistade Hong Kong” Sou Ka Hou Presidenteda associação Novo Macau

Livros de sou Ka Hou confiscados. activista apresenta trecHos e Lança versão onLine

“Retirem a proposta, lembram-se?”Os livros de Sou Ka Hou sobre a manifestação do Regime de Garantias terão sido apreendidos pelas autoridades da China devido “ao conteúdo sensível”. O activista, que ia apresentar o livro ontem, optou por distribuir gratuitamente trechos da obra, sendo que deverá ser feita uma nova impressão, para Junho, e ainda uma versão online

Governo ou de deputados que votaram a favor do diploma.

Ontem era a data apontada para a apresentação oficial do livro, por se celebrar um ano depois de ter ocor-rido o protesto. Sou Ka Hou afirma ter recebido no dia 22 deste mês um aviso de uma fábrica de Macau, que referia que os mil exemplares seriam encadernados no interior da China, devido à falta de mão-de-obra e de tecnologia para o efeito.

Sou Ka Hou conta que estes foram, então, depois apreendidos por um oficial da alfândega de-vido ao seu “conteúdo sensível”, quando o transporte estava a ser efectuado pela fronteira. Depois deste episódio, Sou Ka Hou pon-dera mandar imprimir os livros em Hong Kong, com data de lançamento prevista para Junho. Há ainda a hipótese de publicação da obra online.

“Nunca pensei que o conteúdo do livro fosse sensível, porque o protesto contra o Regime de Garantias foi legal. A apreensão do livro é injusta. Se calhar tem a ver com o facto de se falar do Governo Central e do facto da introdução do livro ter sido escrita por Joshua Wong, um activista de Hong Kong. Não consigo pensar em mais razões para que os livros tenham sido apreendidos.”

Sem raStoNo passado sábado, as autoridades de Zhuhai confirmaram ao canal chinês da rádio que não descobri-ram qualquer apreensão de livros nos postos fronteiriços. Sou Ka Hou reiterou que o facto foi referi-do pela empresa de impressão, mas como a empresa não quis responder mais, e para a proteger, não foram dadas facturas ou outras provas de apreensão. Sou Ka Hou assegura que “os livros desapareceram”.

Depois do Chefe do Executivo ter referido que este não é o momento ideal para a apresentação de uma nova proposta de lei, considerando que há questões mais urgentes por resolver, Sou Ka Hou duvida destas declarações. “No ano passado tam-bém não haveria mais propostas ou questões com mais urgência?”.

“A única diferença é que no ano passado a maioria dos titulares dos principais cargos estavam prestes a deixar o Governo e por isso foi urgente. Este ano, os Secretários acabaram de tomar posse e não têm pressa em obter garantias”, concluiu o presidente da ANM.

Segundo o colega da Associação e também activista Jason Chao são mil as cópias confiscadas, que têm um valor estimado em 30 mil patacas e que são parte de um contentor avalia-do em cem mil patacas, “totalmente apreendido pelas autoridades”.

Flora [email protected]

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5 políticahoje macau terça-feira 26.5.2015

T odas as empresas da área da construção civil que estejam registadas podem continuar a concorrer a

concursos públicos, mesmo no caso de terem falhado em obras anteriores deste tipo. Isso mesmo confirmou o director da Direcção dos serviços de solos, obras Pú-blicas e Transportes (dssoPT), Li Canfeng, à deputada Ella Lei.

Numa resposta escrita a uma interpelação de Lei, onde a depu-tada questionava o Governo sobre a eventual criação de medidas para que se evitassem atrasos respeitan-tes a obras e outros problemas que se registam em Macau, Li Canfeng não mostrou intenções de alterar qualquer política actual.

O responsável afirmou que o organismo mantém o princípio da justiça quando cria concursos para obras públicas, pelo que, até no caso de empresas responsáveis por projectos onde já aconteceram problemas de prorrogação ou qua-lidade se candidatarem a outras obras, o organismo aceita-as. Esta aceitação só está, portanto, depen-dente de uma eventual condenação em tribunal da empresa. só depois de ser alvo de uma pena acessória de impedimento é que a empresa não pode entrar em concursos públicos.

“os concursos públicos são elaborados uma comissão de apre-ciação de propostas e os critérios incluem quatro partes: 60% do preço do projecto, 10% do plano de trabalho, 18% da experiência e qualidade de obras, enquanto 12% de honestidade”, referiu Li Canfeng na resposta.

Ella Lei queria saber se proble-mas causados pelas empresas inte-gravam a avaliação da companhia, como por exemplo a contratação de trabalhadores ilegais, entre outros. “ao longo dos anos, registaram-se problemas no âmbito das obras

S usaNa Chou voltou a criticar o Governo no seu blogue, apontando o dedo ao que diz ser falta de consciência sobre o risco.

a ex-presidente da assembleia Legislativa (aL) acusa ainda o Executivo de não ter conseguido aproveitar bem a situação financeira estável para promover a diversificação económica.

“Os concursos públicos são elaboradosuma comissão de apreciação de propostase os critérios incluem quatro partes: 60%do preço do projecto, 10% do planode trabalho, 18% da experiência e qualidadede obras, enquanto 12% de honestidade”Li Canfeng Director da DSSOPT

a dssoPT não mostra intenções de alterar a forma como é feita a avaliação às empresas responsáveis por obras públicas, mantendo que a decisão de não lhes permitir que estejam novamente à frente dos destinos das obras do Governoé do tribunal

ObraS PúbLiCaS EmprEsas quE falham podEm continuar a concorrEr

até que o tribunal as separe

públicas, nomeadamente atrasos graves, excesso de despesas, falta de garantia de qualidade, etc, mas o Governo não adopta medidas efectivas de melhoria”, aponta a deputada.

Da serieDaDeLi Canfeng assegura que o capítulo “honestidade” inclui o registo de trabalhadores ilegais, mas quanto ao resto não há qualquer avaliação. algo que tem vindo a ser contes-tado por muitos deputados.

o director defendeu que os critérios de avaliação e apreciação estão expressamente escritos na proposta de concursos e diz que, segundo os respectivos regula-

mentos, se as companhias forem condenados com pena acessória, ou seja, a supressão de direito de participação em concurso de obras públicas, é que a autoridade não aceita a sua candidatura. Caos con-trário, afirmou, “todas as unidades

do sector da construção têm direito em participar nos concursos.”

Exemplo disso mesmo é a so-ciedade de Investimentos e Fomen-to Imobiliário Chon Tit. a empresa precisou apenas de provar que não estava impedida pelo tribunal de

participar em concursos públicos para voltar a concorrer à gestão da Ponte de sai Van. Recorde-se que o tribunal deu como provado, em 2008, que a gestão da Ponte de sai Van por esta empresa foi consegui-da em troca de subornos pagos ao ex-secretário para os Transportes e obras Públicas, ao Man Long,

Esta empresa é também a res-ponsável pelas obras do Parque Central da Taipa, estando ainda, de acordo com a imprensa local, envolvida nas obras do metro da Taipa.

Joana [email protected]

Flora [email protected]

SuSana ChOu CriTiCa “aLTOS CargOS arrOganTeS, aL imPOTenTe e faLTa De efiCiênCia”

Gasta-se dinheiro para quê?Chou diz que “parte dos titulares de cargos

principais fez o que quis, sem ouvirem sequer opiniões úteis”, além de que, avança, “gastaram milhões e milhões do cofre público”, ainda que “a eficiência de trabalhos tenha diminuído”. A ex-presidente da aL diz também que o hemici-clo se tem mostrado cada vez mais “impotente”, tal como, aliás, acontecia no seu tempo.

“Embora existam opiniões e criticas públicas em relação a erros cometidos por funcionários ou gastos de dinheiro público ‘à vontade’, como a aL não tem ferramentas para supervisionar a governação, já me sentia impotente quando era presidente e durante os dez anos [que ocupei o cargo]”.

Falta De capaciDaDeMas a mensagem é também dirigida a quem já ocupou as cinco secretarias.

“Nos 15 anos que passaram surgiram falhas na governação, que causaram grandes

impactos negativos na sociedade e uma das maiores razões foi a de que os titulares dos cargos principais não desempenharam como deviam as suas funções ou trabalharam mal”, aponta.

Chou acrescenta que uma parte desses titulares tem baixas capacidades e nem se-quer mostrava boa qualidade profissional, ou experiência na governação. No entanto, diz, quando tiveram autoridade nas suas mãos, “eles fizeram o que quiseram, não ouviram opiniões úteis, só gostavam de funcionários que os lisonjeavam, ainda que não tivessem capacidades, nem soubessem o que a população em geral quer”.

Quanto às obras públicas, a ex-presidente da aL criticou que as despesas públicas tenham aumentado muito nestes 15 anos, ao passo que a eficiência de trabalho não só não aumentou de forma adequada, diz, mas “pelo contrário, diminuiu”. F.F.

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7SOCIEDADEhoje macau terça-feira 26.5.2015

O Hospital das Ilhas pode não entrar em funcio-namento no prazo esti-pulado pelo Secretário

para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, mas a confirmação só chegará em Agosto. A justificação, que é dada pelo director dos Servi-ços de Saúde, Lei Chin Ion, reside no facto deste complexo vir a ser, afinal, maior do que o previsto.

“Foi considerado aumentar consideravelmente os espaços do Complexo de Cuidados de Saúde. (...) Eventualmente será necessário estender o prazo da construção de obra”, confirmam os SS num co-municado da passada sexta-feira.

O prazo a que se refere o respon-sável diz respeito à primeira fase, que iria ficar concluída em 2017, sendo que está previsto o complexo abrir completamente em 2019.

A confirmação no atraso da inauguração do hospital só deve chegar daqui a três meses, quando o projecto estiver completamente concluído. “Estamos ainda a me-lhorar o projecto arquitectónico e esse plano deverá estar pronto em Agosto”, disse Lei, durante a sua participação no programa Fórum Macau, do canal chinês da TDM.

“Vamos tentar [que esteja pron-to dentro das datas previstas], mas podemos precisar de mais tempo

A Guiné Equatorial quer juntar-se ao Fórum para a Cooperação

Económica e Comercial entre a Chi-na e os Países de Língua Portuguesa, estando essa intenção actualmente a ser estudada pelos países integrantes do Fórum. A informação, avançada na edição de sexta-feira do jornal Macau Daily Times citando uma “fonte diplomática”, foi confirmada pela agência Lusa.

O diário em língua inglesa diz ainda que a formalização da en-trada da Guiné Equatorial deverá acontecer no terceiro trimestre deste ano, quando for realizada a próxima conferência ministerial, em Macau.

O Secretário para a Econo-mia e Finanças, Lionel

Leong, confirmou que o Go-verno “não recebeu nenhum pedido das outras operadoras de Jogo em relação ao aumen-to do número de mesas”, numa altura em que a Galaxy acaba de ver atribuídas 150 mesas.

Em comunicado, Lionel Leong referiu que “o número de mesas de Jogo adicionadas não ultrapassa o limite determinado pelo Governo, pelo que a ope-radora pode ajustar as mesas de Jogo conforme a situação real de funcionamento”. Lionel Leong considerou ainda que o novo hotel

Saúde Hospital das ilHas maior mas não deve abrir em 2017

Com mais delongas“Novos ajustamentos” é a justificação dos responsáveisda saúde para o atraso do novo hospital. O novo prazosó deverá ser conhecido em Agosto

“Foi considerado aumentar consideravelmente os espaços do Complexo de Cuidados de Saúde. (...) Eventualmente será necessário estender o prazo da construção de obra”ComuniCado doS SS

devido a ajustamentos”, acrescen-tou o director dos SS.

Lei Chin Ion referia-se à deci-são de aumentar o espaço do novo complexo hospitalar. Espera-se um aumento de 30% do número de camas de internamento, de 50% de blocos cirúrgicos e 100% do número de camas disponíveis para a quimioterapia no Centro de Terapia Oncológica.

De fora para trabalharAlém disso, o subdirector dos SS, Kuok Cheong U, assegurou que a contratação de novos funcionários dos serviços está já a decorrer. Findo este processo, o responsável estima que 70% do total de recur-sos humanos requisitados sejam funcionários de saúde. Das quase 530 contratações previstas, grande parte são médicos, farmacêuticos e técnicos superiores de saúde para os 20 concursos públicos que vão abrir.

Macau vai receber 24 médicos, dos quais 19 são especialistas. Nove destes vêm do continente, quatro de Portugal, cinco são locais e um é originário dos EUA.

Os SS publicaram ainda dados sobre o número de sugestões e queixas deixadas pelos utentes dos serviços locais de saúde, totalizan-do mais de 290 reclamações. A esmagadora maioria dizia respeito a “comportamentos no atendimen-to, procedimentos clínicos, taxas e justificações”, não estando rela-cionadas com conflitos médicos. Apenas 10% destas se referiam a incidentes médicos.

Já no que diz respeito à resolução de litígios médicos, os SS lembram que os cidadãos lesados terão opor-tunidade de requerer indemnizações caso lhes seja dada razão num proces-so tratado pelo Centro de Avaliação das Queixas relativas a Actividades de Prestação de Cuidados de Saúde. Foi até mesmo já estabelecido um protótipo de audiência médica, ou seja, de um processo que serve para investigar e analisar casos internos “efectuados por especialistas”.

leonor Sá [email protected]

O processo de contratação de médicos de clínica geral só deve começar no início do próximo mês. “O concurso de clínicos gerais exige que os candidatos concluam um curso, para depois apresentar a candidatura. Por isso, este concurso vai ser aberto

mais tarde”, anunciou o director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, à Rádio Macau. O mesmo responsável acrescentou que os SS têm verificado “um grande aperfeiçoamento nos serviços médicos e noutros serviços” de saúde.

Médicos concurso para clínicos gerais só abre eM Junho

Fórum Macau Integração da Guiné Equatorial em estudo Operadoras não pediram mais mesasContactado pela Lusa, o cônsul-

-geral em Macau e representante de Portugal no Fórum Macau, Vítor Sereno, não quis comentar. Não foi também possível obter uma confirmação junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Em Julho de 2014, a Guiné Equatorial integrou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) como membro de pleno di-reito. Na altura, os membros da CPLP reiteraram o apoio às autoridades no cumprimento dos estatutos, nomeada-mente quanto à “adopção da moratória da pena de morte, até à sua abolição”.

A decisão foi amplamente criticada pelas organizações de

defesa dos direitos humanos, designadamente a Human Rights Watch (HRW).

“Este é mais um exemplo dos esforços do presidente Obiang [Nguema] para obter reconheci-mento na cena internacional fazendo promessas de direitos humanos que nunca cumpre”, comentou na altura Lisa Misol, investigadora da HRW à agência Lusa.

Ao aceitar a adesão da Guiné Equatorial, acrescentou, “os líderes dos países de língua portuguesa estão a correr um enorme risco” e sugere que seja imposta uma “avaliação independente” do regime em termos de direitos humanos. lUSa/hM

da operadora, como integra PME locais, vem “enriquecer” os factores turísticos do território.

Segundo o mesmo comunica-do, o Secretário da tutela afirma que o Executivo “tem trabalhado para que se consiga uma redução dos preços dos produtos”, tendo garantido que a taxa de inflação, incluindo os preços dos legumes, baixaram. O responsável garan-tiu ainda “continuar atento à mu-dança dos preços influenciados pelo ajustamento do lucro bruto do sector de jogo, a fim de ini-ciar os trabalhos de controlo dos mesmos e de reduzir os encargos da população”.

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8 sociedade hoje macau terça-feira 26.5.2015

L ionel leong, Secretário para a economia e Finanças, afirmou que pretende limitar o tempo de permanência

dos trabalhadores não residentes (TNR), no território, pelo menos nos que aos da construção civil diz respeito. A ideia é que estes tenham de sair de Macau um mês depois das obras onde trabalham terminarem.

“Imaginando que dávamos auto-rização de permanência por um ano, mas não sabemos quando é que o pro-jecto vai ficar concluído. Se ficasse concluído em três meses, sobravam nove meses de permanência em Ma-cau. Há a possibilidade de não saírem logo do território, podendo causar alguma má influência à sociedade”, disse o Secretário à TDM.

Isto, diz Lionel Leong, “não pode acontecer”. “Se soubermos que o projecto vai ficar concluído em três meses não renovamos auto-maticamente a permanência todos os anos. Eu não o farei”, garantiu, sublinhando que apenas dará “au-torização para três meses e com um período máximo de um mês para resolver as questões salariais e todos os procedimentos necessários para a conclusão do contrato”.

Protestos na sands As declarações aconteceram de-pois de um fim-de-semana mar-cado pelos protestos de TNR da obra do Parisian, do grupo Sands China, no Cotai. Em causa estão mais de 200 trabalhadores que alegam terem sido despedidos sem aviso prévio e sem justa causa pela empresa de engenharia Hsin Chong, de Hong Kong.

“Reivindicamos justiça e o di-nheiro. Despediram-me sem razão. Não me deram compensação”, avançou ao canal televisivo um dos trabalhadores. Segundo os pro-testantes apenas lhes foram pagos 15 dias de compensação quando o suposto são 30 dias. “Foi só isso que pagaram”, rematou o funcionário.

SHELDON Adelson vai mesmo ser julgado no

Nevada sobre o caso que o opõe ao ex-director da San-ds China, Steve Jacobs. As acusações de que o magnata teria corrompido oficiais de Pequim, entre outras, vão ser ouvidas nos EUA, de acordo com a imprensa norte-americana.

O caso começou com o que Jacobs diz ter sido um

TNR LioneL Leong quer Limitar tempo de permanência

Horas contadas

Sands China Sheldon Adelson vai ser julgado no Nevada

Permitir que os TNR da área da construção civil estejam presentes até à conclusão das obras é o que Lionel Leong quer. Nem mais, nem menos. A limitação, diz o Secretário, tem cariz social. Assim, os TNR “não serão uma má influência para a sociedade” e não podem entrar em situações de ilegalidade. As declarações acontecem depois de manifestações de trabalhadores do estaleiro de obras do Parisian, que dizemter sido despedidos sem justa causa

Em frente ao Gabinete de Ligação Central, na sexta-feira e no sábado, estiveram cerca de 60 TNR. Para Lionel Leong, indepen-dentemente do motivo dos TNR terem sido demitidos, “a entidade patronal necessita de efectuar as in-demnizações de acordo com a lei”.

De acordo com um comuni-cado à imprensa, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), explica que, juntamente com o Gabinete para os Recursos Humanos (GRH), tem “efectuado uma promoção de leis”, assumindo que estes trabalhos têm que ser reforçados, “para que os TNR possam obter da melhor forma informações e proteger os seus direitos”.

Lionel Leong reforçou ainda a necessidade de aperfeiçoar e “concre-tizar o mecanismo de substituição” destes trabalhadores, sendo que é necessário que o Governo comece os “trabalhos trans-departamentais” e certificar-se que a DSAL e o GRH mantêm uma comunicação estrei-ta, inclusive com os serviços que estão sob tutela do Secretário para

os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, de forma a evitar estes casos.

O director da DSAL, Wong Chi Hong, explicou que hoje irá mediar a reunião entre os TNR despedidos e a empresa responsável pelo seu despedimentos. “Os trabalhadores vieram até à DSAL apresentar quei-xa e o nosso pessoal esclareceu-os, explicando que em caso de despe-dimento têm de ter compensados, contando com prazo do termo do contrato é um mês e três dias. Alguns não estão satisfeitos com este cálculo. Mais tarde voltámos a contactá-los e [hoje] vamos mais uma vez falar com os trabalhadores, o empregador e os membros da agência de emprego para negociar como vai ser resolvido o procedimento para que os traba-lhadores deixem as suas funções”, adiantou em declarações à Rádio Macau, sublinhando que deseja que a entidade patronal em causa pague as indemnizações em questão.

Filipa araú[email protected]

“Se soubermos que o projecto vai ficar concluído em três meses não renovamos automaticamente a permanênciatodos os anos. Eu não o farei”LioNeL LeoNg Secretário para a economia e Finanças

SalárioS a baixarno mundo do Jogo

A DSAL avançou ainda, à rádio Macau, que tem recebido várias queixas dos trabalhadores dos casinos por causa de supostas reduções nos salários. Apesar de não avançar qualquer número, o director explica que já se conseguiram atingir alguns entendimentos. “Em termos de redução salarial ou de condições de trabalho, os empregadores e empregados têm de assinar um acordo e depois apresentá-lo à DSAL num prazo de dez dias para ter efeito”, explicou Wong Chi Hong, salientando que, assim, “não é necessário iniciar qualquer processo”.

GCS

despedimento sem justa causa da direcção da Sands China. O ex-responsável meteu Adelson em tribunal, acusando-o não só do facto, mas também de ligações a tríades, de permitir a pros-tituição nos seus casinos e de corrupção. Envolvido no caso, está também o nome de

Leonel Alves, que Jacobs diz ter sido o meio de pagamento a Pequim para a obtenção da licença de jogo da operadora.

Ainda que os advogados de Sheldon Adelson preferis-sem o julgamento em Macau, uma vez que os factos se re-portam a acusações locais, o tribunal norte-americano teve

outro entendimento, conside-rando que reunia capacidades de julgar a questão. Segundo a imprensa dos EUA, a decisão da juíza aconteceu depois dos advogados de Adelson terem dito que o milionário teria muita influência na supervi-são dos seus casinos a partir de Las Vegas.

Contudo, o tempo teve um papel importante: há anos que o processo está na justiça, pelo que a juíza Eli-

zabeth Gonzalez considera que se perderiam muitos recursos se o processo fosse transferido para outra jurisdição.

A decisão é tida, para a imprensa norte-americana, como algo que vai levantar muitas questões difíceis de responder por Adelson. A Las Vegas Sands deverá interpor recurso da decisão de Gonzalez. J.F.

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9 sociedadehoje macau terça-feira 26.5.2015

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O processo por negli-gência na investiga-ção da morte de Luís Amorim, o jovem

português de 17 anos encontrado sem vida em 2007, está “totalmente perdido” na Primeira Instância, anunciou a semana passada o advogado dos pais. Isto, porque o Tribunal Administrativo deu como não provada a maioria dos factos, o que levou o advogado Pedro Re-dinha a afirmar que pouco há para argumentar em matéria de Direito, estando o caso perdido. Promete, no entanto, um recurso para a Segunda Instância.

“A causa em Primeira Instância está totalmente perdida mas vamos recolocar as questões na Segunda Instância”, disse o advogado, após o tribunal ter apresentado as suas de-cisões quanto às matérias de facto.

A morte de Luís Amorim, em Setembro de 2007, esteve desde o início envolta em controvérsia. O jovem foi encontrado de madruga-da debaixo da ponte Nobre de Car-valho apresentando lesões graves. As autoridades concluíram que se tratou de um suicídio, mas os pais sempre negaram essa possibilidade e suspeitam que o filho tenha sido vítima de homicídio.

Em 2010, a família pediu uma segunda autópsia, por exumação do corpo, em Portugal, que con-cluiu que as lesões do jovem eram

“A causa em Primeira Instância está totalmente perdida mas vamos recolocar as questões na Segunda Instância”Pedro redinha advogado da família de Luís amorim

Luís amorim “Processo comPletamente Perdido” em Primeira instância

ainda não vai ser desta

compatíveis com uma agressão, ao contrário das autoridades de Macau que as consideram indiciadoras de queda. Testemunhas do Instituto

de Medicina Legal de Portugal indicam que o jovem foi agredido, mas o tribunal entendeu que Luís Amorim não foi encontrado morto,

que o caso não foi rotulado de sui-cídio pelas autoridades de Macau e que as investigações não foram orientadas por esse pressuposto, nem condicionadas por ele, como alegava a defesa da família do jovem português.

Segundo a Rádio Macau, sobre as lesões no corpo do menor, o tri-bunal entendeu que resultaram de uma queda de sítio elevado. Quanto à ausência de botões e os rasgões

na roupa, conclui-se, deveram-se à prestação de assistência médica.

Crença e surpresaO advogado diz manter a confiança na independência dos tribunais de Macau, mas admite ter ficado surpreendido com este desfecho por considerar ter “extensamente provados os factos imputados às autoridades”, escreve a Lusa.

O processo ainda não chegou ao fim, faltando agora as alegações sobre matéria de Direito, mas ainda não se sabe quando é a sentença, que deverá “demorar alguns meses”.

Pedro Redinha disse aos jornalis-tas que, nos oito anos em que trabalhou no caso, apenas recebeu cem patacas da família Amorim e adiantou que a família nunca teve intenções de ficar com “uma pataca” da eventual indemnização que viesse a receber, como avança a rádio Macau. Para o advogado, as conclusões do tribunal são sinónimo de que “que podemos continuar a morrer confiadamente em Macau”. “O que quero dizer com isto é que é preferível ir morrer noutro sítio”, lamentou. HM/Lusa

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10 hoje macau terça-feira 26.5.2015eventos

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o luTo de eliaS gRo • João tordo Numa pequena ilha perdida no Atlân-tico, um homem procura a solidão e o esquecimento, mas acaba por encontrar muito mais. “O Luto de Elias Gro” é o romance mais atmosférico e intimista de João Tordo, um mergulho na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso.

o enigma de SagReS • Jorge m. FazendaVencedor do concurso literário Book.it Sagres, 1940 Eduardo retirou-se da marinha. Vive agora em Sagres, é lá que refaz a vida, como guardião do farol. A Europa está em guerra, mas Portugal insiste em ser neutral. E, naquele canto do mundo, nada parece importunar a sua paz… Até ao dia em que, mesmo à frente dos seus olhos, ao largo do Forte de Beliche, vê a torre negra de um submarino. E, pintada no metal, inequívoca, a cruz suástica dos nazis. Na Marinha todos tentam abafar o caso. Mas Eduardo é tão teimoso como desconfiado. Suspeita que talvez Salazar esteja a fazer um jogo duplo, e a trair a aliança histórica com os ingleses. E decide investigar, mesmo correndo o risco de pôr em perigo a mulher que ama…

É já esta sexta-feira que o Instituto Cultural (IC) inaugura mais uma ex-

posição no Museu de Arte de Macau (MAM), intitulada “De Lorient ao Oriente – Ci-dades Portuárias da China e da França na Rota Marítima da Seda do Século XVIII”. A exposição estará patente até 30 de Agosto e insere-se no programa do XXVI Festival de Artes de Macau, bem como do festival Le French May.

A mostra contará com peças do MAM e de vários museus de França, cedidas a título de empréstimo. “As peças, que incluem têxteis,

MAM “De Lorient Ao oriente” inAugurADA sextA-feirA

Viagem a todos os portospeças de vestuário, pinturas a óleo, gravuras, porcelanas e moldes, vão dar a conhecer a história do desenvolvimento de Lorient e da Rota Marí-tima da Seda entre a China e a França”.

No sábado, dia 30, serão apresentadas duas palestras, que contarão com a presença de Brigitte Nicolas, directora do Museu da Companhia das Índias de Lorient (Musée de la Compagnie des Indes de Lorient, em francês), que irá falar sobre a “Companhia Francesa das Índias Orientais e o Comércio com a China”. O debate contará também com

a presença de Esclarmonde Monteil, directora do Musée de la Toile de Jouy, que irá falar sobre “O Padrão Chinês em Toile de Jouy’.

intercâmbio cuLturaL Lorient é um porto situado na costa atlântica do noroeste da França. Durante o século XVI e XVII, têxteis e porce-lanas eram exportadas para a Europa em grande quantida-des e no século XVII, o rei Luís XIV da França criou a Companhia Francesa das Ín-dias Orientais para reforçar a capacidade competitiva da França perante outros países

europeus no merca-do do comércio.

O desempenho da Companhia Francesa das Índias Orientais foi decepcionante antes de 1713, data a partir da qual a companhia deu uma reviravolta e come-çou a desenvolver--se rapidamente. As suas rotas comer-ciais chegaram a estender-se até às principais cidades costeiras chinesas que exportavam seda, chá e porcela-na. A prosperidade do comércio marí-timo euro-asiático resultou numa forte influência mútua entre o oriente e o ocidente em ter-mos de cultura, arte, religião e da vida. Ao mesmo tempo a Chinoi-serie tornou-se po-pular na Europa, influenciando em muito a arte fran-cesa e os produ-tos diários, que se tornaram produtos do intercâmbio cultural entre o oriente e o oci-dente.

n O próximo sába-do, às 16h00, o Armazém do Boi estreia-se com uma

mostra peculiar: uma sátira aos problemas sociais mais emergentes da sociedade revisitados por artistas locais. Com recurso à fotografia, artes performativas, pintura, instalações e outros métodos de representação artística, 20 criadores fazem uso do seu talento para transpor aquilo que consideram ser as mais importantes questões sociais de Macau e que incluem re-ferências ao trabalho desem-penhado por TNR e paisagens da cidade.

“Enquanto membros da sociedade, os artistas têm a responsabilidade e o dever de cuidar desta”, refere a organização em comunicado.

A mostra, patrocinada pelo Instituto pelos Assuntos Cívi-cos e Municipais, encontra-se em exposição desde o dia 30 deste mês até 28 de Julho e tem entrada livre. Entre os ar-tistas convidados estão Penny Kuan, Ha Tin Cheong, Au Chon Hin, Lao Chon Hong,

Entre os artistas convidados estão Penny Kuan, Ha Tin Cheong, Au Chon Hin, Lao Chon Hong, Eric Fok, Simon Leung e Ao Ieong Weng Fong

‘Who Cares’ é o nome da próxima exposição do Armazém do Boi, que apresenta um conjunto de obras de artistas locais sobre os problemas sociais da Macau actual.Aberta ao pública até 28 de Julho,a mostra representa uma sátiraà sociedade local

ArMAzéM Do Boi ArtistAs locAis denunciAm problemAs sociAis

uma sátira para todosEric Fok, Simon Leung e Ao Ieong Weng Fong.

irresPiráveL e intransitáveLPara esta exposição, uma das convidadas, Catherine Wa, criou uma peça de vídeo intitulada “Preocupa-te com o lixo”, que alude ao facto da cidade estar cada vez mais poluída. A ideia passa por sensibilizar os visitantes para este problema, através da imagem de alguém a atirar lixo ao espectador. “O visitan-te poderá entrar em pânico e agir de forma impulsiva”, refere a autora do projecto no comunicado.

Trata-se de uma alusão, na sua perspectiva, àquilo que diariamente acontece nas ruas desta cidade.

Catherine licenciou-se no Instituto Politécnico de Macau em Design Gráfico, tendo frequentado um curso de Artes Visuais na província francesa de Toulon.

Já Van Pou Lon descreve--se como “uma pessoa que se parece com um panda” pelo facto de na sua obra – feita a partir de vários materiais – comparar a partida “ines-perada” do panda gigante de Coloane com a forma como o Governo trata a sociedade.

Já Ieong Weng Fong preferiu focar-se numa ins-talação de vídeo que repre-senta um programa fictício e inovador, criado com o objectivo de trazer paz e segurança aos residentes locais, afastando-se de pro-blemas como o trânsito ou a falta de habitação. ‘Janela 2.0’ apresenta-se como um produto que custa 109,7 mil

patacas, mas que pode ter um desconto de 43% para residentes permanentes. O ‘Homem fácil de esquecer’ apresenta assim um projecto

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11 eventoshoje macau terça-feira 26.5.2015

Música Violinista Sara Chang em Macau em Julho A violinista Sarah Chang irá marcar presença no Concerto de Encerramento da Temporada 2014-2015 da Orquestra de Macau. O momento acontece no dia 26 de Julho, pela 22h00 no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), sendo que já é possível comprar os bilhetes. Sarah Chang vai actuar a solo, num programa que inclui o “Concerto para Violino e Orquestra em Ré menor, Op. 47” do compositor finlandês Jean Sibelius. “Este concerto celebra o 150.º aniversário do nascimento de Jean Sibelius, pelo que a Orquestra de Macau irá interpretar ainda as suas obras Finlândia, Op. 26 e a Sinfonia N.º 5 em Mi bemol Maior, Op. 82”, explica em comunicado o CCM. Foi em 2010 que Sarah Chang subiu aos palcos de Macau pela primeira vez, sendo que já é um costume cooperar com orquestras e maestros de todo o mundo.

Moda Louis Vuitton premeiadupla de estilistas portugueses

A dupla de estilistas portu-gueses Marques’Almeida

acaba de conquistar o prestigia-do LVMH Prize, prémio inter-nacional no valor de 300 mil euros atribuído, anualmente, a jovens ‘designers’ de moda pela Fundação Louis Vuitton.

A vitória foi anunciada na última sexta-feira durante uma cerimónia que decorreu na capital francesa, Paris, tendo a escolha dos vence-dores ficado a cargo de um júri recheado de “estrelas” do mundo da alta costura como Karl Lagerfeld, Marc Jacobs, Raf Simons ou Ni-cholas Ghesquière.

“[O júri] escolheu uma marca que se destaca pela muita criatividade e por um produto que vende”, afirmou Delphine Arnaud, respon-sável executiva do LMVH Prize e filha de Bernard Arnaud, o principal nome por detrás do grupo Louis Vuitton, acrescentando que este é “o melhor painel de jurados do mundo”.

Para Marta Marques, de 28 anos, e Paulo Almeida,

de 29, portugueses que se mudaram para Londres, em Inglaterra, onde, em 2011, lançaram a sua primeira colecção, esta conquista é “um ponto de viragem” nas suas carreiras.

“É uma enorme honra [sermos distinguidos] por este painel de jurados”, admitiu Marta Marques por ocasião da entrega do pré-mio. “Estas são as pessoas que sempre nos inspiraram e é muito especial saber que nos escolheram”, confessou a jovem estilista portuguesa, citada pelo jornal norte-ame-ricano Wall Street Journal.

Além do prémio no valor de 300.000 euros, a dupla Marques’Almeida, escolhida entre oito finalis-tas de todo o mundo, terá direito, durante um ano, a aprender com os melhores do grupo LVMH, bem como a hipótese de receber treino especializado e de ter acesso às cadeias de produção e distribuição e aos especia-listas financeiros da Louis Vuitton.

Paulo de Senna Fernandes na direcção do “World Fashion Council”

O presidente da Associa-ção de Moda de Macau,

Paulo de Senna Fernandes, acaba de ser convidado para integrar a direcção do “World Fashion Council”, da World Fashion Orga-nization (WFO). Segundo Paulo de Senna Fernandes, já há planos para desenvol-ver a indústria e o estilista pretende “trazer as melhores coisas para Macau”.

“A WFO poderá certifi-car oficialmente as lojas de moda e empresas que este-jam qualificados pela WFO. Vou exigir à WFO para se deslocar a Macau para que se possam desenvolver neste belo território hotéis, centros comerciais, um museu e uma universidade ligadas ao mundo da moda, porque penso que Macau poderia ser uma Macau Fashion City”, por forma a atrair mais turistas, diz.

Segundo o estilista, as futuras parcerias entre o território e a WFO deverão ser estudadas, por se tratar de um exemplo de transforma-ção urbana por via da moda. “Acredito que é um exem-plo que deve ser analisado

porque a indústria da moda poderia vir a ultrapassar a indústria do jogo. Pode-ríamos transformar Macau numa Fashion City para atrair mais turistas e também para captar o interesse do público”, considerou.

Paulo de Senna Fernan-des pede, por isso, apoio das entidades oficiais, como é o caso do Governo Central e do Governo de Macau. “Espero que venha a ser um dos membros do Conselho das Indústrias Culturais para que consiga mostrar as minhas ideias, pois acho que é o momento certo para avançar com os meus pro-jectos”, disse ainda.

ArmAzém do Boi ARTiSTAS lOCAiS dENuNCiAM pROblEMAS SOCiAiS

Uma sátira para todos

totalmente novo e fictício, cuja publicidade é mais um mecanismo de sátira social do que uma estratégia de marketing para vender.

“Após dez anos de pesqui-sa, a nossa empresa lança a Ja-nela 2.0, o produto doméstico mais na moda e que fornece as melhores soluções cénicas

e para colmatar problemas como a poluição do ar e dos transportes, a poluição sonora e das construções, para que toda a gente possa apreciar

um ambiente refrescantes no lar”, explica Ieong na sua nota de apresentação. O artista tem um vasto repertório na área da Fotografia e do Cinema.

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12 china hoje macau terça-feira 26.5.2015

Dirigentes nas prisões como aviso contraa corrupçãoOs dirigentes chineses foram levados em ‘tours’ a prisões para visitar reclusos, incluindo antigos colegas, como um aviso contra a corrupção, escreve ontem a imprensa oficial. Mais de 70 dirigentes e seus cônjuges, da província de Hubei, passaram um dia, este mês, na prisão local, numa iniciativa descrita como “um aviso educacional”, escreveu ontem o jornal oficial China Daily. A viagem permitiu aos dirigentes conhecerem 15 antigos funcionários do Governo que estão agora a cumprir penas de prisão. O Partido Comunista Chinês lançou uma intensa campanha anti-corrupção que já resultou numa longa lista de detenções. O jornal citou a comissão de disciplina do partido, que garante que estas visitas foram organizadas por todo o país, servindo como “alerta contra quaisquer erros envolvendo corrupção”.

Pelo menos 35 mortose 13 desaparecidos devido a inundaçõesPelo menos 35 pessoas morreram e outras 13 desapareceram devido a inundações provocadas pelas chuvas intensas que afectaram vastas zonas do sul da China nos últimos dias. Segundo dados do Governo chinês, citados sexta-feira pela agência oficial Xinhua, a província de Guizhou, na qual perderam a vida 11 pessoas, é a mais atingida pelas tempestades. Na província de Jiangxi morreram sete pessoas, em Fujian faleceram cinco, e as restantes vítimas mortais foram registadas em Hunan e Guangdong, assim como na região autónoma de Guangxi, indicou o Ministério do Interior. As chuvas intensas registadas nos últimos dias no sul da China provocaram o transbordo de rios, destruição e casas e apagões eléctricos, inundações de estradas e cancelamentos de voos. Segundo informações divulgadas na quarta-feira pelas autoridades provinciais, havia mais de um milhão de pessoas afectadas pelas inundações.

Vistos Gold Pedidos diminuem 20%

O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, exortou no domingo os por-

tugueses de Pequim a replicar o novo Clube Português de Xangai, a primeira associação cultural e recreativa portuguesa criada na China continental em mais de meio século.

“Estas associações são funda-mentais para aproximar as comu-nidades de Portugal e para chegar aos públicos locais, contribuindo assim para a promoção dos nossos produtos e da imagem do país”, disse José Cesário à agência Lusa.

“As muitas dezenas de associa-ções portuguesas existentes pelo mundo fora complementam a acção desenvolvida pela nossa rede diplo-mática e consular”, acrescentou.

José Cesário falava após um almoço no único restaurante de Pequim dirigido por um ‘chef’ português, o “Camões”, que

“Faz falta um clube como o que foi criado em Xangai. Os portugueses que vivem em Pequim têm uma vida muito local, mas todos teríamos a ganhar se nos juntássemos mais”Inês Cunha e sIlva Portuguesa radicada na China

CAPItAl CHINeSA tAMbéM vAI ter uM Clube POrtuGuêS

O que faz falta é juntar a malta

juntou à mesa o embaixador de Portugal na China, Jorge Torres--Pereira, e a iniciadora da rede social “portugueses em Pequim”, Inês Cunha e Silva

Lançada por ocasião do 40.º da Revolução do 25 de Abril, em 2014, aquele rede social tem 76 pessoas, o que corresponde a cerca de metade dos membros da comu-nidade portuguesa registados na Embaixada de Pequim.

Nova era“Faz falta um clube como o que foi criado em Xangai. Os portu-

gueses que vivem em Pequim têm uma vida muito local, mas todos teríamos a ganhar se nos juntás-semos mais”, disse Inês Cunha e Silva, 27 anos, radicada na China desde 2010.

“A ideia de criar aqui um clube já estava a ser falada entre algumas pessoas do grupo (“portugueses em Pequim”). Espero que seja o começo de uma nova era”, acrescentou.

Inês Cunha e Silva concluiu o ano passado um mestrado na prestigiada universidade Qin-ghua, em Pequim, e a seguir criou

O número de pedidos de ‘Vistos Gold’ da China diminuiu

20% desde o caso de corrupção descoberto em Novembro pas-sado, mas foi compensado pelo aumento da procura de outros países, disse o secretário de Estado das Comunidades.

“Ninguém gostou do que se passou, evidentemente, mas estamos todos muito empenha-dos no sucesso do programa, salvaguardando ao máximo os

interesse do país e do investidor”, disse José Cesário. O governante, que tutela os serviços consulares da rede diplomática, realçou que o programa de ‘Vistos Gold’, lançado pelo Governo português no final de 2012 com o nome de ‘Autorização de Residência para Investimento’, “tem tido bastante sucesso”.

“Houve uma redução de 20% [dos pedidos] na China [nos últimos meses], mas que tem sido compen-sada por um aumento significativo noutras origens, nomeadamente Brasil”, afirmou José Cesário.

Onze pessoas, entre as quais o director-geral do Serviço de Estran-geiros e Fronteiras e o presidente do Instituto de Registos e Notariados,

foram detidos em Novembro no âmbito de uma investigação policial sobre corrupção no processo de atribuição dos ‘Vistos Gold’.

“Ninguém sabe exactamente o que se passou. Aguardamos as ave-riguações da Justiça”, comentou José Cesário. Até ao final de Março passa-do, já tinham sido atribuídos cerca de 3.500, mais de dois terços dos quais a cidadãos chineses, representando no conjunto um investimento de quase 1.400 milhões de euros.

uma empresa especializada na atracção de investimento chinês para Portugal.

A acta inaugural do novo Clube Português de Xangai será assinada na segunda-feira à tarde no Consulado-Geral de Portugal, com a presença do Secretário de Estado das Comunidades.

“O objectivo fundamental é agregar a comunidade, através de iniciativas culturais e desportivas, e ajudar os portugueses que che-gam a Xangai”, disse à agência Lusa Gonçalo Almeida Garrett, um dos promotores do clube.

O número de portugueses resi-dentes em Xangai e nas vizinhas províncias de Zhejiang e Jiangsu, na sua maioria quadros entre 30 e 40 anos, entre as quais dezenas de arquitectos, rondará os 300.

TeNdêNcias NaTuraisJosé Cesário termina em Xangai um périplo de uma semana pela China, iniciado na terça-feira em Macau.

Foi o quarto governante por-tuguês a deslocar-se a Pequim em menos de um mês, depois dos secretários de Estado das Finan-ças, Economia e Alimentação, Manuel Rodrigues, Leonardo Mathias e Nuno Vieira e Brito, respectivamente

A China tornou-se nos últimos anos um mercado de crescente importância para as exportações portuguesas e um dos principais investidores em Portugal, sobretu-do nas áreas da energia, seguros, saúde e banca.

“É uma tendência natural e não é mais do que aquilo que se passa noutros países. O investimento chinês é desejado e incentivado nos Estados Unidos, Canadá, Rei-no Unido e Alemanha”, comentou José Cesário.

“Durante muito tempo, igno-rámos pura e simplesmente este lado do mundo, e particularmente a China. Já se fez muito (para corrigir isso), mas há ainda mui-tíssimo a fazer”, acrescentou.

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13 chinahoje macau terça-feira 26.5.2015

A China condenou a dez anos de prisão dois cidadãos por alegada espionagem militar

para outros países, alegadamente recrutados através da Internet, e deteve outro indivíduo sob as mesmas acusações, informou sábado o diário Global Times.

O departamento de Segurança da província de Jiangsu, no leste da China, anunciou as sentenças dos dois condenados e a detenção do terceiro indivíduo, todos eles acusados de seguir os movi-mentos do exército chinês e de passarem documentos secretos a agências de espionagem estran-geiras, segundo o diário.

O único dos três que já tinha sido preso, com 30 anos e apelido

A China lançou um fundo internacio-

nal de ouro que preten-de chegar a um valor total de 100 mil yuan, informou o diário ofi-cial Shanghai Daily.

Esta iniciativa, li-derada pela Bolsa de Ouro de Shanghai (China) e em que 60 nações já investiram, irá fornecer os bancos centrais dos países membros para que au-mentem as suas reser-vas do metal precioso em troca de acções.

O fundo pretende operar no âmbito da Nova Rota da Seda, um projecto de inves-timento impulsionado pela China para refor-çar a sua posição como centro comercial e financeiro da Ásia.

A nova entidade vai investir em projectos de mineração de ouro em países que fazem parte da Nova Rota da Seda e aumentar a exploração em países como o Afeganistão ou o Cazaquistão.

O fundo será ba-seado na cidade chi-nesa de Xian, no no-roeste da China, onde o seu lançamento foi anunciado durante um fórum realizado neste fim de semana.

China, o maior produtor mundial do metal precioso, procu-ra abrir o seu mercado de ouro para o exterior para que a sua moeda, o yuan, tenha mais peso no momento de fixar os preços deste activo.

A China pediu sexta-feira aos Estados Unidos para

acabar com as missões de vi-gilância nas zonas marítimas sobre as quais Pequim reclama soberania, considerando que se trata de provocações.

“Sejam prudentes na tomada de decisões e não iniciem quaisquer acções provocatórias ou arrisca-das”, pediu o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Hong Lei numa conferência de imprensa, na sequência do aumento da tensão verifica-da nos últimos dias entre os dois países.

AS autoridades da região autónoma chinesa de

Xinjiang, de maioria muçul-mana uigur, desmantelaram, no espaço de um ano, 181 grupos que consideram es-tarem ligados a actividades terroristas.

Segundo a agência oficial chinesa, Xinhua, que cita dados do comité do Partido Comunista para a região, as autoridades identificaram 96,2% desses grupos quando planeavam ataques, detendo 112 suspeitos, que se renderam à polícia.

O Governo regional lan-çou uma campanha anti--terrorismo no ano passado, depois do atentado de 22 de Maio de 2014, quando uma bomba matou 39 pessoas num mercado em Urumqi, capital regional.

A violência em Xinjiang, onde a minoria uigur convi-

ve com a etnia maioritária han, aumentou nos últimos meses, bem como o número de detenções e julgamentos de suspeitos, organizados ao estilo maoista, em estádios desportivos, com dezenas de acusados julgados de uma só vez.

O regime comunista con-sidera que a violência é cau-sada por células terroristas com ligações a grupos de países vizinhos, que dese-jam a criação de um estado independente do Turquestão Oriental.

Pequim afirma que estes movimentos estão mesmo, nalguns casos, ligados à Al--Qaida, mas as comunidades uigures no exílio apontam antes para a forte repressão por parte das autoridades chinesas como causadora dos conflitos e negam a existência de orga-nizações terroristas.

Dois ciDaDãos conDenaDos por alegaDa espionagem militar

Inconfidências fataisDois homens foram condenados a dez anos de prisão por passarem documentos secretos parao estrangeiro.Um terceiro foi também detidonão se sabendo ainda o desfechoda sentença

O departamento de Segurança da província de Jiangsu, no leste da China, anunciou as sentenças dos dois condenados e a detenção do terceiro indivíduo, todos eles acusados de seguir os movimentos do exército chinês e de passarem documentos secretos a agências de espionagem estrangeiras

Wu, foi condenado por facultar mais de 120 arquivos e fotogra-fias, incluindo 11 documentos secretos, sobre instalações de treino e bases do exército e da força aérea chinesa.

Alegadamente o acusado recebeu o pagamento de 3.800 yuan pelas informações.

Foi também condenado à prisão um jornalista de 53 anos, chamado Zhao, por alegada recolha de informação militar e sobre o Partido Comunista na província de Jiangsu, incluindo 11 documentos confidenciais.

Em troca desses arquivos, o acusado recebeu 74.500 yuans, segundo as autoridades chinesas.

Manto de silêncioSobre o acusado mais jovem, conhecido como Gu e que tem 24 anos, a justiça chinesa não se pronunciou. O individuo en-frenta acusações similares aos dois outros casos por facilitar, alegadamente, 93 fotografias de instalações militares, 33 mapas e 29 relatórios, incluindo quatro documentos classificados, pelos quais terá obtido 34.460 yuans.

Todos os acusados receberam as ordens de agências de espio-nagem estrangeiras, através da Internet, em páginas de busca de emprego, no final de 2013, de acordo com as autoridades judiciárias de Jiangsu, citadas pelo Global Times.

Não foi especificado qual o país ou países para o quais foram enviadas as informações, refere a agência Efe.

Ouro Lançado fundointernacional no valorde 14.600 milhões de euros

Pequim pede aos EUApara acabar com vigilânciano Mar da China Meridional

Xinjiang Autoridadesdesmantelaram num ano 181grupos em operação anti-terrorismo

Um porta-voz do Pentá-gono afirmou na quinta-feira que os Estados Unidos ten-cionam continuar as missões de vigilância aéreas e navais nas zonas marítimas que a China reclama como territo-riais, mas Washington con-sidera serem internacionais.

Este conflito tem vindo a subir de tom desde 23 de Novembro de 2014, altura em que a China estabeleceu uma nova zona unilateral de identificação de defesa aérea na costa sudeste, que inclui as ilhas Diaoyu e cuja soberania é reclamada pela China e Japão.

Em Dezembro de 2014, o vice-presidente norte-ameri-cano, Joe Biden, manifestou preocupação face a esse proce-dimento, tendo afirmado que a situação causava “significa-tiva apreensão”, após reunião com o Presidente chinês, Xi Jinping.

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ShitaoPropósitos Sobre a Pintura do Monge Abóbora Amarga

hoje macau terça-feira 26.5.2015

1 - Na origem de cada tipo de rugas encontra-se um dado natural em que as formas particulares vão ditar os diversos nomes que serão convencionalmente atribuídos a essas rugas. do mesmo modo, a realidade das montanhas é pré existente às nomeações topográficas, e estas nomeações expressivas são ditadas por formas naturais, de modo que um mesmo nome pode ser encontrado em lugares diversos para designar picos que apresentam a mesma silhueta. as classificações não podem ser seguidas em abstracto de maneira arbitrária; é necessário estar consciente do suporte concreto de onde elas têm origem:tian Zhu, «Pilar do Céu» designa:- um pico no maciço do monte Yandang (província de Zhejiang)- um pico do maciço de Wuyi (Zhejiang, Fujian e Jiangxi)- um pico de Hengshan (Hunan)Ming Xing, «estrela Brilhante»: pertence ao monte Gui (Fujian)lian Hua «Flor de lótus»:-no maciço de Huangshan (anhui) -no maciço de Hengshan (Hunan)-no maciço de lushan (Jiangxi)Xian ren «O imortal»:-um pico do monte Xianyou (Fujian)-um pico de Huangshan (Fujian)Wu lao «Os Cinco Velhos»: lushan (Jiangxi)Qi Xian, «Os sete sábios», não localizada.Yun tai, «terraço das Nuvens»:

-existe um monte com este nome na província de Jiangsu;-e outro na província de sichuan.tian Ma, «Cavalo Celeste», no monte Gui (Fujian).shizi, «O leão»:-no monte Gui-no maciço de lushane Mei «a sobrancelha altiva», montanha na província de sichuan.lang Ye, «Cornalina»:Um pico na província de shandong; Um pico na província de anhui,Jin lun, «a roda dourada», no maciço de lushan,Xiang lu, «O Queimador de Perfumes»:No lushan;em shaoxing (Zhejiang)Xiao Hua, «a Florzinha», no Huashan (shanxi)Pi lian, não localizada.Hui Yan «Que faz arrepiar caminho às gansas selvagens», no Hengshan.

2 - literalmente: o nariz contra a parede. expressão clássica: ver «Conversações de Confúcio» (XVii, 10):«estudaste bem o Zu Nan e shao Nan? Porque não conhecer a fundo estes dois livros é dar com o nariz numa parede!». expressão que passou a provérbio designando a cegueira estreita que resulta da falta de informação e de cultura.

Capítulo IXo Método das Rugas(ContInuação)

Tal como existem diferentes denominações para as rugas, também as formas das montanhas têm tipos particula-res: tais como os picos Tian Zhu, Ming Xing, Lian Hua, Xian Ren, Wu Lao, Qi Xian, Yun Tai, Tian Ma, Shizi, E Mei, Lang Ye, Jin Lun, Xiang Lu, Xiao Hua, Pi Lian, Hui Yan1: tantos são os montes que apresentam cada um, uma forma particular, e logo tantas rugas diferentes para lhes sugerir os relevos diversos. Mas seguidamente, no momento de manusear a tinta e o pincel, já não nos devemos prender às categorias pré--concebidas de montanhas e de rugas: o primeiro traço do pincel afronta o papel e todos os outros o seguem por si próprios.A partir do momento em que se compreende o princípio único, a multiplicidade dos princípios particulares dedu-zir se -á de si mesma.Que se examine tudo o que comporta o Traço Único do Pincel: aí está englobada a infinidade dos princípios. Tra-ta-se de fixar as formas e estruturas da paisagem, e nisto o método das rugas permanece o mesmo, para os Antigos como para os modernos.

Os montes e os rios tomam forma pela pintura; o métier pictural reside na tinta; a tinta ganha vida pelo manejo do pincel, e a eficácia no maneio do pincel depende da mestria do pintor.O pintor hábil a manejar a tinta e o pincel encerra um conteúdo denso sob uma aparência vazia, estando habitado pelo Traço Único do Pincel, ele pode fazer face a todos os problemas sem erro ou desfalecimento. Pode acontecer também que seja o conteúdo que per-manece vazio, enquanto a forma exterior é densa: isto produz-se assim que o método se transforme sem que o pensamento tenha tomado parte conscientemente nes-sa mudança, de modo que a forma exterior se descobre na sua plenitude antes de se ter ocupado de conteúdo.Também, os Antigos cumpriam uma medida justa entre o vazio e o pleno; eles combinavam harmoniosamente conteúdo e forma, variando adequadamente o seu mé-todo de pintar, sem inépcia e sem erro. Com à vontade conquistada à força de disciplina, e uma execução plena de espírito, a sua pintura podia a cada passo fazer-se di-reita para exprimir o direito, oblíqua para o oblíquo, e excêntrica para o excêntrico.Mas se nos encerrarmos, pelo contrário, numa cegueira estreita2, com a parcialidade da vulgaridade mundana, suspensos diante da aparência das coisas, não nos torna-mos execráveis ao Criador?

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15 artes, letras e ideias

Paulo Maia e CarMotradução e ilustração

hoje macau terça-feira 26.5.2015

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16 hoje macau terça-feira 26.5.2015h

A Margarita. Uma das qualida-des que me atrai para a Mar-garita, bebida perfeita para o Verão, é que esta é uma

mistura que mantém uma qualidade razoável mesmo quando preparada por incompetentes. É muito difícil mistu-rar, num shaker, um pouco de tequilha, Cointreau e sumo de citrino de modo a que fique intragável (se bem que haja quem o consiga fazer). É uma bebida ideal para pedir em lugares, abundan-tes, em que o resto da oferta é de má qualidade e para fazer em casa.

Ao contrário - e este é um dos gran-des mistérios da civilização ocidental - misturar mal um Martini Seco é caso quase corrente, misterioso se pensar-mos que em mais pouco consiste que em gin puro. Esta bebida não se discute porque não é uma bebida estival mas persistente.

A Margarita tem outras qualida-des. É um modelo perfeito do co-cktail clássico em que conjuga o ele-mento alcoólico de base, a tequilha, o elemento que lhe dá o sabor ou lhe dá cor, neste caso o Cointreau, e o agente modificador que lhe dá carác-ter, a lima. Compreender este princí-pio cria uma base útil e estável para o experimentador noviço.

O sal é um brilho extraordiná-rio mas não exclusivo. A utilização do sal em bebidas, tanto no rebor-do do vasilhame como na mistura, é uma adição enriquecedora. Poucas bebidas são tão refrescantes como a mistura de soda com limas que se salgaram anteriormente - um sabor violentamente atraente depois de ad-quirido espalhado por vários países do sudeste asiático.

Além disso, ao contrário de algumas misturas clássicas intocáveis, a Margari-ta permite variações pessoais fáceis na adição de elementos paralelos à lima. Proponho que se experimente, por exemplo, com malaguetas ou fruta pró-pria. Um cansaço para com a utilização da fruta em cocktails impede-me, contu-do, de me alargar sobre este tópico.

O Gin Tónico, sobre o qual igual-mente me não estendo porque já aqui teve página (eu faço-os pequenos, num copo old fashioned, com muito gin, gor-dos e saborosos), é também uma base clássica a partir da qual facilmente se experimenta ou se confirmam suspei-tas. Os resultados são rapidamente compensadores.

Vícios EstiVais

O Highball à moda japonesa. Não passa de um whisky com soda exage-rado. O leitor está em Tóquio num mês de Verão. O mês de Agosto em Tóquio é quente e húmido, muito húmido, e nos filmes japoneses que se passam no Verão os homens (as mulheres menos, impedidas pelo pu-dor de se queixar), as camisas bran-cas encharcadas em suor, repetem à exaustão que está calor e limpam-se com uma toalha.

Para fazer o Highball usa-se um vaso grande, semelhante a uma cane-ca generosa de cerveja, que se enche de gelo. Junta-se-lhe umas duas ou três cunhas de lima e um blend qual-quer barato, Famous Grouse se a inten-ção for mais glénica, Cutty Sark se o bebente se inclinar para nostalgias ou vastidões marítimas, um Suntory para quem sentir uma saudade avassala-dora do Japão. Por fim, com energia (isto é muito importante), com sede, com um sorriso nos lábios, com ar-rogância juvenil contra o calor e a humidade, adiciona-se a soda. Em Macau pode usar-se ’Agua Castello, apropriadíssima a estas operações estivais pelo poder teimoso das suas bolhas grossas. No Japão o Highball é tão ubíquo que se vende em latas nos supermercados e lojas de conve-niência.

Vodka de Melancia. Mistura-se com facilidade e não pede ingredientes caros ou difíceis de encontrar (como qualquer das outras bebidas aqui exis-tentes). É um pouco irritante de as-pecto mas a facilidade da confecção e a quantidade larga que se consegue sem esforço, permite um ambiente de festa e o descanso do mixordeiro. 1. Corta-se cerca de 1/5 da melancia, uma tampa. 2. Retira-se o interior e bate-se num liquidificador. 3. Coa-se o sumo

de novo para dentro da melancia. 4. Junta-se o vodka e gelo.

Deve beber-se sem moderação – ideal, na sua aparente inocência, para provocar inesperadas discussões de família, descarregar verdades julgadas inconfessáveis e descobrir o fundo mal-doso de tias e cunhadas.

O vodka mistura bem com outras frutas, como melão ou a variedade ho-neydew, até mesmo com manga.

Apercebo-me que o gelo conti-nua a ser um dos grandes problemas das bebidas feitas em casa. Repita--se: o gelo deve ser feito com uma água pouco mineralizada, em cuvetes

Ao contrário de AlgumAs misturAs clássicAs intocáveis, A mArgAritA permite vAriAções pessoAis fáceis nA Adição de elementos pArAlelos à limA. proponho que se experimente, por exemplo, com mAlAguetAs ou frutA própriA

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17 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 26.5.2015

a revolta do emir Pedro Lystmann

Uma folha de limoeiro cortada com Uma tesoUra age rapidamente sobre qUalqUer mistUra. cheire-se,manUseie-se e Use-se

bem limpas e sem cheiros a plástico e, de preferência, no próprio dia ou no dia anterior. O congelador não deve ter cheiros – que o gelo absor-ve avidamente. Para quantidades de gelo mais largas o misturador amador deve considerar comprar um formi-dável instrumento, um ice pick, fazer

gelo num recipiente grande e parti--lo com vigor e com prazer de acor-do com a dimensão desejada. Deve fazer-se o gelo com severidade.*

O candidato a mixordeiro domés-tico deve manter um convívio íntimo com alguns ingredientes. Deve cheirá--los, mordê-los, entendê-los, e, se pos-sível, cultivá-los. Entre outros o pepi-no, a hortelã, a malagueta, a folha de limoeiro.**

O pepino, contendo 90% de água, é um refrescante perfeito. Pode liquefa-zer-se ou usar-se cortado, conservando a pele. Pode usar-se em alguns gins. É muito bom com ginger ale. Em Macau existem pepinos de vários tipos e de-vem comprar-se firmes (rapidamente se estragam). Pode cortar-se em pe-quenos cubos e esmagar muito ligeira-mente com um pistilo dentro do shaker e depois adicionar uma bebida branca e gelo e partir dessa base.

A hortelã não serve apenas para o mojito. Use-se em experiências, em gins tónicos, até mesmo num highball este se pode tornar muito bem vindo. Ou num Mint and Cucumber Refresher – hortelã, açúcar, sumo de lima, pepino, água com gás, gelo (experimentar qual a bebida alcoólica que se lhe poderá adicionar é um exercício esclarecedor).

Uma folha de limoeiro cortada com uma tesoura age rapidamente sobre qualquer mistura. Cheire-se, manuseie--se e use-se.

Victoria Moore, eterna citada nesta página, sugere, entre outras be-bidas de Verão, o Porto branco com água tónica, martinis de melancia ou pepino, daiquiris ou bebidas com base de rum.

Não deixo nunca de pensar que das bebidas brancas de base usadas

o candidato a mixordeiro doméstico deve manter Um convívio íntimo com algUns ingredientes. deve cheirá-los, mordê-los, entendê-los, e, se possível, cUltivá-los. entre oUtros o pepino, a hortelã,a malagUeta, a folhade limoeiro

para misturas - a tequilha, o rum, o vodka e o gin - duas têm origem meridional, as duas primeiras, e as outras duas exprimem uma cultura setentrional. O rum, sendo uma be-bida das Caraíbas, é usado para vá-rias misturas adaptadas aos climas quentes, como daiquiris, mojitos ou Cuba Libre, mas confesso que destas 4 bebidas de base o rum é a que me-nos entendo. Pensar sobre elas é uma maneira de as entender. Os brandies, os whiskys e os whiskeys pertencem a uma classe diferente.

Victoria Moore sugere igualmen-te Sangrias e Salty Dogs. Este último faz-se com facilidade: sumo de toranja, vodka e gelo no shaker, sal na borda do copo.

Nota: O Pimm’s Cup não é uma bebi-da de Verão, é uma bebida anunciadora da Primavera e das suas promessas. O Verão é uma estação de confirmação e imobilização, do prazer da fatigue e do ennui, uma estação cansada.

Mais: Mexican Fizz – tequilha, gre-nadine (facílimo de comprar), ginger ale; Gin Fizz – gin, açúcar, casca de limão, gelo e água gaseificada; Leap--Frog – sumo de limão, gelo, gin, ginger ale; Velvet Cooler – sumo de ananás, cerveja branca gelada, espu-mante gelado num copo highball (não se devem esquecer os cocktails que misturam cerveja com vinhos ou es-píritos. Este é forte). Chega.

* em certos bares a sério há uma hora da tarde destinada a aparar blocos de gelo de modo a torná-los redondos e próprios ao whisky. Nalguns usa-se uma máquina, mas noutros, como o Nocturne, em Hong Kong, a funcionária, japonesa, fá-lo à mão com uma graça feminil e cerimonial inultrapassável.

** aconselha-se a leitura de livros que contenham, para além de receitas, informação vasta sobre ingredientes. Poucos serão mais úteis que o livro Starting with Ingredients, de Aliza Green, que contém 99 generosas entradas sobre ingredientes, suas qualidades, história e seduções, tão díspares como amêndoas, vitela, queijos, pepinos, café, limões e limas ou ruibarbo.

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18 hoje macau terça-feira 26.5.2015(F)utilidadestempo aguaceiros ocasionais min 25 max 30 hum 75-98% • euro 8.76 baht 0.23 yuan 1.28

João Corvofonte da inveja

Aconteceu Hoje 26 de maio

nasce john Wayne• A 26 de Maio de 1907 nasce um dos cowboys do cinema mais populares, o actor e realizador americano John Wayne. Também neste dia é encontrado Kaspar Hauser, uma criança abandonada numa praça da Alemanha, no século XIX, que teria, alegadamente, ligações à família real de Baden. John Wayne era filho de um farmacêutico e o seu verdadeiro nome era Marion Michael Morrison. Wayne destacou-se no cinema em 1930 em “The Big Trail”, filme dirigido por Raoul Walsh. Depois de vários anos, Wayne torna-se Ringo Kid em “Stagecoach”, clássico de 1939 de John Ford. Além de John Ford, outros grandes realizadores da época igualmente tiveram Wayne como seu actor principal, como é o caso de Henry Hathaway, com quem fez, entre outros, o filme que lhe concedeu o Óscar de Melhor Actor: “True Grit (1969)”. Wayne casou-se três vezes. A primeira em 1932 com Josephine Saenz, que lhe deu quatro filhos. Em 1946, o segundo casa-mento, agora com a actriz mexicana Esperanza Baur, de quem se divorciou sete anos depois para casar-se com Pilar Palette, com quem teve mais dois filhos.Fumador desde jovem, foi-lhe diagnosticado um cancro de pulmão em 1964. Depois da remoção de um pulmão, cinco anos depois viu-se livre da doença. No final da década de 1970, Wayne envolveu-se como voluntário nos estudos de uma vacina para a cura da doença, mas veio a falecer aos 72 anos, em decorrência, justamente, de um cancro de estômago.Também neste dia Kaspar Hauser foi encontrado, na Alemanha, abandonado. A então criança tornou-se conhecida ao afirmar que havia passado toda a sua vida numa masmorra, sem contacto com humanos, sendo alimentado apenas com pão e água. O jovem, supostamente com quinze anos de idade aprendeu a falar, a ler e a comportar-se ao nível do que era socialmente aceitável e a sua fama correu a Europa, tendo ficado conhecido, à época, como o “filho da Europa”. Foi assassinado com uma facada no peito, em Dezembro de 1833.

O que fazer esta semana? C i n e m aCineteatro

Sala 1tomorrowland [b]Filme de: Brad BirdCom: George Clooney, John Walker, Britt Robertson14.15, 16.45, 19.15, 21.45

Sala 2mad max: fury road [c]Filme de: George MillerCom: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult14.30, 16.45, 21.30

mad max: fury road [3d] [c]Filme de: George MillerCom: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult19.15

Sala 3tdragon ball z: reSurrection “f” [b]FAlADO EM JAPONêSlEGENDADO EM CHINêS E INGlêSFilme de: Tadayoshi Yamamuro14.30, 16.30, 19.30, 21.30

TOMORROWlAND

h o j e h á f i l m e

Um conto de fadas dos dias modernos, que agrada a adultos e crianças. “Shrek” traz-nos a figura de um ogre solitário que se vê numa viagem com um burro que fala, para tentar salvar o seu pântano da invasão de pequenas criaturas dos contos de fadas. Mais tarde, Shrek vê-se a braços com a missão de salvar uma princesa, Fiona, se quer ver restaurado o seu sossego. Cheio de humor e com uma bem conhecida banda sonora, “Shrek” é o filme ideal para aqueles dias de chuva aborrecidos ou até para uma noite entre amigos ou com os filhos. joana Freitas

“SHrek”(Vicky jenSon, AndreW AdAmSon, 2001)

O capacete acabrunha o corpo e amolece a alma. Não é mau...

Sexta-feiraTEATRO “TRuST”(FESTIvAl DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 100 às 350 patacas

TEATRO “DOT”(FESTIvAl DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 120 às 150 patacas

SábadoTEATRO “TRuST” (FESTIvAl DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 100 às 350 patacas

TEATRO “DOT” (FESTIvAl DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 15h00Bilhetes das 120 às 150 patacas

Diariamente EXPOSIçãO DE ARTES vISuAIS DE MACAu (ATé 2/8)Pintura e Caligrafia ChinesasEdifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00entrada livre

EXPOSIçãO “A ÚlTIMA FRONTEIRA:MISTéRIOS DO OCEANO PROFuNDO” (ATé 31/05)Centro de Ciência de Macau

EXPOSIçãO “vAlquíRIA”,DE JOANA vASCONCElOS (ATé 31 DE OuTuBRO)MGM Macau,Grande Praça entrada livre

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19opiniãohoje macau terça-feira 26.5.2015

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

A pobreza e o desespero sentido pelas populações de diferentes zonas geo-gráficas do planeta têm conduzido a um fluxo migratório incontrolável da costa do Norte de África em direcção à Europa, através do Mar Mediterrâneo. A Europa

é para estas pessoas uma janela de bem--estar e esperança face ao desespero das suas vidas nos seus países de origem.

As vítimas dos naufrágios do Mediter-râneo têm diferentes origens geográficas e diferem também nos motivos subjacentes às suas decisões de emigrar, na trágica lista de vítimas constam jovens desempregados do Norte de África e da África Subsariana, havendo países onde actualmente o de-semprego entre os jovens atinge os 60%, constam também famílias de refugiados da guerra civil na Síria e desalojados do Ban-gladesh, uns em fuga dos terríveis efeitos da Guerra, os outros em êxodo devido aos efeitos negativos das alterações climáticas mundiais, etc...

Para se compreender a génese da actual tragédia humanitária do Mediterrâneo, é necessário investigar as causas mais pro-fundas do crescimento exponencial do fluxo migratório nos últimos anos.

Entre as causas do crescimento do fluxo migratório encontram-se os catastróficos resultados sociais, políticos, económicos, religiosos e militares, da segunda invasão do Iraque, mas também uma parte das consequências da denominada ‘Primavera Árabe’, nomeadamente, o colapso do Estado Líbio e a guerra civil na Síria.

Na Líbia, um Estado falhado, decorre actualmente uma guerra entre exércitos chefiados por ‘Senhores da Guerra’, na tentativa do controlo das populações, do território e dos recursos, essencialmente petrolíferos, sendo por este facto um campo muito fértil para o crescimento da actividade de grupos criminosos interna-cionais dedicados ao tráfico de armas e ao tráfico humano, entre outras actividades criminosas. Na Síria assiste-se actualmen-te a uma violentíssima guerra civil, com o consequente êxodo de populações e a criação de campos de refugiados facilmente permeáveis à acção das redes criminosas internacionais de tráfico humano.

A desestabilização política, económica, militar, social e religiosa, causada pela se-gunda invasão do Iraque, saiu para fora das fronteiras do Estado iraquiano estendendo-se actualmente a outros estados da região, de que é exemplo o actual conflito no Iémen. A permanência do clima de guerra civil no Iraque e o eclodir da guerra civil no Iémen

José Baptista

Entre as causas do crescimento do fluxo migratório encontram-se os catastróficos resultados sociais, políticos, económicos, religiosos e militares, da segunda invasão do Iraque, mas também uma parte das consequências da denominada ‘Primavera Árabe’, nomeadamente, o colapso do Estado Líbio e a guerra civil na Síria

A tragédia do Mediterrâneo

resultam em boa parte do conflito entre a Arábia Saudita e o Irão, realizado através de terceiros, uma Arábia Saudita, sunita e árabe, encontra-se em conflito com um Irão, xiita e persa, pelo controlo político e militar da região.

Dos conflitos sumariamente descritos, o que melhor descreve e prova que não é possível separar o conjunto de efeitos da segunda invasão do Iraque, dos efeitos sociais, políticos, económicos, religiosos

cartoon por Stephff ilhas

e militares, da ‘Primavera Árabe’, é a ac-tual guerra civil da Síria, a guerra civil na Síria deflagra na sequência da ‘Primavera Árabe’ e simultaneamente consubstancia o conflito entre a Arábia Saudita sunita e o Irão xiita.

A guerra civil Síria nasce dos escombros do Estado iraquiano, com a Arábia Saudita a patrocinar financeiramente e militarmente a oposição sunita ao governo chefiado pelo Presidente Bashar al-Assad, apoiado poli-

ticamente, financeiramente e militarmente por um Irão xiita e persa.

A actual crise humanitária do Mediterrâneo para além de espelhar os graves desequilíbrios do actual modelo político/económico mundial, os gravíssimos conflitos político/militares do Médio-Oriente e o poder da indústria petrolí-fera, veio também tornar ainda mais visíveis as diferenças de interesses estratégicos e preocu-pações políticas no seio do ‘projecto europeu’, a separação Norte/Sul não existe somente entre os dois hemisférios, existe também na União Europeia (UE).

Na minha modesta opinião, os países do Norte da Europa não podem continuar praticamente mudos em relação ao gravís-simo problema humanitário existente no Mediterrâneo, a sua confortável posição geográfica perante a crise migratória não pode transformar-se numa inércia política, face à importância geopolítica do problema e à gravidade das suas consequências.

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hoje macau terça-feira 26.5.2015pu

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Tailândia liberta estudantes detidos por criticaremjunta militar

A polícia tailandesa libertou 38 estudantes detidos na

sexta-feira por pedirem eleições e criticarem a junta militar, no dia em que se assinalou o primeiro aniversário do golpe de Estado, informou sábado a imprensa local.

A manifestação organizada no Centro de Cultura e Arte de Banguecoque decorreu com normalidade até que meia centena de polícias entrou em acção e começou a levar à força os estudantes que, sentados, reivindicavam democracia.

Também foram detidos vá-rios activistas em Banguecoque e pelo menos sete estudantes que também se manifestaram na província de Khon Kaen, no nordeste do país, informou o diário Bangkok Post.

Richard Bennett, director da Amnistia Internacional para a Ásia-Pacífico, criticou a detenção de “manifestantes pacíficos”.

O Conselho Nacional para a Paz e Ordem, nome oficial da junta militar, cumpriu um ano no poder na sexta-feira.

O Governo anunciou um referendo constitucional e elei-ções gerais para 2016.

Desde o fim da monarquia absoluta em 1932, a Tailândia foi palco de 19 tentativas de golpe de Estado, das quais 12 consumadas com êxito.

Râguebi Portugal termina Mundialde sub-20 em sétimo Portugal garantiu domingo o sétimo lugar no Mundial de râguebi de sub-20, depois de vencer Hong Kong por 47-21 (22-14 ao intervalo), no estádio do Jamor, em Oeiras. Na primeira parte, destacou-se Pedro Rosa, que marcou dois ensaios, convertidos por João Leitão. Os ensaios de Hong Kong na primeira parte foram marcados por Hugo Stiles e Raef Morrison, ambos convertidos por Liam Owens. No segundo tempo, Pedro Ferreira foi a grande figura dos jovens ‘lobos’, ao conseguir quatro ensaios, todos convertidos por João Leitão, que também conseguiu um ensaio.

U m consultor português na área do ambiente, Renato Roldão, está na linha da frente da “guerra à polui-

ção” declarada pelo governo chinês.“A China é, provavelmente, o

sítio mais aliciante do mundo para quem trabalha nas questões da energia, ambiente e alterações cli-máticas”, disse o técnico à agência Lusa. “Há muito a fazer aqui nos próximos dez, vinte, trinta anos e esse trabalho tem que ser feito com grande apoio internacional”.

Renato Roldão, 36 anos, licen-ciado em Relações Internacionais pela Universidade do minho, vive na China desde 2008.

Especialista em alterações cli-máticas, Renato Roldão é o único europeu do escritório de Pequim da Inner City Fund (ICF) Interna-tional, consultora norte-americana a quem a foi adjudicado um pro-jecto de assistência técnica ao desenho e implementação do comércio de emissões de carbono da China.

Trata-se de um projecto consi-derado “decisivo para reformar a economia chinesa”, desenvolvido com fundos da União Europeia e em colaboração com a Comissão Nacional de Reforma e Desenvol-vimento (NDRC), o organismo ministerial chinês encarregue do planeamento económico.

“As coisas, aqui, estão a acontecer a um ritmo bastante rápido, mas a dimensão do problema ambiental é enorme”Renato Roldão licenciadoem Relações Internacionais

ChIna UM técNicO PORtUgUêS Na “gUeRRa à POLUiçãO”

na linha da frente“As experiências de boas prá-

ticas acumuladas pelos Estados Unidos, a Europa ou a Austrália são úteis para a China acelerar todo o processo de transição para uma economia mais eficiente no uso dos recursos naturais”, afirma Renato Roldão.

Até ao final desta década - indi-cou o técnico português - a China toda deverá estar integrado num mercado nacional de carbono: “A lógica é penalizar quem polui, incentivar quem inove”.

Ano de virAgemEm 2014, pela primeira vez em mais de uma década, o consumo de carvão na China diminuiu e o investimento chinês nas energias limpas, nomea-damente eólica e solar, foi superior ao de toda a Europa.

“As coisas, aqui, estão a acon-tecer a um ritmo bastante rápido, mas a dimensão do problema ambiental é enorme”, salienta Renato Roldão.

O carvão continua a assegu-rar 64% da energia do país. Em Pequim e outras grandes cidades, o nível da qualidade do ar está muitas vezes acima dos limites recomendados pela Organização mundial de Saúde, fazendo da poluição uma das principais fontes de insatisfação popular na China.

O novo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, reconheceu que “em algumas áreas, a poluição do ar, da água e do solo é grave”.

“Iremos declarar guerra à po-luição e iremos combatê-la com a mesma determinação com que lu-támos contra a pobreza”, anunciou Li Keqiang no primeiro relatório que apresentou à Assembleia Nacional Popular (parlamento), em março do ano passado.

Renato Roldão só começou a interessar-se pela China depois de concluir a licenciatura em Rela-ções Internacionais, em 2001: “Na altura, as referências à China eram mínimas. Os cursos estavam muito focados nos estudos europeus”.

No mestrado, feito na Uni-versidade de Aveiro, com um corpo docente que incluía vários sinólogos estrangeiros, estudou

geografia chinesa e em 2002 esteve em Pequim a aprender chinês.

A sua tese, apresentada no ano seguinte, incidiu precisamente sobre as energias renováveis na China e, desde então, continuou “ligado à China e às questões ambientais”.

rumo Ao pAís do meioHá sete anos, partiu para Pequim com a mulher, Ana magalhães, formada também em Relações Internacionais, e um filho de seis meses: “Sempre pensei trabalhar fora de Portugal, não por neces-sidade mas por opção”.

“Queria ter uma oportunidade para desenvolver uma carreira internacional”, acrescentou.

A mudança “não foi fácil”, confessa Renato Roldão. A China, no entanto, “é aliciante” e isso - garante - “ajuda à integração”.

Entretanto, esteve também envolvido na criação do Conselho Empresarial da Embaixada de Portugal em Pequim e no dia 10 de Junho de 2012 foi condecorado pelo Presidente da República com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Quanto ao que sente mais falta em Pequim, Renato Roldão responde sem hesitar: “Sinto falta da praia, do mar e de alguma boa comida”.

Mas o que já adquiriu, profis-sional e humanamente, ficará para sempre: “mesmo que uma pessoa acabe por regressar ao seu país, a experiência internacional só pode acrescentar valor”.

António CaeiroLUSA