hofmann, jussara avaliacao mediadora

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AVALIAÇÃO MEDIADORA: UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃO, DA PRÉ-ESCOLA À UNIVERSIDADE JUSSARA M. L. HOFFMAN A avaliação classificatória assegura o ensino de qualidade? Não reprovação, significa não avaliação? A autora através de pesquisas em escolas públicas brasileiras, nos faz refletir sobre o real significado do termo avaliação mediadora.

A avaliação mediadora tem como significado essencial, prestar muita atenção no aluno, conhecê-lo melhor, ouvindo seus argumentos, fazendo-lhe novas e desafiadoras questões, buscando alternativas para uma ação educativa voltada para a autonomia moral e intelectual. O significado da avaliação baseada em notas e provas se estende desde o meio educacional, até aos alunos e pais, que vêem as notas e provas como redes de segurança em termos de controle. É um sistema classificatório vago, porque aponta falhas no processo de aprendizagem e não as reais dificuldades dos alunos, além de discriminar e selecionar, reforçando assim, a idéia de uma escola para poucos. Numa perspectiva construtivista de avaliação, se analisa, objetivamente, as chances que se oferece ao aluno para que ele explore seu desenvolvimento máximo, alcançando a aprendizagem no seu sentido amplo, a partir das oportunidades que o meio lhe oferece. Construtivismo significa que nada está pronto e acabado e que o conhecimento não é dado como terminado. O aspecto avaliativo da teoria construtivista é fundamental. O desenvolvimento do indivíduo se dá por estágios evolutivos do pensamento a partir de sua maturação e suas vivências.Se o entendimento do aluno decorre de sua experiência, se entendermos a construção do conhecimento como permanente e sucessiva, a expressão:” este aluno não aprende”, torna-se incoerente. No entanto, ultrapassar posturas convencionais em avaliação, exige aprofundamento e conhecimento em questões das diferentes disciplinas. UMA VISÃO CONSTRUTIVISTA DO ERRO –segundo Constance Kamii (1992) Na visão tradicional de avaliação, a classificação do aluno se dá a partir do processo corretivo, eliminando-se a subjetividade, evitando-se assim que se cometam injustiças na contagem dos erros e dos acertos. Numa concepção mediadora de avaliação, a subjetividade na elaboração das perguntas é muito positiva, pois, permite no momento da correção uma reflexão sobre as hipóteses que vierem a ser construídas pelos alunos. Nos três graus de ensino, em toda e qualquer tarefa realizada pelos alunos, nota-se a preocupação com o caráter de seleção, como nos concursos de vestibulares. As tarefas na escola deveriam ter caráter problematizador e dialógico, não apenas

constatativo. Deve-se ter em mente que se as tarefas de aprendizagem forem consideradas como elemento de investigação do professor sobre o processo de construção de conhecimento do aluno, ele terá como intervir adequadamente neste processo e refazer revisões periódicas. PRINCÍPIOS COERENTES A UMA AVALIAÇÃO MEDIADORA

- Oportunizar aos alunos, muitos momentos de expressar suas idéias; - Possibilitar discussão entre os alunos a partir de situações desencadeadoras; - Realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente,

procurando estender razões para as respostas apresentadas pelos educandos; - Fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as

dificuldades, oferecendo-lhes a oportunidade de descobrir melhores soluções;

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- Transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento.

POR QUE CORRIGIR AS TAREFAS DOS ALUNOS?

Na avaliação classificatória tradicional, o mais importante na questão da correção é a concepção de certo-errado, que tem como conseqüência: para o aluno:

- a auto- recriminação por erro cometido; - a não percepção de um parâmetro intermediário entre o certo e o errado; - a percepção por parte do aluno, de que a escola serve apenas para classificá-lo como

capaz ou não-capaz e que precisa a qualquer custo ser considerado “capaz”; - leva o aluno a dar respostas não elaboradas por ele, sem entendê-las, só para agradar

o professor. para o professor: - uma correção mais precisa, para justificar seu julgamento final sobre o aluno; - uma preocupação em transformar os erros do aluno em acertos, induzindo-o a uma

resposta certa, para que os erros, não deponham contra ele; Na avaliação mediadora, a valorização através do questionamento, está sempre presente. Esse questionamento deverá ocorrer sem aceitar plenamente a solução inicialmente apresentada pelo aluno, mas registrando-se o caso, refletindo-se a respeito e criando-se situações-problema para que ele reorganize suas idéias, reformule suas hipóteses e procure resolver a atividade. Portanto, valorizar, não significa deixar como está e acreditar que um dia o aluno descobrirá o certo, mas sim, levá-lo a refletir sobre as diversas situações de descoberta. Quanto às famílias, as escolas devem envolvê-las no processo de mudança: jogo aberto, exemplos concretos, discussão de propostas pedagógicas e seminários com especialistas. O tema “correção‟ exige o princípio essencial de respeitar a criança em suas etapas de desenvolvimento. É urgente a necessidade dos professores incluírem a expressão AINDA no seu vocabulário. Substituir o “acertou/não acertou”por „aprendeu/AINDA não aprendeu”. O fato de incluir-se o AINDA, mostra confiança e compromisso em tornar o “vir a ser” possível. Numa visão construtivista, o interesse dos alunos está, intimamente, ligado às questões cognitivas e às questões sócio- afetivas. Sugere-se o termo “relatório de avaliação”, no lugar de “parecer descritivo”.Nesses relatórios seria interessante que aparecessem questões do tipo: - áreas do conhecimento trabalhadas pelo aluno; - avanços atingidos nessas áreas, acompanhados de exemplos; - sugestões apresentadas pelo professor para melhor desenvolvimento de determinadas

áreas tarefas, jogos, leituras, grupos, etc...); - pedir sugestão dos pais para as questões sócio- afetivas; - registrar como o aluno vê seu progresso e a opinião dos pais; O que observamos em nossas escolas é a reprodução de práticas avaliativas ora permissivas, ora reprovativas. Para resolver a complexidade da questão da avaliação no ensino de 2º e 3º graus, devemos refletir sobre: - como superar o descrédito dos professores sobre a avaliação mediadora? - como discutir as emergências dessa prática, se os professores são formados

superficialmente? - como afastar a visão behaviorista da concepção classificatória da avaliação? A solução seria o despertar do professor para a relação dialógica da avaliação, sem buscar culpados para o fracasso, procurando razões lógicas e científicas para os “desentendimentos”.

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A perspectiva de avaliação mediadora pretende opor-se ao modelo do “transmitir – verificar – registrar” e evoluir para “contribuir – elucidar – favorecer a troca de idéias”. A avaliação enquanto relação dialógica, vai conceber o conhecimento como apropriação do saber por ambas as partes, professor e aluno, como ação-reflexão-ação. O diálogo, entendido a partir dessa relação epistemológica, não se processa, obrigatoriamente, através de conversa. Poderemos assim, a partir daí, refletir sobre algumas rotinas avaliativas do 2º e 3º graus: - justificar, significativamente, tarefas e provas no final dos períodos letivos; - compreender os entendimentos, desentendimentos e novas descobertas dos alunos ; - repensar a validade dos trabalhos que jamais serão discutidos ou analisados em

conjunto com o educador e o educando. Trabalho realizado em uma Faculdade de Matemática, revela a possibilidade da coexistência de uma avaliação mediadora no 3º grau. A grande preocupação era o número elevado de evasão e repetência nos semestres anteriores. Após garantir a participação dos alunos, estabelecer como significado principal da experiência, perseguir o envolvimento do aluno, sua curiosidade e comprometimento sobre o objeto do conhecimento, partiu-se para um aprofundamento maior no conteúdo programático: reviram-se os objetivos, redimensionaram-se as áreas de conteúdo, na tentativa de explicitar uma seqüência e gradação das dificuldades. Optou-se pelo método de resolução de problemas da realidade, construídos a partir de situações do cotidiano, coerente à perspectiva construtivista da experiência. A avaliação seguiu algumas linhas-mestras: - alunos expressavam suas idéias e retomavam dificuldades; - realizavam tarefas em grupo, auxiliavam-se nas dificuldades, mas garantiam tarefas

avaliativas individuais; - faziam-se anotações significativas para professor e aluno, ao invés de colocar apenas

certo e errado (C e E); - propunham-se desafios significativos. Logo, a resistência dos alunos foi diminuindo, pela clareza da professora em apontar-lhes caminhos, num jogo aberto, com acompanhamentos e anotações. Os resultados finais foram dados em função dos conceitos fundamentais da disciplina, aprendizagem esta percebida através da realização da progressão da dificuldade das tarefas. Apesar dos entraves, dos tropeços, da impossibilidade de tempo para discussão e estudo, os professores que perseguiram os princípios da proposta consideram impossível o retrocesso à prática tradicional, descobriram suas próprias maneiras de avaliar e acham que, realmente, valeu a pena. Estudos de avaliação, desafiam-nos a trabalhar em três grandes dimensões: - análise de experiências vividas; - respeito à sensibilidade do professor; - aprofundamento teórico.