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1 HISTÓRIA DAS IDEIAS E SENTIMENTOS POLÍTICOS EM PORTUGAL NA VIRADA PARA O SÉCULO XX 1 Gizlene Neder 2 Este trabalho enfoca as ideias políticas e a cultura jurídica em Portugal, a partir da prática historiográfica e da inserção de Manuel Paulo Merêa no campo intelectual português na passagem à modernidade. Conhecido pela produção intelectual no campo dos estudos de história do direito, Merêa escreveu livros e artigos sobre autores do pensamento político europeu. Os textos sobre os autores do século XVII (Suárez, Grócio e Hobbes) e Rousseau (século XVIII) são interpretados a partir da perspectiva da história das ideias políticas. Enfocamos os trabalhos de Paulo Merêa tendo em vista o contexto histórico da virada para o século XX e os sentimentos políticos referidos as relações com a cultura política e religiosa. O artigo baseia-se em pesquisa com fonte bibliográfica dos acervos da Biblioteca Nacional de Lisboa, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Manuel Paulo Merêa (1889-1977) dissertou, com destaque, sobre três autores do pensamento político europeu do século XVII: Francisco Suárez (1548-1617), Hugo Grócio (1583-1645) e Thomas Hobbes (1588-1679). E sobre mais dois, com menos destaque: Samuel Von Pufendorf (1632-1694) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), este do século XVIII. O objetivo apresentado por Merêa na introdução do texto mais elaborado, “Suárez, Grócio e Hobbes”, é preencher o vácuo promovido pela transição das ideias pré-modernas (primeira escolástica) para as ideias modernas propriamente ditas. Neste artigo trabalhamos alguns aspectos da biografia intelectual do jurista e historiador do direito, Paulo Merêa, baseados no livro "Suárez, Grócio e Hobbes" 3 . O 1 Este trabalho vincula-se ao projeto de pesquisa: Duas Margens: Ideias Jurídicas em Portugal e no Brasil na Passagem à Modernidade. Bolsa de Investigação para Estrangeiros da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2010). 2 Professora Associada do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Bolsista de Produtividade do CNPq e Cientista do Nosso Estado (FAPERJ).

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HISTÓRIA DAS IDEIAS E SENTIMENTOS POLÍTICOS EM PORTUGAL NA VIRADA PARA O SÉCULO XX1

Gizlene Neder2

Este trabalho enfoca as ideias políticas e a cultura jurídica em Portugal, a partir da

prática historiográfica e da inserção de Manuel Paulo Merêa no campo intelectual

português na passagem à modernidade. Conhecido pela produção intelectual no campo

dos estudos de história do direito, Merêa escreveu livros e artigos sobre autores do

pensamento político europeu. Os textos sobre os autores do século XVII (Suárez,

Grócio e Hobbes) e Rousseau (século XVIII) são interpretados a partir da perspectiva da

história das ideias políticas. Enfocamos os trabalhos de Paulo Merêa tendo em vista o

contexto histórico da virada para o século XX e os sentimentos políticos referidos as

relações com a cultura política e religiosa. O artigo baseia-se em pesquisa com fonte

bibliográfica dos acervos da Biblioteca Nacional de Lisboa, da Biblioteca Nacional do

Rio de Janeiro e do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro.

Manuel Paulo Merêa (1889-1977) dissertou, com destaque, sobre três autores do

pensamento político europeu do século XVII: Francisco Suárez (1548-1617), Hugo

Grócio (1583-1645) e Thomas Hobbes (1588-1679). E sobre mais dois, com menos

destaque: Samuel Von Pufendorf (1632-1694) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),

este do século XVIII. O objetivo apresentado por Merêa na introdução do texto mais

elaborado, “Suárez, Grócio e Hobbes”, é preencher o vácuo promovido pela transição

das ideias pré-modernas (primeira escolástica) para as ideias modernas propriamente

ditas.

Neste artigo trabalhamos alguns aspectos da biografia intelectual do jurista e

historiador do direito, Paulo Merêa, baseados no livro "Suárez, Grócio e Hobbes"3. O

1 Este trabalho vincula-se ao projeto de pesquisa: Duas Margens: Ideias Jurídicas em Portugal e no Brasil na Passagem à Modernidade. Bolsa de Investigação para Estrangeiros da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2010). 2 Professora Associada do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Bolsista de

Produtividade do CNPq e Cientista do Nosso Estado (FAPERJ).

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livro foi escrito a partir das aulas de História das Doutrinas Políticas para o Curso de

Licenciatura em Ciências Politicas, pronunciado na Universidade de Coimbra, em 1941.

Escolhemos este texto como fio condutor da construção dos argumentos que

desenvolvemos neste trabalho. No entanto, estamos trazendo para análise outros textos

de Merêa, onde a história das ideias políticas é enfocada, notadamente: “Suárez, jurista.

O problema da origem do poder civil”4, publicado em 1917, editado pela Revista da

Universidade de Coimbra (volume VI), tendo sido apresentado em congresso

internacional realizado na cidade de Granada, no mesmo ano, para as comemorações do

tricentenário da morte de Francisco Suárez; “A origem do poder civil em Suárez e

Pufendorf (Escolástica e Jusnaturalismo)”5, cujo título original – “Escolástica e

Jusnaturalismo” - fora publicado no Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra

(volume XIX) em 19436; e “O ‘legislador’ de J. J. Rousseau”7; este um texto inédito,

datado de 1967; recebeu uma publicação póstuma, dirigida pelo seu neto, o jurista José

Manuel Merêa Pizarro Beleza.

Na brevíssima introdução do livro “Suárez, Grócio e Hobbes”, Merêa anuncia,

com humildade, suas limitações quanto a seu preparo para o enfoque histórico e

filosófico que o tema exige. "Não sei se fiz realmente história. Talvez não. A história

vai se tornando uma coisa complexa demais para mim. Exige, (...), uma forte dose de

filosofia, e a minha filosofia não vai - ai de mim! - muito além do senso comum"8.

3 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, Lições de História das Doutrinas Políticas, feitas na Universidade de Coimbra (Curso de Licenciatura em Ciências Políticas), Coimbra: Armênio Amado, 1941, 118 p. Embora a obra completa de Paulo Merêa esteja sendo editada pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda, ambas em Lisboa, sob a supervisão do neto José Manuel Merêa Pizarro Beleza. 4 Merêa, Paulo. “Suárez, jurista. O problema da origem do poder civil”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Prefácio de Mário Júlio de Almeida Costa; nota introdutória de José Manuel Merêa Pizarro Beleza, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, p. 107-185. 5 Merêa, Paulo. “A origem do poder civil em Suárez e Pufendorf (Escolástica e Jusnaturalismo)”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Op. cit., p. 351-365. 6 As referências às datas e revisões das edições dos diferentes textos de Merêa encontram-se detalhadas na edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda de 2004; a organização dos textos foi feita por se neto. 7 Merêa, Paulo. “O ‘legislador’ de J. J. Rousseau”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Op. cit., p. 367-383. 8 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit. p.5.

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A reserva conformava uma das singularidades do posicionamento de Paulo Merêa

enquanto intelectual. Merêa prossegue ainda na introdução, nas declarações de

humildade intelectual: "Pois, assim mesmo o livrinho aí fica, com mais ou menos

história, com mais ou menos filosofia, pensado e escrito como sei, o que é sempre

preferível a não escrever – e, sobretudo, a não pensar”9.

Merêa concebe a história das ideias de forma evolutiva, através de uma percepção

acumulativa de conhecimentos e com base em sucessivos empréstimos; o que era

comum naquela temporalidade dado que o positivismo e o evolucionismo eram

hegemônicos e sua de apropriação poderia ocorrer de forma involuntária, mesmo entre

autores que não abraçassem tal perspectiva. Situa, portanto, sua análise no fim da

cristandade medieval, com o surgimento do pensamento moderno a partir do século

XIV, com Marcílio de Pádua; embora o autor se proteja anunciando que a hora do

pensamento moderno só chegaria com Maquiavel, Bodin e Vitoria. Na sequência,

justifica a escolha de Hobbes, entre os autores do século XVII, “(...) defensor das

prerrogativas soberanas, arauto e mestre do moderno estatismo, e mais radicalmente

original do que qualquer deles”10. E para confirmar e legitimar a eleição de Hobbes,

não deixa de mencionar Galileu, Descartes, Pascal, Locke e Spinoza; outros autores do

século XVII.

O primeiro livro referenciado por Paulo Merêa, ainda na introdução, é de Pierre

Mesnard (1900-1969), “L´essor de La philosophie politique au XVIe siècle”11, citado a

partir da edição de 1936; ao longo do livro Mesnard será referido várias vezes. A

introdução é curta e fecha com uma epígrafe de F. Fabre: “Si vous voulez bien juger,

jugez avec sympathie”.

Importa-nos ressaltar a afirmação posicionada de Merêa: a inclusão dos

escolásticos no rol dos autores da modernidade, que sustentaram a apropriação de São

Tomás no século XVI. Neste ponto, Merêa faz coro ao movimento do campo intelectual

9 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 5. 10 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 10. 11 Mesnard, Pierre. L´essor de la philisophie politique au XVIe siècle, 2ª. Edição, Paris: J. Vrin, 1951. 711p.

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católico peninsular que, desde o Concílio Vaticano I (1870) e, sobretudo, desde o

papado de Leão XIII e a impactante encíclica “Rerum Novaram” (1891), dedica-se a

teorizar e promover uma atualização histórica, nos marcos da modernidade, do

pensamento católico. Em Portugal, o primeiro texto de Merêa neste diapasão data de

1917; é o “Suárez, jurista”, acima referido12.

O texto de 1941, “Suárez, Grócio e Hobbes”, implicou uma elaboração mais

acabada e madura de Merêa. Todavia, se aí já coloca Francisco Suárez na cena política,

devemos ressaltar a referência crítica, mas ao mesmo tempo deferente, que faz a um

importante autor que interpreta Suárez, de uma maneira diversa de si: o jurista e teólogo

alemão Heinrich Albert Rommen (1897-1967) e também conhecido como Heinrich

Rommen ou Heinrich A. Rommen13. Forte opositor católico ao nazismo foi um

pensador de Ética Social que teve muita importância na redescoberta do pensamento de

Francisco Suárez, cunhando a expressão "eterno retorno ao direito natural", com um

lugar de destaque no pensamento político do século XX.

Merêa faz referência e comenta Rommen. Ao mesmo tempo em que acolhe a

interpetação de Rommen, parece-nos que Merêa toma-lhe certa distância. Estamos

trabalhando com a possibilidade de, pelo menos num fato, podermos explicar o esforço

de distanciamento de Merêa, em relação às posições do jesuíta alemão. Merêa lhe

atribui ter levado longe demais a interpretação do direito de resistência em Suárez; ao

mesmo tempo, o posicionamento político e ideológico de Rommen, progressivamente

mais próximo do campo democrático, poderia estar a produzir algum desconforto face

às simpatias monarquistas de Merêa. Contudo, se em relação à H. Rommen, Merêa

mostra-se cauteloso, é para Juan de Mariana (1536-1624) que dirige a crítica mais

explícita àquela leitura que, no seu entendimento radicalizou a interpretação mais

democrática, especialmente quanto ao direito de resistência e a defesa do tiranicídio.

12 Cf. Moncada, Luis Cabral de. “O vivo e o morto em Suárez Jurista”, in Estudos Filosóficos e Jurídicos, Vol. II, Coimbra: 1959, p. 52-76. 13 Rommen, Heinrich, A. La Teoria del Estado y de La Comunidad Internacional em Francisco Suárez. Estudio preliminar de Henrique Gomez Arboleya (p. I – LXIII), Buenos Aires/Madri: Faculdad de Derecho e Ciencias Sociales, Instituto de Derecho Internacional/Instituto Francisco Vitoria, 1951, 523 p. O título em alemão é Die Staat lehre des Franz Suárez, tendo sido publicado em München-Gladbuch, em 1927.

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Justo ele, Merêa, que vivenciara, em Portugal, o regicídio de 1908. Em nota de rodapé,

e no esclarecimento da crítica à Mariana, afirma:

“Por isso nos livros dos escritores espanhóis se observam uma serenidade de vistas e uma cordura que absolutamente contrastam com a paixão e a violência dos monarcômacos. Um nome apenas, entre os grandes, faz exceção a esta orientação de espírito e de estilo: o do célebre historiador João de Mariana, a quem um temperamento exaltado, estimulado pela contemplação apaixonada das antigas liberdades pátrias, arrastou aos exageros do De Rege”14.

Não podemos deixar de sublinhar que para Juan de Mariana, Merêa reserva o

epíteto de “historiador”; ele não teria sido “teólogo”, e, muito menos, “jurista”; como

nosso autor esforça para provar a pertinência de Suárez ao campo jurídico (e não só

teológico) a partir do “De Legibus”.

Uma referência feita diretamente por H. Rommen à Merêa, ainda não

encontramos; enquanto que este se refere ao jesuíta alemão. A abrangência da

divulgação da produção de Paulo Merêa parece ter se circunscrito, predominantemente,

à Península Ibérica. Tendo participado de vários encontros e congressos científicos no

campo dos estudos de história do direito em Espanha, Merêa viu sua obra bastante

divulgada por lá. Entretanto, muito influenciado pelo campo dos estudos de história do

direito espanhol, Paulo Merêa cita muitos autores alemães. Como não trabalhamos os

autores alemães, não dispomos dos dados acerca da recepção dos escritos de Merêa

naquela formação social, nesta altura de nossa pesquisa. Contudo, Miguel Nogueira de

Brito que seleciona e introduz a coletânea de textos de Paulo Merêa republicados em

2003, informa-nos que Carl Schmitt referira-se a Merêa, através do livro “Suárez,

Grócio e Hobbes”, na sua obra “Der Nomos der Erde im Vökerrecht des Jus Publicum

Europeaum”, um escrito de 1950, afirmando “Numa obra breve, mas rica e densa, (...),

Paulo Merêa caracterizou correctamente a posição de Grócio na história do direito

14 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 20-21.

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(...)15. Por sua vez, Paulo Merêa refere Carl Schmitt no “Suárez, Grócio e Hobbes”, de

1941. Mais que isso, Merêa resenha o livro de Carl Schmitt. “Der Leviathan in der

Staatslehre des Thomas Hobbes: Sinn und Fehlschlag eines politschen Symbols”,

publicado em 193816.

Merêa resenha alguns livros entre 1938 e 1948; as resenhas são curtas, mas

densas. Além do livro de Carl Schmitt, foi resenhado o livro do mais citado oponente de

Schmitt, Leo Strauss (1899-1973): “The political phylosophy of Hobbes, its basis and

its genesis”17, publicado em Oxford, em 1936. O último é um intelectual judeu-alemão,

nascido na Prússia, que, fugindo do nazismo, ensinava àquela altura na Universidade de

Cambridge, na Inglaterra; posteriormente emigrou para os EUA.

Na medida em que vamos avançando na pesquisa sobre a prática historiográfica

de Paulo Merêa enquanto historiador das ideias, verifica-se que as resenhas

acompanham a pauta temática e as pesquisas realizadas para a análise dos autores da

“história das doutrinas políticas”.

Mas pensamos que, no fundo, o que existe é o eco, em Paulo Merêa, das

interpretações de G. K. Chesterton (1874-1936), que a esta altura já inundara o

pensamento católico com uma sedutora biografia de São Tomás de Aquino18 onde

sustentou a tese de que o teólogo dominicano do século XIII foi moderno.

O encaminhamento da análise de Merêa com referência à história das ideias

politicas dos três autores do século XVII, no livro de 1941, foi norteado pela busca de

suas concepções sobre as ideias de Estado, de soberania e de comunidade internacional.

15 Apud, Merêa, Paulo. Sobre a Origem do Poder Civil. Estudos sobre o pensamento político e jurídico dos séculos XVI e XVII, Introdução e seleção de Miguel Nogueira de Brito (organização de José Manuel Merêa Pizarro Beleza), Coimbra: Tenacitas, 2003, 214p., p. 10. 16 Merêa, Paulo. “CARL SCHMITT. Der Leviathan in der Staatslehre des Thomas Hobbes: Sinn und Fehlschlag eines politschen Symbols”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, p. 393-394. 17 Merêa, Paulo. “The political phylosophy of Hobbes, its basis and its genesis”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História ..., op. cit., p. 392-393. 18 Chesterton, G. K. São Francisco de Assis. Espiritualidade da Paz; e São Tomás de Aquino. A complexidade da Razão, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 378p. Cf. Chesterton, G. K. Ortodoxy, Colorado Springs: Shaw Books, 2004, 246p.

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Se tivermos em mente o contexto histórico da elaboração desde grande "livrinho"

de Merêa, não nos olvidaremos de que a Europa estava, em 1941, mergulhada na

Segunda Grande Guerra, e que a radicalização política entre as forças nazi-fascistas e

comunistas era exaltada.

Merêa expressa ainda sua admiração por Francisco Vitoria, que, da Espanha, e de

"forma brilhante" (segundo ele), prosseguia desenvolvendo e adaptando o legado

tomista19. Conclui, contudo, que a expressão mais acabada desta "adaptação" se

expressa na obra de Francisco Suárez, “De Legibus”20. Dá a esta obra um tratamento de

pensamento político exemplar, deslocando-a de seu lugar de teologia política, tal como

comumente vinha sendo classificada pelos intérpretes do iluminismo. Esse aspecto é

muito mais significativo do que se supõe, pois tem uma implicação clara na absorção

futura pelo próprio iluminismo de aspectos da teologia política como sintoma de

permanência histórica longa duração.

Há uma afirmação de Merêa que merece ser ressaltada, pois constitui um indício

importante acerca de si: o autor lamenta profundamente o destino que foi dado ao livro

de Suárez: às prateleiras de bibliotecas; enquanto que a obra de Grócio, de menor

alcance filosófico (no seu entendimento) em relação às formulações no campo da

filosofia política, foi bem recepcionada. Na base do confronto entre os gigantes do

século XVII, aí incluído Hobbes, (além da avaliação da qualidade da prática de filosofar

de cada um), para Merêa, confrontavam-se, ainda, as sub-culturas político-religiosas que

se distinguiam dentro da cristandade ocidental: o catolicismo (peninsular) e os

protestantismos das duas emergentes formações históricas: Holanda e Inglaterra. Ainda

que estejamos falando de um tempo histórico iluminista (aquele de meados do século

XX), estas questões não estavam, de todo, ausentes da perspectiva analítica dos

historiadores; ou de qualquer outro campo dos estudos humanistas. Não somente porque

a formação ideológica portuguesa vivenciava esta questão na primeira metade do século

19 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, Op. cit.., p. 8. 20 Suárez, Francisco. De Legibus (1612). Ed. Bilíngue, Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1972-1981 [Acervo: Biblioteca Nacional de Lisboa].

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XX com um debate vigoroso e ruidoso, quanto pelo fato de em Portugal a “questão

religiosa”, iniciada em meados do século XIX, estender-se para o século XX.

Especialmente na conjuntura de radicalização anticlerical da reestruturação do Estado

sob a forma republicana – em Portugal, a partir de 1910. Além, evidentemente, de que a

“questão religiosa”, tal como tratada no campo político português, em fins do século

XIX não se confinaria aos embates político-religiosos dos tempos da monarquia e

invadiria o período republicano. Se retomarmos neste ponto o empenho de Merêa na

confrontação do positivismo e do evolucionismo - paradigma razoavelmente

hegemônico no início do século XX - completamos este quadro.

Mas não somente o realce das distinções entre os autores do século XVII dão-nos

indícios sobre o pensamento e os sentimentos políticos de Paulo Merêa. Aqui, talvez,

devamos, ainda, interpretar como eloquentes as cautelas de Merêa acerca das posições

de Heinrich Rommen. Mais tarde, já na década de 1950, uma vertente do pensamento

católico radicalizará, à esquerda, desembocando na teologia da libertação, com forte

acento democrático, influenciado, entre outros, pelas posições de Rommen21.

Merêa inicia sua análise no “Suárez, Grócio e Hobbes”, precisamente por Suárez.

No contexto da terceira escolástica (virada do século XIX para o XX), o tratamento

recebido pelo jesuíta espanhol, que ensinou em Coimbra por cerca de dezoito anos

durante o século XVII, situado como o momento histórico da segunda escolástica é, por

demais, elogioso e deferente. Nota-se uma grande adesão às ideias políticas de Suárez.

Merêa ressalta o epíteto de Suárez, "Doutor Exímio"; e o trata como tal. Seguramente

que uma das fontes centrais do seu pensamento é a obra de Antonio Garcia Ribeiro de

Vasconcélloz22, que rendeu homenagem pelo tricentenário de sua posse na universidade

de Coimbra, ocorrida em oito de maio de 1597.

Destacamos a acentuação feita por Merêa da teologia política de Suárez como

"filosofia política" e o relevo dado aos aspectos da limitação dos poderes dos

21 Lamet, Pedro Miguel. Pedro Arrupe: uma Explosion em la Iglesia, Madri: Ediciones Temas de Hoy, 1994, 509p. 22Vasconcelos, António Garcia Ribeiro de. Francisco Suárez (Doctor Eximius), Colleção de Documentos, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1897, 223p.

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governantes (como um dado referido ao poder real, mas que não poderia nem deveria

ser abusivo). Portanto, podemos tomar esta sua análise, ela também, como indício que

nos explica o fato de Paulo Merêa não ter se comprometido com a política? Discordava

ele da ditadura do Estado Novo em Portugal? Este um ponto que retomaremos ao longo

deste trabalho.

No contexto de virada para o século XX, estão sendo ouvidos os ecos do "(...)

notável curso jurídico de 1906-1911" assim referido por Luis de Cabral de Moncada23.

No período, lá estudaram, quando jovens, o futuro ditador Oliveira Salazar e o futuro

cardeal Cerejeira, patriarca de Lisboa. Pois esse “notável” período do ensino jurídico de

1906-1911 foi justamente o período cursado por Paulo Merêa na Faculdade de Direito

da Universidade de Coimbra, malgrado seu maior interesse fossem as “Letras”. E não

podemos deixar de considerar as turbulências políticas que levaram à implantação da

república portuguesa, o que também influenciava vivamente o campo intelectual.

Professores e estudantes portugueses estavam então imersos naquilo que Manuel

Braga da Cruz24 chamou de segunda fase de uma história da Sociologia em Coimbra, ou

fase da Sociologia Experimental. Ela sucede à fase primeira conhecida como a da

Filosofia do Positivismo e está relacionada aos esforços por “(...) analisar os processos

e as razões sociais da penetração de uma certa influência reformadora”25, com alguma

inspiração católica que tenderá a crescer. Essa Escola é conhecida como tendo sido

fundada por Le Play e seguida por Tourville e Demolins26, que lançam após a morte de

Le Play a Revista Science Sociale. A École institucionaliza-se em 1904 com a Societé

de Science Sociale, à qual estará referida, entre outros, George Gurvitch27. Observe-se

que os temas são aqueles referidos com centralidade na encíclica “Rerum Novarum” do

papa Leão XIII, de 15 de maio de 1891. O primeiro indício da apropriação da Escola de

23 Moncada, L. Cabral de. Manuel Paulo Merêa: esboço de um perfil, Coimbra, 1969. XI p. 24 Braga da Cruz, Manuel. Para a História da Sociologia Acadêmica em Portugal, Coimbra: Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, 49 p. 25 Braga da Cruz, Manuel. Para a História da ... ,op. cit., p.31. 26 Esse autor influenciou o pensamento de Oliveira Vianna autor de “Populações Meridionais do Brasil”, que é considerada a primeira obra de análise sociológica brasileira e publicada em 1922. 27 Braga da Cruz, Manuel. Para a História da ... , Op. cit., p.32.

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Le Play em Portugal é de 1908, as lições proferidas por Marnoco e Souza, que no dizer

de Paulo Merêa “(...) vinham sendo distribuídas aos alunos em folhas impressas e

constituem uma série de valiosos volumes que se estendem de 1901 a 1910”28.

De fato, tanto Salazar quanto Gonçalves Cerejeira, Paulo Merêa e outros daquela

geração29 foram expostos ao pensamento de Gustav Le Bon e Demolins; liam Le Play

para defender o princípio da autoridade, da família sólida como base da organização

social; o princípio da integração social e cooperação entre patrões e empregados bem

como a questão crucial da educação, mas sempre numa perspectiva católica. A história

das ideias que aparece na prática historiográfica de Merêa não ficou infensa a este

processo de circulação de ideias e apropriação cultural; mesmo considerando, como

vamos sustentar mais adiante, certa autonomia e independência intelectual que Merêa

vai perseguir e preservar.

A passagem mais notável da apropriação que Merêa faz da obra de Francisco

Suárez diz respeito às considerações sobre o poder. No caso, refere-se ao poder do

soberano (e aqui trabalha a ideia de soberania), face ao poder civil, concebido como

poder popular, ou poder da comunidade; especialmente considerada em sua relação aos

abusos de poder da realeza. Aqui encontramos uma clara posição política de Merêa no

contexto da radicalização e conflitos nos quais estava mergulhada a Europa no início da

década de 1940; o que é um fato pouco frequente de nosso autor, pois na maioria de

seus textos deixa-nos a indagar sobre seu posicionamento30.

Não há dúvida que podemos, para efeito analítico, separar e distinguir a teologia

do direito (sobretudo canônico, mas também do direito civil) no pensamento de Suárez.

Mas em citação de rodapé do “Suárez, Grócio e Hobbes” Merêa faz uma nota de

esclarecimento, depois de remeter o leitor a outro texto seu sobre o assunto que precede

o que estamos comentando, "Suárez, jurista", de 1917. Para Merêa, está claro que a

28 Merêa, Paulo. “Esboço de uma história da Faculdade de Direito de Coimbra, Coimbra: Separata do Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, vols. XXVIII a XXXI, p.35, nota B. 29 Cf. Diogo Pacheco de. A Nova Geração. França e Armênio Livreiros, 1918, in Pimentel, Irene Flunser. Cardeal Cerejeira: o Príncipe da Igreja. Lisboa: Esfera dos Livros, 2010, 361 p., p. 24. 30 Merêa, Paulo. Suárez, jurista, op. cit.

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transferência (do poder) não precisa se constituir, para cada caso, na forma de eleição.

Prossegue argumentando que na monarquia hereditária a vontade do povo está na

primeira eleição, e, portanto, o trono se transmite ao sucessor nas mesmas condições em

que fora originalmente concedido. Nesta nota, temos o indício claro de sua filiação

ideológica ao campo monárquico das disputas políticas e ideológicas em Portugal. Um

campo, sem dúvida, derrotado na década de 1940.

Suárez retomara o conceito de soberania de Jean Bodin (1530-1596); o poder

soberano (suprema potestas), aquele que não reconhece acima de si nenhum poder

humano da mesma ordem (isto é, perseguindo o mesmo fim), ao qual seja obrigada a

obedecer. Merêa fecha seu argumento em defesa de Suárez apontando que, "(...) deste

modo se contrapõe Suárez aos monarcômacos, para os quais a soberania do povo era

inalienável e os reis meros delegados amovíveis"31.

Os debates dentro do campo do catolicismo romano, no início do século XX,

estruturavam-se entre o integrismo e o solidarismo. Ambos se consolidavam enquanto

as duas novas vertentes de confronto que emergem dentro deste campo religioso.

Podemos então imaginar o esforço intelectual realizado por Merêa na preservação de

aspectos aristocráticos e monárquicos, dentro das perspectivas que se delineavam para o

pensamento social católico no início do século XX. Merêa equilibrava-se, face ao

processo de radicalização política e ideológica, entre as posições nada hegemônicas em

favor da monarquia, ao mesmo tempo em que defendia palidamente um liberalismo de

corte conservador. De fato, desde o Concílio Vaticano I (1870), a Igreja Romana vinha

intentando a superação dos embates entre jesuitismo e jansenismo, e a atualização

histórica configurava novas posições a partir especialmente da encíclica "Rerum

Novarum", que incluía a questão social, e por via de consequência, a questão

democrática na pauta do catolicismo.

Merêa é muito cuidadoso ao abordar a transparência da questão democrática no

pensamento de Suárez. Neste ponto, atualiza as concepções de Suárez sobre o pacto

31 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbe,, p. 30.

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social. Toma muito cuidado para não aderir explicitamente ao posicionamento daqueles

que, como H. Rommen viam uma relação entre as ideias suárezianas sobre pacto com a

ideia de soberania popular em Jean-Jacques Rousseau.

O campo intelectual católico, excluído aquele inscrito nos marcos do

conservadorismo clerical (tal como se constituíra de forma hegemônica na Península

Ibérica) está matizando o totalitarismo nazi-fascista. Neste particular, a pontuação dos

condicionamentos do poder real, embora disserte sobre um tempo passado muito antigo

(o das Cortes de Lamego, quando D. Afonso Henriques recebeu o apoio dos fidalgos

portugueses na guerra de Reconquista), diz também algo das restrições do catolicismo

romano ao projeto totalitário do nazismo; mesmo considerando-se a adesão de uma

parte do catolicismo peninsular ao integrismo que deu suporte político e ideológico ao

salazarismo e ao franquismo. Quanto a esta problemática, Merêa é extremamente

discreto; não encontramos em seus escritos (até onde pudemos observar) nenhuma

citação de Donoso Cortés ou qualquer outro autor do campo conservador clerical mais

radical; exceção a que foi feita a Carl Schmitt como já mencionamos. A única citação

que faz de De Maistre, por exemplo, é para criticá-lo. A citação encontra-se no texto “O

Legislador de J.J. Rousseau (Algumas Notas)”, de 196932. Não por acaso, Carl Schmitt

lançará mão da produção teórica dos católicos romanos peninsulares (especialmente

Donoso Cortés, mas não só, uma vez que o próprio Paulo Merêa é citado) para

fundamentar sua teoria sobre o estado de exceção, na qual atualiza para o século XX as

teorias absolutistas da soberania (Hobbes).

Espécie de grito na solidão foi a crítica de Paulo Merêa a essas concepções. Ainda

estudante, em 1910, Merêa apresentou no Instituto de Coimbra a sua célebre

conferência sobre “Idealismo e Direito”33, em que, contestando a validade dos alicerces

ontológicos da técnica jurídica que trazia para o universo da dogmática juspublicista os

32 Merêa, Paulo. “O ‘Legislador’ de J. J-Rousseau”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, op. cit, p.379. 33 Merêa, Paulo. “Idealismo e Direito”, in Estudos de Filosofia Jurídica ... , op. cit, p.29-77.

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pressupostos do positivismo científico de Comte e do sociologismo de Durkheim e

Levy-Bruhl, proclamava simpatia pelo institucionalismo de inspiração bergsoniana34.

Podemos então falar que Merêa comprometeu-se com o resgate de Francisco

Suárez na constituição do que estamos nomeando de terceira escolástica. Tanto na

Península Ibérica quanto na Europa, como um todo, com um destaque para a Inglaterra

e a conversão de anglicanos na esteira do trabalho pastoral do Cardeal John Henry

Newman (1801-1890) convertido ele próprio ao catolicismo e nomeado posteriormente

cardeal pelo Papa Leão XIII em 1879. Seu pensamento é considerado representativo da

"filosofia da ação e de vida", sendo considerado como integrante da corrente filosófica

denominada neoespirituralismo e vitalista, cujas raízes remontam ao espiritualismo

francês do século XIX, articulada para combater tanto o positivismo quanto o

racionalismo.

A segunda e a terceira escolásticas se inserem no chamado tomismo ou

pensamento de São Tomás de Aquino. Segundo José Abbá, o tomismo impôs-se na

Igreja Católica como um todo pela: a) singular superioridade tanto no ensino dos alunos

quanto na busca da verdade; b) harmonia com aquilo que é considerado revelação

divina pelo magistério da Igreja, sendo considerada muito eficaz para a segurança e

fundamentação da fé; c) por assegurar segurança e utilidade nos frutos do progresso.

Nos embates em que estiveram implicados os jansenistas e o tomistas deve-se

ressaltar que parece existir um jansenismo “(...) teológico ou dogmático

(fundamentalista) e outro de natureza política (política-ideológica) tão somente como

jansenismo regalista”35. Este debate dividiu o campo católico por cerca de duas

centenas de anos. Finalmente devemos observar que a “ressurreição de Francisco

Suárez”, realizada por Paulo Merêa, está diretamente relacionada com a valorização do

pensamento medieval e escolástico que são o escoadouro do direito romano ao qual ele

está atento. Esta pista nos é dada pela crítica empreendida por Meréa à parte histórica da

34 Costa, Mário Júlio de Almeida. “Lembrança de Paulo Merêa”, in Estudos de Filosofia Jurídica ... , op. cit., p. 6. 35 Santos, Cândido dos. O Jansenismo em Portugal. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 311 p., ver p. 38.

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obra de George Gurvitch (“L’idée du droit social”), “(...) contribuição inegável para o

estudo da gênese das ideias políticas e filosófico-jurídicas, mas que a nosso ver peca

por um visível parti-pris.”36 O parti-pris em questão é justamente a abstração arbitrária

de todo o pensamento medieval e escolástico bem como a solicitação frequente dos

textos, fazendo-lhes dizer mais do que efetivamente dizem... Como exemplo visível,

Merêa destaca a maneira de Gurvitch interpretar a obra de Hugo Grócio e também “(...)

no olvido que vota a grandes figuras da teologia espanhola”37. Essa injustiça é mais

flagrante quando vícios encontrados na obra de Grócio (vistos como um retrocesso em

relação a Hobbes) são igualados à doutrina de Vitória e de Suárez. Assim, não haveria

impedimento algum para que Gurvitch perfilhasse algumas teses tanto de Vitória quanto

de Suárez. Ou, pelo menos, que os citasse devidamente.

Na análise de Hugo Grócio, Merêa escolhe uma epígrafe de Renan, expoente

francês do pensamento católico liberal: “Entre tous ceux qui croient à l´idéal, quelles

que soient leurs apparentes divergences, Il n´y a qu´une différence dans la manière de

parler”38. O primeiro comentário deve ser destinado ao autor escolhido por Paulo Merêa

para invocar na epígrafe, Ernst Renan (1823-1892). Renan exerceu muita influência

entre os intelectuais do campo católico no mundo luso-brasileiro: em Portugal, Afonso

Costa; e no Brasil, Joaquim Nabuco declara sua predileção por Renan em livro dedicado

a emoldurar e edulcorar sua própria memória, em 1900, intitulado “Minha Formação”39.

Esta prática de escrita auto-biográfica foi, provavelmente, inspirada no próprio Renan,

que escreveu em 1883 “Souvenirs d'enfance et de jeunesse (“Lembranças de Infância e

de Juventude”). Estamos identificando nestas referências uma possibilidade de

interpretação das escolhas intelectuais de Paulo Merêa; muito embora o nosso autor não

36 Recensão do livro de Gurvitch, L’expérience juridique et la philosophie pluraliste du droit, Paris, 1935; publicada no Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, 15, 1938-39, p.231-235. Ver, Merêa, Paulo. “G. GURVITCH. L’expérience juridique et la philosophie pluraliste du droit”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas. Op. cit., p. 387-392. 37Merêa, Paulo. “G. GURVITCH. L’expérience juridique et la philosophie pluraliste du droit”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas. Op. cit., p. 387-392, p. 390. 38 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit, p.41. 39 NABUCO, Joaquim. Minha Formação, 2ª. Edição, São Paulo: IPÊ (Instituto Progresso Editorial), 1947, 221 p.

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tenha, ele próprio, aderido à escrita de sua memória, tal como acabou por fazer seu

amigo, Luís Cabral de Moncada.

A epígrafe para a abertura do capítulo sobre Grócio nos indica que, do ponto de

vista epistemológico, Merêa compartilha a experiência da dúvida no processo de

produção do conhecimento. Não fosse Ernst Renan40 abatido pelas incertezas e

reviravoltas do ponto de vista de sua trajetória intelectual, tal como Miguel de

Unamuno, não extrairíamos do significado da epígrafe as alusões possíveis: “Entre

todos que creem em um ideal, qualquer que sejam suas divergências, não há nada além

do que uma diferença na maneira de falar”. Claro está, pela epígrafe, que Merêa fará

uma aproximação cuidadosa de Grócio. Melhor dizer cuidadosa e atenciosa;

diferentemente do tratamento dispensada a Thomas Hobbes, como veremos mais

adiante. A presença do pensamento jurídico e político de Grócio no campo intelectual

português é relativamente significativa. Grócio é muito citado e, ao que tudo indica, foi

apropriado nos marcos da cultura jurídica coimbrense. A apropriação de Grócio no

ensino jurídico português data da reforma pombalina e os processos intelectivos

implicados na circulação de ideias e apropriação cultural indicam-nos formas variadas e,

às vezes, inesperadas de expressão das ideias e da cultura política (e jurídica) em tela.

Queremos com isso dizer que, a par da intencionalidade dos agentes históricos

implicados, os reformadores pombalinos trataram, deliberadamente ou não, de

catolicizar o pensamento de Hugo Grócio (e Pufendorf) – os dois autores oriundos de

áreas reformadas pelo protestantismo na Europa, cujas teses e ideias políticas e

religiosas sofreram um processo de deslizamento semântico e tornaram-se próprios,

porque apropriadas, do mundo luso-brasileiro.

Paulo Merêa faz coro a este processo. De modo que, as divergências, quando as

há, em relação ao pensamento de Hugo Grócio, são vistas como “(...) uma diferença na

maneira de falar”.

40 Ernest Renan recebeu uma educação religiosa e vivenciou uma crise de fé, quando sai do seminário. Começou, aos vinte e cinco anos a escrever “L' Avenir de la science (O futuro da ciência)”, obra que só virá a publicar quarenta anos mais tarde, em 1890.

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Não apenas o pensamento de Grócio possui certa superficialidade se confrontado

com o pensamento de Francisco Suárez, quanto, para Merêa, o autor holandês

(protestante) não possui propriamente um sistema filosófico: “A suposta filosofia de

Grócio é assim um ecletismo inorgânio, de superfície, que muitas vezes nem sequer tem

a enobrecê-lo um esforço para conciliação”. Grócio era “(...) um crente sincero,

protestante com laivos de catolicismo, empenhado na aproximação das várias

confissões(...)”. Grócio nascera em Delft, de pai protestante e de mãe católica.

Para Grócio, Merêa reserva o epíteto de “jurista”; aquele mesmo que se esforçou

para atribuir a Francisco Suárez, deslocando-o do campo teológico. Hugo Grócio, não

sendo teólogo, ou um clérigo, recebe de Merêa a designação de jurista, mas com certo

tom de desqualificação; isso depois de atribuir um quê de menos na filosofia de Grócio:

“O que ele é acima de tudo, é um jurista. Um humanista formado no convívio da

jurisprudência e no respeito do direito romano”. Grócio não tem, na leitura realizada

por Merêa, uma formulação filosófica que trate a questão do poder e da soberania e leva

sua ideia a confundir Estado e povo, considerando a soberania do governnates como a

única visível e efetiva. “(...) Grócio é abertamente contrário ao direito de resistência,

que largamente versa a propósito da guerra civil”. A aversão de Grócio ao direito de

resistência coloca-se pela sua predileção pela ordem, mesmo diante de usurpadores e

tiranos. Entretanto, em várias passagens, Grócio teria seguido de perto os caminhos dos

escolásticos; Grócio foi um “(...) conservador da herança da escolástiva, o elo da

cadeia que prende o pensamento da Idade Média ao pensamento moderno”41.

Ao destacar o aspecto internacional do pensamento de Grócio, Merêa volta a

empregar expressões que apresentam um menos em seu pensamento, como “impreciso”

e “vacilante”42. Para Merêa, no confronto com Suárez, tomando as obras dos dois

autores no conjunto, Grócio fica em posição desfavorável, “(...) porque lhe falece o

admirável rigor de pensamento que caracteriza a mens filosophica do Doutor Exímio

41 Tods as citações literais encontram-se em: Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., pp. 43-67. 42 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 62.

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(...)”43, deixando, sobretudo, de tratar o mais importante conceito tradicional acerca do

carater ministerial do poder público. Merêa conclui sua apreciação comparativa, citando

em latim um princípio da teologia política de Suárez, que Merêa qualifica como

filosofia política: “regnum non est propter regem sed rex proter regnum” (ou seja, o

reino não é propriedade do rei, mas o rei é o protetor do reino)44.

Não poderíamos, por fim, concluir sem destacar as observações de Paulo Merêa

sobre o contexto histórico, social e ideológico de Grócio. Assim, Grócio não foi um

erasmiano (em matéria de religião) – e Merêa destaca que não via nele pendores para

uma ideia de “cristianismo racionalizado”. Para Merêa, os aspectos humanistas e o

liberalismo em relação à atitude religiosa (lembremos que já havia destacado as

intenções políticas de Grócio em relação à tolerância religiosa), deram ao sistema

jurídico-político de Grócio uma posição que contrasta com a das formulações

escolásticas. Ou seja, Grócio é o elo entre a escolástica e o pensamento moderno, tal

como mencionado acima, mas contrasta com a escolástica. Para sustentar este

argumento, Merêa lança mão de outro livro de Grócio, não tão conhecido quanto o “De

Jure Belli”; trata-se do “De Imperio Summarum Potestatum Circa Sacra”. Novamente

aqui, não podemos deixar de sublinhar um aspecto presente na prática historiográfica de

Merêa: curiosidade e produção de saber (busca exaustiva das fontes e de bibliografia

para fundamentar suas pesquisas).

A forma como Paulo Merêa interpreta, no “Suárez, Grócio e Hobbes”, a maneira

pela qual Grócio se inscrevia diante do pensamento de Thomas Hobbes, outro autor

confrontado com Suárez, no capítulo subsequente, é bastante interessante. Claro está

que Merêa não trata simplesmente do confronto entre Suárez, Grócio e Hobbes, mas

entre o protestantismo e o catolicismo, tal como se davam as disputas teológicas e

ideológicas nos século XVII ... e no início do século XX. Assim que Merêa não deixa de

sublinhar a hipertrofia da ideia de Estado, que comprometia gravemente a soberania do

direito; situação mais evidente observa Merêa, no mundo protestante, e que aparece

43 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 59. 44 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 60.

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“retumbantemente” – Merêa usa esta expressão forte - na obra de Thomas Hobbes.

Aqui, mais uma nota de rodapé a ser destacada:

“Grócio, numa carta escrita ao irmão, declara discordar das consequências radicais que Hobbes extrai da sua teoria do Estado. Barbeyrac (tradutor para o francês da obra central de Grócio e de visão calcada na compreensão pascalina do mundo45) aceita, através de um boato narrado por Huber, que Grócio tinha manifestado desejo de que Hobbes publicasse antes dele o seu tratado De Cive”46.

Paulo Merêa, e outros autores da virada para o século XX atualizaram,

historicamente, esta velha pauta temática (sobre Estado, soberania e a origem do poder

civil) – em tempos de radicalização política e de ditaduras.

Por fim, retomamos o fio condutor das análises realizadas por Paulo Merêa acerca

dos autores do pensamento político europeu dos séculos de transição para a

modernidade: a posição ideológica dos autores é ponderada pelo seu posicionamento

face à religião. A problemática central que conduz os leitores de Merêa aos autores

implica uma mesma janela de observação: a concepção de cada um deles face ao

pessimismo (ou não pessimismo) em relação á condição humana; que Paulo Merêa

define através da posição dos autores “face aos seus semelhantes”.

Paulo Merêa reserva para o capítulo de análise do pensamento de Thomas Hobbes

as palavras mais ácidas. Se para Suárez foram usadas palavras de exaltação: genial,

magnífico, brilhante, notável; para Grócio observa-se o uso de algumas expressões

menos elogiosas: escassa originalidade, eclético inorgânico, superficial. Já para Thomas

Hobbes, Merêa expressa uma respeitosa admiração; do tipo de respeito de quem não

quer uma proximidade muito acentuada. A primeira frase sobre Hobbes diz tudo:

“Poucos livros haverá de tão forte personalidade como esse estranho Leviathan (...)”47.

Os adjetivos usados por Merêa para interpretar Hobbes são eloquentes: anti-clerical

45 Observação nossa. 46 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 66.

47 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p.69.

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fanático, anti-papista, cético desenganado; e estranho... Sobretudo, Merêa destaca em

Hobbes o seu pessimismo quanto à condição humana. E situa este pessimismo numa

posição erastista; uma tendência teológica calvinista, que apropriava a ideia agostiniana

de predestinação. É como se concordasse com Hobbes, mas não pudesse com ele

concordar (por razões de natureza religiosa).

Nos primeiros parágrafos do “Suárez, Grócio e Hobbes”, retomando sua

brevíssima introdução, Merêa ensaia uma interpretação sobre a história das ideias

políticas no século XVII.

“Seria impossível condensar em uma fórmula a fisionomia desta era de renovação. As doutrinas surgem e desenvolvem-se num ambiente tormentoso, através de uma agitada luta de ideias, em regra como reflexo do grande conflito religioso. Tudo aí se acha representado, desde a monarquia de direito divino até às teses atrevidas dos chamados monarcómacos”48.

Nesta interpretação sobre o século XVII, encontramos um eco do tempo (também

“tormentoso”) experimentado historicamente pelo autor relativo aos episódios do

regicídio, em 1908, um pouco antes da implantação da república em Portugal. Neste

ponto, o contexto da crise da monarquia portuguesa do início do século XX invade o

texto de Merêa e se apresenta-nos como outro indício de sua simpatia pela monarquia,

como já mencionamos.

Os episódios relacionados ao regicídio em Portugal ocorreram num tempo

especialmente marcante para Paulo Merêa, englobando seus anos de formação na

Universidade de Coimbra. Encontrava-se Merêa com apenas dezenove anos, quando em

primeiro de fevereiro de 1908 o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram

assassinados na Praça do Comércio. A crise política que instabilizou o regime

monárquico havia se agravado, face ao golpe do Partido da Regeneração Liberal (de

João Franco), quando uma dissidência do Partido Progressista, criada em 1905, instaura

a ditadura em 1907 (com o apoio do rei). Até 1905, a monarquia portuguesa governava

48 Merêa, Paulo. Suárez, Grócio e Hobbes, op. cit., p. 7-8.

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com a alternância do poder entre o Partido Republicano e o Partido Progressista. Com a

ditadura, o parlamento foi fechado; o que fortaleceu bastante o campo republicano em

Portugal. Em trinta de janeiro de 1908 promulgou-se um decreto de exílio e expulsão

para as colônias (sem julgamento) dos republicanos pronunciados em tribunal como

“agitadores políticos”. Pelo desgaste político que tudo isso provocou, as forças

republicanas empalmaram o poder em Portugal em cinco de outubro de 1910. Os

episódios relacionados às motivações dos republicanos para a prática do regicídio, em si

mesmos, parecem-nos, olhando retrospectivamente, inscrever-se num quadro de

excesso49, referido ao fato da monarquia portuguesa já não mais se sustentar

politicamente, mesmo considerando-se a conjuntura ditatorial por ela instaurada. De

modo que podemos bem situar a carga ideológica de aversão aos monarcômacos que

Paulo Merêa coloca em seus textos.

Todo o livro “Suárez, Grócio e Hobbes” expressa a prática historiográfica

aprimorada e lúcida de Paulo Merêa. O que Luís Cabral de Moncada destaca num

brevíssimo texto-memória por ocasião de uma solenidade dedicada a Paulo Merêa, em

1969:

"Era ele próprio quem já em 1912 dizia: ‘o historiador pode e deve, (...), completar a análise objectiva dos factos com uma visão pessoal de conjunto, utilizando para esse fim uma das qualidades que ele em mais alto grau necessita possuir: o esprit de finesse de que fala Pascal e que, empregado com moderação, constitui um precioso correctivo à estreiteza do espírito geométrico’50.

Para Cabral de Moncada, Merêa deveria ter feito a Faculdade de Letras e não

Direito; as imposições das famílias naquela temporalidade impediram Merêa de

escolher os estudos superiores de sua preferência. Embora tenha se saído bem em seus

estudos no campo jurídico, como seu amigo tem o cuidado de destacar, atento que

49 Utilizamos aqui o conceito de “excesso”, aplicado aos estudos sobre o poder, tal como formulado por Cerqueira Filho, Gisálio. Édipo e Excesso. Reflexões sobre Lei e Política, Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 2000, 118 p. 50 Moncada, Luís de Cabral. Manuel Paulo Merêa. Esboço de um Perfil, Coimbra: Separata da Revista Portuguesa de História, Tomo XII (Homenagem ao Doutor Paulo Merêa), 1969, 11p.; p. VIII (p.8).

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estavam (mas, sobretudo Cabral de Moncada) para os efeitos dos processos de

reconhecimento e legitimação acadêmicos que os cursos jurídicos propiciavam. Merêa

preferia, portanto, os estudos históricos e a eles dedicou-se de forma intensa e densa;

tinha o esprit de finesse requerido e suas sínteses históricas são personalíssimas.

A vinculação de Paulo Merêa ao campo católico não se dava de forma tranquila e

não encontramos em seus trabalhos muitas citações de autores católicos. O campo

católico em Portugal (com posicionamentos político-ideológicos de diferentes matizes)

é ativo; aqueles que aí atuam publicam revistas e jornais, inscritos nas ações e

deliberações emergidas do Concílio Vaticano I; ou mesmo antes dele. Portanto, o

movimento neotomista está agitado em Portugal51. A razão pela qual não se encontra

citado no texto de Merêa é uma questão a interpretar. Interessante observarmos que a

produção intelectual de Merêa não está capitulada pela historiografia portuguesa dentro

deste movimento de renovação escolástica52. Neste sentido, tendemos a situar a

produção intelectual de Paulo Merêa a partir de um posicionamento introspectivo,

voltado para a pesquisa acadêmica e de pouca ação política.

Entretanto, Cabral de Moncada dá-nos alguns indícios sobre a relação de Merêa

com a política, no livro póstumo “Memórias ao longo de uma vida”53 – livro que foi

lido e revisado por Paulo Merêa, na altura em que os dois intelectuais amigos contavam

mais de oitenta anos. No item que narra seu posicionamento e de alguns colegas da

Faculdade de Direito de Coimbra no início do século XX, em capítulo que intitulou “Os

esotéricos e o ambiente coimbrão da época”54, Moncada explicita que Merêa, como ele,

não tinha ideologia política definida, pois eram todos “(...) esotéricos, talassas e

51 Neto, Vitor. O Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832-1911), Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1998, 619p. 52 Gomes, J. Pinharanda. “A renovação Escolástica (1879-1967”), in Separata de Itinerarium-Revista Quadrimensal de Cultura (publicada pelos Franciscanos de Portugal), Ano XXXIX, número 145, Braga: 1993, p. 3-32. Ver também: Neto, Vitor. O Estado, a Igreja e a Sociedade em Portugal (1832-1911), op. cit.. 53 Moncada, Luís Cabral de. Memórias ao Longo de uma Vida. Pessoas, Fatos e Idéias (1888-1974), Lisboa: Editora Verbo, 1992, 265p. 54 Moncada, Luís Cabral de. Memórias ao Longo de uma Vida. Pessoas, Fatos e Idéias (1888-1974), op. cit., p. 77-83.

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reacionários”55. Na “Academia dos Esotéricos”, cada membro adotava um codinome. O

codinome de Merêa era “Rabelais”56. Neste livro, Cabral de Moncada narra que para os

jovens acadêmicos da Faculdade de Direito de Coimbra o debate entre o campo político

republicano e monarquista era, inicialmente, um tanto indiferente. Na medida em que os

acontecimentos políticos se desenrolavam no início do período republicano, foram,

afetivamente, voltando suas simpatias políticas pela monarquia. Mesmo considerando

que a indefinição política atingia os dois amigos, Cabral de Moncada assumiu

posicionamentos políticos publicamente, como narra acerca de uma conferência

pronunciada na Associação do Registro civil, em 1909, quando se tornou um

“trânsfuga” para sua rede de sociabilidade social mais próxima, já que a Associação

situava-se dentro do escopo ideológico republicano; ao mesmo tempo, Cabral de

Moncada foi recebido com desconfiança pelos republicanos, segundo suas

“memórias”57. Contudo, diferentemente de Paulo Merêa, Moncada assumiu

publicamente posições pró-salazaristas.

A discrição e o isolamento de Paulo Merêa podem ser interpretados como uma

escolha política e existencial. O isolamento fica evidente quando Merêa desloca-se de

Coimbra para Lisboa e do campo jurídico para o campo da história; como um refúgio,

um exílio voluntário. Trabalhamos com algumas evidências de seu desconforto

acadêmico em Coimbra através de correspondência trocada com Fidelino Figueredo,

este sim um exilado político58, sendo ele também do campo monarquista e liberal

conservador (como Merêa)59.

Como não dispomos de um livro de memórias, ou qualquer outro ensaio de Merêa

que fale de si, a memória deixada por Cabral de Moncada atua como um espelho, no

55 Moncada, Luís Cabral de. Memórias ao Longo ... , op. cit., p. 77 e passim. 56 Moncada, Luís Cabral de. Memórias ao Longo ... , op. cit., p. 82. 57 Moncada, Luís Cabral de. Memórias ao ... , op. cit. p.84. 58 Cf. Barcelos Ribeiro da Silva, Ana Paula. Diálogos sobre a Escrita da História: Íbero-americanismo, catolicismo, (des)qualificação e alteridade no Brasil e na Argentina (1910-1940), Niterói: Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal Fluminense (Orientadora: Gizlene Neder), 2011, 457p. 59 Cf. Neder, Gizlene. Duas Margens. Ideias Jurídicas e Sentimentos Políticos no Brasil e em Portugal na Passagem à Modernidade, Rio de Janeiro: Revan, 2011 (no prelo).

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qual podemos observar algumas particularidades do nosso autor. A forma discreta do

posicionamento de Paulo Merêa quanto à exposição política pública pode ser

interpretada extensivamente para o debate do campo religioso, que, tal como o debate

entre republicanos e monarquistas, dividiu o campo intelectual português naquela

temporalidade.

O alinhamento ideológico de Merêa com o movimento intelectual neotomista, já o

temos claramente definido. Francisco Suárez recebeu de Merêa o tratamento mais

genuinamente elogioso. Contudo, o movimento de neo-cristandade e afirmação do

neotomismo implicou certo silêncio em relação às posições teológico-políticas

jansenistas. Em texto publicado postumamente sobre o pensamento de J. J-Rousseau,

Merêa faz referências60 a conversação que tivera com Miguel de Unamuno.

“Lea usted a Rousseau!” – dizia-me Unamuno, com paternal imperativo, uma tarde em que deambulávamos, como mestre e discípulo, ele com seus ainda viçosos sessenta anos, eu com os meus ávidos trinta e cinco, nas margens do aprazível Tormes”61.

Pelo menos uma dedução sobre esta declaração: a condição de discípulo de

Unamuno explicitada por Merêa, sem a ter publicado em vida. Miguel de Unamuno y

Jugo (1864-1936), nascido em Bilbao, havia sido reitor da Universidade de Salamanca

por treze anos62. Exilou-se na França, após fugir da prisão, por ocasião do golpe de

Primo de Rivera. Em 1894, Unamuno abandonou as ideias positivistas que cultivara e

aderiu ao socialismo. Três anos mais tarde, abandonou o Partido Socialista e viveu um

momento de crise pessoal e depressão. Nomeado reitor da Universidade de Salamanca,

em 1901, Unamuno exerceu o cargo até 1914, quando foi destituído por suas posições

políticas. Viria a reassumi-lo e ser afastado novamente outras vezes, sempre em função

das circunstâncias políticas espanholas e da posição que tomava em relação a elas.

Defensor de ideias republicanas, Unamuno escreveu um artigo considerado injurioso ao

rei Afonso XIII e foi deportado para a ilha de Fuerteventura, no arquipélago das

60 Merêa, Paulo. “O ‘Legislador’ de J.-J Rousseau”, in Estudos de Filosofia Jurídica ... , op. cit., p. 369-370. 61 Merêa, Paulo. “O ‘Legislador’ de J.-J Rousseau”, in Estudos de Filosofia Jurídica ... , op. cit., p. 369. 62 Unamuno, Miguel. A Agonia do Cristianismo, Lisboa: Arcádia, 1975, 114p.

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Canárias, em 1924. Apesar de anistiado, o pensador se exilou na França, onde

permaneceu até 1930. Em 1931, com a proclamação da República, Unamuno assumiu

novamente o cargo de reitor em Salamanca. O desencanto com o governo republicano e

seu entusiasmo pelos militares rebeldes, comandados pelo general Francisco Franco,

provocaram uma nova destituição em 1936, início da guerra civil espanhola. No mesmo

ano, contudo, foi reconduzido ao cargo pelos franquistas que dominaram a cidade.

Pouco depois, por criticá-los, perdeu-o mais uma vez. Tratou-se de um episódio célebre

em que discursou, afirmando diante de autoridades militares: "Vencereis, mas não

convencereis". Foi contestado pelo general Millán-Astray que pronunciou a frase que se

tornaria uma expressão da brutalidade do autoritarismo espanhol, em conjuntura

europeia de fascismos: "Abaixo a inteligência e viva a morte!". Unamuno respondeu

simplesmente com um: "Viva a vida!" e deixou o auditório escoltado. Passou seus

últimos dias de vida em prisão domiciliar.

A inquietude – política, ideológica e filosófica – de Unamuno tornara-o uma

referência para Paulo Merêa. Destacamos especialmente o capítulo “A Fé Pascalina”, do

“A Agonia do Cristianismo”63. Ali, Unamuno observa, com muita coragem, tendo em

vista o ambiente intelectual e político nas décadas de 1920-30, os efeitos das escolhas

“científicas” dentro do campo católico – ele já havia se reconvertido e incluíra a

dimensão divina da vida em seu pensamento. Para Unamuno, o jesuitismo implicava a

obediência, condição incompatível com a dúvida, tão necessária para a produção de

conhecimento; este seu viés pascaliano.

Estamos, portanto, a nos indagar sobre o quanto estas posições de Unamuno

influenciaram Paulo Merêa, ele também sempre tocado pela necessidade e apetite

intelectual ao se dedicar às suas pesquisas. O dubitativo, até certo ponto, parece-nos ser

constitutivo da personalidade de Merêa. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de

refletir sobre a ausência de citação de Miguel de Unamuno nos trabalhos de Paulo

Merêa. A referência à sua condição de discípulo de Unamuno é como dissemos,

63 Unamuno, Miguel. “A Fé Pascalina”, in A Agonia do Cristianismo, op. cit., p. 81-93.

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informada na abertura de um texto não publicado em vida. De modo que podemos

pensar na possibilidade de Paulo Merêa ter se inscrito ideologicamente no campo do

catolicismo neotomista, abordando e expandindo a retomada do pensamento de

Francisco Suárez. Contudo, não adotou integralmente a postura epistemológica

jesuítica. Teríamos como efeito prático, portanto, uma escrita da história das ideias e

doutrinas políticas original, marcada por observações que foram construídas nos marcos

de uma bibliografia vasta, porque fruto de uma pesquisa acadêmica realizada com

alguma autonomia intelectual; sem, contudo, deixar de render todas as homenagens à

bibliografia neotomista, dentre aqueles livros de releitura do pensamento de Francisco

Suárez que reputou como os mais qualificados.

Fontes Bibliográficas:

Merêa, Paulo. “A origem do poder civil em Suárez e Pufendorf (Escolástica e Jusnaturalismo)”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Prefácio de Mário Júlio de Almeida Costa; nota introdutória de José Manuel Merêa Pizarro Beleza, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, pp. 351-365.

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Hobbes: Sinn und Fehlschlag eines politschen Symbols”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Prefácio de Mário Júlio de Almeida Costa; nota introdutória de José Manuel Merêa Pizarro Beleza, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004 , pp. 393-394.

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Merêa, Paulo. “G. GURVITCH. L’expérience juridique et la philosophie pluraliste

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Merêa, Paulo. “Idealismo e Direito”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História

das Doutrinas Políticas, Prefácio de Mário Júlio de Almeida Costa; nota introdutória de José Manuel Merêa Pizarro Beleza, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, pp.29-77.

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Merêa, Paulo. “O ‘legislador’ de J. J. Rousseau”, in Estudos de Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Prefácio de Mário Júlio de Almeida Costa; nota introdutória de José Manuel Merêa Pizarro Beleza, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, 2004, pp. 367-383.

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Filosofia Jurídica e de História das Doutrinas Políticas, Prefácio de Mário Júlio de Almeida Costa; nota introdutória de José Manuel Merêa Pizarro Beleza, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, pp. 107-185.

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