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História da Política Externa Brasileira DAESHR024-14SB/NAESHR024-14SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2018.II (Ano 3 do Golpe) Aula 7 3ª-feira, 26 de junho

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Page 1: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

História da Política Externa Brasileira

DAESHR024-14SB/NAESHR024-14SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2018.II

(Ano 3 do Golpe)

Aula 7

3ª-feira, 26 de junho

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Horários de atendimento extra-classe:

• São Bernardo, sala D-322, Bloco Delta, 5as-feiras, das14h00-15h00 e 17h30-18h30 (é só chegar)

• Atendimentos fora desses horários, combinar por emailcom o professor: [email protected]

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Aula 7 (3a-feira, 26 de junho): I Guerra Mundial e a Liga dasNações

Texto base

SOUZA, A. M. (2001) “O Brasil e a Primeira Guerra Mundial”,p.117-136.

Texto complementar

SANTOS, N. B. (2003) “Diplomacia e fiasco. Repensando aparticipação brasileira na Liga das Nações: elementos parauma nova interpretação”, p. 87-112.

BARACUHY, B. (2005) “II - Posições de poder, percepções eestratégias no sistema internacional”, p. 57-74, “Conclusão: anatureza da política externa brasileira”, p. 77-82.

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A PEB no pré-I GM

• Consolidação do território brasileiro pro Rio Branco

• Reorientação da PEB de seu foco nas grandes potências

europeias e na Bacia do Rio da Prata para os Estados

Unidos: “deseuropeização e americanização da PEB”

• Definição de um paradigma da PEB

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PEB nas décadas de 1900 a 1920

• O período das décadas de 1900 e 1920, mais

especificamente entre 1907 (II Conferência de Haia) e

1926 (retirada do Brasil da Liga das Nações) marca a

primeira tentativa substantiva de criação de um sistema

internacional multilateral

• O multilateralismo da PEB, traço marcante dela até hoje,

vai se consolidar como elemento do paradigma nesse

momento

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Page 7: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Participação do Brasil nas Conferências de Paz de Haia,Versalhes e na Liga das Nações/Sociedade das Nações

• 1899: I Convenção sobre a Resolução Pacífica de

Controvérsias Internacionais

• 1907: II Convenção sobre a Resolução Pacífica de

Controvérsias Internacionais: destaque da posição

brasileira, com a defesa do princípio de igualdade entre

as nações. Rui Barbosa foi o representante brasileiro

• 1919: Tratado de Versalhes, encerra a I GM e cria a Liga

das Nações/Sociedade das Nações

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Cronologia da PEB nas décadas de 1900 a 1920

• 1906: presidência de Afonso Pena

• 1907: II Conferência de Haia: “Contra a proposta das

grandes potências de aprovar uma representação

seletiva no projetado ‘Tribunal de Justiça Arbitral’, e em

posição contrária à da delegação norte-americana, Rui

[Barbosa] defende o princípio universal da igualdade

jurídica entre os Estados. A conferência aprova ao final

13 convenções, que disciplinam práticas, leis e costumes

na guerra terrestre emarítima”. (Garcia 2005: 119)

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Cronologia da PEB nas décadas de 1900 a 1920

• 1909: proposta pelo Brasil do Tratado de Cordial

Inteligência Política e Arbitramento, ou Pacto ABC

(Argentina, Brasil e Chile): “o projeto do tratado implica

uma aliança política entre os países do ABC para exercer

na região uma ‘influência compartilhada’; as

negociações, no entanto, não avançam devido à

persistência da rivalidade regional” (Garcia 2005: 120);

Nilo Peçanha, vice-presidente, assume a presidência após

a morte de Afonso Pena

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Cronologia da PEB nas décadas de 1900 a 1920

• 1912: morre José Maria da Silva Paranhos Júnior, o

“Barão” do Rio Branco, aos 67 anos, no exercício do

cargo; é sucedido por Lauro Muller

• 1914: início da I GM; Brasil declara sua neutralidade

• 1914: presidência de Venceslau Brás

• 1915: Assinatura do tratado ABC; Congresso brasileiro

não ratifica o tratado

• 1916: EUA superam a GB para se tornarem os maiores

parceiros comerciais do Brasil pela primeira vez10

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Cronologia da PEB nas décadas de 1900 a 1920

• 1917: Brasil rompe relações diplomáticas com a

Alemanha (11 de abril); Lauro Muller, acusado de

germanófilo, renuncia, sendo sucedido elo ex-presidente

Nilo Peçanha, favorável a uma postura mais beligerante

do Brasil; Brasil revoga o decreto de neutralidade (1 de

junho); Brasil reconhece estado de guerra iniciado pelo

Império alemão depois do quarto navio brasileiro ser

atingido por forças navais alemãs

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Cronologia da PEB nas décadas de 1900 a 1920

• 1918: gravemente doente, Rodrigues Alves se licencia do

cargo, sendo substituído por Delfim Moreira; Domício da

Gama, diplomata, é nomeado Ministro das Relações

Exteriores

• 1919: Conferência da Paz; Pacto da Liga das

Nações/Sociedade das Nações, para cujo Conselho o

Brasil e eleito na condição de membro não-

permanente; assinatura do Tratado de Versalhes;

presidência de Epitácio Pessoa

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Cronologia da PEB nas décadas de 1900 a 1920

• 1920: EUA não aderem à Liga das Nações, e o Brasil passa

a ser o único país americano com assento no Conselho;

revogado o decreto de banimento de Pedro II e da “família

imperial”

• 1926: Brasil veta a entrada da Alemanha na Liga das

Nações (17 de março); Brasil se retira da Liga das Nações

(12 de junho): “o afastamento brasileiro de Genebra [sede

da Liga] representa uma opção pelo pan-americanismo

isolacionista, a exemplo dos EUA, em detrimento do

engajamento político nos assuntos europeus 13

Page 14: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Política externa brasileira – participação na I GM

• “(...) Apesar da grande aproximação com os Estados

Unidos, verificada na década anterior à guerra, a

preeminência inglesa no país era indiscutível (...) Com

esta forte posição no país, os ingleses puderam impor

uma série de restrições com o fim de eliminar, no Brasil,

a concorrência alemã”. (Souza 2001: 119)

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “Mas foram, sem dúvida, as intromissões de ordem

econômica as que mais atingiram o a país. Com o início da

guerra, a Alemanha foi imediatamente eliminada da

parceria comercial com o Brasil pelos navios de guerra

ingleses. As exportações de café para os mercados alemães,

austríacos e escandinavos foram proibidas e o café foi

considerado contrabando condicional de guerra. Isto

representou um grande golpe para a economia brasileira”.

(Souza 2001: 123-124)

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “Por fim, um último golpe: alegando a necessidade de

poupar espaço na escassa tonelagem mercante para

garantir o transporte dos artigos e produtos essenciais à

continuação da guerra, no dia 30 de março de 1917 o

governo inglês baixou um decreto com uma longa lista de

produtos que foram proibidos de serem importados, entre

eles, o café. O Brasil ficava assim totalmente dependente

do mercado consumidor norte-americano”. (Souza 2001:

124)

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “Em busca dos motivos que levaram o Brasil a tomar parte

no conflito mundial, vários autores os relacionam à

entrada dos Estados Unidos no mesmo, baseados na

própria versão oficial que procura justificar a decisão

brasileira com argumentos como ‘política tradicional de

amizade para com os Estados Unidos’ e ‘solidariedade

continental’”. (Souza 2001: 127)

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “Efetivamente, o Brasil vivia um momento de grande

aproximação com os Estados Unidos quando eclodiu a

guerra na Europa. A República inaugurou uma nova fase

na relação entre os dois países, marcada por ampla

aproximação e entendimentos. Essa tendência ganhou

grande impulso com Rio Branco à frente do Ministério das

Relações Exteriores. Com Rio Branco, costuma-se afirmar

que a política externa brasileira deseuropeizou-se para

americanizar-se. Era a face externa das mudanças

ocorridas no plano da política interna”. (Souza 2001: 127)18

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “Sendo o café o principal produto de exportação brasileiro

e os Estados Unidos o seu maior comprador, a

aproximação buscada, sem dúvida, atendia aos interesses

do setor agroexportador cafeeiro. A guerra viria

intensificar esta aproximação, tornando o Brasil (...) mais

dependente dos Estados Unidos. Assim, quando estes

declaram guerra à Alemanha, os representantes políticos

dos interesses do setor agroexportador cafeeiro passaram

a defender a mesma tomada de posição por parte do

governo brasileiro”. (Souza 2001: 127)19

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua

posição de neutralidade perante o conflito, alinhando-

se às demais nações latino-americanas. Mas no dia 11 de

abril [de 1917], uma semana após os Estados Unidos

terem declarado guerra aos alemães, o Brasil rompeu

relações diplomáticas com a Alemanha. E, no final de

maio, o governo federal decretou revogada sua posição

de neutralidade em favor dos Estados Unidos”. (Souza

2001: 129)20

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Política externa brasileira – participação na I GM

• “O motivo alegado, como para o governo dos Estados

Unidos, foi o torpedeamento de embarcações brasileiras

por forças navais alemãs. Mas é claro que a atitude

brasileira era resultado da pressão dos Estados Unidos

sobre a elite política e economicamente dominante no

Brasil”. (Souza 2001: 129)

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Page 22: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Política externa brasileira – participação na I GM

• “Com a quebra da neutralidade ficava faltando apenas o

ato forma de declaração de guerra à Alemanha. Este

viria em outubro de 1917, quando mais um navio

brasileiro (ex-alemão), o Macau, foi torpedeado”. (Souza

2001: 131)

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Page 23: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

A Conferência da Paz e a Liga das Nações

• “O Brasil tinha especial interesse em participar da

Conferência da Paz, pois, além dos interesses materiais

– os navios requisitados aos alemães e o dinheiro do

café embargado por estes – ainda pensava em

conquistar um lugar ao lado das grandes potências no

Conselho Executivo da Ligas das Nações. (...) Entretanto,

desde o princípio, as pretensões brasileiras não

correspondiam à gradação na qual as grandes potências

incluíam o país, ou seja, à sua posição mesmo na cadeia

imperialista”. (Souza 2001: 131) 23

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A Conferência da Paz e a Liga das Nações

• “O Brasil, graças à ajuda dos Estados Unidos, conseguiu

assegurar um mandato de três anos – de 1920 a 1922 –

entre os membros provisórios. E sendo reeleito em

1923, permaneceria como membro do Conselho até

1925, quando, frustradas suas ambições de ascender ao

posto de membro permanente, ao lado das grandes

potências, retirou-se da Organização”. (Souza 2001: 135)

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Page 25: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Contexto internacional

• “Os Estados Unidos retiraram-se da Liga devido,

primeiro, ao incontestável domínio inglês na organização,

que contava, além do seu, com os votos das nações sob

seu domínio; e, em segundo lugar, por considerarem que

o Pacto da Liga das Nações limitava a autonomia

americana em inúmeros assuntos”. (Souza 2001: 136)

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Page 26: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Contexto internacional

• “O Brasil, no entanto, não conseguiria o lugar da

representação norte-americana. Na verdade, não

conseguiria o tão desejado lugar permanente no

Conselho da Liga, pois a Inglaterra e a França opunham-

se, desde o princípio, às pretensões brasileiras. Em março

de 1926 (...) o Brasil comunica sua retirada da

organização. Após ver frustradas suas pretensões, votou

contra a entrada da Alemanha como membro

permanente, por considerar que merecia o mesmo

posto (...)” (Souza 2001: 136)26

Page 27: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Contexto internacional

• “Todo o problema, conforme afirmou Bueno, ‘(...) era

que o Brasil possuía, a respeito de seu peso no cenário

internacional, uma concepção distante daquela que lhe

era atribuída pelas potências europeias’ (BUENO, 1992:

205)”. (Souza 2001:136)

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Page 28: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Liga das Nações

• “Na ordem internacional pós-Grande Guerra, a Liga das

Nações, por inspiração dos ideais wilsonianos, deveria ter

papel central nas relações internacionais. (...) Se o século

XIX termina com a Primeira Guerra, a ordem internacional

europeia chega ao fim, em seu sentido clássico, com a Liga

das Nações – uma organização internacional no tabuleiro

multilateral que deveria substituir as dinâmicas de poder

tradicionais no tabuleiro geopolítico”. (Baracuhy 2005: 77)

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14 Pontos de Wilson

• 14) Criação de uma associação geral sob pactos

específicos para o propósito de fornecer garantias

mútuas de independência política e integridade

territorial dos grandes e pequenos Estados.

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Acordos de Locarno

• “Os Acordos de Locarno, assinados em 1º de dezembro

de 1925, marcaram ponto de inflexão nos anos

entreguerras. Sua assinatura pôs um fim simbólico à

Primeira Guerra; seu repúdio, onze anos depois,

marcaria o prelúdio da Segunda. Locarno reconciliou a

França e a Alemanha. Representou também alívio para a

Inglaterra, que se vira como garante da paz europeia

desde a saída dos EUA do Continente, tendo de

acomodar as posições vingativas da França”. (Baracuhy

2005: 62) 30

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Acordos de Locarno

• “A Alemanha aceitou a perda da Alsácia-Lorena e

concordou em manter o Rhineland desmilitarizado. Pela

primeira vez depois da Primeira Guerra, a Alemanha era

tratada como uma potência igual às demais. Locarno foi

o triunfo do apaziguamento. Deu à Europa esperança

real de segurança e suscitou a perspectiva de que

somente a integração da Alemanha asseguraria a paz”.

(Baracuhy 2005: 62)

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Liga das Nações, 1926

• “A decisão tomada pela diplomacia brasileira, em 17 de

março de 1926, de vetar a entrada da Alemanha na Liga

das Nações terá parecido absurda a seus

contemporâneos. (...) Desde os Acordos de Locarno, a

Europa parecia ter entrado em nova era de cooperação.

As rivalidades do pós-Grande Guerra pareciam ter se

exaurido, e, como consequência, nada mais natural do

que a participação da Alemanha como potência

legítima na ordem internacional”. (Baracuhy 2005: 57).

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Liga das Nações, 1926

• “O veto brasileiro, que tornou insustentável a

permanência do País na Liga da Nações, foi o choque de

longos processos. Há anos o Brasil vinha seguindo sua

agenda em Genebra com vistas à obtenção de uma

cadeira permanente no Conselho, assim como, em

outro sentido, as potências europeias discutiam o

destino da Alemanha”. (Baracuhy 2005: 57).

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Page 34: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Liga das Nações, 1926

• “A crise, porém, foi reveladora sobre o funcionamento

deste tabuleiro do sistema internacional que começava

a ganhar relevo no início do século XX – o multilateral

–, e suas implicações para os arranjos clássicos do

tabuleiro geopolítico, com cujo funcionamento

autônomo e irrestrito estavam acostumados os líderes

das potências europeias”. (Baracuhy 2005: 57-58).

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Liga das Nações, 1926

• “O fato de a decisão do Brasil no plano multilateral

ter barrado, ainda que momentaneamente, interesses

vitais das potências europeias no plano geopolítico é

paradigmático de uma nova era que se iniciava nas

relações internacionais”. (Baracuhy 2005: 57-58).

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Liga das Nações, 1926

• “Nessa perspectiva, não importa que o sistema de

segurança coletiva da Liga tenha fracassado mais tarde

ou que a própria crise de 1926 já revelasse falhas desse

sistema; importa sim destacar a existência do tabuleiro

multilateral na política internacional, em cujos

processos uma Potência Menor, como o Brasil da época,

poderia ter um peso significativo, exercendo influência

nas relações tradicionais do tabuleiro geopolítico das

Grandes Potências”. (Baracuhy 2005: 58).

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Page 37: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Liga das Nações, 1926

• “(...) A crise do Conselho de 1926 deve ser entendida em

dois níveis, como o choque entre dois processos distintos

e independentes que se encontram no sistema

internacional: de um lado, a questão da segurança

europeia e da entrada da Alemanha na Liga das Nações

(no tabuleiro geopolítico); de outro, a culminação dos

esforços brasileiros em obter um assento permanente

no Conselho (no tabuleiro multilateral)”. (Baracuhy

2005: 58).

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Page 38: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Liga das Nações, 1926

• “Para o Brasil, a diplomacia multilateral no pós-Grande

Guerra apresentou-se como o meio, por excelência, de

ganhar espaço na instância de poder que parecia despontar

como definidora dos rumos da política internacional. A nova

configuração da ordem internacional, com a Liga das Nações

em seu núcleo, era percebida como a onda do futuro no

sistema internacional. Para a elite brasileira de política

externa, a busca por uma posição de poder central no novo

tabuleiro multilateral foi essencial na definição da grande

estratégia do País, que orientaria suas estratégias e táticas

diplomáticas para a nova ordem”. (Baracuhy 2005: 63).38

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Liga das Nações, 1926

• “O sucesso e o prestígio que a diplomacia do Barão do

Rio Branco obtivera no Continente Americano deixaram

pesado fardo para as elites de política externa que o

sucederam. (...) Para entender a natureza da atuação

exterior do Brasil no período, parece crucial se ter em

conta a experiência histórica das glórias diplomáticas do

Barão do Rio Branco como fio condutor das percepções

da elite de política externa sobre o potencial

internacional do País e a posição que deveria ocupar na

nova ordem”. (Baracuhy 2005: 63). 39

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Liga das Nações, 1926

• “Considerando a elite diplomática nacional, a raiz mais

profunda da percepção sobre o potencial internacional

do Brasil, que informaria a definição e a natureza da

política exterior no período, estaria na experiência

histórica do País. Foi a busca da permanência, de manter

e aprofundar a herança do Barão do Rio Branco, de

conquistar a posição ao lado das Grandes Potências na

instituição-chave que, supunha-se, regeria a nova ordem

internacional”. (Baracuhy 2005: 78).

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Liga das Nações, 1926

• “Se houve uma misperception fundamental, esta deve

ser atribuída às expectativas quanto ao poder da Liga

das Nações e seu papel na nova ordem – algo que não

pode ser creditado exclusivamente ao Brasil. Boa parte

do mundo acreditava que a “comunidade de poder” da

Liga substituiria a estrutura anárquica do sistema

internacional e suas dinâmicas tradicionais. Todos os

barcos navegavam no mesmo oceano de percepções

equivocadas”. (Baracuhy 2005: 79).

41

Page 42: História da Política Externa Brasileira · Política externa brasileira –participação na I GM •“A princípio, o governo brasileiro procurou manter sua posição de neutralidade

Liga das Nações, 1926

• “A natureza da política externa brasileira no período

foi a de uma ‘política externa de status quo’, de

conquista de posição central de poder na nova ordem

internacional, que teria a Liga das Nações como a última

instância das relações internacionais. Como a definiu

Morgenthau, a política externa de natureza status quo é

a que busca a manutenção da distribuição de poder,

assim como aumentos e ajustes de posições de poder

dentro da ordem internacional existente”. (Baracuhy

2005: 80). 42

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Liga das Nações, 1926

• “Não houve um ‘fiasco’ absoluto da diplomacia brasileira no

episódio de 1926. Ao ver-se derrotada a política externa

brasileira de status quo, que vislumbrava uma posição central

entre as Grandes Potências na Liga das Nações, produziu-se

objetivamente uma vitória do multilateralismo.

Demonstrava-se, pela primeira vez nas relações

internacionais, ainda que de modo efêmero, a importância

que o sistema multilateral poderia ter para a política externa

de países que não se encontram na posição de Grandes

Potências no tabuleiro geopolítico”. (Baracuhy 2005: 81).43