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UNIDADE I – A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA - OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA 1. As escolas Sociológicas A Sociologia é o estudo CIENTÍFICO ou sistemático da sociedade, ou seja, dos fenômenos sociais, padrões de relações sociais ou interações sociais, enfim, e o estudo da cultura humana. Atualmente, as áreas estudadas pela sociologia podem variar da análise de contatos breves entre indivíduos anônimos na rua para o estudo de interação social global. A Sociologia é considerada uma subdisciplina das Ciências Sociais, juntamente com a Ciência Política, a Antropologia e – de acordo com algumas classificações – também a Economia. A Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico- metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação da realidade social. Assim, pode-se claramente observar que a Sociologia tem ao menos três linhas mestras explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podem se citar, não necessariamente em ordem de importância: a) a Positivista-Funcionalista , tendo como fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico em Émile Durkheim, de fundamentação analítica; b) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz teórico- metodológica hermenêutico-compreensiva; c) a linha de explicação sociológica D ialética , iniciada por Karl Marx que, mesmo não sendo um sociólogo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica. Estas três matrizes explicativas, originadas pelos seus três principais autores clássicos, originaram quase todos os posteriores desenvolvimentos da Sociologia, levando à sua consolidação como disciplina acadêmica já no início do século XX. É interessante notar que a sociologia não se desenvolve apenas no contexto europeu. Ainda que seja relativamente mais tardio seu aparecimento nos Estados Unidos, ele se dá, em grande medida, por motivações diferentes que as da velha Europa (mas certamente influenciada pelos europeus, especialmente pela sociologia britânica e positivista de Herbert Spencer). Nos EUA a Sociologia esteve de certo modo "engajada" na resolução dos "problemas sociais", algo bem diverso da perspectiva acadêmica européia, especialmente a teuto-francesa. Entre os principais nomes do estágio inicial da sociologia norte-americana, podem ser citados: William I. Thomas, Robert E. Park, Martin Bulmer e Roscoe C. Hinkle. A Sociologia, assim, vai debruçar-se sobre todos os aspectos da vida social. Desde o funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, as classes sociais ou longos processos históricos de transformação social ao comportamento dos indivíduo num nível micro-sociológico. Deixando de lado as profundas diferenças entre os três modelos sociológicos, podemos dizer que é a idéia de que o homem só pode existir na sociedade e que esta, inevitavelmente, lhe será uma "jaula" que o transcenderá e lhe determinará a identidade é consensual a toda escola sociológica. Olimpo – Prof. Ricardo Orsini - Sociologia - 1 -

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UNIDADE I – A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA - OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

1. As escolas Sociológicas

A Sociologia é o estudo CIENTÍFICO ou sistemático da sociedade, ou seja, dos fenômenos sociais, padrões de relações sociais ou interações sociais, enfim, e o estudo da cultura humana. Atualmente, as áreas estudadas pela sociologia podem variar da análise de contatos breves entre indivíduos anônimos na rua para o estudo de interação social global.

A Sociologia é considerada uma subdisciplina das Ciências Sociais, juntamente com a Ciência Política, a Antropologia e – de acordo com algumas classificações – também a Economia.

A Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico-metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação da realidade social. Assim, pode-se claramente observar que a Sociologia tem ao menos três linhas mestras explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podem se citar, não necessariamente em ordem de importância:

a) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico em Émile Durkheim, de fundamentação analítica;

b) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva;

c) a linha de explicação sociológica D ialética , iniciada por Karl Marx que, mesmo não sendo um sociólogo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica.

Estas três matrizes explicativas, originadas pelos seus três principais autores clássicos, originaram quase todos os posteriores desenvolvimentos da Sociologia, levando à sua consolidação como disciplina acadêmica já no início do século XX. É interessante notar que a sociologia não se desenvolve apenas no contexto europeu. Ainda que seja relativamente mais tardio seu aparecimento nos Estados Unidos, ele se dá, em grande medida, por motivações diferentes que as da velha Europa (mas certamente influenciada pelos europeus, especialmente pela sociologia britânica e positivista de Herbert Spencer).

Nos EUA a Sociologia esteve de certo modo "engajada" na resolução dos "problemas sociais", algo bem diverso da perspectiva acadêmica européia, especialmente a teuto-francesa. Entre os principais nomes do estágio inicial da sociologia norte-americana, podem ser citados: William I. Thomas, Robert E. Park, Martin Bulmer e Roscoe C. Hinkle.

A Sociologia, assim, vai debruçar-se sobre todos os aspectos da vida social. Desde o funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, as classes sociais ou longos processos históricos de transformação social ao comportamento dos indivíduo num nível micro-sociológico. Deixando de lado as profundas diferenças entre os três modelos sociológicos, podemos dizer que é a idéia de que o homem só pode existir na sociedade e que esta, inevitavelmente, lhe será uma "jaula" que o transcenderá e lhe determinará a identidade é consensual a toda escola sociológica.

Para compreender o surgimento da sociologia como ciência do século XIX, é importante perceber que, nesse contexto histórico social, as ciências teóricas e experimentais desenvolvidas nos séculos XVII, XVIII e XIX inspiraram os pensadores a analisar as questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas, com enfoque científico.

2. Histórico do surgimento da sociologia

A Sociologia é uma área de interesse muito recente, mas foi a primeira ciência social a se institucionalizar. Antes, portanto, da Ciência Política e da Antropologia.

Em que pese o termo Sociologie tenha sido criado por Auguste Comte (1789-1857), que esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia, Montesquieu também é considerado como um dos fundadores da Sociologia - talvez como o último pensador clássico ou o primeiro pensador moderno.

Em Comte, seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX – vide item Positivismo, abaixo), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de ordem social.

As transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no século XVIII, como as Revoluções Industrial e Francesa, colocaram em destaque mudanças significativas da vida em sociedade com relação a suas formas passadas, baseadas principalmente nas tradições. A Sociologia surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las. No entanto, é necessário frisar, de forma muito clara, que

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a Sociologia é datada historicamente e que o seu surgimento está vinculado à consolidação do capitalismo moderno. A Revolução Industrial significou, para o pensamento social, algo mais do que a introdução da máquina a vapor. Ela representou a racionalização da produção da materialidade da vida social.

O triunfo da indústria capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o controle de um grupo social, convertendo grandes massas camponesas em trabalhadores industriais. Neste momento, se consolida a sociedade capitalista, que divide de modo central a sociedade entre burgueses (donos dos meios de produção) e proletários (possuidores apenas de sua força de trabalho). Há paralelamente um aumento do funcionalismo do Estado que representa um aumento da burocratização de suas funções e que está ligado majoritariamente aos estratos médios da população.

O quase desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, e etc., tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas formas tradicionais de vida.

Não demorou para que as manifestações de revolta dos trabalhadores se iniciassem. Máquinas foram destruídas, atos de sabotagem e exploração de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, formação de sindicatos e movimentos revolucionários.

Este fato é importante para o surgimento da Sociologia, pois colocava a sociedade num plano de análise relevante, como objeto que deveria ser investigado tanto por seus novos problemas intrínsecos, como por seu novo protagonismo político. Junto a estas transformações de ordem econômica pôde-se perceber o papel ativo da sociedade e seus diversos componentes na produção e reprodução da vida social.

Esta disciplina marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social, desvinculando-se das preocupações especulativas e metafísicas e diferenciando-se progressivamente enquanto forma racional e sistemática de compreensão da mesma. O surgimento da Sociologia prende-se em parte aos desenvolvimentos oriundos da Revolução Industrial, pelas novas condições de existência por ela criada. Mas uma outra circunstância concorreria também para a sua formação. Trata-se das modificações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento, originada pelo Iluminismo. As transformações econômicas, que se achavam em curso no ocidente europeu desde o século XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura.Sociologia – uma ciência “moderna”

Podemos dizer que a Sociologia é “filha” da Modernidade, conseqüência das profundas transformações na Europa do século XIX com as chamadas Revoluções Burguesas. Costuma-se considerar modernidade como o conjunto de experiências históricas ambíguas e conflituosas que marcaram a sociedade européia em meados do século XIX até a atualidade. Um período de profundas transformações sociais, econômicas e políticas.

As mudanças na Europa trouxeram 2 aspectos importantes para a sociedade moderna:

1) Desenvolvimento da sociedade burguesa e consolidação de sua hegemonia e valores, com a criação do Estado Burguês. Surge uma nova configuração social e o sistema societal feudal entra em colapso.

2) Consolidação do capitalismo como modo de produção.

Didaticamente, podemos compreender o período das revoluções burguesas sobre três aspectos diferentes: econômico, cultural-científico e político.

a) Revolução Econômica: corresponde a ao longo processo de superação da economia agrária feudal (assentada sobre a servidão) que desencadeou a chamada Revolução Industrial. Com o desenvolvimento do mercantilismo e a acumulação primitiva de capitais o modo de produção feudal entra em colapso observa-se a expropriação dos terrenos comunais da propriedade feudal (política dos cercamentos) e destruição da agricultura familiar, transformando-se em propriedade privada moderna.

As conseqüências foram à expulsão das famílias rurais para as grandes cidades, que buscavam na indústria emergente a garantia de sua sobrevivência, originando o operariado urbano (proletariado). A velocidade que a expropriação solapava camponeses e artesãos era maior do que a absorção da mão de obra pelas fábricas originando o fenômeno do desemprego, aumentando os índices de miseráveis, mendigos e excluídos. Como conseqüências a Revolução Industrial trouxe:- O fim do produtor independente.- Êxodo rural e explosão demográfica urbana.- Processo de proletarização.- Miséria (doenças, prostituição, suicídios, alcoolismo, violências, etc.).- Primeiras manifestações operárias (ludismo, cartismo).- Criava-se uma sociedade altamente competitiva e individualista.

b) Revolução cultural-científica: correspondente ao chamado Iluminismo (França) fruto de um longo processo de separação das concepções teológicas da Igreja Católica (autoridade política da época).

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Com as transformações do renascimento comercial e urbano surgem intensas transformações culturais e na forma de conhecer do homem (marco inicial com o Renascentismo):

- Instala-se um movimento anti-clerical, opondo-se diametralmente ao teocentrismo.- O antropocentrismo inaugura um novo tipo de pensamento voltado para o homem como chave explicativa do mundo. - O conhecimento deixa de ser objeto de revelação divina para ser interpretado pela razão (Ciência).- O racionalismo baseava-se no uso exclusivo da razão e no empirismo. - Derrocada do Teocentrismo como forma explicativa do mundo- Consolidação do Liberalismo- Notório desenvolvimento das Ciências Naturais e Humanas

O Iluminismo buscava transformar não só as formas de conhecimento, mas a própria sociedade, implantando os valores do Liberalismo político e econômico. Como, temos a derrocada do teocentrismo (no plano das idéias), a consolidação do Liberalismo (no plano político) e o notório desenvolvimento das Ciências Naturais e Humanas. Como expoentes do Iluminismo, temos Descartes, Newton, Locke, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot e d´Alembert, Adam Smith.

c) Revolução Política: correspondente a Revolução Francesa que com os ideais iluministas (liberdade, igualdade e fraternidade) questionaram a monarquia absolutista. Foi um movimento que contou com forte apoio popular, mas de forte caráter burguês. Suas conseqüências principais foram:

- Queda do Estado monárquico e origem do Estado Moderno Burguês (executivo, legislativo e judiciário).- Criação do Estado Laico e fim do predomínio político da autoridade da Igreja Católica.- Burguesia toma o Estado e assume papel hegemônico

O conjunto desses processos históricos trouxe não somente progressos como também uma infinidade de problemas sociais que conturbaram a Europa do século XIX. Esse “turbilhão social” faz com que surjam intelectuais preocupados e propostos a por uma “ordem social” oriunda dessas revoluções. Neste contexto é que surge a Sociologia.

Sociologia versus Filosofia Social

Ao contrário das explicações filosóficas das relações sociais, as explicações da Sociologia não partem simplesmente da especulação de gabinete, baseada, quando muito, na observação casual de alguns fatos. Muitos dos teóricos que almejavam conferir à sociologia o estatuto de ciência, buscaram nas ciências naturais as bases de sua metodologia já mais avançada, e as discussões epistemológicas mais desenvolvidas. Dessa forma foram empregados métodos estatísticos, a observação empírica, e um ceticismo metodológico a fim de extirpar os elementos "incontroláveis" e opinativos recorrentes numa ciência ainda muito nova e dada a grandes elucubrações.

Uma das primeiras e grandes preocupações para com a sociologia foi eliminar juízos de valor feitos em seu nome. Diferentemente da ética, que visa discernir entre bem e mal, a ciência se presta à explicação e à compreensão dos fenômenos, sejam estes naturais ou sociais.

Como ciência, a Sociologia buscou, de início, obedecer aos mesmos princípios gerais válidos para todos os ramos de conhecimento científico, apesar das peculiaridades dos fenômenos sociais quando comparados com os fenômenos de natureza e, conseqüentemente, da abordagem científica da sociedade. Entretanto, outras abordagens metodológicas, apropriadas à abordagem de fenômenos sociais, foram propostas, tais como os desenvolvimentos das escolas compreensivas e dialéticas.

Tais peculiaridades, no entanto, foram e continuam sendo o foco de muitas discussões, ora tentando aproximar as ciências, ora afastando-as e, até mesmo, negando às humanas tal estatuto com base na inviabilidade de qualquer controle dos dados tipicamente humanos, considerados por muitos, imprevisíveis e impassíveis de uma análise objetiva.

3. Os precursores do pensamento sociológico

a) SAINT-SIMON

Claude-Henri de Rourroy, o Conde de Saint-Simon, (1760-1825), nascido em Paris, foi um filósofo e economista francês, um dos fundadores do Socialismo moderno e teórico do Socialismo Utópico.

Para este autor, o avanço da ciência determinava a mudança político-social, além da moral e da religião. É considerado o precursor do Socialismo, pois, no futuro, a sociedade seria basicamente formada por cientistas e industriais. O pensamento Saint-simoniano pode ser visto nas obras de 1807 a 1821, com o lema: "a cada um segundo sua capacidade, a cada capacidade segundo seu trabalho".

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Em um dos seus primeiros livros, Lettres d'un habitant de Genève à ses contemporains, publicado em 1803, ele propõe que os cientistas tomem o lugar dos padres para conduzir a era Moderna. A violência da guerra napoleônica leva-o a se abrigar no Cristianismo, e de uma base Cristã construir as bases para uma sociedade socialista.

Previu a industrialização da Europa e sugere uma união entre as nações para acabar com as guerras. Quando Saint-Simon falou sobre a nova sociedade, imaginou uma imensa fábrica, na qual a exploração do homem pelo homem daria lugar a uma administração coletiva. Assim, a propriedade privada não caberia mais nesse novo sistema industrial. Para ele, subsistiria uma pequena desigualdade e a sociedade só seria perfeita depois de reformar o Cristianismo. Um “novo Cristianismo” substituiria o “Cristianismo degenerado”, e teria como imperativo a justiça social, pois o núcleo deveria se consolidar no que seria a fraternidade do homem, resultando num mundo de homens livres.

Para ele, o homem não seria apenas algo passivo na História, pois sempre procurava alterar o meio social no qual está inserido. Defende também a idéia de uma sociedade

hierarquizada, daí a desigualdade natural (no topo estariam os diretores da indústria e de produção, engenheiros, artistas e os cientistas; na parte de baixo estariam os trabalhadores responsáveis pela execução dos projetos feitos pelos inventores e diretores). Tal hierarquia possibilitaria um grau máximo da capacidade de produção. Mesmo sendo um defensor da sociedade industrial, Saint-Simon foi o primeiro a perceber que o conflito de classes estava relacionado com a economia e que seria nas mãos dos trabalhadores que o futuro seria construído. Ao contrário de Marx, entretanto, achava que os trabalhadores não seriam o sujeito das transformações, mas deveriam ser guiados por alguém.

Saint-Simon é considerado um dos fundadores da Sociologia, que estaria sendo sustentada por duas forças opostas: orgânicas (estáveis) e críticas (mudam a história). Só a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a França passava.

Este autor ainda marca a ruptura com o Antigo Regime. Para Saint-Simon, a Política era agora a ciência da produção, porém a Política vê seu fim com a justiça social.

A obra principal de Saint-Simon é New Christianity (1825). Nele declara que a Religião tendia a melhorar a condição de vida dos mais necessitados. Ele morreu no ano da publicação desse livro, no dia 19 de maio. Em três anos seus seguidores tinham desenvolvido o que podemos chamar de um culto quase religioso baseado na interpretação das suas idéias, e difundiram as suas idéias através da Europa e América do Norte, influenciando socialistas e outros românticos do início do século XIX, como Sainte-Beuve, Victor Hugo e George Sand.

b) AUGUSTE COMTE

Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857) foi filósofo francês, considerado o pai da Sociologia e o fundador do Positivismo. Nascido em Montpellier, no Sul da França, Augusto Comte desde cedo revelou uma grande capacidade intelectual e uma prodigiosa memória. Seu interesse pelas ciências naturais era conjugado pelas questões históricas e sociais.

No período de 1817-1824 foi secretário do conde Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente do socialismo utópico; todavia, como Saint-Simon apropriava-se dos escritos de seus discípulos para si e como dava ênfase apenas à economia na interpretação dos problemas sociais, Comte rompeu com ele, passando a desenvolver autonomamente suas reflexões. São dessa época algumas fórmulas fundamentais: "Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto" (1819) e "Todas as concepções humanas passam por três estádios sucessivos - teológico, metafísico e positivo -, com uma velocidade proporcional à velocidade dos fenômenos correspondentes" (1822) (a

famosa "lei dos três estados").A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais,

provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e torna-se pesquisa de suas leis, vistas como relações (abstratas) constantes entre fenômenos observáveis.

Tendo por método dois critérios, o histórico e o sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia, segundo Comte, haviam atingido a positividade: a Matemática, Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nestas ciências, em sua nova ciência chamada de Física Social e posteriormente

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Sociologia, Comte usaria da observação, da experimentação, da comparação, da classificação e da filiação histórica como método para a obtenção dos dados reais. Comte afirmou que os fenômenos sociais podem ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais.

Em 1851 Comte instituiu uma sétima ciência, a Moral, cujo âmbito de pesquisa é a constituição psicológica do indivíduo e suas interações sociais.

Pode-se dizer que o conhecimento positivo tem como fundamento "ver para prever, a fim de prover" - ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo.

O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como investigação do real. No social e no político, o espírito positivo passaria o poder espiritual para o controle dos "filósofos positivos", cujo poder é, nos termos comtianos, exclusivamente baseado nas opiniões e no aconselhamento, afastando-se a ação política prática desse poder espiritual - o que afasta o risco de tecnocracia.

O seu método, em termos gerais, caracteriza-se pela observação, mas deve-se perceber que cada ciência, ou melhor, cada fenômeno tem suas particularidades, de modo que o método de observação para cada fenômeno será diferente.

Além da realidade, outros princípios caracterizam o Positivismo: o relativismo e o espírito de conjunto (hoje em dia chamado de "holismo"). Na verdade, na obra "Apelo aos conservadores", Comte apresenta sete definições para o termo "positivo": real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático.

Todavia, é importante notar que uma grande confusão terminológica ocorre com a obra de Comte e seu "Positivismo": ele não tem nenhuma relação (ou, se tiver, tem poucas relações) com o chamado Positivismo Jurídico, ou Juspositivismo, de Hans Kelsen; com a "Psicologia positivista", ou "behaviorismo" (ou "comportamentalismo"), de Skinner; com o Neopositivismo, do Círculo de Viena, de Otto Neurath, nem com tantos outros "positivismos" de outras áreas do conhecimento.

A lei dos três estados

O alicerce fundamental da obra comtiana é, indiscutivelmente, a "Lei dos Três Estados", tendo como precursores nessa idéia seminal os pensadores Condorcet e, antes dele, Turgot.

Segundo o marquês de Condorcet, a humanidade avança de uma época bárbara e mística para outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos contínuos e, em princípio, infindáveis - sendo essa marcha o que explicaria a marcha da história.

A partir da percepção do progresso humano, Comte formulou a Lei dos Três Estados. Observando a evolução das concepções intelectuais da humanidade, Comte percebeu que esta evolução passa por três estados teóricos diferentes: o estado 'teológico' (ou 'fictício'), o estado 'metafísico' (ou 'abstrato') e o estado 'científico' (ou 'positivo').

Estado teológico - neste estágio, os fatos observados são explicados pelo sobrenatural, ou seja, as idéias baseadas no sobrenatural são usadas como ciência. Ainda nesta fase, a sociedade se encontra em uma estrutura militar fundamentada na propriedade e na exploração do solo.

Estado metafísico - neste estágio, já se encontram as idéias naturais (idéias que buscam explicar a natureza através de conceitos e não entidades sobrenaturais), mas ainda há certa presença do sobrenatural nas ciências. A indústria já se expandiu, mas não totalmente, a sociedade já não é francamente militar. Pode-se dizer que este estado serve apenas de intermediário entre o primeiro e o terceiro.

Estado Positivo – neste estágio, ocorre o apogeu do que os dois anteriores prepararam progressivamente. Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais de ordem inteiramente positiva. A indústria torna-se preponderante, tendo como atividade única e permanente a produção.

Religião da Humanidade

Os anseios de reforma intelectual e social de Comte desenvolveram-se por meio de sua Religião da Humanidade. Para ele, "religião" e "teologia" não são termos sinônimos: a religião refere-se ao estado de unidade humana (psicológica, espiritual e social), enquanto a teologia refere-se à crença em entidades sobrenaturais. Dessa maneira, grosso modo, a Religião da Humanidade consiste na afirmação radical de um humanismo, com a substituição das teologias pela Humanidade - embora o papel histórico desempenhado por essas teologias seja rigorosamente respeitado e celebrado.

4. Sociologia como autoconsciência da Sociedade

Atualmente, a Sociologia procura emancipar o entendimento humano sobre a sociedade desvencilhando-se do senso comum, justamente por possuir discursos e métodos científicos próprios. A

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sociologia nasce num momento bastante particular da História. Segundo Octavio Ianni (1926-2004), influente sociólogo brasileiro:

A sociologia nasce e desenvolve-se com o Mundo Moderno. Reflete suas principais épocas e transformações. (...) A Sociologia não nasce no nada. Surge em um dado momento da história do mundo moderno. Mais precisamente, em meados do séc. XIX, quando ele já está em franco desenvolvimento, realizando-se. (...) Os personagens mais característicos estão ganhando seus perfis e movimentos: grupos, classes, movimentos sociais e partidos políticos; burgueses, operários, camponeses, intelectuais, artistas e políticos; mercado, mercadoria, capital, tecnologia, força de trabalho, lucro, acumulação de capital e mais-valia; sociedade, estado e nação; divisão internacional do trabalho e colonialismo; revolução e contra-revolução. (...) É possível dizer que a Sociologia é uma espécie de fruto muito peculiar desse Mundo. No que ela tem de original e criativa, bem como de insólita e estranha, em todas as suas principais características como forma de pensamento.

Esse momento histórico “exigiu” que a grande particularidade ou especificidade da investigação em Sociologia, tal como noutras Ciências Sociais (a Antropologia ou a Psicologia Social, por exemplo), se firmasse como reflexividade e capacidade de interpretação simbólica por parte dos agentes sociais ou "sujeitos". Reflexidade pode ser entendida, aqui, como a capacidade do homem de pensar criticamente sobre a sua própria existência social. Note também que a expressão sujeito se opõe à noção de objeto (expressão comum das ciências naturais e exatas). A Sociologia, como ciência da autoconsciência da sociedade, não estuda objetos passivos, que não interferem com a sua subjetividade no método e na pesquisa social. São sujeitos ativos e críticos da realidade que os cerca.

Questões

TEMA 1 – SOCIOLOGIA – ORIGENS E HISTÓRICO

QUESTÕES OBJETIVAS

JUL-2007Questão 51Considere a citação.“[...] a sociologia enquanto disciplina desenvolvera-se no decurso da segunda metade do século XIX principalmente a partir da institucionalização e da transformação, dentro das universidades, do trabalho realizado pelas associações para a reforma da sociedade, cujo programa de ação se tinha ocupado primordialmente do mal-estar e dos desequilíbrios vividos pelo número incontável da população operária urbana.”

Fundação Calouste Gulbenkian. Para Abrir as Ciências Sociais. São Paulo: Editora Cortez, 1996, p. 35.Com relação ao contexto histórico e intelectual da emergência da Sociologia como disciplina científica, assinale a alternativa correta.A) A crise do Iluminismo e a conseqüente descrença no potencial emancipatório e libertário da ciência e das invenções tecnológicas, experimentadas de maneira marcante a partir do século XVIII, impulsionaram o desenvolvimento da Sociologia.B) A Sociologia é herdeira direta das tradicionais concepções de mundo religiosas que tiveram reforçadas a legitimidade e a capacidade explicativa, a partir do século XVI, ocasião em que novas formas de sociabilidade emergiram na esteira do desenvolvimento do Estado Moderno e da economia de mercado.C) A emergência e consolidação institucional da Sociologia ocorreram em um cenário intelectual caracterizado pelo otimismo quanto à capacidade da “Razão” de proporcionar explicações objetivas para os novos padrões de convivência e comportamento social, que floresciam nas sociedades européias modernas. D) A Sociologia constituiu-se como disciplina científica na contra mão dos valores, ideais e formas de sociabilidade tradicionais que ganharam expressão renovada, a partir do século XVIII, com o advento das Revoluções Francesa e Inglesa.

JUL-2006Questão 51Quanto ao contexto do surgimento da Sociologia, marque a alternativa correta.A) A Sociologia nasceu como ciência a partir da consolidação da sociedade burguesa urbana-industrial no século XV.B) A Sociologia foi uma manifestação do pensamento moderno que surgiu a partir dos acontecimentos desencadeados, exclusivamente, pelas revoluções industrial e inglesa, marcando o declínio da sociedade feudal e da consolidação do capitalismo.

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C) A Sociologia foi uma manifestação do pensamento moderno que surgiu em função de um conjunto de fatores de ordem econômica-social, cultural e política, no contexto histórico marcado pelo declínio da sociedade feudal e da consolidação do capitalismo.D) A Sociologia surgiu no século XIX, sendo a expressão do pensamento marxista que visava à transformação da sociedade burguesa em sociedade comunista.

ABR-2006Questão 51Marque a alternativa que corresponde a um dos antecedentes intelectuais da Sociologia.A) A crença na capacidade de a razão apreender a dinâmica do mundo material.B) A valorização crescente dos princípios de autoridade, notadamente da Igreja Católica.C) A descrença nas forças da modernidade, principalmente na idéia de progresso.D) O fortalecimento da especulação metafísica como procedimento científico.

JAN-2004Questão 51Na história do surgimento da Sociologia, a primeira corrente teórica consolidada foi o positivismo. Assinale a alternativa INCORRETA sobre essa corrente de pensamento.A) O positivismo tinha uma perspectiva bastante otimista quanto ao desenvolvimento das sociedades humanas e colocava como fundamentos da dinâmica social, das mudanças para estágios superiores, a busca da ordem e do progresso.B) No positivismo, reconhecia-se que os princípios reguladores do mundo físico e da sociedade humana eram diferentes em essência, mas a crença na origem natural de ambos os aproximava e, por isso, deviam ser estudados sob o mesmo método.C) O positivismo concebia a sociedade como um organismo constituído de partes integradas e harmônicas, segundo um modelo físico e organicista, que levou o próprio Augusto Comte a chamar a Sociologia de Física Social, inicialmente.D) No positivismo, os conflitos e a luta de classes observados na sociedade humana eram inerentes à vida social, tal como na desordem da cadeia alimentar de outros animais, pois todos os seres vivos estavam submetidos às mesmas leis da natureza.

DEZ-2004Questão 58“Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico (...) passa a cobrir com a sociologia uma nova área do conhecimento (...), ou seja, o mundo social. A sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorrem uma série de circunstâncias históricas e intelectuais”.

MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 10.

Com relação ao contexto histórico do surgimento da sociologia, analise a citação acima e marque a alternativa INCORRETA.A) Relevância do século XVIII para a história do pensamento ocidental, inclusive para a sociologia.B) Coincidência com o final da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista.C) Distanciamento em relação aos acontecimentos produzidos pela Revolução Industrial.D) Avanço de uma visão que valoriza a observação e a experimentação para a explicação da natureza.

FEV-2003Questão 59Auguste Comte foi quem deu origem ao termo Sociologia, pensada como uma física social, capaz de pôr fim à anarquia científica que vigorava, em sua opinião, ainda no século XIX. A respeito das concepções fundamentais do autor para o surgimento dessa nova ciência, todas as alternativas abaixo são corretas, EXCETO:A) O objetivo era conhecer as leis sociais para se antecipar, racionalmente, aos fenômenos e, com isso, agir com eficácia, na direção de se permitir uma organização racional da sociedade.B) As preocupações de natureza científica, presentes na obra de Comte, não apresentavam relação prática com a desorganização social, moral e de idéias do seu tempo.C) Era necessário aperfeiçoar os métodos de investigação das leis que regem os fenômenos sociais, no sentido de se descobrir a ordem inscrita na história humana.D) Entre ordem e progresso há uma necessidade simultânea, uma vez que a estabilidade (princípio estático) e a atividade (princípio dinâmico) sociais são inseparáveis.

JUL-2001

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Questão 41Surgida no momento de consolidação da sociedade capitalista, a Sociologia tinha uma importante tarefa a cumprir na visão de seus fundadores, dentre os quais se destaca Augusto Comte. Assinale a alternativa correta quanto a essa tarefa:A) Desenvolver o puro espírito científico e investigativo, sem maiores preocupações de natureza prática, deixando a solução dos problemas sociais por conta dos homens de ação. B) Incentivar o espírito crítico na sociedade e, dessa forma, colaborar para transformar radicalmente a ordem capitalista, responsável pela exploração dos trabalhadores.C) Contribuir para a solução dos problemas sociais decorrentes da Revolução Industrial, tendo em vista a necessária estabilização da ordem social burguesa.D) Tornar realidade o chamado “socialismo utópico”, visto como única alternativa para a superação das lutas de classe em que a sociedade capitalista estava mergulhada.

JAN-2001Questão 50Sobre o surgimento da sociologia como ciência podemos afirmar que, EXCETO, A) a sociologia, diversamente de outras ciências, lida com a realidade social e as interpretações que são feitas sobre essa realidade.B) a sociologia se defronta apenas com o que vagamente chamamos de realidade e baseia-se no fato. C) o conhecimento científico da vida social não se baseia no fato, mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato.D) a sociologia nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais mais complexos das situações de existência nas modernas sociedades industriais e de classe.

QUESTÕES DISCURSIVAS

JUL-2005Questão 3Claude Henri de Rouvroy, conde de Saint-Simon (1760-1825), foi um dos primeiros autores a elaborar uma análise sociológica. Em seu texto a Parábola, fala em “abelhas” (proprietários e trabalhadores) e “zangões” (elite ociosa: família real, ministros, prelados, entre outros). A partir destas informações, disserte sobre o papel da idéia de progresso no contexto do surgimento da sociologia.

JUL-2004Questão 3No século XIX, as Ciências Sociais, como as demais ciências, estabeleceram forte tensão com o pensamento teológico, que era predominante na explicação das relações do homem com a natureza e com os outros homens. No pensamento científico, as diversas sociedades, suas formas diferentes de organizar a vida social, seus conflitos, suas instituições, incluindo a própria religião, passaram a ser encaradas como aspectos da cultura humana, como criação dos homens com finalidades práticas relativas à vida terrena (cf. COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1987, p. 2-37).

Disserte sobre os fundamentos do pensamento científico responsáveis pela tensão com o pensamento religioso na explicação das leis naturais e da vida social.

DEZ-2004Questão 3A Sociologia é uma ciência moderna, com menos de dois séculos, que se desenvolveu a partir do questionamento da sociedade urbana-industrial, em formação desde a segunda metade do século XVIII. A partir desta afirmação, descreva a estrutura social que possibilita a formação do pensamento sociológico.

JUL-2003Questão 4Tendo em vista o contexto do surgimento da Sociologia, disserte sobre o significado desta formulação de Auguste Comte (1798-1857), quanto ao papel que a Sociologia deveria ter: ... ciência, daí previdência, previdência daí ação.

Apud QUINTANEIRO, Tânia & outros, Um toque de clássicos – Marx, Durkheim, Weber. 2 ed., Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 19.

SET-2002Questão 3

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Entre os fatores intelectuais que influenciaram o surgimento da Sociologia como “ciência da sociedade,” destaca-se o racionalismo. Disserte sobre este assunto, mostrando como se deu essa influência.

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UNIDADE II – A ESCOLA DE SOCIOLOGIA POSITIVISTA ÉMILE DURKHEIM

Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês, é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Mafuso, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica.

Partindo da afirmação de que “os fatos sociais devem ser tratados como coisas”, forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada à sociedade. Defendeu que a preponderância da sociedade sobre o indivíduo permitiria a realização desse, desde que ele consiga integrar-se a essa estrutura.

Durkheim formou-se em Filosofia, porém sua obra inteira é dedicada à Sociologia. Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste.

A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de "Socialização", a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse "tudo" ele chamou de "Fatos Sociais", e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.

Dentro da tradição positivista de delimitar claramente os objetos das ciências para melhor situá-las no campo do conhecimento, Durkheim aponta um reino social, com individualidade distinta dos reinos animal e mineral. Trata-se de um campo com

caracteres próprios e que deve por isso ser explorado através de métodos apropriados. Mas esse reino não se situa à parte dos demais, possuindo um caráter abrangente:  

(...) porque não existe fenômeno que não se desenvolva na sociedade, desde os fatos físico-químicos até os fatos verdadeiramente sociais.

(La Sociologie et son domaine scientifique). 

Durkheim fala também de um reino moral, ao concluir que:  

(...) a vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor, o conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo.

  Aproveita para esclarecer o que entende por fenômenos morais:

  Qualificando-os de morais, queremos dizer que se trata de meios constituídos pelas idéias; eles são, portanto, face às consciências individuais, como os meios físicos com relação aos organismos vivos.

1. Método da Sociologia 

No início de sua carreira Durkheim empregava o termo "ciências sociais", paulatinamente substituído pelo de “sociologia”, mas reservando aquele ainda para designar as “ciências sociais particulares” (Morfologia Social, Sociologia Religiosa, etc.), que são divisões da Sociologia (hoje em dia se entende que a Sociologia seja uma subdivisão das Ciências Sociais). A Sociologia constitui “uma ciência no meio de outras ciências positivas”. Por ciência positiva, Durkheim entendia um “estudo metódico” que conduz ao estabelecimento das Leis necessárias e universais, através dos procedimentos experimentais.  

Se existe um ponto fora de dúvida atualmente é que todos os seres da natureza, desde o mineral até o homem, dizem respeito à ciência positiva, isto é, que tudo se passa segundo as leis necessárias.

  Desde Comte, a Sociologia tem um objeto, que permanece entretanto indeterminado. Ela deve

estudar a Sociedade, mas a Sociedade não existe, é uma entidade abstrata (que não pode, portanto, ser mensurada pelos métodos das ciências empíricas). Por isso, Durkheim tentou definir um objeto de estudo claro, bem como um método para estudá-lo adequadamente. O objeto é FATO SOCIAL, método é a observação e experimentação indireta, ou em outros termos, o MÉTODO COMPARATIVO.

O Método Comparativo

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Les règles de la méthode sociologique (1895) constituem um esforço sistemático com vistas à elaboração de uma “teoria da investigação sociológica”, voltada para a busca de regularidades que são próprias do “reino social” e que permitem explicar os fenômenos que ocorrem nesse meio sem precisar tomar explicações emprestadas de outros reinos. A posição metodológica de Durkheim é, por conseguinte, estritamente sociológica, a tal ponto que se torna difícil enquadrá-lo numa determinada corrente sociológica sem correr o risco de tomar a parte pelo todo.

Ao concluir Lés règles, Durkheim sintetiza seu método em três pontos básicos: a) independe de toda filosofia; b) é objetivo; c) é exclusivamente sociológico e os fatos sociais são antes de tudo coisas sociais.

Buscando uma “emancipação da Sociologia” e procurando dar-lhe “uma personalidade independente”, Durkheim afirma:  

Fizemos ver que um fato social não pode ser explicado senão por um outro fato social e, ao mesmo tempo, mostramos como esse tipo de explicação e possível ao assinalar no meio social interno o motor principal da evolução coletiva. A Sociologia não e, pois, o anexo de qualquer outra ciência; é, ela mesma, uma ciência distinta e autônoma, e o sentimento do que tem de especial a realidade social é de tal maneira necessário ao sociólogo, que apenas uma cultura especialmente sociológica pode prepará-lo para a compreensão dos fatos sociais.

Les règles constitui a primeira obra exclusivamente metodológica escrita por um sociólogo e voltada para a investigação e explicação sociológica. Importante ressaltar sua própria posição cronológica: publicada depois de Division du travail social (tese de doutoramento de 1893), seus princípios metodológicos são inferidos dessa investigação (ainda que não fosse trabalho de campo); tais princípios por sua vez são postos à prova e aplicados na prática numa monografia exemplar que é Le suicide (1897), em que a manipulação de variáveis e dados empíricos é feita pela primeira vez num trabalho sociológico sistemático e devidamente delimitado.

Simultaneamente com a elaboração dessa monografia em que utiliza o método estatístico, Durkheim organiza uma outra  de menor porte, La prohibition de l'inceste et sés origines (1896), onde o método de análise de dados etnográficos é aplicado numa perspectiva sociológica.

Essa fase é de grande originalidade do ponto de vista metodológico, na medida em que a manipulação de dados etnográficos permite a análise de representações coletivas, que são encaradas, num sentido estrito, como representações mentais ou, melhor dito, representações simbólicas que, por sua vez, são imagens da realidade empírica. Em outros termos, Durkheim empreende os primeiros delineamentos da sociologia do conhecimento.

Sua originalidade consiste em que, através da análise das religiões primitivas – o totemismo como sua forma primeira e mais simples –, pode-se perceber como os homens encaram a realidade e constroem certa concepção do mundo e, mais ainda, como eles próprios se organizam hierarquicamente, informados por tal concepção.

Como se viu, a sucessiva introdução de elementos enriquecedores da análise adquire um significado metodológico especial, pois constitui – ao lado de conhecimentos positivos que proporciona clara demonstração do processo de indução científica. Em “De quelques formes primitives de classification”, Durkheim e Mauss escrevem:  

Todos os membros da tribo se encontram assim classificados em quadros definidos e que se encaixam uns nos outros. Ora, a classificação das coisas reproduz essa classificação dos homens.

  Essa é, em última análise, a tese de Les formes élémentaires e que, naquele mesmo texto, é

igualmente enunciada como segue:  

Em resumo, se não estamos bem certos de dizer que essa maneira de classificar as coisas está necessariamente implicada no totemismo, e, em todo caso, certo que ela se encontra muito freqüentemente nas sociedades que são organizadas sobre uma base totêmica. Existe pois uma ligação estreita, e não apenas uma relação acidental, entre esse sistema social e esse sistema lógico.

  Não é apenas através das verbalizações que o homem procura representar a realidade: ele o faz

até mesmo pela maneira como se dispõe territorialmente, face a essa realidade. E suas formas organizacionais da vida social são portadoras de uma ideologia implícita, que forma um estrutura interna quase disfarçada, percebida apenas pela perspicácia do espírito científico do investigador, sustentador virtual do sistema social. É necessário um método apurado, tal como desenvolveu Durkheim, para que se

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possa ver, descrever e, o que e mais importante do ponto de vista científico, classificar a(s) realidade(s). Essa nos parece uma das mais notáveis contribuições científicas da Sociologia, cujos méritos devem ser prioritariamente creditados a Durkheim.

Talvez se deva a Montesquieu (1689-1755) a maior dose de influência sobre o método de Durkheim. Embora este não se mostre preocupado simplesmente em estabelecer leis explicativas dos fenômenos sociais, acha-se implícita a idéia das relações necessárias que se estabelecem no âmbito dos fenômenos da sociedade.

O filósofo também francês René Descartes, com o seu Discurso do Método para conduzir o espírito e encontrar a verdade nas ciências, foi também uma influências sobre as regras de Durkheim. Há certa semelhança na formulação de Les règles de la méthode sociologique com as Règles pour la direction de l‘esprit. A primeira regra cartesiana poderia servir perfeitamente como epígrafe das Règles de Durkheim:  

Os estudos devem ter por finalidade dar ao espírito [ingenium no original latino] uma direção que lhe permita conduzir a julgamentos sólidos e verdadeiros sobre tudo que se lhe apresente.

  Apesar de Descartes utilizar a aritmética e a geometria nas suas exemplificações e demonstrações,

fica claro que suas regras não se limitam às matemáticas ali tomadas como protótipo das ciências. O tratamento dos fenômenos como coisa e uma constante nesse trabalho de Descartes, tal como no de Durkheim. Assim, a Regra XV (de Descartes) recomenda que, ao se tomar a figura de um corpo, deve-se traçá-la e apresentá-la ordinariamente aos sentidos externos. Na Regra V, Descartes define o método:

Todo método consiste na ordem e arranjo dos objetos sobre os quais se deve conduzir a penetração da inteligência para descobrir qualquer verdade.

  Há também uma recomendação, que é largamente desenvolvida em Logique de Port-Royal:

distinguir as coisas mais simples daquelas mais complexas e que, como todas as coisas podem ser distribuídas em séries, é preciso discernir nestas o que é mais simples. Na Regra XII essa colocação é retomada, para mostrar todos os recursos necessários para se ter uma intuição distinta das proposições simples, seja para fins classificatórios, seja para fins comparativos.

Tais colocações não deixam de estar presentes na recomendação básica de Durkheim, no que se refere à constituição dos tipos sociais:  

Começa-se por classificar as sociedades segundo o grau de composição que estas apresentam, tomando por base a sociedade perfeitamente simples ou de segmento único; no interior dessas classes se distinguirão as diferentes variedades, conforme se produza ou não uma coalescência completa dos segmentos iniciais (Durkheim, Sociologia das Ciências Sociais).

O Suicídio

Quase 70 anos após sua publicação, um sociólogo americano, Selvin, fez inserir um artigo no American Journal of Sociology em que o estudo de Durkheim e considerado “ainda um modelo de pesquisa social”, onde o método central utilizado é o da análise multivariada (a introdução de progressivas variáveis adicionais permite aprofundar o tratamento do problema até garantir generalizações seguras).

A utilização da estatística como instrumento de análise é feita aí por Durkheim, ao mesmo tempo que, na Inglaterra, Booth, Rowntree e Bowley usam métodos estatísticos refinados no estudo de problemas ligados ao pauperismo (pobreza). Mas foi a descoberta americana de Le suicide que veio colocar definitivamente esta obra no rol dos clássicos imperecíveis e sempre modernos, após a tradução inglesa feita em 1951 por John A. Spaulding e George Simpson.

Alguns destaques sobre a obra podem ser feitos:

- Robert Merton apresenta-a como um dos melhores exemplos do que ele veio a chamar “teoria de médio alcance”, uma generalização segura à base de dados empíricos tratados com precisão e segurança.

- Arthur Rosenberg mostra como Durkheim pôs em prática a generalização descritiva do tipo replicação, que envolve diferentes populações para a análise comparativa de um fenômeno.  - Stinchcombe, ao estudar as formas fundamentais da inferência científica, recorre a Le suicide para mostrar como a prova múltipla de uma teoria é mais convincente do que a prova simples. Para ilustrar um “experimento crucial”, Durkheim teria posto à prova a noção vulgar de seu tempo de que o suicídio resultaria de uma enfermidade mental, e comparou populações diferentes para mostrar que, se fosse o caso, as populações com altas taxas de enfermidade mental teriam altas taxas de suicídio. Durkheim realizou depois estas observações e a correlação entre taxas de enfermidade mental e taxas de suicídio resultou

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insignificante. Isto refutou a teoria alternativa (tal como estava formulada) e fez com que sua teoria fosse muito mais veraz.

- Madge mostra como Durkheim escolheu esse tema por três razões: 1º - o termo “suicídio” poderia ser facilmente definido; 2º existe muita estatística a respeito; 3º é uma questão de considerável importância. Para ele, Durkheim estava absolutamente seguro de sua tarefa, que era demonstrar que as ciências sociais podem examinar uma questão social importante, sobre a qual outras pessoas haviam filosofado por muito tempo, e pôde mostrar, mediante a apresentação sistemática de fatos existentes, que é possível chegar a conclusões úteis que podem ajudar com proposições práticas as ações futuras.

Para Durkheim, um dos problemas centrais das modernas sociedades é a difícil relação dos indivíduos com o grupo. O estudo do suicídio, feito em sua obra O suicídio (1897), é especialmente revelador da natureza dessa relação.

Durkheim procura mostrar que mesmo no ato de tirar a própria vida, a sociedade presente na consciência do indivíduo é mais importante do que os detalhes da história individual do suicida. Em sua obra, Durkheim identifica três tipos de suicídio:

a) O suicídio egoísta, cometido por indivíduos preocupados essencialmente consigo próprios, pouco integrados ao grupo;

b) O suicídio altruísta (altruísmo = abnegação, desprendimento, sacrifício), que ocorre quando o indivíduo se sacrifica em obediência a alguma norma social interiorizada, como no caso das viúvas indianas que aceitaram ser queimadas junto ao corpo dos maridos mortos na guerra.

c) E o suicídio anômico (de anomia social), o mais característico da sociedade moderna. Esse tipo de suicídio é gerado sempre que a sociedade passa por grandes transformações (positivas ou negativas). É famoso o caso da crise de 1929, nos EUA, onde um grande número de empresários e industriais se suicidou devido a queda da bolsa de Nova Iorque.

2. O Objeto da Sociologia - Fato Social

Para Durkheim, o objeto da Sociologia é o FATO SOCIAL, os quais devem ser estudados como “coisas”. Partidário do ideal positivista do estudo objetivo da realidade, Durkheim considerou que os fenômenos sociais poderiam ser observados, descritos e mensurados como os fenômenos da física ou da biologia. Ao contrário de August Comte, esforçou-se por construir uma ciência livre dos preconceitos e abstrações das filosofias sociais de sua época. Na busca por um idéia de ciência entendida de maneira objetiva e rigorosa, Durkheim se preocupou em definir com precisão o objeto (de estudo), o método e as aplicações da nova ciência.

Para Durkheim:

(...) a sociedade não é uma simples soma de indivíduos; o sistema formado por sua associação representa uma realidade específica que tem suas características próprias. Sem dúvida, nada poderia se produzir de coletivo se as consciências individuais não existissem, mas essa condição, apesar de necessária, não é suficiente. É preciso, ainda, que essas consciências estejam associadas e, combinadas de certa forma; é dessa combinação que resulta a vida social (...) é esta associação que é a causa desses novos fenômenos que caracterizam a vida, da qual é impossível encontrar-se até mesmo o germe em qualquer dos elementos associados. É que o todo não é idêntico à soma das partes; ele é algo de diferente, com propriedades diferentes das que possuem as partes que o compõem.

E ainda

É fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda a maneira de fazer que seja geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possua uma existência própria, independente de suas manifestações individuais.

(...)

"O fato social é tudo o que se produz na e pela sociedade, ou ainda, aquilo que interessa e afeta o grupo de alguma forma"

Durkheim, Da Divisão do Trabalho Social

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Para Durkheim, os fatos sociais têm pelo menos três características principais:

a) São COERCITIVOS (coercitividade): exercem uma força coercitiva sobre os indivíduos. Tudo que o homem faz, pensa e sente é condicionado pela sua convivência e aprendizado no grupo. Para Durkheim não existe vontade livre, uma vez que até os nossos mais secretos desejos são determinados pelo grupo social no qual estamos inseridos.

ImportanteCoerção = restrição, repressão,

impedimento, proibição, refreamento, privação, obrigação.

b) São GERAIS (generalidade): são válidos para todos os indivíduos do grupo social.

c) São EXTERIORES (exterioridade): existem fora dos indivíduos e bem antes dos mesmos. As normas e regras sociais existem bem antes do indivíduo e são impostas pelo grupo a este. Ou seja, os fatos sociais são determinados por normas e regras que existem independentemente da nossa vontade, e fora da nossa consciência individual.

À época de Durkheim, acreditava-se que a sociedade era um reflexo da natureza humana. Durkheim afirmou, ao contrário, que o homem que é um reflexo da sociedade.

Para ter uma idéia mais clara do que isso significa, podemos pensar no exemplo da língua portuguesa. Para se expressar um pensamento, mesmo o mais íntimo dos pensamentos, é necessário usar um sistema de códigos gramaticais que não foi inventado por nenhum indivíduo. As línguas são criações coletivas e existem bem antes de qualquer ser humano ter nascido. Ou seja, elas são exteriores e anteriores às consciências individuais.

Outra característica

Por serem considerados EXTERIORES, os fatos sociais podem ser considerados ainda OBJETIVOS. Da mesma forma que fenômenos internos (tais como os fenômenos psíquicos ou mentais) são considerados subjetivos, os fenômenos externos seriam considerados, inversamente, como objetivos. Eles possuem uma realidade objetiva e, portanto, são passíveis de observação externa. A Sociologia seria considerada uma ciência positiva justamente porque o seu objeto de estudo, o fato social, tem realidade objetiva. Os fenômenos sociais deveriam ser tratados como “coisas” objetivas, não como idéias subjetivas, passíveis de serem tratadas como interpretações pessoais.

Para Durkheim, o fato social é um resultado da vida em grupo. Ele propõe isolar os fatos sociais para estudá-los separadamente, um a um, da mesma forma que a Física e a Biologia fazem com seus objetos de estudo.

3. Outros Conceitos Importantes

A Educação

A formação do ser social é feita, em boa parte, pela educação (não só a escolar, mas a familiar, a religiosa, e outras). Educação é a assimilação, pelo indivíduo, de uma série de normas, princípios morais, religiosos, éticos, de comportamento, etc. Isso nos leva a considerar que o homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela.

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Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo educativo: "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida.

Nessa concepção durkheimiana, também chamada de funcionalista, as consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo “espírito” ou pela consciência humana individual.

A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela.

Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, relacionado-a, pela primeira vez, às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo.

Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de máximas que dirigem os diferentes modelos de educação, cada uma com as características que lhe são próprias. As sociedades cristãs da Idade Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado atualmente.

Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas idéias ajudaram a compreender o significado social do trabalho do professor, tirando a educação escolar da perspectiva individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista (influenciado pelas escolas filosóficas alemãs de Kant e Hegel). Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público (o que, atualmente, é uma noção bastante difundida e aceita).

A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política. Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas à religião, às normas e sanções (punições), à ação política, ao grau de desenvolvimento das ciências e até mesmo ao estado de progresso da indústria local.

O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-la sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá representada.

Socialização e Consciência Coletiva

A SOCIALIZAÇÃO é o processo por meio do qual o indivíduo se adapta aos ditames da vida coletiva. Por meio dela, o indivíduo aprende a se integrar ao meio. Ele faz isso por meio da assimilação de valores, crenças, hábitos e conhecimentos do grupo social ao qual pertence. Nesse sentido, o conceito “socialização” é bem próximo ao de “educação”.

Para Durkheim, os indivíduos que participam dos mesmos grupos compartilham valores, crenças e normas coletivas, o que os mantém integrados. É fácil imaginar que um grupo de amigos será mais unido se seus membros tiverem crenças, gostos pessoais, valores, hábitos e costumes em comum.

Uma sociedade somente pode funcionar se tais valores, crenças e normas constrangem (reprimem) as atitudes e os comportamentos individuais provocando uma solidariedade básica, que orienta as ações dos indivíduos.

Durkheim usa a expressão “CONSCIÊNCIA COLETIVA” para expressar essa solidariedade comum que molda as consciências individuais. A família, o trabalho, os sindicatos, a educação, a religião, o controle social e até a punição do crime são alguns mecanismos que criam e mantêm viva a integração da consciência coletiva.

A socialização se dá através de um processo chamado INTERNALIZAÇÃO, responsável pela profunda aquisição de valores, crenças e normas sociais que mantêm os grupos e as sociedades integrados. Esse controle social reforça o domínio da sociedade sobre os indivíduos. Ao adquirir hábitos e costume de um determinado grupo, nos internalizamos as normas sociais desse grupos, ou seja, agimos, pensamos e sentimos como se tais normas fosse internas e não externas, como de fato o são. Ou seja, nos aderimos às normas como se ela fosse um imperativo pessoal e não uma imposição social.

Durkheim, evidentemente, sabia da existência de fenômenos tais como conflitos sociais, crises, marginalidade, criminalidade, suicídio, etc., em todas as sociedades. Nem tudo nas sociedades é integração, consenso e harmonia. Mas, para ele, essas formas de “desvios” sociais não eram conseqüências da perversão ou da maldade dos indivíduos; eram, sim, conseqüências da própria estrutura social que, enfraquecida, produzia um estado de anomia, isto é, um estado de enfraquecimento ou ausência de leis e normas. A anomia gera o caos social.

Sem normas claras, os indivíduos não sabem como agir e se entregam à ganância, às paixões, ao crime e mesmo ao suicídio. Numa sociedade fraca, os indivíduos se perdem e os processos de

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socialização e internalização de normas se tornam ineficientes (os indivíduos não aprendem a respeitar normas e regras).

Normalidade e Patologia Social

A esse tipo de problema, Durkheim deu o nome de PATOLOGIAS SOCIAIS. Ele ainda classificou as sociedades que tinha grande número de patologias sociais de sociedades “anomanas”. , e chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A ANOMIA SOCIAL era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.

Na tentativa de "curar" a sociedade da anomia, Durkheim escreve "A divisão social do trabalho", onde ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica (conceito estudado mais abaixo) entre os membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado a se manter coeso e solidário aos outros, através de um sistema de direitos e deveres. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.

Entretanto, através das noções de Normal e Patológico, Durkheim queria estabelecer uma forma (científica) de distinguir os fatos sociais bons e desejáveis para a manutenção da sociedade, daqueles considerados ruins e indesejáveis, que contribuíam para a degradação da sociedade, como se fossem doenças sociais.

Para Durkheim, a saúde pode ser entendida como a perfeita adaptação do organismo ao meio ao qual pertence, tendo ele as possibilidades máximas de sobrevivência. Por outro lado, a doença será tudo o que perturba essa adaptação, diminuindo essas possibilidades.

Devemos lembrar, no entanto que existem algumas exceções. A dor, no caso do corpo humano, também é geralmente ligada à doença, mas isso nem sempre é verdadeiro. A fome, o parto são exemplos de fatos que podem ocasionar dor sem serem sinal de doença. Nem tudo que coloca a vida da sociedade em risco é patológico. Existem desajustes, contradições internas que não são necessariamente patológicas, pois fazem parte do processo de evolução daquela sociedade. Certos conflitos e contestações são normais.

Quando a crise se torna intensa, entretanto, ameaçando as estruturas que sustentam a sociedade, aí se torna algo patológico (doença).

Mas como medir se uma "doença" está ameaçando a saúde da sociedade? Nas sociedades existem crises que fazem parte delas, como as doenças endêmicas, que não ameaçam a sobrevivência do ser vivo (ex. gripe). Essas não são sinais de patologia, enquanto que as crises que ameaçam a estabilidade sim, como as epidemias que ameaçam a vida do ser biológico. Entretanto, isso é muito mais difícil de ser observado na sociedade do que no corpo humano.

O crime, por exemplo, é um fenômeno normal, visto que é geral para todas as sociedades (não existe sociedade sem transgressores). Ele se torna patológico quando atinge dimensões exageradas, ameaçando a sobrevivência da sociedade. Um crime, isoladamente, é visto como algo normal, não podendo ser considerado, por si só, uma patologia social.

Quando a coesão social se torna muito fraca, a situação se torna anômica e se aproxima da ruptura. Em outras palavras: sem coesão, a sociedade entra no caos. Podemos perceber que é muito complicado estabelecer com perfeição o limite entre o normal e o patológico. Mas é dever do homem de estado (governantes), assim como um médico, prevenir a eclosão de doenças sociais, e quando estas aparecerem, procurar saná-las.

A sociedade fica, então, ameaçada por não impor limites aos indivíduos, que Durkheim concebia como cheios de desejos ilimitados. “Quanto mais os homens possuem, mais eles querem, já que as satisfações estimulam, em vez de preencher as necessidades”. As instituições sociais serão as responsáveis por impor tais limites.

Instituições Sociais

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A INSTITUIÇÃO SOCIAL é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, polícia ou qualquer outra, elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem.

Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra.

Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador. Sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras (num conceito do próprio Durkheim, "em estado de anomia"), sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero.

Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de outro grande homem: Freud.

Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada, essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as conseqüências.

Formas de Solidariedade Social

Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois estados em que esta pode se encontrar: o estado normal que designa os fenômenos que ocorrem com regularidade na sociedade e o patológico, comportamentos que representam doenças e devem ser isolados e tratados porque põem em risco a harmonia e o consenso, estando fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente.

Para Durkheim, a sociedade moderna se encontra em um estado doentio, porque deixou de exercer o papel de freio moral sobre os indivíduos. Como Durkheim demonstra no prefácio à segunda edição de sua obra “Da divisão do trabalho social”:

É a esse estado de anomia que devem ser atribuídos, como mostraremos, os conflitos incessantemente renascentes e as desordens de todo tipo de que o mundo econômico nos dá o triste espetáculo. Porque, como nada contém as forças em presença e não lhes atribui limites que sejam obrigados a respeitar elas tendem a se desenvolver sem termos e acabem se entrechocando, para se reprimirem e se reduzirem mutuamente.(...) As paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas respeitam. Se qualquer autoridade desse gênero inexiste, é a lei do mais forte que reina e. latente ou agudo, o estado de guerra é necessariamente crônico.

Durkheim considera que os conflitos e as desordens da sociedade moderna são sintomas deste estado de anomia e ainda que, a Religião, o Estado e a família têm sido pouco eficazes no controle moral desta sociedade.

Para este teórico, o mecanismo que oferece a coesão para a sociedade seria a solidariedade social. Nesta perspectiva, cabe-nos demonstrar que a solidariedade social se expressa, segundo sua teoria, por uma maior ou menor divisão do trabalho, somando ainda à consciência que poderá se individual ou coletiva.

A divisão do trabalho e a forma de consciência que se expressa em cada sociedade, levaram Durkheim a demonstrar que os fatos sociais têm existência própria, externa aos indivíduos e que no interior de qualquer grupo ou sociedade existem formas padronizadas de conduta e pensamento baseadas na soma destas categorias. Esta soma, por sua vez, formam os dois tipos de solidariedade: a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica.

Em sua obra, Durkheim demonstra que a sociedade modela o comportamento social do homem no processo da evolução social, passando de uma solidariedade mecânica, para uma solidariedade orgânica. De fato, Durkheim classificou as formas de solidariedade entre os indivíduos em duas: a solidariedade mecânica e a orgânica.

a) Solidariedade MecânicaA solidariedade mecânica é mais simples e se forma pela igualdade: os indivíduos vivem em comum

porque partilham de uma consciência coletiva comum. A consciência coletiva é “um conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade [que] forma um sistema determinado que tem vida própria”.

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Este tipo de solidariedade predominava nas sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos permanecem em geral independentes e autônomos em relação à divisão do trabalho social. Neste caso, os indivíduos que executam as mesmas tarefas reconhecem que têm pelo menos parte da personalidade em comum, e se unem em torno dela. Nas sociedades de solidariedade mecânica, existe total predomínio do grupo sobre os indivíduos que se identificavam através da família, da religião, da tradição e dos costumes.

Durkheim observou que a estrutura das sociedades tradicionais era caracterizada por uma repetição de seguimentos similares e homogêneos, que não tinham nenhuma relação entre si. Uma sociedade segmentada é aquela onde os grupos sociais (como aldeias, por exemplo) vivem isolados, com um sistema social que tem vida própria, o segmento basta-se a si mesmo e tem pouca comunicação com o mundo exterior.

Devemos destacar ainda que, segundo Durkheim, a solidariedade permite a integração geral da sociedade, porque tem natureza moral. Embora algumas formas de solidariedade manifestam-se nos costumes, como é o caso da solidariedade mecânica, ela se materializa do Direito. Nas sociedades de solidariedade mecânica, o direito é repressivo, apresentando uma punição por meio dos costumes, já que o crime representa uma ruptura com os elos de solidariedade. O criminoso no caso, age contra a sociedade e sua punição é proporcional ao delito.

b) Divisão do Trabalho e Solidariedade OrgânicaNa tentativa de “curar” a sociedade da crise, Durkheim escreve “A divisão do trabalho social”, onde

ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. Inspirado no exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função, mas depende dos outros para sobreviver, pensava que se cada membro da sociedade exercer uma função diferente na divisão do trabalho, ele seria obrigado a se manter coeso e solidário aos outros, já que dependeria deles para sobreviver.

Na solidariedade orgânica, o importante é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade como os órgãos do corpo precisam uns dos outros. Na solidariedade mecânica, típica das sociedades pré-capitalistas, os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência e coesão porque os indivíduos ainda não se diferenciam uns dos outros. Reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. Nesse tipo de vida, os indivíduos compõem grupos sociais pequenos e com limites bem precisos.

Na solidariedade orgânica, típica das sociedades capitalistas, onde há acentuada divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes. Não são mais os laços familiares ou comunitários que garantem a coesão social, mas o fato de todos dependerem do trabalho coletivo.

Os indivíduos são diferentes como os órgãos de um ser vivo, mas dependem uns dos outros para sobreviver. Numa sociedade onde há acentuada divisão do trabalho, ninguém consegue, sozinho, produzir o que é necessário para sua sobrevivência. Hoje em dia, por exemplo, é impensável que alguém consiga produzir tudo que é necessário à sua sobrevivência (educação, segurança, alimentação, saúde) sem depender do trabalho dos outros.

O efeito mais importante da divisão do trabalho não é econômico (o aumento da produtividade), ao contrário do que comumente se pensa, mas a solidariedade que gera entre os homens. A evolução da sociedade, promove uma diferenciação social, no qual predomina a divisão do trabalho. De acordo com Durkheim, são três os fatores responsáveis pelo crescimento da sociedade: volume, densidade sócia e densidade moral. Raymond Aron (2002), assim define estes conceitos:

Para que o volume, isto é, o aumento do número dos indivíduos, se torne uma causa da diferenciação, é preciso acrescentar a densidade, nos dois sentidos o material e o moral. A densidade material é o número dos indivíduos em relação a uma superfície dada do solo. A densidade moral é a intensidade das comunicações e trocas entre esses indivíduos. Quanto mais intenso o relacionamento entre os indivíduos, maior a densidade. A diferenciação social resulta da combinação dos fenômenos do volume e da densidade material e moral.

Com o crescimento quantitativo (volume) e qualitativo (densidade material e moral) da sociedade, ocorre na sociedade um processo de especialização de funções denominado por Durkheim de Divisão Social do Trabalho. Nesta nova sociedade o indivíduo é socializado porque, embora tenha uma esfera própria de ação, depende dos demais, e por conseguinte, da sociedade resultante dessa união. Para Durkheim, nesta sociedade predomina a solidariedade orgânica, ou seja, uma sociedade em que os indivíduos estão unidos em virtude da divisão social do trabalho.

Vale ressaltar que a divisão social do trabalho, explicitada pelo teórico, não se refere apenas à especialização de funções econômicas, mas também pelas diferentes esferas sociais que se diferenciam e se especializam cada vez mais como a economia. A política, a educação, o direito e outros. Além disso, a divisão social do trabalho, exerce nos homens a função de freio moral.

Individualismo

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Vemos, portanto, que a solidariedade orgânica prevalece nas sociedades complexas de tipo capitalistas, onde, através da acelerada divisão social do trabalho, os indivíduos se tornam interdependentes e suas funções são vitais para o funcionamento do sistema social. Neste tipo de solidariedade a consciência coletiva se afrouxa, dando espaço à consciência individual que expressa o que temos de pessoal e distinto. O direito predominante na solidariedade orgânica seria os restitutivo, que implica no restabelecimento das relações perturbadas, sob sua forma normal.

Isto nos revela outro aspecto importante da obra de Durkheim: a especialização de funções e o grande desenvolvimento das atividades econômicas levaram a uma acentuação da consciência individual, o que pode ser prejudicial à coesão social. Neste caso, se a diferenciação de atividades que dá origem à solidariedade orgânica for muito forte, a coordenação entre elas não poderá ocorrer de maneira eficaz. Ou seja, a infinidade de ocupações distribuídas ente os homens impedirá que eles percebam a complementaridade entre elas, gerando um forte sentimento de individualismo. A acentuada especialização de atividades faz com que o indivíduo oriente seus atos, segundo suas próprias intenções, deixando de lado os valores coletivos. Desta forma, o individualismo exacerbado, segundo Durkheim, leva a sociedade a um estado de anomia moral, ou seja, à perda de uma moral orientadora e disciplinadora dos comportamentos.

A falta de regulamentação das atividades profissionais também levariam a sociedade a uma “divisão anômica do trabalho”. Como o sociólogo francês o percebia, tal estado de anarquia não poderia ser atribuído somente a uma distribuição injusta da riqueza mas, principalmente, à falta de regulamentação das atividades econômicas, cujo desenvolvimento havia sido tão extraordinário nos últimos dois séculos que elas acabaram por deixar de ocupar seu antigo lugar secundário.

Ao mesmo tempo, o autor conferiu às anormalidades provocadas por uma divisão anômica do trabalho uma parte da responsabilidade nas desigualdades e nas insatisfações presentes nas sociedades modernas. Mesmo tendo absorvido uma ‘enorme quantidade de indivíduos cuja vida se passa quase que inteiramente no meio industrial’, tais atividades não exerciam a ‘coação, sem a qual não há moral’, isto é, não se lhes apresentavam como uma autoridade que lhes impusesse deveres, regras, limites.

Conclusões

Durkheim, na medida em que desenvolve sua teoria mediante a adoção de conceitos básicos de coerção, solidariedade, autoridade, representações coletivas etc., está na realidade fundamentalmente preocupado com a manutenção da ordem social.

Apesar de uma interpretação muito pessoal – que não vem ao caso discutir aqui – das formulações durkheimianas, o sociólogo americano Talcott Parsons (1902-1979) ressalta que a metodologia de Durkheim é a do "positivismo sociologista", identificando-o como “herdeiro espiritual de Comte”. Ele ressalta que a originalidade de Durkheim está em diferenciar-se de seus antecessores, para quem a tradição positivista tinha sido predominantemente individualista. Ele elevou o “fator social” ao status de elemento básico e decisivo para explicar os fenômenos que tinham lugar no “reino social”, e que o social só se explica pelo social e que a sociedade é um fenômeno sui generis, independente das manifestações individuais de seus membros componentes.

Questões TEMA 2 – A SOCIOLOGIA POSITIVISTA DE ÉMILE DURKHEIM

QUESTÕES OBJETIVAS

JUL-2007Questão 52Segundo Durkheim, em Educação e Sociedade (1975, p.45), “todo o sistema de representação que mantém em nós a idéia e sentimento da lei, da disciplina interna ou externa, é instituído pela sociedade.” Conforme a teoria desse autor, assinale a alternativa correta.A) Apesar de sua natureza social, o fim da educação é individual.B) A educação não possui natureza social, antagonizando indivíduo e sociedade.C) Cabe à educação constituir no homem a capacidade de vida moral e social.D) A educação tem por objetivo suscitar o individualismo a fim de conservar a ordem.

FEV-2007Questão 51Quanto ao conceito de sociedade, é INCORRETO afirmar que:A) Para Émile Durkheim, a sociedade não é somente a soma ou a justaposição de consciências, de ações e de sentimentos particulares ou individuais.B) Segundo Max Weber, há distinção entre os conceitos de sociedade e comunidade, sendo que esta última é uma formação especial no interior da primeira.

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C) O conceito durkheimiano de sociedade está fortemente ancorado nos conceitos de escolha racional e ação individual.D) De acordo com Karl Marx, a sociedade moderna é o lugar do antagonismo de classe e engendra em si mesma as condições para a sua própria superação.

Questão 52Sobre o significado de consciência coletiva na teoria durkheimiana, marque a alternativa correta.A) Representa um conjunto de regras e valores sociais que se coloca acima das consciências individuais, estabelecendo uma coesão social fundada nas diferenças entre os membros da sociedade.B) Representa o conjunto de crenças, hábitos e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, agindo sobre as consciências individuais e estabelecendo um padrão de comportamento.C) Está intimamente relacionada à sociedade de grande divisão social do trabalho, sendo predominante no tipo de solidariedade orgânica, uma vez que estabelece um alto grau de conformidade e semelhanças a esse tipo de organização social.D) Define um tipo de coesão social, particularmente aquele no qual se estabelece uma rede de funções interdependentes, ao mesmo tempo em que os indivíduos são diferentes uns dos outros.

Questão 56Acerca da divisão social do trabalho em Émile Durkheim, marque a alternativa INCORRETA.A) A solidariedade do tipo mecânica é marcada por uma relação de justaposição entre os indivíduos e de forte presença da consciência coletiva em relação às consciências individuais.B) A divisão social do trabalho, mais acentuada na solidariedade do tipo orgânica, pode levar a sociedade a um estado de anomia, isto é, de enfraquecimento da coesão social.C) A solidariedade do tipo orgânica caracteriza-se por uma acentuada divisão do trabalho, resultando em alto grau de especialização e, ao mesmo tempo, interdependência entre os indivíduos.D) A partir da divisão social do trabalho, Durkheim estabelece dois tipos de solidariedade social, a mecânica e a orgânica, sendo a primeira definida pela predominância das consciências individuais sobre a consciência coletiva.

Questão 60Sobre a concepção de fato social para Émile Durkheim, marque a alternativa correta.A) O fato social é um tipo ideal que o sociólogo constrói, sem possibilidade de descobrir leis e tendências gerais. B) Os fenômenos sociais decorrem das escolhas racionais que os indivíduos fazem, motivados estes por tradições, estados afetivos ou objetivos e valores desejados.C) O método sociológico não deve se fundamentar na observação empírica, pois esta se restringe às ciências naturais.D) O sociólogo deve olhar para os fenômenos sociais como coisas, controlando suas prenoções e se pautando pela objetividade comum a outros ramos da ciência.

JUL-2006Questão 52Sobre a divisão social do trabalho, de acordo com a formulação de Émile Durkheim, marque a alternativa correta.A) Quanto maior for a divisão social do trabalho, maior a solidariedade mecânica.B) Os serviços econômicos que ela pode prestar são sua real e mais importante função.C) Não apresenta nenhuma relação com a coesão social.D) Seu mais notável efeito é o de tornar solidárias as funções divididas.

ABR-2006Questão 52De acordo com Durkheim, o fato socialA) é um fenômeno social, difundido apenas nas sociedades cuja forma de solidariedade é orgânica.B) corresponde a um conjunto de normas e valores que são criados diretamente pelos indivíduos para orientar a vida em sociedade.C) é desprovido de caráter coercitivo, posto que existe fora das consciências individuais.D) corresponde a um conjunto de normas e valores criados exteriormente, isto é, fora das consciências individuais.

Questão 53Sobre o conceito de solidariedade orgânica para Durkheim, marque a alternativa INCORRETA.A) Evolui em razão inversa à solidariedade mecânica.

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B) Corresponde à coesão social própria das sociedades que apresentam divisão de trabalho social mais complexa.C) Assenta-se sobre um crescente processo de diferenciação entre os indivíduos.D) Expressa a redução da margem de interpretação da consciência individual acerca dos imperativos coletivos.

JUL-2005Questão 51Sobre coesão social e anomia em Durkheim, é correto afirmar queA) o enfraquecimento da coesão social ocorre porque a anomia implica no desenvolvimento da solidariedade orgânica.B) o fortalecimento da coesão social não está relacionado a um estado de anomia, visto que a anomia implica em laços estreitos de solidariedade.C) o enfraquecimento da coesão social está relacionado a um estado de anomia, isto é, uma situação na qual as normas na sociedade são inexistentes ou perdem a eficácia.D) o fortalecimento da coesão social está relacionado a um estado de anomia, isto é, em certa conformidade das consciências particulares com uma consciência coletiva.

JUL-2004Questão 51As assertivas a seguir resumem formulações teóricas da Sociologia sobre coesão social e anomia. Leia-as e assinale a alternativa que indica as formulações corretas na tradição teórica de Émile Durkheim.I – A solidariedade mecânica, com base da coesão social, perde terreno para a solidariedade orgânica, quando aumenta a divisão social do trabalho, como se observa na transição das sociedades agrárias para as sociedades urbanas-industriais. II – A solidariedade mecânica funda-se na adesão total do indivíduo ao grupo ao qual pertence, enquanto a solidariedade orgânica tem fundamento na cooperação dos indivíduos e grupos, segundo a interdependência de suas funções sociais.III – A transição da solidariedade mecânica para a orgânica impõe transformações na estrutura social, incluindo mudanças em seus fundamentos morais que, quando mal assimiladas, podem levar a estados de anomia, como se vê em alguns casos de suicídio.IV – A anomia corresponde a situações de desorganização pessoal e social decorrentes da ausência de consciência coletiva, da luta de classes e do desencantamento do mundo próprios das sociedades de consumo, formadas por hordas e clãs sem identidades.

A) Apenas as assertivas II e III estão corretas.B) Apenas as assertivas I e II estão corretas.C) As assertivas I, II e IV estão corretas.D) As assertivas I, II e III estão corretas.

Questão 57Sobre a formulação durkheimiana de Estado Moderno em quadros de anomia social, é correto afirmar queA) ele, a religião e a família são as instituições integradoras mais eficazes para superar os inconvenientes dessas situações de risco à solidariedade orgânica.B) ele se mantém distante dos indivíduos, tendo com estes relações muito intermitentes e exteriores, para que lhe seja possível socializar adequadamente as consciências individuais.C) ele se sobrepõe ao grupo profissional ou corporação na função de regulamentar a vida social, revelando competência para, a partir de conhecimentos dos agentes econômicos, pôr fim aos estados anômicos.D) ele se mostra a base moral mais apta a estabelecer freios a certos impulsos que põem em risco a coesão social, já que assume o mesmo papel que o dever doméstico desempenhou na sociedade de solidariedade mecânica.

JAN-2004Questão 52Com relação aos conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, na obra de Émile Durkheim, assinale a alternativa INCORRETA.A) A solidariedade orgânica é própria dos organismos sociais pós-capitalistas.B) A solidariedade mecânica é a forma de coesão própria das sociedades pré-capitalistas.C) A solidariedade orgânica define-se como aquela em que a coesão se dá pela diferenciação das funções.D) A solidariedade mecânica está assentada na semelhança de funções.

Questão 59

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Em Émile Durkheim, a Sociologia aparece como conhecimento científico, como uma espécie de autoconsciência da sociedade.Assinale a alternativa correta que corrobora esse princípio, nos termos de suas formulações teóricas.A) Os conceitos constituem modos como as sociedades, em certas épocas, representam a natureza, os sentimentos, os objetos e a as idéias; as categorias do conhecimento são conceitos que expressam coisas sociais. Ambos são representações coletivas, irredutíveis aos preceitos individuais, sendo o conceito de religião um exemplo.B) A ciência e a moral são fenômenos propriamente humanos, constituídos por representações coletivas, ao contrário da religião, cuja fonte é de inspiração divina e de humano apenas guarda o fato de manifestar-se em um profeta, como se vê nas grandes religiões monoteístas, que formaram a consciência humana no mundo.C) Os fatos sociais são genéricos, exteriores ao indivíduos e coercitivos, mas possuem certos limites que permitem a alguns sujeitos, individualmente, construir novos fatos sociais, como se observa em inúmeros exemplos de fundadores de religiões, de partidos políticos e de outras instituições sociais que refletem a consciência humana.D) Os fatos sociais instalam-se nos indivíduos de maneira irrefletida, não permitem que os sujeitos se tornem conscientes de sua coerção, como acontece na educação, porque se assim o fosse haveria crítica à sua generalidade e exterioridade e, também, uma revolução permanente contra as representações coletivas.

DEZ-2004Questão 52Com relação ao conceito de solidariedade social, de acordo com a sociologia de Durkheim marque a alternativa INCORRETA.A) A solidariedade social, por meio da instrução pública, substitui a piedade religiosa por uma espécie de piedade social.B) A solidariedade social é a responsável pela coesão entre os membros de um grupo e varia segundo o modelo de organização social.C) A solidariedade social relaciona-se ao sistema de idéias, sentimentos e hábitos produzidos pelo grupo de que participam os indivíduos.D) A solidariedade social depende da maneira pela qual cada um dos membros de um grupo venha a manifestá-la.

JUL-2003Questão 55A teoria educacional de Émile Durkheim é tributária do seu modo de conceber a socialização dos indivíduos, ou seja, o processo de transformação dos indivíduos em seres sociais. Como tal, a educação participa da mesma natureza e exibe as mesmas características gerais dos demais fatos sociais.Assinale a ÚNICA afirmação, entre as que são apresentadas a seguir, que não está de acordo com as idéias de Durkheim a respeito do processo de educação e socialização dos indivíduos.A) Apresenta objetivos e métodos que variam de sociedade para sociedade e de época para época. B) Enfatiza o ensino dos modos homogêneos de pensar e de se comportar, assim como aqueles que, embora diferenciados, revelam-se funcionais para o contexto.C) Prioriza a transmissão dos modos de pensar, de ser e de sentir das gerações mais velhas para as maisjovens. D) Valoriza a livre expressão dos modos de ser, pensar e sentir dos imaturos, na busca de um consenso com as gerações mais velhas.

Questão 57Uma das maiores contribuições de Émile Durkheim é o estudo teórico das formas de solidariedade que distinguem as coletividades, numa visão evolutiva do seu desenvolvimento.Analise as alternativas abaixo e marque a ÚNICA que descreve adequadamente a relação entre consciência individual e consciência coletiva, em uma situação de solidariedade orgânica.A) A consciência coletiva reduz sua abrangência, deixando descoberta parte da consciência individual, em que se desenvolvem as funções distintas e especializadas, que constituem a base da solidariedade.B) A consciência individual é recoberta em sua totalidade pela consciência coletiva, o que assegura o atendimento das necessidades comuns da vida social e a permanência dos laços que unem todos os indivíduos.C) A consciência coletiva desaparece totalmente e a consciência individual se impõe como uma realidade geral; a solidariedade torna-se apenas uma pausa nas relações de competição individualista e desenfreada.D) A consciência individual torna-se mais dependente da consciência coletiva e é esta dependência que dáconformação à solidariedade, em todas as esferas da vida em sociedade e em todas as épocas.

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FEV-2003Questão 51Sobre as duas definições de solidariedade de acordo com o pensamento sociológico de Durkheim, considere o texto a seguir para responder a questão proposta.“É completamente diferente a solidariedade produzida pela divisão do trabalho. Enquanto a precedente implica que os indivíduos se assemelhem, esta supõe que difiram uns dos outros. A primeira só é possível na medida em que a personalidade individual é absorvida pela personalidade coletiva. A segunda é apenas possível se cada um tem uma esfera de ação que lhe é própria, por conseguinte, uma personalidade. É preciso, pois, que a consciência coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual, para que aí se estabeleçam estas funções especiais que ela não pode regulamentar; quanto mais extensa esta região, tanto mais forte é a coesão resultante desta solidariedade.”

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2 ed. São Paulo:Cultural, 1983. Coleção Os Pensadores. pp. 69-70.

Marque a alternativa correta, considerando a citação acima, que explicita os efeitos da evoluçãoA) da solidariedade individualista à solidariedade coletivista.B) da solidariedade coletivista à solidariedade individualista.C) da solidariedade mecânica à solidariedade orgânica.D) da solidariedade orgânica à solidariedade mecânica.

Questão 58Em sua obra, Da divisão do trabalho social, Émile Durkheim explicita a noção de um “estado de anomia” que seria vivenciado pela sociedade, em sua totalidade ou parcialmente, em determinadas circunstâncias. Considere os exemplos abaixo e assinale a ÚNICA alternativa que não é relacionada por Durkheim a uma situação anômica.A) As falências, na sociedade industrial, como efeito dos desajustes das funções da economia.B) O conflito entre o capital e o trabalho, como resultado da inexistência ou inoperância das leis e regulamentos.C) A ação das forças policiais, na sociedade moderna, visando combater a ação dos criminosos.D) A exagerada especialização da pesquisa científica, levando à atomização e conseqüente ruptura da solidariedade.

MAR-2002Questão 41Em um de seus estudos mais destacados na Sociologia, Émile Durkheim afirma: Se, como tentamos estabelecer, a educação tem antes de tudo uma função coletiva, se tem por objetivo adaptar a criança ao meio social onde ela está destinada a viver, é impossível que a sociedade se desinteresse desse tipo de operação (...). É necessário que a educação assegure entre os cidadãos uma suficiente comunhão de idéias e sentimentos, sem a qual qualquer sociedade é impossível; e para que possa produzir esse resultado é também necessário que não seja totalmente abandonada ao arbítrio de particulares (...). Não é sequer admissível que a função do educador possa ser preenchida por alguém que não apresente garantias especiais, a respeito das quais só o Estado pode julgar. (...) Mas, por outro lado, sem uma certa diversidade, toda cooperação seria impossível: a própria educação assegura a persistência dessa diversidade necessária, diversificando-se e especializando-se.

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1976, p. 90.

Analise as proposições abaixo e, a seguir, assinale a alternativa correta.I - Para Durkheim a educação tem função coletiva, mas deve se submeter às leis da diversidade e da especialização do mercado executadas pela ação do Estado.II - Durkheim define a educação como um fato social que, em caso de deterioração, poderia até contribuir para um estado de anomia da sociedade.III - Durkheim vê nos conteúdos da educação uma espécie de cimento da estabilidade social que deve ser garantido pelo juízo institucional do Estado.IV - Durkheim enfatiza que a educação não pode prescindir de um papel coletivo, sob a tutela estatal, como condição para manter a sociedade viável.

A) As alternativas I, II e IV são corretas.B) As alternativas I, II e III são corretas.C) As alternativas II, III e IV são corretas.D) As alternativas I, III e IV são corretas.

JUL-2001Questão 42

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A relação entre indivíduo e sociedade se apresenta como tema central na Sociologia, desde os autores clássicos. Dentre as alternativas abaixo, assinale a alternativa INCORRETA.A) Para Karl Marx, o homem é um ser social, não no sentido aristotélico de animal político, mas, em primeiro lugar, porque produz e reproduz a sua vida, estabelecendo um intercâmbio com a natureza necessariamente mediado por relações históricas.B) Émile Durkheim sustenta que mesmo a noção de indivíduo, própria de um estágio mais desenvolvido da divisão social do trabalho, somente pôde emergir a partir de uma realidade coletiva/social. C) A teoria social de Karl Marx está marcada pela perspectiva holística (abrangente, na qual o significado da parte está no todo), ao passo que Émile Durkheim conduz as suas análises pelo princípio do individualismo metodológico (o indivíduo é o ponto de partida da Sociologia).D) Max Weber constrói uma sociologia compreensiva, definindo como sociais as ações às quais os indivíduos atribuem um sentido, traduzindo para o campo da Sociologia a tese segundo a qual os indivíduos fazem escolhas racionais com base nas motivações que possuem.

Questão 49Levando-se em conta a maneira como Marx, Durkheim e Weber concebem o Estado aponte a alternativa INCORRETA.A) Segundo Durkheim, a sociedade se organiza com base em uma espontânea comunhão de idéias e sentimentos, cabendo ao Estado mantê-los e torná-los mais conscientes aos indivíduos.B) Segundo Marx, o Estado, propriamente dito, é o poder político organizado de uma classe para oprimir a outra.C) Segundo Marx, Durkheim e Weber, caberia à Ciência Política o estudo do Estado, razão pela qual eles quase nada falam sobre o Estado em suas obras sociológicas.D) Segundo Weber, uma das condições fundamentais para a existência do Estado é o monopólio do uso legítimo da violência.

JAN-2001Questão 42De acordo com Durkheim, a anomia refere-se à ausência ou inadequação das regras que regulam as situações de interação social. Analise as afirmativas abaixo e selecione a alternativa correta.A) A liberdade de expressão artística caracteriza uma situação tipicamente anômica.B) Nas sociedades industriais a vida econômica sofre de anomia por falta de regras morais que limitem a ambição humana.C) Os casamentos grupais encontrados em algumas sociedades primitivas são anômicos, pois exprimem ausência de regras morais de conduta.D) O individualismo das sociedades modernas configura um caso de anomia, pois desenvolveu-se graças à inadequação das regras familiares de convivência.

QUESTÕES DISCURSIVAS

JUL-2007Questão 1Considere a citação.“Se, normalmente, a divisão do trabalho produz a solidariedade social, pode acontecer contudo que ela tenha resultados completamente diferentes, ou mesmo opostos.”

DURKHEIM, E. A Divisão Social do Trabalho. Lisboa: Editorial Presença, 1977, vol. II., p. 145.

De acordo com a Sociologia de Durkheim, responda:A) Qual é a designação do tipo de solidariedade preponderante nas sociedades modernas industriais? Qual é o principal fator responsável pela coesão social nessas sociedades?B) O que significa anomia social? Que circunstâncias são mais propícias à ocorrência da anomia social?

ABR-2006Questão 1De acordo com Durkheim, a sociedade urbano-industrial, fundada na divisão do trabalho social, está mais sujeita a conflitos, o que pode implicar um estado de anomia e de enfraquecimento da coesão social.Com base no enunciado acima, explique o que é:A) Anomia.B) Coesão social.

DEZ-2004Questão 4Para Durkheim, a sociologia tem como objetivo a explicação do fato social. Assim sendo, defina:

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A) O que é fato social para este autor.B) A razão para que os fatos sociais sejam considerados como coisas.

JAN-2001Questão 3A solidariedade tem que existir minimamente para que a sociedade exista. Discuta os conceitos de solidariedade mecânica e orgânica para Durkheim.

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UNIDADE III – MARX E O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO

Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi um intelectual alemão, sendo considerado um dos fundadores da Sociologia. Também é possível encontrar a influência de Marx em várias outras áreas, tais como: Filosofia e História, já que o conhecimento humano, em sua época, não estava fragmentado em diversas especialidades da forma como se encontra hoje. Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento operário, sendo que ambos (Marx e o movimento operário) influenciaram uns aos outros durante o período em que o autor viveu. Atualmente é bastante difícil analisar a sociedade humana sem se referenciar, em maior ou menor grau, à produção de Karl Marx, mesmo não sendo simpático à ideologia que foi construída em torno do seu pensamento.

Marx nasceu em Tréveris, na Alemanha, numa família de classe média. Aos dezessete anos, Marx ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito, mas, já no ano seguinte, transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influência de Hegel ainda era bastante sentida, mesmo após a morte (em 1831) do celebrado professor e reitor daquela universidade. Ali, os interesses de Marx se voltam para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Doutorou-se em Jena, 1841 com uma tese sobre as "Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro". Nesse mesmo ano, concebeu a idéia de um sistema que combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com a dialética de Hegel.

Impedido de seguir uma carreira acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta renana. Com o fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano, em 1843, Marx emigra para a França. Naquele mesmo ano, casou-se com Jenny von Westphalen. Desse casamento, Marx teve cinco filhos, alguns dos quais morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições financeiras a que a família estava submetida.

Marx já havia sido privado da oportunidade de seguir uma carreira acadêmica na Alemanha devido à perseguição do absolutismo prussiano. Com a Revolução de 1848 e o exílio que se seguiu a ela, foi obrigado a abandonar o jornalismo na Alemanha e tentar ganhar a vida na Inglaterra. Lá, como um intelectual estrangeiro desconhecido e com meios de subsistência precários, sofreu a sorte comum destinada pela época às pessoas destituídas de "meios independentes de subsistência" (isto é, viver de rendas).

Durante a maior parte de sua vida adulta, sustentou-se com artigos que publicava ocasionalmente em jornais alemães e estadunidenses, bem como por diversos auxílios financeiros vindos de seu amigo e colaborador Friedrich Engels. Tentava angariar rendas publicando livros que analisassem fatos da história recente, tais como “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, mas obteve pouco retorno com essas empreitadas. Friedrich Engels declamou estas palavras quando da morte de Marx, quinze meses após a perda da esposa:

Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por estas suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar.

(...) Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutos como republicanos, deportaram-no de seus territórios. (...) Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal.

Diversamente, o aspecto e a personalidade de Marx são descritos por um amigo russo de modo bem intuitivo:

Ele representa o tipo de homem constituído por energia, força de vontade e convicção inflexível, um tipo que também segundo a aparência era extremamente estranho. Uma grossa juba negra sobre a cabeça, as mãos cobertas pelos pêlos, o paletó abotoado totalmente, possuía, contudo, o aspecto de um homem que tem o direito e o poder de atrair a atenção, por mais esquisitos que parecessem seu aspecto e seu comportamento. Seus movimentos eram desastrados, porém ousados e altivos; suas maneiras iam frontalmente de encontro a toda forma de sociabilidade. Mas eram orgulhosas, com um laivo de desprezo, e sua voz aguda, que suava como metal, combinava-se estranhamente com os juízos radicais que fazia sobre homens e coisas. Não falava senão em palavras imperativas, intolerantes contra toda resistência, que, aliás, eram ainda intensificadas por

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um tom que me tocava quase dolorosamente e que impregnava tudo o que falava. Esse tom expressava a firme convicção de sua missão de dominar os espíritos e de prescrever-lhes leis. Diante de mim estava a encarnação de um ditador democrático, assim como se fosse em momentos de fantasia.

1. A Crítica a Hegel

Desde o início de sua atividade filosófica, Marx insere-se na maior disputa espiritual de seu tempo, determinada pela vultosa figura de Hegel, cujo pensamento ele chama de "a filosofia atual do mundo". Inicialmente, Marx dedica-se a Hegel com paixão para, depois, distanciar-se dele com tanto maior aspereza.

Sua crítica inicia-se pela concepção da história do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). Para este, a história não é uma mera seqüência casual de acontecimentos, mas um suceder racional que se desenvolve segundo um princípio imanente (interno), ou seja, a dialética. O decisivo nisso é que o verdadeiro sujeito da história (aquele que faz a história) não são os homens que agem. Na história dominaria um espírito que tudo abrange, ao qual Hegel designa como “espírito do mundo” ou “espírito absoluto” ou mesmo “Deus”. Esse, o Deus que vem-a-ser, realiza no curso da história sua autoconsciência. Ele chega, por meio dos diferentes momentos do processo histórico, a si mesmo.

Hegel escreveu no Prefácio à Filosofia do Direito: "O que é racional é real; e o que é real é racional." Razão e realidade chegaram portanto, segundo Hegel, finalmente à adequação uma com a outra; elas foram verdadeiramente conciliadas. O espírito absoluto compreendeu a si mesmo como a realidade total e a realidade total como manifestação sua.

Aqui entra o protesto de Marx. Aquele pensamento de Hegel, de que a realidade toda tinha de ser entendida a partir de um espírito absoluto, consiste para ele em um injustificado “misticismo”. A filosofia, entendida dessa forma, se realizaria acima da realidade factual, e não a partir dessa mesma. Em oposição a isso a decidida exigência de Marx – de colocar a filosofia hegeliana de ponta-cabeça, de volta sobre os pés – é que a visão da realidade de Hegel deveria ser invertida.

A realidade deste mundo não deve ser explicada com base em uma realidade divina. Contrariamente, o ponto de partida do pensamento tem de ser a realidade concreta. Esse pensamento imprime à filosofia de Marx seu cunho ateísta. “A missão da história é, após o além da verdade ter desaparecido, estabelecer a verdade do aquém.”

Quando Hegel afirma que a realidade estaria conciliada com a razão, ele não poderia, segundo Marx, ter em vista a realidade concreta. Em Hegel, tudo se passa no âmbito do mero pensamento. Mesmo a realidade sobre a qual ele fala, é a mera realidade pensada. Para Marx, porém, a realidade factual mostra-se contraditória, inconcebível e, portanto, não conciliada com a razão. Todo o empenho filosófico de Hegel fracassa porque ele não é capaz de incluir essa realidade efetiva em seu pensar, por mais abrangente que esse seja.

Para Marx, portanto, a realidade concreta é a realidade do homem. “As pressuposições com as quais iniciamos são os indivíduos reais.” A filosofia como Marx a postula – em contraposição a Hegel e em concordância com Ludwig Feuerbach (1804-1872) – é uma filosofia da existência humana. Para ele, “A raiz do homem é o próprio homem”.

Mas o que é o homem? O significativo aqui é que Marx não considera o homem, como o faz Hegel, essencialmente a partir de sua faculdade de conhecer. Ao contrário, trata-se decisivamente da práxis humana, da ação concreta, do seu agir.

Na práxis, o homem tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade, o poder e a mundanidade de seu pensamento. Parte-se do homem real que age.

Numa visão comum dentro do pensamento sociológico, Marx considerava que a ação humana só pode ser compreendida enquanto relação com o outro e nunca como indivíduo isoladamente. Para ele, homem vive desde sempre em uma sociedade que o supera, que condiciona a sua ação: “o indivíduo é o ser social”.

Essa natureza social constitui para Marx o ponto de partida para toda reflexão subseqüente. Assim deve-se entender a muito discutida frase:

Não é a consciência do homem que determina seu ser, mas é seu ser social que determina sua consciência.

2. O Pensamento Social de Marx

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Mas por que meio se constitui a sociedade humana? Marx responde: basicamente, não por meio da consciência comum, mas por meio do trabalho comum. Pois o homem é originariamente um ser econômico. As relações econômicas e particularmente as forças produtivas a elas subjacentes são a base (ou a “infra-estrutura”, como veremos adiante) de sua existência.

Ao contrário da visão da época, Marx não acreditava que a mudança da consciência do homem mudava o mundo, mas sim que, a medida que as relações econômicas se modificam, também se desenvolvem os modos da consciência, que representam a “superestrutura ideológica”. Desta superestrutura fazem parte o Estado, as leis, as idéias, a moral, a arte, a religião e similares.

Hegel viu no “espírito absoluto” as leis de transformação da Histórica. Marx viu essas leis na base econômica da sociedade. As relações econômicas desdobram-se de modo dialético (contraditório), mais precisamente, no conflito de classes. Por isso, para Marx, a história é principalmente a história das lutas de classes.

Até aqui tudo poderia parecer como uma das muitas teorias antropológicas e histórico-filosóficas, apenas mais uma interpretação entre muitas outras. Então, como se explica que seu pensamento tenha determinado tão amplamente o pensamento ocidental? A explicação para isto está no fato de ter sido o primeiro pensador de vulto a não se deter no âmbito do pensamento puro, mas que se põe a trabalhar decisivamente na transformação da realidade:

Os filósofos têm apenas interpretado diversamente o mundo; trata-se de modificá-lo.

A Mercantilização das Relações Sociais

Marx empreende uma crítica de seu tempo. Observa que em seus dias a verdadeira essência do homem, sua liberdade e independência, “a atividade livre e consciente”, não se podem fazer valer. Por toda parte o homem é “tirado a si mesmo” através do trabalho. Por toda parte perdeu as autênticas possibilidades humanas de existência. Esse é o sentido daquilo que Marx chama de "auto-alienação" do homem. Ela significa uma permanente “depreciação do mundo do homem”.

Outro significado de “alienação” aparece quando Marx analisa as relações econômicas. A auto-alienação do homem tem sua raiz em uma alienação do trabalhador do produto de seu trabalho: este não pertence àquele para seu usufruto, mas ao empregador. O produto do trabalho torna-se uma “mercadoria”, isto é, uma coisa estranha ou alheia ao trabalhador, que o coloca em posição de dependência, porque ele precisa compará-la para poder subsistir.

Da mesma forma também o trabalho se torna “trabalho alienado”. Trabalhar não está ligado mais ao princípio da autoconservação, mas tem um sentido de trabalho forçado. Esse desenvolvimento atinge sua culminância no capitalismo, no qual o capital assume a função de um poder separado dos homens.

A alienação do produto do trabalho conduz também a um terceiro significado de “alienação”: a alienação do homem. Isso não vale apenas para a "luta de inimigos entre capitalista e trabalhador". As relações interpessoais em geral perdem cada vez mais a sua imediação (relações diretas). Elas são mediadas (relações indiretas) pelas mercadorias e pelo dinheiro, “a meretriz universal”.

Enfim, os próprios proletários assumem caráter de mercadoria; sua força de trabalho é comercializada no mercado de trabalho (como escravos), no qual se encontra à mercê do arbítrio dos compradores. Seu “mundo interior” torna-se “cada vez mais pobre”; sua “destinação humana e sua dignidade” perdem-se cada vez mais. O trabalhador é “o homem extraviado de si mesmo”; sua existência é “a perda total do homem”; sua essência é uma “essência desumanizada”.

Mas, no ápice desse desenvolvimento tem de sobrevir a guinada. Ela se torna possível desde que o proletariado se conscientize de sua alienação. Antes da guinada não há como superar a alienação, mas pelo menos se pode tomar consciência da desumanização.

Concretamente, segundo os prognósticos de Marx, chega-se a uma concentração do capital nas mãos de poucos, a um crescente desemprego e empobrecimento das massas. Com isso, porém, o capital torna-se seu próprio coveiro. Pois a concentração de capital leva inevitavelmente (determinismo histórico), devido às leis históricas científicas e dialéticas, à subversão e a Revolução. A missão dessa revolução é "transformar o homem [alienado] em homem", para que "o homem seja o ser supremo para o homem". Trata-se de "derrubar todas as relações em que o homem é um ser degradado, escravizado, abandonado e desprezado". Importa realizar "o verdadeiro reino da liberdade", realizar o homem em "toda a riqueza de sua essência" e, com isso, superar definitivamente a alienação.

Materialismo Histórico e Dialético

Baseado em Demócrito e Epicuro (filósofos da antiguidade grega) sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialética (do grego, dois logos, duas opiniões divergentes), Marx defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach.

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A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do "eu" e só lhes admite a idéia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera

HEGEL MARXRealidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento são as leis da realidade.

A matéria é considerada como a única realidade, negando-se a existência da alma, de outra vida e de Deus.

A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a "verdade" dos momentos superados.

A realidade é histórica, determinada pela contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social.

Apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente).

Apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.

Ludwig Feuerbach (1804-1872) procurou introduzir a dialética materialista, combatendo a doutrina hegeliana, que, a par de seu método revolucionário, concluía por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crítica à dialética idealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e da essência do cristianismo.

Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para a Terra. Ao invés de haver Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus à sua imagem. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma religião da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem.

Adotando a dialética hegeliana, Marx, rejeita, como Feuerbach, o idealismo, mas, ao contrário, não procura preservar os valores do cristianismo.

A dialética marxiana apregoa os seguintes princípios:

tudo se relaciona (Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudo se transforma (lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante); as mudanças qualitativas são conseqüências de revoluções quantitativas;a contradição é interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo;a anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material.

Na teoria marxista, o materialismo histórico pretende a explicação da história das sociedades humanas, em todas as épocas, através dos fatos materiais, essencialmente econômicos e técnicos. A sociedade é comparada a um edifício, do qual as fundações, a infra-estrutura, seriam representadas pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as idéias, costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas, etc.). A propósito, Marx escreveu, na obra A Miséria da filosofia (1847) na qual estabelece polêmica com Proudhon:

As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, modificam todas as relações sociais. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial.

Tal afirmação, defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades humanas, foi estabelecida por Marx e Engels dentro do permanente clima de polêmica que mantiveram com seus opositores, e atenuada com a afirmativa de que existe constante interação e interdependência entre os dois níveis (infra e superestrutura) que compõem a estrutura social: da mesma maneira pela qual a infra-estrutura atua sobre a superestrutura, sobre os reflexos desta, embora, em última instância, sejam os fatores econômicos as condições finalmente determinantes.

Luta de Classes

Pretendendo caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da

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humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo d’O Manifesto Comunista:

Até hoje, a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suas classes em luta.

Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado.

Entretanto, a nossa época; a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.

As classes sociais são “os produtos das relações econômicas de sua época”. Assim, apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura, um estado e as idéias econômicas, sociais, políticas, morais, filosóficas e artísticas. Marx queria a inversão da pirâmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletários, que seria a única força capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista.

Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idéias que eles têm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idéias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econômicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das forças produtivas. A economia do futuro que associaria todos os homens e povos do planeta, só poderia ser uma produção controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo.

Não basta existir uma crise econômica para que haja uma revolução. O que é decisivo são as ações das classes sociais que, para Marx e Engels, em todas

as sociedades em que a propriedade é privada existem lutas de classes (senhores x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). A luta do proletariado do capitalismo não deveria se limitar à luta dos sindicatos por melhores salários e condições de vida. Ela deveria também ser a luta ideológica para que o socialismo fosse conhecido pelos trabalhadores e assumido como luta política pela tomada do poder. Neste campo, o proletariado deveria contar com uma arma fundamental, o partido político, o partido político revolucionário que tivesse uma estrutura democrática e que buscasse educar os trabalhadores e levá-los a se organizar para tomar o poder por meio de uma revolução socialista.

Economia, a Teoria do Valor e a Mais-Valia

Marx alterou alguns fundamentos da Economia Clássica, estabelecendo uma distinção entre valor de uso e valor de troca:

Valor de Uso: Representa a utilidade que o bem proporciona à pessoa que o possui.

Valor de Troca: Este exige um valor de uso, mas não depende dele.

Tal como Ricardo, Marx acredita que o Valor de Troca depende da quantidade de trabalho despendida, contudo, a quantidade de trabalho que entra no valor de troca é a quantidade socialmente necessária (quantidade que o trabalhador gasta em média para produção da mercadoria, que obviamente, varia de sociedade para outra).

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Partindo da teoria do valor, exposta pelo economista inglês David Ricardo (1772-1823), Karl Marx, seu principal propugnador, postulou que o valor de um bem é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para sua produção. Segundo Marx, o lucro não se realiza por meio da troca de mercadorias, que se trocam geralmente por seu valor, mas sim em sua produção. Os trabalhadores não recebem o valor correspondente a seu trabalho, mas só o necessário para sua sobrevivência.

Nascia assim o conceito da mais-valia, diferença entre o valor incorporado a um bem e a remuneração do trabalho que foi necessário para sua produção.

Valor do Bem = quantidade de trabalho socialmente necessário para sua produção. Mais-valia = Diferença entre o valor incorporado a um bem e a remuneração do trabalho que foi necessário para sua produção.

Lucro Produção (não na troca) de mercadorias.

A mais-valia não é uma característica exclusiva do capitalismo, mas o é a apropriação privada dessa mais-valia. A partir dessas considerações, Marx elaborou sua crítica do capitalismo numa obra que transcendeu os limites da pura economia e se converteu numa reflexão geral sobre o homem, a sociedade e a história.

A Mais-Valia

O operário só possui sua força de trabalho. Ele a oferece como mercadoria ao burguês (dono dos meios de produção), que a compra por uma determinada quantia em dinheiro (salário) para fazê-lo trabalhar durante certo período de tempo; 8 horas por dia, por exemplo. A partir do momento em que a compra, a força de trabalho do operário passa a pertencer ao burguês, que dispõe dela como quiser.

O custo de manutenção da força de trabalho (operário, máquinas) constitui seu valor; a mais-valia é a diferença entre o valor produzido pela força de trabalho e o custo de sua manutenção.

Para ficar mais fácil de entender, vamos estudar um exemplo. Suponhamos que um operário seja contratado para trabalhar 8 horas por dia numa fábrica de motocicletas. O patrão lhe paga 16 reais por dia, ou seja, 2 reais por hora, o  operário produz duas motos por mês. O patrão vende cada moto por 3883 reais. Deste dinheiro, ele desconta o que gasta com matéria-prima, desgaste de máquinas, energia elétrica, etc.; exagerando bastante, vamos supor que esses gastos somem 2912 reais. Logo, sobram de lucro para o patrão 971 reais por moto vendida (3881 menos 2912 é igual a 971). Se o operário produz duas motos por mês, ele produz, na verdade 1942 reais por mês (2x971). Se, num mês, ele trabalhar 240 horas, produzirá 8,1 reais por hora (1942 dividido por 240 horas). Portanto, em 8 horas de trabalho ele produz 64,8 reais (8,1x8) e ganha 16 reais. A mais-valia é exatamente o valor que o operário cria além do valor de sua força de trabalho. Se sua força de trabalho vale 16 reais e ele cria 64,8. A mais-valia que ele dá ao patrão é de 48,8 reais. Ou seja, o operário trabalha a maior parte do tempo de graça para o patrão!

Das oito horas que o operário trabalha, ele só recebe 2 horas e seis minutos. O resto do tempo ele trabalha de graça para o capitalista. Esse valor que o patrão embolsa é o trabalho não pago. Ao patrão o que interessa é o aumento constante da mais-valia porque assim seus lucros também aumentam.

Para fazer isso, o capitalista usa algumas formas básicas: aumentando ao máximo a jornada de trabalho (“mais-valia absoluta”), de modo que depois do operário ter produzido o valor equivalente ao de sua força de trabalho, possa continuar trabalhando muito tempo mais; esta forma de obter maior quantidade de mais-valia é muito conveniente ao capitalista porque ele não aumenta seus gastos nem em máquinas nem em locais e consegue um rendimento muito maior da força de trabalho.

Fetichismo e a Mercantilização das Relações Sociais

O que é o caráter fetichista da mercadoria? É o processo pelo qual a mercadoria, ser inanimado, é considerada como se tivesse vida, fazendo com que os valores de troca (valores pelos quais compramos as mercadorias) se tomem superiores aos valores de uso (valores que efetivamente foram agregados à mercadoria, ou seja, o que ela realmente vale). Assim, o que determina as relações entre os homens é o valor de troca das mercadorias, e não o valor de uso.

Esse fenômeno de desumanização das relações, onde tudo está centrado na mercadoria, foi chamado de mercantilização das relações sociais.

As relações Sociais de Produção e as Contradições Sociais

Marx também contribuiu para a discussão da relação entre indivíduo e sociedade. Diferentemente de Max Weber (ver mais adiante) e, de certa forma, de Durkheim, Karl Marx considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade fora do contexto material em que essa relação está baseada.

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Ele acreditava que eram as condições materiais de vida numa sociedade que determinavam o pensamento e a consciência dos indivíduos e que tais condições eram decisivas também para a evolução da história. Ou seja, a relação indivíduo-sociedade era explicada pelas condições materiais de vida.

Para viver, os homens têm que transformar a natureza, ou seja, comer, construir abrigos, fabricar utensílios, etc., sem o que não poderiam existir. Todos esses elementos materiais (comida, casa, salário, utensílios, máquinas, empresas, fábricas) são considerados como as condições materiais da vida humana.

Condições materiais = conjunto daquilo que torna nossa vida material possível (comida, transporte, educação, trabalho, vestimenta, etc.).

Nesse sentido, não eram as idéias criadas por uma sociedade que levavam transformações das condições materiais, mas exatamente o oposto: as condições materiais que transformavam as idéias. Em outras palavras: o que o indivíduo pensa e faz é um reflexo dessas condições materiais.

O trabalho assume grande importância na obra de Marx, já que é por ele que transformamos as condições materiais da vida social.

Por estes motivos, o estudo da sociedade deve partir, primeiramente, dessas condições materiais da vida, que ele chamava de meios de produção ou relações sociais de produção, e não das idéias dos grandes pensadores. Para Marx, a sociedade era definida pelas relações sociais de produção.

Nas relações sociais, há uma interação, um contato (direto ou indireto) entre os indivíduos. Nas relações sociais de produção, o contato entre os indivíduos é determinado por um elemento central: a necessidade de produzir a vida social (riquezas, mercadorias, serviços, lucro, etc.). Basicamente, as relações de produção estão ligadas à atividade do trabalho.

Weber, como veremos mais adiante, analisa o funcionamento da sociedade a partir de uma ação individual (o consumidor que compra um tênis, p. ex.). Para Marx, isso era inconcebível. Não podemos entender uma ação individual sem antes entender todas as condições materiais da sociedade na qual aquele indivíduo está inserido.

Na produção social da própria existência, os homens entram em relações determinadas e independentes de sua vontade; estas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais.

A compreensão do processo histórico está ligada à compreensão destas relações sociais, que ultrapassam os indivíduos. Se adotarmos o modo de pensar dos homens de determinada sociedade como o único ponto de partida para entendê-la, não teremos uma compreensão suficiente de todas as suas determinações.

Assim, para compreender o grau de desenvolvimento de uma sociedade, é necessário investigar suas relações de produção. Marx dedicou boa parte da sua vida nessa investigação, bem como das forças produtivas que as geravam.

Segundo Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem dois grandes grupos dentro da sociedade:

- De um lado, os capitalistas, que são aquelas pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas, capital, etc.) necessários para produzir as mercadorias, serviços, etc.

- Do outro lado, os proletários (ou trabalhadores), aqueles que não possuem nada, a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar. Eles vendem a sua força de trabalho ao capitalista.

A produção na sociedade capitalista só existe porque capitalistas e trabalhadores entram em relação. O capitalista paga ao trabalhador um salário fixo para que trabalhe para ele e, no final da produção,

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fica com o lucro. Para Marx, esse tipo de relação leva a uma exploração do trabalhador pelo capitalista (o que ele chama de alienação).

Charlie Chaplin, no filme “Tempos Modernos”: críticaàs modernas técnicas de gerenciamento do trabalho e ao sistema capitalista.

Por isso, Marx considerava que há um permanente conflito entre essas duas classes sociais, conflito que não era possível resolver dentro da sociedade capitalista. Muitos seguidores de Marx acreditavam que a única maneira de superar esse conflito e acabar com a exploração capitalista era a revolução proletária, uma revolta dos trabalhadores que transformaria toda a estrutura da sociedade.

A ação do indivíduo também é determinada pela classe social à qual pertence. A burguesia age para manter o seu status e a sua condição financeira, assim como os trabalhadores agem para garantir a sua sobrevivência (já que não tem status para garantir).

Dessa forma, numa greve, por exemplo, patrão e empregados que podiam até ser amigos, passam para lados opostos, já que têm interesses diferentes. O indivíduo pode até compartilhar idéias e comportamentos de uma classe diferente da sua, mas nos momentos dos conflitos entre as classes, ficará do lado da classe à qual pertence.

Um outro conflito que também determina a vida social é aquele que se dá entre as forças produtivas e das relações sociais de produção. Numa certa etapa de seu desenvolvimento, Marx acreditava que as forças produtivas materiais da sociedade entrariam em contradição com as relações de produção existentes.

Forças produtivas materiais- o desenvolvimento tecnológico

- as fontes de energia disponíveis- a organização do trabalho coletivo

- os processos de produção, etc.

CONTRADIÇÃO

Relações de produção- o capitalista explora o trabalho do proletariado (através da mais-valia)

- trabalho assalariado- a propriedade dos meios de produção não é coletiva, mas privada exclusivamente pelo

capitalista (mais-valia)

Marx observava que as forças produtivas estava num acelerado processo de desenvolvimento técnico, enquanto as relações sociais de produção acentuavam o processo de exploração do trabalho assalariado. Para Marx, a atual etapa de desenvolvimento histórico das forças produtivas no capitalismo não eram mais motivo de desenvolvimento das relações sociais de produção. Eram, antes, um entrave. A História é constituída pelo movimento das forças produtivas, que entram em contradição, em certas épocas revolucionárias, com as relações de produção. Na contradição existente entre forças e relações de produção, uma classe social está associada às antigas relações de produção que constituem um obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas, enquanto

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que outra classe representa as novas relações de produção que favorecem o desenvolvimento dessas forças.

A burguesia, para Marx, era a classe que constituía esse obstáculo ao desenvolvimento social da sociedade, e apenas uma revolução proletária mudaria essa situação.

3. O Comunismo e o Socialismo

Socialismo

A História das Idéias Socialistas possui alguns cortes de importância. O primeiro deles é entre os socialistas Utópicos e os socialistas Científicos, marcado pela introdução das idéias de Marx e Engels no universo das propostas de construção da nova sociedade. O avanço das idéias marxistas consegue dar maior homogeneidade ao movimento socialista internacional.     Pela primeira vez, trabalhadores de países diferentes, quando pensavam em socialismo, estavam pensando numa mesma sociedade - aquela preconizada por Marx - e numa mesma maneira de chegar ao poder.  Comunismo

Marx considera tudo isso tarefa do movimento comunista. Para ele, havia chegado o tempo do

(...) comunismo como superação positiva da propriedade privada enquanto auto-alienação do homem e por isso como apropriação real da essência humana por meio de e para o homem; por isso, como regresso – perfeito, consciente e dentro da riqueza total do desenvolvimento até aqui –, do homem para si mesmo enquanto homem social, ou seja, humano. Esse comunismo é a verdadeira dissolução do antagonismo entre o homem e a natureza e entre o homem e o homem. A verdadeira solução do conflito entre liberdade e necessidade. Ele é o enigma decifrado da história, a verdadeira realização da essência do homem.

Com o comunismo, “encerra-se a pré-história da sociedade humana” e inicia-se a sociedade “realmente humana”. Mas sobre como essa sociedade comunista deve ser, um programa político de como deve ser alcançado e como deve se estruturar a sociedade, Marx não nos dá maiores informações.

As idéias básicas de Karl Marx estão expressas principalmente no livro O Capital e n'O Manifesto Comunista, obra que escreveu com Friedrich Engels, economista alemão. Marx acreditava que a única forma de alcançar uma sociedade feliz e harmoniosa seria com os trabalhadores no poder. Em parte, suas

idéias eram uma reação às duras condições de vida dos trabalhadores no século XIX, na França, na Inglaterra e na Alemanha. Os trabalhadores das fábricas e das minas eram mal pagos e tinham de trabalhar muitas horas sob condições desumanas.

Marx estava convencido que a vitória do comunismo era inevitável. Afirmava que a história segue certas leis imutáveis, à medida que avança de um estágio a outro. Cada estágio caracteriza-se por lutas que conduzem a um estágio superior de desenvolvimento. O comunismo, segundo Marx, é o último e mais alto estágio de desenvolvimento.

Para Marx, a chave para a compreensão dos estágios do desenvolvimento é a relação entre as diferentes classes de indivíduos na produção de bens. Afirmava que o dono da riqueza é a classe dirigente porque usa o poder econômico e político para impor sua vontade ao povo. Para ele, a luta de classes é o meio pelo qual a história progride. Marx achava que a classe dirigente jamais iria abrir mão do poder por livre e espontânea vontade e que,

assim, a luta e a violência eram inevitáveis. O Manifesto Comunista

Download do texto completo (com boa diagramação e tradução):www.pstu.org.br/biblioteca/marx_engels_manifesto.pdf

O Manifesto Comunista fez a humanidade caminhar. Não em direção ao paraíso, mas na busca (raramente bem sucedida, até agora) da solução de problemas como a miséria e a exploração do trabalho. Rumo à concretização do princípio, teoricamente aceito há 200 anos, diz que "todos os homens são iguais". E sublinhando a novidade que afirmava que os pobres, os pequenos, os explorados também podem ser sujeitos de suas vidas.

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    Por isso é um documento histórico, testemunho da rebeldia do seres humanos. Seu texto, racional, aqui e ali bombástico e, em diversas passagens irônico, mal esconde essa origem comum com homens e mulheres de outros tempos: o fogo que acendeu a paixão da Liga dos Comunistas, reunida em Londres no ano de 1847, não foi diferente do que incendiou corações e mentes na luta contra a escravidão clássica, contra a servidão medieval, contra o obscurantismo religioso e contra todas as formas de opressão.

A Liga dos Comunistas encomendou a Marx e a Engels a elaboração de um texto que tornasse claros os objetivos dela e sua maneira de ver o mundo. E isto foi feito pelos dois jovens, um de 30 e o outro de 28 anos. Portanto, o Manifesto Comunista é um conjunto afirmativo de idéias, de "verdades" em que os revolucionários da época acreditavam, por conterem, segundo eles, elementos científicos – um tanto economicistas – para a compreensão das transformações sociais. Nesse sentido, o Manifesto é mais um monumento do que um documento... Pétreo, determinante, forte: letras, palavras, e frases que queriam Ter o poder de uma arma para mudar o mundo, colocando no lugar "da velha sociedade burguesa uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada membro é a condição para o desenvolvimento de todos."

O Manifesto tem uma estrutura simples: uma breve introdução, três capítulos e uma rápida conclusão.

A introdução fala com certo orgulho, do medo que o comunismo causa nos conservadores. O "fantasma" do comunismo assusta os poderosos e une, em uma "santa aliança", todas as potências da época. É a velha "satanização" do adversário, que está "fora da ordem", do "desobediente". Mas o texto mostra o lado positivo disso: o reconhecimento da força do comunismo. Se assusta tanto, é porque tem alguma presença. Daí a necessidade de expor o modo comunista de ver o mundo e explicar suas finalidades, tão deturpadas por aqueles que o "demonizam".

A parte I, denominada "Burgueses e Proletários", faz um resumo da história da humanidade até os dias de então, quando duas classes sociais antagônicas (as que titulam o capítulo) dominam o cenário.

A grande contribuição deste capítulo talvez seja a descrição das enormes transformações que a burguesia industrial provocava no mundo, representando "na história um papel essencialmente revolucionário".

Com a argúcia de quem manejava com destreza instrumentos de análise socioeconômica muito originais na época, Marx e Engels relatam (com sincera admiração !) o fenômeno da globalização que a burguesia implementava, mundializando o comércio, a navegação, os meios de comunicação.

O Manifesto fala de ontem mas parece dizer de hoje. O desenvolvimento capitalista libera forças produtivas nunca vistas, "mais colossais e variadas que todas as gerações passadas em seu conjunto". O poderio do capital que submete o trabalho é anunciado e nos faz pensar no agora do revigoramento neoliberal: nos últimos 40 anos deste século XX, foram produzidos mais objetos do que em toda a produção econômica anterior, desde os primórdios da humanidade.

A revolução tecnológica e científica a que assistimos, cujos ícones são os computadores e satélites e cujo poder hegemônico é a burguesia, não passa de continuação daquela descrita no Manifesto , que "criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, que os aquedutos romanos e as catedrais góticas; conduziu expedições maiores que as antigas migrações de povos e cruzadas". Um elogio ao dinamismo da burguesia ?

Impiedoso com os setores médios da sociedade – já minoritários nas formações sociais mais conhecidas da Europa - , o Manifesto chega a ser cruel com os desempregados, os mendigos, os

marginalizados, "essa escória das camadas mais baixas da sociedade", que pode ser arrastada por uma revolução proletária mas, por suas condições de vida, está predisposta a "vender-se à reação". Dá a entender que só os operários fabris serão capazes de fazer a revolução.

A relativização do papel dos comunistas junto ao proletariado é o aspecto mais interessante da parte II, intitulada "Proletários e Comunistas".

Depois de quase um século de dogmatismos, partidos únicos e "de vanguarda" portadores de verdade inteira, é saudável ler que "os comunistas não formam um partido à parte, oposto a outros partidos operários, e não têm interesses que os separem do proletariado em geral".

Embora, sem qualquer humildade, o Manifesto atribua aos comunistas mais decisão, avanço, lucidez e liderança do que às outras frações que buscam representar o proletariado, seus objetivos são tidos como comuns: a organização dos proletários para a conquista do poder político e a destruição de supremacia burguesa.

O Manifesto Comunista como não poderia deixar de ser, termina triunfalista e animando. Não quer espiritualizar e sim emocionar para a luta. Curiosamente, retoma a idéia do "fantasma", ao desejar que "as classes dominantes tremam diante da idéia de uma revolução comunista". Os

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proletários, que têm um mundo a ganhar com a revolução, também são, afinal, conclamados, na célebre frase, que tantos sonhos, projetos de vida e revoluções sociais já inspirou:

Proletários de todos os países, uni-vos !

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UNIDADE IV – WEBER E A SOCIOLOGIA COMPREENSIVAMax Weber (1864-1920), sociólogo alemão falecido em 1918, foi um dos primeiros cientistas sociais

importantes a levar em conta a importância da religião ou da mentalidade religiosa na configuração da economia política. O objetivo dele foi refutar a tese de Karl Marx, segundo a qual o capitalismo nascera somente da exploração do homem pelo homem.

Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país, a Alemanha.

Filho de uma família da alta classe média, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber recebeu excelente educação secundária em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em Heidelberg; continuando-os em Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se simultaneamente à economia, à história, à filosofia e ao direito.

Concluído o curso, trabalhou na Universidade de Berlim, na qual idade de livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Em 1893, casou-se e; no ano seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu para a de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade em 1903, na qualidade de co-editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv für

Sozialwissenschatt), publicação extremamente importante no desenvolvimento dos estudos sociológicas na Alemanha. A partir dessa época, Weber somente deu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu conferências nas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte, em 1920.

Para Weber, o moderno sistema econômico teria sido impulsionado por uma mudança comportamental provocada pela Reforma Luterana do século 16. Ocasião quando dela emergiu a seita dos calvinistas com seu forte senso de predestinação e vocação para o trabalho.

A obra de Weber, complexa e profunda, constitui um momento da compreensão dos fenômenos históricos e sociais e, ao mesmo tempo, da reflexão sobre o método das ciências histórico-sociais.

Crítico da "escola historicista" da economia (Roscher, Knies e Hildebrandt), Weber reivindica contra ela, a autonomia lógica e teórica da ciência, que não pode se submeter a conceitos metafísicos, como o "espírito do povo" que Savigny, influenciado pelo filósofo Hegel, defendia. Para Weber, o "espírito do povo" é produto de inumeráveis variáveis culturais e não o fundamento real de todos os fenômenos culturais de um povo.

Por outro lado, o pensamento de Weber caracteriza-se pela crítica ao materialismo histórico de Marx, que, segundo ele, dogmatiza as relações entre as formas de produção e de trabalho (a chamada "estrutura") e as outras manifestações culturais da sociedade (a chamada "superestrutura"). E, para Weber, isso significa que o cientista social deve estar pronto para o reconhecimento da influência que as formas culturais, como a religião, por exemplo, podem ter sobre a própria estrutura econômica, o que para Marx era inadimissível.

1. A Sociologia Compreensiva

Dentro das coordenadas metodológicas que se opunham à assimilação das ciências sociais aos quadros teóricos das ciências naturais (o positivismo de Durkheim, p.ex.), Weber concebe o objeto da sociologia como, fundamentalmente, “a captação da relação de sentido" da ação humana. Em outras palavras, conhecer um fenômeno social seria extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o configuram. O papel do sociólogo seria, dessa forma, interpretar o significado da ação humana (ao contrário do positivismo, que propunha uma observação totalmente isenta dos fatos sociais).

Por ação, Weber entende "aquela cujo sentido pensado pelo sujeito ou sujeitos é referido ao comportamento dos outros; orientando-se por ele o seu comportamento". Tal colocação do problema de como se abordar o fato significa que não é possível propriamente explicá-lo como resultado de um relacionamento de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais), mas compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como algo que aponta para outros fatos e somente em função dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude.

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações. Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de

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papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido.

O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.

Segundo Weber, a captação desses sentidos contidos nas ações humanas não poderia ser realizada por meio, exclusivamente, dos procedimentos metodológicos das ciências naturais (observação, método comparativo, análise estatística, etc.), embora a rigorosa observação dos fatos (como nas ciências naturais) seja essencial para o cientista social.

Contudo, Weber não pretende cavar um abismo entre os dois grupos de ciências. Segundo ele, a consideração de que os fenômenos obedecem a uma regularidade causal envolve referência a um mesmo esquema lógico de prova, tanto nas ciências naturais quanto nas humanas. Entretanto, se a lógica da explicação causal é idêntica, o mesmo não se poderia dizer dos tipos de leis gerais a serem formulados para cada um dos dois grupos de disciplinas. As leis sociais, para Weber, estabelecem relações causais em termos de regras de probabilidades, segundo as quais a determinados processos devem seguir-se, ou ocorrer simultaneamente, outros.

2. Os tipos Ideais

Essas “leis” sociais a que nos referimos mais acima estão ligadas a construções de “comportamento com sentido” e servem para explicar processos particulares. Para que isso seja possível; Weber defende a utilização dos chamados “tipos ideais”, que representam o primeiro nível de generalização de conceitos abstratos e, correspondendo às exigências lógicas da prova, estão intimamente ligados à realidade concreta particular.

O tipo ideal é uma construção conceitual e analítica (apenas para a análise) que serve como uma ferramenta de pesquisa para encontrar similaridades na ação humana, assim como os desvios de ação.

O conceito de tipo ideal corresponde, no pensamento weberiano, a um processo de conceituação que abstrai de fenômenos concretos o que existe de particular, constituindo assim um conceito individualizante ou, nas palavras do próprio Weber, um “conceito histórico concreto”. A ênfase na caracterização sistemática dos padrões individuais concretos (característica das ciências humanas) opõe a conceituação típico-ideal à conceituação generalizadora, tal como esta é conhecida nas ciências naturais. Para Weber, o início do estudo sociológico não é o caso concreto e particular, mas o caso geral e particular.

A conceituação generalizadora, como revela a própria expressão, retira do fenômeno concreto aquilo que ele tem de geral, isto é, as uniformidades e regularidades observadas em diferentes fenômenos constitutivos de uma mesma classe. Além disso, a conceituação generalizadora considera o fenômeno particular como um caso cujas características gerais podem ser deduzidas de uma lei.

A conceituação típico-ideal chega a resultados diferentes da conceituação generalizadora. O tipo ideal, segundo Weber, expõe como se desenvolveria uma forma particular de ação social se o fizesse racionalmente em direção a um fim e se fosse orientada de forma a atingir um e somente um fim. Assim, o tipo ideal não descreveria um curso concreto de ação, mas um desenvolvimento normativamente ideal (o que deveria ser), isto é, um curso de ação “objetivamente possível”. O tipo ideal é um conceito vazio de conteúdo real: ele depura as propriedades dos fenômenos reais desencarnando-os pela análise, para depois reconstruí-los.

No que se refere à aplicação do tipo ideal no tratamento da realidade, ela se dá de dois modos.

Processo de contrastação conceitual que permite simplesmente apreender os fatos segundo sua maior ou menor aproximação ao tipo ideal.

Formulação de hipóteses explicativas.

Por exemplo: para a explicação de um pânico na bolsa de valores, seria possível, em primeiro lugar, supor como se desenvolveria o fenômeno na ausência de quaisquer sentimentos irracionais; somente depois se poderia introduzir tais sentimentos como fatores de perturbação. Da mesma forma se poderia

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proceder para a explicação de uma ação militar ou política. Primeiro se fixaria, hipoteticamente, como se teria desenvolvido a ação se todas as intenções dos participantes fossem conhecidas e se a escolha dos meios por parte dos mesmos tivesse sido orientada de maneira rigorosamente racional em relação a certo fim. Somente assim se poderia atribuir os desvios aos fatores irracionais.

Ação Social - tipologia

Nos exemplos acima, é patente a dicotomia estabelecida por Weber entre o racional e o irracional, ambos conceitos fundamentais de sua metodologia. Para Weber, uma ação é racional quando cumpre duas condições. Em primeiro lugar, uma ação é racional na medida em que é orientada para um objetivo claramente formulado, ou para um conjunto de valores, também claramente formulados e logicamente consistentes. Em segundo lugar, uma ação é racional quando os meios escolhidos para se atingir o objetivo são os mais adequados.

Uma vez de posse desses instrumentos analíticos, formulados para a explicação da realidade social concreta ou, mais exatamente, de uma porção dessa realidade, Weber elabora um sistema compreensivo de conceitos, estabelecendo uma terminologia precisa como tarefa preliminar para a análise das inter-relações entre os fenômenos sociais.

De acordo com o vocabulário weberiano, são quatro os tipos de ação que cumpre distinguir claramente:

Ações Racionais

a) Ação racional com relação a fins : ação que visa atingir um objetivo previamente definido, ele lança mão dos meios necessários ou adequados, ambos avaliados e combinados tão claramente quanto possível de seu próprio ponto de vista. Uma ação econômica, por exemplo, expressam essa tendência e permitem uma interpretação racional.

b) Ação racional com relação a valores: ação orientada por princípios, agindo de acordo com ou a serviço de suas próprias convicções e levando em conta somente sua fidelidade a tais valores. Por exemplo, não se alimentar de carne, orientado por valores éticos, políticos e ambientais.

Ações não-racionais

c) Ação tradicional: quando hábitos e costumes culturais arraigados levam a que se aja em função deles. Tal é o caso do batismo dos filhos realizado por pais pouco comprometidos com a religião.

d) Ação afetiva: quando a ação é orientada por suas emoções imediata, como por exemplo, o ciúme, a raiva ou por diversas outras paixões. Esse tipo de ação pode ter resultados não pretendidos, por exemplo, magoar a quem se ama.

A ação afetiva, baseada no hábito, está na fronteira do que pode ser considerado como ação e faz Weber chamar a atenção para o problema de fluidez dos limites, isto é, para a virtual impossibilidade de se encontrarem “ações puras”. Em outros termos, segundo Weber, muito raramente a ação social orienta-se exclusivamente conforme um ou outro dos quatro tipos. Do mesmo modo, essas formas de orientação não podem ser consideradas como exaustivas. Seriam tipos puramente conceituais, construídos para fins de análise sociológica, jamais encontrando-se na realidade em toda a sua pureza; na maior parte dos casos, os quatro tipos de ação encontram-se misturados.

Somente os resultados que com eles se obtenham na análise da realidade social podem dar a medida de sua conveniência. Para qualquer um desses tipos tanto seria possível encontrar fenômenos sociais que poderiam ser incluídos neles, quanto se poderia também deparar com fatos limítrofes entre um e outro tipo. Entretanto, observa Weber, essa fluidez só pode ser claramente percebida quando os próprios conceitos tipológicos não são fluidos e estabelecem fronteiras rígidas entre um e outro. Um conceito bem definido estabelece nitidamente propriedades cuja presença nos fenômenos sociais permite diferenciar um fenômeno de outro; estes, contudo, raramente podem ser classificados de forma rígida.

Na primeira parte de Economia e Sociedade, Max Weber expõe seu sistema de tipos ideais, entre os quais os de lei, democracia, capitalismo, feudalismo, sociedade, burocracia, patrimonialismo, sultanismo. Todos esses tipos ideais são apresentados pelo autor como conceitos definidos conforme critérios pessoais, isto é, trata-se de conceituações do que ele entende pelo termo empregado, de forma a que o leitor perceba claramente do que ele está falando. O importante nessa tipologia reside no meticuloso cuidado com que Weber articula suas definições e na maneira sistemática com que esses conceitos são relacionados uns aos outros. A partir dos conceitos mais gerais do comportamento social e das relações sociais, Weber formula novos conceitos mais específicos, pormenorizando cada vez mais as características concretas.

3. Outros conceitos importantesOlimpo – Prof. Ricardo Orsini - Sociologia - 39 -

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Relação Social

Não pode ser confundido com Ação Social. A relação social é uma conduta plural (de vários), reciprocamente orientada, dotada de conteúdo significativos que se baseiam na probabilidade de que todos agirão socialmente de um certo modo. Podemos dizer que relação social é a probabilidade de que uma forma determinada de conduta social tenha, em algum momento, seu sentido partilhado pelos diversos agentes numa sociedade qualquer.

Quando, ao agir, cada um de dois ou mais indivíduos orienta sua conduta levando em conta a probabilidade de que o outro ou os outros agirão socialmente de um modo que corresponde às expectativas do primeiro agente, estamos diante de uma relação social. Como exemplo de relação social, as trocas comerciais, a concorrência econômica, as relações políticas, as relações de trabalho, etc.

Ética Protestante e Espírito do Capitalismo

Uma das principais obras de Weber, A ética protestante e o espírito do Capitalismo, foi escrita entre 1904 e 1905, como uma série de ensaios. Mais tarde, em 1920, ano de sua morte, a obra foi complementada pelo autor e publicada em um livro, no qual ele investiga as razões do capitalismo se haver desenvolvido inicialmente em países como a Inglaterra ou a Alemanha, concluindo que isso se deve à “mundividência” (visão de mundo) e hábitos de vida instigados ali pelo protestantismo.

Neste livro, Weber avança a tese de que a ética e as idéias puritanas influenciaram o desenvolvimento do capitalismo. Tradicionalmente, na Igreja Católica Romana, a devoção religiosa estava normalmente acompanhada da rejeição dos assuntos mundanos, incluindo a ocupação econômica. Porque não foi o caso com o Protestantismo? Weber aborda este paradoxo nesta obra.

Ele define o espírito do capitalismo como as idéias e hábitos que favorecem, de forma ética, a procura racional de ganho econômico. Weber afirma que tal espírito não é limitado à cultura ocidental, mas que indivíduos noutras culturas não tinham podido por si só estabelecer a nova ordem econômica do capitalismo. Como ele escreve no seu ensaio:

Por forma a que uma forma de vida bem adaptada às peculiaridades do capitalismo possa predominar sobre outras (formas de organização), ela tinha de ter origem algures, e não pela ação de indivíduos isolados mas como uma forma de vida comum aos grupos de homens.

Após definir o espírito do capitalismo, Weber argumenta que há vários motivos para procurar as suas origens nas idéias religiosas da Reforma Protestante. Muitos observadores como Petty, Montesquieu, Buckle, Keats e outros tinham já comentado a afinidade entre o protestantismo e o desenvolvimento do espírito comercial.

Weber mostrou que certos tipos de Protestantismo (em especial o Calvinismo) favoreciam o comportamento econômico racional e que a vida terrena (em contraste com a vida "eterna") recebeu um significado espiritual e moral positivo.

Eram homens e mulheres probos. Fugiam com temor da bebida e do fausto. Tinham horror ao luxo. Até a culinária deles era insossa. Quase tudo muito cozido e sem gosto. Nada de pimentas ou aromas tentadores. Em geral, vestiam-se de preto e condenavam o teatro, as festas e demais diversões que consideravam uma concessão à luxúria. As mulheres deles, de aparência assexuada, mantinham a cara lavada e ficavam longe de um perfume ou de uma colônia.

Em questões de poupança chegavam quase à avareza. Em tudo procuravam contrapor-se ao liberalíssimo catolicismo romano dos tempos renascentistas, mais tolerante, senão permissivo, com as coisas boas da vida. Como compensação à sensaboria de sua vidas, promoveram a ética do trabalho como fonte da satisfação pessoal e a ele, ao trabalho e à profissão, se entregaram com energia sagrada. Eram os protestantes que, depois da revolução religiosa provocada por Lutero, mesmo separados em diversas seitas, encontram melhor abrigo no mundo germânico e anglo-saxão.

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Weber não aceitava as teses de Marx sobre a "acumulação primitiva" apresentadas no "O Capital", que denunciava a rapinagem e a espoliação dos camponeses medievais ingleses, as bases primeiras daquele modo de produção.

Para o sociólogo alemão devia-se, isto sim, era rastear-se o efeito do comportamento religioso, especialmente aquele advindo da Reforma de 1517. Nele encontrou as sementes do que denominou de o moderno "espírito do capitalismo". Não que Weber considerasse Lutero, Calvino, John Knox, e tantos outros lideres reformadores, como agentes do progresso ou tolerantes para com o lucro comercial. Muito pelo contrário. Teologicamente desejavam um retorno ao cristianismo primitivo, à prática das catacumbas, a uma vida completamente regulada pela religião e obediente a um monoteísmo fechado. Portanto estavam bem longe de celebrarem a busca do lucro, como muita gente acreditou.

O Calvinismo trouxe a idéia de que as habilidades humanas (música, comércio, etc.) deveriam ser percebidas como dádiva divina e por isso incentivadas. Este resultado não era o fim daquelas idéias religiosas, mas antes um subproduto ou efeito colateral. A lógica inerente destas novas doutrinas teológicas e as deduções que se lhe podem retirar, quer direta ou indiretamente, encorajam o planejamento e a abnegação ascética em prol do ganho econômico.

Deve-se notar que Weber afirmou que apesar de as idéias religiosas puritanas terem tido um grande impacto no desenvolvimento da ordem econômica na Europa e nos Estados Unidos (hoje podemos até dizer no Sul do Brasil), eles não foram o único fator responsável pelo desenvolvimento. Outros fatores, relacionados, são: - o racionalismo na ciência;- a mescla da observação científica com a matemática;- o direito racional e a jurisprudência;- a sistematização racional da administração governamental; - o empreendimento econômico.

O estudo da ética protestante, de acordo com Weber, explorava meramente uma fase da emancipação da magia, o desencanto do mundo, uma característica que Weber considerava como uma peculiaridade que distingue a cultura ocidental.

Estratificação Social

A concepção de sociedade construída por Weber implica numa separação de esferas – como a econômica, a religiosa, a política, a jurídica, a social, a cultural – cada uma delas com lógicas particulares de funcionamento.

Partindo, portanto, do princípio geral de que só as consciências individuais são capazes de dar sentido à ação social e que tal sentido pode ser partilhado por uma multiplicidade de indivíduos, Weber estabeleceu conceitos referentes ao plano coletivo – a) classes, b) estamentos ou grupos de status e c) partidos – que nos permitem entender os mecanismos diferenciados de distribuição de poder, o qual pode assumir a forma de riqueza, de distinção ou do próprio poder político, num sentido estrito.

As classes se organizam segundo as relações de produção e aquisição de bens; os estamentos, segundo princípios de seu consumo de bens nas diversas formas especificas de sua maneira de viver; as castas seriam, por fim, aqueles grupos de status fechados cujos privilégios e distinções estão desigualmente garantidos por meio de leis, convenções e rituais.

Enfim, as diferenças que correspondem, no interior da ordem econômica, às classes e, no da ordem social ou da distribuição da honra, aos estamentos, geram na esfera do poder social os partidos, cuja ação é tipicamente racional: buscar influir sobre a direção que toma uma associação ou uma comunidade. O partido é uma organização que luta especificamente pelo domínio embora só adquira caráter político se puder lançar mão da coação física ou de sua ameaça.

Estado

O desenvolvimento das instituições sociais, econômicas e culturais nas sociedades ocidentais modernas foi desencadeado por um processo geral de racionalização. Weber foi o autor que melhor trabalhou esse processo de racionalização, entendido como

(...) o resultado da especialização científica e da diferenciação técnica peculiar à civilização ocidental. Consiste na organização da vida, por divisão e coordenação das diversas atividades, com base em um estudo preciso das relações entre os homens, com seus instrumentos e seu meio, com vistas à maior eficácia e rendimento. Trata-se, pois, de um puro desenvolvimento prático operado pelo gênio técnico do homem.

Para Weber, o Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem, para ele só o Estado pode fazer uso da força da violência, e essa violência é legítima (monopólio do uso legítimo da força

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física), pois se apóia num conjunto de normas (constituição). Podemos listar pelo menos quatro características para uma comunidade política ter a existência do Estado Moderno, segundo a teoria de Weber:a) uma administração e uma ordem jurídica, na qual as alterações se dão por normas; b) uma administração militar, na qual os seus serviços realizam-se em concordância com rigorosos deveres e direitos; c) monopólio de Poder sobre todas as pessoas, tanto sobre as que nasceram na comunidade quanto aquelas que estão nos domínios do território;d) legitimação da aplicação do Poder nos limites do território por concordância com a ordem jurídica.

Identificado como o Estado racional, o Estado Moderno Ocidental, segundo Weber, diferenciou-se de outras formas estatais, como as de base patriarcal e patrimonial. É sob a égide de um Estado racional pautado em um direito racional e em uma burocracia profissional é que irá se assentar o desenvolvimento do capitalismo moderno.

Weber nota também que no Estado Moderno foi decisivo o apoio dos juristas, pois segundo ele, contrário ao Império Chinês em que o Monarca não tinha juristas a sua disposição, no Ocidente encontrou-se disponível um direito formal, produto do gênio romano, no qual os funcionários, como técnicos administrativos, tinham o Direito como superior a tudo.15 Essa racionalidade que permeou o agir da burocracia estatal moderna possibilitou os mecanismos necessários para o desenvolvimento capitalista. Weber lembra que na antiga China, um homem que vendesse sua casa e que algum tempo depois ficasse pobre, segundo o antigo mandamento chinês da ajuda mútua (Bruderhilfe), tinha o direito de retornar para a casa e nela permanecer como "Locatário forçado" (Zwangsmieter), sem pagar aluguel. Com um tal direito, observa Weber, o capitalismo não teria como funcionar economicamente.

O agrupamento político, ou seja, o Estado, é um agrupamento de domínio. O domínio em geral, como conceito sem conteúdo concreto, é um importante elemento das relações sociais. Na verdade, nem todas as relações sociais apresentam-se como estruturas de domínio, mas, no entanto, tem ele, para a maioria delas, uma elevada importância.

O domínio é uma forma especial de Poder. O domínio, no sentido geral do Poder, assim como a possibilidade de uma vontade de se impor em relação à outra, pode se apresentar de diferentes formas. O conceito de poderio se caracteriza pela oportunidade de um indivíduo de fazer triunfar, no seio de uma relação social, sua própria vontade contra resistências, e o conceito de domínio como a oportunidade de aí encontrar pessoas dispostas a obedecer às ordens que lhe são dadas.

Segundo Weber, o verdadeiro domínio encontra-se no Estado Moderno, o qual não se realiza no discurso parlamentar, nem nas Enunciações do Monarca, senão na aplicação diária da Administração, necessária e inevitavelmente nas mãos do funcionalismo público, seja militar ou civil.

Poder e Dominação

Onde há um grupo dentro de qualquer sociedade, baseado em regras, hierarquias de um sistema, há os dominados e os dominantes. Dentro deste ponto de vista, Weber analisa os diversos motivos que levam à submissão, instituindo-se cargos e as características dos que mandam e dos que obedecem.

O conceito de poder é amorfo já que significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda a resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade. Dominação é a probabilidade de encontrar obediência dentro de um grupo a um certo mandato. Assim:

Poder + Legitimidade = Dominação

Segundo o autor as pessoas se submetem à dominação por motivos diversos como receber alguma vantagem na situação, ou por “costume” de deixar-se mandar ou por afeto e afinidade com o dominador. Estas dominações são sempre apoiadas em causas jurídicas que lhe dão legitimidade para existirem. Weber distingue, basicamente, três formas legítimas de dominação. Deve-se registrar que tais tipos são tipos-ideais, e, por conseguinte, que nunca se encontram, ou só muito raramente, em estado puro na realidade histórica.

a) Dominação Legal – seu mecanismo é baseado num estatuto com regras bem definidas, onde os direitos podem ser modificados ou recriados. A associação dominante é eleita e nomeada e seus funcionários nomeados pelo Senhor. O dever de obediência está graduado numa hierarquia de cargos e a base do funcionamento técnico é a disciplina no serviço.

A burocracia constitui o tipo tecnicamente mais puro da dominação legal, cujo trabalho rotineiro geralmente está entregue. A máquina do Estado atual (municipal, estadual e federal) se encaixam nesta visão de dominação autorizada, assim com os Sindicatos e Associações (de funcionários, de bairros, etc.)

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que muitas vezes decidem pela maioria, instituídas de um poder por seus próprios membros, que mesmo reprovando alguns atos, nada fazem para mudar a situação.

Muitos Programas de Qualidade Total das empresas privadas se encaixam aí. É incutido nos funcionários que tudo devem fazer para que a empresa progrida e obtenha lucro, esquecendo a importância dos relacionamentos, da afetividade e da realização pessoal dos funcionários.

Para Weber, a humanidade partiu de um universo habitado pelo sagrado, pelo mágico, excepcional e chegou a um mundo racionalizado, material, manipulado pela técnica e pela ciência. O mundo de deuses e mitos foi despovoado, sua magia substituída pelo conhecimento cientifico e pelo desenvolvimento de formas de organização racionais e burocratizadas.

b) Dominação Tradicional – acontece porque as pessoas acreditam no poder enraizado do dominante, de acordo com sua dignidade que é confirmada pela tradição daquela comunidade.A associação dominante é de caráter comunitário, firmada pela tradição, onde o dominante age segundo sua vontade, sua afetividade e seu ponto de vista, que são influenciados por preferências pessoais. No quadro administrativo o dominador sempre nomeia pessoas ligadas a ele por laços afetivos ou vínculos de fidelidade.Podemos observar neste tipo de dominação duas formas distintas de quadros administrativos:1 – estrutura puramente patriarcal – onde os servidores têm completa dependência pessoal do senhor que tem o domínio total da situação e das decisões como um direito de sua dominação. Ainda hoje na Índia esta dominação existe, onde as castas dominantes têm o direito legítimo pela tradição de obter privilégios sobre as castas dominadas, apoiando-se na lei cármica. Muitas famílias e clãs do oriente ainda vivem segundo o patriarcado, que direciona a vida de seus membros.2 – estrutura estamental – onde os servidores não são pessoalmente ligados ao senhor, mas escolhidos por ele para o cargo, por obterem algum direito sobre o mesmo. É a competição e a conquista de privilégios que os mantém nos cargos. Este tipo de dominação ocorre nos países onde ainda domina a Monarquia, onde o soberano escolhe seus súditos que ocuparão cargos distintos. Os “coronéis” das fazendas brasileiras ainda hoje exercem este tipo de dominação.

c) Dominação Carismática – é exercida pelo dominador por causa de suas qualidades pessoais e de seus supostos dotes sobrenaturais, seu heroísmo, seu poder intelectual ou de oratória. Conduz seus seguidores pela capacidade que possui de influenciá-los, com apelo emotivo, despertando neles a lealdade enquanto seu carisma consegue conquistá-los, não necessitando de competênciaou qualificação.

A autoridade carismática baseia-se na crença e no reconhecimento das qualidades do dominante e enquanto estas corresponderem aos anseios dos dominados. As primeiras comunidades cristãs, onde as pessoas atuavam segundo seus carismas pode ser um grande exemplo deste tipo de dominação. Atualmente, religiões “relâmpagos”, onde centenas de pessoas seguem um líder pelo poder de sua palavra e por sua suposta indicação pela própria divindade também são exemplo desta dominação. Assim como estes líderes são seguidos com fanatismo, também perdem sua autoridade com muita rapidez.

RESUMO DO PENSAMENTO DE MAX WEBER

- Sociologia Compreensiva: só se tem acesso aos fenômenos socioculturais por meio de procedimentos metodológicos diversos daqueles usados nas Ciências Físico-Naturais e na Matemática.- Compreensão: captação interpretativa do sentido ou conexão de sentido.- Conhecimento Sociológico: O conhecimento sociológico é o conhecimento da compreensão, isto é, de dentro para fora. Esse sentido pode estar concebido ou na ação particular, ou no pensado de modo aproximado, ou no construído cientificamente pelo método tipológico quando se elabora um tipo ideal puro de um fenômeno freqüente.Método TipológicoMax Weber foi o pioneiro do "método tipológico”, pela análise da ação social e dos estudos sobre Sociologia da Religião.- Método tipológico: construção de um arquétipo de ação social, levando em consideração ações históricas que, em sua pureza, não existe na realidade.- Método dos tipos ideais: classificar e comparar fatos sociais produzidos em uma mesma sociedade, em sociedades do mesmo tipo ou em sociedades de tipos diferentes, para descobrir seus traços comuns, de modo a estabelecer os tipos ideais puros das ações sociais, com suas regularidades, tendências, fatores e efeitos sociais.- Ideal puro: abstração, construída pela ciência, tendo por base fatos individuais que ocorrem na realidade social, levando em conta seus caracteres fundamentais, tornados típicos pela generalização (regra geral do acontecer).A utilização desses “tipos ideais” alargou os horizontes da sociologia.

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Sociologia: “Ciência que pretende entender a ação social, interpretando-a, para dessa maneira explicá-la causalmente.”Ação Social: ação que se dirige a outros indivíduos. “É ação em que o sentido subjetivo do sujeito ou sujeitos está referido à conduta de outros, orientando-se por esta em seu desenvolvimento”.Sentido: elemento interno, imaterial, da ação, deve ser pesquisado em primeiro lugar. Pode ser o “sentido médio de uma massa de casos” ou então o construído pela inteligência e generalizado em um tipo ideal com atores ideais. Não deve ser confundido com o sentido objetivamente justo ou com o sentido verdadeiro, metafisicamente fundado.Captação do Sentido da Ação: para a Sociologia captar esse sentido da ação, segundo Weber, o sociólogo deve reviver ou reconstruir, em sua mente, a ação social dos outros, só assim alcançando a sua compreensão. Ações da vida social- Ação tradicional: processa-se de acordo com as tradições seculares, com usos e costumes sagrados.- Ação carismática: inova e não observa tradições. Funda-se na crença de ser seu autor dotado de poderes sobre-humanos e sobrenaturais que agem, livremente, sem fazer caso de normas estabelecidas ou de tradições, estabelecendo novas normas e criando tradições.- Ação afetiva: orientada pelas emoções e sentimentos.- Ação social racional: causal ou logicamente compatível com os fins propostos. Ação PolíticaA finalidade ideal da ação política é a instituição é a perpetuação do poder.Para a instituição e a perpetuação do poder a ação política exerce três tipos de dominação que precisam ser legitimados. Essa legitimação é realizada das seguintes formas:Tipos ideais de dominação:- Dominação carismática: legitimada pela fé e pelas qualidades sobrenaturais do chefe- Dominação tradicional: legitimada pela crença sacrossanta na tradição- Dominação legal: legitimada pelas leis a partir dos costumes e tornado possível pela burocracia, trazendo a especialização e a organização racional e legal das funções

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Questões

TEMA 3 – KARL MARX E O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

QUESTÕES OBJETIVAS

JUL-2007Questão 53Considere a citação.“Onde quer que tenha conquistado o Poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus “superiores naturais” ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do pagamento à vista.”MARX, K. & ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista, In:Obras Escolhidas, Vol. 1, São Paulo: Editora Alfa-Omega, s/d., vol. 4, p. 23.Acerca do fenômeno central destacado nessa citação e conforme a teoria social de Karl Marx, assinale a alternativa correta.A) O cálculo racional do lucro é a única determinação na sociedade capitalista.B) A estratificação na sociedade feudal era um processo natural.C) A conquista do poder político foi o principal objetivo das burguesias que derrotaram a ordem feudal.D) No capitalismo, a mercantilização não se restringe à esfera econômica, ampliando-se para outras relações sociais.

FEV-2007Questão 53Acerca da metáfora da edificação (estrutura e superestruturas), formulada por Karl Marx para sintetizar suaconcepção materialista de história, marque a alternativa correta.A) O Estado capitalista corresponde a uma superestrutura que engloba o direito burguês e boa parte do sistema político.B) As relações sociais de produção constituem uma esfera superestrutural, pois nascem das normas jurídicas e instituições políticas.C) A totalidade das dimensões da vida social, o tempo todo, é determinada pelas relações econômicas.D) As ideologias produzem a vida e, por isto, pode-se entender, por exemplo, a sociedade escravista a partir das filosofias de Platão e Aristóteles.

Questão 59A respeito das formulações de Karl Marx sobre ciência e tecnologia, marque a alternativa correta.A) Na relação existente entre trabalho vivo e trabalho morto, a ciência e a tecnologia contribuem para o crescimento do primeiro em relação ao segundo, de forma que sejam superadas as contradições de classe no processo de desenvolvimento do capitalismo.B) A ciência e a tecnologia são os elementos que determinam o desenvolvimento do modo de produção capitalista, independentemente das relações de classe, contribuindo para o enfraquecimento dos antagonismos de classe na medida em que são difundidas em toda a estrutura social.C) A tecnologia, ciência aplicada ao processo produtivo, contribui para aumentar o tempo livre do trabalho vivo, possibilitando a superação do trabalho estranhado no modo de produção capitalista.D) A ciência e a tecnologia, no conjunto das forças produtivas, são elementos que impulsionam o desenvolvimento do modo de produção capitalista no âmbito da luta de classes, contribuindo para o fortalecimento do antagonismo de classe existente neste modo de produção.

JUL-2006Questão 53Sobre a produção social, marque a alternativa que está de acordo com o pensamento de Karl Marx.A) Diz respeito às relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção, transformando a si mesmos e a natureza. B) Corresponde às relações entre os homens no âmbito estritamente econômico, posto que a esfera econômica determina a estrutura social.C) Diz respeito às ações individuais dos homens no livre mercado, sendo este marcado pelas leis de oferta e procura.D) Corresponde a uma relação social definida pela lógica do mercado, no qual os homens orientam suas ações em um determinado sentido.

Questão 59A respeito da teoria de Karl Marx sobre o Estado, marque a alternativa correta.

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A) Corresponde à organização da dominação de classes, sendo o resultado da divisão da sociedade em classes sociais.B) Expressa o grau máximo de realização do valor da liberdade, sendo obra da razão.C) É o fim para o qual caminhou toda a história da humanidade e a esfera dos interesses coletivos.D) Representa a real possibilidade de superação dos antagonismos sociais que existem na sociedade civil.

Questão 54“A burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas (...) Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas docálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal. A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados”MARX, K. & ENGELS, F., Manifesto Comunista, Obras Escolhidas, v. 1, São Paulo, Alfa-Omega, s/d., pp. 23-24.Tendo em vista a análise proposta pelo texto acima, marque a alternativa correta sobre o fundamento do suposto esquema do “mensalão”, prática que envolveria certos empresários, parlamentares e agentes do Poder Executivo, no Brasil:A) Refere-se a uma circunstancial colonização da esfera pública por interesses corporativos de determinados representantes políticos.B) Trata-se de uma corrupção contra a democracia representativa, valor universal para trabalhadores e capitalistas.C) Diz respeito estritamente a um desvio de conduta pública de indivíduos ou grupo de indivíduos que fere a ética na política.D) Corresponde a uma manifestação da mercantilização das relações sociais, que extrapola a esfera econômica, em seu sentido estrito.

Questão 55Acerca da contradição social na teoria marxista, assinale a alternativa INCORRETA. A) A contradição social é fruto das relações sociais de produção, posto que capitalistas e trabalhadores encontram-se em oposição em relação ao Estado e suas formas de interferência na economia.B) A contradição social é fruto da divisão desigual do trabalho social, ao opor capitalistas e trabalhadores, por possuírem interesses colidentes em relação ao processo de produção social.C) A sociedade capitalista está fundada na contradição existente entre a produção social do trabalho e a sua apropriação privada.D) O capitalismo busca a valorização do próprio capital, ao se apropriar do trabalho excedente, por meio do controle do processo de trabalho.

Questão 60Tendo em vista a análise de Marx e Engels no Manifesto Comunista, é possível dizer que estes autores viam a democracia representativa comoA) condição institucional a partir da qual as desigualdades econômicas podem ser superadas.B) uma das formas assumidas pelo Estado burguês, determinada pela ordem da acumulação capitalista.C) objetivo estratégico das lutas dos trabalhadores pelo fim das condições subumanas de vida e trabalho.D) uma forma de governo e um regime político que, se mal conduzidos, criam a propriedade burguesa dos meios de produção.

JUL-2005Questão 52De acordo com a teoria social de Karl Marx, marque a alternativa que corresponde à sua análise sobre as contradições do capitalismo.A) Há uma unívoca determinação da economia sobre os demais momentos da totalidade social.B) O pleno desenvolvimento das forças produtivas fica dificultado pelas relações sociais de produção e as transformações decisivas ocorrem pela luta de classes.C) Existe a possibilidade de progresso nas relações entre as duas classes que constituem a sociedade burguesa, como uma forma de concertação social.D) O Estado possui uma natureza pública por ser um árbitro dos conflitos sociais.

Questão 56A respeito da teoria de Marx sobre ciência e tecnologia, assinale a alternativa INCORRETA.

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A) A ciência e a tecnologia são os elementos que determinam o desenvolvimento do modo de produção capitalista, independentemente das relações de classe.B) A ciência e a tecnologia são os elementos que impulsionam o desenvolvimento do modo de produção capitalista no âmbito das relações de classe.C) A ciência e a tecnologia contribuem para o fortalecimento do antagonismo de classe existente no modo de produção capitalista.D) A ciência e a tecnologia contribuem para o crescimento dos conflitos entre capital e trabalho no modo de produção capitalista.

Questão 58A respeito da democracia representativa, é correto afirmar queA) para Marx, constituía o objetivo último da revolução social.B) para Weber, o ideal seria que os cargos eletivos fossem ocupados por indivíduos economicamente independentes.C) para Weber, era a forma mais elevada de racionalidade no capitalismo. D) para Marx, não havia diferença, relativamente às lutas operárias, entre esse regime e uma ditadura.

JUL-2004Questão 52Na tradição de alguns filósofos gregos e de Hegel, Marx insere-se entre os pensadores dialéticos. Sua teoria afirma que a contradição socialA) é um conceito típico-ideal que exige confronto com a realidade, a fim de se comprovar sua validade para a compreensão da vida social. B) é o resultado da evolução das idéias, pois estas produzem a realidade social. C) evidencia uma concepção segundo a qual as sociedades, inevitavelmente, avançam rumo à realização de uma finalidade histórica prevista.D) é o princípio de negação de uma dada realidade, mas se trata de um fenômeno histórico, nunca lógico-dedutivo.

Questão 55O conceito de sociedade é fundamental às Ciências Sociais, ao lado do conceito de cultura e foi objeto de definições diferentes entre autores clássicos como Karl Marx e Émile Durkheim. Entre as alternativas a seguir, assinale a INCORRETA, conforme as concepções de sociedade desses autores.

A) Em Karl Marx, os tipos específicos de sociedade existentes na história humana resultam do nível de desenvolvimento das forças produtivas em face das relações sociais de produção, sendo o indivíduo, antes de tudo, um ser social.

B) Em Karl Marx, a sociedade é um fenômeno supra individual, que resulta do intercâmbio histórico entre o homem e a natureza através do trabalho, que ao mesmo tempo cria e transforma as relações sociais entre os seres humanos.

C) Em Émile Durkheim, a sociedade é um fenômeno sui generis, não redutível às leis da natureza, pois seus processos essenciais de coerção, generalidade e exterioridade em relação ao indivíduo decorrem de normas propriamente humanas e coletivas.

D) Em Karl Marx e Émile Durkheim, a sociedade é um fenômeno formado pela expectativa recíproca dos sentidos que as ações individuais têm, nascendo daí tanto a luta de classes como a solidariedade orgânica, fundadoras da cultura.

Questão 56A teoria social de Karl Marx sustenta que a alienação (ou estranhamento) no capitalismo relaciona-seA) a uma dimensão inelutável de toda e qualquer sociedade humana, uma vez que o trabalho alienado é condição natural do homem. B) estritamente à esfera econômica, não comportando desdobramento sobre os outros momentos da totalidade social.C) fundamentalmente ao fenômeno do Estado, porque este cria o fetichismo da mercadoria.D) como primeira manifestação, à separação entre produtor direto e estas dimensões: o produto do trabalho, o processo do trabalho, os outros produtores diretos, o gênero humano.

JAN-2004Questão 53Na teoria social de Karl Marx, NÃO se relaciona à contradição básica da sociedade capitalista a

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A) prevalência do valor de troca sobre o valor de uso dos bens e serviços produzidos.B) constituição de duas classes fundamentais, a dos proprietários privados dos meios de produção e a dos indivíduos que vendem sua força de trabalho.C) produção da riqueza por meio do trabalho socialmente combinado, como base para a apropriação privada do resultado desse trabalho.D) formação de um Estado popular, em que as políticas públicas garantam a redistribuição de renda.

DEZ-2004Questão 51Karl Marx e Friedrich Engels, no texto Manifesto Comunista, explicitam um nível de reflexão sobre as classes sociais no capitalismo, de acordo com o qual se pode afirmar queA) as classes médias combatem a burguesia por serem conservadoras, não revolucionárias.B) há somente duas classes no capitalismo, a burguesia e o proletariado.C) a burguesia se mantém como classe revolucionária desde a crise do feudalismo até o capitalismo de todo o século XIX. D) o verdadeiro resultado das lutas proletárias é o êxito imediato na defesa dos salários.

Questão 57O processo de trabalho humano, que envolve uma ação planejada, os meios de trabalho e o próprio resultado do trabalho (produto final), adquire uma dupla forma no capitalismo, qual seja:A) valor de troca e valor de uso, em que o valor de troca adquire menor importância em relação ao valor de uso. B) valor de uso e valor de troca em que o primeiro se refere à produção da mais-valia (lucro) e o segundo à satisfação das necessidades humanas. C) valor de troca e valor de uso, em que o primeiro está subordinado ao segundo.D) valor de uso e valor de troca, em que o primeiro visa à satisfação das necessidades humanas e o segundo à produção de mais-valia.

FEV-2003Questão 52Considere a citação abaixo e, a seguir, marque a alternativa correta acerca da concepção materialista da história formulada por Karl Marx.... na produção social de sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência.MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Estampa, 1973. p. 28.A) Marx expressa, também nessa passagem, sua concepção determinista e finalista, segundo a qual o conjunto das relações sociais reduz-se ao âmbito da produção econômica.B) Marx afirma que a moral, os sistemas políticos, os princípios jurídicos e as ideologias não têm vida própria diante do modo pelo qual os homens produzem e reproduzem a existência.C) Marx nega todo e qualquer papel ativo na história à consciência, sendo esta, antes, um mero reflexo daesfera da produção material. D) Marx sustenta que o ser social que pensa, que atua politicamente e que representa o seu espaço reproduz simplesmente as condições históricas vigentes, independente de sua classe social.

Questão 55De acordo com a teoria social de Karl Marx, o fetichismo da mercadoria não pode ser definido como:A) resultado da predominância do trabalho abstrato sobre o trabalho concreto na sociedade em que a riqueza se configura em imensa acumulação de mercadorias.B) fenômeno inerente à produção capitalista, uma vez que as relações sociais de produção ficam ocultas sob a aparência de que as mercadorias teriam uma espécie de vida própria.C) realidade própria a toda e qualquer sociedade humana, uma vez que, pelo trabalho, os homens sempre exteriorizam um projeto previamente concebido com vistas a responder às suas necessidades.D) desdobramento histórico-social da produção de bens e serviços em que o caráter social dos trabalhos particulares fica dissimulado sob a forma do valor.

SET-2002Questão 41

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Uma característica notável da produção capitalista é que ela se sustenta graças ao constante aperfeiçoamento técnico e ao aumento incessante da produtividade. Condição essencial para isto é uma divisão do trabalho, que acaba por tornar cada tarefa individual um ato abstrato e aparentemente sem qualquer relação com o produto final. Assim, a própria divisão capitalista do trabalho, a atribuição de tarefas ou mesmo de uma atividade profissional atendem aos interesses particulares dos grupos dominantes e só eventualmente dos produtores: seu próprio prazer está subordinado à produção.QUINTANEIRO, Tania & outros, Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber, Belo Horizonte: Editora UFMG, 1995, p. 96.Com base no texto acima, identifique as afirmações que podem ser consideradas teoricamente pertinentes e, a seguir, marque a alternativa correta.I - Trata-se de um dos argumentos da teoria marxista para a análise do caráter fetichista da mercadoria e daalienação dos indivíduos submetidos às relações sociais de produção na sociedade capitalista.II - Trata-se de um argumento comum às teorias sociológicas de Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber,uma vez que os três pensadores convergem inteiramente quanto aos conceitos de indivíduo, divisão socialdo trabalho e alienação.III - Trata-se de um argumento pertinente da teoria marxista para a análise das relações entre o indivíduo e a sociedade, uma vez que, para Karl Marx, a formação das subjetividades individuais depende das relaçõessociais de produção.IV - Trata-se de um argumento sociológico da teoria marxista que pressupõe o fim das subjetividades individuais e das identidades coletivas na sociedade capitalista, tendo em vista os fenômenos da globalização da economia.

A) Apenas I está correta.B) I e III estão corretas.C) I e IV estão corretas.D) II e III estão corretas.

Questão 43Considere o fragmento apresentado para responder a questão proposta abaixo.Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo terrestre. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte. Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países (...). As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas – indústrias que já não empregam matérias-primas nacionais, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do mundo (...). O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. E de que maneira consegue a burguesia “vencer” essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos.MARX, K. & ENGELS, F., O Manifesto Comunista, São Paulo: Boitempo Editorial, 1999, pp. 43-45. Com base no atual estágio do capitalismo e, de acordo com o texto apresentado, é INCORRETO afirmar queA) a crescente produção de bens e serviços sob a forma mercadoria, em que a utilidade está subordinada ao valor-de-troca, é uma das principais características do capitalismo.B) as inovações tecnológicas no interior das sociedades, em que rege a ordem do capital, são uma exigência constante do próprio capital.C) o capitalismo tende a assumir, cada vez mais, uma produção de caráter destrutivo, já que subordina a utilização de equipamentos e recursos naturais à lógica da acumulação.D) a globalização (ou mundialização do capital) é um processo estritamente contemporâneo, distinguindo-se, substancialmente, do capitalismo que existiu no século XIX.

MAR-2002Questão 43Para Marx, o processo de trabalho é atividade dirigida com o fim de criar valores-de-uso, (...) é condição necessária da troca material entre o homem e a natureza; é condição natural eterna da vida humana, sem depender,portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais.

MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Difel, 1985, p. 208, Livro 1, Volume I.Com base neste trecho, considere as afirmações abaixo e, em seguida, escolha a alternativa correta.I - É possível a existência de uma sociedade na qual o trabalho não seja a atividade criadora de coisas úteis.II - Em todas as sociedades o intercâmbio dos homens com os recursos naturais se dá pelo trabalho, sempre no interior de determinadas relações sociais, como por exemplo: escravistas, feudais, capitalistas.

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III - A sociedade contemporânea, de alta tecnologia, não depende do trabalho humano para a produção de bens e serviços.A) I e II estão corretas.B) I e III estão corretas e II está incorreta.C) II está correta e I e III estão incorretas.D) III está correta.

Questão 49Partindo de uma perspectiva marxista de análise da relação entre democracia e meios de comunicação demassa, aponte a alternativa correta. A) Desde a Antigüidade clássica, a imprensa sempre atuou em favor de grupos minoritários, procurando moldar a opinião pública em função dos interesses de classe dos proprietários dos meios de produção e dos meios de comunicação de massa.B) A concentração da propriedade de emissoras de rádio, televisão, jornais e editoras nas mãos de grupos empresariais restritos revela como, numa sociedade democrática, as pessoas dotadas de competência e competitividade obtêm sucesso econômico.C) A concentração da propriedade dos meios de comunicação nas mãos de certos grupos empresariais tende a lhes proporcionar maior capacidade tecnológica para fazer circular, democraticamente as informações, funcionando assim, como garantia do exercício da cidadania.D) Não passa de um mito a afirmação segundo a qual os meios de comunicação de massa são porta-vozes dos interesses da coletividade, já que no fundo, eles estão subordinados à lógica do capital que domina o mundo da mercadoria.

JUL-2001Questão 42A relação entre indivíduo e sociedade se apresenta como tema central na Sociologia, desde os autores clássicos. Dentre as alternativas abaixo, assinale a alternativa INCORRETA.A) Para Karl Marx, o homem é um ser social, não no sentido aristotélico de animal político, mas, em primeiro lugar, porque produz e reproduz a sua vida, estabelecendo um intercâmbio com a natureza necessariamente mediado por relações históricas.B) Émile Durkheim sustenta que mesmo a noção de indivíduo, própria de um estágio mais desenvolvido da divisão social do trabalho, somente pôde emergir a partir de uma realidade coletiva/social.C) A teoria social de Karl Marx está marcada pela perspectiva holística (abrangente, na qual o significado da parte está no todo), ao passo que Émile Durkheim conduz as suas análises pelo princípio do individualismo metodológico (o indivíduo é o ponto de partida da Sociologia).D) Max Weber constrói uma sociologia compreensiva, definindo como sociais as ações às quais os indivíduos atribuem um sentido, traduzindo para o campo da Sociologia a tese segundo a qual os indivíduos fazem escolhas racionais com base nas motivações que possuem.

Questões discursivas

JAN-2008Questão 2Disserte, de acordo com a teoria social de Karl Marx, acerca do que constitui a chamada estrutura econômica no capitalismo.

JUL-2007Questão 3Considere o fragmento.“Em quase todas as obras de Marx há uma preocupação persistente e preponderante com o caráter das classes sociais, isto é, as condições e conseqüências dos seus antagonismos e lutas sociais na sociedade capitalista.”IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes, 1988, 3 ed., p. 55.A partir dessa citação, responda:A) Qual é a relação, segundo Karl Marx, entre a historicidade do capitalismo e esses antagonismos? Quais são as agentes por excelência dessas lutas?B) Qual é o regime de trabalho específico, a partir do qual, no capitalismo, ocorrem tais antagonismos? Em que forma de propriedade dos meios de produção esse regime se estrutura?

FEV-2007Questão 4

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Considere a argumentação do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, e o texto abaixo para responder à questão proposta:O que está em causa é um processo, simples ou complexo, de apropriação da natureza pelo homem, pelas formas de sua organização social (...). A dialética compreende a realidade como movimento, modificação, devir, história (...). Marx apanhou a dialética do real em sua forma mais desenvolvida. E o real é o capitalismo. Compreendeu suas principais leis de tendência. Por isso, também, é que ele faz parte dessa história. A história do capitalismo está marcada pela dialética.IANNI, Octavio, Dialética & Capitalismo . ensaio sobre o pensamento de Marx, 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1988, pp. 143-147.De acordo com a teoria social de Marx, o capitalismo poderia ter abdicado de se mundializar, isto é, de se globalizar? Por quê?

ABR-2006Questão 2Considerando o texto Manifesto Comunista, de Marx e Engels, cite e caracterize as duas principais relações sociais de produção no capitalismo.

Questão 4Disserte sobre a análise de Marx acerca das relações entre desenvolvimento capitalista industrial e movimento operário.

JUL-2005Questão 2Explique a concepção de Estado em Marx.

JUL-2004Questão 2Qual a relação fundamental que Marx e Engels identificavam entre as classes sociais e o Estado

SET-2002Octavio Ianni, ao se referir ao tema do Estado, na obra de Marx, o faz nos seguintes termos:Seria equívoco pensar que Marx não elaborou uma interpretação do Estado capitalista, simplesmente porque não a vemos sistematizada em algumas páginas, num ensaio ou livro. A interpretação do Estado aparece bastante bem delineada nos vários passos da sua análise do regime capitalista de produção.IANNI, O. Dialética & Capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. 3 ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1985, p. 64.Após interpretar o fragmento acima, responda.A) A interpretação marxista de Estado o apresenta como resultado de qual processo histórico?B) Para Marx, quais são as funções aparente e real do Estado Moderno?

JUL-2001Questão 4“Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas autóctones, mas sim matérias primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do globo. (...) E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual.”MARX, K. & ENGELS, F., O Manifesto Comunista, 1848.A) Como é denominado, contemporaneamente, o movimento analisado por Marx e Engels?B) Destaque dois aspectos presentes na citação que justifiquem relacionar o que Marx e Engels afirmaram com o movimento contemporâneo em questão.

TEMA 4 – WEBER E A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

JUL-2007Questão 54Considere a citação.“[...] o racionalismo econômico, embora dependa parcialmente da técnica e do direito racional, é ao mesmo tempo determinado pela capacidade e disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta racional. [...] Ora, as forças mágicas e religiosas, e os ideais éticos de dever deles decorrentes, sempre estiveram no passado entre os mais importantes elementos formativos da conduta.”

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WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Livraria Pioneira Editora,1989, 6 ed., p. 11.

A respeito das relações de causalidade que o sociólogo Max Weber propõe entre as origens do capitalismo moderno, o processo de racionalização do mundo e as religiões de salvação, assinale a alternativa correta.A) Coube às éticas religiosas do confucionismo (China) e hinduísmo (Índia) redefinirem o padrão das relações econômicas que, a partir do século XVI, culminaria no capitalismo de tipo moderno.B) As seitas protestantes que floresceram nas sociedades orientais, a partir do século XVI, são responsáveis pela prematura posição de destaque do Japão, China e Índia no cenário econômico internacional que se seguiu à Revolução Industrial.C) A partir de sua doutrina da predestinação, o calvinismo foi responsável pela introdução de um padrão ético que, ao estimular a racionalização da conduta cotidiana de seus fiéis, contribuiu de maneira inédita para o desenvolvimento das relações capitalistas modernas.D) O processo de encantamento do mundo (irracionalização do conhecimento e das relações cotidianas) encontra-se na base da ética protestante, cujas prescrições de conduta se revelaram condição imprescindível para o desenvolvimento e consolidação das relações capitalistas modernas.

QUESTÃO 57Sobre o legado do pensamento científico de Max Weber, Carlos B. Martins afirma que:“A obra de Weber representou uma inegável contribuição à pesquisa sociológica, abrangendo os mais variados temas, como o direito, a economia, a história, a religião, a política, a arte, de modo destacado, a música. Seus trabalhos sobre a burocracia tornaram-no um dos grandes analistas deste fenômeno.”MARTINS, Carlos B. O Que é Sociologia? São Paulo: Editora Brasiliense, 1991, 28 ed., p. 66.

A respeito das contribuições de Weber acerca dos conceitos de poder e dominação, assinale a alternativa correta.A) Ao passo que poder é toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, considerada legítima.B) Há, para Weber, não mais que dois tipos puros de dominação, quais sejam, a carismática (típica das sociedades tradicionais) e a legal-racional (típica das sociedades modernas).C) A transição de uma ordem política patrimonial-tradicional para uma ordem burocrática-legal é acompanhada por uma consolidação do tipo de dominação carismática.D) A dominação legal-racional dá-se por meio da obediência do quadro administrativo à pessoa do senhor, em detrimento de estatutos impessoalmente estabelecidos.

FEV-2007QUESTÃO 54Sobre os tipos de ação social em Max Weber, marque a alternativa correta.A) Os conceitos de ação burocrática, tradicional e carismática pensados por Weber são construções históricas, que acontecem sucessivamente em determinadas realidades histórico-culturais.B) Weber define as ações sociais burocrática, tradicional e carismática a partir de uma construção típico-ideal que é estabelecida apenas no plano conceitual.C) Os tipos de ação burocrática, tradicional e carismática pensadas por Weber constituem uma construção intelectual pautada na história e visam explicar uma dada realidade histórica.D) A ação racional implica uma adequação entre meios e fins, a ação tradicional funda-se no costume ou em um hábito já arraigado, uma vez que a ação carismática ou afetiva se estabelece, fundamentalmente, em uma crença através dos tempos.

QUESTÃO 57A respeito das definições de Max Weber para poder e dominação, é INCORRETO afirmar que:A) o Estado é uma relação estritamente de poder, que prescinde da dimensão de dominação.B) o poder é a probabilidade de alguém determinar o comportamento do outro.C) a dominação implica, em alguma medida, o consentimento da parte do dominado para a ordem dada pelo dominante.D) os fundamentos dos poderes econômico, ideológico e político são, respectivamente, a riqueza, o saber e a força.

QUESTÃO 54Quanto às análises weberianas sobre o desencantamento do mundo e o processo de secularização, é INCORRETO afirmar que

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A) a secularização diz respeito tanto à expropriação dos bens eclesiásticos quanto ao desencantamento do mundo.B) a perspectiva de Max Weber é evolucionista e prevê o fim da religião em uma sociedade moderna.C) a decadência do poder hierocrático seria um sentido forte da secularização.D) o desencantamento do mundo refere-se tanto à desmagificação via religião ética (os profetas, por exemplo) quanto à ciência e à tecnologia.

QUESTÃO 57Sobre a ética do trabalho, conforme a sociologia de Max Weber, é correto afirmar queA) o estilo de vida normativo, com base na ética religiosa católica, possibilitou o desenvolvimento da mentalidade econômica burguesa no Ocidente.B) há uma relação impositiva entre a ética protestante e o espírito do capitalismo no sentido do desenvolvimento da moderna economia burguesa.C) há uma relação causal entre a ética racional protestante, fundada no trabalho, e o espírito do capitalismo, que possibilitou o desenvolvimento deste último no Ocidente.D) há uma relação causal entre o desenvolvimento da ética religiosa protestante, fundada na contemplação, e o espírito do capitalismo, levando ao desenvolvimento deste último no Ocidente.

ABR-2006QUESTÃO 57Sobre a ética do trabalho, conforme a sociologia de Max Weber, é correto afirmar queA) o estilo de vida normativo, com base na ética religiosa católica, possibilitou o desenvolvimento da mentalidade econômica burguesa no Ocidente. B) há uma relação impositiva entre a ética protestante e o espírito do capitalismo no sentido do desenvolvimento da moderna economia burguesa.C) há uma relação causal entre a ética racional protestante, fundada no trabalho, e o espírito do capitalismo, que possibilitou o desenvolvimento deste último no Ocidente.D) há uma relação causal entre o desenvolvimento da ética religiosa protestante, fundada na contemplação, e o espírito do capitalismo, levando ao desenvolvimento deste último no Ocidente.

QUESTÃO 59Acerca das formulações de Weber sobre poder e dominação, assinale a alternativa INCORRETA.A) A dominação exercida pelos dominantes somente é legítima quando assume um caráter do tipo burocrático-legal.B) O poder está fundamentado na desigualdade de oportunidades que afeta cada indivíduo em dado contexto social.C) Faz parte de uma relação de dominação estatal o uso da força física para assegurar a obediência.D) Os tipos puros de dominação −tradicional, legal e carismático −constituem uma tipologia construída por Weber a partir da realidade histórica.

JUL-2005QUESTÃO 53Segundo Weber é correto afirmar queA) a ação social é qualquer ação que o grupo social pratica, orientando-se pela própria ação e estabelecendo relações sociais significativas.B) a vida social é resultado de um conjunto de ações individuais orientadas a um determinado fim e reciprocamente referidas, estabelecendo-se, assim, as relações sociais.C) toda ação social está condicionada por idéias de valores que são fenômenos histórico-materiais. D) a vida social é resultado de um conjunto de ações coletivas, reciprocamente referidas de forma a estabelecer relações sociais.

QUESTÃO 55A consolidação da sociedade capitalista no século XIX fornece os elementos que servem de base para o desenvolvimento da Sociologia como ciência, isto é, com um objeto próprio: a análise da sociedade, ou seja, do conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade. Durkheim, Marx e Weber estavam interessados nessa questão, porém de maneiras distintas. A partir dessa afirmação, assinale a alternativa correta a respeito da concepção de sociedade segundo os autores citados.A) Para Marx a sociedade diz respeito a um conjunto de valores culturais que definem as relações de interdependência entre os indivíduos. B) Para Weber a sociedade deve ser compreendida a partir de um conjunto de ações coletivas, estabelecendo-se formas de cooperação entre os homens.C) Para Durkheim a sociedade diz respeito a um conjunto de normas exteriormente definidas, às quais os indivíduos são coagidos a se submeter.

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D) Para Weber a sociedade estabelece leis coercitivas que definem as relações de conflito entre os homens.

QUESTÃO 57Quanto à definição weberiana de Estado, assinale a alternativa correta.A) Define-se pelo meio que lhe é próprio, ou seja, o monopólio considerado legítimo do recurso à força.B) Corresponde a uma autoridade moral, cuja função é a de preservar a sociedade de crises em que a coesão esteja ameaçada.C) É a expressão político-institucional dos antagonismos entre as classes sociais. D) É o produto de processos sociais coercitivos e externos aos indivíduos, que a estes se impõe também pela educação.

JUL-2004Questão 53Segundo a sociologia weberiana e acerca da ação social e da relação social, é INCORRETO afirmar que A) não estão, necessariamente, definidas por um corpo diretivo, um corpo administrativo, um quadro de associados e um conjunto normativo.B) revelam a influência que o tecido social exerce sobre o indivíduo, já que, por serem sociais, são de natureza coletiva e coercitiva.C) a ação social pressupõe, em grande medida, as motivações tradicionais, afetivas ou racionais dos indivíduos.D) a relação social, nascida dos sentidos compartilhados pelos indivíduos, constitui a base também das associações políticas.

JAN-2004QUESTÃO 54Em sua teoria sociológica, Max Weber propõe quatro tipos puros ideais de ação social, que apresentam sentidos, cuja conexão cabe aos cientistas sociais captar para compreender a realidade social. Assinale a alternativa correta sobre a articulação dos tipos de ação social propostas por Weber.A) O procedimento econômico corresponde ao modelo típico de ação racional com relação a fins, pois considera um conjunto de necessidades sob uma quantidade escassa de meios para chegar ao objetivo pretendido; avalia os meios relativamente aos fins, estes em relação às conseqüências implicadas e os diferentes fins possíveis.B) O procedimento científico pode ser considerado um modelo típico ideal de ação tradicional com relação a valores, na medida em que os cientistas operam pela lógica da crença na emancipação do homem das mazelas sociais, até mesmo com certa irracionalidade, como se pode ver na Física e na Química.C) A ação afetiva típica ideal é a causada pelos sentimentos de ódio, amor, raiva, ciúme, paixão, como se observa na competição individualista das sociedades capitalistas e, por isso, guarda bastante racionalidade combinada com a tradição. D) A articulação de dois ou mais tipos de ação social não oferecem sentidos compreensíveis aos cientistas sociais. Isso ocorre porque os tipos ideais são conceitos limites, que buscam captar realidades totalmente autônomas, como Max Weber demonstrou no estudo da conexão entre a ética protestante e o espírito do capitalismo nos EUA.

QUESTÃO 57Assinale a alternativa correta, quanto à teoria weberiana sobre poder e dominação.A) A dominação racional-legal é típica da sociedade capitalista, em que a crença na validade da norma impessoal se estabelece.B) O poder econômico e o poder ideológico definem-se, respectivamente, pelas posses do saber e da riqueza.C) A dominação fundada no carisma do líder nunca pode integrar o padrão de dominação capitalista.D) O poder sempre exige o consentimento por parte daquele que se comporta de acordo com a determinação do outro.

DEZ-2004Questão 53Sobre a teoria weberiana acerca das várias formas de estratificação social, é correto afirmar que A) as classes sociais se organizam segundo seus princípios de consumo de bens nas diversas formas específicas de vida.B) as diferenças que correspondem às classes ou aos estamentos geram, na esfera do poder social e dentro das respectivas ordens sociais, os partidos.C) os estamentos são grupos de status fechados, cujos privilégios estão desigualmente definidos por leis, convenções e rituais.

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D) as castas se organizam segundo as relações de produção e aquisição de bens.

JUL-2003QUESTÃO 51Na sociologia de Max Weber, o conceito de ação social tem sido fundamental em inúmeros estudos importantes sobre as sociedades modernas. Considere as alternativas teóricas abaixo e assinale a alternativa INCORRETA.A) O conceito de ação social em Max Weber pretende comprovar a coerção, a interioridade, a articularidade e a generalização dos fatos sociais, a partir da conexão natural de sentidos entre a ética protestante e as imposições do capitalismo de Estado, como se vê nos EUA.B) Para Max Weber, a Sociologia é a ciência que pretende interpretar os sentidos prováveis da ação social, suas causas, seus efeitos e suas regularidades, que se expressam na forma de usos, costumes e situações de interesse produzidos por diversos sujeitos. C) Max Weber define ação social como uma conduta dotada de um significado subjetivo dado por um sujeito que o executa, orientando seu próprio comportamento, tendo em vista a ação de outros sujeitos conhecidos ou desconhecidos.D) Para Max Weber, a explicação sociológica busca compreender os sentidos, o desenvolvimento e os efeitos da conduta de um ou mais indivíduos em relação a outros, ou seja, seu caráter social, não se propondo a julgar a validez da ação dos sujeitos.

QUESTÃO 58Considere o texto apresentado.Em uma de suas colunas de opinião no jornal Folha de São Paulo de 02/05/2003, Clóvis Rossi refere-se à existência hoje de uma “hegemonia cultural e midiática das opiniões de gente do mundo financeiro”. Segundo esse jornalista, essa hegemonia do setor financeiro, não só no Brasil como no resto do mundo, leva os governos a optarem “por adotar políticas que não ofendam o poder real e, por extensão, a sua capacidade de gerar críticas virulentas à qualquer inovação. É mais fácil prejudicar ou deixar de atender assalariados e marginalizados em geral do que banqueiros, como é óbvio”.

Na análise sociológica marxista, o poder do dinheiro, incluindo suas projeções no plano ideológico, tem um nome: fetichismo da mercadoria. Com relação ao tema abordado, atente-se para as afirmativas abaixo.I - O caráter misterioso da mercadoria provém da utilidade particular que ela tem para cada indivíduo; e é, desta forma, que este avalia o próprio dinheiro.II - O fetichismo da mercadoria oculta a verdadeira relação entre os trabalhos particulares e o trabalho total, ao apresentá-la como uma relação objetiva entre os produtos do próprio trabalho.III - Os produtos do trabalho humano, ao serem trocados no mercado, adquirem uma realidade socialmente homogênea, distinta da sua heterogeneidade de objetos úteis, perceptíveis aos sentidos.IV - O caráter fetichista da mercadoria nada tem a ver com a questão do valor, pois o fetichismo é uma questão de ilusão, de se levar em conta tão somente que, hoje, o dinheiro “faz a cabeça” dos indivíduos.V - Com o fetichismo da mercadoria, dá-se uma inversão do sujeito em objeto, produzida pela alienação ou separação entre os produtores e os produtos de seus trabalhos na sociedade.

Assinale a ÚNICA alternativa que relaciona todas as afirmações corretas, a respeito do fetichismo damercadoria.A) I, II e IV são corretas.B) II, III e V são corretas.C) II, IV e V são corretas.D) I, III e IV são corretas.

QUESTÃO 60Assinale a alternativa que corresponde à formulação de Max Weber acerca dos chamados tipos puros de dominação legítima.A) A dominação legal-racional fundamenta-se na crença dos indivíduos acerca da validade de um dado instrumento normativo.B) A dominação carismática articula-se à motivação que os indivíduos têm com vistas à obtenção de determinados fins para suas ações sociais.C) A dominação tradicional é a mais apropriada à sociedade capitalista e está presente nas empresas e nosórgãos governamentais.D) A dominação carismática realiza, em patamar superior, o espírito do capitalismo, uma vez que assegura aos investimentos privados um ambiente mais propício ao lucro desejado.

FEV-2003QUESTÃO 53

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Max Weber, em sua obra Economia e Sociedade, propõe uma classificação típico-ideal da ação social, de acordo com o sentido ou orientação dos atores. Considere os exemplos de ação social citados abaixo:I – o consumidor adquire um relógio motivado pela emoção que este lhe causa.II – o empresário estabelece uma gratificação para os empregados mais produtivos.III – o católico caminha noventa quilômetros para demonstrar sua fé.IV – o(a) estudante escolhe o colégio X só porque ali estudaram seus pais e avós.Marque a alternativa correta.A) Os exemplos III e IV ilustram, respectivamente, a ação afetiva e a ação racional com relação a fins.B) Os exemplos I e III ilustram, respectivamente, a ação racional com relação a fins e a ação tradicional.C) Os exemplos II e IV ilustram, respectivamente, a ação afetiva e a ação racional com relação a valores.D) Os exemplos II e III ilustram, respectivamente, a ação racional com relação a fins e a ação racional com relação a valores.

QUESTÃO 56Sobre os conceitos de poder e dominação, tal como elaborados por Max Weber, é correto afirmar queA) a dominação prescinde do poder, uma vez que os indivíduos que se submetem a uma ordem de dominação não levam em conta os recursos que possuem aqueles que exercem a dominação.B) são equivalentes, pois tanto um quanto outro são relações sociais às quais os indivíduos atribuem sentido, compartilhando, portanto, motivações.C) toda relação de poder implica uma relação de dominação, já que a força sem uma base de legitimação não pode ser exercida.D) não são equivalentes, pois a dominação supõe a presença do consentimento na relação entre “X” e “Y”, o que, necessariamente, não se dá com o poder.

MAR-2002QUESTÃO 42Segundo as concepções de indivíduo e de sociedade na sociologia de Max Weber, assinale a alternativa correta.A) O indivíduo age socialmente, de acordo com as motivações e escolhas que possui e faz, podendo estar relacionadas ou a uma tradição, ou a uma devoção afetiva ou, ainda, a uma racionalidade.B) A sociedade se opõe aos indivíduos, como força exterior a eles, razão pela qual os indivíduos refletem as normas sociais vigentes.C) O gênero humano é, irremediavelmente, um ser social, condição expressa pelo fato dos homens e mulheres fazerem a história, mas sempre a partir de uma situação dada.D) O Estado capitalista nada tem a ver com as escolhas que os indivíduos fazem a partir das motivações que possuem, sendo, na verdade, a expressão das classes sociais em luta.

QUESTÃO 45Leia o texto e o comentário apresentados a seguir.Apesar da existência de tendências gerais constatáveis nas histórias das sociedades, não é possível estabelecer seqüências fixas capazes de detalhar as fases por que passou cada realidade cultural. Cada cultura é o resultado de uma história particular, e isso inclui também suas relações com outras culturas, as quais podem ter características bem diferentes.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983, p.12.

Santos argumenta, ainda, que não se pode relacionar e comparar sociedades e culturas segundo critérios vigentes apenas em uma delas, quando investigamos suas realizações culturais. Com base nesses argumentos, assinale a alternativa correta quanto às seguintes afirmações:I - O conceito de evolução nas ciências sociais é relativo a experiências históricas diversas e não deve servir à hierarquização das sociedades por fases sucessivas de desenvolvimento a partir de critérios e seqüências etnocêntricas.II - O desenvolvimento das forças produtivas é o critério de evolução mais aceito em todas as teorias das ciências sociais e, por isso, tem validade científica irrefutável como bem o demonstra Max Weber.III - As fases de desenvolvimento cultural de cada sociedade particular podem ser percebidas, comparadas e avaliadas quando vemos os processos de imitação e reprodução cultural, que levam as culturas subdesenvolvidas ao desenvolvimento.IV - Sem afrontar os argumentos do texto podemos aceitar pelo menos que o sedentarismo e o nomadismo são experiências seqüenciais do desenvolvimento de todas as sociedades e culturas do planeta, tal como provam os historiadores.

QUESTÃO 48Na canção Estação Derradeira, de Chico Buarque, é apresentada, em breves palavras, parte de um retratofalado do Rio de Janeiro:

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“Rio de JaneiroCivilização encruzilhada

Cada ribanceira é uma naçãoÀ sua maneira

Com ladrãoLavadeiras, honra, tradição

Fronteiras, munição pesada”.CD FRANCISCO, Chico Buarque , RCA, 1987.

Relacione essa composição com a concepção do sociólogo Max Weber a respeito das características do Estado moderno e aponte a alternativa correta. A) De acordo com a perspectiva weberiana, a existência de uma “cidade partida”, como o Rio de Janeiro, seria reflexo de uma “nação partida” em que os meios de violência são monopolizados pelas classes dominantes para oprimir as classes dominadas.B) Segundo a concepção weberiana, é típico de toda e qualquer sociedade de classes ou estamental a concorrência entre poderes armados paralelos que põem, permanentemente, em questão a possibilidade da existência do monopólio do uso legítimo da violência.C) De acordo com Weber pode-se afirmar que, no limite, o Estado brasileiro não está inteiramente constituído como tal, uma vez que não se revela em condições de exercer, em sua plenitude, o monopólio do uso legítimo da violência.D) Conforme a ótica weberiana, no Estado moderno, com o surgimento dos exércitos profissionais, vive-se uma situação em que se tem “o povo em armas”, razão pela qual não seria surpreendente, para Weber, constatar a situação de violência que campeia, atualmente, nas metrópoles brasileiras.

JUL-2001QUESTÃO 47“Deve-se entender por ‘dominação’, (...) a probabilidade de encontrar obediência dentro de um grupo determinado para mandatos específicos (ou para toda sorte de mandatos). Não consiste, portanto, em toda espécie de probabilidade de exercer ‘poder’ ou ‘influência’ sobre outros homens. (...) Nem toda dominação se serve do meio econômico. E ainda menos tem toda dominação fins econômicos.”WEBER, Max. In: Castro, Anna Maria; Dias, Edmundo Fernandes. Introdução ao Pensamento Sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1976.

Com base no texto acima, analise as afirmativas:I) O poder decorrente de qualquer tipo ideal de dominação tem sempre um conteúdo que lhe atribui legitimidade, seja esta jurídica, costumeira ou afetiva.II) O poder decorre da posse básica e exclusiva de meios econômicos, sem a qual não há poder nas sociedades capitalistas.III) O poder emerge de mandatos extra-econômicos, que são obtidos com ou sem legitimidade, apenas por agentes do Estado nas sociedades capitalistas.IV) Para ser exercido, o poder depende de coerções objetivas, físicas e materiais, embora dispense coerções morais para operar com legitimidade.Assinalar a alternativa correta.A) I e II estão corretas.B) I e III estão corretas.C) I e IV estão corretas.D) Apenas I está correta.

QUESTÃO 49Levando-se em conta a maneira como Marx, Durkheim e Weber concebem o Estado aponte a alternativa INCORRETA.A) Segundo Durkheim, a sociedade se organiza com base em uma espontânea comunhão de idéias e sentimentos, cabendo ao Estado mantê-los e torná-los mais conscientes aos indivíduos.B) Segundo Marx, o Estado, propriamente dito, é o poder político organizado de uma classe para oprimir a outra.C) Segundo Marx, Durkheim e Weber, caberia à Ciência Política o estudo do Estado, razão pela qual eles quase nada falam sobre o Estado em suas obras sociológicas.D) Segundo Weber, uma das condições fundamentais para a existência do Estado é o monopólio do uso legítimo da violência.

JAN-2001QUESTÃO 49

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Para explicar os fenômenos sociais, Weber propôs um instrumento de análise que chamou de tipo ideal. Esse instrumento pode ser definido como:I- uma construção do pensamento que permite identificar na realidade observada as manifestações dos fenômenos e compará-las.II- uma construção do pensamento que permite conceituar fenômenos e formações sociais.III- um modelo perfeito a ser buscado pelas formações sociais históricas e qualquer realidade observável.IV- um modelo que tem a ver com as espécies sociais de Durkheim, exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade.V- uma construção teórica abstrata a partir de casos particulares analisados.

Assinale a alternativa correta.A) I, II e V estão corretas.B) I, II e III estão corretas.C) II, III e V estão corretas.D) II, III e IV estão corretas.

QUESTÕES DISCURSSIVAS

FEV-2007SEGUNDA QUESTÃOConforme a Sociologia de Max Weber, defina o que é o Estado moderno e quais são suas principais características.

JUL-2006TERCEIRA QUESTÃOMax Weber cria uma tipologia da ação social, considerando as motivações correlatas (tradicional, afetiva e racional). Com base na sociologia compreensiva deste autor clássico, disserte sobre a ação social tradicional e a ação social racional.

ABR-2006TERCEIRA QUESTÃOQual é, para Weber, a definição de Estado?

JAN-2004PRIMEIRA QUESTÃOMax Weber estudou a conexão de sentidos que existia entre o desenvolvimento do capitalismo e a valorização do trabalho como eixo significativo da ética protestante instalada de forma notável entre os empresários e os trabalhadores na história dos EUA. Weber lembra que, para os puritanos, face à necessidade ética do trabalho a perda de tempo (...) é o primeiro e o principal de todos os pecados. A perda de tempo, através da vida social, conversas ociosas, do luxo e mesmo do sono além do necessário para a saúde – seis, no máximo oito horas por dia – é absolutamente dispensável do ponto de vista moral.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira/UNB, p. 112.

O autor cita, ainda, uma das máximas de Benjamin Franklin, em meados do século XVIII, que expressa o chamado “espírito do capitalismo”: Tempo é dinheiro (p. 29).Disserte sobre a validade ou não desses argumentos para a compreensão da conduta dos empresários e dos trabalhadores da sociedade brasileira contemporânea, tendo em vista a considerável expansão das igrejas evangélicas no país.

DEZ-2004PRIMEIRA QUESTÃOLeia os trechos abaixo.“O que importa nessa concepção é a efetiva orientação para um ajustamento dos lucros ao investimento, por mais primitiva que seja a sua forma. Neste sentido, o ‘capitalismo’ e empresas ‘capitalistas’, inclusive com uma considerável dose de racionalização capitalística, existiram em todos os países civilizados da Terra, como podemos julgar pelos documentos econômicos. Existiram na China, na Índia, na Babilônia, no Egito, na Antigüidade Mediterrânea e na Idade Média, tanto quanto na Idade Moderna (...). De qualquer forma, a empresa capitalista e o empreendimento capitalista, não só como empreendedores ocasionais, mas também como empresas duradouras, existiram de longa data e em toda parte.WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 4ª ed. São Paulo: Pioneira, 1985, p. 6.

Esse regime [o capitalismo] cria seus produtos com o caráter de mercadorias. Mas o fato de produzir mercadorias não o distingue de outros sistemas de produção; o que o distingue é a circunstância de que,

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nele, o fato de seus produtos serem mercadorias constitui seu caráter predominante e determinante. Implica, logo de início, o fato de que, nele, o próprio trabalhador aparece como vendedor de mercadorias e, portanto, como trabalhador livre assalariado (...). A segunda característica específica do regime capitalista de produção é a produção da mais-valia como finalidade direta e móvel determinante da produção. O capital produz essencialmente capital, e, para poder fazê-lo, não tem outro caminho a não ser produzir mais-valia”.MARX, Karl. Características essenciales del sistema capitalista. In: O Capital. México: Fondo de Cultura Econômica, 1946-1947. T. III, cap. II, p. 1013-1020.

Considerando os fragmentos acima, responda:quais as diferenças entre as concepções weberiana e marxiana de capitalismo, quanto a sua historicidade

JUL-2003SEGUNDA QUESTÃOMax Weber, em sua obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, empenhou-se em demonstrar a relação existente, em uma determinada fase histórica do capitalismo ocidental, entre alguns posicionamentos éticos e condutas de vida, religiosamente orientados, e as instituições econômicas vigentes.Resuma a noção weberiana de “ética no trabalho”, mostrando suas origens e explicando o que ocorreu emrelação a ela, no decorrer da modernização das sociedades.

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UNIDADE V - CULTURA E SOCIEDADE

1. Cultura e Antropologia

A Antropologia é a ciência que promove o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos). Além disso, podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss, a etnografia corresponde “aos primeiros  estágios da pesquisa: observação e descrição (trabalho de campo)”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e  última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.

Qualquer que seja a definição adotada, é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir da comparação com o “outro”, com o diferente de nós.

O conceito antropológico de cultura

Por influência do darwinismo, no início da antropologia social, o projeto de dar conta da diversidade cultural levou naturalistas e historiadores a debruçarem-se sobre os relatos de viajantes. Exploradores e administradores coloniais falavam sobre “comportamentos exóticos” das sociedades “inferiores”, mais “simples” e “incivilizadas”. Nesse período, o pesquisador julgava as sociedades pesquisadas como inferiores porque o seu parâmetro de comparação era pautado numa visão industrial da técnica, ou seja, a sociedade era desenvolvida e civilizada se desenvolvesse tecnologia no patamar colocado pelas sociedades capitalistas.

O relativo isolamento geográfico destas sociedades e povos também contribuiu para esta visão. Assim, a Antropologia Social ficou vista como “ciência das sociedades primitivas”. Mas com a persistência destas sociedades em resistirem até a atualidade de forma bastante diferente da tradição européia, colocou um problema crucial para esta visão evolucionista da diversidade humana. Afinal, porque, mesmo em contato com os povos ocidentais, tais culturas não “evoluíram”. O próprio conceito de evolução cultural foi colocado em questão.

A partir dos próprios resultados das pesquisas sobre povos com “culturas diferenciadas”, voltaram-se para sub-grupos ou subculturas no interior das sociedades “complexas” e “civilizadas”: “comunidades camponesas”, grupos marginalizados nas regiões urbanas e grupos pertencentes às classes populares e altas da sociedade moderna. Tais estudos culminaram por desembocar em crítica da visão de mundo ocidental etnocentrista, pois via que o comportamento dito estranho e exótico existia também dentro da cultura dita superior.

A noção de cultura é o que separava o determinismo biológico “racial” das manifestações de comportamento aprendidas pelos indivíduos. Para o determinismo biológico “racial”, a raça determinam o comportamento dos indivíduos de um determinado grupo social. O conceito de “raça” era usado para justificar o domínio sobre escravos, por exemplo, uma vez que se um povo era racialmente inferior, poderia ser escravizado sem problemas. Estes aspectos eram considerados então como de ordem “biológico” ou “genético” no debate das relações entre raça e cultura.

O antropólogo Edward Tylor (1832-1917) foi um dos primeiros a definir o conceito de cultura fora da visão biologista e geneticista da época, sem considerar o conceito de “raça”:

CULTURA é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou

hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade.

A título de complementação, apresentaremos o seguinte conceito de cultura:

CULTURA é todo complexo de interações sociais que inclui hábitos, costumes, valores, crenças, leis, arte e toda capacidade que pode ser adquirida (assimilada) pelo indivíduo na vida social. Esse complexo é transmitido de uma

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geração à outra e, nesse processo de transmissão, alguns elementos da cultura podem se perder ou simplesmente ganhar novos contornos dados pelas novas gerações.

Apesar de ser mais uma lista de itens do que uma definição ou uma teoria que descreva e explique a diversidade humana, na prática, a definição acima abriu o campo para o estudo da cultura e da diversidade humana mais interessada em aspectos culturais do que em aspectos biológicos.

Para o a antropologia atual, cultura é um sistema simbólico. Ela estuda o que considera uma característica fundamental e comum a toda sociedade: atribuir, de forma sistemática e estruturada, significados e sentidos “às coisas do mundo”.

Assim, uma cultura seria diferente de outra porque atribui sentido diferente às coisas e situações sociais. Cada cultura observa, separa, pensa e classifica, atribuindo uma ordem ao mundo, de uma maneira específica. Cabe à antropologia compreender o “sistema simbólico” de cada sociedade e sua diversidade nas sociedades humanas.

Um bom exemplo desse conceito pode ser observado no filme “Os deuses devem estar loucos” (1980). Em pleno deserto de Kalahari, no Botswana, junto à África do Sul, um avião sobrevoa tranquilamente os céus africanos. Um dos seus tripulantes lança, inadvertidamente, uma garrafa de Coca Cola – daquelas de vidro, bojudas no meio e estreitas no gargalo e com as letras da marca bem impressas - símbolo da moderna civilização de consumo deste final de século. Por perto, brinca um grupo de crianças. Com a curiosidade que lhes é característica, deslocam-se, rapidamente, ao local, a fim de observarem e apanharem o estranho objeto. De início, a garrafa faz as delícias das crianças e dos adultos: apreciam-na, viram-na, reviram-na, inventam-lhe múltiplas e variadas utilidades para o seu uso, e divertem-se com a sua presença. No entanto, passado algum tempo, esta simples e inofensiva garrafa de Coca-Cola começa a ser disputada e a tornar-se alvo

de sérias querelas no seio do grupo, despertando sentimentos de posse e invejas. Para a tribo que a encontra, a garrafa é interpretada como uma mensagem de natureza sagrada.

A interpretação das culturas

O antropólogo estadunidense Clifford Geertz (1926-2006) dedicou sua vida profissional à análise antropológica das dimensões culturais da política, da religião e dos costumes sociais. Para realizar tal análise, Geertz se apoiou em vários exemplos, que vão desde a etnografia da briga de galos Balinense, até a análise dos sistemas de casamento em parentesco europeus medievais. No âmbito destes estudos, percebeu que, como “estrutura estruturante” na organização das sociedades está a cultura.

Cultura é definida por Geertz como

um sistema cultural de organização (e controle) das coletividades, sistema este pautado em um mecanismo de apreensão do poder por meio da posse dos signos de poder (por parte dos que controlam as altas esferas sociais) e da submissão dos membros de uma comunidade política a tais signos.

Para que esta submissão ocorra, a cultura é a mediação entre o poder e o objeto de sua ação. Isto é possível, pelo fato de que, segundo Geertz, na Antropologia o conceito de cultura sofre uma revisão e passa a ser visto como: “um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos e materializado em comportamentos”.

Geertz ainda fez importantes reflexões sobre o impacto da cultura na natureza animal do homem, ou seja, em como a formação cultural do homem alterou seu modo natural de ser. Sobre isso, ele diz:

“O crescimento lento, constante, quase glacial da cultura através da Era Glacial alterou o equilíbrio das pressões seletivas para o Homo em evolução, de forma tal a desempenhar o principal papel orientador em sua evolução. O aperfeiçoamento das ferramentas, a adoção da caça organizada e as práticas de reunião, o início da verdadeira organização familiar, a descoberta do fogo e, o mais importante, (...) o apoio cada vez maior sobre os sistemas de símbolos significantes (linguagem, arte, mito, ritual) para a orientação, a comunicação e o autocontrole, tudo isso criou para o homem um novo ambiente ao qual ele foi obrigado a adaptar-se. (...) Somando tudo isso, nós somos animais incompletos e inacabados que nos completamos e acabamos através – não da cultura em geral, mas através de formas altamente particulares de cultura; dobuana e javanesa, Hopi e italiana, de classe alta e classe baixa, acadêmica e comercial”.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas.

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Leitura Extra

A proibição de incesto em Lévi-StraussJosefina Pimenta Lobato, Doutora em Antropologia Social Artigo publicado na Revista Oficina: Família, seus conflitos e perspectivas sociais, Belo Horizonte, ano 6, n. 9, p.14-20, jun. 1999.

A proibição do incesto é sem dúvida um fenômeno universal. Não há sociedade alguma em que não haja uma norma que interdite o casamento entre pessoas situadas em um determinado grau de parentesco. As pretensas exceções a essa condenação unânime ao incesto, a do casamento de irmãos nas famílias reais do Egito Antigo, do Império Inca ou do Havaí, não devem ser tomadas como um indício da inexistência, entre eles, da noção de incesto e de sua proibição, mas apenas da adoção de uma forma diversa de classificar as relações que se enquadram nessa categoria.

A constatação de que as relações incestuosas têm sido consideradas, nas mais diferentes épocas e lugares, como intrinsecamente perniciosas, condenáveis, não significa a universalidade de sua observância. Psicanalistas, sacerdotes, médicos e educadores sabem muito bem que as transgressões à proibição do incesto são uma realidade bem mais freqüente do que geralmente se imagina.

Em busca das razões pelas quais o incesto tem sido tão veemente e extensivamente condenado, os cientistas sociais têm sugerido as mais diversas explicações. A proposta de Lévi-Strauss, a de que a proibição do incesto é universalmente imposta a fim de estabelecer a "troca de mulheres entre homens" – condição indispensável à instituição do matrimônio, da família, do parentesco e da própria vida social –, causou um grande impacto no contexto da reflexão antropológica, além de ter uma repercussão expressiva em outras áreas do saber. Antes de abordar as argumentações propostas por Lévi-Strauss, que são de difícil compreensão e aceitação, devido a sua originalidade e estranheza, farei algumas ressalvas e críticas a duas outras explicações relativas à universalidade da proibição do incesto, facilmente acatadas pela maior parte das pessoas.

Uma das explicações mais comuns quanto à universalidade da proibição do incesto segue uma crença muito difundida entre nós, a de que o incesto foi proibido a fim de proteger a espécie humana das conseqüências genéticas nefastas do casamento entre parentes próximos. A fragilidade desse tipo de explicação, aparentemente sólida e inquestionável, deve-se ao fato de ela não levar em conta um fator inegável: o de que é sobre as relação de parentesco, e não sobre as relações de consangüinidade, que a proibição do incesto se constitui. A prevalência dos laços de parentesco sobre os de consangüinidade, na instituição da proibição do incesto, aparece claramente em sociedades cujo sistema de parentesco é unilinear. Com efeito, nessas sociedades a relação tida como incestuosa atinge certos parentes, os primos paralelos (filhos de irmãos do mesmo sexo), que, do ponto de vista da consangüinidade, são idênticos aos primos cruzados (filhos de irmãos de sexo diferente), sobre cujo relacionamento não há nenhuma interdição, uma vez que, de acordo com o sistema unilinear, eles não são parentes entre si, já que cada um deles pertence a um grupo de parentesco diferente.

Uma outra explicação fundamenta-se na idéia de que haveria um horror natural ao incesto, devido a fatores genéticos ou a tendências psíquicas ligadas “ao papel negativo dos hábitos cotidianos sobre a excitabilidade erótica”. Como contestação a esse tipo de explicação, basta considerar que, se houvesse um horror natural ao incesto e a conseqüente falta de desejo de praticá-lo, não seria preciso proibi-lo, pois só se proíbe aquilo que se deseja. Além disso, as constantes violações da proibição são uma prova suplementar de que não há nenhum horror instintivo a esse tipo de relação. É preciso observar também que se o incesto é interdito socialmente é porque ele ameaça, de alguma forma, a ordem social.

Após ter demonstrado que as razões apresentadas por esses dois tipos de explicação não se fundamentam em argumentações sólidas, Lévi-Strauss muda totalmente a forma de abordar essa questão. Por um lado, ele se recusa a enfocar a proibição do incesto em termos biológicos ou psíquicos, pois o que realmente importa, no seu entender, são as razões que fazem do incesto algo socialmente inconcebível:

Nada existe na irmã, na mãe, nem na filha que as desqualifique enquanto tais. O incesto é socialmente absurdo antes de ser moralmente condenável (LÉVI-STRAUSS) .

Por outro, ele abandona qualquer espécie de explicação substantiva – ligada à existência ou não de alguma coisa intrínseca às pessoas, cuja relação é interdita como incestuosa, que justifique a proibição do casamento entre elas - e adota uma abordagem estruturalista – na qual o fator explicativo encontra-se não nos termos, mas nas relações entre eles.

Sob esse novo ângulo eminentemente estrutural, o que se deve levar em conta é, antes de tudo, a posição ocupada pelas pessoas, cujo casamento é classificado como incestuoso, em um determinado sistema de parentesco. A questão central da razão de ser da proibição do incesto consiste, assim, antes de tudo, em se saber por que as pessoas, que estão na posição de pai e irmão, não podem reivindicar como esposa aquelas que estão na posição de filha ou irmã.

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Uma primeira resposta a essa questão, que é dada de forma inédita e, para o nosso senso comum, inesperada, é de que objetivo primeiro da interdição do incesto é: imobilizar as mulheres no seio da família, a fim de que a divisão delas ou a competição por elas seja feita no grupo e sob o controle do grupo, e não em regime privado.

Com efeito, ao fazer com que todos os homens que, em razão dos laços de paternidade ou de fraternidade, encontram-se ligados a certas mulheres por uma relação de posse, "abram mão" da possibilidade de se unirem a elas matrimonialmente, em benefício de outros homens que se encontram, por sua vez, igualmente proibidos de se casarem com suas filhas e irmãs e, assim, sucessivamente, a proibição do incesto obriga-os a estabelecer uma série de normas através das quais se possa determinar a forma pela qual será feita a distribuição das mulheres, que estão imobilizadas no seio do grupo familiar. A necessidade de se regular a distribuição das mulheres e não a dos homens decorre do fato das mulheres , como esposas, constituírem-se um valor essencial à vida do grupo “tanto do ponto de vista biológico quanto do ponto de vista social”.

A obrigação por parte dos homens, que se situam na posição de paternidade e de fraternidade, de darem suas filhas e irmãs em casamento a outros homens, que estão submetidos ao mesmo tipo de situação, constitui, assim, a finalidade última da proibição do incesto, o ponto central onde se revela a verdadeira natureza dessa regra aparentemente negativa:

A proibição do incesto é menos uma regra que proíbe casar-se com a mãe, a irmã ou a filha do que uma regra que obriga a dar a outrem a mãe, a irmã e a filha. É a regra do dom por excelência (LÉVI-STRAUSS).

Como ocorre com toda dádiva, a dádiva matrimonial cria naqueles que a recebem a obrigação de retribuir e assim sucessivamente. Através da constituição desse circuito ininterrupto de dádivas recíprocas, a proibição do incesto estabelece a troca de mulheres como base inelutável de qualquer espécie de instituição matrimonial.

2. A Escola de Frankfurt e a Indústria Cultural

A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente.

Theodor Wiesengrund-Adorno (1903-1969)

O Instituto de Pesquisa Social

A chamada Escola de Frankfurt era, na verdade, o Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt (Institut für Sozialforschung) da Universidade de Frankfurt-am-Main na Alemanha. O instituto tinha sido fundado com o apoio financeiro do mecenas judeu Felix Weil em 1923. Em 1931, Max Horkheimer tornou-se diretor do Instituto. É a partir da gestão de Horkheimer que se desenvolve aquilo que ficou conhecido como a Teoria Crítica da Sociedade, comumente associada à Escola de Frankfurt.

Com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, os membros do Instituto, na sua maioria judeus, migraram para Genebra, depois a Paris e finalmente, para a Universidade de Columbia, em Nova Iorque. A primeira obra coletiva dos frankfurtianos são os Estudos sobre Autoridade e Família, escritos em Paris, onde estes fazem um diagnóstico da estabilidade social e cultural das sociedade burguesas contemporâneas. Nestes estudos, os filósofos põem em questão a capacidade das classes trabalhadoras em levar a cabo transformações sociais importantes.

Esta desconfiança, que os afasta progressivamente do marxismo "operário", se consuma na Dialética do Esclarecimento de 1947, publicado em Amsterdã onde o termo marxismo já se encontra quase ausente. Em 1949-1950 publicam os Estudos sobre o Preconceito que representa uma inovação significativa nas metodologias de pesquisa social, embora de pouca significação teórica.

Com Erich Fromm e Herbert Marcuse inicia-se uma frente de trabalho que associa a Teoria Crítica da Sociedade à psicanálise. Fromm, precursor desta frente de trabalho, logo se distancia do núcleo da Escola, e este perde o interesse pela Psicanálise até o início dos trabalhos de Marcuse.

Marcuse, que permanece nos EUA após o retorno do Instituto para a Alemanha em 1948, foi o mais significativo dos frankfurtianos, do ponto de vista das repercussões práticas de seu trabalho teórico, já que teve influência notável nas insurreições anti-bélicas e nas revoltas estudantis de 1968 e 1969.

Adorno continuará o trabalho iniciado na Dialética do Esclarecimento, de reformulação dialética da razão ocidental, em sua Dialética Negativa, sendo considerado ainda hoje, o mais importante dos filósofos da Escola. Com a sua morte, começa o que alguns chamam de segundo período da Escola de Frankfurt, tendo como principal articulador o antes assistente de Adorno e, depois, seu crítico mais ferrenho: Jürgen Habermas.

A Indústria Cultural

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Adorno, em parceria com Horkheimer e outros filósofos contemporâneos, está inserido num trabalho muito árduo: pensar filosoficamente a realidade social vigente na Alemanha. A realidade em que vivia estava sofrendo várias transformações, principalmente, na dimensão econômica. O Comércio tinha se fortalecido após as revoluções industriais, ocorridas na Europa e, com isso, o Capitalismo havia se fortalecido definitivamente, principalmente, com as novas descobertas cientificas e, conseqüentemente, com o avanço tecnológico. Tal avanço, para eles, teve como conseqüência trágica a perda da autonomia do homem (uma vez que agora ele dependia enormemente da máquina).

Um outra conseqüência dessa perda de autonomia foi a desumanização da própria humanidade. Em outras palavras, Adorno contemplava uma geração de homens “doentes”. O domínio da razão humana, que no Iluminismo era como uma doutrina, passou a dar lugar para o domínio da razão técnica.   Os valores humanos haviam sido deixados de lado em troca do interesse econômico. O que passou a reger a sociedade foi a lei do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que não conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava a mercê dos dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade.

Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que, segundo o nosso filósofo, é o fruto de toda essa Indústria Cultural. Segundo Adorno, na Indústria Cultural, tudo se torna negócio.

Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais.

Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema. O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação ideológica e emocional. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.

É importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. Portanto, o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante.

A Indústria Cultural, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura. O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher entre as opções dadas. É a lógica do clichê. Esquemas prontos que podem ser empregados indiscriminadamente só tendo como única condição a aplicação ao fim a que se destinam.

Um exemplo de esquematismo na TV brasileira são as telenovelas. Apela para esquemas que desobrigam o telespectador de interpretar com mais profundidade o que está assistindo. Tais esquemas são usados:

- na caracterização das personagens (identificação imediata do vilão/vilã, do mocinho/mocinha, do oportunista, do inocente, do rico, do pobre, etc.);- na condução da história (no fim, o bem sempre vence; o casamento é a solução natural dos relacionamentos; as pessoas vencem pelo esforço, não pela sorte ou pela procedência; o mal deve ser exemplarmente punido – morrer, ficar louco, ficar pobre, solidão, etc.);

Isso não quer dizer que toda novela siga sempre o mesmo esquema (ou mesmo que tais esquemas não mudem com o passar do tempo). Entretanto, a história das telenovelas tem mostrado que produções que fogem desses esquemas consagrados costumam ver a sua audiência (o índice supremo de avaliação de uma programa de televisão comercial) cair sensivelmente.

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O consumidor insatisfeito

Nada escapa a voracidade da Indústria Cultural. Toda vida (cultura) torna-se replicante (passível de ser reproduzida, ou seja, copiada e distribuída para milhões). Ao fazer isso, a Indústria Cultural revela sua intenção: obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia.  Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura industrializada.

É importante frisar que a grande força da Indústria Cultural se verifica em proporcionar ao homem necessidades. Mas, não aquelas necessidades básicas para se viver dignamente (casa, comida, lazer, educação, e assim por diante) e, sim, as necessidades do sistema vigente (consumir incessantemente). Com isso, o consumidor viverá sempre insatisfeito, querendo, constantemente, consumir. E o campo de consumo se torna cada vez maior. Tal dominação, como diz Max Jimeenez, importante comentador de Adorno, tem sua mola motora no desejo de posse constantemente renovado pelo progresso técnico e científico, e sabiamente controlado pela Indústria Cultural.

Um bom exemplo desse tipo de controle é o efetuado pela indústria do entretenimento eletrônico, atualmente. A informática (tanto na área dos softwares quanto dos hardwares) cria, incessantemente, novas tecnologias gerando novas necessidades. O consumidor se vê obrigado a consumir novos produtos, novas tecnologias, novas formas de entretenimento. Como o mercado se renova incessantemente e em grande velocidade, o consumo de produtos culturais eletrônicos é, aparentemente, uma fonte inesgotável, proporcionando lucros inimagináveis a esse tipo de indústria.

Nesse sentido, o universo social, além de configurar-se como um universo de “coisas” (e não de pessoas), constituir-se-ia num espaço hermeticamente fechado. Ou seja, não teríamos a opção de fugir desse estado de coisas. As alternativas são aderir (virando um consumidor assíduo) ou ser excluído do consumo através da marginalização e miséria econômica. Todas as tentativas de se livrar desse engodo estão condenadas ao fracasso.

Tal visão aparentemente “pessimista” da realidade encontra uma saída ou alternativa bem abrangente oferecida por Adorno. Para ele, existe uma saída e esta se encontra na própria cultura do homem: a limitação do sistema e a estética.

Na Teoria Estética, obra que Adorno tentará explanar seus pensamentos sobre a salvação do homem, dirá ele que não adiante combater o mal com o próprio mal. Exemplos disso ocorreram no nazismo e em outras guerras.

Segundo ele, a antítese mais viável da sociedade industrial selvagem é a Arte. A Arte, para ele, é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito

diante da realidade imperfeita. Além disso, para Adorno, a Indústria Cultural não pode ser pensada de maneira absoluta: ela possui uma origem histórica e, portanto,  pode desaparecer.

Por fim, podemos dizer que Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.

IMPORTANTE:Para Adorno e Horkheimer, a indústria cultural é a indústria da diversão. Ela não provoca construção de juízo crítico. O consumidor da indústria cultural é distraído e, por isso, não está preocupado com a análise das obras. Não há uma preocupação profunda com a forma e o produto cultural tem como finalidade principal o entretenimento. Não há o desejo de que a massa questione, e sim que ela simplesmente alimente o sistema, consumindo essa espécie de "pacote" que lhe é "imposto".

Adorno divide a obra de arte em dois tipos, a arte inferior, que é aquela composta de elementos da cultura popular, e a arte superior, que é a arte produzida e consumida por poucos. A arte superior provoca uma contemplação, uma relação perceptiva diferente. Também pode gerar uma reflexão no receptor, e ao ser traduzida para a massa, ela se transforma em arte inferior e perde o seu caráter inovador.

Banalizar as obras de arte significa subtrair da obra a sua aura, ou seja, aquele algo que a torna única e rara (e por isso, de grande valor artístico).

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A cultura vira um mero produto para consumo imediato. Depois de consumido, tal como qualquer mercadoria, é descartado. A sociedade moderna possibilita a reprodução técnica e muda a relação espectador - obra de arte. A indústria cultural não cria um sujeito crítico e sim um sujeito condicionado, alienado, passivo e facilmente manipulado.

O conceito de “estandardização da cultura” vem do inglês standard, que significa “padrão”.Este conceito define que os consumidores, em virtude da Indústria Cultural, teriam passado a ter as mesmas necessidades e preferências culturais, dos modos de fazer cultura às preferências dos consumidores por produtos culturais. Grandes conglomerados de entretenimento ligado à música e ao cinema, principalmente, criam gostos semelhantes em culturas bastante distintas em suas preferências.

Não vivemos em uma sociedade homogênea, toda produção cultural está sujeita a avaliação que dependem da posição social do grupo a que ela pertence. Para exemplificar vamos estabelecer

algumas distinções, considerando as seguintes divisões: 

- A Cultura Erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade, produzida por uma minoria de intelectuais.

- A Cultura Popular é identificada com folclore, conjunto das lendas, contos e concepções transmitidas oralmente pela tradição. É produzida pelo homem do campo, das cidade do interior ou pela população suburbana das grandes cidades.

- A Cultura de Massa é aquela resultante dos meios de comunicação de massa, tais como a indústria fonográfica (música), a cinematográfica (cinema), Tvs, Rádios, etc. Produzida “de cima para baixo”, já que o consumidor não participa de sua produção, esse tipo de cultura impõe padrões e homogeneíza o gosto, através das modas culturais.

Análise da Indústria Cultural

A Indústria Cultural é fruto da sociedade industrializada, de tipo capitalista liberal. Mais especificamente, porém, a indústria cultural concretiza-se apenas numa segunda fase dessa sociedade, a que pode ser descrita como a do capitalismo de organização (ou monopolista) ou, ainda, como sendo a sociedade dita de consumo.

Considerada ainda como condição para a existência dessa Indústria uma oposição entre a cultura dita superior e a de massa, apesar dos equívocos envolvidos nessa divisão. Admitida essa divisão, pode-se falar na existência de uma cultura superior, outra média (midcult) e uma terceira, de massa (masscult, inferior). A segunda distingue-se da terceira, basicamente, por sua pretensão de apresentar produtos que se querem superiores, mas que são, de fato, formas bem acabadas e aperfeiçoadas daqueles. Ao passo que a masscult se contenta com o fornecer produtos sem qualquer pretensão ou álibi cultural.

É possível ainda, estabelecer-se uma oposição entre a cultura popular, entendida como soma dos valores ancestrais de um povo, e a cultura dita pop, outra designação de cultura de massa. Os mesmos excessos de valorização da cultura superior, diante da de massa, também são encontrados na defesa da popular diante da pop.Com seus produtos, a Indústria Cultural pratica o reforço das normas

sociais, repetidas até a exaustão sem discussão. Em conseqüência, uma outra função: a de promover o conformismo funcional. Ela fabrica seus produtos cuja finalidade é:

(a) a de serem trocados por moeda; (b) promover a deturpação e a degradação do gosto popular;(c) simplificar ao máximo seus produtos, a obter uma atitude sempre passiva do consumidor;(d) assumir uma atitude paternalista, dirigindo o consumidor ao invés de colocar-se a sua disposição.

Teses Favoráveis à Indústria CulturalNa defesa da Indústria Cultural, algumas teses defendem que o fator

“alienação” não é definidor dos produtos culturais. Isso por que, em alguns casos, tais produtos acabam por beneficiar o desenvolvimento do homem e

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da sociedade. A favor desta idéia lembra-se, por exemplo, que as crianças de hoje dominam muito mais cedo a linguagem graças a veículos como a TV e a Internet. Que o acesso à ciência, à tecnologia se dá de maneira muito mais eficaz com instrumentos de busca como o Google. Que blogs, jornais, revistas on-line podem ser lidos de qualquer parte do mundo, tornando o planeta mais democrático. Em suma: o acúmulo de informação acaba por transformar-se em formação dos indivíduos, isto é, a quantidade provocando alterações na qualidade.

Outra tese favorável à Indústria Cultural é a idéia de que ela, fruto do processo de globalização, acaba por unificar não apenas as nacionalidades, mas também as próprias massas.

Por trás dessa defesa, entretanto, não se sabe com clareza o que é massa. Ora é o povo, excluindo-se a classe dominante. Ora são todos. Ou um conjunto sem forma de indivíduos sem vontade. Pode surgir como um aglomerado heterogêneo de indivíduos, ou como entidade absolutamente homogênea para outros. O resultado é que o termo “massa” acaba sendo utilizado quase sempre conotativamente (isto é, com um segundo sentido) quando deveria sê-lo denotativamente com um sentido fixado, normalizado. Na verdade, essa cultura de ou para ou sobre a massa existe para quem se der ao trabalho de abrir os olhos.

Havendo preconceito de classe diante das reais dificuldades metodológicas de delimitação do conceito de massa, talvez seja melhor falar-se numa cultura industrial ou industrializada, particularmente quando se pretende atribuir a essa entidade um valor negativo.

Alienação e revelação na indústria cultural

A alienação pode ser entendida, no contexto das reflexões sobre a Indústria Cultural, como um processo no qual o indivíduo é levado a não meditar sobre si mesmo e sobre a totalidade do meio social circundante, transformando-se com isso em mero joguete e, afinal, em simples produto alimentar do sistema que o envolve.

Há duas grandes tendências, quando se trata de saber se a indústria cultural provoca a alienação ou produz a revelação. A resposta pode ser dada através da análise do conteúdo veiculado pelos meios de que serve a indústria cultural.

a) O conteúdo como determinante

A primeira tendência, assim, prende-se à análise do conteúdo dos produtos culturais. Para esta, os produtos da Indústria Cultural serão bons ou maus, alienantes ou reveladores, conforme a mensagem eventualmente a eles vinculada. E ela firmou-se e espalhou-se um pouco por toda a parte, estabelecendo consigo a visão puritana e equivocada da eficácia e do trabalho como valores maiores do homem, diante dos quais o prazer é banido da prática cultural.

É muito comum ler uma crítica que exige seriedade e engajamento da TV ou do rádio ao invés de diversão. “A massa é ignorante e portanto não pode perder tempo com prazer; temos, nós, de torná-la culta, através da seriedade”.

Assim, a indústria cultural e seus veículos seriam instrumentos passíveis de serem usados tanto para o esclarecimento como para o embotamento (e conseqüente manipulação) de seus receptores, sendo decisiva a ideologia responsável pela elaboração desses produtos culturais. (Embotamento = perda da sensibilidade).

b) A estrutura como determinante

O filósofo canadense Marshal McLuhan (famoso por ter cunhado a expressão “aldeia global”) coloca-se na posição contrária a ocupada pelos que se preocupam com o conteúdo das mensagens produzidas pela indústria cultural (para, a partir daí, determinar se elas são ou não alienantes). Ele observa que essa preocupação com o conteúdo e a tendência para atribuir certos efeitos a certos conteúdos são resquícios de uma cultura de intelectuais letrados incapaz de adaptar-se às novas condições.

Para ele, o alvo da atenção numa análise dos produtos culturais deveria ser os produtos em si mesmos, independentemente de qualquer conteúdo. A análise deve buscar a organização interior, a natureza, a estrutura dos produtos culturais.

McLuhan considera um erro dizer que o valor da TV, por exemplo, depende do tipo de programa por ela divulgado – o que equivaleria a dizer que a TV será boa se disparar a munição certa contra as pessoas certas.

E como, na verdade, o que interessa aqui é ilustrar a tese segundo a qual a questão da alienação através da indústria cultural deve ser analisada sob o ponto de vista estrutural e não a partir do conteúdo das mensagens, ficaremos com apenas um dos veículos dessa indústria, possivelmente o mais expressivo deles: a TV.

O modo de recepção pela TV é coletivizante, ao contrário do que ocorre no processo da leitura, experiência individual por excelência. Tanto para o indivíduo quanto para as nações, a TV é um meio

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unidirecional, unívoco: a informação por ele veiculada segue apenas um sentido, da fonte para o receptor, sem retorno. O que não ocorreria no caso da leitura.

 Aqui, verifica-se uma tendência de apresentar essa indústria como produto de uma sociedade (a do capitalismo liberal, seguido do monopolista e o financeiro), cujo traço maior seria a produção da alienação. Neste caso, a indústria cultural também seria produtora de alienação, não importando o conteúdo.

c) A abordagem semiótica

Um terceiro modo de abordar o problema não privilegia nem o estudo do conteúdo, nem a análise da natureza da indústria cultural e seus veículos. Partindo de uma teoria, a semiótica – que estuda o signo, seus modos de elaboração e formulação e suas relações com o processo humano de interpretação – esta tendência coloca o problema na maneira como a indústria cultural constrói signos que formatam modos de interpretar o mundo, formando (impondo) uma visão no mundo específica.   Indústria Cultural no Brasil

A indústria cultural no Brasil apresenta-se marcada pelos traços mais evidentes e grotescos do comercialismo em particular e do capitalismo em geral. Os poucos veículos de massa subtraídos ao mercantilismo, também se caracterizam pela existência de estímulos à atividade crítica. Ao contrário do que ocorre em emissoras de outro países controladas também pelo governo (como as da França, Inglaterra e Itália), as do Brasil não têm nenhuma liberdade de movimentação em relação ao governo que as suporta, e qualquer veleidade no sentido de estimular a reflexão crítica é sumariamente podada.

Nossa indústria cultural está bastante voltada para temas, assuntos e culturas estrangeiras, particularmente a norte-americana. No rádio, são as músicas estrangeiras; na TV, os “enlatados” e, na imprensa escrita, as notícias sobre o exterior são veiculadas com grande destaque, enquanto que as nacionais são banalizadas.

A dialética nacional x estrangeiro não deve e não pode ser evitada, hoje. O único problema é que deve ser realmente uma dialética – um jogo entre opostos onde ambos os elementos de partida são anulados na direção de um terceiro, novo – e não o predomínio de um sobre o outro.   Um desses traços é relativo à homogeneização da cultura através da indústria cultural. No Brasil, porém, a cultura formada pela indústria cultural está longe de ser homogênea. As desigualdades gritantes na divisão da renda nacional impedem que se fale na existência, de uma sociedade de consumo; há bolsões de consumo, em certas regiões, ao lado de grupos voltados para o subconsumo e de outros entregues ao desespero da simples sobrevivência.

Assim, mesmo que a indústria cultural tenda a veicular uma cultura só para toda a sua audiência, a disparidade entre os receptores é tamanha que essa cultura, embora tendendo para a uniformidade, não pode deixar de apresentar vertentes diversas. A indústria cultura apresenta, assim, fatias mais populares, ou popularescas, e fatias mais eruditas, ou “erudicizantes”.

De um lado, na TV, são programas como os do “Sílvio Santos, Mega Tom, Raul Gil; e outro, os Concertos Internacionais e os raros programas de entrevistas ou debates, além dos sempre abordados e eternamente retomados “Teatros na TV”

A heterogeneidade da indústria cultura brasileira explica outro traço específico seu, que a permanência do grotesco. Diz-se que uma conseqüência da indústria cultura é o fato de ela tender para a eliminação do grotesco das manifestações culturais na medida em que aspira às formas ditas superiores. Entre nós a indústria cultural instalou-se não propriamente eliminando a cultura popular, mas sobrepondo-se a ela, permeando-a – e a cultura popular, no Brasil (mas não somente aqui) é frequentemente tecida sobre o grotesco, o chulo, o “cafajéstico”. A reação de repúdio do público brasileiro diante do filme nacional – do qual se dizia, e se diz, que era exatamente “grotesco” e “cafajeste “ é um exemplo.  

Um outro traço da indústria cultura brasileira a ser destacado é o relativo à permeação da cultura dela resultante por elementos de culturas e o conseqüente fato de essa cultura da indústria cultural não tratar, como se afirma, de temas do cotidiano. Em relação a este último ponto, diz-se que a indústria cultural brasileira é, basicamente, a indústria do divertimento, da distração, e não da reflexão sobre o que acontece na vida diária.

Deve-se observar ainda que não estamos distante assim dos temas do dia-a-dia e que ela se apresenta mesmo, guardadas as proporções, como instrumento de combate contra aquela parte dela mesma voltada para a cultura estrangeira. Na verdade, é necessário reconhecer que, pôr mais imbecilizantes que possam ser, programas como os das novelas têm tudo para atrair grandes parcelas da população (mesmo as que, nominalmente pelo menos, possuem formação universitária) quando comparados com o cinema, particularmente o estrangeiro. A novela da TV(mas não só ela, o programa do Raul Gil também, e ainda as transmissões esportivas, entre outras) traz sim, os elementos da vida comum. Pode fazê-lo de modo alienado e alienante – e é isto que cabe resolver. Mas importa notar que mesmo uma indústria cultural “colonizada”, como se diz, acaba pôr vincular-se à realidade cultural do país.

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E isto não pôr idealismo, mas porque ela precisa vender seus produtos e, para tanto, precisa usar como chamariz algo que chegue mais perto das pessoas. E o grau de alimentação com que o faz é bastante variável. Nem sempre é um grau elevado e nem sempre é tão forte.

Para a maioria dos estudiosos da indústria cultural, pouco ou nada se pode esperar dela no sentido da libertação do homem. Nem de seus veículos isoladamente tomados, como a TV. Para esses, nenhuma modificação resulta positiva (como a reforma da programação da indústria cultural) se não for precedida de ampla reforma ou revolução estrutural da sociedade. O fundamental no problema da comunicação e da indústria cultural não está nem na questão quantitativa, nem na questão da natureza ou conteúdo da mensagem divulgadas, mas na estrutura mental e psíquica dos indivíduos receptores dessas informações.

3. Etnocentrismo e Relativismo Cultural

Etnocentrismo

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.

No etnocentrismo se misturam a) elementos intelectuais e racionais e b) elementos emocionais e afetivos. Estes dois planos do espírito humano (sentimento e pensamento) vão compondo um fenômeno não apenas fortemente presente na história das sociedades, como também facilmente encontrável no nosso dia-a-dia.

O estudo do etnocentrismo, na antropologia, pode ser expresso como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, pelos quais existem tantas e tão profundas distorções nas emoções, pensamentos, imagens que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós.

Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade.

Um bom exemplo que ilustra a questão do etnocentrismo é a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas, a tal ponto que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe como nós.

Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. É uma espécie de mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. É como se pensássemos:

– Como aquele mundo de doidos pode funcionar (espanto)? Como é que eles fazem (curiosidade perplexa)? Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado (dúvida ameaçadora)! Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárbara, primitiva (hostilidade)!

Diversidade cultural, etnocentrismo e relativismo

É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições.

Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita).

Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal.

Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correto; a maior parte das sociedades condenam esse ato.

O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam.

Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.

Centenas de páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem atualmente e também as que existiram.

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Até a bem pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras.

Os europeus que viajaram para as Américas no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que viviam centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas. Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude.

Anthony Giddens, Sociology, Polity Press, Cambridge, p. 30.

Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças.

Se bem que o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens.

O etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Adoptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.

Quais os perigos da atitude etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a conjugação dessa atitude ilegítima com ambições econômicas provocou ao longo da História.

Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de valores culturais superiores definiram como sub-humanos, a antropologia cultural promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas normas (valores das outras culturas Mensagens fundamentais: a) Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos; b) Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis, c) O conhecimento metódico de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário em alguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com a natureza, etc.

A defesa legítima da diversidade cultural conduziu, contudo, muitos antropólogos atuais a exagerarem a diversidade das culturas e das sociedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceite, seria avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura.

Cairíamos de novo, segundo a maioria dos antropólogos, nessa atitude dogmática que é o etnocentrismo.

Exemplos de Etnocentrismo

Exemplo 1Lévi-Strauss (antropólogo) relata, em seu livro "Tristes Trópicos", o mito de origem dos índios mbaiá - guaicuru, cujo território situava-se em terras paraguaias e brasileiras. Eles aprenderam a montar a cavalos e adquiriram com isso grande mobilidade e poder, passando a dominar e explorar outros grupos indígenas da região.O mito mbaiá diz o seguinte:

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"Quando o ser supremo, Gonoenhodi, decidiu criar os homens, tirou primeiro da terra os guaná, depois as outras tribos; aos primeiros, deu a agricultura, e a caça às segundas. O Enganador, que é outra entidade do panteão indígena, percebeu, então, que os mbaiá tinham sido esquecidos no fundo do buraco e os fez sair; mas, como nada mais lhes restasse, tiveram o direito à única função ainda disponível, a de oprimir e explorar os outros."

Exemplo 2Durante a Guerra do Vietnã, o comandante das Forças Armadas norte-americanas, vendo-se obrigado a explicar as sucessivas derrotas de suas tropas, declarou à imprensa que os "amarelos comunistas" estavam ganhando a guerra porque, ao contrário dos ocidentais, não davam valor à vida e, por isso, lutavam sem nenhum temor. Segundo o militar, os destemidos vietnamitas sequer expressavam dor por ocasião da morte de amigos e parentes!

Exemplo 3Os Cheyene, índios das planícies norte-americanas, se autodenominavam "os entes humanos’; os akuáwa, grupo tupi do sul do Pará, consideram-se "os homens"; da mesma forma que os Navajo se intitulavam "o povo’. Os aborígines australianos chamavam as roupas dos brancos de "peles-de-fantasmas", pois não acreditavam que os ingleses fossem parte da humanidade; e os nossos xavantes acreditam que o seu território tribal está situado bem no centro do mundo."

Exemplo 4Os urubus, grupo tribal do vale do Pindaré (Maranhão), assim nomeados pelos vizinhos (civilizados e índios) se autodenominam Kaapor (Kaa = madeira, mata, floresta e Pôr - ser). Essa autodenominação sintetiza admiravelmente o mito ou a explicação da origem do grupo. "Todos os homens vieram das madeiras. Todos. Só que, enquanto os Kaapor originaram-se das madeiras boas, os outros homens (a humanidade, para eles) nasceram das madeiras podres. (do livro "Raça e diversidade", Lilia Moritz (org.), João Baptista Borges Pereira, Edusp, 1996, SP, pág. 18).

Etnocentrismo – Leitura Extra

O Crescimento do Islam e o Taleban Por Mônica Muniz

A historiadora Mônica Muniz faz uma avaliação do crescimento do islamismo no mundo, tomando como ponto de partida recente pesquisa feita pelo Historianet, destacando o aumento do preconceito.

Dizer que o Islam é a religião que mais cresce no mundo já é consenso. Com quase um bilhão e meio de adeptos espalhados pelo mundo, os muçulmanos representam perto de 25% da população mundial e não dá mais para dizer que eles não são uma realidade social, política e religiosa. Muito se fala sobre o Islam, mas pouco se sabe sobre ele. Em recente pesquisa realizada pelo HISTORIANET sobre a expansão do Islam, em um universo de mais de 650 pessoas, 48,1% manifestaram a opinião de que o Islam representa uma ameaça para o imperialismo americano. Trata-se de um percentual elevado que só demonstra como o preconceito existe e como está enraizado em nós. Desde cedo somos direcionados no sentido de ver o Islam como uma ameaça, seja política, religiosa ou social. No nosso imaginário, Islam é sinônimo de fanatismo, terrorismo. Um avião que cai, um prédio que explode, logo somos induzidos a achar que se trata de obra de algum muçulmano árabe fanático, em plena “guerra santa” contra o ocidente.

Um dos erros mais comuns é a associação que se faz do Islam com a cultura árabe. Apesar de o Islam ter surgido na península arábica, e de ter na língua árabe - a língua do Alcorão - o fator de unidade, atualmente os árabes representam uma minoria nesse universo, menos de 18% do total. O próprio uso da palavra “árabe” expressa um preconceito, pois coloca sob o mesmo denominador, africanos, curdos, persas, turcos. Desconhecemos suas origens, suas culturas, suas tradições, as particularidades específicas de cada povo. Muito do que é passado pela mídia traz o viés do etnocentrismo, nós, o ocidente, civilizados, cultos, eruditos, belos e formosos, e eles, o oriente, a barbárie, a ignorância, o atraso. Como no século XIX, continuamos a impor a nossa maneira de ver o mundo, os nossos valores, nossa cultura, estes sim, verdadeiros e legítimos. Estranhamente apagamos de nossa memória o fato de que muito do nosso cotidiano é devido à cultura islâmica que dominou o mundo por muito tempo.

Esta postura, em grande parte, deve-se a uma política colonialista européia, iniciada no século XIX, que, ao “levar a civilização aos povos bárbaros”, na verdade representou um processo contínuo de apartheid, exploração, expropriação e genocídio. Muitas das questões que afligem o mundo contemporâneo têm origem nessa política de dominação.

Contrariamente ao que se pode pensar, o Islam reconhece, entende e aceita a existência dos diferentes povos. Em um de seus versículos, o Alcorão, o livro sagrado do muçulmano, diz que os homens foram criados em nações para que se conhecessem e se compreendessem e não para que fossem inimigos. Em seu “Sermão da Despedida”, o profeta Mohammad, cujo exemplo de vida é seguido por todos os muçulmanos, disse que um árabe não é superior a um não árabe, nem um não árabe é superior a um árabe; o branco não é superior ao negro, nem o negro tem qualquer superioridade sobre o branco, exceto quanto ao temor a Deus; que os homens têm certos direitos em relação às mulheres, mas elas também têm direitos sobre os homens.

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Quanto à mídia, esta faz a sua parte, limitando a nossa forma de compreender o mundo aos padrões convencionados como “civilizados”. Salienta o que é estranho à cultura ocidental e esconde o que efetivamente acontece naquelas regiões. Enfatiza as proibições, as restrições impostas às mulheres, enfim, o aspecto exterior da questão, sem estabelecer uma relação de causa e efeito dos acontecimentos, sem definir o que são costumes e tradições e o que é verdadeiramente islâmico. Sob essa ótica, para o ocidente, tudo é esquisito no Islam, e do ponto de vista da aparência externa, não há muita diferença do Afeganistão para a Arábia Saudita ou a Jordânia, muito embora Arábia Saudita e Jordânia se alinhem política e ideologicamente com o ocidente.

Vivemos num mundo globalizado, e por isso, altamente interdependente. As transformações no oriente e no ocidente influenciam um e outro profundamente. De um lado, temos os muçulmanos querendo recuperar-se dos efeitos perversos do colonialismo e sua sociedade exigindo mudanças sociais e políticas, mas qualquer mudança põe em perigo a correlação de forças atual. Do outro lado, as grandes potências se opõem a iniciativas que ponham em cheque sua hegemonia política, e os países dependentes, temendo perder uma soberania recém conquistada, vêem com desconfiança qualquer tentativa por parte de quem, até bem pouco tempo, era o opressor. A preocupação humanitária em relação à condição da mulher muçulmana é muitas vezes acompanhada por um discurso que sataniza o Islam, o que faz com que os muçulmanos fiquem mais desconfiados ainda. As conseqüências desses embates, cultural, político e social, invariavelmente acabam repercutindo na mulher, o elo mais fraco dessa corrente.

O caso do Afeganistão, mais em evidência, chega até nós sob a forma de aberração. No entanto, não nos ensinam que se trata de um país que vem de uma história de invasões, ocupação soviética por mais de 10 anos, que desestruturou sua economia, que sua população vive sob um cotidiano de guerra constante, uma vez que o Taleban não detém o controle total do país, que existe uma luta interna de poder entre facções muçulmanas. Como se não bastasse, os Estados Unidos acusaram o rico empresário saudita Osama bin Laden de estar envolvido nos atos de terrorismo contra as suas embaixadas no Quênia e na Tanzânia. Quando o regime do Taleban se recusou a entregar bin Laden aos Estados Unidos, a ONU, em represália, impôs pesadas sanções ao Afeganistão, cujos ônus, como sempre, recaem sobre a população indistintamente, homens, mulheres, crianças.

Quando o Taleban usa a retórica ideológica para privar a mulher muçulmana do acesso à educação básica, a mídia ocidental condena, e com razão. Afinal, há 14 séculos o Islam assegurou direitos sociais e econômicos que objetivaram garantir igualdade entre homens e mulheres, inclusive o acesso igual à educação, o direito de expressão, de propriedade, de voto. Mas, não tem razão quando define as restrições impostas à mulher afegã como parte da doutrina islâmica. O Islam não é a prática que dele fazem alguns muçulmanos. A crítica ao Taleban, assim, transforma-se num pretexto para condenar os legítimos movimentos islâmicos em geral, e mostrar ao ocidente que o Islam é incompatível com as modernas exigências sociais e políticas e que nada poderia ser pior do que uma sociedade fundada nos princípios islâmicos.

Na verdade, grupos como o Taleban, em nada diferem de tantos outros espalhados pelo mundo, na medida em que são o resultado das condições incertas do mundo moderno. Movimentos semelhantes podem ser encontrados em outros países e entre as muitas religiões do mundo e não imaginamos que eles possam ameaçar a hegemonia das grandes potências. Os cristãos americanos que bombardeiam clínicas de aborto, hindus que atacaram a mesquita de Babri, e que estão de olho nas inúmeras mesquitas espalhadas pela Índia, judeus ultra-ortodoxos que atiram pedras em mulheres que andam pelas ruas vestindo calças ou mangas curtas, enfim, todos são a expressão contemporânea da intolerância e, nesse sentido, têm mais em comum com o Taleban do que eles (ou o Taleban) percebem, e muito menos a ver com o Islam, como somos levados a supor.

Todos esses movimentos, apesar de suas diferenças externas, são uma reação às dramáticas mudanças sociais, políticas e econômicas que vêm ocorrendo nos últimos 150 anos. As transformações são rápidas, adquiriram uma dinâmica própria e estão além do controle das pessoas comuns. Os muçulmanos em geral acalentam o sonho do estado islâmico, mas percebem que esse sonho vai ficando cada vez mais distante, diante do avanço inexorável de uma civilização global secular agressiva e tecnologicamente mais avançada. Em seu movimento de reação, esses grupos acabam por enfatizar o lado material, porque mais fácil de ser controlado e de ser imposto ás pessoas. Na verdade, a violência do Taleban contra os que desrespeitam as regras não deixa de ser a implementação da moderna visão de que a interferência do estado na vida das pessoas é a resposta para a maior parte dos problemas sociais.

Mas, certamente o Islam não é isso e a prova é toda sua história de tolerância e convivência pacífica com as diversas culturas com as quais ele interagiu no decorrer dos séculos.

Fonte: http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=230

Leitura Extra

FERNANDO NOVAIS – ENTREVISTA PARA FOLHA DE SÃO PAULOHistoriador vê diferença entre estudar a visão do índio e reconstituir a história com seu ponto de vista

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Folha On-Line - 24/4/2000 (www.uol.com/fol)

"Não podemos nos transformar em índios", diz Fernando NovaisJOÃO BATISTA NATALI, da Reportagem Local

Fernando Novais, professor aposentado do Departamento de História da USP e professor do Instituto de Economia da Unicamp. Especialista em Brasil colonial. Autor de um dos principais clássicos da historiografia colonial: "Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1801)", o historiador Fernando Novais considera que em 1500 não houve Descobrimento do Brasil, e sim o surgimento das bases da colonização portuguesa. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Novais concedeu à Folha, em sua casa.

Folha - O Brasil está comemorando efetivamente 500 anos?Fernando Novais - Não há nenhuma nação que não tenha comemorações. Toda nação necessita de memória e de passado para se legitimar. As comemorações são lembradas de duas formas: uma pelo governo, por discursos, por inaugurações, e outra pelo mundo acadêmico, em simpósios e congressos. No Brasil e em Portugal têm havido os dois tipos de comemoração. Uma das maneiras que meus colegas historiadores inventam para discutir o assunto é falar de outros assuntos, mas eu preferia falar apenas de Descobrimento. Caracterizar a viagem de Cabral como a do "Descobrimento do Brasil" e a carta de Pero Vaz de Caminha como uma "certidão de batismo" tem pressupostos que precisam ser discutidos. Há um etnocentrismo evidente que expressa a visão do conquistador, do vencedor. Os portugueses seriam o agente e os índios, os "descobertos", os protagonistas passivos do episódio.Folha - Seria então necessário também levar em conta o ponto de vista dos índios?Novais - A crítica do etnocentrismo é verdadeira e não é nova. Mas isso não deve levar à idéia de que nós temos de reconstituir a história do ponto de vista dos vencidos. Nós não podemos nos transformar em índios. Uma coisa é fazer o estudo da visão dos índios e outra é reconstituir a história a partir do seu ponto de vista. Há estudos recentes de etno-história, como o que Padden fez no México e Wachteel no Peru, em que se estuda como os índios perceberam o descobrimento, a conquista e a colonização. São estudos de mentalidades. A história precisa ultrapassar os pontos de vista do vencido e do vencedor e dizer alguma coisa a mais. Como nação, somos herdeiros dos europeus, dos índios e dos negros, mas todos não participam da mesma maneira na nossa formação. Um foi o vencedor e os dois outros foram os vencidos.Folha - Em 1500 não há, então, um "nascimento"?Novais - Não há. Acreditar nisso seria incorrer num anacronismo, que é a segunda observação que queria fazer. Curiosamente, os historiadores têm discutido há bastante tempo o etnocentrismo, mas raramente discutem o anacronismo. Quando se fala "Descobrimento do Brasil", o etnocentrismo está no Descobrimento, e o anacronismo, na palavra Brasil.Folha - O que é o anacronismo?Novais - Para reconstituir determinado segmento do passado, o historiador precisa esquecer o que ele sabe que aconteceu depois. O historiador incorre no anacronismo quando ele imputa aos protagonistas o conhecimento sobre os acontecimentos posteriores. A reconstituição se torna uma "profecia do passado". Folha - É o que está acontecendo agora?Novais - Em todo o discurso historiográfico há o problema do anacronismo. Porém, quando a nação é o objeto do discurso do historiador, o perigo do anacronismo é muito maior, porque a nação precisa de passado para se legitimar. Quanto maior o passado, melhor a legitimação. Os franceses, por exemplo, vêem seu passado mais remoto na Gália romana. No caso do Brasil, reconstituir a viagem de Cabral como Descobrimento do Brasil pressupõe imaginar que ele já sabia que iria se constituir no século 19 uma nação com esse nome. Isso é anacronismo. E a viagem se torna fundadora, isto é, um mito.Folha - O que é, então, o Brasil?Novais - O Brasil é um povo que se constituiu numa nação, que por sua vez se organizou como Estado. Em 1500 não havia nenhuma dessas três coisas. Logo, não houve Descobrimento do Brasil, porque o Brasil não existia nem estava encoberto. O que naquele momento surgiram foram as bases da colonização portuguesa, a qual por sua vez é a base da nossa formação. A história do Brasil é essencialmente a de uma colônia que se transformou numa nação. Logo, a colonização é a base de nossa história e nesse sentido Cabral é importante.Folha - O sentimento da diferença do colonizador é então bem posterior?Novais - Exatamente. Isso ocorreu quando a população começou a se pensar como diferente de seus antecessores. Primeiro, luso-brasileiros. Depois, menos lusos e mais brasileiros. Até se sentirem somente brasileiros. Isso ocorre só a partir da segunda metade do século 18, e não antes.Folha - Até então as pessoas não se sentiam "brasileiras"?Novais - Até o início do século 19, "brasileiro" era o comerciante do pau-brasil. É uma das diferenças entre os hispano-americanos e os luso-americanos. Na América espanhola, desde o fim do século 16, os espanhóis nascidos na colônia se chamavam de "criollos". Não há no Brasil palavra equivalente. Havia no Nordeste a palavra "mazombo". A partir do século 17 usava-se por aqui a palavra "reinol" para designar os portugueses nascidos em Portugal. Logo, diferentemente dos hispano-americanos que se identificavam por

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aquilo que julgavam ser ("nosotros somos criollos"), os luso-americanos identificavam-se negativamente por aquilo que sabiam não ser ("nós não somos reinóis"). Isso é importante para compreendermos porque na América espanhola o processo foi muito mais revolucionário. Por aqui foi uma transição dinástica.Folha - Os portugueses não queriam criar uma nação, mas sim uma colônia.Novais - Exato. A colonização não começou com Cabral. Começou em 1532, com Martim Afonso de Souza. Reitero: a viagem de Cabral é importante, mas não é "Descobrimento".Folha - Quando as viagens começaram a ser denominadas como "Descobrimento"?Novais - Viagens no Atlântico existem sempre desde a alta Idade Média. Mas eram isoladas e de cabotagem. A partir dos séculos 15 e 16 elas aumentam de número, passam a se articular, levando a êxitos no reconhecimento do mundo, e são chamadas viagens de Descobrimentos.Folha - Qual a importância desse novo tipo de viagem?Novais - Até o século 16 as civilizações permaneciam insuladas. Não há nenhum contato entre as civilizações ameríndias (incas, maias e astecas) com as africanas. Não há nenhum contato dos africanos com os chineses. O processo de desinsulamento das civilizações não foi rápido nem excluiu a dominação. O insulamento foi superado, mas isso pode ocorrer de forma perversa. Desinsulou-se a África pelo tráfico. Começou um processo de integração que só hoje está chegando ao final. Esse desinsulamento não ocorreu de forma generalizada. Houve uma civilização, a cristandade ocidental medieval européia, que realizou os contatos e promoveu o desinsulamento. Isso envolve conquista, dominação, etc. Criticar os aspectos perversos não significa ignorar que os europeus estabeleceram o contato das civilizações.

Relativismo cultural

Se a razão material do surgimento e do desenvolvimento da atitude racista é o contato material, a convivência não procurada, e até mesmo forçada, ou a temida concorrência do mercado de trabalho, a predisposição mental da qual nasce o racismo é o chamado etnocentrismo, que defino a partir do admirável livro de Tzvetan Todorov (Nós e os outros), como aquela atitude de "nós" contra os "outros", que consiste em transformar, de modo indevido, em valores universais, os valores característicos da sociedade a que pertencemos, ainda quando esses valores nascem de costumes locais, particularísticos, com base nos quais é incorreto, para não dizer insensato e até mesmo ridículo, falar em nossa superioridade com respeito aos que pertencem a um grupo étnico de costumes diversos, igualmente particularísticos.Todo povo tende a considerar a si mesmo como civilizado e rejeita os outros povos como bárbaros.(..) Existe também um etnocentrismo mitigado, segundo o qual não temos razão alguma para abandonar nossos valores, ainda que eles não pretendam ser universais, fato de que somos conscientes. Deste etnocentrismo menos arrogante, nasce o chamado relativismo cultural. Não existem povos superiores ou inferiores. Cada um tem seus valores e se fixa neles. Uma atitude desse tipo não produz aversão, mas, quando muito, separação..

BOBBIO, Noberto. Elogio da Serenidade e outros escritos moraisSão Paulo: Unesp, 2002.

O Relativismo Cultural é uma ideologia político-social que defende a validade e a riqueza de qualquer sistema cultural e nega qualquer valorização moral e ética dos mesmos.

O relativismo cultural defende que o bem e o mal são relativos a cada cultura. O "bem" coincide com o que é "socialmente aprovado" numa dada cultura. Os princípios morais descrevem convenções sociais e devem ser baseados nas normas da nossa sociedade. Contudo, é importante frisar que o relativismo moral não pode ser confundido com o relativismo moral (o que é certo e o que é errado depende de um ponto de vista).

Relativismo cultural é o princípio que prega que uma crença e/ou atividade humana individual deva ser interpretada em termos de sua própria cultura. Seguindo esse princípio, seria proibido julgar uma cultura de fora, a partir dos valores de outra cultura.

Esse princípio foi estabelecido como axiomático na pesquisa antropológica de Franz Boas nas primeiras décadas do século 20 e, mais tarde, popularizada pelos seus alunos. O próprio Boas não usou tal termo, que acabou ficando comum entre os antropólogos depois da sua morte, em 1942. A primeira vez que o termo foi usado foi em 1948, na revista American Anthropologist. O termo em si representa como os alunos de Boas resumiram suas próprias sínteses dos vários princípios ensinados por Boas.

Ao contrário da postura etnocêntrica, a postura do relativismo cultural defende que:

(a) cada cultura tem especificidades próprias, resultantes de fatores sócio-históricos que definem a identidade dos seus membros; por isso

(b) não é admissível a existência de culturas superiores e inferiores; e

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(c) uma cultura não pode ser compreendida de fora, ou seja, não podemos impor nossos conceitos e parâmetros culturais para julgar uma cultura diferente da nossa.

Na história da antropologia, o relativismo surgiu como reação ao etnocentrismo e ao evolucionismo social (teoria evolucionista). O etnocentrismo evolucionista privilegiava a objetividade na investigação de outras culturas, ignorando atitudes de respeito pela identidade e pela diferença culturais.

O relativismo cultural constitui uma contribuição importante para a antropologia e para o processo de aprendizagem multicultural, já que desenvolveu técnicas de investigação das complexidades e da diversidade cultural.

O relativismo cultural defende a validade e a riqueza de qualquer sistema cultural e nega qualquer valorização moral e ética dos mesmo. Não podemos, dessa formar, comparar culturas, no sentido de conferir maior valor a uma ou outra. São todas equivalentes. Em suas manifestações mais extremas, o relativismo chega a comparar o vudu com a ciência ocidental e a legitimar a poligamia, sacrifícios.

A posição relativista já foi criticada por defensores dos direitos humanos, que consideram certos hábitos de determinados povos como um atentado aos direitos básicos do ser humano, tal como a extração do clitóris feminino em determinadas tribos africanas.

Multiculturalismo

Multiculturalismo (ou pluralismo cultural) é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem que uma delas predomine, porém separadas geograficamente e até convivialmente no que se convencionou chamar de “mosaico cultural”.

O Canadá e a Austrália são exemplos de multiculturalismo; porém, alguns países europeus advogam discretamente a adoção de uma política multiculturalista. Em contraponto ao multiculturalismo, podemos constatar a existência de outras políticas culturais, como o monoculturalismo (vigente na maioria dos países do mundo) e ligada intimamente ao nacionalismo. Esta política monocultural defende apenas a assimilação dos imigrantes e da sua cultura nos países de acolhimento. Há ainda o Melting Pot, como é o caso dos Estados Unidos e do Brasil, onde as diversas culturas estão misturadas e amalgamadas sem a intervenção do Estado.

O multiculturalismo implica em reivindicações e conquistas das chamadas minorias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras). A doutrina multiculturalista da ênfase a idéia de que as culturas minoritárias são discriminadas, sendo vistas como movimentos particulares, mas elas devem merecer reconhecimento público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais).

A política multiculturalista visa resistir à homogeneidade cultural, principalmente quando esta homogeneidade é considerada única e legítima, submetendo outras culturas a particularismos e dependência. Sociedades pluriculturais coexistiram em todas as épocas, e hoje, estima-se que apenas 10 a 15% dos países sejam etnicamente homogêneos.

A diversidade cultural e étnica muitas vezes é vista como uma ameaça para a identidade da nação. Em alguns lugares o multiculturalismo provoca desprezo e indiferença, como ocorre no Canadá entre habitantes de língua francesa e os de língua inglesa.

Mas também pode ser vista como fator de enriquecimento e abertura de novas e diversas possibilidades, como confirmam o sociólogo Michel Wieviorka e o historiador Serge Gruzinski, ao demonstrarem que o hibridismo e a maleabilidade das culturas são fatores positivos de inovação.

Grupos Étnicos-Culturais

Um grupo étnico é um grupo de pessoas que se identificam umas com as outras, ou são identificadas como tal por terceiros, com base em semelhanças culturais ou biológicas, ou ambas, reais ou presumidas.

Tal como os conceitos de raça e nação, o de etnicidade desenvolveu-se no contexto da expansão colonial européia, quando o mercantilismo e o capitalismo promoviam movimentações globais de populações, ao mesmo tempo que as fronteiras dos estados eram definidas mais clara e rigidamente. No século XIX, os estados modernos, em geral, procuravam legitimidade reclamando a representação de nações. No entanto, os estados-nação incluem sempre populações indígenas que foram excluídas do projeto de construção da nação, ou recrutam trabalhadores do exterior das suas fronteiras. Estas pessoas constituem tipicamente grupos étnicos.

Consequentemente, os membros de grupos étnicos costumam conceber a sua identidade como algo que está fora da história do estado-nação – quer como alternativa histórica, quer em termos não-históricos, quer em termos de uma ligação a outro estado-nação. Esta identidade expressa-se muitas vezes através de "tradições" variadas que, embora sejam frequentemente invenções recentes, apelam a uma certa noção de passado.

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Os grupos étnicos às vezes são sujeitos às atitudes e às ações preconceituosas por parte do Estado ou por seus membros. No século XX, os povos começaram a discutir que conflitos entre grupos étnicos ou entre membros de um grupo étnico e o Estado podem e devem ser resolvidos de duas maneiras. Alguns, como Jürgen Habermas e Bruce Barry, discutiram que a legitimidade de Estados modernos deve ser baseada em uma noção de direitos políticos para sujeitos individuais autônomos. De acordo com este ponto de vista o Estado não pode reconhecer a identidade étnica, nacional ou racial e deve preferivelmente reforçar a igualdade política e legal de todos os indivíduos.

Outros, como Charles Taylor e William Kymlicka, argumentam que a noção do indivíduo autônomo é ela própria um construto (invenção) cultural, e que não é nem possível nem correto tratar povos como indivíduos autônomos. De acordo com esta opinião, os estados devem reconhecer a identidade étnica e desenvolver processos nos quais as necessidades particulares de grupos étnicos possam ser levadas em conta no contexto de um estado-nação.

EtnicidadeEtnicidade é o termo usado para designar as características culturais que ligam um grupo particular

de pessoas, ou grupos, internamente. Algumas vezes etnicidade é usado incorretamente para referir-se a uma minoria ou a uma raça.

Embora não possam ser considerados como iguais, o conceito de raça é associado ao de etnia. A diferença reside no fato de que etnia também compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, a afiliação tribal, a Religião, a língua e as tradições, enquanto raça compreende apenas os fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura e traço facial.

Fatores de Classificação Etnográficos

Língua - Tem sido muitas vezes utilizada como fator primário de classificação dos grupos étnicos, embora sem dúvida não isenta de manipulação política ou erro. É preciso destacar também que existe grande número de línguas multi-étnicas e determinadas etnias são multilingües.

Cultura - A delimitação cultural de um grupo étnico, com respeito aos grupos culturais de fronteira, se faz dificultosa para o etnólogo, em especial no tocante a grupos humanos altamente comunicados com seus grupos vizinhos. Elie Kedourie é talvez o autor que mais tenha aprofundado a análise das diferenças entre etnias e culturas.Geralmente se percebe que os grupos étnicos compartilham uma origem comum, e exibem uma continuidade no tempo, apresentam uma noção de história em comum e projetam um futuro como povo. Isto se alcança através da transmissão de geração em geração de uma linguagem comum, de valores, tradições e, em vários casos, instituições.Embora em várias culturas se mesclem os fatores étnicos e os políticos, não é imprescindível que um grupo étnico conte com instituições próprias de governo para ser considerado como tal. A soberania, portanto, não é definidora da etnia, mas se admite a necessidade de uma certa projeção social comum.

Genética - É importante considerar a genética dos grupos étnicos se devemos distingui-los de um grupo de indivíduos que compartilham unicamente características culturais. Estas características genéticas foram desenvolvidas durante o processo de adaptação daquele grupo de pessoas a determinado espaço geográfico ou ecossistema (Englobando Clima, altitude, flora e fauna) ao longo de várias gerações.As etnias geralmente se remetem a mitos de fundação que revelam uma noção de parentesco mais ou menos remoto entre seus membros. A genética atual tende a verificar a existência dessa relação genética, porém as provas estão sujeitas a discussão.

Leitura Extra – A polêmica do Relativismo Cultural

Relativismo ou universalismo das leis sobre direitos humanosSérgio de Oliveira Netto

Uma das mais antigas e acirradas controvérsias no campo dos direitos humanos está relacionada à questão sobre o caráter universal ou relativo destes direitos. Noutras palavras, se os direitos humanos internacionalmente reconhecidos, devem merecer tratamento igualitário em todas as nações, ou se eles estão sujeitos a variações de classificações hierárquicas de acordo com as diferentes bases culturais sobre as quais se desenvolveu uma sociedade.

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No alicerce da retórica sobre direitos humanos, existe a premissa de que a natureza humana é universal e comum a todos os indivíduos. E realmente de outra maneira não poderia ser pois, se assim não fosse, seria ilógico preconizar a existência de uma declaração universal de direitos.

Neste contexto, pode-se afirmar que a doutrina universalista haure seus fundamentos das concepções advindas da teoria do direito natural. Segundo esta doutrina, estas leis naturais estabeleceriam certos direitos inerentes a todos os seres humanos e representariam, via de conseqüência, uma lei superior, que seria considerada o parâmetro supremo a ser observado na elaboração das normas nacionais e internacionais referentes à dogmática humanística.

Para os universalistas, existiria um conjunto de direitos mínimos herdados por todos os povos. Estas prerrogativas mínimas iriam além das divergências culturais, e deveriam funcionar como verdadeiro norte magnético na confecção das leis sobre direitos humanos. Estas regras elementares forneceriam diretrizes a serem perseguidas para a proteção dos integrantes de uma sociedade. O resultado de se terem regras básicas estabelecidas para à defesa da dignidade do ser humano, por intermédio de um organismo internacional representativo de todas as nações, ou pelo menos de sua quase totalidade, como por exemplo, a Organização das Nações Unidas, seria não só a sua larga aceitação, mas também sua vasta aplicabilidade entre os diversos povos.

Desta forma, a aceitação dos direitos humanos como inerentes a todos os indivíduos, não importando suas nacionalidades, nos termos dos contornos que lhe forem traçados pelos organismos internacionais, aparece como um dos pressupostos indispensáveis à sua real implementação. Isto em razão de que, sendo-se conivente com eventuais graduações destes direitos, como o querem os paladinos do relativismo cultural, ter-se-ia uma constante ameaça à efetiva proteção que se pretende ofertar aos indivíduos, inobstante suas procedências.

Isto não implica, é curial que se ressalte, que não se deva aceitar algum tipo de influência regional na aplicação destas normas. Em verdade, apenas a essência, o valor em última instância assegurado, deveria ser promovido e custodiado similarmente entre todos os povos. A título de ilustração, cite-se o exemplo do direito a um julgamento justo, no qual todas as garantias decorrentes do devido processo legal fossem asseguradas. Neste caso, estas prerrogativas poderiam ser preservadas tanto pelo julgamento de um júri popular, no qual leigos são chamados a participar, como naquele em que o encarregado de proferir o veredicto fosse um agente oficial, legitimamente investido pelo estado para dirimir as questões que lhe chegassem ao conhecimento. O que se colima, tanto num caso como noutro, é a rigorosa observância do direito, que propicie a escorreita aplicação da lei.

Os partidários do relativismo cultural, por sua vez, insistem que as normas concernentes aos direitos humanos devem ser consideradas, e aplicadas, de acordo com os diferentes contextos culturais formadores das sociedades. Os adeptos desta corrente tentam impor a concepção de que, existe uma imensa variedade cultural entre as inúmeras sociedades que se encontram espalhadas pelo Globo e, por conseguinte, todas as espécies de costumes locais precisariam ser reputados válidos. Não seria correto eleger um reduzido número de modelos culturais, que seriam tidos como padrões universais e, fulcrados neles, passar a avaliar e a estigmatizar todas os outros que com eles não se coadunassem.

A dignidade humana continuaria sendo um relevante princípio a ser preservado mas, ao contrário dos universalistas, muitas vezes rotulados como defensores das ideologias ocidentais, e que procuram oferecer guarida a esta dignidade por intermédio de uma mentalidade voltada para os direitos individuais, a doutrina relativista tem-se utilizado mais de uma abordagem coletiva de proteção a esta mesma dignidade, através de interações com a própria sociedade, que policia as ações dos indivíduos. Este é o motivo porque severos controles comportamentais pela comunidade são permitidos.

Em verdade, isto equivaleria a dizer que, a própria estrutura social possui seus mecanismos internos para amparar seus cidadãos, não obstante o fato de que estes instrumentos possam não corresponder àqueles empregados no ocidente. E, assim sendo, as diretrizes protetivas delineadas pelas normas internacionais sobre direitos humanos seriam não somente desnecessárias, mas também inapropriadas para prevenir e reprimir eventuais violências perpetradas contra os seres humanos. Representaria mesmo uma medida contraproducente posto que, ao se tentar impor valores externos sobre culturas locais, deflagrar-se-ia um inevitável sentimento de rejeição a tais ideais, o que dificultaria ainda mais o seu processo de universalização.

Os relativistas, ademais, preconizando a inadequação das normas sobre direitos humanos tal como postas atualmente, argumentam que elas estão localizadas no lado universalista da disputa. Neste ponto, em verdade, assiste-lhes razão porque, realmente, os textos básicos de legislações humanísticas, como a Declaração Universal sobre Direitos Humanos, assim como as duas Convenções sobre direitos políticos e sociais, apenas descrevem estes direitos em termos genéricos. Cite-se, por exemplo, as expressões "todos" tem o direito à liberdade, "todas as pessoas" são iguais perante a lei, "ninguém" pode ser submetido à tortura, e assim por diante. Apesar de ser possível encontrar manifestações de relativismo cultural em alguns repositórios normativos regionais, como é a hipótese da Carta Africana sobre Direitos Humanos e das Pessoas.

Um grande obstáculo a ser superado, talvez o maior, para se conseguir uma mais ampla aceitação dos direitos humanos internacionalmente reconhecidos, é o que se refere a assertiva de que, esta dialética

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humanística é uma concepção originariamente nascida no ocidente e, conseguintemente, não espelharia a realidade dos países orientais.

Não há dúvida, é cediço, de que esta visão tutelar do ser humano tem como berço o mundo ocidental. A fonte única e primária das idéias de liberdade individual, democracia, direitos humanos bem como outras prerrogativas do gênero é, irretorquivelmente, o ocidente ou, mais precisamente, a Europa. Isto não permite se inferir, contudo, que as demais nações não devem adotá-las e reforçá-las apenas por este motivo. Este tipo de rivalidade e preconceito, infelizmente, tem sido muitas vezes o grande fator inibidor da adoção de um sistema cosmopolita de proteção ao ser humano que auferisse ressonância universal. O que demanda, conseqüentemente, sua incontinente eliminação, em prol da própria humanidade, que ruma para o terceiro milênio sequiosa da consolidação de um mundo mais justo, apoiado na harmonia entre os povos.

Outro relevante argumento proposto objetivando refutar estes padrões ocidentais, assenta-se na própria história da formulação de grande parte dos instrumentos concernentes aos direitos humanos. Muitos países da África e da Ásia, à guisa de exemplo, não participaram da redação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois eram colônias à época e, desta forma, não eram considerados membros das Nações Unidas.

Ao tempo em que eles passaram a tomar parte na discussão e codificação dos textos subseqüentes, eles o fizeram com esteio num já sedimentado arcabouço de normas, e de acordo com concepções filosóficas encampadas nas suas ausências. Pode-se mencionar, ilustrativamente, a preconcebida infra-estrutura ora vigente, que favorece os direitos individuais relacionados à liberdades civis e políticas, e menospreza os alcunhados direitos sociais, como o direito ao desenvolvimento e o de acesso aos bens de consumo gerados pelo sistema produtivo da economia de mercado.

À evidência, o pensamento humanístico na seara do direito, em razão do seu próprio nascedouro, não é uma ideologia universal, com repercussão equivalente entre todas as etnias. Não significando, entretanto, que ela não deva ser mundialmente chancelada. Outrossim, parece inequívoco, proclamar pura e simplesmente a universalidade dos direitos humanos seria algo como que introduzir, sub-repticiamente, um Cavalo de Tróia em outras civilizações e, então, obrigá-las adotar certo modo de pensar, sentir e viver, como se o reconhecimento destes valores fosse a solução final para todos os males. Ou seja, o que seria universalismo para muitos dos países do ocidente, poderia se apresentar como imperialismo para os demais que não integrassem este bloco, notadamente os pertencentes à cultura oriental do hemisfério leste.

Ademais, os próprios defensores do universalismo são, muitas das vezes, contraditórios na abordagem que fazem da questão em relação a determinados temas ou países, o que torna ainda mais tortuoso o lento caminho a ser trilhado no processo de conscientização internacional. É a conhecida e reprovável aproximação dos dois pesos e duas medidas (double standard), que se verifica, verbi gratia, com a proposição de não proliferação de armas de destruição em massa impingida à países como Irã e Iraque, mas não para Israel; ou o que se assistiu na invasão contra os proprietários de poços de petróleo no Kuwait, repelida com uma ingente operação militar, ao passo que os sem-petróleo da Bósnia eram deixados à própria sorte ante a limpeza étnica que grassava em seu território; ou ainda a inexplicável repreensão à China pelos seus baixos indicadores de defesa dos direitos humanos, que não encontra similar tratamento quando a envolvida é a Arábia Saudita.

Entretanto, inobstante todas as precariedades elencadas, num mundo globalizado como o de hoje, no qual existem modernos meios de comunicação e transporte, as interações entre civilizações tornaram-se uma constante, o que redundará numa permuta de valores culturais cada vez mais acentuada, e até certo grau, desejável. O que acarretará, é o que se espera, uma maior predisposição à tolerância por parte dos diferentes povos no que toca o ideal de proteção à dignidade humana em todas as suas facetas. Para que, enfim, possa ser estabelecido, definitivamente, um código comum de normas, que galgue aceitação em todas as nações, que viria a proporcionar uma proteção mais eficaz dos direitos inerentes à pessoa humana, independentemente de sua linhagem racial.

Sérgio de Oliveira Netto é Procurador Federal em Joinville (SC), professor de Direito Penal da Universidade da Região de Joinville (Univille), mestre em Direito Internacional com concentração no campo dos Direitos Humanos pela American University (Washington College of Law).

4. Preconceito e o Mito da Democracia Racial no Brasil

Contrariando o senso comum, que nos ensinou ao longo dos anos que a sociedade brasileira é o resultado da mistura das raças aqui reunidas e nos ajudou a construir a auto-imagem do Brasil como país homogêneo e indiferenciado, as políticas de ação afirmativa têm suscitado uma grande discussão. A que tem causado a maior polêmica, sem dúvida, é a política de cotas. Isto é, a polêmica só aparece quando as cotas são destinadas aos afro-descendentes e indígenas. Porque as cotas já vêm sendo adotadas em vários segmentos da sociedade. Temos cotas para deficientes, idosos (no transporte rodoviário) e mulheres. Aparentemente o problema não reside na política de cotas em si mesma e sim para quem as cotas estão sendo destinadas. Para DOMINGUES, “a discussão das cotas já tem o mérito de revelar a

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cara e a voz do nosso racismo.” A inclusão da questão das desigualdades étnico-sociais históricas da sociedade brasileira na agenda pública nacional (e também na internacional) ganhou substância em 2001 quando dos preparativos para Conferência Mundial Contra o Racismo (CMR) na África do Sul, onde o debate público se intensificou. A exclusão do afro-brasileiro já não é mais um mito, as estatísticas não permitem disfarçar que a diferenciação existe. Portanto a democracia racial brasileira tão propalada, através de muita luta do movimento negro, está sendo posta em cheque e o reconhecimento do caráter pluriétnico da sociedade pelo governo. Essa é a essência da questão, a desmistificação da democracia racial brasileira, esta não existe nem nunca existiu e o governo no âmbito dos seus três poderes tem promovido esse reconhecimento através de ações de discriminação positiva.

(Adaptado de O fim do mito da democracia racial brasileira: Sociedade miscigenada x sociedade pluriracial).

Segundo Martiniano J. Silva , o racismo no Brasil foi implantado através do mito da democracia racial. Alega que tal modalidade de racismo, mascarado de status liberal e democrático, conseguiu efetivar-se com grande eficácia, alcançando, através de sua dissimulação, prestígio interno e externo.

Carlos Hasenbalg afirma que desde o final do Segundo Império e início da República já se acreditava que o Brasil teria escapado do problema do preconceito racial. Explica que tal concepção tem origem na comparação feita com a situação racial observada no Estados Unidos da América daquela época.

Hasenbalg acrescenta que conclusões semelhantes eram tomadas pelas elites de outros países da América Latina, quando comparavam suas realidades com a estadunidense. Entretanto, diferentemente dos padrões raciais encontrados nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países latino-americanos, estas parecem possuir dois pontos centrais:

O embranquecimento, ou ideal do branqueamento, entendido como um projeto nacional implementado por meio da miscigenação seletiva e políticas de povoamento e imigração européia.

O segundo é a concepção desenvolvida por elites políticas e intelectuais a respeito de seus próprios países, supostamente caracterizados pela harmonia e tolerância racial e a ausência de preconceito e discriminação racial.

Thomas E. Skidmore entende que a tese do branqueamento baseia-se na presunção da superioridade branca. Afirma que essa corrente vê na miscigenação a saída para tornar a população mais clara, por acreditar que o gene da raça branca prevaleceria sobre as demais e que as pessoas em geral procurariam por parceiros mais claros do que elas. Assim afirmavam que o branqueamento produziria uma população mestiça sadia, capaz de tornar-se sempre mais branca, tanto cultural como fisicamente.

Por esse motivo, segundo Florestan Fernandes, o ideal da miscigenação era tido como um mecanismo mais ou menos eficaz de absorção do mestiço. O essencial, no funcionamento desses mecanismos, não era nem a ascensão social de certa porção de negros e de mulatos, nem a igualdade racial, mas, ao contrário, a hegemonia da raça dominante.

Refletindo o ideal citado, João Batista de Lacerda, diretor do Museu Nacional, e único latino-americano a apresentar um relatório no I Congresso Universal de Raças, em Londres, no ano de 1911, chegou a afirmar que:

no Brasil já se viram filhos de métis apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da raça branca [...]. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por influência dos atavismo (...) mas a influência da seleção sexual (...) tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os traços da raça negra (...) Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio.

O ideal da miscigenação adquire nova roupagem, segundo Martiniano J. Silva, com a obra “Casa Grande e Senzala”, escrita pelo historiador e sociólogo Gilberto Freyre, passando a ser vista como mecanismo de um processo, o qual tem como fim a democracia racial.

Segundo Clóvis Moura, Gilberto Freyre caracterizou a escravidão no Brasil como composta de senhores bons e escravos submissos. O mito do bom senhor de Freyre é uma tentativa no sentido de interpretar as contradições do escravismo como simples episódio sem importância, e que não teria o poder de desfazer a harmonia entre exploradores e explorados durante aquele período.

Explica Martiniano J. Silva que a miscigenação é um velhíssimo processo de enriquecimento racial e cultural dos povos, capaz de gerar civilizações, e que ocorre de forma livre e democrática. Afirma que historicamente a miscigenação de raças no Brasil “nunca foi tratada e nunca existiu como um processo livre, espontâneo, e, portanto, natural, de união entre dois povos.” Ao contrário, como reafirma Silva, a dignidade da mulher negra foi violentada, atingindo sua honra no âmbito moral e sexual, através de uniões mantidas a

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força, sob a égide do medo, da insegurança, onde as crianças eram concebidas legalmente sem pai, permanecendo no status de escrava, não havendo assim nenhum enriquecimento racial e cultural de civilização alguma. Conclui dizendo que é preciso que não se confunda a descaracterização de um povo pela violência sexual com a hipótese de uma democracia racial.

Seduzidos por esse mito da democracia racial no Brasil, relata Sylvio Fleming Batalha da Silveira que os cientistas sociais estado-unidenses Donald Pierson e Marvin Harris, realizaram em 1945 e 1967, respectivamente, estudos sobre as relações sociais no Brasil. Apesar de inicialmente, segundo Silveira, terem constatado a grande disparidade existente entre negros e brancos no que se refere à localização na estratificação social, continuaram, entretanto, alimentando o mito da democracia racial.

Como esclarece Silveira, a comparação com os Estados Unidos da América foi a tônica dos estudos dos dois pesquisadores. Ao constatar a inexistência de um sistema racial claramente bipolar, como nos Estados Unidos, Pierson concluiu que praticamente não havia problemas raciais no Brasil. Harris, embora não comungasse da idéia de um “paraíso tropical”, classificou a discriminação existente como de classe e não de raça. Assim, nessa visão, o indivíduo negro ocupava as posições mais baixas na estratificação social, não porque sofresse discriminação de raça, mas sim pela condição de pobreza de seus ancestrais.

Analisa Silva que tais conclusões tomadas pelos estado-unidenses, se devem ao fato de não disporem de elementos históricos e críticos para avaliarem a realidade brasileira, aceitando, dessa maneira, facilmente a idéia de que predominava no Brasil o preconceito de classe e não o de raça. Assim, segundo o autor, “só acidentalmente, e sem nenhuma relevância, existiria o fato de que o negro e o mulato concentram-se nas classes proletárias ou mais pobres do campo e da cidade, da pequena e da grande aglomeração urbana”.

O ideal do embranquecimento, relata Hasenbalg, criou raízes profundas na sociedade brasileira, levando o próprio negro a sua autonegação. Expõe que a hierarquização das pessoas em termos de sua proximidade a uma aparência branca, ajudou a fazer com que indivíduos de pigmentação escura desprezassem a sua origem africana, cedendo assim a forte pressão do branqueamento, levando-os a fazer o melhor possível para parecerem mais brancos.

Enfatiza que tais tentativas da população negra de se aproximar tanto quanto possível do extremo branco, levou a uma fragmentação das identidade raciais.

Clóvis Moura, apresentando uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE no recenseamento de 1980, verificou que os não brancos, ao serem inquiridos sobre qual seria a sua cor, tiveram dificuldade em assumir sua condição de negros ou mestiços, surgindo nas respostas um total de cento e trinta e seis cores diferentes. Para Moura, tal resultado indica que o brasileiro foge da sua realidade étnica, procurando, através de simbolismos de fuga, situar-se o mais próximo do modelo tido como superior e levanta o seguinte questionamento:

O que significa isto em um país que se diz uma democracia racial? Significa que, por mecanismos alienadores, a ideologia da elite dominadora introjetou em vastas camadas de não-brancos os seus valores fundamentais. Significa, também, que a nossa realidade étnica, ao contrário do que se diz, não iguala pela miscigenação, mas, pelo contrário, diferencia, hierarquiza e inferioriza socialmente de tal maneira que esses não-brancos procuram criar uma realidade simbólica onde se refugiam, tentando escapar da inferiorização que a sua cor expressa nesse tipo de sociedade. Nessa fuga simbólica, eles desejam compensar-se da discriminação social e racial de que são vítimas no processo de interação com as camadas brancas dominadoras que projetaram uma sociedade democrática para eles, criando, por outro lado, uma ideologia escamoteadora capaz de encobrir as condições reais sob as quais os contatos interétnicos se realizam no Brasil.

Na mesma linha de pensamento de Moura, Silva complementa dizendo que o mito da democracia racial, construído teoricamente nos argumentos expostos por Gilberto Freyre em sua obra "Casa Grande e Senzala", introjetou no negro brasileiro a ideologia da culpa por seus imaginados e supostos defeitos, atribuindo-lhe a responsabilidade por seu dito complexo de cor. Dessa maneira, segundo o autor, foi imposta aos negros e seus descendentes a falsa impressão de que eram os únicos culpados por seu baixo nível social, econômico, cultural e político na sociedade brasileira.

A realidade revela o mito

Não é necessário grandes estudos para perceber quão desigual é a distribuição de oportunidades no Brasil, entretanto, quando se pretende uma análise científica sobre as questões sociais brasileiras, torna-se imprescindível que tal afirmação tenha respaldo em dados concretos.

No rol das desigualdades, os cidadãos da raça negra parecem estar entre os grandes prejudicados. Segundo dados do Censo de 2000, promovido pelo IBGE, o Brasil possui 169,8 milhões de habitantes, dentre os quais 76,4 milhões são pessoas negras (pardos e pretos), o que corresponde a 45% dos habitantes, o que tem levado à afirmação de que o Brasil seria a segunda maior nação negra do mundo fora do Continente africano, como informa Jaccoud e Beghin, o que tem sido contestado pelo movimento

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mestiço que entende esta idéia despreza as populações mestiças (pardas) de regiões como a Amazônia, onde os caboclos formam a absoluta maioria dos pardos, e também a auto-identificação dos mestiços afrodescendentes.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), constante na obra de Ricardo Henriques, um de seus pesquisadores, revelam que o Brasil possui um contingente de 53 milhões de pobres e 22 milhões de indigentes. Verificou-se que os negros em 1999 representavam 64% da população pobre e 69% da população indigente. Os brancos por sua vez, sendo 54% da população total brasileira, representavam somente 36% dos pobres e 31% dos indigentes.

Segundo o pesquisador Henriques o "nascer negro no Brasil está relacionado a uma maior probabilidade de crescer pobre." Recentemente, no dia 18 de novembro de 2005, a ONU apresentou um relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil que ratificou a declaração de Henriques.

Segundo o relatório, entre outros dados apresentados, o número absoluto de pobres no Brasil, com renda per capita inferior a R$75,00 no ano de 2000, diminuiu em 5 milhões entre os anos de 1992 e 2001, entretanto, os negros pobres, ao contrário da tendência, aumentou em 500 mil.

Revela ainda, baseado em dados do IBGE, que renda per capita dos brancos de 1980, ou seja, 341,71 reais corrigidos, era mais do que o dobro da renda auferidas pelos negros em 2000 (162,75 reais).

Tais desigualdades, segundo o relatório, demonstram que a democracia racial no Brasil não passa de um "mito", sugerindo, ao final, a aplicação de ações afirmativas, incluindo o sistema de cotas, a fim de corrigir os danos causados pelo racismo no Brasil.

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Questões

TEMA 5 – CULTURA E SOCIEDADE

QUESTÕES OBJETIVAS

JUL-2007QUESTÃO 58Considere a afirmação abaixo e assinale a alternativa que NÃO a completa corretamente.O discurso da publicidade reproduz as práticas de uma cultura de consumo, enfatizando o poder das marcas e se impondo como um modelo totalitário. A manipulação ideológica de noções como beleza, felicidade e a transformação do consumo em condição para a aceitação social são indicativos:A) da constituição do consumo como um discurso coerente, em que a propaganda se coloca como atividade manipuladora de signos.B) de um processo de transformação do próprio consumidor em mercadoria, em que o objeto-signo é agora sujeito.C) da mudança do estatuto do próprio objeto de consumo, que passa a possuir singularidade.D) de que o consumo, ao criar os sentidos do senso comum de forma hegemônica, fortalece as relações sociais.

FEV-2007QUESTÃO 55O humano está situado tanto na classe (de classificação) Natureza quanto na Cultura, já que a Cultura pode ser pensada como parte (compreendida pela) ou modalidade da Natureza. Ou ainda, para outros pesquisadores, a Cultura pode determinar a Natureza. A partir dessas observações, podemos concluir que:A) as duas afirmações são igualmente válidas, pois dependem da sociedade à qual se referem.B) a partir da segunda afirmação, a Natureza seria uma esfera autônoma da Cultura, mas necessariamente subjugada a ela.C) para ambas afirmações devemos partir do fato de que Natureza e Cultura, como conceitos, são produtos culturais e históricos.D) a distinção entre Natureza e Cultura equivale à distinção entre o aspecto objetivo do mundo e as crenças individuais.

JUL-2005QUESTÃO 54Acerca do etnocentrismo, é INCORRETO afirmar queA) é categoria central da antropologia, pois revela que as culturas devem ser relativizadas.B) seu poder de explicação sobre as diferenças culturais está assegurado pela percepção do “outro” centrada no “eu”.C) expressa uma apreensão, no plano do pensamento, da tendência que os grupos possuem de colocarem seus valores, visão de mundo e costumes como centro de tudo.D) o barbarismo é uma forma de se atribuir a confusão, a desarticulação, a desordem ao “outro”.

JUL-2006QUESTÃO 55O bem simbólico sofre, da mesma forma que os bens materiais, o resultado das transformações do capitalismo. A indústria cultural estrutura-se para se realizar em série, fazendo com que os produtos culturais virem mercadorias, conforme afirmação de Adorno e Horkheimer. Nesse sentido, pensando nos processos de produção e criação da indústria cultural, podemos afirmar queA) a indústria cultural é responsável pela homogeneização e pela massificação cultural, pois implica sua recepção homogênea pelos distintos segmentos sociais.B) a criação não está subordinada à produção como condição para o seu funcionamento.C) o produto da indústria cultural é hegemônico e recebido com passividade.D) o produto cultural não é elaborado por determinação do livre-arbítrio dos produtores, todavia mantém relações de significação com os receptores, sendo uma reordenação de signos presentes na cultura popular ou na erudita.

ABR-2006QUESTÃO 57De acordo com Adorno e Horkheimer, assinale a alternativa que caracteriza a indústria cultural.A) É um instrumento privilegiado no combate à alienação das massas.B) Democratiza a cultura ao se servir de tecnologia avançada.

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C) Desempenha, contemporaneamente, função semelhante à do Estado fascista.D) Revela, como indústria cultural, as significações do mundo para um número maior de pessoas.

JUL-2005QUESTÃO 54Acerca do etnocentrismo, é INCORRETO afirmar queA) é categoria central da antropologia, pois revela que as culturas devem ser relativizadas.B) seu poder de explicação sobre as diferenças culturais está assegurado pela percepção do “outro” centrada no “eu”.C) expressa uma apreensão, no plano do pensamento, da tendência que os grupos possuem de colocarem seus valores, visão de mundo e costumes como centro de tudo.D) o barbarismo é uma forma de se atribuir a confusão, a desarticulação, a desordem ao“outro”.

QUESTÃO 60Sobre a visão de Adorno e Horkheimer, pertencentes à Escola de Frankfurt, quanto à indústria cultural, assinale a alternativa correta.A) A prática da indústria cultural transfere a motivação do lucro às criações artísticas e espirituais.B) Ocorre uma efetiva democratização do conhecimento e da cultura.C) Elimina-se a reificação entre o consumidor e os bens culturais.D) Supera-se a distância entre o erudito e o popular.

JUL-2004Questão 54Uma das hipóteses científicas mais reconhecidas na Antropologia argumenta que a proibição do incesto estava presente na emergência da cultura, quando o homem deixou de ser apenas mais um animal social e se tornou um ser cultural, produtor de símbolos. Sobre este processo fundamental da humanidade, assinale a alternativa teórica INCORRETA.A) A proibição do incesto deve ser considerada como um dos fundamentos da cultura, conforme a concepção que as diversas sociedades têm da consangüinidade, do incesto, da exogamia e das regras de parentescos que as organizam.B) A proibição do incesto define-se como uma regra cultural praticamente universal, responsável pela exogamia observada na grande maioria das sociedades e que está na base do sistema de alianças por parentesco.C) A proibição do incesto é uma das regras culturais mais presentes nas sociedades humanas e faz parte do repertório crescente de desnaturalização dos costumes observado com clareza maior nas sociedades modernas.D) A proibição do incesto tornou-se uma regra cultural decorrente de nosso condicionamento genético, que leva as sociedades humanas à percepção de que a reprodução consangüínea provoca a degenerescência da espécie.

Questão 60A heterogeneidade da produção cultural manifesta-se pelo conjunto variado de produtores e receptores de bens culturais, situados em diferentes classes sociais, incluindo, entre muitos sujeitos, as empresas da indústria cultural, os agentes do Estado e os sujeitos das culturas populares. Entre as alternativas a seguir, assinale o argumento sociológico plausível para a sociedade brasileira contemporânea.

A) No âmbito da indústria cultural e das agências do Estado podem ser encontrados produtores e receptores de classes sociais diferentes que, a despeito de serem socialmente desiguais, não prescindem da produção e da recepção cultuarl dos sujeitos das classes populares para compor a hegemonia vigente.B) No âmbito da indústria cultural e do Estado são executadas políticas públicas que democratizam as aquisições culturais, como se observa nas estatísticas elevadas de acesso à televisão, ao rádio, aos jornais, à Internet, ao cinema, à aquisição de livros e de obras de arte para diferentes segmentos de consumidores. C) A 15ª Pesquisa Internet POP, realizada pelo IBOPE Mídia, revela que 26% da população brasileira têm acesso à Internet, índice obtido em cerca de dez anos, demonstrando que a aquisição cultural por via de meios informatizados do Estado tende a superar os obstáculos de classe em menos de 50 anos.D) Nas culturas populares, produtores e receptores mantêm sua originalidade quanto aos meios de produzir e de participar da aquisição cultural, evitando empregar os recursos massificantes da indústria cultural e do Estado, como se constata na produção de música sertaneja “de raiz” e nos rituais das folias de reis e congos.

JUL-2003QUESTÃO 52Sobre o etnocentrismo, considere as assertivas abaixo.

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I - É um dos fenômenos que dá origem e sustentação aos preconceitos. Trata-se de uma atitude cultural condicionada, baseada em fundamentos psicológicos sólidos e profundos de rejeição ao “outro”, culturalmente diverso.II - Consiste em repudiar as manifestações culturais (religiosas, morais, estéticas, sociais e outras) que mais se afastam daquelas com as quais nos identificamos. Daí, a tendência que nos leva a menosprezar condutas culturalmente diversas das nossas.III - Consiste em um fenômeno praticamente universal, pois é possível perceber atitudes etnocêntricas em todas as sociedades, à medida que cada uma tem, em sua cultura particular, valores próprios que induzem à rejeição de valores diferentes.IV - É um fenômeno histórico muito particular das sociedades ocidentais, que só se desenvolveu no período do colonialismo, quando os europeus tiveram contato com africanos, sociedades indígenas da América e aborígenes australianos.Marque a alternativa correta.A) I, II e IV são corretas.B) I, II e III são corretas.C) II, III e IV são corretas.D) III e IV são corretas.

QUESTÃO 53Um estudo sociológico concluído em 2003 por pesquisadores da PUC-Rio de Janeiro (Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil) mostra que a Igreja Católica perdeu quase 10% de seu rebanho de fiéis em nove anos, passando de 83,3% do total em 1991 para 73,9% em 2000. Constata, também, que essa perda se dá, em maior número, para as correntes evangélicas pentecostais, que cresceram de 6% do total de fiéis para 10,6% e para o grupo dos “sem religião”, que subiu de 4,7% para 7,4% da população brasileira. Outros dados informam que o islamismo, religião que mais cresce no mundo, não é significativo no Brasil, tendo apenas 27,2 mil seguidores, sendo menor que o judaísmo, com 87 mil, e o budismo, com 214,8 mil. Os seguidores da umbanda e do candomblé somam 515 mil e os espíritas 2,3 milhões.

Revista IstoÉ, 23 de abril de 2003.

Considerando esses dados, assinale a alternativa correta sobre o trânsito e a diversidade religiosa no Brasil,do ponto de vista sociológico. A) A diversidade religiosa no Brasil não fica clara pelos números citados, mas fica patente que o trânsito religioso dos que se declararam “sem religião” é muito maior do que o trânsito interno nas denominações cristãs e nas demais religiões.B) Os dados indicam uma diversidade religiosa crescente no Brasil, pois, pela primeira vez, foram quantificados os adeptos do islamismo, da umbanda e do candomblé, antes desconsiderados nas estatísticas sociais, em virtude do preconceito da fonte de dados.C) O crescimento das correntes evangélicas pentecostais dá-se por sua forte prática de conversão, mas a avaliação do trânsito religioso está restrita ao cristianismo, uma vez que os dados citados não detalham o crescimento ou a perda de seguidores das demais religiões.D) Os dados citados estão incorretos, porque não consideram a diversidade religiosa que se pode ver “a olho nu”, visto que as correntes evangélicas pentecostais cresceram muito mais, como se percebe por sua enorme visibilidade e presença no cotidiano.

QUESTÃO 54Interprete as assertivas abaixo, sobre o mito da democracia racial no Brasil.I - O mito da democracia racial no Brasil é um fenômeno relativamente recente, mais notado a partir dos anos 30 do século XX, quando se acentuou a incorporação de valores e símbolos culturais afro-descendentes à representação dominante da identidade nacional brasileira.II - O mito da democracia racial tem sido uma forma de etnocentrismo das mais notáveis no Brasil, a despeito de ser, ao mesmo tempo, das mais dissimuladas, procedendo a máxima do sociólogo Florestan Fernandes de que o brasileiro tem preconceito de ter preconceito.III - O mito da democracia racial foi forjado nos anos 30 do século XX, unicamente por intelectuais envolvidos na produção simbólica da indústria cultural, principalmente da televisão. Esses intelectuais visavam atingir um público consumidor de afro-descendentes, até então totalmente excluído do consumo de produtos simbólicos.IV - O mito da democracia racial sempre existiu no Brasil, conforme se pode observar nas literaturas de José de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Lima Barreto, bem como na produção sociológica do século XIX, cujo compromisso era demonstrar o valor das culturas africanas para a civilização brasileira.Marque a alternativa que apresenta os enunciados teoricamente plausíveis.A) Os enunciados I, III e IV, são teoricamente plausíveis.B) Os enunciados I e II são teoricamente plausíveis.C) Os enunciados II, III e IV são teoricamente plausíveis.

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D) Apenas o enunciado I é teoricamente plausível.

FEV-2003QUESTÃO 54Sobre o advento da indústria cultural e da cultura como mercadoria, assinale a alternativa correta.A) Em princípio, a cultura como mercadoria deve ser analisada como fenômeno da industrialização, resultante da aplicação dos princípios em vigor na produção econômica geral das sociedades capitalistas, incluindo a reificação (coisificação) dos símbolos.B) Os bens culturais, enquanto mercadorias industrializadas, são produzidos em séries padronizadas, no sentido de alcançar todo o espectro social de consumidores, evitando, assim, o aparecimento de produtos com acesso restrito a certos segmentos sociais.C) A cultura como mercadoria industrializada não é um fenômeno historicamente determinado, uma vez que desde os primórdios da humanidade as diversas sociedades trocam bens materiais e simbólicos, como parte de seus processos de expansão social.D) Os bens culturais mercantis são bens simbólicos, são expressões significantes das culturas, constituindo parte das identidades de sociedades diversas. Por isso, pacificam os povos e unificam suas linguagens e formas de sociabilidade, como se vê na globalização.

QUESTÃO 60Uma das controvérsias mais presentes na análise dos diferentes conjuntos culturais das sociedades contemporâneas refere-se à existência de rituais e símbolos próprios das culturas populares em oposição a outros, classificados como próprios das culturas eruditas. Sobre tal oposição, assinale a alternativa INCORRETA.A) As culturas populares caracterizam-se por rituais e símbolos produzidos por sujeitos sociais heterogêneos e culturalmente diversos, cujas práticas, muitas vezes, são dominadas nas relações com agentes do Estado, das igrejas e das empresas.B) As culturas eruditas são unicamente aquelas expressões simbólicas produzidas com base nas tradiçõesgreco-romanas, resgatadas na arte do Renascimento e depois reproduzidas na Modernidade, mas que desapareceram com a Indústria Cultural.C) As culturas eruditas são assim classificadas por serem próprias a sujeitos sociais ilustrados, que produzem culturas com linguagens e técnicas supostamente mais sofisticadas e complexas, que as observadas nas culturas populares.D) As culturas populares, como expressões de sujeitos politicamente dominados nas sociedades capitalistas, têm seus rituais e símbolos apropriados pelos sujeitos dominantes, gerando as culturas populares massivas, consideradas sem erudição.

SET-2002QUESTÃO 45Considere a definição do conceito de cultura como sistema simbólico, presente na obra Cultura, um conceito antropológico de Roque Laraia (1992).Identifique as afirmações incorretas, marcando, a seguir, a alternativa correta I - A cultura é um fenômeno humano, sendo impossível para outros animais desenvolver a faculdade de simbolizar e transmitir os símbolos com a mesma complexidade e diversidade com que o fazem os seres humanos.II - A cultura é um fenômeno variado nas diversas sociedades humanas. Seu grau maior de evolução em alguns lugares e sua diversidade dependem da espécie particular de Homo sapiens sapiens encontrada em cada sociedade.III - A cultura é um fenômeno que varia conforme o maior ou menor favorecimento dos caracteres biológicose geográficos encontrados nas diferentes sociedades. Assim sendo, a diversidade cultural depende da maior capacidade de simbolizar o meio ambiente.IV - A cultura de cada sociedade é formada por sistemas de símbolos que variam, mas estes se instalam em um ser dotado de unidade biológica, o homem. Por isso, ao nascer, todo ser humano está biologicamente apto para ser socializado em qualquer cultura.A) I, II e III estão incorretas.B) II, III e IV estão incorretas.C) I, II e IV estão incorretas.D) II e III estão incorretas.

QUESTÃO 46Interprete o texto abaixo.A produção empresarial da arte “popular” – qualquer que seja a orientação ideológica e política de seus responsáveis – retira-lhe duas dimensões fundamentais. Alterando data, local de apresentação e a própria organização do grupo artístico, ela transforma em produto terminal, evento isolado ou coisa, aquilo que, em

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seu contexto de ocorrência, é o ponto culminante de um processo que parte de um grupo social e a ele retorna, sendo indissociável da vida desse grupo. Os gestos, movimentos e palavras, em que pese todo o aperfeiçoamento técnico possível, tendem a perder o seu significado primordial. Eles deixam de ser signos de uma determinada cultura para se tornarem “representações” que “outros” fazem dela. Através de um esforço realizado, em geral, em nome da estética e da didática, “enxugam-se” os eventos artísticos denominados “populares” de características consideradas inadequadas ou desnecessárias, sob o pretexto de revelar-lhes mais claramente a estrutura subjacente.

ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. Coleção Primeiros Passos nº. 36. São Paulo: Brasiliense, 1990, pp. 19-20.

Identifique a(s) afirmação(ões) teoricamente pertinente(s) e, a partir dela(s), analise os eventos artísticos das culturas populares. A seguir, marque a alternativa correta.I - O autor argumenta que os sujeitos da produção e da gestão dos eventos artísticos populares deixam de ser os sujeitos de criação da arte neles contida, ocorrendo, desse modo, uma alteração no processo e nos sentidos particulares que os engendrou.II - Ao argumentar que a produção empresarial da arte popular transforma os eventos populares em coisas, o autor quer mostrar a fragilidade simbólica da arte popular, demonstrando o seu desaparecimento inevitável.III - Os argumentos do autor são improcedentes, pois o folclore manteve inalterados os sentidos dos rituais das culturas populares, graças à alma simples, romântica e lírica do povo brasileiro, sem distinção de sexo,idade, classe, etnia, religião. IV - O autor não é claro quanto à posição sociológica dos sujeitos da produção, da gestão e da criação da arte popular. Muitas empresas podem produzir, administrar e criar arte popular, se têm a mesma identidade do povo brasileiro.A) I e IV são pertinentes.B) I e II são pertinentes.C) I e III são pertinentes.D) Apenas I é pertinente.

QUESTÃO 47Leia e interprete o texto abaixo, bem como as afirmações apresentadas.A indústria cultural e os meios de comunicação de massa penetram em todas as esferas da vida social, no meio urbano ou rural, na vida profissional, nas atividades religiosas, no lazer, na educação, na participação política. Tais meios de comunicação não só transmitem informações, não só apregoam mensagens. Eles também difundem maneiras de se comportar, propõem estilos de vida, modos de organizar a vida cotidiana,de arrumar a casa, de se vestir, maneiras de falar e de escrever, de sonhar, de sofrer, de pensar, de lutar, de amar.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. Coleção Primeiros Passos nº. 110, São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 69.

I - A indústria cultural define-se por uma forma específica de produção simbólica, essa produção é caracterizada por grandes inversões de capital em meios de produção tecnicamente sofisticados, por trabalhadores especializados, por oferta de bens e serviços diversificados, representando parte da produção cultural dominante nas sociedades atuais.II - A indústria cultural define-se por aprisionar os sujeitos sociais dominantes da produção cultural nas sociedades contemporâneas. É responsável pelo aparecimento do homem unidimensional e das massas alienadas, que não têm qualquer identidade cultural, por realizarem-se, unicamente, na sociedade de consumo.III - A indústria cultural e os meios de comunicação de massa são poderosos, pois controlam, de forma absoluta, todos os conteúdos das mensagens que emitem, padronizam definitivamente os sistemas simbólicos de todos os sujeitos sociais, homogeneizando e unificando a cultura global.IV - A indústria cultural e os meios de comunicação de massa são parte e propriedade autônoma do poder de Estado. São instrumentos de dominação carismática, individual e irracional para controlar os conflitos sociais, sendo impossível pensar seus produtos como parte da arte e da cultura das sociedades atuais.Marque a alternativa correta que apresenta a(s) afirmação(ões) teoricamente adequada(s) ao sentido do texto.A) I e IV são adequadas.B) Apenas II é adequada.C) I e II são adequadas.D) Apenas I é adequada.

MAR-2002QUESTÃO 45

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Leia o texto e o comentário apresentados a seguir.Apesar da existência de tendências gerais constatáveis nas histórias das sociedades, não é possível estabelecer seqüências fixas capazes de detalhar as fases por que passou cada realidade cultural. Cada cultura é o resultado de uma história particular, e isso inclui também suas relações com outras culturas, as quais podem ter características bem diferentes.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983, p.12.

Santos argumenta, ainda, que não se pode relacionar e comparar sociedades e culturas segundo critérios vigentes apenas em uma delas, quando investigamos suas realizações culturais. Com base nesses argumentos, assinale a alternativa correta quanto às seguintes afirmações:I - O conceito de evolução nas ciências sociais é relativo a experiências históricas diversas e não deve servir à hierarquização das sociedades por fases sucessivas de desenvolvimento a partir de critérios e seqüências etnocêntricas.II - O desenvolvimento das forças produtivas é o critério de evolução mais aceito em todas as teorias das ciências sociais e, por isso, tem validade científica irrefutável como bem o demonstra Max Weber.III - As fases de desenvolvimento cultural de cada sociedade particular podem ser percebidas, comparadas e avaliadas quando vemos os processos de imitação e reprodução cultural, que levam as culturas subdesenvolvidas ao desenvolvimento.IV - Sem afrontar os argumentos do texto podemos aceitar pelo menos que o sedentarismo e o nomadismo são experiências seqüenciais do desenvolvimento de todas as sociedades e culturas do planeta, tal como provam os historiadores.A) Apenas I é correta.B) II, III e IV são corretas.C) I, II e III são corretas.D) Apenas III é correta.

QUESTÃO 47No recente episódio de atentados terroristas às cidades de New York e Washington, nos EUA, os veículos da imprensa brasileira fizeram ampla cobertura através de matérias oriundas de agências internacionais de notícias e de seus correspondentes externos. Se tomarmos as características de produção seriada, próprias dos produtos da indústria cultural, podemos elaborar algumas proposições de ordem sociológica para investigação da abordagem do episódio pelos agentes da mídia.Considerando a leitura do texto acima, analise as proposições abaixo e, em seguida, marque a alternativa correta.I - As diversas fontes noticiosas nacionais e internacionais refletem também a presença de sujeitos, ações e interesses políticos diversos e, por isso, os conteúdos veiculados na imprensa oferecem opções para desvendar e apresentar os fatos segundo versões e opiniões diversas, apesar das características dominantes da indústria cultural.II - Diante da gravidade que o episódio pode ter para o contexto das relações internacionais, a imprensa buscou fontes noticiosas diversas em todas as nações e sujeitos sociais envolvidos, evitando a repetição e a espetacularização do episódio, bem como a formação de opiniões e tomada de posições políticas divergentes.III - Mesmo diante da profusão de fontes noticiosas sobre o episódio, certas tendências homogeneizadoras da indústria cultural prevaleceram, diferentemente do que ocorreu na Europa, em função dos interesses ligados ao mercado comum europeu.IV - As alternativas anteriores não são passíveis de formulação para investigação sociológica, uma vez que a imprensa é um fenômeno muito complexo da indústria cultural e os conteúdos que essa imprensa veicula devem ser objetos de estudo apenas da Ciência Política, cujos métodos são mais eficazes na abordagem desse tema.A) As alternativas I e II são corretas.B) Apenas a alternativa I é correta.C) As alternativas I, II e III são corretas.D) As alternativas II, III e IV são corretas.

JUL-2001QUESTÃO 46“Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro.”

LARAIA, Roque. Cultura, um conceito antropológico. 8ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando o texto acima, marque a alternativa correta acerca das afirmações abaixo.

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I) As sociedades tribais são tão eficientes para produzir cultura quanto qualquer outra, mesmo quando não possuem certos recursos culturais presentes em outras culturas.II) As sociedades selvagens são capazes de produzir cultura, mas estão mal adaptadas ao meio ambiente e, por isso, algumas nem sequer possuem o Estado.III) As chamadas sociedades indígenas são dotadas de recursos materiais e simbólicos eficientes para produzir cultura como qualquer outra, faltando-lhes apenas uma linguagem própria.IV) As chamadas sociedades primitivas conseguiram produzir cultura plenamente, ao longo do processo evolutivo, quando instituíram o Estado e as instituições escolares.A) I e II estão corretas.B) Apenas I está correta.C) I e III estão corretas.D) I e IV estão corretas.

QUESTÃO 48A indústria cultural tem sido objeto de intensos debates na sociedade e nas ciências sociais, marcados por duas posições básicas e divergentes. Há os que a consideram uma das bases do totalitarismo moderno, promovendo a alienação do homem, que se torna incapaz de analisar racionalmente seus produtos seriados, repetitivos e deteriorados, tais como os filmes de enredos violentos, a música popular massiva, as notícias curtas e superficiais. De outro lado, há os que a defendem como sistema que democratiza a cultura, por permitir a todos o acesso à informação e ao consumo de produtos simbólicos em geral, combatendo, portanto, a mesma alienação.

Cf. TEIXEIRA, Coelho. O que é indústria cultural. 13ª. Ed, São Paulo, Brasiliense, 1989.

Tendo em vista essas divergências, considere as alternativas que as expressam, tendo como referência o atual gênero musical popular funk no Brasil.I) O funk é, dentre outras coisas próprias da indústria cultural, resultado de uma estratégia de marketing da indústria fonográfica, que impõe o seu consumo sem nenhum senso crítico.II) O funk tornou-se um aliado de grupos sociais marginalizados por facultar-lhes a presença na mídia.III) O funk expressa cabalmente a identidade cultural da juventude em geral, não merecendo qualquer crítica dos que não o apreciam.IV) O funk, nascido espontaneamente nas periferias das grandes cidades, não necessitou do apoio da indústria cultural para tornar-se um gênero musical de consumo massivo.Assinale a alternativa correta.A) O argumento da alternativa II critica a indústria cultural e o da alternativa III não tem sentido.B) As alternativas I e II traduzem as posições teóricas divergentes sobre a indústria cultural.C) Os argumentos das alternativas I e III defendem a indústria cultural.D) Os argumentos das alternativas I e IV não são contraditórios.

JAN-2001QUESTÃO 47Assinale a alternativa que indica o emprego correto do conceito de cultura na perspectiva da antropologia.A) A cultura diz respeito aos atributos a-históricos que singularizam um povo.B) A cultura de um povo é determinada pelo meio natural.C) A cultura é herdada biologicamente e condiciona o comportamento dos povos.D) A cultura é uma forma de linguagem que tem origem simbólica.

QUESTÕES DISCURSIVAS

JAN-2008QUARTA QUESTÃOLeia o comentário do publicitário Roberto Duailibi.“Queremos valorizar a cultura brasileira não só como uma proteção interna mas de valorização da cultura brasileira fora das fronteiras do Brasil como grande produto de exportação”.

http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VVJ0-2756-42786,00.html. Acesso em 19/10/07.

Esse comentário demonstra que a cultura, atualmente, pode estar fortemente associada ao processo de globalização, ou mundialização como preferem alguns autores. Nesse sentido, faça o que se pede.

A) Cite, pelos menos, duas conseqüências que o fenômeno da globalização pode causar sobre a cultura.B) Indique para cada uma das conseqüências citadas o respectivo meio.

JUL-2007

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SEGUNDA QUESTÃOConsidere o fragmento.“Enquanto o Brasil não define a sua legislação sobre reprodução assistida, o destino vai se encarregando de traçar histórias que parecem ter saído de livros de contos de fada. Miete e Aparecida Fernanda, patroa e empregada doméstica, viraram mães de um mesmo bebê. O conselho Regional de Medicina de Minas Gerais após analisar o perfil psicológico das duas famílias autorizou Fernanda, que não tem nenhum vínculo familiar com a patroa, a emprestar o seu útero para realizar o sonho de Miete: ter seu bebê. É a chamada gravidez de substituição.”

Reportagem disponível em http://www.ghente.org/entrevistas/entrevista_gravidezsubst.htm. Acesso em 15-04-2007.

A partir dessa citação, analise a relação entre Natureza e Cultura.

QUARTA QUESTÃOA respeito da alienação e da revelação na indústria cultural, sintetize as posições da Escola de Frankfurt (notadamente Theodor Adorno e Max Horkheimer) e dos chamados integrados, segundo Umberto Eco.

FEV-2007PRIMEIRA QUESTÃOA relação entre Nós, grupo cultural e social ao qual se pertence, e os Outros, os que não fazem parte desse grupo, apresenta-se nos discursos através dos conceitos de universalismo, humanismo e etnocentrismo. A partir desta afirmação, explicite e desenvolva a relação entre etnocentrismo e universalismo.

JUL-2006PRIMEIRA QUESTÃOConsidere a citação abaixo e explique quais são as contribuições da idéia de superorgânico para se pensar o conceito de cultura, a partir da primeira metade do século XX. A preocupação de Kroeber é evitar a confusão, ainda tão comum, entre o orgânico e o cultural.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986, p. 38.

JUL-2005QUARTA QUESTÃOSintetize os argumentos dos chamados apocalípticos e integrados sobre as relações entre propaganda e consumo, de um lado, e, de outro, alienação e revelação.

JUL-2004QUARTA QUESTÃOSegundo um resumo teórico de STRINATI, Dominic. Cultura Popular: uma introdução. São Paulo: Editora Hedra, 1999, p. 27): “Podemos considerar que cultura de massa é a cultura popular produzida pelas técnicas de produção industrial e comercializada com fins lucrativos para uma massa de consumidores. É uma cultura comercial, produzida para o mercado. Seu crescimento admite um pequeno espaço para manifestações culturais como a arte e cultura folk, incapazes de render dinheiro e não passíveis de ser produzidas em larga escala para o mercado”.

Com base no conceito acima de cultura de massas, disserte sobre o período e as condições históricas em que se consolidou o processo de banalização e de descaracterização das manifestações da cultura popular no Brasil em face da indústria cultural, incluindo exemplos.

JAN-2004TERCEIRA QUESTÃONos versos da canção Brejo da Cruz, reproduzidos abaixo, Chico Buarque constrói, poeticamente, um panorama de alguns sujeitos com identidades culturais facilmente visíveis na sociedade brasileira.

A novidade / que tem no Brejo da Cruz / é a criançada / sealimentar de luz / Alucinados / meninos ficando azuis / e

desencarnando / lá no Brejo da Cruz / Eletrizados / cruzam oscéus do Brasil / Na rodoviária / assumem formas mil / uns vendemfumo / tem uns que viram Jesus / Muito sanfoneiro / cego tocando

blues / Uns têm saudade / e dançam maracatus / Uns atirampedra / outros passeiam nus / Mas há milhões desses seres /

que se disfarçam tão bem / que ninguém pergunta / de onde essagente vem / São jardineiros / guarda-noturnos, casais / Sãopassageiros / bombeiros e babás / Já nem se lembram / que

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existe um Brejo da Cruz / que eram crianças / e que comiam luz /São faxineiros / balançam nas construções / São bilheteiras /

baleiros e garçons / Já nem se lembram / que existe um Brejo daCruz / que eram crianças / e que comiam luz.

Considere os versos acima e disserte sobre quem são os sujeitos apresentados e como eles expressam a diversidade cultural no Brasil contemporâneo.

DEZ-2004SEGUNDA QUESTÃOConsidere o trecho abaixo, e responda as questões propostas.“É que a indústria cultural – na TV, no rádio, na imprensa, na música (particularmente a dita popular), nos fascículos, mas também nas escolas e nas universidades – é o paraíso do signo indicial, da consciência indicial”.COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. 16ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 62.

A) O que é consciência indicialB) Que tendência prevalece na consciência indicial e que relação ela tem como fenômeno da alienação

FEV-2003TERCEIRA QUESTÃOAo analisar o impacto da cultura na natureza animal do homem, o antropólogo norte-americano Clifford Geertz argumenta que:“O crescimento lento, constante, quase glacial da cultura através da Era Glacial alterou o equilíbrio das pressões seletivas para o Homo em evolução, de forma tal a desempenhar o principal papel orientador em sua evolução. O aperfeiçoamento das ferramentas, a adoção da caça organizada e as práticas de reunião, o início da verdadeira organização familiar, a descoberta do fogo e, o mais importante, (...) o apoio cada vez maior sobre os sistemas de símbolos significantes (linguagem, arte, mito, ritual) para a orientação, a comunicação e o autocontrole, tudo isso criou para o homem um novo ambiente ao qual ele foi obrigado a adaptar-se. (...) Somando tudo isso, nós somos animais incompletos e inacabados que nos completamos e acabamos através – não da cultura em geral, mas através de formas altamente particulares de cultura; dobuana e javanesa, Hopi e italiana, de classe alta e classe baixa, acadêmica e comercial”.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978, pp. 59-60.

Com base nestes argumentos, demonstre, com exemplos retirados do próprio texto, como o homem desnaturaliza suas condutas em comparação com as de outros animais.

QUARTA QUESTÃOO texto a seguir coloca alguns dos argumentos mais importantes e críticos em torno da indústria cultural, dapropaganda e do consumismo. “As atividades de lazer, a arte, a cultura de modo geral são filtradas pela indústria cultural: a recepção é ditada pelo valor de troca à medida que os valores e propósitos mais elevados da cultura sucumbem à lógica do processo de produção e do mercado. As formas tradicionais de associação na família e vida privada, bem como a promessa de felicidade e realização, o anseio por um ´Outro totalmente diferente`, que os melhores produtos da alta-cultura buscavam, são oferecidos como objetos inofensivos a uma massa atomizada, manipulada, que participa de uma cultura ersatz (substituível, de reposição fácil) produzida em massa e reduzida ao menor denominador comum. (...) Assim, as mercadorias ficam livres para adquirir uma ampla variedade de associações e ilusões culturais. A publicidade é especialmente capaz de explorar essas possibilidades, fixando imagens de romance, exotismo, desejo, beleza, realização, comunalidade, progressocientífico e a vida boa nos bens de consumo mundanos, tais como sabões, máquinas de lavar, automóveis e bebidas alcóolicas”.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995, pp. 32-33.

Considere os argumentos do texto e disserte sobre os problemas da indústria cultural, da propaganda e do consumismo nas sociedades capitalistas contemporâneas, usando exemplos apontados no texto e/ou de suas próprias experiências.

SET-2002QUARTA QUESTÃODisserte sobre as diferenças entre os conceitos de desigualdade social e diversidade cultural.

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JUL-2001PRIMEIRA QUESTÃODiscorra sobre o etnocentrismo, a partir do seguinte verso: “É que Narciso acha feio o que não é espelho.”

JAN-2001QUARTA QUESTÃOO respeito à diversidade cultural tornou-se consenso entre os cientistas sociais a partir dos estudos realizados em diferentes sociedades. Posteriormente tal atitude foi incorporada como um princípio por órgãos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas). Porém, os mesmos pesquisadores concluíram também que o respeito à diferença cultural não é a forma comum de os indivíduos atuarem no cotidiano. O etnocentrismo e o racismo são atitudes recorrentes em muitas sociedades.A) Qual a diferença conceitual entre racismo e etnocentrismo?B) Por que os cientistas sociais e órgãos internacionais entendem que tais práticas são inaceitáveis?

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UNIDADE VI - TRABALHO E PRODUÇÃO SOCIAL

1. Durkheim e a Divisão do Trabalho Social

A divisão do trabalho é um dos aspectos menos discutíveis das sociedades humanas, podendo ser encontrada mesmo em sociedades de outros animais, como as formigas e as abelhas. A partir do momento em que cada homem (ou animal) não tem mais condições de sozinho garantir a sua sobrevivência, é preciso que eles se organizem e estabeleçam uma distribuição de atividades que permita a produção dos bens necessários para a sua própria manutenção.

Nas sociedades contemporâneas a divisão do trabalho é gritante: há os que cuidam da segurança (policiais), os responsáveis pela produção (empresários e trabalhadores), aqueles ocupados com a educação (professores), para não falar em sacerdotes, juízes, médicos, etc.

Segundo Durkheim, a divisão do trabalho gera duas formas de solidariedade.

- Pela igualdade: os indivíduos que executam as mesmas tarefas reconhecem que têm pelo menos parte da personalidade em comum, e se unem em torno dela.

- Pela diferenciação das atividades entre os membros do grupo: para que elas promovam o bem-estar coletivo, é preciso que sejam feitas de forma complementar por cada homem, isto é, elas precisam estar interligadas.

A diferença básica entre o primeiro e o segundo tipo de solidariedade, que foram respectivamente chamadas por Durkheim de "mecânica" e "orgânica", consiste que na primeira a solidariedade é causada pela identificação entre elementos iguais, enquanto que na segunda ela é proporcionada pela coordenação de elementos diferentes.

Benefícios e malefícios da divisão do trabalho

Vista deste ângulo, a divisão do trabalho aparece como benéfica para a sociedade, uma vez que une os homens através de suas atividades. Mas na verdade ela também pode ser prejudicial. O próprio Durkheim demonstra que, se o processo de diferenciação de atividades que dá origem à solidariedade "orgânica" for muito acentuado, a coordenação entre elas não poderá ser feita de maneira eficaz.

Em outras palavras, a infinidade de ocupações distribuídas entre os homens impedirá que eles percebam a complementaridade entre elas. Esta diferenciação, que muitas vezes vem acompanhada de um crescente individualismo, é a base para a argumentação de Durkheim sobre a anomia e o suicídio, problemas que ele supõe aumentar com o advento da sociedade industrial.

2. Marx e a Produção Social como Desigualdade, Alienação e Conflito

Em sua crítica ao capitalismo, feita cinqüenta anos antes de Durkheim, Marx apresenta a divisão do trabalho como essencialmente má, destruidora das relações entre os homens e, portanto, promotora da alienação. Para Marx ocorrem duas divisões fundamentais:

- a separação entre meios de produção e força de trabalho; - a subdivisão do mesmo trabalho em diversas etapas (principalmente na linha de montagem).

Esta última, correspondente à compartimentação de uma mesma atividade em várias outras, ou seja, à especialização, impede que o homem saiba qual o resultado do seu esforço. Inviabiliza assim que os homens se relacionem através do produto de seus respectivos trabalhos. As diferenças entre essas

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perspectivas podem ser explicadas pelo fato de Marx restringir o uso do termo trabalho ao período posterior à Idade Média, enquanto que Durkheim aplica-o a todas as sociedades que existiram ou existem.

No entanto, é preciso deixar claro que a aplicação do termo trabalho a todas as atividades produtivas só ocorre a partir do fim do século passado. Antes disso era considerada trabalho apenas a ocupação na produção que exigisse gasto de energia: o comércio, a educação ou as artes não eram trabalhos. A utilização da palavra trabalho para qualquer atividade que necessita de esforço físico ou mental, antes ou durante a sua realização, é uma invenção do século XIX, e deriva da idéia de trabalho abstrato exposta por Ricardo e desenvolvida por Marx.

A divisão do trabalho está relacionada à separação e a especialização do trabalho. A revolução industrial, a partir da proliferação do uso de tecnologia na produção das mercadorias, tornou a sociedade mais dividida e, por isso mesmo, mais especializada.

3. Weber e a Ética do Trabalho

No livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Max Weber desenvolveu a idéia de que a ética protestante se caracteriza por exaltar o "trabalho" como um meio de aproximação do homem para com Deus. Além disso, a vocação para o trabalho é vista como expressão de amor ao próximo. O trabalho não só une os homens, como proporciona aos mesmos a certeza da concessão da graça.

O efeito da Reforma, em contraste com a religião católica, foi engrandecer a ênfase moral e o prêmio religioso para com o trabalho secular e profissional. Constitui-se assim uma moral vinculada ao culto do trabalho.

O acúmulo de riquezas que não se baseasse no ethos de uma organização racional do capital e do trabalho não poderia se adaptar ao ideário protestante. Mesmo enriquecendo, o indivíduo não pode se sujeitar ao ócio para viver de renda ou especulação. O protestantismo lega ao trabalhador que enriquece uma responsabilidade moral que o inibe a consumir o luxo.

4. As Formas de Gestão da Produção Social

a) Taylorismo

É denominado taylorismo o movimento de racionalização do trabalho que se inicia no final do século passado e, efetivamente, difundido e implantado em todo o mundo no início deste século.

No início do século XX, o engenheiro americano F. W. Taylor, foi um dos primeiros a utilizar um método de organização objetiva do trabalho, conhecido no Brasil, a partir dos anos 30, por Organização Científica do Trabalho (OCT), ou simplesmente Taylorismo, obtendo grande repercussão na industrialização nascente. Muito jovem, preocupou-se com o esbanjamento de tempo, que significava para ele o tempo morto na produção. Assim sendo, ele iniciou uma análise racional, por meio da cronometragem, de cada fase do trabalho, eliminado os movimentos muito longos e inúteis. Desta forma, conseguiu dobrar a produção. Infelizmente, este método, bastante lógico do ponto de vista técnico, ignorava os efeitos da fadiga e os aspectos humanos, psicológicos e fisiológicos, das condições de trabalho.

A cronometragem definiu para cada operário, um trabalho elementar, desinteressante, uma vez que era parcelado, e que deveria ser realizado dentro de um tempo previsto pelos engenheiros.

Taylor observava existir uma grande variedade de modos de operação e de ferramentas para cada atividade, considerando que os trabalhadores eram incapazes de determinar os melhores, por falta de instrução e/ou capacidade mental. Ao mesmo tempo, acreditava que os mesmos tinham certa indolência, natural ou premeditada, na execução de suas tarefas. Enfatizava, assim, ser de vital importância que a gerência exercer um controle real sobre o processo de trabalho, o que só poderia ser feito na medida em que a mesma dominasse o seu conteúdo, o procedimento do trabalhador no ato de produzir.

Taylor reduziu o homem a gestos e movimentos, sem capacidade de desenvolver atividades mentais, que depois de uma aprendizagem rápida, funcionava como uma máquina. O homem, para Taylor, podia ser programado, sem possibilidades de alterações, em função da experiência, das condicionantes ambientais, técnicas e organizacionais. A redução do trabalho mental também é enfatizada na medida em que a superespecialização da tarefa levou a simplificação do trabalho a um nível elevado, desprovendo o indivíduo de sua capacidade pensante.

4.2 Fordismo

Visando obter maior intensidade no processo de trabalho, Henry Ford retoma e desenvolve o taylorismo através de dois princípios complementares.

- Integração, por meio de esteiras ou trilhos dos diversos segmentos do processo de trabalho, assegurando o deslocamento das matérias primas em transformação;

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- Fixação dos trabalhadores em seus postos de trabalho. Deste modo, é garantida que a cadência de trabalho passa a ser regulada de maneira mecânica e externa ao trabalhador, é a regulação do trabalho coletivo.

Esteiras em linha de produção de uma empresa de Henry Ford.

No Fordismo, a segmentação dos gestos do taylorismo torna-se a segmentação das tarefas, o número dos postos de trabalho é multiplicado, cada um recobrindo o menor número de atividades possíveis. Fala-se, então, de uma parcelização do trabalho que se desenvolverá igualmente no setor administrativo.

O sistema taylorista-fordista percebe as organizações como máquinas e administrá-las significa fixar metas e estabelecer formas de atingi-las; organizar tudo de forma racional, clara e eficiente, detalhar todas as tarefas e principalmente, controlar o máximo possível.

4.3 Toyotismo ou sistema de produção flexível

A crise do final dos anos 1960 e início de 1970, que se estende até os dias atuais, como afirma Antunes (1999) está relacionada, fundamentalmente, à crise da  estrutura do capital, deflagra intensas transformações no próprio processo produtivo.

As tentativas de resolver os problemas gerados pela crise do capitalismo são responsáveis por modificações importantes no campo do trabalho, como a introdução de novas tecnologias e aumento da exploração da classe operária.

A concorrência intercapitalista (entre capitalistas de países diferentes) e a necessidade de controlar as lutas sociais, oriundas do trabalho, através das transformações do modelo de produção, fazem com que o mundo do trabalho sofra transformações em sua estrutura produtiva, sindical e política.

Essas transformações surgem com a intensa recessão iniciada em 1973  quando a crise estrutural do capitalismo, gerada pela crise do padrão de acumulação taylorista/fordista, faz com que o capital mergulhe num processo de reestruturação para restaurar o seu domínio. Nesse momento, instaura-se uma “guerra” entre os países considerados  super-potências, pela acumulação de capital, e a competitividade passa a ser a “arma” mais importante. O modelo de produção industrial fundamentado no princípio taylorista/fordista, de produção em massa, perde a exclusividade e iniciam tentativas para superá-lo.

Nesse contexto assistimos a uma nova fase de exploração da mão-de-obra: a chamada acumulação flexível - a partir do modelo de produção criado pelos japoneses, o toyotismo. Junto com ela, a degradação das condições de trabalho, dos direitos trabalhistas e, conseqüentemente, dos trabalhadores.

Ao término dos anos 60 a empresa japonesa Toyota já estava totalmente dentro desse novo modelo de produção flexível e o modelo era divulgado dentro e fora do Japão. Os princípios ideológicos   e organizacionais desse modelo passaram a sustentar as práticas empresariais como modelo de administração e tornou-se a ideologia universal da produção do capital.

O toyotismo introduziu técnicas onde fosse possível alterar as máquinas rapidamente durante a produção, para ampliar a oferta e a variedade  de produtos, pois para eles era onde se concentrava a maior fonte de lucro. Obtiveram excelentes resultados com essa idéia e ela passou a ser a essência do modelo japonês de produção.

O espaço para armazenamento da produção era outro obstáculo para os japoneses, por isso, as mercadorias deveriam ter giro rápido, e a eliminação de estoques, ainda que parecesse impossível, estava nos projetos de Toyota.

A partir de então, regras criteriosas foram incorporadas gradativamente e qualquer elemento que não agregasse valor ao produto, deveria ser eliminado, pois era considerado desperdício. Classificaram o desperdício em sete tipos principais:

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- Tempo que se perdia para consertos ou refugo;- Produção maior do que o necessário, ou antes, do tempo necessário;- Operações desnecessárias no processo de manufatura, transporte, estoque, movimento humano e espera.

A partir do princípio acima citado, planejou-se um modelo de produção composto por:

Automatização - utilização de máquinas capazes de parar automaticamente quando surgem problemas. Assim o trabalhador que até então era treinado para desenvolver seu trabalho em uma única máquina pode se responsabilizar por várias, o que diminuiria a quantidade de trabalhadores necessários numa linha de montagem

just-in-time (na hora certa) - surgiu da necessidade de criar uma alternativa aos poucos espaços para armazenar estoques e da escassez de recursos para manter a produção parada. Consiste em detectar a demanda e a produção de bens em função da necessidade específica, ao contrário do fordismo.  Assim, toda demanda tem que ser produzida após ter sido efetivada sua venda, mantendo um fluxo de produção contínuo.

trabalho em equipe: agrupar os trabalhadores em equipes, com a orientação de um Rida (líder). Este trabalharia junto com os demais operários, com a função de coordenar o grupo e substituir qualquer um que venha faltar. Enquanto no fordismo cada trabalhador é responsável por uma parte da produção e após realizá-la passa adiante para que outro trabalhador realize a parte que lhe cabe, no toyotismo vemos eliminado esse tempo entre um trabalhador e outro, considerado “tempo morto” e que não agrega valor à produção. O objetivo não consiste então, em diminuir trabalho e sim, reduzir trabalhadores.

O toyotismo representou, na verdade, uma grande ofensiva aos trabalhadores, uma vez que se instalou como um  processo apenas preocupado em resgatar o domínio e o poder de acumulação do capital.

5. GLOBALIZAÇÃO

O conceito globalização surgiu em meados da década de 1980, a qual vem a substituir conceitos como internacionalização e transnacionalização, porém se voltarmos no tempo podemos observar que é uma prática muito antiga.

Conceito

Globalização ou mundialização é a interdependência política, econômica e cultural de todos os povos e países do nosso planeta, também denominado "aldeia global".

A reorganização política mundial, acelerada após o final da Guerra Fria, faz blocos econômicos emergirem em diferentes regiões do planeta, como a União Européia, o Nafta e a Bacia do Pacífico. Nesse contexto, surge o MERCOSUL, que integra economicamente a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia capitalista vive uma fase de expansão e enriquecimento. Na década de 70 e início dos anos 80, essa prosperidade é abalada pela crise do petróleo, que provoca recessão e inflação nos países do Primeiro Mundo.Também nos anos 70, desenvolvem-se novos métodos e técnicas na produção. O processo de automação, robotização e terceirização aumenta a produtividade e reduz a necessidade de mão-de-obra.

A informática, a biotecnologia e a química fina desenvolvem novas matérias-primas artificiais e novas tecnologias. Mas a contínua incorporação dessa tecnologia de ponta no processo produtivo exige investimentos pesados. E os equipamentos ficam obsoletos rapidamente.

O dinheiro dos investimentos começa a circular para além de fronteiras nacionais, buscando melhores condições financeiras e maiores mercados. Grandes corporações internacionais passam a liderar uma nova fase de integração dos mercados mundiais: é a chamada GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA. A divisão política entre os blocos soviético e norte-americano modifica-se com o fim da Guerra Fria.

Uma nova ordem econômica estrutura-se em torno de outros centros de poder: os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Em torno destes centros são organizados os principais blocos econômicos supranacionais, que facilitam a circulação de mercadorias e de capitais.

A União Européia integra a maior parte dos países europeus; a APEC - Associação de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico - congrega o Japão, a China, países da Indochina e da Oceania; o NAFTA - Acordo de Livre Comércio da América do Norte - une os mercados do Canadá, Estados Unidos e México. A formação dos megablocos regionais é uma tendência internacional e leva Argentina e Brasil a pensar na formação de um bloco sul-americano.

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A partir de 1985, sucedem-se encontros entre os presidentes dos dois países para discutir um programa de integração e cooperação econômica. Em 1991, Uruguai e Paraguai aderem ao projeto. E, em janeiro de 1995, o MERCOSUL começa a funcionar oficialmente.

O MERCOSUL prevê a formação de uma União Aduaneira, ou seja, a criação de uma região de livre comércio com o fim das tarifas alfandegárias entre os quatro países. Prevê, também, uma taxação comum para os produtos importados de países de fora do MERCOSUL. E, em longo prazo, visa a criação de um mercado comum, com livre circulação de bens e de serviços entre os países membros, bem como uma maior integração cultural e educacional.

A abertura da economia e à Globalização são processos irreversíveis, que nos atingem no dia-a-dia das formas mais variadas e temos de aprender a conviver com isso, porque existem mudanças positivas para o nosso cotidiano e mudanças que estão tornando a vida de muita gente mais difícil. Um dos efeitos negativos do intercâmbio maior entre os diversos países do mundo, é o desemprego que, no Brasil, vem batendo um recorde atrás do outro.

No caso brasileiro, a abertura foi ponto fundamental no combate à inflação e para a modernização da economia com a entrada de produtos importados, o consumidor foi beneficiado: podemos contar com produtos importados mais baratos e de melhor qualidade e essa oferta maior ampliou também a disponibilidade de produtos nacionais com preços menores e mais qualidade. É o que vemos em vários setores, como eletrodomésticos, carros, roupas, cosméticos e em serviços, como lavanderias, locadoras de vídeo e restaurantes. A opção de escolha que temos hoje é muito maior.

Mas a necessidade de modernização e de aumento da competitividade das empresas produziu um efeito muito negativo, que foi o desemprego. Para reduzir custos e poder baixar os preços, as empresas tiveram de aprender a produzir mais com menos gente. Incorporavam novas tecnologias e máquinas. O trabalhador perdeu espaço e esse é um dos grandes desafios que, não só o Brasil, mas algumas das principais economias do mundo têm hoje pela frente: crescer o suficiente para absorver a mão-de-obra disponível no mercado, além disso, houve o aumento da distância e da dependência tecnológica dos países periféricos em relação aos desenvolvidos.

Em manifestação anti-globalização, bandeira dos Estados Unidos é queimada junto com boneco do Presidente Lula.

Com todas essas mudanças no mercado de trabalho, temos que tomar muito cuidado para não perder espaço. As mudanças estão acontecendo com muita rapidez. O cidadão para segurar o emprego ou conseguir também tem de ser manter em constante atualização, ser aberto e dinâmico. Para sobreviver nesse mundo novo, precisamos estar em sintonia com os demais países e também aprendendo coisas novas todos os dias.

Ser especialista em determinada área, mas não ficar restrita a uma determinada função, porque ela pode ser extinta de uma hora para outra.

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Unidade VII - AS RELAÇÕES POLÍTICAS E O ESTADO

1. Poder e Dominação em Weber

A dominação, para Weber, é a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato (político, religioso, líder, etc.). A obediência pode depender:

a) vantagens obtidas por parte daquele que obedece (obediência ao patrão que paga o salário);b) do costume, do hábito cego (obediência à bronca de um professor);c) no afeto ou gosto pessoa por quem domina;

Mas se a dominação se baseasse apenas nesses três fundamentos, ela seria relativamente instável. Nas relações entre dominados e dominantes, a dominação costuma apoiar-se em bases jurídicas, nas quais se funda a sua legitimidade. O abalo dessa crença na legitimidade (o poder é legítimo, aceitável) por parte dos dominados pode acarretar conseqüências de grande alcance.

Weber dividiu assim os tipos de dominação:

1º) Dominação Legal (onde qualquer direito pode ser criado e modificado através de um estatuto sancionado corretamente), tendo a burocracia como sendo o tipo mais puro desta dominação. Os princípios fundamentais da burocracia são: a administração está baseada em documentos, a demanda pela aprendizagem é profissional, as atribuições são oficializadas e há uma exigência de todo o rendimento do profissional.

A obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra, que se conhece competente para designar a quem e em que extensão se há de obedecer. Weber classifica este tipo de dominação como sendo estável, uma vez que é baseada em normas que, como foi dito anteriormente, são criadas e modificadas através de um estatuto sancionado corretamente. Ou seja, o poder de autoridade é legalmente assegurado.

2º) Na Dominação Tradicional a autoridade é, pura e simplesmente, suportada pela existência de uma fidelidade tradicional. O governante é o patriarca ou senhor, os dominados são os súditos e o funcionário é o servidor. O patriarcalismo é o tipo mais puro desta dominação. Presta-se obediência à pessoa por respeito, em virtude da tradição de uma dignidade pessoal que se reputa sagrada. Todo o comando se prende intrinsecamente a normas tradicionais (não legais). A criação de um novo direito é, em princípio, impossível, em virtude das normas oriundas da tradição. Também é classificado, por Weber, como sendo uma dominação estável, devido à solidez e estabilidade do meio social, que se acha sob a dependência direta e imediata do aprofundamento da tradição na consciência coletiva.

3º) Na Dominação Carismática a autoridade é suportada, graças a uma devoção afetiva por parte dos dominados. Ela assenta sobre as “crenças” havidas em profetas, sobre o “reconhecimento” que pessoalmente alcançam os heróis e os demagogos, durante as guerras e sedições, nas ruas e nas tribunas, convertendo a fé e o reconhecimento em deveres invioláveis que lhes são devidos pelos governados. A obediência a uma pessoa se dá devido às suas qualidades pessoais. Não apresenta nenhum procedimento ordenado para a nomeação e substituição. Não há carreiras e não é requerida formação profissional por parte do “portador” do carisma e de seus ajudantes. Weber coloca que a forma mais pura de dominação carismática é o caráter autoritário e imperativo. Contudo, Weber classifica a dominação carismática como sendo instável, pois nada há que assegure a perpetuação da devoção afetiva ao dominador, por parte dos dominados.

Max Weber observa que o poder racional ou legal cria em suas manifestações de legitimidade a noção de competência, o poder tradicional a de privilégio e o carismático dilata a legitimação até onde alcance a missão do “chefe”, na medida de seus atributos carismáticos pessoais.

2. Marx e o Estado como Instrumento da Classe Dominante

Para Marx, o Estado compreende dois aspectos distintos:

a) Estado como Estrutura de Poder

Ele é uma estrutura de poder que concentra, resume e põe em movimento a força política da classe dominante (de um ponto de vista mais geral e abstrato). Essa é, em resumo, a essência de toda concepção marxista sobre o Estado, sintetizada com notável clareza na conhecida fórmula do Manifesto Comunista:

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“O executivo do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os assuntos comuns de toda burguesia”. O próprio Engels expressou a mesma idéia numa passagem igualmente célebre: “A força de coesão da sociedade civilizada é o Estado, que, em todos os períodos típicos, é exclusivamente o Estado da classe dominante e, de qualquer modo, essencialmente uma máquina destinada a reprimir a classe oprimida e explorada”.

Assim, a teoria marxista da política tem como conseqüência uma rejeição da idéia de que o Estado seria o agente da "sociedade como um todo" e do "interesse nacional". Contra toda uma tradição do pensamento político, os marxistas entendem que o que precisa ser examinado é a relação do Estado com a sociedade burguesa, e propõem-se examinar a fundo essa relação. Estariam assim corrigindo uma grande falha da teoria tradicional do século XX, que aceitou a sociedade burguesa, mas não examinou as implicações dessa aceitação.

Uma característica da tradição geral, se considerarmos o período que vai do século XVII a começos do século XX, é o fato de ter trocado uma visão materialista do homem e da sociedade por uma visão idealista. Os idealistas foram afastando-se cada vez mais da visão materialista, que menosprezaram, ou praticamente descartaram, ou então não souberam lidar com o fato de que era o Estado burguês, ou o Estado na sociedade burguesa, que merecia atenção.

Em todo caso, os teóricos tradicionais do século XX não deram muita atenção à natureza específica do Estado na sociedade capitalista.

b) Estado como Organização Burocrática

Uma outra concepção de Marx com relação ao Estado é que ele é uma organização burocrática, isto é, um conjunto de instituições e organismos, ramos e sub-ramos, com suas respectivas burocracias, destinado a cumprir aquela tarefa (a dominação) através do jogo institucional de seus aparelhos. A questão decisiva é saber precisamente como, em condições historicamente dadas, o Estado desempenha a função de reprodutor das relações (econômicas e políticas) de classe.

Num conhecido debate em torno da existência ou não de uma "teoria marxista do Estado", Norberto Bobbio chamou a atenção para a ausência, no interior do pensamento político de Marx, de um tratamento mais aprofundado do "problema das instituições". Ao insistir na natureza de classe do poder de Estado (o Estado como representante das classes dominantes) os clássicos do marxismo não estudaram os diversos "modos" através do qual esse poder pode ser exercido.

Segundo Bobbio, os atrasos, lacunas e contradições da ciência política marxista, nesse particular, tornaram mesmo difícil o desenvolvimento de uma reflexão mais articulada a respeito da forma de organização do Estado socialista — a "ditadura do proletariado" — e de suas instituições específicas.

Isso, contudo, não impediu que a partir do conjunto dos trabalhos de Marx se pudesse elaborar e construir uma "teoria do Estado capitalista". Uma das conquistas teóricas mais fundamentais para a teoria política moderna foi a determinação da natureza de classe dos processos de dominação política pelos clássicos do marxismo. Ou seja, o Estado é um aparelho usado pela classe dominante para controlar a sociedade e manter a coesão social.

c) Conceito Sociológico de Estado

Um estado existe quando há um aparelho político de governo (instituições como um parlamento ou congresso, mais funcionários públicos), que governa um dado território, cuja autoridade é apoiada por um sistema legal e pela capacidade de usar a força militar para implementar as suas políticas.

Todas as sociedades modernas são estados-nação. Isto é, são estados onde os cidadãos, constituindo o grosso da população, se reconhecem como fazendo parte de uma só nação. As suas principais características, contudo, contrastam de uma forma marcante com as dos estados nas civilizações não industriais ou tradicionais.

3. Tipos de sistemas políticos

As sociedades sempre se apoiaram em diversos sistemas políticos. Mesmo atualmente, no início do século XXI, há países por todo o mundo que continuam a organizar-se de acordo com diferentes padrões e configurações. Enquanto atualmente a maioria das sociedades reivindica serem democráticas – ou seja, serem governadas pelo povo – continuam a existir outras formas de domínio político. Há, basicamente, três principais formas ou sistemas políticos: monarquia, democracia liberal e autoritarismo.

Democracia

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A palavra democracia tem as suas raízes no termo grego demokratia, formado por demos (povo) e kratos (governo). O significado básico de democracia é, por conseguinte, o de um sistema político em que o povo governa, e não os monarcas ou aristocratas.

O Governo democrático tem tomado formas contrastantes em vários períodos e diferentes sociedades. O Governo democrático tem tomado formas contrastantes em vários períodos e diferentes sociedades, em função da interpretação atribuída ao conceito. Por exemplo, “o povo” tem sido diversamente entendido como sendo os proprietários, os homens brancos, os homens educados, só os homens e os homens e mulheres adultos. Em algumas sociedades, a versão oficialmente aceita de democracia é limitada à esfera política, enquanto noutras se defende a sua extensão a outras áreas da vida social.

A existência de um parlamento é condição indispensávelpara o funcionamento de uma Democracia.

A forma tomada pela democracia em determinado contexto é largamente um resultado do modo como os seus valores e objetivos são entendidos e considerados prioritários. A democracia é vista genericamente como o sistema político mais capaz de:

a) garantir igualdade política;b) proteger a liberdade individual;c) defender o interesse comum;d) ir ao encontro das necessidades dos cidadãos;d) promover o autodesenvolvimento moral; ee) possibilitar a tomada de decisão efetiva que leve em conta os interesses de todos.

Democracia Participativa

Na democracia participativa (ou democracia direta) as decisões são tomadas em comum por aqueles que lhes estão sujeitos. Este era o tipo original de democracia, na Grécia Antiga. Os que eram considerados cidadãos, uma pequena minoria da sociedade, reuniam-se regularmente para ponderar a política a seguir e tomar decisões importantes. A democracia participativa tem importância limitada nas sociedades modernas, onde o grosso da população tem direitos políticos, e seria impossível que todos participassem ativamente na tomada de todas as decisões que os afetam.

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Democracia Representativa

Questões de natureza prática fazem com que a democracia participativa não seja viável em larga escala, exceto em momentos específicos, como um referendo especial (como o do desarmamento, no Brasil). Hoje é mais comum a democracia representativa, sistema político no qual as decisões que afetam uma comunidade são tomadas, não por esta como um todo, mas por pessoas eleitas para esse propósito. Nesta área do governo nacional, a democracia representativa toma a forma de eleições para congressos, parlamentos e outros órgãos nacionais similares.

Democracia Liberal

Designa as nações que praticam a democracia representativa multipartidária (onde existe pelo menos dois partidos políticos), nas quais a massa da população adulta tem o direito de votar. O Brasil, boa parte dos países europeus e latino-americanos, Estados Unidos, Japão, Austrália e Nova Zelândia pertencem a esta categoria.

Autoritarismo

Apesar de a democracia encorajar o envolvimento ativo dos cidadãos nos assuntos políticos, nos estados autoritários essa participação é negada ou severamente reprimida. Nestas sociedades, as necessidades e os interesses do Estado têm prioridade sobre os dos cidadãos comuns, não havendo mecanismos legais para fazer oposição ao governo ou para remover um líder do poder.

Os governos autoritários existem hoje em muitos países, alguns dos quais professam ser democráticos. O Iraque, sob a liderança de Saddam Hussein, foi um exemplo de estado autoritário onde a dissidência era reprimida e uma grande parte dos recursos naturais era desviada em benefício de uma minoria. As poderosas monarquias da Arábia Saudita e do Kuwait limitam rigidamente as liberdades cívicas dos cidadãos e negam a participação significativa do povo nos assuntos governamentais.

Democracia e desigualdades socioeconômicas

À medida que a democracia liberal se expande por todo o mundo, poderíamos esperar que ela estivesse consolidando-se de forma muito sólida. No entanto, a democracia está atravessando algumas dificuldades. Por um lado, a democracia expande-se por todo o mundo; por outro, nas sociedades democráticas de modernidade tardia, com instituições democráticas enraizadas, a desilusão com os processos democráticos é bastante elevada.

A democracia está em crise nos seus principais países de origem – pesquisas realizadas na Inglaterra, na Europa e nos Estados Unidos, mostram que cada vez mais pessoas estão insatisfeitas com o sistema político ou sentem-se indiferentes a ele.

Em muitas democracias, os cidadãos têm pouca confiança nos seus representantes eleitos, concluindo que a política nacional tem pouco impacto nas suas vidas. Existe um cinismo crescente acerca de políticos que alegam ser capazes de prever ou controlar assuntos globais. Muitas pesquisas e sondagens de opinião pública revelam que a imagem dos políticos está seriamente comprometida e um número cada vez maior de cidadãos considera que os políticos atuam apenas em benefício próprio, não se envolvendo em assuntos que preocupam o eleitorado.

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Participação Política e Globalização

A globalização é o cenário do desenvolvimento desigual. Ela é problemática e contraditória, dissolve espaços e tempos e impõe ao indivíduo padrões e valores desconhecidos.

Estas afirmações de Octavio Ianni dão a dimensão da aldeia global que vive o indivíduo no início deste novo século. Ao mesmo tempo em que perde raízes, se vê envolvo em uma imensa multidão de solitários, multidão eletrônica e desterritorializada. As mesmas condições que alimentam a interdependência e a integração (coesão social durkheiminiana), sustentam as desigualdades e contradições em âmbito global.

É a expansão avassaladora das relações, processos e estruturas de dominação em escala global que transbordam fronteiras e levam ao declínio a sociedade tradicional. É uma sucessiva incorporação de novos mundos, onde as organizações políticas, econômicas e culturais, prevalecem sobre os indivíduos, classes, grupos, partidos, Estados nacionais. Elas conseguem aliar-se com grupos locais, integram-se a setores sociais, partidos ou governos, mas organizam-se segundo razões próprias, de ordem global. Dessa forma, prevalecem sobre os indivíduos, que passam a viver um mundo em crise.

Uma análise da participação política dos indivíduos na sociedade globalizada, mostra que as dificuldades impostas pela globalização, para a conquista de autonomia, são alimentadas pelo próprio processo de mundialização e tornam-se grandes barreiras, no despreparo, intelectual ou político, dos próprios indivíduos em tomar para si as rédeas do mundo global.

Ao indivíduo cabe perceber que as dificuldades de participação política na sociedade global não se resumem às questões ideológicas e econômicas do neoliberalismo. Elas também se revelam em ações do cotidiano, como o comportamento consumista ou no processo de aculturação, de massificação de valores que sofre dos meios de comunicação.

Somos escravos do nosso aperfeiçoamento técnico, modificamos tão radicalmente nosso meio ambiente que devemos agora modificar-nos a nós mesmos, para poder viver nesse novo ambiente. O indivíduo tem extremas dificuldades de situar-se em uma sociedade, que assim como assinala o declínio do Estado-nação, faz emergir novos e megacentros mundiais de poder, soberania e hegemonia.

A situação é tão problemática e contraditória que ele já não consegue identificar os donos do poder. Fica deslocado ainda mais do centro das decisões políticas, diante da doutrina neoliberal que transfere as possibilidades de soberania para as organizações, corporações e outras entidades de âmbito global.

O problema maior do indivíduo é encontrar a verdade dos fatos, parâmetros de compreensão entre o que informa e o que aliena na globalização. São questões essencialmente ideológicas, normalmente manipuladas pelos meios de comunicação de massa, e que expressam uma nova concepção acerca da transformação social e da prática política, imposta pela globalização.

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UNIDADE VIII - MOVIMENTOS SOCIAISOs movimentos sociais são manifestações de caráter popular, cuja ação social é orientada a fim de

obter transformações políticas e econômicas. Longe de serem espasmos irracionais da massa, possuem, em geral, algum grau de solidariedade interna e muitos revelam elevados níveis de institucionalização, atuando de maneira tão organizada quanto empresas, partidos políticos e instâncias do Estado.

A história tem nos mostrado que os movimentos sociais, seja qual a forma assumem, tem estado presente em quase todos os grupos sociais, onde foram compreendidos como fenômenos inerentes aos processos de mudança.Na Antiguidade, destacam-se os

movimentos de escravos e os movimentos religiosos. Na Baixa Idade Média, os movimentos de camponeses-servos. Na Idade Moderna, fase de desagregação da sociedade feudal, houveram os movimentos de mercadores e os religiosos. Já na contemporaneidade, com o

Capitalismo já consolidado, destacam-se os movimentos de operários na luta contra as condições de vida nas fábricas e nas cidades, assim como os movimentos de camponeses, inspirados em ideologias socialistas.

Na fase atual, do capitalismo industrial monopolista, estão na ordem do dia os chamados “novos” movimentos sociais, entre eles, os ecológicos, pacifistas, feministas, defesa do direito das minorias (negros, homossexuais, deficientes físicos, etc.).

Operários de greve criam o sindicato independente“Solidarnosc” (Solidariedade) na Polônia, liderados por Lech Walesa (à esqueda).

A existência dos movimentos sociais costuma ser associada a grandes eventos históricos, como lutas por independência de nações, insurreições socialistas ou comunistas, ações pela reforma agrária e a emancipação dos trabalhadores e revoluções culturais. Os movimentos sociais tratam de questões como a religião, a cultura popular, o antiescravismo, o meio ambiente e o trabalho. A partir da década de 90, o tema globalização ganhou espaço na agenda de lutas.

O grande marco fundador de boa parte dos movimentos sociais surgidos nos últimos dois séculos é a expansão do modo de produção capitalista, sobretudo, através de sua vertente industrial no século 19. Seu enorme potencial de geração de riquezas, com base na propriedade privada, no trabalho assalariado e na expansão do mercado livre produziu também uma série de contradições sociais, que atingiram tanto a milenar classe dos camponeses quando a nascente classe dos operários.

1. Motivação dos Movimentos Sociais

a) Conflito - MarxUm dos elementos recorrentes, que pode ser encontrado em todo movimento social, é o conflito.

Pelo menos é o que defende a escola histórico-estrutural, de vertente Marxista.

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Para os autores que defendem essa idéia, consideram que o conflito é a explicitação das contradições sociais. Ou seja, se há movimento social, há conflito, e se há conflito, é porque existe alguma contradição entre interesses, grupos, posições, etc. O conflito faz a contradição aparecer. A sociedade se desenvolve de forma contraditória, uma vez que a produção da vida social é feita de forma coletiva, mas seus “frutos” são colhidos de forma privada. A contradição básica do capitalismo é o que gera os conflitos, que por sua vez, são explicitados nos movimentos sociais.

b) Desequilíbrio Social - Durkheim

A Escola Americana de Sociologia, denominada Escola Neopositivista (seguidores das teorias de Émile Durkheim), defende a idéia de que os movimentos sociais, através das várias imagens de manifestações, violência, pancadaria, nos mostram que há um desequilíbrio social, e não um conflito. Para essa concepção, não há interesses que se contradigam no interior da sociedade, já que a sociedade é vista como decorrente de um processo natural e, assim, esse tipo de ocorrência é visto como parte de um processo natural de mudanças que independem das ações dos indivíduos.

Para os neopositivistas, não são os indivíduos que agem modificando a sociedade, mas, ao contrário, é a sociedade que age sobre os indivíduos, ensejando novos comportamentos, novos valores, os quais são expressos pelos movimentos sociais. Assim, quando a polícia restabelecesse a ordem, quando o sindicado terminasse a greve, enfim, quando o equilíbrio social fosse restabelecido, a sociedade poderia seguir seu curso e continuar seu processo de desenvolvimento.

c) Ação coletiva - Weber

A idéia de movimento social como ação social coletiva é claramente inspirada na teoria de Max Weber de “ação social”. Nela, os movimentos sociais são entendidos como uma ação coletiva de indivíduos, conforme uma abordagem que é chamada hoje de “culturalista”.

Nessa concepção, o que é importante são os aspectos subjetivos dos fatos, a análise do significado da ação coletiva, a decodificação dos discursos e das representações que os indivíduos fazem de suas práticas. O que importa nos movimentos sociais não são os conflitos ou o equilíbrio da sociedade, mas o significado social das ações dos indivíduos que participam do movimento social.

2. Elementos constitutivos dos movimentos sociais

a) O projeto

Significa a proposta, os objetivos, a meta de um movimento, que pode ser de mudança ou conservação das relações sociais. Todo movimento social possui, implícita ou explicitamente, um projeto.

Faz parte do projeto do movimento a definição de uma estratégia, que são os procedimentos adequados para se atingir o sucesso da ação coletiva.

b) A ideologia

Corresponde às idéias que os homens fazem da sociedade em que vivem, ou seja, o que eles pensam que querem mudar. A ideologia seria uma espécie de “visão de mundo” de um grupo social.

c) A organização

Os movimentos sociais pressupõe certa organização hierárquica, que pode ser descentralizada (sem nenhum corpo dirigente fixo ou previamente determinado). Neste caso, a direção e/ou organização pode se dar de forma coletiva, com um permanente revezamento entre os participantes, em que todos são igualmente considerados lideranças.

A organização também pode apresentar uma estrutura mais definida, firmada em um corpo de líderes mais ou menos fixo e destacado dos demais participantes do movimento. Esse grupo dirigente teria o papel de liderança, a quem caberia a iniciativa de propostas sobre os passos a serem dados, bem como a palavra final sobre as metas e os objetivos, as formas de condução e a representação permanente do movimento em face de seus interlocutores ou oponentes.

3. O Movimento Operário

Nascido a partir da intensificação do processo industrial, a partir do século XIX, o movimento operário foi alimentado pela luta de classes entre burguesia e proletariado nascentes. Sua expressão institucional são os sindicatos, cuja ação muitas vezes foi além da simples defesa do interesse do

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trabalhador e ajudou a fomentar outros movimentos, como o socialista e o comunista. O movimento operário nasceu sob as condições de trabalho mais degradantes que se possa imaginar:

- jornadas de trabalho excessivas, em locais úmidos, mal-iluminados e sem ventilação;- exploração do trabalho de mulheres e crianças em funções, muitas vezes, idênticas àquelas exercidas pelos homens, mas com salários ainda menores; - acidentes freqüentes – devido às condições de cansaço dos trabalhadores, sempre mal-alimentados –, nos quais muitos perdiam a vida ou ficavam inutilizados para o trabalho, com o que não se importavam os patrões, pois a oferta de mão-de-obra era farta.

Enfim, condições aviltantes à dignidade humana, no que se refere a habitação, saúde e alimentação, sem falar na educação, que praticamente inexistia. Sob tais condições, onde se observava uma rígida disciplina dentro e fora das fábricas, as diversas categorias de trabalhadores – tecelões, marceneiros, pedreiros, metalúrgicos, mineiros, etc. – foram, em lugares e momentos diversos, se insurgindo contra as condições de vida a que eram submetidos pelo capital.

Condições de trabalho desumanas, além do emprego de crianças nas fábricas,foram umas das condições para a formação do movimento operário na Europa.

As lutas, inicialmente isoladas, por melhores salários ou pela redução da jornada de trabalho (que até meados do século XIX, na maioria dos países, não era inferior a catorze horas por dia) foram, pouco a pouco, tornando-se mais freqüentes e organizadas. As greves e a quebra de máquinas e fábricas se constituíram, inicialmente, nos únicos instrumentos de luta dos trabalhadores, num momento em que não tinham nenhum meio de representação para defender seus interesses em face dos industriais e do Estado.

“Quando eu tinha sete anos de idade fui trabalhar na fábrica do Sr. Marshall em Shrewsbury. Se uma criança se mostrasse sonolenta, o responsável pelo turno a chamava e dizia, “venha aqui”. Num canto da sala havia uma cisterna de ferro cheia de água. Ele pegava a criança pelas pernas e a mergulhava na cisterna para depois manda-la de volta ao trabalho”.Depoimento de Jonathan Downe, que foi entrevistado por um representante do parlamento britânico em junho de 1832.

Mas, os movimentos sociais implicam também relações de opressão, e assim, contra a onda de quebra-quebras que assolou a Inglaterra na segunda metade do século XVII e início do século XIX (o movimento Ludista), o Parlamento inglês instituiu, em 1769, a pena de morte para destruidores de máquinas.

A disseminação da teoria marxista no movimento operário moldou sua atuação. Além de melhorar as condições de vida do trabalhador, sua agenda de lutas almejou conquistas ainda mais amplas a partir da assimilação do ideal revolucionário comunista. As teses de Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895) defendiam a organização dos trabalhadores em um movimento que fosse capaz de derrotar os burgueses e criar um mundo de liberdade e igualdade social.

Esse ideal do movimento operário foi o mesmo que moldou a atuação de sindicatos, partidos políticos e governos nacionais de orientação comunista ou socialista. Ainda no século 19, o movimento tomou um caráter supranacional através da realização das Internacionais, fortalecendo a solidariedade e as frentes de luta nacionais dos trabalhadores.

Curiosamente, esta ideologia crítica nascida nas cidades ajudou a fortalecer o movimento camponês, que via na socialização dos meios de produção possibilitada por uma revolução a chance de conseguir acesso à terra. Foi essa perspectiva de transformação social através da reforma agrária que impulsionou, por exemplo, a Revolução Mexicana de 1910 e a criação das Ligas Camponesas no Brasil, a partir da década de 1930.

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Bandeiras como essa são até hoje empunhadas por movimentos sociais camponeses no mundo inteiro, como é o caso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, no Brasil, e do Exército Zapatista de Libertação Nacional, no México, que guarda também um viés indigenista.

O Surgimento do Movimento Operário no Brasil

O movimento operário brasileiro viveu anos de fortalecimento entre 1917 e 1920, quando as principais cidades brasileiras foram sacudidas por greves. Uma das mais importantes foi a greve de 1917 em São Paulo, em que 70 mil trabalhadores cruzaram os braços exigindo melhores condições de trabalho e aumentos salariais. A greve durou uma semana e foi duramente reprimida pelo governo paulista. Finalmente chegou-se a um acordo que garantiu 20% de aumento para os trabalhadores.

A ascensão do movimento operário no Brasil naquele anos finais da década de 1910 relacionava-se diretamente à vitória dos comunistas na Revolução Russa. Vários grupos operários no Brasil e no mundo acreditavam que havia chegado o momento de colocar um fim à exploração capitalista e construir uma nova sociedade. Esse entusiasmo não foi suficiente, no entanto, para que a revolução se disseminasse. Os anos 20, apesar de alguns avanços em termos de legislação social, foram difíceis para o movimento operário, que foi obrigado a enfrentar grandes desafios.

O primeiro deles foi a intensificação da repressão por parte do governo. A justificativa apresentada era a de que o movimento operário era artificialmente controlado por lideranças estrangeiras radicais que iludiam o trabalhador nacional. Por conta disso foi aprovada no Congresso, em 1921, a Lei de Expulsão de Estrangeiros que permitia, entre outras coisas, a deportação sumária de lideranças envolvidas em distúrbios da ordem e o fechamento de organizações operárias. O principal alvo dessa lei eram os anarquistas.

A expansão do anarquismo foi rápida nas grandes cidades brasileiras nas primeiras décadas do século XX. Suas propostas de supressão do Estado e de todas as formas de repressão encontraram receptividade entre os trabalhadores naqueles tempos em que o jogo político era exclusividade das oligarquias e praticamente inexistia qualquer proteção ao trabalho. Governo e patrões eram vistos pelos anarquistas como inimigos a serem combatidos a todo custo. Suas idéias eram difundidas por meio de congressos e por uma imprensa própria e, entre outros, destacaram-se como divulgadores do ideário anarquista José Oiticica, Everardo Dias e Edgard Leuenroth.

As correntes anarquistas dividiam a liderança do movimento operário com outros grupos políticos. Particularmente no Rio de Janeiro, era bastante influente uma corrente política moderada, não revolucionária, interessada em obter conquistas específicas como diminuição da jornada de trabalho e aumentos salariais. Esses grupos preocupavam-se ainda em garantir o reconhecimento dos sindicatos por parte do Estado. Ao contrário dos anarquistas, atuavam no espaço político legal apoiando e lançando candidatos. Os grupos revolucionários os chamavam pejorativamente de "amarelos".

A partir de 1922, outra corrente se definiu dentro do movimento operário: a dos comunistas. Naquele ano, embalados pela criação do primeiro Estado Socialista na Rússia, militantes brasileiros fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCB).

Ao contrário dos anarquistas, que viam o Estado como um mal em si, os comunistas o viam como um espaço a ser ocupado e transformado. Essas concepções os levaram, seja na ilegalidade, seja nos breves momentos de vida legal, a buscar aliados e participar da vida parlamentar do país. Uma liderança que os comunistas tentaram atrair em 1927 foi Luís Carlos Prestes, que naquele ano se exilou na Bolívia. Todos esses esforços não foram suficientes para produzir uma mudança significativa na vida material do conjunto da classe trabalhadora no final dos anos 20. A legislação aprovada quase nunca era aplicada. Isso ocorria, entre outras razões, porque o movimento operário encontrava-se ainda limitado e restrito a alguns poucos centros urbanos. Apesar disso, não se pode deixar de reconhecer que foi na década de 1920 que o movimento operário brasileiro ganhou maior legitimidade entre os próprios trabalhadores e a sociedade mais ampla e começou a se transformar em um ator político que iria atuar com maior desenvoltura nas décadas seguintes.

5. Os novos movimentos sociais – Ecológicos, feministas, estudantis, urbanos

Os novos movimentos sociais são assim denominados porque apresentam algumas diferenças fundamentais em relação aos movimentos tradicionais ou clássicos e, em especial, em relação ao movimento operário.

Da mesma forma que o movimento operário surgiu e se desenvolveu com as contradições da sociedade industrial capitalista, os novos movimentos surgem e se desenvolvem a partir das contradições do capitalismo em sua fase avançada (lembre-se que os movimentos sociais explicitam as contradições sociais, para a escola histórico-estrutural).

O Estado do Bem-Estar Social proporcionou o reequilíbrio do sistema produtivo nos moldes do sistema capitalista, garantindo, entre a década de 40 e de 60, que a acumulação se desenvolvesse sem a ameaça real da ideologia socialista. O Estado criou uma máquina técnico-burocrática imensa para cuidar do planejamento econômico e social. O mundo se desenvolveu extraordinariamente nesse período e os níveis

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de produtividade se multiplicaram em todos os setores das atividades produtivas, ao mesmo tempo em que se aprofundou a divisão técnica e social do trabalho.

A classe operária, em face de todas essas mudanças, teve o seu perfil alterado, com o aparecimento de novas categorias especializadas e elitizadas em diversos setores.

Nos países em fase mais adiantada de industrialização, mas de dois terços da população da população viviam nas cidades, em ocupações em indústrias, no comércio e no setor de serviços. A mecanização do campo intensificou o processo de urbanização e muitas cidades assumiram um caráter de metrópole, com seus 2, 4, 6 e até 10 milhões de habitantes.

Os meios de comunicação foram se expandindo, os transportes tornaram-se mais rápidos em todos os setores, a criação de satélites revolucionou os meios de comunicação e a TV mudou hábitos, costumes e desejos. O mundo ficou menor. Viveu-se, entre os anos 40 e 60, o sonho da modernidade, com os Estados Unidos simbolizando, no american way of life, a própria modernidade.

O herói de quadrinho Superman encaixou-se muito bem no papel dedefensor do American Way of Life, em seriado televisivo da década de 1950.

Mas, já nos anos 70, esse modelo de sociedade começa a entrar em crise. O Estado rapidamente perdeu a sua capacidade de financiar o pleno emprego, e os desequilíbrios entre os setores produtivos voltaram a ameaçar o sistema capitalista. O desemprego em massa põe em questão a viabilidade do modelo de desenvolvimento industrial capitalista, revelando o seu caráter concentrador de renda e a gestão autoritária do Estado. Esse modelo foi incapaz de evitar a contaminação dos rios, do ar, do solo, a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, a corrida armamentista e o perigo constante da utilização de energia nuclear nos artefatos de guerra, como uma ameaça a toda a humanidade.

Surgiram, nesse contexto, os novos movimentos sociais, sendo os primeiros deles os movimentos ecológicos, com suas correntes ambientalistas e conservacionistas. A primeira, se voltava para um desenvolvimento controlado e equilibrado quanto à utilização dos recursos naturais. A segunda, mais radical, negava a utilização de tecnologias que põem em perigo o meio ambiente, optando por soluções alternativas. Mas ambas explicitaram claramente as contradições de desenvolvimento autodestrutivo.

Por outro lado, a cultura, no que diz respeito aos valores tradicionais, como a família e seus princípios hierárquicos, a fé religiosa e seus dogmas, foi revolucionada por valores da modernidade, trazidos pela impossibilidade e intensidade da vida na metrópole, desestabilizando as relações humanas. Surgem novos comportamentos: a presença feminina na vida social, econômica, política e cultural se torna mais visível; o casamento deixa de ser um fim em si mesmo; as mulheres, especialmente da classe média, vão para as universidades, qualificam-se nas mais diversas profissões e passam a competir no mercado de trabalho; a pílula anticoncepcional proporciona à mulher a liberdade de dispor do próprio corpo. Os tabus vão sendo derrubados e surgem, assim, os movimentos feministas pelo fim das descriminações e pelo direito de igualdade com os homens.

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O movimento Hippie foi um radicalcontestador dos valores da sociedade de consumo.

A juventude, de um modo geral, se rebela contra os padrões tradicionais da moral burguesa tradicional, considerada por eles como envelhecida. Os jovens se manifestam através da música – especialmente das baladas e do rock de Elvis Presley, dos Beatles e dos Rolling Stones. O movimento hippie surgem como a própria negação da sociedade de consumo e da educação tradicional. Os movimentos estudantis eclodem por toda parte, simbolizados pelo movimento do maio de 1968, em Paris, contestador dos currículos escolares na França. A autoridade e a ideologia nacionalistas são criticadas, mediante as marchas pacifistas, nos Estados Unidos e em países da Europa, contra a Guerra do Vietnã.

Os problemas urbanos se avolumam nos diversos países do mundo desenvolvido, revelando um decréscimo gradativo da qualidade de vida. Surgem os movimentos sociais urbanos, reinvidicando melhorias nos setores dos transportes, da saúde, de habitação, de segurança, etc.

Em todos os novos movimentos, quer sejam eles pertinentes a problemáticas específicas – movimento negro, indígena ou feminista–, quer sejam pertinentes a problemas mais gerais – movimento ecológico ou pacifista – o que se observa é que, em geral, esses movimentos têm em comum não só a crítica ao Estado burocrático e autoritário dos países de socialismo real e dos países capitalistas, mas também a crítica ao dogmatismo revolucionário do movimento operário tradicional.

A prática desses novos movimentos não é voltada, como no movimento operário, para a tomada de poder do Estado. Por isso, sua estrutura de poder é mais horizontalizada, não hierárquica e igualitária. E, com efeito, suas práticas não significam apenas a negação de valores tradicionais, mas a própria afirmação de novas formas de vida, de uma nova cultura, como parte fundamental de uma nova sociedade.

Texto Extra

O papel dos Movimentos Sociais na Construção de Outra SociabilidadeSandra Maria Marinho (adaptado)

Por “novos” movimentos sociais compreendem-se os movimentos das mulheres, ecológicos, contra a fome e outros, sinalizando em princípio um distanciamento do caráter classista que se configurava nos movimentos sindicais, operários em torno do mundo do trabalho, o que não significa que em determinados momentos históricos possam assumir uma contraposição com o sistema econômica e social vigente. Entretanto, os novos movimentos sociais se contrapõem aos “velhos” e historicamente tradicionais movimentos sociais em suas práticas e objetivos.

Os novos movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas, como disputas por terra, habitação, segurança, emprego, etc. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

As bases sociais desses novos movimentos seriam a nova classe média, especialmente aqueles elementos que trabalham em profissões de serviços humanos e/ou no setor público, elementos da velha classe média e uma categoria da população formada por gente a margem do mercado de trabalho ou em uma posição periférica respectivo a ele. Outras modalidades de luta social (como a ecológica, a feminista, a dos negros, dos homossexuais, dos jovens etc.) são, como o mundo contemporâneo tem mostrado em abundância, de grande significado, na busca de uma individualidade e de uma sociabilidade dotada de sentido.

Os “novos” movimentos sociais, para possibilitarem aos indivíduos a sociabilidade coletiva e plena de sentido, necessitam construir e desenvolver ações para além das formas atuais de sociabilidade capitalistas, questionando a ordem do capital, não se perdendo no campo de ações fenomênicas, imediatas e particularizadas. Essas ações são importantes na medida em que estiverem vinculadas a um projeto mais amplo de sociedade, que se constitua em alternativa ao capitalismo.

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Se os movimentos se restringem às lutas cotidianas limitadas às reivindicações setoriais, desarticuladas com outras mobilizações, correm o risco de se configurar como ações paliativas e insuficientes para possibilitar mudanças estruturais, fechando-se em si mesmos.

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QUESTÕES DE VESTIBULAR

DURKHEIM

01 - De acordo com Durkheim, o fato socialA) é um fenômeno social, difundido apenas nas sociedades cuja forma de solidariedade é orgânica.B) corresponde a um conjunto de normas e valores que são criados diretamente pelos indivíduos para orientar a vida em sociedade.C) é desprovido de caráter coercitivo, posto que existe fora das consciências individuais.D) corresponde a um conjunto de normas e valores criados exteriormente, isto é, fora das consciências individuais.

02 - Sobre o conceito de solidariedade orgânica para Durkheim, marque a alternativa INCORRETA.A) Evolui em razão inversa à solidariedade mecânica.B) Corresponde à coesão social própria das sociedades que apresentam divisão de trabalho social mais complexa.C) Assenta-se sobre um crescente processo de diferenciação entre os indivíduos.D) Expressa a redução da margem de interpretação da consciência individual acerca dos imperativos coletivos.

MARX

03 - Sobre a produção social, marque a alternativa que está de acordo com o pensamento de Karl Marx.A) Diz respeito às relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção, transformando a si mesmos e a natureza.B) Corresponde às relações entre os homens no âmbito estritamente econômico, posto que a esfera econômica determina a estrutura social.C) Diz respeito às ações individuais dos homens no livre mercado, sendo este marcado pelas leis de oferta e procura.D) Corresponde a uma relação social definida pela lógica do mercado, no qual os homens orientam suas ações em um determinado sentido.

04 - A respeito da teoria de Karl Marx sobre o Estado, marque a alternativa correta.A) Corresponde à organização da dominação de classes, sendo o resultado da divisão da sociedade em classes sociais.B) Expressa o grau máximo de realização do valor da liberdade, sendo obra da razão.C) É o fim para o qual caminhou toda a história da humanidade e a esfera dos interesses coletivos.D) Representa a real possibilidade de superação dos antagonismos sociais que existem na sociedade civil.

05 - Marque a alternativa que corresponde a um dos antecedentes intelectuais da Sociologia.A) A crença na capacidade de a razão apreender a dinâmica do mundo material.B) A valorização crescente dos princípios de autoridade, notadamente da Igreja Católica.C) A descrença nas forças da modernidade, principalmente na idéia de progresso.D) O fortalecimento da especulação metafísica como procedimento científico.

06 - “A burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas (...) Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal. A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados” MARX, K. & ENGELS, F., Manifesto Comunista, Obras Escolhidas, v. 1, São Paulo, Alfa-Omega, s/d., pp. 23-24.

Tendo em vista a análise proposta pelo texto acima, marque a alternativa correta sobre o fundamento do suposto esquema do “mensalão”, prática que envolveria certos empresários, parlamentares e agentes do Poder Executivo, no Brasil:A) Refere-se a uma circunstancial colonização da esfera pública por interesses corporativos de determinados representantes políticos.B) Trata-se de uma corrupção contra a democracia representativa, valor universal para trabalhadores e capitalistas.

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C) Diz respeito estritamente a um desvio de conduta pública de indivíduos ou grupo de indivíduos que fere a ética na política.D) Corresponde a uma manifestação da mercantilização das relações sociais, que extrapola a esfera econômica, em seu sentido estrito.

07 - Acerca da contradição social na teoria marxista, assinale a alternativa INCORRETA.A) A contradição social é fruto das relações sociais de produção, posto que capitalistas e trabalhadores encontram-se em oposição em relação ao Estado e suas formas de interferência na economia.B) A contradição social é fruto da divisão desigual do trabalho social, ao opor capitalistas e trabalhadores, por possuírem interesses colidentes em relação ao processo de produção social.C) A sociedade capitalista está fundada na contradição existente entre a produção social do trabalho e a sua apropriação privada.D) O capitalismo busca a valorização do próprio capital, ao se apropriar do trabalho excedente, por meio do controle do processo de trabalho.

WEBER

08 - Quanto às análises weberianas sobre o desencantamento do mundo e o processo de secularização, é INCORRETO afirmar que A) a secularização diz respeito tanto à expropriação dos bens eclesiásticos quanto ao desencantamento do mundo.B) a perspectiva de Max Weber é evolucionista e prevê o fim da religião em uma sociedade moderna.C) a decadência do poder hierocrático seria um sentido forte da secularização.D) o desencantamento do mundo refere-se tanto à desmagificação via religião ética (os profetas, por exemplo) quanto à ciência e à tecnologia.

09 - Sobre a ética do trabalho, conforme a sociologia de Max Weber, é correto afirmar queA) o estilo de vida normativo, com base na ética religiosa católica, possibilitou o desenvolvimento da mentalidade econômica burguesa no Ocidente.B) há uma relação impositiva entre a ética protestante e o espírito do capitalismo no sentido do desenvolvimento da moderna economia burguesa.C) há uma relação causal entre a ética racional protestante, fundada no trabalho, e o espírito do capitalismo, que possibilitou o desenvolvimento deste último no Ocidente.D) há uma relação causal entre o desenvolvimento da ética religiosa protestante, fundada na contemplação, e o espírito do capitalismo, levando ao desenvolvimento deste último no Ocidente.

10 - Sobre a definição de ação social para Weber, assinale a alternativa correta.A) Está fundada na coletividade, de forma a estabelecer uma relação social.B) Implica necessariamente uma relação social, prescindindo de significação.C) É um conceito de análise típico-ideal, sem nenhuma correspondência com a realidade histórica.D) É aquela que se orienta pela ação dos outros, sendo, portanto, reciprocamente referida.

CULTURA

11 - O bem simbólico sofre, da mesma forma que os bens materiais, o resultado das transformações do capitalismo. A indústria cultural estrutura-se para se realizar em série, fazendo com que os produtos culturais virem mercadorias, conforme afirmação de Adorno e Horkheimer. Nesse sentido, pensando nos processos de produção e criação da indústria cultural, podemos afirmar que A) a indústria cultural é responsável pela homogeneização e pela massificação cultural, pois implica sua recepção homogênea pelos distintos segmentos sociais.B) a criação não está subordinada à produção como condição para o seu funcionamento.C) o produto da indústria cultural é hegemônico e recebido com passividade.D) o produto cultural não é elaborado por determinação do livre-arbítrio dos produtores, todavia mantém relações de significação com os receptores, sendo uma reordenação de signos presentes na cultura popular ou na erudita.

12 - De acordo com Adorno e Horkheimer, assinale a alternativa que caracteriza a indústria cultural.A) É um instrumento privilegiado no combate à alienação das massas.B) Democratiza a cultura ao se servir de tecnologia avançada.C) Desempenha, contemporaneamente, função semelhante à do Estado fascista.D) Revela, como indústria cultural, as significações do mundo para um número maior de pessoas.

TRABALHO

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13 - Acerca do fordismo, assinale a alternativa correta.A) Corresponde a uma forma de organização do trabalho social datada historicamente, prescindindo da figura do Estado e estabelecendo a livre negociação entre capital e trabalho.B) Corresponde a uma forma de organização da produção e do trabalho, que vem possibilitando grande expansão e acumulação do capital nos dias atuais, particularmente ao longo da década de 90.C) Corresponde a uma forma de organização do trabalho social que sempre existiu na sociedade capitalista e que envolve um compromisso entre capital e trabalho, mediado pelo Estado.D) Corresponde a uma forma de organização do trabalho social datada historicamente e envolveu um compromisso entre capital e trabalho mediado pelo Estado.

MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICA

14 - A década de 1980 representou o apogeu dos movimentos sociais no Brasil. No entanto, com o fim do bipartidarismo (1979) e o processo de abertura política e redemocratização, novos atores sociais entraram em cena com repercussão para os movimentos sociais. Questões como a autonomia dos movimentos e a atuação de agentes externos emergiram no cenário político.Sobre o feminismo como movimento social contemporâneo, marque a alternativa correta .A) A multiplicidade de identidades contidas no movimento feminista implica um conceito difuso de feminismo e impossibilidade de sua operacionalização.B) O novo movimento feminista nasceu na ditadura militar, tinha um caráter quase privado e era bastante homogêneo. Ganhou fôlego a partir das organizações e manifestações de 1975. Ainda assim, só ganhou espaço como objeto de pesquisa em instituições acadêmicas no fim dos anos 1990.C) A nova realidade dos movimentos feministas estaria bastante marcada pelas conquistas da década de 1980 e, atualmente, se configuraria mais segundo à profissionalização do movimento por meio da relação com ONG s, preocupadas com a expressão do feminismo na virada do século.D) A primeira tendência do feminismo no Brasil, na década de 1930, enfatizava a ampliação dos direitos da mulher à cidadania plena por meio do sufrágio universal, ao mesmo tempo em que questionava a opressão da mulher e defendia uma igualdade total nas relações de gênero.

15 - Tendo em vista a análise de Marx e Engels no Manifesto Comunista, é possível dizer que estes autores viam a democracia representativa como A) condição institucional a partir da qual as desigualdades econômicas podem ser superadas.B) uma das formas assumidas pelo Estado burguês, determinada pela ordem da acumulação.C) objetivo estratégico das lutas dos trabalhadores pelo fim das condições subumanas de vida e trabalho.D) uma forma de governo e um regime político que, se mal conduzidos, criam a propriedade burguesa dos meios de produção.

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Gabaritos

Julho/200851 (C) 52 (B) 53 (D) 54 (A) 55 (B) 56 (C) 57 (D) 58 (A) 59 (D) 60 (A)

Janeiro/200851 (C) 52 (B) 53 (D) 54 (B) 55 (D) 56 (C) 57 (C) 58 (A) 59 (A) 60 (nula)

Julho/200751 (C) 52 (C) 53 (D) 54 (C) 55 (D) 56 (C) 57 (A) 58 (D) 59 (B) 60 (A)

Fevereiro/200751 (C) 52 (B) 53 (A) 54 (C) 55 (C) 56 (D) 57 (A) 58 (B) 59 (D) 60 (D)

Julho/200651 (C) 52 (D) 53 (A) 54 (B) 55 (D) 56 (D) 57 (C) 58 (B) 59 (A) 60 (C)

Abril/200651 (A) 52 (D) 53 (D) 54 (D) 55 (A) 56 (D) 57 (C) 58 (D) 59 (A) 60 (B)

Julho/200551 (C) 52 (B) 53 (B) 54 (B) 55 (C) 56 (A) 57 (A) 58 (B) 59 (C) 60 (A)

Julho/200451 (D) 52 (D) 53 (B) 54 (D) 55 (D) 56 (D) 57 (B) 58 (C) 59 (D) 60 (A)

Janeiro/200451 (D) 52 (A) 53 (D) 54 (A) 55 (D) 56 (D) 57 (A) 58 (C) 59 (A) 60 (B)

Dezembro/200451 (A) 52 (D) 53 (B) 54 (A) 55 (C) 56 (C) 57 (D) 58 (C) 59 (D) 60 (C)

Julho/200351 (A) 52 (B) 53 (C) 54 (B) 55 (D) 56 (B) 57 (A) 58 (B) 59 (D) 60 (A)

Fevereiro/200351 (C) 52 (B) 53 (D) 54 (A) 55 (C) 56 (D) 57 (B) 58 (C) 59 (B) 60 (B)

Setembro/200241 (B) 42 (D) 43 (D) 44 (B) 45 (D) 46 (D) 47 (D) 48 (C) 49 (C) 50 (B)

Março/200241 (C) 42 (A) 43 (C) 44 (B) 45 (A) 46 (B) 47 (B) 48 (C) 49 (D) 50 (B)

Julho/200141 (C) 42 (C) 43 (A) 44 (C) 45 (C) 46 (B) 47 (D) 48 (B) 49 (C) 50 (B)

Janeiro/200141 (A) 42 (B) 43 (A) 44 (C) 45 (D) 46 (B) 47 (D) 48 (C) 49 (A) 50 (B)

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