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Histórias e lendas do Bar Jacob no Bom Retiro

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Histórias e lendas doBar Jacob no Bom Retiro

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CARO LEITOR

CAPA: O Senhor Jacob à frente de sua equipe de trabalho (1XXX)

ÍNDICE

DIRETORIA: PRESIDENTE Jayme Serebrenic VICE-PRESIDENTE Bettina Lenci DIRETORES DE NúClEOS: bIblIOTECA E DOCumENTAçãO Roney Cytrynowicz

02 EDITORIAL E ÍNDICE

03 PALAVRA DO PRESIDENTE

04 CARTAS

05 NOTÍCIAS

08 NÚCLEO DE HISTÓRIA ORAL

09 HISTÓRIAS E LENDAS DO BAR JACOB NO BOM RETIRO

13 DA INTEGRAÇÃO À INTOLERÂNCIA: CRISTÃOS, JUDEUS E MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA

15 SONIA, A DOCE CELINA

18 KARL LIEBLICH

20 ETALE, A ÚLTIMA IMIGRANTE

21 INSTITUIÇÕES E FORMAÇÃO DA COMUNIDADE JUDAICA PAULISTANA

25 OS VELHOS MARRANOS E A “JUDEIDADE” DOS BRASILEIROS

28 CAVALEIRO THALBERG E SUAS ANDANÇAS

31 BENJAMIN NATHAN CARDOZO

35 J. L. CARDOZO DE BETHENCOURT (1861- 1938), O BIBLIOTECÁRIO REAL E SUA ASCENDÊNCIA E DESCENDÊNCIA

37 DOAÇÕES

38 PESQUISADORES

42 FOTOTECA

O BOLETIM DO AHJB, PUBLICADO DESDE 1996,é enviado gratuitamente aos sócios, a instituições culturais do Brasil e do exterior, e é também distribuído aos visitantes e consulentes que o solicitam.Lembramos aos colaboradores que este boletim possui ISSN (Inter-national Standard Serial number), que é o número internacional normatizado para publicações seriadas. Os artigos inéditos podem ser enviados à Redação pelo e-mail [email protected]

editoriaL 02

Você tem em mãos o Boletim do AHJB no qual his-toriadores, pesquisadores, articulistas, fotógrafos, es-tudiosos e interessados em geral, se envolvem para contar a história do Brasil e dos judeus vindos para cá, ou os já brasileiros há várias gerações.O tema inicial deste número é um artigo leve, agra-dável, que trata do lado alegre da vida. Refiro-me ao “Bar Jacob no Bom Retiro”, que foi inicialmente o ponto de encontro dos ashkenazitas aqui chegados nos anos vinte e trinta. Há também o artigo de um estudante de História So-cial da Unicamp, Marcio Mendes da Luz, que já há meses pesquisa nos acervos do AHJB colhendo mate-rial e preparando sua dissertação de mestrado. Recebemos de Eva Lieblich Fernandes uma breve bio-grafia de seu pai, Karl Lieblich, que entre outras coisas foi jurista, jornalista, poeta etc. Um típico intelectual europeu, dedicado e discreto. A seguir temos Abrahão Gitelman, colaborador do Arquivo há muitos anos, aborda uma personagem pouco conhecida, como ele mesmo diz, mas muito interessante. Neste número, temos - e teremos sempre nesta pu-blicação - um mostruário do excelente material foto-gráfico de nossa Fototeca. São tesouros. Para este nú-mero, escolhemos fotos registrando as relações entre Brasil e Israel: autoridades de Israel nos anos sessenta desfilando no Bom Retiro, Golda Meir em encontro com a liderança comunitária, entre outras.O Núcleo de Genealogia do AHJB recebe muitas consul-tas do público leitor e teremos sempre em nossas pá-ginas uma matéria ou notícia sobre o tema. O historia-dor Paulo Valadares, co-editor desta publicação, aborda neste número a figura de Benjamim Nathan Cardozo.Você encontrará muito mais... e nos resta então só lhes desejar boa leitura!

SEmA PETRAgNANI, EDITORA

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do AHJB

ADmINISTRAçãO Mireille Barki bIblIOTECA Theodora da C. F. Barbosa DOCumENTAçãO Mireille Barki FOTOTECA Arnaldo Lev PESQuISA E PROJETO Lucia Chermont INFORmAçãO E TECNOlOgIA Ingo Bekman SERVIçOS gERAIS José Messias Ribeiro Santos REDAçãO: EDITORA Sema Petragnani CO-EDITOR Paulo Valadares REVISORAS Flora Martinelli e Sueli Pfeferman PROJETO gRÁFICO Ciro Girard/satelitesmg.com.br DIAgRAmAçãO Alexandra Marchesini ImPRESSãO Northgraph Gráfica CONTATOS [email protected] ou pelo telefone 11 2157.4129

PRESIDENTE Mauricio Serebrinic VICE PRESIDENTE Carlos R. de Mello Kertész VICE PRESIDENTE Roney Cytrynovicz DIRETORES: bIblIOTECA E DOCumENTAçãO Roney Cytrynowicz COmuNICAçãO Sema Petragnani CulTuRA IDISh Samuel Belk DIVulgAçãO Sonia Schneider EDuCAçãO Anna Rosa Campagnano ExPOSIçõES Miriam Landa FINANCEIRO Jayme Serebrenic gENEAlOgIA Guilherme Faiguenboim hISTÓRIA ORAl Marilia Freidenson múSICA E DISCOTECA Lea Vinocur Freitag PATRImôNIO Simão Frost PESQuISA E ACERVOS ESPECIAIS Abrahão Gitelman RElAçõES INSTITuCIONAIS Paulina Faiguenboim SEçõES Carlos R. De Mello Kertész SECRETÁRIA gERAl Myriam Chansky

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PALAVRA DO PRESIDENTE

Desejo a todos os nossos sócios, colaboradores, mem-bros e amigos da diretoria um SHANÁ TOVÁ repleto de saúde e de realizações.

A eleição da nova Diretoria do AHJB foi realizada nos dias 30 de setembro e 1º de outubro. Se fizermos uma avaliação da chapa que se apresentou para a eleição,

veremos que a maioria dos seus componentes continua praticamente a mesma, apesar dos apelos para que novos voluntários se juntem a nós.

Buscamos participantes que possam engrossar as nossas fileiras, pois é sempre oportuno e desejável haver renovação. Espero que isso venha a acontecer em breve.

Gostaria de informar que, na última gestão que presidi, houve um intenso tra-balho no que se refere ao arquivo documental, à biblioteca, à discoteca, à heme-roteca e à administração.

Recentemente, realizamos em nossa sede o lançamento do livro “Soldados que Vieram de Longe – os 42 Heróis Brasileiros-Judeus da 2ª Guerra Mundial”, de autoria do Prof. Israel Blajberg, amigo e colaborador do Arquivo. Este livro conta histórias interessantes e comoventes dos participantes da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.

O comparecimento de representantes das Forças Armadas foi muito significativo e comoveu todos nós. Contamos com a presença de vários veteranos, entre os quais dois brasileiros judeus, Boris Schnaiderman e Jacob Gorender.

A presença modesta de representantes de entidades de nossa coletividade foi lamentável. Por outro lado, a presença de representantes da Fisesp, Icib e Câmara de Comércio Brasil-Israel ressaltou a importância do evento.

Ao fim de meu mandato como presidente e em nome de toda a Diretoria, desejo prestar homenagem aos irmãos Bettina Lenci e Thomas Scheier que, no ano de 2006, doaram ao Arquivo o acervo de seu pai, o fotógrafo Peter Scheier, o qual foi cuidado com muito carinho e eficiência até agora.

Neste ano de 2009, o Instituto Moreira Sales mostrou-se interessado em adquirir este acervo e todos nós acreditamos que o IMS seria o local mais adequado para o mesmo. Os irmãos Scheier sugeriram então que ele fosse vendido e o resultado dessa operação veio em beneficio do nosso Arquivo.

Com esse recurso, e atendendo ao pedido dos doadores, estamos já moderni-zando o nosso Acervo e adequando-o às normas arquivísticas internacionais.

Até breve,

Jayme Serebrenic

PaLaVra do PreSideNte03

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CartaS 04

We have received the following issue: nº 38.our library has ordered on subscription/or continuation.Bibliothekssystem der Universität Frankfurt

Solicitamos informações sobre a situação do periódico edi-tado por V.Sas. para que o processo de permuta não seja interrompido. PUC - Campinas - Serviço de Publicações, Divulgação e Intercâmbio SBI e SPDI – Maria do Carmo Moreira Jacon

É com satisfação que a Biblioteca Central Blanche Knopf, da diretoria de documentação, desta Fundação, vem agradecer a doação da publicação.Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE - Sara Cavalcanti e Maria Aparecida F. de Morais Alves – Coordenadora Geral da Biblioteca Blanche Knopf

agradeço o envio do exemplar do Boletim do arquivo His-tórico Judaico Brasileiro. este exemplar será incorporado ao acervo de Sergio Buarque de Hollanda. Muito obrigada. Biblioteca Central César Lattes (UNICAMP), Campinas,

SP - Tereza Cristina Oliveira Nonatto de Carvalho, Dire-toria de Coleções Especiais e Obras Raras

agradeço o Boletim nº 40 que gentilmente me mandaram... Poderiam mandar-me os números de 34 a 39 do Boletim, particularmente o nº 39 me interessa.Com admiração e gratidão pelo seu trabalho,Eva Lieblich Fernandes – São Paulo

através da presente, apresentamos nossos agradecimentos pela gentileza do envio do Boletim informativo do arquivo Histórico Judaico Brasileiro e, nesta oportunidade, cumprimentar esta en-tidade pelo conteúdo e qualidade gráfica da publicação.Arthur Rotenberg – Presidente da Hebraica – São Paulo

a homenagem in Memoriam da historiadora Frieda Wolff (1911-2008), escrita pelo Prof. dr. Nachman Falbel na edição nº 40 do Boletim aHJB, foi certamente uma bela e tocante lem-brança do meticuloso trabalho realizado pelo saudoso casal.Prof. Dr. Luiz BenyosefPresidente do Memorial Judaico de Vassouras

CARTAS

O ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO É UMA ENTIDADE DE UTILIDADE PÚBLICA DA COLETIVIDADEColabore doando fotos, livros, jornais, documentos pessoais (passaportes, certidões) e objetos litúrgicos para a preservação da memória judaica no Brasil

ENDEREÇO:Rua Estela Sezefreda, 76 - PinheirosTel: 3088-0879 e 3082-3854 www.ahjb.com.br

Estacionamento conveniado: Park Land, Rua Mateus Grou, 109 (a 50 metros do Arquivo)

TORNE-SE

SÓCIO DO

ARQUIVO

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NotíCiaS05

PRESIDENTE MAURICIO SEREBRINIC

VICE PRESIDENTE CARLOS R. DE MELLO KERTÉSZ

VICE PRESIDENTE RONEY CYTRYNOWICZ

DIRETORESBIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO RONEY CYTRYNOWICZ

COMUNICAÇÃO SEMA PETRAGNANI

CULTURA IÍDISH SAMUEL BELK

DIVULGAÇÃO SONIA SCHNEIDER

EDUCAÇÃO ANNA ROSA CAMPAGNANO

EXPOSIÇÕES MIRIAM LANDA

FINANCEIRO JAYME SEREBRENIC

GENEALOGIA GUILHERME FAIGUENBOIM

HISTÓRIA ORAL MARILIA FREIDENSON

MÚSICA E DISCOTECA LEA VINOCUR FREITAG

PATRIMÔ NIO SIMÃO FROST

PESQUISA E ACERVOS ESPECIAIS ABRAHÃO GITELMAN

RELAÇÕES INSTITUCIONAIS PAULINA FAIGUENBOIM

SEÇÕES CARLOS R. DE MELLO KERTÉSZ

SECRETÁRIA GERAL MYRIAM CHANSKY

NOVA DIRETORIA ELEITA EM 30/09 E 01/10/2009COM VIGÊNCIA DE OUTUBRO DE 2009 A SETEMBRO DE 2011

AS INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES PODEM SER OBTIDAS NOS ENDEREÇOS ABAIXO:site: www.ahjb.org.br e-mail da Comissão Organizadora: [email protected] telefone: 11 3088-0879 e no endereço Rua Estela Sezefreda, 76Pinheiros - CEP 05415-070 - São Paulo - SP

O AHJB vai promover nos dias 27, 28 e 29 de novembro próximo, na sede da Hebraica de São Paulo, seu V Encontro Nacional, quando reunirá acadêmicos, estudiosos, pesquisadores e membros das seções estaduais e de entidades coligadas, para promover o intercâmbio cultural e de experiências ligadas ao tema judaísmo em seus múltiplos aspectos no Brasil.Nesse Encontro, será comemorado o sesquicentenário de nascimento do escritor Scholem Aleichem, com leituras dramatizadas de seu teatro e venda de seus livros traduzidos para o português.

V ENCONTRO NACIONALARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO REALIZA

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NotíCiaS 06

o bairro do Bom retiro, na região central da capital paulis-ta, recebeu homenagem do Museu da energia de São Paulo e da Fundação energia e Saneamento, com a inauguração, em 10 de agosto último, da exposição “Bom retiro, uma Costura de Povos”. a mostra, que ficará aberta ao público até janeiro de 2010, apresenta as diversas faces de um bair-ro cujo traço principal é a convivência de diferentes cultu-ras, resultado do processo de acolhimento de imigrantes de várias partes do mundo. ao retratar a vida das pessoas que moram e trabalham ali, o Museu da energia identifica e exibe um dos mais importan-tes patrimônios da cidade: o modo como os seres humanos constroem suas histórias e dão sentido a tudo que está ao seu redor. Neste caso específico, fazendo com que a mistura de povos trouxesse diferentes culturas, costumes e sonhos, que acabaram fazendo do bairro um lugar tão especial. a exposição leva o visitante a mergulhar em uma colcha de retalhos cultural, tecida sob a influência de diferentes na-cionalidades e retrata o último quarto do século 19, quando imigrantes se estabeleceram no bairro, motivados pelo de-sejo de construir uma vida nova, até os dias de hoje com o comércio da região dominado pela confecção de roupas. É possível também perceber o quanto a localização do bairro era privilegiada pelo fato de estar entre os rios ta-manduateí e tietê, e pela estrada de ferro inglesa São Pau-

Exposição “Bom REtiRo, uma costuRa dE povos” Museu da Energia de São Paulo visitação GRatuita seg a sexta das 10:00h as 17:00hsábados selecionados das 10:00h as 15:00h outubro 03 e 17, Novembro 07 e 28 Endereço: alameda cleveland, 601, campos Elíseos informações: www.museudaenergia.org.br

exposição conta história do Bom retirolo railway construída entre os anos de 1860 e 1867. assim como ter o panorama da mesclagem cultural proporciona-da pelos diferentes idiomas, pela variedade culinária e por fisionomias e vestimentas tão diversificadas. além da linguagem histórica, a exposição apresenta obras realizados por artistas plásticos que fizeram uso de linhas, lãs e barbantes para criar desenhos e novos olhares sobre o Bom retiro. a fotógrafa Cássia Xavier expõe seu trabalho com imagens atuais do cotidiano do Bom retiro. a mostra reuniu acervos particulares e de diversas institui-ções como arquivo Histórico Judaico Brasileiro, associação Brasileira de Coreanos, associação Brasileira de Preservação Ferroviária, iphan, Memorial do imigrante, Museu da Pes-soa e da própria Fundação.

Embora restassem ainda criminosos de guerra nazistas com vida, Wiesenthal considerou que seriam tão velhos que dificilmente poderiam ser levados perante um tribunal. Wiesenthal foi chamado “o caçador de nazistas”. Ele considerava ter ajudado a fazer justiça e, certamente, a fez!Em 1941, com a idade de 32 anos, durante a ocupação alemã da Tchecoslováquia, ele foi detido e sobreviveu a 12 campos de concentração até ser libertado pelas tropas americanas no campo de Mauthausen. Ele anotou os nomes de cada um dos criminosos nazistas que participavam do genocídio e, depois de libertado, ocupou-se exclusivamente de sua busca. Ao longo de sua vida, conseguiu levar à Justiça mais de 1.100 criminosos de guerra e autores de crimes contra a humanidade. Wiesenthal fundou, em 1947, o Centro Judaico de Documentação que deu origem ao Docu-mentationszentrum de Viena, que leva o seu nome.

iN mEmoRiam dE simoN WiEsENtHaLEm 20 de setembro de 2005, Simon Wiesenthal faleceu. Relembrá-lo por ocasião do quarto aniversário de sua morte constitui um comovente dever. Por ocasião de sua morte, o jornal francês LE MONDE escreveu:

“Ele estava muito fatigado. Ele ainda ia todos os dias, por cerca de uma hora, a seu escritório no centro de Viena, no antigo bairro judeu. Em 2003, numa entrevista concedida ao jornal austríaco FORMAT, ele disse: “Meu trabalho está feito, os assassinos de massa que eu procurei, eu os encontrei todos e sobrevivi a todos eles.”

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de São Paulo; alberto Milkewitz, repre-sentando a FiSeSP; Marina Sendacz, Presidente do iCiB; Sergio tomchinsky, diretor-executivo da Câmara Brasil-israel de Comércio e indústria; Leib Berenstein, Presidente do Conselho Judaico da Zona Norte; Prof. dr. César Campiani Maximiano, historiador da FeB, entre outros.

a Mesa diretora estava composta pelo dr. Jayme Serebrenic, Presidente do aHJB, dr. Mauricio Serebrinic, Vice-Presidente do aHJB, Cel. edison Luiz da rosa, assistente do Comandan-te Militar do Sudeste, e pelo autor israel Blajberg.o evento iniciou-se com a saudação do dr. Jayme Serebrenic. a seguir o autor falou sobre sua obra, fazendo um breve resu-mo sobre o trabalho. o Cel. edison Luiz da rosa, maior auto-ridade militar presente, fez uso da palavra, recordando ser ele mesmo também um descendente de imigrantes portugueses. a Banda de Música do 2° Batalhão de Policia do exército executou o Hino Nacional Brasileiro e, a seguir, foi executa-do o toque de Presença de ex-Combatente. encerrada a sessão, o autor autografou exemplares do livro para os presentes, em animado coquetel. Na sede do arquivo, foi montada uma exposição alusiva à temática do livro, com peças originais da 2ª Guerra Mundial, cedidas pela associação dos ex-Combatentes do Brasil – Se-ção SP, e do acervo pessoal do autor.

NotíCiaS07

o Livro do Prof. israel Blajberg, “Soldados Que Vieram de Longe - os 42 Heróis Bra-sileiros Judeus da 2ª Guerra Mundial”, foi lançado em São Paulo, no dia 26 de agosto, na sede do aHJB. É uma grande homena-gem ao exército Brasileiro, na semana que comemora o dia do Soldado, e aos ex-com-batentes brasileiros de todas as fés. o evento contou com a presença de público expressivo e de autoridades civis e militares, entre as quais:Cel. edison Luiz da rosa, representando o Gen antonio Gabriel esper, Comandante Militar do Sudeste; Major Magnus Copetti Weber, Sub-comandante, acompanhado de uma represen-tação do CPor/SP; Cap. ten. representante do Vice almirante arnaldo de Mesquita Bitten-court Filho, Comandante do 8° distrito Naval; Presidente da aBore - associação Brasileira dos oficiais da reserva do exército, ten. r/2 aniz Buissa; Prof. Boris Schnaiderman, 3° Sgt. de artilharia da FeB; Prof. Jacob Gorender, fSoldado do 1°. regimento de infantaria, regimento Sampaio; Vet. isaac Plut, foi Soldado do CrP da FeB na Vila Militar – rJ; Cel. Jairo Junqueira da Silva, Presidente da associa-ção dos ex-combatentes do Brasil, Seção de São Paulo; Veterano antonio Cruchaki, Presidente da aNVFeB de São Bernardo do Campo; Cap Gonzalez, do Museu da associação dos ex-Com-batentes do Brasil, Seção de São Paulo; Veterano da Marinha Francesa andré akiba Levi; Vereador Gilberto Natalini (PSdB) e Luciana Feldman, assessora Parlamentar da Câmara Municipal

LaNçamENto dE LivRo soBRE a paRticipação dos JudEus Na FEB

Jacob Gorender

tenente aniz Buissa, Maurício Serebrinic, Major Weber, Jayme Serebrenic, israel Blajberg e tenente Malhada

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O Núcleo de História Oral do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, representado por Marília Freidenson, Diretora de História Oral do AHJB, apresentou uma palestra sobre o nosso trabalho no 15° Congresso Mundial de Estudos Judaicos, realizado de 2 a 6 de agosto no campus da Universidade Hebraica de Je-rusalém em Monte Scopus. A participação do Núcleo de História Oral neste impor-tante evento partiu de con-vite feito pela Diretora desta disciplina na Universidade, Profª. Margalith Bejarano.O Congresso Mundial de Es-tudos Judaicos, criado há mais de 60 anos por iniciativa de pesquisadores em estu-dos judaicos da Universidade Hebraica de Jerusalém, é o maior e o mais importante neste campo e o principal fó-rum para a apresentação de descobertas e inovações em Estudos Judaicos.Na ocasião da abertura do Congresso, o Presidente da Universidade Hebraica de Je-rusalém, Prof. Menahem Ben-Sasson, saudou as centenas de pessoas de Israel e de todo o mundo presentes. A Profª. Sara Japhet, da Universidade Hebraica e Presidente do Congresso, proferiu a palestra de abertura sobre o tema da luta pela identidade durante o período de re-gresso a Sião, seus resultados e consequências.Durante os cinco dias do Congresso, cerca de 1.400 pales-tras foram apresentadas em 380 sessões, cobrindo áreas

pRoGRama sHaLom BRasiLDia 25 de setembro, o programa Shalom Brasil apresentou aos seus telespectadores uma matéria sobre o AHJB. Nos-so presidente, o diretor de acervos especiais, funcionários, voluntários e um pesquisador foram todos entrevistados. Assim, vários acervos puderam ser mostrados, tais como, acervo documental, fototeca e biblioteca em iídiche, entre outros. Esta foi uma grande oportunidade para o nosso arquivo expor ao público a importância de nossa existência e a seriedade com que preservamos a memória e a história da imigração e da permanência judaica no Brasil. Para aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir ao programa, gostaríamos de informar que temos uma cópia do mesmo em DVD para empréstimo.

NUCLeo de HiStÓria oraL 08

15º Congresso Mundial de Estudos Judaicosque dizem respeito aos diferentes aspectos da história ju-daica e estudos judaicos, incluindo a vida, a literatura e a cultura através dos tempos. O Congresso também dedi-cou sessões a questões atuais, temas que focam laicismo e religião, o centenário da cidade de Tel Aviv e do kibutz, os

judeus da Europa Oriental, a comu-nidade haredi, o papel da mulher no judaísmo e a ligação entre o jor-nalismo judaico e a história judaica.A palestra de Marília Freidenson versou sobre o trabalho desenvol-vido pelo Núcleo sobre a imigra-ção judaica em São Paulo, e como este trabalho surgiu em 1992, a partir da preocupação urgente em registrar as histórias de vida dos imigrantes de primeira geração. Hoje, temos mais de 400 entrevis-tas, catalogadas e digitalizadas, de imigrantes oriundos de 57 países. De acordo com o Prof. José Carlos Sebe Bom Meihy, da Universidade de São Paulo, o nosso projeto é “o mais importante projeto comu-nitário realizado fora do cenário acadêmico no Brasil”.Marília também falou sobre a nos-sa participação no projeto “Shoah” do diretor Steven Spielberg, quan-

do realizamos mais de quinhentas entrevistas, gravadas em vídeo, com sobreviventes do Holocausto residentes em várias cidades do Brasil. Recentemente, assinamos uma parceria com o Instituto LEER da USP, coordenado pela Prof. Maria Luiza Tucci Carneiro, para disponibilizar nossas entrevistas de refugiados e sobreviventes do Holocausto para o projeto Arqshoah (Arquivo Virtual do Holocausto).

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HiStÓria09

or volta de 1916, querendo escapar do Exército Polonês e da estagnação econô-mica, Jacob Givertz, então com 18 anos, nascido na Polônia, tentou desembarcar nos EUA. Como estava com uma inflama-

ção nos olhos, as autoridades portuárias confundiram com tracoma que, na época, era uma epidemia; assim, ele seguiu para Buenos Aires.Seu primeiro emprego na capital portenha foi o de gar-çom, em uma das cervejarias à beira do Rio da Prata, cuja façanha, contava ele, era segurar cinco pratos no braço

ILDA KLAJMAN *

Histórias e lendasdo Bar Jacob

no Bom Retiroesticado. Tempos depois, conheceu Anna Rabinovich, uma jovem de 15 anos, vinda em 1913 de Odessa, na Rússia, com a sua mãe e a irmã mais velha chamada Anna que era socialista, deixando a Rússia por questão de segurança.Anna e Jacob ficaram grandes companheiros e, juntos, iam às feiras e mercados e vendiam sabão. Em 1917, casaram-se. As duas primeiras filhas, Rebeca e Olga, nasceram em Buenos Aires. Já no Brasil, nasceram as outras duas, Aida e Carlota pelas mãos de Olinda, parteira do Bom Retiro.Por volta de 1924, nascia o “Bar e Restaurante Jacob”, na Rua José Paulino, quase esquina com a Rua Silva Pin-

P

Fany Rabinovitch (avó), Jacob Givertz, Rebeca, Olgae Aida - Jardim da Luz - 1924(Acervo AHJB)

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HiStÓria 10

co”, em que o locutor Salomão Esper dizia: Smaltz he-ring, quer comprar? Vai lá no Bar Jacob.”A filha mais nova, ainda bebê, ficava dentro de uma cai-xa de maçãs que a mãe forrava, e as outras quatro filhas, já desde pequenas, ajudavam os pais, sentadinhas atrás do balcão. Elas estudavam nas escolas das redondezas: Grupo Escolar João Kopke, Alexandre Manzoni, que mais tarde viria chamar-se Escola Tiradentes.Quando terminavam as sessões de teatro iídiche, atores como Gutovitch e empresários como Lubeltchic iam lá tomar seu chá.Sua filha Carlota conta que o Sr. Jacob colaborava com todos que lhe pediam ajuda. Numa ocasião em que dois homens chegaram pedindo auxílio para alguma noiva pobre da colônia, uma de suas filhas retrucou: “Mas pai, você conhece esses homens? De onde eles são?” Ele respondeu como sempre dizia: “Se alguém pede ajuda, não se pode negar; fiz a minha parte, a deles ficam em suas consciências.”Ele fazia as compras para o restaurante no Mercado Municipal, único lugar na época capacitado para forne-cer quantidades maiores; e de lá voltava, com a carroça cheia, sentado ao lado do cocheiro.

to, onde também havia um empório, que vendia vinhos, licores e arenques importados, que vinham em grandes barris, além de pão preto, pepinos em conserva, carnes defumadas, salames, estre outros. Em Pessach (Páscoa), vendiam a matzá (pão ázimo). Ali era um ponto de reunião dos imigrantes que busca-vam amparo em outro judeu; e lá estava o Sr. Jacob, com sua simpatia e gravata borboleta, para ajudá-los. Ao seu lado, estava sempre a “sua” Anna.Além da comida judaica, havia a grande boa vontade do Sr. Jacob que, devido à falta de recursos dos imigrantes, sempre deixava para “pagar depois”. Ele os orientava no trabalho de klientelchiques, (ele era fiador pois estava estabelecido), e autorizava a fixação de afiches de propa-ganda do teatro iídiche na porta e, lá mesmo, vendiam ingressos para os espetáculos.As cartas dos familiares dos imigrantes (os homens vi-nham antes e posteriormente traziam as famílias) eram endereçadas ao Bar Jacob, onde se reuniam por volta das quatro horas da tarde para tomar um chá e pegar as car-tas. Este foi considerado o primeiro pletzl (pracinha no sentido de local de encontro). Havia, no rádio, o progra-ma “Hora Israelita”, posteriormente o programa “Mosai-

Anna Givertz, com seu avô - Odessa, Russia (Acervo AHJB) Buffet Jacob (Acervo AHJB)

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Jacob Givertz e sua equipe, no Buffet Jacob (Acervo AHJB)

HiStÓria11

Casamento de Vinik Kotler, realizado pelo Buffet Jacob, no Clube Homs - 1954 (Acervo AHJB)

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Pela manhã, bem cedo, a Companhia Antártica, que fi-cava no fim da Rua José Paulino, deixava na porta do bar blocos de gelo. Estes eram apanhados com sacos de estopa e colocados no balcão-geladeira de madeira, cujo interior era forrado com folhas de flandres que conser-vavam a baixa temperatura. Debaixo destas, ficava uma bacia para recolher o gelo derretido.Os casamentos eram realizados no salão, que ficava no sub-solo da sinagoga da Rua Newton Prado. Na época, as maçãs eram importadas e caras e, no fim das festas, estas eram servidas em bandejas que vinham do fundo do salão; quando chegavam na metade do caminho, já não havia mais nenhuma na bandeja. Os doces eram feitos por Iuge, polonesa judia que morava em uma vila na Rua da Graça. Por volta de 1949, em um sobrado na Rua José Paulino, o Sr. Jacob, com a ajuda do genro Leopoldo, casado com sua filha Olga, abriu o salão “Salão Israel”, de tamanho médio, para começar a organizar festas. Além dessas, parte da comunidade para lá se dirigia para ouvir piadas iídiches, contadas pelo cômico Antfuss e sua mulher Basza Ajs (hoje conhecida como Berta Loran).Domingo pela manhã, no rádio, havia o programa “Mo-saico” de Francisco Gotthilf, que, por ocasião de algum casamento ou noivado, transmitia as felicita-ções dos familiares (bagrissing). Depois da José Paulino, por volta dos anos 50, foi aberta a “Mercearia e Buffet Jacob”, na Rua Prates 121, em frente ao Jardim da Luz, onde trabalhavam o Sr. Jacob, o genro Leopoldo e a filha Olga. Vendiam comestíveis judaicos e outros em geral, pois não ha-via supermercados na época. Um funcionário levava as compras em sacolas de lona, caminhando ao lado dos fregueses.Em frente à sinagoga da Newton Prado havia a casa do Buffet, com uma cozinha bem grande equipa-da com fogão a lenha. Os quartos eram o depósito dos cavaletes e das pranchas para montar as mesas. Quando se fazia o guefilte fish para uma festa de quinhentas pessoas ou mais, as cozinheiras batiam o peixe com o facão quadrado (haberbek).As festas eram realizadas em vários salões: Mai-son Suisse, Palácio Mauá, Clube Homs e também nas casas dos clientes. A parte musical das festas ficava por conta de “Samuel e Sua Orquestra”, que durante o dia era barbeiro e, nas festas, violi-nista. O mesmo acontecia com o que tocava acor-deão: trabalhava na mesma barbearia e, além disso, eletricista. Existia também a orquestra do “William Forneau”. Houve um casamento da co-lônia com mil pessoas, em que o dono da festa contratou os “Dragões da Independência” para

ficarem postados quando a noiva entrasse no salão.No cardápio, entre outros itens, era servido um frango de leite para cada pessoa, e o serviço era à francesa. O peixe entrava triunfalmente em bandejas, na altura dos ombros dos garçons enfileirados embalados pelo som da música Russen-Kale Mazel Tov (noivo e noiva, parabéns). Sobre pranchas e cavaletes forrados com toalhas da Ilha da Ma-deira, era servido o delicioso ponche em duas enormes poncheiras prateadas “importadas” do Automóvel Club Paulista, adquiridas nos anos 50.Os pagamentos de algumas festas eram feitos em suaves prestações mensais que, às vezes, completavam um ano. Havia festas em que o número de pessoas que chegava era maior do que o combinado e o Sr. Jacob comentava: “Tem mais turres (traseiros) que cadeiras.” Isto nunca era problema, pois sempre havia mesas e cadeiras em quan-tidade suficiente para resolver o problema, sendo que o preço continuava o combinado.Eu, como neta do Sr. Jacob, quando encontro senhores ou senhoras daquela época, eles me identificam quando digo que sou neta do “Bar Jacob”. Começam, então, para meu grande deleite, a contar histórias pitorescas de meus avós...

HiStÓria 12

Fany Rabinovitch, sua filha Ana (Givertz de casada) Odessa/ Russia - Acervo AHJB

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artiGo13

s Grandes Invasões Bárbarogermânicas deram início a um conturbado perío-do culminado em 476, com a queda de Roma, então capital do Império Romano do Ocidente. As conversões ao cristianis-

mo dos grupos bárbaros e as conquistas árabes-muçul-manas, conhecidas como Guerras Santas, caracterizaram o período medieval (século 5 ao 15) como o da Idade da Fé. Cristianizados, os visigodos, no norte da Península Ibéria, passaram a discriminar os judeus, procedentes de Sefarad, instalados na região em tempos mais antigos. A opressão visigótica cessou, quando os árabes, em nome de Alá, conquistaram toda a península, sedimentando o poderio muçulmano no Mediterrâneo, principal eixo das ligações comerciais da Idade Média. O respeito árabe aos Povos do Livro – judeus e cristãos - havia permitido sua presença nos domínios muçulmanos sem se converterem, desde que efetuassem o pagamen-to de certas taxas impostas pelos Estatutos das Mino-rias - Dhimmis. A tolerância institucionalizada conduziu a uma relativa integração cultural entre os três grupos re-ligiosos na Ibéria. Junto aos precavidos cristãos, eminen-tes judeus foram convidados a fazer parte do poder e das finanças árabes, como Hasdai Ibn Shaprout de Córdoba que, além de representar sua comunidade, exerceu fun-ções diplomáticas ao Califa Abd al-Rahman (912-961). Nos domínios muçulmanos ibéricos, o ensino do Alcorão e da Torá contribuiu para a difusão de conhecimentos em período conhecido como áureo, pois, além dos estu-dos religiosos, expressivo número de judeus passou a de-dicar-se à filosofia, às ciências, à medicina, à astronomia e à poesia, produzindo magníficas obras, entre as quais, a de Samuel Ibn Gabirol (1021-1080) de Granada, autor da obra Mekor Haim – Fonte da Vida, escrita em árabe. A integrativa sociedade ibérica contrastava com a produzi-da na Europa Medieval Cristã onde, os judeus excluídos da posse da terra, viviam em comunidades fechadas. O enquadramento de alguns no serviço da coleta de taxas e impostos - função desprezada pela população geral - ampliou a discriminação e o antissemitismo medieval.

DA INTEGRAÇÃO À INTOLERÂNCIA: CRISTÃOS, JUDEUS E MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA

Considerado a própria encarnação do mal e do pecado, o judeu transformara-se em objeto de infindáveis suspeitas e frequentes castigos. A Reconquista cristã da Península Ibérica impediu a con-tinuidade do processo integrativo e o geral respeito ára-be pelas diferenças religiosas. A tomada de Toledo em 1085 permitiu aos almoravis, fanáticos muçulmanos do Norte da África, invadir a região, gerando inseguranças e a mobilização de algumas famílias judias, como a de Moshé Ben Maimon (1135-1204); ao exílio em terras do Nordeste da África. Este eminente racionalista, conheci-do como Maimônides, ao buscar conciliar a teologia com a filosofia judaica, escreveu o “Guia dos Perplexos”, obra que atingiu expressividade medieval. O exílio não foi regra. Diante das novas diretrizes muçul-manas, algumas famílias judias buscaram proteção nos reinos de Castela, Aragão e Navarra que, fortalecidos nas lutas da Reconquista, se interessaram por expressivos signatários judeus à ocupação de cargos nas finanças e na administração de seus reinos. Se o domínio do ára-be – idioma da ciência, da administração e dos negócios – transformara os judeus em agentes importantes nos contatos com o sul peninsular ainda a reconquistar; o forte apoio estatal cristão proporcionou aos sefaraditas a segurança sempre desejada. A aliança entre a realeza espanhola e a elite judaica atingiu seu auge, quando Sa-muel Halevi foi designado para Primeiro Tesoureiro de D. Pedro de Castela (1350-1369), rei que edificou a famosa sinagoga toledana do Trânsito, em 1367. Conquanto houvesse confluência de interesses, as rela-ções políticas entre judeus e espanhóis foram deterioran-do-se, sobretudo pelo esforço missionário católico em incrementar o ódio a um povo de uma religião despre-zada. A crise econômica de 1380 fortaleceu as tensões sociais condutoras das hostilidades da população aos ju-deus, em especial, quando as acusações de profanação da hóstia se tornaram frequentes. Diante das ameaças e, em clima de terror, judeus de prestígio foram obriga-dos a se converter ao catolicismo. Em 1391, populares, conduzidos pelo inflamado clérigo Vicente Ferrer, foram

RACHEL MIzRAHI (*)

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artiGo 14

levados aos violentos massacres dos judeus de Sevilha. O casamento de Fernão de Aragão e Isabel de Castela permitiu que as conturbadas relações sociais fossem controladas pelo Tribunal da Inquisição de Sevilha, sob a direção de Tomás de Torquemada, confessor da rainha. Em 1492, ao conquistar Granada - último reduto militar mouro, os reis católicos, não conseguindo superar os im-passes de uma sociedade dividida entre cristãos velhos, conversos e judeus e, imbuídos da mítica idéia de “um reino cristão para súditos cristãos”, decidiram expulsar de seus domínios não somente os mouros, mas os ju-deus. Com este ato, a Espanha, politicamente unificada, resolvia seu impasse social. A grande maioria dos expul-sos judeus dividiu-se, de imediato, entre as possessões muçulmanas do Norte da África e de Portugal, reino vizi-nho, juntando-se às comunidades judaicas locais. No período e de forma diferente, os judeus de Portugal ainda preservavam a antiga independência, inclusive no direito à posse de quintas e outras propriedades. A co-mum proximidade e a convivência entre judeus e cristãos se mantinham, impedindo que as discriminantes ordens papais, como a da distinção social pela forma e cor dos trajes, fossem regularmente seguidas. Em comunidades abertas, onde se preservavam costumes e tradições, os judeus eram, na justiça civil e criminal, geridos por seus próprios juízes. O Arabi-Mor, nomeado pelo rei, continu-ava como máximo representante comunitário, supremo magistrado e, indicado para Ministro da Fazenda Real. Frente ao Atlântico, Portugal, ao priorizar o desenvol-vimento da ciência náutica, favoreceu o crescimento de uma classe urbana, predominantemente judaica. A polí-tica lusa, conduzida pela Dinastia de Aviz (1385-1582) e apoiada pela burguesia, não deixou de ser influenciada pelos dramáticos acontecimentos dos reinos vizinhos. Os massacres em Sevilha de 1391 levaram D. João II a autori-zar a entrada de importantes famílias judias em seu reino, favorecendo empreendimentos da política expansionista portuguesa. A expulsão de 1492 levou cerca de 100.000 judeus a se posicionarem em Portugal, por ordem de D. Manoel, sobrinho e sucessor de D. João II. Conhecido nos documentos como “o Venturoso”, “Rei da Pimenta” e “Rei dos Judeus” (pela presença de numerosos judeus nas ca-ravelas), D. Manoel I serviu-se dos préstimos do famoso astrólogo e cronista Abrão zakuto, cujos trabalhos pos-sibilitaram ao navegador Vasco da Gama chegar às pro-

curadas e verdadeiras Índias. Negócios comerciais foram incrementados, decorrentes dos descobrimentos de novas terras e exploração das especiarias e mais riquezas, ansio-samente procuradas. Pode-se dizer que o desbravamen-to, a exploração e a colonização costeira dos continentes africano, asiático e americano puderam ser concretizados pelo apoio da burguesia portuguesa, de origem judaica. A favorável conjuntura em relação aos judeus portugueses quebrou-se, quando D. Manoel casou-se com Isabel, viúva do infante português, que, assistira ao ato de expulsão dos mouros e judeus por seus pais. Ao casar-se, pediu a inclusão de uma cláusula no contrato de casamento, exi-gindo a expulsão dos judeus de Portugal. Em 1497, D. Ma-noel, ao cumprir a determinação contratual, ao invés da expulsão, impôs a Conversão Forçada de todos os judeus de Portugal. Com este ato, a harmonia social prevalecente teve fim, revelada pelo massacre de 2.000 cristãos novos ou conversos em Lisboa, no ano de 1506. O crime de apostasia generalizou-se: o cristão novo prati-cava formal e clandestinamente a religião e os costumes de seus antepassados, esquecendo ou negligenciando os preceitos da religião católica. Subordinados à Igreja, de forma voluntária ou não, os novos cristãos deveriam se-guir as determinações do catolicismo, aceitando os dog-mas, assistindo às missas e praticando seus rituais. Riva-lidades e embates entre cristãos velhos e cristãos novos tiveram fim, quando o papa Paulo III autorizou o funcio-namento da Inquisição, com pronto assentimento de D. João III, sucessor de D.Manoel. Instalado em 1536, o Tri-bunal do Santo Ofício, verdadeiro instrumento de poder, passou a atuar em Portugal e na Espanha, na ferrenha busca pela ortodoxia da fé católica. Os 40.000 processos existentes nos arquivos portugueses revelam uma maioria de cristãos novos originários do rei-no e das possessões ultramarinas, entre as quais, o Brasil. Fiscalizados por Visitadores do Santo Ofício e denuncia-dos pelos “familiares do Santo Ofício”, mais de um milhar de cristãos novos lusobrasileiros foram encaminhados ao Tribunal da Inquisição de Lisboa, dando início a um longo período de intolerância e desrespeito humano, somente amenizados quando os ideais da liberdade, gerados pela Revolução Francesa, ecoaram nas terras ibéricas pelas tropas invasoras de Napoleão Bonaparte.

* Rachel Mizrahi é professora, doutora em História Social (USP) e autora de vários livros.

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uas vezes por dia eu costumava ir ao hospital, atravessando a pé um caminho arborizado e tranquilo. Esse trajeto me sugeria sempre a canção de Fauré, Le plus doux che-

min: “A meus passos o caminho mais doce conduz à porta da amada. E mesmo que seja cruel, espero passar outra vez amanhã.”

Não tinha idéia de como seria o dia seguinte – melhor ou pior. Sonia completou 94 anos em 23 de março. No dia 25 faleceu e passei a rememorar tan-tas coisas que ela havia contado, como testemunha de muitas décadas vividas intensamente, no contato com uma colônia judaica ainda pequena e fechada.

Esther Sonia Rosenberg Vinocur era chamada por vários nomes: Sonia, na família do marido; Celina, entre as primas; D. Esther, nas fichas mé-dicas. Minha mãe deixou uma imagem de vivaci-dade e alegria – sempre uma boa palavra e um sorriso acolhedor. Sua vida era dinâmica: fazia ginástica, estudava piano, francês, lia, ouvia mú-sica e acompanhava o noticiário. Supunha-se que seria eterna, invulnerável à armadilha da morte.

As pesquisadoras do Núcleo de História Oral do nosso Arquivo, Suely Epstein e Paulina Firer, já ha-viam gravado o depoimento de Sonia, em entrevis-ta sobre a vida dos judeus em São Paulo, em diver-sas épocas que ela havia presenciado. As palavras que escrevo sobre ela não pretendem atingir um rigor histórico. Como observava Saint-Exupéry, “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”.

Sonia nasceu em Recife, em 1915 e estudou no Colégio Pritaneu. Como tantos outros imigrantes, seu pai vendia a prestação, e era conhecido como “Moishe do Pires”, por morar na Rua Gervásio Pires, reduto de judeus na época. Nessa cidade está enterrado, no velho Cemitério do Barro.

A mãe, Elisa, de quem tenho o nome, faleceu quando Sonia tinha cinco anos. Ela sofria com essa lembrança distante e evitava relembrar tanta dor. A avó, Miriam Spector (Bobe Mirl), era respeitada por sua bondade. Seu túmulo, sempre visitado, é o segundo do Cemitério de Vila Mariana, em São Paulo.

LÉA VINOCUR FREITAG

SONIA, A DOCE CELINA

O pai de Sonia casou-se novamente com Clara Gorens-tein e dessa união nasceu Perel (Pérola), que foi educa-da numa escola tradicional do Rio de Janeiro. Pérola era combativa, inteligente e sensível, tornou-se uma grande atacadista de jóias e vinha periodicamente a São Paulo, o que estreitou a nossa amizade. Sua filha Tanha, casada com Raul, estudou Filosofia e dedicou-se ao magistério no Rio. Por coincidência, são velhos amigos da nossa colega do Arquivo, Miriam Landa (o mundo judaico é pequeno)!

Voltando à infância de Sonia, seu pai veio a falecer quando ela tinha onze anos. A tia Olga, irmã da mãe, mandou buscá-la em Recife e assim, ela se tornou a ca-çula da família de Olga e Isaac Tabacow. Na cerimônia

MEMÓRIAS DE UMA JOVEM NOS ANOS 30 (1915-2009)

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MeMÓria15

Sônia na infância

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de Shiva a prima Lúcia Felmanas Akerman, filha de Fanny Tabacow Felmanas, com palavras comovidas, sintetizou essa relação fraterna na família:

“Querida prima CelinaVocê, com o seu jeito tímido e discreto, nos ajudou a superar muitas e muitas adversidades. Seu sorriso sempre presente, sua discrição, interesse pelas ou-tras pessoas e, sobretudo, a meiguice, fizeram com que nós, da família, sempre quiséssemos você por perto, em qualquer ocasião – festas ou aconteci-mentos tristes.Depositária do nosso passado, sempre recorríamos a você para perguntar algo daquele São Paulo anti-go. Ao mesmo tempo, você sempre foi atualizada, moderna, corajosa, estudiosa e elegante, de acordo com a evolução dos tempos.Celina querida, chegou a hora do seu descanso. O seu brilho iluminará a eternidade e o seu exem-plo, as nossas vidas. Obrigada por tudo o que você nos deu.”

As palavras de outra prima, Lisca (Elisa Kantor), que também tem o nome da mãe de Sonia, acrescentaram mais um ângulo: “Celina transmitia alegria. Nunca pronunciou uma palavra menos generosa a respeito de alguém.”

A vida na família de Olga e Isaac Tabacow era alegre e acolhedora nos diversos locais em que moraram- Conso-lação, Helvetia e Alameda Lorena (nesse último endere-ço tenho recordações de infância). Celina cresceu feliz, na companhia de Fanny (Felmanas), Lula (Rachel Baca-leinik), Elisa (Kauffmann), Sara (Bedricow) e José Taba-

cow. Estudou na Escola Americana e no Mackenzie e sempre cultivou a amizade das antigas colegas, como Yvonne Prado de Alencar, que ainda se lembra da casa de D. Olga, cheia de jovens, e do casamento de Sonia, no ritual judaico tradicional.

Fazia parte da família a empregada de confiança, Maria Augusta Perei-ra, cujo apelido era Mô, portuguesa forte e rosada, com longas tranças presas num coque. Criou várias ge-rações e muitos anos depois, foi tra-balhar com a minha mãe. Com ela, aprendi a fazer tricô e me orgulhava do meu ponto todo igual e capricha-do. Mô estava sempre cuidando do jardim e das rosas e hoje moro nes-

sa casa, que sempre amei. As rosas continuam viçosas, e Luiz, meu marido, está sempre atento à época de chamar o jardineiro. A história de Maria Augusta Pereira docu-menta uma época antiga de São Paulo. Para escolher uma empregada doméstica, D. Olga Tabacow foi ao Largo de São Bento, onde encontrou a Mô, que deveria ter treze anos, acompanhada pela mãe. Serviu a família durante a vida inteira, tratada com amizade e carinho, prestigiada nas festas e nos casamentos. Ganhou sua própria casa, mas apreciava o convívio com a nossa família.

Um lance triste atingiu a vida afetiva da Mô. Quando jo-vem, se apaixonou por um padeiro do bairro, que prome-teu casamento. Um dia, porém, o dono da padaria procurou Isaac Tabacow e confiden-ciou que o rapaz era casa-do em Portugal e preten-dia trazer a esposa, como era costume. Com muito jeito, ele conversou com a Mô, que se mostrou desesperada e revoltada – nunca mais quis saber de uma relação amorosa. As moças da casa se ca-saram, foram formando suas famílias e a Mô per-maneceu sozinha, apenas acompanhando novas crianças, filhos e netos, que não eram seus, ape-sar do afeto.

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Os tios: Olga e Isaac Tabacow

MeMÓria

Casamento de Sônia e Paschoal Vinocur

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MeMÓria17

As lembranças de Sonia podem reconstituir momentos significativos da história dos judeus em São Paulo, como o apoio a imigrantes e necessitados, auxiliados por Olga Tabacow. A Unibes, por exemplo, já se chamou Ofidas e, anteriormente, Sociedade das Damas Israelitas. Celina ajudava D. Olga a fazer fichas das pessoas ajudadas, que recebiam dinheiro, roupas e indi-cações para trabalho. Não havia nenhuma orga-nização ou burocracia, apenas solidariedade e vontade de colaborar.

Outra tia, irmã da mãe, Tante Etel, era uma fi-gura emblemática no velho Bom Retiro, sempre visitada por Celina. D. Anita praticava mitzvá e tzedaká (caridade): ajudava noivas pobres, con-seguia um vestido melhor para a moça que pre-cisava de um emprego, providenciava ingredien-tes inacessíveis às famílias mais pobres para as festas judaicas. Ficava no terraço de sua casa na Rua Prates, em frente ao Jardim da Luz, saudada por tantos amigos que passavam.

A Revolução Constitucionalista de 32 foi he-roica para São Paulo, mas deixou marcas de luto e tristeza nas famílias que perderam tantos jo-vens. Nessa época, as moças se reuniam perto do Mackenzie e confeccionavam agasalhos para os combatentes. Sonia colaborou muito e recor-dava o drama de 32, com as colegas de luto, pela perda de noivos e irmãos.

Mas houve momentos de alegria e glória – Celi-na foi coroada “Rainha Ester”, a moça mais boni-ta no baile do Círculo Israelita. E havia em alguns domingos as audições de piano na casa do gran-de mestre Cantu, frequentadas por Celina, e pelas primas. Todas estudavam no velho piano Blüthner e Elisa dedicou-se mais à música e à pintura. Tenho lindos quadros que ela me oferecia, estimulando o meu interesse pelas artes. Assistiam aos recitais dos melhores intérpretes, como Brai-lowsky e Gulda, e Celina não perdia essas apresentações. Até os últimos tempos da sua vida ouvia música e estudava piano com Regina Martins, excelente pianista, esposa de José Eduardo e cunhada de João Carlos Martins.

Ótima aluna no Secretariado do Mackenzie, que na época equivalia a uma pós-graduação, pelo alto nível do ensino, Celina logo foi convidada para os melhores car-gos, encaminhada pelo diretor do Mackenzie, Mister An-derson à Rádio Educadora e à Anderson Clayton.

De acordo com os costumes da época, Sonia parou de trabalhar após o casamento. Passou um curto período no

Rio, onde Paschoal iniciou a carreira, após se formar na Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, em 1935 – um dos primeiros médicos judeus. O noivo foi bem recebido na família – falava e escrevia em iídish, o que encantou D. Olga Tabacow.

Pude constatar o que significa a mãe na cultura judaica. Nunca imaginei que a minha perda fosse sensibilizar tão intensamente os amigos do Arquivo, do Presidente Jayme Serebrenic aos funcionários. Pude compreender melhor o sentido da canção “Iz bitter ven a mame felt” (É amargo quando falta a mãe).

Elisa (Spector) Rosenberg, mãe de Sônia

* A autora é professora titular em Sociologia da Arte (ECA-USP), autora de “Momentos de música brasileira” (1985), diretora de Música e Discoteca do AHJB.

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JUDEU, JURISTA, JORNALISTA, POETA, PENSADOR, HOMEM DE NEGÓCIOS E EXILADO

Nasceu em 1º de agosto de 1895 em Stuttgart (capital do Estado de Württem-berg, Alemanha); viveu de 1937 a 1958 no Brasil, como refugiado do nazismo. Faleceu em 1º de março de 1984, em Stuttgart – eis os dados sucintos do destino de um escritor judeu alemão, por muito tempo esquecido (weitgehend in Vergessenheit geraten).

Seus pais, oriundos da Galícia (província do antigo Império Áustro-Húngaro), haviam emigrado para a Alemanha em 1891, onde o pai, Mauricio, se estabeleceu com uma firma importadora de ovos, fundando, em 1913, o “Primeiro Frigorífico e Fábrica de Gelo do Estado de Württemberg”. O casal teve três filhos, Karl, Gisela e Dora, quatorze e dezesseis anos mais velhas que Karl. Am-bas se casaram cedo, foram morar longe, e o rapaz cresceu praticamente como filho único. A Galícia continuou pre-sente na vida da família nas viagens de férias, mas não era ambiente do agrado do jovem Karl. Em 1927, ele escreveu ao filósofo-teólogo Martin Buber: “(...)a Galícia causou-me uma antipatia geral contra tudo o que fosse do Les-te. Aconchegava-me em minha origem alemã, escondia a minha descendência, meus sentimentos eram estritamente alemães – pelo menos, acreditava fosse assim.” Como ele mesmo insinua, a assimilação alemã revelou-se traiçoeira; o judaísmo viria marcar fortemente sua vida.

Em 1913, formou-se no Karlsgymnasium em Stuttgart,

sem se ter distinguido como aluno brilhante. Em uma autobiografia sucinta, escrita para o jornal Schwaebische Bilderblatt no ano de 1917, ele relata: “Cedo revelei gran-de empenho em assuntos que nada tinham a ver com o ginásio.” Em 1912, por exemplo, editou o “Guarda No-turno da Suábia - Órgão Oficial da União dos Abstêmios das Escolas Alemães, da Província Suábia da Germânia”, sendo ele editor, redator-chefe, compositor tipográfico, impressor e expedidor.

Ainda durante o seu tempo de ginásio, começou a escrever poemas inspirados pela poética de Heinrich Heine, publicados em 1914, sob o título de Trautelse, pela edito-ra Xenia, de Leipzig. Nos anos 60, o poeta referiu-se àqueles primeiros testemunhos de seu talento literário, falando de si mesmo na terceira pessoa:

“Lieblich escreveu esses poemas aos 16, 17 anos, debaixo da carteira na classe, sem se importar com o que acontecia ao seu re-dor. Tinha convicção da qualidade de seus poemas, assim como da própria vida. Brota-

vam de seu coração; logo, haviam de falar aos corações.”Em sua maioria, são poemas de amor. No poema “O

que tudo ultrapassa”, por exemplo, diz: Não há montanha alta, fria e branca, Nem campo espinhoso, escarpado e quente, Não há torrente larga, nem mata cerrada, Que impeça o coração de se ligar ao coração.

Em uma de suas primeiras críticas para o jornal Augs-burger Nachrichten, Bertolt Brecht (ainda sob o pseudô-nimo de Bertolt Eugen) escreveu: “Mediante tais versos, de grande força de construção contemplativa, é lícito prever que Lieblich um dia será famoso. O poema “Noite de Primavera” foi elaborado como canção pelo composi-tor F. Jerosch. Apesar desses sucessos, anos mais tarde, Lieblich via aquelas suas primeiras tentativas literárias sob uma luz mais crítica. No início dos anos vinte, o autor, um pouco mais amadurecido, mandou destruir o restante da edição. Todavia, Lieblich não parou de escrever poemas que ocasionalmente publicava, utilizando frequentemen-te o pseudônimo Ark Schillbeil.

Após breves incursões nos estudos de Medicina e Fi-losofia, resolveu, “resignadamente”, como ele mesmo relata, estudar Jurisprudência, sendo logo interrompido pela eclosão da 1ª Guerra em 1914, da qual participou

KARL LIEBLICH

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EVA LIEBLICH FERNANDES

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como voluntário. De modo juvenil e “naif”, como muitos de seus contemporâneos, estava pronto a morrer pela pá-tria. Em 1915, compôs estes versos:

E quando chegar a hora do destino Parto com o olhar altivo Da vida que tanto amei; Não foi em vão que morri, Honra e glória alcancei A mais bela meta a atingir!

Essa disposição a favor da guerra, entretanto, logo ha-veria de ceder à desilusão. Já em 1916, Lieblich escreveu:

Oh povos, deixai dos dados Não continuai a jogar! Quem ganha é a morte A ela cabe a última palavra Durum, durum. Ela passa o olhar sobre os vastos campos Desertos e ressequidos E reconhece, satisfeita: É o meu recorde universal

Na época, esse poema foi proibido pela censura. Foi pu-blicado somente depois da Guerra, em 1919, na Tribüene, revista bimensal “para o entendimento social”, editada por Lieblich conjuntamente com Gustav Seeger, sindicalista e tipógrafo, na cidade universitária de Tübingen, onde cur-sava Direito. Publicou na revista, além de poemas, aforis-mos e também um conto. A revista seguia um programa de altos ideais, mas teve de encerrar suas atividades depois do sexto número, por razões financeiras.

Em 1920, Lieblich terminou o curso de Direito com um trabalho de doutoramento e, em 1923, abriu seu escritó-rio de advocacia na rua principal de Stuttgart. Além disso, escrevia sobre a vida cultural da capital de Württemberg para o Münchner Neueste Nachrichten, jornal importante de Munique.

Ainda em 1920, casou-se com Olga Lieblich, sua prima. Construiu uma bela casa num bairro residencial. Do ca-samento nasceram quatro filhas. Enquanto Karl não se ligava ao judaísmo, Olga era uma judia consciente e ativa. Pertencera ao movimento juvenil sionista de sua cidade natal, Estrasburgo, e continuou a manter certas tradições religiosas no lar.

Depois da Guerra, ao lado da vida familiar e profissio-nal, Karl Lieblich continuou a escrever e a publicar. Em 1918, a novela “O reencontro” saiu como livrinho da edito-

ra Reclam. Escrevia contos, poemas e ensaios para diversos jornais alemães importantes. O conto “A peste em Stutt-gart” foi incluído no Deutsche Knabenbuch (O Livro dos Rapazes), de 1921. Suas obras foram apresentadas e lidas no rádio, por ele mesmo. Também oferecia conferências. Em 1923, a editora Diederich publicou Die Traumfahrer (Os Viajantes dos Sonhos), contendo duas novelas de fundo histórico. Um ano mais tarde, pela mesma editora, foi lan-çado Die Welt erbraust (“O mundo treme”), seis novelas; e, em 1926, sua grande novela, Das proletarische Brau-tpaar (Os noivos proletários). Recebeu críticas favoráveis e foi apresentado juntamente com escritores judeus como Franz Werfel, Jakob Wassermann, Stefan zweig, Hugo Von Hofmannsthal e Else Lasker-Schueler.

Paulatinamente, Karl Lieblich começou a voltar-se para temas judaicos e a novela Rausch und Finsternis (Embria-guez e Escuridão), que trata dos pogroms ocorridos em 1918-1919 na Ucrânia, escrita entre 1927-1928, é prova disso. Nos anos de 1928, 1929 e 1930, deu diversas con-ferências sobre a temática do judaísmo, conferências es-sas que foram reunidas, em 1931, em um livro intitulado Wir Junge Juden (Nós, Jovens Judeus).

Com correligionários, fundou a Bund für Neues Juden-tum (União para um Novo Judaísmo) e para propagar as idéias da corrente, deu conferências em várias cidades. Publicou essas conferências em seu segundo livro sobre problemas judaicos Was geschicht mit den Juden? Oe-ffentliche Frage an Adolf Hitler (O que sucederá com os judeus? Pergunta pública a Adolf Hitler).

Na época, às vésperas da ascensão do nacional-socia-lismo ao poder, a novela sobre os pogroms na Ucrânia não encontrou editor. Foi publicada em 2005 pela editora Gardez (a autora doou o livro ao Arquivo Histórico Judai-co em março de 2009 - nota da redação).

Em 1933, a Reichsschriftkammer proibiu-lhe qualquer atividade literária e, um ano mais tarde, veio a interdição do exercício da advocacia.

Durante a sua estada no Brasil, embora se dedicasse ao sustento da família, Karl Lieblich não abandonou o traba-lho intelectual. Escreveu vários contos com temática pau-listana que foram publicados na Alemanha depois que re-tornou a Stuttgart: “30 contos, uma história brasileira”, “O casamento da cozinheira”, “Monumento ao brasileiro An-tonio Coutinho que não era mendigo”, “Veneta” e outros.

Depois da volta à Alemanha, publicou mais um livro, baseado em uma conferência, Os Segredos de Maimôni-des, no qual discutiu preceitos religiosos judaicos.

MeMÓria

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Durante séculos, extraíram chumbo, zinco, cobre, até que os depósitos minerais se exauriram. A mina virou spa, com águas termais sendo canalizadas para os banhos, sempre tão procurados pelos turistas hospedados nos muitos ho-teis, passeando nas montanhas, visitando a antiga mina desativada e os parques do entorno. Abram, que gostava muito de Poços de Caldas, sem saber, frequentava a Bad Bleiberg brasileira...

Etale, diminutivo carinhoso em iídiche para Ada, nasceu em 1918, ao término da 1ª Guerra Mundial. Em 1933, imi-grou para a então Palestina do Mandato Britânico, onde conheceu um jovem soldado britânico, Ovadia Gotlieb, que fumava cachimbo, e que veio a ser seu marido. O jo-vem casal viu nascer o Estado de Israel, viveu os rigores das guerras, tendo dois filhos, netos e bisnetos.

Durante 50 anos, os irmãos em Israel não viram o irmão do Brasil, até que Abram os visitou em 1980. O encontro saiu no principal jornal, Maariv.

O tempo passou, os irmãos foram partindo, até que, no dia 13 de agosto de 2009, aos 91anos, o Divino chamou a si a última dos Blajberg, ainda nascida na Polônia.

No Jardim do Éden reuniu-se aos pais Shlomo e Hana - desaparecidos em Treblinka al kidush haShem, quando da liquidação do gueto de Ostrowiec em 1942, aos 2 irmãos falecidos ainda crianças, 2 desaparecidos no Holocausto, 3 que foram para Israel, 1 de San Diego e 1 do Rio.

Embora todas as mães sejam iguais, uma espécie de lenda se formou em torno das mães judias, criando a imagem de mãe extremosa, a super-mãe. Etale certamen-te era uma delas, com o seu carinho e ternura maternal que se transferia com a mesma força também para netos, bisnetos, sobrinhos, filhos dos sobrinhos, sem exceção, todos fãs da sua culinária fantástica, aprendida ainda na Polônia com a mãe Hana.

As visitas a Tel Aviv começavam e terminavam na cozi-

Etale, a última imigranteEra o que contava Abram Blajberg, o primeiro dos 10 irmãos que abandonou a Po-lônia gelada. Com apenas 19 anos, desembarcou, em 1929, na Ilha das Flores, hoje Base dos Fuzileiros Navais em frente ao Carrefour na Niterói-Manilha.Esta fantástica história ficou por isso mesmo, até que veio a internet. Abram já ti-nha partido, mas era verdade. Estava lá no Google: Bad Bleiberg, aprazível estância turística, hotéis luxuosos, rodovias de primeira classe serpenteando pelas escarpas montanhosas. E a mina...

ISRAEL BLAJBERG (*)

nha de Etale, até que o peso dos anos determinou a sua ida há 2 ou 3 anos para uma instituição, onde poderia receber melhores atenções e cuidados médicos.

Hoje, o celular tocou. Um número estranho apareceu na tela. Ao ouvir a voz de Shlomit, a prima de Tel Aviv, logo pressenti o que ela tinha a dizer. Na véspera, havia sonhado com Etale.

Abram Blajberg, seu irmão, era um Levi. O pai assim lhe confiara a origem, recebida por tradição oral a ser pas-sada para os filhos, netos, e assim por diante, enquanto houvesse descendentes homens.

Muito antes de Ostrowiec, um antepassado não aceitou unir-se aos demais hebreus que adoravam o bezerro de ouro no deserto. A firmeza demonstrada determinou a con-sagração da tribo de Levi como a guardiã do Tabernáculo.

Até hoje somos assim, algo desconfiados, conservamos as tradições. Etale era desse jeito; gostava de recordar nossas origens, nossa luta, nossa vida.

Esta é uma história muito parecida com as de tantas famílias judaicas. No entanto, nunca é demais repeti-las. Por isso estamos aqui, decorridos tantos séculos e, apesar do nome, tão brasileiros quanto qualquer brasileiro.

(*) [email protected]. Tel Aviv, Rechov Arlozorov 119 - 27, maio 2006

HiStÓria 20

Etale, no centro da foto, em pé

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IMIGRAÇÃOOptamos por dividir a imigração judaica para São Pau-

lo em três etapas: a primeira, a maior, foi de 1900-1930, composta majoritariamente por judeus da Europa Oriental1 (ashkenazim2) e por judeus do Oriente Médio (Sefaradim e Mizrahim). Tanto os judeus da Europa Oriental como os do Oriente Médio sofriam pressões econômicas e políticas de seus governantes. Esses sofreram dilemas como opressão política de druzos e mulçumanos, esfacelamento econômi-co e o desagrado de servir ao exército turco.

Os judeus ashkenazim sofriam constantes ataques (po-grom) de turbas enfurecidas, incentivadas pelas autorida-des locais, principalmente os que estavam sob o jugo rus-so e eram obrigados a viver em uma região denominada zona de Residência (Pale Settlement), que se localizava no que seria posteriormente o oeste da Ucrânia e a república da Moldávia. Os judeus russos dessa região3 passaram a sofrer constantes pogroms, principalmente após 1881, quando ocorreu a morte do Czar Alexander II, devido a um atentado provocado por um grupo paramilitar urbano no qual participavam judeus.

Acredita-se que, entre 1900 e 1930, tenham imigrado para o Brasil 40.185 judeus, 22.296 somente no período entre 1925 e 1930, quando os Estados Unidos e a Argen-tina passaram a restringir a imigração para os seus terri-tórios. Metade desse contingente se estabeleceu em São Paulo. Com exceção aos sefaraditas e mizrahim, o judeu que imigrava para o Brasil nesse período não tinha, em geral, a aspiração de retornar a sua terra natal, e exercia pequenos ofícios artesanais como alfaiates, sapateiros, marceneiros e açougueiros nos pequenos vilarejos da Eu-ropa Oriental chamados de shetl, ou nos centros urbanos do Império Otomano.

O segundo momento dessa imigração foi entre 1933 e 1940, composto majoritariamente por judeus da Europa Ocidental que fugiam do crescente nazi-fascismo que as-solava países como Alemanha, Itália, Hungria, Romênia,

INSTITUIÇÕES E FORMAÇÃO DA COMUNIDADE JUDAICA PAULISTANAMÁRCIO MENDES DA LUz (*)

O ARTIGO QUE SEGUE TEM POR OBJETIVO FAZER UMA BREVE ANÁLISE DA IMIGRAÇÃO JUDAICA PARA SÃO PAULO, ASSIM COMO SUA INSERÇÃO SOCIAL E COMO AS INSTITUIÇÕES AGIRAM NA FORMAÇÃO E CONSO-LIDAÇÃO DA COMUNIDADE NA CAPITAL PAULISTA.

Polônia e França de Vichy. Ao contrário dos que imigra-ram anteriormente, esses eram em sua maioria profis-sionais liberais ou industriais e sofreram restrições para se estabelecerem em solo brasileiro, por serem conside-rados súditos dos países do Eixo. Todavia, apesar da po-lítica de restrição adotada pelo governo Vargas, o Decol contabilizou a entrada de 29.675 judeus no Brasil nessa época, sendo oito mil judeus alemães; segundo Kleiner5, desses quase a totalidade se estabeleceu em São Paulo.

O terceiro período foi de 1945 a 1960, composto por imi-grantes do norte da África e do Oriente Médio, que passa-ram a sofrer perseguições em seus países após a criação do Estado de Israel, assim como por judeus da Hungria, que fugiam da invasão soviética de 1956. Calculou-se que en-tre 1940 e 1959, tenham entrado no Brasil 23.755 judeus. Assim como os da segunda etapa. Estes eram profissionais liberais e industriais nem tampouco tinham tinham o me-nor interesse de voltar para o país de origem.

INSERÇÃO SOCIAL E IDENTIDADEPara fazer tal análise, recorro a Poutignat & Streiff-Fe-

nart7, que definem que os grupos imigrantes, ao se insta-larem em uma sociedade, passam por quatro etapas de inserção: adaptação, competição, conflito e assimilação. Das quatro etapas, passarei pelas três primeiras, que são as etapas que melhor definem a inserção social, econô-mica e política do grupo em São Paulo.

A imigração judaica para São Paulo é em sua maioria urbana e concentrada na capital. Os judeus ashkenazim, a maioria dos judeus imigrantes em São Paulo, ocupa-ram o bairro do Bom Retiro, já os judeus sefaradim e mizrachim montaram as suas comunidades nos bairros da Mooca e Alto da Bela Vista.

Assim como outros imigrantes de maioria urbana, como sírios e armênios, os judeus sofreram com barreiras im-postas pela sociedade local ao seu estabelecimento. Mui-tas dessas barreiras vinham do projeto imigracionista bra-

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sileiro, pautado na vinda de mão-de-obra branca européia para a lavoura, e o imigrante judeu não se encaixava nesse quesito. Ao lermos o termo branco, proponho não ficar-mos presos à questão racial e sim à questão cultural, pois senão como explicar a vinda de imigrantes japoneses para o Brasil em detrimento da vinda de chineses, sendo ambos considerados racialmente amarelos?

A resposta pode estar no livro de Jeffrey Lesser8. Duran-te a leitura, notei que, para o governo brasileiro, ser bran-co teria o mesmo significado que o de ter costumes oci-dentais: os japoneses já tinham contato com o ocidente, e já estavam acostumados com o modo ocidental de viver; ao contrário, os chineses, quando o emissário do governo de Pequim veio ao Brasil e se vestiu de modo tradicional chinês (não ocidental), causou má impressão aos fazen-deiros, impossibilitando a imigração de chineses. Creio que, para os cafeicultores, não importava a cor da pele de seus empregados, desde que fossem ocidentalizados. E me arrisco a dizer que a procura pela ocidentalização do Brasil fez os fazendeiros recusarem a mão de obra negra

livre, por associarem a imagem do negro à África, um lu-gar hostil não civilizado, não ocidentalizado.

O judeu que imigrou para o Brasil no início do século 20 era pobre, artesão e tinha vivido recluso no shtetl. Não estava acostumado ao modo ocidental de vida; portan-to, não fazia parte do projeto imigracionista do governo brasileiro. Tanto que foram comuns alguns conflitos en-tre esses e a sociedade local, como exemplifica Eva Blay9

em seu trabalho ao se referir à seguinte notícia de jornal: “O Sr. Samuel Shoichet foi preso!”. Segundo a autora, a polícia o prendeu pois o Sr. Samuel Shoichet andava pelas ruas vestido com um “estranho capote negro, ca-beça coberta por chapéu ou solidéu”, à maneira do traje costumeiro do shtetl da Europa Oriental. O mesmo não ocorreu com os judeus que vieram na segunda e terceira etapas da imigração, pois já eram mais assimilados ao modo ocidental de vida, sendo a maioria composta por profissionais liberais ou industriais, o que facilitou a sua inserção na sociedade brasileira.

Apesar de a sociedade nativa resistir em aceitar o elemen-

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to imigrante, esse adototu maneiras e estratégias para se inserir na sociedade paulistana, seja se tornando vizinho dos Álvares Penteado ou mesmo realizando grandes festas em clubes, que eram tão ou mais vistosos que os da elite quatrocentona. Assim, construíram sua própria sociedade com seus costumes e valores.

Conforme iam progredindo economicamente, os imi-grantes iam deixando de viver nos bairros centrais da ci-dade, e preferindo moradias nos bairros mais nobres. Os judeus que progrediram procuraram os bairros de Higie-nópolis10 e Jardins. Ao migrarem para as regiões mais no-bres da capital paulista, os judeus encontraram uma das barreiras da sociedade brasileira, ou seja, a inserção na alta sociedade. Clubes como o Paulistano nos Jardins, que era frequentado pela elite quatrocentona11 paulistana, não aceitava imigrantes como seus sócios, por mais ricos que fossem. Então, esses não viam alternativa a não ser a de constituir seus próprios clubes e instituições. Para os judeus, essas instituições ocupavam um espaço não pre-enchido pela ausência de um Estado Nacional.

Até 1948, os judeus não tinham um Estado Nacional

que os representasse; então, as instituições, religiosas ou laicas, preencheram esse vazio. Segundo Helena Lewin12, as instituições judaicas criaram seu landsmans-chaft como células de convivência e sociabilidade en-tre aqueles que provinham do mesmo local de origem. Eram mais que instituições, eram também espaços de memória onde mantinham sua identidade judaica. Era o contato social entre seus pares que lhes possibilitava promover, coletivamente, a catarse da saudade e manter os vínculos simbólicos com as suas raízes, que, embora longínquas, continuavam sendo, nos primeiros tempos, o seu referencial de vida judaica. Quem pesquisa as an-tigas instituições da comunidade encontra nomes como Securoner Farain, Wolliner Farain ou Polisher Farain (li-gadas aos ashkenazim), CIP (judeus alemães), CIBAT (ju-deus sefaradim). São sociedades de caráter regional. Até as décadas de 1940 e 1950 essas sociedades ainda man-tinham esse caráter regionalista.

Contudo, além de ocupar o lugar não preenchido por um Estado Nacional ausente, essas instituições também tinham o caráter de afirmar o status dos líderes dentro

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NOTAS:1. Judeus com sobrenomes hispânicos são descendentes dos ju-deus que foram expulsos da Espanha em 1492 e de Portugal em 1506, estabelecidos em diversas colônias ao longo do mediterrâ-neo, Holanda e Inglaterra.2. Judeus do Oriente Médio de sobrenome árabe.3. 95% dos judeus do Império Russo moravam na zona de Residência.4. DECOL, René, Migrações Urbanas para o Brasil: o caso dos judeus, tese de doutorado em demografia, Unicamp, Campinas, Dezembro de 1999.5. KLEINER, Alberto. Inmigracion judia a Brasil, Instituto Hebreo de Ciências, Buenos Aires, 1943.6. DECOL, René, Judeus brasileiros: um panorama demográfico. In: Cadernos de Língua e Literatura Hebraica, Humanitas, São Paulo, 2001, pp. 53-68.7. POUTIGNAT, Philippe & STREIF-FENART, Jocelyne. Teorias da Et-nicidade. Seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth, São Paulo: Ed. da Unesp. 1998.8. LESSER. Jeffrey. A Negociação da Identidade Nacional: imigran-tes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil, tradução: Patrícia de Queiroz Carvalho zimbre, São Paulo, Unesp, 2001.9. 2002 BLAY, Eva Alterman; Sinagoga: Oração e Ação. ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO. BOLETIM INFORMATIVO AHJB. nº26 ANO IV- 3º E 4º TRIMESTRES.10. O Bom Retiro, no século 19, era o bairro da elite quatrocentona paulistana, mas, a vinda de imigrantes que passaram a ocupar esse bairro fez com que a elite passasse a rejeitá-lo. Ele ficara imundo, com o surgimento de cortiços, assim criaram, Higienópolis, a cidade da higiene. Um bairro ficou o oposto do outro e a troca do bairro central pelo bairro nobre significava ascensão social.11. Famílias paulistanas tradicionais.12. LEWIN, Helena, DOPS: O Instrumento da repressão política, In: Ca-dernos de Língua e Literatura Hebraica, Humanitas, São Paulo, 2001.13. Líder, em hebraico.

da comunidade, bem como o da comunidade perante a sociedade nativa e mantenedores da identidade intra-co-munitária. Financiar clubes e instituições de beneficência dava grande prestígio aos seus beneméritos dentro da co-munidade. Esses filântropos se esforçavam em financiar mais obras de caridade e, assim, tornar-se o Rosh HaGa-dol13 da comunidade. Possuir clubes suntuosos também reforçava o status da comunidade perante a sociedade nativa e outros grupos imigrantes, consolidando, então, a imagem de serem bem sucedidos que cresceram sozi-nhos. Além de ser um grande centro mantenedor de uma identidade étnica, revigorando os casamentos dentro da comunidade, os bailes dos clubes eram os melhores locais para “encontrar noivas e noivos judeus”.

Mesmo após a criação do Estado de Israel em 1948, as instituições judaicas ainda mantiveram um lugar de des-taque no seio da comunidade, assim como os seus man-tenedores e, a partir de 1950, elas deixaram de ter cará-ter regional para ganhar um caráter integrador. O maior exemplo desse novo caráter é a Hebraica, que congrega todos os segmentos da comunidade. Ao contrário do que se via antes, no entanto, passaram do papel de preencher o vazio do Estado ausente, ao papel de representantes desse Estado. A partir da década de 1970, já não havia ins-tituições de caráter regionalista no seio da comunidade. É o momento que considero que a comunidade judaica ga-nha características paulistanas formadas e consolidadas.

Na década de quarenta, um genealogista publicou a ge-nealogia parcial da dinastia de pastores presbiterianos Cerqueira Leite, quando, ouvindo a história da família, traçou o perfil biográfico do tronco familiar, que era: “(...) um judeu português por nome Richion (da Costa Lima?), vindo para o Brasil já como “cristão-novo” (final do século 18), aqui morrendo desgostoso por ter perdido o seu barco mercante numa tempestade. Dizem que termi-nou seus dias vagueando sem rumo pelas praias desertas, como se esperasse vislumbrar no horizonte interminável, a qualquer momento, a embarcação que nunca mais che-

O AVÔ DOS MOREIRA SALLES, VILELLA, PAULA MACHADO, ENTRE OUTROSgaria (...)” (TEIXEIRA, Fausto. “A família Cerqueira Leite”, Revista Genealógica Brasileira nº 13, primeiro semestre de 1946, pp. 111-124).Muitos anos depois, este personagem nebuloso foi ple-namente identificado. Trata-se do português Francis-co da Costa Pereira Requião (1743-1791), que adotara como sobrenome a sua aldeia natal de São Silvestre de Requião, Braga, negociante, que viveu em São Paulo e morreu em Santana do Sapucaí (MG). É possível que ele fosse de origem cristã-nova. Os ramos mais ligados a ele afirmam isto. Quando foi possível romper com o catolicismo, alguns de seus descenden-tes tornaram-se presbiterianos e geraram uma série de Esther, Raquel, Samuel, dentre outros nomes bíblicos. Porém, o melhor é ver os seus descendentes mais pro-eminentes: os banqueiros WALTER MOREIRA SALLES (1912-2001, UNIBANCO), EUDORO VILELLA (1907-2001, ITAÚ), alguns PAULA MACHADO da nova geração (EX-BOAVISTA) e surpreendentemente, FREI BETO.

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Marcio Mendes da Luz, orientando do Dr. MacDonald Michael hall No curso de pós-graduação da Unicamp.

GENEALOGIA

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Durante anos, estudei a genealogia dos meus antepassados Abreu Sodré. Simultaneamente, pesquisei sobre a forma-ção da poderosa comunidade marrana, que se formou no Rio de Janeiro durante o século 17, e sua posterior destruição, pela Inquisição, durante o século seguinte. Certa vez, indaguei-me quanto à razão de o Judaísmo pleno, que queria emergir entre os marranos fluminenses nos primórdios coloniais, não voltasse em nova floração; talvez no Império, jun-to ao prestígio judaico dos Rothschilds, por exemplo. Por que a ação da Inquisição teria tido efeitos tão permanentes? A resposta está no que segue. Em 25 de maio de 1773, o rei Dom José I (reinou 1750-1777), por obra de seu primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, terminou com todas as restrições aos descendentes de judeus, que se tinham desen-

GILBERTO DE ABREU SODRÉ CARVALHO (*)

OS VELHOS MARRANOSE A “JUDEIDADE” DOS BRASILEIROS

O governador Roberto de Abreu Sodré (1917-1999) inaugura, com a filha do homenageado, Dora Silvia da Cunha Bueno, o Bosque Cunha Bueno em Israel.

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volvido no curso de muitos anos; fa-zendo parecer hipocritamente (como se pode ler do texto ao lado) que a Coroa não tivesse dado todo suporte à Inquisição durante mais de cento e cinquenta anos. Bem como não fosse Dom Manuel I (reinou 1495-1521) um opressor dos judeus, os quais conver-teu à força para entregá-los ao domí-nio da Igreja Católica; no tempo, uma “instituição total” (como a classificaria o sociólogo Erving Goffman), com po-der de modelar a mente e submeter por inteiro os que fossem seus mem-bros formais, por via do Santo Ofício da Inquisição. Com essa lei, não houve mais perseguição aos marranos em Portugal ou no Brasil, mesmo que a Inquisição portuguesa perdurasse – para maldades menores - até o início do século 19. Dentro da ótica indivi-dual de cada marrano, a cessação da discriminação foi positiva. Em termos da permanência dos marranos como comunidade, a “bondade” pombalina foi o golpe final ao retorno ao Judaís-mo pelos brasileiros descendentes de israelitas que ainda estivessem resis-tindo à assimilação católica.

Após Pombal, o que ficou dos mar-ranos foi simplesmente a presença notável do elemento judaico no cor-po e na alma dos brasileiros. Esse é fato em si relevante, uma vez que os brasileiros, fôssemos informados pelos livros na escola, poderíamos remeter a uma matriz israelita, tan-to quanto à ancestralidade africana, à origem européia ou ao passado ameríndio. Não cogito em conver-sões. Seria o caso de simplesmente construir um justo carinho e respeito pelo povo judeu, em honra aos an-

tepassados dos brasileiros de hoje, bem como entender que Israel, como estado soberano e permanente, deva ser necessariamente preservado na comunidade das nações e protegido.

Eu sou um exemplo do DNA judai-co tão distribuído em nosso tecido social. A diferença que apresento é a de saber disso e perceber esse fato com gosto afetivo.

Penso que a frustrada volta dos marranos brasileiros, a partir da cé-lula fluminense ao povo de Israel, foi resultado de três fatores que mere-cem pesquisa detida: a ação perversa da Inquisição, no século 18, trazen-do o medo, a discórdia e a perda dos

meios econômicos da comunidade em busca do Judaísmo; a ausência de apoio externo para a guarda da memória e da referência, como o faz hoje o Estado de Israel frente aos judeus da diáspora; e a “bondade” do Marquês de Pombal, favorecendo

individualmente, mas eliminando as possibilidades de restauração pelo fato da assimilação.

O desaparecimento das restrições relativas aos cristãos-novos, em se-guida a 1773, fez com que as dife-renças culturais e de convicção em matéria religiosa, entre os marranos e os cristãos típicos, sumissem dan-do lugar a um leque de possibilida-des sociais de vida supostamente cristã. Passou a existir no Brasil como que uma liberação para se ser cris-tão de todo modo, inclusive do jeito “marranizado” (em suas variadas nu-anças e densidades, como diria Ani-ta Novinsky), uma vez que o poder da Igreja Católica, como “instituição total”, tinha sido cassado. Por certo, os atos de Pombal - que devem ser vistos em linha com sua política de desprestígio da alta nobreza pela ele-vação social da burguesia - forçaram a coesão dos portugueses e da gente das colônias pela assimilação recípro-ca dos diferentes. No entanto, na His-tória dos Judeus - e no pensamento dos que respeitam e lutam pela pro-teção da diversidade e da liberdade - significou a dissolução, induzida pelo alívio, do segmento social que tinha memória judaica, o que poderia en-sejar um retorno do ramo cortado ao seu tronco. Tão definitivamente isso ocorreu, que o Brasil contemporâneo não sabe ou sabe muito pouco, com as devidas cores, da sua judeidade.

A seguir, transcreve-se, em grafia e

pontuação atuais, texto abreviado e da Lei de 25 de maio de 1773, do rei Dom José I de Portugal:

Dom José, por graça de Deus, Rei

BiBLioteCa

(...) construir um justo carinho e respeito pelo povo judeu em honra aos antepassados dos

brasileiros de hoje, bem como entender

que Israel, como estado soberano e permanente, deva

ser necessariamente preservado na

comunidade dasnações e protegido.

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de Portugal e dos Algarves (...) Man-do que a lei do Senhor Rei Dom Ma-nuel, expedida no 1º de março de 1507, e a outra lei do Senhor Rei Dom João o III, dada em 16 de de-zembro de 1524, em que proibiram a sediciosa e ímpia distinção de cris-tãos novos e cristãos velhos, sejam logo extraídas do meu Real Arquivo da Torre do Tombo e, de novo, pu-blicadas e impressas com esta; para fazerem parte dela, como se nela fossem inteiramente incorporadas. II. Mando que as mesmas duas sau-dáveis leis não só fiquem por esta reintegradas na sobredita forma, mas também que sejam inteiramen-te restituídas, contra o dolo com que foram suprimidas na última compilação das Ordenações, como se nela houvessem sido incorpora-das (...). III. Mando que as sobredi-tas duas leis e as que à semelhan-ça delas tenho mandado publicar, sobre as outras inabilidades que nestes reinos se maquinaram e in-troduziram com os mesmos sinistros objetos de sedições e de discórdias, fiquem constituindo, desde o dia em que esta passar pela Chancelaria em diante, as únicas regras da inge-nuidade ou inabilidade de todos os meus vassalos, de qualquer estado e condição que sejam; para se terem por inábeis e infames os que des-graçadamente incorrerem nos abo-mináveis crimes de lesa majestade, divina, ou humana e por eles forem sentenciados e condenados nas pe-nas estabelecidas pelas Ordenações do Livro Quinto, Título Primeiro, e Título Sexto, com os filhos e netos, que deles procederem; sem que

contudo a referida infâmia haja de influir de alguma sorte nem nos bis-netos; nem nos que deles procede-rem: E para se terem, por ingênuos e hábeis, todos e quaisquer dos ou-tros vassalos naturais dos meus rei-nos e seus domínios, cujos avós não houverem sido sentenciados pelos sobreditos abomináveis crimes. IV. Mando que, restituindo-se todas as habilitações e inquirições ao feliz e devido estado em que (com tanto benefício da paz da Igreja lusitana, do sossego público e da honra e reputação dos povos destes reinos e seus domínios) estiveram por to-dos os séculos, que precederam às sobreditas sediciosas maquinações, não haja para os habilitandos daqui em diante outros interrogatórios, que não sejam os que se dirigem às provas da vida, e costumes, quando os habilitandos ou nas suas próprias pessoas; ou nas de seus pais e avós não tiverem inabilidade ou infâmia de direito; servindo para as mesmas inquirições e habilitações de regras invariáveis os mesmos interrogató-rios, que se continham nas constitui-ções anteriores aos referidos breves chamados De Puritate (...). V. Mando que todos os alvarás, cartas, ordens e mais disposições, maquinadas e introduzidas para separar, desunir, e armar os estados, e vassalos des-tes reinos, uns contra os outros em sucessivas, e perpétuas discórdias, com o pernicioso fomento da so-bredita distinção de cristãos novos e cristãos velhos, fiquem desde a publicação desta abolidos e extin-tos, como se nunca houvessem exis-tido, e que os registros deles sejam

trancados, cancelados e riscados em forma, que mais não possam ler-se; para que assim fique inteiramente abolida até a memória de um aten-tado cometido contra o espírito e cânones da Igreja Universal; de to-das as Igrejas particulares e contra as leis e louváveis costumes destes meus reinos; oprimidos com tantos, tão funestos e tão deploráveis estra-gos por mais de século e meio pelas sobreditas maquinações maliciosas. VI. Mando que todas as pessoas de qualquer estado, qualidade, ou con-dição que sejam, que depois do dia da publicação desta minha carta de lei, de constituição geral e édito per-pétuo, ou usarem da dita reprovada distinção, seja de palavra, ou seja, por escrito, ou a favor dela fizerem e sustentarem discursos em conver-sações, ou argumentos: sendo eclesi-ásticas, sejam desnaturalizadas e per-petuamente exterminadas dos meus reinos e domínios, como revoltosas e perturbadoras do sossego público, para neles não mais poderem entrar; sendo seculares nobres, percam pelo mesmo fato (contra eles provado) to-dos os graus da nobreza que tiverem, e todos os empregos, ofícios e bens da minha Coroa e ordens de que fo-rem providos, sem remissão alguma. E, sendo peões, sejam publicamente açoitados e degradados para o reino de Angola por toda a sua vida. (...)”

Fonte:www.arlindo-correia.com/200908.html

BiBLioteCa

* O autor é advogado e escritor, escreveu A Inquisição no Rio de Janeiro no Come-ço do Século XVIII, Imago, 2008.

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O nome de Sigismond Thalberg nos remete ao fim de uma época, em que os virtuoses se exibiam nos palácios e igrejas, e ao começo de outra, que os pôs nos teatros, face a face com o grande público. Havia sido uma longa evolução. No Brasil, no Segundo Império, havia a realeza e a recém-criada nobreza circundante. Thalberg esteve por duas vezes nesta nossa pequena imitação das cortes euro-péias. Entretanto, já estava nascendo do lado de cá, o inte-resse pela Música. Entre 1816 e 1821, andou por aqui, um outro Sigismond, (Neukomm, que fora aluno de Haydn), professor e descobridor da obra do padre José Maurício. Em 1847, foi fundado o “Conservatório Imperial” por Francisco Manuel da Silva, o autor do Hino Nacional.

Vejamos o que diz a respeito de Thalberg, um musicó-logo brasileiro, Vasco Mariz (1):

“Thalberg, Sigismond (Genebra, Suíça 1812- Posilipo, Itália 1871). Compositor e pianista. Filho da nobreza, es-tava destinado à carreira diplomática. Aluno de Hummel, Sechter e Mittag, estreou como pianista aos 14 anos. A partir de 1835, realizou diversas turnês, logrando impor-se como um dos maiores pianistas da época. Possuía prodi-gioso legato (2) elogiado por Liszt. Autor de duas óperas que falharam e de peças pianísticas de mérito. Sua passa-gem pelo Rio de Janeiro, em 1855, causou sensação. Deu vários concertos e foi condecorado por D. Pedro II.”

O abalizado “Grove´s” (3) complementa (e contradiz, em parte), estas informações. Thalberg seria austríaco, filho natural do Conde Dietrichstein e da Baronesa von Wetzlar. Como intérprete, é colocado próximo ao nível de Liszt (considerado o maior pianista do seu século). Em 1834, foi nomeado Kammervirtuos (4) pelo Imperador da Áustria, (o velho Francisco I). Convém não esquecer que, na época, Viena era considerada a capital mundial da Música. Thalberg passa, a partir daí, metade do seu tempo em Viena, e realiza excursões por toda a Europa, da Espanha à Rússia. Compõe, principalmente, peque-nas peças para piano; no mais das vezes, variações de co-nhecidas árias das óperas de Bellini, Donizetti, Meyerbeer

o cavaLEiRo tHaLBERGE suas aNdaNçasaBraHÃo GiteLMaN (*)

e outros que alcançavam o sucesso.Façamos o rastreamento de alguns de seus passos a

partir de então. Em 1836, ei-lo realizando um duelo pú-blico de interpretação com Liszt. Embora considerado vencedor da competição, Liszt elegantemente não poupa elogios ao rival, dizendo inclusive que Thalberg é o úni-co pianista do mundo a conseguir tirar “sons de violino” do teclado. Mendelssohn e Schumann também têm em alta consideração a sua habilidade técnica. Ele chega a desenvolver uma forma de usar os polegares de modo a simular “uma terceira mão”. Algumas de suas composi-ções para piano solo, utilizando este efeito, são escritas em três pautas.

Em 1843, Thalberg casa-se com uma filha de um bem-conhecido tenor de óperas franco-italiano, Luigi Labla-che, que mantinha uma residência em Nápoles. Daí, o forte vínculo de Thalberg com esta cidade. No começo dos anos de 1850, escreve duas óperas que são ence-nadas, respectivamente, em Londres e Viena, sem muito êxito. Uma delas é sobre a inquieta e sensível rainha Cris-tina da Suécia, que no seu tempo - século 17 - foi uma patronesse das ciências e das artes (a personagem histó-rica não teve sorte daquela vez, mas ficaria imortalizada 80 anos mais tarde por Greta Garbo...)

Em 1855, atravessa pela primeira vez o Atlântico para apresentar-se no Rio de Janeiro. Vamos tentar entender as razões do convite e da aceitação. Naquela época, o continente americano ainda estava fora do roteiro dos grandes músicos. Para viagens tão longas, as estadias deviam, proporcionalmente, estender-se ao máximo. Ha-veria público para muitos concertos? D. Pedro II era um entusiasta das artes e não media esforços para que o Bra-sil começasse a aparecer no cenário musical. O nome do nosso imperador tinha um bom trânsito entre a realeza européia. Era um descendente dos Habsburgo (por ser filho de D. Leopoldina). Assim, Francisco I havia sido seu avô materno. O sucessor do trono da Áustria, Francis-co José, era seu primo-irmão. Por sua vez, a imperatriz

HiStÓria 28

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29 HiStÓria

D.Thereza Christina era napolitana e nada menos que irmã do rei Ferdinando II, do reino de Nápoles e Sicília (também chamado de reino das Duas Sicílias). Thalberg deve ter sentido-se bem seguro quanto às recompensas.

Pelo que sabemos, a receptividade brasileira aos seus concertos foi apoteótica. Sua Majestade concedeu-lhe a Ordem Imperial do Cruzeiro (5), no grau de Cavaleiro, na própria noite da estréia, 25 de Julho daquele ano de 1855. A apresentação deu-se no Teatro Lyrico Fluminen-se (6). Exatamente dois meses depois, Thalberg realizou outra afamada récita beneficente em prol do “Hospício de Santa Thereza”, que era um hospital tutelado pela im-peratriz. Tudo leva a crer que, durante a sua longa perma-nência, Thalberg foi hóspede da própria Família Imperial.

No ano seguinte, fez uma vitoriosa excursão pela Amé-rica do Norte, acompanhado pelo violinista belga Hen-ri Vieuxtemps (pois Paganini, o Liszt do violino, abriu o campo também para os virtuoses deste instrumento). E em termos de público, a Costa Leste dos Estados Uni-dos já era considerada pelos empresários como um rico filão. Em 1858, adquiriu uma enorme herdade em Posi-lipo, nas cercanias de Nápoles. Contudo, tempos difíceis viriam pela frente. A reunificação da Itália - o Risorgimen-to - provocou anos de instabilidade na região, incluin-do guerras contra a Áustria. Sendo cidadão austríaco, as suas oportunidades de se apresentar publicamente fica-

ram bastante prejudicadas. Em 1863, pretendia fazer ou-tra excursão à América, mas, devido à Guerra da Seces-são que estava em curso, Thalberg aceita o convite para realizar outro tour ao Brasil. E foi aqui que praticamente encerrou a sua carreira. Em 1864, aposenta-se e torna-se um produtor de uvas e vinho.

Em nenhuma composição de Thalberg, há a mais re-mota referência às suas temporadas brasileiras. Conve-nhamos entretanto, estávamos ainda muito longe da alvorada do nosso nacionalismo musical. Ficaria para ou-tro virtuose estrangeiro, o americano Louis Gottschalk, poucos anos mais tarde, com sua Fantasia sobre o Hino Nacional, inaugurar a série de composições sobre temas brasileiros ou pelo menos, evocativos do país. No entan-to, a disposição do nosso Imperador de prestigiar as artes frutificou já em 1870, com o triunfo operístico de seu protegido, Carlos Gomes, em Milão.

Finalmente vem a a questão. Thalberg era realmente o nobre austríaco que dizia ser? Apesar dele sempre ter in-sistido na sua própria versão (e que foi aceita por quase um século) a descoberta dos registros de seu nascimento dirimiu as dúvidas. Thalberg nasceu nas cercanias de Ge-nebra em 1812, filho legítimo de Joseph Thalberg e de For-tunée Stein, ambos judeus originários de Frankfurt sobre o Meno, Alemanha (7).

Procuremos lembrar que o início do século 19 foi um

Ilustração: anverso e reverso da medalha (cunhadas na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, algumas em prata, outras em co-bre ou chumbo; diâmetro: 60 mm; gravador: Quintino José de Faria; exemplar pertencente à coleção do autor)

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tempo de grande turbulência para os judeus da Alema-nha. Por um lado, os ventos do Iluminismo os impelia a atravessar os muros dos guetos, ajudados pelo sopro libe-ralizante resultante da influência napoleônica. Por outro, havia a reação de setores da sociedade alemã contra essa assim chamada “emancipação”. Desta forma, muitos cru-zaram não só muros, como também fronteiras, no sentido real e no figurado (a conversão ao cristianismo). E é evi-dente que para o sucesso de uma carreira artística, como a de Thalberg, passada em grande parte em ante-câmaras palacianas, a condição de plebeu acrescida ainda mais a uma origem judaica, teria de ceder facilmente seu lugar, à fantasia de uma pseudo ascendência aristocrática.

BIBLIOGRAFIA E NOTAS(1) Dicionário Biográfico Musical - Vasco Mariz, Villa

Rica - Belo Horizonte - Rio de Janeiro-1991(2) Legato: palavra italiana que, na Música, significa li-

gadura: notas suavemente ligadas, para que a entoação não seja interrompida.

(3) Grove’s Dictionary of Music and Musicians. Mac-Millan - Londres, 1954.

(4) Kammervirtuos: título que pode ter uma dupla co-

notação. Em primeiro lugar, era um emprego palaciano remunerado, de “Virtuose da Corte”. E, nos meios musi-cais, outorgava dístinção ao seu portador

(5) Ordem Imperial do Cruzeiro: a mais antiga conde-coração genuinamente brasileira, criada em 1822 por D. Pedro I. Substituída, no período republicano, pela Or-dem Nacional do Cruzeiro do Sul.

(6) Passou a se chamar assim em 1854, mas era o antigo Teatro Provisório construído em 1851. Tinha 248 assentos de primeira classe, 443 de segunda e 147 “gerais”. Ha-via também 120 camarotes classificados em 4 “ordens”, (as 30 da primeira “ordem” estavam destinadas, natural-mente, à Família Imperial e aos que estavam próximos a ela). Apesar da construção precária, funcionou por mais de 20 anos, sendo demolido em 1875. Localizava-se no “Campo da Acclamação”, entre as ruas dos Ciganos e do Hospício, (que corresponde atualmente à Praça da Repú-blica, entre as ruas da Constituição e Buenos Aires.)

(7)-Encyclopaedia Judaica - MacmillanKetel ~Jerusa-lem - 1971.

(*) O autor, engenheiro, pertence ao Arquivo Histórico Judaico Brasileiro

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O Memorial do Imigrante, da Secretaria de Estado da Cul-tura do Governo de São Paulo, estará inaugurando em 14 de novembro próximo, uma exposição intitulada A Pala-vra Imigrante – a Imprensa Imigrante em São Paulo. O objetivo da exposição é mostrar quem fez e quem faz e se ocupa dessa imprensa desde os primeiros perió-dicos que apareceram no Brasil até os maiores e mais influentes jornais e revistas de comunidades imigrantes que hoje circulam no mercado nacional. O AHJB possui um rico acervo de periódicos da Impren-sa Judaica em sua Hemeroteca e parte desse material estará exposto na mostra do Memorial do Imigrante, Rua Visconde de Parnaíba 1316 (próximo à Estação Bresser do metrô Mooca - Centro - tel (11) 2692-1866.

O MEMORIAL DO IMIGRANTE E O AHJB

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Entre os cargos mais impor-tantes do establishment políti-co americano está o de Juiz da Suprema Corte do país, estabe-lecida em 1789. São dez juízes escolhidos pelo Presidente da República e referendados pelo Senado, com mandato até aos setenta anos. São escolhidos en-tre os mais destacados operado-res do Direito e que tenham uma vida ilibada. Eles interpretam e decidem quanto às leis federais e podem até retirar o Presidente do seu exercício. A composição da Suprema Corte reflete a força dos homens WASP (White Anglo-Saxon and Protestant) na vida americana, pois, somente no século XX, é que se incorpo-ram a ela, o primeiro judeu, Brandeis, em 1916; o primei-ro afro-americano, Marshall, em 1967; a primeira mulher, O´Connor, em 1981, e a primeira hispânica, Sotomayor, em 2009. Dos 110 juízes que a compuseram, apenas sete são de origem judaica: Louis D. Brandeis (1856-1941), Ste-phen Breyer (1938), Cardozo, Abe Fortas (1910-1982), Fe-lix Frankfurter (1882-1965), Ruth Bader Ginsburg (1933) e Arthur Goldberg (1908-1990). Escolhi contar a história de B. N. Cardozo, porque ela é quase desconhecida e, só depois de algumas décadas de pesquisas, é que eu conse-gui fazer as ligações entre a sua família enquanto judeus e parentesco com os cristãos novos em Portugal, conforme árvore genealógica colocada adiante.

CARDOZO, UM HOMEM HONESTO Benjamin Nathan Cardozo nasceu em Nova York, em 24

de maio de 1870. Era filho do juiz Albert Jacob Cardozo, vice-presidente e trustee da Congregação Shearith Israel (primeira congregação judaica nos EUA) e Rebecca Wa-shington Nathan, tia da poeta Ema Lazarus (1849-1887), esta, autora do poema “The New Colossus” afixado na Estátua da Liberdade. O casal Albert e Rebecca teve seis filhos; destes, apenas uma, de nome Emily Natalie Car-dozo (1870-1922), irmã gêmea de Benjamin, casou-se,

Benjamin Nathan Cardozo:

mas não teve filhos. Benjamin foi um discreto, mas, brilhante aluno. Ele entrou na Universidade de Columbia aos quinze anos. Os seus títulos acadêmicos se foram somando com o passar dos anos: B. A. Columbia, 1889; M.A. 1890; LL.D., 1915; honoris causa, Yale, 1921; New York University, 1922; Michigan, 1923; Harvard, 1927; St. John´s College, 1928; St. Lawren-ce, Williams, Princeton e Pennsyl-vania, 1932; Brown e Chicago, 1933, Londres, 1936; L.H.D., Yeshi-va University, 1935.

Ele coroou esta carreira acadê-mica ao ser escolhido para ocupar uma posição na Suprema Corte

americana, depois de ter sido juiz na Suprema Corte de Nova York e Chief Judge da Corte de Apelações de Nova York. Ele foi indicado pelo Presidente Herbert Hoover (1874-1964) para substituir o Justice Oliver Wendell Hol-mes (1841-1935) em 15 de fevereiro de 1932. A sua indica-ção foi confirmada no Senado por unanimidade. Naquela corte, desenvolveu um trabalho tão original através de de-cisões com profundo humanismo e alta qualidade literária, que se tornou referência para os operadores do Direito. Foi o segundo judeu a chegar a tal função honrosa. Junto com Brandeis e Stone formou o grupo “Três Mosqueteiros”, de minoria liberal. O maior elogio popular ao seu trabalho está no romance Gold vale Ouro (1999), de Joseph Heller, em que um personagem pessimista indaga quanto à pre-sença de judeus no establishment americano:

“Aponte-me um só judeu que tenha trabalhado no gover-no e feito coisa que prestasse - Brandeis e Cardozo - foram os melhores nomes de que se lembrou - e Felix Frankfurter”.

Curiosamente, os três foram juízes na Suprema Corte americana.

B. N. Cardozo pertencia ao patriciado judaico-ameri-cano chamado pelo escritor Stephen Birmingham de os “Grandes”, mas também ao que é menos conhecido, a importantes famílias de cristãos-novos portugueses que viveram por mais de dois séculos sob o terror inquisito-

O ROMANCE DE UMA LINHAGEM CRISTÃ-NOVA

Benjamin Nathan Cardozo

PaULo VaLadareS (*)

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rial. A sua genealogia é uma súmula desta história de perseguições e a luta para fugir delas, através das pou-cas opções oferecidas a eles. Nesta história familiar está a conversão forçada, o enfrentamento silencioso a Inqusi-ção e as difíceis fugas para um país tolerante aos judeus.

O MAIS ANTIGO ANCESTRAL DOCUMENTADOO mais antigo ancestral documentado de Justice B. N.

Cardozo é uma figura controversa na história sefaradit, trata-se do Rabino Abraham Senior, natural de Segóvia (1412-1493), ABD (Chefe da Corte Rabínica) de Segóvia, Conselheiro da Rainha Isabel a Católica, Encarregado das Finanças do Reino e último Grão-Rabino de Castela. Não se sabe se, para manter a posição na Corte ou porque já era um homem idoso, ele não acompanhou os judeus que foram expulsos do país em 1492, inclusive o seu só-cio, Dom Isaac Abravanel (1437-1508) que rumou para Napóles. O certo é que ele converteu-se ao Catolicismo, sendo batizado junto com a família neste mesmo ano, no Monastério de Guadalupe, tendo como padrinhos os chamados “Reis Católicos”, de quem, ele e um genro adotaram o prenome Fernando, mais o sobrenome Co-ronel, que era extinto no país. A família manteve as suas posições na Corte por muitos anos. Século e meio mais tarde desta conversão, uma descendente sua, Sóror Ma-ria de Agreda (1602-1665), era conselheira do rei Felipe IV e, mesmo no Brasil, outra descendente, a Condessa de Barral (1816-1891) foi confidente de D. Pedro II.

Nem todos os descendentes do Rabino Abraham Se-

nior, ou melhor Fernán Pérez Coronel, adotaram o Cato-licismo verdadeiramente. Alguns deles foram denuncia-dos como cristãos-novos judaizantes e penalizados pelos tribunais do Santo Ofício, perdendo os seus bens e até deportados para o Brasil. Outros fugiram para terras mais tolerantes aos judeus, como o amarantino Duarte Saraiva (nascido em 1572), que fugiu para a Holanda onde ado-tou o nome de David Senior Coronel, veio para o Brasil e era considerado o homem mais rico do Brasil-holandês. O livro “Conciliador” (1641) do Rabino Menasseh Ben Isra-el (1604-1657) foi dedicado a ele. Os seus descendentes estão espalhados pelo mundo; tanto há gente em Israel, quanto no sertão do Ceará.

Benjamin Nathan Cardozo descende dele pelo lado paterno, ascendência que lhe vem por sua quarta-avó, a portuguesa Teresa Eugénia da Veiga. Nos EUA, esta to-mou o nome de Esther Nunez, filha de um médico fora-gido da Inquisição.

O MÉDICO FORAGIDOSegundo algumas informações familiares, o Dr. Diogo

Nunes Ribeiro (1668-1744) foi médico do Inquisidor-Geral em Lisboa; porém, ele pertencia a uma família de judaizantes radicada na Beira em Portugal. O destaque deste grupo familiar foi o grande número de médicos e farmacêuticos que ele produziu. A figura maior deste

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“Aponte-me um só judeu que tenha trabalhado no governo e feito coisa que prestasse - Brandeis e Cardozo - foram os melhores nomes de que se lembrou - e Felix Frankfurter”.

Sepultura dos Cardozo no Cemitério Beth Olam, NYC.

Dr. António Nunes Ribeiro Sanches

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clã foi o Dr. António Nunes Ribeiro Sanches (1699-1783), um médico e escritor português radicado na França, mas que chegou a viver como médico militar na Rússia czarista. Conforme o historiador russo Rashid Kaplanov (1949-2008), ele foi “the first Jewish intellectual in Rus-sia”. Outro médico importante desta família foi o Dr. José Henriques Ferreira (1740-1792), fundador da primeira instituição científica brasileira - a Academia Fluviense, Médica, Cirúrgica, Botânica e Farmacêutica (Sociedade de História Natural), em 1772.

Denunciado à Inquisição como judaizante e condenado a “cárcere e hábito perpétuo” em 1704, ele e a família resolveram fugir para Londres, onde já se haviam refu-giados vários membros da família. Sem muitos recursos, resolveu imigrar, junto a família em 1730, para a coloni-zação da Geórgia. Lá, com o nome de Dr. Samuel Nunez, salvou a colônia de uma catástrofe, combatendo como médico a febre amarela que grassava no local. A família conseguiu inserir-se com sucesso na vida local, prospe-rando não só financeiramente, mas também intelectu-almente. Eles fundaram a terceira congregação israelita nos EUA, a Mikva Israel. Dentre os seus descendentes, estão Mordecai Manuel Noah (1785-1851), considerado como o judeu mais influente nos EUA (século XIX) e o Co-modore Uriah Phillips Levy (1792-1862), que recusou um

convite de D. Pedro I para integrar a Marinha brasileira. O Dr. Samuel Nunez é um dos ancestrais paternos de

nosso biografado.

O LADO MATERNORebecca Washington Nathan, mãe de Benjamin Nathan

Cardozo, também descendia de famílias oriundas de Portugal, porém acrescentem-se a estas, famílias vindas de outras plagas. Um destes ancestrais é Benjamin Levy, nascido em Schwelm, conhecido como “el viejo asqua-zy”, mas que viveu em Amsterdã, Recife e Londres. Ele foi chazan (cantor), shochet (açougueiro), bodek (ins-petor de carnes) e um dos fundadores da Comunidade Pernambucana (sua assinatura é a de nº 110), durante o período holandês. É o pai de Asser Levy, o primeiro judeu considerado como cidadão nos EUA e de Rachel Levy, sua quarta-avó paterna e materna.

Outro ancestral notável de Rebecca é o português “Abraham” Mendez Seixas - não se sabe o seu prenome em Portugal. Os Mendes Seixas são aparentados a dois grandes clãs cristãos-novos beirões, os Nunes Ribeiro (de seu marido) e os Campos. Com “Abraham”, aconteceu a mesma situação de outros cristãos-novos judaizantes. Acossado pela Inquisição, percebendo que seria preso, pagou a um criado que o colocou num cesto de roupas e o levou para um navio inglês que ia para Barbados e, dalí, para os EUA. Lá, tornou-se o grande patriarca da elite judaica americana.

A GENEALOGIA DE B. N. CARDOZOUma genealogia pode ser descrita de várias formas.

Uma delas é a Sosa-Stradonitz. Nela, para se conhecer os pais de uma determinada personagem, pega-se o seu número, que é multiplicado por dois, encontrando assim o pai e este número, somado a um, revela a mãe. Exem-plo: os pais do nº 14 são 28 e 29. Aqui estão apenas os ancestrais de Justice B. N. Cardozo já identificados.

Uriah Phillips Levy

Mordecai Manuel Noah

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1. BENJAMIN NATHAN CARDOzO (1870-1938).

PAIS:2. ALBERT JACOB CARDOzO (1828-1886). Juiz.3. REBECCA WASHINGTON NATHAN (1879-1979).

AVÓS4. MICHAEL HART CARDOzO (1800-1865).5. ELLEN HART (1802-1865)6. ISAAC MENDEz SEIXAS NATHAN (1785-1852)7. SARAH MENDEz SEIXAS (1791-1834)

BISAVÓS8. ISAAC NUNES CARDOzO (1751-1852). Alfaiate e soldado na Revolução Americana.9. SARAH HART (1763-1823)10. ABRAHAM HART (1766-1849).12. SIMON NATHAN (1746-1822). Comerciante. Dirigente da Congregação Shearith Israel.13. GRACE MENDEz SEIXAS14. BENJAMIN MENDEz SEIXAS (1748-1817). Fundador da Bolsa de Valores (NYC).15. zIPPORAH LEVY (1760-1832)OUTROS ASCENDENTES...16. AARON NUNES CARDOzO. Comerciante em Londres. Chegou aos EUA em 1752.17. SARAH NUNES NAVARRO18/20. MEYER HART DE SHIRA (era um português chamado Tei-xeira).19/21. RACHEL DE LYON (1734-1792)24. JUDAH NATHAN.26/28. ISAAC MENDES SEIXAS (1708-1780)27/29. RACHEL LEVY30. HAYMAN LEVY31. SLOE MYERS32. JACOB NUNES CARDOzO33. SARA NUNES NAVARRO34. ISAAC NUNES NAVARRO35. REBECCA CARDOzO38/42. “ABRAHAM” DE LEÃO. Introdutor da viticultura nos EUA.39/43.TERESA EUGÉNIA DA VEIGA (ESTHER NUNEz).52/56. ABRAHAM MENDES SEIXAS.54/58. MOSES LEVY (1665-1728)55/59. RICHEA ASHER.64. ISAAC NUNEz CARDOzO65. JUDITH RODRIGUEz LEON66/68. JACOB NUNEz NAVARRO78/86. DR. DIOGO NUNES RIBEIRO (SAMUEL NUNEz, 1668-1744). Médico. 79/87. GRACIA CAETANA DA VEIGA (REBECCA NUNEz)110/118. RACHEL LEVY128. DAVID NUNEz CARDOzO130. ISAAC RODRIGUEz LEON156/172. MANUEL HENRIQUES LUCENA157/173. MARIA NUNES RIBEIRO.158/174. ANDRÉ DE SEQUEIRA159/175. ISABEL MARIA DA VEIGA220/236. BENJAMIN LEVY (? - 1693). Chazan, shochet e bodek em Recife.312/344. DIOGO GOMES HENRIQUES313/345. ISABEL HENRIQUES314/346. DR. LUIS LOPES

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315/347. MARIA NUNES RIBEIRO316/348. GASPAR VAz DE SEQUEIRA317/349. MONICA NOGUEIRA.318/350. DR. ANDRÉ SOARES DE SEQUEIRA. Médico.319/351. GRACIA DA VEIGA624/688. DIOGO VAz625/689. CLARA GOMES626/690. DIOGO DE LUCENA627/691. BRANCA RODRIGUES630/694. ANTONIO RODRIGUES631/695. ANA NUNES RIBEIRO 632/696/636/700. DR. RODRIGO DE SEQUEIRA. Médico.633/697/637/701. BRANCA SOARES638/702. DR. RUI LOPES DA VEIGA. Juiz.639. INÊS GOMES CHUMACEIRA1254/1382. GONÇALO VAz1255/1383. JOANA RODRIGUES1264/1392/1272/1400. FRANCISCO DE SEQUEIRA1265/1393/1273/1401. BRITES SOARES1266/1394/1274/1402. GASPAR VAz PEREIRA1267/1395/1275/1403. BRITES SOARES1276/1404. DR.TOMÁS RODRIGUES DA VEIGA (1513-1571). Mé-dico.2552/2808. MESTRE RODRIGO DA VEIGA. Médico do rei D. Ma-nuel I de Portugal.5104/5616. MESTRE TOMÁS DA VEIGA. Médico do “Reis Cató-licos”.5105/5617. CONSTANÇA CORONEL20420/22468. RABINO ABRAHAM SENIOR (FERNÁN PÉREz CO-

RONEL, 1412-1493). ABD Segovia e Grão-Rabino de Castela.

CONCLUSÃOBenjamin Nathan Cardozo teve um ataque do coração em 1937 e faleceu em 9 de julho de 1938, sendo sepultado no cemitério Beth Olam no Brooklyn. Era celibatário, muito liga-do à irmã Nellie (Ellen Ida Cardozo, 1859-1929), que subs-tituira sua mãe quando esta morrera e ele tinha nove anos. Não deixou filhos. Escreveu muitos livros e decisões jurídicas que ainda são lidas e não foram superadas. Ele foi descrito por seu sucessor na Suprema Corte, Felix Frankfurter (1882-1965), como “modesto, discreto e sensível”. Participando no sistema judiciário americano, contribuiu para ampliar as fron-teiras da justiça e do conhecimento humano.

BIBLIOGRAFIAROLÃO, Manuel Estevan Martinho da Silva. Famílias da Beira Baixa. Raízes e ramos. Lisboa: edição do autor, 2007 (três vo-lumes).STERN, Malcolm H. First American Jewish Families. 600 Ge-nealogies. 1654-1988. Baltimore, Ottenheimer, 1991.VALADARES, Paulo. A presença oculta. Genealogia, identi-dade e cultura cristã-nova brasileira nos séculos XIX e XX. Fortaleza, Fundação Ana Lima, 2007.

* Paulo Valadares, Núcleo de Genealogia AHJB

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ANA IzABEL FERRAz DE OLIVEIRA PINTO DE ABREU, PORTUGAL.

I – JEAN LEON CARDOzO DE BETHENCOURT nasceu em Nantes e morreu em Bordéus (15 de dezembro de 1861 – 7 de dezembro de 1938). Filho de João (Jean) Cardozo de Bethencourt, natural de S. Pedro, Funchal, e de Petra Léonie Castrillo (ou Castelo) de Velasco, espanhola. Neto paterno de outro João Cardozo de Bethencourt e Isabel Matilde de Gouveia. Bisneto paterno de Manuel José (Lo-pes) Cardozo Guimarães, natural de Urges, e de Maria Fe-lícia Rosa Bittencourt. Ele foi contratado pelo rei D. Carlos I (1863-1908) para o Catálogo dos Manuscritos do Palá-cio da Ajuda. Nomeado 1º Oficial Bibliógrafo da Bibliote-ca da Academia de Ciências de Lisboa. Exonerado a seu pedido, quando da proclamação da República. Autor de várias obras sobre a ação dos judeus portugueses. Des-tacam-se, entre elas, Inscriptions Hébraiques de Portugal (Notes d´Histoire et d´Epigraphie), Lettres de Menasseh ben Israel a Isaac Vossins (1651-1655) – Traduction et No-tes e L´auto da Fé de Lisbonne – 15 Dec. 1647. Atestado de óbito: “Le sept décembre mil neuf cent trente huit, à quatorze heures trente, est décédé, rue Paul Bert, 4, Jean Léon CARDOZO de BETHENCOURT, NE à Nantes (Loire-Ingérieure), le quinze décembre mil huit cent doixante et un, ancien Bibliothécaire de l`Acadèmie de Sciences de Lisbonne, veuf de Magdalena RIEDL, fils de feu Jean CARDOZO de BETHENCOURT, et de Petra Leona Castrilla VALASCA. – Dressé le neuf décembre mil neuf cent trente huit, à diz heures, sur la déclaration de Eugène TOULZE, cinquante cinq ans, employé rue de Belfort, 11, qui, lecaure faite a sigé avec NOUS. ASSINA-TURAS: TOULZE e Joseph BENZACAR, Chevr de La Legi-ón d`Hon, Adjount au Maire”.

O judeu francês J. L. Cardozo de Bethencourt é uma figura importante e misteriosa na história dos judeus portugueses. Há pouca coisa escrita sobre ele. Um destes raros documentos biográficos é o verbete da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. 4, p. 618). Ali está o que se sabe dele, filiação, a “ori-

gem hebraica” e principalmente os seus trabalhos de investigação. Nada mais. Interessado em recuperar esta figura para a história judaica, procuramos informações em todos os lugares possíveis e apenas con-seguimos levantar o seu atestado de óbito. Uma década depois, encontramos a Srª Ana Pinto de Abreu casada na família Cardozo de Bethencourt, que, num trabalho de fôlego, conseguiu não só identificar

os descendentes, mas também os seus ascendentes portugueses (Núcleo de Genealogia do AHJB).

J. L. CARDOZO DE BETHENCOURT (1861-1938), O BIBLIOTECÁRIO REAL, SUA ASCENDÊNCIA E DESCENDÊNCIA

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J.L. Cardozo de Bethencourt foi casado com a cientista austríaca Magdalena Riedl. Eles são os pais de:1 (II) – Jean Manuel Jorge Cardozo de Bethencourt, que segue.2(II) – Jean Guillaume Miguel Cardozo de Bethencourt.3 (II) – Elsa Cardozo de Bethencourt.4 (II) – Léone Cardozo de Bethencourt.5 (II) – Berta Cardozo de Bethencourt.6 (II) – Eva Cardozo de Bethencourt.II – JEAN MANUEL JORGE CARDOzO DE BETHENCOURT nasceu em Paris e morreu em Lisboa (21 de abril de 1899 - ?). Casado com Lucy Yolande de Carvalho (Paris, 1900- Lisboa, 1992), filha de Francisco Xavier de Carvalho e Blanche Alphonsine Emmanuelle d´Aout. São os pais de:1 (III) – Madelene Blanche Therese Cardozo de Bethen-court (Paris, 1930 – Lisboa, 2002).2 (III) – Françoise Léone Hélène Cardozo de Bethencourt, que segue.3 (III) – Nicole Lucy Cardozo de Bethencourt (Lisboa, 1939). Casada com o Engenheiro Carlos Eugenio Pimen-tel de Sousa e Menezes (1936). Com geração.

III – FRANÇOISE LÉONE HÉLÈNE CARDOzO DE BETHEN-COURT, nasceu em Lisboa (5 de maio de 1938). Casa-da com António Manuel Arnao Metelo da Silva Pinto de Abreu (Cinfães, 1929 – Lisboa, 1992), filho do Dr. Luís Gonzaga da Silva Pinto de Abreu e Maria da Assunção Arnao Taveira Metelo. São os pais de:1 (IV) – Salvador Luís de Bethencourt Pinto de Abreu (Lisboa, 1961), professor e engenheiro, casado com a professora Irene Pimenta Rodrigues (Lisboa, 1962), com geração.2 (IV) – Pedro Jorge de Bethencourt Pinto de Abreu (Lis-boa, 1962), solteiro.3 (IV) – Francisco Xavier de Bethencourt Pinto de Abreu (Lisboa, 1963), casado com Ana Isabel Ferraz de Oliveira (autora desta genealogia, Lisboa, 1962), filha do arqui-teto Carlos Manuel Monteiro de Oliveira e Maria Fernan-da Correia Franco Ferraz. Com geração.4 (IV) – Bernardo Manuel de Bethencourt Pinto de Abreu (Lisboa, 1969), solteiro.5 (IV) – Marta de Bethencourt Pinto de Abreu (Bruxelas, 1974), solteira.

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DOAçõES RECEbIDAS DE SETEmbRO 2008 A OuTubRO 2009

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Adão VolochRascunhos dos livros “O Colono Judeu Açu”, “O Colunis-ta”, “Praça Onze” e “Enchente”. “Bem Ami”, “O Arqui-pélago maldito”. Contos sobre a JCA. Prefácio de “Os desgarrados de Nona”.Adriana JacobsbergDiscos, livros, periódicos, gravuras desenhadas por Dan Bar Shay de 1973, 13 exemplares da Revista Época em Italiano sobre a 2ª Guerra Mundial. Jornal de São Paulo 1945, Folha da noite 1944, Charge da2ª Guerra Mundial. Agostinho Rosenblatt. Vários livros em iídiche.Alain BigioLivro: “Exodus” com dedicatória do autorAlma HeimanLivro “Raízes de família” de sua autoriaAnna Rosa BigazziVários diplomas outorgados a Raffaele Meier: De Mérito 1952, do Instituto Cultural Brasil - Mônaco ao Beneméri-to de 1958, Croix de Grand Officier -1954,Título de Cav. di Gran Croce de 1950, Conselho da medalha Prince Albert 1959, de Comendatore 1950, Medalha de Mérito e Cultural “Benito Juarez” de 1962, Honorífico no grau de Cav. Grã Cruz de 1956. Instituto Brasil Honduras de 1958, Membro efetivo da Primeira Jornada do serviço de saúde da aero-náutica de 1951. Medalha Marechal Souza Aguiar de 1955. Cópia da Comunita Ebraica de Trieste do Certificado de nas-cimento (1894), Exemplar da revista Gerações Brasil com a biografia de Raffaele Mayer. Parte da revista O Hebreu de setembro 2001 com a história de George Langman. Foto com 5 mães com seus filhos, únicos bebês sobreviventes dos Campos. Sendo que um deles é George Langman.Aron Glinder10 fitas cassetes de música iídicheAssociação Cemitério Israelita de São PauloLivro comemorativo dos 85 anos de existência da Associação.Augusto RosenblattLivros em iídicheBenno JoffeDiscos em hebraico e espanhol.Bettina LenciDiploma de Bat Mitzva de Tova Lorch, Livro: “Aprendiza-gem de hebraico” pertencente a Thomas Scheier, Livro: “Juedische Geschichte” de 1931. Vários documentos per-tencentes a Gertrudes e Peter Scheier.B´nai B´rithApostila: Solução para a paz entendendo o Oriente MédioClara BlackVídeo “A wedding in Shtetl”, certificado de conclusão de curso “Seminário de Liderança” do Centro de Estudos Ju-daicos. Anotações manuscritas sobre o curso. Livro em

hebraico de 1916. Daniela S. GuertzensteinTese “O uso do Computador e da Internet pela Comuni-dade Judaica Ortodoxa Paulistana”.Dominique Frischer4 fotos da família do Barão Hirsch.Dora Silvia Cunha BuenoJornal do Emigrante de abril 1993 “Israel da Paz” sobre a Operação Salomão;Dorothy Soihet BortzVários discos em iídicheEleusa M.PolakiewiczDVD de genealogia da família de Marina Sulam ChusydEliana Rosa LangerVários discos em iídicheEstefania Shlzleacher11 volumes em alemão da coleção de Oscar Wilde, “Ber-lin in the twenties” e “Fur Unsere Jugend” de 1916. Família Siegel3 Diários contando as viagens de Miguel e Sophia Siegel de 1942 a 1962. Cartas datilografadas e encadernadas de 1924 a 1931. Cartas datilografadas e taquigrafadas encadernadas com a inscrição Mackenzie College por Sophia Cuschnir. Livro sobre Vincent Van Gogh. 4 Pas-saporte brasileiros: Ida Siegel de 1917, Sophie e Miguel Siegel de 1937,1949 e de 1950 e Passaporte Rumeno de 1911. Cartas manuscritas pessoais de 1945. Retratos de 3 pinturas do Lazar Segall que foram vendidos. Livrinho Brasil e Rússia de 1922 escrito por Oscar Siegel. Certidão de casamento de 1950. Tradução de uma certidão de ca-samento do russo de Oscar e Ita Siegel de 1927. Fotos.Flavio ChamisJornal “A voz Sionista” de 1954.Flavio BitelmanMapa “From Adam to Jesus”, “Pré historic Man”- Rolo em hebraico datado de 1948. Foto: Sub-comitê russo de socorro às vítimas de Guerra 1944 - com os nomes das pessoas, Secretário Moises BitelmanFrancisco GotthilfLivro “Senhor Mosaico”Frederico EignerTradução e comentário do Eclesiastes Kohelet do Rei Salo-mão em húngaro e redigido pelo Sr. Isidoro e datilografado pelo Sr. Frederico. 75 cartões postais sobre Israel. 5 Calendá-rios em húngaro de 1934 até 1938. Cartão da CIP do “Gru-po Consolação” de 1950, livro de oração para as almas de 1953 até 1999. Diploma de relojoeiro do Sr.Izidoro de 1933. 2 mapas turisticos de Israel, Artigo sobre Portugal de 1974.Fundação Ana LimaLivros “O Legado do Rabino Abraham Senior” e “Branca

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Dias” sobre genealogiaGeny ZlochevskyLivro “Sefer Kalutchin” sobre a cidade de Kalutchin. Gilberto de Abreu SodréLivro: “A Inquisição no Rio de Janeiro no começo do sé-culo XVIII.Habonim DrorVários livretos editados pelo Keren Hayessod, Israel jo-vem nação milenar, Los Fedayines, La minoria judia frente a la justicia soviética de 1974. Estudos teatrais de 1958. História do Sionismo. Hélcio MullerVários DVDs, Partituras em hebraico, vários livros, Livro em iídiche com carimbo da Escola Israelita do Cambuci.Henrietta BraunLivro : “Fragmentos de uma vida“, de sua autoriaHenryk e Rebeca BleichColeção de livros em iídicheIsaac PlutFotocópia de um certificado de Reservista da 1ª. Cate-goria da Classe de 1924. Incluído no Estado efetivo em 25-1-1945 e excluído em 15-10-1945.Ilda KlajmanLivro: “A Guerra de Yom Kippur”. DVD: Documentário re-alizado por André Klotzel, patrocinado pela Secretaria de Educação e Cultura municipal sobre o Bom RetiroIngrid BoerschmannTese em alemão sobre anti-semitsmo no Brasil na Era Vargas. A pesquisadora usou fontes e livros do AHJB para elaborar sua tese.Instituto MorasháCartão de Dachau de 1945 atestando que Fiszel Kraushorn foi prisoneiro desde 1944. Correspondência com o Insti-tuto Morashá de 1999 até 2008. Breve depoimento seu manuscrito. Israel WainstokDepoimento “Memórias de um Pai” traduzido do iídiche para o inglês e, depois, para o português de 1955.Israel BlajbergDepoimento de Israel Klabin sobre o Centro de Prepara-ção de oficiais da Reserva. Convite e Cartaz do evento no Rio de Janeiro do lançamento do Livro “Heróis Brasileiros Judeus da Segunda Guerra”. Livro “Heróis Brasileiros “Mapa do Roteiro da FEB na Campanha da Itália.Jacques ChocronLivros “Um poeta esquecido” e “ O 11º mandamento”, ca-lendário do Comitê Israelita de Amazonas, e vários artigos. Jeffrey LesserLivros: “O Anti-Semitismo nas Américas”, “Kasato Maru”, “A Negociação da identidade Nacional”, “A História e seus Territórios”, “Uma diáspora descontente”.Joel Kulikovsky5 fotos de eventos entre 1968 e 1969.

Jorge Bastos FurmanEnvelopes com selos do Centenário do nascimento de João Guimarães Rosa, cartões postais do Museu Casa Guimarães Rosa, Carta Mensal da Assoc. de Cartofilia do Rio de Janeiro. Artigos sobre a vereadora Teresa Bergher. Folheto da exposição “A hora da Estrela” de 2008. Cópia do projeto de lei dando o nome de Aristides Sousa Men-des a uma praça no Rio de Janeiro.Carta Mensal da Associação de Cartofilia do Rio de Janei-ro. Vários convites de exposições, fotocópia de uma foto de L.L. zamenhof, criador da língua Esperanto da Coope-rativa Central dos Esperantistas do Rio de Janeiro. Fotocó-pia de artigo sobre o livro “Duas vozes de Wainer”, escrito por Joelle Rouchou. Artigo sobre a primeira aventura de Samuel Wainer, sobre o Holocausto e Inquisição. Livreto sobre Alexandre de Gusmão, cartão dos Titãs. Jornal Alef de Maio 2009, vários convites, fotocópia da lista de sócios, fundadores e diretoria dos Amigos do Me-morial Judaica de Vassouras, relatório e ata da diretoria de 2009. Entrevista de Frieda Wolf a Sofia Débora Levy para o Arquivo Maaravi do Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG publicado em 2007. CD zamenhof, um cidadão do mundo 2008. Várias fotocópias de artigos de jornais, có-pia do cartaz “20 Encontro Estadual de Esperanto do Rio de Janeiro”, cópia do convite da exposição “Frieda Wolff z.L.” Cópia do Boletim Especial da FIERJ reproduzindo o “Anúncio Especial da Embaixada de Israel“, nomeando o jornalista Osias Wurman Cônsul Honorário de Israel. José TavimLivro “Romances de Alcácer Quibir” com CD. Tese “O Reino, as Ilhas e o Mar Oceano de Lisboa 2007”, com artigo de José Tavim: “De Gaspar da Gama aos zumbis da Liberdade”. Karl LieblichLivro: “Rausch und Finsteins” de sua autoria e biografia do autor.Keren Kayemet LeisraelFotos de Abreu Sodré, Cunha Bueno e da Família LaferLivraria SeferLivro “Assim nasceu Israel” de Jorge Garcia GranadosLiza Wajshot30 discos em iídiche, 3 livros em idiche e 1 mapa de Israel.Lisete BarlachImagem digital da Carteira de sócio do Clube “A Hebrai-ca” do Sr.Oscar Barlach, N. 1811.Lucia Chermont10 imagens digitalizadas de Manaus e Nordeste do inicio do século 20. Tese: Imigrantes judeus em São Paulo, a reinvenção do cotidiano no Bom Retiro de Ana Claudia Pinto Correa. Resumo da peça “O Dibuk” apresentada pela Confraria de Teatro.Marcelo KutnerDVD com depoimentos de sua tia falando sobre o Bom Retiro antigo e de Dina Sfat falando sobre sua viagem

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para Sifat, terra dos seus ancestraisMárcia S. RosenbergLivro raro “Gebete der Ifraeliten” de 1882.Marilia FreidensonRevistas: Aonde Vamos, Brasil Israel Morashá, Herança Judaica, Comentário, Commentary, e vários livros.Mauricio AsnissVários livros e correspondências, recibos da Comunidade de Santos Caderno CERU N.18, de 2007, com artigo de sua autoria.Michael PinkussMicrofilme de casamentos e falecimentos feitos pelo Rabino Pinkus, 1994. Caderneta de salvo conduto em nome de Lotte e Fritz Pinkuss. Revistas com reportagens sobre ele,Cartas da USP reconhecendo seu título de PhD, 1970, e da CIP congra-tulando. Diploma de Doctoris Phiosophiale de 1929.Mendel LustigPartituras de canções iídiches e hebraicas editadas entre 1940 e 1950. Milene Suzana de AlmeidaDissertação do Mestrado “Melodrama Bachalaresco, um estudo estilístico da recepção do Caso Dreyfus no Brasil”. Moises NigriCertidão de nascimento da “Communaute Israelite du Caire” de Jeannette Levy, datados de outubro 1920 e as-sinados pelo Rabino do Egito.Moises Clemente Eragus2 fotos de 1949, certidão de casamento de 1928.Moises SerebrenikQuadro emoldurado com foto de Moises com um grupo de pessoas do Jornal Novo Momento. Diploma de honra do Ke-ren Hayessod por ocasião do 30º Aniversário de Israel. Diplo-ma com a foto de Golda Meir dedicado a Moises Serebrenik.Myriam Chansky10 gravuras de Debret e de Rugendas. 2 Carteiras de Identidade de Aron Hirsz Mindil de 1953 e de 1955.Nachman Falbel458 fotos variadas com identificação. Testemunho de um sonho (Brasil, 1935-1948) de Nahum MandelNeusa FernandesLivro “História e Geografia Fluminense”, organizado por Neusa Fernandes.Paulo ValadaresDVD - Judeus em São Paulo. O encontro de diferentes trajetórias de Eva Blay.Programa MosaicoLivro e DVD “Senhor Mosaico, meio século de história na TV”Rabino Daniel M. FrourO Ciclo do Ano Judaico Vol.IIRachel MizrahiLivro “Do Mascate ao Empreendedor”, de sua autoria. CD de imagens da família e parentes que foram utiliza-dos em seu livro.

Rachelle Z. DollingerLivro: “Homens de valor”, de sua autoria.Rafael GoldenbergCaixa de metal da Coop. de Crédito do Bom Retiro, 2 fotos da Cooperativa e uma foto da Pharmacia Luchs do Rio Grande do Sul.Raiza Cruz LisboaTese de graduação sobre o anti-Semitismo no Brasil na Era Vargas, baseados nos depoimentos do Núcleo de História Oral. Ricardo Eleazer ChutEncadernações das Revistas “O Hebreu” de abril 1986 e abril 1996. Robson G. CaldeiraCertidão de nascimento de Jankiel Gonczarawska, nascido em Vilna (imagem digital)Roney CytrynowiczLivro: Dez roteiros históricos a pé em São Paulo”, “Memórias do Comércio”, “História da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (1938-2008)”.Ruth SpornLivro sobre Arte Samuel BelkDVD da exposição do livro iídiche no CCJ, DVD Irmãos de Navio, DVD Laughter Thru Tears, Jewish Luck, The Big Winner, Die Kleine Mentshelah.Sara Schulman7 rolos de filmes, dos anos 1971 e 1972 sobre IsraelSergio FeldmanFitas de vídeo: Coluna de fogo I, V, VI e VII, Guerra de Israel, Fragments of greatness, Hamaka, No espírito e na matéria, Israel anos 50, Anti-Semitismo no Brasil, Israel informa paz para Galileo, Los Congressos Sionistas I,II,III e IV, Amud Haesh 1 e 2 partes, Civilization and the Jews partes 5,6,e 7. Slides: 1ª Guerra Mundial, 3ª e 4ª. Alia, Inicio da Colônia Judia do séc. 19 antes das aliot, Come-ço da 1ª Guerra Mundial, cemitériosSergio Grinberg Livro “A arte de dizer Amên”, de sua autoria.Sonia Maria Milani GouveiaTese: O homem, o edifício e a cidade por Peter Scheier, de 2008.Tânia KaufmannLivro: “Arte Cênica-Teatro Iídiche”Thea JoffeCertificado atestando que o Sr. Matuk Jeik foi preso em Dachau, de 1944 à 1945.Unibes146 discos em iídicheVera ZveibilVários periódicos e vários discos.Vera SztejnhausFotos de Abreu Sodré, Cunha Bueno e da Família Lafer

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adalberto G. araújo Jr revisão de dissertaçãoadriana Netterrevista Hineinialberto KleinasMestrando Ciências Políticas / UFSC aline mustafá F. silvaCásper Líberoana carolina perottinoGraduanda Cinema / Fundação armando Álvares Penteadoandréa cristina assis da silvaGraduanda História / UNiGandréa JauquinPesquisa familiarBruno Rothschild i. caldasestudantecarolina cruxenGraduanda Letras / FFLCH/USPcelso a. araújorevista GoWHeredavid e Rosa stilesPesquisa particulardominique FrischerSocióloga e ensaísta Françadymitri KopelmanKibutz lassuz – israelEdith Gross Hojdadoutora FFLCH/USPEduardo ainbinderCJB/rJEduardo coelho m. RezendeYeshivá LubavitchEliane pedreira RabinovovichPós-doutorado Psicologia / Universidade Católica de SalvadorErnesto WissmannPesquisa pessoalEthel KauffmanUNiCarioCaFabiano dos santos silvaUFrJFernanda i. piochiaPae SPGabriel pinchas szlejfPesquisa particularGabriela BastoseteC Guaracy SilveiraGeorg KorfmacherPesquisa pessoal

PESQuISADORES DE SETEmbRO 2008 A AgOSTO 2009

Giovana GuilherminoeaCH/USPHeine diete Heidemanndpto Geografia – FFLCH/USP igor s. GakUniversidade Livre de Berlim Joel Rechtmantribuna JudaicaJorge Rodrigues de oliveiraPesquisa familiar José alberto tavimdoutor Universidade de LisboaKarine B. QueirosFundação de energia e Saneamento Kelly dos santos, Gislene pogetti e marina santosGraduanda Biblioteconomia / FeSPLivio Romano tragtenbergMaestro e arranjadorLiziane peres mangiliGraduanda eeSC/USPLuana soutoGraduanda História / UNeSPLuciana amaralMestranda Ciência da informação / eCa/USPLuciana araújo marqueseditora Cosac NaifyLucy Gabrielli Bonifácio da silvaMestranda História / PUC/SPLuiz BenyosefFierJLuiz Henrique soareseditora PerspectivaLuiz sergio steineckeCoNiBmagali marelliCoGeae - PUCmárcia patermanMestre Comunicação Social / PUC/rJmarcio mendes LuzMestrando História / UNiCaMPmarcos Rodrigues pinchiariMuseu Histórico Nacional/instituto Históricomaria izabel mercêsMixer Produções Cinematográficasmiriam mermelsteinGraduação Pedagogia / PUC/SPmolly c. BallMestrado em História / UCLa/USa

CoNSULta 40

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mônica Raisa schpuneHeS SorbonneNatan chehterChazit Hanoar Neide Bibianoinstituto Genealógico Brasileiropaulo valadaresMestre FFLCH/USP editora Fraihapérola m. G. castroPUC/MGRaquel mizrahidoutora FFLCH/USPRoberto KolnLivraria da VilaRosali B. tesslerNa’amat Pioneirassamuel R. B. GrinspunPesquisa pessoalsérgio Gonçalves de amorimdoutor Ciência da religião / PUC/SPstamatia KoulioumbaPós-doutoranda FaU/USPsylvia carolina c. de matosMestrado em História / FFLCH/USPstamatia KoulioumbaPós-doutorado arquitetura / FaU/USPtaís Rios salomão de souzaSuzano Papel e Celulosetamiris Fernandes da silvaUniversidade Federal de Pernambucoulrico strengerassociação Janusz Korczak do Brasiluri Rosenheckdoutorado História / eMorY University/ USaviviane Roberta dos Reis m. da silvaGraduação História / UNiMeSWalter Faustino dos santosPesquisa pessoalWilson JecovProfessor históriaYoo Na KimJornalistaZsuzsanna spiryMestranda FFLCH/USP

FOTOS VENDIDAS NO ANO DE 2009

Fundação patrimônio Histórico de Energia e saneamentoFotos do Bom retiro para exposição Bom retiro: Uma Costura de PovosYoo Na KimCartões das lojas do Bom retiro para o livro Na Moda: Um olhar sobre o Brás e o Bom retiroNachman FalbelFotos sobre o teatro iídiche para o livro que será publicado de sua autoriaRevista de História da Biblioteca NacionalFotos de judeus sefaradimstamatia KoulioumbaFotos sobre o Bom retiro para estudo de pós-doutoradomarcos Rodrigues pinchiariacervo do rafael Mayer para publicação de livromixer produções cinematográficas LtdaFotos para o documentário a Caixa Mágica produzido pela Se-cretaria Municipal de Cultura de São Paulo para tVs públicas e escolas da rede pública.andréa JauquinFotos da Colônia de Quatro irmãos, pesquisa familiar Editora FraihaFotos para livro sobre o Cemitério de Vila Mariana

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• Imigração Judaica em São Paulo

• Influência Judaica em São Paulo

• Imprensa judaica no Brasil

• Presença dos judeus na Baixada Fluminense

• Bom Retiro de toda gente" para a exposição do Museu de Energia e Saneamento de São Paulo

• Colônias Philipson e Quatro Irmãos

• A religião na Era Vargas

• Genealogia

• Imigração Judaica alemã

• História da Chazit (movimento juvenil)

• Cristãos-Novos

• História Oral: imigração russa.

OS ASSuNTOS mAIS PESQuISADOS FORAm:

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Dentre as imagens que estão em nossa FOTOTECA, traze-mos, para sua apreciação, uma série que mostra relações governamentais entre Brasil e Israel. São imagens dos diri-gentes israelenses no país.Estas relações são antigas. D. Pedro II (1825-1891) visitou a Terra de Israel em 1876. Ele foi o primeiro dirigente ame-ricano a visitar aquela região. A criação do Estado de Israel passou pela ONU quando a votação foi dirigida por Oswal-do Aranha e teve o voto favorável do Brasil (29/11/1947). Israel ingressou na ONU (29/11/1948) e foi reconhecido pelo Brasil (07/02/1949).O primeiro representante no Brasil, como Ministro Plenipo-tenciário e depois Embaixador, foi o general David Shaltiel (1903-1969), descendente de uma velha família portuguesa radicada em Hamburgo. Israel respeitou um critério cultural: nomeava sefardim para os países ibéricos. Assim, o espanhol Navon foi para o Uruguai e o português Shaltiel para o Brasil.

Nestas fotos: o poeta Zalman Shazar (1889-1974), Pre-sidente de Israel, visitando o Bom Retiro, S. Paulo. Na sequência: o general Shaltiel (de óculos) e a esposa Drª Yehudit (de branco) numa recepção oficial. Depois, um retrato da elite política nos anos sessenta: O ministro José Maria de Alckmin, presidente Shazar, cônsul Mala-mud, deputado A.S. da Cunha Bueno, governador Viana Filho e o senador Steinbruch. Finalmente, o governador Adhemar de Barros apresenta o prefeito de Santos, Síl-vio Fernandes Lopes a ministro Golda Meir.

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