historia recensao
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SinopseA ascensão implacável do comunismo foi o fenómeno político mais significativo da primeira metade do século xx. O seu término na Europa e declínio no resto do mundo produziu as mudanças políticas mais profundas das últimas décadas. Baseando-se em quarenta anos de estudo e em novas fontes de informação, Archie Brown propõe em Ascensão e Queda do Comunismo não só a história completa mas também uma análise original desta ideologia que mudou o mundo.Outras Críticas«A reputação de Archie Brown como historiador político é única, portanto as minhas expectativas eram altas. (...) Posso dizer que elas foram excedidas: este livro será durante muito tempo a história mais completa, informativa e inteligente do comunismo.» MISHA GLENNYTRANSCRIPT
1 Revista LIBERDADE e CIDADANIA – Ano IV – n. 16 – abril / junho, 2012 – www.flc.org.br
Resenhas
Archie Brown - Ascensão e Queda do Comunismo, Rio de
Janeiro: Record, 2011 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------
João Paulo Peixoto*
Archie Brown -Ascensão e Queda do Comunismo, Rio de Janeiro:
Record, 2011
João Paulo Peixoto
A revolução comunista de 1917 inaugurou uma nova era na
Rússia. Mais ainda, seus impactos foram sentidos por milhões de pessoas
muito além da ‘Mãe Rússia’.
Dominando, no seu auge, um terço da humanidade.
Vigorando das primeiras às últimas décadas do século XX, moldou o destino de
milhões de pessoas em vários continentes. Inspirou ainda revoluções e golpes em países
tão dispares como China e Cuba. Mais do que implantar um novo regime político, tais
movimentos tinham como objetivo a formação de uma nova sociedade a partir de “um
novo homem”, a qualquer custo. Vindo a ser uma das histórias centrais do século XX.
Tamanha pretensão, amparada “cientificamente” nas teorias de Marx e Lenin,
motivou guerras e levantes exitosos ou não, em várias outras nações.
Na América Latina, teve como resultado a implantação nas décadas de 1960 e
70, regimes autoritários na Argentina, no Paraguai, Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia e no
Peru. Todos instituídos em reação, tendo como fio condutor o anticomunismo.
O livro em apreço apresenta uma verdadeira anatomia dessa ideologia política
em suas diferentes vertentes. Do Manifesto Comunista (1848) ao colapso da União
Soviética (1989).
Do ponto de vista histórico vai muito além. Dividido em 5 partes aborda desde a
idéia de comunismo e avança pelas suas várias etapas históricas. Explicativo, aborda o
seu desenvolvimento em diferentes países, e conclui buscando razões para o colapso.
Sem deixar de tratar das correntes versões do regime em várias partes do globo.
Um livro de fôlego digno da Academia.
Ao mesmo tempo abrangente e sintético no que mais define o regime comunista,
apresenta sínteses como aquela expressada por Lenin ao se referir ao sindicalismo, no
seu panfleto de 1902 – What is to be Done? “O movimento sindical espontâneo é
capaz (e inevitavelmente cria) somente o sindicalismo, e sindicalismo da classe operária
é precisamente a política burguesa da classe operária.” Os trabalhadores necessitam de
revolucionários profissionais, alguém que possa persuadi-los a acreditar que seus reais
interesses somente podem ser atingidos com a destruição do capitalismo. O que se
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requeria era a abolição da posição deles como trabalhadores contratados, e não os
objetivos do sindicato de conseguir melhores condições de trabalho a serem oferecidas
pelo patrão.
Lembra que embora oriundos das mesmas raízes, o comunismo e o socialismo
guardam significativas diferenças quanto ao propósito final de dominar os meios de
produção. Sendo que o primeiro advogava para a mudança os métodos revolucionários e
o segundo os métodos evolucionários.
Ressalta que o fim do comunismo foi atribuído, à época, às ações políticas de
Ronald Reagan, Margareth Thatcher, ao Papa João Paulo II, ao sindicato Solidariedade
de Lech Walesa, a Mikhail Gorbachev, menos às próprias contradições intrínsecas,
econômicas, sociais e políticas do regime reveladas na Perestroika e na Glasnost. Ou
seja, na abertura econômica e política do regime e no que, consequentemente, se revelou
dele quando a liberdade foi restituída. Sendo precisamente esta a razão para o colapso
do comunismo defendida por Brown.
Outra passagem marcante é aquela em que o autor lança as seis características
determinantes do comunismo: “1. O controle estatal dos meios de produção; 2. O
partido único exerce monopolisticamente o poder; 3. A burocracia estatal (partidária)
toma autonomamente as decisões; 4. Os comunistas articulam-se internacionalmente; 5.
Economia centralizada atende às decisões do Estado e não do mercado; 6. Certeza do
caminho para a perfeição”.
Tais características, segundo ele, servem ainda para caracterizar as nações
comunistas que sobraram: o Laos, Cuba, Coreia do Norte, China e Vietnam.
Da Rússia à União Soviética; dos anarquistas aos stalinistas; dos Bolsheviks e
Mensheviks; da internacionalização ao comunismo na América e na Grã-Bretanha; do
Leste Europeu a Cuba e à reforma chinesa; das vertentes do marxismo ao imperialismo -
-tudo é objeto da atenção de Brown ao longo das mais de oitocentas páginas que
compõem o livro.
A dinâmica final do regime bem como o seu legado após o colapso da União
Soviética são abordados nas partes 4 e 5, assim como sua ascensão o foi na parte 2.
Enfim, um livro completo, útil e necessário na Academia e fora dela. Uma grande
contribuição para melhor compreensão de um fenômeno político central para o século
que passou. Importante, portanto, para adeptos e simpatizantes ou não da ideologia
vermelha.
João Paulo M. Peixoto
Pesquisador Associado do Centro de Estudos Avançados em
Governo e Administração Pública da UnB e professor
associado internacional do VILLA Victoria University of
Wellington, New Zealand. Seu livro mais recente (Org.) é
“Governando o Governo: modernização da administração
pública no Brasil”. Foi assessor dos Ministérios da Educação
e Fazenda no Brasil servindo também em organizações
internacionais.
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