historia recensao

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1 Revista LIBERDADE e CIDADANIA – Ano IV – n. 16 – abril / junho, 2012 – www.flc.org.br Resenhas Archie Brown - Ascensão e Queda do Comunismo, Rio de Janeiro: Record, 2011 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- João Paulo Peixoto* Archie Brown -Ascensão e Queda do Comunismo, Rio de Janeiro: Record, 2011 João Paulo Peixoto A revolução comunista de 1917 inaugurou uma nova era na Rússia. Mais ainda, seus impactos foram sentidos por milhões de pessoas muito além da ‘Mãe Rússia’. Dominando, no seu auge, um terço da humanidade. Vigorando das primeiras às últimas décadas do século XX, moldou o destino de milhões de pessoas em vários continentes. Inspirou ainda revoluções e golpes em países tão dispares como China e Cuba. Mais do que implantar um novo regime político, tais movimentos tinham como objetivo a formação de uma nova sociedade a partir de “um novo homem”, a qualquer custo. Vindo a ser uma das histórias centrais do século XX. Tamanha pretensão, amparada cientificamentenas teorias de Marx e Lenin, motivou guerras e levantes exitosos ou não, em várias outras nações. Na América Latina, teve como resultado a implantação nas décadas de 1960 e 70, regimes autoritários na Argentina, no Paraguai, Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia e no Peru. Todos instituídos em reação, tendo como fio condutor o anticomunismo. O livro em apreço apresenta uma verdadeira anatomia dessa ideologia política em suas diferentes vertentes. Do Manifesto Comunista (1848) ao colapso da União Soviética (1989). Do ponto de vista histórico vai muito além. Dividido em 5 partes aborda desde a idéia de comunismo e avança pelas suas várias etapas históricas. Explicativo, aborda o seu desenvolvimento em diferentes países, e conclui buscando razões para o colapso. Sem deixar de tratar das correntes versões do regime em várias partes do globo. Um livro de fôlego digno da Academia. Ao mesmo tempo abrangente e sintético no que mais define o regime comunista, apresenta sínteses como aquela expressada por Lenin ao se referir ao sindicalismo, no seu panfleto de 1902 What is to be Done? O movimento sindical espontâneo é capaz (e inevitavelmente cria) somente o sindicalismo, e sindicalismo da classe operária é precisamente a política burguesa da classe operária.” Os trabalhadores necessitam de revolucionários profissionais, alguém que possa persuadi-los a acreditar que seus reais interesses somente podem ser atingidos com a destruição do capitalismo. O que se

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SinopseA ascensão implacável do comunismo foi o fenómeno político mais significativo da primeira metade do século xx. O seu término na Europa e declínio no resto do mundo produziu as mudanças políticas mais profundas das últimas décadas. Baseando-se em quarenta anos de estudo e em novas fontes de informação, Archie Brown propõe em Ascensão e Queda do Comunismo não só a história completa mas também uma análise original desta ideologia que mudou o mundo.Outras Críticas«A reputação de Archie Brown como historiador político é única, portanto as minhas expectativas eram altas. (...) Posso dizer que elas foram excedidas: este livro será durante muito tempo a história mais completa, informativa e inteligente do comunismo.» MISHA GLENNY

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1 Revista LIBERDADE e CIDADANIA – Ano IV – n. 16 – abril / junho, 2012 – www.flc.org.br

Resenhas

Archie Brown - Ascensão e Queda do Comunismo, Rio de

Janeiro: Record, 2011 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------

João Paulo Peixoto*

Archie Brown -Ascensão e Queda do Comunismo, Rio de Janeiro:

Record, 2011

João Paulo Peixoto

A revolução comunista de 1917 inaugurou uma nova era na

Rússia. Mais ainda, seus impactos foram sentidos por milhões de pessoas

muito além da ‘Mãe Rússia’.

Dominando, no seu auge, um terço da humanidade.

Vigorando das primeiras às últimas décadas do século XX, moldou o destino de

milhões de pessoas em vários continentes. Inspirou ainda revoluções e golpes em países

tão dispares como China e Cuba. Mais do que implantar um novo regime político, tais

movimentos tinham como objetivo a formação de uma nova sociedade a partir de “um

novo homem”, a qualquer custo. Vindo a ser uma das histórias centrais do século XX.

Tamanha pretensão, amparada “cientificamente” nas teorias de Marx e Lenin,

motivou guerras e levantes exitosos ou não, em várias outras nações.

Na América Latina, teve como resultado a implantação nas décadas de 1960 e

70, regimes autoritários na Argentina, no Paraguai, Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia e no

Peru. Todos instituídos em reação, tendo como fio condutor o anticomunismo.

O livro em apreço apresenta uma verdadeira anatomia dessa ideologia política

em suas diferentes vertentes. Do Manifesto Comunista (1848) ao colapso da União

Soviética (1989).

Do ponto de vista histórico vai muito além. Dividido em 5 partes aborda desde a

idéia de comunismo e avança pelas suas várias etapas históricas. Explicativo, aborda o

seu desenvolvimento em diferentes países, e conclui buscando razões para o colapso.

Sem deixar de tratar das correntes versões do regime em várias partes do globo.

Um livro de fôlego digno da Academia.

Ao mesmo tempo abrangente e sintético no que mais define o regime comunista,

apresenta sínteses como aquela expressada por Lenin ao se referir ao sindicalismo, no

seu panfleto de 1902 – What is to be Done? “O movimento sindical espontâneo é

capaz (e inevitavelmente cria) somente o sindicalismo, e sindicalismo da classe operária

é precisamente a política burguesa da classe operária.” Os trabalhadores necessitam de

revolucionários profissionais, alguém que possa persuadi-los a acreditar que seus reais

interesses somente podem ser atingidos com a destruição do capitalismo. O que se

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requeria era a abolição da posição deles como trabalhadores contratados, e não os

objetivos do sindicato de conseguir melhores condições de trabalho a serem oferecidas

pelo patrão.

Lembra que embora oriundos das mesmas raízes, o comunismo e o socialismo

guardam significativas diferenças quanto ao propósito final de dominar os meios de

produção. Sendo que o primeiro advogava para a mudança os métodos revolucionários e

o segundo os métodos evolucionários.

Ressalta que o fim do comunismo foi atribuído, à época, às ações políticas de

Ronald Reagan, Margareth Thatcher, ao Papa João Paulo II, ao sindicato Solidariedade

de Lech Walesa, a Mikhail Gorbachev, menos às próprias contradições intrínsecas,

econômicas, sociais e políticas do regime reveladas na Perestroika e na Glasnost. Ou

seja, na abertura econômica e política do regime e no que, consequentemente, se revelou

dele quando a liberdade foi restituída. Sendo precisamente esta a razão para o colapso

do comunismo defendida por Brown.

Outra passagem marcante é aquela em que o autor lança as seis características

determinantes do comunismo: “1. O controle estatal dos meios de produção; 2. O

partido único exerce monopolisticamente o poder; 3. A burocracia estatal (partidária)

toma autonomamente as decisões; 4. Os comunistas articulam-se internacionalmente; 5.

Economia centralizada atende às decisões do Estado e não do mercado; 6. Certeza do

caminho para a perfeição”.

Tais características, segundo ele, servem ainda para caracterizar as nações

comunistas que sobraram: o Laos, Cuba, Coreia do Norte, China e Vietnam.

Da Rússia à União Soviética; dos anarquistas aos stalinistas; dos Bolsheviks e

Mensheviks; da internacionalização ao comunismo na América e na Grã-Bretanha; do

Leste Europeu a Cuba e à reforma chinesa; das vertentes do marxismo ao imperialismo -

-tudo é objeto da atenção de Brown ao longo das mais de oitocentas páginas que

compõem o livro.

A dinâmica final do regime bem como o seu legado após o colapso da União

Soviética são abordados nas partes 4 e 5, assim como sua ascensão o foi na parte 2.

Enfim, um livro completo, útil e necessário na Academia e fora dela. Uma grande

contribuição para melhor compreensão de um fenômeno político central para o século

que passou. Importante, portanto, para adeptos e simpatizantes ou não da ideologia

vermelha.

João Paulo M. Peixoto

Pesquisador Associado do Centro de Estudos Avançados em

Governo e Administração Pública da UnB e professor

associado internacional do VILLA Victoria University of

Wellington, New Zealand. Seu livro mais recente (Org.) é

“Governando o Governo: modernização da administração

pública no Brasil”. Foi assessor dos Ministérios da Educação

e Fazenda no Brasil servindo também em organizações

internacionais.

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