historia mundia do teatro - parte2

12
13. Pintura em taca espiralada: Oioniso e Ariadne (ao alto, no centro), rodeados por atores de peca satírica, c. 420 a.e. (Nápoles, Museo Nazionale). 14. Mosaico de Pompéia: ensaio de um coro de sátiros (Nápoles, Museo Nazionale).

Post on 13-Apr-2016

27 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

teatro

TRANSCRIPT

Page 1: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

13. Pintura em taca espiralada: Oioniso e Ariadne (ao alto, no centro), rodeados por atores de peca satírica, c. 420 a.e.(Nápoles, Museo Nazionale).

14. Mosaico de Pompéia: ensaio de um coro de sátiros (Nápoles, Museo Nazionale).

Page 2: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

- ...•,""-='~esposa Atossa e para o coro dos anciáos- 0- mechanopoioi, ou técnicos, eramres-- ~ - por efeitos como o barulho de trovóes,'-0- ou terremotos, produzidos pelo rolar

?_,.,_~,.""em tambores de metal ou madeira.-ma troca de máscara e figurino dava aos

_ mores individuais a possibilidade de in-rar vários papéis na mesma per;a. Podiam

general, um mensageiro, uma deusa,:. ou uma ninfa do oceano - e o erarn,:-"- a magia da máscara.Foi Ésquilo quem introduziu as máscaras

z- os largos e solenes. A impressáo herói-era intensificada pelo toucado alto, de for-zriangular (onkos), sobre a testa. O traje dotrágico consistia geralmente no quíton -

ica jónica ou dórica, usada na Grécia anti-- e um manto, e do característico cothurnus,

bota alta com cadarco e sola grossa.Com Sófocles, a qualidade arcaica, linear,

_ máscara comecou a suavizar-se. Os olhos ea, bem como a cor e a estrutura da peru-

_ eram usados para indicar a idade e o tipo_ _ rsonagem representada. Com a maior in-

idualizar;ao das máscaras, Eurípedes exi-=-- tarnbérn, contrastes impactantes entreestimentas e ambientes. "Seus reis andam em

:...., pos", apenas para tocar a corda sensível- POyO, zombava Aristófanes, seu implacá-

adversário.O que parecia particularmente ridículoAristófanes, e entrava como risonha pa-

-a em suas comédias, era a predilecáo de~pedes por um expediente do teatro antigo-:.ee se tomou parte do vocabulário em todo o

mundo ocidental: deus ex machina, o deusdescido da máquina.

Esta "máquina voadora" era um elemen-to cénico de surpresa, um dispositivo mecáni-co que vinha em auxílio do poeta quando esteprecisava resolver um conflito humano apa-rentemente insolúvel por intermédio do pro-nunciamento divino "vindo de cima". Consis-tia em um guindas te que fazia descer uma ces-ta do teto do teatro. Nesta cesta, sentava-se odeus ou o herói cuja ordem fazia com que aacáo dramática voltasse a coner pelas trilhasrnitológicas obrigatórias quando ficava ern-penada. O fato de o deus ex machina ter-setomado imprescindível a Eurípedes explica-se pelo espírito de suas tragédias. Suas perso-nagens agem com deterrninacáo individual e,dessa forma, transgridem os limites tracadospor uma mito logia que nao mais podía ser acei-ta sem questionamento; Electra, Antígona eMedéia seguem o comando de seu próprio ódioe amor, e toda essa voluntariosa paixáo é, aofinal, domada pelo deus ex machina.

Porérn, antes desse ponto ser atingido,outro dispositivo cénico da antiga mechano-poioi, essencial para a tragédia, entro u emacáo: o ecic1ema, uma pequena plataformarolante e quase sempre elevada, sobre a qualum cenário era movido desde as portas de urnacasa ou palácio. O ecic1ema traz a vista todasas atrocidades que foram perpetradas por trás

#"

da cena: o assassinato de urna máe, irmáo oucrianca. Exibe o sangue, o tenor e o desesperode um mundo despedacado, como na Orestía-da, em Agamenon, Hipólito e em Medéia.

15. A estrutura inicial do teatro de Erétria, Ilha de Eubéia, século V a.e. Reconstrucáo de E. Fiechter.

• 117

Page 3: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

História Mundial do Teatro.

o

oo

16. Teatro de Dioniso em Atenas. Skene, segundo o projeto de PéricJes. Constru~ao_iniciada c. 400 a.C. Reconstru-cáo de E. Fiechter.

Eventualmente, o teto da própria skene erausado, como em Pesagem das Almas, deÉsquilo, ou em A Paz, de Aristófanes. Como,naturalmente, eram os deuses que em geralapareciam em alturas etéreas, essa plataformano teto tornou-se conhecida na Grécia comotheologeion, o kigar de onde os deuses falam.

A "máquina voadora", o eciclema e otheologeion pressupunham um edifício teatralfirmemente construído, como o que se desen-volveu em Atenas no final do século V a.c.,baseado em projetos que remontavam aPéric1es. Quando as obras para o embeleza-mento de toda a Acrópole se iniciaram, porvolta de 405 a.c., o teatro de Dioniso nao foiesquecido. Conta-se que os bancos de madeirado auditório foram substituídos por assentosterraceados em pedra já em 500 a.c., quandoas arquibancadas de madeira lotadas se que-braram sob o peso das pessoas. Esta data, en-tretanto, é contraditada por biógrafos de Ésqui-lo, que sustentam que um segundo colapso dasarquibancadas o levou a deixar Atenas, desgos-toso, e a instalar-se na corte de Hieran emSiracusa, onde morreu em 456 a.c.

O projeto da skene de Péricles proveu umpalco monumental com duas grandes portaslaterais, ou paraskenia. Deve ter sido executa-do entre 420 e 400 a.c., na época em que oauditório cresceu e a orquestra diminuiu detamanho. A razáo para esta mudanca foi o des-locamento intencional da acáo da orchestrapara a skene. Essa inovacáo mostrou ser aindamais justificada posteriormente, quando o corosituado na orchestra, que ainda contava comdoze a quinze pessoas na tragédia clássica, foigradativamente reduzido no curso das medidas

• 118

económicas atenienses e, por fim, desapareceucompletamente por cerca do final do século IV.

Nenhum dos tres grandes trágicos, nemAristófanes, viveram para ver o novo edifícioteatral acabado. Na segunda metade do sécu-lo IV, quando Licurgo era o encarregado dasfinancas de Atenas (338-326 a.c.), a nova emagnífica estrutura finalmente ficou pronta;mas, nessa época, a grande e criativa era datragédia antiga já havia se tornado história.

COMÉDIA

As Origens da Comédia

A comédia grega, ao contrário da tragé-dia, nao tem um ponto culminante, mas dois.O primeiro se deve a Aristófanes, e acompa-nha o cimo da tragédia nas últimas décadasdos grandes trágicos Sófocles e Eurípedes; osegundo pico da comédia grega ocorreu noperíodo helenístico com Menandro, que no-vamente deu a ela importancia histórica. Acomédia sempre foi urna forma de arte inte-lectual e formal independente. Deixando delado as pecas satíricas, nenhum dos poetastrágicos da Grécia aventurau-se na comédia,como nenhum dos poetas cómicos escreveuurna tragédia.

Platáo, em seu Banquete (Symposium), emváo defendeu urna uniáo dos dois grandes ra-mos da arte dramática. Ele conc1uiu com a in-formacáo de que Sócrates, certa vez, tentouaté tarde da noite persuadir Ágaton e Aristó-fanes de que "o mesmo homem podia ser ca-paz de escrever comédia e tragédia", e de que

Page 4: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

.;~- trágicos, nem==- o novo edifício

- metade do sécu-en arregado das

.: a.c.), a nova ete ficou pronta;

riativa era da- _ ado história.

rrário da tragé-te, mas dois .

._~es, e acompa-iI imas décadas

5 e Eurípedes; o

Symposiumi, ems oís grandes ra-

cluiu com a in-cena vez, tentou_ gaton e Aristó-

podia ser ea-gédia", e de que

17. Máscara de mármore de urna heroína da tragédiaantiga (Nápoles, Museo Nazionale).

19. Máscara de um escravo, século III a.C. (Miláo,Museo Teatrale alla Scala).

18. Máscara de um jovem, encontrada em Samsun(Amiso), Turquia, século III a.e. (Munique, StaatlicheAntikensarnrnlung).

20. Máscara na máo de urna estátua de mármore. aqual se julga representar Ceres (Paris, Louvre).

Page 5: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

"

um "verdadeiro poeta trágico é também umpoeta cómico". Os dois outros admitiram isso,mas "nao seguiram com muita atencáo, porestarem com sono. Aristófanes foi dormirprimeiro e, em seguida, quando odia estavanascendo, também Ágaton".

É evidente que nem mesmo os famosospoderes persuasivos de Sócrates poderiam terconseguido tornar palatável para Aristófanes,o irascível avocatus diaboli da tragédia, umauniáo pessoal das duas artes. Houvesse con-cordado com Sócrates a noite, com certeza te-ria mudado de idéia a luz do dia; tal uniáo seria,para ele, como uma ducha fria. Aristófanesgostava de dirigir sua habilidade artística paraa política corren te; adorava tercar armas comos grandes homens de sua época, crivando deflechas venenosas, como que num show degracejos maliciosos num cabaré, seus calca-nhares de Aquiles. As obscenidades com asquais o "impudenté" favorito das Gracas" ern-preendia seu trabalho de "castigar o POyO e oshomens poderosos", as rudes piadas fálicas,os coros de pássaros, ras e nuvens - tudo vale-se da heranca cultual das desenfreadas orgiassatíricas, das dancas animais e das festas decolheita.

A origem da comédia, de acordo com aPoética de Aristóteles, reside nas cerimóniasfálicas e cancóes que, em sua época, eram ain-da comuns em muitas cidades. A palavra "co-média" é derivada dos komos, orgias noturnasnas quais os cavalheiros da sociedade ática sedespojavam de toda a sua dignidade por al-guns dias, em nome de Dioniso, e saciavamtoda a sua sede de bebida, danca e amor. Ogrande festival dos komasts era celebrado emjaneiro (mais tarde a época do concurso decomédias) nas Lenéias, um tipo ruidoso decarnaval que nao dispensava a palhacada gros-seira e o humor licencioso.

Ao komos ático juntaram-se, no século V,os truóes e os comediantes dóricos, com falose enormes barrigas falsas, que eram mestresda farsa improvisada. Eles haviam recebido umimpulso literário, por volta de 500 a.e., deEpicarmo de Mégara, na Sicília. Suas cenasbonachonas e de comicidade grosseira e ascaricaturas dos mitos foram a fonte da comé-dia dórica e siciliana. Epicarmo estabeleceuuma variada escala de personagens - os fan-

• 120

História Mundial do Teatro.

farróes e aduladores, parasitas e a1coviteiras,bébados e maridos enganados - que sobrevi-veram até a época da Commedia dell'arte emesmo até Moliére. Epicarmo gostava particu-larmente de ridicularizar os deuses e heróis:Hércules como um glutáo, nao mais atraído porfeitos heróicos, mas apenas pelo aroma da car-ne assada; Ares e Hefestos, disputando comdespeito e malícia a liberacáo de Hera, presa aseu próprio trono; ou as sete Musas, que surgemcomo as filhas "rechonchudas e bem alimen-tadas" do Pai Pancudo e da Máe Barriguda.

É uma questáo controvertida se a comé-dia proveio realmente de Mégara Hyblaia, naSicília, ou de Mégara, a antiga cidade dóricaentre Atenas e Corinto, famosa por seusfarsistas. Aristófanes diz em As Vespas: "Naopodeis esperar muito de nós, apenas zomba-rias roubadas de Mégara". Aristóteles resolvea questáo citando ambas com salomónica sa-bedoria: "A comédia é reivindicada pelosmegarianos, tanto pelos do continente, sob aalegacáo de que ela surgiu em sua democra-cia, como pelos da Sicília, porque é dali queveio Epicarmo, muito antes de Quiónides eMagnes",

A Co mé d.ia Antiga

O escritor Quiónides, citado por Aristó-teles, venceu um concurso de comédias emAtenas em 486 a.e. Magnes, igualmente men-cionado, é conhecido por ter ganho o primeiropremio onze vezes, a primeira delas em 472a.e., provavelmente nas Lenéias atenienses, noano em que Os Persas, de Ésquilo, foi apre-sentada em Siracusa. Nenhuma das pecas deMagnes conseguiu sobreviver, nem sequer atéa época alexandrina.

O concurso de comédias, que aconteciaem parte no festival das Lenéias e em parte naGrande Dionisíaca de Atenas, nao era, como oconcurso trágico, uma prova de forca pacífi-ca. Era um tilintante cruzar de espadas, em quecada autor afiava a sua lamina no sucesso dooutro. Atores tornavam-se autores, autores es-condiam-se por trás de atores. Quando Aristó-fanes inscreveu Os Banqueteadores, em 427a.e., ele o fez sob o pseudónimo de Filonides,nome de um ator seu amigo (possivelmenteporque era muito jovem para competir no

Page 6: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

[u n d i a l do Teatro »

asitas e alcoviteiras,os - que sobrevi-

mmedia dell'arte eo gostava particu-

o deuses e heróis:- . nao mais atraído por

- pelo aroma da car-0-. disputando com-9io de Hera, presa a

:=e Musas, que surgem""lldas e bem alimen-

:: .:.....Máe Barriguda.vertida se a comé-

~ , Iégara Hyblaia, na_ amiga cidade dórica

--o. famosa por seusem As Vespas: "Nao

~ nós, apenas zomba-z". Aristóteles resolve- -om salomónica sa-~ reivindicada peloss o continente, sob a

'u em sua democra--'a. porque é dali que..une de Quiónides e

~"S. itado por Aristó-~ o de comédias em_ ' igualmente men-

_ _ ter ganho o prirneiro•~eira delas em 472- :"'enéias atenienses, nos, e Ésquilo, foi apre-_.ennuma das pecas de-:=YÍver, nem sequer até

édias, que acontecia.:....::Lenéias e em parte na- Azenas, nao era, como o

roya de forca pacífi-de espadas, em que

lamina no sucesso dose autores, autores es-ores. Quando Aristó-queteadores, em 427

_:~udonimo de Filonides,~ amigo (possivelmente

_ '~m para competir no

• Gré ci a

agon) e o mesmo Filonides emprestou-lhe oDome outra vez, vinte e cinco anos mais tarde,para As Riis.

A comédia ática "antiga" é um precursorbrilhante daquilo que viria a ser, muitos anosdepois, caricatura política, charivari e cabaré.Nenhum político, funcionário ou colega autore tava a salvo de seus ataques. Até mesmo osespléndidos novos edifícios de Péricles forammotivo de escárnio. Num fragmento conser-vado de Cratino, um ator entra no palco usan-do um molde do Odeon na cabeca, como urnamáscara grotesca. Os outros atores o saúdam:"Eis Péricles, o Zeus de Atenas! Onde terá con-seguido es se toucado? Um novo penteado emestilo Odeon, terrivelmente descabelado pelaempestade das críticas!".

Os quatro grandes rivais em polémica e'eneno, da comédia antiga, eram todos

atenienses: Crates, Cratino, Eupólide e, sobre-Iuzindo a todos os outros em fama, genio, pers-picácia e malícia, Aristófanes.

Crates, no início protagonista das pecase Cratino, comecou a escrever suas próprias

pecas em 449 a.e. Suas obras sáo comédiasgradáveis, adequadas ao desfrute familiar, que

rratarn de maneira relativamente inofensiva desuntos como o desmascaramento de fanfar-

roes ingenuos, amantes brigados e bébados pro-:""éticos.Quando seu mestre Cratino, entáo comnoventa e seis anos, e o jovem Aristófanes, deinte e urn, envolveram-se pela primeira vez em

oatalha teatral aberta, Crates já estava morto.Aristófanes, em Os Cavaleiros (cujo títu-

grego é Hipes, que significa mais precisa-:nente "tratadores de cavalos"), apresentada em-_4 a.e., houve por bem implicar com o ve-

o Cratino, acusando-o publicamente de se-ailidade e elogiando os méritos do alegreCrates. Cratino havia provocado este insulto,.::e creyendo Aristófanes, em cena, como umrmitador de Eupólide.

Eupólide, que ganhou o primeiro premiosete vezes, tinha a mesma idade de Aristófanes:: foi, no início, seu amigo íntimo. Na época-:~ sua amizade, os dois sempre trabalhavamem conjunto, porém mais tarde ambos acusa-ram-se mutuamente de plágio. Brigas, no do-mínio da comédia, eram um constante ponto de::mUda; falando sobre Os Cavaleiros, Eupólide-< larou mais tarde, em urna de suas comédias,

que tinha "ajudado o careca Aristófanes aescrevé-la e a havia presenteado a ele".

Por sua vez, Cratino, um homem famosopor sua sede e suas copiosas libacóes em ho-menagem a Dioniso, também teve a sua vin-ganca. Aos noventa e nove anos, mantinha osridentes ao seu lado. Em sua-comédia A Gar-rafa, descreve como duas damas competem en-tre si por seus favores - sua esposa legítima,Madame Garrafa, e sua amante, MademoiselleFrasco. Com urna piscadela, ele se livra do apu-ro com o motto dos artistas dionisíacos: "Aque-le que bebe água nao chega a lugar algum".

Aristófanes teve de engolir a pílula amar-ga; o "velho beberráo", na verdade, ainda des-frutava dos favores do público e dos juízes.Em 423 a.C., Cratino ganhou o primeiro pre-mio com A Garrafa, contra As Nuvens, deAristófanes, que ficou em terceiro lugar. A res-peito desta mesma obra, As Nuvens - famosa,ou famigerada, por seu s ferozes ataques aSócrates (que foram subseqüentemente suavi-zados) - Platáo relata que, na opiniáo deSócrates, ela havia influenciadC? o júri na oca-siáo de seu julgamento.

O teatro era o fórum onde eram travadasas mais veementes controvérsias. Aristófanesvia a si mesmo como o defensor dos deuses -"pois foram os deuses de nossos pais que lhesderam a fama" - e como o acusador das ten-dencias subversivas e demagógicas na políti-•ea e na filosofia de Atenas. Ele acusava os fi-lósofos de "arrogante desprezo pelo povo" eos denunciava como ateus obscurantistas - to-dos eles, e especialmente Sócrates.

Pouco se sabe sobre a formacáo e a vidade Aristófanes. Parece ter nascido por volta de445 a.C. e ter vindo do demos ático de Cida-tena. Viveu em Atenas durante toda a sua vidacriativa, ou seja, da época em que escreveu suaprimeira pec,:a,Os Banqueteadores (427), atéo ano em que escreveu a última, A RiquezatPlutus, 388). Das quarenta comédias que sa-bemos terem sido compostas por ele, conser-varam-se apenas onze. Cada urna de suas pe-cas é porta-voz de urna idéia apaixonada, pelaqual o autor batalha com impetuosa militáncia,Na obra de Aristófanes, passagens de agressivi-dade crua alternam-se com estrofes corais damais alta beleza lírica. Subjacente a sua ironiamordaz e as suas alfinetadas de escámio havia

• 121

Page 7: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

21. Flautista e coro fantasiado, representando cavaleiros e seus cavalos, motivo que reaparece mais tarde em Os Cava-leiros, de Aristófanes. Vaso figurado, em negro (Berlim, Staatliche Museen).

22. Atores caracterizados como pássaros, sobre um vaso figurado, em negro, de aproximadamente setenta anosda estréia, em 414 a.C., de Os Pássaros, de Aristófanes (Londres, British Museum).

• Gré

Page 8: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

"""= mais tarde em Os Cava-

ente setenta anos antes

• Gré c i a

urna preocupacáo premente com a democra-cia. Ele sustentava que o seu destino somentepoderia ser confiado a pessoas de inteligenciasuperior e de integridade moral. De maneirasimilar, fez pressáo para que a guerra fratricidaentre Atenas e Esparta chegasse ao fimo Em APaz, o lavrador Trigeu voa até os céus no dor-so de um enorme besouro-de-esterco a fim depedir aos deuses que libertem a deusa da paz,prisioneira em urna caverna. Na "terra-cuco-nuvem" de Os Pássaros, ele parodia as fra-quezas da democracia e de urna religiáo popu-lar utilitária. Em Lisistrata, apresenta as mu-lheres de Atenas e Esparta resolvidas a nao seentregar aos belicosos maridos até que estesfinalmente estejam prontos a fazer a paz.

Nao apenas um ator individual, mas tam-bém o coro, podiam dirigir-se diretamente aplatéia. Com essa finalidade, a comédia antigadesenvolvera a parabasis, um expediente for-mal específico de que Aristófanes fez uso ma-gistral. No final do primeiro ato, o coro deve-ria tirar suas máscaras e caminhar até a frente,na extremidade da orchestra, para dirigir-se aplatéia. "Mas vós, fastidiosos juízes de todosos dons das Musas, emprestai vossos gracio-sos ouvidos a nossa festiva e anapéstica can-cáo!" Seguia-se, entáo, urna polémica versáodas opinióes do autor a respeito de aconteci-mento s locais, controvérsias políticas e pessoaise, nao menos importante, urna tentativa de cap-tar a simpatia do público por sua obra. Aparabasis podia ser igualmente usada para jus-tificar, desmentir ou retratar algum aconteci-mento recentemente ocorrido. Depois de Cléonconseguir vingar-se por ter sido satirizado emOs Cavaleiros, fazendo Aristófanes aparecercomo personagem numa peca teatral em que ésurrado, o poeta referiu-se ao incidente naparabasis de As Vespas: "Quando os golpescaíram sobre mim, bém que os espectadores ri-ram"; ele, entáo, admitiu haver tentado um pou-co captar a simpatia de Cléon, por razóes diplo-máticas, mas afirmou te-lo feito apenas paraatacá-lo tanto mais mordazmente no futuro.

Os espetáculos da Comédia Antiga aconte-ciam no edifício teatral, com suas paredes demadeira pintadas e painéis de tecido, enquantoo coro, como na tragédia clássica, ficava naorchestra. Para cenas de "transporte aéreo", usa-va-se o teto da skene, como, por exemplo, em

Os Acamianos, As Nuvens e em A Paz. QuandoTrigeu voa até o céu em seu besouro com a aju-da do guindas te, ele pede ansiosamente ao ma-quinista: "por favor, tenha cuidado comigo", Acena seguinte, com Hermes diante do paláciode Zeus, acontece no theologeion, enquanto asubseqüente libertacáo da deusa da paz da ca-verna onde está encerrada é deslocada novamen-te para o palco usual do proskenion.

As máscaras da Comédia Antiga váo des-de as grotescas cabecas de animais até os re-tratos caricaturais. Quando houve necessidadede urna máscara de Cléon para Os Cavaleiros,conta-se que nenhum artesáo quis fazer urna.Pela primeira vez, ao que parecia, o medo dacólera da vítima projetava a sua sombra sobrea liberdade democrática do teatro. O ator queinterpretava Cléon surgiu sem máscara, com orosto simplesmente pintado de vermelho. Pen-sa-se que o próprio Aristófanes tenha feito opapel - possivelmente urna razáo a mais paraa surra que recebeu logo depois.

Figuras grotescas de animais já haviamsido usadas no palco pelos contemporáneosmais antigos de Aristófanes. Ele próprio men-ciona, em Os Cavaleiros, urna comédia sobrepássaros, de Magnes. Bicos, cristas, tufos decabelos e trancas, garras e penachos de pássa-ros, juntamente com coletes cobertos de plu-mas produziam um efeito grotesco, conformepode ser visto nas pinturas em vasos do séculoV em diante, e que aindá divertem as platéiasdo século XX em monta gens modernas de OsPássaros. Era difícil, evidentemente, obter plu-magens suficientes para os figurinos dos ato-res em Os Pássaros, como bem o sabia Aristó-fanes; "os pássaros estáo na muda", explicavaele na peca,

Como as máscaras de animais, tambémas dancas da Comédia Antiga tinham origemcultuais. "Destranquem os portóes, pois agoraa danca vai comecar", exclama Filocléon emAs Vespas, seguindo-se entáo o kordax, urnabarulhenta danca fálica cujas origens possivel-mente remontam ao Oriente antigo. Mesmofontes antigas descrevem-na como táo licen-ciosamente obscena que dancá-la sem másca-ras era tido como vergonhoso. Esta pode tersido urna das razóes pelas quais as mulheresforam excluídas durante muito tempo das re-presentacóes de comédias.

• 123

Page 9: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

EmA Assembléia das Mulheres, Aristófa-nes faz seus atores, que interpretam as mulhe-res de Atenas marchando para a Assembléia,"disfarcarem-se" de homens, com barbas fal-sas e pesadas botas espartanas, para reivindi-car a entrega do poder do Estado as mulheres.Isso é visto como o clímax da ambigüidadedescaradamente grotesca. Efeitos de travesti-mento, completa falta de reservas no tocante agestos, figurinos e imitacáo e, por fim, a expo-sicáo do falo, sáo traeos característicos do es-tilo de atuacáo da Comédia Antiga.

Na época de Cléon havia urna razáo muitoconcreta e política para que as comédias fossemlevadas principalmente no festival das Lenéias.Poucos navios desafiavam o tempestuoso inver-no, e somente em marco traziam um influxo devisitantes estrangeiros a Atenas para as GrandesDionisíacas. Como é facilmente compreensível,Cléon estava ansiosopor manter o desmascaranteduelo de comédias reservado "aos ateniensesentre si". Aristófanes, por sua vez, consideravaque era um espléndido bastáo para espancar "ofilho de urn curtidor de couro, desencaminhadordo povo", conforme testemunha a seguinte pas-sagem de Os Acamianos:

Nem mesmo Cléon pode repreender-me agoraPor ter difamado o Estado diante de estrangeiros.Estamos entre nós nessa ocasiáo.Os estrangeiros nao vieram até agora, os tributáriosNao chegaram, nossos confederados nao estáo aqui.Somos aqui o mais puro grao ático,Nao há palha entre nós, nem colonos escravos.

Nestas linhas, Aristófanes escondia tambémum triunfo pessoal. Um ano antes, Cléon haviamovido urna acáo contra ele, acusando-o de in-sulto as autoridades e de denegrir o Estado diantede estrangeiros, por causa de Os Babilánios.Porém, a democracia ateniense fez justica aodemos, a decisáo do povo: a queixa de Cléon foirejeitada, e a arte da comédia triunfou.

A Comé dia Mé dia

Com a morte de Aristófanes, a era de ouroda comédia política antiga chegou ao fimo Os

23. A Loucura de Hércules. Cena no estilo da hilaro-tragédia. Vaso de Asteas, século IV a.C. (Madri) .

• 124

Hist á ri a Mundial do Teatro.

próprios historiadores da literatura na Antigüi-dade já haviam percebido quáo grande era odeclive entre as comédias de Aristófanes e asde seus sucessores, e tracaram urna nítida li-nha divisória, atribuindo tudo o que veio de-pois de Aristófanes, até o reinado de Alexan-dre, o Grande, a uma nova categoria - a "Co-média Média" (mese).

Cornprovam-na cerca de quarenta nomesde autores, bem como um grande número detítulos e fragmentos. Conta-se que Antífanes,o mais prolífico desses "deligentes confec-cionadores de pecas teatrais", escreveu duzen-tos e oitenta comédias, e seu contemporáneoAnaxandrides de Rodes compós sessenta e cin-co; outros escritores, cujos nomes chegaramaté nossos dias sáo Áubulo, AlÚis e Timocles.

Anaxandrides, que ganhou Q prirneiro pré-mio na Dionisíaca de 367 a.c., foi convidadopelo rei Filipe para a corte da Macedonia, ondecontribuiu com urna de suas comédias para ascelebracóes da vitória de Olinto. Sua partidade Atenas é uma indicacáo do lado para o qualos ventos políticos sopravam entáo: a Macedo-nia aspirava a hegemonia na Grécia e a glóriade Atenas se extinguia.

A comédia agora retirava-se das alturada sátira política para o menos 'arriscado cam-po da vida cotidiana. Em vez 'de deuses, ge-nerais, filósofos e de chefes de govemo, elasatirizava pequenos funcionários gabolas, ci-dadáos bem de vida, peixeiros, cortesás famo-sas e a1coviteiros. Recorría ao repertório deEpicarmo, cujas inofensivas sátiras dos mitoserviam agora de modelo para mais uma espé-cie de epígonos. Por volta de 350 a.C., emTarento, na colonia grega de Taras, ao sul daItália, Rintáo desenvolveu uma forma de co-média que parodiava a tragédia (hilaras, que

Page 10: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

_ Jfundial do Te

-'l literatura na Á.n.i:Íz

-do quáo grandede Aristófanes =

rudo o que veio~ o reinado de Alex

'-a categoria - a "

- "deligentes conf -is", escreveu duz

e eu contemporárompas sessenta e ---

_ jos nomes chego, Aléxis e Timad

ganhou Q prirneiro p --~ 7 a.c., foi convi

Le da Macedonia, omas comédias para

Olinto. Sua parti• - o da lado para o cru::-vam entáo: aMac- na Grécia e a gló -

retirava-se das alturasmenos 'arriscado cam-

~ vez ·de deuses, ge-- efes de governo, e

.onários gabolas, --ixeiros, cortesás famo-

.a ao repertório de. -as sátiras dos mitospara mais urna espé-

.olta de 350 a.C., em:: ~ de Taras, ao sul da

'eu urna forma de co-- tragédia thilaros, que

.:- _Ienandro: relevo do poeta segurando urna máscara; 11direita, Glicera ou tal vez urna personificacáo da skene, comode Eurípedes, século III a.e. (Roma, Museo Laterano) .

_5. Vaso do genero phlyakes (espécie de bufonaria, ou de paródia de pe~a trágica) com cena de comédia: servosdo Quíron a subir ao palco. A. direita: Aquiles, duas ninfas velhas ao alto, século IV a.C., encontrado em Apúlia,

'a (Londres, British Museum).

Page 11: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

26. Figura de bufarinheiro, que lembra Xántias, per-sonagem de As Ras, de Aristófanes (Munique, StaatlicheAntikensarnrnlung).

27. Dois velhos embriagados (Berlim, StaatlicheMuseen).

Estatuetas em terracota representando personagens de comédia grega, século IV a.C.

28. Alcoviteira, per o(Munique, Staatliche An -

Page 12: Historia Mundia Do Teatro - Parte2

dos (Berlirn, Staatliche

secnlo IV a.C.

- _Alcoviteira, personagem típica da Cornédia Novaique, Staatliche Antikensarnrnlung).

29. Homern e rnulher conversando, como, tal vez,Praxágora e Blépiro em A Assembléia das Mulheres deAristófanes (Würzburg, Martin-von-Wagner Museum).