histÓria em quadrinhos na educaÇÃo fÍsica: os gibis … · 2017-08-23 · histÓria em...

19
HISTÓRIA EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: os gibis como ferramenta de ensino para iniciação do conhecimento Victor Guilherme Brito Fontes Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Madson Sampaio Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected] Emerson Duarte Monte Professor orientador, Doutor em Educação UFPA [email protected] Resumo O presente trabalho lança-se a investigar a possibilidade do uso das Histórias em Quadrinhos como ferramenta nas aulas de Educação Física e de que maneira tal processo pode ocorrer. Com a popularização dos gibis atualmente e a explosão de filmes de super-heróis, a atenção de crianças e adultos aumentou no que diz respeito à essa mídia. Sendo assim, surge a possibilidade de se utilizar tal material como recurso em aulas, visando estimular a participação dos alunos. Na pesquisa serão analisados artigos, livros sobre o assunto, e também gibis que tratem sobre a Cultura Corporal e Educação. Palavras-chaves: Histórias em Quadrinhos; Educação Física; Educação; Ferramentas pedagógicas. INTRODUÇÃO Com a popularização dos filmes de heróis nos cinemas, os gibis ganham cada vez mais força dentro da cultura pop contemporânea. Há então a necessidade dos Professores se envolverem com a realidade dos alunos, conhecer o que atraí os jovens para tornar as aulas mais interessantes. Utilizar recursos que despertem a curiosidade e atenção, divirta, e desenvolva o senso crítico. Nesse contexto, os gibis oferecem uma oportunidade de criar uma maior estima e afeição nas aulas, favorecendo diversas possibilidades de aplicações destes nas aulas. Os quadrinhos foram, e são, uma leitura comum para toda criança. Porém seu alcance não se restringe à apenas uma faixa etária, é uma leitura desejável para todas as idades. Contudo, mesmo com essa popularidade, existem resistências quanto a sua utilização para a educação, mais ainda quando falamos nos conteúdos referentes à Educação Física, poucas experiências com o propósito de inserir as histórias em quadrinhos são notadas. Considerando essa realidade o seguinte trabalho propõe e incentiva a utilização dos Quadrinhos como ferramenta de ensino da Educação Física para crianças e jovens, e como forma de uma visão de

Upload: vanthuan

Post on 23-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

HISTÓRIA EM QUADRINHOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: os gibis como ferramenta de ensino para iniciação do conhecimento

Victor Guilherme Brito Fontes

Aluno concluinte do CEDF/UEPA [email protected]

Madson Sampaio Aluno concluinte do CEDF/UEPA

[email protected] Emerson Duarte Monte

Professor orientador, Doutor em Educação UFPA [email protected]

Resumo O presente trabalho lança-se a investigar a possibilidade do uso das Histórias em Quadrinhos como ferramenta nas aulas de Educação Física e de que maneira tal processo pode ocorrer. Com a popularização dos gibis atualmente e a explosão de filmes de super-heróis, a atenção de crianças e adultos aumentou no que diz respeito à essa mídia. Sendo assim, surge a possibilidade de se utilizar tal material como recurso em aulas, visando estimular a participação dos alunos. Na pesquisa serão analisados artigos, livros sobre o assunto, e também gibis que tratem sobre a Cultura Corporal e Educação. Palavras-chaves: Histórias em Quadrinhos; Educação Física; Educação; Ferramentas pedagógicas.

INTRODUÇÃO

Com a popularização dos filmes de heróis nos cinemas, os gibis ganham cada

vez mais força dentro da cultura pop contemporânea. Há então a necessidade dos

Professores se envolverem com a realidade dos alunos, conhecer o que atraí os

jovens para tornar as aulas mais interessantes. Utilizar recursos que despertem a

curiosidade e atenção, divirta, e desenvolva o senso crítico. Nesse contexto, os gibis

oferecem uma oportunidade de criar uma maior estima e afeição nas aulas,

favorecendo diversas possibilidades de aplicações destes nas aulas.

Os quadrinhos foram, e são, uma leitura comum para toda criança. Porém seu

alcance não se restringe à apenas uma faixa etária, é uma leitura desejável para

todas as idades. Contudo, mesmo com essa popularidade, existem resistências

quanto a sua utilização para a educação, mais ainda quando falamos nos conteúdos

referentes à Educação Física, poucas experiências com o propósito de inserir as

histórias em quadrinhos são notadas. Considerando essa realidade o seguinte

trabalho propõe e incentiva a utilização dos Quadrinhos como ferramenta de ensino

da Educação Física para crianças e jovens, e como forma de uma visão de

2

interdisciplinaridade. Pretende também apresentar mais reflexões sobre o tema e

mostrar possíveis caminhos e práticas a serem trabalhados nas aulas, analisando os

gibis que tratam da cultura corporal, esporte e educação física.

Nessa perspectiva, o presente artigo possui o seguinte questionamento:

Quais as possibilidades de uso das Histórias em Quadrinhos como ferramenta para

o ensino dos conteúdos trabalhados na Educação Física Escolar?

Além da problemática acima, têm-se aqui as seguintes questões norteadores:

- Qual a origem e histórico dos Gibis?

- Como traduzir essa metalinguagem para as aulas de Educação Física?

- De que forma o uso desse recurso pedagógico pode melhorar o processo de

ensino-aprendizagem?

Desta forma, o objetivo geral da presente pesquisa é o de analisar a

capacidade e a influência que os Gibis podem ter no desenvolvimento dos

conteúdos da Educação Física Escolar. A partir disso, os objetivos específicos são:

1. Descrever o percurso histórico que os Gibis possuem na história moderna;

2. Identificar experiências inovadoras do uso dos Gibis para o trato com os

conhecimentos da Educação Física;

3. Reconhecer as melhorias no processo de ensino-aprendizagem que essa leitura

proporciona.

Este trabalho foi desenvolvido como um estudo qualitativo, pesquisa que de

acordo com Gerhardt e Silveira (2009, p.31,37) se utiliza dos aspectos da

compreensão e dos significados, pois trata de amostras subjetivas e que possui

particularidades, portanto não podendo ser mensurada; e de caráter bibliográfico,

onde analisaremos artigos, livros e gibis com a abordagem de inclusão da Histórias

em Quadrinhos e Educação Física, e que tem como objetivo justificar a integração

do recurso pedagógico dos quadrinhos. Para a investigação serão interpretados e

analisados gibis que tratem dos conteúdos da cultura corporal, pretendemos analisar

de que forma os quadrinhos podem facilitar uma compreensão dos conteúdos da

Educação Física, e como poderíamos integra-los nas nossas aulas.

3

1.ORIGEM DOS GIBIS

Desde seus primórdios o Homem busca registrar e comunicar a sua história

através da linguagem visual, na pré-história o homem primitivo usava pinturas em

cavernas para representar seu cotidiano e suas crenças. Com o desenvolver da

civilização, continuava a tradução dos acontecimentos históricos por meio da arte

visual, no Egito antigo os hieróglifos, na Idade Média as ilustrações nas tapeçarias,

assim sucessivamente. Portanto, daí a importância da comunicação visual no

desenvolvimento da história da nossa cultura.

As histórias em quadrinhos (HQs) como conhecemos hoje em dia, só tiveram

seu primeiro passo para se tornar uma arte sequencial no século XIX, na sua forma

inicial surgiram na estrutura das charges. As charges eram bastante populares nas

publicações dos jornais da época. Sendo bastante populares por estarem sempre

traduzindo de forma bem-humorada assuntos do dia-a-dia da sociedade. Era uma

das principais atrações dos jornais, e responsável pela grande quantidade de

vendas. (FEIJÓ, 1997, p.13).

Segundo Feijó (1997, p.10), os gibis “têm sua origem na cultura de massa, o

que se caracteriza, como o próprio nome aponta, por produção cultural em massa”.

Procurava atingir o maior número de consumidores possível, objetivava o lucro e

consumo em larga escala, por ter um caráter de lazer e entretenimento, seu

conteúdo deveria ser acessível aos leitores. Como é referido por Alves (2017, p.37)

“por sua linguagem, aparentemente mais simples de ser assimilada, e por sua rápida

propagação, os quadrinhos são considerados um veículo potencial para se propagar

ideologias; logo, um instrumento de comunicação de massa”. Fica explícito assim, o

poder de difusão dos gibis, sua capacidade de comunicar e transmitir conteúdo.

As Caricaturas ilustravam o modo de vida da época. A maioria da produção

tinha como objetivo a crítica sobre os principais acontecimentos históricos vividos no

momento. Ângelo Agostini, por exemplo, foi um caricaturista ítalo-brasileiro crítico da

escravidão e da monarquia. Já na Segunda Guerra Mundial era comum vilões de

nacionalidade alemã e japonesa, os super-heróis nos Estados Unidos serviam como

armas ideológicas, o melhor exemplo foi Capitão América de Joe Simon e Jack

Kirby, herói conhecido por enfrentar diretamente o nazismo. (FEIJÓ, 1997, p.41).

4

A primeira revista a publicar histórias em quadrinhos do Brasil foi a O Tico-

Tico de 1905. Vergueiro (1999) aponta a importancia da revista no cenário nacional:

O Tico-Tico publicava muitas histórias em quadrinhos, a maioria delas reproduzidas dos jornais norte-americanos e das revistas francesas. Entretanto, muitos artistas brasileiros de destaque também apareceram em suas páginas com trabalhos originais e personagens inesquecíveis. (VERGUEIRO, 1999, s/p).

Naquela época e nos dias atuais os gibis convivem com o preconceito. Como

afirma Feijó (1997, p.20) “Para alguns críticos os gibis estavam associados a ideia

de comunicação com o público dito inculto, inclusive negando-lhes o status de arte”.

Ideologia esta que ajudou a criar várias imagens negativas relacionadas aos

quadrinhos, tanto na época de sua origem, quanto nos dias atuais. Um preconceito

que ignora a importância desse conteúdo para a formação do caráter, como forma

de inspiração de valores, de nos fazer sonhar, e nos dar esperança mesmo vivendo

em uma sociedade cercada por desigualdades e problemas sociais. As Histórias em

quadrinhos são uma fonte incrível de cultura, ainda mais nos tempos em que

vivemos, onde a cultura pop se tornou tão frequente na nossa comunidade.

2.QUADRINHOS E CULTURA POP

Antes de tudo é necessário definir o que é cultura pop e, nessa direção,

Soares (2014) diz que:

Atribuímos cultura pop, ao conjunto de práticas, experiências e produtos norteados pela lógica midiática, que tem como gênese o entretenimento; se ancora, em grande parte, a partir de modos de produção ligados às indústrias da cultura (música, cinema, televisão, editorial, entre outras) e estabelece formas de fruição e consumo que permeiam um certo senso de comunidade, pertencimento ou compartilhamento de afinidades que situam indivíduos dentro de um sentido transnacional e globalizante. (SOARES, 2014, s/p).

A Origem dos primeiros gibis na forma de charges tem forte ligação com o

humor, entretanto foram os gêneros de ação e aventura que fizeram as HQs

ultrapassarem os limites das tiras de jornais, conquistando suas próprias revistas,

chegando ao cinema, a televisão, e aos games. Ler gibis se tornou um hobby

comum para muitos jovens, crianças e adultos, em um movimento que se amplia o

5

consumo de revistas, brinquedos, filmes, etc. As duas maiores editoras americanas,

Marvel e DC, além de faturarem com as revistas, investem em séries, animações e

filmes.

Mensalmente um número considerável de títulos de quadrinhos são opções

nas bancas, dos mais variados gêneros, de aventura e super-heróis, adaptações de

livros da literatura, e sua versão oriental que são os mangás. Essas opções

possuem grandes vantagens pelo seu baixo custo e facilidade de acesso.

(VERGUEIRO; RAMOS, 2015, p.102).

Alves (2017, p. 130) destaca que existe uma problemática envolvendo o

desinteresse e a dificuldade de crianças e jovens no hábito da leitura. Quando uma

linguagem restrita à escrita é exigida para os alunos, principalmente em conteúdos

complexos, ocorre que não há um significado imediato de interpretação e

conhecimento, se perde a compreensão quando não se familiariza e nem se

identifica com determinada temática de leitura. Logo fica evidente que a busca de

alternativas para criar uma afeição com a leitura é necessária.

Os gibis eram considerados leituras infantis tidas como exclusivamente

leituras de lazer, e seus conteúdos eram encarado como supérfluos. Sua exclusão é

exposta por Alves (2017):

O Desconhecimento sobre as potencialidades do gênero prejudicou

sua circulação no âmbito escolar. No entanto, ainda que não

houvesse o hábito de seu emprego durante sua formação, os alunos

se deparavam com a cobrança de tiras nas provas dos vestibulares

mais importantes do país e, inclusive nos livros didáticos adotados

pelas escolas. (ALVES, 2017, p.132).

Nos últimos anos a importância das histórias em quadrinhos só cresceu,

como resultado vem aumentando o uso destes em sala de aula. Isto vem sendo

evidenciado nos livros didáticos, manuais de treinamento, e campanhas de

conscientização. O uso didático dos quadrinhos se tornou presente, propiciando uma

maneira mais explicativa e divertida de se informar o leitor. Tornou-se claro que os

gibis fazem parte de uma ferramenta pedagógica interessante de transmitir o

conhecimento. (VERGUEIRO; RAMOS, 2015, p.7).

6

A variação japonesa das histórias em quadrinhos, os mangás, só tiveram sua

aceitação no Brasil depois da popularização das animações de TV, entre os

principais sucessos destacam-se Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Por ter uma

grande quantidade de imigrantes japoneses no Brasil esses tipos de gibis ganharam

espaço no cenário nacional, conquistando inclusive a população não oriental. A

Turma da Mônica teve sua versão em mangá, propondo atingir os leitores que

acompanham a revista desde o começo e se tornaram jovens adultos. No Japão a

cultura dos gibis é muito forte, inclusive publica mais edições que jornais e revistas.

“Na sala de aula, os mangás podem ser estratégicos para atividades práticas, de

ordem interdisciplinar ou não”. (VERGUEIRO; RAMOS, 2015, p.105).

Os gibis, portanto, tornaram-se fortalecidos nos tempos atuais, podendo ser

bastante promissor no ensino dos jovens.

3.HISTÓRIAS EM QUADRINHOS LEVADAS A SÉRIO

Vergueiro e Ramos (2015, p.10) apontam, que utilizar as revistas em

quadrinhos nas escolas era pouco comum para os professores, sofrendo inclusive

resistência na sua prática. Esse cenário só começa a mudar na década de oitenta

com as primeiras aparições de HQs nos livros didáticos. Foi com a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1996,

que a inserção dos gibis se tornou mais necessária e exigida no âmbito educacional.

O texto indica a importância de estar em contato com diferentes formas da

linguagem e manifestações artísticas.

Com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em 1997, as

revistas em quadrinhos começaram a serem oficializadas como política educacional

do país. Os PCN incentivavam novas práticas e dinâmicas na metodologia de

ensino, a interdisciplinaridade se tornou um valoroso recurso metodológico. Assim

sendo s gibis se encaixam nessa nova maneira de educar, sua aplicação pode ser

exemplificada com as matérias de Língua Portuguesa e Artes. Com a finalidade de

usar os conteúdos da Educação Física, podemos criar várias ligações com outras

matérias, sobretudo para propiciar uma maior qualidade e assimilação da leitura

usando a prática.

7

Os PCN, especificamente na matéria de Artes no ensino fundamental,

definem que os alunos possam ser competentes na leitura de revistas em

quadrinhos e outras formas de mídias visuais. Em Língua Portuguesa, é exigida a

habilidade de leitura crítica das charges. Já no ensino médio, na área que compõe

Linguagens Códigos e suas Tecnologias, os alunos devem saber interpretar os gibis

de forma profunda. Aponta também a importância dos variados gêneros das HQs

como fontes históricas e de caráter sociológico. (VERGUEIRO; RAMOS, 2015,

p.11).

Os Gibis são incluídos nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio

(ENEM). Portanto, o dever de se considerar a integração dessa ferramenta nas

aulas. Nas provas são cobradas a interpretação e análise dos conteúdos das

histórias em quadrinhos. A leitura das HQs em sala de aula propícia aos alunos,

segundo Tavares (2011)

Um posicionamento acerca das práticas sociais que lhes são

impostas, para que estes possam crítica e reflexivamente, no que

tange ao uso da linguagem, agir em prol de defesa de seus direitos

e deveres como indivíduos envoltos socialmente, inerente às

ideologias, à heterogeneidade e à contradição. (TAVARES, 2011,

p.17)

Os Gibis entraram para a lista de distribuição para as escolas com a o

Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). A potencialidade dos quadrinhos

existe, só basta ser encorajado e encarado como uma realidade. Vergueiro e Ramos

(2015, p.7) demonstram “A inclusão dos quadrinhos significa um avanço na maneira

como a área de ensino a enxerga, deixando de ser considerada leitura subversiva ou

superficial para serem oficializados como políticas de governo”. Estar em contato

com as HQs possibilita uma forma de aprendizado de leitura de forma didática e

diferente, incentivado esses alunos à busca de novas formas de leituras e de

conhecimento globais.

4 AS HQ NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

8

Relacionando com a Educação Física, pode-se utilizar dos conteúdos da

cultura corporal como os jogos, a ginástica, as lutas, os esportes, a dança, e outros.

Em forma de debate crítico as histórias em quadrinhos possibilitam a reflexão de

problemas sociais. Segundo Soares et al. (1992, p. 39), citado por Lira Neto e

Almeida (2010, s/p) defendem que a prática pedagógica da Educação Física deve

desenvolver nos alunos a noção de “historicidade da cultura corporal”. Dessa

maneira, entender que a Educação Física possui diversos conteúdos, e que para

cada passagem histórica a cultura corporal tinha um objetivo.

A Turma da Mônica de Mauricio de Souza possui bastante publicações

relacionadas com a Educação Física. A utilização de gibis infantis na sala de aula

pode dar a impressão de que eles se restringem às séries iniciais do ensino

fundamental, na verdade a grande maioria dos quadrinhos infantis utiliza-se do

humor e da aventura podendo ser utilizados em nível didático a qualquer faixa etária.

Citando Lira Neto e Almeida (2010, s/p) “Os gibis, portanto, servem como

recurso didático introdutório, cujo emprego objetiva a futura assimilação de textos

mais complexos, que envolvam elementos da cultura corporal, que é o objeto de

estudo da Educação Física”. Podemos utilizar os quadrinhos como forma de

apresentar as regras ou os fundamentos de determinado esporte, por exemplo. Indo

mais além, é interessante usar gibis que mostrem aspectos emocionais ligados ao

esporte, como: espírito de equipe, perseverança, coragem para encarar desafios,

etc.

No Ensino Médio as histórias em quadrinhos podem ter sua utilidade, como

forma de sua variação japonesa, os Mangás. Ter o contato com a cultura japonesa

já possibilita uma rica apropriação de cultura, e a leitura de mangás esportivos é

muito comum no oriente. Isso promove a ideia de novas modalidades esportivas não

tão populares aqui no Brasil, como o Baseball, o Ciclismo, o Vôlei, e as Artes

Marciais.

Esse contato com novas modalidades possibilita principalmente uma forma de

escapar da mesmice das aulas, principalmente nessa fase, quando os alunos se

sentem pressionados com as provas dos vestibulares. É uma forma de combinar as

aulas de Educação Física para a apropriação do conhecimento técnico e de diminuir

essa tensão emocional. Na maioria das escolas a Educação Física, no último ano do

9

ensino médio, deixa de ter sua valorização. Acreditamos que com essas

possibilidades de ensino pode haver uma maior frequência dos alunos nas aulas e

um maior interesse.

Respeitando todas as fases de ensino pensamos que as Histórias em

Quadrinhos podem sim ser uma ferramenta essencial para o conhecimento. Como

afirma Vergueiro (2007, p. 23), o contato com as histórias em quadrinhos “possibilita

que muitos estudantes se abram para os benefícios da leitura encontrando menor

dificuldade para concentrar-se nas leituras com finalidade de estudo”. Assim como

afirma Os Gibis servem de recurso didático introdutório para compreensão de

conteúdos mais complexos, e também promovem o gosto pela leitura.

Com um poder de influência principalmente com os mais jovens, e com a

crescente popularidade dessas mídias junto ao cinema e seriados de TV, bonecos,

roupas, e etc. é possível tornar as aulas mais agradáveis para alunos que se

distanciam da nossa disciplina. Sendo muito comum a pratica de Bullying com os

alunos “menos habilidosos” em certa atividade física, surge a necessidade de incluir,

de alguma forma, esses alunos, e de ainda fortalecer a leitura dos já “habilidosos”.

4.1 ENSAIO SOBRE O USO DAS HQ NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física são um ponto de

referência no trabalho do professor, que busca orientar e assegurar a fidelidade às

políticas de melhoria do ensino. Ele apresenta formas de planejar as aulas com

vistas no Projeto Político-Pedagógico da escola, para que esse se efetive (SOUSA;

FÁVERO, 2010, s/p). Em nosso trabalho, analisamos os PCN (BRASIL, 1998, p. 28)

e nele se define a Cultura Corporal como “conhecimento e representações que se

transformaram ao longo do tempo. Ressignificadas, suas intencionalidades, formas

de expressão e sistematização”. Estes conhecimentos fazem parte da Educação

Física, como lutas, jogo, esporte, ginástica e dança. Sendo assim, podemos utilizar

as HQ que tratem de conteúdos da Cultura Corporal em nossas aulas de Educação

Física.

10

Apresentaremos a seguir as análises dos gibis com a intenção de propor

ferramentas didáticas para as aulas de Educação Física, tendo como foco os

conteúdos da cultura corporal e seus aspectos subjetivos.

Figura 1 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2006, p. 10-11).

Na Figura 1 temos páginas da Coleção Um Tema Só da Turma da Mônica

“Cascão – Futebol III”. Nesta revista em quadrinho são narrados episódios cômicos

relacionados com a modalidade do esporte mais popular no nosso país, o futebol.

Na cena é narrada, de forma bem-humorada, questões de gêneros

relacionadas ao esporte. O personagem Cascão se queixa de ser escolhido pelo

time das meninas, logo demonstra sua indignação com as atitudes e escolhas das

personagens femininas, e fica visível no instante da escolha do lado do campo pela

capitã do time (Mônica) que opta pela parte onde tem mais flores, e quando ele

próprio (que se considera o melhor do time) é designado para ser o goleiro.

11

Aqui há uma inversão dos papeis sociais, que foram construídos na atual

forma de organização societal, em que as mulheres ocupam papeis secundários e

de submissão aos homens. A ruptura expressa no quadrinho possibilita o debate do

tema do sexismo no esporte e do machismo na sociedade, assim como pode

impulsionar uma concepção contra-hegemônica sobre o espaço que a mulher pode

ocupar na sociedade e, particularmente, nos esportes e no futebol.

Figura 2 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2006, p. 14-15).

Já na Figura 2 o favoritismo do time do Cebolinha se torna verdadeiro, para

irritação do Cascão as meninas se distraem durante o jogo, logo a frustração vem a

tona, mas com a promessa da Mônica de jogarem “direito”, surge ainda a dúvida do

Cascão de como Cebolinha covenceu as garotas a jogarem.

Demonstra a prática do futebol, um esporte que era considerado um esporte

masculino, e que passa, mesmo que de forma lenta, pelo processo de igualdade

entre o feminino e masculino. Expõe ainda a idéia dos garotos serem sinônimos de

talento e destreza, enquanto as garotas são vistas como passivas e desprovidas de

12

habilidades no futebol, logo apresenta muitos eixos para se problematizar e debater

nas aulas de Educação Física.

Figura 3 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2006, p. 16-17).

A história começa a ganhar um revés, irritadas com as provocações dos

garotos o time das meninas se motiva a ganhar a partida. É interessante destacar a

fala do personagem Cebolinha: “Futebol não é pla meninas...voltem pla cozinha”,

isso itensifica a idéia de que as meninas deveriam ficar encarregadas dos afazeres

domésticos, serem excluídas dos diversos jogos e brincadeiras e, no lugar disso,

cooperarem com as mães nos trabalhos de casa onde serão exigidas como futuras

esposas e donas de casa. É uma forma de provocar, a partir da ação diretiva do

professor de Educação Física ao se utilizar desse material didático, a crítica à

opressão que é endereçada às mulheres.

Surge a questão da fragilidade da mulher, que não deveriam praticar esportes

popularmente praticados pelos homems, condutas que são praticadas pelos pais na

13

idade inicial e que, de forma equivocada ,provoca uma separação nada saudável, e

reforça os valores machistas.

Figura 4 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2006, p. 18-19).

Por seguinte podemos notar que com o entendimento do time, Cascão se

sente mais à vontade jogando com as garotas, e com a compreensão do time é lhe

dada a chance de jogar fora do gol também, demonstrando valores de trabalho em

equipe e cooperação. Ocorre ainda uma reclamação do personagem Cebolinha

chamando Cascão de “málicas” (maricas), atitude expressa, além da manifestação

do machismo, uma possível opressão quanto a orientação sexual. O fato de um

homem se posicionar junto às mulheres ou junto à defesa dos direitos das mulheres,

confere a este a posição de não mais se apresenta como “homem”.

Com o êxito de sua tão criticada equipe, Cascão se firma como o “herói” da

vitória (mesmo que sem querer), e por fim encontra um improvável time que o incluí

e o encoraja. Tem-se aqui um corpo teórico para tematizar o trato do conhecimento

esporte e possibilitar a problematização de diversos aspectos nas aulas de

14

Educação Física, em direção à ruptura com as ideias dominantes do papel da

mulher no esporte.

Figura 5 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2006, p. 20).

Concluindo o enredo, vemos que finalmente os garotos decidem fazer parte

do time misto com as meninas, porém ficam no banco de reservas por não estarem

jogando tão bem quanto as garotas e o capitão Cascão.

Nesta análise podemos verificar principalmente o preconceito de gênero que

está presente nos esportes. Podemos motivar um debate com nossos alunos sobre

as questões apresentadas, fazê-los entender que não devemos criar essa cisão nas

práticas de uma modalidade, que não existe um esporte dito só para

homens/mulheres, e provocar a integração de todos em uma atividade.

15

Figura 6 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2002, p. 36-37).

Nas tiras acima de Maurício de Souza, vemos os personagens da Turma da

Mônica confeccionando e brincando com o jogo do Origami (a arte japonesa de

dobrar papéis), utilizando apenas folhas de papel e criatividade. O humor fica por

conta do personagem Cascão que, por não gostar de água, abandona a brincadeira

quando seus amigos criam barcos de papel.

As das dobraduras de papel podem ser utilizadas em nossas aulas de

Educação Física, mais especificamente dentro do conteúdo de Jogos Populares. O

gibi pode ser lido na sala de aula e, em seguida, ser realizada uma oficina de

realização de brinquedos de papel, inclusive os origamis podem ser ensinados por

alunos que conheçam as técnicas, sendo orientados pelo Professor. No trato desse

conteúdo, é válido apresentar o percurso histórico que essa técnica possui. Assim

como problematizar a atual etapa de desenvolvimento dos jogos e brincadeiras, com

forte impacto dos jogos eletrônicos/virtuais, e a contraposição que os jogos

populares exercem no desenvolvimento do ser humano, como destacam as autoras

16

ao expor essa contradição contemporânea: “[...] o professor muitas vezes tem que

lidar com um sentimento de impotência que se agiganta diante de seus alunos

quando esses recusam o convite para a brincadeira proposta.” (CABREIRA;

AQUINO, 2006, p. 90)

As vantagens em se trabalhar com esse tema incluem: fácil acesso ao

material; a possibilidade de se trabalhar com diversos níveis de complexidade, dos

mais simples de se fazer até os mais difíceis; a possibilidade de variações de

criações (aviões, barcos, chapéus, etc.); a cooperação no processo de elaboração

das dobraduras.

Figura 7 - Gibi Turma da Mônica

Fonte: Sousa (2002, p. 53-54).

Na história em quadrinho expressa na Figura 7, vemos o personagem Cascão

demonstrando elementos que fazem parte da Ginástica (paradas de mão e piruetas).

Ele demonstra estes movimentos ao personagem Cebolinha que acha muito legal e

tenta imediatamente reproduzi-los, sem sucesso. A história pode ser lida em sala de

17

aula junto com os alunos e a função diretiva do professor possibilita realizar a

exposição sobre quais são estes movimentos e sua utilidade na modalidade com o

auxílio de fotos e vídeos, para que, posteriormente, os exercícios possam ser

vivenciados na prática com uma aula que utiliza a ginástica como conteúdo,

explicando que o personagem Cebolinha não conseguiu porque não obteve a ajuda

necessária, e demonstrar os suportes educativos que tradicionalmente são utilizados

na modalidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término do trabalho, podemos concluir que os gibis podem sim ser uma

excelente ferramenta para auxiliar nas aulas de Educação Física, por apresentarem

um nível de leitura acessível e se utilizar da linguagem visual, tornando-se uma

leitura agradável e de fácil acesso aos alunos. Entretanto, é notório que nem todos

os gibis podem ser utilizados na Educação e mais especificamente na Educação

Física, devendo se a isso o fato de seus conteúdos abordarem os mais diversos

temas. Sendo assim, é necessário que o Professor faça uma análise prévia e

sistemática dos quadrinhos que pretende utilizar em suas aulas. Dessa forma, fica

garantido que os conteúdos da Cultura Corporal sejam o tema central a ser

discutido. Foi possível notar também que introduzir uma nova ferramenta didática

pode diversificar as aulas, de modo que desperte o interesse dos alunos, sendo

também viável enriquecer as aulas práticas, com os gibis auxiliam em um debate, ou

uma apresentação de determinada modalidade. Compreendemos que existem

diversas alternativas para a inclusão das histórias em quadrinhos nas aulas de

Educação Física, sempre objetivando criar uma conexão com a prática em si,

podendo para isso criar debates sobre questões envolvendo as relações humanas

na atividade corporal, e com isso tornar nossos alunos mais críticos. Também surge

a chance de torná-los criativos, expandir seu conhecimento de forma divertida

através da utilização desta ferramenta de conhecimento.

Acreditamos que o trabalho foi capaz de oferecer alternativas para o uso das

Histórias em Quadrinhos nas aulas de Educação Física, e com a visualização

dessas possibilidades aparecem novos meios de se inserir os gibis, principalmente a

criação de HQs pelos alunos sobre os conhecimentos adquiridos na prática da

18

Educação Física, surgindo daí possibilidades para trabalhos futuros sobre a

temática, visto o pouco material disponível sobre o tema, o que acabou gerando

dificuldades durante a produção do trabalho.

COMIC BOOKS IN PHYSICAL EDUCATION: the comics as a teaching tool for

initiation of knowledge

Abstract: The present work launches to investigate the possibility of the use of Comic Books as a tool in the classes of Physical Education and in what way this process can occur. With the popularization of comic books nowadays and the explosion of superhero movies, the attention of children and adults has increased with regard to this medium. Therefore, it is possible to use such material as a resource in classes, in order to stimulate student participation. In the research will be analyzed articles, books on the subject, as well as comic books dealing with Body Culture and Education. Keywords: Comic Books; Physical Education; education; pedagogical tool

REFERÊNCIAS

ALVES, Vanessa da Silva. Histórias em quadrinhos: gênero entre a imagem e a palavra.

2017. 148 f. Tese (Mestrado em Ciências Humanas) – Universidade de Santo Amaro, São

Paulo. 2017.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais,

Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: educação física. Brasília: Ministério da

Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1998. 114p. (PCN’s 5ª a 8ª Séries).

CABREIRA, Luciana Grandini; AQUINO, Olga Ribeiro de. Jogos eletrônicos - a virtualização

do brincar na perspectiva dos professores de 3ª e 4ª séries do ensino fundamental I de uma

escola particular de Maringá/PR. Educação em Revista, Marília, v. 7, n. 1/2, p. 85-102,

2006.

FEIJÓ, Mário. Quadrinhos em ação: um século de história. São Paulo: Moderna, 1997.

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de Pesquisa. Porto Alegre:

Editora da UFRGS, 2009.

NETO, Joaquim Francisco de Lira; ALMEIDA, Ana Paula Moreira. Gibis nas aulas de

educação física: para uma didática critico-superadora. E.E. Prof. Uacury Ribeiro de Assis

Bastos; E.E. Conjunto Vida Nova III.2010. p.1-3. Disponível em:

<http://www.gpef.fe.usp.br/semef2010/19%20relato%20Joaquim%20Francisco.pdf>.Acesso

em: 19 jun. 2015.

SOARES, Thiago. Abordagens teóricas para estudos sobre cultura pop. Logos,

V.2.N.24, 2014.

SOUSA, Maurício. Cascão: Brincadeiras II. Coleção um tema só, n. 35. São Paulo: Globo,

ago. 2002.

19

SOUSA, Maurício. Cascão: Futebol III. Coleção um tema só, n. 50. São Paulo, Globo, maio

2006.

SOUSA, Diego Petyk de; FÁVERO, Maria Teresa Martins. Educação Física na perspectiva

dos Parâmetros curriculares para o ensino fundamental. Em: efdeportes.com, Revista

Digital. Buenos Aires, ano 15, Nº 147, 2010. Disponível em:

<htpp://www.efdeportes.com/efd147/educacaofisicanaperspectivadosparametroscurriculares

nacionais.html.> Acesso em:13/05/2017.

TAVARES, Mayara Barbosa. O uso das histórias em quadrinhos no contexto escolar:

contribuições para o ensino/aprendizado crítico-reflexivo. Revista Linguagem – 16 edição,

2001.

VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo. Quadrinhos na educação: da rejeição à prática.

São Paulo: Contexto, 2015.

VERGUEIRO, Waldomiro. A odisseia dos quadrinhos infantis brasileiros: Parte 1: De O

Tico-Tico aos quadrinhos Disney, a predominância dos personagens importados. Revista

Agaquê, v. 2, n. 1, 1999.