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História e análise da Política Externa Brasileira 4. O BARÃO DO RIO BRANCO (1902-12) E SEUS SUCESSORES (1012-30) Gilberto Maringoni UFABC – Outubro – dezembro de 2014

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História e análise da Política Externa Brasileira

4. O BARÃO DO RIO BRANCO (1902-12) E SEUS SUCESSORES (1012-30)

Gilberto Maringoni

UFABC – Outubro – dezembro de 2014

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• Linha do tempo preparada pela aluna Ana Jacqueline O. Raiser Nunes

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• O Itamaraty de Rio Branco• A chegada de José da Silva Paranhos, o Barão do

Rio Branco, ao Ministério das Relações Exteriores marca a consolidação do lugar do Brasil no mundo, em um contexto diverso daquele observado no final do Império.

• Se nos últimos anos da monarquia, após 1870, o Brasil conquistara o lugar de potência regional, no contexto do sistema imperial britânico, os anos iniciais da República vão reafirmar essas características. Mas há alterações importantes a serem observadas. Duas delas são essenciais.

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• A PRIMEIRA• As duas últimas décadas do século XIX marcam a

inserção das economias latino-americanas numa inédita divisão internacional do trabalho.

• O estabelecimento inconteste do império britânico, e a prosperidade acentuada da economia mundial, após 1870, irrigam o sistema internacional com migração maciça de capitais e pesados investimentos nos setores ligados à exportação em alguns países do Sul. Eric Hobsbawm assinala que:

• “O investimento estrangeiro na América Latina atingiu níveis assombrosos nos anos 1880, quando a extensão da rede ferroviária argentina foi quintuplicada, e tanto a Argentina como o Brasil atraíram até 200 mil imigrantes por ano”.

• Hobsbawm, Eric, A era dos impérios, 1875-1914, Editora Paz e Terra, São Paulo, 2003, pág. 59.

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• A implantação da dinâmica capitalista – materializada não apenas numa incipiente indústria de manufaturas, mas nos negócios ligados à exportação de café, como casas bancárias, estradas de ferro, bolsa de valores etc. – vai se irradiando pela base produtiva brasileira, fazendo com que parte da oligarquia agrária se transforme numa florescente burguesia, estabelecendo novas relações sociais e mudando desde as características do mercado de trabalho, até o funcionamento do Estado.

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• O avanço das relações capitalistas no país abala o que resta da economia colonial, com suas características internas – latifúndio e escravidão –, e o país se adapta ao livre mercado concorrencial, no qual o setor exportador de produtos primários é a fonte do dinamismo econômico.

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• A SEGUNDA• Há uma mudança significativa na conjuntura

mundial. Na última década do século, os Estados Unidos ultrapassam a Inglaterra como potência industrial. Dali ate o final da I Guerra Mundial (1914-18), o mundo assiste à paulatina decadência da Inglaterra como potência hegemônica mundial. O lugar será assumido pelos EUA na segunda década do novo século e se consolidaria a partir de 1945

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• O Barão do Rio Branco e a Geração de 1870• Luís Cláudio Villafañe G. Santos• Nascido em 1845, José Maria da Silva Paranhos

Júnior foi testemunha privilegiada do final do Império. Filho de um dos mais importantes líderes conservadores, desde cedo, o futuro barão viveu intensamente a política e a diplomacia do Segundo Reinado.

• Seu pai, José Maria da Silva Paranhos, o visconde do Rio Branco (1819-1880), após iniciar a vida política nas hostes liberais, ingressou no Partido Conservador e, desenvolvendo uma brilhante carreira partidária, alcançou a chefia do Gabinete Conservador de 1871 a 1875.

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• À maestria no manejo de sua figura pública, Rio Branco somou sua enorme competência na execução de uma política externa realista, pragmática e perfeitamente adequada ao momento da política interna.

• Sua conduta no MRE teve como principal marca a aproximação com os Estados Unidos e a tentativa de colocar o Brasil como interlocutor privilegiado do continente diante da nova potência. Além disso, Rio Branco é lembrado por definir claramente as fronteiras físicas do país. Uma de suas máximas era “Território é poder”.

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• A execução de uma política externa realista, pragmática e perfeitamente adequada ao momento da política interna. O discurso sobre a política externa como uma política de Estado, que paira acima das paixões políticas, lastreada apenas no interesse nacional, permitiu o resgate e a valorização ideológica do Segundo Reinado, com a formulação da ideia de uma continuidade de políticas e de posturas.

• As rupturas inocultáveis eram apresentadas como a evolução natural das posições assumidas pela Monarquia. As vitórias do barão foram elementos importantes na reconstrução da memória e na revalorização do Império, sempre contrastadas com a imagem de militarismo, de caos, de desagregação e inclusive de ameaças separatistas dos primeiros anos republicanos.

• Sua ênfase na consolidação das fronteiras reforçava o velho mito de origem da identidade brasileira ancorada em um território concebido como preexistente à chegada dos portugueses, base da singularidade e da grandeza nacionais.

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• A aproximação entre Brasil e Estados Unidos não começou com a República; ganhou impulso, contudo, depois de 1889.

• A relação, com Rio Branco, adquiriu consistência e levou o eixo tradicional da diplomacia brasileira, apoiado nas relações com as potências europeias, a uma gradual substituição pela “aliança não escrita” com os EUA. Na gestão de Rio Branco, do ângulo político, a aproximação teve dois momentos definidores: a criação da embaixada em Washington, em 1905; e a realização, no ano seguinte, no Rio de Janeiro, da III Conferência Internacional Americana.

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• A dinâmica interna• A virada do século marca o esmagamento das

rebeliões que poderiam colocar em risco a estabilidade do regime republicano: A Revolta da Armada, em 1893, a Revolução Federalista, iniciada no Rio Grande do Sul, que atinge Santa Catarina e Paraná, no mesmo ano, e Canudos, em 1897. O que restava de contestação organizada no interior das diversas frações das classes dominantes é reduzido a focos de pequena expressão.

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• Sob vários aspectos, a consolidação e estabilização do novo regime se dá a partir de 1898, com a posse do paulista Manoel Ferraz de Campos Salles (1841-1913) na presidência. Acabam-se as agitações e hesitações. A República – elitista, oligárquica e ajustada à inserção do Brasil na economia mundial – viera para ficar.

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• Campos Salles ataca rapidamente em duas frentes, para dissolver rebeliões. • No plano político, celebra um

grande pacto com as diversas oligarquias regionais, denominado política dos governadores, visando obter sólida base congressual.

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• A Constituição de 1891 estabelecia que os parlamentares eleitos deveriam ter seu mandato ratificado, no início da legislatura, por uma comissão da Câmara e do Senado, mecanismo chamado de verificação de poderes.

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• O presidente pressiona pela mudança do regimento interno das duas casas, garantindo o controle governista da comissão.

• Assim, com golpes regimentais, impugnavam-se os adversários das administrações estaduais, invertendo resultados eleitorais e conformando ampla maioria situacionista.

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• O Congresso deixa de ser um campo de batalha e eliminam-se os conflitos.

• Os grupos oligárquicos estaduais no poder, que temem a possibilidade de intervenção federal a favor dos oposicionistas, ficam tranqüilos com a posição governamental e reagem, mesmo antes da oficialização da política dos governadores, com um apoio maciço às exigências parlamentares do governo (Edgar Carone).

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• Na economia, o governo dá curso um brutal aperto fiscal, que retira dinheiro de circulação, corta gastos públicos, e leva o país a uma recessão sem precedentes.• Ao final de seu governo, as contas

públicas voltam a ter solvência, ao mesmo tempo que a concentração de capital se acentua.

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• O traço político fundamental do governo Campos Salles é a reunificação das diversas frações das classes dominantes – as oligarquias agrárias regionais, os setores exportador, do grande comércio e financeiro e a nascente burguesia industrial – num único projeto de desenvolvimento, que moderniza a economia voltada para a exportação de produtos primários e a torna atraente para o capital estrangeiro.

• Seu governo reconfigura o Estado e poderia ser sintetizado como o da re-proclamação da República.

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• O início do século vê a burguesia ascendente imprimir a marca de sua supremacia no cenário urbano, seja nas transformações físicas, seja nos mundos intelectual, da moda e do comportamento.

• Os efeitos do aperto fiscal de Campos Salles resultaram em mais dinheiro no caixa do tesouro nacional, a partir de 1902, quando o abastado fazendeiro paulista Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919) assume a presidência da República.

• No início do ano seguinte, o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836-1913) é nomeado prefeito da Capital, com carta branca para virar a cidade de pernas para o ar.

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• Nas décadas iniciais do século XX, o excedente do setor cafeeiro é que iria possibilitar a industrialização, a partir do maior centro produtor, o Estado de São Paulo.

• Assim, não existia uma demarcação clara entre a burguesia agrária e a industrial. É preciso levar em conta ainda o fato de esta última ser muito incipiente no país.

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• Apesar da economia cafeeira ter conhecido seu auge nas duas últimas décadas do século XIX, levou a um virtual descontrole da produção. • A crise econômica de 1893, nos EUA,

resultou, entre outras coisas, na desvalorização do preço internacional do produto.

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• Os estoques de café pesam sobre os preços, resultando em perdas permanentes para os produtores e para o país.

• A situação agrava-se com as turbulências econômicas no governo Campos Salles. Uma crise de superprodução estava à vista.

• No início do século, os produtores, com imenso poder político, traçam novos rumos para o setor, no Convênio de Taubaté.

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Política de valorização do café

• Essa política havia sido delineada a partir do convênio de Taubaté, em 1906. Através dela, eram realizadas intervenções do Estado no mercado cafeeiro, comprando e estocando o produto, com o objetivo de regular a oferta, fazendo frente às seguidas oscilações da taxa de câmbio, problema que se acentuara no primeiro pós Guerra.

• O fenômeno acabava por prejudicar as exportações. Os financiamentos dessas compras eram feitos com empréstimos externos.

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• A prática, conhecida como socialização de prejuízos, mostrou-se recorrente durante a República Velha. Ao garantir o dinamismo do principal pólo da economia, o Estado assegurava níveis elevados de demanda agregada também no meio urbano.

• O resultado foi que, com controle do excesso de oferta, o preço do café tendia a valorizar-se, aumentando a rentabilidade do setor.

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• Em uma economia primário-exportadora, a melhor aplicação possível para este excedente seria reinvesti-lo na própria produção cafeeira, que voltaria a se expandir.

• Seriam assim necessárias sucessivas compras por parte do poder público, empurrando sempre a questão para o futuro. A contração artificial da oferta, através de intervenções estatais, criava, assim, obstáculos insanáveis na economia.

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• Rio Branco e as relações interamericanas: ruptura e tradição em uma ideologia americanista

• Helder Gordim da Silveira1 • Para Rio Branco, pensar o interesse nacional brasileiro

diante dos Estados Unidos no continente significava reposicionar as relações tradicionais de toda ordem com a Europa, postas, aliás, sempre no centro da política imperial, pelo menos até o último quartel do século XIX.

• Faz-se, nesse sentido, referência a um projeto civilizatório nacional no qual a ordem monárquica e o europeísmo cumpriam funções essenciais.

• Finalmente, a real e potencial americanização

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• A americanização republicana sustenta, basicamente que: • a) o continente americano constitui uma unidade histórica

baseada no passado colonial comum e na emancipação revolucionária, sob a égide das instituições republicanas, tendo nos Estados Unidos o modelo e o exemplo fundamental;

• b) o passado monárquico brasileiro constitui, nesse quadro, uma exceção negativa que provocou o isolamento e a hostilidade do país no contexto continental e a aproximação subordinada da Europa, preservando antigos laços de natureza colonial e expondo a soberania nacional aos riscos da expansão neocolonial do contexto;

• c) a política brasileira republicana deveria romper radicalmente com este passado, buscando afastar-se da antiga influência colonizadora tipicamente europeia, aproximar-se em todos os planos do exemplo norte-americano, inserindo-se na construção efetiva da harmonia republicana continental.

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• Clodoaldo Bueno:• O contexto internacional no período em que o Barão

do Rio Branco esteve à frente da chancelaria brasileira era agressivo, caracterizado por disputas interimperialistas que geraram incidentes diplomáticos, provas de força e corrida armamentista, componentes de um cenário que anunciava o fim de uma era de expansão e prosperidade para as economias industriais.

• No caso brasileiro, o pragmatismo foi o caminho para preservar e ampliar a soberania territorial do país nas questões de fronteiras, para manter a nação ao largo de problemas internacionais, para promover suas exportações, além de aumentar e resguardar o prestígio, o brio e o amor próprio nacionais.

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• Novos centros de poder• No final do século XIX e nas primeiras décadas do XX,

assistiu-se ao debilitamento do predomínio mundial europeu sob hegemonia britânica e ao concomitante surgimento, em outras áreas do planeta, de novos polos de poder: Estados Unidos, Japão e Rússia. A globalização da economia, que se acentuou no período, e a formação dos novos centros de poder resultaram na mundialização das relações internacionais.

• O sistema internacional, que tinha como foco a Europa, transformou-se em um sistema planetário. As partilhas territoriais e o estabelecimento de zonas de influência, que faziam parte da política do equilíbrio, nessa fase, já não mais se encerravam nos limites do Velho Mundo6

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• Em 1900, a Grã-Bretanha ainda controlava o maior império visto até então, apoiado na maior Marinha do mundo (tanto a de Guerra quanto a Mercante), na rede de bases navais, no comércio e nos investimentos externos; contudo, desde 1870, entrara em um processo de perda de supremacia, pois sua capacidade de produção e de competição não acompanhava a dos concorrentes (Alemanha e Estados Unidos)15.

• Apesar da projeção dos Estados Unidos sobre a América Latina, a Grã-Bretanha, mesmo com forte presença no comércio e com investimentos nessa área, não se atritou com o novo centro de poder que surgira do outro lado do Atlântico.

• No início de 1903, a Grã-Bretanha deu liberdade de ação aos Estados Unidos no continente americano.

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• A potência hegemônica do hemisfério• O período da década de 1870 até cerca de 1893

corresponde, na história norte-americana, à “idade áurea da América”29. A segunda metade do século XIX e o começo do século XX foram de grande imigração para os Estados Unidos, o que contribuiu para reforçar seu espetacular desenvolvimento econômico.

• País mais populoso do mundo ocidental, com a maior economia do planeta, cujo capitalismo já estava na fase monopolista, lançou-se como potência imperial, voltando-se para o Oriente (política de portas abertas na China) e para a América Latina, considerada como área natural para sua expansão30.

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• Arrancada imperialista• As presidências de McKinley (1896-1901),

Theodore Roosevelt (1901-1909) e William Taft (1909-1913) correspondem à primeira arrancada do imperialismo norte-americano: a elas estão associadas, respectivamente, a guerra contra a Espanha (1898), a Big Stick Diplomacy e a Dollar Diplomacy31.

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• A diplomacia norte-americana fez-se presente no Caribe, na América Central, no Pacífico, no Extremo Oriente e na América do Sul.

• Ao assinarem a Paz de Paris (1898) após a vitória na Guerra Hispano-Americana, os Estados Unidos tornaram-se possuidores, de fato, de Porto Rico, Guam, Filipinas e, por meio da Emenda Platt, mantiveram Cuba em uma situação de quase colônia. Pelo Tratado Hay-Pauncefote (5 de abril de 1900, revisto em 18 de novembro de 1901), os britânicos afastaram-se do Caribe, e os norte-americanos ficaram com o controle exclusivo do canal que eventualmente fosse construído no Panamá.

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• No último quartel do século XIX que os Estados Unidos voltaram a considerar a América Latina como um todo e que formularam uma política exterior pan-americana.

• Originalmente concebida como proteção e não ingerência, a Doutrina Monroe foi transformada em justificativa para sancionar intervenções em países latino-americanos abrangidos pela ampliação da área de segurança norte-americana57, bem como para impedir que governos ou corporações estrangeiras adquirissem portos ou outros lugares que pudessem ameaçar as comunicações ou a segurança

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• Rio Branco e o Corolário Roosevelt• Inaugurado pelos fundadores da República, o

redirecionamento da política externa brasileira para a potência hegemônica do hemisfério foi consolidado por Rio Branco, a fim de torná-lo um dos pilares da sua política externa.

• A presença do capital britânico era folgadamente predominante na economia brasileira69, mas eram os Estados Unidos o principal motor da agroexportação brasileira.

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• A aproximação tinha fundamento de natureza não só comercial (pois o já amplo mercado interno norte-americano não parava de crescer, o que alimentava as perspectivas otimistas em relação à venda de produtos tropicais, especialmente o café), mas também política (ligado aos objetivos regionais) – sem falar no fato de que as concepções do chanceler não se conflitavam com a nova interpretação da Doutrina Monroe, a qual, segundo ele, não deveria ser motivo para “as três principais nações da América do Sul (o Brasil, o Chile e a Argentina) se molestem com a linguagem do presidente Roosevelt”, pois não se incluíam entre as “nações desgovernadas ou turbulentas que não sabem fazer ‘bom uso da sua independência’, ou que deva ser aplicado pelos mais fortes ‘o direito de expropriação contra os povos incompetentes’”.

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• Rio Branco avaliava com precisão o peso da nova potência e sua parte de influência na constelação do poder mundial. A América hispânica não reunia condições para se contrapor aos Estados Unidos em razão da disparidade de forças.

• Com realismo, dizia que “a tão falada liga das Repúblicas hispano-americanas para fazer frente aos Estados Unidos é pensamento irrealizável, pela impossibilidade de acordo entre povos em geral separados uns dos outros, e é até ridículo, dada a conhecida fraqueza e falta de recursos de quase todos eles”.

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• A questão das fronteiras• Desde a Independência (1822) até a República (1889) as

fronteiras do Brasil não haviam sido delimitadas• Com a Proclamação da República, o governo brasileiro

defrontou-se com a questão dos seus limites territoriais, que, embora definidos pela Constituição de 1891, não estavam ainda delimitados, exceto pela fronteira com o Paraguai, demarcada pelo Tratado de 1872, e com o Uruguai, pelo Tratado de 1851.

• Por isso, a República Velha foi envolvida pelas chamadas questões de limites: o grande mentor e articulador da diplomacia brasileira na solução de tais questões foi, certamente, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Solucionadas as questões de fronteira no campo político e jurídico, restou, então, o grande empreendimento da demarcação de limites: a espinha dorsal da cooperação e integração sul-americana em nossos dias.

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• A história das demarcações de fronteiras entre as repúblicas da América do Sul documenta uma experiência de dificuldades imensas que envolveram as atividades de campo, assim como o volume de problemas e de embaraços por que passaram as comissões designadas para a efetivação do que ficou acordado nos tratados de limites

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• Do apogeu ao declínio da Primeira Republica: a ilusão de poder (1912-1930)

• Depois do Barão, o Brasil teve uma politica externa que, em linhas gerais, seguiu suas diretrizes. Elas se mantiveram, com particularidades de cada época, até o início dos anos 1950.

• Não se tratava apenas de uma vontade interna, mas da aceitação de uma ordem internacional que se potencializaria na Guerra Fria: a supremacia dos EUA no plano internacional.

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• Em resumo:• 1º) O traço principal desse período foi o cultivo da

amizade com os Estados Unidos • 2º) Política posta em prática pelo Barão do Rio Branco e

mantida por seus sucessores, sobretudo Lauro Muller. Todavia houve quem questionace. Domício da Gama, que divergiu na embaixada do Brasil em Washington, da forma de solidariedade que vinha sendo praticada por Lauro Muller, sucessor imediato do Barão. Para Domício, o interesse nacional impunha limites à amizade incondicional e recomendava evitar-se o recurso à influência norte-americana. Contudo, é preciso ressalvar que no referente à década de 1920, a amizade não significou, conforme afirma alguns autores, alinhamento “automático” da política externa brasileira ao Departamento de Estado norte-americano.

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• 3º) Importante fator para a consolidação da amizade com os Estados Unidos foram as relações econômicas

• 4º) Este país era o principal centro propulsor da economia

agroexportadora do Brasil, notadamente como comprador de café. Além disso, teve participação crescente, ao longo do período, nas importações brasileiras de manufaturados e de produtos alimentícios, como a farinha de trigo.

• Os norte-americanos substituíram os ingleses como investidores no Brasil. Em 1922, teve início a cooperação militar entre os dois países. Cumpre ainda observar que nenhuma questão surgiu entre as duas nações, de modo a atrapalhar suas relações. A atuação por longo período de Edwin Morgan, embaixador dos EUA no Rio de Janeiro, onde gozou de respeito e admiração, contribuiu também para a aproximação.

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• 5º) A política de cooperação com os Estados Unidos foi além do período em exame, chegando até a década de 1950, o que torna a viragem da diplomacia brasileira em direção àquele país uma das mais significativas mudanças advindas da instalação da República.

• 6º) Cumpre ainda assinalar que o país, na década de 20, adquiriu uma sensação de autoconfiança e superestimação de seu peso internacional, decorrente de sua participação, ainda que modesta, na política mundial em razão de sua entrada na Grande Guerra e subsequente atuação nas conferências de paz e no Conselho da Sociedade das Nações (SDN), como membro eleito.

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• 7º) O Brasil de entre guerras na frente internacional, mostrava-se como uma nação satisfeita consigo mesma. Folgava a diplomacia brasileira, pois não havia nenhuma questão grave a resolver e não se punha em causa a divisão internacional do trabalho, cumprindo o país a função de típico exportador de produtos primários.

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• Linha do tempo preparada pela aluna Ana Jacqueline O. Raiser Nunes

1908 1919 1930

Venceslau Brás

1912 1914 1915 1917 1918 1922 1923 1926 1927 1929

Morte de RB

Início da 1ª Guerra Mundial

Retração do Mercado Mundial

• Inglaterra declara café produto não essencial

Greve em SP

Fim da Guerra Sociedade das Nações

Brasil sai da Liga das Nações

Crise Brasil pede empréstimo aos EUA

A política externa da República Velha entre 1912 e 1930

Hermes da Fonseca

Fim da República Velha

Delfim Moreira

EpitácioPessoa

Artur Bernardes Washington Luís

TenentismoArte ModernaPCB

V Conferência Interamericana

VI – (CUBA) Conferência Interamericana

• Brasil na Guerra • Cooperação

Militar com os EUA

• 1912-1933 Edwin Morgan → Embaixador

dos EUA• Imigração – 3 fases

1. 19802. 19303. 1946

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• 8º) Comparecia o Brasil às conferências internacionais americanas e às reuniões do Conselho da Liga das Nações com a ilusão de estar participando das decisões internacionais. Da Primeira Guerra ficaram, praticamente, apenas três questões, cujas soluções dariam maior ou menor satisfação ao Brasil:

• A da dívida do café do Estado de São Paulo• A dos navios ex-alemães afretados à França• A do recebimento do montante da dívida da Alemanha a

título de reparações de guerra.

• 9º) A expansão do mercado externo era a principal tarefa da diplomacia. Afora isso, havia uma política de busca de prestígio que se traduzia no afã de elevar o Brasil à condição de membro efetivo do Conselho Executivo da Liga das Nações.

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