história do brasil_ parte1_colônia_império

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História do Brasil Apresentação criada para o curso de História do Brasil. Bibliografia Básica: FAUSTO, Boris . História do Brasil São Paulo: EDUSP, 1994. Algumas imagens foram cedidas pelo Prof. Dr. André Figueiredo Rodrigues

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Page 1: história do brasil_ parte1_colônia_império

História do BrasilApresentação criada para o curso de História do Brasil.

Bibliografia Básica: FAUSTO, Boris . História do Brasil São Paulo: EDUSP, 1994.

Algumas imagens foram cedidas pelo Prof. Dr. André Figueiredo Rodrigues

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ColôniaO período colonial é demarcado pelo período de 1500 a 1822.

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Por que Portugal foi o país pioneiro na expansão marítima?

Por várias razões. Uma, de ordem interna, foi o fato de que muito cedo Portugal se transformou numa monarquia centralizada, e a Coroa portuguesa teve recursos suficientes para empreender uma grande aventura, em busca de novas terras. Além disso, os portugueses aprenderam com os genoveses as técnicas de navegação e começaram a desenvolver essa atividade. Outro fator é a posição geográfica de Portugal, numa espécie de ponta da Europa, facilitando para os portugueses a tarefa de se lançar pelo oceano Atlântico afora.

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O que os portugueses pretendiam, ao sair de sua terra?Certamente, foram em primeiro lugar buscar benefícios materiais. As grandes atrações naquele momento eram o ouro e as especiarias. Ao mesmo tempo, havia um espírito de aventura, o desejo de conhecer novos mundos, novas terras, a expectativa de encontrar coisas que as pessoas nem imaginavam.

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A descoberta foi intencional ou por acaso?Houve e ainda há muita discussão a respeito do “achamento” do Brasil. Os grupos se dividem entre a tese da chamada intencionalidade e a tese do acaso. Mas essa questão não é tão importante. O fato talvez mais relevante é que, quando os portugueses chegaram ao que viria a ser o Brasil, não tinham idéia da extensão das terras que encontraram.

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O que foi o Tratado de Tordesilhas?Foi uma linha imaginária com que Portugal e Espanha dividiram o mundo a oeste da península Ibérica, onde os dois países estavam situados. Datado de 7 de Junho de 1494 estabelecia uma linha divisória, traçada de pólo a pólo, distando 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde, sendo a parte ocidental atribuída a Espanha e a oriental a Portugal.

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Como foram os primeiros contatos entre os portugueses e os índios?O contato da expedição de Cabral com os indígenas é algo que a gente não pode reproduzir, esta é uma limitação do historiador, de qualquer um de nós. Mas, embora seja impossível reconstituir tudo isso, existem os relatos que ajudam. A carta de Pero Vaz de Caminha, por exemplo, é um documento fundamental. Ele era um escrivão da armada de Cabral, precisava relatar os fatos, e foi isso que fez, narrando com riqueza de detalhes os primeiros contatos com os índios, a impressão causada pela natureza, a primeira missa etc.

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Como viviam esses índios?Estavam divididos em muitas tribos. Hoje é comum falar em tupi-guarani como se fosse uma coisa só, mas mesmo os tupis e os guaranis eram diferentes. Havia outras tribos muito guerreiras, como a dos tupinambá. Não havia uma grande nação indígena na costa do que viria a ser o Brasil, e sim uma série de tribos que ora conviviam, ora entravam em luta. Algumas tribos praticavam a antropofagia ritual

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Qual o papel da Igreja Católica no Brasil colonial?

O Estado português teve com relação à Igreja uma posição de certa dominância. Era o sistema chamado de padroado. O padroado era uma espécie de entendimento não-escrito entre a Coroa portuguesa e a Igreja, pelo qual a Igreja tinha poderes espirituais, mas ao mesmo tempo a Coroa tinha um controle na nomeação de eclesiásticos e era também responsável pelo pagamento do clero, dos padres que vinham para o Brasil – não das ordens religiosas, mas do chamado clero secular. A Igreja dedicava-se à salvação das almas, à conversão dos índios ao catolicismo. Para isso, era preciso organizar as aldeias, ensinar a religião católica e não destruir a população indígena. Mas houve muitos choques entre a Igreja e os colonos no Brasil, porque os colonos tinham outro interesse: o de explorar o trabalho indígena.

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E as capitanias hereditárias?Nos primeiros tempos, os portugueses estavam mais interessados no comércio com a Índia e pensaram no Brasil como uma espécie de ponto de parada nessa rota. Mas à medida que outros povos começaram a chegar, tentando ocupar a terra, eles se viram obrigados, por razões mais políticas do que econômicas, a encontrar uma forma de colonização. A primeira forma de colonização foram as chamadas capitanias hereditárias. Os donatários de capitanias tinham poderes no papel, mas estavam limitados por muitas dificuldades, e precisaram enfrentar uma série de problemas. As capitanias fracassaram, e daí a Coroa portuguesa teve a idéia de instituir um governo geral no Brasil.

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O que foi o governo geral?O governo geral correspondeu à necessidade de se ter um poder que centralizaria a administração da Colônia. Mas isso ficou na intenção. O governador geral tinha um raio de ação pequeno, na Bahia, no Nordeste. Nas outras regiões do país ele mandava muito pouco, até o século 18.

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Qual a extensão da efetiva ocupação da Colônia?Esse Brasil dos primeiros tempos pode ser definido pelo que diz um cronista importante, Frei Vicente do Salvador; segundo ele, os portugueses a princípio se arrastavam pela praia como caranguejos. O que quer dizer isso? Que eles conseguiam ficar apenas na praia, e concentrados no litoral do Nordeste. A ocupação do interior foi um processo lento, que só se completou ao longo dos séculos.

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Quando os portugueses se preocuparam com a questão da mão-de-obra?

Quando perceberam que era viável explorar a Colônia do ponto de vista econômico se concentraram principalmente na produção de açúcar, plantando cana. Tinham uma longa experiência nas ilhas da costa africana, e conheciam muito bem o negócio do açúcar. Só que para tocar uma grande fazenda de plantação de cana necessitavam de braços, e não havia condições de atrair trabalhadores livres. Foi aí que começaram a tentar utilizar os índios, sem êxito, e depois a explorar o tráfico africano. Mas o escravo não era importante apenas como mão-de-obra. O negócio de traficar escravos era em si extremamente valioso; em certos períodos da história brasileira, muitas riquezas foram geradas pelo comércio de escravos, e não pela produção baseada nesse tipo de trabalho.

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De que modo esses escravos se relacionavam entre si?Os escravos vieram em condições penosas. Muitos morriam na travessia. Ao chegar, se sentiam perdidos, pois vinham de várias regiões da África e em geral não se conheciam – justamente o que os senhores queriam, para evitar algum grau de organização. Isso foi mudando à medida que se formavam gerações de escravos que integravam a vida da Colônia, apesar da sua condição de dependência.

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Era comum a resistência dos negros à escravidão?

Dada a extensão do país e a diversidade dos grupos, nunca houve, no Brasil, algo comparável a uma grande insurreição de escravos – como aconteceu no Haiti, no século 18. Mas houve resistência. A forma mais conhecida é o quilombo, uma organização de negros fugidos e de gente marginalizada, criando uma vida alternativa à exploração colonial. Havia outras maneiras menos ostensivas de resistir, no dia-a-dia, como o não-cumprimento de ordens, a lentidão no ritmo de trabalho etc. Vários estudos têm mostrado que os escravos da casa-grande encontravam formas de adaptação e de resistência aos senhores .

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O que faziam, no Nordeste, os que não viviam em torno do engenho de açúcar?Havia os tropeiros no âmbito do comércio, a criação de gado no interior e várias outras atividades ligadas ao mercado interno.

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Os portugueses conseguiam manter sua hegemonia na Colônia?Houve uma série de expedições de outros países com o propósito de conquistar a Colônia. Os franceses, por exemplo, estiveram no Rio de Janeiro e depois no Maranhão. Mas a presença mais importante foi sem dúvida a dos holandeses. Eles ocuparam Salvador e foram obrigados a se retirar; mas em uma segunda incursão, desta vez em Pernambuco, permaneceram muito mais tempo.

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Por que os holandeses vieram ao Brasil?Isso está relacionado com a união das Coroas espanhola e portuguesa, sob o comando da primeira, a partir de 1580. Como havia uma disputa entre a Espanha e a Holanda, a partir da união Portugal também se tornou inimigo dos holandeses. Os holandeses tinham dois objetivos básicos: conquista de parte do território brasileiro e controle do comércio de escravos. Assim, ao mesmo tempo que ocuparam Pernambuco avançaram em direção à costa ocidental da África. A civilização holandesa no Brasil foi muito significativa e deixou vestígios permanentes, principalmente como resultado do governo de Maurício de Nassau. Acabaram sendo militarmente derrotados e foram expulsos da Colônia.

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Além do Nordeste, qual outra região sobressaía no Brasil da época?Um dos fatos interessantes no povoamento do Brasil durante o período colonial é que a região Centro-Sul era isolada, pouco importante, na qual viviam muitos índios, uma população rústica. Aí se falava a chamada língua geral do Brasil, que era uma espécie de tupi adaptado à fala portuguesa. Quando a gente pensa no Brasil de hoje, é difícil imaginar que o Nordeste era a área mais avançada, e o Centro-Sul a mais atrasada.

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E quanto à formação étnica do povo brasileiro?Cabe muita coisa na expressão “povo brasileiro”, mas de qualquer maneira é nítido o cruzamento de raças – branco, índio, negro. Por que isso? O português, quando veio para essa terra imensa, não tinha à sua disposição mulheres brancas com quem pudesse casar, ou simplesmente se amasiar. Então foi muito freqüente o cruzamento de etnias, que deu origem ao povo mestiço que caracterizou o Brasil, até a imigração em massa, no final do século 19.

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Quais partes do Brasil os portugueses conheciam no século 17?O Brasil do século 17 ainda era uma colônia pouco explorada. Mas os portugueses já não se arrastavam pela costa como caranguejos, eles avançavam terra adentro. Nesse avanço, os bandeirantes desempenharam um papel importante, combinando a ocupação da terra com a violência no apresamento dos indígenas. Em meados do século 18, os portugueses realizaram um sonho que perseguiam desde sua chegada ao Brasil: a descoberta de riquezas minerais. Isso se deveu às expedições dos bandeirantes.

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Qual o resultado da descoberta de ouro?O ouro transformou as relações da Coroa portuguesa com outros países da Europa e mudou a paisagem social da Colônia. Do ponto de vista social, a civilização do ouro está ligada à vinda de portugueses em maior escala, em uma verdadeira corrida em busca desse metal. Com isso, surgiram muitas cidades, envolvendo tanto gente rica quanto gente pobre. A civilização barroca, as igrejas, as artes, a obra de Aleijadinho, tudo isso foi produzido essencialmente pela civilização do ouro. Embora as riquezas fossem geradas na Colônia, o ouro era enviado em grande escala para a Metrópole, beneficiando também a Inglaterra, de quem Portugal era dependente. Ao longo do tempo, o ouro foi ficando escasso e as exigências da Coroa cresceram, sob a forma de impostos cada vez mais pesados. Essa circunstância gerou uma série de atritos, e teve algo a ver com o surgimento da Inconfidência Mineira.

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O que gerou a Inconfidência Mineira?Nos últimos vinte anos do século 18 surgiram no Brasil alguns movimentos de rebeldia contra a Coroa, dos quais o mais conhecido foi a Inconfidência Mineira. Essa tentativa de revolta, que na realidade nunca chegou a explodir em Minas, foi uma situação em que a elite local, que estava ganhando influência, se sentiu cada vez mais posta de lado pela administração portuguesa. Além disso, as dívidas contraídas com Portugal geravam um clima de insatisfação na região de Minas Gerais, num período já de decadência do ouro e também dos diamantes.

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Houve outros movimentos de revolta?Além da Inconfidência Mineira, ocorreu uma série de revoltas contra Portugal a partir de fins do século 18. Por exemplo, a Conjuração dos Alfaiates, na Bahia, que em termos de composição social era mais popular do que a Inconfidência. Mas os episódios de Minas foram os mais importantes. Basta ver a atitude da Coroa, que montou um grande processo contra os inconfidentes, culminando com a encenação na qual Tiradentes foi enforcado, no Rio de Janeiro.

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Quando o sistema colonial entrou em crise?

No começo do século 19, por um conjunto de razões. Teoricamente, todas as transações comerciais da Colônia com o mundo só poderiam ser feitas por intermédio da Metrópole. Na prática, isso furou. Portugal entrou em decadência e teve de aceitar a presença de outras potências, particularmente a Inglaterra, no comércio brasileiro. O sistema colonial trazia embutido o tráfico de escravos. Quando a Inglaterra entrou em um surto industrial e buscou criar um mercado de mão-de-obra livre, o tráfico de escravos começou a ser quebrado pelos ingleses. Ao mesmo tempo, a Inglaterra tratava de liberar o comércio internacional para poder extrair dele plenas vantagens, sem depender de intermediários. Essas transformações vieram acompanhadas de um movimento de idéias liberais, tendo como objetivo alcançar a autonomia, e mesmo a independência das antigas colônias.

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O que mudou com a chegada da família real?A vinda da família real para o Rio de Janeiro, no começo do século 19, foi um fato político da maior importância para a Independência do Brasil. No jogo das potências da Europa, Portugal estava acossado pelos franceses, por Napoleão, que invadira seu território. Ao vir para a Colônia, Dom João VI e sua corte passaram por Salvador e se instalaram no Rio de Janeiro, que naquela altura já era a capital. Há quem diga, numa frase muito feliz, que de certo modo a Metrópole virou colônia e a Colônia virou metrópole. Com a presença da corte, o Rio de Janeiro se transformou, em muitos níveis – arquitetura, pintura, habitação, novos costumes etc. No plano das relações internacionais, um dos fatos mais importantes relacionados com a presença de Dom João VI foi o reconhecimento, com todas as letras, da liberalização do comércio internacional. Quer dizer, o Brasil teve seus portos abertos às nações amigas – e a gente deve pôr isso entre aspas, porque nesse caso falar em “nações amigas” se referia basicamente à Inglaterra. A partir daí a Inglaterra pôde ter legalmente acesso direto aos portos brasileiros.

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Como ocorreu a Independência?No processo da Independência existiram duas linhas. Uma mais revolucionária, de transformação, que aparece nitidamente na Revolução de 1817, em Pernambuco, com a presença de Frei Caneca e outras figuras. Outra linha, a conservadora, queria fazer uma transição “transada”, sem muitos abalos. Esta linha, das elites fluminenses e da corte no Rio de Janeiro, foi a que triunfou.

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Que idéias eram defendidas para um novo Brasil?Logo depois da Independência, formaram-se “partidos”, entre aspas, pois não eram organizações como as que conhecemos hoje. Basicamente, eram correntes de opinião das elites situadas nos grandes centros, em particular no Rio de Janeiro. Um setor conservador queria manter a forma monárquica e, além disso, concentrar o máximo de poderes nas mãos do primeiro imperador, Dom Pedro I. Era a tendência absolutista, que queria dar poderes absolutos ao rei. Contra essa corrente estavam os monarquistas liberais. Eles queriam reduzir o poder do imperador e dar força à Assembléia Geral Imperial – que hoje poderíamos chamar de Congresso –, convertendo-a em um órgão que controlasse aquele poder. Essa gente queria, ao mesmo tempo, garantir as liberdades públicas, as liberdades de expressão e de manifestação de pensamento.

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ImpérioDo ponto de vista político, houve no Brasil Império três períodos: o Primeiro Reinado, com Dom Pedro I como imperador, até 1831; o período da Regência, até 1840; e o Segundo Reinado, com Dom Pedro II, até a proclamação da República, em 1889. O primeiro período foi marcado por disputas entre brasileiros e portugueses em torno do controle do país. Em razão dessa disputa, e também tendo em vista seus interesses na sucessão do trono de Portugal, Dom Pedro I acabou abdicando e voltando para a Europa, em 1831. Os portugueses ainda viam o Brasil como uma espécie de colônia. Por exemplo, os postos mais importantes do Exército brasileiro eram ocupados por oficiais portugueses.

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Houve mesmo uma Independência do Brasil?

Quando a gente fala da Independência do Brasil, surge logo essa questão importante: afinal de contas, será que o Brasil não trocou simplesmente de dono? Antes era Portugal, depois de 1822 passou a ser a Inglaterra. De fato, a Independência e a abertura dos portos, antes dela, são fatos que favoreceram imensamente a Inglaterra, a grande potência européia da época; mas isso não significa que tenha havido uma simples troca de dono. A Independência obrigou à constituição de um Estado brasileiro, com seus órgãos de representação, suas instituições, seus poderes, suas relações com o mundo externo. Embora seja verdade que a Inglaterra ganhou ainda mais influência, não é menos verdade que o significado do Brasil independente ia além da relação com a Inglaterra, ou com Portugal. Mas a Independência não saiu de graça: o país foi obrigado a pagar uma indenização a Portugal para garantir seu reconhecimento pelas potências européias e, para tanto, recorreu a um crédito aberto na Inglaterra. Outro ponto importante é que, em comparação com as repúblicas sul-americanas, a Independência brasileira se deu de forma até certo ponto pacífica, embora tenha havido luta, principalmente na Bahia.

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Qual a diferença entre a Independência do Brasil e das ex-colônias espanholas?

O fato é que, enquanto a ex-colônia portuguesa se manteve unida, as antigas colônias espanholas da América do Sul se dividiram em vários países. Não existe uma explicação fácil para isso. O que se pensa, em geral, é que a elite brasileira, principalmente os presidentes de província, circulava por todas as regiões. Em outras palavras, existia no Brasil um esboço de direção burocrática que ajudou a manter unido o país. Ao mesmo tempo, um interesse muito forte estava por trás da manutenção da unidade, pelo menos em relação às principais províncias – esse interesse era a escravidão. Para manter e garantir os negócios da escravidão, era importante que o país ficasse unido. Mas não foram poucos os problemas, as revoluções, entre a Independência e o ano de 1848, quando ocorreu em Pernambuco a Revolução Praieira.

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Por que se fez aqui uma monarquia, entre repúblicas?

Isso tem muito a ver exatamente com a força da monarquia, ligada à vinda de Dom João VI, quando a Colônia de certa forma se transformou em metrópole. Isso solidificou a idéia de manutenção da monarquia; e a passagem da situação colonial à de independência se fez pelas mãos de um príncipe português, que foi Pedro I.

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Quais eram as características da monarquia brasileira?

Ela não era igual às grandes monarquias européias, pois não houve uma aristocracia de sangue. Quer dizer, não havia uma nobreza com títulos e privilégios transmitidos por herança. Os títulos se esgotavam com a morte do titular, fosse ele barão, conde etc. Esses títulos eram um instrumento político muito importante: ao concedê-los, o imperador conferia prestígio e formava um círculo de fiéis.

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Como ficou o Brasil, com a Independência?Logo depois da Independência se elegeu a Assembléia Constituinte, que começou a preparar a constituição. Mas foi grande a desavença entre Dom Pedro I e os membros eleitos da Assembléia, o que resultou em sua dissolução por parte do imperador; ele próprio assumiu a incumbência de dar ao Brasil uma constituição. A primeira Constituição brasileira nasceu de forma autoritária, imposta pelo monarca à sociedade, de cima para baixo.

José Bonifácio

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Que pontos se destacavam na Constituição imperial de 1824?

Ela deu ao imperador muitos poderes, entre os quais o mais importante talvez tenha sido o chamado poder moderador. Esse poder lhe permitia, por exemplo, nomear senadores vitalícios: recebia uma lista de três nomes e escolhia de acordo com sua vontade. Também lhe dava a possibilidade de dissolver a Câmara. Outro ponto importante da Constituição era a organização do sistema eleitoral, censitário e indireto. Censitário significa que as pessoas, para poder votar, deveriam ter um determinado nível de renda. Além disso, o voto era indireto, ao contrário do que acontece hoje. Os brasileiros votavam em um grupo de cidadãos com determinadas qualificações, e estas pessoas elegiam a Câmara dos Deputados. Naturalmente, ninguém elegia o imperador, que permanecia no poder até a morte. Outro traço do sistema eleitoral era o fato de os analfabetos poderem votar. Não se tratava propriamente de espírito democrático, mas o número de analfabetos era tão grande que, se eles não votassem, o processo eleitoral na prática seria insignificante. Em grandes linhas, essa legislação eleitoral vigorou até 1881, quando ocorreu uma mudança importante. A chamada Lei Saraiva introduziu a eleição direta e, ao mesmo tempo, acabou com o voto do analfabeto.

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O que foi a Confederação do Equador?

Em julho de 1824, as províncias do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco haviam formado a Confederação do Equador Inspirados no movimento de 1817, os revolucionários nordestinos queriam separar a região do Império, e aí instituir o regime republicano. A repressão do governo imperial oi violenta, e os principais chefes da Confederação foram condenados à morte. Entre eles Joaquim do Amor Divino Rabelo, frei Caneca. Preso em 29 de novembro, foi levado para Recife, julgado e condenado à morte na forca. Marcada a execução da sentença para o dia 13 de janeiro, nenhum carrasco se apresentou. A sentença foi transformada em fuzilamento, que acabou sendo executado por militares.

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Por que Dom Pedro I abdicou?A derrota na Cisplatina aumentou a crise financeira do Império e o descontentamento dos brasileiros contra o “imperador português”. Crescia a insatisfação com os privilégios dispensados aos interesses portugueses no Brasil, principalmente no comércio interno. Era preocupante, para os proprietários de terra e escravos, o acordo que d. Pedro fizera com os ingleses, comprometendo-se a acabar com o tráfico de escravos para o Brasil.A perda de apoio militar e político fez com que, em 7 de abril de 1831, imperador renunciasse ao trono brasileiro em favor de seu filho Pedro, então menino de apenas 5 anos de idade, deixando-o entregue aos cuidados de José Bonifácio. Feito isso, retirou-se para a Europa, onde morreu em 1834.

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Como foi a Regência?Na Regência, o Brasil foi governado por pessoas da elite, enquanto se esperava a maioridade de Dom Pedro II, que acabou assumindo o trono com apenas 14 anos. Desde a Independência, até mais ou menos 1848, houve no Brasil uma série de revoluções contra o governo central. Eram movimentos muito diferentes entre si e geograficamente distantes. Por exemplo, a Cabanagem ocorreu no Pará; a Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Os integrantes dessas revoluções também não tinham características semelhantes. A revolução do Pará mobilizou principalmente uma grande massa de índios e descendentes de índios. Já na revolução Farroupilha os revolucionários eram brancos e os líderes eram sobretudo pessoas da elite. As reivindicações até certo ponto variavam, mas tinham em comum a forte oposição ao governo central. Em alguns casos também se colocou em questão a natureza do regime, propondo derrubar a monarquia e instalar um governo republicano. Os revolucionários gaúchos criaram a República de Piratini, de curta duração. Em Pernambuco a revolta teve continuidade; a província já se insurgira contra os portugueses em 1817, voltou a se rebelar no Brasil independente, com a Confederação do Equador, e prossegue nesse clima de fermentação revolucionária até 1848, quando praticamente se encerra o ciclo de revoluções.

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Como terminaram as Regências?A Regência terminou principalmente por pressão das elites das grandes províncias, que perceberam a necessidade de um comando centralizado. Em conseqüência, foi decretada antecipadamente a maioridade de Dom Pedro II, e iniciou-se assim o Segundo Reinado.

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Quais os fatos mais importantes do Segundo Reinado?No plano da política externa, houve a Guerra do Paraguai, conflito em que o Brasil teve papel predominante. Foram construídas as primeiras ferrovias, expandiu-se a exportação de um novo produto, o café, e uma grande questão percorreu a sociedade: a escravidão. A partir de um determinado momento,ficou muito claro que a escravidão ia acabar. O problema era saber como liquidar a escravidão no Brasil. Após uma série de leis – do Ventre Livre, dos Sexagenários – chegou-se à Abolição, em 1888.

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O que pensavam os dois grandes partidos brasileiros?

É comum se dizer que representavam a mesma coisa. Isso só é verdade em parte, pois se eles de fato representassem a mesma coisa, por que disputariam por tantos anos o poder e se dividiriam tanto? O Partido Conservador era formado pela burocracia imperial, por altos funcionários da Corte, que se aliavam aos grandes produtores de café da província do Rio de Janeiro. Os conservadores contavam também com apoio principalmente na Bahia, e também em Pernambuco. O Partido Liberal representava os interesses de São Paulo, Rio Grande do Sul e parte de Minas Gerais. Durante certo tempo, os liberais foram favoráveis à descentralização do poder, enquanto os conservadores reforçavam a Corte e sustentavam a centralização do poder nas mãos do imperador.

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Qual foi o percurso da economia cafeeira?O percurso da economia do café variou, ao longo do século 19. Iniciou-se no Vale do Paraíba e foi se deslocando para a região paulista de Campinas, depois cada vez mais para o oeste da província. O espaço geográfico da produção do Vale do Paraíba era limitado; o solo, que já não era de boa qualidade, começou a sofrer o processo de erosão, pois na época não havia técnicas de conservação do solo, nem preocupação com isso. Pessoas que tinham acumulado fortuna em atividades urbanas, na província de São Paulo, começaram a plantar em uma nova região, no Oeste paulista. Ali havia um espaço muito maior para se plantar e a terra era de qualidade superior, a chamada terra vermelha, que os imigrantes italianos chamaram de terra rossa (“terra vermelha”, em italiano, mas que ficou por isso conhecida como terra roxa). Conscientes do momento histórico que estavam vivendo, os cafeicultores do Oeste paulista se deram conta de que não seria possível contar eternamente com a escravatura e começaram a substituir a mão-de-obra escrava pela dos imigrantes. Os cafeicultores do Vale do Paraíba, os velhos barões do café, não conseguiram se adaptar aos novos tempos e acabaram se arruinando com o fim do sistema escravista.

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Qual a importância da escravidão para a produção do café?

Uma frase muito comum no Império afirmava que o Brasil é o café e o café é o negro. A produção do café, que ganhou importância enorme por volta de 1830, dependia do trabalho escravo. Havia incentivo para produtores e exportadores, e o interesse pela bebida era crescente em alguns mercados consumidores, especialmente Estados Unidos e Europa. O Vale do Paraíba foi a primeira região em que a produção se expandiu: inicialmente no território da província do Rio de Janeiro, depois na província de São Paulo. Na última década do Império, o café representava 60% do total de exportações do Brasil. Isso ocorreu enquanto o açúcar, produto muito importante no Brasil Colônia, entrava em crise. Os velhos engenhos foram desaparecendo, o açúcar brasileiro começou a sofrer cada vez mais a concorrência do que era produzido nas possessões francesas das Antilhas e em outras partes do globo; além disso, na Europa, cada vez mais se utilizava açúcar extraído da beterraba.

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Qual o papel do trabalho escravo na sociedade brasileira?

A sociedade brasileira sempre foi muito estratificada. Existiam no alto as elites, abaixo delas uma classe média urbana que progressivamente ganhava força e, mais abaixo, os brancos pobres. Na base, ficavam os escravos, considerados como “coisas”, e também os negros libertos. A penetração da escravidão na sociedade brasileira foi profunda por várias razões. O comércio de escravos era um grande negócio; mesmo antes da vinda de Dom João VI, muitas das fortunas acumuladas no Rio de Janeiro se originavam do tráfico de escravos. Na Colônia, o trabalho manual era muito desvalorizado, e assim se recorria aos escravos não só para trabalhar, por exemplo, nas grandes fazendas de açúcar, mas também em todo tipo de tarefa doméstica. Todo mundo sonhava em ter alguém que trabalhasse para si, e isso se refere tanto ao senhor de engenho quanto ao pequeno personagem de classe média.

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Quando a escravidão começou a ser discutida?

Esse quadro começou a sofrer abalos quando, na esfera internacional, o sistema escravista entrou em crise – sobretudo porque, com a industrialização da Inglaterra, o comércio de escravos deixou de interessar aos ingleses. Eles procuraram criar um mercado internacional de mão-de-obra livre, muito pobre e muito explorada. Começaram a combater a escravidão em todo o mundo e a apreender os navios negreiros, sobretudo no Atlântico, contrariando os interesses da elite brasileira que vivia da escravidão. Diante da pressão inglesa, as elites brasileiras não tomavam decisões, pensando mais ou menos assim: “vamos ter de acabar com a escravidão, mas quanto mais demorar, melhor”. Um bom exemplo disso: por pressão inglesa, o tráfico de escravos foi extinto, por uma lei de 1831, mas essa lei não foi cumprida, era uma lei “para inglês ver”.

Campanha abolicionista no Recife: eleições 1884: discurso de Joaquim Nabuco

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Como ocorreu a abolição?Quase vinte anos depois, em 1850, o Brasil foi levado a extinguir de verdade o tráfico internacional. O governo imperial tomou medidas duras, prendeu gente importante, e o tráfico externo se extinguiu. Mas surgiu o tráfico interno, com a venda de escravos das áreas mais pobres para as que estavam se desenvolvendo. De qualquer maneira, a partir dessa época ficou claro que era preciso pôr fim a esse regime. Dom Pedro, assim como alguns setores da elite, se empenharam em aprovar leis que fossem reduzindo o alcance da escravidão – houve a Lei do Ventre Livre, que libertava o filho de mãe escrava, depois a Lei do Sexagenário, que libertava os velhos acima de 60 anos, até se colocar a questão da abolição. Houve um movimento abolicionista branco significativo, com a presença de destacados nomes da elite brasileira, como Joaquim Nabuco. Ocorreram também insurreições de escravos em fazendas de São Paulo. A abolição da escravatura se deu ainda no reinado de Dom Pedro II, em 1888, pela mão da princesa Isabel, que estava transitoriamente com as funções de regente.

Original da Lei Áurea, assinada pela Regente Dona Isabel em 1888.

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Como a sociedade acolheu os ex-escravos?

Representou um avanço, mas deixou também muitos problemas, porque não levou em conta a inclusão do negro, como cidadão, na sociedade brasileira. Os grandes fazendeiros de café optaram pelo imigrante europeu, e o negro perdeu seu lugar nas propriedades do Centro-Sul do país. Nem ao menos se cuidou de conceder-lhe terras, o negro ficou relegado às atividades marginais, em situações de subemprego, vítima de um pesado preconceito e sem a oportunidade de acesso à escola. Nesse processo, o preconceito contra o negro persiste até hoje.

o quadro “Redenção de Cam”, (1895) de Modesto Broccos. A intenção do pintor Modesto Broccos ao pintar uma família mostrar a possibilidade do branqueamento do povo brasileiro. Modesto representou o que seria essa mudança genética. A senhora negra, a África original. O senhor branco, a Europa original. A jovem entre ambos é o resultado da mistura dos dois continentes África e Europa. Uma jovem América, mulata. A criança é o desejo do europeu dominador, machista, preconceituoso, soberbo. A criança é aquele que é sem nunca ter sido, um branco com raiz negra. A pele é branca como a pele da Europa, porém em suas veias e em sua história existe a África escondida e negada.

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Como as ferrovias contribuíram para o comércio do café?

Há dois exemplos dessa expansão ferroviária ligada ao café. Um é a Estrada de Ferro Dom Pedro II, hoje Central do Brasil, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Era muito importante para os fazendeiros do Vale do Paraíba, que exportavam o café pelo porto do Rio de Janeiro – que na época foi bem melhorado, para permitir a entrada de navios de grande calado. Outro exemplo foi a São Paulo Railway (SPR), também um investimento inglês, que em uma grande façanha de engenharia ligou São Paulo a Santos pela Serra do Mar, a partir de 1867. Com isso surgia uma via muito mais eficiente e rápida para transportar o café, trazendo o progresso não só para o porto de Santos mas também para toda a região produtora de café do interior paulista e, sobretudo, para a cidade de São Paulo.

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O que acontecia então na política externa?Durante o século 19, a política externa brasileira gerou confrontos com seus vizinhos. Era uma época de formação dos Estados nacionais; Brasil, Argentina e Uruguai estavam em processo de consolidação como nação. A política de afirmação dos Estados nacionais acabou gerando um conflito de enormes proporções, a Guerra do Paraguai, também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, porque três países se aliaram contra o Paraguai: Brasil, Argentina e Uruguai. O conflito durou quase seis anos: começou com o incidente com um navio brasileiro, o Marquês de Olinda, no rio Paraguai, em 1864, e durou até 1870. O Paraguai foi arrasado, houve milhares de mortos brasileiros, argentinos e uruguaios, e não só nas batalhas. Epidemias como o cólera e a varíola mataram tanto ou mais gente do que os próprios combates. Muitas vezes se diz que a Inglaterra provocou a Guerra do Paraguai. Isso não é certo. Os ingleses dominavam economicamente os países da América do Sul, mas tinham interesse na estabilidade, e não em um grande conflito. A guerra foi provocada principalmente pelas rivalidades geopolíticas entre os países envolvidos.

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Que conseqüências a Guerra do Paraguai trouxe para o Brasil?

Para os que viveram no final do século 19, a Guerra do Paraguai foi um marco: era como se houvesse um Brasil antes da guerra e outro depois dela. Por um lado, a sociedade ganhou certa consciência de que a escravidão era um problema grave; muitos escravos participaram da luta, alguns porque quiseram, outros porque foram obrigados. E assim se tornou evidente a contradição entre o soldado negro, a serviço da pátria, e o escravo negro. Por outro lado, a Guerra do Paraguai fortaleceu o Exército brasileiro, que ganhou prestígio ao vencer a guerra. No início, as tropas eram formadas principalmente por despreparados componentes da Guarda Nacional, cuja atuação foi um fracasso; mas com a entrada do Exército projetaram-se figuras como Osório e, sobretudo, Caxias, que iria se tornar patrono do Exército. A consciência do valor do militar se formou durante o conflito, por seu papel contrastante com algumas elites civis, em especial do Rio de Janeiro. Enquanto os militares iam para o campo de batalha, setores da elite civil enriqueciam com o fornecimento de alimentos e de material para a campanha.

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Como se resolveu o problema da mão-de-obra?

Optou-se pelo trabalho imigrante assalariado. Desde meados de 1870, se iniciou um fenômeno de imigração em massa, principalmente de colonos italianos; em parte eles se dirigiam para o Sul, onde já havia imigrantes alemães. Outros se estabeleceram no Centro-Sul, especialmente em São Paulo. Esse movimento se deveu a dois fatores: diante das condições de pobreza na Europa muitas pessoas sonhavam com “fazer a América”, como se dizia na época; além disso, com a abolição, os fazendeiros precisavam substituir a mão-de-obra dos escravos. Para atrair imigrantes da Europa, foram mobilizados muitos recursos. Em São Paulo foi construída a Hospedaria dos Imigrantes (hoje Museu do Imigrante), onde eles eram recebidos e depois encaminhados para as fazendas de café. Mas muitos imigrantes permaneceram nas cidades, ou retornaram do campo após uma experiência. Viam nas cidades maiores oportunidades de ganho e mais liberdade do que no duro regime de trabalho das fazendas de café. Depois dos italianos vieram os espanhóis e, nos primeiros anos do século 20, começaram a chegar os japoneses – estes de fato se fixaram por muito tempo no campo.

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Que fatores contribuíram para o fim do Império?

Entre os fatores que concorreram para a crise do Império e a derrubada de Dom Pedro II, em 1889, sobressai o fim da escravidão. Os grandes proprietários de escravos, muito fiéis ao Império, acabaram se decepcionando com a monarquia, embora não fossem muito fortes por ocasião da abolição, nem quisessem a República. Há outro fator de desgaste, que também foi decisivo para o fim do Império: as desavenças entre a monarquia e a Igreja. Nos últimos anos do reinado de Dom Pedro II, ocorreu um choque sério entre a Igreja e o Estado. Um movimento de renovação da Igreja Católica, comandado pelo Vaticano, em todas as partes do mundo, buscava dar mais autonomia ao clero em suas relações com o Estado. Isso se chocava com o velho sistema do padroado, adotado no Brasil, no qual o imperador controlava o clero. Mas talvez o fator mais importante na queda da monarquia tenha sido a pressão de grupos da elite civil pela autonomia das províncias, aliada à pressão por um novo regime, por parte do Exército.

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Como surgiu a República?A partir de 1870, formou-se no Brasil um movimento que pretendia, por revolução ou por acordo, proclamar a República. Havia várias tendências. O movimento republicano de São Paulo, onde se formou o Partido Republicano Paulista, era muito distinto, por exemplo, do movimento republicano carioca. O movimento do Rio de Janeiro era mais radical. O de São Paulo evitava certas questões, sobretudo a da escravidão, concentrando-se na idéia de uma República federativa, com um grau acentuado de autonomia para as províncias. A elite cafeeira queria determinar os rumos de sua economia, sem as limitações da ação do Império. Ao mesmo tempo, crescia entre os militares, cuja cúpula era muito influenciada pela ideologia positivista, a idéia de que a monarquia emperrava o progresso do Brasil, limitava a industrialização nascente e estava ligada à escravidão. Eles queriam uma República mais autoritária, com mais poderes para o presidente. A República resultou da aliança dessas duas forças: de um lado o Exército; de outro, a elite política de São Paulo. A derrubada do imperador, em 15 de novembro de 1889, não foi um episódio épico, tal como é pintado nos quadros históricos. Nem teve participação popular. Embora relutante, o marechal Deodoro da Fonseca acabou cedendo à pressão dos quadros jovens do Exército. Ao longo do tempo, as conseqüências foram importantes: houve um Brasil da monarquia e outro da Primeira República, mas a passagem entre ambos é mais um exemplo de “transição transada”, sem grandes abalos, na história brasileira.