historia de arapiraca

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  O MUNICÍPIO DE ARAPIRACA/AL E SUA DINÂMICA HISTÓRICA DE OCUPAÇÃO E RENDA  Angela Maria Araújo Leite  1(*)  1 - Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL  | (*) Brazil  A intensificação, no Brasil, de modernas técnicas agrícolas, com a chamada Revolução Verde, a partir dos anos de 1970, acabou por aprofundar as diferenças entre pequenos, médios e grandes produtores agrícolas, uma vez que foi negado ao pequeno agricultor o acesso a essa modernização, deixando-lhe renegado às mudanças que foram ocorrendo no meio rural. Historicamente, o estado de Alagoas tem na atividade agrícola, especialmente na monocultura da cana-de-açúcar, no cultivo do algodão e na cultura do fumo, o seu suporte econômico. Tal fato proporcionou um grande destaque no cenário nacional e internacional, especificamente com o cultivo do fumo, chegando aos anos de 1970 a ser considerado o maior parque fumageiro da América Latina. Contudo, a partir dos anos de 1990 a crise se instala, marcando o desenhar de um novo cenário, notadamente no município de Arapiraca, considerado Pólo Regional, onde a agricultura deixa de ser sinônimo de prosperidade.  Arapiraca localiza-se na área central do Estado de Alagoas, possui segundo estimativa do IBGE para 2005 um total de 199.964 habitantes, sendo 163.383 no espaço urbano e 36.581 no espaço rural, ou seja, apenas 18% estão distribuídos na zona rural, com densidade demográfica de 568,93km2. O município situa-se na área central do Estado (figura 1), na Mesorregião do Agreste e na microrregião de Arapiraca, e dista 135,7 km de Maceió, capital do Estado de Alagoas. Tem uma superfície de 351 km2 e é cortado pelas coordenadas 9º 45` e 9” S e 36º 39` 40” O. Por sua localização no centro do Estado, tornou-se ponto de passagem para as pessoas que trabalham no corte da cana-de-açúcar e que retornam da Zona da Mata, no fim da safra, em direção ao Agreste e Sertão.  Assim, a cidade de Arapiraca, em função de sua feira livre e da crescente

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  • O MUNICPIO DE ARAPIRACA/AL E SUA DINMICA HISTRICA DE OCUPAO E RENDA

    Angela Maria Arajo Leite 1(*)

    1 - Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL | (*) Brazil

    A intensificao, no Brasil, de modernas tcnicas agrcolas, com a chamada Revoluo Verde, a partir dos anos de 1970, acabou por aprofundar

    as diferenas entre pequenos, mdios e grandes produtores agrcolas, uma vez

    que foi negado ao pequeno agricultor o acesso a essa modernizao,

    deixando-lhe renegado s mudanas que foram ocorrendo no meio rural.

    Historicamente, o estado de Alagoas tem na atividade agrcola,

    especialmente na monocultura da cana-de-acar, no cultivo do algodo e na

    cultura do fumo, o seu suporte econmico. Tal fato proporcionou um grande

    destaque no cenrio nacional e internacional, especificamente com o cultivo do

    fumo, chegando aos anos de 1970 a ser considerado o maior parque fumageiro

    da Amrica Latina.

    Contudo, a partir dos anos de 1990 a crise se instala, marcando o

    desenhar de um novo cenrio, notadamente no municpio de Arapiraca,

    considerado Plo Regional, onde a agricultura deixa de ser sinnimo de

    prosperidade.

    Arapiraca localiza-se na rea central do Estado de Alagoas, possui segundo estimativa do IBGE para 2005 um total de 199.964 habitantes, sendo

    163.383 no espao urbano e 36.581 no espao rural, ou seja, apenas 18%

    esto distribudos na zona rural, com densidade demogrfica de 568,93km2.

    O municpio situa-se na rea central do Estado (figura 1), na

    Mesorregio do Agreste e na microrregio de Arapiraca, e dista 135,7 km de

    Macei, capital do Estado de Alagoas. Tem uma superfcie de 351 km2 e

    cortado pelas coordenadas 9 45` e 9 S e 36 39` 40 O.

    Por sua localizao no centro do Estado, tornou-se ponto de

    passagem para as pessoas que trabalham no corte da cana-de-acar e que

    retornam da Zona da Mata, no fim da safra, em direo ao Agreste e Serto.

    Assim, a cidade de Arapiraca, em funo de sua feira livre e da crescente

  • oferta de produtos e servios, tornou-se referncia para compra de suprimentos

    desses trabalhadores.

    A feira livre, criada em 1884 inicialmente comercializava apenas os

    produtos da zona rural e vai acompanhando o crescimento da produo

    agrcola e das atividades comerciais, atraindo comerciantes e consumidores

    dos estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco devido localizao e o

    comrcio do fumo que se expandia aliado s demais atividades que

    impulsionavam a economia e que proporcionavam um incremento cada vez

    maior populao j existente.

    Figura 1 Municpio de Arapiraca Localizao em Alagoas

    O municpio tornou-se conhecido, desde sua emancipao, em 30 de

    maio de 1924 como a terra da prosperidade, atravs da produo agrcola,

    inicialmente a mandioca e o algodo.

    Em 1942, Arapiraca, segundo Guedes (1999), vivia o fastgio da

    cultura da mandioca. Era a chamada fase de ouro, tanto para produtores, como

    para os armazenistas e atravessadores. Por volta de 1945 com a implantao

    Fonte: Guia dos Municpios de Alagoas (1988) Elaborao: Angela Maria Arajo Leite Execuo e adaptao: Roberto Silva de Souza

  • da cultura do fumo, amplia-se o nmero de fumicultores medida que reduz o

    de mandioqueiros.

    O municpio de Arapiraca, ao longo de sua histria teve como suporte

    econmico a produo agrcola, principalmente atravs da cultura do fumo, que

    exigia grande quantidade de mo-de-obra, acarretando um intenso movimento

    migratrio temporrio proveniente da zona da mata aucareira, durante o

    perodo de entressafra, e do serto. Como bem evidencia Andrade:

    Sendo na maioria das vezes diaristas, os assalariados das regies vizinhas afluem para a rea fumicultora durante a colheita. [...] o fumo uma lavoura que exige cuidados especiais, adubao e tratamento demorado antes que seja lanado no mercado; da serem as reas onde cultivado de alta densidade demogrfica e ser o salrio do trabalhador rural mais elevado. (ANDRADE, 2005: p. 164).

    Entretanto, em muitos casos, a falta de perspectiva no seu lugar de

    origem e a possibilidade de ocupao e renda tornava essa migrao

    permanente, o que fez do municpio arapiraquense plo de atrao

    populacional.

    Com a decadncia da cultura fumageira, a zona rural entra em

    saturao e falncia agrcola, culminando num crescente processo de xodo

    rural, excluso social e baixa qualidade de vida, que afetou tanto o espao rural

    quanto o espao urbano, como afirma Gusmo:

    [...] para comprovar essa situao suficiente verificar a afirmativa constante do Plano Diretor daquela cidade (1979), onde diz que, em Arapiraca no existe pobreza. Esta afirmativa no poderia ser feita hoje. Isto porque, bastante claro e perceptvel o processo de periferizao e favelizao e, consequentemente de pobreza que se verifica em Arapiraca. Tal fenmeno est vinculado diretamente a todo processo de transformao por que vem passando o espao rural da Regio Fumageira, em virtude da penetrao das relaes capitalistas no campo, cujas repercusses vo se d diretamente no espao urbano. (GUSMO, 1985: p.331)

    A situao de pobreza e misria verificadas por Gusmo em meados

    dos anos de 1980 se agravou com a reduo consecutiva do cultivo de fumo

    nos anos de 1990 at os dias atuais, com ligeira alterao no ano de 2004,

    quando aumenta a rea plantada para em seguida voltar a declinar.

  • Como tradicionalmente a agricultura fumageira utiliza grande

    quantidade de mo-de-obra, a reduo de rea plantada influencia diretamente

    no nmero de pessoas desocupadas e sem acesso a renda. Esse fato

    culminar com o crescimento de pobreza e misria, no espao rural e urbano.

    Historicamente, a estrutura fundiria arapiraquense baseada em

    pequenas propriedades, como afirmam Gusmo (1985) e Oliveira (2004), e

    onde se estabeleceu intensamente os sistemas de arrendamento e parceria,

    que podia ser pago em forma de produto ou de dinheiro.

    Em meados da dcada de 1980, Arapiraca j se consolidava como

    cidade plo regional, sendo considerada a de maior crescimento,

    desenvolvimento e importncia do interior alagoano. Este fato estava

    intimamente relacionado ao grande potencial econmico da cultura fumageira,

    com a intensiva utilizao de mo-de-obra do plantio colheita e a garantia de

    comercializao com a presena de empresas locais e estrangeiras,

    especialmente com empresas de exportao de fumo, que se instalaram no

    municpio a partir de 1950, de capital nacional e internacional; e comearam a

    se retirar a partir do final da dcada de 80, quando a cultura fumageira entra

    em processo de declnio, como afirma Oliveira (2004).

    A crise gerada pelo declnio do mercado por demanda do fumo de

    corda* e a falta de assistncia e orientao tcnica aos pequenos produtores,

    culminou num quadro geral de reduo de rea plantada em toda a regio

    fumageira, especialmente no municpio de Arapiraca, conforme grfico 1.

    ______________________

    * Cordas de fumo, produzida de forma artesanal a partir da cura de folhas destaladas e parcialmente secas. So comercializadas para confeco de cigarros enrolados em folhas de seda.

  • Grfico 1 Produo de fumo, mandioca e milho em Arapiraca - AL

    14.400

    13.200900

    8.000

    96.000

    1.650

    4.800

    92.802

    8.000

    5.760

    48.000

    1.056

    0

    20.000

    40.000

    60.000

    80.000

    100.000

    1 2 3 4

    Fumo

    Mandioca

    Milho

    1990 1995 2000 2005

    Tone

    lada

    s ( T

    )

    Fonte: IBGE - Produo Agrcola Municipal

    Atualmente, a produo agrcola do municpio atravessa intensa

    diversificao com a insero do cultivo do milho para abastecer a indstria

    local, representada pelo Grupo Coringa e pela Luna Avcola. Entretanto, os

    pequenos produtores no conseguem comercializar sua produo, por no

    atender s exigncias qualitativas do mercado, como afirma Oliveira (2004).

    Esse fato est ligado extrema precariedade vivida pelos pequenos

    agricultores que no dispem de assistncia tcnica para aumento da

    produtividade, acesso a recursos, emprstimos, mquinas modernas, entre

    outros, ficando o mercado restrito aos grandes produtores.

    Em relao produo agrcola arapiraquense, constatou-se atravs

    do IBGE que no existe a prtica de lavoura permanente, constando apenas

    dados da lavoura temporria (tabela 1), onde a mandioca lidera o ranking com

    a produo de 48.000 toneladas, seguida pela cana-de-acar com 9.000

    toneladas e o fumo com 5.760 toneladas.

  • Tabela 1 Arapiraca: Produo agrcola/2005

    LAVOURA TEMPORRIA

    Produto Quantidade produzida

    Valor da produo

    (em mil reais)

    rea plantada

    (ha)

    rea colhida (h)

    Abacaxi 700 mil frutos 350 35 35 Algodo herbceo

    60 toneladas 45 200 200

    Batata doce 1.040 toneladas 364 80 80 Cana-de-acar 9.000 toneladas 310 170 170 Feijo (em gro)

    2.450 toneladas 2.614 4.250 4.250

    Fumo (em folha)

    5.760 toneladas 5.760 4.800 4.800

    Mandioca 48.000 toneladas 3.360 3.000 3.000 Milho (em gro)

    1.056 toneladas 380 880 880

    Soja (em gros)

    720 toneladas 475 200 200

    Fonte: IBGE Produo agrcola Municipal/2005

    Observou-se ainda, o crescimento do cultivo de produtos orgnicos

    como hortalias, frutas e verduras, alm da produo de laticnios, para

    abastecer o mercado local e da capital alagoana, bem como, a expressiva

    expanso do setor hortifrutigranjeiro, especialmente com a presena da Luna

    Avcola, uma empresa que produz aves, ovos e raes e, em conjunto com

    outras granjas de pequeno porte, se tornou fonte de ocupao e renda para os

    habitantes do meio rural.

    Dessa forma, a realidade agrcola do municpio arapiraquense carece de

    polticas que atendam aos interesses dos pequenos agricultores que convivem

    constantemente com a ausncia de assistncia por parte dos rgos agrcolas,

    produzindo abaixo de sua potencialidade.

  • O Papel dos Programas Sociais na Renda Familiar da Populao do Municpio de Arapiraca

    A populao do Municpio de Arapiraca conta ainda com uma fonte de

    renda do governo federal, atravs do Programa de Transferncia de Renda,

    onde em 2006, mais de 22.000 famlias (tabela 2) so beneficiadas, cerca de

    10% da populao (grfico 2). Tais recursos, de acordo com famlias

    beneficiadas, so utilizados como custeio de estudos e, em casos extremos,

    como nica fonte de renda de toda famlia.

    Tabela 2 Arapiraca: Programas de transferncia de renda Dezembro 2004/2006

    PROGRAMA

    NMERO DE FAMLIAS BENEFICIRIAS

    Dezembro

    2004 Dezembro

    2006 BOLSA FAMLIA 12.796 22.150 BOLSA ESCOLA 5.566 26 BOLSA ALIMENTAO 86 0 CARTO ALIMENTAO 0 0 AUXLIO GS 7.749 537

    Fonte: Ministrio do desenvolvimento Social e Combate Fome 2004/2006

    Grfico 2

    Programa de Transferncia de Renda da Populao do Municpio de Arapiraca AL

    1199.964

    90%

    222.00010%

    Fonte: Ministrio do desenvolvimento Social e Combate Fome 2006

    1 - Populao total 2 - Populao beneficiada

  • Em 2004 ocorreu a unificao dos programas Bolsa Escola, Bolsa

    Alimentao, Carto Alimentao e Auxlio Gs. Contudo, apenas 10% da

    populao beneficiada com tais recursos, insuficiente para atender ao grande

    nmero de pessoas desocupadas e sem renda.

    Destaca-se ainda, os benefcios emitidos pelo Ministrio da

    Previdncia Social populao arapiraquense (tabela 3), que expressa

    proporcionalmente, o nmero de beneficirios nos meios rural e urbano, entre

    os anos 2000 e 2005. O crescimento dos benefcios pode ser explicada pelo

    aumento da expectativa de vida, segundo dados da tabela 4, fato que obriga a

    ampliao dos benefcios para atender a parcela crescente de pessoas em

    idade de aposentadoria.

    Tabela 3

    Arapiraca: Quantidade de Benefcios Emitidos Dezembro 2000-05

    BENEFCIOS EMITIDOS

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 TOTAL 18.130 18.434 20.115 20.958 22.798 25.813 URBANA 10.084 10.418 11.318 11.836 13.174 14.513 RURAL 8.046 8.016 8.797 9.122 9.624 11.300

    Fonte: Ministrio da Previdncia Social MPS/ 2000-05

    Tabela 4 IDH - Longevidade 1991-2000

    IDH-Longevidade

    1991 2000 Brasil 0,662 0,727 Alagoas 0,552 0,646 Arapiraca-AL 0,525 0,650

    Fonte: PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

    Ao analisar os benefcios emitidos exclusivamente no ano de 2005

    (tabela 5), possvel identificar a proporo dessas aposentadorias em relao

    ao total dos habitantes. Observa-se que uma pequena parcela da populao,

    urbana ou rural, tem acesso aos benefcios da Previdncia Social, insuficiente

  • para atender s necessidades dos idosos que entram numa etapa onde deveria

    ter acesso sade, descanso e lazer, cruciais para sua qualidade de vida.

    Tabela 5 Quantidade de Benefcios Emitidos Populao do Municpio de

    Arapiraca AL. POPULAO

    TOTAL BENEFCIOS EMITIDOS

    % da populao*

    Arapiraca 199.964 25.813 11%

    Urbana 163.383 14.513 8%

    Rural 36.581 11.300 24% Fonte: Ministrio da Previdncia Social MPS/ 2005 * Refere-se porcentagem dos benefcios emitidos em relao populao de referncia.

    Assim, constata-se que proporcionalmente ao nmero de habitantes, o

    maior nmero de aposentadorias foi emitido populao rural, perfazendo um

    total de 24% de seus habitantes, sendo que esta equivale a 44% do total de

    benefcios emitidos no Municpio de Arapiraca. importante considerar que as

    condies de trabalho na qual o homem da zona rural est inserido, so

    extremamente desgastante, iniciando o trabalho na agricultura ainda em sua

    adolescncia, alm de estarem sujeitos s intempries climticas e estruturais,

    motivo pelo qual no lhe exigido comprovao do mesmo tempo de

    contribuio ao Ministrio da Previdncia Social que o habitante da zona

    urbana.

    Ocupao e Renda: Atividades agrcolas e No Agrcolas no Municpio de Arapiraca

    Em Arapiraca, o nmero de pessoas ocupadas por estrutura

    empresarial (tabela 6) tem maior expressividade no setor do comrcio;

    reparao de veculos automotores, objetos pessoais e domsticos, com cerca

    8.229 pessoas ocupadas, seguida pela administrao pblica, defesa e

  • seguridade com 4.675 e a indstria de transformao com 3.331 pessoas.

    Esses so os setores que oficialmente oferecem o maior nmero de

    ocupaes, representando apenas 8% do total de habitantes.

    Tabela 6 Arapiraca: Pessoas ocupadas por estrutura empresarial - 2004

    ESTRUTURA EMPRESARIAL NMERO

    DE UNIDADES

    LOCAIS

    TOTAL DE PESSOAS

    OCUPADAS

    Agricultura, pecuria, silvicultura e explorao florestal

    17 140

    Pesca 1 - Indstrias extrativas 3 35 Indstrias de transformao 264 3.331 Produo e distribuio de eletricidade, gs e gua

    1 -

    Construo 37 78 Comrcio; reparao de veculos automotores, objetos pessoais e domsticos

    2.632 8.229

    Alojamento e alimentao 96 417 Transporte, armazenagem e comunicaes 52 334 Intermediao financeira 75 160 Atividades imobilirias, aluguis e servios prestados s empresas

    163 600

    Administrao pblica, defesa e seguridade social

    3 4.675

    Educao 80 691 Sade e servios sociais 74 758 Outros servios coletivos, sociais e pessoais 251 453 Servios domsticos - Organismos internacionais e outras instituies extraterritoriais

    - -

    Fonte: IBGE,Cadastro Central de Empresas 2004. Pode-se constatar alteraes significativas nas relaes de ocupao

    familiar nas atividades agrcolas, e na expropriao sofrida pelos pequenos

    produtores, a exemplo da cultura fumageira, onde hoje predomina a mo-de-

    obra no remunerada ou familiar, como ressalta Oliveira:

    Durante a colheita de fumo, comum colocar-se as folhas de fumo em casas de pessoas que no tm roa para que essas pessoas destalagem as folhas que vo servir para fazer a corda de fumo, [...] Essas pessoas so pequenas produtoras que venderam seu pedao de terra e foram viver em outros lugares posteriormente retornaram sem conseguir nada e hoje trabalham em jornadas de forma espordica, quando algum oferece servio. Alm disso, tem aqueles que nunca foram trabalhadores rurais, portanto sempre viveram na cidade e que

  • hoje so aposentados e que durante a colheita do fumo, praticam essa atividade de destalar folhas de fumo na sua prpria casa. (OLIVEIRA, 2004: p. 70).

    importante ressaltar que as pessoas que realizam esse tipo de

    trabalho no so considerados trabalhadores rurais, o que significa a excluso

    dos mesmos nas aposentadorias rurais. Assim, mesmo que estejam exercendo

    atividade rural, no so reconhecidos como tal.

    Alteraes significativas no modo de vida da populao rural vm

    contribuindo para que as relaes de ocupao e renda passem por grandes

    transformaes, consequentemente influindo diretamente na qualidade de vida

    de toda uma comunidade.

    De acordo com o Censo Demogrfico do IBGE no ano 2000, das

    pessoas ocupadas em Arapiraca na agricultura, pecuria, silvicultura e

    explorao florestal, 24% esto empregadas, apenas 3% possuem carteira

    assinada, 21% no possuem carteira assinada, 1% empregador, 27%

    trabalha por conta prpria, 16% exerce trabalho no remunerado e 8%

    trabalham para o prprio consumo, perfazendo um total de 25.797 pessoas, ou

    11% do total dos seus habitantes.

    A populao da zona rural do municpio de Arapiraca atravessou ao

    longo dos anos um intenso processo de auge, declnio e substituio de

    culturas, consequentemente tendo que enfrentar alteraes significativas,

    obrigando-os a ampliar e/ou adotar novas alternativas de ocupao e renda

    que garantisse sua reproduo social.

    O espao rural contemporneo, visivelmente transformado, carece de

    um olhar mais apurado, principalmente no que se refere s relaes de

    ocupao e renda das famlias que habitam o campo, uma vez que possvel

    constatar, em determinadas reas, uma crescente ocupao dessas famlias

    em atividades no agrcolas como forma de melhorar a renda domstica e

    garantir sua permanncia no meio rural, atravs de um trabalho acessrio

    realizado na entressafra. Para Kautsky:

    Ganhar dinheiro torna-se cada vez mais importante para o pequeno lavrador, de modo que sua atividade secundria

  • passa a crescer enquanto a prpria lavoura de sustentao vai para o segundo plano. (KAUTSKY, 1986: p.150).

    Essa necessidade de complementao de renda atravs da ocupao

    em trabalhos no agrcolas acaba por causar a proletarizao do pequeno

    agricultor, obrigando-o a vender sua fora excedente de trabalho e

    submetendo-o explorao.

    Ao tratar sobre a Dinmica da Agricultura Familiar em Alagoas,

    Veras (2003: p. 19,20) apresenta dados que comprova a expanso do Produto

    Interno Bruto (PIB) de quatro municpios alagoanos, entre eles Arapiraca, entre

    os anos de 1970 e 1990 e sua reduo entre 1990 e 1996, colocando como

    principais causas:

    a) falta de dinamismo do setor industrial;

    b) baixo investimento em infra-estrutura;

    c) aplicao de parte da poupana privada em atividades no

    produtivas, bem como aplicao fora da regio;

    d) estagnao ou decrscimo de reas cultivadas;

    e) reduo do produto agrcola;

    f) estagnao ou reduo do rendimento da terra;

    g) quase desaparecimento da cadeia produtiva do algodo.

    Observamos assim, que as polticas pblicas agrcolas que contemple

    o pequeno agricultor so insuficientes e/ou ineficazes, o que tem contribudo

    para sua proletarizao e conseqente busca por atividades no agrcolas.

    Um exemplo o Programa de Financiamento da Agricultura Familiar

    PRONAF, do governo federal, associado a um projeto produtivo, com a

    liberao de recursos e posterior reembolso ao credor; em Arapiraca foi

    administrado por tcnicos da Secretaria Municipal de Agricultura SMA.

    Contudo, os agricultores no receberam informaes suficientes, pois segundo

    Nardi (2004, p. 110) Os tcnicos se limitavam a fornecer informaes gerais e

  • nenhuma sobre a maneira de preparar um projeto produtivo, que tipo e fazer o

    oramento, o que acabou gerando srios problemas aos beneficirios, uma

    vez que considerando o agricultor este dinheiro como doao, pois este ia

    ser utilizado inadequadamente para a compra de alimentos, roupas ou ainda

    sacar outras dvidas (idem, p.111).

    A decadncia da cultura do fumo e a consequente reduo da rea de

    cultivo e da expressiva utilizao de mo-de-obra (comum na forma de cultivo

    da regio fumageira alagoana), alterou significativamente as caractersticas de

    ocupao e renda do homem do campo, que passa a se dedicar a outras

    atividades econmicas, como forma de resistncia e permanncia no espao

    rural.

    Portanto, ficam evidentes, atravs das questes expostas, que a

    realidade arapiraquense de extrema precariedade, especialmente no tocante

    as relaes de ocupao e renda, estando o homem do campo merc do

    desmantelamento de seu modo de vida e sujeito a ineficcia de polticas

    pblicas nos mbitos federal, estadual e municipal que no levam em

    considerao suas necessidades, causando dependncia de polticas

    assistencialistas, aumento dos desocupados e sem renda, refletidos em

    pobreza e miserabilidade, alm do aumento da violncia.

    Consideraes finais

    Pode-se constatar a diversidade de questes que envolvem o espao

    agrrio do Municpio de Arapiraca. As discusses levam em considerao que

    cada lugar reflexo das relaes sociais, polticas e econmicas, estabelecidas

    em seu processo histrico.

    Com o declnio da cultura fumageira, que utilizava um grande nmero

    de trabalhadores, deixa a mo-de-obra existente fora das necessidades que as

    atuais culturas adotadas. No caso do cultivo da mandioca, so cerca de dois

    anos entre o plantio e a colheita, com pouca necessidade de cuidados nesse

    intervalo.

  • O Estado de Alagoas tem sua economia intimamente ligada

    atividade agrcola, destacando-se historicamente na monocultura agro-

    exportadora da cana de acar. Esse fato, porm fruto dentre outros

    aspectos, de polticas agrcolas que concedia benefcios aos usineiros

    latifundirios, atravs de iseno fiscal, emprstimos bancrios e assistncia

    tcnica em detrimento dos pequenos agricultores que sempre se depararam

    com a escassez de recursos para investimento agrcola.

    O Municpio de Arapiraca, ao longo de sua histria, encontra na

    agricultura a base de sustentao econmica que impulsiona as demais

    atividades e consequentemente, se torna responsvel pela organizao

    espao-territorial. Contudo, a cultura fumageira foi a maior responsvel pelas

    transformaes espaciais, quer no seu perodo ureo, quer com sua

    decadncia, especialmente nos anos de 1990 aos dias atuais.

    comum ouvir da populao, que durante a poca do fumo, no

    faltava trabalho para ningum e que o valor pago ao trabalhador era suficiente

    para sua manuteno at a prxima safra. Atualmente essa realidade est

    longe de ser (re)conhecida.

    A partir dos anos de 1980 a cultura do fumo, responsvel pelo perodo

    ureo da economia do Municpio, entra em processo de declnio. Porm, os

    anos de 1990 sero os mais crticos no que concerne ao empobrecimento dos

    pequenos agricultores e a ampliao da miserabilidade, com a reduo da

    necessidade de mo-de-obra e a reduo dos preos dos produtos agrcolas.

    Esse fato pode ser verificado ao compararmos a produo do fumo no

    municpio arapiraquense, a partir de dados do IBGE, que no ano de 1990 era

    de 14.400 toneladas numa rea de 12.000 hectares, chega ao ano 2000

    produzindo apenas 4.800 toneladas numa rea 6.000 hectares, portanto, uma

    reduo de 50% na rea plantada. Fato contrrio ocorrer com a Mandioca,

    que salta em 1990 de 13.200 toneladas numa rea de 1.000 hectares para

    92.802 toneladas numa rea de 6.000 hectares no ano 2000, portanto com um

    aumento de 600% em relao rea plantada.

    A periferia urbana permanece recebendo migrantes dos municpios

    circunvizinhos, em especial da zona rural, que vo viver em barracos de lona, a

    exemplo do lixo da cidade. Contudo, existe uma parcela que sonha em

  • retornar ao campo e voltar a se dedicar a agricultura, mesmo que para isso

    tenha que sobreviver de ocupaes temporrias ou de benefcios concedidos

    pelos programas sociais. Esse fato, aliado ao nmero de pessoas desocupadas

    j residentes no campo, pode aumentar ainda mais a pobreza e a misria

    verificadas entre os habitantes da zona rural que no possuem acesso a terra e

    que vivem dependentes de bicos.

    Conclui-se que as polticas pblicas pecam por fazer uma anlise

    macro-espacial e determina as necessidades do homem do campo, como se

    pudesse existir homogeneidade nacional, regional, estadual ou at mesmo

    municipal.

    Seria necessrio que os rgos pblicos buscassem nas comunidades,

    informaes necessrias para a adoo de polticas especficas, como

    assistncia tcnica, crdito ao pequeno produtor, planejamento para

    escoamento da produo, gerao de ocupao e renda para os moradores

    que no tem acesso a terra, dentre outros.

    Finalmente, defende-se a atividade agrcola como principal fonte da

    dignidade do homem do campo, mas que a dependncia de uma nica cultura,

    como a fumageira, acarretou, em funo do seu declnio, um rpido

    empobrecimento da populao em funo da falta de ocupao e renda. Que o

    pequeno agricultor a se ver sem amparo ou perspectivas obrigado a vender

    sua terra e abandonar a agricultura e buscar outras fontes de renda.

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