história da sapato

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Texto de Roberto Antunes Fleck Em 1984, um convite da então diretora da Casa de Cultura Mário Quintana, Iara Gay de Castro, estimulou a arte-educadora e artista Laura Castilhos a criar a Oficina de arte Sapato Florido. Com apoio da diretora e total liberdade, Laura conseguiu superar a falta de água na Casa, carregada de balde, e a necessidade de consumir energia elétrica improvisada. Quinze alunos ocupavam, de início, duas salas no 3º andar. Móveis cedidos pela SEC, outros trazidos de casa, como uma mesa e dois cavaletes, e muito ânimo pelo interesse dos alunos de 4 a 12 anos compunham um cenário de uma Oficina que se nutria do interesse dos pais pelo progresso das crianças. Cada família ou aluno trazia algum material: vassoura, pincel, tinta e a empresa Corfix que até hoje dá apoio a Oficina. Os pais intuíam ou conheciam o valor de uma oficina de arte no desenvolvimento integral dos filhos. Não era só uma conquista de aprender a pintar, desenhar ou modelar. Havia – e há – desafios de vencer comportamentos e posturas de vida para

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Sapato Florido CCMQ

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Page 1: História Da Sapato

Texto de Roberto Antunes Fleck

Em 1984, um convite da então diretora da Casa de Cultura

Mário Quintana, Iara Gay de Castro, estimulou a arte-educadora e

artista Laura Castilhos a criar a Oficina de arte Sapato Florido. Com

apoio da diretora e total liberdade, Laura conseguiu superar a falta

de água na Casa, carregada de balde, e a necessidade de consumir

energia elétrica improvisada.

Quinze alunos ocupavam, de início, duas salas no 3º andar.

Móveis cedidos pela SEC, outros trazidos de casa, como uma mesa

e dois cavaletes, e muito ânimo pelo interesse dos alunos de 4 a 12

anos compunham um cenário de uma Oficina que se nutria do

interesse dos pais pelo progresso das crianças. Cada família ou

aluno trazia algum material: vassoura, pincel, tinta e a empresa

Corfix que até hoje dá apoio a Oficina. Os pais intuíam ou

conheciam o valor de uma oficina de arte no desenvolvimento

integral dos filhos. Não era só uma conquista de aprender a pintar,

desenhar ou modelar. Havia – e há – desafios de vencer

comportamentos e posturas de vida para convertê-los em crianças

mais sadias. Argila, marcenaria, pintura, modelagem, desenho,

confiança, paciência, dedicação, carinho e fé no futuro forma e

continuam sendo ferramentas valiosas.

Passeios à Redenção e dias dedicados à fantasia, com

maquiagem e entrega as atividades lúdicas, e ao troca-troca,

quando um brinquedo descartado poderia ser trocado por outro

mais atraente, faziam parte do trabalho de arte-educação. Espaço

aberto à comunidade, inclusive para visitas, a Oficina atraía muitos

alunos cada vez que anunciavam novas inscrições.

Page 2: História Da Sapato

A Casa de Cultura Mário Quintana era visitada, com o apoio

dos professores, para que os alunos conhecessem sua arquitetura

e a retratassem em exercícios da linguagem plástica. Laura trouxe

uma experiência de trabalho em vilas, em Canoas e São Leopoldo,

no tempo em que era funcionária da Fundação Tarso Dutra,

misturava arte-educação com assistência social, catando piolhos ou

protegendo flagelados das enchentes. Sem muita experiência

profissional, Laura encontrou, aos 25 anos, na arte-educadora Vera

Kemmerich, hoje na Itália, uma parceira de trabalho cuja atuação foi

essencial na criação da Oficina.

Comerciantes do Centro de Porto Alegre compareciam às

reuniões da Oficina, interessados no crescimento dos filhos,

reforçando o valor do trabalho. Seus alunos, hoje adolescentes,

dispersaram-se. Lauram, às vezes, encontra na rua, Marcelus, na

época com 4 anos, que mora defronte a CCMQ, na rua da Praia.

Numa Casa de Cultura com apenas 15 funcionários, a Oficina

de Arte Sapato Florido somava-se às oficinas de teatro com Mima

Lunardi e literária com Simone Schmidt, além de uma Assessoria de

imprensa com o jornalista Nelson Carneiro da Cunha, e o setor de

patrimônio, entregue a uma arquiteta.

Depois da saída de Laura em 1986, Elena Quintana e Mara

Coelho continuaram seu trabalho na Oficina. Após a reconstrução

do prédio da CCMQ, eram ministrados cursos esporádicos, sem

uma orientação definida, até que em 1993 o Instituto Estadual de

Artes Visuais da Secretaria de Cultura passou a administrá-la, com

uma proposta contínua de arte-educação. O cotidiano é a matéria-

prima da oficina, quanto aos princípios, ao conhecimento

acumulado e os desafios a serem vencidos. Com 60 alunos em dez

Page 3: História Da Sapato

turmas, a Oficina conquistou uma segunda sala no 5º andar da

CCMQ.

1994 foi um ano de formação de recursos humanos em arte-

educação. Seus atraíram não só arte-educadores, mas terapeutas

ocupacionais, psicólogos e instrutores da FEBEM. Há também um

grupo de estudos que discute arte-educação semanalmente. O

interesse é como a criança elabora símbolos, arquétipos e

estereótipos. O conhecimento é procurado na antropologia,

sociologia, psicologia, semiologia, já que há pouca literatura

específica em arte-educação, constata uma das coordenadoras da

Oficina, Susana Vieira da Cunha. Ligada à realidade da criança, a

Oficina quer avançar, em todos os sentidos, sem estar alheia ao

que os alunos fazem.

Três frentes de atuação indicam o caminho: a atuação direta

com as crianças, a pesquisa e a formação de recursos humanos.

Uma das metas é ter um corpo fixo de professores. Apoio da

iniciativa privada nunca faltou. Corfix e Riocell são empresas

material para a Oficina e a Associação dos Amigos da Casa de

Cultura Mario Quintana também é um ponto de apoio em que ela se

sustenta.

A coordenação da Oficina pretende em 1995 um trabalho

integrado em artes visuais, teatro e música. Experiência e trabalho

não faltam. Um trabalho que gera muitos resultados: a Oficina já

vem prestando assessoria a instituições para que sejam instaladas

outras escolas do gênero em locais onde a necessidade é

testemunha dos anseios da comunidade.

Page 4: História Da Sapato

Texto de Susana Rangel Vieira da Cunha

Talvez o sonho de qualquer educador seja o de poder

viabilizar suas crenças. Não é nossa pretensão achar a Oficina de

Arte Sapato Florido seja um espaço do (im)possível. Acreditamos

que neste espaço possam ocorrer experiências em vários campos

do conhecimento com o jeito e a cara de cada um de nós, aí entra a

questão da diversidade na unidade. Não dá para dizer: Há um fio

condutor que encaminha nosso processo... O que podemos afirmar

é: Formamos uma teia de idéias de concepções de arte, mundo,

vida, educação que se entrelaçam formando um nova paisagem. O

modo como os arte-educadores organizam seu trabalho na oficina

resulta de buscas de referenciais teóricos, da manipulação

individual da linguagem visual – todos são artistas – e de uma

vontade muito grande de modificar e investigar o estabelecido. Não

estamos comprometidos com nenhum dos dois ismos ou

metodologias pré-estabelecidas, tentamos construir teorias e

métodos a partir do conhecimento acumulado e do conhecimento

descoberto em nosso cotidiano da oficina e na VIDA.

Esta publicação é uma maneira da Oficina de Arte Sapato

Florido mostrar um trabalho que será em permanente mutação,

característica que mantém inquieto e produtivo nosso grupo de arte-

educadores.

Page 5: História Da Sapato

Linha do tempo

1984-1989

Laura Castilhos

Vera Kemmerich

Mara Coelho

Elena Quintana

1993

Celso Vitelli

Elton Manganelli

Fabiana Leitão Rossarola

Flávia Duzzo

Jovita Pena Sommer

Maria Luiza Assis Brasil

Marilice Corona

1994

Alexandra Eckert

Alice Benvenutti

Celso Vitelli

Elton Manganelli

Fabiana Leitão Rossarola

Luciano Tomasi

Marcia Specht

Maria Margarita Kremer

Paola Menna Barreto