historia da educação b
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CENTRO UNIVERSITRIO CATLICO SALESIANO AUXILIUM
CURSOSLICENCIATURA EM PEDAGOGIA
COMPONENTE CURRICULAR:-
HISTRIA DA EDUCAO
DOCUMENTOS E INSTRUES PARA ESTUDO
PROFESSOR RESPONSVEL: Jos Mdice
ANO 2011
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INDICE
ASPECTOS HISTRICOS DA EDUCAO NO BRASIL ............................................ ................................ ................................. 3
HISTRIA DA EDUCAO ..................................................... ................................. ................................ ................................. ... 15
UM BREVE PASSEIO PELA HISTRIA DA EDUCAO .................... ................................. ................................. ................... 22
LINHA DO TEMPO: HISTRIA DA EDUCAO NO BRASIL .................................. ............................... ................................ 28
BIBLIOGRAFIA .............................. ................................ ................................ ................................. ................................ .............. 36
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ASPECTOS HISTRICOS DA EDUCAO NO BRASIL
Objetivos da Disciplina Histria da Educao
Oferecer ao educando uma oportunidade de reflexo sobre a educao no passado, para que possacompreender a educao atual e contribuir de forma eficaz para o desenvolvimento de um sistema
educacional mais voltado a realizao humana; ressaltar os aspectos essenciais de cada perodo e situara educao de cada poca em seu contexto scio-econmico.
Conhecer um pequeno panorama histrico da educao no Brasil desde a fase colonial at o perodocontemporneo da Repblica.
Compreender os comentrios sobre a herana legada pelos jesutas e pela Igreja Catlica nodesenvolvimento da educao formal no Brasil.
Investigar o "sentido da educao no Brasil" levando em conta a relao entre Estado, Educao eSociedade.
Contedos Educao Jesutica. Ensino Rgio. Educao na poca da Monarquia. Educao na Repblica.
1. INTRODUO
Nesta unidade estudaremos os fundamentos histricos, filosficos e sociolgicos que marcarama educao no Brasil ao longo de cinco sculos. Iniciaremos nosso estudo pelos jesutas quetiveram importncia decisiva no projeto portugus de expanso mercantil-cristo. Posteriormente,
passaremos ao estudo das Reformas Pombalinas que colocaram em cena o Estado enquanto
agente educacional. No sculo XIX, o Brasil atinge a condio de pas soberano, estruturando-seem torno do regime monrquico e com ele novas iniciativas so tomadas no campo da educaoescolar. Finalmente a ltima parte vai contemplar o estudo da educao brasileira no perodorepublicano.
2 - EDUCAO JESUTICA
Os jesutas foram referncias fundamentais e bsicas em termos de educao no Brasil -Colnia, de 1549 quando desembarcaram em Salvador na Bahia a bordo de uma expedio quetrazia o primeiro Governador-Geral Tom de Souza at 1759 quando foram expulsos peloMarqus de Pombal. Podemos dizer mesmo que ao longo desses quase duzentos anos, as prticas
formais de educao estiveram sob o controle desses padres, membros da Companhia de Jesus.Na realidade difcil entender a presena dos jesutas no Brasil sem contextualizar osacontecimentos histricos que envolveram a Europa e a Amrica na poca Moderna do sculoXV ao XVIII. Como sabemos, a partir do sculo XV, acelerou na Europa o processo capitalista derelaes econmicas, marcado pela circulao de mercadorias - essa fase do capitalismo ficouconhecida por mercantilismo. Por outro lado, ocorre de forma desigual, a constituio poltica doEstado Nacional - conhecido por absolutismo.
A combinao entre Estado Absolutista e mercantilismo foi decisiva para desencadear umacorrida entre as naes europias pelo controle de rotas comerciais terrestres e martimas. Essacorrida se justificava pelo princpio mercantilista de que o Estado se fortaleceria na economia,
poltica e militarmente conforme o acmulo de riquezas em metais. A partir de ento, a Europa
vida por ouro, prata, produtos tropicais e especiarias, vai desbravar os oceanos e mares,conquistando e explorando pores da sia e do litoral africano, culminando com o"descobrimento" da Amrica.
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A conquista e a colonizao da Amrica, sobretudo, por parte de Portugal e Espanha seinscrevem, portanto, na perspectiva econmica do mercantilismo, ou seja, as metrpoles ibricastinham como objetivo fundamental auferir a maior quantidade possvel de riqueza, tanto emmetais como em matrias-primas e produtos tropicais. Se de um lado podemos explicar acolonizao do Brasil como parte de um sistema econmico europeu, por outro lado, no
podemos esquecer o quadro histrico-religioso por que passava a Europa na mesma poca.A Europa Moderna assistiu a quebra da hegemonia da Igreja catlica, hegemonia esta que ela
havia consolidada desde os tempos da Idade Mdia, do sculo 5 ao 15.
As idias de Martinho Lutero na Alemanha desencadearam um movimento reformista nocristianismo com repercusses por toda a Europa questionando as prticas da Igreja catlica. Afim de reafirmar seus dogmas a hierarquia da Igreja catlica convocou um Conclio na cidade deTrento, na Itlia, entre os anos de 1545 e 1563, desencadeando uma forte represso aosmovimentos protestantes. Entre os instrumentos utilizados a Igreja catlica lanou mo daCompanhia de Jesus, fundada pouco tempo antes do Conclio de Trento pelo religioso espanholIgncio de Loyola.
A importncia da Companhia de Jesus na estratgia da Igreja de combate o ao protestantismo estavacircunscrita ao campo da misso evangelizadora. Por meio de seus membros - os jesutas - a Igrejainvestia na educao das elites europias, impedindo assim a propagao das idias reformistas ereafirmando os dogmas defendidos pela Santa S. Os povos ibricos aderiram prontamente aos ideaisda Contra-Reforma catlica tanto na luta contra os mouros (rabes islamizados que controlavamterritrios na Pennsula Ibrica) como na colonizao da Amrica.
Dependia-se, portanto, do que foi afirmado anteriormente, que a colonizao do Brasil emparticular, e da Amrica Latina como um todo, foi obra de um duplo projeto: de um lado, o econmico,expresso pelo mercantilismo e, de outro lado, o cultural-religioso, expresso pela expanso docristianismo catlico. Afirmamos que a colonizao do Brasil ocorreu nos quadros de expansomercantilista e catlica. Assim, a metrpole lusitana transplantou, para a colnia brasileira, seu prpriomodelo cultural.
Desse modo, o desembarque de alguns poucos padres jesutas sob o comando do Padre Manuel daNbrega em 1549 no ocorreu por acaso, mas sim, estava perfeitamente de acordo com o projeto
colonizador portugus. Conforme o Regimento de 1548, que estabelecia os parmetros colonizadoresna Amrica Portuguesa, cabia aos colonos o papel de "converso dos indgenas f catlica pelacatequese e pela instruo" (RIBEIRO, 2003,p. 18).
A importncia dos Regimentos de 1548 em termos educacionais est no fato de se constituir noprimeiro documento escrito que trata da educao, ainda que no formule um sistema organizado esistematizado, atribuindo uma funo aos objetivos educacionais - aculturao dos nativos - edelegando poderes para o exerccio da mesma funo a um grupo especfico - os religiosos catlicos.Ainda sobre a relevncia dos Regimentos de 1548 assim se refere Luiz A. de Mattos: dele dependeria(... ) o xito da arrojada empresa colonizadora; pois que, somente pela aculturao sistemtica eintensiva do elemento indgena aos valores espirituais e morais da civilizao ocidental e crist que acolonizao portuguesa poderia lanar razes definitivas (... ) (apud RIBEIRO, 2003, p. 18).
Embora os Regimentos fizessem referncias explicitamente aos indgenas como foco das aeseducacionais, o Padre Manoel da Nbrega elaborou um plano de ao para os jesutas que envolviaoutros grupos sociais como filhos e filhas de colonos e at em algumas circunstncias, negrosescravos. Este plano, com a finalidade de atingir seus objetivos de catequizar e instruir inclua comoobjeto de aprendizagem o portugus, a doutrina crist, ler e escrever; canto orfenico e msicainstrumental; aprendizagem profissional e agrcola; aula de gramtica e viagem de estudos Europa.
A prtica pedaggica consistia em atividades diversas como pequenas encenaes teatrais, cantos defundo religioso, alm de atividades prticas como a lida com a terra e pequenos ofcios. Em muitoscasos os prprios padres jesutas aprendiam a lngua tupi-guarani, cujo conhecimento facilitava ocontato e as prticas educacionais de catequizao e instruo juntos aos indgenas.
De forma que relativamente em pouco tempo os jesutas haviam fundado igrejas, colgios,
seminrios, misses e recolhimentos por diversas localidades da costa brasileira, que serviam comoabrigos para o exerccio de suas atividades de tal forma que marcaram profundamente a vida colonialnos primeiros duzentos anos de colonizao. Sabemos ainda que os jesutas traziam para si no s a
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responsabilidade da educao dos gentios como tambm procurava controlar as prticas morais doscolonos brancos.
Percebemos que, a partir de 1570, com a morte do Padre Manoel da Nbrega, o planoeducacional dele foi abandonado pelos jesutas que passaram a assumir o plano educacional geralda Companhia de Jesus, chamado de Ratio Studiorum. Por meio da adoo do Ratio observamosuma tendncia que ser dominante na histria da educao brasileira: a da separao entre ainstruo mnima para os "de baixo" e formao clssica para os "do alto". Do ponto de vista
prtico, significava que, aos filhos dos colonizados brancos, o ensino monopolizado pelos jesutas
se destinava formao humanstica e intelectual de fundo europeu; e aos ndios, negros emestios bastava a catequizao.
o Ratio constitua-se num plano educacional extremamente rgido em termos de prticaspedaggicas e controle de idias. Estava dividido em trs etapas: as humanas, os cursos superioresde filosofia e teologia e a complementao dos estudos na Europa, sobretudo, em Portugal, em
particular na medieval Universidade de Coimbra. Da o carter elitista dessa educao, poissomente os filhos dos mais ricos podiam concluir seus estudos no Velho Mundo. Aos nativos
bastavam a catequizao e o ensino de prticas profissionais ou agrcolas.Mas, o Ratio se afastava do pensamento cientfico que poca dava seus
primeiros passos na Europa: o seu objetivo acima de tudo religioso, o seu contedo literrio, ametodologia dos cursos inferiores (humanidades), que culminava com o movimento denominado'imitao, ou seja, a prtica destinada a adquirir o estilo literrio de autores clssicos (".)'(Larroyo, 1970, p. 390), e a dos cursos superiores (filosofia e teologia), subordinada ao'escolasticismo', faziam com que no s os religiosos de profisso como os intelectuais de formageral se afastassem no apenas de outras orientaes religiosas como tambm do espritocientfico nascente e que atinge, durante o sculo XVII, uma etapa bastante significativa(RIBEIRO, 2003, p. 26).
Com as transformaes provocadas pela reestruturao do sistema produtivo capitalista quemarcaram profundamente as relaes entre as naes europias no sculo XVIII, a Metrpole
portuguesa procura adaptar-se aos novos tempos. Para tanto, adota medidas de cunho reformistatanto em termos polticos como econmicos e educacionais. Esse reformismo inviabilizou a
permanncia dos jesutas na colnia culminando com sua expulso em 1759.3 ENSINO RGIO
O sculo XVIII foi marcado por profundas transformaes tanto no campo econmico epoltico, como no campo das idias. Na realidade tais mudanas j vinham ocorrendo desde osculo anterior quando um conjunto de revolues intitulados Revolues Inglesas abriamcaminho para a consolidao dos ideais da burguesia vida por parte da poltica, pois podereconmico j possuam. Mas no sculo XVIII que a radicalizao desses processosrevolucionrios vai ser determinante a tal ponto que o historiador britnico Eric J. Hobsbawm
batiza-o de a "Era das Revolues Burguesas".
No campo econmico assistimos a emergncia da Revoluo Industrial naInglaterra, constituindo-se em uma transformao radical no processo de produo, pois a baseprodutiva da sociedade foi o que incorporou mquinas na fabricao de mercadorias, acelerando aindustrializao como nunca ocorrera na histria do homem, Com a industrializao o capitalismod um salto adiante colocando em xeque s prticas mercantilistas em vigor at ento. Em termos
polticos o Estado Nacional Absolutista comea a dar sinais de esgotamento, sobretudo, com aemergncia da Revoluo Americana de 1776 a 1777 que culminou com a Independncia dosEUA e com a ecloso da Revoluo Francesa de 1789 que, juntas, constituram-se em modelos demovimentos revolucionrios anti-absolutistas tanto na Europa como na Amrica.
Do ponto de vista cultural a propagao das idias iluministas foi decisiva para o aparecimentode um novo conceito de homem, de poltica e de valores a serem defendidos.
O "Sculo das Luzes" constitui-se em um movimento intelectual de carter burgus quepreconiza a defesa de um Estado Liberal, a livre concorrncia como fundamento das relaes
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econmicas, a valorizao da razo e da cincia como paradigmas a serem seguidos pelo homemcombatem a influncia da religio e a interferncia da Igreja em assuntos de Estado.
Em Portugal, esse clima de efervescncia que passava a Europa, principalmente, Inglaterra eFrana, demorou muito a ganhar adeptos. Portugal, assim como Espanha, ficou a margem dasmudanas que vinham transcorrendo no sculo XVII, perdendo importncia em termoseconmicos e polticos. No soube investir as riquezas fornecidas pela colnia em atividadeindustrial e com isso passou para a rbita de dependncia econmica em relao a Inglaterra. Poroutro lado, no tocante ao campo intelectual e cultural, a forte influncia da Igreja catlica impediu
que em Portugal as idias de liberalismo, racionalismo e cientificismo fossem livrementedebatidas internamente.
Esse atraso lusitano em relao s demais potncias europias comea a ser superado quando orei D. Joo I, chamado de "ilustrado" por conta da influncia que sofreu das idias iluministas,designou para ser ministro de Estado Sebastio Jos de Carvalho e Mello, o Marqus de Pombal.Este imbudo do desejo de modernizar e elevar o Estado portugus condio das naes maisadiantadas quela poca promove uma ampla reforma no Estado lusitano e seus domnios. Crioucompanhias de comrcio, revogou o Tratado de Methuen que favorecia amplamente os interessescomerciais ingleses, alm de profissionalizar as carreiras burocrticas de Estado afastando anobreza parasitria.
No campo educacional, as Reformas de Pombal atingem em cheio o monoplio do ensino porparte dos jesutas, determinando a expulso dos membros da Companhia de Jesus tanto dePortugal como do Brasil. Assim, Pombal alegou para tanto "razes de Estado", alegando que aCompanhia de Jesus no trabalhava para o engrandecimento do Estado portugus e sim para o seu
prprio fortalecimento.Entretanto, outras razes so identificadas por estudiosos do assunto. Maria Luisa Santos
Ribeiro (2003, p. 28), por exemplo, observa que o confronto entre o Estado e a Companhia deJesus tm razes de natureza econmica, isso porque, a partir da instituio do "padro deRedzima" em 1564 "10% de toda arrecadao dos dzimos reais (impostos), em todas ascapitanias da colnia e seus povoados, ficavam para sempre vinculados manuteno e sustentodos colegas jesuticos." Os lucros obtidos pelos jesutas por meio de impostos com o tempo
emprestaram-lhe muito poder, passando a incomodar os interesses da Metrpole lusitana,culminando com a expulso da Companhia de Jesus em 1759.Em 28 de junho de 1759 foi expedido o Alvar Rgio que determinava a organizao da
educao sob o financiamento e tutela do Estado. Esse Alvar constitui-se, na realidade, numaregulamentao oficial do ensino, criando legislao prpria, exigncias para o exerccio domagistrio, instituindo a origem dos recursos destinados educao, entre outras medidas: oAlvar de 28 jun. 1759 criava o cargo de diretor geral dos estudos, determinava a prestao deexames para todos os professores, que passaram a gozar do direito de nobres, proibia o ensino
pblico ou particular sem licena do diretor geral dos estudos e designava comissrios para olevantamento sobre o estado das escolas e professores (RIBEIRO, 2003, p. 33).
Na prtica o Ensino Rgio institudo pelas reformas de Pombal no passava de aulas avulsas
que ficavam a cargo de professores selecionados rigidamente por meio de exames oficiais e cujaremunerao ficava a cargo dos prprios alunos. Diferentemente da organicidade do ensinooferecido pelos jesutas, o ensino rgio era extremamente fragmentado, pois era constitudo dedisciplinas isoladas, sem uniformidade. Valmir Chagas, estudioso da educao brasileira, sintetizao modelo de aulas rgias da seguinte forma: Cada aula regia constitua uma unidade de ensino,com professor nico, instalada para determinada disciplina. Era autnoma e isolada, pois no searticulava com outras bem pertencia a qualquer escola. No havia currculo, no sentido de umconjunto de estudos ordenados e hierarquizados, nem a durao prefixada se condicionava aodesenvolvimento de qualquer matria. O aluno se matriculava em tantas 'aulas' quantas fossem asdisciplinas que desejasse.
Para agravar esse quadro, os professores eram geralmente de baixo nvel, porque improvisados
e mal pagos, em contraste com o magistrio dos jesutas, cujo preparo chegava ao requinte (apudPILETI, 2006, p. 37).
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O Alvar ainda determinava o ensino de lnguas modernas concomitantes ao do latim e dogrego, introduzindo ainda algumas cincias como aritmtica e geometria, alm das cinciasnaturais. A concluso dos estudos em nvel superior dava-se no Reino, principalmente, naUniversidade de Coimbra, tambm, reformada por Pombal a fim de aproxim-Ia do ensino de"esprito cientfico" que marcava as demais universidades europias da poca.
Mais uma vez observa-se que predomina, assim como na educao jesutica, um ensino decarter marcadamente elitista, dimensionando o trabalho intelectual em detrimento do manualvalorizando a cultura europia.
Esse padro de Ensino Rgio vai entrar no sculo 19, permanecendo como marca da educaobrasileira durante os anos de regime monrquico. Com o falecimento do rei D. Joo I subiu aotrono portugus sua filha D. Maria I que vai promover uma retomada da "tradio" lusitana,afastando o Marqus de Pombal e revogando vrios pontos de sua reforma. No tocante ao EnsinoRgio, contudo, permanecem inalterados em suas linhas gerais, apenas que passa a vigorar ochamado "subsdio literrio", uma espcie de imposto destinado ao pagamento das despesas comeducao por parte do Estado.
4. EDUCAO NA POCA DA MONARQUIA
O sculo 19 iniciou-se sob o signo da guerra na Europa com consequencias importantes para oBrasil. As guerras napolenicas fustigaram as Cortes de Portugal e Espanha e abriram caminho
para os movimentos de independncia das colnias latino-americanas.No caso da Espanha, Napoleo Bonaparte destituiu o rei e em seu lugar colocou seu prprio
irmo, Jos Bonaparte. Diferentemente, Portugal viu-se invadido pelas tropas do General Junot e,dada a incapacidade de reao, a Famlia Real e a Corte como um todo fugiram para o Brasil,escoltadas pela Real Marinho britnica. Abria-se ento uma etapa decisiva nos destinos do Brasilque culminaria com a Independncia em 1822 e a conseqente consolidao do regimemonrquico ao longo de quase todo o sculo 19. Ao desembarcar em 1808 inicialmente emSalvador e posteriormente no Rio de Janeiro, D. Joo VI vai implementar uma poltica que visavaelevar o Brasil condio de capital do vasto imprio lusitano, j que Lisboa estava sob ocupao
francesa.No campo econmico celebrar tratados amplamente favorveis aos interesses britnicos noBrasil, alm de decretar a "abertura dos portos s naes amigas", atitude que na prtica ps fimao monoplio comercial por parte da metrpole, rompendo, dessa forma, com os fundamentos docolonialismo mercantilista - o pacto colonial.
As necessidades impostas pela contingncia do Brasil que se torna sede do imprio lusitanolevaram D. Joo VI a investir em iniciativas no campo cultural promovendo a inaugurao daImprensa Rgia, da Biblioteca Pblica, do Jardim Botnico e do Museu Nacional. Por outro lado,havia a necessidade da profissionalizao da burocracia do Estado e das foras militares,obrigando a interveno de D. Joo VI no campo educacional com vistas a atender s urgnciasque se faziam nesses setores. Da a abertura de cursos superiores de natureza profissionalizante:
No campo dos estudos superiores destaca-se a criao de academias e aulas, principalmente noRio de Janeiro: Academia Real da Marinha (1808), Aula de Economia Poltica (1808), Escola deAnatomia e Cirurgia (1809), Aula de Comrcio (1809), Academia Real Militar (1810) e Aula deBotnica (1812). Na Bahia implantada a Escola de Cirurgia (1808) e em Pernambuco um cursode matemtica (1814) (VEIGA, 2007, p. 141).
Esses cursos, na realidade, no constituam um sistema estruturalmente organizado, mas eramministrados isoladamente, visando atender apenas a uma necessidade que se fazia urgente. Nosdemais nveis de ensino permaneceu a mesma tnica dos perodos anteriores. As escolas de nvelelementar e as de nvel secundrio continuaram isoladas tal qual no modelo das Aulas Rgias dapoca de Pombal, privilegiando elementos das camadas aristocrticas.
A mudana nos rumos da poltica europia a partir de 1815 e a Revoluo Constitucionalista do
Porto em 1820 so decisivas para que D. Joo VI e a Famlia Real retornem Lisboa a fim dereassumirem o trono portugus. A insistncia da Corte lusitana em tomar medidas no sentido dereestabelecer o pacto colonial, mobiliza a elite aristocrtica brasileira desejosa em manter
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livremente relaes comerciais com os ingleses. Assim, fruto de um "arranjo poltico", em 1822vir o rompimento definitivo com Portugal, fazendo surgir o Brasil independente e a nicamonarquia entre repblicas na Amrica.
A condio de autonomia poltica, no entanto, no alterou profundamente as estruturas internas,sobretudo, porque foi mantido o regime de trabalho escravo. Alm disso, fortaleceram-se asrelaes de dependncia econmica em relao aos centros mundiais do capitalismo, em
particular, a Inglaterra e no que concerne educao, pouco ou quase nada, foi alterada em suasestruturas.
A Constituio de 1824, a primeira Carta Magna do Brasil - Independente, previa em relao educao princpios muito vagos e gerais: em seu artigo 179 estabelecia a gratuidade da educaoem nvel primrio para todos os cidados, mas que em termos prticos pouco acrescentou arealidade da educao existente at ento.
Ainda no Primeiro Reinado (1822-1831), tivemos uma tentativa de reforma educacional pormeio do Projeto Janurio da Cunha Barbosa que resultou em lei em 1827 instituindo a"distribuio racional por todo o territrio nacional, mas apenas as escolas de primeiras letras, oque equivale a uma limitao quanto ao grau (s um) e quanto aos objetivos de tal grau primeirasletras" (RIBEIRO, 2003, p. 46).
Desse modo, persiste a predominncia do ensino superior com a abertura de cursos jurdicos noRecife e em So Paulo em 1827, instituies que se constituram posteriormente em refernciasnacionais em termos de formao jurdica.
As necessidades de aparelhamento do recm-fundado Estado Nacional valorizam ainda mais acarreira jurdica e de demais profissionais de nvel superior. Com isso consolida o divrcio entreeducao e sociedade, pois conforme afirma o socilogo Prsio Santos Oliveira, "a educao noservia para promover o desenvolvimento da sociedade, e sim para dar 'classificao', isto , darmaior prestgio social aos da classe social mais elevada" (1998, p. 164).
O ensino fundamental, portanto, ficar durante todo o sculo 19, e por que no dizer, ao longode boa parte do sculo 20, longe de ser prioridade do Estado brasileiro, trazendo comoconseqncia a marginalizao educacional de imensos contingentes de brasileiros. A educaoescolar torna-se um privilgio de poucos que freqentam escolas leigas ou mantidas por ordens e
congregaes religiosas, atendendo a uma parcela minoritria do conjunto da sociedade. Comisso, afirma-se a hegemonia de uma elite economicamente dominante e que, ao "ilustrar" seusfilhos atravs da educao, passa, tambm, a controlar os cargos pblicos, notadamente, noexerccio da poltica partidria e no aparelho judicirio.
De 1831 a 1840 a monarquia brasileira viveu um interregno entre a abdicao de D. Pedra I e ochamado golpe da Maioridade que elevou D. Pedro II ao trono. Perodo marcado por inmerasrevoltas nas provncias, crise econmica em decorrncia da ausncia de um produto-chave queligasse o Brasil aos mercados europeus e sucessivos conflitos entre as elites polticas, que por
pouco provocaram a quebra da unidade territorial do Imprio.Durante essa fase conturbada, dois fatos tiveram importncia no tocante da educao: o decreto
do Ato Adicional de 1834 e a criao do Colgio Pedro II em 1836. O primeiro fato alterava a
Constituio de 1824 estabelecendo a descentralizao poltica por meio das AssembliasLegislativas Provinciais, atribuindo, especificamente, no particular educao, que caberia sProvncias a competncia de promov-la nos nveis primrio e secundrio. J os cursos superiores
permaneciam sob a competncia do governo central.J o fato da criao do Colgio Pedra II teve um efeito, a longo prazo, de se constituir em uma
instituio de referncia nacional em termos de currculo e mtodos de ensino. Mantido pelopoder central, o Colgio Pedra II possua ainda autorizao jurdica para realizar exames queconferiam aos aprovados o ttulo de bacharel, condio indispensvel para o ingresso em cursossuperiores. Ao longo de sua histria o Colgio Pedra II tornou-se smbolo de distino para osfilhos das elites aristocrticas e rurais brasileiras.
A segunda metade do sculo 19 foi marcada por transformaes importantes na base econmica
brasileira, sobretudo, por conta do caf que passa a ser o produto-chave da base econmica eassim permanecer at pelo menos metade do sculo 20. A economia cafeeira gerou sinais demodernizao, principalmente, no eixo So Paulo-Rio de Janeiro, percebveis atravs das
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ferrovias, de melhoramentos urbanos e importao de produtos industriais e mquinas.Possibilitando uma nascente burguesia urbana. Por outro lado, o caf reforou a "vocao"agrcola do Brasil e por isso a lgica perversa de que educao no prioridade do Estado.
Nesse sentido, em termos educacionais os quase cinqenta anos do Reinado de D. Pedra IIpouco acrescentaram ao modelo j existente, quando muito uma tentativa de reforma apresentadaem 1879 por Lencio de Carvalho que apresentava iniciativas no campo do exerccio domagistrio e da liberdade para a adoo dos mais variados mtodos de ensino.
No entanto, pouco ou quase nada foi aplicado, na prtica, no gerando conseqncias reais ouconcretas. Fora isso, podemos registrar a iniciativa educacional de particulares tomada por
protestantes que fundam escolas primrias em So Paulo e de adeptos da filosofia positivista queexerceu forte influncia sobre uma parte da intelectualidade brasileira da segunda metade dosculo 19 e das primeiras dcadas do sculo 20.
De tal sorte que o Brasil terminou o sculo 19 ainda sem uma organizao de um sistema deeducao em termos nacionais. As transformaes verificadas a partir de 1870, motivadas porfatores internos como externos, levam uma parte da intelectualidade brasileira a combater oregime monrquico reivindicando a extino da escravido e a adoo do regime republicano degoverno.
Nesse contexto de ampla discusso pblica por meio da imprensa e debates polticos, surgempropostas reformistas em diversos campos de interesse, procurando elevar o Brasil ao patamar dasnovas necessidades impostas pela segunda Revoluo Industrial que reestruturou as relaes entreas naes, exigindo maior competitividade econmica e impondo a cincia como base dodesenvolvimento.
Nesse quadro, era urgente que o Brasil promovesse uma "revoluo" no campo da educao,como muitos intelectuais da poca pregavam, emergindo um clima de "entusiasmo pelaeducao", tal como expresso utilizada por Paulo Ghiraldelli Jnior.
Esse entusiasmo vai marcar os debates polticos e intelectuais do perodo de transio daMonarquia para a Repblica.
5. EDUCAO NA REPBLICAComo sabemos, a Repblica no Brasil foi fruto de um golpe militar em 15 de novembro de
1889, como resultado de uma convergncia de interesses entre setores do Exrcito, elite do cafde So Paulo e setores intelectuais de classe mdia. Passados os primeiros tempos marcados porenorme euforia com o futuro do pas, surgem as cises dentro do grupo republicano, levandomuitos a se "desiludirem" com os rumos tomados pelo novo regime. A partir de 1894 o poder
passa a ser controlado pela oligarquia do caf que permanece hegemnico at 1930.A base da economia permanece sendo agrrio-exportadora e a sociedade predominantemente
rural com elevados ndices de analfabetismo. A nascente repblica, na realidade, d continuidadea "vocao" agrcola do Brasil e interessava elite poltica a manuteno das estruturas
fundamentais do pas, ou seja, em um cenrio predominantemente rural e agrrio no existe anecessidade de investimentos em educao escolar.Por conta disso, a poltica educacional ditada pelo Estado pouco altera a trajetria da escola que
existia nos tempos da Monarquia, continuando a priorizar o ensino secundrio e superior emantendo o princpio constitucional de que cabia aos Estados legislar sobre ensino primrio.
Observamos ainda que, a respeito da falta de prioridade em relao educao bsica, algumaspoucas iniciativas foram tomadas durante a Primeira Repblica (1889-1930), tambm chamada deRepblica Velha, todas elas com carter reformista, mas que pouco ou nada modificaram o
panorama educacional brasileiro: Reforma BenjamimConstant (1891) Reforma Rivadvia Correia (1911), Reforma Carlos Maximiano (1915) e
Reforma Luiz Alves Rocha Vaz (1925).
A 1a Guerra Mundial (1914-1918) imps a 'necessidade ao Brasil de produzir internamenteprodutos at ento importados, acarretando com isso um relativo surto industrial e urbano. Emconcernncia com os novos tempos, a dcada de 20 ser marcada por manifestaes e iniciativas
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importantes que se constituiro em marcos histricos no processo de renovao cultural eintelectual. A Semana de Arte Moderna de 1922 e a fundao da Associao Brasileira deEducao em 1924 so exemplos de acontecimentos relevantes que demonstram o envolvimentoda sociedade nas discusses sobre novos rumos para o pas: No final dos anos 20, o entusiasmo
pela educao e o otimismo pedaggico se completaram e se chocaram, desdobrando-se pelasociedade civil atravs das Conferncias Brasileiras de Educao, promovidas pela AssociaoBrasileira de Educao (ABE). Enquanto no mbito da sociedade poltica, a poltica educacionalvigente tendeu a abandonar o entusiasmo pela educao e adotar o otimismo pedaggico, no
mbito da sociedade civil o nascimento da ABE (1924) retirou do Congresso Nacional omonoplio da discusso educacional, colaborando assim para o afloramento das contradiesinternas tanto do 'entusiasmo' quanto do 'otimismo' (GHIRALDELLI JNIOR, 2001, p. 19).
Registramos, ainda, diversas iniciativas reformistas no campo educacional em vrios estados dafederao ao longo dos anos de 1920, tais como as "de So Paulo, por Sampaio Dria (1920), a doCear, por Loureno Filho (1922), a do Distrito Federal, por Carneiro Leo (1922), a da Bahia,
por Ansio Teixeira (1924), a do Rio Grande do Norte, por Bezerra de Meneses (1925), a doParan, por Lismaco da Costa (1927)" (BUFFA, 1997, p. 61).
Os efeitos prticos dessa dcada de grande agitao no campo cultural, intelectual eeducacional podero ser medidos a partir das dcadas seguintes. Uma conjugao de fatoresinternos e externos colaboraram para a ecloso da Revoluo de 1930 que encerrou o predomniooligrquico no poder federal e marcou um rearranjo das classes dominantes que passaram a imporum novo modelo de Estado e de desenvolvimento econmico.
Inicia-se, assim, o perodo histrico conhecido com Era Vargas caracterizado pela opo daindustrializao fortemente ancorada pela interveno estatal, processo que traz comoconseqncia visvel a urbanizao.
Na dcada de 1930 tm continuidade os debates intelectuais sobre os rumos da educao doBrasil culminando com o Manifesto dos Pioneiros da Educao em 1932, conjunto de propostas
pedaggicas e de polticas educacionais de corte renovadora e porque no dizer, radicais para apoca, que reuniu inmeros educadores e intelectuais das mais diversas tendncias ideolgicascomo Fernando Azevedo, Ansio Teixeira, Paschoal Lemme, Loureno Filho entre tantos outros.
Vale ressaltar que, nos debates em torno da educao promovido por educadores e intelectuaisdos anos de 1920 e 1930 e que se prolongaro at os anos de 1960, havia muitas divergnciasentre as correntes de pensamento que se destacaram. Estas correntes de pensamentos so: liberais,catlicos e vertentes mais esquerda, cada uma tinha seu modo de pensar, e desenvolver projetos
prprios de reforma educacional, no havendo, portanto, uma unanimidade em torno do tema.Ghiraldelli Jr. (2001), em seu estudo sobre a histria da educao no Brasil, elenca trs
personalidades, nesse contexto dos anos 20-30, como ilustradores da diversidade de pensamentoeducacional: Ansio Teixeira, como pensador liberal, Fernando Azevedo como pensador
positivista e Alceu Amoroso Lima (Tristo de Athayde), como pensador catlico:
Para Ansio a escola deveria ser democrtica, nica, contrapeso aos males e desigualdades
sociais provocados capitalista (p. 42).
Para Fernando Azevedo a escola deveria ter um papel de formadora de elites, sendo que aeducao apenas rearranjaria os indivduos na sociedade de acordo com suas aptides (p. 43).
Alceu de Amoroso Lima (Tristo de Athade), j como intelectual porta-voz da posio catlicae secretrio da LEC (Liga Eleitoral Catlica), tratou de. dar combate impiedoso aos liberais,escrevendo que o 'Manifesto', ao consagrar a escola pblica obrigatria, gratuita e laica, retirava aeducao das mos famlia e destrua assim os princpios de liberdade de ensino (p. 43).
As idias e propostas desse debate foram parcialmente incorporadas pela Constituio de 1934
e pela Reforma Francisco Campos em 1931. Assim, esses dois documentos oficiais constituram-se em paradigmas para a efetiva construo de um sistema educacional de mbito nacional. A
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Carta de 34, por exemplo, estabelece princpios - educao como direito, obrigatoriedade egratuidade do ensino primrio -, e atribuies a Unio - assistncia, controle e fiscalizao.
A Reforma Francisco Campos, por sua vez, amplia a competncia da Unio ao promover acriao do Conselho Nacional de Educao, reorganizando, estruturando e normatizando o ensinosecundrio, ensino comercial e ensino superior. Data ainda desse perodo a inaugurao dosistema universitrio brasileiro com a criao da Universidade de So Paulo (USP) e organizaoda Universidade do Distrito Federal. Apesar dos novos rumos tomados pela educao no Brasil,
percebemos mais uma vez a negligncia do Estado para com o ensino primrio.
O radicalismo poltico na Europa dos anos de 1930 atinge seu apogeu opondo de um lado osgrupos de esquerda ligados ao socialismo e ao comunismo e de outro os de direita simbolizados
pelo Fascismo na Itlia, pelo Nazismo na Alemanha e pelo Franquismo na Espanha. Esse clima deextremismos chega ao Brasil contagiando agrupamentos ligados ao comunismo - ANL e ao nazi-fascismo - AIB. Diante desse quadro de radicalizao, o governo Vargas fecha o regime,
perpetrando um golpe de Estado em 1937.
Uma nova carta constitucional foi imposta nao de feies nitidamente autoritria ecentralizadora que em termos educacionais manteve os princpios anteriormente previstos pelaCarta de 34, atribuindo a maiores funes ao governo central. O Estado Novo, assim, estruturadoem bases ditatoriais, vai utilizar como instrumento de poltica educacional as chamadas ReformasCapanema - conjunto de medidas capitaneadas pelo Ministro da Educao Gustavo Capanemaque visavam dar maior consistncia ao incipiente sistema educacional brasileiro.
A Reforma Capanema, tambm, conhecida como Leis Orgnicas de Ensino, visava darconsistncia estrutural ao sistema escolar brasileiro desde o ensino primrio at o ensino superior,
passando pelo ensino secundrio, industrial, comercial, normal e agrcola. Alm disso, em funodas novas necessidades do capitalismo brasileiro, a qualificao da mo-de-obra torna-se umaimposio, contribuindo para a aproximao entre Estado e Indstria surgindo iniciativas como o
Servio Nacional de Aprendizagem Industrial e Servio Nacional de Aprendizagem Comercial.A poltica educacional criada pelo regime autoritrio do Estado Novo teve o mrito de tornar o
sistema escolar brasileiro organicamente estruturado estabelecendo durao, currculos, exames eobjetivos a serem alcanados conforme cada nvel de ensino. A longo prazo, esse sistemaeducacional permaneceu como praticamente intacto at as reformas dos anos de 1970 introduzidas pela Ditadura Militar. Apesar disso, a ditadura varguista por conta de sua natureza autoritriasilenciou na sociedade o debate profcuo em torno do Brasil e seus problemas e em especial emtorno da educao, debate este que vinha desde os anos de 1920:
A poltica educacional estadonovista provocou srias divises no grupo dos escolanovistas. Osliberais igualitaristas, que tinham seu expoente mximo em Ansio Teixeira, se afastaram de
compromissos ideolgicos com o governo. Os liberais elitistas se dividiram; alguns, comoFernando de Azevedo, mantiveram uma certa distncia da ditadura, outros, como Loureno Filho,endossaram o novo regime e participaram dele (GHIRALDELLI JNIOR, 2001, p. 93).
Aps O golpe militar de 1945 que ps fim aos quinze anos da Era Vargas, o debate em torno doBrasil ser retomado por uma nova gerao de intelectuais, como Florestan Fernandes, CaioPrado Jnior, Nelson Werneck Sodr, criando um clima de efervescncia at pelo menos o finaldos anos de 1960.
A queda de Vargas abriu caminho para um curto perodo de democracia, tendo como pano defundo o contexto da Guerra Fria, ou seja, do embate entre capitalismo e comunismo, patrocinado
por EUA e URSS, duas superpotncias vitoriosas na 2a Guerra Mundial (1939-1945). A derrotada ideologia nazi-fascista na Europa deixou tambm suas vtimas no Brasil, entre elas, a prpria
ditadura do Estado Novo.Respirando os novos ventos da democracia, uma Assemblia Nacional Constituinte
convocada que conclui seus trabalhos em 1946 entregando uma nova Carta nao. De carter
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liberal a Constituio de 46, em termos educacionais, manteve os princpios gerais daConstituio de 1934, no tocante a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primrio, permitindo acoexistncia da escola mantida pelo poder pblico e as escolas de iniciativa privada. Trouxe deinovao a incumbncia da Unio em estabelecer as "diretrizes e bases da educao nacional".
O projeto de lei que viria se constituir na LDB de 1961 transcorreu ao longo de treze anos noCongresso Nacional envolvendo defensores da escola pblica, de um lado, e defensores da escola
privada, de outro. Tal debate no ficou restrito ao ambiente parlamentar, ganhando granderepercusso na sociedade civil. Ao longo da dcada de 1960 diversas manifestaes, convenes e
campanhas da sociedade civil pautaram a luta em favor da escola pblica. Florestan Fernandes,um dos grandes entusiastas dessa luta,em seu artigo em defesa da escola pblica, afirmava poca:
Os brasileiros tm pouco de que se orgulhar [... ] H milhes de analfabetos no Brasil. Notemos uma boa escola primria; no dispomos de uma boa rede de ensino secundrio, profissionale superior; no contamos com nmero suficiente de professores bem formados para todas essasescolas, etc. (FERNANDES, 1966, p. 387).
Sancionada pelo presidente Joo Goulart, a LDB 4024/61, na realidade, j estava superadapelas necessidades educacionais da poca, causando decepo em inmeros setores da intelectualidade e dos educadores brasileiros.
A LDB de 1961 reorganizou o sistema escolar em ensino prima no, ginasial e colegial;preservou princpios e objetivos de inspirao liberal e democrtica e estipulou estruturascurriculares mnimas obrigatrias nacionais. Previa ainda a LDB de 1961 que caberia a Unioimplementar um Plano Nacional de Educao que entrou em vigor em 1962, estabelecendo metase objetivos a serem atingidas pelo governo num prazo de oito anos. Tais objetivos, no entanto,no foram alcanados devido ao golpe militar de maro de 1964, interrompendo, assim, um breveinterregno de democracia na histria republicana do pas.
O clima de confronto ideolgico e mobilizao popular caracterstico da "repblica populista"colocaram em risco os interesses das classes dominantes e grupos conservadores que, apoiados
pela estratgia norte-americana de combater o "perigo do comunismo", optaram pelo golpe deEstado e pelo fechamento do regime poltico. De maro de 1964 a maro de 1985, o Brasil foi
governado por presidentes-generais que construram um Estado autoritrio e antidemocrtico earticulado com o capital nacional e as multinacionais.No campo da educao coube ao Regime Militar desmobilizar, inicialmente, os movimentos de
estudantes e intelectuais, movimentos esses que havia desde o final do Estado Novo. Recai,portanto, sobre esses movimentos forte represso do Estado, desarticulando as mobilizaes eesvaziando as reivindicaes.
Por meio de legislao educacional autoritria, o Regime Militar impe sua poltica deeducao: em 1967 cria o Movimento Brasileiro de Alfabetizao, sob o pretexto de combater oanalfabetismo, mas que na realidade visava conter a experincia de mobilizao popular iniciada
por Paulo Freire no Nordeste no incio dos anos 60, acusada pelo regime de "movimentosubversivo".
Em 1968, ano que marca a imposio do Ato Institucional (AI) n 5, Decreto que justificou asprticas de violncia do Estado, anunciada as reformas do sistema universitrio por meio da Lei5540/68, mais conhecida como acordos MEC-USAID (agncia norte-americana para odesenvolvimento internacional).
A reforma introduz uma reorganizao tanto no aspecto acadmico como administrativo dasuniversidades, visando, fundamentalmente, atrelar as finalidades do ensino superior aos interessesde qualificao de mo-de-obra, tendo em vista os fortssimos investimentos no setor industrial ede infra-estrutura do pas, por parte do Estado e do capital estrangeiro.
Em 1971 uma nova Lei de Diretrizes e Bases entra em vigor revogando a LDB de 1961. Novaestruturao ao sistema escolar imposta passando a ser aglutinado em graus:
1. Grau (oito anos de durao, correspondendo ao antigo primrio e ginsio), 2. Grau (trs
anos de durao, correspondendo ao antigo colegial e compulsoriamente profissionalizante).
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Em termos curriculares so eliminadas disciplinas consideradas "ideolgicas" como Filosofia,Histria e Geografia e em seus lugares so introduzidas Educao Moral e Cvica, EstudosSociais e Organizao Social Poltica e Econmica Brasileira.
Toda a poltica educacional adotada pela Ditadura Militar tinha por objetivo desmobilizarestudantes e proporcionar uma educao extremamente acrtica embasada em prticas
pedaggicas autoritrias e tradicionais ancoradas em um sistema de avaliao punitivo e queexigia dos alunos a memorizao. Por fim, refletindo as caractersticas autoritrias do regime, aliberdade de ensino foi tolhida em todos os nveis, fato que refletiu na aposentadoria compulsria
e no exlio de inmeros professores.A partir da dcada de 1980, com o arrefecimento das disputas ideolgicas da Guerra Fria e a
reestruturao do sistema produtivo capitalista mundial que passa a ingressar em sua fase deglobalizao-neoliberal, observamos que, internamente, a Ditadura Militar comea a dar sinais deesgotamento.
Pressionada interna e externamente por grupos favorveis a polticas democrticas e de respeitoaos direitos humanos, aos poucos, o regime - dentro de sua lgica de abertura gradual e segura -vai concedendo abertura para a sociedade civil que se reorganiza em partidos polticos, sindicatose organizaes estudantis. De tal forma que em maro de 1985, o ltimo presidente-general JooBatista Figueiredo substitudo por um civil, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional,dando incio a uma longa transio poltica.
Em relao ao quadro da educao no Brasil do final do sculo 20 e incio do sculo 21, o quetemos uma situao extremamente catica. Praticamente metade da populao constituda deanalfabetos e semiletrados", ndices de evaso e reprovao escolar alarmantes, muitas crianas e
jovens em idade escolar sem vagas no sistema pblico de ensino e outros tantos problemasenvolvendo o sistema educacional brasileiro.
Para fazer frente aos novos desafios impostos pela reestruturao do sistema capitalista, osgovernos da chamada Nova Repblica (1985) passam a tomar iniciativas mais pontuais no campoda educao escolar. O ponto de partida nessa direo foi tomado pela Constituio de 1988.
Nela, est consagrado o dever do Estado para com a educao, dever este compartilhado com afamlia e a sociedade; ficam estabelecidos princpios bsicos de ensino fundamentados nos ideais
liberais e democrticos; ficam previstos constitucionalmente os recursos financeiros para aeducao estipulando percentuais mnimos de investimento para o poder pblico; ficam fixadoscontedos mnimos nacionalmente em termos de organizao curricular.
O passo seguinte foi sano de uma nova Lei de Diretrizes e Bases para a Educao Nacional- Lei Federal n. 9394/96 que representou um avano expressivo no sentido de alcanar um sistemaeducacional tanto em termos qualitativos como quantitativos eficientes. Alm de reestruturar osnveis de ensinos que so: ensino bsico (infantil, fundamental, mdio) e superior, prev aobrigatoriedade do ensino fundamental e a gesto democrtica das unidades escolares.
As polticas educacionais dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luis Incio Lula da Silvaprocuram implementar, na prtica, os avanos previstos pela Constituio de 88 e da LDB de 96,procurando criar mecanismos efetivos para o cumprimento dos dispositivos legais. Para isso
criaram fundos que visam manter na escola crianas e jovens oriundos de famlias maisnecessitadas: o Fundef no governo FHC e o Fundeb no governo Lula.Uma conseqncia visvel desse esforo recente do Estado brasileiro possvel de ser
observado mediante dados oficiais: aumento crescente do nmero de matrculas no ensinofundamental e diminuio da evaso escolar. Isso, no entanto, no impede de reconhecerinmeros problemas envolvendo a educao escolar brasileira, sobretudo, no que diz respeito aodesempenho qualitativo do processo de ensino-aprendizagem.
6 CONSIDERAES FINAISA jornada longa, para que a venamos necessrio muita leitura e empenho de cada um de
ns.
No fique s nas sugestes das aulas, v para outros campos. Viaje na imaginao.Lembre-se, ningum tropea em uma montanha, pois todo mundo v. Tropeamos sim nas
pequenas pedras.
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7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARANHA, Maria Lcia de Arruda. Histria da educao. 2. ed. So Paulo: Moderna, 1996.
BUFFA, Ester & NOSELLA, Paolo. A educao negada: introduo ao estudo da educaobrasileira contempornea. 2. ed. So Paulo: Cortez, 1997.
FERNANDES, Florestan. Educao e sociedade no Brasil. So Paulo: Dominus, 1966.
GHIRALDELLI Jr., Paulo. Histria da educao. 2. ed. So Paulo: Cortez, 2001.
LIBNEO, Jos Carlos; OLIVEIRA, Jos Ferreira de; TOSCHI, Mirza SEABRA. Educaoescolar: polticas, estrutura e organizao. 3. ed. So Paulo: Cortez, 2006.
OLIVEIRA, Prsio Santos de. Introduo sociologia da educao. 3. ed. So Paulo: tica,1998.
PILETTI, Nelson. Histria da educao no Brasil. 7. ed. So Paulo: tica, 2006.
RIBEIRO, Maria Luisa Santos Ribeiro. Histria da educao brasileira: a organizao escolar.19 a. ed. Campinas: Autores Associados, 2003.
STEPHANOU, Maria & BASTOS, Maria Helena Cmara (Orgs.). Histrias e memrias daeducao no Brasil. sculos 16-18. Petrpolis: Vozes, 2004. v. 1.
___ (Orgs.). Histrias e memrias da educao no Brasil sculo 19. Petrpolis: Vozes,2005. v. 2.
VEIGA, Cynthia Greive. Histria da educao. So Paulo: tica, 2007.
Fonte de pesquisa e compilao(Apostila do Prof. Ms.Rubens Arantes Correa)
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HISTRIA DA EDUCAO
TEXTO DEMARIALCIAARRUDAARANHA
A pedagogia a teoria crtica da educao, isto , da ao do homem quando transmite ou modifica
a herana cultural. A educao no um fenmeno neutro, mas sofre os efeitos da ideologia, por estarde fato envolvida na poltica.
Sociedades Tribais: a educao difusa
Nas comunidades tribais as crianas aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades dirias
e nas cerimnias dos rituais. As crianas aprendem "para a vida e por meio da vida", sem que algum
esteja especialmente destinado a tarefa de ensinar.
Antigidade Oriental: a educao tradicionalista
Nas sociedades orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a populao, composta por
lavradores, comerciantes e artesos, no tem direitos polticos nem acesso ao saber da classe
dominante. A princpio o conhecimento da escrita bastante restrito, devido ao seu carter sagrado e
esotrico. Tem incio, ento, o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino para o povo e outro
para os filhos dos funcionrios. A grande massa excluda da escola e restringida educao familiar
informal.
Antigidade Grega: a Paidia
A Grcia Clssica pode ser considerada o bero da pedagogia. A palavra paidagogos significa
aquele que conduz a criana, no caso o escravo que acompanha a criana escola. Com o tempo, o
sentido se amplia para designar toda a teoria da educao. De modo geral, a educao grega est
constantemente centrada na formao integral corpo e esprito mesmo que, de fato, a nfase se
deslocasse ora mais para o preparo esportivo ora para o debate intelectual, conforme a poca ou lugar.
Nos primeiro tempos, quando no existia a escrita, a educao ministrada pela prpria famlia,
conforme a tradio religiosa. Apenas com o advento das pleis comeam a aparecer as primeiras
escolas, visando a atender a demanda.
Antigidade Romana: a humanitas
De maneira geral, podemos distinguir trs fases na educao romana: a latina original, de natureza
patriarcal; depois, a influncia do helenismo criticada pelos defensores da tradio; por fim, d-se a
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fuso entre a cultura romana e a helenstica, que j supe elementos orientas, mas ntida supremacia
dos valores gregos.
Idade Mdia: a formao do homem de f
Os parmetros da educao na idade mdia se fundam na concepo do homem como criaturadivina, de passagem pela Terra e que deve cuidar, em primeiro lugar, da salvao da alma e da vida
eterna. Tendo em vista as possveis contradies entre f e razo, recomenda-se respeitar sempre o
princpio da autoridade, que exige humildade para consultar os grandes sbios e intrpretes,
autorizados pela igreja, sobre a leitura dos clssicos e dos textos sagrados. Evita-se, assim, a
pluralidade de interpretaes e se mantm a coeso da igreja. Predomina a viso teocntrica, a de Deus
como fundamento de toda a ao pedaggica e finalidade da formao do cristo. Quanto s tcnicas
de ensinar, a maneira de pensar rigorosa e formal cada vez mais determina os passos do trabalho
escolar
Renascimento: humanismo e reforma
Educar torna-se questo de moda e uma exigncia, segundo a nova concepo de homem. O
aparecimento dos colgios, do sculo XVI at o XVIII, fenmeno correlato ao surgimento de uma
nova imagem da infncia e da famlia. A meta da escola no se restringe transmisso de
conhecimentos, mas a formao moral. Essa sociedade, embora rejeite a autoridade dogmtica da
cultura eclesistica medieval, mantm-se ainda fortemente hierarquizada: exclui dos propsitos
educacionais a grande massa popular, com exceo dos reformadores protestantes, que agem por
interesses religiosos
Brasil: incio da colonizao e catequese
A atividade missionria facilita sobremaneira a dominao metropolitana e, nessas circunstncias, a
educao assume papel de agente colonizador.
Idade Moderna: a pedagogia realista
De maneira geral as escolas continuam ministrando um ensino conservador, predominantemente nas
mos dos jesutas. Alm disso, preciso reconhecer, est nascendo a escola tradicional, como
passaremos a conhec-la a partir do sculo XIX.
O Brasil do sc. XVII
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Por se tratar de uma sociedade agrria e escravista, no h interesse pela educao elementar, da a
grande massa de iletrados.
Sculo das Luzes: o ideal liberal de educao
O iluminismo um perodo muito rico em reflexes pedaggicas. Um de seus aspectos marcantes
est na pedagogia poltica, centrada no esforo para tornar a escola leiga e funo do Estado. Apesar
dos projetos de estender a educao a todos os cidados, prevalece a diferena de ensino, ou seja, umaescola para o povo e outra para a burguesia. Essa dualidade era aceita com grande tranqilidade, sem o
temor de ferir o preceito de igualdade, to caro aos ideais revolucionrios. Afinal, para a doutrina
liberal, o talento e a capacidade no so iguais, e portanto os homens no so iguais em riqueza
O Brasil na era pombalina
Persiste o panorama do analfabetismo e do ensino precrio, agravado com a expulso dos jesutas e
pela democracia da reforma pombalina. A educao est a deriva. Durante esse longo perodo do
Brasil colnia, aumenta o fosso entre os letrados e a maioria da populao analfabeta.
Sculo XIX: a educao nacional
no sc. XIX que se concretizam, com a interveno cada vez maior do Estado para estabelecer a
escola elementar universal, leiga, gratuita e obrigatria. Enfatiza-se a relao entre educao e bem-
estar social, estabilidade, progresso e capacidade de transformao. Da, o interesse pelo ensino
tcnico ou pela expanso das disciplinas cientficas.
Principais pedagogos:
Pestalozzi considerado um dos defensores da escola popular extensiva a todos. Reconhece
firmemente a funo social do ensino, que no se acha restrito formao do gentil-homem.
Froebel privilegia a atividade ldica por perceber o significado funcional do jogo e do brinquedo
para o desenvolvimento sensrio-motor e inventa mtodos para aperfeioar as habilidades.
Herbartsegundo ele, a conduta pedaggica segue trs procedimentos bsicos: o governo, a instruo
e a disciplina.
Brasil: a educao no Imprio
Ainda no h propriamente o que poderia ser chamada de uma pedagogia brasileira. uma atuaoirregular, fragmentria e quase nunca com resultados satisfatrios. O golpe de misericrdia que
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prejudicou de uma vez a educao brasileira vem de uma emenda Constituio, o Ato adicional de
1834. Essa reforma descentraliza o ensino, atribuindo Coroa a funo de promover e regulamentar o
ensino superior, enquanto que as provncias so destinadas a escola elementar e a secundria. A
educao da elite fica a cargo do poder central e a do povo confinada s provncias.
Sculo XX: a educao para a democracia
A pedagogia do sculo XX, alm de ser tributria da psicologia, da sociologia e de outras como a
economia, a lingstica, a antropologia, tem acentuado a exigncia que vem desde a Idade moderna,
qual seja, a incluso da cultura cientfica como parte do contedo a ser ensinado.
Sociologia: Durkheim
Antes dele a teoria da educao era feita de forma predominantemente intelectualista, por demais
presa a uma viso filosfica idealista e individualista. Durkheim introduz a atitude descritiva, voltada
para o exame dos elementos do fato da educao, aos quais aplica o mtodo cientfico.
Psicologia: o behaviorismo
O mtodo dessa corrente privilegia os procedimentos que levam em conta a exterioridade do
comportamento, o nico considerado capaz de ser submetido a controle e experimentao objetivos.
Suas experincias so ampliadas e aplicadas nos EUA por Watson e posteriormente por Skinner. O
behaviorismo est nos pressupostos da orientao tecnicista da educao.
Gestalt
As aplicaes das descobertas gestaltistas na educao so importantes por recusar o exerccio
mecnico no processo de aprendizagem. Apenas as situaes que ocasionam experincias ricas e
variadas levam o sujeito ao amadurecimento e emergncia do insight.
Dewey e a escola progressiva
O fim da educao no formar a criana de acordo com modelos, nem orient-la para uma ao
futura, mas dar-lhe condies para que resolva por si prpria os seus problemas. A educao
progressiva consiste justamente no crescimento constante da vida, medida que aumentamos ocontedo da experincia e o controle que exercemos sobre ela. Ao contrrio da educao tradicional,
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que valoriza a obedincia, Dewey estimula o esprito de iniciativa e independncia, que leva
autonomia e ao autogoverno, virtudes de uma sociedade democrtica.
Realizaes da escola nova
Principais caractersticas da escola nova:Educao integral (intelectual, moral, fsica); educao ativa; educao prtica, sendo obrigatrios
os trabalhos manuais; exerccios de autonomia; vida no campo; internato; co-educao; ensino
individualizado. Para tanto as atividades so centradas nos alunos, tendo em vista a estimulao da
iniciativa. Escolas de mtodos ativos: Montessori e Decroly Montessori estimula a atividade livre
concentrada, com base no princpio da auto-educao. Decroly observa, de maneira pertinente, que,
enquanto o adulto capaz de analisar, separar o todo em partes, a criana tende para as representaes
globais, de conjunto. Resta lembrar outros riscos dessa proposta: o puerilismo ou pedocentrismo
supervaloriza a criana e minimiza o papel do professor, quase omisso nas formas mais radicais do
no-diretivismo; a preocupao excessiva com o psicolgico intensifica o individualismo; a oposio
ao autoritarismo da escola tradicional resulta em ausncia de disciplina; a nfase no processo faz
descuidar da transmisso do contedo.
Teoria socialistaGramsci
A educao proposta por ele est centrada no valor do trabalho e na tarefa de superar as dicotomias
existentes entre o fazer e o pensar, entre cultura erudita e cultura popular. Teorias crtico-
reprodutivistas Por diversos caminhos chegaram a seguinte concluso: a escola est de tal forma
condicionada pela sociedade dividida que, ao invs de democratizar, reproduz as diferenas sociais,
perpetuando o status quo.
Teorias progressistasSnyders Contra as pedagogias no-diretivas, defende o papel do professor, a
quem atribui uma funo poltica. Condena a proposta de desescolarizao de Ivan Illich. Ressalta o
carter contraditrio da escola, que pode desenvolver a contra-educao.
Teorias antiautoritriasCarl Rogers Visam antes de tudo colocar o aluno como centro do processo
educativo, como sujeito, livrando-o do papel controlador do professor. O professor deve acompanhar o
aluno sem dirigi-lo, o que significa dar condies para que ele desenvolva sua experincia e se
estruture, por conta prpria. O principal representante dessa teoria Carl Rogers. Segundo ele, a
prpria relao entre as pessoas que promove o crescimento de cada uma, ou seja, o ato educativo
essencialmente relacional e no individual.Escola tecnicista
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Proposta consiste em: planejamento e organizao racional da atividade pedaggica;
operacionalizao dos objetivos; parcelamento do trabalho, com especializao das funes; ensino
por computador, telensino, procurando tornar a aprendizagem mais objetiva.
Teorias construtivistas
Piaget segundo ele, medida que a influncia do meio altera o equilbrio, a inteligncia, queexerce funo adaptativa por excelncia, restabelece a auto-regulao.
Vygotshy - Ao analisar os fenmenos da linguagem e do pensamento, busca compreend-los dentro
do processo scio-histrico como "internalizao das atividades socialmente enraizadas e
historicamente desenvolvidas". Portanto, a relao entre o sujeito que conhece e o mundo conhecido
no direta, mas se faz por mediao dos sistemas simblicos.
Brasil no sculo XX: o desafio da educao
Nesse contexto, os educadores da escola nova introduzem o pensamento liberal democrtico,
defendendo a escola pblica para todos, a fim de se alcanar uma sociedade igualitria e sem
privilgios. Podemos dizer que Paulo Freire um dos grandes pedagogos da atualidade, no s no
Brasil, mas tambm no mundo. Ele se embasa em uma teologia libertadora, preocupada com o
contraste entre a pobreza e a riqueza que resulta privilgios. Em sua obra Pedagogia do Oprimido faz
uma abordagem dialtica da realidade, cujos determinantes se encontram nos fatores econmicos,
polticos e sociais. Considera que o conhecer no pode ser um ato de "doao" do educador ao
educando, mas um processo que se estabelece no contato do homem com o mundo vivido. E este no
esttico, mas dinmico, em contnua transformao. Na educao autntica, superada a relao
vertical entre educador e educando e instaurada a relao dialgica. Paulo Freire defende a autogesto
pedaggica, o professor um animador do processo, evitando as formas de autoritarismo que
costumam minar a relao pedaggica. Na dcada de 70 destaca-se a produo terica dos crticos-
reprodutivistas, que desfazem as iluses da escola como veculo da democratizao. Com a difuso
dessas teorias no Brasil, diversos autores se empenham em fazer a reeleitura do nosso fracasso escolar.
A tarefa da pedagogia histrico-crtica se insere na tentativa de reverter o quadro de desorganizao
que torna uma escola excludente, com altos ndices de analfabetismo, evaso, repetncia e, portanto,
de seletividade. Para Saviani, tanto as pedagogias tradicionais como a escola nova e a pedagogia
tecnicista so, portanto, no-crticas, no sentido de no perceberem o comprometimento poltico e
ideolgico que a escola sempre teve com a classe dominante. J a partir de 70, comeam a ser
discutidos os determinantes sociais, isto , a maneira pela qual a estrutura scio-econmica condiciona
a educao. O trunfo de se tornar um dos pases mais ricos contrasta com o fato de ser um triste
recordista em concentrao de renda, com efeitos sociais perversos: conflitos com os sem-terra, ossem-teto, infncia abandonada, morticnio nas prises, nos campos, nos grandes centros. Persiste na
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educao uma grande defasagem entre o Brasil e os pases desenvolvidos, porque a populao no
recebeu at agora um ensino fundamental de qualidade.
A Educao no Terceiro Milnio
A exploso dos negcios mundiais, acompanhada pelo avano tecnolgico da crescente robotizao
e automao das empresas, nos faz antever profundas modificaes no trabalho e, conseqentemente,
na educao. Na tentativa de incorporar os novos recursos, no entanto, a escola nem sempre tem obtidosucesso porque, muitas vezes, apenas adquire as novas mquinas sem, no entanto, conseguir alterar a
tradio das aulas acadmicas. Diante das transformaes vertiginosas da alta tecnologia, que muda
em pouco tempo os produtos e a maneira de produzi-los, criando umas profisses e extinguindo outras.
Da a necessidade de uma educao permanente, que permita a continuidade dos estudos, e portanto de
acesso s informaes, mediante uma autoformao controlada.
Bibliografia
ARANHA, Maria Lcia Arruda.
Disponvel em-http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/historia-da-educacao-310/artigo/
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UM BREVE PASSEIO PELA HISTRIA DA EDUCAO
Um texto de Emilio Gennari
Disponvel em: http://www.espacoacademico.com.br/029/29cgennari.htm
Para comear a nossa conversa, no h nada melhor do que mergulhar no mar da histria. Vamos
voltar ao passado e, pela preciso, ao antigo Egito. Como toda sociedade que produz riquezas a partirda explorao da maioria dos seus habitantes, percebemos logo que o saber no democratizado e que
cada setor s tem acesso a um determinado tipo de educao.
Em grandes linhas, podemos dizer que no antigo Egito existem quatro grupos de pessoas que
recebem um ensino diferenciado: o fara e os senhores da corte, os escribas e todos aqueles que se
dedicam s funes administrativas, os artesos e, por ltimo, os escravos. Cerca de 2.600 anos antes
de Cristo, os filhos do fara, seus futuros conselheiros e os nobres do Egito so educados para dominar
a arte da palavra. Ao falar da instruo a eles destinada Ptahotep escreve:
Se a sua boca procede com palavras indignas, tu deves dom -lo em sua boca, inteiramente... A
palavra mais difcil do que qualquer trabalho, e seu conhecedor aquele que sabe us-la a propsito.
So artistas aqueles que falam no conselho... Reparem todos que so eles que aplacam a multido e
que sem eles no se consegue nenhuma riqueza. (Citado in: MANACORDA, 1996: 14)
Em portugus claro, para comandar e pr ordem na sociedade imprescindvel dominar a arte da
palavra. No pra menos. indispensvel saber falar em pblico tanto para intervir nos conselhos
restritos do poder, como para passar uma lbia na multido, acalmar seus nimos, justificar a represso
dos descontentes e reafirmar os valores dominantes como os nicos capazes de organizar a sociedade.
Mas a sociedade muda e fora o ensino destinado aos faras a adaptar-se s mudanas. L pelo ano
2.000 antes de Cristo os nobres do Egito conquistam a possibilidade de governar suas regies num
regime de maior autonomia em relao ao poder do fara. O pas dividido em feudos e comea um
perodo de desordem e agitao social. neste contexto que o ensino destinado s elites incorpora uma
formao mais aprimorada do homem poltico e a educao fsica como parte da preparao necessria
para eventuais enfrentamentos nos campos de batalha.
interessante reparar que o crculo dos nobres e da famlia do fara no se preocupa em ensinar a
seus filhos a escrever. Acontece que, nesta poca, a escrita apenas um instrumento que permite
registrar os atos oficiais e administrativos. Por isso, a tarefa de escrever deixada aos escribas que, em
geral, aprendem esta arte com os pais. Alm da escrita, as relaes que se desenvolvem no interior dos
crculos do poder impem que o ensino destinado a estas pessoas incorpore o aprendizado de um
profundo sentimento de obedincia e submisso. Neste sentido, Amenemope escreve:
Quando erras perante o teu superior e teus discursos ficam desconexos, tuas adulaes sero
retribudas com afrontas e tuas lisonjas com pancadas. Diga a verdade perante o nobre, para que no setorne dono de tua cabea. No escute as conversas de um magnata na sua casa e no as espalhes fora
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para outros. No ofendas a quem maior do que tu. Deixa que ele te bata enquanto a tua mo fica
sobre o peito; deixa que ele te ofenda enquanto a tua boca cala: amanh se estiveres na frente dele, te
dar po vontade. O co late para quem lhe d po, pois ele o seu dono. (Citado in id: 36)
No que diz respeito instruo dos artesos e das massas populares, Diadoro da Siclia nos traz uma
informao razoavelmente confivel:
O resto da multido dos egpcios aprende dos pais e dos parentes, desde a idade infantil, os ofciosque exercer na sua vida. Ensinam a ler e a escrever um pouquinho, no a todos, mas queles que se
dedicam a um ofcio. (Citado in id.: 39)
fundamental que voc saiba que este resto da multido, ao qual se ensinam as noes
necessrias para o exerccio da profisso e para os contatos sociais que ela supe, no inclui a massa
dos escravos. Para alm da concepo de mundo assimilada no interior do cl ou do seu grupo social, o
escravo ter o capataz como seu professor e o chicote como nico recurso pedaggico que lhe ensinar
com o sangue a trilhar o duro caminho da submisso e da dor.
Voc j deve ter percebido que no antigo Egito, como em toda sociedade dividida em classes, os
grupos dominantes usam o processo educativo como um meio para moldar as vrias camadas da
populao. Assim como o oleiro d forma ao barro para que ele se transforme num determinado
objeto, as elites se preocupam em formar cada setor da sociedade de acordo com a necessidade de
garantir a explorao e a ordem que proporciona a concretizao de seus interesses. Em outras
palavras, na civilizao egpcia j podemos visualizar uma caracterstica que vai se manter constante
ao longo da histria: h sempre uma relao direta entre o tipo de educao e a posio que o
indivduo ocupa na pirmide social.
Em Roma antiga, as coisas no so muito diferentes. L, o primeiro educador o pater familiae.
Desde a fundao da cidade, a autonomia da educao paterna uma lei do Estado pela qual o pai
dono e artfice de seus filhos. A antiga monarquia romana, de fato, uma repblica constituda pelos
proprietrios das terras e dos ncleos rurais (familiae), dos quais fazem parte as mulheres, os filhos, os
escravos, os animais e qualquer outro bem. O pai-proprietrio (pater) exerce sobre eles um poder
soberano que, entre outras coisas, lhe permite matar os filhos anormais, prender, flagelar, condenar aos
trabalhos agrcolas forados, vender ou matar os filhos rebeldes, mesmo quando, j adultos, estes
ocupam cargos pblicos.
A educao no seio dessa famlia visa, basicamente, o ensino das letras, do direito, o domnio da
retrica e das condies para desempenhar as atividades polticas, tpicas das classes dominantes.
Ainda que o desenvolvimento histrico imponha mudanas nos costumes e nas instituies que se
dedicam educao dos jovens, a organizao do Estado romano impede o livre acesso do povo
simples arte da palavra. As poucas escolas existentes tornam-se cada vez mais um meio para a
capacitao de um grupo restrito de indivduos, como burocratas, no poder do Estado.
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Neste contexto, feita exceo pela agricultura que um aspecto e uma fonte de domnio do pai-
proprietrio, todas as atividades produtivas so consideradas indignas de um homem livre. Exercidas
pelos escravos ou pelos estrangeiros que migram para Roma, seu ensino reservado aos membros
dessas classes sociais. diferena da situao que encontramos no Egito, em Roma nos deparamos
com a necessidade de fazer com que os conhecimentos e as habilidades de algumas profisses sejam
ensinados em escolas. Trata-se de um costume que os patres mais empreendedores praticam paramelhor explorar o trabalho servil. Alm de formarem escravos mais qualificados para serem
empregados em suas propriedades, as escolas profissionalizantes da poca permitiam utilizar o
ensino como investimento de capital na medida em que possibilitava vender ou alugar os mesmos
escravos a um preo bem mais alto.
Se verdade que, ao longo dos sculos, as descobertas da cincia e da tcnica impem mudanas
aos processos de aprendizagem, tambm verdade que cada passo do desenvolvimento histrico
impe a necessidade de resolver o velho problema de como e quanto instruir quem destinado no aos
crculos do poder e sim produo. Um documento do incio de 1400 (poca em que j temos uma
burguesia urbana no interior da sociedade feudal) nos ajuda a perceber melhor quanto acabamos de
afirmar:
Messer Giannozo Manetti nasceu no ano de 1393... O pai... , Bernardo, mandou-o, ainda de poucos
anos, segundo o costume da cidade, a aprender a ler e a escrever; tendo aprendido em pouco tempo
quanto necessrio para ser um bom mercador, passou-o para o baco e em poucos meses tornou-se
to douto naquela cincia quanto um profissional da mesma. Aos dez anos foi posto no banco e em
poucos meses lhe foi entregue a conta do caixa. Depois que, conforme o costume, ficou algum tempo
no caixa, foram-lhe entregues os livros e ele dedicou-se a este trabalho por vrios anos. Feito isso,
comeou a pensar consigo mesmo se seria possvel ele conquistar fama ou glria para si e para a sua
famlia com aquilo que estava fazendo, mas no viu essa possibilidade e chegou concluso de que o
nico meio para tanto era o estudo das letras: e por isso determinou absolutamente de, posposta
qualquer outra preocupao, dedicar-se a esses estudos. (Citado in id.: 171)
A preparao escolar de Messer Giannozzo feita em vista do exerccio de sua profisso. Ele
aprende gramtica, letras e clculo de acordo com um conjunto de noes bsicas que um bom
comerciante deve dominar, mas ainda trata-se de uma formao tcnica substancialmente diferenciada
daquela que se dirige a quantos se preparam para o exerccio do poder.
As coisas no mudam mesmo sob o impulso dos ideais da Revoluo Francesa. Os defensores de
uma educao pblica e universal fazem questo de reafirmar que o esforo de estender a instruo
escolar a todos os cidados no significa que ela tenha que ser igual para todos. Em 1809, por
exemplo, Murat escreve:
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necessrio que exista uma instruo para todos, uma para muitos e uma para poucos. A primeira
no deve fazer do povo tantos sbios, mas deve instru-lo tanto quanto basta para que possa tirar
proveito dos sbios. (Citado in id.: 256)
Se considerarmos o fato de que os sbios so os intelectuais a servio da ordem, podemos
tranqilamente concluir que se trata de um aprendizado cujo objetivo central garantir as condies
mnimas para que as classes trabalhadoras possam assimilar de maneira confivel a viso de mundo, asconvices e os valores dos grupos dominantes. Apesar de estarem empunhando a bandeira da
liberdade, igualdade e fraternidade e cantarem a marselhesa, os novos tubares vo levantando
novas e mais aprimoradas cercas.
Uma preocupao deste tipo j havia sido explicitada em 1803 pelo industrial e economista francs
Jean Baptiste Say. Suas observaes indicavam que a ignorncia e os efeitos da diviso do trabalho
produzem apenas operrios e operrias que se orientam somente por seus instintos egostas e
imediatos, ou seja, so pessoas incapazes de sentimentos e convices cvicas indispensveis para
manter suas aes nos limites da ordem. Para ele, um trabalhador embrutecido pela repetio e
simplicidade de suas tarefas, dificilmente capaz de conceber relaes gerais, sentimentos nobres
como, por exemplo, a compreenso de que o respeito pela propriedade privada favorece a
prosperidade pblica. Say encerra seu raciocnio com uma indagao que dispensa comentrios:
Como se poderia dar a eles o grau de instruo quejulgamos necessria para o bem estar da ordem
social?
A esta altura, espero que voc j no tenha dvidas quanto ao fato de que a educao numa
sociedade dividida em classes no se manifesta como um fim em si mesmo, e sim como um
instrumento de manuteno ou transformao de uma determinada ordem social. Orientada pelas
elites, a escola no tem apenas a tarefa de preparar os indivduos para um determinado tipo de
trabalho, mas tambm a de fazer com que eles incorporem valores, idias, critrios de anlise da
realidade e formas de comportamento capazes de garantir que as coisas at mudem... para que o
essencial (a explorao) possa continuar. Por isso, para a prpria classe dominante, importante que
todos freqentem as salas de aula e que a educao escolar de um certo nvel seja at mesmo
obrigatria e paga pelo Estado. Como reconhecia a imperatriz Maria Teresa da ustria j em 1760:
Em cada poca, a instruo , e sempre foi, um fato poltico. (Citado in MANACORDA, 1996:
247)
Vejo que est coando a cabea e, talvez, eu sei o que est pensando. Voc deve estar achando que
estas reflexes dizem respeito a pocas distantes, cheias de indivduos atrasados e autoritrios, e que as
democracias do terceiro milnio j deixaram para trs a viso que sustenta a minha anlise. Para ir de
encontro s suas inquietaes vou finalizar este breve mergulho na histria da educao com as duas
reflexes que seguem.
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Voc tem razo de dizer que hoje a escola est aberta a todos, que ningum obriga os pobres a
freqentar este ou aquele instituto de ensino e que j tm filhos e filhas de famlias operrias cursando
as melhores universidades do pas. Mas, ser que isso pode se aplicar maioria? No est confundindo
a exceo com a regra? Vou explicar isso com um exemplo.
Coloque lado a lado uma criana nascida no seio de uma famlia de trabalhadores e outra que teve
um bero de ouro, tpico da reduzidssima classe alta. A primeira, provavelmente, s vai ter acesso apapel, lpis, borracha, canetas, etc., com 6 ou 7 anos quando, se tiver sorte, vai entrar na pr-escola ou
diretamente na primeira srie. No bastasse isso, ela vai pegar seus materiais numa mistura de temor e
curiosidade alimentada pelos protestos dos pais que, encurralados por uma renda familiar bem
apertada, acham um absurdo a lista de materiais pedida pelos professores e no hesitam em soltar
alguns gritos quando lpis e caderno acabam. Suas aulas acontecero numa escola pblica, com classes
superlotadas, docentes mal remunerados e, s vezes, despreparados, em horrios que objetivamente so
um obstculo ao aprendizado e em estruturas fsicas onde materialmente impossvel manter a
concentrao e a dedicao aos estudos. Em caso de notas vermelhas, tapas, puxes de orelha e
chineladas sero, talvez, o nico reforo escolar que lhe ser oferecido no ambiente domstico. Na
hora do descanso, no poucas vezes esta criana ter que engraxar sapatos, vender sorvete nas ruas
ou se dedicar a outras formas que ajudam a aumentar o minguado oramento familiar. As estatsticas
dizem que, em breve, as precariedades de suas condies de vida vo levar a grande maioria destes
alunos e alunas a abandonarem a escola ou, na melhor das hipteses, a completarem os estudos aps
jornadas de trabalho estafantes e a optar por cursos profissionalizantes.
Vamos olhar agora para a criana da classe alta. As condies econmicas de que dispe, e o
prprio ambiente domstico, vo fazer com que o seu acesso escola, a cadernos, canetas, etc.,
acontea muito mais cedo. Sua formao se dar nos melhores institutos com direito a aulas
particulares, cursos extracurriculares, viagens ao exterior, dedicao exclusiva ao estudo, jornais,
revistas, internet e o que tem de mais moderno no campo da cultura e da informao. Alm disso, esta
criana j vai mandar nos empregados que esto a servio da famlia, estimulada a falar em pblico,
a assumir um papel de protagonista nos crculos que freqenta e, pouco a pouco, a cuidar da herana e
dos negcios da famlia. Afinal de conta, bero bero e no se discute.
O que eu quero dizer que, apesar da lei e das autoridades no destinarem aos pobres esta ou aquela
escola e de incentivarem o acesso ao ensino, so as diferentes condies de vida das classes
trabalhadoras e das elites que se encarregam de viabilizar e reproduzir a mesma discriminao que a
igualdade de direitos, prevista pela lei, diz querer corrigir. Como? Voc acha que isso s coisa do
Brasil ou de pas subdesenvolvido?
Em qualquer sociedade baseada na explorao (mesmo que nos moldes do Estado do bem-estar
social), o fato de tratar com igualdade situaes econmicas diferentes no elimina e sim aumenta as
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desigualdades. Os dados que se referem aos crescentes nveis de pobreza e de excluso nos pases do
primeiro mundo esto em todos os jornais. Parece incrvel, mas a pura realidade.
A segunda reflexo diz respeito preocupao das classes dominantes com os valores e as idias
que so ensinadas nas escolas. No, no estou me referindo somente s aberraes que lotam os livros
e so uma verdadeira homenagem submisso na medida em que apresentam um modelo de cidadania
que apenas fortalece a ordem atual. Estou falando, por exemplo, do que reza a legislao do Texas(EUA) a respeito dos livros a serem usados nas escolas. Este Estado que parte de um pas
internacionalmente considerado como a mais slida democracia do planeta, prev em suas leis que:
O contedo do livro didtico deve promover a cidadania e a compreenso das qualidades essenciais
e das vantagens do sistema de livre empresa, enfatizando o patriotismo e o respeito pela autoridade
constituda, promovendo o respeito pelos direitos individuais. Os livros didticos no devem incluir
extratos ou obras que encorajem ou aprovem a desobedincia civil, a agitao social ou o desrespeito
lei, nem devem conter idias que sirvam para o enfraquecimento da autoridade ou que possam causar
situaes constrangedoras ou interferncias na atmosfera de aprendizado na sala de aula. Por fim, os
livros didticos no devem encorajar estilos de vida que se afastem dos padres geralmente aceitos na
sociedade.
At nas melhores sociedades a democracia dos tubares, desculpe, do capital s funciona bem
quando tudo se mantm nos estreitos limites da sua ordem. Para bom entendedor... meia palavra basta.
http://www.espacoacademico.com.br/029/29cgennari.htm#_ftn3http://www.espacoacademico.com.br/029/29cgennari.htm#_ftn3http://www.espacoacademico.com.br/029/29cgennari.htm#_ftn3 -
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LINHA DO TEMPO: HISTRIA DA EDUCAO NO BRASIL
Evoluo da Educao Governamental no Brasil. Como definio, consideraremos esta
Educao como a oficial do Estado, e portanto ela inicia-se no perodo colonial, quando
comeam as primeiras relaes entre Estado e Educao.
Muitas mudanas ocorreram at que se chegasse pedagogia dos dias de hoje. As
principais reformas foram Benjamim Constant (1890), Epitcio Pessoa (1901), Rivadvia
Correia (1911), Carlos Maximiliano (1915), Joo Alves da Rocha Vaz (1925), Francisco
Campos (1932), Gustavo Capanema (1946) e as Leis de Diretrizes e Bases de 1961, 1968,
1971 e 1996.
Ao contrrio do que diz nosso Hino Nacional, a Educao no Brasil desde o seu
descobrimento no teve o mesmo incentivo que nas demais colnias europias na Amrica,
como as espanholas. Enquanto que na Amrica Hispnica fundaram-se diversas
universidades desde 1538 (Universidade de Santo Domingo na atual Repblica Dominicana)
e 1551 (Universidade do Mxico e Universidade de San Marcos no Peru), a primeira
universidade brasileira foi criada em 1912 (Universidade Federal do Paran).
Assim, para entender os problemas da Educao hoje, necessrio voltar no tempo. Por
esse motivo, limitarei-me (dentro do possvel) a apresentar somente os fatos por enquanto.
Perodo Jesutico (1549-1759)
A educao indgena foi interrompida com a chegada dos jesutas. Comandados pelo
padre Manuel da Nbrega, quinze dias aps a chegada edificaram a primeira escola
elementar brasileira, em Salvador. Irmo Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes
europeus, em terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a
propagao da f religiosa.
No Brasil os jesutas se dedicaram pregao da f catlica e ao trabalho educativo.
Perceberam que no seria possvel converter os ndios f catlica sem que soubessem ler
e escrever. De Salvador a obra jesutica estendeu-se para o sul e, em 1570, j era composta
por cinco escolas de instruo elementar (Porto Seguro, Ilhus, So Vicente, Esprito Santo
e So Paulo de Piratininga) e trs colgios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
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As escolas jesutas no se limitaram ao ensino das primeiras letras; alm do curso
elementar, mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundrios, e o curso de
Teologia e Cincias Sagradas, de nvel superior, para formao de sacerdotes. No curso de
Letras estudava-se Gramtica Latina, Humanidades e Retrica; e no curso de Filosofia
estudava-se Lgica, Metafsica, Moral, Matemtica e Cincias Fsicas e Naturais.
Nesse perodo, os alunos eram os ndios. Filhos de comerciantes e latifundirios
portugueses estudavam na Europa.
Perodo Pombalino (1760-1808)
No momento da expulso dos jesutas, eles tinham 25 residncias, 36 misses e 17
colgios e seminrios, alm de seminrios menores e escolas de primeiras letras instaladas
em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educao brasileira, com
isso, vivenciou uma grande ruptura histrica num processo j implantado e consolidadocomo modelo educacional.
Os jesutas foram expulsos das colnias em funo de radicais diferenas de objetivos
com os dos interesses da Corte. Enquanto os jesutas preocupavam-se com o proselitismo e
o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadncia que se encontrava diante
de outras potncias europias da poca. A educao jesutica no convinha aos interesses
comerciais emanados por Pombal. Se as escolas da Companhia de Jesus tinham por
objetivo servir aos interesses da f, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos
interesses do Estado.
Portugal logo percebeu que a educao no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer
uma soluo. Para isso, instituiu-se o subsdio literrio para manuteno dos ensinos
primrio e mdio. Apesar disso, professores ficavam longos perodos sem receber
vencimentos a espera de uma soluo vinda de Portugal, assim os professores geralmente
no tinham preparao para a funo. Eram nomeados por indicao ou sob concordncia
de bispos e se tornavam proprietrios vitalcios de suas aulas rgias.
O resultado da deciso de Pombal foi que, no princpio do sculo XIX, a educao
brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesutico foi desmantelado e nada
que pudesse chegar prximo deles foi organizado para continuar o trabalho de educao.
Perodo Joanino (18081821)
A mudana da Famlia Real, em 1808, permitiu uma nova ruptura com a situao anterior.Para atender s necessidades prementes da nova capital e centro do Imprio Portugus, D.
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Joo VI refundou a academia militar que havia (atual Academia Militar das Agulhas Negras),
criou duas escolas de medicina um no Rio de Janeiro e outro em Salvador, transferiu a
Biblioteca Real para c (atual Biblioteca Nacional), criou o Jardim Botnico do Rio de Janeiro
e a Imprensa Rgia (primeira imprensa oficial que criou o primeiro jornal impresso do Brasil).
H de se notar que todas essas intervenes mudariam a condio cultural do Brasil que
antes era relegado dependncia colonial. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos
e as idias fossem divulgados e discutidos no meio da populao letrada, preparando
terreno propcio para as questes polticas que permearam o perodo seguinte da Histria do
Brasil; apesar de tudo infelizmente no se conseguiu implantar um slido sistema
educacional nas terras brasileiras.
A educao continuou a ter uma importncia secundria. O professor Lauro de Oliveira
Lima disse: A Abertura dos portos, alm do significado comercial da expresso, significou
a permisso dada aos brasileiros de tomar conhecimento d