historia da arte 2007 livro

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    HISTÓRIA DA ARTE

    1ª Edição - 2007

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    Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.Gervásio Meneses de Oliveira

    Presidente

    William OliveiraVice-Presidente

    Samuel SoaresSuperintendente Administrativo e Financeiro

    Germano Tabacof Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão

    Pedro Daltro Gusmão da SilvaSuperintendente de Desenvolvimento e Planejamento Acadêmico

    Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a DistânciaReinaldo de Oliveira Borba

    Diretor Geral

    Marcelo Nery Diretor Acadêmico

    Roberto Frederico Merhy Diretor de Desenvolvimento e Inovações

    Mário FragaDiretor Comercial

     Jean Carlo NeroneDiretor de Tecnologia

     André PortnoiDiretor Administrativo e Financeiro

    Ronaldo CostaGerente Acadêmico

     Jane FreireGerente de Ensino

    Luis Carlos Nogueira AbbehusenGerente de Suporte Tecnológico

    Romulo Augusto Merhy Coord. de Softwares e Sistemas

    Osmane ChavesCoord. de Telecomunicações e Hardware

     João JacomelCoord. de Produção de Material Didático

    Equipe Angélica de Fatima Silva Jorge, Alexandre Ribeiro, Cefas Gomes, Cláuder Frederico, Diego Aragão,

    Fábio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas, Lucas do Vale,Marcio Serafim, Mariucha Silveira Ponte, Tatiana Coutinho e Ruberval Fonseca

    ImagensCorbis/Image100/Imagemsource

    Produção Acadêmica Jane Freire

    Gerente de Ensino

     Ana Paula AmorimSupervisão

     Jorge BispoCoordenação de Curso

    Simone Trindade Autor(a)

    Produção Técnica João JacomelCoordenação

    Carlos Magno Brito Almeida SantosRevisão de Texto

     Angélica de Fátima Silva JorgeEditoração

     Angélica Jorge e Ruberval FonsecaIlustrações

    copyright © FTC EaDTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.

    É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância.

    www.ead.ftc.br 

    SOMESB

    FTC - EaD

    MATERIAL DIDÁTICOMATERIAL DIDÁTICO

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    SUMÁRIO

    DAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ÀS EXPRESSÕES ARTÍSTICASNA ANTIGUIDADE _____________________________________________ 7

    DOS PRIMÓRDIOS À ARTE DAS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES _____________ 7

    CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARTE __________________________________________ 7

     AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DO HOMEM PRÉ-HISTÓRICO  ______________10

     ARTE MESOPOTÂMICA ______________________________________________________15

     ARTE EGÍPCIA _____________________________________________________________25

     ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________31

     ARTE CLÁSSICA E NASCIMENTO DA ARTE CRISTà ____________________32

    CRETA E O MUNDO EGEU ____________________________________________________32

     ARTE GREGA ______________________________________________________________36

     ARTE ETRUSCA E ROMANA ___________________________________________________41

     ARTE PALEOCRISTÃ _________________________________________________________46

     ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________49

    DA ORIENTAÇÃO RELIGIOSA À BUSCA DE NOVOS CONCEITOS ARTÍSTICOS ____________________________________________________50

    DA FÉ À RAZÃO: DA ARTE MEDIEVAL AO SÉCULO XIX  ________________50

     ARTE MEDIEVAL: ROMÂNICO E GÓTICO ________________________________________50

    O RENASCIMENTO E O MANEIRISMO ___________________________________________54

    BARROCO E ROCOCÓ _______________________________________________________61

    NEOCLÁSSICO E ROMANTISMO  _______________________________________________64

     ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________66

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    SUMÁRIO

    NOVAS IMPRESSÕES: DO IMPRESSIONISMO AO PÓS-MODERNISMO  ___68

    IMPRESSIONISMO  __________________________________________________________68

    PÓS-IMPRESSIONISMO _______________________________________________________70

     ARTE MODERNA ___________________________________________________________71

     ARTE PÓS-MODERNA  _______________________________________________________76

     ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________77

    GLOSSÁRIO _____________________________________________________________79

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  __________________________________________83

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    Caros alunos,

     A disciplina História da Arte pretende ser uma iniciação conduzindo-os poruma fascinante viagem pelo mundo das artes plásticas no ocidente. Vamos per-correr da Pré-História, onde nascem as primeiras manifestações artísticas huma-nas, até a conturbada contemporaneidade que vivenciamos. Nosso objetivo éperceber a arte como uma expressão cultural, um registro estético da trajetóriahumana, da mentalidade, do modo de ser do homem em diferentes contextos

    históricos. O seu estudo ajuda no entendimento da dimensão humana na His-tória. Estaremos em busca de conexões e significados e, para tal, observaremoso papel social dos artistas, os materiais e as técnicas empregados nas obras,quem encomenda os trabalhos e qual o seu público.

    O nosso roteiro é cronológico e geográfico, estando dividido didaticamenteem dois blocos: Das primeiras manifestações às expressões artísticas na Anti-guidade e da orientação religiosa à busca de novos conceitos artísticos. Cadabloco agrupa as principais civilizações, períodos históricos e estilos artísticos.Trilharemos um ambicioso caminho de cerca de 40.000 anos, proporcionan-do uma visão panorâmica da arte. Esperamos que esses conteúdos despertem

    para abordagens mais profundas sobre a arte.

    Boa jornada!

    Profª Simone Trindade

    Apresentação da Disciplina Apresentação da Disciplina

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    DAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ÀS EXPRESSÕES ARTÍSTICAS NA ANTIGUIDADE

    DOS PRIMÓRDIOS À ARTE DASPRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES

    Nesse primeiro tema, inicialmente, serão apresentados alguns conceitos de Arte,que irão ajudar nessa caminhada em busca das manifestações artísticas atravésdos séculos. A seguir, veremos o nascimento da arte com suas primeiras ex-pressões na aurora da humanidade na Pré-História e seu desenvolvimento nasgrandes civilizações do crescente fértil.

    CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARTE

    Para explorar a História da Arte, é preciso apresentar, inicialmente ,conceitos de orientação quantoà concepção da arte e estilos artísticos.

     A Estética é a parte da filosofia voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômenoartístico. Em grego, arte se diz téchne, daí a palavra técnica. O termo téchne é derivado do verbo tíktein,que,originalmente, se refere ao ato de dar à luz, ou seja, criar. Etimologicamente, a palavra arte deriva do vo-cábulo latino ars, “maneira de ser ou de agir, habilidade natural ou adquirida, arte, conhecimento técnico (poroposição ao latim natúra ‘habilidade natural’), tudo que é de indústria humana, ciência, ofício, instrução, conhe-cimento, saber, profissão, destreza, perícia, habilidade, gênio, talento, qualidades adquiridas” (HOUAISS).

    De um modo pessoal, cada um de nós chama isto ou aquilo de arte. Mas, o que é arte?

     A seguir algumas definições sobre a arte:

    “Uma coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome de Arte. Existem somente artistas.”  E.H. Gombrich

    “A arte é a manifestação mais elevada do ser humano.” Léon Tolstoi

     “A arte é a expressão da sociedade em seu conjunto: crenças, idéias que faz de si e do mundo.”Georges Duby

    “ A arte é a mais bela das mentiras.”  Claude Debussy

    “A arte é um instante de eternidade e perfeição.”   V. Avelino

    “Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma”  George Bernard Shaw “Na arte, a inspiração tem um toque de magia, porque é uma coisa absoluta, inexplicável. Não creio que venha

    Saiba Mais!

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    de fora pra dentro, de forças sobrenaturais. Suponho que emerge do mais profundo “eu” da pessoa, do inconscienteindividual, coletivo e cósmico.” Clarice Lispector

    “A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira.”  Theodor Adorno

    “A arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade.” Pablo Picasso

    “A arte é uma força cuja  fi nalidade deve desenvolver e apurar a alma humana.”   Vassily Kandinsky

    “A arte é o homem mais a natureza.” Van Gogh

    “A arte é a verdade.” Auguste Rodin

    “Toda a arte é imitação da natureza.” Lucius Annaeus Seneca

    “ A arte é uma mentira. O papel do artista é convenver os outros da veracidade de suas mentiras.”. Paul Klee

    “A Arte é harmonia.”  George Seurat

    “A beleza á a percepção do in  fi nito no  fi nito. A arte é a união do subjetivo, da natureza e da razão, do consciente

    e do inconsciente.”  Schelling

    “A arte é a contemplação das coisas independente do princípio de razão.”  Schopenhauer

    “A arte é a expressão de uma intuição.”  Benedetto Croce

    “A arte é a manifestação sensível do Espírito.”  Hegel

    “A Arte é uma  fi nalidade sem  fi m.”  Kant

    “A Arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer a si mesmo e mudar o mundo.”  

    Ernst Fischer

    “A arte é uma realidade convencionalmente aceita, na qual, graças à ilusão artística, os símbolos e os substitutos são capazesde provocar emoções reais. Assim, a arte constitui um meio-caminho entre a realidade que frustra os desejos e o mundo dosdesejos realizados da imaginação – uma região em que, por assim dizer, os esforços de onipotência do homem primitivo aindase acham em pleno vigor”  Sigmund Freud

    “A arte é um fenômeno histórico.”  Giulio Carlo Argan

    “A Arte é, foi, e ainda é o elemento essencial da consciência humana.” Herbert Read

    “A arte é um motor da sociedade e não, simplesmente seu pálido re  fl exo.” Catherine Millet

    “A arte não é porventura mais, em sua forma suprema, que a infância triste de um deus futuro, a desolação huma- na da imortalidade pressentida.”  Fernando Pessoa

    Infelizmente ou felizmente, não há uma definição única, inquestionável, universal, definitiva. Há várias definições que podem ser agrupadas em três vertentes tradicionais, que concebem:

     a arte como fazer;

     a arte como conhecer;

     a arte como exprimir.Segundo Pareyson (1997, p.21), “estas diversas concepções ora se contrapõem e se excluem uma às

    outras, ora, pelo contrário, aliam-se e se combinam de várias maneiras. Mas permanecem, em definitivo,

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    as três principais definições da arte”. A arte como fazer destaca o aspecto construtivo formal da arte, ouseja, a sua execução, materialização. Era a concepção dominante na Antiguidade que valorizava a forma.

     A arte como conhecimento concebe a arte como uma visão da realidade, revela um modo de ver, conhe-cer e interpretar o mundo. Essa vertente é recorrente no Ocidente, sobressaindo-se no Renascimento.

     A arte como expressão privilegia o significado, o sentido da arte, levando em conta a espiritualidade epersonalidade do artista que realiza a obra. Essa posição prevaleceu no Romantismo.

    Mas, a arte é tudo isso e muito mais. Envolve o fazer, a técnica, o aspecto estético, a percepção, ocontexto histórico, o lado psicológico-biográfico do autor, o programa iconográfico, a experiência sensó-ria, a comunicação, etc. Ou seja, deve-se considerar a totalidade da atividade humana visto que

    a obra de arte é o possível e o provável, nunca é o certo. Ela ésempre ambígua, sempre susceptível de perder certos aspectos darealidade, ou de ganhar outros.(...) O que o artista fixa, não é o queele viu ou apreendeu; é o que ele procura e o que ele quer revelar aosoutros(FRANCASTEL,1987, p.41).

     Ao ser materializada a obra de arte sefi

    xa a seu tempo, mas também a sua permanência através dostempos cria novos diálogos. Ao se ver uma obra de arte deve-se ir além da mera sensação estética inicial,(gostoou desgosto, belo ou feio) e buscar uma apreciação maior que exige conhecimento. Afinal, a obra de arte

    Serve para ilustrar determinado programa iconográfico, o que a con- verte num sistema de imagens, destinado a valorizar ideais e mitosreligiosos, políticos ou culturais, sujeito a modificações ocasionadaspor múltiplos fatores. Não se deve ignorar, ainda, que a obra de arteconstitui uma expressão, direta ou indireta, das concepções de vidae de mundo das sociedades às quais pertencem os artistas (...)

    Finalmente, a obra de arte é um objeto de prazer, que visa provocardeterminada experiência gratificante, que consiste numa espécie de

     vivência sensorial-perceptivo-intelectual, onde são engajadas espe-cialmente a memória e a imaginação (TREVISAN, 1990, p.91-92)

    E é nessa leitura que a história da arte, o seu estudo, ajuda a uma fruição mais ampla das obras dearte. Deve-se evitar em arte toda e qualquer visão imbuída de preconceito. O conhecimento, sem dúvida,ajuda a destruir as vendas do radicalismo e da intolerância. A linguagem visual é cultural, é aprendida,depende de padrões expressivos que constroem uma composição formal. A forma é a matéria das obrasde arte, sua carne e seu sangue. Os elementos da forma são: cor, linha, textura, planos, volumes, espaço,luminosidade e ritmo. A distribuição desses elementoscria um todo autônomo, equilibrado e estruturado

    de tal maneira que a configuração de forças reflete o sentido do enunciado artístico. A composição formalrefere-se à distribuição de elementos no espaço bi ou tridimensional, a composição cromática baseia-seem relações sintáticas, tais como a semelhança, a complementariedade e o contraste, assim como nas re-lações entre os matizes primários e secundários” (ARNHEIM apud TREVISAN, 1990, p.189).

    O ritmo é estabelecido pela constância, repetição dos elementos. As composições vão criar repre-sentações naturalistas (que se aproximam das formas da natureza, figuração do real) e representaçõesabstratas (transformação do real por deformação, simplificação, geometrização ou desconstrução).

    Quanto aos estilos artísticos, para Wölf flin (1989, p.VII) “mesmo ao talento mais original não é per-mitido ultrapassar certos limites impostos pela data do seu nascimento. Nem tudo é possível em todas asépocas, e determinados pensamentos só podem emergir em determinados estágios da evolução”. Existemestilos que caracterizam a arte nos períodos históricos, a uma área geográfica específica, a um grupo ouescola e estilos individuais que caracterizam o modo como o artista se expressa. Portanto, o estilo apresentatrês dimensões básicas: a dimensão temporal; a dimensão nacional e a dimensão individual. Dessa forma,

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    Meyer Shapiro (TREVISAN, 1990, p.17-18) define estilo como “um sistema de formas qualitativas, reple-tas de expressão, nas quais se manifesta a personalidade do artista e a filosofia de um grupo”. O estilo tem“um caráter comum e coletivo que, todavia, não se realiza senão individual e intimamente, já que um estilonão tem outra realidade e outra sede senão as obras individuais que o adotam, interpretam e realizam nelaspróprias (PAREYSON, 1997, p.144).

     AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOHOMEM PRÉ-HISTÓRICO

    No início, como todos os demais animais, a preocupação do homem era com a sua sobrevivência. Ohomem não era o maior, não era o mais forte, não era o mais rápido. Mas ele tinha algo especial: a criativi-dade. Essa característica fez com que a espécie humana se tornasse dominante no planeta. O homem con-figurou-se como agente modificador do ambiente, consciente de si e de suas possibilidades. Segundo Fayga

    Ostrower (1978, p.10), “o Homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta e, sim, porque precisa;ele só pode crescer, enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.” Assim, ohomem molda o seu mundo, cria e transmite cultura. E dentre, essas criações culturais, está a arte.

    Os vestígios artísticos mais antigos encontrados datam de cerca de 40.000 a.C., obras do HomoSapiens no Paleolítico Superior. Presentes em todos os continentes, da América à Ásia, eles demonstram aevolução da habilidade manual e tecnológica humana e o desenvolvimento da expressão de suas concep-ções. Vivendo em grupos nômades, fabricando ferramentas e buscando entender e controlar seu mundo,a arte desse período manifesta-se nas cavernas e em pequenas esculturas.

     Arte rupestreEm algumas cavernas encontram-se registros artísticos do homem do Paleolítico Superior. As repre-

    sentações, através de pintura, incisão ou escultura nas paredes das cavernas européias, são principalmenteanimais como cavalos, bisões, mamutes, cervos e felinos em cenas de caça. Essas imagens de grande realis-mo revelam o alto grau de observação dos artistas e sua destreza na execução das obras. E quem eram essesartistas? E por que faziam tais obras? Desconhece-se a identidade deles, mas, dentro do grupo de caçadores,provavelmente, exerciam funções mágicas ou religiosas e a arte seria um ritual. A maioria dos arqueólogos eantropólogos acredita que o propósito dessas representações era mágico, propiciatório, ou seja, favorecer acaça. Afinal, essas cenas não são ornamentais, não foram feitas para apreciação, deleite estético, uma vez quegeralmente, se localizam nas áreas mais profundas, muitas vezes de difícil acesso nas cavernas. E também,

    em várias partes as figuras dos animais são sobrepostas. Assim, o homem pré-histórico

    quando representava esses animais, supunha que ia tê-los à sua mer-cê e que lhes tiraria a vida se “matasse”, previamente, as respectivasfigurações. Assim, as imagens “mortas” perdiam seu poder uma vezefetuado o rito de matança e deixavam de servir para nova feitiçaria.

     Tais práticas teriam, pelo menos, o condão de fortalecer a ousadiados caçadores e de lhes incutir confiança ao arrostarem, com armasprimitivas, formidáveis bestas-feras (JANSON,1984, p.24)

     Tecnicamente, essasfiguras eram desenhadas com pedaços afiados de madeira e pintadas com pigmentosorgânicos disponíveis. Geralmente, a paleta desses artistas era composta pelo preto do carvão, o branco do giz,

     vermelho e ocres dos minerais. Esses pigmentos eram triturados e misturados `a gordura animal e tornavam-setinta líquida a ser aplicada por meio dos dedos, primitivos pincéis de penas de pássaro ou pelos, podendo também

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    serem soprados através de ossos ocos. As gravações e esculturas nas paredes das cavernas eram, usualmente, exe-cutadas por meio de buris de pedra. O estilo das pinturas é conhecido pela localização das cavernas.

    Os mais famosos exemplares de pinturas rupestres estãonas cavernas de Altamira (Espanha) e de Lascaux (França), carac-terísticos do estilo franco-cantábrico. As cenas de Altamira foramdescobertas em 1879, pela filha do arqueólogo espanhol Marceli-no de Santuola. Elas compreendem incisões e pinturas de animaiscom rica policromia e variedade de posições. As irregularidadesdas superfícies da caverna foram aproveitadas para dar relevo àsfiguras. Destaca-se o conjunto da abóbada, com cerca de 14 me-tros, onde cada animal mede de 1 a 2 metros. Por ser o primeiroexemplar do tipo a ser descoberto, o reconhecimento das pinturasde Altamira como obras de arte autenticas do Paleolítico só foipossível no final do século XIX com a revelação de outras grutasfrancesas decoradas do mesmo período. A gruta de Lascaux sófoi descoberta em 12 de setembro de 1940 por quatro adolescen-

    tes. Ela está dividida em vários salões, trazendo apenas uma ima-gem humana, seu tema principal são os animais. Segundo Upjohn(1979, v.1, p.42), as numerosas galerias e salões de Lascaux con-templam todos os estilos paleolíticos, fazendo com que seja umdos mais significativos conjuntos conhecidos.

    Esse estilo dos caçadores começou a se espalhar por todoo mundo a partir de 15.000 a.C (LOMMEL, 1966, p.23). Em cadalocal representa os animais do ambiente, retrata os animais conhecidos pelos caçadores, capturados por eles. Alémdos animais, por vezes, aparecem as imagens de caçadores com arcos e flechas ou lanças em ação. Diferentementedo realismo com que eram retratados os animais, as figuras humanas eram estilizadas, lineares. Interessantes são

    as mãos humanas impressas nas paredes das cavernas em positivo (imprimindo a mão pintada com tintas) ou emnegativo (pintando ao redor da mão sobre a superfície). Segundo Hauser (1994, p.8),

    as silhuetas de mãos que foram encontradas em muitos lugares pertodas pinturas rupestres, e que parecem ser resultantes da impressãodeixada por mãos reais, fizeram, provavelmente, nascer, no homem,a idéia de criação – a poeiein – e deram-lhe a consciência da possi-bilidade de que algo inanimado e artificial poderia ser perfeitamentesemelhante ao original vivo e autêntico. Esse mero jogo nada tinha a

     ver inicialmente, é claro, nem com a arte nem com a magia; teria de

    converter-se primeiro num instrumento de magia e só então poderiatornar-se uma forma de arte. Com efeito, é tão imenso o hiato exis-tente entre essas impressões de mãos e as mais primitivas represen-tações de animais do paleolítico (e não existe qualquer documentosobre uma possível transição entre ambas), que dificilmente pode-mos admitir a hipótese de um direto e contínuo desenvolvimento deformas de arte a partir de puras formas lúdicas; deve-se, no entanto,inferir a existência de um elo de conexão vindo de fora – e, comtoda a probabilidade, esse elo terá sido a função mágica da cópia.Contudo, mesmo essas formas lúdicas, pré-mágicas, apresentavam

    uma tendência naturalista, ou seja, a imitação da realidade (ainda quemecanicamente), e não podem, de maneira nenhuma, ser considera-das a expressão de um princípio decorativo e antinaturalista.

    Pintura da caverna de Altamira, Espanha.

    Pintura da caverna de Lascaux, França.

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     As pinturas rupestres são datadas a partir dos outros vestígios (fósseis e objetos) encontra-dos nos sítios arqueológicos e pelo teste do carbono 14. A sua conservação, contudo, tem sido umgrande problema. Antes preservadas, longe dos olhares humanos, a visitação do público trouxe umdesequilíbrio ao ambiente dessas obras, levando ao desenvolvimento de colônias de micro-organis-

    mos, fungos e bactérias. Muitos tratamentos estão sendo desenvolvidos, mas as grutas de Lascauxe Altamira encontram-se fechadas ao público, em geral, em busca de sua preservação.

     Você Sabia?

    Escultura

     As esculturas, de pequenas dimensões, eram feitas em pedra, osso, marfim, chi-fre, etc. As representações são, essencialmente, de animais, mostrados de modo realistacomo nas pinturas rupestres. Entretanto, existem figuras humanas. As mais antigas são

    as estatuetas femininas conhecidas como Vênus esteatopigias. Essas representações sãocaracterizadas pelas formas fartas, seios, púbis, coxas e nádegas volumosos. Segundoos estudiosos, esse modelo estético feminino da época estava profundamente ligadoao culto à fertilidade, evocando uma imagem patriarcal da mulher nessa época. Opequeno tamanho das esculturas pode indicar o seu uso ritual ou como talismã.

     A mais famosa das Vênus esteatopigias, a Vênus de Willendorf, foi descobertaem 1908 pelo arqueólogo Josef Szombathy em escavações na cidade austríaca que lhe

    deu o nome. Essa ilustre obra-prima de 11, 1 cm, em pedra calcárea, pertencente ao Mu-seu de História Natural de Viena, foi datada como sendo de cerca de 24.000 a22.000 a.C no período do Paleolítico Superior. Além de esculturas, as Vênus es-

    teatopigias foram feitas em relevo como a Vênus de Laussel, datada entre 15.000a 10.000 a.C, pertencente ao Museu de Aquitânia, naFrança.

     Arte mesolítica

    O Mesolítico é um período intermediário entre o Paleolítico e o Neolítico, caracterizado pela expansãoterritorial da espécie humana. Compreende um período de cerca de 9.000 anos, de 12.000 a 3.000 a.C. Na Europa,houve uma redução dos grandes rebanhos e os caçadores tiveram que procurar outras fontes de alimentos, comoa coleta. Artisticamente, o estilo de expressão também se modificou. Segundo Lommel (1966, p.47),

    O estilo da arte rupestre do Levante Espanhol difere significativa-mente do franco-calábrico do Período Magdaleniano em dois pon-tos principais: primeiro, e mais importante, as figuras humanas emmovimento são uma característica constante e típica das pinturas,em contraste com as raras ocorrências de seres humanos entre asinúmeras representações de animais do estilo franco-calábrico; se-gundo, os animais representados já não são os grandes mamíferosdas pinturas rupestres mais antigas, mas espécies menores, como o

     veado, o urso, cães. Uma diferença mais sutil é que seres humanos eanimais se acham combinados, em cenas de caça ou outras ativida-

    des, o que antes era extremamente raro.Os principais exemplares de pintura rupestre desse período estão na Cueva de Tajo de las Figuras

    (Cádiz, Espanha) e na Cueva de la Araña (Valencia, Espanha). Há uma progressiva estilização, simplifica-

     Vênus de Willendorf emmarfim de mamute. Museu

    de História Natural de Viena.

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    ção das formas, quase apenas contornos, bem diferente do estilo naturalista an-terior que tenta capturar os animais através da representação realística, detalhada.Na Cueva de la Araña há uma interessantíssima pintura em vermelho represen-tando uma figura humana coletando mel e sendo atacada por abelhas.

    Portanto, se no Paleolítico a temática zoomórfica é predominante; noMesolítico o antropomórfico passa a dominar. O homem se torna mais pre-sente. E a questão que nos intriga é por quê? A intencionalidade mágica doPaleolítico cede para uma expressão documental do homem? Essa mudançade foco e expressão vai se consolidar no Neolítico.

     Arte no neolítico

    No período Neolítico, o homem domesticou animais e plantas e tornou-se sedentário. A arte desse períododestaca-se nas suas expressões na cerâmica e nas construções megalíticas. A cerâmica só foi possível com o domí-nio do fogo. Inicialmente ela era grosseira e sem decoração. Com o aprimoramento da técnica, surgiram formaselegantes decoradas com motivos geométricos, estampados, gravados ou pintados. A cerâmica pintada parece tersurgido no final do Neolítico, em cerca de 6.500 a 5.500 a.C. Os mais antigos exemplares foram encontrados na

     Anatólia. Inicialmente, a decoração consistia de motivos abstratos geométricos, principalmente formas circularese espirais. Posteriormente esses se mesclaram a figuras naturalistas de animais.

     Também as pinturas rupestres foram se tornando esquemáticas. Assim, o estilo naturalista do Pa-leolítico deu lugar a uma estilização geométrica,

    a obra de arte deixa de ser puramente a representação de um objetomaterial para tornar-se a de uma idéia, não meramente uma remi-niscência, mas também uma visão; por outras palavras, os elementosnão sensoriais e conceptuais da imaginação do artista substituem oselementos sensíveis e irracionais. E desse modo a pintura é gradual-mente convertida numa linguagem simbólica pictográfica, a profu-são pictórica é reduzida a uma espécie de taquigafria não-pictórica ouquase não-pictórica. (HAUSER, 1994, p.13).

    No sítio de Çatal Hüyük, no sul da Anatólia (Turquia), escavado em 1961, foram encontradas asmais antigas pinturas conhecidas feitas sobre paredes estucadas de construções. Nesses santuários, apare-

    Coletor de mel. Cueva dela Araña, Velencia, Espa-nha, c. 6000-2.000 a.C.

     Vaso em cerâmica neolít ica do leste europeu,c. 4.000 a.C.

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    cem várias figuras humanas estilizadas e em movimento. Mesmo nas cenas de caça, onde aparecem tourose veados, o objetivo agora é ritual, em honra de divindades masculinas e não mais propiciatório.

     A magia do Paleolítico configurou-se em religião no Neolítico, criando rituais e a necessidade deobjetos e símbolos sagrados como ídolos, amuletos, oferendas votivas e monumentos. São numerosasas pequenas esculturas humanas femininas em terracota, identificadas como deusas da fertilidade. Essas

     Vênus esteatopígias tornaram-se estilizadas, simplificando os detalhes, mas mantendo o contorno avanta-jado e os traços principais. Muitos desses exemplares foram encontrados nos Balcãs.

    Para Hauser (1994, p.9), “no lugar de uma concretização da experiência cotidiana de vida, a arte procura agora deter-se na idéia, no conceito, na substância íntima da coisa – mais

    para criar símbolos do que semelhanças do objeto”. As construções megalíticas são monumentos formados por grandes blocos

    de pedras. Eles demonstram o grau de organização social e estabilidade nesseperíodo, bem como um domínio técnico e de conhecimento empírico. Existemdois tipos: o menir e o dólmen. O menir é um bloco de pedra colocado verti-calmente, decorado ou não. Podem ser vistos exemplares de menir na Espanha eFrança. Parecem ter sido marcos. Um deles é o menir de Penmarch, na Bretanha,que mede cerca de 7 metros de altura. Um conjunto de menires alinhados, agru-pados em círculo formam um cromlech como o de Almendres, em Portugal. Odólmen é formado por duas ou mais pedras verticais encimadas por uma pedrahorizontal. Segundo Janson (1984, p.30), os dolmens eram sepulcros, galerias depedras que davam acesso à tumba. Um dos mais representativos é o de Carnac, naFrança, datado de cerca de 1.500 a.C. Para Hauser (1994, p.12)

    os costumes e ritos fúnebres revelam claramente que o homem ne-olítico já estava começando a conceber a alma como uma substânciaseparada do corpo. A visão mágica do mundo é monista, vê a reali-dade na forma de uma tessitura simples, de uma seqüência contínuae coerente; o animismo, porém, é dualista, forma seu conhecimentoe suas crenças num sistema de dois mundos.

    O mais célebre exemplar das construções megalíticas é Stonehenge, na planície inglesa de Salisbury,a 137 km de Londres. Esse conjunto reúne menires e dolmens, estando orientado para o ponto onde

    Desenho reconstituindo a Sala principal de santuário em Çatal

    Hüyük, Anatólia, Turquia, c. 6.000 a.C.

    Deusa Mãe. Neolítico, Ça-tal Hüyük, Turquia, c. 7.000a.C.. Museum of AnatolianCivilizations, Ankara.

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    nasce o sol no solstício de Verão. Essa configuração indica que se destinava a rituais de culto solar. Oculto solar era muito importante nas sociedades agrárias, onde a marcação das estações era decisiva paraestabelecer-se a época de plantio e colheita. Esse conhecimento astronômico foi construído através daobservação dos astros. Relacionado ao culto solar, estão as celebrações de ritos de fertilidade. Seja comofor, essa estrutura revela uma concepção do homem do neolítico com relação ao cosmo.

     A construção de Stonehenge parece datar de cerca de 2.000 a.C. É formada por grandes círculos depedras com um diâmetro maior de 100 metros, tendo ao centro uma pedra ara, espécie de mesa altar ritual,que para alguns era um local de sacrifícios. Além das pedras, contava com a terra e a madeira. Esse conjuntoimpressiona por sua majestade e suscita questões de como foram transportadas e levadas essas grandes pedrasde até 7 metros de altura e 25 toneladas de peso, dispostas em várias posições. Todas as pedras foram trazidasde áreas distantes com a utilização de ferramentas primitivas. Vestígios de ferramentasmetálicas foram encontrados. Ao que tudo indica, nesse período, a roda ainda nãohavia sido inventada, o que denota um grande esforço para o transporte dessesblocos de pedra. A erosão e a ação dos homens tornaram esse monumentouma deslumbrante ruína. Escavações feitas nessa região, em Durring-ton Walls, revelaram, no início de 2007 ,uma aldeia neolítica, que oarqueólogo Mike Parker Pearson atribui aos construtores de Sto-nehenge. Essa descoberta confirma a teoria de que Stonehengenão era uma estrutura isolada, mas fazia parte de um complexoreligioso maior, envolvendo rituais funerários e celebrações.

    Stonehenge. Inglaterra, c.2.000a.C.

     ARTE MESOPOTÂMICA

    Mapa da Mesopotâmia

    Mesopotâmia é um termo grego que sig-nifica “entre rios” e que denomina a região doOriente Próximo entre os rios Tigre e Eufrates,que, atualmente, compreende o Iraque, a Turquiae a Síria. Inicialmente nômades, os grupos foramse fixando, cultivando a terra, construindo canaisde irrigação e as aldeias tornaram-se as primeirascidades (Ur, Uruk, Lagash, Assurr, Nínive, Babi-lônia). Essa área fértil atraiu vários povos desdea pré-história: sumérios, acadianos, assírios, amo-ritas, cassitas, elamitas, caldeus, arameus, persas,etc. E cada povo se expressou através da arte emdiferentes períodos. Vejamos alguns deles.

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    Período sumério

    Os sumérios parecem ter vindo da Ásia Central e se estabeleceram por volta de 4.000 a.C no sulda Mesopotâmia (Baixa Mesopotâmia), próximo à confluência dos rios Tigre e Eufrates. A essa regiãochamavam Sumer ou Suméria. São poucos os vestígios materiais de sua cultura. Suas construções eramerigidas em tijolos de barro e madeira. Contudo, foram os inventores da escrita pictográfica, denominada

    cuneiforme, preciosos registros de sua cultura em tabuinhas de argila.Inicialmente, os sumérios viviam em comunidades agrícolas baseadas nos rebanhos e no cultivo de

    milho e tamareiras. Aos poucos, esses núcleos foram se organizando, possibilitando a construção de obraspúblicas necessárias à agricultura em larga escala. Assim surgiram as cidades-estados, que disputavam conti-nuamente a liderança sobre as demais. Cada uma delas tinha seu deus protetor local, seu governante, sendoUruk a cidade dos reis. No centro das cidades estava o templo, que se localizava sobre uma estrutura de-nominada zigurate. Este era construído em formato geralmente retangular como uma pirâmide de terraçosem tijolos de barro cozido, com grossas paredes de sustentação. Escadarias e rampas levavam ao topo ondeficava o santuário do deus. No alto, ao centro desta sólida construção, estava uma sala principal, ou cella,ricamente decorada, onde ficava a estátua do deus e o altar de sacrifícios. Durante os séculos, os zigurates

    foram sendo construídos cada vez mais altos, numa tentativa de se aproximarem dos deuses, uma vez quea morada divina estava no alto, no cume das montanhas. O seu mais famoso exemplar, a Torre de Babel,presente nos relatos bíblicos, há muito foi completamente destruído. Mas, existem outros que chegaramaté os dias atuais. Um deles é o zigurate construído pelo rei Urnammu, em Ur (cidade do patriarca bíblico

     Abraão), com 65 metros de fachada, que embora atualmente só tenha um piso com cerca de 18 metros dealtura, originalmente possuía 3 pisos. Ele era dedicado do deus lunar Nana (Sin para os acadianos), que pre-sidia o calendário e era poderoso sobre a vegetação e a fertilidade. Originalmente, era revestido por ladrilhoscozidos decorados, que o preservaram, sendo o mais bem conservado dos zigurates conhecidos.

    É interessante destacar que os zigurates não eram templos acessíveisao público. Eram a morada do deus, cuidada pelos poderosos sacerdotes.

     Acredita-se que o zigutate era a representação simbólica da primitiva colinasobre a qual o universo havia sido criado e servia de ponte entre o céu e aterra. Os pavimentos horizontais, cujo número ideal era sete, provavelmenterepresentavam os sete planos da existência, os sete planetas e os sete metaisassociados a eles. Por isso, originalmente, cada nível possuía uma cor: branca,negra, púrpura, azul, vermelho, prata e ouro. Além da função sagrada, eles sedestinavam à observação dos astros. Próximo aos zigurates ficavam a residên-cia dos sacerdotes e o palácio do governante local.

    Um dos maiores achados em Urfoi o Cemitério Real ativo por 500 anos, de cerca de 2.600 a 2.100 a.C.,

    com aproximadamente 2.000 sepulturas. Nele foram encontrados pre-ciosos objetos de adorno, que expressam o status de seus proprietários.Infelizmente a maioria das tumbas foi saqueada ainda na Antiguidade.Mas na tumba da rainha Puabi (2.600-2.500 a.C) foram encontrados im-portantes tesouros como diademas, brincos e outras jóias.

     A pintura e a escultura dos sumérios eram, essencialmente, deco-rativas. Painéis figurativos adornavam os templos, palácios e sepulturas.

    Quanto à escultura destacam-se os orantes ou adoradores. Essasfiguras humanas (masculinas e femininas) votivas de pequenas dimen-sões, representadas de corpo inteiro, geralmente em pé, trazem sem-pre as mãos cruzadas sobre o peito, possuem grandes olhos e vestemlongas saias. A sua concepção baseava-se no cone e no cilindro numasimplificação característica do escultor que talha as formas num único

    Zigurate do rei Urnammu, cidadede Ur, cerca de 2.500 a.C.

    Entrada da tumba do rei Ur-nammu, Ur, cerca de 3.000 a.C.

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    bloco. Os orantes representavam os devotos em adoração aos deuses aos quais eram ofertadas, transmi-tindo a eles seus pedidos e agradecimentos. Para Garbini (1966, p.33), eles perpetuavam a presença dosfiéis nos templos, com suas contínuas preces ao deus. Contudo, não possuem semelhança física com osofertantes, os corpos e as cabeças são esquemáticos e simplificados, obedecendo a um sistema hieráti-co de representação. O que se destaca nessas esculturas é a intensa expressão dos olhos. Um grupo deestatuetas de orantes em mármore, de até 75,0 cm, com vestígios de policromia, foi encontrado em Tell

     Asmar, no Templo do deus Abu, deus da vegetação. Segundo Janson (1984, p.69), nesse conjunto

    as divindades distinguem-se pelas dimensões superiores e pelo maiordiâmetro das pupilas, embora todas as figuras possuam olhos enor-mes, cuja fixidez é acentuada pelo colorido dos materiais incrusta-dos. O grupo devia achar-se na cella do templo de Abu, estando ossacerdotes e os fiéis voltados para os dois deuses [Abu e uma deusamãe encontrada], em muda comunicação pelo olhar.

     Além desses exemplares em pedra, os escultores utilizavam ma-

    deira, metais como o cobre e o ouro. Mais realistas são os painéisdecorativos que adornam peças utilitárias. As figuras humanas são re-presentadas em 2 dimensões, sem perspectiva, geralmente as figurasapresentam cabeça, pernas e pés de perfil enquanto os ombros e otorso estão em posição frontal. Nesses os animais sagrados são ex-pressos de forma dinâmica. Em uma lira de 140 cm, decorada comuma bela cabeça de touro, encontrada numa sepultura real em Ur, da-tada de 2.550-2.400 a.C., seu corpo apresenta um interessante painelformado por incrustados em ouro, prata, lápis lazúli, conchas. Esseé dividido em 4 faixas horizontais. Na primeira, no alto, uma figurahumana masculina abraça duas estranhas figuras antropozoomórfica

    (corpo de touro e cabeça humana com chifres). Nas demais, os ani-mais realizam tarefas humanas: um lobo leva comida e um leão bebidapara um banquete ou oferenda; um burro, um urso e um cervo tocaminstrumentos musicais; embaixo de tudo vê-se um homem-escorpiãoe um bode. Para Janson (1984, p.70), essa composição

    embora também coloque as figuras sobre linhas de terra, não receiaa sobreposição das formas nem o escorço dos ombros. Todavia, épreciso ter cuidado de não interpretar erradamente as suas intenções,o que aparece a olhos modernos como deliciosamente humorístico

    foi talvez encarado com perfeita seriedade. Nem sequer sabemosem que contexto estes atores desempenhavam o seu papel!

    Período acadiano

    Contemporâneos, os sumérios e acadianos conviveram em paz até o reiacadiano Sargão iniciar a sua expansão por volta de 2.316 a.C. Os acadianosocupavam inicialmente a região setentrional da Mesopotâmia em torno deKish. Ao dominarem a Suméria, absorveram a sua cultura, impondo à arte aglorificação do soberano. Dentro dessa ideologia propagandística, as estelas

    comemorativas foram freqüentes. A estela do rei Naram-Sin, neto de Sargão,é considerada por alguns como a obra prima da arte acádica. Ela comemorauma vitória sua. Nessa representação não há linhas rígidas de horizonte, oexército real avança para cima, acompanhando o seu líder. No alto da com-

    Orantes em mármore do Templode Abu, Tell Asmar, c. 2.700-2.500a.C. Museu do Iraque.

    Lira com cabeça de touro emmadeira, decorada com ouro,

    prata, lápis lazúli e madrepé-rola. Ur, 2550-2400 a.C. Mu-seu de Arqueologia e Antro-pologia da Filadélfia.

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    posição, ao centro, está o rei Naram-Sin, em maior dimensão, vitorioso sobreos cadáveres dos inimigos que pisa abaixo dele à direita. Ele traz na cabeça acoroa ou capacete de chifres, atributo dos deuses, e está próximo ao cume deuma montanha, a morada dos deuses.

     A obra mais notável de escultura, que expressa essa ideologia de glorifica-ção do soberano, é uma imponente cabeça de um soberano acadiano em bronze,encontrada em Nínive. Os olhos, agora vazios, deveriam trazer embutidos que lheconfeririam grande força. Apesar disso, conserva a sua majestade e maestria. Essaobra caracteriza-se pelo detalhamento descritivo e pela simetria na composição.

     Janson (1984, p.71) ressalta que

    o cabelo entrançado e a barba finamen-te encaracolada são tratados com incrí-

     vel precisão sem perderem o seu caráterorgânico nem se tornarem num simplesornamento. A complexa técnica da fun-

    dição e da cinzelagem foi manejada comsegurança que denota autêntica mestria.É um retrato à altura das maiores obrasde arte de qualquer época.

     Apesar de manter a sua independência durante a ocu-pação acadiana, a cidade de Lagash também sofreu a sua influência ideológica. O reiGudéia (que reinou de 2125 a 2110 a.C) para não perder o poder, passou o título real

    para o deus local, promovendo o seu culto. Dentro dessa política, foram encontradas várias estátuas de Gudéia, que eram postas nos santuários da cidade. Ele foi repre-

    sentado sentado ou em pé, em diorite verde ou preto. Como nos orantes sumé-

    rios, a qualidade cilíndrica das formas é acentuada, embora a composição dasestátuas de Gudéia não traga a simplicidade, a geometrização daqueles.

    No mais, zigurates continuaram a ser edificados, os deuses sumérioscontinuaram a ser adorados.

    Período babilônio

    No segundo milênio houve um período de instabilidade e de-sordem na Mesopotâmia, até que os babilônios assumiram o poderentre 1.760 e 1.600 a.C, como antes tinham feito os acadianos. Con-tudo, continuou a existir um grande respeito pela tradição sumeriana.

     Afinal, a base cultural dos babilônios era sumeriana. Hamurabi, ofundador da dinastia babilônica denominou-se de pastor favorito dodeus solar Shamash (nome acadiano do deus sumério Utu). O obje-tivo de Hamurabi era fazer reinar a justiça e para tal criou o famosocódigo que leva o seu nome. Esse código está gravado em uma estelade diorite negro em escrita cuneiforme. No alto da estela, sobre o es-crito está a representação do rei Hamurabi diante do deus Shamash,como se estivesse apresentando-lhe o código de leis. O relevo das

    Estela da Vitória de Na-ram-Sin, rei de Acad, empedra-grés vermelha, c.2.300-2.200 a.C. Altu-

    ra: 2 metros. Museu doLouvre, Paris.

    Cabeça de um soberano aca-diano, em bronze. Nínive, c.2.300-2.200 a.C. Altura: 0,30m. Museu do Iraque, Bagdá.

    Estatueta de Gudéia em diorita,com 74,0 cm de altura. Lagash,c. 2.150 a.C. Museu do Louvre.

    Estela do Código de Hamurabiem diorite, com 2,13 m de altura,c. 1.760 a.C. Museu do Louvre.

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    figuras é bastante acentuado, os grandes olhos dos dois seres que se fitam são destacados. Estilisti-camente e tecnicamente a composição está conectada às estátuas de Gudéia.

     A maioria da escultura dos babilônios baseiam-se na tradição sumeriana mas trazem algumassingularidades como os volumes acentuados, uma maior rigidez na representação e uma minuciosaatenção aos detalhes como as roupas e a barba.

    Com relação à arquitetura, há pouco material desse perí-odo. O mais importante exemplar são as ruínas do palácio realde Mari, que ocupam uma área de 220 x 130m. Ele é compostopor uma série de salas dispostas em torno de dois pátios inter-nos. Há vestígios e fragmentos de pinturas ornamentais nas pa-redes de algumas salas e em um dos pátios internos. Elas trazemcenas de sacrifício, a investidura real de Zimri-Lim, figuras dedeuses. Segundo Garbini (1966, p.42), esses painéis sugerem “aexistência de escolas estabelecidas, desenhando segundo umalonga tradição. Excetuando as vestes das figuras, os fragmentos

    das cenas de sacrifício derivam da tradição sumério-acádica”.Em alguns painéis, como o que representa uma deusa numa paisagem cercada de animais fantásticos,nota-se uma influência egípcia, provavelmente vinda através da Síria.

    Período cassita

    Os cassitas, povo asiático, estabeleceram-se na Mesopotâmia, na re-gião oeste do atual Irã, por volta de 1.800 a.C. Em 1559 a.C a Babilôniafoi saqueada pelos hititas. Entre 1550 e 1150 a.C os cassitas dominaramos babilônios. Artisticamente eles trouxeram inovações à tradição sumé-

    rio-acadiana. Estruturalmente, o uso do arco e da abóboda se generalizouem palácios e templos e se introduziu o emprego do ladrilho no exteriordos edifícios.Deixaram vestígios em Dur-Kurigalzu, capital cassita fundadapelo rei Kurigalzu no séc. XIV. Nessa, foram encontradas esculturas emterracota de extremo vigor (em contraste com a rigidez dos babilônios)como uma cabeça masculina com barba com indícios de pintura em ver-melho e preto. O mais importante registro deixado é o Templo de Inanna(deusa do amor e da guerra, Ishtar em acadiano) edificado em Uruk pelorei Karaindash em cerca de 1.430 a.C. De planta retangular, construídocom tijolos de terracota, suas paredes exteriores alternam relevos e nichos

    ao estilo sumério. As reentrâncias ou nichos continham relevos de deusesenquanto as saliências eram decoradas com formas geométricas.

    Uma peça característica dos cassitas é o kudurru. O kudurru é uma espécie de marco demarca-dor de fronteira composto com figuras e inscrições. Protegiam as fronteiras dos reis e delimitavam aspropiedades privadas. Assemelhavam-se ao formato das estelas, em sua composição traziam textossobre a concessão do direito de propriedade em escrita cuneiforme e símbolos religiosos dispostosem faixas horizontais. Sua leitura era feita de baixo para cima e da esquerda para a direita. Os deuseseram, geralmente, representados por meio de símbolos. Garbini (1966, p.44) ressalta que

    a representação antropomórfi

    ca do deus, que anteriormente do-minava na Mesopotâmia, torna-se relativamente rara, sem, con-tudo, desaparecer completamente. A superficie da pedra é geral-mente dividida em faixas ostentando os símbolos divinos. Em

    Detalhe da fachada do Templode Inanna em Uruk. Construçãocassita, cerca de 1413 a.C. Museu

    Pergamon, Berlim, Alemanha.

    Detalhe do afresco com cena de sacrifício. Palá-cio de Mari, c. 1.800 a.C. Museu Aleppo, Síria.

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    alguns casos, o texto é emoldurado. Essa preocupação com aclareza da composição e o cuidadoso arranjo dos planos aparecetambém na arte da gravação de sinetes. O tradicional tipo neo-sumeriano do adorador de pé diante de um deus e acompanhadopor um painel de escrita cede lugar, no período cassita, a umacomposição hierática, dominada por uma figura alongada, isola-

    da no espaço e ladeada por colunas de inscrições.

    Período assírio

    Segundo Janson (1984, p.75), “diz-se que os Assírios foram emrelação aos Sumérios o mesmo que os Romanos em relação aos Gregos.

     Assim, construíram templos e zigurates inspirados em modelos sume-rianos. Os palácios reais atingiram dimensões e magnificência sem pre-cedentes”. A arte assíria era essencialmente secular, uma arte propagan-dística ligada à corte. O monumental palácio de Sargão II (721-705 a.C),na cidade de Khorsabad era uma fortaleza cercada por maciças muralhastorreadas, com apenas duas portas de acesso. Essas portas, com nítida in-fluência dos hititas como a porta dos leões de Bogazköv, traziam grandesfiguras guardiãs contra os maus espíritos, que impressionavam os visitan-

    tes como expressão do poder assírio. Esses guardiões eram, geralmente,seres híbridos masculinos: os lamassu (corpo de touro alado com cabe-ça humana) e as esfinges (corpo de leão e cabeça humana). No paláciode Sargão II, a porta trazia figuras de lamassu de 4,28 metros de altura,com cinco patas dispostas de modo ao espectador ver frontalmente o serimóvel e lateralmente em movimento.

    No interior do Palácio de Sargão II, as paredes estavam repletas de séries de relevos retratando asconquistas militares assírias de forma descritiva. Para organizar essas narrativas, os artistas dividiam asparedes em faixas como faziam nas estelas. Essas cenas militares vitoriosas eram abundantes. Uma outratemática dos palácios eram as cenas de caçadas dos reis aos leões. Essas cenas que glorificavam os gover-

    nantes retratam uma atividade também simbólica. Para Janson (1984, p.74) “é provável que, num temporemoto, a caça aos leões tivesse sido uma importante obrigação dos chefes mesopotâmicos, como pasto-res dos rebanhos da comunidade”. No Palácio de Asurbanipal (669-626 aC.) em Nínive, encontram-se os

    Kudurru do rei cassita Mellishi-pak II (Mellishikhu) em mármorenegro, c. 1.188-1.174 a.C. Alturade 68,0 cm e largura de 30,0 cm.Museu do Louvre, Paris, França.

    Os assírios eram um povo indo-europeu, oriundo do Cáucaso, que se estabeleceram no norteda Mesopotâmia, na região do alto do rio Tigre por volta de 2.000 a.C. Sua principal cidade-estado eposterior capital do Império Assírio era Assur. O auge do poderio assírio ocorreu entre 1.000 a 612 a.C,estendendo-se desde a península do Sinai à Armênia e ocupando o Baixo Egito em 671 a.C.

    Saiba Mais!

    Porta do Palácio de Sargão II, 713-706 a.C. Altura 4,28 m e largura 4,21 m. Museu doLouvre, Paris, França.

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    melhores exemplares dessas cenas de caça aos leões. Essas cenas são retratadas de forma intensa, dramá-tica, os animais são representados em um naturalismo excepcional. Destacam-se os animais moribundoscomo A Leoa Moribunda de impressionante intensidade trágica. Os artistas conseguem impor o volumedas formas através de variações do desbaste das superfícies.

    Período neo-babilônico

    Embora o Império assírio tenha caído em 612 a.C, com a conquista de Nínive pelos Medos e Citas, vindos do Oriente, o comandante assírio proclamou-se rei da Babilônia, proporcionando um período de re-nascimento cultural a essa cidade entre 612 a 539 a.C, até a dominaçãopersa. Assim, a Babilônia tornou-se o último reduto da cultura meso-

    potâmica. O mais famoso governante desse período foi Nabucodo-nosor II (604-562 a.C). Seu poder foi expresso através de construçõesmonumentais como grandiosos zigurates com mais de 100 metrosde altura e imponentes palácios com jardins suspensos. Por não ha-

     ver pedreiras nessa região (diferente da Assíria), as construções foramrealizadas em tijolos cozidos e vidrados, usados em profusão de umaforma decorativa surpreendente. O seu efeito pode ser apreciado naPorta de Ishtar, uma viva composição colorida decorada por animaissagrados em relevo, enquadrados por bandas, uma procissão de auro-chs (touros), sirruchs (semelhante a dragões) e leões. O vidrado azuldomina e serve de fundo para os animais.

    Da arte palaciana, o mais célebre monumento eram os Jardinssupensos da Babilônia, construídos em cerca de 600 a.C. por Nabuco-donosor II em honra de sua esposa Semíramis, filha do rei dos Medas,que estava saudosa das plantas de sua terra natal. Esses Jardins eramuma das sete maravilhas do mundo antigo. Apesar de nada ter restadodessa construção fabulosa, que incluía um sistema de irrigação, ela foidocumentada por historiadores gregos da Antiguidade.

    Leoa moribunda. Detalhe de painel de pedra

    calcárea em baixo relevo do Palácio de Asur-banipal, Nínive, 669-633 a.C. Altura 35,0 cm.Museu Britânico, Londres, Inglaterra.

    Porta de Ishtar em tijolo vidrado, Babilônia,c. 575 a.C. Altura: 14,0 m e largura: 10,0 m.Museu Pergamon, Berlim, Alemanha.

    Ilustração da possível aparência dos JardinsSuspensos da Babilônia. Disponível em

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    Babel deriva do acadiano e significa Porta de Deus. A Torre de Babel foi um famoso zigurate completamente destru- ído. Sua construção é atribuída ao rei Nabucodonosor II.

     Assim, a Torre de Babel é citada na Bíblia no livro doGênesis (11:1-9):

     Você Sabia?

     Torre de Babel. Peter Bruegel, o Velho.Óleo sobre madeira , 1563. Kunsthisto-risches Museum, Viena.

    “Todo o mundo se servia de uma mesma língua e das mesmas palavras.Como os homens emigrassem para o oriente, encontraram um vale naterra de Senaar [Babilônia] e aí se estabeleceram. Disseram um ao ou- tro: “Vinde! Façamos tijolos e cozam-los ao fogo!” O tijolo lhes serviude pedra e o betume de argamassa. Disseram: “Vinde! Construamosuma cidade e uma torre cujo ápice penetre nos céus! Façamo-nos umnome e não sejamos dispersos sobre toda a terra!” 

    Período persa

     A civilização elamita (uma das que floresceu no sudoeste da Pérsia, atual Irã, por volta de 4.000 a.C.Sua capital era Susa. Na segunda metade de terceiro milênio, eles entraram em guerra com os Sumériose com os Acádios. Esse contato teve influência em sua arte. A partir desse período iniciaram a constru-ção de estelas e as esculturas de sua deusa Innin assemelharam-se às representações da deusa babilônicaIshtar. Zigurates foram construídos na Pérsia. Durante o primeiro milênio, os medas e os persas iniciarama sua expansão. Em 539 a.C o aquemênida (uma das tribos dos persas) Ciro, o Grande tornou-se o rei dosmedos e dos persas e iniciou a conquista de territórios passando pelo Império babilônio, Fenícia, Síria,

    Palestina até as fronteiras do Egito. A arte do Império persa é uma síntese de diferentes tradições incorporadas dos povos dominados

    e contatados. Para Giordani (1969, p.283),

    a originalidade da arte persa consiste precisamente na habilidade emcombinar elementos tão heterogêneos dentro dos padrões de luxo ede grandiosidade tão caros aos Aquemênidas. (...) A arte da Babilôniae da Assíria figuram em primeiro plano na inspiração das realizaçõespersas. Na Mesopotâmia os Aquemênidas aprenderam a constru-ção de colinas artificiais e de escadarias monumentais. As colunatas,

    que lembram as salas hipóstilas de Tebas, são de evidente inspiraçãoegípcia. Essa influencia egípcia tem início a partir da expedição deCambises. Note-se que Deodoro da Sicília menciona a colaboração deartistas egípcia nas construções de Persépolis e de Susa. A influênciaegípcia é notada também na decoração externa dos sepulcros reais.

    Os palácios reais, nas diversas capitais do Império, são a grande expressão da arquitetura aquemê-nida. O Palácio de Persépolis foi o mais ambicioso. Sua construção foi iniciada por Dario I em 518 a.C.Utilizando várias técnicas e estilos, Persépolis era um símbolo do poder e da universalidade do Impériopersa. A sala de audiências (apadana) de Persépolis tinha cerca de 125 m², 36 colunas de 12 metros dealtura. Outrora, possuía um telhado e suas paredes eram ornadas com pinturas de leões, touros e flores.Os materiais mais nobres e belos eram usados para a sua decoração: ouro, pedras preciosas, cedro doLíbano, tijolos esmaltados e pigmentos coloridos.

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    O Palácio de Persépolis era decorado com relevos que procla-mavam a glória dos persas sobre as demais nações. A escadaria du-pla, simétrica, que leva à sala de audiências (apadana) foi decoradalateralmente com relevos de fileiras de pessoas em marcha solene,dignitários e portadores de tributos, numa típica demonstração desubmissão ao poderio persa. No exterior, relevos com batalhas de

    animais fantásticos e os Imortais, os guardas de elite do rei, numanítida demonstração do poderio militar persa. Acima deles, entreduas esfinges, a representação do deus persa Ahura-Mazdâh (umdisco alado que deveria conter na parte superior uma figura antro-pomorfa), o senhor da luz, do Bem, criador de todas as coisas.

     Assim, são característicos das construções aquemênidas dois elementos: a coluna em pedra e as

     vergas de madeira, que possibilitaram a edifi

    cação das altas salas dos palácios de Passárgada, Susa e Persé-polis. A coluna persa típica tem fuste canelado (influência grega da ordem jônia) e seu capitel é compostopor duas cabeças de touros (influência assíria). Há variantes com capitéis com leões e grifos.

    Palácio de Persépolis. Irã, séc. VI-V a.C.

    Relevo exterior da escadaria da Sala de Audiências(Apadana) do Palácio de Persépolis. Irã, séc. VI-V a.C.

    Capitel persa em pedra com duplos touros

    da Sala de Audiências (Apadana) do rei Da-rio I. Palácio de Susa, c. 510 a.C.

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    O luxo e a grandiosidade desses palácios são descritos por uma inscrição de Dario em Susa que diz:

    Este Palácio que eu construí em Susa, seus materiais foram trazidosde bem longe. O que foi cavado na terra, o que foi amontoado decascalhos, foi o povo babilônico que o fez. O cedro foi trazido domonte Líbano. Babilônios trouxeram-no até Babilônia e os cários

    e os jônios – os deportados – de Babilônia até Susa. A madeira deteça foi trazida da Índia; o ouro, de Sardes e de Bactriana; o lápis-lazúli e o cinábrio, da Sogdiana; as turquesas, da Carasmia; a prata eo chumbo, do Egito; os materiais que decoram as paredes, da Jônia;o marfim, da Etiópia, da Índia e da Aracósia; as colunas de pedra,da Cária. Os entalhadores de pedra eram jônios e lídios; os ourives,lídios e egípcios; os fabricantes de tijolos, babilônios; os homens queenfeitaram as paredes, medos e egípcios. Em Susa foi realizado umtrabalho esplêndido. Possa Ahura-Mazda proteger-me ...” (GIOR-DANI, 1969, p.283).

     Assim, mão-de-obra e materiais eram importados de todo o Império para a glória persa. Háindícios de que os palácios possuíam deslumbrantes jardins de desenho geométrico, alimentadospor um sistema de canais de irrigação.

    Não há arquitetura religiosa nesse período dos persas aquemênidas, pois o culto do deus Ahura-Mazda não necessitava de templos, ele era celebrado ao ar livre em altares onde era aceso o fogo, símbolodesse deus supremo. Existem, sim, imponentes exemplares de arquitetura funerária. Destacam-se o Mau-soléu de Ciro, o grande, e o hipogeu de Dario I. O Masoléu de Ciro foi feito em Passárgada, no estilo dassepulturas gregas, dos jônios. O hipogeu de Dario foi escavado na rocha ao estilo das tumbas egípcias, naencosta do Monte Husseim-Kuh, ao norte de Persépolis. Semelhante ao portal de um palácio, sua fachada

    traz o relevo do disco do deus Ahura-Mazda. Seus sucessores adotaram o mesmo modelo de sepultura.

    Portanto, na Mesopotâmia, vemos na arte diversas expressões que vão da religiosidade suméria embusca de altos zigurates para seus deuses, o militarismo assírio e o esplendor profano do Império persa.

    1 -  Hipogeu de Dario I, o grande.Monte Husseim-Kuh, Irã, séc. V a.C.

    2 - Mausoléu de Ciro, o grande.Passárgada, Irã, c. 530 a.C.

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     As primeiras tribos nômades se fixaram no vale e no delta do Nilo em tempos pré-históricos. Como desenvolvimento da agricultura, esses grupamentos criaram vínculos comunais, pois se reuniam para se-

    mear as terras e irrigar as plantações após a cheia do Nilo. Eles formaram aldeias rurais que estruturaram-seem províncias denominadas de nomos. Por volta de 4.000 a 3.500 a.C, impulsionados pela necessidade defortalecimento econômico e como estratégia de defesa contra os inimigos, os nomos agruparam-se em doisreinos: o Alto e o Baixo Egito. A unificação do Egito, construída do sul para o norte, ou seja, do Alto parao Baixo Egito, é atribuída ao primeiro faraó, Menés (entre cerca de 3.500 a 3.000 a.C), identificado comoNarmer. Com ele se iniciou a primeira de 30 dinastias egípcias, uma história de cerca de 3.000 anos.

    O tipo de governo que surgiu com o nascimento do reino egípcio é a monarquia teocrática. Essacaracteriza-se como um regime altamente centralizado, cuja base do poder do faraó está na religião. Oseu caráter divino, baseado na sua identificação como a encarnação do deus Hórus, tornava o seu poderabsoluto e inquestionável. O faraó era a autoridade máxima em todas as esferas (religiosa, administrativa,

    social, econômica, judicial, militar), ele era o senhor de todas as terras e de todos os egípcios.Como já vimos, na Mesopotâmia, também no Egito, com a urbanização, a organização do trabalho

    e novas demandas de mercado, o artista tornou-se um profissional, embora permanecesse geralmentecomo um artífice anônimo. Assim, como ressalta Hauser (1994, p.26),

    o criador de imagens de espíritos, de deuses e de homens, de utensíliosdecorativos e de jóias, emerge do meio fechado do lar e torna-se umespecialista que faz dessa profissão seu modo de subsistência. Já dei-xou de ser o inspirado mágico ou o membro expedito do lar para tor-nar-se o artífice que cinzela esculturas, faz pinturas ou modela vasos,

    tal como outros fabricam machados e sapatos, e não é tido em muitomais alto apreço que o ferreiro ou o sapateiro. A perfeição do trabalhomanual, o controle seguro de materiais difíceis e o esmero da execu-ção impecável, que é especialmente notável no Egito, em contrastecom a genialidade ou a despreocupação diletante da arte anterior, éresultado da especialização profissional do artista, da vida urbana coma crescente competição entre forças rivais e do treinamento de umaelite experimentada e exigente de conhecedores nos centros culturaisda cidade, nos recintos dos templos e no palácio real.

     A arte egípcia foi uma expressão do Estado Teocrático. A matéria prima preferida foi a pedra, aocontrário da Mesopotâmia que tinha escassez deste material. Como os períodos artísticos estão vincula-dos ao poder dos faraós, vamos abordá-los considerando a divisão didática da história egípcia em Antigo,Médio e Novo Império.

     Antigo império (2.700-C.2200 A.C) As maiores realizações artísticas egípcias foram os templos e os túmulos. Os mais famosos exem-

    plares, que datam desse período, são as três grandes pirâmides dos faraós Queops (Khufu), Quefrem(Khafre) e Miquerinos (Menkure), da 4ª dinastia. Fruto da evolução técnica conseguida, elas são descen-dentes das mastabas (túmulos trapezoidais) e da experiência do arquiteto Imhotep, construtor da pirâ-

    mide de degraus de Sakara (superposição de seis mastabas) do faraó Zoser da 3ª dinastia. Esses colossaistúmulos reais são compostos por imensos blocos de pedra, que originalmente eram revestidos com pedracalcárea branca, formando superfícies planas, polidas e brilhantes. Dessa cobertura depredada ao longo

     ARTE EGÍPCIA

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    dos séculos, só resta uma pequena parte no topo da pirâmide de Quéops. Interiormente, uma série decorredores conduzem à câmara funerária onde era depositada a múmia. Esses corredores após o sepulta-mento eram obstruídos com pedras como proteção.

    Na verdade, as grandes pirâmides são parte de um conjunto fu-nerário maior composto de pirâmides menores destinadas às rainhas e

    parentes reais, e construções cerimoniais de culto. Parte deste conjuntoé a Grande Esfinge, representação híbrida antropozoomorfa com cor-po de leão e cabeça humana masculina. Sua construção é atribuída aofaraó Quéfrem. Para Upjohn (1979, p.72), o rosto da esfinge é destefaraó. A esfinge está ligada à pirâmide de Quéfrem.

     Todas essas grandiosas construções só forampossíveis graças à estrutura egípcia baseada na teo-cracia. O custo com materiais e mão-de-obra invia-bilizariam essas construções atualmente.

    Com relação às esculturas egípcias, elasrepresentam tanto o indivíduo como a clas-se social à qual pertencem. Assim, os nobres sãomais idealizados que os inferiores. As esculturas decorpo inteiro encontram-se presas nas costas aobloco de pedra, uma solução técnica dessa fase.Para conferir equilíbrio à composição destas,as figuras de pé estão sempre como a dar umpasso, geralmente com a perna esquerda à

    frente, de modo a distribuir o peso. A escultura do faraó Miquerinos e sua esposa

    demonstram essas características bem como uma certa rigidez no corpo. Já a escultura do escriba sentado, encontrada em Sakara, possui menos rigidez e

    mais realismo. Os olhos, a boca e a mão direita preparada para escrever denotam ummomento de atenção. Os escribas tinham um papel muito importante no Egito Antigona confecção dos registros e controle dos impostos. Nesta escultura nota-se que a pelefoi pintada de vermelho, cor destinada às figuras masculinas e os olhos foram incrusta-dos em branco com a pupila e íris negras de forma a criar uma expressão viva.

     As paredes dos túmulos (reais e de particulares) e templos eram ornadas comrelevos narrativos coloridos acompanhados por inscrições em hieróglifos. Nessas re-

    presentações bidimensionais não há preocupação com perspectiva e seguem a umasérie de convenções estabelecidas. Assim, as figuras mais importantes sempre estão emtamanho maior para dar destaque. As pessoas, quando de corpo inteiro, quase sempresão representadas com os rostos de perfil, o torso frontal e as pernas vistas de lado.

     As mulheres egípcias, geralmente, são pintadas de cor mais clara que os homens. Osdeuses trazem seus atributos simbólicos que permitem seu reconhecimento. Quanto àproporção, as figuras humanas eram representadas segundo um sistema regido por umquadriculado com unidades de igual tamanho, que garantia a repetição e unidade emqualquer escala e posição. Os artistas aplicavam o quadriculado nas superfícies a serem decoradas e ajustavamnele asfiguras humanas a serem representadas. Todas essas regras são praticamente constantes através de todos

    os períodos artísticos egípcios, só havendo uma sensível ruptura no período amarniano no Novo Império. No Antigo Império as decorações do Túmulo de Ti são as mais refinadas conhecidas.

    Pirâmides de Quéops (c. 2.530 a.C),Quefrem (c. 2.500 a.C) e Miquerinos(c. 2.470 a.C). Gizé, Egito.

     A Grande Esfinge. Alt.: 20 metros. Gizé,Egito, c. 2.500 a.C.

    O faraó Miquerinos e a rai-nha Camerernebti, escul-tura em xisto, c. 2.470 a.C.

     Altura: 1,40 m. Museu deBelas Artes de Boston, Es-tados Unidos da América.

    Escriba sentado de Sakara,em pedra calcárea pintada, c.2.400 a.C. Alt: 53,0 cm. Mu-seu do Louvre, Paris, França.

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     Além da pintura dos relevos, a pintura sozinha, propriamente, dita ornava túmulos e até ricasresidências. Além disso, eram mais baratas que os relevos pintados, que envolviam a arte escultórica.Na Mastaba de Nefermaat e de sua esposa Itet foram encontradas pinturas de cenas da vida diária deexcepcional qualidade. Uma dessas pinturas era um friso composto por gansos. Esse foi pintado na

    técnica da têmpera, com pigmentos minerais diluídos em água.

    Médio império (2.033 A 1.710 A.C)

     A instabilidade do período intermediário entre o Antigo e o Médio Império abalou a velha ordem mesmoapós a restauração. A arte desse período tenta resgatar o Antigo Império, mas sem as suas grandiosas construções.Nessa fase, a arte é marcada pela simplicidade e pelo realismo. Pouco restou das construções desse período, querpela destruição feita pelos hicsos, quer pela modernização desses exemplares feita pelo Novo Império. Os túmu-los reais da 12ª dinastia são pirâmides de dimensões bem inferiores às das grandes pirâmides de Gizé.

    Com relação à escultura, a serenidade do Antigo Império foi perdida e uma nova expressão surgiuprincipalmente nos retratos. Para Garbini (1966, p.138),

    ao contrário das obras anteriores, os retratos dos faraós e do povo doMédio Império parecem quase iluminar-se pelo seu realismo físico. Maspermanecem de fato tão estilizados quanto os seus predecessores do

     Antigo Império: apenas o ideal mudou. Não mais se vê o deus-faraóou o homem confiante no seu poder de manter a própria essência vital

    mesmo no túmulo mas, ao contrário, um rei-faraó, bravamente militan-te ou humanamente sábio, ou ainda o súdito que antecipa com sereni-dade uma vida além-túmulo muito semelhante à vida terrena. (...)

    Relevo de cena de caça de hipopótamo, empedra calcárea pintada. Túmulo de Ti, faraóda 5ª dinastia, c. 2.500 a.C. Sakara, Egito.

    Parte do friso de pintura da Mastaba de

    Nefermaat e de sua esposa Itet. 4ª dinastia,Medum, Egito. Museu do Cairo, Egito.

    Médio império (2.033 A 1.710 A.C)

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     Ao procurar compreender a escultura do Médio Império, em particular, éimportante ter em conta que a forma é primariamente modelada para receber aluz, que agora assume um papel dominante. Assim, os volumes contidos do An-tigo Império foram trabalhados com um modelado mais elaborado e suavizadopelo jogo de luz e sombra.

    Dessa forma, temos a escultura do faraó Amenemhet III, executada na tra-dição de Mênfis, com uma expressão serena, mas quase triste.

    Na decoração das tumbas, os relevos foram substituídos pelas pinturas. Cenascom animais são bastante freqüentes. As pinturas mais célebres desse período foramdescobertas em Béni Hasen. No túmulo de Ukhotep, em Meir, as cores são intensifi-cadas por variações de tons numa espécie de técnica pontilhista. Exemplo bem pre-servado dessa técnica é a pintura do sarcófago de Djehuty-nekht, da 12ª dinastia.

    Novo império (1559-1.069 A.C)

     A arte do Novo Império está fartamente documentada através de seus exemplares. Na arquitetura,destacam-se os imponentes templos. O templo egípcio é composto de: pilone, peristilo, sala hipostila e san-tuário. O primeiro elemento, o pilone, de formato trapezoidal, é a monumental entrada do templo, ladeadapor duas torres maciças. Ou seja, é a grande fachada, o primeiro umbral a ser trilhado. Em alguns templos,obeliscos e estátuas eram colocados simetricamente à frente do pilone. Ao passar por ele, entrava-se no pe-ristilo, um pátio com pórticos. Esse pátio leva à sala hipostila (sala de colunas), cujo teto é sustentado por tra-

     ves de colunas. Atrás desta sala, o santuário, o local mais sagrado do templo, que abrigava a estátua do deus

    ao qual era dedicado. Esses quatroelementos que formam o templo sãodispostos herarquicamente, com fun-ções diferenciadas, do público para osagrado. Assim o acesso era progres-sivamente filtrado, estando o santuá-rio reservado exclusivamente para ossacerdotes e o faraó, o chefe religiosode todo o Egito. O mais famoso tem-plo do Novo Império era Karnak, de-dicado ao deus Amon, iniciado em cer-ca de 1.390 a.C., sofreu acréscimos nodecorrer dos séculos pelos faraós quequeriam se eternizar.

    Escultura do faraó Ame-nemhet III, 12ª dinastia,1840-1.800 a.C. Museude Berlim, Alemanha.

     Ataúde em madeira pintada de Djehuty-nekht. 12ª dinastia, c. 1.991 a 1.778 a.C.Museu de Belas Artes, Boston.

    Planta de um Templo

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    O grandioso Templo funerário da rainha Hatshepsut(1.501-1.480 a.C), em Deir El-Bahri, projetado pelo arquiteto Sen-mut é outro destaque. Em grande escala, possui três terraços, umarampa de acesso e uma elegante colunata (sequência de colunas).O santuário e a sala hipostila estão dissimulados no rochedo e ospátios abertos correspondem ao peristilo. As colunas são faceta-

    das em 16 faces. A decoração em relevo dos pilares e paredes dotemplo revela uma arte cortesã. As cenas que retratam a expediçãoà Terra de Punt são, particularmente, reveladoras de uma liberda-de, vivacidade e ironia na narrativa até então desconhecida.

    Quanto à arquitetura funerária, devido às violações pratica-das nas sepulturas na época dos hicsos, foi escolhido um novo localpara os enterramentos: o Vale dos Reis, uma área desértica e de fácilcontrole e vigilância. Os túmulos no Vale dos reis eram hipogeus,estruturas subterrâneas, com vários compartimentos, escavadas nasencostas das montanhas. Esses compartimentos eram decorados

    com relevos e pinturas que traziam narrativas sobre a vida do mor-to, as promessas do além e inscrições mágicas que orientassem apassagem para a vida eterna, dentro dos cânones estabelecidos.

    Merece destaque nesse período o faraó Ramsés II (c.1290-1224 a.C.), que reafirmou a hegemonia egípcia durante o seu lon-go e glorioso reinado, considerado o último período de apogeu dopoder faraônico. Brilhante estadista, foi um grande construtor. Éresponsável, dentre outros, pela construção do templo de AbuSimbel na Baixa Núbia, um marco simbólico do poder na região.Escavado na pedra, o complexo compreende dois templos: um

    dedicado a Amon, Rá e Ptah e o outro desdicado à deusa Hathor,personificada pela rainha Nefertari, esposa de Ramsés II. Quatrocolossais estátuas do faraó de cerca de 20 metros de altura deco-ram a fachada de cerca de 35 metros. No interior, a sala hipostilatraz uma série de altas colunas e uma profusão de relevos comnarrações e ilustrações. Após um vestíbulo, há um santuário comas esculturas sentadas dos deuses patronos do templo e RamsesII. Essa câmara foi posicionada de forma a receber em seu escu-ro interior os raios solares duas vezes por ano.

     Templo de Karnak, em Luxor, Egito

     Templo de Hatshepsut em Deir El-Bahri, 18ªdinastia, séc.XV a.C. Egito.

     Vale dos Reis, 18ª dinastia, séc.XV a.C. Egito.

     Templo de Abu Simbel, c. 1265 a.C. Egito

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    No Novo Império, as esculturas eram realizadas em busca de graça e elegância. Embora houvesseum maior realismo nos rostos, as regras de composição ainda eram seguidas. Uma das maiores contribui-ções desse período foi a pintura. Utilizada em maior escala na decoração dos túmulos do Vale dos Reis,agora era independente dos relevos. Enquanto os túmulos reais estão submetidos a rígidas convenções,os túmulos particulares oferecem maior liberdade. Um exemplo dessa nova fase é o grupo de carpideirasdo túmulo de Ramose vizir de Amenhotep III, de cerca de 1.370 a. C. Essa cena recebeu um tratamento

    cromático limitado a tons de cinza, preto e castanho de modo a enfatizar a dramaticidade do tema.

    Por um breve período na longa história do Egito, o politeísmofoi substituído. Isso ocorreu no século XIV a.C. com o faraó Ame-nófis IV que trocou seu nome para Akenathon em honra do deus

    único Aton. Ele transferiu a capital de Tebas para Tell al-Amarna. Aarte desse período é bastante característica, retratando os soberanosem situações cotidianas com alto grau de realismo e informalidade.Exemplo disso é uma estela de Amarna retratando a família real emuma situação informal, com demonstração de afeto entre os pais e asfilhas, e adoração ao deus Aton, representado no alto da composiçãopelo disco solar e seus raios que banham seus adoradores reais. Prova-

     velmente essa estela destinava-se a um altar particular.

    Nefertiti, a esposa de Akenaton, que teve papel decisivo nessa novaconfiguração e no culto a Aton, foi imortalizada por um busto sob a guardado Museu de Berlim. Essa escultura é considerada uma das obras primas doestilo Amarna. Segundo Janson (1984, p.64), ela quebra a “rigidez da imobi-lidade tradicional. Não só os contornos mas também a configuração plásticaparecem mais flexíveis e descontraídos, antigeométricos”.

    Com a morte de Akhenaton, instituiu-se um período de convulsão po-pular contornado pela ação dos sacerdotes de Amon. Eles se encarregaram dedestruir Amarna, os templos a Aton, perseguir os antigos adeptos e afastar ossucessores de Akhenaton. Denominado de rei herético, tentaram apagá-lo da his-

    tória do Egito apagando todas as inscrições que trouxessem seu nome. A capitalretornou a Tebas e o clero de Amon restabeleceu o poder. A liberdade artísticadesse período contudo, abriu novos caminhos para a arte egípcia.

    Grupo de carpideiras. Fresco do túmulo de

    Ramose, c. 1.370 a.C. Tebas, Egito

    Estela em pedra calcárea de Amarnacom o faraó Akenaton, a rainha Ne-fertiti e suas filhas. Egito, c. 1.350 a.C.Museu de Berlim, Alemanha.

    Busto da rainha Nefertit. Amar-na, Egito, c. 1.350 a.C. Museu deBerlim, Alemanha.

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     A arte egípcia resistiu à dominação persa (525-404 a.C), à conquista de Alexandre (332 a.C.), ao períodoptolomaico (332-30 a.C) e à dominação romana iniciada em 30 a.C. A ruptura final veio no séc.IV d.C. com aascenção do Cristianismo a religião oficial e exclusiva do Império Romano. A partir de então os templos egíp-cios foram fechados, o conhecimento da escrita hieróglifica e a tradição da arte egípcia foi desaparecendo.

     Atividade complementar.A partir do exposto, como você definiria arte?

    Discuta o sentido da arte na pré-história a partir das suas características.

    Podemos considerar a arte persa como globalizante dentro do conceito de mundo na Antiguidade? Por quê?

    .Por que podemos considerar a arte egípcia uma arte para a eternidade e não uma arte da morte?

    De modo geral, nessas primeiras civilizações, qual era o principal propósito da arte?

    1.

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     ARTE CLÁSSICA E NASCIMENTO DA ARTE CRISTÃ

     Nesse segundo tema serão investigadas as manifestações artísticas no mundo greco-roma- 

    no. Serão abordados os antecedentes minóicos e micênicos até o esplendor da arte grega. A seguir, veremos a trajetória da arte romana a partir dos etruscos. E, por  fi m, a novacon  fi  guração artística imposta pela ascenção do Cristianismo no Império Romano.

    CRETA E O MUNDO EGEU

    O Mundo Egeu compreende as sociedadesque se desenvolveram na Antiguidade na regiãocontinental e insular banhada pelo Mar Egeu. Duas

    grandes civilizações floresceram e dominaram aárea: a Minóica ou Cretense e a Micênica.

    Mapa da Grécia Antiga

    Estante do historiador

    O que é arte - Escrito por Jorge Coli e editado pela Brasiliensena coleção Primeiros Passos. Esse livro aborda sobre o concei-

    to de arte através do tempo e espaço. Uma interessante refle-xão sobre o tema.

    Cinema e história

    Príncipe do Egito  – Produção norte-americana daDreamworks dirigida por Brenda Chapman, Simon

     Wells e Steve Hickner, lançado em 1998. É uma versãoda história do Êxodo, da libertação dos judeus por Moi-

    sés. Essa animação consegue retratar visualmente a artee o ambiente egípcio do Novo Império.

    Saiba Mais!

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     Arte minóica ou cretense

     A Civilização Minóica ou Cretense (2.600-1.460 a.C) estava sediada na Ilha de Creta. O termo mi-nóico é derivado do Rei Minos. Segundo a lenda, o primeiro Minos era filho da princesa fenícia Europae do deus Zeus, que a raptou e seduziu sob a forma de um touro. A lenda do Minotauro é desta região.

     A civilização minóica era talossocrática, ou seja, tinha um governo baseado no domínio marítimo. Sua

    economia estava baseada no comércio marítimo. Pouco se sabe de sua cultura, pois sua escrita não foiainda decifrada. Pelos registros iconográficos nas cerâmicas e construções é frequente a representação deesportes como a tauromaquia e as figuras femininas, dentre as quais muitas delas são deusas e sacerdoti-sas. A sua ascendência termina com o domínio da civilização micênica.

    Na arquitetura, o principal exemplar é o Palácio deCnossos, chamado de Palácio de Minos. Ocupando uma vastaárea, repleto de aposentos, não é um edifício imponente comoos palácios assírios e persas. Essa construção de alvenaria comcolunas de madeira, teto baixo, possuía vários níveis, muitospátios para o arejamento e um sistema de tubulação para água

    e esgoto, havendo uma sala de banho. As paredes interiores do Palácio de Cnossos eram profusa-

    mente decoradas com flores, cenas de tauromaquia, dança, cenaspalacianas, sendo a vida marinha o principal tema. A composiçãonão apresenta perspectiva, as figuras são representadas segundoa lei da frontalidade egípcia, com forte contorno nas formas,possuindo contudo, um caráter nitidamente decorativo e nãonarrativo. É uma arte para agradar os sentidos, explorando omovimento rítmico e ondulatório, utilizando cores vivas e con-trastantes. As principais cores usadas eram o vermelho, azul e o

    branco, estando presente da paleta desses artistas desconhecidostambém o amarelo ocre, o marrom, o verde, o rosa. O afresco detauromaquia ou do Toureiro é o maior e o mais movimentado.Esse representa um jogo ritual, tendo ao centro uma figura mas-culina que faz acrobacias sobre o touro sagrado, ladeado por duasfiguras femininas, possivelmente sacerdotisas, pintadas com pelemais clara (convenção cromática utilizada na arte egípcia).

    Enquanto a pintura mural minóica traz uma nítida influência egípcia, sem o hieratis-mo, a pintura cerâmica minóica é bastante singular. Segundo Janson (1984, p.86), entre2.000 e 1.700 a.C “Creta desenvolveu um tipo de cerâmica célebre pela perfeição téc-

    nica e pelos dinâmicos motivos decorativos em espiral” que posteriormente “deramlugar a um novo repertório inspirado na vida animal e vegetal”. O tema dominantemais uma vez são as cenas marinhas, representados com muito movimento, afinalCreta é uma ilha e sua economia estava centrada no comércio marítimo.

    Poucas esculturas foram encontradas. Não há esculturas grandiosas. Suaprodução é formada, principalmente, por figuras de argila ou terracota e ou-tros materiais locais. Os temas recorrentes foram animais e figuras femininas.Essas figuras femininas são identificadas como deusas e/ou sacerdotisas. To-das essas figuras femininas de cintura de vespa, trazem os seios nus, levandoa crer ser essa a indumentária feminina cretense. A estatueta denominada Deusa das Serpentes segura nas

    mãos duas serpentes. A serpente, em muitos cultos, está associada às divindades da Terra e à fecundidademasculina (como a Grande Píton grega e a relação das pitonisas com o deus Apolo). Questiona-se se essasimagens eram de culto ou votivas, se eram deusas ou sacerdotisas. Não foram encontradas essas imagens

    Palácio de Minos. Cnossos, Creta.

     Afresco de tauromaquia do Palácio de Minos.Cnossos, Creta. Museu Arqueológico de Creta.

     Vaso do Polvo. Palaikastro, Cre-ta, c. 1.500 a.C. Alt. 28,0 cm.Museu de Heraklion, Creta.

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    fora de Creta. Quanto ao estilo delas, Janson (1984, p.87) acredita numa influência dos orantes da Meso-potâmia devido à “forma acentuadamente cônica da figura, os olhos enormes e as espessas sobrancelhasarqueadas que sugerem um parentesco – remoto e indireto, possivelmente por via da Ásia Menor”.

     Arte micênica

     A Civilização Micênica (1.600 a 1.100 a.C), deriva da cidade de Micenas, localizada na Grécia con-tinental, a 90 km do sudoeste de Atenas. Acredita-se que os aqueus, povos nômades indo-europeus, maisevoluídos tecnologicamente, que migraram para a Grécia por volta do séc.XVI a.C originaram a civilizaçãomicênica. Segundo os estudiosos, a sociedade micênica era próspera e dominada por uma aristocracia guer-reira. Seus nobres eram enterrados em grandes tumbas circulares em pedra. Máscaras mortuárias em ouro ejóias foram encontradas nas sepulturas. Esse período termina com a invasão dos dórios, gregos do norte.

     A arquitetura micênica tinha uma monumentalidade eum militarismo que não existiam em Creta. Os palácios eramfortificações situadas sobre colinas, cercadas por muralhas de-fensivas. O Palácio de Tirinte possuía grossas muralhas forma-das por grandes blocos de pedra. Upjohn (1979, p.145) apontauma influência minóica ao descrever o palácio, a disposição dasportas, pátios e salas era provavelmente de origem minóica, as-sim como o tipo de colunas à