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¹ Professora PDE 1ªfase – 2007/2008. Área: Educação Especial. Formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Especialização em Educação Especial, Pedagoga no Colégio Estadual Meneleu de Almeida Torres – Ponta Grossa.
HIPERATIVIDADE: UM DESAFIO À AÇÃO EDUCACIONAL
Matilde Esteves Perez¹
RESUMO: este artigo trata da temática “Hiperatividade”. Os transtornos de comportamento em hiperativos, caracterizam-se por uma série de manifestações como instabilidade de atenção, agitação exagerada ou impulsividade, gerando problemas de aprendizagem, de relacionamento familiar, escolar e social. É necessário tentar entender o que se passa de diferente e especial nesses cérebros inquietos, os fatores envolvidos na gênese da hiperatividade e os problemas associados que interferem no desenvolvimento educacional e social dos alunos com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade). O estudo foi realizado durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) - 1ªfase (2007 /2008). Os estudos com pesquisa bibliográfica densa, palestras, seminários, grupo de trabalho em rede, formação continuada de professores, alunos e pais do Colégio onde atuo, resultaram na elaboração deste artigo, onde a temática foi abordada com estudos que subsidiaram a organização de um Caderno Pedagógico, instrumento síntese que ancorou as implementações realizadas em palestras, seminários em turmas de graduação da UEPG, orientação do Grupo de Trabalho em Rede, cujos depoimentos selecionados de professores participantes fazem parte deste trabalho, estabelecendo relações teórico-práticas importantes para a ressignificação dos processos pedagógicos. O destaque maior deu-se no Colégio durante a implementação do projeto com alunos diagnosticados como hiperativos com instabilidade de atenção. Espera-se, que esse artigo possa contribuir para melhor conhecimento das situações que envolvem as crianças e adolescentes com Hiperatividade e Instabilidade de Atenção, despertando o contexto comunitário desses alunos para uma realidade vivencial mais saudável, num processo educacional eficaz, avançando pelos temas curriculares em estratégias pedagógicas que os interessem, facilitando sua concentração e aprendizagens. PALAVRAS-CHAVE. Hiperatividade. Instabilidade de Atenção. Escola Pública.
ABSTRACT: this article deals with the thematic “hyperactivity”. The upheavals of behavior in hyperactive, characterize for a series of manifestations as instability of attention, exaggerated agitation or impulsiveness, generating learning problems, of familiar relationship, pertaining to school and social. It is necessary to try to understand what it is transferred of different and special in these uneasy brains, the involved factors in genesis of the hyperactivity and the problems associates who intervene with the educational and social development of the students with TDAH (Upheaval of the Deficit Attention/ Hyperactivity). The study was carried through during the Program of Educational Development (PDE) - first stage (2007 /2008). The studies with dense bibliographical research, lectures, seminaries, work group in net, continued formation of professors, students and parents of the College where act, had resulted in the elaboration of this article, where the thematic one was boarded with studies that had subsidized the organization of a Pedagogical Notebook, instrument synthesis that anchored the implementations carried through in lectures, seminaries in groups of graduation of the UEPG, orientation of the Work group in Net, whose selected depositions of participant teachers are part of this work, establishing important theoretician-practical relations for the resignification of the pedagogical processes. The prominence biggest was given in the College during the implementation of the project with students diagnosised as hyperactive with attention instability. The communitarian context of these pupils for a more healthful existential reality expects, that this article can contribute for better knowledge of the situations that involve the children and adolescents with Hyperactivity and Instability of Attention, awakening, in efficient an educational process, advancing for the curricular subjects in pedagogical strategies interest that them, facilitating to its concentration and learning.
KEYWORDS: Hyperactivity. Attention Instability. Public School.
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INTRODUÇÃO
Os transtornos de comportamento em hiperativos com déficits de
atenção, TDAH, caracterizam-se por uma série de manifestações como
instabilidade de atenção, agitação exagerada ou impulsividade, gerando
problemas de aprendizagem, de relacionamento familiar, escolar e social,
segundo estudiosos especialistas pesquisadores, dentre eles: Antunes(2001),
Benczik (2002), Cypel (2000), Goldstein (1994), Mattos(2001), Silva (2003),
Topczewski (2001).
Nesse texto, inicialmente aborda-se alguns aspectos históricos da
Inclusão, para evidenciar a importância da efetivação dos processos inclusivos
no ambiente escolar. Estabelecer critérios para identificação de crianças e
adolescentes TDAH sempre foi um desafio enfrentado pela Psiquiatria e
Psicologia. Alguns critérios que devem ser usados na escola para compor a
avaliação multiprofissional do TDAH, também são abordados neste artigo.
Apresenta-se sugestões de alguns autores de como identificar as
possibilidades de amenizar os sintomas do TDAH através de estratégias de
intervenção no comportamento da criança ou adolescente, tendo em vista a
melhoria da aprendizagem; reflexões sobre a necessidade de desenvolver
metodologias alternativas, respeitando as potencialidades individuais do aluno.
Lidar com a criança ou adolescente com diagnóstico de TDAH na
escola, é um desafio, pois nessa instituição tem-se uma organização hierárquica
com horários fixos, lugares determinados e expectativas padronizadas de
comportamento do aluno.
A família é o elo de fortalecimento das relações no processo
inclusivo do aluno com TDAH, são feitas algumas considerações acerca da
importância da família encontrar seu ponto de equilíbrio no relacionamento com a
criança ou o adolescente.
O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), é uma política
pública do Estado do Paraná, que possibilita aos professores ampliar os
conhecimentos e provocar mudanças qualitativas na prática escolar da Escola
Pública Paranaense, estabelecendo o diálogo entre os professores da Educação
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Superior e os da Educação Básica, através de estudos orientados.
Dentre as atividades previstas no PDE/PR, destaca-se a do Grupo
de Trabalho em Rede – GTR, que possibilita a integração do Professor PDE com
os Professores da Rede, por meio de encontros virtuais, para a discussão das
temáticas de sua área de formação e/ou atuação. Os participantes dos Grupos
puderam estabelecer relações teórico-práticas em sua área de conhecimento,
visando ao enriquecimento didático-pedagógico, por meio de leituras, reflexões,
troca de idéias e experiências. No artigo, aparecem algumas reflexões sobre o
Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade de professores da Rede
Estadual de Ensino que participaram deste estudo através do Grupo de Trabalho
em Rede, considerando que estas experiências podem contribuir para a
ressignificação dos processos pedagógicos.
Também espera-se que este trabalho leve à ação. Do contrário não
terá cumprido seu real objetivo. É necessário envolver-se pessoalmente nos
desafios, sensibilizar-se, mobilizar-se, ousar acreditar que a escola pode se
renovar a cada dia e que o conhecimento pode romper com preconceitos e rótulos
associados aos alunos hiperativos, garantindo a eles o desenvolvimento de suas
potencialidades.
1 HIPERATIVIDADE E INSTABILIDADE DE ATENÇÃO
Todos conhecem crianças agitadas, que muitas vezes são rotuladas
de “pestinhas”, que as mães se sentem constrangidas e não sabem o que fazer,
que os professores ficam aliviados quando não comparecem às aulas e que
baseados no senso comum ouvimos os comentários. ”tudo se resolveria com
umas boas palmadas”.
As crianças ou adolescentes acometidas de TDAH têm dificuldade
em se concentrar em qualquer atividade. Em sala de aula, um ruído, um colega
que levante, podem distraí-las a ponto de não ouvirem mais a voz da professora.
O rendimento escolar freqüentemente deixa a desejar. Com os colegas, elas
tendem a querer controlar as brincadeiras. São também campeãs em acidentes
porque agem por impulso e não avaliam o perigo. O professor é quem geralmente
chama a atenção dos pais para o problema porque, antes de a criança alcançar a
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idade escolar, eles acham que aquela fase de excessos vai passar com o tempo,
o que não acontece.
As crianças e adolescentes com instabilidade de atenção e
hiperatividade têm problemas para controlar seu comportamento,
conseqüentemente seu rendimento escolar pode ser insuficiente, o que
representa um desafio para seus pais, professores, pediatras e para eles
mesmos. Vê-se segundo estatísticas, a incidência com maior freqüência nos
meninos que nas meninas e os afeta principalmente na idade pré-escolar. Sabe-
se que seu comportamento é de uma criança muito travessa e que é difícil
controlar-se, conduta que os pais e professores devem entender, para oferecer
todo o apoio.
Mudam de escola com freqüência, e há casos de pais que se
recusam a renovar a matrícula de seus filhos ao saber que naquela turma há um
hiperativo. Os pais de alunos com esse transtorno são obrigados a ouvir em
reuniões reclamações de outros pais que não conhecem o problema.
Quando vão com seus filhos a locais públicos, os pais de crianças
com TDAH costumam andar em estado de alerta para evitar as travessuras mais
inconvenientes.
Até há dez anos, segundo Mattos (2001), os médicos e terapeutas
acreditavam que o distúrbio de hiperatividade e déficit de atenção atingia apenas
as crianças, seus sintomas desapareciam com a idade.
Hoje, cada vez mais adultos recebem esse diagnóstico nos
consultórios. Em geral, ao descobrir que suas dificuldades têm um nome, ou seja,
são conseqüências de um distúrbio detectado pela medicina, costumam sentir-se
aliviados.
Existem adultos que fazem parte de comunidades de hiperativos
que, longe de lamentar a própria sorte, sentem até certo orgulho pela sua
condição. Muitos adultos com TDAH se gabam de ter mais energia para o
trabalho e se dizem capazes de tomar decisões mais rápidas. Muitos pais
também consideram suas crianças mais espertas que as outras apenas por causa
da energia inesgotável. Os médicos costumam advertir para o outro lado da
moeda: a possibilidade de alguém acenar ao fato de sofrer de TDAH para
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justificar os próprios fracassos profissionais ou as alterações de comportamento
dos filhos que obedecem a outras causas.
A maioria dos médicos, no entanto, é cautelosa ao administrar
remédios a pacientes com sintomas de TDAH, principalmente em se tratando de
crianças. Primeiro, porque esses medicamentos têm efeitos colaterais
indesejáveis, como diminuição do apetite, insônia, irritabilidade e até mesmo
diminuição do ritmo de crescimento. Segundo, porque muitas vezes o
comportamento hiperativo ou a falta de concentração de uma criança podem ter
causas não diretamente ligadas ao TDAH. Os próprios neurologistas chamam
atenção também para o fato de que, com muita freqüência, se ministram remédios
a crianças hiperativas que poderiam ser tratadas apenas com psicoterapia e a
ajuda dos pais.
O diagnóstico de TDAH tem sido dificultado devido a discordâncias
sobre sua natureza: um distúrbio cerebral biológico ou uma resposta
comportamental a certos ambientes, tais como a escola ou outras situações onde
foram colocadas demandas sobre a criança. A falta de concordância sobre a
definição do TDAH também contribuiu para a controvérsia. A maioria dos
primeiros termos associados aos diagnósticos tinham alguma conexão com
problemas neurológicos. Isto deveu-se em parte ao fato de que crianças e
adultos que tinham sofrido algum tipo de lesão no cérebro mostravam-se
freqüentemente impulsivas, hiperativas e distraídas.
No início do século XX, esse distúrbio foi chamado de Disfunção
Cerebral Mínima, Síndrome da Ausência de Controle Moral, passando
posteriormente a ser chamado de Hipercinesia, ou Reação Hipercinética da
Infância, logo a seguir, Hiperatividade, nome que ficou mais conhecido e perdurou
por mais tempo. Em 1987, passou a ser chamado de Distúrbio de Déficit de
Atenção, ou ainda Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade
(TDAH).(SILVA, 2003).
TDAH é um dos distúrbios neuro-comportamental mais
freqüentemente diagnosticado na infância, afetando crianças desde a primeira
infância, passando pelo período escolar e chegando à vida adulta. Os sintomas
de hiperatividade, impulsividade, ou desatenção aparecem antes dos sete anos e
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pessoas com TDAH geralmente apresentam os três tipos de sintomas, porém
com diferentes graus de intensidade. Esses sintomas devem estar presentes em
pelo menos dois ambientes diferentes (por exemplo: em casa, na escola, ou no
trabalho), e deve haver uma clara evidência de interferência com o adequado
desenvolvimento da funcionalidade social, acadêmica ou ocupacional. Atualmente
sabe-se que nenhum dos termos era exato quanto à origem ou às diversas
manifestações do comportamento TDAH e que a desatenção é o núcleo básico,
comum e unificador desse tipo de funcionamento mental, os sintomas de
hiperatividade, impulsividade, ou desatenção devem estar presentes antes dos
sete anos.
Goldstein (1993), relata que estimativas sugerem a ocorrência em
3% a 5% de todas as crianças em idade escolar e que o distúrbio está sendo
diagnosticado mais freqüentemente hoje em dia que há uma década atrás.
Entretanto, nenhuma deficiência neurológica tem sido constatada
para a maioria das crianças com TDAH, nem existe qualquer doença óbvia.
De acordo com CYPEL (2000), p.13:
As crianças hiperativas e desatentas sempre existiram na humanidade, sem que constituíssem um grupo reconhecido como apresentando alterações de comportamento. É possível que a educação familiar e os regimes escolares mais severos e rígidos, anteriores a esse século, de alguma forma tenham limitado o aparecimento desses comportamentos ou, então, os mantivessem contidos.( CYPEL, 2000, p.13).
As famílias não admitiam publicamente quando um filho apresentava
algum distúrbio, procuravam “camuflar”, algumas vezes colocando a criança em
um colégio interno. Se fosse do sexo feminino era mais fácil contornar a situação
já que a mulher não participava do mundo do trabalho competitivo e era
preparada para ser mãe e dona de casa.
Na gênese da hiperatividade, os fatores genéticos desempenham
importante papel, pois estudos mostram uma maior incidência da síndrome entre
parentes e crianças TDAH. Mas não existe um grau de probabilidade determinado
porque o distúrbio pode estar relacionado com algum tipo de dano no cérebro. Um
exemplo trazido por Silva (2003), são pessoas que tiveram encefalite letárgica;
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seria como se o cérebro tivesse uma porção de fios interligados e alguns deles
não estavam devidamente encapados, provocando um curto circuito.
De acordo com Silva (2003), substâncias neurotransmissoras,
apresentam-se alteradas no interior dos sistemas cerebrais. Trata-se de uma
disfunção e não de uma lesão, a diferença está no íntimo dos circuitos cerebrais
que são movidos e organizados pelos neurotransmissores que seriam os
combustíveis que alimentam, modulam as funções cerebrais.
Segundo Silva (2003), as investigações descrevem uma
hipoperfusão cerebral, localizada na região frontal e pré-motora do cérebro. Nas
pessoas TDAH, essa região frontal recebe um menor aporte sangüíneo e como
conseqüência, há uma diminuição do metabolismo nesta região, que, ao receber
menos glicose (do sangue), terá menos energia e funcionará com desempenho
reduzido. A forma como o lobo frontal regula o comportamento, ocorre pelo
exercício das funções: fazer manutenção dos impulsos sob controle; planejar
ações futura; regular o estado de vigília; filtrar estímulos irrelevantes, acionar
reações de luta e fuga; estabelecer conexão com o sistema límbico ( centro das
emoções); com o centro da fome e sede; regular a sexualidade e outros impulsos
de aspecto fisiológico. Cabe ao lobo frontal puxar o freio de mão do cérebro
humano no que diz respeito a seus pensamentos, impulso e velocidade de
atividades físicas e mentais. Sem freio o cérebro TDAH é bombardeado por
pensamentos e impulsos numa velocidade acima da média. Isso irá ocasionar
uma desorganização interna que pode encobrir potencialidades, aptidões, talento
e muita inteligência, num emaranhado mental.
Fatores do meio ambiente podem influenciar, como doenças
metabólicas infecciosas ou mesmo degenerativas do tecido nervoso. São
observadas mudanças de comportamento, quando as doenças estão no início.
Podem acontecer intoxicações com a ingestão de alimentos que
possuam aditivos químicos, álcool na gestação, ou chumbo, causando inquietude
e desatenção.
Em geral há dificuldades associadas a hiperatividade, como afirma
Mattos (2001), é importante a identificação dessas dificuldades, pois a sua
presença modificará o tratamento. A existência de outros transtornos é
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denominada de comorbidade.
Dentre eles têm-se: o transtorno opositivo desafiador (TOD), que é
um comportamento em que a criança desafia ativamente os pais e professores,
se opondo a regras e limites. Crianças com TOD, têm explosões de raiva,
magoam-se e magoam os outros com facilidade e também perturbam outras
pessoas deliberadamente. Os comportamentos agressivos, impulsivos e a pouca
habilidade social, falar sem pensar, podem resultar numa baixa aceitação ou
rejeição no meio social.
Alterações mais graves estão presente nos transtornos de conduta,
medo intenso de fazer qualquer coisa, como falar em público ou escrever no
quadro negro, enquanto está sendo observado, tristeza, longos períodos quietos,
choro com facilidade.
Como afirma Benczik (2002, p.39)
O comportamento inadequado mostrado pelos alunos com TDAH freqüentemente interrompe a concentração de seus colegas e geralmente resulta em relações pobres com os demais alunos. Adicionalmente, esses problemas geralmente são acompanhados por outros associados (por exemplo, baixa auto-estima, depressão ) que pode afetar significativamente a aprendizagem. (BENCZIK, 2002, p.39).
Quando entram na adolescência, as crianças com TDAH
apresentam maior risco para uso de substâncias químicas como o álcool,
maconha e outros, acreditando que tais substâncias ajudam a concentrar e
focalizar melhor a sua atenção.
Também é comum que pessoas com TDAH tenham mais problemas
de comportamento do que de notas, mas podem existir outras dificuldades que
aumentam os problemas na escola, como dificuldade na leitura ou na escrita, com
trocas de fonemas, inversões de fonemas ou sílabas, junções de palavras,
omissões de sílabas ou palavras. As causas para essas dificuldades são
variadas. Entretanto, os elementos constantes são sempre em relação a falhas de
percepção visual e auditiva, além do conhecimento da língua.
Nos encontros realizados durante a implementação do projeto no
Colégio, com alunos diagnosticados como hiperativos, percebe-se que a escola
pode desempenhar um papel ativo nas fases de detecção dos distúrbios e de
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solicitação de diagnóstico, tratamento e reforço pedagógico. Pode-se também
estabelecer laços de colaboração entre professor, fonoaudiólogo e/ou outro
especialista, que esteja em contato para o assessoramento em tarefas
psicopedagógicas relacionadas à área da comunicação, linguagem e
aproveitamento escolar.
Foi possível estabelecer relações teórico-práticas com os
professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede, considerando como
essas experiências podem ser importantes para a ressignificação dos processos
pedagógicos.
O comentário da professora reforça a idéia de que:
A observação e o registro diário do comportamento do aluno frente a aprendizagem, frente a frustração, a disciplina, ao não, o diálogo e o conhecimento do ambiente familiar do aluno, de suas relações, é que nos dá o respaldo necessário para solicitar uma avaliação diagnóstica, a fim de encontrarmos formas justas e eficazes juntamente com a equipe pedagógica para que possam realmente auxiliar esse aluno. Porém, há que se “falar todos a mesma linguagem”, todos os profissionais da educação devem estar capacitados, ter conhecimento suficiente e comprometimento com a educação para que haja realmente uma inclusão. Isso significa mudanças, transformações na prática pedagógica, afinal as pessoas cometem erros por ignorância. (Professora participante do GTR, 2007)
Diante do comentário da professora, percebe-se a necessidade da
equipe pedagógica realizar uma entrevista com o responsável pelo aluno assim
que ele inicia a quinta série, onde ingressa no sistema público SEED/PR. Muitas
vezes o diagnóstico do transtorno já existe desde os anos iniciais do Ensino
Fundamental, o que adiantará o processo da escola nos encaminhamentos
necessários para um desenvolvimento educacional eficaz. A escola, sobretudo a
escola pública, costuma receber uma demanda heterogênea. Para muitas
crianças talvez esta seja a primeira oportunidade de conviver com pessoas fora
do seu meio familiar e diagnosticar adequadamente o TDAH não é tarefa fácil,
mas de equipe com pareceres da família, da escola e outros especialistas,
liderados por médico neuropediatra.
Topczewski (2001), alerta que nem todas as crianças inquietas
sofrem de hiperatividade, logo é necessário um diagnóstico feito por profissionais
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adequados. Este diagnóstico deverá conter dados da escola, da casa e um
histórico familiar para diferenciar a TDAH de agitação natural.
Acredito na importância de profissionais como psicólogo, neuropediatra, psicopedagogo, para auxiliar pais e professores. Na minha experiência profissional tenho acompanhado casos em que os pais acatam as orientações dos profissionais habilitados e também do professor, o ganho de ambos é visível, a criança fica melhor amparada, tendo os devidos limites e na medida certa. (Professora participante do GTR, 2007)
Os professores geralmente percebem que algo não vai bem com
seus alunos com dificuldades de comportamento e aprendizagem e podem
identificar sinais de preocupação.
Segundo Goldstein (1994), para se constatar o distúrbio, o
indivíduo deve apresentar pelo menos 5 (cinco) das seguintes características:
TDAH – TIPO DESATENTO Não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado; Dificuldade em manter a atenção; Parece não ouvir; Dificuldade em seguir instruções e se organizar; Evita tarefas e não gosta das que exigem um esforço mental prolongado; Freqüentemente perde os objetos necessários para uma atividade; Distrai-se com facilidade; Esquece as atividades diárias. TDAH – TIPO HIPERATIVO Inquietação / mexe as mãos e os pés; Dificuldade em permanecer sentado; Corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente (em adultos, há um sentimento subjetivo de inquietação); Dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente; Fala excessivamente; Responde às perguntas antes delas serem formuladas; Age como se fosse a motor; Dificuldade em esperar a vez; Interrompe e se intromete. TDAH – TIPO COMBINADO – apresenta os dois conjuntos de critérios, dos tipos desatentos e hiperativo/impulsivo. TDAH – TIPO NÃO ESPECÍFICO – A pessoa apresenta algumas características, mas de número insuficiente de sintomas para se chegar a um diagnóstico completo; estes sintomas porém, desequilibram a vida diária.(Goldstein, 1994,p.87).
A sociedade tem mecanismos de controle social, para garantir que a
maioria de seus membros se conforme com normas estabelecidas. Dessa forma,
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aqueles que não se adaptam, não são reconhecidos como membros efetivos do
corpo social, tornando-se marginalizados e excluídos.
É preciso entender o ambiente e a criança como um todo, e não
apenas tratar a hiperatividade, é necessário conhecer essa criança, seu mundo e
suas relações.
Antunes (2001), compara a vítima de TDAH, ao míope. Explica que
o míope resolve tudo com um simples óculos, mas que existem milhares de
crianças com inabilidades ainda invisíveis para seus professores. Pela
discriminação que sofrem os TDAH, é que é necessário que se fale muito da
¨miopia da atenção”, é imprescindível que se busquem depressa os “óculos” para
a TDAH e não faça de alunos com deficiências contornáveis, pessoas
predispostas à crítica, amarguradas pela culpa. Isso é um ponto negro na história
da nossa escola.
Uma escola para todos, em que todos são diferentes, exige dos
professores a capacidade e a flexibilidade para inovar, questionando as certezas
didáticas, valorizando o trabalho em equipe, trabalhando de forma
contextualizada, construindo uma mentalidade curricular que ultrapasse o
burocrático e o peso da rotina, utilizando o conhecimento sobre os diversos
grupos para organizarem um currículo de forma a estimular a aprendizagem de
todos os alunos, reconhecendo à igualdade e o direito de todos à educação.
2 SUGESTÕES PARA TRABALHAR-SE PEDAGOGICAMENTE COM CRIANÇAS
E ADOLESCENTES COM HIPERATIVIDADE E INSTABILIDADE DE ATENÇÃO
Estudos mostram que é possível atenuar os sintomas do TDAH
através de estratégias de intervenção no comportamento, com “feed-back”
freqüente e supervisão individual para ajudar a manter a atenção da criança.
Dimenstien (1997), ELENCA algumas sugestões para trabalhar com
alunos que demonstrem comportamento considerado inadequado, enfatizando
que deverá ser encaminhado para orientação específica, pois pode estar contido
em um espectro mais amplo, talvez até precisando de ajuda profissional
especializada.
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Olhar sempre nos olhos, você consegue "trazer de volta" uma
criança TDAH através dos olhos nos olhos . Isso ajuda a evitar a distração que
prejudica tanto estes alunos, dar explicações ou ordens claras, pedir para repetí-
las, pois necessitam ouvir as coisas mais de uma vez, são profundamente visuais.
Ser claro e objetivo ao definir as regras de comportamento dentro da sala de aula.
Criar, juntamente com os alunos, um código de conduta (simples, com poucas
palavras, para facilitar a memorização) e escrever em uma tabela visível.
Organizar as carteiras em círculos, ou em forma de U, ao invés de
fileiras, facilitando o contato com os demais membros da classe. Em geral esse
tipo de aluno costuma estar " na turma do fundão ", e, não podendo manter
contato direto com o professor nem visualizar os olhos dos companheiros de
estudo, torna-se ainda mais disperso.
Cuidar com as cores da pintura da sala, excesso de materiais visuais
pois o estímulo multi-colorido costuma deixá-los mais excitados e menos atentos
ainda, devendo ser evitadas cores fortes no ambiente (do espectro vermelho e
amarelo), inclusive na vestimenta da criança.
A memória é um grave problema para eles. Ensine mnemônicos,
quadrinhas, dicas, rimas, pois eles tem problemas com a Memória de Trabalho
Ativa e esses processos ajudam sobremaneira a aumentar essa memória.
Estabelecer para o aluno com TDAH tarefas de conclusão rápida.
Inicialmente, para que este comece a finalizar adequadamente as tarefas, e, aos
poucos, ir inserindo maior complexidade e maior duração nas tarefas dele
exigidas, visto que o aprendizado de organização para essas pessoas é
extremamente penoso.
Estimular a criatividade propondo tarefas que exijam a criatividade
do aluno (explorar, construir, criar) e não passivas (questionários com respostas
tipo x ). O desafio costuma motivar o portador de TDAH. Deve então o professor
estabelecer de antemão com o aluno qual a tarefa a ser feita, quando será
considerada concluída e quais os pontos para isso (check-list a ser verificado no
final da mesma). Isso dará aos poucos ao aluno TDAH formas de lidar com sua
ansiedade, eliminando falhas ao terminar as tarefas a que se propõe, pois em
geral ele concebe projetos grandiosos demais, os quais não consegue finalizar.
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Usar recursos e formas de apresentação do conteúdo não habituais,
isto porque crianças e adolescentes com TDAH adoram novidades; explorar o seu
cotidiano e fazer disso motivo para uma aula posterior ou mesmo criando um
"gancho" na aula atual, costuma ser muito proveitoso.
Elogiar o aluno com constância, não apenas quando ele termina a
tarefa, mas durante o transcorrer da mesma, incentivando o seu término, uma vez
que para o aluno com TDAH o concluir a tarefa é bastante difícil, exigindo quase o
triplo de concentração (praticamente inexistente) que os demais. Utilize uma
agenda de contato com a família, isso facilita a troca de informações.
Utilizar exercícios físicos. Exercícios ajudam a liberar o excesso de
energia, concentrar a atenção em um objetivo facilmente entendido e visualizado
(correr até a linha vermelha), estimula a fabricação de endorfina, além de ser
muito divertido. Adotar um ritmo dinâmico de aula de tal forma a criar
oportunidade para que todos os alunos participem, sempre com o cuidado de não
permitir que o aluno com TDAH se empolgue demais, observação essa que
exemplifica-se com a vivência relatada:
Para trabalhar com o aluno TDAH, tive que modificar minhas estratégias de ensino, de modo a adequá-las o mais próximo possível da realidade da minha classe. Ter muito entusiasmo, acreditar no potencial do meu aluno, desenvolvendo uma metodologia que facilite seu aprendizado e melhore seu comportamento. Tento trabalhar de forma dinâmica, com exercícios moderados que os mesmos tenham condições de concluí-los, sendo muitas atividades desafiadoras. Exercícios de respiração, relaxamento, técnicas de autocontrole também ajudam.(Professor participante do GTR, 2007).
Ou seja, não deixar que a “panela de pressão expluda”. Propiciar
uma válvula de escape como, por exemplo, sair da sala de aula por alguns
instantes, (isso se for permitido pela direção da escola) indo buscar algo na classe
vizinha; dar um recado para alguém que se encontra fora da sala de aula,
(inicialmente entregar um bilhete a uma pessoa, pois eles esquecem o recado a
ser dado ), ir ao banheiro, pois isso fará com que ele deixe (sob controle) a sala e
não fuja dela, além de começar a aprender meios de auto-observação e auto-
monitoramento.
Mas, como observa a professora:
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A escola ainda está longe do trabalho contextualizado. Existem professores que passam longos "pontos" sobre o Descobrimento do Brasil no quadro, e o aluno tem que copiar, reclamam de dores nos braços. Não seria a hora de buscar outras alternativas para mostrar a história ou outros temas. Sei que as alternativas estão disponíveis. (Professora participante do GTR, 2007).
A escola e professor no processo ensino-aprendizagem de alunos
TDAH, devem ser capaz de organizar seus tempos e espaços mais flexíveis e
modificar as estratégias de ensino, de modo a adequá-las ao estilo de
aprendizagem e as necessidades de todos os alunos, inclusive aos TDAH. O
corpo docente precisa ter entusiasmo, acreditar no potencial do seu aluno,
desenvolvendo metodologias desafiadoras que facilitem o aprendizado, já que
cada um aprende de maneira diferente onde o básico de cada área de
conhecimento precisa ser assegurado a cada um dos alunos, bem como o do
convívio social com cumprimento das obrigações.
3 A FAMÍLIA E A HIPERATIVIDADE
É possível os professores ajudarem os pais a entenderem que as
deficiências de atenção, controle do impulso e nível de atividade , quanto mais
cedo forem percebidas, mais chance de ajudar essa criança. O apoio que hoje
receberem, será fundamental para se tornarem adultos felizes e comprometidos.
Segundo Silva (2003), os medicamentos que melhoram a atenção
são muito úteis em seu tratamento. O medicamento que mais se usa para as
crianças em idade escolar é a Ritalina (hidrocloruro de metilfenidato), outros são
Dexedrina (dextroanfetamina), tricíclicos e clonidina. Estes medicamentos não
são aditivos, mas podem ter efeitos colaterais como dor de cabeça, perda de sono
e apetite e depressões; devem ser utilizados unicamente sob a vigilância do
médico, necessária para ter a segurança na ação.
O momento de transição global em que nos encontramos, acarreta
mudanças aceleradas que influenciam as relações sociais. Neste contexto
evidencia-se que o processo familiar ainda não encontrou o seu ponto de
equilíbrio frente às novas imposições da vida contemporânea. Há ainda muita
confusão quanto aos papéis de cada um na família; à divisão de trabalho; à
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competição pelo poder; ao exercício da autoridade; à diminuição do tempo de
convívio entre cônjuges, pais e filhos.
Tudo isto colabora para o aumento dos conflitos conjugais, da
insegurança quanto à educação dos filhos, geradora de sentimento de culpa. Se
este sentimento é exagerado, ocorre um excesso de indulgências, que acaba por
conceder aos filhos um poder que eles não estão maduros para assumir,
reforçado pelos comportamentos agitados e violentos veiculado pelas mídias.
Segundo Gotman (1995), o alerta é feito aos educadores pois os
problemas psico-afetivos geram inquietude nas crianças, e podem se acentuar e
evoluir para um comportamento hiperativo.
Dentre as diversas condições psico-afetivas existentes, as que cursam com uma ansiedade crescente são as que mais contribuem para a instalação de um comportamento hiperativo. Por isso, cabe observar quais os principais fatores ansiogênicos na infância: separação dos pais, desavenças familiares que terminem em violência, a utilização de Deus, da culpa e do pecado como instrumento de manipulação e coação visando atingir um determinado comportamento por parte da criança, família muito numerosa, estimulação ambiental inadequada, falta de interação dos pais para com os filhos.(Gotman, 1995,p.82)
Pode-se observar nos casos de crianças e adolescentes com TDAH,
através da entrevista realizada com os responsáveis, que grande parte delas
apresentam fatores ansiogênicos, pais separados e violência são fatores que
ocorrem com mais freqüência. Geralmente é a mãe que fica com a
responsabilidade da educação da criança, muitas vezes sem o entendimento
adequado sobre o transtorno. Então destaca-se a importância da escola na
formação e interação com os responsáveis sobre temas importantes que devem
ser esclarecidos e debatidos no ambiente escolar. É surpreendente como ações
pequenas, podem ser transformadoras. Na verdade, falta esclarecimento, também
para os pais de crianças que não são hiperativas, é função da escola como
mediadora na formação do homem e transformadora da sociedade promover
esses esclarecimentos, lutando pela não exclusão em todos os sentidos.
A interação do hiperativo com o meio pode resultar em dois tipos de
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condutas distintas: ou ele se submete, retrai-se e torna-se introvertido e
depressivo, ou ele confronta e desenvolve um comportamento opositivo e
ansioso.
Nas crianças hiperativas há um predomínio da tendência ao
isolamento, baixo nível de envolvimento social, dificuldade na tomada de decisões
e maior dependência.
Há que se diferenciar bem: a criança até os seis anos é
normalmente "hiperativa", na acepção literal do termo, e se essas crianças forem
educadas sem noção de limites, passam a apresentar um comportamento visto
como "patológico”.
De acordo com Tiba (1996), a força dos pais está em transmitir aos
filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não, entre o que é
essencial e supérfluo e assim por diante. É importante estabelecer limites bem
cedo e de maneira bastante clara.
De acordo com Gotman (1995), podem ser identificados dois
extremos de educação familiar: Existem pais hiperautoritários, o excesso de
autoridade geralmente aparece em pais que têm dificuldades de aceitar seu
filho tal como ele se apresenta, idealizando sempre um modelo de
comportamento conforme suas conveniências ou idéias pré-estabelecidas.
Muitas vezes projetam nos seus filhos suas frustrações e ideais reprimidos.
Dependendo do temperamento dos filhos, estes podem se rebelar e desenvolver
sentimentos de ódio, agressividade e revolta ou, como ocorre na maioria dos
casos de pais dominadores, os filhos tornam-se submissos na frente dos pais,
porém, longe destes, mantêm a desobediência, geralmente ocultada por mentiras
e corrupções. Há os pais hiperindulgentes, aqueles que tentam realizar todos os
desejos da criança, atitude desencadeada pelos mais diversos motivos, entre
eles: sentimento de culpa, vontade de proporcionar aos filhos o que não tiveram
na infância, indulgentes são também permissivos, isto é, permitem que a criança
faça tudo o que bem entender desde que não incomode o adulto, numa condição
de submissão dos pais aos filhos. A indulgência tem uma certa relação com
"querer se ver livre dos filhos". Por exemplo: a mãe que permite ao filho comer
quantos doces desejar, contanto que não a incomode ou atrapalhe por
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determinado momento.
A atitude inadequada dos pais frente a filhos hiperativos geralmente
é bastante variável. Situada entre a extrema rigidez e a extrema tolerância, varia,
na mesma pessoa, entre um extremo e outro, em função do próprio estado de
humor, acarretando um sentimento de insegurança crescente na criança, o que
agrava o quadro.
O exemplo mais comum de problemas no lar, consiste na
incapacidade dos pais em colocar limites aos seus filhos. Ser demasiadamente
conivente com todo o tipo de expressão dos sentimentos da criança. ( birra, choro
excessivo, agressividade, manha).
Segundo Gotman (1995), a manifestação da falta de limites,
principalmente através de um comportamento hiperativo, pode ser interpretada
como um pedido de ajuda, visando à realização de determinado aprendizado e
aquisição da compreensão necessária para ter a segurança na ação.
O comportamento hiperativo desencadeado pela falta de limites
pode não levar a criança a apresentar instabilidade de atenção e, se o fizer, será
mais por distraibilidade do que por incapacidade de focar a atenção.
A falta de limites gera angústia e incerteza, que pode levar a um
comportamento inadequado, o qual, por sua vez, gerará mais angústia e também
culpa, revolta, sensação de impotência e talvez agressividade. O comportamento
hiperativo pode ser apenas uma conseqüência da repetição crônica desse
processo.
As chamadas "mães de profissão", isto é, aquelas que investem toda
a sua vida unicamente na educação dos filhos, apresentam maior dificuldade de
colocar limites devido principalmente à necessidade que elas têm de satisfazer os
desejos dos filhos para se auto-realizarem no seu papel de mãe, não permitindo a
aquisição de maior autonomia por parte do filho.
Sucupira (1998, p.5), pediatra e pesquisadora da USP, em artigo
publicado no jornal de pediatria comenta que:
Não querendo admitir o seu fracasso, o sistema necessitou medicalizar um problema social (psicopedagógico) que é o mau rendimento escolar.Virou modismo levar as dificuldades escolares para o consultório médico. A medicalização do
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fracasso escolar é uma ótima saída para isentar o sistema escolar e as condições familiares e sociais, transferindo para o nível individual e orgânico a responsabilidade pelo mau rendimento escolar. Em outras palavras, podemos entender que a medicalização da hiperatividade infantil é uma forma dissimulada de controle social. ( SUCUPIRA, 1998, p.5)
Observa-se que na escola, o professor geralmente não está
preparado para trabalhar com alunos TDAH, isenta-se da responsabilidade, nem
mesmo esgota suas possibilidades em sala de aula, percebe-se falta de
empenho, persistência e desejo de contribuir à humanização do processo
educativo. É necessário coragem e confiança, associadas à disposição de no
coletivo da escola, percorrer novos caminhos, possibilitando a descoberta de
novas maneiras de aprender e ensinar.
Existem muitas barreiras à procura de ajuda e tratamento para o
TDAH, que vão desde a dificuldade que pais e professores têm de reconhecer a
necessidade de procurar ajuda profissional, à dificuldades financeiras, à
expectativas negativas quanto ao tratamento e temor do estigma, às dificuldades
de encaminhamento pela Rede Pública de Ensino.
As iniciativas educacionais podem melhorar as possibilidades de
detecção e encaminhamento precoce do TDAH para o tratamento. Educadores
lidam diariamente com a relação entre aprender, ensinar, trabalhar com os
valores diferenciados, limites, atenção e tantos outros detalhes, mas estes são
exemplos de conceitos muito amplos e não temos por hábito de formação,
pesquisar ou definir dentro dos nossos grupos de trabalho, para que nossas
atividades se diversifiquem dentro de um mesmo ideal, objetivo e com a mesma
direção nos conceitos a serem avaliados.
É incontestável a existência de indivíduos que, já nos primeiros
anos de vida, apresentam uma dificuldade maior em manter o foco de seu
interesse em uma determinada atividade, mesmo as de natureza lúdica.
Por outro lado, para muitas das crianças ditas "hiperativas", seu
comportamento é tão ativo quanto sua dinâmica interna a impele a ser e qualquer
exigência em contrário resultará em respostas comportamentais e motoras
prejudiciais à própria criança.
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As crianças que apresentam este distúrbio não são menos
inteligentes ou capazes, apenas precisam de atenção especial e que sejam
integradas na sociedade em condições normais.
A autora Silva (2003), e diversas publicações relatam sobre
características de personalidades famosas na história com suposto transtorno de
déficit de atenção /hiperatividade.
Sabe-se da irreverência de Albert Einstein, questionador, não
suportava decorar os conteúdos; de Fernando Pessoa que em suas obras desafia
os conceitos estabelecidos. Apresentavam um sintoma encontrado no TDAH, a
hiperconcentração. Sabe-se que o TDAH faz com que a pessoa se concentre por
horas em temas que sejam do seu interesse.
Existem aqueles que têm uma atração irresistível em correr riscos,
vivendo sempre no limite. James Dean, astro e mito do cinema americano e
mundial, morto aos 24 anos, dirigindo em alta velocidade; Ayrton Senna,
tricampeão mundial de corridas da “fórmula 1” na década de 1990, são exemplos
que sugerem comportamento TDAH.
Leonardo da Vinci, também apresentava uma mente inquieta, além
de grande mestre da pintura, foi também arquiteto, botânico, urbanista, cenógrafo,
cozinheiro, inventor, geógrafo, físico e até músico. Começava vários projetos ao
mesmo tempo, uma característica bem comum em mentes com funcionamento
TDAH. Muitos o julgavam fracassado por deixar tantas obras incompletas.
Ludwig Van Beethoven era o sexto filho de uma família de cinco
irmãos deficientes. Seu professor de composição, Albrechtsberger, dizia que era
um indisciplinado e nunca aprenderia nada de música. Dizia que Beethoven era
um caso perdido como compositor. O tempo passou e o genial maestro, inquieto,
polêmico e incompreendido – semelhante a uma mente com funcionamento
TDAH –, presenteou o mundo com seu talento.
O depoimento de outra professora indica caminhos:
Que nós professores possamos desenvolver uma educação com capacidade crítica e criativa, a fim de promover mudanças que representam o propósito maior do processo educativo, levando o aluno a interar-se sobre o assunto, desenvolvendo sua atenção e interesse, aprendendo a lidar com seus conflitos
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e descobrindo suas habilidades e potencialidades. (Professora participante do GTR, 2007).
O professor é o condutor do processo pedagógico, deve abrir
discussões e junto com seus alunos levá-los a refletir, tomar decisões e fazerem
opções.
Vê-se que o tema “Hiperatividade” é uma problemática, que interfere
na vida da criança e do adolescente TDAH e está presente no meio familiar e na
escola e que aflige os educadores. O estudo discutido com pais de alunos do
Colégio, durante a implementação do projeto, procurou estimular o respeito
mútuo, a justiça, o diálogo, a auto-estima, reafirmando a importância de não
exclusão, pois todas as pessoas são dignas de respeito, possuem seu estilo e
ritmo pessoal, não importa sexo, idade, cultura, raça, religião, classe social ou
grau de instrução.
CONCLUSÃO
O trabalho teórico-prático realizado apontou os indicadores
validados comentados a seguir.
Os estudos com pesquisas, intervenções realizadas em palestras,
seminários, grupo de trabalho em rede, formação continuada de professores,
alunos e pais no Colégio, resultaram na elevação do nível de consciente dos
atingidos e culmina na elaboração deste artigo, que espera-se, possa contribuir
para melhor conhecimento das situações que envolvem as crianças e
adolescentes com Hiperatividade e Instabilidade de Atenção – TDAH.
A necessidade de abordagem educativa que pode ser implementada
na escola e na família, levando em conta técnicas pedagógicas, com criação de
estratégias que melhorem as condições do clima educacional familiar e escolar e
de trabalho dos profissionais da educação para com alunos TDAH, já que se
sabe que eles apresentam dificuldades de aprendizagem, de relacionamento
familiar, escolar e social, necessitando na maioria das vezes de acompanhamento
especializado.
Através do Programa de Desenvolvimento Educacional e a partir da
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realidade da escola a qual estou inserida foi possível utilizar o material
pedagógico construído através deste estudo, o Caderno Pedagógico (Sacir,
2007), incentivando a prática de formação continuada no contexto escolar, levada
à sério e com abordagem ancorada na realidade vivenciada.
O projeto foi enriquecido através da integração do Professor PDE
com os professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede, estabelecendo
relações teórico-práticas importantes para a ressignificação dos processos
pedagógicos.
A participação dos pais e professores neste projeto foram validadas,
porque ao tomar conhecimento das dificuldades que ocorrem com crianças e
adolescentes TDAH, é provável que os professores comecem a entender a
atitude dos pais, da mesma forma que os pais podem se sensibilizar com a
situação dos professores se souberem das reais dificuldades que seus filhos
encontram na escola. Pais e professores necessitam compreender que devem ser
parceiros, pois o objetivo de todos é garantir um futuro de qualidade para essas
crianças e jovens, e isso só é possível se houver estreita colaboração entre a
família e a escola. A escola que melhor atende as necessidades dos alunos
TDAH é aquela cuja preocupação maior está em desenvolver o potencial
específico de cada aluno, em atender às suas características únicas, em perceber
seus pontos fortes e tentar superar as fragilidades.
Através dos encontros realizados com alunos TDAH, foi possível
oportunizar reflexões sobre a importância de aprender a valorizar a diversidade
presente na vida; técnicas de relaxamento e jogos contribuíram para provocar o
conhecimento e a aceitação intra-grupal, remetendo a mudanças de hábitos e
atitudes, se necessário, melhorando a auto-estima desses alunos e fortalecendo o
relacionamento interpessoal entre alunos e professores.
É importante ressaltar a participação da equipe gestora, como
parceira no enfrentamento das dificuldades desses alunos TDAH, na formação
continuada e encontros com pais, considerando que o papel da escola é preparar
os alunos para inserí-los no contexto social e político em que vivem.
Desta forma, espera-se que este estudo, que já sensibilizou a
comunidade escolar onde foi desenvolvido o projeto e profissionais envolvidos,
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seja disponibilizado em Rede, sendo uma importante ferramenta neste campo de
conhecimento e possa colaborar com outros profissionais da educação, que
acreditam que é possível romper com preconceitos e rótulos associados aos
hiperativos, garantindo a eles o desenvolvimento de seus talentos, potencial e
independência.
Isto porque, é dever de todos aqueles que participam do processo
educativo, questionar o preconceito, ter critérios para selecionar e justificar os
conteúdos; preocupar-se com a repetição de apelidos, piadas e ironias que
encobrem idéias preconceituosas; tratamento afetivo diferente; banalização de
situações de discriminação e preconceito. Deve-se construir uma relação
democrática, que supere o autoritarismo, que repense os diferentes aspectos da
cultura escolar e o sistema de ensino como um todo, que nos faça refletir sobre
nossas práticas.
Há necessidade de se formar educadores preparados para lidar com
a diversidade em sala de aula, e também para criticar o currículo e suas práticas.
Educadores reflexivos, que busquem modificar o ambiente escolar a fim de torná-
lo menos opressor, o que não seria uma ação isolada, que apenas reforça as
diferenças. A bagagem de conhecimento do educador deve ser articulado às
mudanças gerais, sendo importante estar alerta para o fato de que apenas formar
e conscientizar o professor não é o suficiente pois, embora muitos deles tenham
certa consciência da necessidade de enfrentar as questões que dizem respeito à
diversidade e até venham tomando iniciativas nesse sentido, também fica claro
que pouco pode ser feito se o projeto pedagógico da escola não incorporar essa
perspectiva e a equipe gestora não oportunizar condições físicas, materiais, de
formação continuada e contatos com os responsáveis na família.
A educação, o conhecimento e o cérebro continuam sendo os
maiores pontos de estudo científico, a fim de melhorar e entender a vida no seu
todo. Cabe a nós educadores entrarmos nesta ciranda de pesquisa, afinal o futuro
somos todos nós; hiperativos ou não, dando agora o primeiro passo, já adianta-se
uma parte do caminho.
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REFERÊNCIAS
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GOLDSTEIN, S. GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: Como desenvolver a
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GOTMAM, J. Inteligência emocional e a arte de educar nossos fi lhos. São
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déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. São
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SILVA, A. B. B. Mentes inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas
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SUCUPIRA, A. C. S. L. A Criança Hiperativa. Jornal de Pediatria, São Paulo.
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TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo: Ed. Gente, 1996.
TOPCZEWSKI, A. Hiperatividade: Como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo
Livraria e Editora Ltda, 2001.
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Agradecimentos
___________________________________
À Secretaria Estadual de Educação por incentivar a Formação Continuada dos
Professores da Rede Pública Estadual do Paraná.
Aos Professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que apoiaram a
nossa formação.
Em especial à Professora Orientadora Marinê Fecci Batistão Leite, por sua
sabedoria, dedicação e estímulo.
À toda Equipe de Coordenação do PDE, pela dedicação inesgotável.
Ao Grupo de Trabalho em Rede, pela participação e inspiração contagiante.
Aos colegas PDE, pela cumplicidade profissional, entusiasmo e amizade.