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ISSN 2358-3657 48 SANTOS, Vanessa Soares dos Hip prosthesis removal: clinical cases comparison. LIPH Science Journal, v.4, n.1, p. 48-67, Jan./Apr., 2017. www.liphscience.com SANTOS, Vanessa dos. Remoção da prótese de quadril: comparação de casos clínicos. 2016. 18 p. Trabalho de Conclusão do Curso de Enfermagem. Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba- MG, Brasil. Orientadora: Nazaré Pellizzetti Szymaniak. Banca Examinadora: Adriana Gonçalves de Oliveira Hip prosthesis removal: clinical cases comparison Remoção da prótese de quadril: comparação de casos clínicos Vanessa Soares dos Santos Abstract: The objective of this study is to compare the evolution of clinical cases of hip prosthesis removal by surgical site infection in a university hospital. A sample is composed of two patients submitted to hip arthroplasty. The data collection was done from the medical records and the Notification Form of the Hospital Infection Control Commission. For the analysis of the results, descriptive statistics were used. The results show that some possible influences on the infection are as follows: clinical profile, elderly men, smokers, submitted to left hip arthroplasty, having as complication infection and removal of the prosthesis. In that two patients, surgical cement without antibiotic was used for the prostheses. The microbiota detected in the surgical site infection shows Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella oxytoca and Escherichia coli. Prophylactic antibiotic therapy was applied according to the institutional protocol. Both patients had local pain, edema and exudate in the wound. In conclusion, the surgical site infection in the postoperative period of hip arthroplasty was evident within one month in these clinical cases. Reoperations of hip arthroplasty practically tripled the initial surgical time to which these patients underwent and both had removal of the hip prosthesis within two months. Keywords: Hip prothesis. Infection. Postoperative. Resumo: O objetivo deste estudo é comparar a evolução dos casos clínicos de remoção de prótese de quadril por infecção do sítio cirúrgico em um hospital universitário. A amostra é composta por dois pacientes submetidos à artroplastia de quadril. A coleta de dados foi realizada a partir dos prontuários e da Ficha de Notificação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Para a análise dos resultados utilizou-se a estatística descritiva. Os resultados mostram como possíveis influências sobre a infecção o perfil clínico, homens idosos, fumantes, submetidos à artroplastia do quadril esquerdo, tendo como complicação infecção e remoção da prótese. Nos dois pacientes utilizou-se cimento cirúrgico sem antibiótico nas próteses. A microbiota detectada na infecção do sítio cirúrgico mostra Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella oxytoca e Escherichia coli. A antibioticoterapia profilática foi aplicada conforme o protocolo institucional. Ambos os pacientes apresentaram dor local, edema e exsudado na ferida. Em conclusão, a infecção do sítio cirúrgico no pós-operatório de artroplastia de quadril ocorreu dentro de um mês nesses casos clínicos. As reoperações de artroplastia de quadril praticamente triplicaram o tempo cirúrgico inicial a que esses pacientes foram submetidos, e ambos tiveram a remoção da prótese de quadril dentro de dois meses. Palavras-Chave: Prótese de quadril. Infecção. Pós-operatório.

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48 SANTOS, Vanessa Soares dos Hip prosthesis removal: clinical cases comparison. LIPH Science

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SANTOS, Vanessa dos. Remoção da prótese de quadril: comparação de casos clínicos. 2016. 18 p. Trabalho

de Conclusão do Curso de Enfermagem. Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba- MG, Brasil. Orientadora: Nazaré Pellizzetti Szymaniak. Banca Examinadora: Adriana Gonçalves de Oliveira

Hip prosthesis removal: clinical cases comparison

Remoção da prótese de quadril: comparação de casos clínicos

Vanessa Soares dos Santos

Abstract: The objective of this study is to compare the evolution of clinical cases of hip

prosthesis removal by surgical site infection in a university hospital. A sample is composed

of two patients submitted to hip arthroplasty. The data collection was done from the medical

records and the Notification Form of the Hospital Infection Control Commission. For the

analysis of the results, descriptive statistics were used. The results show that some possible

influences on the infection are as follows: clinical profile, elderly men, smokers, submitted to

left hip arthroplasty, having as complication infection and removal of the prosthesis. In that

two patients, surgical cement without antibiotic was used for the prostheses. The microbiota

detected in the surgical site infection shows Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter

baumannii, Klebsiella oxytoca and Escherichia coli. Prophylactic antibiotic therapy was

applied according to the institutional protocol. Both patients had local pain, edema and

exudate in the wound. In conclusion, the surgical site infection in the postoperative period of

hip arthroplasty was evident within one month in these clinical cases. Reoperations of hip

arthroplasty practically tripled the initial surgical time to which these patients underwent and

both had removal of the hip prosthesis within two months.

Keywords: Hip prothesis. Infection. Postoperative.

Resumo: O objetivo deste estudo é comparar a evolução dos casos clínicos de remoção de prótese de quadril por infecção do sítio cirúrgico em um hospital universitário. A amostra é composta por dois pacientes submetidos à artroplastia de quadril. A coleta de dados foi realizada a partir dos prontuários e da Ficha de Notificação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Para a análise dos resultados utilizou-se a estatística descritiva. Os resultados mostram como possíveis influências sobre a infecção o perfil clínico, homens idosos, fumantes, submetidos à artroplastia do quadril esquerdo, tendo como complicação infecção e remoção da prótese. Nos dois pacientes utilizou-se cimento cirúrgico sem antibiótico nas próteses. A microbiota detectada na infecção do sítio cirúrgico mostra Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella oxytoca e Escherichia coli. A antibioticoterapia profilática foi aplicada conforme o protocolo institucional. Ambos os pacientes apresentaram dor local, edema e exsudado na ferida. Em conclusão, a infecção do sítio cirúrgico no pós-operatório de artroplastia de quadril ocorreu dentro de um mês nesses casos clínicos. As reoperações de artroplastia de quadril praticamente triplicaram o tempo cirúrgico inicial a que esses pacientes foram submetidos, e ambos tiveram a remoção da prótese de quadril dentro de dois meses. Palavras-Chave: Prótese de quadril. Infecção. Pós-operatório.

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Introdução

A Artroplastia de Quadril é indicada para tratamento de dor crônica refratária na

articulação de fratura proximal do fêmur, artrite reumatoide e necrose avascular.¹ Os

implantes ou tecidos desvitalizados predispõem o desenvolvimento da infecção

ortopédica, por serem revestidos de proteínas, propiciando a fixação bacteriana.²

Na Inglaterra e no País de Gales foram registrados 88 mil artroplastias total do quadril

e 9500 reoperações, no ano de 2015⁴ sendo que o número de artroplastia do quadril

aumentou aproximadamente 26% entre 2010 e 2015³‾⁴ incluindo reoperações em

torno de 11%.

Considera-se infecção do Sítio Cirúrgico (ISC), terminologia adotada desde 1922,5

aquela que ocorre dentro de 30 dias após a cirurgia ou até um ano no caso de

implante. De acordo com a ANVISA (2013) a ISC incisional superficial, envolve

apenas pele e/ou tecido subcutâneo e alguma das características como drenagem

purulenta, agente isolado em cultura de secreção e sinal flogístico. Por sua vez, a ISC

incisional profunda envolve tecidos próximos à incisão, assim como a fáscia muscular

e/ou músculos, agregado a outros fatores, que incluem drenagem purulenta na

incisão, deiscência, reabordagem cirúrgica, cultura de secreção positiva, febre, dor,

tumefação local, abscesso ou outra evidência de infecção.⁷

A ISC em artroplastia de quadril foi 5% em um hospital universitário e o National

Healthcare Safety Network (NHSN) registrou em torno de 0,6 a 2,4% ISC em implante

de prótese de quadril.⁶ Entre as infecções relacionadas à assistência de saúde (IRAS)

a ISC ocorre em torno de 15% dos casos de pacientes hospitalizados.⁷

A vigilância da ISC abrange o seguimento dos pacientes tanto durante a internação,

quanto após a alta hospitalar, na readmissão ou no retorno ambulatorial, incluindo

cultura da secreção da ferida operatória, a revisão de antimicrobianos e exames

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microbiológicos no prontuário,² além da notificação pela Comissão de Controle de

Infecção Hospitalar (CCIH).

Este estudo foi motivado pela necessidade de seguimento dos pacientes submetidos

à artroplastia de quadril que apresentaram ISC pós-operatória, tendo como

complicação a remoção de prótese. A ISC gera novos custos hospitalares,

reoperação, afastamento das atividades diárias, mudança dos hábitos diários,

estresse do paciente e dos familiares, sinais e sintomas decorrentes do processo

infeccioso, influenciando os resultados assistenciais. O objetivo deste estudo é

comparar casos clínicos de remoção de prótese de quadril por infecção do sítio

cirúrgico em um hospital universitário.

Método

Trata-se de estudo de caso comparativo e retrospectivo, realizada no Hospital das

Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro gerenciado pela Empresa

Brasileira de Serviços Hospitalares (HC-UFTM-EBERSH), no município de Uberaba,

Minas Gerais, Brasil.

A amostra foi composta por dois casos clínicos de complicação infecciosa no pós-

operatório, entre 40 artroplastias de quadril e joelho realizadas anualmente, a partir

de estudo desenvolvido por Silveira et al. (2015). Nos achados de Silveira et al.

(2015)8 foram identificados dois casos de ISC no pós-operatório de artroplastia de

quadril, notificados pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) na

Instituição de estudo.

Realizou-se a coleta de dados dos prontuários desses dois pacientes submetidos à

remoção de prótese de quadril utilizando-se um instrumento próprio (Anexo A) e a

Ficha de Notificação da CCIH-HC-UFTM-EBSERH (Anexo B), após aprovação do

Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFTM, sob o Protocolo 2602097. Para a

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análise utilizou-se a estatística descritiva do conjunto de dados e algumas medidas

de tendência central (média e desvio padrão), além de números absolutos e

percentuais.

Resultados

Apresenta-se a comparação dos casos clínicos por meio da investigação dos

possíveis fatores de influência na remoção da prótese de quadril relacionados ao perfil

clínico dos pacientes, às especificações técnicas da artroplastia, ao agente microbiano

e tratamento antimicrobiano, além do tempo cirúrgico e de internação.

O perfil clínico dos casos clínicos A e B segundo o sexo, idade, diagnóstico médico

pré-operatório, cirurgia proposta e realizada, reoperações, história da moléstia atual,

ocorrência de fratura exposta, risco anestésico, comorbidades, hábitos, cirurgias

anteriores, hemotransfusão e potencial de contaminação da ferida operatória estão

demonstrados no Quadro 1.

Ambos os pacientes que desenvolveram ICS eram idosos, do sexo masculino,

tabagistas e submetidos à hemotransfusão, tendo evoluído para a remoção da prótese

de quadril no 36º e 51º, em média aos 43,5 ± 10,6 dias do pós-operatório,

respectivamente nos casos clínicos A e B. A idade dos pacientes em média foi 71,5

± 4,9 anos.

Esses pacientes não apresentavam antecedentes cirúrgicos, nem alguma outra

sequela. O potencial de contaminação da ferida operatória da cirurgia proposta foi

potencialmente contaminado devido ao implante da prótese. Quanto ao risco

anestésico de cada um deles teve diferente classificação e os diagnósticos pré-

operatórios, assim como a história da moléstia e comorbidades, também foram

distintos. Nenhum deles apresentou fratura exposta. Em média, os pacientes foram

submetidos em média a 4 ± 1,4 cirurgias, eletivas ou de urgência.

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Os possíveis fatores de influência quanto às especificações técnicas na artroplastia

de quadril foram relacionados ao preparo do paciente no pré-operatório imediato

(tricotomia, banho, antissepsia no sítio cirúrgico), caracterização do procedimento

anestésico-cirúrgico (tipo de anestesia, enxerto ósseo, potencial de contaminação da

ferida operatória), materiais anestésicos-cirúrgicos (especificações técnicas do

implante, origem da prótese de quadril, cimento para fixação da prótese, método de

esterilização dos instrumentais cirúrgicos e da prótese de quadril), aspectos

ergonômicos relacionados ao risco de infecção no perioperatório (número de pessoas

na sala de operações e o tamanho da sala de operação), conforme o Quadro 2.

Cada paciente ocupou a mesma sala cirúrgica, reservada para procedimentos

anestésico-cirúrgico em ortopedia. O número de profissionais na sala cirúrgica para

ambos pacientes esteve entre de 5 e 6 integrantes da equipe interdisciplinar.

Ambas equipes médicas procederam à antissepsia do sítio cirúrgico com clorexidina

degermante e também alcoólica. Porém, não houve registro quanto ao banho pré-

operatório, nem a tricotomia. Ambos os pacientes foram submetidos ao mesmo

tratamento anestésico. Os materiais utilizados na artroplastia, como instrumentais e

campos cirúrgicos foram esterilizados pela instituição em autoclave a vapor sem o

registro de falha técnica.

Os materiais ortopédicos usados incluíram prótese de origem e modelos distintos,

nacional e importada, respectivamente nos casos clínicos A e B, ambas esterilizadas

por raios gama. Do mesmo modo houve aplicação de cimento ortopédico de origem

nacional e secagem lenta, sem antibiótico.

Quanto aos aspectos microbiológicos apresenta-se a seguir, dados relativos ao

exsudato do sítio cirúrgico e do teste laboratorial microbiológico (Quadro 3).

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Quadro 1 – Perfil clínico dos pacientes submetidos à remoção da prótese de quadril nos casos clínicos A e B.

A B

Sexo Masculino Masculino

Idade 68 75

Diagnóstico pré-operatório Fratura de fêmur antiga;

queda da própria altura;

dor no quadril esquerdo;

Pseudoartrose

Osteonecrose da cabeça femoral

por osteartrose de coluna lombar

avançada;

Claudicação

Cirurgia proposta Artroplastia parcial de quadril à

esquerda

Artroplastia total quadril à

esquerda

Cirurgia realizada Artroplastia parcial de quadril à

esquerda

Artroplastia total quadril à

esquerda

1ª Reoperação Reabordagem da artroplastia de

quadril à esquerda com dreno

Redução de luxação de prótese

de quadril

2ª Reoperação Revisão de artroplastia de quadril

à esquerda; Retirada de prótese

parcial de quadril (36ºPO*)

Incremento de luxação de prótese

de quadril esquerdo

3ª Reoperação - Retirada da prótese total de

quadril (51ºPO*)

4ª Reoperação - Desbridamento da cicatriz

operatória no quadril esquerdo

História da moléstia atual Acidente automobilístico antigo e

posterior queda da própria altura

Dor em região lombar irradiando

para o pé esquerdo.

Fratura exposta Ausente Ausente

Risco anestésico ASA* II ASA* III

Comorbidades ou hábitos Pseudoartrose, Doença pulmonar

obstrutiva crônica,

arritmia cardíaca, hipertensão

arterial sistêmica não tratada,

tabagismo.

Osteonecrose,

Doença de Chagas,

etilismo,

tabagismo

Hemotransfusão Sim Sim

Cirurgias anteriores Cirurgia de esôfago Cirurgia inguinal

Potencial contaminação da

ferida operatória

Potencialmente contaminada Potencialmente contaminada

Fonte: O Autor, 2016. Legenda: ASA, American Society of Anestesiology; PO, pós-operatório.

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Quadro 2 - Especificações técnicas do preparo pré-operatório e cuidados intraoperatórios da artroplastia de quadril nos casos clínicos A e B.

A B

Tricotomia Não registrado Não registrado

Banho pré-operatório Não registrado Não registrado

Antissepsia no sítio cirúrgico Clorexidina* Clorexidina*

Tipo de anestesia Raquianestesia Raquianestesia

Modelo do implante 40mm e 28mm 44mm

Origem da prótese de quadril Nacional Importada

Cimento para fixação da prótese Sem antibiótico Sem antibiótico

Enxerto ósseo posterior Não Não

Esterilização de instrumentais Autoclave a Vapor Autoclave a Vapor

Esterilização da prótese Raios Gama Raios Gama

Número de pessoas na Sala de Operações 6 5

Sala de Operações nº 2 nº 2

Fonte: O Autor, 2016.

Quadro 3 – Seguimento do aspecto do exsudato do sítio cirúrgico e do resultado do teste laboratorial microbiológico nos casos clínicos A e B.

A B

Artroplastia de quadril

- -

1ª Reoperação Purulento, esverdeado, fétido;

Pseudomonas Aeruginosa

(6º PO*);

Acinetobacter baumannii

(17º PO*).

Amarelado.

Não realizada a cultura do exsudato.

2ª Reoperação

Seroso

-

3ª Reoperação - Serosanguinolento;

Klebsiella oxytoca (23º PO*).

4ª Reoperação

- Serosanguinolento;

Escherichia coli (2º PO*).

Fonte: O Autor, 2016. Legenda: PO, pós-operatório.

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Quadro 4 – Seguimento da antibioticoterapia dos casos clínicos A e B.

A B

Artroplastia Antibioticoterapia profilática e

cefazolina sódica

Antibioticoterapia profilática e

cefazolina sódica

Repique Não Não

1ª Reoperação Ceftriaxona e

Fosfato de clindamicina (1 dia)

-

2ª Reoperação Ceftazidima e ciprofloxacino (6 dias)

Imipenem (12 dias)

-

3ª Reoperação - Ciprofloxacino (6 dias)

4ª Reoperação - Ceftriaxona e

Fosfato de clindamicina (12 dias)

Fonte: O Autor, 2016.

Cada paciente foi operado por equipes médicas diferentes, tratados com

antibioticoterapia profilática na primeira cirurgia e submetidos à remoção da prótese

posteriormente por causa infecciosa (Quadro 4).

O paciente A foi classificado com risco anestésico ASA III e submetido à artroplastia

parcial de quadril com reabordagem. Após seis dias apresentou Pseudomonas

aeruginosa e no 17º pós-operatório Acinetobacter baumannii. Desse modo, a conduta

foi remoção de prótese de quadril cuja antibioticoterapia incluiu ceftazidima, imipenem

e ciprofloxacino.

Por sua vez, o paciente B foi classificado com risco anestésico II e submetido à

artroplastia total de quadril tendo apresentado cultura positiva para Klebisiella oxytoca

no 23º dia de pós-operatório da 3ª reoperação, e Escherichia coli após a 4ª

reoperação. A antibioticoterapia incluiu ceftriaxona, fosfato de clindamicina e

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ciprofloxacino. A ISC foi confirmada até o 30º dia de pós-operatório, sendo no 6º e

17º dia após a cirurgia, respectivamente no paciente A e B.

Outra possível influência na remoção da prótese de quadril foram os fatores

relacionados à duração do procedimento anestésico-cirúrgico e da internação

hospitalar. A artroplastia de quadril de ambos pacientes teve duração acima de 120

minutos, classificado como cirurgia de grande porte. Entretanto, as reoperações quase

triplicaram o tempo cirúrgico a que esses pacientes foram submetidos, devido à

complicação infecciosa (Quadros 6 e 7).

Quadro 6 – Seguimento do tempo cirúrgico dos casos clínicos A e B (horas:minutos).

A B

Artroplastia de Quadril 2:55 3:10

1ª Reoperação 2:00 1:20

2ª Reoperação 3:00 0:30

3ª Reoperação - 1:30

5ª Reoperação - 1:51

Total 7:55 8:41

Fonte: O Autor, 2016.

O tempo cirúrgico total dos pacientes A e B foi respectivamente, 475 minutos

(7hs55min) e 505 minutos (8hs41min). O tempo cirúrgico total a que esses pacientes

foram submetidos, desde a artroplastia de quadril incluindo as reoperações até a

remoção da prótese foi em média 490 ± 10,6 minutos, equivalente a 8 horas e 17

minutos de procedimento anestésico-cirúrgico para cada paciente.

Quadro 7 – Seguimento do tempo de internação dos casos clínicos A e B (dias).

A B

1ª Internação 26 2

2ª Internação 18 5

3ª Internação - 16

Total 44 23

Fonte: O Autor, 2016.

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Desde a primeira internação até a alta hospitalar mais recente, o intervalo de tempo

foi de 36 e 80 dias, respectivamente para os pacientes A e B. Desse modo, o tempo

médio do tratamento cirúrgico entre a primeira cirurgia e a remoção da prótese de

quadril transcorreu em média 58 ± 31,1 dias.

O tempo de internação hospitalar, propriamente dito, correspondeu a 44 e 23 dias,

incluindo 2 ou 3 internações hospitalares, respectivamente para ambos os pacientes.

Sendo assim, o tempo médio de internação hospitalar desde a cirurgia inicial incluindo

as reoperações foi de 33,5 ± 14,8 dias (Figura 1).

Figura 1 - Tempo de internação hospitalar dos Casos Clínicos A e B (dias).

Fonte: O Autor, 2016.

Em média a remoção da prótese ocorreu no 43,5 ± 10,6 dias de pós-operatório da

cirurgia eletiva. O tempo cirúrgico total a que esses pacientes foram submetidos,

desde a artroplastia de quadril incluindo as reoperações até a remoção da prótese foi

em média 490 minutos ± 10,6 equivalente a 8 horas e 17minutos. Desse modo, o

26 dias

2 dias

18 dias

5 dias

16 dias

0

5

10

15

20

25

30

Paciente A Paciente B

1ª Internação Hospitalar 2ª Internação Hospitalar 3ª Internação Hospitalar

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tratamento cirúrgico entre a primeira cirurgia e a remoção da prótese de quadril

transcorreu durante 58 ± 31,1 dias.

Discussão

Segundo Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) aproximadamente

um milhão de artroplastias de quadril e joelho com substituições das articulações

foram realizadas nos EUA em 2008. O números de cirurgias ostopédicas é crescente

no país, relacionado também à obesidade e envelhecimento da população.¹⁰

A Instituição de estudo realizou 1431 cirurgias ortopédicas, incluindo 45 artroplastias

de quadril, no ano de 2015.⁹ No atual estudo os pacientes submetidos à artroplastia

eram idosos e do sexo masculino. Estudos similares também mostram que a maioria

desses pacientes são idosos (85%) e do sexo feminino (59%).2-8

Pacientes submetidos à remoção de artroplastia de joelho têm risco de infecção 10

vezes maior comparados às revisões primárias.¹¹ No presente estudo, os pacientes

foram submetidos até quatro revisões cirúrgicas, tendo desenvolvido ISC com

remoção da prótese por causa infecciosa.

Estudos alertam para a prescrição e tratamento preventivo por ocasião da alta

ortopédica.¹² Considera-se maior o risco ISC acima de 75 anos.¹³‾¹⁵ No Reino Unido

o serviço de ortopedia geriátrica trouxe diretrizes como reabilitação e intervenção

precoce, somado à atenção interdisciplinar, entre outros. ¹⁵ O atual estudo inclui idoso

acima de 75 anos de idade.

A ISC provoca deiscência cirúrgica, abscesso, retardamento no processo de

cicatrização, prejuízo na movimentação corporal, podendo evoluir para o óbito por

choque séptico ou pneumonia, elevando o custo financeiro para instituição.¹⁶‾¹⁷ Nos

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Casos Clínicos do atual estudo foi demonstrado como complicação pós-operatória a

ISC, evoluindo para a remoção da prótese.

Cirurgias do trato digestório, cardiotorácicas e ortopédicas estão entre aquelas de

maior ocorrência da ISC. Por sua vez, a infecção de prótese de quadril em artroplastia

primária (1%), triplica na reoperação. No presente estudo constatou-se que a

reoperação ocorreu até 4 vezes devido à complicações decorrentes da ISC,

acarretando internação prolongada e quase triplicando o tempo cirúrgico total.

As bactérias Gram-negativas foram os microrganismos mais citados na causa da

ICS.¹⁷‾¹⁸ O presente estudo constatou também crescimento de bactérias Gram-

negativas no pós-operatório de artroplastia de quadril. Em ambos casos clínicos

ocorreu ISC por agentes microbiológicos distintos, incluindo Pseudomonas

aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella oxytoca e Escherichia coli.

Estudo de revisão mostrou entre os patógenos que mais causaram infecções

Staphylococcus aureus (39,28%), Escherichia coli (30,35%), Pseudomonas

aeruginosa (19,64%), Staphylococcus epidermidis (17,85%), Klebsiella spp (12,50%),

Enterobacter spp (10,71%), Morganela morganii (8,92%) e Bacteroides spp (7,14%),

que são bactérias gram-negativas comumente multirresistentes.¹⁸ Neste estudo foram

identificados Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella oxytoca

e Escherichia coli, que são bacilos gram-negativos.

A colonização bacteriana em pacientes que desenvolveram infecção hospitalar mostra

multirresistência, especialmente em relação ao Acinetobacter bauamannii (36,3%),

Pseudomonas aeruginosa (21,9%), Escherichia coli (7,8%), entre outros (25,7%). ¹⁹

A Klebsiella oxytoca foi citada em torno de 1,78% a 2,5% dos casos de infecção.⁸‾¹⁰

As enterobactérias produtoras de blaKpc conferem resistência aos antibióticos

betalactâmicos. Outro estudo mostrou que a bactéria isolada em caso de infecção de

prótese de quadril não teve relato de sintomatologia clínica apesar de possuir grande

capacidade de disseminação e colonização pela morbimortalidade associada. A

identificação precoce de suspeita de infecção facilita que medidas sejam tomadas,

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de Conclusão do Curso de Enfermagem. Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba- MG, Brasil. Orientadora: Nazaré Pellizzetti Szymaniak. Banca Examinadora: Adriana Gonçalves de Oliveira

assim como a precaução de contato e a antibioticoterapia.¹⁶‾¹⁷‾²⁰ A antibioticoprofilaxia

varia em torno de 60 minutos antes da incisão cirúrgica reduzindo o risco da ISC (59%)

em pacientes com fratura exposta.²¹‾²²‾²³

Em relação ao repique do antibiótico no intraoperatório ou no pós-operatório, não foi

realizado nos procedimentos anestésicos-cirúrgicos dos pacientes A e B, sendo que

o protocolo institucional estabelece seja aplicado em cirurgias com duração

prolongada ou sangramento excessivo. O repique é a cada 2 horas para Cefalotina e

Cefoxitina, sendo a cada 4 horas para Cefazolina e Cefuroxima. A dose profilática em

cirurgias ortopédicas são 2 gramas para Cefazolina e 3 gramas em pacientes acima

de 120 kg. ²¹

O protocolo institucional determina que em cirurgias ortopédicas seja administrado

Cefazolina 1 grama 8/8 horas, aproximadamente 60 minutos antes da cirurgia com

repique do antibiótico em cirurgias acima de 3 horas, na presença de sangramento

intenso e em caso de reposição volêmica maior do que 1 litro.²⁴

A adição de antibióticos ao cimento de polimetilmetacrilato reduz a incidência de

infecção articular periprostética e na frequência das falhas das próteses após

artroplastia eletiva.²⁴‾²⁵ A adição de antibiótico em pó diretamente no cimento

diminui a incidência de soltura tardia por infecção, principalmente na revisão da

artroplastia.²⁵‾²⁶

Esses pacientes receberam antibioticoterapia profilática, porém sem o registro do

horário exato da administração durante o intraoperatório, antes da indução anestésica

e não foi utilizado cimento com antibiótico. A dose profilática de Cefazolina foi prescrita

na ausência do tratamento com outro antibiótico, contrariamente ao protocolo da

instituição.²⁷

Recomenda-se dose superior a 1 grama de Cefazolina aos pacientes sem

antibioticoterapia profilática. ²¹ Constatou-se que os pacientes A e B não receberam

antibioticoterapia profilática nas reoperações, quando estavam sob tratamento com

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Cefazolina 1 grama. Verificou-se também que nem sempre houve coleta de material

para cultura na presença de sinais flogísticos.

Pessoas são fonte de contaminação na sala de operações provocando turbulência no

ar ambiente, assim como pelo transporte de bactérias e unidades formadoras de

colônias no local propício à infecção. A contagem de bactérias no ar da sala de

operações aumenta em torno de 34 vezes na presença de 5 pessoas quando

comparado à sala vazia.²⁸‾²⁹ Nos hospitais universitários o número de pessoas no

intraoperatório aumenta devido à presença de acadêmicos. No atual estudo o número

de pessoas na Sala de Operações esteve dentro das recomendações técnicas.

O Consenso Internacional de infecções articulares periprotéticas recomenda uso de 3

pares de luvas, pela taxa relativamente alta de contaminação da luva interna.³⁰‾³¹

De acordo com Sebold et al., o uso de luva de tecido interposta entre o látex reduz a

perfuração da luva interna para zero, sem comprometimento da técnica cirúrgica. A

troca das luvas a cada 20 minutos e antes da cimentação do implante mostrou redução

de perfurações e contaminação.³³ Kaya et al. relataram perfuração de luvas após 90

minutos do tempo cirúrgico.³⁴

Beldame et al. identificaram maior taxa de contaminação das luvas antes da

implantação da prótese.³⁴ A troca das luvas externas contaminadas, permitiu que

permanecesse em boas condições em 80% dos casos. Carter et al. demonstraram

que a perfuração da luva externa do cirurgião ocorreu entre 3,7 a 8,3% em revisão de

artroplastia.³⁶

Estudo de metanálise preconiza que o banho único não se mostra eficaz para

descolonização da microbiota da pele. ³⁷ O banho operatório reduz a colonização

removendo resíduos da pele do paciente. No atual estudo não foram verificados

registros quanto ao banho pré-operatório dos pacientes. Porém, o protocolo

institucional preconiza que para cirurgias com implante haja três banhos pré-

operatórios com Clorexidina 2%.

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Conclusão

A comparação dos dois casos clínicos permitiu concluir que ambos os pacientes eram

idosos (71,5 ± 4,9 anos de idade), do sexo masculino, tabagistas e submetidos à

artroplastia do quadril à esquerda, receberam antibioticoterapia profilática na primeira

cirurgia, conforme o protocolo institucional, porém com utilização de cimento para

fixação da prótese sem antibiótico. Os sinais e sintomas de ISC foram dor local, edema

e exsudato no sítio cirúrgico.

Distintamente foi detectado no exsudato do sítio cirúrgico o crescimento microbiano

de Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella oxytoca e

Escherichia coli. As reoperações quase triplicaram o tempo cirúrgico a que esses

pacientes foram submetidos, tendo sido em média 490 ± 10,6 minutos, equivalente a

8 horas e 17 minutos desde a artroplastia eletiva, incluindo as reoperações até a

remoção da prótese de quadril.

O tempo de internação hospitalar dos pacientes submetidos à remoção da prótese de

quadril foi em média 33,5 ± 14,8 dias. Por sua vez, o tempo de tratamento desde a

artroplastia eletiva, incluindo as reoperações até a remoção da prótese de quadril

transcorreu em média 58 ± 31,1 dias. Os pacientes foram submetidos em média a 4

± 1,4 cirurgias, entre os procedimentos eletivos e de urgência. A remoção da prótese

de quadril ocorreu em média no 43,5 ± 10,6 dias de pós-operatório mediato, em menos

de 2 meses após o implante.

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8. Anexo

8.1 Anexo A - Instrumento de coleta de dados A B

Sexo

Idade

Diagnóstico pré-operatório

Cirurgia proposta

Cirurgia realizada

Reoperação

História da moléstia atual

Fratura exposta

Risco anestésico

Comorbidades ou hábitos

Glicemia de risco

Cirurgias anteriores

Hemotransfusão

Tricotomia

Banho pré-operatório

Antissepsia no sítio cirúrgico

Tipo de anestesia

Especificações do implante

Origem da prótese de quadril

Cimento para fixação da prótese

Enxerto ósseo posterior

Esterilização de instrumentais

Esterilização da prótese de quadril

Aspecto do exsudato pós-

operatório

Microbiologia

Tempo cirúrgico

Tempo de internação

*Fonte: Adaptado de FRANCO, 2013.

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8.2 Anexo B - Conteúdo da Ficha de Notificação de Infecção Clínica Leito

Paciente Registro

Data da Internação Idade Sexo Data da Alta Data do óbito

Ocorrência de Infecção ( ) Presente na Admissão ( ) Adquirida no Hospital ( ) Não houve

Cirurgia durante a

Internação

( ) Sim ( ) Não

( ) Limpa ( ) Potencialmente Contaminada ( ) Contaminada ( ) Infectada

( ) Pequeno Porte ( ) Médio Porte (3) Grande Porte

Uso de antimicrobiano durante a internação: ( )Sim ( )Não Fármaco:

Indicação do antimicrobiano: ( )Terapêutico ( ) Profilático

Procedimentos ou situações de risco:

( ) Cateter intravenoso ( ) Intubação Traqueal ( ) Alimentação parental

( ) Sonda vesical ( ) Nebulização ( ) Medidas terapêuticas invasivas ( ) Traqueostomia ( )

Respiradores ( ) Outros

Localização topográfica da infecção hospitalar:

( ) Inserção cirúrgica ( ) Cutânea ( ) Intra-abdominal

( ) Bronco pulmonar ( ) Sepse ( ) Ósseo-articular ( ) Urinário ( ) Gastrointestinal

( ) Ocular ( ) Genital ( ) Sistema Nervoso Central ( ) Outros:

Cultura: ( ) Sim ( ) Não Material cultivado: Resultado:

Microrganismo isolado relacionado à causa da infecção hospitalar: ( ) Sim ( ) Não

Evolução da infecção hospitalar: ( ) Cura ( ) Melhora ( ) Alta a pedido

( ) Óbito devido à infecção hospitalar ( ) Óbito devido à outra causa ( ) Outros:

Data: Médico:

Fonte: Adaptado da Ficha de Notificação da Vigilância Sanitária.