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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA EMESCAM AUGUSTO RIBEIRO DE JESUS OLIVEIRA LARISSA FURBINO DE PINHO VALENTIM LUCAS MEDRADO LUZ HÉRNIA OBTURATÓRIA ENCARCERADA: RELATO DE CASO E REVISÃO DA LITERATURA VITÓRIA ES 2016

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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE

VITÓRIA – EMESCAM

AUGUSTO RIBEIRO DE JESUS OLIVEIRA

LARISSA FURBINO DE PINHO VALENTIM

LUCAS MEDRADO LUZ

HÉRNIA OBTURATÓRIA ENCARCERADA: RELATO DE CASO E REVISÃO

DA LITERATURA

VITÓRIA – ES

2016

AUGUSTO RIBEIRO DE JESUS OLIVEIRA

LARISSA FURBINO DE PINHO VALENTIM

LUCAS MEDRADO LUZ

HÉRNIA OBTURATÓRIA ENCARCERADA: RELATO DE CASO E REVISÃO

DA LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola

Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória como requisito parcial para obtenção do grau de

médico.

Orientador: Dr. Mitre Kalil

VITÓRIA

2016

Dedicamos esse trabalho

ao Pai Celestial, que não se cansou de

estender as suas mãos em todos os momentos.

AGRADECIMENTOS

À Profa. Graça Mattede, pela dedicação constante e apoio incondicional.

Ao Prof. Kalil, por sempre nos incentivar a prosseguir.

Aos residentes de Clínica Cirúrgica do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória,

pelo companheirismo, paciência e profissionalismo.

Aos familiares, amigos e amores, por acreditarem em nós e compreenderem nossa

ausência.

RESUMO

Objetivo: Revisar a literatura e descrever a história, o diagnóstico e o tratamento da hérnia

obturatória encarcerada a partir do relato de caso de uma paciente atendida no Hospital Santa

Casa de Misericórdia de Vitória – ES. Método: Revisão sistematizada da literatura de 1975 a

2015, na base de dados Pubmed/Medline e consulta a prontuário informatizado. Resultado:

Paciente do sexo feminino, 75 anos, apresentou quadro de abdome agudo obstrutivo

secundário à hérnia obturatória encarcerada. O diagnóstico foi feito por tomografia

computadorizada de abdome total. O tratamento instituído foi cirúrgico de urgência através da

correção do defeito com colocação de tela de polipropileno em forma de cone. Conclusão: A

hérnia obturatória é um tipo incomum de hérnia, porém com grande potencial de causar

abdome agudo obstrutivo. Pela baixa frequência e dependência de um exame de imagem para

elucidação diagnóstica na avaliação pré-operatória, seu diagnóstico geralmente é tardio ou no

intra-operatório. Existem diversas abordagens cirúrgicas possíveis para sua correção.

Palavras-chave: Hérnia do obturador; Obstrução intestinal; Abdome agudo; Tomografia

computadorizada.

ABSTRACT

Objective: To review the literature and describe the history, diagnosis and treatment of

incarcerated hernia obturator from the case report of a patient treated in Hospital Santa Casa

de Misericórdia de Vitória – ES. Method: Systematic review of the literature from 1975 to

2015, on the database Pubmed / Medline and consulting the medical records. Result: A

female patient, 75 years, presented obstructive secondary acute abdomen to an obturator

incarcerated hernia. The diagnosis was made by computed tomography total abdomen. The

treatment was urgent surgical, by correcting the defect with polypropylene mesh placement

cone-shaped. Conclusion: Obturator hernia is an unusual type of hernia, but with high

potential to cause obstructive acute abdomen. Because its low frequency and dependence on

an imaging test for diagnosis in preoperative evaluation, diagnosis is usually delayed or

intraoperatively. There are several possible surgical approaches to their correction.

Key words: Obturator hernia; Bowel obstruction; Acute abdomen; Computed tomography.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

2 RELATO DE CASO ................................................................................................... 12

3 DISCUSSÃO ............................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 17

ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP ........................................................ 18

8

1 INTRODUÇÃO

A palavra hérnia é derivada da palavra latina para ruptura. Uma hérnia é definida como

uma protrusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes1.

O histórico das hérnias abdominais pode ser dividido em três períodos: o primeiro, que

se estende até o ano de 1750, sendo caracterizado pela reposição das vísceras para dentro da

cavidade celômica e destruição ou ressecção do saco herniário, sem a preocupação de fechar o

orifício por onde o conteúdo da hérnia saía; o segundo, que vai de 1750 à 1889, no qual

predominam as pesquisas das bases anatomopatológicas das hérnias; o terceiro, à partir de

1889, fundamentado no conhecimento anatômico do segundo período e no desenvolvimento

da técnica cirúrgica sistematizada, apoiada na antissepsia e assepsia preconizadas por Joseph

Lister e no advento da anestesia2.

Embora uma hérnia possa ocorrer em vários locais do corpo, esses defeitos mais

comumente envolvem a parede abdominal, em particular a região inguinal. As hérnias da

parede abdominal ocorrem apenas em locais onde a aponeurose e a fáscia não são cobertas

por músculo estriado. Esses locais mais comumente incluem as áreas inguinal, femoral e

umbilical, a linha alba, a porção inferior da linha semilunar e locais de incisões anteriores. O

orifício (ou colo) de uma hérnia é localizado na camada músculo-aponeurótica mais interna,

enquanto o saco herniário é revestido por peritônio e faz protrusão no colo. Não há correlação

consistente entre a área do defeito da hérnia e o tamanho do saco herniário3.

Uma hérnia externa faz protrusão por todas as camadas da parede abdominal, enquanto

uma hérnia interna é uma protrusão do intestino através de um defeito na cavidade peritoneal.

A hérnia interparietal ocorre quando o saco herniário é contido na camada

musculoaponeurótica da parede abdominal3.

A hérnia é dita redutível quando seus conteúdos podem ser reposicionados por entre a

musculatura circundante, e é irredutível ou encarcerada quando não pode ser reduzida. Uma

hérnia estrangulada tem suprimento sanguíneo comprometido para seus conteúdos, o que é

uma complicação grave e potencialmente fatal. O estrangulamento é mais frequente nas

hérnias grandes com orifícios pequenos pela obstrução ao fluxo sanguíneo arterial e/ou à

drenagem venosa para os conteúdos do saco herniário. Aderências entre o conteúdo da hérnia

e o revestimento peritoneal do saco podem proporcionar um ponto de acorrentamento que

aprisiona os conteúdos da hérnia e predispõe à obstrução intestinal e estrangulamento3.

9

O primeiro caso de hérnia obturatória foi relatado em 1724 por Arnaud de Ronsil, mas

data de 1851 o primeiro caso operado com sucesso por laparotomia, relatado por Henri Obre.

Rowe e Bynum e Harper e Holt após busca na literatura chegaram a 463 casos relatados até

1956, mostrando a raridade da hérnia obturatória 4-6.

Apesar de infrequentes, representando cerca de 1 % de todas as hérnias e 0,2-1,6 % de

todos os casos de obstrução mecânica do intestino delgado, têm a maior taxa de mortalidade

dentre as hérnias7.

Ocorre mais comumente à direita, já que o cólon sigmóide recobre o forame obturatório

esquerdo, e é mais frequente em mulheres (6:1). A maior prevalência no sexo feminino é

devido à pelve mais ampla, maior abertura e inclinação oblíqua do canal obturador e maior

diâmetro transverso na pelve feminina8. Na maioria dos casos, não é visível ou palpável,

oferece alto índice de encarceramento ou estrangulação, levando a um alto índice de

mortalidade, que varia, de acordo com a literatura, entre 38 e 81%4-6.

Os fatores predisponentes são, principalmente, o alargamento do anel, frouxidão do

peritônio pélvico, gestações múltiplas, idade, e causas de aumento da pressão intra-abdominal,

como constipação crônica 4-6.

O forame obturatório é bilateral e situa-se entre o ísquio e o púbis, na parede ântero-

lateral da pelve, tendo a crista obturatória, o sulco obturatório e os tubérculos obturatórios

anterior e posterior como elementos ósseos. O orifício é ocluído por uma membrana rígida e

forte, havendo uma fenda na sua parte superior, que dá passagem ao pedículo obturatório. A

hérnia coloca-se acima e para dentro do orifício. O canal osteofibroso que se inicia no orifício

pélvico e termina no orifício crural mede de 2 a 3 centímetros de extensão e faz parte do

trajeto herniário3 (Figura 1).

10

Figura 1 – Anatomia esquemática da pelve à direita, para delimitar o anel obturatório. Nervo obturador (1);

artéria obturatória (2); alça de íleo (3); canal obturatório (4); músculo obturatório externo (5); músculo pectíneo

(6); músculo sartório (7); músculo adutor longo (8). A seta indica o trajeto da hérnia.

O saco herniário se projeta na coxa, abaixo do músculo pectíneo ou atrás do obturatório

externo. Em qualquer posição dificilmente é palpado. O conteúdo, em geral, é constituído por

omento ou pinçamento lateral de intestino (hérnia de Ritcher). Encontra-se, menos vezes,

ceco, apêndice, tuba, bexiga (descrito por Günz em 1744), divertículo de Meckel e ovário8.

Há 3 tipos de hérnia obturatória de acordo com o trajeto do saco herniário3:

(1) Supra-obturatória externa: quando se situa entre o obturatório externo e o pectíneo;

(2) Transobturatória: quando atravessa os fascículos do obturatório externo

acompanhando os ramos inferiores dos vasos;

(3) Infraobturatória: quando se situa entre a membrana obturadora e a face posterior do

obturatório externo.

A compressão do nervo obturatório gera dor ou parestesia localizada e referida ao longo

dos adutores, face interna da coxa e joelho, constituindo o sinal de Howship-Romberg. A

mesma compressão gera ausência do reflexo do adutor na coxa quando percutimos o músculo

cinco centímetros acima do joelho, caracterizando o sinal de Hannington-Kiff9.

O quadro clínico, em geral, é de dor aguda com sinais e sintomas de obstrução

intestinal, associada ao sinal de Howship-Romberg ou dor do tipo ciática. A incidência de

gangrena intestinal associada à obstrução é grande10.

Nas crises de dor, o paciente mantém a perna semi-fletida e em ligeira adução, pois a

extensão, abdução e rotação interna da coxa aumentam a pressão do músculo obturatório

sobre o saco herniário, que se situa entre este, posteriormente, e o adutor longo e pectíneo,

anteriormente9. Como diagnóstico diferencial, devemos considerar as hérnais crural e

perineal, psoíte e abcesso do psoas, artrite coxofemoral e neurite do obturatório11.

Em mais de 50% dos casos pode-se fazer o diagnóstico de certeza quando se palpa a

tumefação. Com o sinal de Howsip-Romberg positivo (50%) e tumefação percebida ao toque,

está confirmado o diagnóstico, sempre aliado aos fatores predisponentes12. Quando não se

palpa ou não se vê a tumefação crural, o diagnóstico precoce torna-se um desafio. A

realização de exames de imagem pode ajudar na elucidação7.

Ultrassonografia e ressonância magnética foram relatadas na literatura, entretanto a

tomografia computadorizada do abdômen e da pelve é o padrão-ouro, com uma taxa de

diagnóstico de 78 - 100 %, demonstrando a hérnia e seu conteúdo no canal obturador12.

11

Há quatro vias de acesso para a correção cirúrgica da hérnia obturatória3:

(1) Crural ou femoral (descrita por Anderson em 1900): mais difícil, menos eficaz e

indicada somente nos pacientes de alto risco cirúrgico e sem suspeita de estrangulação.

Faz-se abertura, redução e ligadura do saco herniário e estreitamento do orifício com

pontos interrompidos de fio inabsorvível3.

(2) Abdominal transperitoneal: indicada nos casos de estrangulação comprovada. Faz-se

incisão infraumbilical mediana, redução da hérnia, inversão do saco e ressecção do seu

excedente, sutura parcial do anel, que deve ficar com diâmetro de uma polpa digital,

pois se menor irá comprimir o nervo obturatório mantendo a sintomatologia e se

maior, facilitaria a recidiva da hérnia, que é alta3.

(3) Abdominal pró-peritoneal: ideal tanto para uma boa tática intraperitoneal, se for o

caso, como para tratamento eficaz. São duas propostas. (a) Nyhus (1966): incisão de 3

cm acima do ligamento inguinal, sua vantagem é ser unilateral, não necessitando

seccionar os retos abdominais. (b) Cheatle (1926) – Henry (1936): incisão

infraumbilical mediana. Em ambas as propostas a solução cirúrgica é idêntica a

trasperitoneal3.

(4) Inguinal (Milligan): quando a cirurgia for eletiva, a hérnia pequena e não complicada,

ou se houver uma forma iguinal associada3.

(5) Combinada (Wakeley): quando no acesso crural verifica-se comprometimento do

conteúdo ou no acesso alto não se consegue redução completa3.

12

2 RELATO DE CASO

RFD, gênero feminino, branca, aposentada, ex-carvoeira, 75 anos, com histórico de

constipação crônica, deu entrada no pronto socorro do Hospital Santa Casa de Misericórdia de

Vitória-ES com queixa de dor abdominal. À história da doença atual referia dor em fossa

ilíaca esquerda, tipo cólica, intermitente, com evolução de seis meses, intensidade variável e

irradiação para coxa ipsilateral. Paciente relatava melhora apenas com uso de opiáceos, com

múltiplos atendimentos prévios pela mesma causa, tendo recebido o diagnóstico de

diverticulite. Referia ainda parada de eliminação de gases e fezes. Trazia consigo tomografia

de abdome total realizada quatro meses antes, sem alterações (Figura 2).

Figura 2 - Tomografia computadorizada da pelve realizada previamente à admissão, em que não foi identificada

nenhuma anormalidade.

À história patológica pregressa, revelou-se portadora de doença pulmonar obstrutiva

crônica (DPOC), referia hernioplastia inguinal esquerda há seis anos, um parto vaginal e um

abortamento espontâneo.

Ao exame físico, apresentava-se emagrecida, sem alterações de sinais vitais, abdome

distendido, ruídos hidroaéreos diminuídos, presença de massa na região inguinal esquerda,

13

dor à palpação superficial e profunda em fossa ilíaca esquerda, com irradiação para coxa

ipsilateral.

Na avaliação inicial, foram solicitados exames laboratoriais que evidenciaram discreta

leucocitose. Nova tomografia foi solicitada para descartar a hipótese de diverticulite. A

imagem revelou hérnia obturatória à esquerda, caracterizada por insinuação ação de alça de

delgado no forame obturatório correspondente, até o nível entre os músculos pectíneo e

obturador externo homolaterais, com a respectiva alça dilatada nesse nível (Figura 3).

Figura 3 - Tomografia computadorizada da pelve com imagem característica de hérnia obturatória à esquerda.

Também evidenciou dilatação de alças de delgado acima do nível da respectiva hérnia,

ausência de coleções ou líquido livre intraperitoneal e presença de divertículos colônicos

sendo mais numerosos nas porções descendente e sigmoide.

Procedeu-se à internação hospitalar e laparotomia exploradora, em que foi confirmada a

presença de hérnia obturatória com saco herniário sem alças intestinais em seu conteúdo

(Figura 4). Ao inventário da cavidade, observou-se a presença de alça de delgado com área

arredondada edemaciada e discreto sofrimento vascular, compatível com impressão do ponto

de encarceramento (Figura 5).

14

Figura 4 - Visualização do forame obturador e confirmação de hérnia obturatória à laparotomia.

Figura 5 - Alça intestinal com evidência de isquemia.

Foi realizada herniorrafia com colocação de tela de polipropileno em forma de cone

(patch/plug) no forame obturatório (Figura 6) e feita recobertura com peritônio no canal, sem

intercorrências.

Figura 6 - Forame obturatório com tela de polipropileno em forma de cone.

15

3 DISCUSSÃO

A hérnia obturatória é uma doença rara que possui diversos fatores predisponentes13.

Comumente, ocorre em mulheres idosas, magras e de aspecto frágil. Anatomicamente, a

membrana do obturador recobre a maior parte do forame, exceto em seu diâmetro superior

anterior. A perda de gordura pré-peritoneal e tecido linfático, que ocupam o canal obturador,

permite a descida da hérnia através deste defeito14. Outros fatores de risco incluem DPOC,

constipação crônica e multiparidade, presentes na paciente em estudo e, ainda, outras causas

de aumento da pressão intra-abdominal como ascite8.

O sinal de Howship-Romberg, encontrado na paciente, está presente em até 50% dos

casos, sendo caracterizado por dor na face medial da coxa, mais raramente no quadril, que

irradia para o joelho seguindo a distribuição do nervo obturador. Piora com a extensão,

adução e rotação medial da coxa e melhora com sua flexão. Uma massa palpável pode estar

presente na virilha ou durante o toque retal e vaginal15.

O diagnóstico é frequentemente realizado apenas durante laparotomia exploradora de

abdome agudo obstrutivo de causa desconhecida, exceto nos casos em que uma tomografia

computadorizada abdominal é obtida antes do procedimento cirúrgico15, como foi o caso deste

atendimento. Kulkarni et al. relataram o caso de uma paciente com abdome agudo obstrutivo

e história de crises recorrentes de obstrução intestinal que foi abordada por laparotomia com

incisão mediana baixa14.

A laparotomia é um método adequado para a emergência porque permite a exploração

da cavidade abdominal, o diagnóstico da causa da obstrução intestinal, a redução da hérnia e a

identificação de isquemia, com ressecção do segmento, caso necessário. A laparoscopia tem

se tornado uma alternativa, com a vantagem de menores complicações pós-operatórias e

menor tempo de hospitalização, porém é mais viável se o diagnóstico foi estabelecido antes da

cirurgia em pacientes sintomáticos14.

Deeba et al. afirmam que a maioria dos casos (71%) tratados com sucesso por

abordagem laparoscópica são eletivos, diagnosticados no pré-operatório por tomografia

computadorizada ou um achado incidental durante a laparoscopia para outras condições ou

hérnias. Isso mostra a importância de se inspecionar o orifício miopectíneo durante a

laparoscopia da hérnia inguinal16.

Os métodos de reparação incluem sutura simples, fechamento do obturador com o

tecido adjacente e substituição com tela. Uma revisão sistemática conduzida pelos mesmos

16

pesquisadores revelou que a maioria das reparações é feita a partir de telas, porém não há

dados suficientes de seguimento para avaliar as taxas de recorrência da hérnia16. O uso de

telas sintéticas não é recomendado em caso de gangrena intestinal ou perfuração. Nesses

casos, o saco herniário é fechado in situ e feita sutura em bolsa com fio não absorvível ou uma

ou mais suturas interrompidas15.

No caso descrito foi realizada laparotomia e correção do defeito com tela de

polipropileno (reparo tipo plug). O acesso laparotômico foi preferido à inguinotomia, devido

ao encarceramento da hérnia.

A taxa de mortalidade nos pacientes portadores de hérnia obturatória varia de 11% a

50% e está diretamente relacionada com ruptura intestinal em pacientes idosos com múltiplas

comorbidades. Qualquer que seja a abordagem, a ênfase deve estar na avaliação rápida,

estabilização do quadro e intervenção cirúrgica precoce15.

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APÊNDICE A – Parecer Consubstanciado do CEP

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