herdeirode ícaro 15

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Um engenheiro que larga a indústria onde poderia ter um crescimento profissional e vai para a aviação, pela paixão de voar. Nesta obra ele narra as aventuras para ser piloto, ter um avião e depois vê-lo ser roubado por traficantes, a aventura de tentar recuperá-lo, a luta para não deixar um aeroclube histórico ser fechado, o trabalho numa grande fabricante de aeronaves. O como um dos Filhos de Ícaro, aqueles que amam voar, tenta imitar os pássaros e saber porque eles tanto cantam.

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São Paulo – 2015

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa AF Capas

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________L169H

Lagarinhos, Carlos Filipe dos Santos Herdeiro de Ícaro / Carlos Filipe dos Santos Lagarinhos. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0318-3

1. Lagarinhos, Carlos Filipe dos Santos. 2. Engenheiros - Brasil - Biografia. I. Título.

15-20551 CDD: 926.2 CDU: 929:62________________________________________________________________03/03/2015 05/03/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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Um adolescente com uns 11 anos. Era eu em Luanda, capital de Angola, onde eu nascera. O meu irmão trabalhava no

Aeroporto Internacional de Luanda. Ali eu começava a minha vida com a aviação.

O meu irmão conhecia diversos pilotos que decola-vam em pequenos aviões para fazer horas de voo e come-çou a lhes pedir para me levarem. Ali começava a minha paixão pelo voar. Cada vez que a aeronave corria pela pista e ganhava altura, eu me maravilhava com o visual, com o sentimento de estar livre, acima dos problemas do mundo.

Então, Angola entrou na guerra civil e todos nós estávamos, de algum modo, envolvidos nisso. Eu, com 13 anos, já portava uma submetralhadora USI na mão e convivia com a morte muitas vezes.

Aquele aeroporto de Luanda me deu tantas alegrias! Ficava olhando os grandes Boeing 707 da Varig, da South Africa Airways, da TAP, Luftansa, etc., decolando e pou-sando com os seus motores ruidosos e poluidores, mas que, na época, eram maravilhosos.

Vi o primeiro pouso lá do Concorde e pude visitá-lo por dentro, com a ajuda e os conhecimentos do meu ir-mão. Vi os primeiros Boeing 747, os Jumbos, entre outros.

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Aquele aeroporto agora era triste para mim, era o símbolo da despedida da minha terra natal, onde minha infância feliz ficava para trás. No dia 01 de Setembro de 1975, decolava num B 707 da Varig com destino ao Bra-sil, onde eu tinha família.

Foto 1: Boeing 707 da Varig semelhante ao que nos trouxe ao Brasil em 01 de Setembro de 1975.

Eram minha mãe, meu pai e eu. Eles deixavam a terra que haviam escolhido para viver por mais de 20 anos. Não saíram de lá por serem expulsos pelos negros, pelo contrá-rio, eram bem-vistos, e só não ficaram porque eu entrei na guerra e pelo partido político que perdeu. Ao contrário do que muitos pensam, a guerra não era entre brancos e ne-gros naquela época da independência, era entre partidos.

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Pela janela do avião eu via a Ilha de Luanda, o Mus-súlo e a África do meu coração ficarem para trás. No meu colo, o tempo todo estava uma caixa de papelão com toda a minha coleção de aviões de montar da Revell. Eram Spitfi-re, Heinkel, Stuka, Merchessmidt, Corsair, Lancaster, DC3 Dakota, mais de 20 aviões, todos em meio a um monte de espuma de almofada para mantê-los inteiros e protegidos de qualquer ameaça. Alguns ainda estão comigo até hoje numa estante com outros que eu já comprei depois. O “ae-rococus” da aviação já estava no meu sangue com 13 anos. Pousamos no Brasil dia 01 de Setembro de 1975 à noite, no aeroporto Santos Dumont, e passamos imediatamente para um Electra, que nos levou para Congonhas, em São Paulo.

Foto 2: Electra da Varig semelhante ao que nos levou do Rio de Janeiro a São Paulo.

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Estava fechado, e alternamos para Viracopos, em Campinas. De ônibus, finalmente chegávamos à me-trópole São Paulo. Sem documentação alguma, apenas um salvo conduto de refugiados de guerra emitido pelo consulado brasileiro em Luanda. Começava a minha vida nesta bela nação. O meu irmão ficaria mais um mês em Angola e viria em seguida.

Morando em Santos, minha adolescência era brin-cando de piloto, brincando de batalhas aéreas com os meus aviões, enfim, talvez me lembrando de vidas pas-sadas. Bastava ver filmes de combates aéreos, principal-mente da segunda guerra, que eu sentia que lá já estive-ra. Voltava para casa e brincava imaginando cenas reais.

Cresci, mudei de ares, de objetivos, entrei nos es-portes, patinação artística por uns 14 anos. Um dia, soube que iria haver uma demonstração de paraquedis-mo à noite na praia do Gonzaga, em Santos. Eu e a minha companheira fomos assistir, e me encantei. Logo pedi um cartão e na segunda-feira estava na academia para fazer o curso de paraquedismo com um dos maio-res mestres do Brasil, meu mestre Djalma Vieira. Fiz todo o curso teórico e pesado de paraquedas redondo, os T10. Mas no final de semana no qual a minha turma foi realizar o primeiro salto em Americana, interior de São Paulo, eu tinha um campeonato paulista de patina-ção com a minha dupla e não pude saltar.

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Foto 3: Paraquedas tipo T10, quase sem navegação alguma, não voa, só desce.

Logo em seguida, que sorte, o mestre Djalma adquiria paraquedas retangulares e começava o curso com essas asas voadoras que são hoje os paraquedas usados no esporte.

Fiz o curso, e em 27/06/1992, eu fazia o meu pri-meiro salto em Piracicaba, saltando do Cessna PT-DFN, pilotado pelo agora amigo Comandante Schmidt, a 4000 ft (pés) de altitude, mais ou menos 1200 m. Estava de volta aos céus, voando novamente.

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Foto 4: Eu, em demonstração de paraquedismo.

Fui evoluindo no esporte, comecei a participar de demonstrações do paraquedismo e vendo aviões de to-dos os tipos.

Em um fim de semana, havia uma festa aviatória no aeroclube de Itanhaém, litoral de São Paulo, e nós fomos saltar lá. Havia aviões de acrobacia, tinha a presença do circo voador da antiga Onix com a família Edo e seus paraquedistas, e nós saltando de um Bandeirante da FAB. Lá estava também um piloto apelidado de Canário, pro-prietário da escola de aviação Eacon de Santos, filial da de São Paulo. Conversando com ele, fiquei interessado e pedi informações sobre o curso. Na semana seguinte,

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estava fazendo a matrícula para o curso de Piloto Privado (PP). Trabalhava na grande siderúrgica Cosipa no Cuba-tão e ao mesmo tempo estudava para ser piloto, enquanto saltava de paraquedas.

Comecei as aulas teóricas para PP, Piloto Privado, aprendendo Conhecimentos Técnicos - motores (grupo motopropulsor), estrutura (célula), sistemas (aviônicos). -, Aerodinâmica, Meteorologia, Regulamentos Aeronáu-ticos e Navegação. Mas primeiro tive de passar por um extenso exame no Hospital da Aeronáutica no Campo de Marte, em São Paulo. Começava com um exame radioló-gico dos seios da face para verificar a presença de sinusite. Esse exame era o primeiro e já reprovava diversos candi-datos a alunos. Você, tendo esse problema, ao ganhar alti-tude com a aeronave, pode sofrer dores fortíssimas e tor-nar o voo de alto risco. Depois, vinha exames de sangue, urina, ouvidos, garganta, um psicotécnico rigoroso com algumas provas e uma dinâmica de grupo verificando se você não era louco para ser piloto. Passou? Vamos estudar as matérias, com aquela vontade imensa de começar a voar. Procurei o aeroclube de Praia Grande, onde já havia saltado algumas vezes de paraquedas e conhecia a turma.

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Foto 5: Frente do aeroclube de Praia Grande, monumento no Cam-po de Aviação na avenida da praia.

Começava a minha odisseia com a aviação. Comecei a voar com o instrutor Pedro Ramos que também era o diretor de instrução lá da Praia Grande. A aeronave era um Aeroboero 115 de fabricação Argentina que muitos criticavam e que eu até passei a gostar. Trem de pouso convencional (roda na cauda), obrigando o aluno a ter mais controle nos pedais e manche para evitar um aci-dente na decolagem ou no pouso, principalmente com vento mais forte. Isso é bom para formar bons pilotos. O problema era que o diretor de instrução praticamente pilotava o avião sozinho nos pousos e decolagens. Podia sentir o manche pesado, a mão dele segurando e eu só sendo conduzido. Não aprendia nunca. Então comecei a voar com o instrutor Abílio e este deixava o aluno er-

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rar mais, sabendo a hora certa para tomar o controle da aeronave para si quando necessário. Como eu trabalhava na Cosipa o dia inteiro, voava bem cedo e depois ia tra-balhar, e nesse horário normalmente o vento era forte na Praia Grande, e de través.

Foto 6: Avião de instrução de fabricação Argentina Aeroboero AB115. Este era o PP-GLA no qual fiz muitas horas de voo.

Aprendi a voar numa pista curta de 600 m, com ventos desfavoráveis, numa aeronave com trem de pouso convencional. Foi ótimo para a minha formação. No fu-turo, com o meu avião, eu decolaria e pousaria sem medo algum com qualquer tipo de vento.

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Foto 7: Aeroclube de Praia Grande.

Na minha época, quando um aluno fazia o seu pri-meiro voo sozinho (solo), era a prática tomar um banho de óleo velho de motor, ovos e farinha. Eu já estava bem e sentia que logo teria o meu voo solo. Num dia de sema-na, pouquíssima gente no aeroclube, decolamos o Abí-lio e eu, e após dois pousos e decolagens perfeitos, ele mandou parar o avião, abriu a porta e saiu dizendo que estava comigo. Deu um frio na barriga, medo enorme, pois não tinha mais o instrutor ali para ajudar. A aero-nave era só minha, sob o meu comando. Dei potência e quando levantei a cauda do avião, ela subiu muito rápi-do, não tinha o peso de outra pessoa ali dentro. O avião subiu otimamente e fomos curtir o visual do litoral. Fiz

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algumas curvas e outras manobras do curso e voltei para o aeroclube. Fiz o circuito de tráfego e agora ia para o primeiro pouso sozinho. Avião configurado para pouso e lá fui eu. Perfeito, pouso curto, logo saí da pista e fui recebido pelo Abílio. Não havia óleo à mão, e o falecido Paulo, piloto e instrutor de ultraleves, estava lavando o seu aparelho e aproveitou e me deu um banho de água... Em breve o banho de óleo iria ser proibido devido a um acidente com um aluno no país.

Foto 8: Banho de óleo após o voo solo. Deste banho eu escapei, acho que por isso não dei tanta sorte na aviação.