hélder alves de oliveira excel x ensino de matrizes

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA HÉLDER ALVES DE OLIVEIRA PLANILHA ELETRÔNICA EXCEL E A MATEMÁTICA DESENVOLMENTO DE APLICATIVO PARA O ENSINO DE MATRIZES Campina Grande, PB 2011

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Com utilização do Excel para ensinar Matrizes

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    CENTRO DE CINCIAS E TECNOLOGIA

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CINCIAS E MATEMTICA

    HLDER ALVES DE OLIVEIRA

    PLANILHA ELETRNICA EXCEL E A MATEMTICA

    DESENVOLMENTO DE APLICATIVO PARA O ENSINO DE MATRIZES

    Campina Grande, PB

    2011

  • Hlder Alves de Oliveira

    PLANILHA ELETRNICA EXCEL E A MATEMTICA

    DESENVOLMENTO DE APLICATIVO PARA O ENSINO DE MATRIZES

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps Graduao Stricto Sensu em Ensino de Cincias e Matemtica da Universidade

    Estadual da Paraba Linha de pesquisa Metodologia e Didtica no Ensino das Cincias e na Educao Matemtica como requisito para obter o titulo de Mestre

    em educao matemtica.

    Orientador(a): Prof. Dr. Filomena Maria

    Gonalves da Silva Cordeiro Moita

    Campina Grande 2011

  • AGRADECIMENTO

    A Deus, pela sua infinita sabedoria, fortaleza e misericrdia, que me encorajou nos dias

    difceis, mostrando-me que a aurora de uma nova manh traria uma sol irradiante e com

    ele a certeza da vitria pelas mos do seu filho amado Jesus.

    A toda a minha famlia, pelo apoio e por estar sempre presente em minha vida.

    Aos meus companheiros do mestrado pelo esprito de unio e pelas contribuies e

    colaboraes durante todo o perodo do curso.

    Aos meus mestres Prof. Dr. Rmulo Marinho do Rego e Prof Dr. Maria G. da S.

    Cordeiro Moita, por compartilharem comigo seus ensinamentos, e em especial minha

    orientadora pelos incentivos e por sua pacincia nas orientaes.

    Ao meu fiel amigo e companheiro Joseildo por compartilhar tantos momentos difceis

    ajudando-me a super-los.

    Aos meus amigos Carlos Henrique e Jos Neto por me acolher em seus lares, sempre

    prontos a me ajudar nas horas em que mais precisei.

    Aos irmos em cristo da igreja Cristo Maranata de Campina Grande por tantas

    assistncias que me deram durante o curso.

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a minha famlia, a

    minha esposa Tereza Cristina e a minha

    Filha Ana Vitria, que so as pessoas em

    que eu sempre me apoiei e que estiveram

    ao meu lado, lutando contra as

    adversidades da vida e festejando as

    vitrias conquistadas.

  • O desafio que os educadores enfrentam est relacionado aplicao prtica do

    computador, como elemento integrador no processo de ensino-aprendizagem, e no,

    como uma simples ferramenta que facilita ou automatiza clculos.

    STIELLER E FERREIRA

  • FICHA CATALOGRAFICA

    expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa como

    eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins acadmicos e

    cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da

    dissertao

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

    O48p Oliveira, Hlder Alves de.

    Planilha eletrnica Excel e a matemtica [manuscrito]:

    Desenvolvimento de aplicativo para o ensino de matriz / Hlder Alves

    de Oliveira. 2011. 119 f.

    Digitado.

    Dissertao (Mestrado Profissional em Ensino de Cincias e

    Matemtica), Centro de Cincias e Tecnologia, Universidade Estadual

    da Paraba, 2011.

    Orientao: Profa. Dra. Filomena Maria Gonalves da Silva Cordeiro Moita, Departamento de Matemtica.

    1. Ensino de matemtica. 2. lgebra. 3. Excel. 4. Aprendizagem.

    I. Ttulo.

    21. ed. CDD 510

  • RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa qualitativa,

    voltada para a modalidade estudo de caso, na qual foram utilizadas as TICs, seguindo

    pressupostos da Teoria Construcionista criada por Seymuor Papert, com a finalidade de

    introduzir os conceitos bsicos da lgebra de matrizes por meio da utilizao do

    software Planilha Eletrnica Excel desenvolvido pela Microsoft Corporation. Para a

    realizao da pesquisa utilizamos o OA (Objeto de Aprendizagem) e um minicurso,

    procurando introduzir os conceitos de soma, multiplicao e clculo da matriz inversa

    de uma matriz dada, para que os discentes pudessem observar suas aplicaes na

    resoluo de problemas contextualizados e lanar mo desse recurso para resolver

    sistemas de equaes lineares. A posteriori, fizemos uma anlise atravs de um

    questionrio, o mesmo revelou que a maioria dos discentes, cerca de setenta por cento,

    considerou atraente a proposta metodolgica, demonstrando um interesse satisfatrio

    pelos contedos apresentados por meio da tecnologia. Neste trabalho, inferimos uma

    proposta metodolgica para utilizar o Software Excel no ensino da lgebra de matrizes.

    Palavras-chave: Estudo de caso. TICs. Teoria Construcionista. lgebra de matrizes.

    Planilha Eletrnica Excel. OA.

  • ABSTRACT

    This paper aims to present the results of a qualitative research focused on the case study

    method, in which TICs have been used, following the assumptions of constructivist

    theory created by Seymuor Papert, in order to introduce the basic concepts of matrix

    algebra by using the Excel Spreadsheet software developed by Microsoft Corporation.

    To conduct the survey used the OA (Learning Objects) and a short course, and to

    introduce the concepts of addition, multiplication, and calculating the inverse of a given

    matrix, so that students could observe their applications in solving problems in context

    and launch hand this feature to solve systems of linear equations. Subsequently, we

    analyzed through a questionnaire, it showed that the majority of students, about seventy

    percent, considered attractive methodological proposal, demonstrating an interest in

    satisfying the content presented through technology. In this work, we infer a

    methodology for using Excel software in the teaching of matrix algebra.

    Keywords: Case study. TICs. Constructivist theory. Matrix algebra. Excel Spreadsheet.

    OA.

  • SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................ 11

    1 PANORAMA GERAL DA PESQUISA ................................................................. 13

    1.1 Pontos de partida ................................................................................................ 13

    1.2 A experincia que deu origem ao trabalho ....................................................... 18

    1.3 A Matemtica no ensino mdio: uma abordagem tradicional ........................ 19

    1.4 Problemtica ........................................................................................................ 22

    2 FUNDAMENTAO TERICA ........................................................................... 26

    2.1 Pesquisa: outros olhares ..................................................................................... 26

    2.2 O caminhar pela teoria ....................................................................................... 29

    2.3 Seymour Papert: a aprendizagem em um pressuposto construcionista ........ 32

    2.4 Intrucionismo versus Construcionismo ............................................................ 34

    2.5 As tecnologias na Educao ............................................................................... 35

    2.6 Matrizes: um passeio pela histria .................................................................... 38

    2.7 lgebra das matrizes .......................................................................................... 45

    3 UTILIZANDO A PLANILHA EXCEL PARA ENSINAR MATRIZES ............. 46

    3. 1 Nossa percepo ................................................................................................. 46

    3.2 Abordagem dos livros didticos para o clculo da matriz inversa ................. 54

    3.3 Funo MATRIZ.INVERSO: clculo da matriz inversa no Excel ................ 58

    3.4 Problemas contextualizados: multiplicao de matrizes ................................. 60

    3.5 Aplicao do clculo da matriz inversa ............................................................ 64

    4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 69

    5 OBJETOS DE APRENDIZAGEM .......................................................................... 72

    5.1 Elaborao do OA ............................................................................................... 73

    5.2 Universo da pesquisa .......................................................................................... 76

    5.3 Sujeitos da pesquisa ............................................................................................ 76

    5.4 Instrumentos da pesquisa ................................................................................... 76

    6 ANLISE DOS DADOS ........................................................................................... 78

    6.1 Etapas desenvolvidas .......................................................................................... 78

    7 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 81

    APNDICE ................................................................................................................... 89

  • 11

    INTRODUO

    Meu interesse em realizar uma pesquisa em educao matemtica surgiu a partir

    do momento em que percebi, em minha prtica profissional, o desgaste de uma

    metodologia tradicional de ensino que utilizei durante anos e que, a cada dia, ia se

    tornando mais cansativa. Talvez por ser muito cmoda e fcil de realizar, as aulas que

    ministrava no causavam nenhum impacto nos aprendizes, e aquela postura passiva que

    eles assumiam me deixava saturado daquela rotina de trabalho.

    Em alguns momentos, percebi que era em vo repetir uma srie de exerccios

    que seguiam a mesma linha de raciocnio, que fazia numa tentativa frustrada, para eles

    entenderem algo que existia apenas dentro da minha cabea. Algumas vezes, chegava a

    desistir de ministrar aulas empregando aquela metodologia, pensando que o tempo

    pudesse sanar o problema que, depois de muitas reflexes, entendia que no era dos

    alunos, mas meu, por cair num tradicionalismo que, como professor, recebera como

    herana de outras geraes. Por causa isso, decidi mudar minha postura pedaggica. No

    entanto, promover essa mudana na minha prtica de ensino no foi fcil, devido a um

    conjunto de fatores externos que eram verdadeiros obstculos, tais como: o tempo que

    tinha para pesquisar e elaborar aulas mais criativas e atraentes no era suficiente, uma

    vez que lecionava em trs escolas diferentes, cada uma em um turno.

    Outro fator de suma relevncia foi identificar meus erros e procurar um caminho

    novo para seguir, de forma que pudesse super-los; buscar em mim humildade

    suficiente para aceitar crticas e sugestes vindas de discentes. Dessa forma, senti que

    estava na hora de parar e investir mais na minha capacitao profissional. Tal

    aprimoramento na minha prtica de ensino comeou com este trabalho de pesquisa, cujo

    foco principal utilizar a tecnologia para lecionar o contedo de matrizes por meio do

    software Excel.

    Iniciamos com esse contedo e utilizando o referido programa de computador

    por dois motivos singulares: atualmente, o computador faz parte da rotina de trabalho

    em diversos setores da sociedade; o software, Planilha Eletrnica Excel, alm de ser

    similar a outras planilhas de clculo, tem uma srie de funes matemticas que fazem

    parte do currculo do ensino mdio, tais como: o clculo do determinante de uma

    matriz; o clculo da matriz inversa; o produto de matrizes etc. Assim, buscamos, com

  • 12

    este trabalho, promover sugestes que tragam melhorias para o ensino. Nesse trabalho,

    ainda, segue em anexo um tutorial do Excel para o professor.

  • 13

    1 PANORAMA GERAL DA PESQUISA

    1.1 Pontos de partida

    A premissa que deu origem a este trabalho de pesquisa surgiu quando, em certa

    ocasio, levamos para a sala de aula um notebook e um data-show, para uma aula de

    matemtica que ministraramos sobre geometria analtica, numa turma de 3 ano do

    ensino mdio, em uma Escola da Rede Estadual de Ensino da cidade de Joo Pessoa. O

    objetivo era de mostrar aos discentes uma planilha eletrnica com a qual podamos

    calcular a distncia entre dois pontos quaisquer, no plano cartesiano, e expor sua

    condio de alinhamento. Foi quando percebemos o entusiasmo e o interesse dos alunos

    em descobrir como desenvolvemos tal modelo matemtico a partir do aplicativo, uma

    planilha eletrnica Excel. Depois da exposio, comearam a surgir muitos

    questionamentos vindos dos discentes. A partir de ento, comeou a nascer um desejo

    maior pelas aulas, e a frequncia e a participao dos discentes aumentaram

    consideravelmente. A cada aula que ministrvamos, surgia um elemento novo, um olhar

    diferente, uma ateno mais rigorosa, e, assim apresentamos outros aplicativos com

    contedos que j haviam sido ministrados, s que, dessa vez, com a planilha eletrnica

    Excel.

    Percebemos que a utilizao do recurso tecnolgico poderia nos auxiliar no

    processo de ensino. Iniciamos a investigao procurando respaldo terico-metodolgico

    em artigos, peridicos ou bibliografias que nos apoiassem na idia que estava

    amadurecendo utilizar o computador como ferramenta para ensinar contedos

    matemticos.

    Ao analisar os PCN para o Ensino Mdio, encontramos vrias propostas

    pedaggicas, quanto ao uso da tecnologia em sala de aula, para facilitar o ensino de

    matemtica e desenvolver competncias e habilidades a fim de preparar o cidado e

    inseri-lo na sociedade moderna.

    O Ensino Mdio no Brasil est mudando. A consolidao do

    Estado democrtico, as novas tecnologias e as mudanas na

    produo de bens, servios e conhecimentos exigem que a

    escola possibilite aos alunos integrarem-se ao mundo

  • 14

    contemporneo nas dimenses fundamentais da cidadania e do

    trabalho. (PCNEM, 2000, p. 4)1

    Nessa afirmao extrada dos PCN2 para o Ensino Mdio, vemos que a escola

    precisa adotar novas metodologias de ensino, que sejam capazes de integrar os

    aprendizes com a nova realidade social que estamos vivendo e capacit-los para essa

    nova realidade, uma vez que a sociedade, a cincia e a tecnologia tm passado por

    muitas transformaes, principalmente no campo da tecnologia.

    Segundo Monteiro (1995, sp),

    [...] preciso ir muito alm do que se faz hoje, utilizando-se o

    computador como estratgia de apoio aos contedos curriculares e

    como instrumento de estimulao colaborao e a motivao do

    aprendiz. preciso que trabalhemos muito para formar pessoas mais

    sensveis e capazes de estabelecer novas ticas, altura dos desafios

    que nos coloca a nova comunicao.

    Como a escola desempenha um papel de grande importncia na formao do

    cidado, a possibilidade de lanar mo de um recurso tecnolgico para expor um

    determinado contedo, adaptando-o realidade cotidiana do aluno, seria muito

    importante, em se tratando da disciplina Matemtica, por ser considerada pelos alunos

    como uma matria cujos contedos no so teis para sua rotina diria ou a vida prtica.

    Stieller e Ferreira (Apud BORGES NETO, 1998) afirmam que, apesar de o

    papel do computador, no ensino de Matemtica, ser o de apresentar uma nova lgica

    para problemas antigos, por meio da manipulao e da simulao que a mquina

    produz, ele no termina a. Assim, o desafio que os educadores enfrentam est

    relacionado aplicao prtica do computador, como elemento integrador do processo

    de ensino-aprendizagem, e no, como uma simples ferramenta que facilita ou

    automatiza clculos (STIELLER E FERREIRA Apud LVY, 1993).

    Ainda segundo os PCN do Ensino Mdio, a nova sociedade que surge

    aps a revoluo tecnolgica, assim como seus desdobramentos na produo e na rea

    da informao,

    [...] apresentam caractersticas possveis de assegurar educao

    uma autonomia ainda no alcanada. Isto ocorre na medida em

    que o desenvolvimento das competncias cognitivas e culturais

    1PCN: Parmetros Curriculares Nacionais

    2 PCNs: Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino mdio.

  • 15

    exigidas para o pleno desenvolvimento humano passa a

    coincidir com o que se espera na esfera da produo. (2000,

    PCN, p. 11)

    O texto citado, implicitamente, quer dizer que o desenvolvimento da sociedade

    atual est atrelado aos avanos da tecnologia ocorrido nos ltimos anos, e que a escola

    deve dar sua contribuio para o pleno desenvolvimento cognitivo do indivduo, para

    que ele possa interferir na formao dessa sociedade e contribuir com ela.

    Ponte e Canavarro (1997, p. 24) assim se expressam sobre a necessidade de

    mudanas na educao:

    A escola corre o srio risco de ser cada vez mais rejeitada pelos

    jovens, surgindo lhes como representante de uma cultura de outra

    poca, como uma instituio defasada do seu tempo. Para a maioria

    dos alunos, os assuntos tratados nas aulas no despertam grande

    interesse. Muitas vezes isso no resulta propriamente dos assuntos em

    si, mas da forma como so apresentados, de maneira formal, rgida,

    como matrias a aceitar e no como problemas a investigar. Os

    prprios professores esto presos a uma concepo do saber esttico,

    cristalizada, que v o currculo como uma simples sequncia de

    tpicos e subtpicos. Uma escola que no proporcione aos seus alunos

    e professores a oportunidade de se poderem envolver duma forma

    ativa no estudo de novos problemas, no prosseguimento de novos

    interesses, na criao de novas atividades e formas de trabalho, em

    suma, no desenvolvimento de novas aprendizagens falha

    necessariamente nos seus objetivos.

    Alm das mudanas na forma de ensinar o texto, os autores apontam a

    importncia de se usar o computador como ferramenta para obter tais transformaes no

    contexto educacional e na formao ideolgica, visando preparar o discente para o

    exerccio da atividade profissional. Deparamo-nos, assim, com questes intrigantes, tais

    como: Qual seria a melhor forma de utilizarmos aquele recurso tecnolgico para que ele

    promova a formao do conhecimento no discente? Como poderamos criar um

    ambiente de ensino que nos fosse favorvel?

    Foi a partir dessas indagaes que nasceu dentro de mim um sentimento de

    empolgao para iniciar um trabalho de pesquisa mais substancial, pois a escola onde

    leciono dispunha de alguns recursos tecnolgicos que me auxiliariam na implantao da

    nova forma de ensinar contedos matemticos. Nela temos um laboratrio de

    informtica com 16 computadores e um data-show, que no so utilizados pelos

    docentes e, por esse motivo, j estavam ficando sucateados.

  • 16

    Isso nos levou a novas reflexes quanto a nossa prtica docente. Limitados ao

    mbito escolar, especificamente em sala de aula, no conseguiramos atingir a nossa

    meta. Seria preciso aprofundar os estudos relativos utilizao daquele recurso

    didtico, para saber manipul-lo de forma adequada e alcanar os objetivos que

    almejvamos.

    Quando enveredamos por esse caminho, tnhamos a plena conscincia de que

    no bastava utilizar o computador para reproduzir aquilo que j fazamos, pois utilizar

    os computadores para auxiliar os aprendizes a realizarem tarefas sem compreender o

    que esto fazendo uma mera informatizao do atual processo de ensino e

    aprendizagem (VALENTE, 1999).

    Ressaltamos que utilizar o computador como suporte para o ensino, a fim de

    promover uma metodologia mais atraente, um caminho novo que se inicia para a

    construo de uma escola atual. E como a sociedade tem acompanhado os avanos

    tecnolgicos, inserindo o computador na rotina cotidiano de vrios profissionais, a

    escola no pode deixar de lanar mo desse recurso para retratar a realidade moderna.

    Sobre isso, Ponte (1997, p. 30) afirma que

    o computador pode ainda ser utilizado como uma ferramenta e

    trabalho, aberta e flexvel para o armazenamento e processamento de

    informao, em numerosas profisses, tanto de natureza tcnica, como

    administrativa, como de investigao cientifica. Diversos programas

    utilitrios so de aprendizagem relativamente simples e permitem a

    execuo de uma variedade de tarefas. Podem indicar-se em especial,

    programas de processamento de texto, desenho livre base de dados,

    edio eletrnica, folha de calculo, grfico e tratamento estatstico de

    dados... Nessa perspectiva, as novas tecnologias surgem como

    instrumentos para serem usados livre e criativamente por professores e

    alunos.

    Conhecendo os benefcios que as tecnologias podem trazer para a rea

    educacional, importante que o professor procure obter as vantagens que o uso

    adequado do computador, bem como o de qualquer outro recurso tecnolgico, pode

    oferecer aos discentes na sala de aula. Em relao a isso, Ponte e Canavarro (1997)

    ressaltam a influncia das tecnologias no processo de ensino, destacando o sucesso de

    experincias realizadas com o computador e a calculadora. Essas ferramentas facilitam a

    compreenso de clculos e ajudam na manipulao simblica de operaes algbricas

    matemticas, uma vez que as mquinas so mais eficientes na realizao dessas tarefas.

    Elas incentivam o investimento no desenvolvimento de competncias intelectuais mais

  • 17

    avanadas, como o raciocnio lgico dedutivo, a agilidade na resoluo de problemas e

    a capacidade crtica, que esto alm da simples compreenso das operaes matemticas

    fundamentais. Tambm valorizam o significado da representao grfica e de novas

    formas de notaes, permitindo outras abordagens s situaes matemticas, que podem

    substituir os processos formais de cunho puramente algbrico ou analtico. Ainda do

    margem criao e elaborao de projetos e atividades de modelagem e de

    investigao, que os discentes podem explorar para compor sua experincia matemtica.

    Por fim, possibilitam o engajamento dos discentes em atividades mais profundas e

    significativas, porquanto contribuem para o desenvolvimento de atitudes positivas, em

    detrimento da disciplina, criam uma viso mais adjacente, no tocante a sua natureza

    real, e oferecem oportunidades para que os discentes possam ser mais bem sucedidos na

    aprendizagem da matemtica.

    Os recursos tecnolgicos surgem como uma ferramenta capaz de superar

    obstculos e quebrar paradigmas que esto arraigados na cultura da prtica docente h

    anos, em muitas sociedades, em especial, na brasileira, onde, ainda hoje, predomina o

    modelo tradicional de ensino, apoiado em um conjunto de tcnicas metdicas seguidas

    de uma sequncia de exerccios repetitivos, com a finalidade de que os discentes

    memorizem determinados conceitos para reproduzi-los em contextos puramente

    abstratos, quase sempre, sem qualquer vnculo com sua realidade.

    Diante dessas afirmaes, acreditamos que as tecnologias podem trazer

    vantagens que auxiliem no ensino e promovam um processo de aprendizagem mais

    atraente para os discentes. Esse o nosso ponto de vista. No entanto, a eficcia de tal

    recurso para o ensino de matemtica ser verificada e evidenciada no decorrer deste

    trabalho de pesquisa que realizamos. No queremos comprovar tampouco demonstrar

    uma teoria, sua eficincia e veracidade. Apenas nos propomos a investigar um modelo

    que possa ser utilizado com fins educacionais, visando contribuir para a melhoria da

    educao, diante de uma realidade prxima a ns.

  • 18

    1.2 A experincia que deu origem ao trabalho

    Neste item, descreveremos a experincia feita em sala de aula com alunos do

    terceiro ano do ensino mdio de uma Escola Estadual da cidade de Joo Pessoa.

    Aps termos ensinado os contedos de distncia entre dois pontos no plano

    cartesiano e condio de alinhamento entre trs pontos, ainda no modelo tradicional,

    utilizando apenas o quadro e o giz, procuramos mostrar como seria possvel criar uma

    planilha de clculo no software Microsoft Excel que nos fornecesse tal informao. Para

    isso, desenvolvemos ento a seguinte planilha:

    Figura 1 Condio de alinhamento de trs pontos Fonte: Desenvolvida pelo autor (Hlder Alves de Oliveira)

    A planilha exibida na Figura 1, que criamos, capaz de verificar se trs pontos

    no plano cartesiano so colineares ou se so os vrtices de um tringulo. Essas

    condies so verificadas quando digitamos, nas clulas J4, J6, J8, J10, J12 e J14, as

    coordenadas dos trs pontos, conforme indicado ao lado, considerando os pontos como

    sendo A, B e C.

    Ao digitar os valores das coordenadas dos pontos para a funo REP, que

    disponibilizada no Excel, construmos o determinante D, indicado ao lado direito da

  • 19

    tela. Imediatamente, quando fazemos isso, a clula R8, que est programada com a

    funo MATRIZ.DETERM, calcula automaticamente o valor de D. Em seguida, a

    clula M14, que est formatada com a funo lgica SE, apresenta o valor

    COLINEARES se D=0 e SO VRTICES DE UM TRINGULO, caso contrrio.

    Quando criamos essa planilha de clculo na sala de aula, utilizando um notbook

    e um data-show, a nossa inteno era apenas de mostrar aos alunos que o conhecimento

    de Matemtica que detnhamos, aliado a um pouco do de informtica, poderia

    concretizar aquilo que era abstrato e que s existia no nosso pensamento.

    Aquela aula causou-nos um impacto inesperado, e o olhar opaco e distante que,

    em tantas aulas, vamos nos discentes, transformou-se e surgiu um brilho que outrora

    jamais tnhamos visto. A ateno e a curiosidade ficavam cada vez mais intensas, e

    medida que amos elaborando cada etapa do experimento, as perguntas a respeito do

    software e suas aplicaes perduraram por muitas aulas naquela turma depois daquele

    dia. Foi assim que nos sentimos na obrigao de criar um projeto que resgatasse o brilho

    nos olhos dos nossos aprendizes e o interesse deles pela Matemtica, tendo como nosso

    aliado, o recurso tecnolgico.

    1.3 A Matemtica no ensino mdio: uma abordagem tradicional

    Quase todas as aulas de Matemtica, no Ensino Mdio, ainda so ministradas no

    modelo tradicional. Isso porque a maioria dos professores segue livros-texto que no

    so atrativos e, portanto, no despertam interesse nos alunos, as aulas resumem-se

    aplicao de problemas e suas solues, o que as torna cansativas, desagradveis e at

    difceis de entender. O nvel de abstrao com que apresentam os contedos

    matemticos, em alguns deles, muito elevado, sem contar com o formalismo e o rigor

    da linguagem cientfica. Isso faz com que os alunos tenham antipatia pela disciplina e,

    consequentemente, adquirem uma aprendizagem deficitria.

    Geralmente, os professores costumam expor as definies de determinados

    contedos matemticos e, em seguida, resolver uma srie de exerccios utilizando essas

    definies. No entanto, quando os alunos se deparam com problemas vividos em seu

    cotidiano, no sabem como empreg-las para resolv-los e terminam no fazendo o

    problema, ou, quando o fazem, no chegam resposta correta.

  • 20

    Convivemos com isso durante muito tempo, em nossa prtica docente, e

    resolvemos mudar, ao perceber que estamos vivendo uma nova era, a era da informao

    rpida ou a era da informtica.

    Nos dias atuais, a informao chega at as pessoas de forma muito veloz. Hoje

    no enviamos mais uma correspondncia para relatar um fato da nossa vida ou nos

    comunicarmos com algum que conhecemos ou com algum parente distante, porque

    fazemos isso atravs de e-mails.

    Diante desse quadro, mudar o procedimento metodolgico passou a ser uma

    meta a alcanar e resolvemos fazer isso iniciando com o contedo de matrizes com os

    alunos do segundo ano do ensino mdio. Escolhemos esse contedo por ser considerado

    um assunto novo no campo da lgebra, com pouco mais de 150 anos, e por estar

    associado a outros contedos, como sistemas lineares e determinantes. Some-se a isso o

    fato de ter uma importncia considervel no ramo da lgebra. Doravante faremos um

    comentrio acerca da escolha do contedo.

    Segundo Messias, Franco e Fonseca (2006), o ensino de matrizes encontra-se

    deficitrio, devido ao uso exacerbado de smbolos algbricos e de regras que so

    utilizados pelos professores em suas aulas expositivas. Eles afirmam que os livros

    didticos so inadequados por apresentarem conceitos confusos e linguagem

    inadequada, com raras contextualizaes nos exerccios e nas definies feitas, onde os

    contedos expostos seguem uma sequncia formal arcaica e ultrapassada. Nosso olhar

    crtico em relao s afirmaes dos autores no sentido de que sua inteno mostrar

    que os conceitos e as definies relativos ao tema estudado devem estar associados

    vivncia dos discentes e se ligarem o outro, formando uma sequncia lgica para que

    seja possvel se verificar sua coerncia.

    Na viso de Sanches (2002), o ensino de matrizes apresenta-se em um verdadeiro descompasso em relao aos avanos tecnolgicos. Ela afirma que o ensino

    de matrizes est resumido numa mera transmisso de regras, descontextualizado da

    realidade dos discentes e da prpria matemtica, e que os contedos de matrizes e

    determinantes ministrados no ensino mdio servem apenas como ferramentas

    auxiliadoras na resoluo de sistemas de equaes lineares. Dessa forma,

    desconsiderada a evoluo de seu conceito no tempo, e seu verdadeiro significado se

    perde.

  • 21

    Neste trabalho de pesquisa, a escolha pelo estudo de matrizes deu-se pelo fato de

    que, atualmente, alm de a matriz ser uma ferramenta poderosa, no contexto

    matemtico, e estar sendo utilizada em vrias reas do conhecimento, se for associada

    ao recurso tecnolgico, por analogia, pode produzir resultados satisfatrios no tocante

    formao de conceitos. Alm disso, quando tratamos uma matriz segundo as definies

    propostas por autores de livros didticos do ensino mdio, abrimos mais um caminho

    para estudar mais detalhadamente a interpretao e a compreenso de tabelas, o que

    favorece na tomada de decises e d margem ao desenvolvimento do pensamento

    crtico. Sobre esse aspecto, Sanches (2002, p. 7) refere:

    A lgebra das matrizes tem importncia significativa para vrias

    cincias e encontra, cada vez mais, aplicaes em diversos setores como

    a Economia, a Engenharia e Tecnologia, etc. Se no ocorrer uma

    aprendizagem significativa e relevante dos conceitos de matrizes, os

    estudantes podero apresentar dificuldades, em nveis mais avanados,

    para compreender e aplicar outros conceitos relacionados, tais como

    conceitos de programao, computao grfica, custos de produo,

    teoria dos grafos, circuitos eltricos, modelos econmicos lineares,

    entre centenas de outros.

    Ressalte-se, tambm, que a formao de tais conceitos, em especial, o de

    matrizes, ora aqui mencionados, na concepo de Miguel (2007, p. 190-194), deve

    considerar, como teses centrais da ao na situao de ensino e aprendizagem, as

    perspectivas de contextualizao, historicizao e enredamento, o que corrobora o

    pensamento de Sanches. Tal contextualizao, qual o autor faz aluso, est

    relacionada com o aspecto sociocultural do qual o aprendiz faz parte: a historicizao

    o processo que se coloca em evidncia como as idias matemticas evoluem, formando

    um todo orgnico, ou seja, um processo de construo. O enredamento, por sua vez,

    a organizao das idias matemticas em articulao com as diversas reas do

    conhecimento, posto que elas no surgem do nada.

    No campo da Informtica, o estudo de matrizes um recurso importante na

    criao de software em diversos setores, como, por exemplo, na indstria, e, em

    especial, na teoria dos grafos3. Por isso consideramos importante o contedo de

    matrizes como ponto de partida para o nosso trabalho de pesquisa, utilizando a planilha

    eletrnica Excel, a fim de alcanarmos os pontos de vista colocados pelos autores.

    3 Teoria dos Grafos: Tem suas origens em jogos e recreaes matemticas. Sua criao atribui-se ao

    matemtico Leonhard Paul Euler. Tem sido aplicada em muitas reas, como: Informtica, Investigao

    Operacional, Economia, Sociologia, Gentica etc.

  • 22

    1.4 Problemtica

    Preocupados com a desmotivao dos alunos, no que diz respeito aos contedos

    estudados na disciplina de Matemtica, e por estar acompanhando os avanos da

    tecnologia, no seio da sociedade moderna, sobretudo no que concerne educao, e por

    exercer a funo de docente em escolas pblicas, senti-me motivado a refletir sobre o

    uso da tecnologia da informtica e de recursos metodolgicos que promovessem um

    ambiente de estudo mais atrativo para o ensino dessa disciplina. Gravina e Santarosa

    (1998) afirmam que ambientes informatizados so ferramentas que do suporte ao

    processo de ensino e aprendizagem, embora tais ambientes tenham sido implantados de

    forma acanhada, devido questo da adaptao ao contexto educacional e que, portanto,

    incorpor-los na prtica docente um grande desafio.

    Os novos modelos de educao devem apontar para um profissional com perfil

    diferente, preparado para conviver numa sociedade que sofre mudanas violentas, tanto

    no campo da tecnologia quanto no da indstria, e em quase todos os setores. Dessa

    forma, eles precisam ser capazes de construir seu conhecimento e tornam-se sujeitos

    ativos do processo em que a intuio e a descoberta so elementos privilegiados e

    primordiais no processo dessa construo.

    Diante desse cenrio criado pelas transformaes sociais, o professor deve

    deixar de ser um mero transmissor do conhecimento que, s vezes, arcaico e

    ultrapassado devido maneira como transmitido, e passar a atuar como elo de

    transmisso entre aprendiz e conhecimento, para auxiliar na construo da sua formao

    ideolgica e em seu desenvolvimento cognitivo. Nessa nova perspectiva de ensino, o

    aprendiz no deve ser visto como um ser vazio, simplesmente um espectador. Devemos

    levar em considerao o conhecimento prvio que detm, dando-lhe condies de

    desenvolver suas potencialidades a partir de suas habilidades pessoais. No contexto

    atual, devido s inovaes por que a sociedade vem passando, o professor, que parte

    integrante e sujeito ativo, colaborador desse novo paradigma social, ao qual a educao

    est intrinsecamente ligada, deve procurar atualizar-se constantemente, a fim de dar sua

    parcela de contribuio, para que o aprendiz alcance o perfil que exigido nos nveis

    sociais.

  • 23

    A tecnologia da informtica rene caractersticas importantes que, se forem

    exploradas de forma consciente e com objetividade, podem dar uma contribuio eficaz

    no ensino e na construo do conhecimento. Ela pode despertar a motivao e o

    interesse do aprendiz, por estar presente no seu dia a dia em, praticamente, todos os

    ramos da sociedade. A priori, sua criao e seu desenvolvimento no previam fins

    educacionais, mas, por estar atrelada s mudanas e aos avanos que temos

    acompanhado nos ltimos anos, temos que lanar mo dela como recurso auxiliador na

    formao cidad no mbito escolar. Inserir o computador no convvio escolar, tornando-

    o parte da prtica docente, embora seja um grande desafio, uma realidade que no

    podemos marginalizar.

    Papert (2001) faz um comentrio que de suma importncia e que nos instiga a

    refletir sobre a nossa prtica docente. Ele afirma, numa parbola que criou, que a

    educao no acompanha as mudanas que ocorrem na sociedade. Assim, para que a

    educao e o ensino resistam ao tempo e s mudanas sociais oriundas do avano

    tecnolgico e cientfico, e ainda mais, para que os sistemas educacionais tenham

    credibilidade e eficcia, precisamos abraar uma proposta pedaggica pautada na

    realidade cotidiana. Nesse sentido, o papel do professor sobe mais um degrau no

    processo de construo do conhecimento e no ato de ensinar. A relao professor-aluno

    que, h muitos anos, distanciou um do outro, devido postura tradicional assumida por

    muitos, deve ser deixada de lado e dar lugar a uma relao interativa, por meio da qual

    ambos busquem a motivao no processo educacional de ensino e na convivncia

    mtua. Trilhar nesse novo caminho de interao e participao culmina numa educao

    de qualidade, que o que todos almejam.

    Com os projetos de informatizao nas escolas pblicas, criados pelos governos

    em vrios estados, muitas escolas pblicas j dispem de laboratrios de informtica, no

    entanto, usar esse recurso adequadamente, fazendo com que ele possa proporcionar

    mudanas nas modalidades de ensino, a nossa maior preocupao. A respeito disso,

    Almeida (1999, p. 19) afirma:

    Estamos em um momento em que a disseminao do computador na

    educao atingiu larga escala. Mas o impacto das mudanas que

    poderia provocar ainda no ocorreu, embora existam modalidades de

    uso cujos ambientes de aprendizagem informatizados possam

    contribuir para transformaes.

  • 24

    Diante dessa perspectiva, o professor assume um papel fundamental o de

    fazer com que esse recurso no entre em desuso, no se torne um simples amontoado de

    equipamentos eletrnicos que, com a ao do tempo, venham deteriorar-se. Alguns

    docentes ainda resistem em no empregar recursos tecnolgicos que possibilitem um

    ensino mais atraente, talvez, pela falta de planejamento ou de capacitao ou por

    preconceito. Assim, compactuamos com o que afirma Dambrosio (1990, p. 17),

    quando ele explicita a importncia da utilizao de computadores no contexto

    educacional, como mostra este seu discurso:

    Creio que um dos maiores males que a escola pratica tomar a atitude de que computadores, calculadoras e coisas do gnero no so para as escolas dos pobres. Ao contrrio: uma escola de classe pobre necessita expor seus alunos a esses equipamentos que estaro presentes em todo o mercado de futuro imediato. Se uma criana de classe pobre no v na escola um computador, como jamais ter oportunidade de manej-lo em sua casa, estar condenada a aceitar os piores empregos que se lhe ofeream. Nem mesmo estar capacitada para trabalhar como um caixa num grande magazine ou num banco. inacreditvel que a Educao Matemtica ignore isso. Ignorar a presena de computadores e calculadoras condenar os estudantes a uma subordinao total a subempregos.

    Uma simples calculadora, ainda que tenha poucas funes, quando utilizada de

    forma coerente pelo professor pode trazer resultados inesperados. Alm disso, devemos

    levar em considerao que o computador pessoal, no contexto atual, tem se tornado to

    popular quanto muitos equipamentos eletrnicos. A maioria dos discentes tem acesso a

    ele de vrias formas: em lan houses, em casas de parentes ou no prprio lar. Em

    consonncia com os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs),

    [...] a Matemtica componente importante na construo da

    cidadania, na medida em que a sociedade se utiliza, cada vez mais, de

    conhecimentos cientficos e recursos tecnolgicos, dos quais os

    cidados devem se apropriar. A Matemtica precisa estar ao alcance

    de todos e a democratizao do seu ensino deve ser meta prioritria do

    trabalho docente. A atividade matemtica no olhar para coisas

    prontas e definitivas, mas a construo e a apropriao de um

    conhecimento pelo aluno, que se servir dele para compreender e

    transformar sua realidade. O ensino da Matemtica deve relacionar

    observaes do mundo real com representaes (esquemas, tabelas,

    figuras) e tambm relacionar essas representaes com princpios e

    conceitos matemticos. A aprendizagem em Matemtica est ligada

    compreenso, deve favorecer conexes com outras disciplinas, com o

    cotidiano do aluno e tambm conexes com os diferentes temas

    matemticos. O conhecimento matemtico deve ser apresentado aos

    alunos como historicamente construdo e em permanente evoluo.

    Recursos didticos como jogos, livros, vdeos, calculadoras,

    computadores e outros materiais tm um papel importante no processo

    de ensino e aprendizagem (BRASIL - b, 1997, p. 19).

  • 25

    Portanto, tendo em vista os aspectos que aqui expusemos o fato de que nossa

    viso educacional est focada nas transformaes que a tecnologia da informao tem

    promovido na sociedade, neste trabalho de pesquisa, buscamos analisar o impacto que

    o uso da planilha eletrnica Excel pode causar no ensino de matrizes aos discentes,

    com base em pressupostos construcionistas.

    Alm disso, o presente trabalho tem como objetivo geral investigar as contribuies do

    software supracitado para o ensino de matrizes, segundo a Teoria Construcionista criada

    por Seymour Papert.

    A fim de alcanar essa meta e desenvolver a pesquisa com alunos do ensino

    mdio, elaboramos algumas etapas que se constituram em: compreender a linguagem

    algbrica abstrata da definio de matrizes por analogia planilha eletrnica Excel;

    efetuar as operaes de adio e multiplicao de matrizes, por meio da criao de

    modelos de aplicativos desenvolvidos na referida planilha; determinar a inversa de uma

    matriz A dada, utilizando como recurso as potencialidades oferecidas pela planilha

    eletrnica Excel; determinar a incgnita de uma equao matricial, criando modelos de

    aplicativos na planilha eletrnica Excel; determinar a soluo de sistemas de equaes

    lineares, construdos de acordo com problemas cotidianos sugeridos, a partir de

    equaes matriciais com modelos de aplicativos desenvolvidos na planilha eletrnica

    Excel.

  • 26

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    A fundamentao terica que d respaldo a este trabalho de pesquisa est

    estruturada em dois momentos que se complementam. No primeiro, buscamos, na

    literatura, pesquisas que j haviam sido realizadas em Educao Matemtica, utilizando

    o recurso da tecnologia, em especial, o software4 Excel, para auxiliar no processo de

    ensino de algum contedo de Matemtica, expondo alguns objetivos dos autores e os

    resultados alcanados em suas pesquisas, bem como suas percepes acerca do uso da

    tecnologia.

    Em seguida, selecionamos o autor que fosse capaz de traduzir aquilo que

    pretendia realizar e descobrimos as ideias de Seymour Papert, que convergiram para o

    que tinha em mente, no sentido de fundamentar este trabalho de investigao.

    2.1 Pesquisa: outros olhares

    O uso da tecnologia no ambiente escolar tem sido, nos ltimos anos, objeto de

    estudo de muitos pesquisadores. Em relao planilha eletrnica Excel, desenvolvida

    pela Microsoft Corporation, h vrios trabalhos de pesquisa publicados, em que se

    utiliza esse software para o ensino e a aprendizagem de contedos matemticos. Isso

    devido grande versatilidade e interao do usurio com o software, bem como a

    enorme variedade de funes disponveis, das quais o aprendiz pode lanar mo para

    criar seus prprios modelos a fim de resolver problemas especficos. Vejamos, agora,

    autores que desenvolveram ou escreveram trabalhos de pesquisa utilizando a Planilha

    eletrnica Excel.

    Merchede (2001), autor do livro Matemtica financeira para usurios do Excel

    e da calculadora HP-12c, mostra solues prticas de problemas relacionados a

    contedos bsicos do ensino fundamental, como: porcentagem, juros simples, descontos

    simples, equivalncia de capitais e juros compostos, obtidas com o uso do Excel. Nos

    livros de Matemtica voltados para esse nvel do ensino, tais contedos, embora estejam

    presentes no cotidiano da sociedade moderna e faam parte do dia a dia do aluno,

    mesmo de forma implcita e imperceptvel por ele, no so tratados da mesma forma

    pelos autores, com o uso da tecnologia.

    4 Software: Programa ou aplicativo de computador desenvolvido para realizar tarefas especficas.

  • 27

    lamentvel o fato de os professores do Ensino Fundamental e Mdio adotarem

    bibliografias que assumem essa postura, uma vez que a escola tem como papel

    primordial preparar o cidado para inseri-lo no convvio social, e a maioria das

    empresas faz uso da tecnologia, tanto no setor produtivo quanto no de servios. No

    obstante o objetivo de cada seguimento da sociedade seja diferente, sempre h um vis

    em comum. Em relao a isso, Leme (2007, p. 31) afirma:

    Considera-se importante destacar que o emprego das tecnologias

    no ambiente de trabalho dos setores produtivos e de servios

    apresentam objetivos diferentes do uso nos ambientes de

    aprendizagem dos sistemas de ensino. Enquanto no ambiente de

    trabalho, os objetivos do uso das tecnologias so proporcionar

    produtividade, agilidade e resultados no curto prazo; no

    ambiente de aprendizagem, a tecnologia usada como

    ferramenta de ensino que auxilia o aluno em cada etapa da

    construo de seu conhecimento e, portanto, nesse processo o

    fator tempo no o mais importante e, sim, a aprendizagem.

    O trabalho realizado por Leme (2007) lhe conferiu o ttulo de mestre em

    Educao Matemtica pela PUC-SP5 e teve como objetivo explorar as potencialidades

    da planilha eletrnica Excel, utilizando juros e montante da matemtica financeira com

    um grupo de alunos. A pretenso do pesquisador era fazer com que os aprendizes

    criassem seus prprios modelos, a fim de resolver problemas especficos do contedo

    escolhido.

    Azevedo (2008) realizou um trabalho de pesquisa utilizando a TI6 para

    desenvolver conceitos matemticos atravs de projetos de construo civil. O

    referencial terico seguido pelo autor teve embasamento nas concepes de Papert. Ele

    buscou relacionar contedos de Geometria com Matemtica Financeira utilizando os

    seguintes softwares: Arcon e a Planilha eletrnica Excel. A priori a ideia ou objetivo

    principal de Azevedo (2008) era criar um ambiente de aprendizagem construcionista

    atravs dos softwares. O Arcom, com a finalidade de explorar os conceitos de geometria

    plana e espacial, e o Excel, para efetuar clculos da matemtica financeira nos projetos

    elaborados.

    5 PUC-SP: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    6 TI: Tecnologias da informtica

  • 28

    Stieler (2007), valendo-se da metodologia da engenharia didtica, desenvolveu

    um trabalho de pesquisa na UNIFRA7 com alunos do oitavo semestre do Curso de

    Matemtica, utilizando a planilha eletrnica Excel para desenvolverem conceitos de

    capitalizao simples e composta e desconto simples. Tais conceitos foram introduzidos

    atravs de situaes-problema em que foi empregado o software. Segundo o autor

    (2007), o resultado obtido foi muito satisfatrio.

    Stieler (2007, p. 20) afirma:

    imprescindvel que o professor perceba e saiba a importncia dos

    recursos computacionais para o bom desempenho e eficcia do

    trabalho escolar. A tecnologia, alm de renovar o processo de ensino-

    aprendizagem, pode propiciar o desenvolvimento integral do aluno,

    valorizando o seu lado social, emocional, crtico e ainda deixar

    margens para a explorao de novas possibilidades de criao.

    A afirmao feita pelo autor de suma importncia porque ainda h muita

    resistncia por parte dos professores nas escolas pblicas em querer utilizarem as

    tecnologias para auxiliar em suas aulas. Segundo Tajra (2001), os argumentos que eles

    utilizam para justificar sua postura pedaggica so a falta de investimento por parte dos

    diretores, a formao acadmica, em que no abordaram sobre o uso das tecnologias, a

    falta de recursos tecnolgicos nas escolas e os salrios muito baixos. Achamos relevante

    colocar essas afirmaes porque o trabalho desenvolvido por Stieler (2007) foi,

    justamente, com estudantes do Curso de Matemtica. Isso mostra que, nas

    universidades, j esto sendo realizados programas de Mestrado em que se destaca a

    preocupao com a formao acadmica dos profissionais da rea de Educao.

    Neste item, pretendamos mostrar que, apesar de estarmos propondo o uso da

    planilha eletrnica Excel para construir a formao de conceitos nos aprendizes com o

    contedo de matriz, no somos os pioneiros a fazer isso. A diferena entre o nosso

    trabalho e os outros estudos est na escolha do contedo e na elaborao do OA8, que

    fizemos no decorrer do Curso de Mestrado em ensino de Cincias e Matemtica da

    UEPB9.

    7 UNIFRA: Centro Universitrio Franciscano - RS

    8 AO: Objeto de Aprendizagem. No item 3.1, iremos detalhar a respeito dessa mdia.

    9 UEPB: Universidade Estadual da Paraba.

  • 29

    2.2 O caminhar pela teoria

    Nossa pesquisa, baseada no uso do computador como ferramenta para auxiliar

    no processo de ensino e aprendizagem de contedos matemticos, em especial, o de

    matrizes, tem como principal apoio terico as concepes de Seymour Papert. Em seu

    clebre livro, A mquina das crianas, escrito e publicado na dcada de 1980, o autor

    deixa implcito, numa parbola proferida no incio do livro, que a escola precisa

    acompanhar o desenvolvimento da sociedade moderna, no que diz respeito ao uso do

    computador. Eis o contedo da parbola:

    Imaginemos viajantes do tempo de um sculo atrs um grupo de

    cirurgies e outro de professores do ensino fundamental cada qual

    mais ansioso para ver o quanto as coisas mudariam nas respectivas

    profisses em 100 anos ou mais no futuro. Imagine o espanto dos

    cirurgies entrando em uma sala de cirurgia de um hospital moderno.

    Embora pudessem perceber que algum tipo de operao estava

    ocorrendo e at mesmo adivinhar qual o rgo operado, na maioria

    dos casos seriam incapazes de imaginar o que o atual cirurgio estaria

    tentando fazes ou qual a finalidade dos muitos instrumentos estranhos

    que ele e sua equipe cirrgica estavam utilizando. Os rituais de

    antissepsia e anestesia, os sons de alarmes dos aparelhos eletrnicos e

    at mesmo as luzes intensas, to familiares s platias de televiso,

    seriam completamente estranhos para os visitantes. Os professores

    viajantes do tempo reagiriam de forma bem diferente a uma sala de

    aula do ensino fundamental. Eles poderiam sentir-se intrigados com

    alguns objetos estranhos. Iriam constatar que algumas tcnicas

    convencionais mudaram e provavelmente discordariam entre si se as

    mudanas foram para melhor ou para pior -, mas perceberiam

    plenamente a finalidade da maior parte do que se estava tentando fazer

    e facilmente poderiam assumir a classe (PAPERT, 2001, p. 17).

    Como evidenciamos, a parbola que o autor utiliza para fazer uma comparao

    com os dois grupos de profissionais - mdicos e professores - infere que, embora haja

    mudanas no contexto escolar, no haveria mudanas no modo de os professores

    transmitirem o conhecimento. Papert quis dizer com isso que as mudanas acontecem

    na sociedade, mas a postura pedaggica dos professores no muda. Ele faz outra

    colocao em relao ao seu pensamento, ao referir-se parbola:

    A parbola levanta a pergunta: por que, durante um perodo em que

    tantas atividades humanas foram revolucionadas, no vimos mudanas

    semelhantes na forma de ajudarmos nossas crianas a aprender?

    (PAPERT, 2001, p. 18)

  • 30

    Fica claro que, sob o ponto de vista de Papert, a escola precisa adotar uma nova

    postura pedaggica para se adaptar s exigncias oriundas das transformaes por que

    as sociedades passam.

    H quase trinta anos, Papert j expunha que o computador poderia ajudar a

    criana na construo do conhecimento e que problemas abstratos e de difcil

    compreenso poderiam se tornar mais concretos e transparentes.

    No meu caso, ocorreu uma virada no incio da dcada de 1960,

    quando os computadores mudaram na essncia o meu modo de

    trabalhar. O que mais me impressionou foi que determinados

    problemas abstratos e difceis de captar tornaram-se concretos e

    transparentes e que certos projetos potencialmente interessantes, mas

    complexos demais para empreender, tornaram-se manejveis. Ao

    mesmo tempo, tive minha primeira experincia de empolgao e do

    poder de domnio que mantm as pessoas trabalhando noite a dentro

    com seus computadores. Percebi que as crianas poderiam ter

    condies de desfrutar das mesmas vantagens um pensamento que

    mudou a minha vida. (PAPERT, 2001, pp. 27- 28)

    Outro ponto relevante no tocante ao uso do computador na escola para a

    construo do conhecimento do aprendiz que ele, o computador, pode minimizar os

    obstculos encontrados pelos professores ao explorar o conhecimento prvio dos

    discentes. Em relao a isso, Papert (2001, p. 30) refere:

    O problema central para a educao matemtica encontrar maneiras

    de valer-se da vasta experincia da criana em matemtica oral, mas

    os computadores podem fazer isso.

    Hoje, para ns, tais experincias que o autor menciona consistem no

    conhecimento que o aprendiz j tem a respeito de um determinado objeto, como, por

    exemplo: mesmo que os alunos no conheam a planilha eletrnica Excel, eles utilizam

    o computador com outras finalidades, outros aplicativos e sabem manipul-lo. Explorar

    esse conhecimento de forma que ele possa auxiliar na construo de outros

    conhecimentos especficos um desafio para os professores. Papert o criador da

    Teoria Construcionista, concepo que defende o uso do computador como ferramenta

    para auxiliar no desenvolvimento cognitivo do aprendiz.

    O Construcionismo, uma teoria da aprendizagem que adotamos como respaldo

    terico da nossa pesquisa, tem influenciado vrios autores quanto ao uso do computador

    como facilitador da aprendizagem, principalmente por ter causado uma grande

  • 31

    revoluo no campo da informao, proporcionado pela informtica nas sociedades,

    atravs dos sistemas de redes10

    , e ter conquistado lugar em todos os setores: indstria,

    comrcio, prestao de servios, entre outros. Tajra (2001, p. 26) assevera que,

    nos ltimos anos, surgiram, de forma nunca vista antes, inclusive nos

    aspectos quantitativo e qualitativo, grandes mudanas tecnolgicas,

    principalmente no campo da microeletrnica e das telecomunicaes,

    as quais proporcionaram o desenvolvimento em diversas reas: [... ].

    Todas essas evolues cientficas foram tambm favorecidas pela

    informtica, que possibilita o embasamento e aprimoramento dos

    processos de produes e pesquisas.

    A afirmao de Tajra (2001) coloca a informtica com um veculo que veio

    contribuir com a revoluo tecnolgica que a sociedade tem alcanado.

    No que diz respeito ao uso do computador, como ferramenta para proporcionar

    mudanas significativas no contexto escolar, Valente (1993) considera que preciso

    ensinar mais e melhor, criar oportunidades de aprendizagem cada vez mais eficaz e

    eficiente e aproveitar os recursos disponveis, entre eles, o computador e suas

    potencialidades.

    Ponte (1997, p. 30) concebe que

    o computador pode ainda ser utilizado como uma ferramenta de

    trabalho, aberta e flexvel para o armazenamento e processamento de

    informao, em numerosas profisses, tanto de natureza tcnica, como

    administrativa, como de investigao cientfica. Diversos programas

    utilizados so de aprendizagem relativamente simples e permitem a

    execuo de uma variedade de tarefas. Podem indicar-se em especial,

    programas de processamento de texto, desenho livre base de dados,

    edio eletrnica, folha de clculo, grfico e tratamento estatstico de

    dados. Nessa perspectiva, as novas tecnologias surgem como

    instrumentos para serem usados livre e criativamente por professores e

    alunos.

    Para o autor, no h regras definidas para se utilizarem as tecnologias, ou seja, o

    professor, junto com os alunos, tem a liberdade de criar modelos que possam ser teis

    na construo do conhecimento. O mesmo acontece com os computadores quando so

    utilizados como uma ferramenta para esse propsito.

    10

    So sistemas de rede: a intranet, a internet e as redes locais onde os computadores esto conectados

    entre si.

  • 32

    As ideias defendidas por Papert, desde 1960, tornaram-se uma realidade, da qual

    no podemos nos eximir. preciso promover, no mbito escolar, meios que favoream

    a aprendizagem, pois a escola no est desvinculada da sociedade, e se esta passa por

    transformaes, aquela tem o papel primordial de acompanhar tais transformaes de

    forma que o aprendiz no se sinta num universo diferente, longe da sua realidade.

    Trazer essa realidade, desde cedo, para dentro da sala de aula era o objetivo de

    Papert (2001). Para sermos mais precisos, desde o ensino fundamental, ele tinha plena

    convico de que seu trabalho intelectual ocorria melhor no meio do que na sala de aula,

    onde seu ressentimento era atenuado por gostar de realizar tarefas que, para ele, eram

    valiosas, com seus amigos e professores. Assim, procurou promover mudanas na

    educao, enfatizando o uso do computador como ferramenta no ensino e na

    aprendizagem, inicialmente com a publicao de seu primeiro livro, Mindstorms:

    chilren, computers, and powerful ideas, publicado na dcada de 1970, quando os PCs11

    surgiam como novidade.

    A partir desse lanamento, seu objetivo foi se tornando cada vez mais forte e

    culminou com o desenvolvimento da linguagem Logo, que possibilita a interao do

    usurio com a mquina, e as aes de uma tartaruga so comandadas ou manipuladas

    por quem o est utilizando.

    O Logo proporcionou a muitos milhares de professores de

    ensino fundamental a primeira oportunidade para apropriar-se

    do computador de maneira que ampliaram seus estilos pessoais

    de ensinar. (PAPERT, 2001, p. 66)

    Portanto, compactuamos com as ideias de Seymour Papert, de que podemos

    promover mudanas na educao e ajudar na formao do indivduo, concedendo-lhe a

    oportunidade de construir seu conhecimento utilizando o computador como um recurso

    metodolgico nas aulas de Matemtica.

    2.3 Seymour Papert: a aprendizagem em um pressuposto construcionista

    Seymour Papert nasceu em Pretria, na frica do Sul, onde foi educado e

    formou-se em Licenciatura em Matemtica pelo Instituto Tecnolgico de

    Massachusetts. Trabalhou com o psiclogo Jean Piaget, na University of Geneva, entre

    11

    PCs: Computadores pessoais

  • 33

    os anos de 1958 a 1963, onde recebeu forte influncia para desenvolver a Teoria

    Construcionista. De 1954 a 1958, realizou vrias pesquisas na rea de Matemtica na

    Cambridge University. Na dcada de 1960, inicia o desenvolvimento da Teoria

    Construcionista, no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT12

    ), e cria o Logo13

    .

    Posteriormente, escreve vrios livros, entre eles, A mquina das crianas, bem

    reconhecido em toda a comunidade cientfica, em especial, na rea de Educao.

    Por ter trabalhado algum tempo com Jean Piaget, Papert utilizou a Teoria

    Epistemolgica para desenvolver seu trabalho, que recebeu o nome de Teoria

    Construcionista, que defende o uso do computador como ferramenta para auxiliar a

    formao do conhecimento, colocando o professor como um elo de ligao entre o

    aprendiz e a aprendizagem.

    Assim como Piaget, Papert acredita que a criana um ser pensante, capaz de

    construir suas prprias estruturas cognitivas. Ao criar o Logo, seu objetivo estava

    firmado nessa convico, pois, usando o programa, a criana tinha total autonomia para

    comandar as aes realizadas pela tartaruga, e, dessa forma, a aprendizagem ia se

    construindo.

    Outro aspecto importante para Piaget que a construo do pensamento se

    processa em funo da mutao biolgica que o indivduo sofre por estar em interao

    com o meio em etapas universais, sendo que algumas delas no so atingidas por alguns

    deles. Para Papert, essas etapas so atingidas pela disponibilidade de matrias no

    ambiente, quando o indivduo pode explor-las. Isso explica o fato de determinados

    conhecimentos se tornarem mais complexos para algumas crianas por no estarem

    presentes em seu cotidiano.

    Quanto ao estudo das operaes concretas, realizado por Piaget, Papert

    considera importante que a construo do conhecimento, no pensamento concreto, seja

    intensamente solidificada para que, em seguida, passe-se para a construo do

    pensamento abstrato. Essa etapa de formao do conhecimento no indivduo deve estar

    bem definida, pois, assim, a criana ter um arsenal maior de opes para atuar em

    situaes vivenciadas em seu cotidiano de forma criativa.

    Sobre a construo do conhecimento, tambm importante destacar que a

    criao de um ambiente propcio tem um papel relevante. Papert (1986) comenta a

    12

    MIT: Massachusetts Institute of Technology 13

    Logo: Linguagem de programao que possibilita o aluno expressar suas ideias atravs de uma

    linguagem formal.

  • 34

    respeito de cinco dimenses que so fundamentais para se criar um ambiente de

    aprendizagem construcionista, a saber: a pragmtica, a sintnica, a sinttica, a semntica

    e a social. Vejamos um breve comentrio a respeito dessas dimenses a que Papert faz

    referencia, pois elas esto correlacionadas ao que falamos anteriormente.

    Na concepo de Papert, a dimenso pragmtica refere-se construo do

    pensamento apoiada em situaes concretas, com a possibilidade de serem discutidas e

    analisadas. Para ns, esse aspecto relevante porque o software Excel capaz de

    propiciar situaes concretas, em que os alunos tm a oportunidade de criar seus

    prprios aplicativos e discuti-los com os outros.

    A dimenso sintnica sugere a contextualizao do objeto que interessa ao

    aprendiz. Como nossa proposta utilizar o software Excel e um objeto de

    aprendizagem, o aluno ter total liberdade para desenvolver seus prprios modelos de

    aplicativos desenvolvidos na planilha. Alm disso, o interesse pela tecnologia uma

    realidade na vida dos discentes, pois todos possuem celulares e outros aparelhos

    eletrnicos.

    No que diz respeito dimenso sinttica, Papert coloca em evidncia a

    importncia do acesso fcil aos elementos bsicos do ambiente de aprendizagem e o

    progresso na manipulao desses elementos, segundo a necessidade e o

    desenvolvimento cognitivo.

    A dimenso semntica trata da manipulao de elementos que tragam algum

    elemento que faam sentido para o usurio. E por fim a dimenso social aborda sua

    integrao nas relaes pessoais e culturais do meio o qual ele est inserido.

    2.4 Intrucionismo versus Construcionismo

    Consideramos importante expor o que Papert classifica como Instrucionismo e

    Construcionismo para que o nosso trabalho possa ser avaliado dentro desse parmetro.

    Instrucionismo versus Construcionismo um dos captulos do livro A mquina das

    crianas, escrito por esse autor.

    Resultante da convivncia de Seymour Papert com Jean Piaget, o Construcionismo

    um termo cunhado pelo autor para se referir a um tipo de aprendizagem centrado no pensamento

    operacional concreto. No captulo Instrucionismo vs. Construcionismo, ele demonstra a

    importncia do pensamento concreto para a aprendizagem, sem a conotao de trampolim para

    o abstrato. Se assim fosse, nas suas prprias palavras, deixaria o pensamento abstrato plantado

  • 35

    imvel como a forma derradeira de conhecer. Ele enfatiza a ao mental e material com

    objetos enraizados no tempo, no espao e em experincias e representaes do mundo, onde

    abstraes formais, certamente, so importantes, porm como ferramentas para intensificar o

    modo concreto de pensar, o relacionamento mental de representaes concretas em redes

    pessoais de conhecimento.

    Pesquisador dos assuntos de matemtica, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts,

    Papert nos conta como viveu a poca do nascimento do computador de grande porte, que

    mostrava suas maravilhas e ignorava o fato de ele ter sido pensado e financiado para a guerra,

    concebido por matemticos e parido como uma tecnologia militar, hermtica para a pessoa

    comum. Para ele, a mudana de matemtico para educador comeou a ocorrer no incio da

    dcada de 1960, quando os computadores mudaram seu modo de trabalhar. Impressionou-o o

    fato de determinados problemas abstratos e difceis de captar terem se tornado concretos,

    transparentes, manipulveis.

    Aps conhecer Jean Piaget, em Paris, e acreditando que as crianas poderiam desfrutar

    das mesmas experincias dos adultos com as novas mquinas do conhecimento, Papert comeou

    a trabalhar com sua equipe, numa linguagem de programao acessvel a crianas, e isso

    resultou na linguagem Logo (www.eurologo.org), algo completamente diferente do que se

    fazia ento com informtica na Educao. Em poucos anos, essa linguagem se espalhou por

    todo o mundo, contrapondo-se a um modo de uso do computador na escola, baseado em

    softwares educativos que replicavam o lugar comum dos livros didticos. Papert afirma que os

    computadores no apenas melhoram a aprendizagem escolar, como tambm apoiam formas

    diferentes de pensar e de aprender.

    2.5 As tecnologias na Educao

    Segundo Mercado (1998), o objetivo de introduzir novas tecnologias na escola

    de fazer coisas novas e pedagogicamente importantes, que no se podem realizar de

    outras maneiras. Com metodologias adequadas, o aluno poder utilizar essas

    tecnologias na integrao de matrias estanques. Desse modo, a escola passa a ser um

    lugar mais aprazvel, que tem como objetivo preparar o aluno para o futuro, e a

    aprendizagem, a ser vista de forma inovadora, centrada nas diferenas individuais e na

    capacitao do aluno para torn-lo um usurio independente da informao, com o

    potencial de usar vrios tipos de fontes de informao e meios de comunicao

    eletrnica.

  • 36

    O autor acrescenta que os ambientes computacionais, quando voltados para a

    inteligncia e o desenvolvimento cognitivo, como processos bsicos da aprendizagem,

    podem constituir-se como um desafio criatividade e inveno. Uma nova ecologia

    cognitiva (LVY, 1993) significa uma nova dinmica na construo do conhecimento,

    um novo movimento, novas capacidades de adaptao e de equilbrio dinmico, nos

    processos de construo do conhecimento, um novo jogo entre sujeito e objeto, um

    novo enfoque, mostrando o enlace e a interatividade existentes entre as coisas do

    crebro e os instrumentos que o homem utiliza.

    Outro aspecto de grande relevncia que, devido informatizao de

    praticamente todos os setores da sociedade, os governos estaduais e municipais tm se

    preocupado em levar o uso da tecnologia para o mbito escolar. Para isso, cria

    laboratrios de informtica nas escolas pblicas, embora a formao acadmica dos

    professores tenha sido deficitria, quanto implementao do uso da tecnologia como

    metodologia para lecionar determinados contedos. Isso gera um grande problema,

    porque o no uso dos laboratrios de informtica converge para a deteriorao das

    maquinas e, com o tempo, elas acabam ficando obsoletas.

    Sobre isso, Cysneiros (2000) afirma que o no uso das novas tecnologias deve-se

    ao fato de que os computadores pessoais ainda so tecnologias em expanso,

    relativamente novas, e pouco adaptadas s necessidades dos professores e dos alunos.

    No Brasil, a implantao de laboratrios de informtica e o sucateamento deles tm se

    tornado uma realidade, devido falta de preparao dos docentes na sua formao

    acadmica. Aqui no pretendemos fazer apologia ao desuso dos laboratrios de

    informtica implantados nas escolas, mas salientar sua importncia como recursos

    pedaggicos de grande valia, no processo de ensino e aprendizagem, e a importncia de

    se fazerem propostas educacionais que possam viabilizar o uso desse recurso.

    Ainda devemos levar em considerao um fato sobremaneira importante: devido

    minimizao do custo, o computador pessoal tem se popularizado de forma

    significativa. Cerca de trina e cinco por cento dos alunos da rede pblica possuem

    computador em casa, e os que no dispem tm acesso a ele em lan hauses ou em

    residncias de parentes e amigos. Assim, a possibilidade que o computador oferece

    como ferramenta para ajudar o aprendiz na construo do conhecimento pode constituir

  • 37

    uma revoluo no processo de ensino e aprendizagem. Almeida (1999, p. 19) enuncia

    que

    estamos em um momento em que a disseminao do computador na

    Educao atingiu larga escala. Mas o impacto das mudanas que

    poderia provocar ainda no ocorreu, embora existam modalidades de

    uso cujos ambientes de aprendizagem informatizados possam

    contribuir para transformaes. Uma das formas o emprego do

    computador como ferramenta educacional com a qual o aluno resolve

    problemas significativos. Por exemplo, atravs do uso de aplicativos

    como processador de texto, planilha eletrnica, gerenciador de banco

    de dados, ou mesmo de uma linguagem de programao que favorea

    a aprendizagem ativa. Isto , que propicie ao aluno a construo de

    conhecimentos a partir de suas prprias aes (fsicas ou mentais). O

    aluno pode ainda fazer uso de outros recursos disponveis, tais como

    redes de comunicao distncia ou sistema de autoria, para construir

    conhecimento de forma cooperativa ou para a busca de informaes.

    No ponto de vista do autor (1999), tal impacto poder levar o educador a

    desenvolver uma nova forma de ensinar, aproveitando o recurso tecnolgico

    disponibilizado em larga escala, tanto no mbito escolar quanto no cotidiano em que o

    aprendiz est inserido. Dessa forma, possvel que surja na educao um profissional

    com um novo perfil, distante daquele especialista que, por meio de uma oratria

    refinada, habituado a lanar mo de padres pr-definidos para expor contedos numa

    linguagem sistematizada - estamos nos referindo ao professor tradicional. Com um novo

    perfil metodolgico, esse novo profissional capaz de promover a aprendizagem de

    seus discentes atravs de diferentes meios e estratgias, pois sua preocupao estar

    focada em contribuir para que o aprendiz tenha autonomia para navegar em um contexto

    multifuncional.

    O profissional de educao 14

    com esse perfil tem o papel primordial de

    estabelecer pontes entre o aluno e o conhecimento, sendo assim um facilitador da

    aprendizagem. Quando o professor assume essa postura, o aluno passa a ser sujeito

    ativo da construo e da reconstruo do conhecimento. Essa postura denominada por

    Moran (2002) de mediao pedaggica, cujas caractersticas devem envolver todas as

    aes do professor, incluindo o uso das novas tecnologias. Tais aes desempenhadas

    14

    Profissional de educao: Nessa expresso, estamos nos referindo ao professor como profissional de

    educao.

  • 38

    pelo professor dizem respeito motivao, ao incentivo e participao no processo de

    ensino e aprendizagem.

    O uso das novas tecnologias, no contexto escolar, pode ser considerado uma

    ferramenta indispensvel na construo do conhecimento. Moita (2006) buscou nos

    games15

    um espao de construo de currculo aberto e autnomo, conectado com o

    ldico, o prazer, o subjetivo e a simulao. A construo de tal currculo refere-se ao

    potencial que os games tm de produzir o conhecimento e desenvolver habilidades e

    competncias, levando em considerao o ambiente onde o aprendiz est inserido.

    2.6 Matrizes: um passeio pela histria

    Em matemtica, um conceito ou uma definio de um determinado contedo torna-

    se mais compreensivo quando o professor expe aos seus alunos a origem dele, ou seja,

    como surgiu ou, at mesmo, como o pesquisador ou cientista conseguiu chegar quele

    resultado. Essa exposio depende do domnio do professor em relao quele contedo

    que ele quer transmitir para o seu aluno. Isso est intrinsecamente relacionado com o

    conhecimento histrico do contedo. Vergnaud (1994) afirma que o processo de ensino

    e aprendizagem de contedos matemticos mais produtivo quando ele ocorre atravs

    do estudo interativo advindo do processo individual e histrico, pois, quando se

    observam as dificuldades que o pesquisador ou cientista encontrou no passado,

    possvel compreender os erros que os alunos cometem no presente.

    Considerando a concepo exposta no pargrafo anterior, acreditamos ser necessria

    a apresentao de um contedo matemtico seguido da sua evoluo. Nesse sentido,

    faremos um breve comentrio sobre a origem e o desenvolvimento das matrizes, um

    contedo que abordado no segundo ano do ensino mdio. Salientamos, tambm, que,

    quando esse assunto exposto para os discentes, so colocados apenas os aspectos

    fundamentais de seu desenvolvimento histrico.

    Segundo Hawkins (1975, 1977a, 1977b)16, autor que fundamentou esse breve relato

    histrico, o estudo das matrizes e de determinantes iniciou por volta do Sculo II a.C,

    embora seja possvel identificar o aparecimento de seu conceito no Sculo IV a.C. As

    matrizes ficaram esquecidas por, aproximadamente, vinte e um sculos e surgiram

    15

    Games: Jogos eletrnicos 16

    Hawkins: Autor do livro: Cauchy and spectral theory of matrices. History Mathematica. Indicado nas

    referncias bibliogrficas.

  • 39

    novamente por volta do Sculo XVII, quando seu conceito foi desenvolvido de forma

    no convencional. O que formalizou os conceitos de matrizes e de determinantes foi o

    estudo dos sistemas de equaes lineares.

    Alguns problemas estudados pelos babilnicos convergiam para equaes lineares

    simultneas. Descobertas arqueolgicas revelam que tais problemas eram registrados

    em blocos de barro, alguns no se deterioraram. Um desses blocos, escrito por volta de

    300 a.C, contm o seguinte problema: Dois campos tm rea total de 1800 jardas

    quadradas. Um produz gros em 2/3 de um alqueire por jarda quadrada, enquanto o

    outro produz gros em 1/2 de um alqueire por jarda quadrada. Se o lucro total de 1100

    alqueires, qual o tamanho de cada campo?

    H uma forte evidncia de que os chineses, por volta de 200 a 100 a.C, chegaram

    mais prximos que os babilnicos do mtodo das matrizes. No texto, Nove captulos

    sobre a arte matemtica, escrito durante o perodo da Dinastia de Han17, h o primeiro

    exemplo prtico do mtodo de matriz. Nesse mesmo texto, encontra-se um problema

    semelhante ao dos babilnicos escrito no bloco. O problema do texto Nove captulos

    sobre a arte matemtica tem a seguinte redao: Existem trs tipos de milho, sendo

    que trs pacotes do primeiro, dois do segundo e um do terceiro formam 39 unidades.

    Dois do primeiro, trs do segundo e um do terceiro formam 34 unidades. Em um do

    primeiro, dois do segundo e trs do terceiro formam 26 unidades. Quantas unidades de

    milho esto contidas em cada tipo de pacote? Na resoluo do problema, o autor

    distribuiu os coeficientes do sistema de trs equaes lineares a trs incgnitas de forma

    anloga a uma tabela. A nica diferena foi a maneira como ele distribuiu os

    coeficientes, pois os chineses escrevem de baixo para cima e da esquerda para direita.

    Ento, a construo ficou da seguinte forma:

    393426

    113

    232

    321

    Atualmente, representa-se o referido problema equacionando-o da seguinte forma:

    17

    Dinastia de Han: Foi governada pela famlia conhecida como o cl de Liu. Seu domnio,durou

    aproximadamente, quatrocentos anos.

  • 40

    2632

    3432

    3923

    zyx

    zyx

    zyx

    ou

    26321

    34132

    39123

    Os valores de x, y e z, na soluo apresentada pelo autor, so idnticos ao

    mtodo de eliminao de Gauss que, atualmente, muito conhecido e utilizado. Tal

    mtodo conhecido como mtodo de escalonamento de sistema de equaes lineares e

    consiste em se multiplicarem as equaes por valores reais, de forma que, somando-se

    as equaes duas a duas, possam se eliminar incgnitas at que o sistema tome a forma

    de uma escada, determinando-se assim, no final, o valor de z. No texto Ars Magna,

    publicado em 1545 por Cardan, encontra-se uma regra para resolver sistemas de duas

    equaes lineares, nomeado pelo autor de regula de modo, que, traduzida, entende-se

    por me das regras. Esse trabalho escrito por Cardan deu origem regra de Cramer para

    resolver sistemas lineares. A diferena entre o mtodo desenvolvido por Cardan e a

    regra de Cramer e que Cardan no chegou definio de determinante, como fez

    Cramer. A definio de determinante surgiu quase que paralelamente, na Europa e

    Japo, no entanto, foi neste ltimo que tal definio foi publicada pela primeira vez por

    Seki, que apresentou os mtodos matriciais escritos em tabelas da mesma forma que os

    chineses. Ele fez essa apresentao no texto, Methods of solving the dissimulated

    problem, que escreveu em 1683. Tambm mostrou que era possvel resolver sistemas de

    equaes lineares 2x2, 3x3, 4x4, 5x5 e apresentou solues. Nesse mesmo ano, surgiu,

    na Europa, a primeira ideia de determinante, proposta por Libiniz, quando ele escreveu

    uma carta para o Marquis de L Hospital, dizendo que o seguinte sistema:

    0323130

    0222120

    0121110

    yx

    yx

    yx

    era passvel de soluo, devido igualdade 10.21.32 + 11.22.30 + 12.20.31= 10.22.31 +

    11.20.32 + 12.21.30. Essa igualdade escrita por Libniz trata do valor do determinante

    dos coeficientes, a saber:

    323130

    222120

    121110

  • 41

    que igual a zero. Libiniz trabalhou, aproximadamente, cinquenta anos a fim de obter

    uma notao adequada para sistemas de coeficientes, e seus manuscritos, que no foram

    publicados, contm mais de cinquenta maneiras diferentes de notaes para tais

    sistemas. Nos anos de 1700 e 1710, foram publicados resultados para esses sistemas,

    cujas notaes eram iguais s contidas na carta que ele enviou para o Marquis de

    LHospital. Leibniz usou a palavra resultante para algumas combinaes de somas dos

    termos de um determinante. O que, hoje, conhecemos como regra de Cramer ,

    essencialmente, o que foi proposto por Libiniz. A expanso do determinante feita por

    qualquer uma de suas colunas, que era utilizada na regra, mais tarde, ficou conhecida

    como expanso de Laplace. Assim como o estudo de sistemas de coeficientes convergiu

    para os determinantes, o estudo de sistemas de coeficientes de formas quadrangulares

    levou Libniz teoria da matriz. Em 1748, foi publicado o texto Treatise of lgebra,

    escrito por Maclaurin, onde se encontram resultados de determinantes, provando a regra

    de Cramer para sistemas de equaes lineares 2x2, 3x3, e como ela funcionava para os

    sistemas 4x4. O referido texto publicado dois anos depois da morte de seu autor. A

    regra de Cramer, que bastante utilizada no ensino mdio, para se resolverem sistemas

    de equaes lineares por meio da resoluo de determinantes relacionados aos

    coeficientes das incgnitas, foi apresentada no artigo Introduo para anlises de

    curvas algbrica, escrito por ele, em 1750. Nele, Cramer publicou a regra geral para

    sistema nxn. O nico problema que essa regra apresenta que os determinantes das

    matrizes incompletas devem ser diferentes de zero. Caso os planos sejam paralelos, a

    regra no funciona, ou seja, no serve para discutir o sistema.

    O interesse pelo estudo de determinantes cresceu depois dos trabalhos realizados

    por Cramer. Matemticos como Bezout, em 1764, e Vandermonde, em 1771,

    apresentaram mtodos para calcular determinantes. Em 1772, Laplace apresentou um

    trabalho sobre o estudo das rbitas dos planetas, utilizando apenas determinantes. Ele

    mostrou a discusso de sistemas de equaes lineares sem clculos e utilizou a palavra

    resultante referindo-se ao determinante, a mesma expresso utilizada por Leibiniz.

    Todos os detalhes que conhecemos hoje a respeito dos determinantes se devem a

    Laplace.

    Um artigo publicado por Lagrange, em 1773, apresentava em seu contexto um

    estudo para determinantes funcionais de ordem 3x3. No obstante esse trabalho no

    tinha nenhuma relao com os trabalhos feito por Laplace e Vandermonde. S em 1801,

    o termo determinante foi usado pela primeira vez por Carl F. Gauss em Disquisitiones

  • 42

    arithmeticae, num estudo em que se discutiam as formas quadrticas, e ele utilizou esse

    termo para fazer referncia quilo que determinava as propriedades das formas

    quadrticas.

    Gauss representou as formas quadrticas em retangulares e descreveu a

    multiplicao de matriz que, para ele, era uma composio. O famoso mtodo da

    eliminao ou do escalonamento que utilizado atualmente para se discutirem sistemas

    de equaes lineares e para se encontrarem suas solues, foi utilizado por Gauss para

    estudar a rbita de Pallas 18

    ; no texto, Nove captulos sobre a arte matemtica, escrito

    200 a.C, o mtodo da eliminao j tinha sido descrito. Para realizar o estudo da rbita

    de Pallas, Gauss fez vrias observaes entre os anos de 1803 e 1809, at obter um

    sistema de equaes lineares formado por seis equaes e desenvolveu um mtodo

    sistemtico para resolv-lo.

    Outro grande matemtico que utilizou o termo determinante, s que numa

    linguagem moderna, foi Cauchy. Seu trabalho com determinantes foi um dos mais

    completos e mais bem elaborados, porquanto ele conseguiu sintetizar os resultados e

    agrup-los de forma mais organizada. Por volta do ano 1812, numa reunio realizada no

    Institut de France, o teorema da multiplicao para determinantes foi provado pela

    primeira vez. Em relao s formas quadrticas, Cauchy utilizou o termo tableau para a

    matriz de coeficientes e mostrou que, se duas matrizes so similares, elas tm a mesma

    equao caracterstica. Ele obteve esse resultado atravs da diagonalizao das matrizes.

    A ideia de matrizes similares foi, portanto, introduzida por ele.

    DAlembert tambm deu sua contribuio na teoria de matriz e determinante,

    estudando o movimento de um barbante com massas presas a ele distribudas em sua

    extenso. Nesse estudo, ele obteve um sistema de equaes lineares. Jacques Sturm foi

    outro matemtico que dedicou parte de seus estudos resoluo de sistemas de

    equaes lineares, mas tanto ele quanto Cauchy desenvolveram seus trabalhos em

    contextos especficos. Outros matemticos como Jacob, em 1830, Kronecker, por volta

    de 1850, e Weierstrass, em 1860, estudaram matrizes numa abordagem especial: com

    nfase nas transformaes lineares. Em 1841, Jacob escreveu trs tratados que deram

    uma grande contribuio para o estudo das matrizes e dos determinantes e que

    continham, pela primeira vez, a definio de um determinante.

    18

    Pallas: Segundo maior asteroide situado no cinturo entre Marte e Jpiter.

  • 43

    A representao de determinantes feita atravs de barras deve-se a Cauchy, que

    utilizou essa notao quando publicou um artigo em 1841, a qual, at hoje, ainda

    utilizada. Sua contribuio para o estudo de determinantes foi muito significativa. Como

    nossa inteno de mostrar brevemente como surgiu a ideia ou a teoria das matrizes,

    no podamos deixar de relatar seus vnculos com o estudo de sistemas de equaes

    lineares e determinantes.

    Agora iremos nos deter mais a esse assunto. Em 1850, Joseph Sylvester foi o

    primeiro a fazer uma definio mais formal de matrizes e as definiu como um arranjo

    de termos num quadriltero. H relatos de que ele abandonou a matemtica para seguir

    a carreira de advogado na Inglaterra, onde conheceu Cayley que tambm era advogado,

    mas demonstrava muito interesse pela Matemtica. Pela afinidade que tinham em

    relao a essa Cincia, trabalharam juntos e fizeram vrias publicaes. A equao

    IAA1

    . , que conhecemos como equao matricial para calcular a inversa de uma

    matriz A, foi mostrada numa nota publicada por Cayley em 1853. No ano de 1855,

    surgiu uma publicao que mostrava a associao de matrizes a arranjos retangulares, os

    quais eram quadrados.

    Em 1858, Cayley publicou a Autobiografia da teoria das matrizes. Nesse texto,

    aparece, pela primeira vez, a definio de uma matriz feita de forma abstrata. Cayley

    mostrou que as formas quadrticas e as transformaes lineares so casos especiais das

    variedades dos coeficientes outrora estudados. Ele tratou as matrizes como objetos

    matemticos passveis de efetuar operaes algbricas e definiu a soma, o produto de

    matrizes, e o produto por um escalar, bem como o clculo da matriz inversa como

    expusemos no incio do pargrafo anterior. A Cayley deve-se a prova da existncia da

    equao caracterstica prpria associada a uma matriz 2x2. Ele declarou que o mesmo

    era possvel com as matrizes 3x3, no entanto no chegou a generalizar para o caso da

    matriz nxn. Um fato curiosamente coincidente que, aos vinte e cinco anos de idade,

    Cayley j havia escrito vinte e cinco livros de Matemtica. Em um deles, provavel