harvey, david. a justiça social e a cidade

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,/ . DAVID HARVEY '" A Justiça Social )1 I. e a Cidade ), Prefácio e Tradução de Armando Corrêa da Silva I t EDITORA HUCITEC São Paulo, 1980

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Page 1: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

DAVID HARVEY

A Justiccedila Social )1

I

e a Cidade )

Prefaacutecio e Traduccedilatildeo de Armando Correcirca da Silva I~

t

EDITORA HUCITEC Satildeo Paulo 1980

CAPIacuteTULO IV

A Teoria Revolucionaacuteria e Contra-Revolucionaacuteria em Geografia e o Problema da Formaccedilatildeo do Gueto

Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico Para alcanccedilar alguma introspecccedilatildeo nesta questatildeo eacute conveniente examinar como ocorrem as revoluccedilotildees e contra-revoluccedilotildees em todos os ramos do pensamento cientiacutefico Kuhn (1962) oferece uma anaacutelise interesshysante desse fenocircmeno tal como ocorre nas ciecircncias naturais Ele sugere que a maior parte da atividade cientiacutefica eacute o que ele chama de ciecircncia de rotina Isso diz respeito agrave investigaccedilatildeo de todas as facetas de um paradigma partishycular (sendo um paradigma uma seacuterie de conceitos categorias relaccedilotildees e meacutetodos que satildeo geralmente aceitos por toda uma comunidade em dado momento no tempo) Na praacutetica da ciecircncia de rotina surgem certas anomalishyas observaccedilotildees ou paradoxos que natildeo podem ser resolvidos dentro de um paradigma existente Essas anomalias tornam-se o foco de crescente atenccedilatildeo ateacute que a ciecircncia eacute mergulhada em um periacuteodo de crise no qual satildeo feitos ensaios especulativos para resolver os problemas colocados pelas anomalias A partir desses ensaios surge eventualmente nova seacuterie de conceitos categorias relaccedilotildees e meacutetodos que resolvem os dilemas existentes com sucesso e ao mesmo tempo incorporam os aspectos perenes do velho parashydigma Assim um novo paradigma nasce e eacute seguido uma vez mais pelo desempenho da atividade cientiacutefica de rotina

O esquema de Kuhn eacute vulneraacutevel agrave criacutetica em certo nuacutemero de postushylaccedilotildees Discutirei brevemente dois problemas Primeiro natildeo haacute explicaccedilatildeo de como as anomalias surgem e corno uma vez surgidas geram crises Essa criacutetica poderia ser desenvolvida pela distinccedilatildeo entre anomalias significativas e insignificantes Por exemplo era sabido desde muitos anos que a oacuterbita de Mercuacuterio natildeo era adequada aos caacutelculos de Newton ainda que essa anomalia

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fosse insignificante porque natildeo era relevante para o uso do sistema newtoniashyno num contexto cotidiano Se por exemplo certas anomalias tivessem surgishydo na construccedilatildeo de uma ponte elas entatildeo teriam sido obviamente julgadas alshytamente significativas Por isso o paradigma newtoniano permaneceu satisfashytoacuterio e inquestionaacutevel ateacute que algo relevante e de importacircncia praacutetica natildeo pushydesse ser realizado usando-se o sistema newtoniano Segundo haacute a questatildeo nunca respondida satisfatoriamente por Kuhn relativa ao modo pelo qual um novo paradigma torna-se aceito Kuhn admite que a aceitaccedilatildeo natildeo eacute assunto de loacutegica Sugere antes que isso envolve um ato de feacute Aquestatildeo contudo eacute que esse ato de feacute deveria fundamentar-se Percorrendo as entrelinhas da anaacutemiddot lise de Kuhn estaacute uma forccedila condutora que nunca eacute explicitamente examinashyda Essa forccedila condutora importa em uma crenccedila fundamental nas virtudes do controle e manipulaccedilatildeo do ambiente natural O ato de feacute aparentemente bashyseia-se na crenccedila de que o novo sistema permitiraacute a extensatildeo da manipulaccedilatildeo e controle a algum aspecto da natureza Qual aspecto da natureza Presumivelshymente seraacute uma vez mais um aspecto da natureza que eacute importante em termos de atividade e da vida cotidiana em um momento particular da histoacuteria

A criacutetica central a Kuhn que esses dois casos apontam eacute a abstraccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico de sua base materialista Kuhn oferece uma intershypretaccedilatildeo-idealista do lrogressocientiacutefico porquanto eacute claro que o pensamenshyto cientiacutefico estaacute fundamentalmente ligado a atividades naturais A base mashyterialista do avanccedilo do conhecimento cientiacutefico foi pesquisada por Bershynal(1971) A atividade material envolve a manipulaccedilatildeo da natureza no inteshyresse do homem e o entendimento cientiacutefico natildeo pode ser interpretado indeshypendentemente dessa imposiccedilatildeo geral Contudo nessa conjuntura somos forccedilados a acrescentar uma outra perspectiva porque o interesse do hoshymem estaacute sujeito a uma variedade de interpretaccedilotildees dependendo de que setor da sociedade estamos tratando Bernal indica que as ciecircncias no Ocishydente tecircm sido ateacute muito recentemente o apanaacutegio de um grupo de classe meacutedia e mesmo recentemente com o surgimento do que eacute muitas vezes chamado meritocracia o cientista eacute muitas vezes atraiacutedo para os modos de vida e de pensamento da classe meacutedia no curso de sua carreira Podemos pois esperar que as ciecircncias naturais tacitamente reflitam uma orientaccedilatildeo para a manipulaccedilatildeo e controle sobre aqueles aspectos de natureza que satildeo relevantes para a classe meacutedia Muito mais importante contudo eacute o enshyvolvimento da atividade cientiacutefica por um processo de patrociacutenio e pesquisa financiada no interesse especial daqueles que possuem o controle dos meios de produccedilatildeo A coalizatildeo de induacutestria e governo afeta fortemente a atividade cientiacutefica Consequumlentemente manipulaccedilatildeo e controle significam manishypulaccedilatildeo e controle no interesse de grupos particulares da sociedade (especifishycamente a comunidade industrial e financeira junto com a classe meacutedia)

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mais do que no interesse da sociedade como um todo (veja-se Bernal 1971 Rose e Rose 1969) Com essas perspectivas estamos melhor aparelhados pashyra compreender o trajeto geral do avanccedilo cientifico escondido nas revolushy

-J ccedilotildees cientiacuteficas recorrentes que Kuhn descreveu tatildeo perceptiva mente Tem sido questionado frequumlentemente se a anaacutelise de Kuhn poderia ser

estendida agraves ciecircncias sociais Parece que Kuhn considerou as ciecircncias sociais como preacute-cientiacuteficas no sentido de que nenhuma ciecircncia social estabeleshyceu realmente aquele corpo de conceitos geralmente aceitos categorias reshylaccedilotildees e meacutetodos que formam um paradigma Essa consideraccedilatildeo das ciecircncias sociais como preacute-cientiacuteficas eacute de fato bastante geral entre filoacutesofos da ciecircnshycia (veja-se Kuhn 1962 37 Nagel 1961) Contudo uma breve sondagem da histoacuteria do pensamento nas ciecircncias sociais mostra que as revoluccedilotildees cershytamente ocorrem e que elas satildeo marcadas por muitos dos mesmos aspectos que Kuhn identificou nas ciecircncias naturais Natildeo haacute duacutevida de que Adam Smith proviu uma formulaccedilatildeo paradigmaacutetica para o pensamento econocircmico que foi subsequumlentemente desenvolvida por Ricardo Nos tempos modernos

Imiddot Keynes teve ecircxito em realizar algo essencialmente similar a Smith e proviu uma formulaccedilatildeo paradigmaacutetica que dominou o pensamento econocircmico no Ocidente ateacute a presente data Johnson(1971) pesquisa tais revoluccedilotildees no pensamento em Economia Sua anaacutelise paralela em muitos aspectos agrave de Kuhn acrescenta contudo diversos contornos extras No coraccedilatildeo da revoshyluccedilatildeo keynesiana assegura Johnson estava uma crise gerada pela falha da economia preacute-keynesiana em lidar com o problema mais premente e signifishycativo dos anos 30 o desemprego Assim o desemprego tornou-se a anomashylia significativa Johnson sugere que haacute muito tempo a circunstacircncia mais feliz para a raacutepida propagaccedilatildeo de uma nova e revolucionaacuteria teoria eacute a existecircncia de uma ortodoxia estabelecida que eacute claramente inconsistente com os fatos mais salientes da realidade e aleacutem disso suficientemente conshyfiante em seu poder intelectual para tentar explicar aqueles fatos e em seus esforccedilos para assim proceder expotildee sua incompetecircncia de maneira ridiacutecula Assim as realidades sociais objetivas do tempo atingiram a sabedoria conshyvencional e serviram para expor suas falhas

Nesta situaccedilatildeo de confusatildeo geral e de oacutebvia irrelevacircncia da economia orshytodoxa em relaccedilatildeo a problemas reais o caminho estava aberto para uma nova teoria que ofereceu uma explicaccedilatildeo convincente da natureza do problema e uma seacuterie de prescriccedilotildees poliacuteticas baseadas naquela explicaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel a similaridade a Kuhn eacute bastante notaacutevel Mas Johnson entatildeo acrescenta novas consideraccedilotildees algumas das quais realmente resultam da proacutepria sociologia da ciecircncia Ele assegura que uma nova teoria aceita tinha que possuir cinco caracteriacutesticas principais

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Primeiro tinha que atacar a proposiccedilatildeo central da ortodoxia conservashydora() com uma anaacutelise nova mas academicamente aceitaacutevel que inshyvertesse a proposiccedilatildeo( ) Segundo a teoria tinha que parecer nova embora absorvendo tanto quanto possiacutevel de vaacutelido ou pelo menos componentes natildeo prontamente disputaacuteveis da teoria ortodoxa existente Nesse processo ajuda muito dar a velhos conceitos nomes novos confusos e enfatizar como cruciais passos analiacuteticos que foram tomados previamente como vulgashyres ( ) Terceiro a nova teoria tinha que ter o grau apropriado de dificuldashyde de ser entendida ( ) para que colegas acadecircmicos mais velhos natildeo a achassem nem faacutecil nem interessante de estudar de modo que eles gastassem seus reforccedilos em assuntos teoacutericos perifeacutericos e entatildeo se expuzessem como alvos faacuteceis de critica e substituiccedilatildeo por seus colegas mais jovens e ansiosos_ Ao mesmo tempo a nova teoria tinha que parecer simultaneamente bastante difiacutecil para desafiar o interesse intelectual dos colegas mais jovens e estudantes e atual e faacutecil o bastante para conquistaacute-los adequadamente

com suficiente investimento de esforccedilo intelectual ( ) Quarto a nova teoria tinha a oferecer aos disciacutepulos mais dotados e menos oportunistas uma nova metodologia mais atraente do que as correntemente uacuteteis C) Finalmente (tinha para oferecer) urna relaccedilatildeo empiacuterica importante C) para medir

A histoacuteria do pensamento geograacutefico nos uacuteltimos dez anos estaacute exatamenshyte espelhada nessa anaacutelise A proposiccedilatildeo central da velha geografia era o qualitativo e o uacutenico Ela natildeo podia nitidamente resistir agrave orientaccedilatildeo das ciecircncias sociais como um todo em direccedilatildeo a instrumentos de manipulaccedilatildeo e controle social corno se requer para entendimento do quantitativo e do geral Nem pode haver qualquer duacutevida de que durante o processo de transiccedilatildeo veshylhos conceitos receberam nomes novos e confusos e que fraacutegeis acepccedilotildees vulgares foram objeto de rigorosa investigaccedilatildeo analiacutetica Aleacutem disso natildeo po de ser negado que a assim chamada revoluccedilatildeo quantitativa proporcionou a oportunidade de pocircr a descoberto os mais velhos apologistas da disciplina particularmente quando eles arriscavam-se em assuntos relacionados agrave nova ortodoxia emergente Certamente o movimento quantitativo propiciou urna mudanccedila de dificuldade adequada e abriu o panorama para novas metodoloshygias muitas das quais seriam amplamente recompensadas em termos das inshytrospecccedilotildees analiacuteticas que elas geram Por fim novas coisas por medir exisshytiam em abundacircncia e na funccedilatildeo distacircncia-decliacutenio no limiar na difusatildeo de um bem e na medida de padrotildees espaciais os geoacutegrafos encontraram quatro novos toacutepicos empiacutericos aparentemente cruciais com que eles podiam gastar urna enorme quantidade de tempo investigando O movimento quantitativo pode assim ser interpretado parcialmente em termos de mudanccedila de um novo conjunto de ideacuteias a serem respondidas parcialmente pelo menos como

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um esforccedilo de baixo niacutevel pelo poder e status dentro de uma estrutura discishyplinar e parcialmente como uma resposta a pressotildees externas para descobrir os meios de manipulaccedilatildeo e controle no que pale francamente ser definido

I-- corno o campo do planejamento No caso de middotalgueacutem interpretar estas obshyservaccedilotildees como estando eu apontando o dedo para qualquer grupo particular deixe-me dizer que todos noacutes fomos envolvidos nesse processo e que natildeo hashyvia e natildeo haacute modo pelo qual pudeacutessemos ou possamos escapar de tal envolvishymento

Johnson tambeacutem propotildee a expressatildeo contra-revoluccedilatildeo em sua anaacutelise A este propoacutesito seu pensamento natildeo eacute muito esclarecedor desde que ele nitidamente tem dificuldade em criticar os monetaristas que designa coshymo contra-revolucionaacuterios mes~o que uma anomalia significativa exista (a

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combinaccedilatildeo de inflaccedilatildeo e desemprego) como uma forte mudanccedila em relaccedilatildeo agrave ortodoxia keynesiana Mas haacute algo rnJlito importante neste ponto que reshyquer anaacutelise Parece intuitivamente plaacuteu~iacutevel pensar a respeito do movishymento de ideacuteias nas ciecircncias sociais erilum movimento baseado em revolushyccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo em contraste com as ciecircncias naturais para as quais a noccedilatildeo natildeo parece tatildeo imediatamente aplicaacuteveL

Podemos analisar o fenocircmeno da contra-revoluccedilatildeo voltando nossa introsshypecccedilatildeo para a formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircncias naturais Este baseia-se na extensatildeo da habilidade do homem em manipular e controlar naturalmente o fenocircmeno ocorrido Similarmente podemos antecipar que a forccedila dirigente por traacutes da formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircoacutecias sociais eacute o desejo de manipushylar e controlar a atividade humana e os fenotildemenos sociais no interesse do homem A questatildeo que surge imediatamente eacute a de quem estaacute controlando quem em interesse de quem estaacute sendo exercido o controle e se o controle eacute exercido no interesse de todos quem estaacute se atribuindo definir o interesse puacuteblico Somos assim forccedilados a confrontar diretamente nas ciecircncias sociais o que surge apenas indiretamente principalmente as bases e implicaccedilotildees soshyciais do controle e da manipulaccedilatildeo Seria extraordinariamente tolo pressupor que essas bases estatildeo igualmente distribuiacutedas por toda a sociedade Nossa histoacuteria mostra que usualmente essas bases estatildeo altamente concentradas dentro de poucos grupos chaves na sociedade Esses grupos podem ser beneshyvolentes ou agressivos a respeito de outros grupos Este contudo natildeo eacute o ponto A questatildeo eacute que a ciecircncia social formula conceitos categorias relashyccedilotildees e meacutetodos que natildeo satildeo independentes das relaccedilotildees sociais existentes Como tais os conceitos satildeo o produto dos verdadeiros fenocircmenos que eles se destinam a descrever Uma teoria revolucionaacuteria sobre a qual baseia-se um novo paradigma ganharaacute aceitaccedilatildeo geral somente se a natureza das relaccedilotildees sociais englobadas na teoria satildeo atuais no mundo real Uma teoria contra-reshyvolucionaacuteria eacute deliberadamente proposta em relaccedilatildeo agrave teoria revolucionaacuteria

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de tal modo que as mudanccedilas sociais ameaccediladoras que a teoria revolucionaacuteria geraria com aceitaccedilatildeo geral quer por cooptaccedilatildeo ou subversatildeo satildeo impossishybilitadls de se realizar

Esse processo de revoluccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo na ciecircncia social estaacute expliacuteshycito no relacionamento entre as teorias econocircmicas e politicas de Adam Smith e Ricardo e as de Karl Marx sobre as quais Engels em seu prefaacutecio ao volume 2 de O Copitol fornece algumas introspecccedilotildees bastante extraordinaacuteshyrias (veja Althusser e Balitar 1970) Estava em questatildeo se Marx tinha plashygiado a teoria da mais-valia Marx contudo reconheceu claramente que tanto Adam Smiacuteth como Ricardo haviam discutido e parcialmente entendido a natureza da mais-valia Engels manifestou-se para explicar o que era novo na exposiccedilatildeo de Marx sobre a mais-valia e como foi que a teoria da mais-vashylia de Marx abalou a terra corno um raio surgido de um ceacuteu liacutempido Para fazer isso ele descreve um incidente na histoacuteria da quiacutemica coincishydentemente isso se tornou uma das inspiraccedilotildees para a tese de Kuhn(12 52-6) relativa agrave estrutura das revoluccedilotildees nas ciecircncias naturais - concernente ao relacionamento entre Lavoisier e Priestley na descoberta do oxigecircnio Ambos realizaram experimentos similares e produziram resultados similashyres Contudo havia uma diferenccedila essencial entre eles Priestley insistiu no resto de sua vida em interpretar seus resultados em termos da velha teoria flogiacutestica e por isso chamou sua descoberta de ar deflogistificado Lavoishysier por sua parte reconheceu que sua descoberta natildeo podia conciliar-se com a teoria flogiacutestica existente como consequumlecircncia conseguiu reconstruir a estrutura teoacuterica da quiacutemica em uma base completamente nova Assim Engels e Kuhn depois dele postulou que Lavoisier era o real descobridor do oxigecircnio em confronto com os outros que tinham somente produzido-o sem saber o que tinham produzido Engels continua Marx coloca-se na mesma relaccedilatildeo com seus predecessores na teoria da mais-valia como Lavoishysier se colocou ante Pricstley ( ) A existecircncia daquela parte do valor dos produtos que chamamos mais-valia tinha sido comprovada muito antes de Marx E mesmo assim tinha sido colocado com mais ou menos precisatildeo em que consistia ( ) Mas natildeo se ia mais adiante ( ) (todos os economistas) permaneciam prisioneiros das categorias econocircmicas tais como elas tinham surgido para eles Entatildeo surgiu Marx em cena E ele assumiu a posiccedilatildeo dishyretamente oposta a de seus predecessores O que eles tinham olhado como soluccedilt1o ele considerou como um problema Ele viu que natildeo tinha que lidar nem com ar deflogistificado nem com ar em combustatildeo mas com oxigecircnio que aqui natildeo se tratava da questatildeo de expor um fato econocircmico ou de aponshytar o conflito entre esse fato e a justiccedila e moralidade eternas mas de explicar um fato que se ofereci~ a ele que sabia como usaacute-lo uma chave para a comshypreensatildeo de toda a produccedilatildeo capitalista Com esse fato como ponto de partishy

da ele examinou todas as categorias econocircmicas que encontrou aacute matildeo como Lavoisier procedeu com o oxigecircnio examinando as categorias da quimica flogiacutestica(Marx Copital Volume 2 11-18)

+-- A teoria marxista era nitidamente perigosa porque fornecia a chave do entendimento da produccedilatildeo capitalista da posiccedilatildeo daqueles que MO controlashyvam os meios de produccedilatildeo Consequumlentemente as categorias conceitos reshylaccedilotildees e meacutetodos que tinham o potencial para formar novo paradigma eram uma enorme ameaccedila para a estrutura de poder do mundo capitalista A emergecircncia subsequumlente da teoria marginal do valor (especialmente na escola austriacuteaca de economistas tais como BOhm-Bawerk e Menger) abandonou muito das bases das anaacutelises de Smith e Ricardo(em particular a teoria do valor trabalho) e tambeacutem incidentalmente serviu para rejeitar a mudanccedila marxista na Economia A cooptaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria da teoria marxista na Ruacutessia depois da morte de Lenin e uma cooptaccedilatildeo similar contra-revolushycionaacuteria de grande parte da linguagem marxista na sociologia Ocidental(tanshyto que alguns socioacutelogos sugerem que todos somos marxistas agora) sem considerar a essecircncia do pensamento marxista evitou efetivamente o verdashy

I

deiro florescimento do pensamento marxista e concomitantemente a emer gecircncia daquela sociedade humanizada que Marx visualizou Tanto os conshyceitos como o projetado relacionamento social contido nos conceitos foram frustrados

A revoluccedilatildeo e a contra-revoluccedilatildeo no pensamento satildeo por isso caracteriacutesshyticas das ciecircncias sociais de um modo que aparentemente natildeo eacute caracteriacutestishyco das ciecircncias naturais As revoluccedilotildees no pensamento natildeo podem em uacuteltishyma instacircncia ser separadas das revoluccedilotildees na praacutetica Isso pode sugerir a conclusatildeo de que as ciecircncias sociais estatildeo certamente num estaacutegio preacute-cientishyfico A conclusatildeo estaacute mal fundamentada contudo desde que as ciecircncias nashyturais nuncagrave foram arrebatadas em nenhum momento do controle de um grupo restrito de interesse Eacute esse fato mais do que qualquer coisa inerente agrave natureza da proacutepria ciecircncia natural que conta para a ausecircncia de contra-reshyvoluccedilotildees nas ciecircncias naturais Em outras palavras as revoluccedilotildees do pensashymento que ocorrem nas ciecircncias naturais natildeo colocam nenhuma ameaccedila para a ordem existente desde que elas satildeo construiacutedas amplamente com os requishysitos dessa ordem existente na mente Natildeo quero dizer que natildeo haja alguns problemas sociais desconfortaacuteveis para resolver no processo porque a descoshyberta cientiacutefica natildeo eacute previsiacutevel e pode por isso ser fonte de tensatildeo social O que isso sugere contudo eacute que as ciecircncias naturais estatildeo em um estaacutegio preacute-social Consequumlentemente as questotildees de accedilatildeo social e controle social que as teacutecnicas damiddotciecircncia natural frequumlentemente ajudam a resolver natildeo satildeo incorporadas na proacutepria ciecircncia natural De fato haacute certo fetichismo em manter assuntos sociais fora das ciecircncias naturais desde que sua incorporaccedilatildeo

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suporia ulsvios decirc pesquisa para o comando da ordem social existente Os manecer em silecircncio Satildeo as condiccedilotildees sociais objetivas emergentes e nossa dilemas morais resultantes para os cientistas que assumem suaresponsabilishy patente inabilidade em combatecirc-Ias que essencialmente explicam a necessidashydade social seriamente satildeo certamente reais Ao contraacuterio da opiniatildeo popushy de de uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico lar por isso parece apropriado concluir que a filosofia da ciecircncia social eacute poshy -i tencialmente muito superior agrave da ciecircncia natural e que a fusatildeo eventual dos dois campos de estudo divulgar-se-ia natildeo atraveacutes de tentativas de cientifishyzar a ciecircncia social mas ao contraacuterio pela socializaccedilatildeo da ciecircncia natural (veja-se Marx Economic anti Philosofic Manuscripts of 1844 164) Isso pode significar a s-lbstituiccedilatildeo da manipulaccedilatildeo e controle com a realizaccedilatildeo do potencial humano como criteacuterio baacutesico para a aceitaccedilatildeo do paradigma Em tal ocorrecircncia todos os aspectos da ciecircncia experimentariam fases tanto revoshylucionaacuterias como contra-revolucionaacuterias do pensamento que estariam indushybitavelmente associadas a mudanccedilas revolucionaacuterias na praacutetica social

Retornemos agora agrave questatildeo inicial Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico A revoluccedilatildeo quantitativa pershycorreu seu curso e natildeo considerando retornos marginais estaacute aparentemenshyte consolidada natildeo obstante outro exemplo de ecologia fatorial uma outra tentativa de medir o efeito de distacircncia-decliacutenio outra tentativa de identificar a difusatildeo de um bem servem para dizer-nos menos a respeito de qualquer coisa de grande relevacircncia Em adiccedilatildeo haacute jovens geoacutegrafos agora tatildeo ambishyciosos quanto eram os quantificadores na deacutecada de 60 um pouco famintos por reconhecimento e um pouco desencantados com o que fazer Assim haacute murmuacuterios de descontentamento dentro da estrutura social de nossa disciplishyna quando os quantificadores estabelecem firme controle na produccedilatildeo de esshytudantes graduados e nos curriacuteculos dos vaacuterios departamentos Essa condiccedilatildeo socioloacutegica dentro da disciplina natildeo eacute suficiente para justificar uma revoluccedilatildeo no pensamento (nem deveria) mas a condiccedilatildeo existe Mais importante haacute clara disparidade entre a teoria sofisticada e a estrutura metodoloacutegica que esshytamos usando e nossa habilidade em dizer qualquer coisa realmente significashytiva sobre os eventos tais como eles se desenvolvem em torno de noacutes Haacute anomalias entre o que tentamos explicar e manipular e o que atualmente acontece Haacute um problema ecoloacutegico um problema urbano um problema de comeacutercio internacional e natildeo obstante parecemos incapazes de dizer qualquer coisa de fundo ou profundidade sobre qualquer deles Quando realshymente dizemos alguma coisa ela parece trivial e talvez ridiacutecula Em resumo nosso paradigma natildeo estaacute resistindo bem Ele estaacute maduro para cair As conshydiccedilotildees sociais objetivas demandam que digamos alguma coisa sensiacutevel ou coerente ou de uma vez para sempre (atraveacutes da ausecircncia de credibilidade ou mesmo pior atraveacutes da deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees sociais objetivas) per-

Como deveriacuteamos realizar tal revoluccedilatildeo Haacute um nuacutemero de medidas que poderiacuteamos tomar Poderiacuteamos como se sugeriu abandonar a base positishyvista do movimento quantitativo por um idealismo filosoacutefico abstrato e espeshyrar tanto que as condiccedilotildees sociais objetivas orientassem em direccedilatildeo agrave sua proacutepria soluccedilatildeo como que os conceitos forjados atraveacutes de modelos idealistas de pensamento alcanccedilassem eventualmente bastante conteuacutedo para facilitar a mudanccedila criativa das condiccedilotildees sociais objetivas Eacute contudo uma caracteshyriacutestica do idealismo que esteja para sempre destinado a buscar em vatildeo um conteuacutedo real Poderiacuteamos tambeacutem rejeitar as bases positivistas dos anos 60 por uma base fenomenoloacutegica Parece mais atrativo do que o procedimenshyto idealista desde que ao menos serve para manter-nos em contato com o conceito de homem como um ser em constante interaccedilatildeo sensiacutevel com as realidades sociais e naturais que o cercam Natildeo obstante a abordagem fenoshymenoloacutegica pode conduzir-nos ao idealismo ou de volta ao empirismo positishyvista ingecircnuo tatildeo facilmente quanto pode levar-nos a uma forma de materiashylismo socialmente acauteIadora A assim chamada revoluccedilatildeo behaviorista em geografia aponta em ambas as direccedilotildees PQr isso a estrateacutegia mais frutiacutefera nessa conjuntura eacute explorar aquela aacuterea do entendimento em que certos aspectos do positivismo materialismo e fenomenologia salientam-se em proshyver interpretaccedilotildees adequadas da realidade social na qual nos encontramos Esshysa saiacuteda eacute mais claramente explorada no pensamento marxista Marx nos Mashynuscritos Econoacutemicos e Filosoacuteficos de 1844 e na Ideologia Alemo deu a seu sistema de pensamento uma base fenomenoloacutegica poderosa e atraente

Haacute tambeacutem certas coisas que o marxismo e o positivismo tecircm em coshymum Ambos tecircm uma base materialista ~ ambos valem-se de um meacutetodo analiacutetico A diferenccedila essencial naturalmente eacute que o positivismo simplesshymente procura entender o mundo enquanto o marxismo busca mudaacute-lo Dishyto de outro modo o positivismo tira suas categorias e conceitos de uma reashylidade existente com todos os seus defeitos flnquanto as categorias e conceishytos marxistas satildeo formulados atraveacutes da apliccedilaccedilatildeo do meacutetodo dialeacutetico agrave hisshytoacuteria tal como este se desenvolve aqui e agora atraveacutes de acontecimentos e accedilotildees O meacutetodo positivista envolve por exemplo a aplicaccedilatildeo da loacutegica trashydicional bivalente aristoteacutelica para testar hipoacuteteses (a hipoacutetese nula da infeshyrecircncia estatlstica eacute uma invenccedilatildeo puramente aristoteacutelica) as hipoacuteteses natildeo satildeo nem verdadeiras nem falsas e uma vez categorizadas permanecem semshypre assim A dialeacutetica por outro lado propotildee um processo de entendimento que implica na interpenetraccedilatildeo dos contraacuterios nas contradiccedilotildees e paradoxos incorporados e indica o processo de resoluccedilatildeo Tanto quanto eacute relevante fashy

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lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

U6

diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

1 167

Page 2: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

CAPIacuteTULO IV

A Teoria Revolucionaacuteria e Contra-Revolucionaacuteria em Geografia e o Problema da Formaccedilatildeo do Gueto

Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico Para alcanccedilar alguma introspecccedilatildeo nesta questatildeo eacute conveniente examinar como ocorrem as revoluccedilotildees e contra-revoluccedilotildees em todos os ramos do pensamento cientiacutefico Kuhn (1962) oferece uma anaacutelise interesshysante desse fenocircmeno tal como ocorre nas ciecircncias naturais Ele sugere que a maior parte da atividade cientiacutefica eacute o que ele chama de ciecircncia de rotina Isso diz respeito agrave investigaccedilatildeo de todas as facetas de um paradigma partishycular (sendo um paradigma uma seacuterie de conceitos categorias relaccedilotildees e meacutetodos que satildeo geralmente aceitos por toda uma comunidade em dado momento no tempo) Na praacutetica da ciecircncia de rotina surgem certas anomalishyas observaccedilotildees ou paradoxos que natildeo podem ser resolvidos dentro de um paradigma existente Essas anomalias tornam-se o foco de crescente atenccedilatildeo ateacute que a ciecircncia eacute mergulhada em um periacuteodo de crise no qual satildeo feitos ensaios especulativos para resolver os problemas colocados pelas anomalias A partir desses ensaios surge eventualmente nova seacuterie de conceitos categorias relaccedilotildees e meacutetodos que resolvem os dilemas existentes com sucesso e ao mesmo tempo incorporam os aspectos perenes do velho parashydigma Assim um novo paradigma nasce e eacute seguido uma vez mais pelo desempenho da atividade cientiacutefica de rotina

O esquema de Kuhn eacute vulneraacutevel agrave criacutetica em certo nuacutemero de postushylaccedilotildees Discutirei brevemente dois problemas Primeiro natildeo haacute explicaccedilatildeo de como as anomalias surgem e corno uma vez surgidas geram crises Essa criacutetica poderia ser desenvolvida pela distinccedilatildeo entre anomalias significativas e insignificantes Por exemplo era sabido desde muitos anos que a oacuterbita de Mercuacuterio natildeo era adequada aos caacutelculos de Newton ainda que essa anomalia

I 103

fosse insignificante porque natildeo era relevante para o uso do sistema newtoniashyno num contexto cotidiano Se por exemplo certas anomalias tivessem surgishydo na construccedilatildeo de uma ponte elas entatildeo teriam sido obviamente julgadas alshytamente significativas Por isso o paradigma newtoniano permaneceu satisfashytoacuterio e inquestionaacutevel ateacute que algo relevante e de importacircncia praacutetica natildeo pushydesse ser realizado usando-se o sistema newtoniano Segundo haacute a questatildeo nunca respondida satisfatoriamente por Kuhn relativa ao modo pelo qual um novo paradigma torna-se aceito Kuhn admite que a aceitaccedilatildeo natildeo eacute assunto de loacutegica Sugere antes que isso envolve um ato de feacute Aquestatildeo contudo eacute que esse ato de feacute deveria fundamentar-se Percorrendo as entrelinhas da anaacutemiddot lise de Kuhn estaacute uma forccedila condutora que nunca eacute explicitamente examinashyda Essa forccedila condutora importa em uma crenccedila fundamental nas virtudes do controle e manipulaccedilatildeo do ambiente natural O ato de feacute aparentemente bashyseia-se na crenccedila de que o novo sistema permitiraacute a extensatildeo da manipulaccedilatildeo e controle a algum aspecto da natureza Qual aspecto da natureza Presumivelshymente seraacute uma vez mais um aspecto da natureza que eacute importante em termos de atividade e da vida cotidiana em um momento particular da histoacuteria

A criacutetica central a Kuhn que esses dois casos apontam eacute a abstraccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico de sua base materialista Kuhn oferece uma intershypretaccedilatildeo-idealista do lrogressocientiacutefico porquanto eacute claro que o pensamenshyto cientiacutefico estaacute fundamentalmente ligado a atividades naturais A base mashyterialista do avanccedilo do conhecimento cientiacutefico foi pesquisada por Bershynal(1971) A atividade material envolve a manipulaccedilatildeo da natureza no inteshyresse do homem e o entendimento cientiacutefico natildeo pode ser interpretado indeshypendentemente dessa imposiccedilatildeo geral Contudo nessa conjuntura somos forccedilados a acrescentar uma outra perspectiva porque o interesse do hoshymem estaacute sujeito a uma variedade de interpretaccedilotildees dependendo de que setor da sociedade estamos tratando Bernal indica que as ciecircncias no Ocishydente tecircm sido ateacute muito recentemente o apanaacutegio de um grupo de classe meacutedia e mesmo recentemente com o surgimento do que eacute muitas vezes chamado meritocracia o cientista eacute muitas vezes atraiacutedo para os modos de vida e de pensamento da classe meacutedia no curso de sua carreira Podemos pois esperar que as ciecircncias naturais tacitamente reflitam uma orientaccedilatildeo para a manipulaccedilatildeo e controle sobre aqueles aspectos de natureza que satildeo relevantes para a classe meacutedia Muito mais importante contudo eacute o enshyvolvimento da atividade cientiacutefica por um processo de patrociacutenio e pesquisa financiada no interesse especial daqueles que possuem o controle dos meios de produccedilatildeo A coalizatildeo de induacutestria e governo afeta fortemente a atividade cientiacutefica Consequumlentemente manipulaccedilatildeo e controle significam manishypulaccedilatildeo e controle no interesse de grupos particulares da sociedade (especifishycamente a comunidade industrial e financeira junto com a classe meacutedia)

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mais do que no interesse da sociedade como um todo (veja-se Bernal 1971 Rose e Rose 1969) Com essas perspectivas estamos melhor aparelhados pashyra compreender o trajeto geral do avanccedilo cientifico escondido nas revolushy

-J ccedilotildees cientiacuteficas recorrentes que Kuhn descreveu tatildeo perceptiva mente Tem sido questionado frequumlentemente se a anaacutelise de Kuhn poderia ser

estendida agraves ciecircncias sociais Parece que Kuhn considerou as ciecircncias sociais como preacute-cientiacuteficas no sentido de que nenhuma ciecircncia social estabeleshyceu realmente aquele corpo de conceitos geralmente aceitos categorias reshylaccedilotildees e meacutetodos que formam um paradigma Essa consideraccedilatildeo das ciecircncias sociais como preacute-cientiacuteficas eacute de fato bastante geral entre filoacutesofos da ciecircnshycia (veja-se Kuhn 1962 37 Nagel 1961) Contudo uma breve sondagem da histoacuteria do pensamento nas ciecircncias sociais mostra que as revoluccedilotildees cershytamente ocorrem e que elas satildeo marcadas por muitos dos mesmos aspectos que Kuhn identificou nas ciecircncias naturais Natildeo haacute duacutevida de que Adam Smith proviu uma formulaccedilatildeo paradigmaacutetica para o pensamento econocircmico que foi subsequumlentemente desenvolvida por Ricardo Nos tempos modernos

Imiddot Keynes teve ecircxito em realizar algo essencialmente similar a Smith e proviu uma formulaccedilatildeo paradigmaacutetica que dominou o pensamento econocircmico no Ocidente ateacute a presente data Johnson(1971) pesquisa tais revoluccedilotildees no pensamento em Economia Sua anaacutelise paralela em muitos aspectos agrave de Kuhn acrescenta contudo diversos contornos extras No coraccedilatildeo da revoshyluccedilatildeo keynesiana assegura Johnson estava uma crise gerada pela falha da economia preacute-keynesiana em lidar com o problema mais premente e signifishycativo dos anos 30 o desemprego Assim o desemprego tornou-se a anomashylia significativa Johnson sugere que haacute muito tempo a circunstacircncia mais feliz para a raacutepida propagaccedilatildeo de uma nova e revolucionaacuteria teoria eacute a existecircncia de uma ortodoxia estabelecida que eacute claramente inconsistente com os fatos mais salientes da realidade e aleacutem disso suficientemente conshyfiante em seu poder intelectual para tentar explicar aqueles fatos e em seus esforccedilos para assim proceder expotildee sua incompetecircncia de maneira ridiacutecula Assim as realidades sociais objetivas do tempo atingiram a sabedoria conshyvencional e serviram para expor suas falhas

Nesta situaccedilatildeo de confusatildeo geral e de oacutebvia irrelevacircncia da economia orshytodoxa em relaccedilatildeo a problemas reais o caminho estava aberto para uma nova teoria que ofereceu uma explicaccedilatildeo convincente da natureza do problema e uma seacuterie de prescriccedilotildees poliacuteticas baseadas naquela explicaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel a similaridade a Kuhn eacute bastante notaacutevel Mas Johnson entatildeo acrescenta novas consideraccedilotildees algumas das quais realmente resultam da proacutepria sociologia da ciecircncia Ele assegura que uma nova teoria aceita tinha que possuir cinco caracteriacutesticas principais

l 105

Primeiro tinha que atacar a proposiccedilatildeo central da ortodoxia conservashydora() com uma anaacutelise nova mas academicamente aceitaacutevel que inshyvertesse a proposiccedilatildeo( ) Segundo a teoria tinha que parecer nova embora absorvendo tanto quanto possiacutevel de vaacutelido ou pelo menos componentes natildeo prontamente disputaacuteveis da teoria ortodoxa existente Nesse processo ajuda muito dar a velhos conceitos nomes novos confusos e enfatizar como cruciais passos analiacuteticos que foram tomados previamente como vulgashyres ( ) Terceiro a nova teoria tinha que ter o grau apropriado de dificuldashyde de ser entendida ( ) para que colegas acadecircmicos mais velhos natildeo a achassem nem faacutecil nem interessante de estudar de modo que eles gastassem seus reforccedilos em assuntos teoacutericos perifeacutericos e entatildeo se expuzessem como alvos faacuteceis de critica e substituiccedilatildeo por seus colegas mais jovens e ansiosos_ Ao mesmo tempo a nova teoria tinha que parecer simultaneamente bastante difiacutecil para desafiar o interesse intelectual dos colegas mais jovens e estudantes e atual e faacutecil o bastante para conquistaacute-los adequadamente

com suficiente investimento de esforccedilo intelectual ( ) Quarto a nova teoria tinha a oferecer aos disciacutepulos mais dotados e menos oportunistas uma nova metodologia mais atraente do que as correntemente uacuteteis C) Finalmente (tinha para oferecer) urna relaccedilatildeo empiacuterica importante C) para medir

A histoacuteria do pensamento geograacutefico nos uacuteltimos dez anos estaacute exatamenshyte espelhada nessa anaacutelise A proposiccedilatildeo central da velha geografia era o qualitativo e o uacutenico Ela natildeo podia nitidamente resistir agrave orientaccedilatildeo das ciecircncias sociais como um todo em direccedilatildeo a instrumentos de manipulaccedilatildeo e controle social corno se requer para entendimento do quantitativo e do geral Nem pode haver qualquer duacutevida de que durante o processo de transiccedilatildeo veshylhos conceitos receberam nomes novos e confusos e que fraacutegeis acepccedilotildees vulgares foram objeto de rigorosa investigaccedilatildeo analiacutetica Aleacutem disso natildeo po de ser negado que a assim chamada revoluccedilatildeo quantitativa proporcionou a oportunidade de pocircr a descoberto os mais velhos apologistas da disciplina particularmente quando eles arriscavam-se em assuntos relacionados agrave nova ortodoxia emergente Certamente o movimento quantitativo propiciou urna mudanccedila de dificuldade adequada e abriu o panorama para novas metodoloshygias muitas das quais seriam amplamente recompensadas em termos das inshytrospecccedilotildees analiacuteticas que elas geram Por fim novas coisas por medir exisshytiam em abundacircncia e na funccedilatildeo distacircncia-decliacutenio no limiar na difusatildeo de um bem e na medida de padrotildees espaciais os geoacutegrafos encontraram quatro novos toacutepicos empiacutericos aparentemente cruciais com que eles podiam gastar urna enorme quantidade de tempo investigando O movimento quantitativo pode assim ser interpretado parcialmente em termos de mudanccedila de um novo conjunto de ideacuteias a serem respondidas parcialmente pelo menos como

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um esforccedilo de baixo niacutevel pelo poder e status dentro de uma estrutura discishyplinar e parcialmente como uma resposta a pressotildees externas para descobrir os meios de manipulaccedilatildeo e controle no que pale francamente ser definido

I-- corno o campo do planejamento No caso de middotalgueacutem interpretar estas obshyservaccedilotildees como estando eu apontando o dedo para qualquer grupo particular deixe-me dizer que todos noacutes fomos envolvidos nesse processo e que natildeo hashyvia e natildeo haacute modo pelo qual pudeacutessemos ou possamos escapar de tal envolvishymento

Johnson tambeacutem propotildee a expressatildeo contra-revoluccedilatildeo em sua anaacutelise A este propoacutesito seu pensamento natildeo eacute muito esclarecedor desde que ele nitidamente tem dificuldade em criticar os monetaristas que designa coshymo contra-revolucionaacuterios mes~o que uma anomalia significativa exista (a

~ 11 bull

combinaccedilatildeo de inflaccedilatildeo e desemprego) como uma forte mudanccedila em relaccedilatildeo agrave ortodoxia keynesiana Mas haacute algo rnJlito importante neste ponto que reshyquer anaacutelise Parece intuitivamente plaacuteu~iacutevel pensar a respeito do movishymento de ideacuteias nas ciecircncias sociais erilum movimento baseado em revolushyccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo em contraste com as ciecircncias naturais para as quais a noccedilatildeo natildeo parece tatildeo imediatamente aplicaacuteveL

Podemos analisar o fenocircmeno da contra-revoluccedilatildeo voltando nossa introsshypecccedilatildeo para a formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircncias naturais Este baseia-se na extensatildeo da habilidade do homem em manipular e controlar naturalmente o fenocircmeno ocorrido Similarmente podemos antecipar que a forccedila dirigente por traacutes da formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircoacutecias sociais eacute o desejo de manipushylar e controlar a atividade humana e os fenotildemenos sociais no interesse do homem A questatildeo que surge imediatamente eacute a de quem estaacute controlando quem em interesse de quem estaacute sendo exercido o controle e se o controle eacute exercido no interesse de todos quem estaacute se atribuindo definir o interesse puacuteblico Somos assim forccedilados a confrontar diretamente nas ciecircncias sociais o que surge apenas indiretamente principalmente as bases e implicaccedilotildees soshyciais do controle e da manipulaccedilatildeo Seria extraordinariamente tolo pressupor que essas bases estatildeo igualmente distribuiacutedas por toda a sociedade Nossa histoacuteria mostra que usualmente essas bases estatildeo altamente concentradas dentro de poucos grupos chaves na sociedade Esses grupos podem ser beneshyvolentes ou agressivos a respeito de outros grupos Este contudo natildeo eacute o ponto A questatildeo eacute que a ciecircncia social formula conceitos categorias relashyccedilotildees e meacutetodos que natildeo satildeo independentes das relaccedilotildees sociais existentes Como tais os conceitos satildeo o produto dos verdadeiros fenocircmenos que eles se destinam a descrever Uma teoria revolucionaacuteria sobre a qual baseia-se um novo paradigma ganharaacute aceitaccedilatildeo geral somente se a natureza das relaccedilotildees sociais englobadas na teoria satildeo atuais no mundo real Uma teoria contra-reshyvolucionaacuteria eacute deliberadamente proposta em relaccedilatildeo agrave teoria revolucionaacuteria

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de tal modo que as mudanccedilas sociais ameaccediladoras que a teoria revolucionaacuteria geraria com aceitaccedilatildeo geral quer por cooptaccedilatildeo ou subversatildeo satildeo impossishybilitadls de se realizar

Esse processo de revoluccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo na ciecircncia social estaacute expliacuteshycito no relacionamento entre as teorias econocircmicas e politicas de Adam Smith e Ricardo e as de Karl Marx sobre as quais Engels em seu prefaacutecio ao volume 2 de O Copitol fornece algumas introspecccedilotildees bastante extraordinaacuteshyrias (veja Althusser e Balitar 1970) Estava em questatildeo se Marx tinha plashygiado a teoria da mais-valia Marx contudo reconheceu claramente que tanto Adam Smiacuteth como Ricardo haviam discutido e parcialmente entendido a natureza da mais-valia Engels manifestou-se para explicar o que era novo na exposiccedilatildeo de Marx sobre a mais-valia e como foi que a teoria da mais-vashylia de Marx abalou a terra corno um raio surgido de um ceacuteu liacutempido Para fazer isso ele descreve um incidente na histoacuteria da quiacutemica coincishydentemente isso se tornou uma das inspiraccedilotildees para a tese de Kuhn(12 52-6) relativa agrave estrutura das revoluccedilotildees nas ciecircncias naturais - concernente ao relacionamento entre Lavoisier e Priestley na descoberta do oxigecircnio Ambos realizaram experimentos similares e produziram resultados similashyres Contudo havia uma diferenccedila essencial entre eles Priestley insistiu no resto de sua vida em interpretar seus resultados em termos da velha teoria flogiacutestica e por isso chamou sua descoberta de ar deflogistificado Lavoishysier por sua parte reconheceu que sua descoberta natildeo podia conciliar-se com a teoria flogiacutestica existente como consequumlecircncia conseguiu reconstruir a estrutura teoacuterica da quiacutemica em uma base completamente nova Assim Engels e Kuhn depois dele postulou que Lavoisier era o real descobridor do oxigecircnio em confronto com os outros que tinham somente produzido-o sem saber o que tinham produzido Engels continua Marx coloca-se na mesma relaccedilatildeo com seus predecessores na teoria da mais-valia como Lavoishysier se colocou ante Pricstley ( ) A existecircncia daquela parte do valor dos produtos que chamamos mais-valia tinha sido comprovada muito antes de Marx E mesmo assim tinha sido colocado com mais ou menos precisatildeo em que consistia ( ) Mas natildeo se ia mais adiante ( ) (todos os economistas) permaneciam prisioneiros das categorias econocircmicas tais como elas tinham surgido para eles Entatildeo surgiu Marx em cena E ele assumiu a posiccedilatildeo dishyretamente oposta a de seus predecessores O que eles tinham olhado como soluccedilt1o ele considerou como um problema Ele viu que natildeo tinha que lidar nem com ar deflogistificado nem com ar em combustatildeo mas com oxigecircnio que aqui natildeo se tratava da questatildeo de expor um fato econocircmico ou de aponshytar o conflito entre esse fato e a justiccedila e moralidade eternas mas de explicar um fato que se ofereci~ a ele que sabia como usaacute-lo uma chave para a comshypreensatildeo de toda a produccedilatildeo capitalista Com esse fato como ponto de partishy

da ele examinou todas as categorias econocircmicas que encontrou aacute matildeo como Lavoisier procedeu com o oxigecircnio examinando as categorias da quimica flogiacutestica(Marx Copital Volume 2 11-18)

+-- A teoria marxista era nitidamente perigosa porque fornecia a chave do entendimento da produccedilatildeo capitalista da posiccedilatildeo daqueles que MO controlashyvam os meios de produccedilatildeo Consequumlentemente as categorias conceitos reshylaccedilotildees e meacutetodos que tinham o potencial para formar novo paradigma eram uma enorme ameaccedila para a estrutura de poder do mundo capitalista A emergecircncia subsequumlente da teoria marginal do valor (especialmente na escola austriacuteaca de economistas tais como BOhm-Bawerk e Menger) abandonou muito das bases das anaacutelises de Smith e Ricardo(em particular a teoria do valor trabalho) e tambeacutem incidentalmente serviu para rejeitar a mudanccedila marxista na Economia A cooptaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria da teoria marxista na Ruacutessia depois da morte de Lenin e uma cooptaccedilatildeo similar contra-revolushycionaacuteria de grande parte da linguagem marxista na sociologia Ocidental(tanshyto que alguns socioacutelogos sugerem que todos somos marxistas agora) sem considerar a essecircncia do pensamento marxista evitou efetivamente o verdashy

I

deiro florescimento do pensamento marxista e concomitantemente a emer gecircncia daquela sociedade humanizada que Marx visualizou Tanto os conshyceitos como o projetado relacionamento social contido nos conceitos foram frustrados

A revoluccedilatildeo e a contra-revoluccedilatildeo no pensamento satildeo por isso caracteriacutesshyticas das ciecircncias sociais de um modo que aparentemente natildeo eacute caracteriacutestishyco das ciecircncias naturais As revoluccedilotildees no pensamento natildeo podem em uacuteltishyma instacircncia ser separadas das revoluccedilotildees na praacutetica Isso pode sugerir a conclusatildeo de que as ciecircncias sociais estatildeo certamente num estaacutegio preacute-cientishyfico A conclusatildeo estaacute mal fundamentada contudo desde que as ciecircncias nashyturais nuncagrave foram arrebatadas em nenhum momento do controle de um grupo restrito de interesse Eacute esse fato mais do que qualquer coisa inerente agrave natureza da proacutepria ciecircncia natural que conta para a ausecircncia de contra-reshyvoluccedilotildees nas ciecircncias naturais Em outras palavras as revoluccedilotildees do pensashymento que ocorrem nas ciecircncias naturais natildeo colocam nenhuma ameaccedila para a ordem existente desde que elas satildeo construiacutedas amplamente com os requishysitos dessa ordem existente na mente Natildeo quero dizer que natildeo haja alguns problemas sociais desconfortaacuteveis para resolver no processo porque a descoshyberta cientiacutefica natildeo eacute previsiacutevel e pode por isso ser fonte de tensatildeo social O que isso sugere contudo eacute que as ciecircncias naturais estatildeo em um estaacutegio preacute-social Consequumlentemente as questotildees de accedilatildeo social e controle social que as teacutecnicas damiddotciecircncia natural frequumlentemente ajudam a resolver natildeo satildeo incorporadas na proacutepria ciecircncia natural De fato haacute certo fetichismo em manter assuntos sociais fora das ciecircncias naturais desde que sua incorporaccedilatildeo

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suporia ulsvios decirc pesquisa para o comando da ordem social existente Os manecer em silecircncio Satildeo as condiccedilotildees sociais objetivas emergentes e nossa dilemas morais resultantes para os cientistas que assumem suaresponsabilishy patente inabilidade em combatecirc-Ias que essencialmente explicam a necessidashydade social seriamente satildeo certamente reais Ao contraacuterio da opiniatildeo popushy de de uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico lar por isso parece apropriado concluir que a filosofia da ciecircncia social eacute poshy -i tencialmente muito superior agrave da ciecircncia natural e que a fusatildeo eventual dos dois campos de estudo divulgar-se-ia natildeo atraveacutes de tentativas de cientifishyzar a ciecircncia social mas ao contraacuterio pela socializaccedilatildeo da ciecircncia natural (veja-se Marx Economic anti Philosofic Manuscripts of 1844 164) Isso pode significar a s-lbstituiccedilatildeo da manipulaccedilatildeo e controle com a realizaccedilatildeo do potencial humano como criteacuterio baacutesico para a aceitaccedilatildeo do paradigma Em tal ocorrecircncia todos os aspectos da ciecircncia experimentariam fases tanto revoshylucionaacuterias como contra-revolucionaacuterias do pensamento que estariam indushybitavelmente associadas a mudanccedilas revolucionaacuterias na praacutetica social

Retornemos agora agrave questatildeo inicial Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico A revoluccedilatildeo quantitativa pershycorreu seu curso e natildeo considerando retornos marginais estaacute aparentemenshyte consolidada natildeo obstante outro exemplo de ecologia fatorial uma outra tentativa de medir o efeito de distacircncia-decliacutenio outra tentativa de identificar a difusatildeo de um bem servem para dizer-nos menos a respeito de qualquer coisa de grande relevacircncia Em adiccedilatildeo haacute jovens geoacutegrafos agora tatildeo ambishyciosos quanto eram os quantificadores na deacutecada de 60 um pouco famintos por reconhecimento e um pouco desencantados com o que fazer Assim haacute murmuacuterios de descontentamento dentro da estrutura social de nossa disciplishyna quando os quantificadores estabelecem firme controle na produccedilatildeo de esshytudantes graduados e nos curriacuteculos dos vaacuterios departamentos Essa condiccedilatildeo socioloacutegica dentro da disciplina natildeo eacute suficiente para justificar uma revoluccedilatildeo no pensamento (nem deveria) mas a condiccedilatildeo existe Mais importante haacute clara disparidade entre a teoria sofisticada e a estrutura metodoloacutegica que esshytamos usando e nossa habilidade em dizer qualquer coisa realmente significashytiva sobre os eventos tais como eles se desenvolvem em torno de noacutes Haacute anomalias entre o que tentamos explicar e manipular e o que atualmente acontece Haacute um problema ecoloacutegico um problema urbano um problema de comeacutercio internacional e natildeo obstante parecemos incapazes de dizer qualquer coisa de fundo ou profundidade sobre qualquer deles Quando realshymente dizemos alguma coisa ela parece trivial e talvez ridiacutecula Em resumo nosso paradigma natildeo estaacute resistindo bem Ele estaacute maduro para cair As conshydiccedilotildees sociais objetivas demandam que digamos alguma coisa sensiacutevel ou coerente ou de uma vez para sempre (atraveacutes da ausecircncia de credibilidade ou mesmo pior atraveacutes da deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees sociais objetivas) per-

Como deveriacuteamos realizar tal revoluccedilatildeo Haacute um nuacutemero de medidas que poderiacuteamos tomar Poderiacuteamos como se sugeriu abandonar a base positishyvista do movimento quantitativo por um idealismo filosoacutefico abstrato e espeshyrar tanto que as condiccedilotildees sociais objetivas orientassem em direccedilatildeo agrave sua proacutepria soluccedilatildeo como que os conceitos forjados atraveacutes de modelos idealistas de pensamento alcanccedilassem eventualmente bastante conteuacutedo para facilitar a mudanccedila criativa das condiccedilotildees sociais objetivas Eacute contudo uma caracteshyriacutestica do idealismo que esteja para sempre destinado a buscar em vatildeo um conteuacutedo real Poderiacuteamos tambeacutem rejeitar as bases positivistas dos anos 60 por uma base fenomenoloacutegica Parece mais atrativo do que o procedimenshyto idealista desde que ao menos serve para manter-nos em contato com o conceito de homem como um ser em constante interaccedilatildeo sensiacutevel com as realidades sociais e naturais que o cercam Natildeo obstante a abordagem fenoshymenoloacutegica pode conduzir-nos ao idealismo ou de volta ao empirismo positishyvista ingecircnuo tatildeo facilmente quanto pode levar-nos a uma forma de materiashylismo socialmente acauteIadora A assim chamada revoluccedilatildeo behaviorista em geografia aponta em ambas as direccedilotildees PQr isso a estrateacutegia mais frutiacutefera nessa conjuntura eacute explorar aquela aacuterea do entendimento em que certos aspectos do positivismo materialismo e fenomenologia salientam-se em proshyver interpretaccedilotildees adequadas da realidade social na qual nos encontramos Esshysa saiacuteda eacute mais claramente explorada no pensamento marxista Marx nos Mashynuscritos Econoacutemicos e Filosoacuteficos de 1844 e na Ideologia Alemo deu a seu sistema de pensamento uma base fenomenoloacutegica poderosa e atraente

Haacute tambeacutem certas coisas que o marxismo e o positivismo tecircm em coshymum Ambos tecircm uma base materialista ~ ambos valem-se de um meacutetodo analiacutetico A diferenccedila essencial naturalmente eacute que o positivismo simplesshymente procura entender o mundo enquanto o marxismo busca mudaacute-lo Dishyto de outro modo o positivismo tira suas categorias e conceitos de uma reashylidade existente com todos os seus defeitos flnquanto as categorias e conceishytos marxistas satildeo formulados atraveacutes da apliccedilaccedilatildeo do meacutetodo dialeacutetico agrave hisshytoacuteria tal como este se desenvolve aqui e agora atraveacutes de acontecimentos e accedilotildees O meacutetodo positivista envolve por exemplo a aplicaccedilatildeo da loacutegica trashydicional bivalente aristoteacutelica para testar hipoacuteteses (a hipoacutetese nula da infeshyrecircncia estatlstica eacute uma invenccedilatildeo puramente aristoteacutelica) as hipoacuteteses natildeo satildeo nem verdadeiras nem falsas e uma vez categorizadas permanecem semshypre assim A dialeacutetica por outro lado propotildee um processo de entendimento que implica na interpenetraccedilatildeo dos contraacuterios nas contradiccedilotildees e paradoxos incorporados e indica o processo de resoluccedilatildeo Tanto quanto eacute relevante fashy

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lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

U6

diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 3: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

fosse insignificante porque natildeo era relevante para o uso do sistema newtoniashyno num contexto cotidiano Se por exemplo certas anomalias tivessem surgishydo na construccedilatildeo de uma ponte elas entatildeo teriam sido obviamente julgadas alshytamente significativas Por isso o paradigma newtoniano permaneceu satisfashytoacuterio e inquestionaacutevel ateacute que algo relevante e de importacircncia praacutetica natildeo pushydesse ser realizado usando-se o sistema newtoniano Segundo haacute a questatildeo nunca respondida satisfatoriamente por Kuhn relativa ao modo pelo qual um novo paradigma torna-se aceito Kuhn admite que a aceitaccedilatildeo natildeo eacute assunto de loacutegica Sugere antes que isso envolve um ato de feacute Aquestatildeo contudo eacute que esse ato de feacute deveria fundamentar-se Percorrendo as entrelinhas da anaacutemiddot lise de Kuhn estaacute uma forccedila condutora que nunca eacute explicitamente examinashyda Essa forccedila condutora importa em uma crenccedila fundamental nas virtudes do controle e manipulaccedilatildeo do ambiente natural O ato de feacute aparentemente bashyseia-se na crenccedila de que o novo sistema permitiraacute a extensatildeo da manipulaccedilatildeo e controle a algum aspecto da natureza Qual aspecto da natureza Presumivelshymente seraacute uma vez mais um aspecto da natureza que eacute importante em termos de atividade e da vida cotidiana em um momento particular da histoacuteria

A criacutetica central a Kuhn que esses dois casos apontam eacute a abstraccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico de sua base materialista Kuhn oferece uma intershypretaccedilatildeo-idealista do lrogressocientiacutefico porquanto eacute claro que o pensamenshyto cientiacutefico estaacute fundamentalmente ligado a atividades naturais A base mashyterialista do avanccedilo do conhecimento cientiacutefico foi pesquisada por Bershynal(1971) A atividade material envolve a manipulaccedilatildeo da natureza no inteshyresse do homem e o entendimento cientiacutefico natildeo pode ser interpretado indeshypendentemente dessa imposiccedilatildeo geral Contudo nessa conjuntura somos forccedilados a acrescentar uma outra perspectiva porque o interesse do hoshymem estaacute sujeito a uma variedade de interpretaccedilotildees dependendo de que setor da sociedade estamos tratando Bernal indica que as ciecircncias no Ocishydente tecircm sido ateacute muito recentemente o apanaacutegio de um grupo de classe meacutedia e mesmo recentemente com o surgimento do que eacute muitas vezes chamado meritocracia o cientista eacute muitas vezes atraiacutedo para os modos de vida e de pensamento da classe meacutedia no curso de sua carreira Podemos pois esperar que as ciecircncias naturais tacitamente reflitam uma orientaccedilatildeo para a manipulaccedilatildeo e controle sobre aqueles aspectos de natureza que satildeo relevantes para a classe meacutedia Muito mais importante contudo eacute o enshyvolvimento da atividade cientiacutefica por um processo de patrociacutenio e pesquisa financiada no interesse especial daqueles que possuem o controle dos meios de produccedilatildeo A coalizatildeo de induacutestria e governo afeta fortemente a atividade cientiacutefica Consequumlentemente manipulaccedilatildeo e controle significam manishypulaccedilatildeo e controle no interesse de grupos particulares da sociedade (especifishycamente a comunidade industrial e financeira junto com a classe meacutedia)

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mais do que no interesse da sociedade como um todo (veja-se Bernal 1971 Rose e Rose 1969) Com essas perspectivas estamos melhor aparelhados pashyra compreender o trajeto geral do avanccedilo cientifico escondido nas revolushy

-J ccedilotildees cientiacuteficas recorrentes que Kuhn descreveu tatildeo perceptiva mente Tem sido questionado frequumlentemente se a anaacutelise de Kuhn poderia ser

estendida agraves ciecircncias sociais Parece que Kuhn considerou as ciecircncias sociais como preacute-cientiacuteficas no sentido de que nenhuma ciecircncia social estabeleshyceu realmente aquele corpo de conceitos geralmente aceitos categorias reshylaccedilotildees e meacutetodos que formam um paradigma Essa consideraccedilatildeo das ciecircncias sociais como preacute-cientiacuteficas eacute de fato bastante geral entre filoacutesofos da ciecircnshycia (veja-se Kuhn 1962 37 Nagel 1961) Contudo uma breve sondagem da histoacuteria do pensamento nas ciecircncias sociais mostra que as revoluccedilotildees cershytamente ocorrem e que elas satildeo marcadas por muitos dos mesmos aspectos que Kuhn identificou nas ciecircncias naturais Natildeo haacute duacutevida de que Adam Smith proviu uma formulaccedilatildeo paradigmaacutetica para o pensamento econocircmico que foi subsequumlentemente desenvolvida por Ricardo Nos tempos modernos

Imiddot Keynes teve ecircxito em realizar algo essencialmente similar a Smith e proviu uma formulaccedilatildeo paradigmaacutetica que dominou o pensamento econocircmico no Ocidente ateacute a presente data Johnson(1971) pesquisa tais revoluccedilotildees no pensamento em Economia Sua anaacutelise paralela em muitos aspectos agrave de Kuhn acrescenta contudo diversos contornos extras No coraccedilatildeo da revoshyluccedilatildeo keynesiana assegura Johnson estava uma crise gerada pela falha da economia preacute-keynesiana em lidar com o problema mais premente e signifishycativo dos anos 30 o desemprego Assim o desemprego tornou-se a anomashylia significativa Johnson sugere que haacute muito tempo a circunstacircncia mais feliz para a raacutepida propagaccedilatildeo de uma nova e revolucionaacuteria teoria eacute a existecircncia de uma ortodoxia estabelecida que eacute claramente inconsistente com os fatos mais salientes da realidade e aleacutem disso suficientemente conshyfiante em seu poder intelectual para tentar explicar aqueles fatos e em seus esforccedilos para assim proceder expotildee sua incompetecircncia de maneira ridiacutecula Assim as realidades sociais objetivas do tempo atingiram a sabedoria conshyvencional e serviram para expor suas falhas

Nesta situaccedilatildeo de confusatildeo geral e de oacutebvia irrelevacircncia da economia orshytodoxa em relaccedilatildeo a problemas reais o caminho estava aberto para uma nova teoria que ofereceu uma explicaccedilatildeo convincente da natureza do problema e uma seacuterie de prescriccedilotildees poliacuteticas baseadas naquela explicaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel a similaridade a Kuhn eacute bastante notaacutevel Mas Johnson entatildeo acrescenta novas consideraccedilotildees algumas das quais realmente resultam da proacutepria sociologia da ciecircncia Ele assegura que uma nova teoria aceita tinha que possuir cinco caracteriacutesticas principais

l 105

Primeiro tinha que atacar a proposiccedilatildeo central da ortodoxia conservashydora() com uma anaacutelise nova mas academicamente aceitaacutevel que inshyvertesse a proposiccedilatildeo( ) Segundo a teoria tinha que parecer nova embora absorvendo tanto quanto possiacutevel de vaacutelido ou pelo menos componentes natildeo prontamente disputaacuteveis da teoria ortodoxa existente Nesse processo ajuda muito dar a velhos conceitos nomes novos confusos e enfatizar como cruciais passos analiacuteticos que foram tomados previamente como vulgashyres ( ) Terceiro a nova teoria tinha que ter o grau apropriado de dificuldashyde de ser entendida ( ) para que colegas acadecircmicos mais velhos natildeo a achassem nem faacutecil nem interessante de estudar de modo que eles gastassem seus reforccedilos em assuntos teoacutericos perifeacutericos e entatildeo se expuzessem como alvos faacuteceis de critica e substituiccedilatildeo por seus colegas mais jovens e ansiosos_ Ao mesmo tempo a nova teoria tinha que parecer simultaneamente bastante difiacutecil para desafiar o interesse intelectual dos colegas mais jovens e estudantes e atual e faacutecil o bastante para conquistaacute-los adequadamente

com suficiente investimento de esforccedilo intelectual ( ) Quarto a nova teoria tinha a oferecer aos disciacutepulos mais dotados e menos oportunistas uma nova metodologia mais atraente do que as correntemente uacuteteis C) Finalmente (tinha para oferecer) urna relaccedilatildeo empiacuterica importante C) para medir

A histoacuteria do pensamento geograacutefico nos uacuteltimos dez anos estaacute exatamenshyte espelhada nessa anaacutelise A proposiccedilatildeo central da velha geografia era o qualitativo e o uacutenico Ela natildeo podia nitidamente resistir agrave orientaccedilatildeo das ciecircncias sociais como um todo em direccedilatildeo a instrumentos de manipulaccedilatildeo e controle social corno se requer para entendimento do quantitativo e do geral Nem pode haver qualquer duacutevida de que durante o processo de transiccedilatildeo veshylhos conceitos receberam nomes novos e confusos e que fraacutegeis acepccedilotildees vulgares foram objeto de rigorosa investigaccedilatildeo analiacutetica Aleacutem disso natildeo po de ser negado que a assim chamada revoluccedilatildeo quantitativa proporcionou a oportunidade de pocircr a descoberto os mais velhos apologistas da disciplina particularmente quando eles arriscavam-se em assuntos relacionados agrave nova ortodoxia emergente Certamente o movimento quantitativo propiciou urna mudanccedila de dificuldade adequada e abriu o panorama para novas metodoloshygias muitas das quais seriam amplamente recompensadas em termos das inshytrospecccedilotildees analiacuteticas que elas geram Por fim novas coisas por medir exisshytiam em abundacircncia e na funccedilatildeo distacircncia-decliacutenio no limiar na difusatildeo de um bem e na medida de padrotildees espaciais os geoacutegrafos encontraram quatro novos toacutepicos empiacutericos aparentemente cruciais com que eles podiam gastar urna enorme quantidade de tempo investigando O movimento quantitativo pode assim ser interpretado parcialmente em termos de mudanccedila de um novo conjunto de ideacuteias a serem respondidas parcialmente pelo menos como

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um esforccedilo de baixo niacutevel pelo poder e status dentro de uma estrutura discishyplinar e parcialmente como uma resposta a pressotildees externas para descobrir os meios de manipulaccedilatildeo e controle no que pale francamente ser definido

I-- corno o campo do planejamento No caso de middotalgueacutem interpretar estas obshyservaccedilotildees como estando eu apontando o dedo para qualquer grupo particular deixe-me dizer que todos noacutes fomos envolvidos nesse processo e que natildeo hashyvia e natildeo haacute modo pelo qual pudeacutessemos ou possamos escapar de tal envolvishymento

Johnson tambeacutem propotildee a expressatildeo contra-revoluccedilatildeo em sua anaacutelise A este propoacutesito seu pensamento natildeo eacute muito esclarecedor desde que ele nitidamente tem dificuldade em criticar os monetaristas que designa coshymo contra-revolucionaacuterios mes~o que uma anomalia significativa exista (a

~ 11 bull

combinaccedilatildeo de inflaccedilatildeo e desemprego) como uma forte mudanccedila em relaccedilatildeo agrave ortodoxia keynesiana Mas haacute algo rnJlito importante neste ponto que reshyquer anaacutelise Parece intuitivamente plaacuteu~iacutevel pensar a respeito do movishymento de ideacuteias nas ciecircncias sociais erilum movimento baseado em revolushyccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo em contraste com as ciecircncias naturais para as quais a noccedilatildeo natildeo parece tatildeo imediatamente aplicaacuteveL

Podemos analisar o fenocircmeno da contra-revoluccedilatildeo voltando nossa introsshypecccedilatildeo para a formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircncias naturais Este baseia-se na extensatildeo da habilidade do homem em manipular e controlar naturalmente o fenocircmeno ocorrido Similarmente podemos antecipar que a forccedila dirigente por traacutes da formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircoacutecias sociais eacute o desejo de manipushylar e controlar a atividade humana e os fenotildemenos sociais no interesse do homem A questatildeo que surge imediatamente eacute a de quem estaacute controlando quem em interesse de quem estaacute sendo exercido o controle e se o controle eacute exercido no interesse de todos quem estaacute se atribuindo definir o interesse puacuteblico Somos assim forccedilados a confrontar diretamente nas ciecircncias sociais o que surge apenas indiretamente principalmente as bases e implicaccedilotildees soshyciais do controle e da manipulaccedilatildeo Seria extraordinariamente tolo pressupor que essas bases estatildeo igualmente distribuiacutedas por toda a sociedade Nossa histoacuteria mostra que usualmente essas bases estatildeo altamente concentradas dentro de poucos grupos chaves na sociedade Esses grupos podem ser beneshyvolentes ou agressivos a respeito de outros grupos Este contudo natildeo eacute o ponto A questatildeo eacute que a ciecircncia social formula conceitos categorias relashyccedilotildees e meacutetodos que natildeo satildeo independentes das relaccedilotildees sociais existentes Como tais os conceitos satildeo o produto dos verdadeiros fenocircmenos que eles se destinam a descrever Uma teoria revolucionaacuteria sobre a qual baseia-se um novo paradigma ganharaacute aceitaccedilatildeo geral somente se a natureza das relaccedilotildees sociais englobadas na teoria satildeo atuais no mundo real Uma teoria contra-reshyvolucionaacuteria eacute deliberadamente proposta em relaccedilatildeo agrave teoria revolucionaacuteria

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de tal modo que as mudanccedilas sociais ameaccediladoras que a teoria revolucionaacuteria geraria com aceitaccedilatildeo geral quer por cooptaccedilatildeo ou subversatildeo satildeo impossishybilitadls de se realizar

Esse processo de revoluccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo na ciecircncia social estaacute expliacuteshycito no relacionamento entre as teorias econocircmicas e politicas de Adam Smith e Ricardo e as de Karl Marx sobre as quais Engels em seu prefaacutecio ao volume 2 de O Copitol fornece algumas introspecccedilotildees bastante extraordinaacuteshyrias (veja Althusser e Balitar 1970) Estava em questatildeo se Marx tinha plashygiado a teoria da mais-valia Marx contudo reconheceu claramente que tanto Adam Smiacuteth como Ricardo haviam discutido e parcialmente entendido a natureza da mais-valia Engels manifestou-se para explicar o que era novo na exposiccedilatildeo de Marx sobre a mais-valia e como foi que a teoria da mais-vashylia de Marx abalou a terra corno um raio surgido de um ceacuteu liacutempido Para fazer isso ele descreve um incidente na histoacuteria da quiacutemica coincishydentemente isso se tornou uma das inspiraccedilotildees para a tese de Kuhn(12 52-6) relativa agrave estrutura das revoluccedilotildees nas ciecircncias naturais - concernente ao relacionamento entre Lavoisier e Priestley na descoberta do oxigecircnio Ambos realizaram experimentos similares e produziram resultados similashyres Contudo havia uma diferenccedila essencial entre eles Priestley insistiu no resto de sua vida em interpretar seus resultados em termos da velha teoria flogiacutestica e por isso chamou sua descoberta de ar deflogistificado Lavoishysier por sua parte reconheceu que sua descoberta natildeo podia conciliar-se com a teoria flogiacutestica existente como consequumlecircncia conseguiu reconstruir a estrutura teoacuterica da quiacutemica em uma base completamente nova Assim Engels e Kuhn depois dele postulou que Lavoisier era o real descobridor do oxigecircnio em confronto com os outros que tinham somente produzido-o sem saber o que tinham produzido Engels continua Marx coloca-se na mesma relaccedilatildeo com seus predecessores na teoria da mais-valia como Lavoishysier se colocou ante Pricstley ( ) A existecircncia daquela parte do valor dos produtos que chamamos mais-valia tinha sido comprovada muito antes de Marx E mesmo assim tinha sido colocado com mais ou menos precisatildeo em que consistia ( ) Mas natildeo se ia mais adiante ( ) (todos os economistas) permaneciam prisioneiros das categorias econocircmicas tais como elas tinham surgido para eles Entatildeo surgiu Marx em cena E ele assumiu a posiccedilatildeo dishyretamente oposta a de seus predecessores O que eles tinham olhado como soluccedilt1o ele considerou como um problema Ele viu que natildeo tinha que lidar nem com ar deflogistificado nem com ar em combustatildeo mas com oxigecircnio que aqui natildeo se tratava da questatildeo de expor um fato econocircmico ou de aponshytar o conflito entre esse fato e a justiccedila e moralidade eternas mas de explicar um fato que se ofereci~ a ele que sabia como usaacute-lo uma chave para a comshypreensatildeo de toda a produccedilatildeo capitalista Com esse fato como ponto de partishy

da ele examinou todas as categorias econocircmicas que encontrou aacute matildeo como Lavoisier procedeu com o oxigecircnio examinando as categorias da quimica flogiacutestica(Marx Copital Volume 2 11-18)

+-- A teoria marxista era nitidamente perigosa porque fornecia a chave do entendimento da produccedilatildeo capitalista da posiccedilatildeo daqueles que MO controlashyvam os meios de produccedilatildeo Consequumlentemente as categorias conceitos reshylaccedilotildees e meacutetodos que tinham o potencial para formar novo paradigma eram uma enorme ameaccedila para a estrutura de poder do mundo capitalista A emergecircncia subsequumlente da teoria marginal do valor (especialmente na escola austriacuteaca de economistas tais como BOhm-Bawerk e Menger) abandonou muito das bases das anaacutelises de Smith e Ricardo(em particular a teoria do valor trabalho) e tambeacutem incidentalmente serviu para rejeitar a mudanccedila marxista na Economia A cooptaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria da teoria marxista na Ruacutessia depois da morte de Lenin e uma cooptaccedilatildeo similar contra-revolushycionaacuteria de grande parte da linguagem marxista na sociologia Ocidental(tanshyto que alguns socioacutelogos sugerem que todos somos marxistas agora) sem considerar a essecircncia do pensamento marxista evitou efetivamente o verdashy

I

deiro florescimento do pensamento marxista e concomitantemente a emer gecircncia daquela sociedade humanizada que Marx visualizou Tanto os conshyceitos como o projetado relacionamento social contido nos conceitos foram frustrados

A revoluccedilatildeo e a contra-revoluccedilatildeo no pensamento satildeo por isso caracteriacutesshyticas das ciecircncias sociais de um modo que aparentemente natildeo eacute caracteriacutestishyco das ciecircncias naturais As revoluccedilotildees no pensamento natildeo podem em uacuteltishyma instacircncia ser separadas das revoluccedilotildees na praacutetica Isso pode sugerir a conclusatildeo de que as ciecircncias sociais estatildeo certamente num estaacutegio preacute-cientishyfico A conclusatildeo estaacute mal fundamentada contudo desde que as ciecircncias nashyturais nuncagrave foram arrebatadas em nenhum momento do controle de um grupo restrito de interesse Eacute esse fato mais do que qualquer coisa inerente agrave natureza da proacutepria ciecircncia natural que conta para a ausecircncia de contra-reshyvoluccedilotildees nas ciecircncias naturais Em outras palavras as revoluccedilotildees do pensashymento que ocorrem nas ciecircncias naturais natildeo colocam nenhuma ameaccedila para a ordem existente desde que elas satildeo construiacutedas amplamente com os requishysitos dessa ordem existente na mente Natildeo quero dizer que natildeo haja alguns problemas sociais desconfortaacuteveis para resolver no processo porque a descoshyberta cientiacutefica natildeo eacute previsiacutevel e pode por isso ser fonte de tensatildeo social O que isso sugere contudo eacute que as ciecircncias naturais estatildeo em um estaacutegio preacute-social Consequumlentemente as questotildees de accedilatildeo social e controle social que as teacutecnicas damiddotciecircncia natural frequumlentemente ajudam a resolver natildeo satildeo incorporadas na proacutepria ciecircncia natural De fato haacute certo fetichismo em manter assuntos sociais fora das ciecircncias naturais desde que sua incorporaccedilatildeo

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suporia ulsvios decirc pesquisa para o comando da ordem social existente Os manecer em silecircncio Satildeo as condiccedilotildees sociais objetivas emergentes e nossa dilemas morais resultantes para os cientistas que assumem suaresponsabilishy patente inabilidade em combatecirc-Ias que essencialmente explicam a necessidashydade social seriamente satildeo certamente reais Ao contraacuterio da opiniatildeo popushy de de uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico lar por isso parece apropriado concluir que a filosofia da ciecircncia social eacute poshy -i tencialmente muito superior agrave da ciecircncia natural e que a fusatildeo eventual dos dois campos de estudo divulgar-se-ia natildeo atraveacutes de tentativas de cientifishyzar a ciecircncia social mas ao contraacuterio pela socializaccedilatildeo da ciecircncia natural (veja-se Marx Economic anti Philosofic Manuscripts of 1844 164) Isso pode significar a s-lbstituiccedilatildeo da manipulaccedilatildeo e controle com a realizaccedilatildeo do potencial humano como criteacuterio baacutesico para a aceitaccedilatildeo do paradigma Em tal ocorrecircncia todos os aspectos da ciecircncia experimentariam fases tanto revoshylucionaacuterias como contra-revolucionaacuterias do pensamento que estariam indushybitavelmente associadas a mudanccedilas revolucionaacuterias na praacutetica social

Retornemos agora agrave questatildeo inicial Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico A revoluccedilatildeo quantitativa pershycorreu seu curso e natildeo considerando retornos marginais estaacute aparentemenshyte consolidada natildeo obstante outro exemplo de ecologia fatorial uma outra tentativa de medir o efeito de distacircncia-decliacutenio outra tentativa de identificar a difusatildeo de um bem servem para dizer-nos menos a respeito de qualquer coisa de grande relevacircncia Em adiccedilatildeo haacute jovens geoacutegrafos agora tatildeo ambishyciosos quanto eram os quantificadores na deacutecada de 60 um pouco famintos por reconhecimento e um pouco desencantados com o que fazer Assim haacute murmuacuterios de descontentamento dentro da estrutura social de nossa disciplishyna quando os quantificadores estabelecem firme controle na produccedilatildeo de esshytudantes graduados e nos curriacuteculos dos vaacuterios departamentos Essa condiccedilatildeo socioloacutegica dentro da disciplina natildeo eacute suficiente para justificar uma revoluccedilatildeo no pensamento (nem deveria) mas a condiccedilatildeo existe Mais importante haacute clara disparidade entre a teoria sofisticada e a estrutura metodoloacutegica que esshytamos usando e nossa habilidade em dizer qualquer coisa realmente significashytiva sobre os eventos tais como eles se desenvolvem em torno de noacutes Haacute anomalias entre o que tentamos explicar e manipular e o que atualmente acontece Haacute um problema ecoloacutegico um problema urbano um problema de comeacutercio internacional e natildeo obstante parecemos incapazes de dizer qualquer coisa de fundo ou profundidade sobre qualquer deles Quando realshymente dizemos alguma coisa ela parece trivial e talvez ridiacutecula Em resumo nosso paradigma natildeo estaacute resistindo bem Ele estaacute maduro para cair As conshydiccedilotildees sociais objetivas demandam que digamos alguma coisa sensiacutevel ou coerente ou de uma vez para sempre (atraveacutes da ausecircncia de credibilidade ou mesmo pior atraveacutes da deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees sociais objetivas) per-

Como deveriacuteamos realizar tal revoluccedilatildeo Haacute um nuacutemero de medidas que poderiacuteamos tomar Poderiacuteamos como se sugeriu abandonar a base positishyvista do movimento quantitativo por um idealismo filosoacutefico abstrato e espeshyrar tanto que as condiccedilotildees sociais objetivas orientassem em direccedilatildeo agrave sua proacutepria soluccedilatildeo como que os conceitos forjados atraveacutes de modelos idealistas de pensamento alcanccedilassem eventualmente bastante conteuacutedo para facilitar a mudanccedila criativa das condiccedilotildees sociais objetivas Eacute contudo uma caracteshyriacutestica do idealismo que esteja para sempre destinado a buscar em vatildeo um conteuacutedo real Poderiacuteamos tambeacutem rejeitar as bases positivistas dos anos 60 por uma base fenomenoloacutegica Parece mais atrativo do que o procedimenshyto idealista desde que ao menos serve para manter-nos em contato com o conceito de homem como um ser em constante interaccedilatildeo sensiacutevel com as realidades sociais e naturais que o cercam Natildeo obstante a abordagem fenoshymenoloacutegica pode conduzir-nos ao idealismo ou de volta ao empirismo positishyvista ingecircnuo tatildeo facilmente quanto pode levar-nos a uma forma de materiashylismo socialmente acauteIadora A assim chamada revoluccedilatildeo behaviorista em geografia aponta em ambas as direccedilotildees PQr isso a estrateacutegia mais frutiacutefera nessa conjuntura eacute explorar aquela aacuterea do entendimento em que certos aspectos do positivismo materialismo e fenomenologia salientam-se em proshyver interpretaccedilotildees adequadas da realidade social na qual nos encontramos Esshysa saiacuteda eacute mais claramente explorada no pensamento marxista Marx nos Mashynuscritos Econoacutemicos e Filosoacuteficos de 1844 e na Ideologia Alemo deu a seu sistema de pensamento uma base fenomenoloacutegica poderosa e atraente

Haacute tambeacutem certas coisas que o marxismo e o positivismo tecircm em coshymum Ambos tecircm uma base materialista ~ ambos valem-se de um meacutetodo analiacutetico A diferenccedila essencial naturalmente eacute que o positivismo simplesshymente procura entender o mundo enquanto o marxismo busca mudaacute-lo Dishyto de outro modo o positivismo tira suas categorias e conceitos de uma reashylidade existente com todos os seus defeitos flnquanto as categorias e conceishytos marxistas satildeo formulados atraveacutes da apliccedilaccedilatildeo do meacutetodo dialeacutetico agrave hisshytoacuteria tal como este se desenvolve aqui e agora atraveacutes de acontecimentos e accedilotildees O meacutetodo positivista envolve por exemplo a aplicaccedilatildeo da loacutegica trashydicional bivalente aristoteacutelica para testar hipoacuteteses (a hipoacutetese nula da infeshyrecircncia estatlstica eacute uma invenccedilatildeo puramente aristoteacutelica) as hipoacuteteses natildeo satildeo nem verdadeiras nem falsas e uma vez categorizadas permanecem semshypre assim A dialeacutetica por outro lado propotildee um processo de entendimento que implica na interpenetraccedilatildeo dos contraacuterios nas contradiccedilotildees e paradoxos incorporados e indica o processo de resoluccedilatildeo Tanto quanto eacute relevante fashy

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lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

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diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

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eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 4: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

Primeiro tinha que atacar a proposiccedilatildeo central da ortodoxia conservashydora() com uma anaacutelise nova mas academicamente aceitaacutevel que inshyvertesse a proposiccedilatildeo( ) Segundo a teoria tinha que parecer nova embora absorvendo tanto quanto possiacutevel de vaacutelido ou pelo menos componentes natildeo prontamente disputaacuteveis da teoria ortodoxa existente Nesse processo ajuda muito dar a velhos conceitos nomes novos confusos e enfatizar como cruciais passos analiacuteticos que foram tomados previamente como vulgashyres ( ) Terceiro a nova teoria tinha que ter o grau apropriado de dificuldashyde de ser entendida ( ) para que colegas acadecircmicos mais velhos natildeo a achassem nem faacutecil nem interessante de estudar de modo que eles gastassem seus reforccedilos em assuntos teoacutericos perifeacutericos e entatildeo se expuzessem como alvos faacuteceis de critica e substituiccedilatildeo por seus colegas mais jovens e ansiosos_ Ao mesmo tempo a nova teoria tinha que parecer simultaneamente bastante difiacutecil para desafiar o interesse intelectual dos colegas mais jovens e estudantes e atual e faacutecil o bastante para conquistaacute-los adequadamente

com suficiente investimento de esforccedilo intelectual ( ) Quarto a nova teoria tinha a oferecer aos disciacutepulos mais dotados e menos oportunistas uma nova metodologia mais atraente do que as correntemente uacuteteis C) Finalmente (tinha para oferecer) urna relaccedilatildeo empiacuterica importante C) para medir

A histoacuteria do pensamento geograacutefico nos uacuteltimos dez anos estaacute exatamenshyte espelhada nessa anaacutelise A proposiccedilatildeo central da velha geografia era o qualitativo e o uacutenico Ela natildeo podia nitidamente resistir agrave orientaccedilatildeo das ciecircncias sociais como um todo em direccedilatildeo a instrumentos de manipulaccedilatildeo e controle social corno se requer para entendimento do quantitativo e do geral Nem pode haver qualquer duacutevida de que durante o processo de transiccedilatildeo veshylhos conceitos receberam nomes novos e confusos e que fraacutegeis acepccedilotildees vulgares foram objeto de rigorosa investigaccedilatildeo analiacutetica Aleacutem disso natildeo po de ser negado que a assim chamada revoluccedilatildeo quantitativa proporcionou a oportunidade de pocircr a descoberto os mais velhos apologistas da disciplina particularmente quando eles arriscavam-se em assuntos relacionados agrave nova ortodoxia emergente Certamente o movimento quantitativo propiciou urna mudanccedila de dificuldade adequada e abriu o panorama para novas metodoloshygias muitas das quais seriam amplamente recompensadas em termos das inshytrospecccedilotildees analiacuteticas que elas geram Por fim novas coisas por medir exisshytiam em abundacircncia e na funccedilatildeo distacircncia-decliacutenio no limiar na difusatildeo de um bem e na medida de padrotildees espaciais os geoacutegrafos encontraram quatro novos toacutepicos empiacutericos aparentemente cruciais com que eles podiam gastar urna enorme quantidade de tempo investigando O movimento quantitativo pode assim ser interpretado parcialmente em termos de mudanccedila de um novo conjunto de ideacuteias a serem respondidas parcialmente pelo menos como

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um esforccedilo de baixo niacutevel pelo poder e status dentro de uma estrutura discishyplinar e parcialmente como uma resposta a pressotildees externas para descobrir os meios de manipulaccedilatildeo e controle no que pale francamente ser definido

I-- corno o campo do planejamento No caso de middotalgueacutem interpretar estas obshyservaccedilotildees como estando eu apontando o dedo para qualquer grupo particular deixe-me dizer que todos noacutes fomos envolvidos nesse processo e que natildeo hashyvia e natildeo haacute modo pelo qual pudeacutessemos ou possamos escapar de tal envolvishymento

Johnson tambeacutem propotildee a expressatildeo contra-revoluccedilatildeo em sua anaacutelise A este propoacutesito seu pensamento natildeo eacute muito esclarecedor desde que ele nitidamente tem dificuldade em criticar os monetaristas que designa coshymo contra-revolucionaacuterios mes~o que uma anomalia significativa exista (a

~ 11 bull

combinaccedilatildeo de inflaccedilatildeo e desemprego) como uma forte mudanccedila em relaccedilatildeo agrave ortodoxia keynesiana Mas haacute algo rnJlito importante neste ponto que reshyquer anaacutelise Parece intuitivamente plaacuteu~iacutevel pensar a respeito do movishymento de ideacuteias nas ciecircncias sociais erilum movimento baseado em revolushyccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo em contraste com as ciecircncias naturais para as quais a noccedilatildeo natildeo parece tatildeo imediatamente aplicaacuteveL

Podemos analisar o fenocircmeno da contra-revoluccedilatildeo voltando nossa introsshypecccedilatildeo para a formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircncias naturais Este baseia-se na extensatildeo da habilidade do homem em manipular e controlar naturalmente o fenocircmeno ocorrido Similarmente podemos antecipar que a forccedila dirigente por traacutes da formaccedilatildeo do paradigma nas ciecircoacutecias sociais eacute o desejo de manipushylar e controlar a atividade humana e os fenotildemenos sociais no interesse do homem A questatildeo que surge imediatamente eacute a de quem estaacute controlando quem em interesse de quem estaacute sendo exercido o controle e se o controle eacute exercido no interesse de todos quem estaacute se atribuindo definir o interesse puacuteblico Somos assim forccedilados a confrontar diretamente nas ciecircncias sociais o que surge apenas indiretamente principalmente as bases e implicaccedilotildees soshyciais do controle e da manipulaccedilatildeo Seria extraordinariamente tolo pressupor que essas bases estatildeo igualmente distribuiacutedas por toda a sociedade Nossa histoacuteria mostra que usualmente essas bases estatildeo altamente concentradas dentro de poucos grupos chaves na sociedade Esses grupos podem ser beneshyvolentes ou agressivos a respeito de outros grupos Este contudo natildeo eacute o ponto A questatildeo eacute que a ciecircncia social formula conceitos categorias relashyccedilotildees e meacutetodos que natildeo satildeo independentes das relaccedilotildees sociais existentes Como tais os conceitos satildeo o produto dos verdadeiros fenocircmenos que eles se destinam a descrever Uma teoria revolucionaacuteria sobre a qual baseia-se um novo paradigma ganharaacute aceitaccedilatildeo geral somente se a natureza das relaccedilotildees sociais englobadas na teoria satildeo atuais no mundo real Uma teoria contra-reshyvolucionaacuteria eacute deliberadamente proposta em relaccedilatildeo agrave teoria revolucionaacuteria

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de tal modo que as mudanccedilas sociais ameaccediladoras que a teoria revolucionaacuteria geraria com aceitaccedilatildeo geral quer por cooptaccedilatildeo ou subversatildeo satildeo impossishybilitadls de se realizar

Esse processo de revoluccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo na ciecircncia social estaacute expliacuteshycito no relacionamento entre as teorias econocircmicas e politicas de Adam Smith e Ricardo e as de Karl Marx sobre as quais Engels em seu prefaacutecio ao volume 2 de O Copitol fornece algumas introspecccedilotildees bastante extraordinaacuteshyrias (veja Althusser e Balitar 1970) Estava em questatildeo se Marx tinha plashygiado a teoria da mais-valia Marx contudo reconheceu claramente que tanto Adam Smiacuteth como Ricardo haviam discutido e parcialmente entendido a natureza da mais-valia Engels manifestou-se para explicar o que era novo na exposiccedilatildeo de Marx sobre a mais-valia e como foi que a teoria da mais-vashylia de Marx abalou a terra corno um raio surgido de um ceacuteu liacutempido Para fazer isso ele descreve um incidente na histoacuteria da quiacutemica coincishydentemente isso se tornou uma das inspiraccedilotildees para a tese de Kuhn(12 52-6) relativa agrave estrutura das revoluccedilotildees nas ciecircncias naturais - concernente ao relacionamento entre Lavoisier e Priestley na descoberta do oxigecircnio Ambos realizaram experimentos similares e produziram resultados similashyres Contudo havia uma diferenccedila essencial entre eles Priestley insistiu no resto de sua vida em interpretar seus resultados em termos da velha teoria flogiacutestica e por isso chamou sua descoberta de ar deflogistificado Lavoishysier por sua parte reconheceu que sua descoberta natildeo podia conciliar-se com a teoria flogiacutestica existente como consequumlecircncia conseguiu reconstruir a estrutura teoacuterica da quiacutemica em uma base completamente nova Assim Engels e Kuhn depois dele postulou que Lavoisier era o real descobridor do oxigecircnio em confronto com os outros que tinham somente produzido-o sem saber o que tinham produzido Engels continua Marx coloca-se na mesma relaccedilatildeo com seus predecessores na teoria da mais-valia como Lavoishysier se colocou ante Pricstley ( ) A existecircncia daquela parte do valor dos produtos que chamamos mais-valia tinha sido comprovada muito antes de Marx E mesmo assim tinha sido colocado com mais ou menos precisatildeo em que consistia ( ) Mas natildeo se ia mais adiante ( ) (todos os economistas) permaneciam prisioneiros das categorias econocircmicas tais como elas tinham surgido para eles Entatildeo surgiu Marx em cena E ele assumiu a posiccedilatildeo dishyretamente oposta a de seus predecessores O que eles tinham olhado como soluccedilt1o ele considerou como um problema Ele viu que natildeo tinha que lidar nem com ar deflogistificado nem com ar em combustatildeo mas com oxigecircnio que aqui natildeo se tratava da questatildeo de expor um fato econocircmico ou de aponshytar o conflito entre esse fato e a justiccedila e moralidade eternas mas de explicar um fato que se ofereci~ a ele que sabia como usaacute-lo uma chave para a comshypreensatildeo de toda a produccedilatildeo capitalista Com esse fato como ponto de partishy

da ele examinou todas as categorias econocircmicas que encontrou aacute matildeo como Lavoisier procedeu com o oxigecircnio examinando as categorias da quimica flogiacutestica(Marx Copital Volume 2 11-18)

+-- A teoria marxista era nitidamente perigosa porque fornecia a chave do entendimento da produccedilatildeo capitalista da posiccedilatildeo daqueles que MO controlashyvam os meios de produccedilatildeo Consequumlentemente as categorias conceitos reshylaccedilotildees e meacutetodos que tinham o potencial para formar novo paradigma eram uma enorme ameaccedila para a estrutura de poder do mundo capitalista A emergecircncia subsequumlente da teoria marginal do valor (especialmente na escola austriacuteaca de economistas tais como BOhm-Bawerk e Menger) abandonou muito das bases das anaacutelises de Smith e Ricardo(em particular a teoria do valor trabalho) e tambeacutem incidentalmente serviu para rejeitar a mudanccedila marxista na Economia A cooptaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria da teoria marxista na Ruacutessia depois da morte de Lenin e uma cooptaccedilatildeo similar contra-revolushycionaacuteria de grande parte da linguagem marxista na sociologia Ocidental(tanshyto que alguns socioacutelogos sugerem que todos somos marxistas agora) sem considerar a essecircncia do pensamento marxista evitou efetivamente o verdashy

I

deiro florescimento do pensamento marxista e concomitantemente a emer gecircncia daquela sociedade humanizada que Marx visualizou Tanto os conshyceitos como o projetado relacionamento social contido nos conceitos foram frustrados

A revoluccedilatildeo e a contra-revoluccedilatildeo no pensamento satildeo por isso caracteriacutesshyticas das ciecircncias sociais de um modo que aparentemente natildeo eacute caracteriacutestishyco das ciecircncias naturais As revoluccedilotildees no pensamento natildeo podem em uacuteltishyma instacircncia ser separadas das revoluccedilotildees na praacutetica Isso pode sugerir a conclusatildeo de que as ciecircncias sociais estatildeo certamente num estaacutegio preacute-cientishyfico A conclusatildeo estaacute mal fundamentada contudo desde que as ciecircncias nashyturais nuncagrave foram arrebatadas em nenhum momento do controle de um grupo restrito de interesse Eacute esse fato mais do que qualquer coisa inerente agrave natureza da proacutepria ciecircncia natural que conta para a ausecircncia de contra-reshyvoluccedilotildees nas ciecircncias naturais Em outras palavras as revoluccedilotildees do pensashymento que ocorrem nas ciecircncias naturais natildeo colocam nenhuma ameaccedila para a ordem existente desde que elas satildeo construiacutedas amplamente com os requishysitos dessa ordem existente na mente Natildeo quero dizer que natildeo haja alguns problemas sociais desconfortaacuteveis para resolver no processo porque a descoshyberta cientiacutefica natildeo eacute previsiacutevel e pode por isso ser fonte de tensatildeo social O que isso sugere contudo eacute que as ciecircncias naturais estatildeo em um estaacutegio preacute-social Consequumlentemente as questotildees de accedilatildeo social e controle social que as teacutecnicas damiddotciecircncia natural frequumlentemente ajudam a resolver natildeo satildeo incorporadas na proacutepria ciecircncia natural De fato haacute certo fetichismo em manter assuntos sociais fora das ciecircncias naturais desde que sua incorporaccedilatildeo

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suporia ulsvios decirc pesquisa para o comando da ordem social existente Os manecer em silecircncio Satildeo as condiccedilotildees sociais objetivas emergentes e nossa dilemas morais resultantes para os cientistas que assumem suaresponsabilishy patente inabilidade em combatecirc-Ias que essencialmente explicam a necessidashydade social seriamente satildeo certamente reais Ao contraacuterio da opiniatildeo popushy de de uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico lar por isso parece apropriado concluir que a filosofia da ciecircncia social eacute poshy -i tencialmente muito superior agrave da ciecircncia natural e que a fusatildeo eventual dos dois campos de estudo divulgar-se-ia natildeo atraveacutes de tentativas de cientifishyzar a ciecircncia social mas ao contraacuterio pela socializaccedilatildeo da ciecircncia natural (veja-se Marx Economic anti Philosofic Manuscripts of 1844 164) Isso pode significar a s-lbstituiccedilatildeo da manipulaccedilatildeo e controle com a realizaccedilatildeo do potencial humano como criteacuterio baacutesico para a aceitaccedilatildeo do paradigma Em tal ocorrecircncia todos os aspectos da ciecircncia experimentariam fases tanto revoshylucionaacuterias como contra-revolucionaacuterias do pensamento que estariam indushybitavelmente associadas a mudanccedilas revolucionaacuterias na praacutetica social

Retornemos agora agrave questatildeo inicial Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico A revoluccedilatildeo quantitativa pershycorreu seu curso e natildeo considerando retornos marginais estaacute aparentemenshyte consolidada natildeo obstante outro exemplo de ecologia fatorial uma outra tentativa de medir o efeito de distacircncia-decliacutenio outra tentativa de identificar a difusatildeo de um bem servem para dizer-nos menos a respeito de qualquer coisa de grande relevacircncia Em adiccedilatildeo haacute jovens geoacutegrafos agora tatildeo ambishyciosos quanto eram os quantificadores na deacutecada de 60 um pouco famintos por reconhecimento e um pouco desencantados com o que fazer Assim haacute murmuacuterios de descontentamento dentro da estrutura social de nossa disciplishyna quando os quantificadores estabelecem firme controle na produccedilatildeo de esshytudantes graduados e nos curriacuteculos dos vaacuterios departamentos Essa condiccedilatildeo socioloacutegica dentro da disciplina natildeo eacute suficiente para justificar uma revoluccedilatildeo no pensamento (nem deveria) mas a condiccedilatildeo existe Mais importante haacute clara disparidade entre a teoria sofisticada e a estrutura metodoloacutegica que esshytamos usando e nossa habilidade em dizer qualquer coisa realmente significashytiva sobre os eventos tais como eles se desenvolvem em torno de noacutes Haacute anomalias entre o que tentamos explicar e manipular e o que atualmente acontece Haacute um problema ecoloacutegico um problema urbano um problema de comeacutercio internacional e natildeo obstante parecemos incapazes de dizer qualquer coisa de fundo ou profundidade sobre qualquer deles Quando realshymente dizemos alguma coisa ela parece trivial e talvez ridiacutecula Em resumo nosso paradigma natildeo estaacute resistindo bem Ele estaacute maduro para cair As conshydiccedilotildees sociais objetivas demandam que digamos alguma coisa sensiacutevel ou coerente ou de uma vez para sempre (atraveacutes da ausecircncia de credibilidade ou mesmo pior atraveacutes da deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees sociais objetivas) per-

Como deveriacuteamos realizar tal revoluccedilatildeo Haacute um nuacutemero de medidas que poderiacuteamos tomar Poderiacuteamos como se sugeriu abandonar a base positishyvista do movimento quantitativo por um idealismo filosoacutefico abstrato e espeshyrar tanto que as condiccedilotildees sociais objetivas orientassem em direccedilatildeo agrave sua proacutepria soluccedilatildeo como que os conceitos forjados atraveacutes de modelos idealistas de pensamento alcanccedilassem eventualmente bastante conteuacutedo para facilitar a mudanccedila criativa das condiccedilotildees sociais objetivas Eacute contudo uma caracteshyriacutestica do idealismo que esteja para sempre destinado a buscar em vatildeo um conteuacutedo real Poderiacuteamos tambeacutem rejeitar as bases positivistas dos anos 60 por uma base fenomenoloacutegica Parece mais atrativo do que o procedimenshyto idealista desde que ao menos serve para manter-nos em contato com o conceito de homem como um ser em constante interaccedilatildeo sensiacutevel com as realidades sociais e naturais que o cercam Natildeo obstante a abordagem fenoshymenoloacutegica pode conduzir-nos ao idealismo ou de volta ao empirismo positishyvista ingecircnuo tatildeo facilmente quanto pode levar-nos a uma forma de materiashylismo socialmente acauteIadora A assim chamada revoluccedilatildeo behaviorista em geografia aponta em ambas as direccedilotildees PQr isso a estrateacutegia mais frutiacutefera nessa conjuntura eacute explorar aquela aacuterea do entendimento em que certos aspectos do positivismo materialismo e fenomenologia salientam-se em proshyver interpretaccedilotildees adequadas da realidade social na qual nos encontramos Esshysa saiacuteda eacute mais claramente explorada no pensamento marxista Marx nos Mashynuscritos Econoacutemicos e Filosoacuteficos de 1844 e na Ideologia Alemo deu a seu sistema de pensamento uma base fenomenoloacutegica poderosa e atraente

Haacute tambeacutem certas coisas que o marxismo e o positivismo tecircm em coshymum Ambos tecircm uma base materialista ~ ambos valem-se de um meacutetodo analiacutetico A diferenccedila essencial naturalmente eacute que o positivismo simplesshymente procura entender o mundo enquanto o marxismo busca mudaacute-lo Dishyto de outro modo o positivismo tira suas categorias e conceitos de uma reashylidade existente com todos os seus defeitos flnquanto as categorias e conceishytos marxistas satildeo formulados atraveacutes da apliccedilaccedilatildeo do meacutetodo dialeacutetico agrave hisshytoacuteria tal como este se desenvolve aqui e agora atraveacutes de acontecimentos e accedilotildees O meacutetodo positivista envolve por exemplo a aplicaccedilatildeo da loacutegica trashydicional bivalente aristoteacutelica para testar hipoacuteteses (a hipoacutetese nula da infeshyrecircncia estatlstica eacute uma invenccedilatildeo puramente aristoteacutelica) as hipoacuteteses natildeo satildeo nem verdadeiras nem falsas e uma vez categorizadas permanecem semshypre assim A dialeacutetica por outro lado propotildee um processo de entendimento que implica na interpenetraccedilatildeo dos contraacuterios nas contradiccedilotildees e paradoxos incorporados e indica o processo de resoluccedilatildeo Tanto quanto eacute relevante fashy

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lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

U6

diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

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II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 5: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

de tal modo que as mudanccedilas sociais ameaccediladoras que a teoria revolucionaacuteria geraria com aceitaccedilatildeo geral quer por cooptaccedilatildeo ou subversatildeo satildeo impossishybilitadls de se realizar

Esse processo de revoluccedilatildeo e contra-revoluccedilatildeo na ciecircncia social estaacute expliacuteshycito no relacionamento entre as teorias econocircmicas e politicas de Adam Smith e Ricardo e as de Karl Marx sobre as quais Engels em seu prefaacutecio ao volume 2 de O Copitol fornece algumas introspecccedilotildees bastante extraordinaacuteshyrias (veja Althusser e Balitar 1970) Estava em questatildeo se Marx tinha plashygiado a teoria da mais-valia Marx contudo reconheceu claramente que tanto Adam Smiacuteth como Ricardo haviam discutido e parcialmente entendido a natureza da mais-valia Engels manifestou-se para explicar o que era novo na exposiccedilatildeo de Marx sobre a mais-valia e como foi que a teoria da mais-vashylia de Marx abalou a terra corno um raio surgido de um ceacuteu liacutempido Para fazer isso ele descreve um incidente na histoacuteria da quiacutemica coincishydentemente isso se tornou uma das inspiraccedilotildees para a tese de Kuhn(12 52-6) relativa agrave estrutura das revoluccedilotildees nas ciecircncias naturais - concernente ao relacionamento entre Lavoisier e Priestley na descoberta do oxigecircnio Ambos realizaram experimentos similares e produziram resultados similashyres Contudo havia uma diferenccedila essencial entre eles Priestley insistiu no resto de sua vida em interpretar seus resultados em termos da velha teoria flogiacutestica e por isso chamou sua descoberta de ar deflogistificado Lavoishysier por sua parte reconheceu que sua descoberta natildeo podia conciliar-se com a teoria flogiacutestica existente como consequumlecircncia conseguiu reconstruir a estrutura teoacuterica da quiacutemica em uma base completamente nova Assim Engels e Kuhn depois dele postulou que Lavoisier era o real descobridor do oxigecircnio em confronto com os outros que tinham somente produzido-o sem saber o que tinham produzido Engels continua Marx coloca-se na mesma relaccedilatildeo com seus predecessores na teoria da mais-valia como Lavoishysier se colocou ante Pricstley ( ) A existecircncia daquela parte do valor dos produtos que chamamos mais-valia tinha sido comprovada muito antes de Marx E mesmo assim tinha sido colocado com mais ou menos precisatildeo em que consistia ( ) Mas natildeo se ia mais adiante ( ) (todos os economistas) permaneciam prisioneiros das categorias econocircmicas tais como elas tinham surgido para eles Entatildeo surgiu Marx em cena E ele assumiu a posiccedilatildeo dishyretamente oposta a de seus predecessores O que eles tinham olhado como soluccedilt1o ele considerou como um problema Ele viu que natildeo tinha que lidar nem com ar deflogistificado nem com ar em combustatildeo mas com oxigecircnio que aqui natildeo se tratava da questatildeo de expor um fato econocircmico ou de aponshytar o conflito entre esse fato e a justiccedila e moralidade eternas mas de explicar um fato que se ofereci~ a ele que sabia como usaacute-lo uma chave para a comshypreensatildeo de toda a produccedilatildeo capitalista Com esse fato como ponto de partishy

da ele examinou todas as categorias econocircmicas que encontrou aacute matildeo como Lavoisier procedeu com o oxigecircnio examinando as categorias da quimica flogiacutestica(Marx Copital Volume 2 11-18)

+-- A teoria marxista era nitidamente perigosa porque fornecia a chave do entendimento da produccedilatildeo capitalista da posiccedilatildeo daqueles que MO controlashyvam os meios de produccedilatildeo Consequumlentemente as categorias conceitos reshylaccedilotildees e meacutetodos que tinham o potencial para formar novo paradigma eram uma enorme ameaccedila para a estrutura de poder do mundo capitalista A emergecircncia subsequumlente da teoria marginal do valor (especialmente na escola austriacuteaca de economistas tais como BOhm-Bawerk e Menger) abandonou muito das bases das anaacutelises de Smith e Ricardo(em particular a teoria do valor trabalho) e tambeacutem incidentalmente serviu para rejeitar a mudanccedila marxista na Economia A cooptaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria da teoria marxista na Ruacutessia depois da morte de Lenin e uma cooptaccedilatildeo similar contra-revolushycionaacuteria de grande parte da linguagem marxista na sociologia Ocidental(tanshyto que alguns socioacutelogos sugerem que todos somos marxistas agora) sem considerar a essecircncia do pensamento marxista evitou efetivamente o verdashy

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deiro florescimento do pensamento marxista e concomitantemente a emer gecircncia daquela sociedade humanizada que Marx visualizou Tanto os conshyceitos como o projetado relacionamento social contido nos conceitos foram frustrados

A revoluccedilatildeo e a contra-revoluccedilatildeo no pensamento satildeo por isso caracteriacutesshyticas das ciecircncias sociais de um modo que aparentemente natildeo eacute caracteriacutestishyco das ciecircncias naturais As revoluccedilotildees no pensamento natildeo podem em uacuteltishyma instacircncia ser separadas das revoluccedilotildees na praacutetica Isso pode sugerir a conclusatildeo de que as ciecircncias sociais estatildeo certamente num estaacutegio preacute-cientishyfico A conclusatildeo estaacute mal fundamentada contudo desde que as ciecircncias nashyturais nuncagrave foram arrebatadas em nenhum momento do controle de um grupo restrito de interesse Eacute esse fato mais do que qualquer coisa inerente agrave natureza da proacutepria ciecircncia natural que conta para a ausecircncia de contra-reshyvoluccedilotildees nas ciecircncias naturais Em outras palavras as revoluccedilotildees do pensashymento que ocorrem nas ciecircncias naturais natildeo colocam nenhuma ameaccedila para a ordem existente desde que elas satildeo construiacutedas amplamente com os requishysitos dessa ordem existente na mente Natildeo quero dizer que natildeo haja alguns problemas sociais desconfortaacuteveis para resolver no processo porque a descoshyberta cientiacutefica natildeo eacute previsiacutevel e pode por isso ser fonte de tensatildeo social O que isso sugere contudo eacute que as ciecircncias naturais estatildeo em um estaacutegio preacute-social Consequumlentemente as questotildees de accedilatildeo social e controle social que as teacutecnicas damiddotciecircncia natural frequumlentemente ajudam a resolver natildeo satildeo incorporadas na proacutepria ciecircncia natural De fato haacute certo fetichismo em manter assuntos sociais fora das ciecircncias naturais desde que sua incorporaccedilatildeo

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suporia ulsvios decirc pesquisa para o comando da ordem social existente Os manecer em silecircncio Satildeo as condiccedilotildees sociais objetivas emergentes e nossa dilemas morais resultantes para os cientistas que assumem suaresponsabilishy patente inabilidade em combatecirc-Ias que essencialmente explicam a necessidashydade social seriamente satildeo certamente reais Ao contraacuterio da opiniatildeo popushy de de uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico lar por isso parece apropriado concluir que a filosofia da ciecircncia social eacute poshy -i tencialmente muito superior agrave da ciecircncia natural e que a fusatildeo eventual dos dois campos de estudo divulgar-se-ia natildeo atraveacutes de tentativas de cientifishyzar a ciecircncia social mas ao contraacuterio pela socializaccedilatildeo da ciecircncia natural (veja-se Marx Economic anti Philosofic Manuscripts of 1844 164) Isso pode significar a s-lbstituiccedilatildeo da manipulaccedilatildeo e controle com a realizaccedilatildeo do potencial humano como criteacuterio baacutesico para a aceitaccedilatildeo do paradigma Em tal ocorrecircncia todos os aspectos da ciecircncia experimentariam fases tanto revoshylucionaacuterias como contra-revolucionaacuterias do pensamento que estariam indushybitavelmente associadas a mudanccedilas revolucionaacuterias na praacutetica social

Retornemos agora agrave questatildeo inicial Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico A revoluccedilatildeo quantitativa pershycorreu seu curso e natildeo considerando retornos marginais estaacute aparentemenshyte consolidada natildeo obstante outro exemplo de ecologia fatorial uma outra tentativa de medir o efeito de distacircncia-decliacutenio outra tentativa de identificar a difusatildeo de um bem servem para dizer-nos menos a respeito de qualquer coisa de grande relevacircncia Em adiccedilatildeo haacute jovens geoacutegrafos agora tatildeo ambishyciosos quanto eram os quantificadores na deacutecada de 60 um pouco famintos por reconhecimento e um pouco desencantados com o que fazer Assim haacute murmuacuterios de descontentamento dentro da estrutura social de nossa disciplishyna quando os quantificadores estabelecem firme controle na produccedilatildeo de esshytudantes graduados e nos curriacuteculos dos vaacuterios departamentos Essa condiccedilatildeo socioloacutegica dentro da disciplina natildeo eacute suficiente para justificar uma revoluccedilatildeo no pensamento (nem deveria) mas a condiccedilatildeo existe Mais importante haacute clara disparidade entre a teoria sofisticada e a estrutura metodoloacutegica que esshytamos usando e nossa habilidade em dizer qualquer coisa realmente significashytiva sobre os eventos tais como eles se desenvolvem em torno de noacutes Haacute anomalias entre o que tentamos explicar e manipular e o que atualmente acontece Haacute um problema ecoloacutegico um problema urbano um problema de comeacutercio internacional e natildeo obstante parecemos incapazes de dizer qualquer coisa de fundo ou profundidade sobre qualquer deles Quando realshymente dizemos alguma coisa ela parece trivial e talvez ridiacutecula Em resumo nosso paradigma natildeo estaacute resistindo bem Ele estaacute maduro para cair As conshydiccedilotildees sociais objetivas demandam que digamos alguma coisa sensiacutevel ou coerente ou de uma vez para sempre (atraveacutes da ausecircncia de credibilidade ou mesmo pior atraveacutes da deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees sociais objetivas) per-

Como deveriacuteamos realizar tal revoluccedilatildeo Haacute um nuacutemero de medidas que poderiacuteamos tomar Poderiacuteamos como se sugeriu abandonar a base positishyvista do movimento quantitativo por um idealismo filosoacutefico abstrato e espeshyrar tanto que as condiccedilotildees sociais objetivas orientassem em direccedilatildeo agrave sua proacutepria soluccedilatildeo como que os conceitos forjados atraveacutes de modelos idealistas de pensamento alcanccedilassem eventualmente bastante conteuacutedo para facilitar a mudanccedila criativa das condiccedilotildees sociais objetivas Eacute contudo uma caracteshyriacutestica do idealismo que esteja para sempre destinado a buscar em vatildeo um conteuacutedo real Poderiacuteamos tambeacutem rejeitar as bases positivistas dos anos 60 por uma base fenomenoloacutegica Parece mais atrativo do que o procedimenshyto idealista desde que ao menos serve para manter-nos em contato com o conceito de homem como um ser em constante interaccedilatildeo sensiacutevel com as realidades sociais e naturais que o cercam Natildeo obstante a abordagem fenoshymenoloacutegica pode conduzir-nos ao idealismo ou de volta ao empirismo positishyvista ingecircnuo tatildeo facilmente quanto pode levar-nos a uma forma de materiashylismo socialmente acauteIadora A assim chamada revoluccedilatildeo behaviorista em geografia aponta em ambas as direccedilotildees PQr isso a estrateacutegia mais frutiacutefera nessa conjuntura eacute explorar aquela aacuterea do entendimento em que certos aspectos do positivismo materialismo e fenomenologia salientam-se em proshyver interpretaccedilotildees adequadas da realidade social na qual nos encontramos Esshysa saiacuteda eacute mais claramente explorada no pensamento marxista Marx nos Mashynuscritos Econoacutemicos e Filosoacuteficos de 1844 e na Ideologia Alemo deu a seu sistema de pensamento uma base fenomenoloacutegica poderosa e atraente

Haacute tambeacutem certas coisas que o marxismo e o positivismo tecircm em coshymum Ambos tecircm uma base materialista ~ ambos valem-se de um meacutetodo analiacutetico A diferenccedila essencial naturalmente eacute que o positivismo simplesshymente procura entender o mundo enquanto o marxismo busca mudaacute-lo Dishyto de outro modo o positivismo tira suas categorias e conceitos de uma reashylidade existente com todos os seus defeitos flnquanto as categorias e conceishytos marxistas satildeo formulados atraveacutes da apliccedilaccedilatildeo do meacutetodo dialeacutetico agrave hisshytoacuteria tal como este se desenvolve aqui e agora atraveacutes de acontecimentos e accedilotildees O meacutetodo positivista envolve por exemplo a aplicaccedilatildeo da loacutegica trashydicional bivalente aristoteacutelica para testar hipoacuteteses (a hipoacutetese nula da infeshyrecircncia estatlstica eacute uma invenccedilatildeo puramente aristoteacutelica) as hipoacuteteses natildeo satildeo nem verdadeiras nem falsas e uma vez categorizadas permanecem semshypre assim A dialeacutetica por outro lado propotildee um processo de entendimento que implica na interpenetraccedilatildeo dos contraacuterios nas contradiccedilotildees e paradoxos incorporados e indica o processo de resoluccedilatildeo Tanto quanto eacute relevante fashy

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lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

U6

diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 6: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

suporia ulsvios decirc pesquisa para o comando da ordem social existente Os manecer em silecircncio Satildeo as condiccedilotildees sociais objetivas emergentes e nossa dilemas morais resultantes para os cientistas que assumem suaresponsabilishy patente inabilidade em combatecirc-Ias que essencialmente explicam a necessidashydade social seriamente satildeo certamente reais Ao contraacuterio da opiniatildeo popushy de de uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico lar por isso parece apropriado concluir que a filosofia da ciecircncia social eacute poshy -i tencialmente muito superior agrave da ciecircncia natural e que a fusatildeo eventual dos dois campos de estudo divulgar-se-ia natildeo atraveacutes de tentativas de cientifishyzar a ciecircncia social mas ao contraacuterio pela socializaccedilatildeo da ciecircncia natural (veja-se Marx Economic anti Philosofic Manuscripts of 1844 164) Isso pode significar a s-lbstituiccedilatildeo da manipulaccedilatildeo e controle com a realizaccedilatildeo do potencial humano como criteacuterio baacutesico para a aceitaccedilatildeo do paradigma Em tal ocorrecircncia todos os aspectos da ciecircncia experimentariam fases tanto revoshylucionaacuterias como contra-revolucionaacuterias do pensamento que estariam indushybitavelmente associadas a mudanccedilas revolucionaacuterias na praacutetica social

Retornemos agora agrave questatildeo inicial Como e por que tentariacuteamos chegar a uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico A revoluccedilatildeo quantitativa pershycorreu seu curso e natildeo considerando retornos marginais estaacute aparentemenshyte consolidada natildeo obstante outro exemplo de ecologia fatorial uma outra tentativa de medir o efeito de distacircncia-decliacutenio outra tentativa de identificar a difusatildeo de um bem servem para dizer-nos menos a respeito de qualquer coisa de grande relevacircncia Em adiccedilatildeo haacute jovens geoacutegrafos agora tatildeo ambishyciosos quanto eram os quantificadores na deacutecada de 60 um pouco famintos por reconhecimento e um pouco desencantados com o que fazer Assim haacute murmuacuterios de descontentamento dentro da estrutura social de nossa disciplishyna quando os quantificadores estabelecem firme controle na produccedilatildeo de esshytudantes graduados e nos curriacuteculos dos vaacuterios departamentos Essa condiccedilatildeo socioloacutegica dentro da disciplina natildeo eacute suficiente para justificar uma revoluccedilatildeo no pensamento (nem deveria) mas a condiccedilatildeo existe Mais importante haacute clara disparidade entre a teoria sofisticada e a estrutura metodoloacutegica que esshytamos usando e nossa habilidade em dizer qualquer coisa realmente significashytiva sobre os eventos tais como eles se desenvolvem em torno de noacutes Haacute anomalias entre o que tentamos explicar e manipular e o que atualmente acontece Haacute um problema ecoloacutegico um problema urbano um problema de comeacutercio internacional e natildeo obstante parecemos incapazes de dizer qualquer coisa de fundo ou profundidade sobre qualquer deles Quando realshymente dizemos alguma coisa ela parece trivial e talvez ridiacutecula Em resumo nosso paradigma natildeo estaacute resistindo bem Ele estaacute maduro para cair As conshydiccedilotildees sociais objetivas demandam que digamos alguma coisa sensiacutevel ou coerente ou de uma vez para sempre (atraveacutes da ausecircncia de credibilidade ou mesmo pior atraveacutes da deterioraccedilatildeo das condiccedilotildees sociais objetivas) per-

Como deveriacuteamos realizar tal revoluccedilatildeo Haacute um nuacutemero de medidas que poderiacuteamos tomar Poderiacuteamos como se sugeriu abandonar a base positishyvista do movimento quantitativo por um idealismo filosoacutefico abstrato e espeshyrar tanto que as condiccedilotildees sociais objetivas orientassem em direccedilatildeo agrave sua proacutepria soluccedilatildeo como que os conceitos forjados atraveacutes de modelos idealistas de pensamento alcanccedilassem eventualmente bastante conteuacutedo para facilitar a mudanccedila criativa das condiccedilotildees sociais objetivas Eacute contudo uma caracteshyriacutestica do idealismo que esteja para sempre destinado a buscar em vatildeo um conteuacutedo real Poderiacuteamos tambeacutem rejeitar as bases positivistas dos anos 60 por uma base fenomenoloacutegica Parece mais atrativo do que o procedimenshyto idealista desde que ao menos serve para manter-nos em contato com o conceito de homem como um ser em constante interaccedilatildeo sensiacutevel com as realidades sociais e naturais que o cercam Natildeo obstante a abordagem fenoshymenoloacutegica pode conduzir-nos ao idealismo ou de volta ao empirismo positishyvista ingecircnuo tatildeo facilmente quanto pode levar-nos a uma forma de materiashylismo socialmente acauteIadora A assim chamada revoluccedilatildeo behaviorista em geografia aponta em ambas as direccedilotildees PQr isso a estrateacutegia mais frutiacutefera nessa conjuntura eacute explorar aquela aacuterea do entendimento em que certos aspectos do positivismo materialismo e fenomenologia salientam-se em proshyver interpretaccedilotildees adequadas da realidade social na qual nos encontramos Esshysa saiacuteda eacute mais claramente explorada no pensamento marxista Marx nos Mashynuscritos Econoacutemicos e Filosoacuteficos de 1844 e na Ideologia Alemo deu a seu sistema de pensamento uma base fenomenoloacutegica poderosa e atraente

Haacute tambeacutem certas coisas que o marxismo e o positivismo tecircm em coshymum Ambos tecircm uma base materialista ~ ambos valem-se de um meacutetodo analiacutetico A diferenccedila essencial naturalmente eacute que o positivismo simplesshymente procura entender o mundo enquanto o marxismo busca mudaacute-lo Dishyto de outro modo o positivismo tira suas categorias e conceitos de uma reashylidade existente com todos os seus defeitos flnquanto as categorias e conceishytos marxistas satildeo formulados atraveacutes da apliccedilaccedilatildeo do meacutetodo dialeacutetico agrave hisshytoacuteria tal como este se desenvolve aqui e agora atraveacutes de acontecimentos e accedilotildees O meacutetodo positivista envolve por exemplo a aplicaccedilatildeo da loacutegica trashydicional bivalente aristoteacutelica para testar hipoacuteteses (a hipoacutetese nula da infeshyrecircncia estatlstica eacute uma invenccedilatildeo puramente aristoteacutelica) as hipoacuteteses natildeo satildeo nem verdadeiras nem falsas e uma vez categorizadas permanecem semshypre assim A dialeacutetica por outro lado propotildee um processo de entendimento que implica na interpenetraccedilatildeo dos contraacuterios nas contradiccedilotildees e paradoxos incorporados e indica o processo de resoluccedilatildeo Tanto quanto eacute relevante fashy

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lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

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diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

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II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 7: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

lar de verdade e falsidade a verdade consiste no processo dialeacutetico mais do que as asserccedilotildees derivadas do processo Essas asserccedilotildees podem ser designadas como verdadeiras somente em dado momento no tempo e em qualquer caso podem ser contraditadas por outras proposiccedilotildees verdadeiras O meacutetodo dialeacutetico leva-nos a inverter a anaacutelise se necessaacuterio para encarar as soluccedilotildees como problemas para tomar as questotildees como soluccedilotildees

Finalmente chego agrave questatildeo da formaccedilatildeo do gueto aJeitor pode aqui achar que o antecedente foi uma introduccedilatildeo sofisticada que tem relevacircncia apenas superficial para a questatildeo de entender a formaccedilatildeo do gueto e imaginar soluccedilotildees para o problema do gueto De fato eacute crucial no caso porque eu arshygumentaria que estamos habilidcl0s a dizer alguma coisa relevante para o problema somente se buscamos autoconscientemente no processo estabeleshycer uma teoria geograacutefica revolucionaacuteria para lidar com ele Argumentaria tambeacutem que podemos imaginar esse entendimento usando muitas das fershyramentas que nos satildeo corretamente uacuteteis Contudo devemos estar preparashydos para interpretar esses instrumentos de modo novo e bem diferente Em resumo necessitamos pensar em termos de oxigecircnio em vez de em termos de ar deflogistificado

a gueto tem atraiacutedo bastante atenccedilatildeo como um dos maiores problemas soshyciais da cidade americana Nas cidades inglesas estaacute surgindo o temor da polarizaccedilatildeo e da guetizaccedilatildeo Sustenta-se geralmente Que os guetos satildeo coisas maacutes e Que seria socialmente desejaacutevel eliminaacute-los preferivelmenshyte sem eliminar a populaccedilatildeo que eles contecircm (a posiccedilatildeo de Banfield a respeishyto dessa questatildeo parece um tanto ambigua) A intenccedilatildeo aqui natildeo eacute tentar uma anaacutelise detalhada da literatura sobre o gueto nem perder-se em definishyccedilotildees sobre ele Ao contraacuterio deveraacute ser feito um exame das teorias geograacuteshyficas que parecem ter alguma relevacircncia para entender a formaccedilatildeo do gueto e a permanecircncia do gueto a corpo teoacuterico mais oacutebvio que deve ser examinado aqui eacute naturalmente o uso do solo urbano

Um grande segmento da teoria do uso do solo urbano em geografia toma sua inspiraccedilatildeo da escola de socioacutelogos de Chicago Park Burgess e Mckenzie (1925) escreveram bastante sobre a cidade e elaboraram uma interpretaccedilatildeo da forma urbana em termos ecoloacutegicos Eles notaram a concentraccedilatildeo de grupos de renda baixa e de vaacuterios grupos eacutetnicos em setores especificos da cishydade Descobriram tambeacutem que a cidade possui certa regularidade de forma espacial Dai Burgess elaborou o que veio a ser conhecido como a teoria zoshynal concecircntrica da cidade Park e Burgess ao mesmo tempo olhavam a cishydade como uma espeacutecie de produto urbano um complexo ecoloacutegico dentro do processo de adaptaccedilatildeo social uma especializaccedilatildeo de funccedilotildees e um estilo

de vida uma competiccedilatildeo por espaccedilo habitaacutevel e sendo assim agiram para produzir uma estrutura espacial coerente o conjunto mantido unido por algushyma coisa culturalmente derivada da solidariedade social que Park (1926) chamou a ordem moral Os vaacuterios grupos e atividades dentro do sistema urbano eram essencialmente mantidos unidos por essa ordem moral e eles meramente disputavam posiccedilotildees (sociais e espaciais) dentro das restriccedilotildees impostas pela ordem moral O centro principal de interesse era descobrir quem chegava onde e que condiccedilotildees eram semelhantes quando eles ali cheshygavam a principal objetivo da escola de Chicago era necessariamente desshycritivo Essa tradiccedilatildeo teve influecircncia extraordinariamente poderosa no pensashymento geograacutefico e embora as teacutecnicas de descriccedilatildeo tenham mudado um pouco (a ecologia fatorial substituindo essencialmente a ecologia descritiva humana) a direccedilatildeo essencial do trabalho natildeo mudou muito A escola de geoacuteshygrafos urbanos de Chicago deriva firmemente da escola de socioacutelogos de Chishycago(veja-se Berry e Horton 1970) Eacute curioso notar contudo que Park e Burgess natildeo prestaram muita atenccedilatildeo agrave espeacutecie de solidariedade social gerada atraveacutes da atuaccedilatildeo do sistema econocircmico nem para as relaccedilotildees sociais e econocircmicas que derivam das consideraccedilotildees econocircmicas Eles natildeo ignoraram o assunto naturalmente mas isso era de importacircncia secundaacuteria para eles Como resultado a teoria do uso do solo urbano que desenvolveram possui uma falha critica quando eacute usada para explicar o gueto Eacute interessante obshyservar que Engels escrevendo oitenta anos antes de Park e Burgess notou o fenocircmeno das z()oas concecircntricas na cidade mas interpretou-as em termos econocircmicos de dasse A passagem eacute uma valiosa citaccedilatildeo porque provecirc vaacuterias introspecccedilotildees sobre a estrutura espacial das cidades

Manchester conteacutem em seu centro um distrito comercial mais do que amplo talvez com cerca de meia milha de extensatildeo largo consistindo quase inteiramente de escritoacuterios e armazeacutens a distrito inteiro estaacute quase sem moradores e eacute solitaacuterio e deserto agrave noite( ) a distrito eacute atravessado ao meio por ruas principais onde se concentra o grande comeacutercio e o niacutevel inshyferior eacute guarnecido de lojas iluminadas Nessas ruas os andares superiores satildeo ocupados aqui e acolaacute e haacute bastante vida neles ateacute tarde da noite Com exceccedilatildeo deste distrito comercial toda proacutepria Manchester todo o Salford e o Hulme( ) satildeo quarteirotildees homogecircneos de gente trabalhadora estendidos como um circuito espalhados em meia milha de largura em tomo do disshytrito comercial Por fora ~Um desse circuito vive a meacutedia e alta burguesia a meacutedia burguesia em ruas regularmente enfeitadas na vizinhanccedila de quarshyteirOes de trabalhadores( ) a alta burguesia em vilas remotas com jardins () ao ar livre e saudaacutevel do campo em finas e confortaacuteveis residecircncias ser~ vidas a cada meia ou quarto de hora por ocircnibus Que se dirigem agrave cidade E a parte mais haacutebil do arranjo eacute Que os membros da aristocracia do dinheiro po_

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dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

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diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

158 159

I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 8: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

dem tomar o caminho mais curto em meio a todos os distritos de trabalhadoshyres sem nunca ver que estes estatildeo no meio da miseacuteria suja que se esconde acirc direita c atilde esquerda Isso porqu~ as ruas que conduzem atilde Bolsa de todas as direccedilotildees da cidade satildeo ladeadis de ambos os lados por uma seacuterie quase ininterrupta de lojas tatildeo seguras nas matildeos da meacutedia e baixa burguesia( ) (que) bastam para ocultar dos olbos dos homens e mulheres ricas de estocircshymagos fortes e nervos fracos a miseacuteria e a sujeira que constituem o complemento de sua riqueza ( ) Eu sei muito bem que esse plano hipoacutecrishyta eacute mais ou menos comum a todas as grandes cidades eu sei tambeacutem que os negociantes atacadistas satildeo forccedilados pela natureZa de seus negoacutecios a toshymar posse das grandes avenidas eu sei que haacute mais edifiacutecios bons do que maus com tais ruas em toda a parte que o valor do solo eacute maior em sua proxishymidade do que em distritos remotos mas ao mesmo tempo eu nunca vi tatildeo sistemaacutetica separaccedilatildeo da classe trabalhadora das ruas principais com o objeshytivo de ocultar tudo que possa afrontar os olhos e os nervos da burguesia como em Manchester E ainda sob outros aspectos Manchester eacute menos construiacuteda de acordo com um plano segundo regulamentos oficiais eacute mais um crescimento desordenado casual do que outra cidade quando considero nesta relaccedilatildeo a aacutevida impudecircncia da classe meacutedia de que a classe trabalhadoshyra estaacute indo bem natildeo posso deixar de sentir que os manufatureiros liberais os grandes Wigs de Manchester natildeo satildeo tatildeo inocentes afinal no assunto de seu refinado meacutetodo de construccedilatildeo (Engels The Conditiacuteon of the English Working Class in 1844 46-7)

A linha de abordagem adotada por Engels em 1844 era e ainda eacute mais consistente em relaccedilatildeo agraves duras realidades econocircmicas e sociais do que era a abordagem essencialmente cultural de Park e Burgess De fato com certas modificaccedilotildees oacutebvias a descriccedilatildeo de Engels poderia facilmente ser feita para adaptar-se agraves cidades americanas contemporacircneas (zoneamento concecircntrico com boas facilidades de transporte para os afluentes que vivem nos arrabalshydes protegendo os usuaacuterios na cidade de ver a sujeira e a miseacuteria que satildeo o complemento de sua riqueza etc) Eacute uma pena que os geoacutegrafos contemposhyracircneos tenham olhado mais para Park e Burgess do que para Engels em sua inspiraccedilatildeo A solidariedade social que Engels notou natildeo era gerada por neshynhuma superordenada ordem moral Ao contraacuterio as miseacuterias da cidade eram inevitaacutevel complemento de um sistema capitalista miseraacutevel e avarenshyto A solidariedade social era reforccedilada atraveacutes da operaccedilatildeo do sistema de mercado de troca Engels refere-se a Londres assim estes londrinos foram forccedilados a sacrificar as melhores qualidades de sua natureza humana a se fashyzer passar por todos os assombros de civilizaccedilatildeo que glorificaram sua cidade centenas de poderes que dormitavam dentro deles permaneceram inativos foram suprimidos para que uns poucos pudessem desenvolver-se mais ampla

e multiplicavelmente atraveacutes da uniatildeo com os de outros( ) A indiferenccedila brutal o isolamento vazio de cada um em seu interesse privado tornou-se tatildeo mais repelente e ofensivo quanto mais os indiviacuteduos eram jogados juntos dentro de um espaccedilo limitado ( ) A dissoluccedilatildeo da humanidade em mocircnadas cada uma com um princiacutepio separado o mundo dos aacutetomos estaacute aqui agrave mosshytra em seu uacuteltimo extremo Daqui decorre tambeacutem que a guerra social a guerra de cada um contra todos estaacute aqui abertamente declarada( ) as pesshysoas olham-se somente como objetos de uso cada um explora o outro e o fim de tudo isso eacute que omiddot mais forte pisa o mais (raco sob os peacutes e que os poucos IXlderosos os capitalistas agarram tudo para si proacuteprios enquanto pashy

ra os muito fracos os pobres nem uma existecircncia simples sobra( ) Em qualquer parte a baacuterbara indiferenccedila duro egoiacutesmo de um lado e miseacuteria irremoviacuteve de outro em toda a parte a guerra social cada habitaccedilatildeo humana em estado de siacutetio em toda parte a pilhagem reciacuteproca sob a proteshyccedilatildeo da lei e tudo tatildeo desavergonhado tatildeo abertamente declarado que se treme diante das consequumlecircncias de nosso estado social tais como elas proacuteshyprias se manifestam aqui sem disfarces e pode-se somente desejar que a faacuteshybrica inteira louca ainda se enforque junto Cop cit 23-5)

Se limparmos a linguagem um pouco (eliminando a referecircncia ao capitalisshymo por exemplo) teriacuteamos a descriccedilatildeo virtuosa do Relatoacuterio da Comissatildeo Kerner (1968)

A estrutura espacial comum das cidades observada por Engels e por Park e Burgess JXlde assim ser analisada do ponto de vista econocircmico e cultural A questatildeo que Engels coloca a respeito do modo pelo qual um sisshytema poderia evoluir sem a direccedilatildeo dos Grandes Wigs e aleacutem disso estar em clara vantagem sobre eles tem sido subsequumlentemente objeto de detalhashyda anaacutelise econocircmica A possibilidade de utilizar os princiacutepios da economia marginalizada para explicar esse fenocircmeno foi inicialmente indicada no trashybalho de von Thuumlnem num contexto agriacutecola Isso forn~ceu a base para uma teoria econocircmica do mercado urbano do solp no trabalho relativamente reshycente de Alonso (1964) e Muth (1969) Os detalhes dessa teoria natildeo necessishytam deter-nos (contudo veja-se o Capiacutetulo 5) mas eacute forccediloso examinar sua contribuiccedilatildeo para um entendimento da formaccedilatildeo do gueto O uso urbano do solo argumente-se eacute determinado atraveacutes de um processo de ordem compeshytitiva em relaccedilatildeo ao seu uso A ordem competitiva desenvolve-sede modo que as rendas do solo satildeo mais altas perto do centro de atividade (na teoria geralmente assume-se que todo o emprego estaacute concentrado numa Iocalishy7accedilatildeo central) amp agora considerarmos a escolha residencial aberta para dois grupos na populaccedilatildeo (um rico e outro pobre) com relaccedilatildeo a um centro de

emprego podemos predizer onde cada um deve viver examinando a estrutushyra de suas curvas de quantidade de renda Para o grupo pobre a curva de

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quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

U6

diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 9: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

quantidade de renda eacute caracteristicamente alta desde que o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte e por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a distacircncia do lugar de emprego O grupo rico por outro lado tem caracteristicamente uma curva de quantidashyde de renda baixa desde que seu poder de decidir natildeo eacute muito afetado pela soma de dinheiro gasta em transporte Quando colocados em competiccedilatildeo entre si encontramos o grupo pobre forccedilado a viver no centro da cidade e o grupo rico vivendo fora (tal como Engels descreveu) Isso significa que os pobres satildeo forccedilados a viver em solo de renda alta A uacutenica maneira deles ajustarem-se a isso ~ niacutelturalmente poupar a quantidade de espaccedilo que consomem e apertar-se em aacutereas bastante pequenas A loacutegica do modelo indica que os grupos pobres estaratildeo concentrados em aacutereas de alta renda proacuteshyximas ao centro da cidade em condiccedilotildees de grande aperto Agora eacute possiacutevel construir um nuacutemero de variantes do modelo desde que a forma da curva de quantidade de renda do rico seja realmente funccedilatildeo de sua preferecircncia pelo esshypaccedilo em relaccedilatildeo ao custo de transporte Lave (1970) mostra que a estrutura espacial da cidade mudaraacute se as preferecircncias do grupo rico mudam Se a conshygestatildeo dos custos aumenta na aacuterea central por exemplo e o rico decide que o tempo e a frustraccedilatildeo natildeo merecem isso entatildeo ele pode facilmente alterar sua funccedilatildeo de quantidade de renda e voltar ao centro da cidade Vaacuterias esshytruturas urbanas podem ser preditas dependendo da forma das curvas da quantidade de renda e eacute perfeitamente factiacutevel encontrar o rico vivendo no centro da cidade e o pobre localizado nos arrabaldes Neste caso os pobres satildeo forccedilados a ajustarem-se por exemplo trocando tempo por custo de disshytacircncia de modo que gastam grandes quantidades de tempo caminhando para o trabalho para gastar menos em custos de transporte (condiccedilatildeo natildeo descoshynhecida nas cidades da Ameacuterica Latina) Tudo isso significa atualmente que o grupo rico pode sempre forccedilar preferecircncias sobre o grupo pobre porshyque ele tem mais recursos para aplicar tanto para custos de transporte como para obter solo qualquer que seja a localizaccedilatildeo que escolha Isso eacute a consequumlecircncia natural derivada da aplicaccedilatildeo dos principios econocircmicos margishynalistas (a curva de quantidade de renda sendo um tiacutepico artifiacutecio) a uma sishytuaccedilatildeo na qual as diferenccedilas de renda satildeo substanciais A teoria repousa na obtenccedilatildeo do que eacute usualmente chamado bull oacutetimo de Pareto no mercado de moradias

Eacute possiacutevel usar formulaccedilotildees teoacutericas desse tipo para analisar o desequishyliacutebrio num sistema urbano e imaginar poliacuteticas que serviratildeo para trazer as condiccedilotildees novamente ao equiliacutebrio Com a raacutepida suburbanizaccedilatildeo do empreshyganos Estados Unidos desde 1950 anteciparlamos um expediente externo das populaccedilotildees pobres (dadas as funccedilotildees de quantidade de renda) na medida em que elas tentam localizar-se perto de seus centros de emprego Esse expeshy

U6

diente ainda natildeo ocorreu por causa do zoneamento residencial exclusivo nas aacutereas suburbanas Podemos assim atribuir a seriedade do problema do gueshyto na sociedade moderna a uma funccedilatildeo das instituiccedilotildees que evitam a obtenshyccedilatildeo de equiliacutebrio Podemo~ por meio de uma seacuterie de cortes e outras medishydas mudar a legalidade e a constitucionalidade do zoneamento exclusivo(De modo significativo esse esforccedilo eacute sustentado tanto por grupos de direitos civis como corporaccedilotildees desde que os primeiros olham o zoneamento suburshybano como discriminatoacuterio enquanto as uacuteltimas estatildeo preocupadas com a ausecircncia de trabalho de renda baixa nas locaccedilotildees suburbanas) Podemos tambeacutem tentar modificar os controles de uso do solo de tal modo que a esshypeacutecie de situaccedilatildeo apresentada por cerca de 20 comunidades na aacuterea de Prinshyceton Nova Jersey na qual haacute zoneamento industrial e comercial para 12 milhotildees de empregos e zoneamento residencial adequado para 144000 trabashylhadores seria evitada (WaIl Street Journal 27 de novembro de 1970) Poderiacuteamos tambeacutem tentar superar o problema de transporte insuficiente das aacutereas centrais para os subuacuterbios externos subsidiando sistemas de transshyporte ou organizando facilidades especiais de transportes para conseguir levar os residentes do gueto ao emprego suburbano Necessariamente isso implica em que o residente do gueto substitua o tempo pelo custo (se o serviccedilo eacute subsidiado) A maioria destes programas tem falhado Poderiacuteamos tambeacutem tentar recuperar o equiliacutebrio atraindo o emprego de volta para o centro da cishydade atraveacutes de projetos urbanos de renovaccedilatildeo suporte do capitalismo e sishymilares Todas essas soluccedilotildees tecircm como base a suposiccedilatildeo taacutecita de que haacute desequiliacutebrio no uso do solo urbano e que a poliacutetica deveria ser dirigida para colocar o uso do solo urbano de volta ao equiliacutebrio Essas soluccedilotildees satildeo lishyberais no sentido de que reconhecem a iniquumlidade mas buscam curaacute-Ia denshytro de um arte mecanismo social existente (neste caso os mecanismos que satildeo consistentes com a teoria de Von Thuumlnder do uso do solo urbano)

Como podemos identificar soluccedilotildees mais revolucionaacuterias Voltemos a apresentaccedilatildeo de Muth (1969) da teoria de Von Thuumlnen Depois de uma apreshysentaccedilatildeo analiacutetica da teoria Muth procura avaliar a relevacircncia empiacuterica da teoria testando-a contra a estrutura existente do solo residencial em Chicago Seu teste indica que a teoria eacute claramente correta com entretanto certos desshyvios explicaacuteveis por coisas como a discriminaccedilatildeo racial no mercado de moradishyas Podemos assim inferir que a teoria eacute uma verdadeira teoria Essa certeza alcanccedilada por meios positivistas claacutessicos pode ser usada para auxiliar-nos a identificar o problema O que para Muth foi um teste bem sucedido de uma teoria social torna-se para noacutes indicador de qual eacute o problema A teoria prediz que os grupos pobres devem necessariamente viver onde eles possam gastar menos para viver

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Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

middot U

eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 10: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

Nosso objetivo eacute ehminar os guetos Por isso a uacutenica poliacutetica vaacutelida a resshypeito deste objetivo eacute eliminar as condiccedilotildees que tomam verdadeira a teoria Em outras palavras desejamos que a teoria Cle von Thuumlnen do m~rcado doshy

solo urbano n40 se tome verdadeira A abordagem mais simples aqui eacute elishy minar os mecanismos que servem para gerar a teoria O mecanismo neste caso eacute simples competiccedilatildeo crescente pelo uso do solo Se eliminamos esshyte mecanismo eliminaremos presumivelmente o resultado Eacute imediatamenshyte compreensiacutevel em uma poliacutetica de eliminaccedilatildeo de guetos que suplante presumivelmente a competiccedilatildeo crescente com um mercado do solo urbano socialmente controlado e um controle socializado do setor de moradias Sob tal sistema a teoria de von Thuumlnen (que eacute de qualquer modo uma teoria normativa) tornar-se-ia empiricamente irrelevante para nossa compreensatildeo da estrutura espacial do uso do solo residencial Essa abordagem foi tentada em numerosos paises Em Cuba por exemplo todas as residecircncias foram exshypropriadas em 1960 Os alugueacuteis eram pagos ao governo e considerados como amortizaccedilatildeo da posse pelos ocupantes que deviam pagar imediatashymente e regularmente e manter as casas (Valdeacutes 1971) A mudanccedila de ocupaccedilatildeo podia ocorrer somente atraveacutes de uma instituiccedilatildeo do Estado

Os que viviam em casas construiacutedas em 1940 ou perto desse ano foram liberados do pagamento em 1965 se o aluguel tivesse sido pago pontualmenshyte desde 1959 Depois de maio de 1961 todas as novas unidades vazias foram distribuiacutedas a famiacutelias que tinham que pagar aluguel igual a 10 da renda da famiacutelia Aleacutem disso na metade de 1966 o di~eito de viver sem aluguel para o resto de suas vidas foi garantido a todos os ocupantes de casas de cocircmodos que tivessem feito pelo menos 60 meses de pagamento Um total de 268089 famiacutelias estava pagando aluguel em 1969 (Valdes 1971 320)

Obviamente um pequeno paiacutes como Cuba num estaacutegio inteiramente prishymitivo de desenvolvimento econocircmico deveraacute sofrer carestia crocircnica de moshyradias e a pobreza de moradia per se natildeo pode ser eliminada por tal accedilatildeo Contudo as soluccedilotildees adotadas satildeo in teressantes dado que elas tomaram a teoria do mercado do solo urbano de Alonso e Muth irrelevante para entenshyder a estrutura espacial residencial e isto presumivelmente eacute o que deveria acontecer se tiveacutessemos ecircxito em eliminar o gueto

Essa abordagem do mercado do scllo do gueto e da moradia eacute indicadora de uma estrutura diferente para a anaacutelise dos problemas e soluccedilotildees imaginadas Observe-se por exemplo que toda a velha moradia torna-se livre de aluguel Se olhamos o estoque total de moradias de uma aacuterea urbana como um bem social (oposto a privado) entatildeo obviamente a comunidade jaacute pagou pela moshyradia velha Por este caacutelculo toda moradia na aacuterea urbana construida antes diga-se de 1940 (e alguma construidas desde entatildeo) jaacute estaacute paga A diacutevida jaacute foi amortizada e retirada Os uacutenicos custos ligados a isso satildeo os encargos de

manutenccedilatildeo e serviccedilos Temos uma enorme quantidade de capital social inshyvestido no estoque de moradias mas num sistema de mercado privado do soshylo e da moradia o valor da moradia nem sempre eacute medido em termos de uso como abrigo e residecircncia mas em termos da quantia recebida no mercado de troca que pode ser afetada por fatores externos tais como especulaccedilatildeo Em muitas aacutereas urbanas centrais atualmente as casas patentemente possuem pouco ou nenhum valor de troca Isso natildeo significa contudo que natildeo teshynham valor de uso Como consequumlecircncia estamos jogando fora valor de uso porque natildeo podemos estabelecer valores de troca (veja o Capiacutetulo 5) Esse desperdiacutecio natildeo ocorreria em um sistema de mercado de moradias socializashydo e eacute um dos custos que sofremos por aderir tenazmente agrave noccedilatildeo de proshypriedade privada Foi naturalmente uma asserccedilatildeo da teoria econocircmica por algum tempo que o valor de uso estaacute agregado ao valor de troca Enquanto os dois estatildeo obviamente relacionados a natureza das relaccedilotildees depende de quem estaacute fazendo uso Na aacuterea urbana central do mercado de moradia teshymos valores de uso bastante diferentes quando contrastamos o proprietaacuterio que usa a casa como fonte de renda e o morador que estaacute interessado em abrigo

Esse argumento a respeito da teoria do uso do solo residencial de Alonso e Muth eacute muito simplista Desde que eacute frequumlente o caso de que o mecanismo que eacute tomado para os propoacutesitos da teoria natildeo eacute necessariamente o mesmo que os mecanismos reais que geram resultados de acordo com a teoria seria perigoso certamente apontar imediatamente o mercado competitivo como

--sendo a causa primeira da formaccedilatildeo do gueto Todo um teste bem sucedido da teoria deveria ser feito por isso para alertar-nos para a possibilidade de que eacute o mecanismo do mercado competitivo que estaacute falhando Necessitamos examinar esse mecanismo em detalhe

Um mercado funciona sob condiccedilotildees de escasses Dito de outro modo a alocaccedilatildeo de recursos escassos eacute o fundamento da economia de mercado Eacute entatildeo importante para noacutes olharmos outra vez (veja-se acima pp (65-71 96) o conteuacutedo dos dois conceitos recurso e escassez Os geoacutegrafos tecircm reconhecido haacute muito que um recurso eacute uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e social (Sposhyehr 1956) Isso significa que coisas e pessoas se tornam recursos naturais e humanos somente quando possuiacutemos a tecnologia e a forma social apropriashydas para fazer bom uso deles O uracircnio torna-se um recurso a partir de avanshyccedilos tecnoloacutegicos em fiacutesica nuclear e as pessoas tornam-se recursos quando satildeo forccediladas a vender seu trabalho no mercado com o objetivo de sobreviver (este eacute o conteuacutedo real da expressatildeo recursos humanos)

O conceito de escassez do mesmo modo natildeo surge naturalmente mas se torna relevante somente em termos da accedilatildeo social e de objetivos sociais (Peshyarson 1957) A escassez define-se socialmente e natildeo eacute determinada natushy

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eacute eacute elo RoJ9SU1 _ ) ds G~ocieacutenci

8ihlioOOCishy118

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

158 159

I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 11: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

ralmente Um sistem~ de mercado toma-se JXgtssiacutevel em condiccedilotildees de escasshysez de recursos porque somente sob essas condiccedilotildees JXgtdem surgir as mercashydorias de preccedilo estaacutevel nos mercados de trocagrave O sistema de mercado eacute um controle altamente descentralizado imaginado para coordenar a integrar a accedilatildeo econocircmica A extenccedilatildeo dessa forccedila coordenadora permitiu historicashymente imenso aumento de produccedilatildeo de riqueza Por isso encontramos um paradoxo isto eacute que a riqueza eacute produzida num sistema que se fundamenta na escassez para seu funcionamento Segue-se que se a escassez eacute eliminada a economia de mercado que eacute a fonte da riqueza produtiva no capitalismo desapareceria Aleacutem disso o capitalismo estaacute continuamente incrementando sua capacidade produtiva Para resolver esse dilema muitas instituiccedilotildees e mecanismos se formam para garantir que a escassez natildeo desapareccedila De fato muitas instituiccedilotildees satildeo organizadas para manter a escassez (as universidades sendo um bom exemplo embora jsso seja sempre feito em nome da qualishydade) Outros mecanismos garantem o controle sobre o fluxo de outros fashytores de produccedilatildeo Entretanto o poder crescente de produccedilatildeo tem que achar um caminho e dai O processo destrutivo (em aventuras militares programas espaciais e similares) e o processo de criaccedilatildeo de necessidades O que isso suo gere naturalmente eacute que a escassez natildeo pode ser eliminada sem tambeacutem eliminar-se a economia de mercado Em uma sociedade produtiva avanccedilada tal como os Estados Unidos o maior obstaacuteculo para eliminar a escassez reshypousa na complicada seacuterie de instituiccedilatildeo inter-relacionadas (financeiras juriacuteshydicas IXlliacuteticas educacionais etc) que sustentam o processo de mercado Examinemos agora como essa situaccedilatildeo se manifesta no mercado de moradia da aacuterea urbana central

Haacute algumas contradiccedilotildees curiosas em relaccedilatildeo agraves moradias do gueto Um paradoxo eacute que as aacutereas de maior congestionamento satildeo tambeacutem as aacutereas com o nuacutemero maior de casas vagas Haacute cerca de 5000 construccedilotildees vagas em BaItimore boa quantidade das quais em condiccedilatildeo razoaacutevel - e todas estatildeo localizadas em aacutereas de grande congestionamento Outras cidades esshytatildeo passando JXgtr situaccedilatildeo similar As mesmas aacutereas satildeo caracterizadas JXgtr grande proporccedilatildeo de casas abandonadas em troca de impostos sobre a proshypriedade

Os proprietaacuterios na aacuterea urbana central do mercado de moradias ao conshytraacuterio da opiniatildeo JXgtpular natildeo estatildeo conseguindo grandes lucros De fato a evidecircncia sugere que eles estatildeo conseguindo menos do que conseguiriam em outra parte do mercado de moradias (veja Sternlieb 1966 Gribsgy et al l 1971) Alguns natildeo tecircm eacutetica naturalmente mas proprietaacuterios de comportashymento bom racional e eacutetico estipulam uma taxa relativamente baixa de reshytomo Aleacutem disso os alugueacuteis que esses proprietaacuterios impotildeem satildeo muito alshytos em relaccedilatildeo agrave qualidade das acomodaccedilotildees enquanto propriedades e se eles

realmente tecircm boas e racionais razotildees de negoacutecio para natildeo financiar hiJXgtteshycas nas aacutereas urbanas centrais Haacute grande incerteza na aacuterea urbana central e o solo eacute em qualquer caso freqUentemente olhado como maduro para

redesenvolvimento O fato de que o desinteresse em financiar hipotecas torshy I

na-o mesmo mais maduro eacute indubitavelmente entendido pelas instituiccedilfles bancaacuterias desde que haja bons lucros a serem alcanccedilados pelo redesenvolvishymento atraveacutes de usos comerciais Dada a orientaccedilatildeo para maximizar os lushycros essa decisatildeo natildeo JXgtde ser olhada como natildeo eacutetica De fato eacute uma caracshyteriacutestica geral das moradias do gueto que se aceitamos os costumes do comshyJXgtrtamento normal eacutetico empresarial natildeo haacute possibilidade de que possamos culpar algueacutem porque as condiccedilotildees sociais objetivas que todos estamos deseshyjando se caracterizam como apavorantes e ruinosas para os recursos potenshyciais de moradia Eacute uma situaccedilatildeo na qual JXgtdemos encontrar todas as espeacuteshycies de regulamentos contraditoacuterios verdadeiros Consequumlentemente pashyrece impossiacutevel encontrar uma JXgtliacutetica dentro da estrutura econocircmica e insshytitucional existente que seja capaz de corrigir essas condiccedilotildees Subsiacutedios feshyderais para moradias privadas faltam subsiacutedios para aluguel satildeo rapidamente absorvidos por ajustamentos de mercado as moradias puacuteblicas tecircm um pequeshyno impacto porque satildeo muito JXgtucas em quantidade com distribuiccedilatildeo muito localizada (usualmente nas aacutereas onde os pobres satildeo forccedilados a viver de qualshyquer modo) e imaginada para serem usadas somente pelas classes mais baishyxas da sociedade A renovaccedilatildeo urbana apenas contorna o problema e em alshyguns casos produz mais mal do que bem

Engels em uma seacuterie de ensaios intitulados A Questtlo das Moradias pushyblicados em 1872 predisse que este era o impasse ao qual as soluccedilotildees capitashylistas para o problema de moradia conduziriam inevitavelmente Teoricashymente sua prediccedilatildeo pode derivar da criacutetica da anaacutelise de von Thuumlnen exashytamente do mesmo modo como Marx criticou Ricardo Desde que a conceishytuaccedilatildeo de renda do modelo de von Thuumlnen (e no modelo de Alonso e Muth) eacute essencialmente a mesma de Ricardo (apenas surgiu em circunstacircncias um tanto diferentes) JXgtdemos usar os argumentos de Marx (O Capital Volume 3 Theories olSurpJus VaJue parte 2) a respeito exatamente disto A renda de acordo com Marx natildeo era senatildeo uma manifestaccedilatildeo da mais-valia sob instishytuiccedilotildees capitalistas (tais como propriedade privada) e a natureza da renda natildeo JXgtdia ser entendida independentemente deste fato Considerar a renda shycomo algo em si mesmo independente de outras facetas do modo de proshyduccedilatildeo e independente das instituiccedilotildees capitalistas eacute cometer erro conceitual Eacute precisamente esse erro que eacute cometido nas formulaccedilotildees de Alonso e Muth Aleacutem disso esse erro manifesta-se no proacuteprio processo do menashydo capitalista JXgtrque ele requer que as rendas (ou o retomo do capital) sejam maximizadas mais do que realizem uma mais-valia social maacutexima Desde

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que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

158 159

I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 12: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

que a rendaeacute meramente manifestaccedilatildeo possiacutevel e parcial da mais-valia a tendecircncia para maximizar a renda mais do que a mais-valia que daacute origem a ela eacute limitada criando tensotildees na economia capitalista De fato isso potildee em accedilatildeo forccedilas que satildeo antagocircnicas agrave realizaccedilatildeo da proacutepria mais-valia daiacute o deshycliacutenio na produccedilatildeo que resulta quando as forccedilas de trabalho potencial satildeo seshyparadas dos lugares de trabalho pelas mudanccedilas no uso do solo surgidas tanto pelos interesses comerciais que buscam maximizar o retorno do solo sob seu controle como pelas comunidades procurando maximizar suas bases disposhyniacuteveis de taxaccedilatildeo Engels em A Questatildeo das Moradias (1872) indicou a gashyma inteira de consequumlecircncias que fluem dessa espeacutecie de processo competitivo do mercado

O crescimento das grandes cidades modernas daacute ao solo em certas aacutereas particuiarmente nas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor coshylossal e artificial os edifiacutecios erguidos nessas aacutereas deprimem esse valor em vez de aumentaacute-lo porque natildeo correspondem muito agraves circunstacircncias modishyficadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros Isso ocorre sobretushydo com as casas dos trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alushygueacuteis mesmo com a maior valorizaccedilatildeo nunca podem ou somente de modo lento aumentar acima de certo teto Elas satildeo derrubadas e em seu lugar loshyjas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos satildeo construiacutedos (p 23)

Esse processo (que eacute claramente visivel em toda cidade contemporacircnea) resulta da necessidade de realizar uma taxa de retorno numa parcela de solo que seja consistente com sua renda locaciona1 Isso natildeo tem necessariamenshy

te nada que ver com a melhoria da produccedilatildeo O processo eacute tambeacutem consisshytente com certas outras pressotildees

A ciecircncia natural moderna provou que os assim chamados distritos poshybres nos quais os trabalhadores satildeo apinhados juntos satildeo os lugares que geshyram todas as epidemias que de tempos em tempos afligem nossas cidades ( ) A condiccedilatildeo capitalista natildeo pode dar-se ela proacutepria o prazer de criar doshyenccedilas epidecircmicas entre a classe trabalhadora sem impunidade as conseshyquumlecircncias voltam-se contra ela e o espiacuterito da morte lanccedila-se furiosamente em suas fileiras tatildeo cruelmente como nas fileiras dos trabalhadores Tatildeo Ioshyga esse fato foi cientifiCamente estabelecido a burguesia filantroacutepica comeshyccedilou a competir com os demais em esforccedilos nobres em proveito da sauacutede de seus trabalhadores Sociedades foram fundadas foram escritos livros exposishyccedilotildees foram imaginadas leis foram debatidas e aprovadas para eliminar as fontes das epidemias sempre recorrentes As condiccedilotildees de moradia dos trabashylhadores foram examinadas e tentativas foram feitas para remediar os efeitos mais gritantes ( ) Comissliacutees do governo foram organizadas para fazer inshyqueacuteritos sobre as condiccedilotildees de higierie das classes trabalhadoras (p 43)

Hoje eacute a patologia social - drogas e crime - que eacute importante mas o

problema natildeo parece essencialmente diferente As soluccedilotildees imaginadas ainda tecircm as mesmas caracteriacutestiCas Engels refere que na realidade a burguesia tem somente um meacutetodo de resolver a guestatildeo das moradias depois de seu surgimento ou seja de resolve-Ia de=tal modo que a soluccedilatildeo reproduz continuamente a questatildeo de novo Esse meacutetodo eacute chamado Haussmann ( ) Por Haussmann quero dizer a praacutetica que agora se tornou geral de abrir brechas nos quarteirotildees da classe trabalhadora de nossas cidades granshydes e particularmente nas aacutereas que estatildeo centralmente situadas muito lonshyge de ser isto feito por consideraccedilotildees de sauacutede puacuteblica e para embelezar a cishy

- dade ou devido agrave demanda dos negoacutecios de bens de raiz situados no grande centro ou devido as reivindicaccedilotildees do comeacutercio tais como abrir avenidas e ruas (que algumas vezes parecem ter o objetivo estrateacutegico de tornar a luta de barricadas mais difiacutecil) ( ) Natildeo importa quanto possam ser diferentes as razotildees o resultado eacute o mesmo em toda a parte as vielas escandalosas desapashyrecem com o acompanhamento do proacutedigo auto-louvor da burguesia por conta de seu tremendo sucesso mas elas aparecem outra vez imediatamenshyte em alguma outra parte mais e muitas vezes na vizinhanccedila imediata ( ) Os lugares geradores de doenccedilas os buracos e celas infames nos quais o moshydo de produccedilatildeo capitalista confina nossos trabalhadores noite apoacutes noite natildeo satildeo abolidos eles satildeo meramente transferidos para outra parte A mesma neshycessidade econocircmica que os produziu no primeiro lugar os produz tambeacutem no lugar seguinte Tanto quanto o modo de produccedilatildeo capitalista continue a existir eacute tolo esperar por uma soluccedilatildeo isolada da questatildeo da moradia ou de qualquer outra questatildeo social que afetaacute o destino dos trabalhadores A solushyccedilatildeo reside na aboliccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo e na apropriaccedilatildeo de todos os meios de vida e trabalho pela classe trabalhadora (pp 74-77)

A experiecircncia obtida com poliacuteticas de implantaccedilatildeo urbana nas cidades americanas contemporacircneas indica algumas similaridades perturbadoras com o relato de Engels e eacute difiacutecil evitar a conclusatildeo de que a condiccedilatildeo inerente ao mecanismo de mercado capitalista contribui para isto Por isso haacute boa razatildeo para acreditar que nossa suspeita inicial seja correta e que o mecanismo de mercado eacute reacuteu do soacuterdido drama Se pensamos nesses termos podemos exshyplicar por que quase todas as poliacuteticas imaginadas para a aacuterea urbana central tecircm resultado ao mesmo tempo desejaacuteveis e indesejaacuteveis Se renovamos a

cidade meramente movemos a pobreza em torno se natildeo meramente pershymanecemos e observamos a ruiacutena Se evitarpos os condomiacutenios tambeacutem evishytamos aos negros conseguir moradia A fIllstraccedilatildeo decorrente de tal situashyccedilatildeo pode facilmente levar a conclusotildees contraditoacuterias O pobre pode ser culpado por suas condiccedilotildees (uma conclusatildeo que Banfield acha apropriada) e

podemos instituir poliacuteticas baseadas em falhas humanas que pelo menos natildeo provocaratildeo as espeacutecies de questotildees que as falhas politicas inevitaveIshy

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mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

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lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 13: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

mente trazem Por isSo eacute interessante notar que a poliacutetica urbana atualshymente parece envolver mudanccedila na ecircnfase de tentar salvar a aacuterea central das cidades (onde os programas estatildeo destinados a falhar~ para tentar preservar

as aacutereas cinzentas onde o sistema de mercado eacute mais suficientemente rishygoroso para tornar possiacutevel alcanccedilar algum grau de sucesso Se tal poliacutetica evitaraacute a inimizade e a extensatildeo da ruiacutena pode duvidar-se Contudo infortushynadamente isso tambeacutem vincula em conta corrente os valoresmiddot de uso acumulados na aacuterea central das cidades assim como os destinos e vidas dos 15 a 25 milhotildeeacutes de pessoas que estatildeo atualmente condenadas a passar a vishyda inteira em tais locaccedilotildees Parece um preccedilo alto a pagar para meramente evitar uma consideraccedilatildeo realista de ambas as conclusotildees que Engels obteve e as bases teoacutericas sobre as quais a conclusatildeo se fundamenta O ponto ao qual estou tentando me dirigir eacute q~e embora todos os analistas seacuterios conceshydam seriedade ao problema do gueto poucos trazem agrave baila as forccedilas que reshygem o mais profundo de nosso sistema econocircmico Assim discutimos tudo exceto as caracteriacutesticas baacutesicas de uma economia de mercado capitalista Imaginamos todas as maneiras de soluccedilotildees exceto as que poderiam mudar a permanecircncia desta economia Tais discussotildees e soluccedilotildees servem somente para parecermos tolos desde que elas nos conduzem eventualmente a descoshybrir aquilo que Engels estava bem consciente em 1872 que as soluccedilotildees capishytalistas natildeo fornecem nenhum fundamento para lidar com condiccedilotildees sociais deterioradas Elas satildeo meramente ar deflogistificado Podemos se desejarshymos descobrir oxigecircnio e tudo o mais sujeitando as verdadeiras bases de nossa sociedade a um exame rigoroso e criacutetico Eacute essa tarefa que uma abordagem reshyvolucionaacuteria da teoria deve primeiro cumprir O que essa tarefa supotildee

Deixe-me dizer primeiro o que ela natildeo supotildee Ela natildeo mais supotildee outra investigaccedilatildeo empiacuterica das condiccedilotildees sociais nos guetos De fato constatar ainda mais evidecircncias da patente desumanidade do homem para com o hoshymem eacute contra-revolucionaacuterio no sentido de que isto acentua o maldito corashyccedilatildeo liberal em noacutes a pretender que estamos contribuindo para uma soluccedilatildeo quando de fato natildeo estamos Essa espeacutecie de empirismo eacute irrelevante Haacute jaacute bastante informaccedilatildeo em relatoacuterios de congressos jornais livros artigos etc para prover-nos de toda a evidecircncia de que necessitamos Nossa tarefa natildeo consiste nisso Nem ela consiste no que possa somente ser chamadC masshyturbaccedilatildeo moral da espeacutecie que acompanha a uniatildeo masoquista de algum grande relatoacuterio sobre as injusticcedilas diaacuterias relativas agrave populaccedilatildeo do gueto a partir do qual curvamos nossas consciecircncias e oferecemos comiseraccedilatildeo cada um antes de retirarmo-nos para nossos confortos aconchegantes Isso tamshybeacutem eacute contra-revolucionaacuterio porque serve meramente para expiar a culpa sem sermos jamais forccedilados a encarar os assuntos fundamentais abandonanshydo-os e nada fazendo por eles Nem eacute soluccedilatildeo participar daquele turismo

emocional que nos atrai para viver e trabalhar com o pobre bull durante algum tempo na esperanccedila de que possamos realmente ajudaacute-lo a melhorar sua sorte Isso tambeacutem eacute contra-revolucionaacuterio entatildeo fazer o que se ajudamos uma comunidade a obter um parque em um veratildeo de trabalho para descobrir que a escola se deteriora no fim Esses satildeo os caminhos que nIIo deveriacuteamos tomar Eles servem meramente para afastar-nos da tarefa essencial agrave matildeo

Essa tarefa imediata natildeo eacute mais nem menos que a autoconscieacutencia e consshytruccedilatildeo atenta de um novo paradigma para o pensamento geograacutefico social atraveacutes de uma criacutetica aguda e profunda de nossas construccedilotildees analiacuteticas

existentes Isso eacute o que estamos melhor equipados para fazer Somos acadecircshymicos apesar de tudo trabalhando com os instrumentos do ofiacutecio intelecshytual Como tal nossa tarefa eacute mobilizar nossos poderes de pensamento para formular conceitos e categorias teorias e argumentos que possamos aplicar agrave tarefa de possibilitar mudanccedila social humanizadora Esses conceitos e categoshyrias natildeo podem ser formulados abstratamente Devem ser forjados realisticashyrnente com respeito a eventos e accedilotildees tais como eles se desdobram em tomo de noacutes A evidecircncia elnpirica os jaacute referidos relatoacuterios e as experiecircncias obtishydas na comunidade podem e devem ser usados aqui Mas todas essas expeshyriecircncias e- toda aquela informaccedilatildeo significa pouco a menos que a sintetizeshymos em poderosos padrotildees dc~pensamento

Contudo nosso pensamento natildeo pode permanecer meramente apoiado na realidade existente Eacute preciso abraccedilar criativamente alternativas Natildeo poshydemos procurar planejar para o futuro com base na teoria positivista porque fazer assim meramente reforccedilaria o status quo Aleacutem disso como na formashyccedilatildeo de qualquer novo paradigma devemos estar preparados para incorporar e convocar tudo o que eacute uacutetil e vaacutelido dentro daquele corpo teoacuterico Podemos reestruturar a formulaccedilatildeo da teoria existente agrave luz de possiacuteveis linhas de accedilatildeo futura Podemos criticar as teorias existentes como meras apologias forccedila dominante em nossa sociedade - o sistema capitalista de mercado e todas suas concomitantes instituiccedilotildees Dessa maneira estaremos aptos a estabeleshycer ao mesmo tempo as circunstatildenciacuteas sob as quais a teoria da localizaccedilatildeo poshyde ser usada para criar futuros melhores e as circunstacircncias nas quais ela reshyforccedila modos de pensamento que levam agrave manutenccedilatildeo do status quo O proshyblema em muitos casos natildeo eacute o meacutetodo marginalistaper se nem teacutecnicas de

otimizaccedilatildeo per se mas que esses meacutetodos estatildeo sendo aplicados no contexto errado O oacutetimo de Pareto tal como aparece na teoria da localizaccedilatildeo eacute um conceito contra-revolucionaacuterio como em qualquer formulaccedilatildeo que busca a maximizaccedilatildeo de qualquer uma das manifestaccedilotildees parciais da mais-valia (tal como renda ou retorno de investimento do capital) Aleacutem do mais soluccedilotildees programadas satildeo meios claros e extremamente relevantes para entender coshymo os recursos podem ser melhor mobilizados para a proouccedilatildeo de mais-vashy

124 125

lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

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I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 14: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

lin Formulaccedilotildees baseacircdas na obtenccedilatildeo da igualdade na distribuiccedilatildeo satildeo tamshybeacutem contra-revolucionaacuterias a menos que elas sejam derivadas do entendishymento de corno a produccedilatildeo eacute organizada para criar mais-valia Examinando questotildees corno essas podemos finalmente comeccedilar a avaliar as teorias exisshyttntes e no processo (quem sabe) talvez comeccedilar a encontrar os delineashymentos da nova teoria

Urna revoluccedilatildeo no pensamento cientiacutefico eacute efetivada por ideacuteias e conceitos diretores categorias e relaccedilotildees (em um sistema superior de pensamento) quando decidida contra as realidades que requerem a explicaccedilatildeo de modo que chegamos a fazer toda oposiccedilatildeo agravequele sistema de pensamento olhado como ridiacuteculo Desde que somos na maior parte nossos proacuteprios principais oponentes no assunto muitos de noacutes descobriremos que o primeiro passo inicial nesse caminho traraacute desconforto por fazer-nos olhar ridiculamente para noacutes mesmos Natildeo eacute faacutecil isso particularmente se estamos possuiacutedos de orgulho intelectual Ulteriormente a emergecircncia de uma verdadeira revolushyccedilatildeo no pensamento geograacutefico estaacute destinada a ser temperada por um empeshynho para a praacutetica revolucionaacuteria Certamente a aceitaccedilatildeo geral da teoria reshyvolucionaacuteria dependeraacute do vigor e efetivaccedilatildeo da praacutetica revolucionaacuteria Hashyveraacute muitas decisotildees pessoais difiacuteceis de tomar decisotildees que requerem empeshynho real oposto a empenho meramente liberal Muitos de noacutes fugireshymos inclubitabelmente antes de assumir tal empenho porque eacute certamenshyte muito confortaacutevel ser um mero liberal Contudo se as condiccedilotildees satildeo tatildeo seacuterias como muitos de noacutes acreditamos entatildeo chegaremos crescentemente a reconhecer que nada mais pode ser perdido por aquela espeacutecie de empenho e quase tudo estaacute por ser ganho e deveriamos fazer isso a seguir

Comentaacuterio ulterior sobre teorias revolucionaacuterias e contra-revolucionaacuterias

A reaccedilatildeo a uma versatildeo corrente deste artigo indicou certa ambiguumlidade na apresentaccedilatildeo relativa agrave relaccedilatildeo entre o empenho interdisciplinar e as revolushyccedilotildees sociais em geral Essa ambiguumlidade requer esclarecimento

Aceito a proposiccedilatildeo assumida por Marx e Engels em A Ideologia Alematilde de que a classe dominante produz as ideacuteias dominantes na sociedade Essa produccedilatildeo natildeo eacute um processo simples naturalmente mas desde logo as ideacuteias geradas na sociedade satildeo as que satildeo consistentes com os interesses dos que estatildeo com o controle dos meios de produccedilatildeo Natildeo haacute conspiraccedilatildeo necessariashymente envolvida (embora o controle de opiniatildeo de instruccedilatildeo e de propaganshyda muitas vezes suprima ideacuteias potencialmente revolucionaacuterias) A matildeo oculta eacute suavemente efetiva em dominar tanto nossos pensamentos como

nossa economia Contudo natildeo satildeo meramente ideacuteias e conceitos que satildeo proshyduzidos Toda a organizaccedilatildeo do saber (a organizaccedilatildeo do processo de aprendishyzagem a estrutura do sistema educacional a divisatildeo do saber em disciplinas distintas etc) tambeacutem reflete os interesses dominantes na sociedade porque estes satildeo todos parte do processo que contribui para a reproduccedilatildeo da sociedashyde Estudantes formados satildeo assim produzidos como geoacutegrafos planejashydores quiacutemicos meacutedicos professores e outros Natildeo estou dizendo que natildeo possa haver diversidade consideraacutevel nas formas particulares de organizaccedilatildeo acadecircmica ou nos sentimentos expressos Mas ccedil1eve-se dizer que qualquer que seja a forma ela deve ser tal que satisfaccedila a necessidade primaacuteria de pershypetuar a sociedade em seu estado atualIsso significa que em geral todo o sashyber eacute difundido como apologia ao status quo e com formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias que funcionam para frustrar a investigaccedilatildeo de alternativas Isso tambeacutem significa que a organizaccedilatildeo do saber (incluindo as divisotildees disciplishynares) tem um status quo ou postura contra-revolucionaacuteria O objetivo do saber e sua organizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo satildeo inerentemente conservadores

No interior das disciplinas devemos por isso esperar que a maioria das formulaccedilotildees teoacutericas seratildeo do status quo ou contra-revolucionaacuterias Essas formulaccedilotildees reificam caracteristicamente (e deste ou daquele modo tacitashymente legitimam) uma situaccedilatildeo existente em forma de conceito ou aliaacutes (quando natildeo apropriado) dispensa a atenccedilatildeo dos objetivos reais para assuntos que satildeo irrelevantes ou de menor significado A uacuteltima taacutetica daacute certa qualishydade irreal agrave teoria - uma qualidade que eacute particularmente marcada em muitas teorias nas ciecircncias sociais contemporacircneas Consequumlentemente torshyna-se um ato de consciecircncia revolucionaacuteria para o acadecircmico desnudar-se de pressuposiccedilotildees contra-revolucionaacuterias para agarrar-se acirc realidade que estashymos designadamente tentando analisar e compreender Eacute necessaacuterio um esshyforccedilo similar para reconhecer a qualidade apologeacutetica de muita teoria nossa ou adaptar a teoria do status quo para lidar com circunstacircncias modificadas Tais atos de consciecircncia revolucionaacuteria satildeo capazes de gerar revoluccedilatildeo no pensamento dentro de uma disciplina Eacute instrutivo relembrar por exemplo que as formulaccedilotildees fundamentais e bastante revolucionaacuterias de August Losch no campo da teoria da localizaccedilatildeo nasceram de seu senso de dever real C) natildeo para explicar nossa triste realidade mas para aperfeiccediloaacuteshyI la 0954 4)

As revoluccedilotildees no pensamento satildeo tambeacutem necessaacuterias para manter a manipulaccedilatildeo e o controle em circunstacircncias de mudanccedila para os quacutee posshysuem o controle dos meios de produccedilatildeo A revoluccedilatildeokeynesiana foi necessaacuteshyria porque as teorias do status quo da geraccedilatildeo anterior natildeo eram mais ferrashymentas efetivas para serem usadas em circllnstacircncias modificadas As revoshyluccedilotildees no pensamento satildeo assim possiacuteveis e necessaacuterias sem revoluccedilotildees reais

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na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 15: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

na praacutetica social Natildeo desejo minimizar os esforccedilos ou o significado das revoshyluccedilotildees geradas internamente envolvidas no pensamento disciplinar Mas se tais revoluccedilotildees no pensamento satildeo mais do que ~daptaccedilotildees pelas quais os que tecircm o controle na sociedade perpetuam sua hailidade de controle elas devem ser vistas como o comeccedilo de um esforccedilo para introduzir uma teoria revolucionaacuteria mais completa que possa ser vaacutelida atraveacutes da praacutetica revolushycionaacuteria Nisso deve ser primeiro reconhecido que todas as fronteiras discishyplinares satildeo elas proacuteprias contra-revolucionaacuterias A divisatildeo do conhecimento leva o corpo poliacutetico a dividir e a dominar tanto quanto se concebe a aplicashyccedilatildeo do conhecimento Isso tambeacutem toma grande parte da comunidade acashydecircmica impotente porque leva-nos a pensar que podemos entender a realidashyde somente atraveacutes de uma siacutentese do que cada disciplina tem a dizer sobre seu segmento particular e rapidamente sucumbimos ao que eacute uma tarefa tatildeo claramente impossiacutevel Estudos inter multi e jntra-disciplinares satildeo poshytencialmente revolucionaacuterios mas nunca realmente acontecem os obstaacutecushylos contra eles satildeo bastante grandes A realidade tem que ser por isso aborshydada diretamente mais do que atraveacutes de formulaccedilotildees das disciplinas acadecircshymicas Devemos pensar em termos natildeo disciplinares ou contra disciplinares se queremos pensar academicamente sobre todos nossos problemas Formushylaccedilotildees genuinamente revolucionaacuterias natildeo podem ter base disciplinar espeCiacutefishyca elas devem referir-se a todos os aspectos relevantes da realidade material Infelizmente a maioria de noacutes na academia foi treinada para pensar em tershymos de (e para dirigir nossa identidade a respeito de) disciplinas espedficas A geografia tem menos problemas com isso do que a maioria desde que a maior parte dos geoacutegrafos tem pouca ideacuteia do que seja geografia e satildeo forccedilashydos a fazer grande uso de outras disciplinas no curso de seu trabalho Contushydo todos os acadecircmicos tecircm que deseducar-se em algum sentido para que estejam realmente em posiccedilatildeo de confrontar as realidades em torno deles de qualquer modo direto

Confrontando nossa situaccedilatildeo diretamente tomamo-nos ativos participanshytes do processo social A tarefa intelectual eacute identificar escolhas reais tais como satildeo imanentes a uma situaccedilatildeo existente e imaginar maneiras de valishydar ou invalidar essas escolhas atraveacutes da accedilatildeo Essa tarefa intelectual natildeo eacute tarefa de um grupo de pessoas chamadas intelectuais porque todos os inshydiviacuteduos satildeo capazes de pensar e todos os indiviacuteduos pensam sobre sua sishytuaccedilatildeo Um movimento social toma-se movimento acadecircmico e um movishymento acadecircmico toma-se movimento social quando todos os elementos na populaccedilatildeo reconhecem a necessidade de reconciliar a anaacutelise e a accedilatildeo Gramsci (em Cadernos Selecionados do Cdrcere) provecirc uma anaacutelise excelenshyte do papel da atividade intelectual nos movimentos revolucionaacuterios

Eacute realista contudo aceitar que haacute uma tarefa imediata dentro da geograshy

fia Essa tarefa eacute abjurar e rejeitar o status quo e as formulaccedilotildees contra-revoshylucionaacuterias Estamos precariamente em posiccedilatildeo de identificar o joio do trigo em nosso pensamento e demandaraacute algum esforccedilo fazer isso Mas faz sentishydo tentar essa tarefa somente se tivermos em mente o contexto mais amplo do movimento social e a macromudanccedila na qual estamos trabalhando O que fazemos em geografia eacute ultimamente irrelevante e eacute por isso desnecessaacuterio estar preocupados com algum esforccedilo paroquial por alcanccedilar o poder dentro de uma disciplina particular Meu apelo por uma revoluccedilatildeo no pensamento geograacutefico deve por isso ser interpretado como apelo por uma reformulaccedilatildeo da teoria geograacutefica destinada a atualizar-nos em relaccedilatildeo aacutes realidades que procuramos entender assim como colaborar na grande tarefa social de estimular um despertar poliacutetico naquele segmento da populaccedilatildeo chamado bullbullgeoacutegrafos Meus comentaacuterios sobre revoluccedilatildeo social destinaram-se a desshycobrir que a atividade intradisciplinar deve ser formulada no mais amplo contexto social e deve tambeacutem ser ulteriormente substituida por um movishymento social real Eu peccedilo desculpas por essa distinccedilatildeo natildeo ter ficado clara na apresentaccedilatildeo original

Eu insisto em que haacute um nuacutemero de tarefas positivas a serem desempeshynhadas dentro de nossa disciplina Temos que limpar o tumulto contra-revoshylucionaacuterio que nos cerca Ternos tambeacutem que distinguir a qualidade apoloshygeacutetica do status quo do resto de-nossa teoria Essas duas tarefas podem de fashyto ser derivadas da colocaccedilatildeo de um nuacutemero de proposiccedilotildees sobre a natureza da teoria Deixe-me colocaacute-Ias abaixo tanto quanto posso

1 Cada disciplina situa problemas e soluccedilotildees atraveacutes de um estudo das condiccedilotildees reais mediadas atraveacutes de uma estrutura teoacuterica que consiste de categorizaccedilotildees proposiccedilotildees relaccedilotildees sugestivas e conclusotildees gerais

2 Haacute trecircs espeacutecies de teoria (1) A teoria do status quo - uma teoria que se apoia na realidade que

deseja descrever e que representa acuradamente o fenocircmeno que com ele lishyda em um momento particular no tempo Mas tendo atribuiacutedo status univershysal de verdade agraves proposiccedilotildees que contecircm eacute capaz de produzir poliacuteticas presshycritivas que podem resultar somente na perpetuaccedilatildeo do status quo

(lI) A teoria contra-revolucionaacuteria a teoria que pode ou natildeo parecer apoiada na realidade que busca retratar mas que obscurece enevoa e geralshymente ofusca (mesmo que por intenccedilatildeo ou acidente) nossa habilidade em compreender aquela realidade Tal teoria eacute usualmente atrativa e por vezes alcanccedila consenso geral porque eacute logicamente coerente facilmente manipulaacuteshyvel esteticamente atraente ou bastante nova e de moda mas eacute de muitas maneiras bastante alheia aacute realidade que pretende representar Uma teoria contra-revolucionaacuteria automaticamente frustra mesmo a criaccedilatildeo ou a impleshymentaccedilatildeo de poliacuteticas viaacuteveis Eacute por isso um artifiacutecio perfeito para a natildeo toshy

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mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 16: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

mada de decisatildeo porque distrai a atenccedilatildeo dos assuntos fundamentais para asshysuntos superficiais ou inexistentes Pode tambeacutem funcionar como suporte espuacuterio e legitimasatildeo de accedilotildees contra-revolucionaacuterias destinadas a frustrar a jnecessidade de mlidanccedila

A teoria revolucionaacuteria - uma teoria que estaacute firmemente apoiada na realidade que busca representar a cujas proposiccedilotildees individuais eacute atribuiacuteshydo um status contingente verdadeiro (elas estatildeo no processo de tornar-se vershydadeiras ou falsas dependendo das circunstacircncias) Uma teoria revolucionaacuteria eacute formulada dialeticamente e pode trazer o conflito e a contradiccedilatildeo dentro de si Uma teoria revolucionaacuteria oferece oportunidades reais para momentos fushyturos no processo social identificando escolhas imanentes em uma situaccedilatildeo existente A implementaccedilatildeo dessas escolhas serve para validar a teoria e para prover os apoios para a form~laccedilatildeo de nova teoria Uma teoria revolucionaacuteshyria consequumlentemente provecirc a perspectiva para criar a verdade mais do que

para encontraacute-la 3 Proposiccedilotildees individuais e certamente estruturas teoacutericas globais natildeo

estatildeo necessariamente contidas em si proacuteprias em quaJquer uma das categoshyrias acima Elas somente pertencem a uma categoria nO processo de uso em uma situaccedilatildeo social particular De outro modo as proposiccedilotildees e teorias pershymanecem formulaccedilotildees abstratas idealizadas e eteacutereas que possuem forma mas natildeo conteuacutedo (satildeo meramente palavras e siacutembolos) As formulaccedilotildees contra-revolucionaacuterias satildeo frequumlentemente mantidas permanentemente

nesse estado de ausecircncia de conteuacutedo 4 Urna formulaccedilatildeo teoacuterica pode logo que as circunstacircncias mudam e deshy

pendem de sua aplicaccedilatildeo mover ouacute ser movida de uma categoria para outra Isso acarreta dois perigos que devem ser evitados

(I) A cooptaccedilatildeo contra-revoluciondria - a reversatildeo de urna teoria de um estado revolucionaacuterio para um contra-revolucionaacuterio

(lI) A estagnaccedilatildeo contra-revolucionaacuteria - a estagnaccedilatildeo de urna teoria revolucionaacuteria atraveacutes da falha em reforrnulaacute-la agrave llIacutez de novas circunstacircncias e situaccedilotildees por esse meio uma teoria revolucionaacuteria pode tornar-se uma teoria do status quo

Mas haacute tambeacutem duas importantes tarefas revolucionaacuterias (III) A negaccedilatildeo revoluciondria - tomar a teoria contra-revolucionaacuteria e

expocirc-Ia tal qual realmente eacute (IV) A relormulaccedilatildeo revoluciondria - tomar as formulaccedilotildees do status

quo ou contra-revoluciondrias colocaacute -las em movimento ou provecirc-las de conteuacutedo real e usaacute-las para identificar escolhas reais imanentes ao presente

5 Essas tarefas podem ser realizadas e esses perigos podem ser evitados somente se a postura contra-revolucionaacuteria do esforccedilo organizado do conheshycimento (e em particular a divisatildeo disciplinar) eacute reconhecida e realmente confrontada diretamente

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CAPIacuteTULO V

Valor de Uso Valor de Troca e a Teoria do Uso do Solo Urbano

A palavra VALOR eacute preciso observar tem dois significados diferentes algumas vezes expressa a utilidade de algum objeto particular e algumas veshyzes o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite O primeiro pode ser chamado valor de uso e o outro valor de troca As coisas de grande valor de uso tecircm frequumlentemente pequeno ou nenhum vashylor de troca e ao contraacuterio as de grande valor de troca tecircm frequumlentemenshyte pequeno ou nenhum valor de uso (Adam Smith The Wealth oi Nashytions 1776 28)

A distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca foi urna fonte preponderanshyte de consideraccedilatildeo para os economistas poliacuteticos do seacuteculo dezenove Ela estipulou o ponto de partida dos Princfpios de Economia Polttica e Tributashyccedilatildeo de Ricardo assim corno O Capital ~e Marx Jevons (1871 128-44) mashynifestou-se para esclarecer o que corretamente percebia corno certas ambishyguumlidades e inconsistecircncias nas discussotildees de Smith e Ricardo sobre o assunshyto mas no processo ele eliminou muitos assuntos de interesse e socialmenshyte relevantes ligados a elas Ele tornou valor de uso igual agrave utilidade toshytal e valor de troca agrave proporccedilatildeo de troca A uacuteltima entatildeo foi relacioshynada agrave primeira atraveacutes de uma definiccedilatildeo formal - definiccedilatildeo que Jevons julgava ser uma chave mestra para todo o pensamento econocircmico

A proporccedilatildeo de troca de duas mercadorias quaisquer seraacute a reciacuteproca da proporccedilatildeo das medidas finais de utilidade das quantidades de mercadoria uacuteteis para o consumo depois que a troca se realizou

E assim Jevons transformou a economia poliacutetica em ciecircncia econocircmica com sua ecircnfase em artifiacutecios teoacutericos sofisticados para a anaacutelise marginal Esses artifiacutecios sofisticados introspectivos em certos aspectos satildeo instrushymentos fracos para lidar com alguns dos problemas importantes e relevantes colocados pela economia poliacutetica claacutessica Consequumlentemente esses probleshymas tecircm o haacutebito das aves de arribaccedilatildeo o de surgirem outra vezcoacutem novos

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trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 17: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

trajes Eles permeiam bastante a economia do bem-estar e assumem forma bastante especifica em argumentos sobre a especificaccedilatildeo do bem-estar social a provisatildeo de bens puacuteblicos natureza dos excedentes dos consumidores e produtores a natureza e medida apropriada do capital etc Eles tambeacutem surgem na aacuterea poliacutetica Eacute evidente por exemplo que o conceito social de necessi~ade e o conceito econocircmico de demanda satildeo duas coisas bastante diferentes e que existem em uma relaccedilatildeo peculiar entre si Parece relevante por isso relembrar a distinccedilatildeo entre valor de uso e valor de troca em sua forshyma original e indagar se o debate claacutessico pode prover qualquer esclarecishymento a respeito dos problemas urbanos contemporacircneos

Marx fez vaacuterias e significativas contribuiccedilotildees para o debate claacutessico Essas contribuiccedilotildees efetivamente solucionam as ambiguumlidades encontradas nas discussotildees de Smith e Ricardo mas indicam uma direccedilatildeo para a anaacutelise econocircmica bastante diferente daquela sofisticada por Jevons Parte da dificulshydade colocada pela anaacutelise de Marx estaacute em sua maneira bastante original de usar as palavras Ollman (1971) proveu recentemente uma discussatildeo detashylhada sobre esse toacutepico A dificuldade surge porque Marx usa as palavras de modo dialeacutetico e relaciona Valor de uso e troca natildeo tecircm significado em si proacuteprios Eles natildeo se referem como aparece em outras discussotildees da eacutepoca a dois sistemas de escalas fixos e separados (possuindo atributos universais) que existem ambos em algum sentido a priori kantiano ou possam ser descobertos atraveacutes de uma investigaccedilatildeo empiacuterica do comportamento humashyno Para Marx eles ganham significado (passam a existir) atraveacutes do relacioshynamento entre si (e a outros conceitos) e atraveacutes de sua relaccedilatildeo agraves situaccedilotildees e circunstacircncias em discussatildeo (Ollman 1971 179-89) A expressatildeo valor de uso pode assim ser aplicada a toda a clasSe de objetos atividades e evenshytos em situaccedilotildees particulares sociais e naturais Pode referir-se agrave ideologia religiosa instituiccedilotildees sociais trabalho linguagem mercadorias recreaccedilatildeo etc Eacute mesmo razoaacutevel considerar o valor de uso do conceito valor de uso certamente isto eacute o que este ensaio parcialmente pretende

Marx deu bastante atenccedilatildeo ao significado de valor de uso e valor de troca na sociedade capitalista Tanto nos capiacutetulos iniciais de O Capital como em Uma Contribuiccedilatildeo agrave Critica da Economia Polttica ele detalha o significado desses conceitos no contexto capitalista No uacuteltimo trabalho (que esboccedilaremiddot mos aqui) Marx comeccedila aceitando a proposiccedilatildeo de que cada mercadoria tem duplo aspecto de expressatildeo na sociedade capitalista burguesa valor de uso e valor de troca Ele afirma que um valor de uSO tem valor somente em uso e realiia-se no processo de consumo Os valores de uso consequumlenteshymente servem diretamente como meios de existecircncia Empregado dessa maneira contudo o valor de uso como tal estaacute fora da esfera de investigashyccedilatildeo da economia poliacutetica Marx passa entatildeo a considerar o valor de troca

Este sugere aparece agrave primeira vista como relaccedilatildeo quantitativa a proporshyccedilatildeo pela qual valores de usoacute satildeo trocados por outros Mas em seu modo tiacuteshypico passa entatildeo a indagar das forccedilas que geram o valor de troca na socieshydade capitalisti Ele conclui que a criaccedilatildeo de valor de troca reside no processhyso social de aplicaccedilatildeo de trabalho socialmente necessaacuterio aos objetos 9a natushyreza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem Marx entatildeo relaciona valor de uso e valor de troca entre si Eacute interessante contrastar esse meacutetodo com o de Jevons que recorreu agrave suposiccedilatildeo marginalista Marx escreve

Ateacute aqui dois aspectos da mercadoria - valor de uso e valor de troca - foram examinados mas cada um separadamente A mercadoria contushydo eacute a unidade direta do valor de uso e do valor de troca e ao mesmo tempo eacute mercadoria somente em relaccedilatildeo a outras mercadorias O processo de troca de mercadorias eacute a relaccedilatildeo real que existe entre elas Este eacute o processo social desempenhado pelos indiviacuteduos independentemente uns dos outros mas eles somente tomam parte nele como possuidores de mercadorias ( ) A mercashydoria eacute um valor de uso mas como mercadoria ela em si simultaneamente natildeo eacute valor de uso Natildeo seria mercadoria se fosse valor de uso para seu posshysuidor isto eacute meio direto para a satisfaccedilatildeo de suas proacuteprias necessidades Para seu possuidor eacute ao contraacuterio natildeo valor de uso que eacute meramente o depositaacuterio fiacutesico do valor de troca ou simplesmente meio de troca O valor de uso como ativo portador de valor de troca torna-se meio de troca A mershycadoria eacute valor de uso para seu possuidor somente na medida em que eacute valor de troca A mercadoria por isso tem ainda que se tornar valor de uso (_) um valor de uso para outros Desde que natildeo eacute valor de uso para seu possuishydor deve ser valor de uso para outros possuidores de mercadorias Se natildeo eacute este o caso entatildeo o trabalho gasto nela foi trabalho inuacutetil e o resultado consequumlentemente natildeo eacute mercadoria ( ) Para tornar-se valor de uso a mercadoria deve encontrar a necessidade particular que ela possa satisfazer Assim os valores de uso das mercadorias tornam-se valores de uso por uma troca muacutetua de lugares eles passam das matildeos para as quais elas eram meios de troca para as matildeos dos quais elas servem como bens de consumo Soshymente como resultado da alienaccedilatildeo universal de mercadorias entatildeo o trabashylho contido nelas torna-se trabalho uacutetil ( ) Fara tornarem-se mercadorias com valores de uso elas devem ser inteiramente alienadas devem entrar no processo de troca a troca contudo eacute relacionada meramente com seu aspecto como valores de troca Daqui que somente se realizando como vashylores de troca podem elas realizar-se como valores de uso (A Contribuition to the Critique oiPolitical Economy 41-3)

A teacutecnica de Marx aqui eacute colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si atraveacutes da forma que eles assumem na mercadoria

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A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

I

dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

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II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 18: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

A mcrcadoria tambeacutem expressa uma seacuterie de relaccedilotildees sociais A alienaccedilatildeo universal sobre a qual Marx escreve eacute explicada com grande detalhe nos 1be Economic and Philosophic Manuscripts of1844 (pp 106-19) Aiacute Marx mostra que os seres humanos tornaram-se atraveacutes da histoacuteria progressivashymcnte mais alienados (1) doproduto do trabalho (do mundo dos objetos e da natureza) (2) da atividade da produccedilatildeo (como perd~ram o controle dos meios de produccedilatildeo) (3) de sua proacutepria e inerente espeacutecie (que se baseia no sentido pelo qual os seres humanos satildeo uma parte da natureza e por isso thn uma natureza humana) e (4) de si proacuteprios (como cada indiviacuteduo assume lima identidade e eacute forccedilado a competir mais do que a cooperar com os oushytros) Esses aspectos da alienaccedilatildeo universal estatildeo todos presentes na mershycadoria A mercadoria como simples objeto ou coisa em si mesma eacute substituiacuteda na anaacutelise de Marx pela mercadoria como expressatildeo de inumeraacuteshyveis relaccedilotildees sociais que atraveacutes de simples mudanccedila de matildeos pode passar por uma transformaccedilatildeo radical de significado A mercadoria assume conshysigo mesma tudo o mais que estaacute acontecendo na situaccedilatildeo social na qual ela eacute produzida e consumida Eacute nesse estilo dialeacutetico e relacional de anaacutelise que Marx se separa da companhia das anaacutelises tradicionais Haacute indubitavelmenshyte ao mesmo tempo resistecircncia e ressentimento a esse modo de abordar Joan Robinson (citada por OUman 1971 188) queixa-se por exemplo de Hegel colocando seu nariz entre eu e Ricardo Mas uma leitura cuidashydosa da passagem acima sugere que a formulaccedilatildeo de Marx natildeo eacute absurda Ela produz introspeccedilotildees mais adequadas a certos respeitos do que o estratagema imaginado por ]evons Este supotildee dois sistemas separados de valor que po-

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dem ser colocados em relacionamento funcional entre si por um artifiacutecio teoacuteshyrico Essa suposiccedilatildeo tem produzido resultados importantes (particularmenshyte na teoria econocircmica marginalista) mas no contexto de valor de uso e valor de troca levou a teoria econocircmica seja para discussotildees um pouco aacuteridas sobre propriedades matemaacuteticas de funccedilotildees de utilidade seja para confiar na noccedilatildeo mais do que obscura de preferecircncia manifesta que simshyplesmente confirma que as pessoas se comportam do modo pelo qual se comshyportam Geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos por outro lado tecircm tratado de mercadorias apenas em seus aspectos de valor de uso ou se eles procuraram esclarecimentos analiticos Serviram-se inquestionavelmente das anaacutelises marginais O valor de uso provecirc o sustentaacuteculo conceitual dos tratamentos geograacuteficos e socioloacutegicos tradicionais dos problemas de uso do solo mas eacute usado de tal modo que os estudos de uso de solo permanecem fora da esfera de investigaccedilatildeo da economia poliacutetica O meacutetodo marxista de colocar o valor de uso e o valor de troca em relaccedilatildeo dialeacutetica entre si merece consideraccedilatildeo porshyque favorece o duplo propoacutesito de soprar vida nova nos estudos geograacuteficos e socioloacutegicos do uso do solo e de construir uma ponte entre as aoordagens esshy

paciais e econocircmicas dos problemas de uso do solo O uacuteltimo propoacutesito pode ser tatildeo beneacutefico agrave economia contemporacircnea como o eacute para a anaacutelise espacial contemporacircnea

o valor de uso e o valor de troca do solo e das benfeitorias

O solo e suas benfeitorias satildeo na economia capitalista contemporacircnea mercadorias Mas o solo e as benfeitorias natildeo satildeo mercadorias quaisqueacutef assim os conceitos de valor de uso e valor de troca assumem significado em uma situaccedilatildeo mais do que especial Seis aspectos requerem particular atenshyccedilatildeo

(i) O solo e as benfeitorias natildeo podem deslocar-se livremente e isso os dishyferencia de outras mercadorias tais com trigo automoacuteveis e similares O solo e as benfeitorias tecircm localizaccedilatildeo fixa A localizaccedilatildeo absoluta confere privileacutegios de monopoacutelio agrave pessoa que tem os direitos de determinar o uso nessa localizaccedilatildeo Eacute atributo importante do espaccedilo fiacutesico que duas pessoas ou coisas natildeo possam ocupar exatamente o mesmo lugar e este princiacutepio quando institucionalizado como propriedade privada tem ramificaccedilotildees muito imporshytantes para a teoria do uso do solo urbano e para o significado do valor de uso e do valor de troca

(ii) O solo e as benfeitorias satildeo mercadorias das quais nenhum indiviacuteduo pode dispensar Natildeo posso existir Sem ocupar espaccedilo natildeo posso trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aiacute localizados e natildeo posso viver sem moradia de alguma espeacutecie Eacute impossiacutevel existir sem alguma quantidade dessas mercadorias e isso restringe fortemente a escolha do conshysumidor com respeito a elas

(iiiacute) O solo e as benfeitorias mudam de matildeos relativamente com pouca freshyquumlecircncia Em certos tipos de realizaccedilatildeo de negoacutecio (particularmente quando estaacute envolvido um pesado investimento de capital fixo) no planejamento de muitas facilidades puacuteblicas (estradas escolas hospitais etc) e setores estaacuteshyveis do mercado de moradias com ocupantes proprietaacuterios o solo e as benfeishytorias assumem a forma de mercadorias com muita pouca frequumlecircncia mesmo que estejam constantemente em uso No setor de aluguel do mercado de moradias em aacutereas ocupadas por proprietaacuterios de modo instaacutevel e no setor varejista o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito mais frequumlecircncia A interpenetraccedilatildeo dialeacutetica do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria natildeo se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma frequumlecircncia em todas as seccedilotildees da economia urbana

(iv) O solo eacute algo permanente e a probabilidade de vida das benfeitorias eacute muitas vezes consideraacutevel O solo e as benfeitorias e os direitos de uso a elas

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ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 19: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

ligados por isso propiciam a oportunidade de acumular riqueza (tanto para os individuos como para a sociedade) Muitos bens de capital devem sua qualidade a eles mas o solo e as edificaccedilotildees tecircm sido historicamente o reposhysitoacuterio mais simples e importante de obter bens de heranccedila O solo eacute peculiar em um aspecto porque natildeo requer ser mantido em ordem para continuar com seu potencial de uso hatilde como Ricardo indica algo original e indesshytrutiacutevel nele Eacute por isso difiacutecil analisar os padrotildees correntes de uso do solo sem levar em consideraccedilatildeo este aspecto Numa economia capitalista um inshydividuo tem duplo interesse na propriedade ao mesmo tempo como valor de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual tanto agora como no futuro

(v) A troca no mercado ocorre em um momento do tempo mas o uso se estende fXlr um periacuteodo de tempo Esse aspecto da mercadoria natildeo eacute peculiar apenas ao solo e agraves benfeitorias mas a proporccedilatildeo de frequumlecircncia da troca em relaccedilatildeo agrave duraccedilatildeo do uso eacute peculiarmente baixa Direitos de consumo para um periacuteodo relativamente longo de temfXl satildeo obtidos com grande-desembolshyso num momento do tempo Consequumlentemente as instituiccedilotildees financeiras devem desempenhar um papel muito importante no funcionamento do mercado do uso do solo urbano e da propriedade na economia capitalista

(vi) O solo e as benfeitorias tecircm usos diferentes e numerosos que natildeo satildeo mutuamente exclusivos para o usuaacuterio Uma casa por exemplo pode ser usada simultaneamente de muitos modos diferentes Ela propicia

1 abrigo 2 uma quantidade de espaccedilo para uso exclusivo dos ocupantes 3 privacidade 4 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute acessiacutevel aos lugares de trabalho oportushy

nidades de varejo serviccedilos sociais famiacutelia e amigos etc Ce isso inclui a possibilidade do lugar de trabalho etc ser localizado na proacutepria casa)

5 uma localizaccedilatildeo relativa que eacute proacutexima de fontes de poluiccedilatildeo aacutereas de congestionamento fontes de crime e risco pessoas vistas com desagrado etc

6 uma localizaccedilatildeo de vizinhanccedila que tem caracteriacutesticas fiacutesicas sociais e simboacutelicas (status)

7 um meio para lucrar e aumentar riqueza Todos esses usos quando tomados juntos constituem o valor de uso da

casa para seu(s) ocupante(s) Esse valor de uso natildeo eacute o mesmo para todas as pessoas em residecircncias comparaacuteveis nem eacute constante no tempo para a mesma pessoa na mesma moradia Solteiros instaacuteveis jovens casais com fishylhos pessoas idosas aposentadasmiddot pessoas enfermas jogadores e jardineiros todos tecircm diferentes necessidades e consomem aspectos diferentes da morashydia em quantidades diferentes em suas vidas diaacuterias Cada individuo e grupo determinaraacute diferentemente o valor de uso Eacute somente quando as caracteshy

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riacutesticas das pessoas satildeo consideradas com as caracteriacutesticas da moradia que o valor de uso assume real significado

Os valores de uso refletem um misto de necessidade e reivindicaccedilotildees soshyciais idiossincrasias haacutebitos culturais estilos de vida e similares que devi dizer-se natildeo satildeo arbitrariamente estabelecidos pela pura soberania do conshysumidor Mas os valores de uso satildeo basicamente formados relativamente ao que deveria ser chamado de sistema de sustentaccedilatildeo de vida do indiviacuteduo O alor de uso concebido em seu sentido cotidiano permanece fora da esfera da economia poliacutetica Eacuteessencial entender como esse sistema de sustentaccedilatildeo de vida opera Mas natildeo importa quatildeo sofisticado seja nosso entendimento disshyto natildeo podemos criar uma teoria adequada do uso do solo urbano fora dele Para isso emergir devemos focar a atenccedilatildeo naqueles momentos cataliticos do processo de decisatildeo sobre o uso do solo urbano quando o valor de uso eQ vashylor de troca colidem para tornar o solo e as benfeitorias mercadorias As deshycisotildees relativas agrave alocaccedilatildeo de atividades e recursos do solo satildeo tomadas nesses momentos E eacute particularmente importante para entendimento do que aconteshyce nesses momentos ter em mente as caracteriacutesticas muito especiais tanto do solo como das benfeitorias de que o solo eacute possuidor

A teoria do uso do solo urbano

A teoria contemporacircnea do uso do solo urbano estaacute em uma situaccedilatildeo peculiar As anaacutelises se concentram tipicamente quer nas caracteriacutesticas do valor de uso (atraveacutes do estudo do sistema de sustentaccedilatildeo de vida) ou nas cashyracteriacutesticas do valor de troca (o sistema de mercado de troca) mas haacute pouca ou nenhuma informaccedilatildeo sobre como as duas podem ser relacionadas entre si

Geoacutegrafos e socioacutelogos por exemplo tecircm desenvolvido uma variedade de teorias de uso do solo que se ateacutem a padrotildees de uso A zona concecircntrica o nuacutecleo muacuteltiplo e as teorias setoriais nada mais satildeo do que descriccedilotildees generalizadas de padrotildees de uso do espaccedilo urbano A tradiccedilatildeo de pesquisa em ecologia fatorial chega agrave mesma coisa com muito maior sofisticaccedilatildeo (e alshygum esclarecimento) enquanto o trabalho de outros socioacutelogos como Gans (1970) e Suttles (18) produz certa dose de realismo para os sumaacuterios estatiacutesshy

shy ticos um tanto aacuteridos da ecologia fatorial Vaacuterios outros esquemas existem pashyra generalizar estatisticamente sobre os macropadrotildees de uso do solo urbano O modelo exponencial negativo de decliacutenio da densidade-populaccedilatildeo (e renshyda do solo) com a distacircncia do centro urbano foi investigado com algum detashylhe Vaacuterios modelos fora da tradiccedilatildeo da fiacutesica sociaI - de que as formulaccedilotildees

de Wilson (1970) satildeo seguramente os mais sofisticados ateacute o presente- tecircm I

sido tambeacutem utilizados para caracterizar as macrocaracteriacutesticas de atividashy

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des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 20: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

des c usos no sistema urbano Todas essas formulaccedilotildees contudo implicam em sofisticadas anaacutelises de padrotildees de uso que diferem em grau mas natildeo em espeacutecie das expressas no mapa de uso do solo ou na descriccedilatildeo da atividade diaacuteshyria tal como esta se desenvolve no sistema de sustentaccedilatildeo de vida que eacute a cidashyde Muito pode ser obtido wr tais descriccedilotildees Mas estudos como esses natildeo podem criar uma teoria de uso do solo urbano

Por contraste as teorias de uso do solo criadas fora da microeconomia neoshyclaacutessica recaem sobre o valor de troca embora assim fazendo recorram agrave esshytrateacutegia descoberta por Jevons atraveacutes da qual o valor de uso (utilidade) eacute reshylacionado ao valor de troca na margem Alonso (1964) Beckmann (1969) MiacuteIls (1967 1969) e M uth (1969) pressupotildeem maximizaccedilatildeo de utilidade do comportamento por parte dos indiviacuteduos No mercado da moradia isso signifishyca que os indiviacuteduos negociam a quantidade de moradia (usualmente concebishyda como espaccedilo) a acessibilidade (usualmente o custo de transporte ao lugar de emprego) e a necessidade de todos os outros bens e serviccedilos dentro de um orccedilamento mais do que restrito Eacute pressuposto que os consumidores satildeo indishyferentes a respeito de certas combinaccedilotildees de espaccedilo e acessibilidade Eacute tamshybeacutem pressuposto que os indiviacuteduos procuram moradia em uma localizaccedilatildeo superior ateacute o ponto em que a soma extra de satisfaccedilatildeo obtida com uma mudanccedila eacute exatamente igual agrave utilidade marginal de dispender uma quantidashyde extra de dinheiro Desta concepccedilatildeo eacute possiacutevel derivar condiccedilotildees que estatildeo proacuteximas do oacutetimo de Pareto Esse processo pode ser transformado em modelo de vaacuterias maneiras Herbert e Stevens (1960) formularam-no como um proshyblema de programaccedilatildeo no qual os proprietaacuterios de imoacuteveis buscam seu melhor pacote residencial de bens fora da cesta do mercado geral de todos os bens sujeitos a custo e a restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Muth (1969) desenvolve formushylaccedilotildees particularmente sofisticadas nas quais ele tenta juntar anaacutelises da proshyduccedilatildeo de moradia a alocaccedilatildeo do estoque de moradia existente a alocaccedilatildeo de solo para uso e o comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade por parte dos consumidores individuais com diferentes caracteriacutesticas de renda e preferecircnshycias diversas de moradia Outros autores examinaram a competiccedilatildeo pelo espashyccedilo e localizaccedilatildeo entre usos diferentes (comercial industrial residencial etc)

Eacute tentador ver esse corpo de teoria do uso do solo urbano como propiciando uma estrutura adequada para a anaacutelise das forccedilas de mercado que dirigem o uso do solo urbano Infelizmente essas teorias abstraem-se das questotildees de valor de uso e fazem muito pouco para colocar o valor de uso e de troca juntos como fazem as formulaccedilotildees de geoacutegrafos e socioacutelogos que comeccedilam com o valor de uso como consideraccedilatildeo baacutesica O fato de que os modelos de maximizaccedilatildeo da utilidade contecircm afirmaccedilatildeo precaacuteria a respeito da relaccedilatildeo enshytre valor de uso e valor de troca natildeo deveria levar-nos a pensar que os proble- mas reais foram resolvidos Natildeo se trata de condenar os modelos derivados da

microeconomia como inuacuteteis Eles lanccedilam muita luz sobre o aspecto do valor de troca da teoria de uso do solo urbano da mesma maneira como os geoacutegrafos e socioacutelogos lanccedilam luz sobre os aspectos do valor de uso Mas uma teoria adequada de uso do solo urbano requer uma siacutentese desses dois aspectos de tal modo que cheguemos ao processo social da troca de mercadorias no sentido que Marx concebeu para ele Essa teoria natildeo eacute faacutecil de construir particularshymente em vista das qualidades peculiares do solo e das benfeitorias e dos usos diversos para os quais estas podem ser destinadas

A teoria microeconocircmica de uso do solo urbano

Uma criacutetica da abordagem microeconocircmica ajudar-nos-aacute a identificar o problema Kirwan e Martin (1971) criticaram recentemente a contrishybuiccedilatildeo dessa abordagem para nossa compreensatildeo dos usos do solo resishydencial e por razotildees de brevidade concentrar-me-fi nesse aspecto da teoshyria do uso do solo urbano Deve ficarmiddot evidente que minhas notas podem em princiacutepio ser generalizadas para todos os outros aspectos do uso do solo urbano

As formulaccedilotildees tiacutepicas construiacutedas na abordagem microeconocircmica satildeo obviamente natildeo realistas e geralmente admitidas como tais Mas entatildeo isto eacute verdade para todos os modelos microeconocircmicos de qualquer espeacutecie A

1- questatildeo eacute como e em que grau eacute a concepccedilatildeo geral natildeo realista Podemos coshymeccedilar a responder a isso comparando a natureza geral dos resultados com a realidade que estamos procurando entender O fato notaacutevel aqui eacute que emboshyra as teorias extrapoladas analiticamente da estrutura microeconocircmica natildeo possam ser olhadas como verdadeiras no sentido de que elas tecircm sido sushyjeitas a rigorosos testes empiricos essas teorias de uso do solo urbano (embora normativas) alcanccedilam resultados que natildeo estatildeo muito longe das realidades da estrutura urbana De outro modo olhaacute-las entatildeo como tentativas empiricashymente relevantes pode natildeo ter sido demonstrado mas tambeacutem natildeo tecircm sido refutado Essas teorias devem assim ser olhadas talvez como caracterizaccedilotildees gerais natildeo absurdas das forccedilas que governam o uso do solo urbano Haacute contushydo aspectos em que essa conclusatildeo preliminar deve ser criticada explorareshy

mo-las agora

Haacute numerosos e diversos atores no merccedilado de moradia e cada grupo tem um modo distinto de determinar o valor de uso e o valor de troca Considerashyremos a perspectiva de cada um dos principais grupos que operam no mercado de moradia

(i) Os usuaacuterios de moradia consomem os vaacuterios aspectos da habitaccedilatildeo de acordo com seus desejos e necessidades O valor de uso da casa eacute determinado

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~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

U7 156

entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 21: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

~~t1~

pela consideraccedilatildeo conjunta de uma situaccedilatildeo pessoal ou de famiacutelia e uma casa particular em uma localizaccedilatildeo particular Os usuaacuterios proprietaacuterios estatildeo relashycionados com os valores de uso e agem de acordo com isso Mas tanto quanto uma casa tem uso como potencial de riqueza o valor ~ troca pode ser consishyderado Podemos manter nossa casa em ordem para que possamos usaacute-Ia meshylhor ou podemos modificaacute-la com a intenccedilatildeo de aumentar seu valor de troca Os usuaacuterios proprietaacuterios tipicamente- tornam-se interessados no valor de troca em dois pontos - no momento da compra e quando reformas maiores os forccedilam a olhar para suas restriccedilotildees orccedilamentaacuterias Locataacuterios (e outras esshypeacutecies de usufrutuaacuterios) estatildeo em posiccedilatildeo bem diferente porque o valor de uso propicia somente um limite racional para a accedilatildeo enquanto o valor de troca vai para o proprietaacuterio Mas todos os usuaacuterios de moradia tecircm um objetivo simishylar obter valores de uso atraveacutes do arranjo do valor de troca

Corretores de imoacuteveis operam no mercado de moradia para obter de troca Eles obteacutem lucro atraveacute~ de compra e venda ou atraveacutes de cobranccedila de custos de transaccedilatildeo para seus serviccedilos como intermediaacuterios Os intermeshydiaacuterios raramente contribuem muito para o valor de uso da casa (embora eles possam realizar alguns melhoramentos em certos casos) Para os intermediaacuteshyrios o valor de uso da moradia reside no volume de transaccedilotildees porque eacute destas que eles obtecircm o valor de troca Eles operam como empresaacuterios coordeshynadores no mercado de moradia trabalham sob pressatildeo coorporativa e necesshysitam conseguir certa porccedilatildeo de lucro Eles tecircm incentivo para aumentar o gishyro no estoque de moradia porque isso leva a uma expansatildeo do negoacutecio O giro pode ser estimulado por meios eacuteticos ou natildeo eacuteticos (a demoliccedilatildeo eacute um bom exemplo destes uacuteltimos) Os corretores podem assim desempenhar um papel em um continuum como coordenadores passivos do mercado ou como encorashy

jadores da atividade do mercado forccedilando-o (iH) Proprietaacuterios operam na maioria com valor de troca como seu objetishy

vo Usuaacuterios proprietaacuterios que alugam uma parte de sua casa tecircm duplo objeshytivo naturalmente e podem ser motivados por consideraccedilotildees de valor de uso como os que ocupam toda sua propriedade Mas proprietaacuterios rentistas olham a casa como meio de troca - os serviccedilos de moradia satildeo trocados por dinheishyro O proprietaacuterio tecircm duas estrateacutegias A primeira eacute comprar uma propriedashyde rapidamente e entatildeo alugaacute-la para obter renda do capital investido nela A segunda estrateacutegia envolve a compra de uma propriedade atraveacutes de financ1Rshymenta hipotecaacuterio a aplicacatildeo da renda rJr- dlifuumlel para amortIzar a hipoteca (junto com a depreciaccedilatildeo de taxas e impostos) leva entatildeo o proprietaacuterio a aushymentar o valor liacutequido de suas posses A primeira estrateacutegia maximiza a renda corrente (usualmente a curto prazo) enquanto a segunda maximiza o aumento da riqueza A escolha da estrateacutegia tem um impacto importantesoshybre a manipulaccedilatildeo do estoque de moradia a primeira estrateacutegia tende a levar agrave

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raacutepida obsolescecircncia a segunda agrave boa posiccedilatildeo e manutenccedilatildeo A escolha deshypende das circunstacircncias - o custo de oportunidade do capital investido em moradia sendo oposto a todas as outras formas de investimento a utilidade do financiamento de hipoteca etc Qualquer que seja a estrateacutegia permanece o fato de que os rentistas profissionais cuidam da casa como meio de troca e natildeo como valor de uso para si proacuteprios

(iv) Os incorporadores e a induacutestria da construccedilatildeo de moradias estatildeo envolshyvidos no processo de criar novos valores de uso para outros a fim de realizar valores de troca para si proacuteprios A compra do solo sua preparaccedilatildeo (partishycularmente a provisatildeo de utilidades puacuteblicas) e a construccedilatildeo de moradia requerem consideraacutevel desembolso de capital em adiantamento agrave troca As firshymas envolvidas nesse processo estatildeo sujeitas agrave pressatildeo competitiva e devem realizar lucro Elas tecircm por isso forte interesse empregado em proporcionar os valores de uso necessaacuterios para obter benefiacutecios em valor de troca Haacute nushymerosas maneiras (legais ou ilegais) para atingir isso e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte interesse empregado no processo de suburshybanizaccedilatildeo e em menor grau no processo de reabilitaccedilatildeo e redesenvolvimenshyto Do mesmo modo que os intermediaacuterios estatildeo interessados no aumento da mobilidade os incorporadores e firmas de construccedilatildeo estatildeo interessados em crescimento reconstruccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo Esses dois grupos estatildeo interessados em valores de uso para outros somente na medida em que criam valores de troca para si proacuteprios

(v) Instituiccedilotildees financeiras desempenham papel importante no mercado de moradia em relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticagt paniculares da habitaccedilatildeo O financiashymento da casa proacutepria empreendimentos de proprietaacuterios desenvolvimento e nova construccedilatildeo recaem pesadamente sobre os recursos de bancos compashynhias de seguros sociedades de construccedilatildeo e outras instituiccedilotildees de financiashymento Algumas dessas instituiccedilotildees limitam-se ao financiamento do mercado de moradia (as associaccedilotildees de poupanccedila e empreacutestimos nos Estados Unidos por exemplo) Mas outras servem todos os setores e tendem a alocar seus fundos em moradia tanto quanto criar oportunidades de moradia para investishymento lucrativo e seguro relativamente a outras oportunidades de investimenshyto Fundamentalmente as instituiccedilotildees de financiamento estatildeo interessadas em obter valores de troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criaccedilatildeo ou aquisiccedilatildeo de valores de uso Mas as instituiccedilotildees de financiamento como um todo estatildeo envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimocircnio real (industrial comercial residencial etc) e elas por isso conseguem alocar o solo para usos sob seu controle atraveacutes do financiamento Decisotildees dessa espeacutecie satildeo evidentemente orientadas para a lucratividade e para evitar risco

(vi) Instituiccedilotildees governamentais usualmente surgidas de processos poIitishy

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cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

U7 156

entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 22: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

cos aXgtiadas na carecircncia de valores de uso disponiacuteveis para os consumidores de moradia frequumlentemente interferem no mercado de moradia A produccedilatildeo de valores de uso atraveacutes da accedilatildeo puacuteblica (a provisatildeo de moradias puacuteblicas por exemplo) eacute uma forma diretade intervenccedilatildeo mas a intervenccedilatildeo eacute frequumlenteshymente indireta (particularmente nos Estados Unidos) Esta uacuteltima pode assumir a forma de auxilio a instituiccedilotildees financeiras aos incorporadores e agrave inshyduacutestria da construccedilatildeo para obter valores de troca pela accedilatildeo do governo ao proshyver isenccedilatildeo de imXgtstos para garantir lucros ou para eliminar o risco Argushymenta-se que garantir o mercado eacute um modo de assegurar a produccedilatildeo de vashylores de LISO - infelizmente isso nem sempre opera desse modo O governo tambeacutem impotildee e administra uma variedade de restriccedilotildees institucionais na opeshyraccedilatildeo do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspiacutecuos) Tanto quanto o governo aloca muishytos serviccedilos facilidades e vias de acesso ele tambeacutem contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante (veja capiacuteshytulo 2)

As operaccedilotildees de todos esses diversoS grupos no mercado de moradia natildeo poshydem ser facilmente agrupados em uma estrutura compreensiva de anaacutelise O que eacute valor de uso para um eacute valor de troca para outro e cada um concebe o valor de uso diferencialmente A mesma casa pode assumir significado difeshyrente dependendo das relaccedilotildees sociais que os indiviacuteduos as organizaccedilotildees e as instituiccedilotildees expressam nela Um modelo de mercado de moradia que pressushypotildee a alocaccedilatildeo de todo o estoque de moradia entre usuaacuterios (cujas uacutenicas caracteriacutesticas de diferenciaccedilatildeo satildeo a renda e as preferecircncias de moradia) atrashyveacutes do comportamento de maximizaccedilatildeo da utilidade parece peculiarmente restrito em sua aplicabilidade Anaacutelises realistas de como as decisotildees sobre uso do solo urbano satildeo tomadas - com origem na anaacutelise perceptiva de Hurd(1903) - levaram consequumlentemente Wallace Smith(197040) por exemplo a concluir que o conceito tradicional de equiliacutebrio da oferta e deshymanda natildeo eacute muito relevante para a maioria dos problemas ou assuntos que estatildeo associados com o setor de moradia da economia Eacute difiacutecil natildeo conshycordar com esta opiniatildeo porque se uma mercadoria depende da ocorrecircncia conjunta dp valor de uso e do valor de troca no ato social de troca entatildeo as coisas que denominamos solo e moradia satildeo aparentemente mercadorias muishyto diferentes dependendo do grupo particular de interesse que estaacute operando no mercado Quando introduzimos a complexidade ulterior gerada pela comshypeticcedilatildeo entre diversos usos podemos estar inclinados a estender a conclusatildeo de Wallace Smith agrave teoria do uso do solo urbano como um todo

Outra linha geral de criacutetica agrave abordagem microeconocircmica da teoria do uso

do solo urbano deriva do fato de que ela eacute formulada em uma estrutura estaacutetica de equiliacutebrio Isso poderia ser uma criacutetica meramente grosseira contudo se fosse somente indicado que o sistema de uso do solo urbano raramente se aproxima de algo como uma postura de equiliacutebrio e que o oacutetimo de Pareto nunca provavelmente eacute alcanccedilado O desequilibrio diferencial eacute evidente em toda a parte (veja acima capiacutetulo 2) e haacute bastante imperfeiccedilotildees rigidez e imoshybilidades para o mercado operar bem como um esquema coordenado Mas haacute

j um ponto de substacircncia aqui que requer exame A aacuterea urbana sequumlencialshy

) mente num longo periacuteodo de tempo e as atividades e as pessoas assumem suas posiccedilotildees no sistema urbano sequumlencialmente Uma vez localizadas as atividashyI I des e as pessoas tendem a ter particular dificuldade em mover-se A simultashyneidade pressuposta nos modelos microeconocircmicos corre contrariamente ao I que eacute de fato um processo bastante riacutegido Isso indica uma falha fatal rias forshy

mulaccedilotildees microeconocircmicas - sua inabilidade para explicar a qualidade absoshyluta do espaccedilo que fai do solo e das benfeitorias mercadorias tatildeo peculiares A maioria dos autores ou ignoram esse assunto ou natildeo o admitem Muth (1969 47) por exemplo assegura que

Muitos dos aspectos da estrutura da cidade e do uso do solo urbano podem ser explicados sem referecircncia agrave heranccedila do passado Na medida em que haacute qualquer distinccedilatildeo entre solo especialmente solo urbano e outros-fatores de produccedilatildeo tal distinccedilatildeo pareceria surgir principalmente do fato da singularidashyde espacial De fato a singularidade espacial natildeo eacute claramente uma distinccedilatildeo em espeacutecie como poderia algueacutem inicialmente supor Se o trabalho natildeo fosse algumas vezes altamente imoacutevel e por isso espacialmente uacutenico natildeo haveria provavelmente aacutereas deprimidas ou problemas agraacuterios E a oferta de solo com certas caracteriacutesticas espaciais eacute algumas vezes aumentada por ocupaccedilotildees com aacutereas edificadas e frequumlentemente atraveacutes de investimento em facilidades de transporte

Esse tratamento da singularidade espaccedilial (ou espaccedilo absoluto) evidenteshymente natildeo satisfaz A singularidade espacial natildeo pode ser reduzida agrave mera

imobilidade nem a uma questatildeo meramente de acesso ao transporte Dizer que o espaccedilo tem propriedades absolutas eacute dizer que as edificaccedilotildees as

pessoas ( parcdas de terra existem de modo que satildeo mutuamente exclusivas entre si num espaccedilo fiacutesico (euclidiano) tridimensional Esse conceito natildeo eacute em si mesmo conceituaccedilatildeo adequada de espaccedilo para formular a teoria do uso do solo urbano A distatildencia entre dois pontos eacute relativa porque ela depende dos meios de transporte da percepccedilatildeo da distatildencia pelos atores na cena urbana etc (veja capiacutetulo 1) Devemos tambeacutem pensar relacionamente o espaccedilo porque haacute um sentido importante no qualum ponto no espaccedilo conteacutem toshydos os outros pontos (eacute o caso da anaacutelise dopotencial demograacutefico e de varejo por exemplo e eacute tambeacutem crucial para entender a determinaccedilatildeo do valor do

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solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 23: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

solo como veremos mais tarde) Mas natildeo podemos jamais dar-nos ao luxo de esquecer que natildeo pode haver mais do que uma parcela de solo exatamente na mesma localizaccedilatildeo Isso significa que todos os problemas espaciais tecircm qualidade monopolistica inerente a eles O monopoacutelio no espaco absoluto eacute uma condiccedilatildeo de existecircncia e natildeo alguma coisa vivida como um desvio do mundo espacial da competiccedilatildeo perfeita Na sociedade capitalista essa caracshyteriacutestica de espaccedilo absoluto eacute institucionalizada atraveacutes da relaccedilatildeo da proprieshydade de monopoacutelio sobre partes do espaccedilo Nossa atenccedilatildeo tem por isso que dirigir-se para a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalista (Marx Capital volume 3 615-16)_ Os modelos de Muth e Alonso diminuem as qualidades de monopoacutelio do espaccedilo em alguns aspectos importantes essa nliP oepende de um ponto de vista particular sobre o espaccedilo e o tempo ltgtltshy

sim como de certas abstraccedilotildees da localizaccedilatildeo institucional da economia capitashylista

Podemos comeccedilar a incorporar consideraccedilotildees contraacuterias agrave concepccedilatildeo de esshypaccedilo absoluto se visualizarmos a alocaccedilatildeo ocorrendo de um modo sequumlencial atraveacutes de um espaccedilo urbano dividido em grande mas finito nuacutemero de parceshylas de terra A teoria do uso do solo aparece entatildeo como problema sequumlencial de ocupaccedilatildeo do espaccedilo (com a possibilidade de espaccedilo adicional na periferia) No mercado de moradiacomum estoque de moradia fixo o processo eacute anaacutelogo a ocupar assentos sequumlencialmente num teatro vazio O primeiro que entra tem n escolhas o segundo tem n-1 etc com o uacuteltimo natildeo tendo nenhuma escolha Se os que entram assim o fazem de acordo com seu poder de compra entatildeo os que tecircm dinheiro tecircm mais chances enquanto os mais pobres pegam o que sobrou depois de todos terem exerddo a escolha Essa conceituaccedilatildeo eacute sugestiva - particularmente se a ela se une o conceito de excedente do conshysumidor

O excedente do consumidor eacute a diferenccedila entre o que um indiviacuteduo pode realmente pagar por um bem e o que ele estaria inclinado a pagar para natildeo fishycar sem ele (Hicks 1941 1944 Mishan 1971) Esse conceito contribui para restabelecer a distinccedilatildeo perdida entre valor de uso e valor de troca embora isshyso ocorra por meio de uma suposiccedilatildeo que leva a que o valor de uso seja estishymado em termos do valor de troca (eacute uma concepccedilatildeo natildeo marxista do altsunto) O excedente do consumidor provecirc uma ligaccedilatildeo fundamental mas natildeo muito explorada entre a anaacutelise locadonal e a economia do bem-estar (Gaffney 1961 Alonso 1967 Denike e Parr 1970) Que haacute excedentes do consumidor no mercado de moradia por exemploestaacute fora de duacutevida A tashyrda intenssante eacute determinar como eles podem ser calculados e como o exceshydente coletivo dos consumidores (definido por Hicles como a soma de dishynheiro qUl os consumidores em conjunto teriam que perder para deixar cada um deles tatildeo mal como seria se a mercadoria desaparecesse ) eacute distribuiacutedo

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entre os individuos e os grupos Uma distribuiccedilatildeo diferencial surge parcialshymente porque os beneficios custos oportunidades acessibilidades etc estatildeo diferencialmente distjibufdos no sistema de recursos produzidos pelo homem que eacute a cidade (veja oqituIo 2) As parcelas de solo captam beneficios externos gerados em alguma parte e a ocupaccedilatildeo das moradias transfere esses beneficios para os excedentes do consumidor (estamos aqui pensando relacionaIrnente a respeito das parcelas de solo em um espaccedilo absoluto) Restringiremos nossa atenccedilatildeo contudo agrave maneira pela qual a ordem competitiva contribui para a distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor

O modo mais simples de calcular o excedente do consumidor eacute igualaacute-lo agrave aacuterea sob a curva da demanda e acima da linha de preccedilo de equilibrio competishytivo Esse caacutelculo eacute realista somente sob certas suposiccedilotildees (Hicles 1944) mas seraacute suficiente para nosso propoacutesito Procedamos como se houvessem grupos distintos de renda na sociedade com todos os grupos tendo um gosto homogecircshyneo a respeito de serviccedilos de moradia Se a utilidade marginal de moradia pershymanece constante para todos os consumidores entatildeo a curva da demanda sairaacute visivelmente da origem com o aumento de renda do grupo O excedente do consumidor pode tambeacutem aumentar desproporcional mente com o aumento do poder de oferecer o preccedilo O grupo mais rico tem para ofeshyrecer somente pequena soma a mais do que o grupo rico seguinte para obter os direitos de ocupaccedilatildeo na primeira locaccedilatildeo e na melhor moradia Desde que a distribuiccedilatildeo de renda eacute altamente assimeacutetrica nas sociedades capitalistas e o nuacutemero de boas locaccedilotildees eacute presumivelmente limitado eacute muito possivel que a quantidade de excedente do consumidor declinaraacute desproporcionalmente com o decliacutenio da renda do grupo Tambeacutem desde que o poder de oferecer o preccedilo depende da avaliaccedilatildeo do creacutedito haacute um declinio definido do mesmo com o decliacutenio colateral Como conseqtiecircncia podemos encontrar o grupo mais rico nos Estados Unidos pagando em meacutedia por exemplo $50000 por casas que eles estariam preparados (em meacutedia) para oferecer $75000 para natildeo ficar sem elas enquanto os grupos pobres podem estar pagando $5000 por moradias que eles poderiam cada um estar preparados a pagar $6000 cada (alcanccedilando um excedente do consumidor de $25000 no primeiro caso e de apenas $1000 no segundo) Se os grupos ricos ganham mais excedente do eacuteonsumidor por doacutelar desembolsado em moradia do que os pobres eacute uma quesshytatildeo de pesquisa empiacuterica

Numa alocaccedilatildeo sequumlencial de um estoque fixo de moradias com poder comshypetitivo de compra o grupo mais pobre porque chega ao mercado de moradia por uacuteltimo tem que enfrentar produtores de serviccedilos de moradia que estatildeo em uma posiccedilatildeo quase monopoliacutestica Os que chegam por uacuteltimo no processo de oferecer preccedilo podem por isso ser forccedilados aentregar parte de seus excedentes de consumidor como excedentes de produtor para intermediaacuterio proprietaacuterio

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etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 24: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

etc A ausecircncia de escolha torna o pobre mais inclinado a ser esmagado por poliacuteticas quase monopolisticas (processo que natildeo se confina ao mercado de moradia mas que se estende agraves oportunidades de emprego e de compras no varejo etc) Se os excedentes do produtor podem simplesmente ser interpreshyI tados como rendas ou lucros como Mishan (18) sugere entatildeo o excesso de

I lucros e o excesso de rendas pode crescer mais facilmente nesse setor do mershycado de moradia Esses excessos de rendas e lucros podem ser produzidos por competiccedilatildeo mas para o consumidor o resultado eacute o mesmo - o excedente do consumidor eacute diminuiacutedo Dessa maneira podemos antecipar a exploraccedilatildeo do intermediaacuterio (excessivas remarcaccedilotildees nos preccedilos de casa) e a exploraccedilatildeo dos t

proprietaacuterios (rendas excessivamente altas) nas aacutereas mais pobres mesmo se os intermediaacuterios e os proprietaacuterios natildeo tenham obtido lucros excessivos individualmente Essa condiccedilatildeo peculiar pode surgir quando os produtores competem entre si no espaccedilo pela clientela de consumidores presos ao espaccedilo

I em outras palavras estamos lidando com um monopoacutelio de classe dos proprieshyill taacuterios relativo agrave provisatildeo de moradia para uma classe de locataacuterios de baixa

renda O fenocircmeno de monopoacutelio de classe eacute muito importante para explicar a estrutura urbana e por isso requer elucidaccedilatildeo Haacute uma classe de consumidoshyI11H

I ~ res de moradia que natildeo tem nenhuma fianccedila de creacutedito e que natildeo tem escolha M senatildeo alugar onde possam Uma classe de proprietaacuterios surge para proshy~ ver as necessidades desses consumidores mas desde que os consumidores natildeo

i 1 tecircm escolha os proprietaacuterios como as classes tecircm poder de monopoacutelio Proshy11 I1 prietaacuterios individuais competem entre si mas como classe eles possuem certo

comportamento comum padronizado - eles retiraratildeo moradias do mercado II por exemplo se a proporccedilatildeo de retomo do capital cai abaixo de certo niacuteveL

11 Chegar por uacuteltimo ao mercado em um sentido econocircmico deve ser diferenshy

I ciado de chegar por uacuteltimo por outras razotildees Novas famiacutelias que se formam I) tecircm tambeacutem que enfrentar esse problema de algum modo mas em um mercashy

do onde a nova construccedilatildeo eacute possiacutevel os grupos ricos sempre tecircm a opccedilatildeo de apoderar-se de novas construccedilotildees A principal conclusatildeo a ser tirada contushydo eacute que numa economia de mercado de troca capitalista eacute possiacutevel realizar mais ganhos como resultado da qualidade inerentemente monopolistica do esshypaccedilo em algumas situaccedilotildees do que eacute em outras Monopolistas individuais maximizam o lucro produzindo em direccedilatildeo ao ponto onde o custo marginal igualiza a renda marginal mais do que o preccedilo (como seria o caso sob pura competiccedilatildeo) Isso significa gasto mais baixo preccedilo mais alto e lucro mais alto sob monopoacutelio tanto individual como de classe Os ricos que estatildeo plenos de escolha econocircmica satildeo mais capazes de escapar das consequumlecircncias de tal m0shy

nopoacutelio do que os pobres cujas escolhas satildeo muitiacutessimo limitadas Por isso chegamos agrave conclusatildeo fundamental de que o rico pode dominar o espaccedilo enshyquanto o pobre estaacute aprisionado nele (veja acima p 68)

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O argumento construido acima eacute informal e incompleto Mas ele provecirc um contraste uacutetil em relaccedilatildeo ao qual pode-se comparar os modelos de maximizashyccedilatildeo da utilidade de Alonso Muth Beckmann e Mil~ Na medida em que esshyses modelos satildeo formulados em um espaccedilo relativo decirc modo que diminuem as caracteriacutesticas de monopoacutelio do espaccedilo absoluto eles parecem mais apropriashydos como argumentos que governam o que acontece aos grupos afluentes que estatildeo em posiccedilatildeo de escapar das consequumlecircncias do monopoacutelio do espaccedilo as formulaccedilotildees satildeo por isso viezadas em termos de renda O criteacuterio de oacutetimo de Pareto tambeacutem parece irrelevante (se natildeo claramente enganoso) em qualshyquer anaacutelise do mercado urhano de moradia A distribuiccedilatildeo diferencial do excedente do consumidor coletivo conforme o principio de que o primeiro que chega eacute o primeiro que se serve com o rico na frente da fila quase certamente tem efeito diferencial de renda no qual os ricos estatildeo destinados a ganhar mais do que os pobres na maioria das situaccedilotildees A ocupaccedilatildeo sequumlencial no uso do solo urbano do tipo de que estamos supondo natildeo produz um oacutetimo de Pareto mas uma redistribuiccedilatildeo de renda imputada (que eacute para o que o excedente do consumidor realmente leva) Mesmo se levamos em consideraccedilatildeo que uma nova construccedilatildeo eacute possiacutevel (isto eacute que o estoque de moradia natildeo eacute fixo) essa condiccedilatildeo eacute insatisfatoacuteria para mudar a situaccedilatildeo porque os pobres certamente natildeo estatildeo em condiccedilatildeo de gerar atividade no setor privado por causa da fraca demanda efetia por moradia que eles satildeo capazes de expressar no mercado

O espaccedilo absoluto restringido provecirc algumas interessantes introspecccedilotildees no processo de mudanccedila do uso do solo Suponhamos por conveniecircncia quemiddot os ocupantes satildeo geograficamente ordenados de acordo com suas caracteriacutestishycas de renda Como mudaratildeo as posiccedilotildees nessa situaccedilatildeo ordenada Aceita-se frequumlentemente (sem que qualquer evidecircncia seja mostrada para sustentar a afirmaccedilatildeo) que os consumidores tecircm um desejo insaciaacutevel de moradia (o deseshyjo por valores de uso nunca se satisfaz) i e que todos esforccedilam-se por procurar a melhor moradia na melhor localizaccedilatildeo Os mais ricos porque tecircm a maioria dos recursos podem mais facilmentemover-se e se assim o fazem deixam atraacutes de si moradias de boa qualidade que podem ser adquiridas por outros Por um processo de filtragem os grupos mais pobres eventualmente adquirem melhor moradia Essa teoria de filtro por baixo tem sido muito considerada mas haacute pouco evidecircncia para ela (Lowry 1968) Aleacutem do mais certos processos de transformaccedilatildeo do uso do solo e de mobilidade residencial podem ser observajos Se nos valemos Ido modelo resumido de espaccedilo exshyplicitado acima podemos supor algo Os grupos mais pobres que tecircm maior demanda latente por moradia e os menores recursos para obtecirc-la natildeo podem conseguir nova moradia Aleacutem disso os grupos pobres tecircm um poder singushylar (poder com o qual muitos deles provavelmente desejam que natildeo sejam

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abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 25: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

abenccediloados) o de que os grupos mais ricos na sociedade contempontnea natildeo desejam morar em sua proximidade geograacutefica Os pobres por isso exercem uma pressatildeo sqcial que pode variar em sua forma desde mera presenccedila sentishyda atraveacutes de rorte exibiccedilatildeo de todas aquelas patologias sociais associadas com a pobreza ateacute plena rebeliatildeo desencadeada A uacuteltima auxilia melhor a abrir o mercado de moradia aos pobres Em lugaide uma teoria de filtro por baishyxo por isso seria mais interessante examinar uma teoria de explosatildeo A pressatildeo social e fiacutesica eacute exercida na base do mercado de moradia e eacute transmitishyda para cima da escala soacutecio-econocircmica ateacute que os mais ricos satildeo pressionados a mover-se (estamos deixando fora do quadro naturalmente o problema da formaccedilatildeo de novas famiacutelias intramigraccedilatildeo etc) Essa formulaccedilatildeo eacute contudo claramente natildeo realista porque o rico possui o poder poliacutetico e econocircmico para resistir agrave invasatildeo enquanto o grupo soacutecio-econocircmico imediatamente abaixo dele tem um comportamento tatildeo inaceitaacutevel como eacute o do grupo mais pobre Os mais ricos de todos provavelmente natildeo mover-se-atildeo a menos que prefiram o que deixa os vaacuterios grupos intermediaacuterios espremidos entre uma pressatildeo emanada de baixo e uma forccedila poliacutetica e econocircmica inamoviacutevel de cima Dependendo da pressatildeo relativa exercida em pontos diferentes nesse sisshytema diferentes grupos podem explodir grupos de renda meacutedia podem ser forccedilados a sair para novas locaccedilotildees construiacutedas nos subuacuterbios - um processo que pode bem diminuir seu excedente do consumidor Essa espeacutecie de comshyportamento eacute evidente no mercado de moradia - Wallace Smith (1966) descobriu por exemplo que satildeo os grupos de renda meacutedia e baixa que conseshyguem nova moradia em Los Angeles enquanto os grupos de renda superior permanecem estacionaacuterios ou filtrados para moradias mais antigas e boas localizaccedilotildees A maneira exata pela qual tal processo se desenvolve depende muito das cicunstacircncias de tempo A inquietaccedilatildeo social dos anos 60 em muishytas cidades americanas levou muitos grupos intermediaacuterios a fugir rapidamenshyte deixando atraacutes de si um estoque substancial de moradias que dada a econoshymia da situaccedilatildeo tem muitas vezes sido abandonadas mais do que usadas Na praacutetica a dinacircmica do mercado de moradia pode provavelmente ser melhor observada como combinaccedilatildeo de explosatildeo e filtro por baixo Isto eacute sigshynifica reconhecer que mudanccedilas no uso do solo no setor de moradia natildeo satildeo independentes dos projetos de ganho em outras espeacutecies de uso do solo Os grupos pobres satildeo tipicamente sujeitos a pressotildees desse tipo Hawley sugere

por exemplo que A propriedade residencial em solo altamente valorizado estaacute usualmente

em uma condiccedilatildeo deteriorada porque desde que proacuteximas de negoacutecios e aacutereas industriais estatildeo sendo sustentadas especulativamente por antecipaccedilatildeo de sua aquisiccedilatildeo por uso do solo mais intensivo e por isso mais remunerativo Em vista dessa probabilidade os possuidores de tais propriedades natildeo estatildeo

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dispostos a gastar muito para a manutenccedilatildeo ou engajar-se em novas construshyccedilotildees residenciais (1950 280)

Moradias deterioradas estatildeo tipicamente sujeitas agrave pressatildeo especulativa pressatildeo que pode levar agrave renovaccedilatildeo urbana sob diferentes espeacutecies de moradias ou a uma transformaccedilatildeo no uso do solo En~els reconheceu o significado do pconsso descrito por Hawley desde 1872

I bullO crescimento das grandes cid~des modernas daacute ao solo em certas aacutereas

particularmente naquelas que estatildeo situadas no centro um aumento de valor artificial e muitas vezes colossal os edifiacutecios levantados nessas aacutereas perdem seu valor em lugar de aumentaacute-los porque natildeo se adaptam por muito tempo is circunstacircncias modificadas Eles satildeo derrubados e substituiacutedos por outros

1 Isso ocorre sobretudo com as casas de trabalhadores que estatildeo situadas no centro e cujos alugueacuteis mesmo com a maior concentraccedilatildeo natildeo podem ou somente muito devagar aumentar acima de certo maacuteximo Elas satildeo derrubashydas e em seu lugar satildeo erguidas lojas armazeacutens e edifiacutecios puacuteblicos( ) O reshysultado eacute que os trabalhadores satildeo expulsos do centro das cidades em direccedilatildeo aos suhuumlrbios essas hahitaccedilotildees dos trahalhadores em geral tornam-se raras e caras e muitas vezes totalmente inalcanccedilaacuteveis porque nessas circunstacircnshycias a induacutestria da construccedilatildeo a qual eacute oferecido um campo muito melhor para especulaccedilatildeo por casas mais caras constroacutei casas para trabalhadores soshymente como exceccedilatildeo (The Housing Question 23)

A evidecircncia da cidade americana contemporacircnea sugere que a dinacircmica da mudanccedila de uso do solo permanece razoavelmente constante sob o modo de produccedilatildeo capitalista O excedente do consumidor dos grupos mais pobres eacute dishyminuiacutedo pelos produtores de serviccedilos de moradia transformando-os em exceshydente dos produtos atraveacutes de praacuteticas quase monopoliacutesticas (usualmente exercidas na base de poder de monopoacutelio de classe) Tambeacutem os grupos mais pobres vivem geralmente em locaccedilotildees sujeitas agrave maior pressatildeo especulativa de uso do solo Para realizar um retomo futuro adequado do investimento em esquemas de renovaccedilatildeo urbana do comeacutercio existente por exemplo as instishytuiccedilotildees financeiras tecircm acentuado interesse na expansatildeo geograacutefica do desenshyvolvimento do comeacutercio por esse processo espacial exteriorizaccedilotildees satildeo criadas atraveacutes das quais novo desenvolvimento comercial aumenta o valor do velho Novo desenvolvimento comercial usualmente teraacute que ter lugar sobre solo jaacute construiacutedo As moradias nessas aacutereas podem ser deliberada e economicamente deterioradas pela retirada de suporte financeiro para o mercado de moradia assinalar em vermelho por instituiccedilotildees financeiras eacute praacutetica comum nos Estados Unidos embora seja geralmente explicado como aversatildeo ao risco isshyso natildeo eacute senatildeo uma parte da histoacuteria Os proprietaacuterios satildeo forccedilados nessas conshydiccedilotildees a maximizar a renda corrente num periodo de curto prazo o que sigshynifica um negoacutecio tatildeo racional como tirar da propriedade todo seu valor A

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obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 26: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

obsolescecircncia flsica gerada dessa obsolescecircncia econocircmica resulta em presshysotildees sociais e econocircmicas que aumentam nas piores seccedilotildees do mercado de moshyradia e que tecircm de manifestar-se em um estaacutegio ou outro por uma explosatildeo em alguma parte Essa bull explosatildeo resulta eftt nova construccedilatildeo e na aquisiccedilatildeo de solo novo nos limites urbanos ou no redesenvolvimento urbashyno processos que estatildeo sujeitos agrave intensa pressatildeo especulativa A formaccedilatildeo de novas familias e a intra-imigraccedilatildeo sustentam essa dinacircmica

As mesmas instituiccedilotildees financeiras que negam fundos para um setor do mercado de moradia organizam-se para ganhar na realizaccedilatildeo de lucros espeshyculativos em outro assim que o uso do solo eacute subseql1entemente transformado ou quando continua a suburbanizaccedilatildeo Os impulsos que satildeo transmitidos atrashyveacutes do sistema de uso do solo urbano natildeo satildeo desconexos A diversidade de atores e instituiccedilotildees envolvidos toma uma teoria conspiratoacuteria da mudanccedila do uso do solo urbano improvaacutevel (o que natildeo eacute o mesmo que dizer que essa conspiraccedilatildeo nunca ocorra) Os processos satildeo fortemente estruturados atraveacutes do sistema de mercado de troca de tal modo que os individuos os grupos e as organizaccedilotildees operando auto-interessanteniente em termos de valor de troca podem com a ajuda da matildeo oculta produzir o resultado necessaacuterio Alshyguns argumentam que esse sistema produz a melhor distribuiccedilatildeo possiacutevel de valores de uso Essa eacute uma presunccedilatildeo que a observaccedilatildeo casual sugere como sendo errada a maximizaccedilatildeo de valores de troca por diversos atores produz beneficios desproporcionais para alguns grupos e diminui as oportunidades pashyra outros A brecha entre a produccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo convenientes de valores de uso e um sistema de alocaccedilatildeo que reside no conceito de valor de troca natildeo pode facilmente ser ignorada

A diversidade de atores operando em um sistema de uso do solo e a qualidashyde monopoliacutestica inerente ao espaccedilo absoluto tornam as teorias microeconocircshymicas de uso do solo urbano inadequadas como definidoras dos m~anismos de alocaccedilatildeo quando julgadas em relaccedilatildeo a formulaccedilotildees alternativas em que o vashylor de troca predomina Se abandonamos a suposiccedilatildeo de que os individuos e os grupos tecircm gostos homogecircneos a respeito de moradia e admitimos que a grande diversidade de necessidades e gostos desempenham sua parte entatildeo nos afastamos ainda mais da estrutura contida na teoria microeconocircmica shye eacute assim para longe disso que nos devemos afastar se queremos construir uma teoria realista das forccedilas que governam o uso do solo urbano Aleacutem disso haacute algo desconcertante nessa conclusatildeo porque as teorias microeconocircmicas produzem certamente resultados que satildeo razoavelmente consistentes com os resultados reais de diversos processos sociais que governam a alocaccedilatildeo de uso do solo Alonso (14 11) dirige-se diretamente a esse ponto ele sugere que as teorias microeconocircmicas podem ter ecircxito em fazer muito mais simplesmen~ te do que asmais elaboradas conceituaccedilotildees de autores como Hawley (1950) o

fazem mais realisticamente mas com menos poder analitico Por isso temos que considerar o que eacute que torna a teoria microeconocircmica tatildeo bem sucedida (relativamente falando) no modelamento dos padrotildees de uso do solo urbano quando estaacute tatildeo obviamente longe do objetivo quando se volta para modelar o processo real que produz esses padrotildees A soluccedilatildeo para esse problema deve ser buscada investigando o significado e o papel da renda como um esquema aloshycativo no sistema urbano

) A renda e a alocaccediltJo do solo urbano para obter vantagens

I O conceito de rentabilidade ocupa uma posiccedilatildeo criacutetica nas teorias de uso do I solo urbano Estaacute explicitamente colocado por inteiro nas formulaccedilotildees de

Alonso Muth e Mills e emerge na forma de preccedilos supostos do solo e reshycursos nas versotildees introdutoacuterias de outras teorias de localizaccedilatildeo A suposiccedilatildeo baseia-se em que a teoria do equiliacutebrio espacial geral que eacute a parte sagrada de muitos teoacutericos da localizaccedilatildeo deve ser buscada atraveacutes da fusatildeo da teoshyria da renda com a teoria da localizaccedilatildeo Foi reconhecido haacute muito escreve Alonso (196739) que as teorias de renda e de localizaccedilatildeo satildeo gecircshymeas mas as ligaccedilotildees satildeo artificiosas A renda funciona como um artifiacutecio racional que seleciona usos do solo em localizaccedilotildees presume-se por via usualmente de lances competitivos Todos os atores do drama da moradia satildeo afetados por ela em algum estaacutegio ela provecirc um padratildeo comum em termos de que todos os atores devem medir suas aspiraccedilotildees se querem alcanccedilar seus obshyjetivos diversificados Eacute porque todos os caacutelculos estatildeo baseados nessa medida comum que as diversas atividades aparecem coordenadas no mercado do solo e da propriedade para produzir o padratildeo de usos do solo que eacute tatildeo evidente na metroacutepole contemporacircnea

O conceito de renda tem uma histoacuteria longa e controversa no pensamento econocircmico-politico (Keiperet ai 1961 provecircm uma sondagem bastante comshypleta veja tambeacutem Bye 1940) Aleacutem disso a renda entra na teoria do uso do solo urbano em um estaacutegio inocente como se natildeo houvessem problemas seacuterios ligados agrave sua interpretaccedilatildeo Esse fato pode ser responsaacutevel pela penetrante e completa aceitaccedilatildeo na teoria microeconocircmica de uso do solo urbano do ponshyto de vista neo-claacutessico segundo o qual a renda eacute o retorno a um fator escasso de produccedilatildeo e o solo natildeo eacute diferente em essecircncia do trabalho e do capital As consequumlecircncias desse ponto de vista para a concepccedilatildeo de renda urbana foram descritas por Mills

As rendas do solo urbano satildeo determinadas pelo valor da produtividade marginal do solo E como na agricultura a produtividade do solo eacute determishynada pelas caracteriacutesticas do proacuteprio solo e pelos custos de transporte a merca-

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dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 27: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

dos relevantes ( bull ) Essas ideacuteias baacutesicas satildeo agora bem compreendidas peIos economistas E o processo de produzi-las foi um feito notaacutevel no desenvolvishyment~ da doutrina econocircmica Por si mesmas elas natildeo nos fornecem natushyralmente um modelo de valores do solo urbano Para isso eacute necessaacuterio incorshyporar as rendas do solo em um modelo que descreva a demanda e a oferta do solo urbano para todos os usos A caracteriacutestica crucial do solo urbano eacute a grande complexidade resultante do fato de que a oferta e a demanda por difeshyrentesparcelas de solo estatildeo relacionadas de modos significativos e pobremenshyte compreensiacuteveis Em outras palavras uma economia urbana eacute um sistema de equiliacutebrio geral complicado (1969 233)

Que nada vai bem com essa sabedoria recebida e embelezada da teoria da localizaccedilatildeo foi assinalado por Gagraveffney (11 1969) A renda do solo observa eacute um excedente diferenciado de outras porccedilotildees distributivas faltando-lhe a funccedilatildeo de produzir oferta agregada (1961 147) - a simetria suposta entre o solo e os outros fatores de produccedilatildeo natildeo pode ser aceita Gaffney tambeacutem toma a economia do bem-estar para exame

Por todo seu sentido ecumecircnico a maior parte da economia do bem-estar I

pura eacute ao mesmo tempo a-espacial e a-temporal Estaacute tudo bem em abstrairshyse de localismos mas o espaccedilo e o tempo satildeo universais absolutos Eacute a econoshymia do bem-estar que prega contra a colcha de retalhos da otimizaccedilatildeo Fazer economia sobre pontos fora do espaccedilo e do tempo eacute separaccedilatildeo aleacutem do toleraacuteshyvel (1961- 142-3)

O solo eacute fixo tanto na localizaccedilatildeo como na oferta agregada e a ficccedilatildeo neoshyclaacutessica de que natildeo eacute (aceita completamente por Muth por exemplo) eacute uma armadilha inocente que pode facilmente levar-nos agrave interpretaccedilatildeo falsa das forshyccedilas que determinam o uso do solo urbano Negligenciamos as realidades do espaccedilo e do tempo determinados absolutos relativos e relacionais por nosso risco Como diz LBsch (1954 508) a particularidade eacute o preccedilo de nossa exisshytecircncia

Eacute uacutetil por isso voltar agrave riqueza terrena da economia politica claacutessica para elucidar a natureza da renda pois a empresa neoclaacutessica que eacute elegante e muito uacutetil para certos propoacutesitos eacute bem sucedida em ocultar alguns dos asshysuntos mais relevantes teacutecnicos e eacuteticos que se ligam agrave renda tal como esta fundona no mercado do solo urbano Os escritos claacutessicos estatildeo contudo

amplamente devotados agrave renda do-solo agriacutecola e as particularidades do argushymento satildeo examinadas neste mais do que em termos de uso do solo urbano Isso natildeo nos deve deter porque a translaccedilatildeo para o contexto urbano eacute relativashymente faacutecil visto que podemos inferir um conceito bastante geral do debate claacutessico Marx fornece ampla generalizaccedilatildeo e siacutentese do argumento que cerca o conceito de renda em O Capital (volume 3) e em Teorias da Mais-Vali8 - (particularmente Pane 2) Foi resultado do vigor peculiar de Marx olhar para

as conexotildees ocultas entre as coisas e natildeo ficar satisfeito com as aparecircncias superficiais O aspecto comum a todos os casos contudo eacute a instituiccedilatildeo da propriedade privada do solo _

A propriedade do solo estaacute baseada no monop61io por cenas pessoas em porccedilotildees definidas do globo como esferas exclusivas de sua vontade privada com exclusatildeo de outras Com isso em mente o problema eacute verificar o valor econOcircmico isto eacute a realizaccedilatildeo desse monopoacutelio na base da produccedilatildeo capitalisshyta Sem o poder legal para usar ou natildeo usar de certas porccedilotildees do globo nada eacute decidido O uso desse poder depende inteiramente das condiccedilotildees econocircmicas que satildeo independentes de suas vontades ( ) Qualquer que seja a forma especiacutefica de renda todos os tipos tecircm isso em comum a apropriaccedilatildeo da renda eacute aquela forma econocircmica na qual a propriedade do solo se realiza ( ) Esse elemento comum nas vaacuterias formas de renda toma possiacutevel aacutes diferenccedilas escashyparem agrave averiguaccedilatildeo (Capital Volume 3 615 634)

Proprietaacuterios possuem assim monopoacutelio sobre o uso do solo Dentro dessa concepccedilatildeo geral Marx se propotildee descobrir as diferenccedilas que de outro modo poderiam escapar agrave averiguaccedilatildeo Ele mostra em O Capital (volume 3 capiacutetulo 47) como a renda pode surgir de uma variedade de maneiras dependendo do modo de produccedilatildeo dominante e reuacutene algumas evidecircncias histoacutericas para ilustrar seu argumento Muito da Parte 2 das Teorias da Mais- Valia ilustra como as definiccedilotildees de renda satildeo contingentes agraves condiccedilotildees econocircmicas de cada eacutepoca e como as definiccedilotildees e apologias estatildeo intimamente relacionadas Mas Marx estaacute principalmente interessado nas manifestaccedilotildees da renda em uma economia de mercado competitivo e este eacute o toacutepico que ele persegue compleshytamente Ele enumera trecircs espeacutecies baacutesicas de renda que tipicamente surgem no modo capitalista de produccedilatildeo

(i) A Renda de monopoacutelio surge porque eacute possiacutevel gravar um preccedilo de moshynopoacutelio determinado pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar independentemente do preccedilo determinado pelo preccedilo geral de produshyccedilatildeo tanto como pelo valor do produto (Capital volume 3 775) A oportushynidade de cobr~r um preccedilo de monopoacutelio cria a oportunidade para o proprietaacuteshyrio de obter renda de monopoacutelio Essa forma de renda parece natildeo ser muito importante na agricultura (Marx menciona os vinhedos com caracteriacutesticas especiais como um caso onde a renda de monopoacutelio pode surgir) Mas em numerosas passagens (Theories 0 Surplus Value Parte 2 30 38 por exemplo) ele indica que acredita que as rendas de monopoacutelio satildeo cruciais no caso do solo e propriedade urbanos e que pode haver condiccedilotildees particularshymente em aacutereas densamente povoadas nas quais as rendas da casa e do solo satildeo somente explicaacuteveis como rendas de monopoacutelio Eacute uma questatildeo interessante a de se saber se a competiccedilatildeo monopolistica da espeacutecie analisada por Qtamberlin (1933) e llisch (1954) produz rendas de monopoacutelio no sentido

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do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

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feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

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entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 28: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

do termo para Marx Parece-me que as rendas obtidas na competiccedilatildeo espacial satildeo um caso claacutessico de renda absoluta (definida abaixo) e que as rendas de monopoacutelio no sentido de Marx surgem somente atraveacutes de imperfeiccedilotildees subsshytanciais na competiccedilatildeo espacial

CU) A renda diferencial vem usualmente associada ao nome de Ricardo (1817) mas Marx mostra que a doutrina de Ricardo eacute um caso especial que surge de diferenccedilas na fertilidade com diminuiccedilatildeo de retornos para sucessivos investimentos de trabalho e capital Marx discute a generalidade das suposishyccedilotildees de Ricardo e potildee-se contra o modo restritivo pelo qual as implicaccedilotildees da doutrina satildeo alcanccediladas Ele critica Ricardo por analisar a renda como se a proprieacutedade do solo natildeo existisse e como se o solo possuiacutesse poderes origishynais e indestrutiacuteveis quando ele eacute claramente condiccedilatildeo e natildeo forccedila de produshyccedilatildeo Marx aceita a existecircncia das rendas diferenciais Elas surgem simplesshymente da diferenccedila entre o preccedilo de produccedilatildeo individual de um capital partishycular e o preccedilo de produccedilatildeo geral do capital total investido na esfera concershynente de produccedilatildeo (O Capital Volume 3 646) A renda diferencial obviashymente natildeo pode entrar no custo de produccedilatildeo ou no preccedilo dos produtos porque ele surge novamente do excesso de lucros de certos produtores em virtude de sua situaccedilatildeo vantajosa Esses lucros excessivos satildeo embolsados pelos proprieshytaacuterios sob forma de renda Situaccedilotildees vantajosas existem por uma variedade de razotildees e Marx discute-as de modo bem mais geral que Ricardo diferenciando entre aplicaccedilotildees intensivas e extensivas de capital e trabalho sob diferentes condiccedilotildees As diferenccedilas em fertilidade satildeo importantes mas Marx indica que a renda diferencial pode surgir independentemente de se o cultivo eacute estendido dos solos ricos para os pobres ou vice-versa (Capital volume 3 659) Natildeo haacute tambeacutem necessidade de supor retornos decrescentes e a renda diferencial pode surgir simplesmente da aplicaccedilatildeo diferencial de capital e trabalho A vantashygem da localizaccedilatildeo relativa eacute explicitamente introduzida no quadro (e eacute instrushytivo notar que Marx tirou muito de sua inspiraccedilatildeo a este respeito de William Petty que em 1662 reconheceu o significado da localiacutezaccedilatildeo para a determinashyccedilatildeo da renda - von Thuumlnen natildeo eacute mencionado) Marx entatildeo combina todos esses elementos e mostra como vaacuterias combinaccedilotildees de solos em diferentes loshycalizaccedilotildees com caracteriacutesticas diferentes exploradas em sequumlecircncias diferentes com diferentes quantidades de capital podem dar origem a vaacuterios padrotildees de

renda diferencial (Capital volume 3 650668-73 Theories ofSurplus Value Parte 2 310-12) Ele tambeacutem indica que no caso de renda do solo em moradias a situaccedilatildeo constitui decisivamente um fator para a renda diferenshycial como a fertilidade (e a situaccedilatildeo) no caso da renda agricola (Theories o) Surplus Value Parte 2 365) A maioria dos teoacutericos contemporacircneos da locashylizaccedilatildeo concordaria com essa afirmaccedilatildeo

A renda diferencial assume seu significado em um espaccedilo relativo que eacute esshy

truturado por diferenciais em capacidade produtiva em localizaccedilotildees diferentes e que eacute integrado espacialmente atraveacutes das relaccedilotildees de custo de transporte A renda diferencial parece natildeo pode ser conceituada sem a projeccedilatildeo em um espaccedilo relativo Mas a renda diferencial eacute criada na oacutetica de Marx atraveacutes da operaccedilatildeo do modo capitalista de produccedilatildeo no contexto da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada

(iH) A renda absoluta distingue-se da renda do monopoacutelio por dar origem ao preccedilo de monopoacutelio enquanto um preccedilo de monopoacutelio determinado independentemente permite que se ganhe renda de monopoacutelio Ricardo negou a existecircncia da renda absoluta - posiccedilatildeo a que ele foi levado segundo Marx por sua confusatildeo entre valor e preccedilo Marx evita essa confusatildeo argumentando que o valor dos produtos agriacutecolas pode ser mais alto do que seu preccedilo se mais dinheiro eacute adiantado para salaacuterios em proporccedilatildeo ao capital constante compashyrado agrave relaccedilatildeo de salaacuterios para o capital constante necessaacuterio em outras esferas da produccedilatildeo Nessas condiccedilotildees uma quantidade maior de mais-valia (que eacute derivada do poder excedente da forccedila de trabalho) pode ser extraiacuteda da agriculshytura mais do que eacute possiacutevel em qualquer outra parte Essa condiccedilatildeo eacute necesshysaacuteria para a existecircncia da renda absoluta numa esfera particular da produccedilatildeo mas ela soacute se realiza se haacute alguma barreira para a igualizaccedilatildeo total na taxa de lucro entre diferentes esferas da produccedilatildeo Vaacuterias barreiras podem existir incluindo a ausecircncia de mobilidade geograacutefica e social ausecircncia de mobilidade no capital etc (Capital Volume 3 196-7) Os lucros em excesso podem por isso emergir transitoriamente em todas as aacutereas de produccedilatildeo (e aqui Marx parece estar propondo algo anaacutelogo agrave quase renda de Marshall) Mas na agricultura os lucros em excesso satildeo institucionalizados em renda absoluta atraveacutes da forccedila de monopoacutelio da propriedade privada

Se o capital encontra uma forccedila adversa que ele natildeo pode senatildeo parcialshymente ou de nenhum modo superar e que limita seu investimento em certas esferas admitindo isso somente sob condiccedilotildees que inteira ou parcialmente exshycluem aquela igualizaccedilatildeo geral de mais-valia em lucro meacutedio entatildeo eacute evidente que o excesso de valor das mercadorias em tais esferas da produccedilatildeo sobre seu preccedilo de produccedilatildeo daria origem a um lucro excedente que deveria ser conshyvertido em renda e como tal tornado independente com respeito ao lucro Tais forccedilas adversas e barreiras satildeo representadas pela propriedade do solo quando se confronta com o capital em seu empenho em investir no solo tal forccedila eacute o proprietaacuterio da terra vis-o-vis o capitalista A propriedade do solo eacute aqui a barshyreira que natildeo permite nenhum novo investimento de capital ( ) sem impor uma taxa ou em outras palavras sem demandar uma renda (Capital volume 3 761-2) bull A produccedilatildeo capitalista natildeo pode na oacutetica de Marx destruir a instituiccedilatildeo da

propriedade privada (de modo como estadestruiu muitas outras instituiccedilotildees

154 155

feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

U7 156

entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 29: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

feudais iXgtrque sua proacutepria existecircncia estaacute fundamentada na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo O capitalismo estaacute por isso preparado para pagar uma taxa na produccedilatildeo (renda) como o pEeCcedilO para a perpetuaccedilatildeo da base legal de sua proacutepria existecircncia Tal taxa obviacircmente deve entrar nos custos de produccedilatildeo e sob este aspecto a renda absoluta (e a renda de monopoacutelio) deve ser distinguida da renda diferencial A critica ao conceito de renda absoluta de Marx tem sido grande (por exemplo Emmanuel 1972216-26) A dificuldashyde surge iXgtrque Marx natildeo provecirc uma reacuteplica adequada para a questatildeo colocashyda em Teorias de Mais- Valia (Parte 2) se a propriedade do solo daacute o poder para vender o produto acima do preccedilo de custo de seu valor porque natildeo daacute igualmente o poder de vender o produto acima do seu valor atraveacutes de um preccedilo de monopoacutelio arbitraacuterioacute A distinccedilatildeo entre monopoacutelio e renda absoshyluta pode talvez ser conseguida tornando-se a primeira como operando ao niacutevel individual (um proprietaacuterio particular tem algo que algueacutem particularshymente deseja ou necessita) e a uacuteltima corno algo que surge das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo em algum setor (eacute um fenocircmeno de monopoacutelio de classe que afeta a condiccedilatildeo de todos os proprietaacuterios agriacutecolas todos os possuidores de moradia de baixa renda etc)

Uma vez institucionalizada a renda ela iXgtde aparecer de vaacuterias maneiras O investidor em solo iXgtr exemplo igualiza a renda com juros no capital e tratashya como o uacuteltimo quando eacute realmente ainda a primeira Isso cria a ilusatildeo de que o solo eacute ele proacuteprio fator produtivo que deve ser pago e cujo custo deve entrar nos custos de produccedilatildeo Esse custo eacute de fato a taxa (renda) extraiacuteda pela proshypriedade privada corno renda absoluta ou de monopoacutelio Haacute contudo alguma confusatildeo em torno da renda do solo de um lado e os juros corno um retorno dos investimentos de capital de outro Marx aceita que haacute uma distinccedilatildeo legiacuteshytima a ser feita aqui mas argumenta que os investimentos de capital que satildeo relativamente permanentes e incoriXgtrados aos atributos do solo (e ele inclui nisso as estruturas permanentes) deveriam ser analisados do ponto de vista da renda e natildeo dos juros A oacutetica de Marx a esse respeito corresponde rigorosashymente agrave de Gaffney entre os analistas contemporacircreos

Marx admite o significado da fricccedilatildeo da distacircncia na falha em obter igualizaccedilatildeo do lucro iXgtr todas as esferas da produccedilatildeo o que permite a extraccedilatildeo da renda absoluta e da renda de monopoacutelio Mas ele subestima o modo pelo qual a distacircncia em si mesma pode ser uma forccedila adversa que pode criar as condiccedilotildees para os possuidores de solo e propriedade ganhar renda absoluta e renda de monopoacutelio A distinccedilatildeo entre renda como ela surge atraveacutes de lanshyces competitivos para uso do solo e renda como a remuneraccedilatildeo do monopoacutelio

quer nas formas absoluta ou de monopoacutelio como Marx as categoriza Em amshybos os casos o preccedilo de monopoacutelio estaacute presente mas no caso da renda absolushyta eacute a renda que determina o preccedilo de monopoacutelio mais do que o outro modo inshydicado Essa distinccedilatildeo eacute relevante para nosso entendimento da competiccedilatildeo esshypacial Os preccedilos de monopoacutelio satildeo criados sob competiccedilatildeo espacial perfeita

esta naturalmente foi a contribuiccedilatildeo fundamental de LOsch Numa planiacuteshycie perfeitamente homogecircnea com competiccedilatildeo perfeita entre os produtores de um produto natildeo diferenciado ainda observaremos uma superfiacutecie rentaacutevel o Poder de monopoacutelio existe dentro das proximidades de um produtor porque produtores alternativos em outras localizaccedilotildees expotildeem-se a custos de transshyiXgtrte mais altos Essa eSpeacutecie de renda pode ser identificada como renda absoshyluta porque ela surge das condiccedilotildees teecircnicas e sociais que afetam um setor parshyticular como um todo Elagraveemerge como renda de monopoacutelio (no sentido marshyxista) quando os produtores dentro daquele setor estabelecem arranjos de carshytel entre eles quando um produtor isolado opera sobre muitos pontos de proshyduccedilatildeo e quando as vaacuterias praacuteticas competitivas entre firmas com distintos tershyritoacuterios satildeo restritas ou modificadas para evitar forte competiccedilatildeo (Seidel 1969 faz algumas observaccedilotildees interessantes sobre este uacuteltimo iXgtnto) A renda absoshyluta eacute ainda um retorno para a propriedade do solo mas as condiccedilotildees teacutecnicas sob as quais ela surge satildeo mais numerosas do que Marx imaginou ou consideshyrou

O poder da anaacutelise de Marx sobre a renda reside no modo como ele disseca lima coisa aparentemente homogecircnea em suas partes componentes e relaciona essas partes a todos os aspectos da estrutura social A renda eacute um simples pagamento aos possuidores da propriedade privada mas ela pode surgir de urna multiplicidade de condiccedilotildees Eacute intrigante comparar essa anaacutelise do conshyceito de renda com abordagens sobre a natureza do espaccedilo porque as duas seacuteshyries de ideacuteias existem com uma relaccedilatildeo peculiar entre si Os privileacutegios de moshynopoacutelio da propriedade privada surgem das qualidades absolutas do espaccedilo que satildeo institudonalizadas de certo modo Na esfera da atividade social o espaccedilo absoluto emerge corno a base da renda de monopoacutelio Mas o espaccedilo absoluto eacute em geral superado pela interaccedilatildeo entre diferentes esferas de atividade em dishyferentes localizaccedilotildees e os atributos relativos do espaccedilo emergem como o prinshyciacutepio condutor para o estabelecimento tanto da renda diferencial como absoluta embora o espaccedilo absoluto extraia sua taxa em todos os casos atraveacutes do privileacutegio de monopoacutelio da propriedade privada Por uacuteltimo haacute um sentido em que o espaccedilo relacional prevalece na determinaccedilatildeo geral do valor de renda em localizaccedilotildees diferentes - isto tornar-se-aacute mais expliacutecito resumidamente O estilo relacional de anaacutelise usado iXgtr Marx tem de fato similaridades notaacuteshy

tem sido difundida na literatura de uso do solo urbano (veja-se por exemplo veis com a anaacutelise relacional do espaccedilo sustentada por Leibniz (ediccedilatildeo de 1934 Chamberlin 1939 apecircndice D Alonso 14 43 Wsch 1954) Mas o asshy shy veja tambeacutem Whiteman 1967) Do mesmo modo que a renda natildeo pode ser pecto de monopoacutelio natildeo tem sido bem entendido iXgtrque ele pode surgir

U7 156

entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 30: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

entendida sem referir-se ao pagamento que ocorre nas circunstacircncias sociais tambeacutem temos que reconhecer que o espaccedilo urbano natildeo eacute absoluto relativo ou relacional mas todos os trecircs simultaneamente dependendo das circunsshy 4

tacircncias de tempo Devemos por isso tomar cuidado em combinar nossa anaacuteshylise social com nossa conceituaccedilatildeo de espaccedilo (e tempo)

As categorias marxistas de renda do monopoacutelio renda diferencial e renda absoluta abrangem todo o pensamento na economia poliacutetica claacutessica e de fato natildeo tecircm sido aperfeiccediloadas desde entatildeo Isso natildeo quer dizer que autores anteriores a Marx (tais como Ricardo e Smith) ou que autores posteriores a Marx (tais como Marshall Wicksell e Pigou) aceitem a interpretaccedilatildeo marxisshyta dessas categorias Por exemplo a renda absoluta tal como surge na anaacutelise de Marx repousa em sua disdnta e uacutenica teoria do valor e natildeo pode ser sepashyrada dela Autores posteriores ignoraram ou entenderam muito mal essa teoshyria (OIlman 1971 eHunte Schwartz 1972 provecircm boas discussotildees) Poucos economistas ocidentais negariam o significado da renda absoluta mas a maioshyria prefere atribuiacute-la agrave oferta agregada fixa do solo que uma vez que estaacute em uso de um modo ou de outro eacute tomada para exigir alguma renda Os niacuteveis de renda absoluta podem entatildeo ser fatores de produccedilatildeo e daqui podemos chegar agrave posiccedilatildeo neoclaacutessica As rendas de monopoacutelio podem entatildeo ser interpretadas na tradiccedilatildeo neoclaacutessica como surgindo atraveacutes da manipulaccedilatildeo artificial da escassez atraveacutes da manipulaccedilatildeo da oferta de solo pelos produtores

A escassez eacute contudo socialmente determinada (veja capitulo 4) Marx restringe o significado de renda agrave escassez obtida atraveacutes da instituiccedilatildeo da proshypriedade privada e diferencia-a da escassez introduzida e realizada sob outras condiccedilotildees A generalizaccedilatildeo neoclaacutessica eacute uacutetil sob certos aspectos mas ela elishymina a distinccedilatildeo que Marx e alguns analistas posteriores (tais como Henry George) natildeo querem esquecer por oacutebvias razotildees eacuteticas A anaacutelise neoclaacutessica procede como se natildeo importasse como surge a escasse~ Na oacutetica de Marx a renda eacute algo furtado pelo proprietaacuterio do solo - eacute um retorno injusto O proprietaacuterio do solo natildeo contribui em nada em comparaccedilatildeo com o capitalista que pelo menos promove a produccedilatildeo e o proprietaacuterio do solo tem ecircxito porque ele tem o poder de retirar recursos substanciais ligados ao solo e agraves benfeitorias se lhe eacute vantajoso fazer assim (manter deliberadamente vagos grandes blocos de escritoacuterios tornou-se vantajoso para os incorporadores em Londres em fins de 1966 por exemplo) Marx mostra explicitamente a regra quando postula que a posse legal do solo daacute ao seu possuidor o poder de retirar o solo da exploraccedilatildeo econocircmica ateacute que as condiccedilotildees econocircmicas permitam a ele utishyzaacute-Io de tal modo que proporcione a ele um excedent~ (Uacutelpital volume 3 757) Marx vecirc por isso o arrendataacuterio como figura passiva que colhe a vanshytagem geral do crescimento econocircmico obtido atraveacutes da aplicaccedilatildeo de trabalho social (Qzpita volume 3 637) Essa oacutetica da renda provoca certas analises

I

lo

ulteriores do modo pelo qual a escassez eacute criada para dar origem a acreacutescimos ou decreacutescimos no valor da renda

A faculdade do solo em conseguir vantagens e amortizar custos depende de sua rigidez de localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a todos os modos de custos e benefiacutecios externos que estatildeo sendo gerados pela atividade social no sistema urbano Gaffney 0967142) assim assinala que a renda do solo depende em parte do que o puacuteblico deixa livre para o proprietaacuterio assim como da atividade privada complementar em outro solo significativamente ligado a uma dada parcela acrescentando que benefiacutecios de perdas positivas sobressalentes acumulando-se e reforccedilando-se satildeo enfatizados por economistas urbanos coshymo o que as cidades satildeo afinal Os economistas poliacuteticos claacutessicos reconheshyceram a conexatildeo entre o crescimento ~conocircmico e os valores de renda que surgem mas esse aspecto do problema tem sido subsequumlentemente negligenshyciado A faculdade do solo em obter vantagen~ para capturar os excedentes dos consumidores etc eacute muitiacutessimo importante e isso tem a ver com a escasshysez no sentido de que tanto o puacuteblico como a atividade privada criam escassez de lugares de acesso favoraacutevel para recursos feitos pelos homens (veja capitulo 2) Dessa forma os possuidores de propriedade recebem beneficios ou tecircm custos alocados independentemente de suas vontades exceto na medida em que podem influenciar a atividade puacuteblica e privada (a legislatura nos niacuteveis estadual ou local nota Gaffney eacute um dos mais penetrantes de todos os arranshyjos de cartel para controle de recursos do solo)

Mas as rendas satildeo tambeacutem criadas em um espaccedilo e tempo relacionalmente estruturados Adam Smithe Marx argumentam que todas as rendas do solo satildeo determinadas pelo preccedilo da mercadoria baacutesica que sustenta a vida (trigo) Eacute melhor considerar os valores de renda como sendo simultaneamente influenciados por usos alternativos e de vizinhanccedila (e aqui a ideacuteia de equiliacutebrio geral eacute relevante) Isso significa que a renda eacute determinada relacionalmente em todas as esferas de produccedilatildeo em todas as localizaccedilotildees com as expectativas futuras tambeacutem incorporadas no caacutelculo O solo e as benfeitorias satildeo de acorshydo com a praacutetica efetiva do patrimocircnio frequumlentemente valorizados em relashyccedilatildeo a seu mais alto e melhor uso do que com relaccedilatildeo a seu uso atual Dai surge o sentido importante de que o valor de qualquer parcela de solo conteacutem atualmente os valores de todas as outras parcelas assim como as expectativas supostas de valores futuros As implicaccedilotildees disso para a determishynaccedilatildeo do valor do solo assim como para o caacutelculo da oportunidade de investishymento no solo satildeo bem explorados na literatura sobre economia do solo (veja por exemplo Ratcliffe 1949) As conseqUumlecircncias para as decisotildees sobre o uso do solo urbano satildeo numerosas e contecircm uma inteira multidatildeo de problemas desd~os de especulaccedilatildeo desabrida ateacute os de custos de maturaccedilatildeo e danos associados em zonas de transiccedilatildeo de uso dd solo e efeitos que se estendem por

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I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 31: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

I todo o conjunto do sistema urbano assim como o crescimento urbano e o crescimento econOcircmico (de algum tilXJ) andam juntos Gaffney (1969 148) fornece um exemplo

Hoje em dia muitas decisotildees de alocaccedilatildeo satildeo tomadas agrave sombra de aumen-I tos iminentes (no valor do solo) Visualize-se a hierarquia de usos do solo como uma seacuterie de drculos concecircntricos A demanda lXJr usos mais altos natildeo eacute plenamente satisfeita em seus proacuteprios circulos lXJr causa dos especuladores do solo A demanda natildeo satisfeita examina a parte de fora lanccedilando um vashylor incerto difuso sobre zonas exteriores Esse valor incerto levanta os preshyccedilos do solo de tal modo que o solo exterior eacute tambeacutem valorizado alto para renovar seu uso atual embora ainda prematuro para o uso mais alto ( ) O procedimento ocialmente oacutetimo eacute o de renovar o lugar em seu uso atual mais baixo Mas o valor incerto desencoraja isso (O proprietaacuterio do solo deishyxaraacute) provavelmente os velhos edifiacutecios envelhecerem por enquanto resershyvando o solo para uso melhor Os construtores precisando de solo para uso inshyferior satildeo empurrados para outro anel lanccedilando seu valor incerto sobre o uso seguinte inferior etc numa seacuterie de ondas de impulsos resultado maior exshypansatildeo em cada margem de uso do solo

Esses impulsos de ondas contudo (que Engels e Hawley observaram) infleshytem de volta ao centro porque como a cidade se estende para fora o vaior do solo tende a aumentar no centro (e aqui as observaccedilotildees de von Thunen satildeo muito relevantes) Mas natildeo eacute somente o valor do solo que aumenta custos de congestionamento tambeacutem aumentam como o fazem todas as espeacutecies de outros custos externos (Lave 1970) Esses custos impotildeem-se ao usuaacuterio do solo que eacute obrigado a ser sensiacutevel a eles Caso a mensagem natildeo seja clara a taxa de propriedade assentada por convenccedilatildeo contra o uso mais alto e melhor logo faz o usuaacuterio saber que seu uso natildeo e consistente com o valor lXJtencial de troca E pressotildees de filtragem e explosatildeo (estimuladas lXJr novos movimentos) conduzem agrave diminuiccedilatildeo dos preccedilos das moradias na aacuterea central da cidade Daiacute surge o paradoxo da cidade americana os preccedilos das moradias estatildeo dishyminuindo mais rapidamente nas que satildeo do ponto de vista relacional a maioshyria das locaccedilotildees valiosas

O valor alto da renda do solo nas cidades centrais natildeo deveria ser necessashyriamente interpretado como reflexo das diferenccedilas na produtividade marginal do solo (como sugere MilIs) As rendas absoluta e de monopoacutelio nessas localishyzaccedilotildees entram no custo de produccedilatildeo As rendas diferenciais natildeo Se as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo dominantes na determinaccedilatildeo do valor do solo nas locaccedilotildees centrais entatildeo eacute o valor do solo que determina o uso Se as rendas diferenciais dominam entatildeo eacute o uso que determina o valor do solo Na praacutetica naturalmente a renda surge das trecircs circunstacircncias e ecirc muitas vezes difiacutecil determinar que porccedilatildeo do valor de renda adicional surge de qual circunstacircnshy

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cia Eacute provaacutevel que a estrutura do sistema de transporte eacute a natureza da produshyccedilatildeo nas novas cidades induacutestriais e comerciais do seacuteculo dezenove significasshysem que a renda diferencial fosse fonte maior de renda durante aquele peri~o (o conceito eacute particularmente aplicaacutevel a Chicago no fim do seacuteculo dezenove por exemplo) Mas eacute muito improvaacutevel que nos centros metropolitanos corishytemporacircneos (assim como nos mais velhos centros comerciais e administrashytivos tais como Londres nos seacuteculos dezoito e dezenove) o processo contraacuterio no qual as rendas absoluta e de monopoacutelio entram nos custos de produccedilatildeo e desta ou daquela maneira determinam o uso seja de muito maior significado O problema nessas condiccedilotildees eacute descobrir (ou gerar) firmas com funccedilotildees de produccedilatildeo que podem prontamente ajustar-se para absorver esses custos Natildeo eacute surpreendente encontrar por isso que as aacutereas de mais alta renda na cidade satildeo valorizadas por atividades comerciais cuja produtividade natildeo pode ser meshydida - escritoacuterios do governo bancos companhias de seguro agentes de cacircmbio agentes de viagem e vaacuterias forwas de entretenimento satildeo bons exemshyplos Daiacute surge o paradoxo de que parte da atividade mais improdutiva da soshyciedade eacute encontrada no solo qu~ eacute Supostamente de maior produtividade marginal em razatildeo de sua localizaccedilatildeo A soluccedilatildeo desse paradoxo eacute simples A rmda do solo e da propriedade nas locaccedilotildees centrais natildeo surge da produtividade marginal do solo mas fora do processo que permite que as rendas absoluta e mesmo a mais importante a de monopoacutelio sejam imposshytas

Isso fornece-nos a chave para entender o sucesso relativo dos modelos do tipo de von Thunen Tais modelos apoacuteiam-se exclusivamente no conshyceito de renda diferencial e geralmente colocam sua anaacutelise no espaccedilo relatishyvo Eles tambeacutem abstraem como fez Ricardo a forccedila da propriedade privashyda embo~a o controle monopolista individual sobre as parcelas individuais de solo seja sempre presumido Esses modelos devem por isso ser vistos coshymo casos especiais que descrevem condiccedilotildees em que as rendas absoluta e de monopoacutelio satildeo insignificantes em que os conceitos reIacionais de tempo e espaccedilo satildeo irrelevantes e em que a instituiccedilatildeo da propriedade privada eacute noshytavelmente imovel no solo e nos mercados de propriedade Eacute uacutetil naturalshymente ter a anaacutelise expelido essas condiccedilotildees restritas mas eacute perigoso olhar

esses modelos como fundamento de uma teoria geral de uso do solo Entre geoacutegrafos planejadores e socioacutelogos muitos dos quais natildeo simpatizam com abstraccedilotildees do economista neo-claacutessico ou natildeo as ignoram os modelos ganham curso e atraem porque parecem artifiacutecios empiricamente relevantes para entender a estrutura geral do sistema urbano uma oacutetica que se sustenta ulteriormente pelo teste moderadamente bem sucedido de seus modelos por MiacutelIs (1969) e Muth (1969)

Essa relevacircncia aparente surge de uma sUlXJsiccedilatildeo - a de que a distacircncia

I U middotcmiddotmiddot fi ~ ~ (lmoo O 16

Iiiibullbull oacutewO ca CciJaiil

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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Page 32: HARVEY, David. a Justiça Social e a Cidade

rllFA~~ ~~r~~---~~ ~_ t I do centro da cidade atrai sobre si uma penalidade na forma de custos de transporte ou comunicaccedilatildeo (Mills 1969 234) As rendas diferenciais satildeo por assim dizer representadas em tomo da distacircncia do centro (usualmenshy Jte porque uma fonte central de todo o emprego eacute suposta) O pico dos valores do solo no centro da ddade eacute contudo o resultado de forccedilas que nada tecircm a tl ver necessariamente com a renda diferencial ou a produtividade marginal do

~solo Eacute natural por exemplo para valores do solo estabelecidos relacionalshymente na cidade como potencial demograacutefico e de varejo tenderem a aumenshytar no centro ou perto dele As rendas de monopoacutelio tendem tambeacutem a ser mais facilmente estabelecidas no centro ou perto dele (desde que haacute somente um centro e um inteiro c()ntinuum de periferia) A renda absoluta (se apelarshymos para o sistema de Losch por exemplo) seraacute maior no centro da regiatildeo me-

mais ampla Eacute por isso que a suposiccedilatildeo de centralidade daacute aparecircncia de relevacircncia empiacuterica aos modelos de Alonso Mills e Muth Por associaccedilatildeo o mecanismo suposto no funcionamento desses modelos - lances competitivos para uso do solo recebe muito maior atenccedilatildeo do que eacute liacutecito O lance competitivo eacute indubitavelmentesignificativo mas supotildee que o uso do solo determina o valor quando na praacutetica a determinaccedilatildeo contraacuteria prevalece mais na maioria das cidades capitalistas contemporacircneas A esse respeito a anaacutelise aqui se afasta em um aspecto importante daquela provida no Capiacutetulo 4

Os modelos do tipo do de von Thuumlnen sobre o uso do solo devem por isso ser olhados como casOS especiais que se aplicam somente em condiccedilotildees muito restritas Eles contudo ganham seu curso e credibilidade de uma relevacircncia enmiacuterica aparente que eacute de fato baseada na suposiccedilatildeo da centralidade

o valor de uso o valor de troca o conceito de renda e as teorias l do uso do solo urbano - Uma conclu5atildeo

A renda eacute a parte do valor de troca que se destina ao proprietaacuterio e possuishydor do solo Os valores de troca relaciortam-se (atraveacutes oa circulaccedilatildeo de mershycadorias) aos valores de uso socialmente determinados Se argumentamos que a renda pode prescrever o uso entatildeo isso implica que os valores de troca poshydem determinar os valores de uso criando novas condiccedilotildees aacutes quais os indiviacuteshyduos devem adaptar-se se desejam sobreviver em sociedade Essas condiccedilotildees satildeo relevantes natildeo somente nos momentos cataliacuteticos quando as decisotildees soshybre o solo e a propriedade satildeo tomadas em sua forma de mercadoria mas elas tambeacutem criam pressotildees persistentes pela continua captura de custos e benefiacuteshycios externos por parcelas de solo atraveacutes de trocas reladonalmente estabeleshycidas no valor do solo etc O mercado capitalista de economia de troca penetra

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tanto em cada aspecto da vida social e privada que exerce controle quase tiracircshynico sobre o sistema de sustentaccedilatildeo da vida nos quais os valores de uso estatildeo inseridos Um modo de produccedilatildeo dominante observou Marx cria inevitavelshymente as condiccedilotildees de consumo Por isso a evoluccedilatildeo dos padrotildees de uso do solo urbano pode ser entendida somente em termos do processo geral pelo qual a sociedade eacute arrastada em direccedilatildeo a (sabe-se haacute muito) um padratildeo de necessidades sociais e relaccedilotildees humanas (que natildeo satildeo nem compreendidas nem desejadas) pelas forccedilas cegas de um sistema envolvente de mercado A evoluccedilatildeo da forma urbana eacute parte integral desse processo geral e a renda coshymo medida de interpretaccedilatildeo dos valores de uso e valores de troca contribui notavelmente para a manifestaccedilatildeo desse processo

Em economias capitalistas a renda surge sob formas de monorxJlio difeshyrenciai e absoluta Uma vez surgida a renda serve para alocar o uso do solo Quando o uso determina o alor uma exceccedilatildeo pode ser feita para a racioshynalidade social da renda como artifiacutecio alocativo que leva agrave eficiecircncia os pashydrotildees de produccedilatildeo capitalista (embora a quantidade agregada de renda paga pareccedila um preccedilo extrJOrdinariamente alto para a sociedade pagar por tal mecanismo alocati vo) (Mas quando o valor determina o uso a alocaccedilatildeo ocorshyre sob os auspiacutecios da especulaccedilatildeo desabrida da escassez artificialmente indushyzida e similares e desaparece qualquer pretensatildeo de ter algo a ver com a eficishyente organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo A poliacutetica social argumenta-se frequumlentemente deveria ser dirigida para encorajar a primeira espeacutecie de alocaccedilatildeo e desencorajar a uacuteltima Infelizmente o poder monopol1tico da propriedade privada pode ser realizado em formas econocircmicas por inumeraacuteshyveis estratagemas o locataacuterio conseguiraacute aquela quantidade de lucro natildeo imshyporta como Eacute esse fato contudo que daacute certa homogeneidade agraves formas das cidades capitalistas a despeito das diferenccedilas bastante niacutetidas de paiacutes para paiacutes (e mesmo de cidade para cidade) em instituiccedilotildees poliacuteticas legais e administrashytivas assim como na produccedilatildeo na distribuiccedilatildeo e na matriz social da vida na comunidade

Aleacutem disso satildeo discerniacuteveis diferenccedilas no modo pelo qual a renda eacute obtida ao longo do tempo A renda de monopoacutelio (no sentido marxista) e a renda absoluta (se eacute olhada como fenocircmeno de monopoacutelio de classe) satildeo mais signifishycativas do que jamais o foram parcialmente porque as cidades satildeo maiores e geograficamente mais diferenciadas As rendas individuais e de monopoacutelio de classe satildeo agora obtidas extensivamente embora diferencialmente dependenshydada localizaccedilatildeo da forma particular de atividade do grupo de renda particushylar dos consumidores e do poder da classe operaacuteria em manipular as decisotildees puacuteblicas em seu proacuteprio benefiacutecio A renda tem tambeacutem sido confundida na economia capitalista contemporacircnea com os juros do capital e os aumentos em valor de renda tecircm tomo consequumlecircncia se tornado tatildeo significativos para

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II

a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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III

I

I i

II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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a evoluccedilatildeo do capitalismo como os aumentos na produccedilatildeo A confusatildeo entre renda e taxa de retorno do capital tambeacutem surge na teoria de uso do solo urbashyno O ponto eacute que a renda pode senecessaacuterio ser representada como um proshyblema na definiccedilatildeo da taxa social de retorno do capital O problema da renda eacute entatildeo resolvido em transferir gastos desta taxa social de retorno do capital Inshyfelizmente todos os assuntos surgidos neste Capiacutetulo aparecem outra vez nas controveacutersias sobre a teoria do capital (veja Harcourt 1972) Se assumirmos a posiccedilatildeo de que natildeo existe unidade homogecircnea de capital e que o valor de troca do capital fixo natildeo pode ser medido independentemente da distribuiccedilatildeo e dos preccedilos entatildeo falar de um agregado ou mesmo de funccedilatildeo de produccedilatildeo da granshyde induacutestria eacute insignificante e todo o trabalho em economia urbana tais como os de Mills (1972) e Muth (1969) eacute igualmente insignificante Desde que todas as anaacutelises reais do fenocircmeno urbano tecircm que comeccedilar com o fato de que uma grande proporccedilatildeo do capital fixo natildeo tem valor independente do uso futuro dos preccedilos e da distribuiccedilatildeo de benefiacutecios na sociedade natildeo haacute modo de dizer que os problemas que surgem da teoria da renda possam ser salvos por uma conversatildeo aos domiacutenios da teoria do capital Em outras palavras se Joan Roshybinson Sraffa e os outros neokeynesianos (veja Hunt e Schwartz 1972 Harshycourt 1972 e Harcourt e Laing 1971) estatildeo onde quer que seja perto de esshytarem certos entatildeo Alonso Mills e Muth estatildeo completamente errados

O crescimento urbano provecirc certo modo de realizar aumentos no valor da renda ou no valor do capital fixo enquanto provecirc simultaneamente um camshypo para a disposiccedilatildeo do produto excedente (veja adiante pp 231-4) Natildeo soshymente na periferia e no centro mas por todo sistema urbano a expectativa eacute que o solo e os valores de propriedade surjam e que a capacidade produtiva do capital fixo implantado seraacute usada o modo seguro para obter isso eacute estimular o crescimento nrbano O crescimento pode ser moderado mas controlar o crescimento fiacutesico sem amtrolar nada mais meramente exacerba a escassez O planejador no sudeste da Inglaterra e os conselhos de povoamento na regiatildeo metropolitana de Nova Iorque tecircm igualmente ajudado a criar oportunidades iacute ulteriores de extrair rendas de monopoacutelio A emergecircncia das rendas indivishy ~ duais e de monopoacutelio de classe como fonte dominante de renda geral deve por isso ser vista como um dos aspectos de um processo de evoluccedilatildeo na economia de troca do mercado capitaiacuteista e de suas instituiccedilotildees legais e poliacuteticas respectishyvas evoluccedilatildeo que estaacute fortemente ligada agrave emergecircncia de uma forma distinta de urbanismo (veja Capiacutetulo 6) O capitalismo de monopoacutelio parece andar pari-passu com as rendas de monopoacutelio

A conclusatildeo a ser tirada disso (se natildeo estaacute aparente na anaacutelise de Marx) eacute que a renda existe somente em sentido contingente depende do modo de produccedilatildeo e de certas instituiccedilotildees relativas ao domiacutenio da propriedade Se eacute esse o caso e se as relaccedilotildees entre o valor de uso e o valormiddotde troca satildeo tambeacutem em

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funccedilatildeo dos processos gerais que operam na sociedade entatildeo segue-se que natildeo pode haver algo como uma teoria do uso do solo urbano geral Todas as teoriasde uso do solo devem ser olhadas como contingentes Haacute somente teorias especiacuteficas que podem desempenhar papeacuteis especiacuteficos ajudando a elushycidar as condiccedilCles existentes ou estabelecendo escolhas alternativas em uma seacuterie particular de suposiccedilotildees sobre o modo dominante de produccedilatildeo sobre a natureza das relaccedilotildees sociais e das instituiccedilotildees prevalecentes da sociedade A natureza contingente de toda a teoria de uso do solo urbano eacute mais claramenshyte exemplifkada pelo modo pelo qual concepccedilotildees particulares de renda proshyduzem espeacutecies particulares de teoria MilIs (1969) por exemplo apela diretashymente para o conceito de renda diferencial enquanto Gaffney (1961) olha a renda diferencial como incidental e argumenta que a renda surge porque o solo eacute relativamente escasso para a demanda Como consequumlecircncia eles produzem anaacutelises bastante diferentes da estrutura urbana A introduccedilatildeo do espaccedilo absoluto e da renda como excedentes do consumidor ou produtor obtishyda em um mercado do solo ocupado sequumlencialmente (desenvolvido anteriorshymente neste ensaio) produz aleacutem disso outra perspectiva na dinacircmica do mercado urbano de moradia Como os conceitos de renda e espaccedilo satildeo unidos claramente determinam a espeacutecie de teoria de uso do solo que emerge O problema entatildeo surge da avaliaccedilatildeo das teorias constrastantes Essa tarefa pode SOllLnteser cumprida se houver clara compreensatildeo dos usos em que a teoria deve ser colocada

Se estamos procurando esclarecimento a respeito de nossos problemas nos atuais por exemplo entatildeo deve concluir-se que os modelos do tipo de von Thuumlnen de uso do solo urbano satildeo uma mistura desconcertante de aPologia do status quo e de ofuscamento contra-revolucionaacuterio O sentido em que esses modelos satildeo casos especiais jaacute foi considerado mas esse sentido natildeo eacute explicashydo na literatura nem parece ter sido compreendido A crenccedila em vaacuterios artifiacuteshycios neoclaacutessicos e o apagar de importantes distinccedilotildees relativas agrave natureza da renda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor da renshyda a natureza do espaccedilo e agraves relaccedilotildees entre o valor de uso e o valor de troca junto com certa prova espuacuteria leva a que tais modelos obtenham muito maior curso e credibilidade do que eles de fato merecem Geoacutegrafos socioacutelogos e planejadores por outro lado provecircm-nos com um caacuteos de dados e materiais (algumas vezes sob a forma de modelo) tatildeo dividido que eacute difiacutecil concluir qualquer coisa do conjunto salvo as generalidades superficiais oacutebvias relativas a coisas como o significado de classe e status custo de transporte poder poliacutetishyco etc para o funcionamento do sistema urbano Tais observaccedilotildees como aquelas avaliaccedilotildees que contecircm podem ser perceptivas e ocasionalmente seshyrem esclarecedoras sobre o estado perturbador da condiccedilatildeo humana mas haacute

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II IJ i pouca compreensatildeo real de como isto tudo se junta ou como isto

I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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I tudo surge O mais proacuteximo que chegamos de um real esclarecimento

estaacute no trabalho daqueles poucos economistas do solo de que Gaffn~y eacute segushyramente o mais eminente que combinam um firme apego aos procssos reais com talento para avaliar e generalizar sobre eles contra o pano de fundo dos processoacutes sociais em geral A tarefa mais oacutebvia por isso eacute construir teorias de uso do solo urbano como casos especiais que sejam bastante gerais no esshycopo de abranger conceitos diferentEl - c tSpaccedilo no mesmo contexto E aqui que a preocupaccedilatildeo com as maravilhas da anaacutelise matemaacutetica podem ser mais uma barreira do que uma ajuda Muito do que transpira no solo urbano e no mercado de propriedade natildeo eacute suscetiacutevel de transformar-se em modelo pelas teacutecnicas convencionais elas natildeo devem ser ignoradas por essa razatildeo Talvez a tarefa mais urgente nas circunstacircncias contemporacircneas seja entenshyder como as rendas do indiviacuteduo e do monopoacutelio de classe surgem e conseguir alguma introspecccedilatildeo nos processos pelos quais a criaccedilatildeo de escassez artificial o crescimento de aacutereas urbanas e o poder de reaiizar tais rendas estejam intishymamente ligados A teoria de uso do solo urbano tem pouco a dizer sobre este importante toacutepico na atualidade

Se por outro lado estamos procurando alguma teoria normativa de uso do solo entatildeo os modelos do tipo de von Thuumlnen (e seus irmatildeos no corpo da teoshyria da localizaccedilatildeo) tecircm consideraacutevel interesse Diferenciais na produtividade do solo existem a fricccedilatildeo da distaacutenCIacutea desempenha um papel os usos do solo estatildeo interligados de maneiras complexs e a escassez absoluta na utilidade do solo pode ser significativa Essas condiccedilotildees deveratildeo provavelmente persistir natildeo importa qual modo de produccedilatildeo Dessas condiccedilotildees emerge um conceito de renda como um preccedilo fantasma que representa escolhas sociais perdidas e nessa forma a renda (que natildeo tem atualmente de ser realmente cobrada) pode ajudar a modelar as atitudes sociais para com o uso do solo e do espaccedilo assim como ajudar a determinar as decisotildees de uso do solo beneacuteficas socialmente consistentes com os objetivos da sociedade Eacute paradoxal talvez que os modeshylos neoclaacutessicos especificados em sua maneira indistinta como resultado de competiccedilatildeo perfeita e pura numa economia de troca de mercado capitalista podem prover a base para avanccedilos revolucionaacuterios a respeito da criaccedilatildeo de estruturas urbanas humanas e eficientes socialmente Que este eacute o caso testeshymunha contudo o fato de que os modelos e teorias particulares natildeo satildeo em si mesmos do status quo revolucionaacuterios ou contra-revolucionaacuterios (veja Capiacuteshytulo 4) As teorias e modelos somente assumem uma ou outra dessas posiccedilotildees quando entram na praacutetica social seja atraveacutes da formaccedilatildeo da consciecircncia das pessoas a respei to dos processos que operam em torno delas ou atraveacutes da preshyvisatildeo de uma estrutura analitica como ponto de partida para a accedilatildeo

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CAPIacuteTULO VI

O Urbanismo e a CidadeshyUm Ensaio Interpretativo

Robert Park escreveu certa vez As cidades e particularmente as grandes cidades metropolitanas dos temshy

pos modernos ( ) satildeo com todas as suas complexidades e artificialidades a mais grandiosa criaccedilatildeo do homem o mais prodigioso dos artefatos humanos Devemos pensar nossas ciacutedades por isso ( ) como laboratoacuterios de civilizaccedilatildeo e ao mesmo tempo como a moradia natural do homem cililizado (1936 133)

Desde que o urbanismo e sua expressatildeo tangiacutevel a cidade foram por muito tempo olhados como o proacuteprio foco da ciacutevilizaccedilatildeo natildeo eacute surpreendente descomiddot brir que o fenocircmeno do urbanismo tem sido pesquisado de muitos pontos de vista e em uma variedade de contextos histoacutericos e culturais Apesar (ou talshyvez por causa disso) dessa pesquisa intensiva ainda procuramos em vatildeo como fez o colega de Park Louis Wirth (1938) uma teoria geral que sistematize o conhecimento uacutetil sobre a cidade como uma entidade social Desde que Wirth escreveu as coisas mudaram em um aspecto importante - possuiacutemos agora uma volumosa literatura sobre teoria urbana Ela conteacutem uma redundacircncia de formulaccedilotildees teoacutericas algumas das quais satildeo tatildeo particulares que parece simplesmente imposshel incorporaacute-Ias a qualquer teoria urbana geral enquanto outras satildeo claramente e mutuamente incompatiacuteveis A conshyclusatildeo decorrente de uma sondagem dessa literatura eacute que uma teoria geral do urbanismo eacute provavelmente impossiacutevel de ser construiacuteda O urbanismo eacute um fenocircmeno bastante complicado para ser incluiacutedo facilmente em alguma teoria abrangente As teorias como as definiccedilotildees tecircm suas raiacutezes na es~ulaccedilatildeo metafiacutesica e na ideologia e dependem tambeacutem dos objetivos do pesquisador e das caracteriacutesticas do fenOcircmeno que estaacute sendo investigado Haacute parece deshymasiadas posiccedilotildees ideoloacutegicas a serettI defendidas demasiadas especulaccedilotildees ocultas a serem seguidas demasiados pesquisadores e demasiados contextos

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