harvey, david. a produção capitalista do espaço..pdf

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  • 7/18/2019 HARVEY, David. A Produo Capitalista do Espao..pdf

    1/12

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    rucntos

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    iuclividuali J,ava l1 p or m eio

    d1

    .nt iculuo de

    OUlrOS

    conh ecim entos rendo

    CSS:l

    rela o de saberes distintos como

    fone

    elem ento de

    .uuoidcruificao. A geografia foi em diferente s momentos c formula-es, pensada C um cam po de

    inrcrrclacionarncnro de estudos tpicos de variados fenme-nos e processos. Uma rea de dilogos e conexes

    entre teorias dspares. Uma base comum de aproximao de diferenciadas cincias. Enfim, um campo

    rransdisciplinar, auant Ia lettre.

    No raro este inruiro inregrador esteve identificado com um conceito, entendido como uma realidade

    material ou como um ngulo de observao da realidade. Em algumas concepes, a superfcie terrestre

    fornecia o indicador que delimitava a especificidade do campo disciplinar, conformando uma cincia te lr ica .

    Em outras vises, o espao cumpria ral funo, com

    O

    nexo entre os fenmenos advindo da sobreposio de

    suas espacial idades. A regio , a paisagem e o lugar tarnbrn foram mobilizados nas tentativas de

    construo (onrolgica ou episremolgica) do objeto geogrfico.

    Em tal percurso - razoavelmente linear enquanto geografia moderna - foi se

    sedimen-rando,

    terica e

    insritucionalmente, uma tradio acadmica contempornea. Uma tradio com demarcaes cambiantes e

    fronteiras aberras, marcada por forres influncias exrradisciplinares. Nessa dinmica, corporificarn-se geografias

    singulares umas com pretenso sinttica. outras especializadas. Algumas diretamente derivadas de debates

    com disciplinas especficas, outras almejando um patamar universalizanre quase filosfico. Umas de marcado

    carter ernprico, ou-tras erninenternenre tericas.

    Mais que uma eventual essncia geogrfica, a presente coleo visa captar a diversidade e a dinmica

    exogmica que acompanha a histria da disciplina. Mapear as geografias e suas adjacncias.

    Conhea os ttulos desta coleo no final do livro.

    y

    , . . . ,

    P R O D U O

    P I T L I S T D O E S P O

    Traduo

    CARLOS

    S

    ZLAK

    Seminrio

    Tem~~.,q~~~-,

    LUGAR CNICO E IMAGEM DIALTICA

    Professora FTIMA COSTA DE LIMA

    [email protected], 48 8469 2944 / 3321 8353

    PPGT -

    2015/2

    Sextas-feiras

    8h 12h

    ANN~LUME

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    )

    l);1V

    id Harvey, 200 I

    Spaccs

    01

    Capital: Towards a Crit ical Gcography

    Eelinburgh Univcrsity Prcss Ltcl

    Centro de Documentao e Informao Polis Instituto de Estudos,

    Formao e Assessoria em Polticas Sociais

    11 27:[

    Harvey, O avid

    A prod uo capita lista do es pa o . / O avid Har vey . - So Paulo: Annab lume ,

    2005.

    (Col e o Geog rafia e Ad jacnc ias)

    252p.; 16

    x

    23

    cm

    Extr a do de Har vey, O av id.

    Edi nbu rgh : Edin burgh Unive rs ity Pre ss,

    2001

    ISBN 85-7419-496-4

    1.

    Geog raf ia U rban a.

    2.

    Plane jame nto U rb an o.

    3.

    Soc io log ia Urbana .

    4.

    Capi ta lismo.

    5.

    Teona M arX1S ta .

    6.

    Ge op ol tica do Capi ta lismo.

    1.

    Ttul o. n. Srie

    CDU 659.3

    CDO

    301.11

    A PRODUO CAPITALISTA DO ESPAO

    Projeto e Produo

    Coletivo Grfico Annablurne

    Preparao e Reviso

    Celso Cruz

    Paginao

    Maria Augusta MOla

    apa

    Zeca Li ns a partir ele obra de E. Z. Lievin

    CONSELHO EDITORIAL

    Eduardo P e u cla Ca n iza l

    Norval Bai te llo Junior

    Maria Odila Leite da Silva Dias

    Cclia Maria Marinho de Azevedo

    Gusiavo Bernardo Krause

    Maria de Lourdcs Sekelf in memoriann

    Pcdro Roberto Jacobi

    l.ucrcia D'

    Alssio Ferrara

    I

    a

    edio: maro de 2005

    T edio:

    janeiro de 200

    \NN\I\I,IIMI;,t'dll4lr;l. ,'OIIIIIIIW:,:ltI

    I{ 11:1 I l\Il I

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    SUMRIO

    APRESENTAO

    7

    PREFCIO

    9

    CAPTULO I - A reinveno da geografia:

    uma entrevista com os editores da New Left Review

    13

    CAPTULO Il- A geografia da acumulao capitalista:

    uma reconstruo da teoria marxista

    39

    CAPTULO

    III - A teoria marxista do Estado

    73

    CAPTULO IV - O ajuste espacial:

    Hegel, Von Thnen e Marx

    93

    CAPTULO V - A geopoltica do capitalismo

    1 2 5

    CAPTULO

    VI - Do administrativismo ao empreendedOlismo:

    a transformao da governana urbana no capitalismo tardio

    1 6 1

    CAPTULO VII - A geografia do poder de classe

    189

    'APTULO

    VIII - A arte da renda:

    a globalizao e transformao da cultura em commodities

    2 1 7

    H IBLlO ,R AFIA

    23 1

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    Preparado para a

    onference

    011

    Global and Local

    realizada na Tate Modern em Londres, em fevereiro de 2001.

    inegvel que a cultura se transformou em algum gnero de mercadoria.

    No entanto, tambm h a crena muito difundida de que algo muito especial envolve

    os produtos e os eventos culturais (estejam eles nas artes plsticas, no teatro, na msica,

    no cinema, na arquitetura, ou, mais amplamente, em modos localizados de vida, no

    patrimnio, nas memrias coletivas e nas comunhes afetivas), sendo preciso p-I os ~

    parte das mercadorias normais, como camisas e sapatos. Talvez faamos isso porque

    somente conseguimos pensar a seu respeito como produtos e eventos que esto num

    plano mais elevado da criatividade e do sentido humano, diferente do plano das fbricas

    de produo de massa e do consumo de massa. No entanto, mesmo quando nos despimos

    de todos os resduos de pensamento tendencioso (muitas vezes, com base em ideologias

    poderosas), ai nda assim continuamos considerando como muito especiais esses produtos

    designados como culturais. Como a condio de mercadoria de tantos desses fenmenos

    se harmoniza com seu carter especfico?

    A

    relao entre cultura e capital, evidente,

    requer inquirio cuidadosa e escrutnio matizado.

    A renda monopo li sta e a compet io

    Comeo

    com

    certas reflexes sobre o significado do termo renda

    monopolista, buscando entender como os processos contemporneos de globalizao

    econmica se relacionam com as localidades e as formas culturais.

    A categoria renda monopolista uma abstrao advinda da linguagem

    da economia pol ti ca . Para os mais interessados em questes de cultura, esttica,

    valores afetivos, vida social e corao, esse termo talvez seja muito tcnico e rido

    para suportar o peso dos assuntos humanos, alm dos possveis clculos dos financistas,

    dos incorporadores, dos especuladores imobilirios e dos locadores. No entanto,

    csp ro mostrar que o termo possui um poder multiplicador muito maior: se elaborado

    < le i .q uadu m n t , pode propiciar interpretaes valiosas sobre muitos dilemas prticos

    p 'sStl:lis r .sultantcs do n 'xo cntr

    lobalizao

    capita li: ta. desenvolvimentos

    pol

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    'o

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    111

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    sobre algum item, lirctu ou indiretarncru comer 'ializiv 'I, que ,'/11 1I1'1I111~11

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    222

    DAVID HARVEY

    .ontradio, quanto mais a Europa se toma disneificada, menos nica e especial

    se torna. A homogeneidade inspida provocada pela transformao pura em

    commodities

    suprime as vantagens monopolistas. Para a renda monopolista se

    materializar, preciso encontrar algum modo de conservar nicos e particulares as

    mercadorias ou os lugares (posteriormente, refletirei sobre o que i sso signi fica),

    mantendo a vantagem monopolista numa economia mercantil e, f reqentemente,

    muito competitiva. No entanto, por que, num mundo neoliberal, onde os mercados

    competitivos so supostamente dominantes, os monoplios de qualquer t ipo seriam

    tolerados, ou seriam vistos como desejveis? Aqui, encontramos a segunda

    contradio, que, na raiz, revela-se uma imagem refletida da pri meira.

    A

    competio,

    como Marx notou h muito tempo, sempre tende para o monoplio (ou oligoplio),

    pois a sobrevivncia do mais apto, na guerra de todos contra todos, elimina as

    empresas mais fracas. Quanto mais violenta a competio, mais rpido se tende ao

    oligoplio, quando no ao monoplio. Portanto, no casualidade alguma que, no

    ltimos anos, a Iiberalizao dos mercados e a celebrao da competio no mercado

    produzissem uma concentrao inacreditvel de capital (Microsoft, Rupert Murdoch,

    Bertelsmann, servios financeiros e uma onda de aquisies, fuses e consolidaes

    em empresas areas, no varejo e mesmo nas indstrias tradicionais, como

    automobilstica, petrolfera etc.). H muito tempo, essa tendncia foi identi ficada

    como um aspecto incmodo da dinmica capitalista; por isso, a legislao antitruste

    dos Estados Unidos e o trabalho das comisses de monoplios e fuses na Europa.

    No entanto, so defesas fracas contra uma fora esmagadora.

    Essa dinmica estrutural no teria a importncia que tem se no fosse O

    fato de que os capitalistas cultivam, de modo ativo, o poder monopolista. Por

    meio disso, eles realizam um controle de longo alcance sobre a produo e

    marketing, para estabilizar o ambiente empresarial, permitindo o clculo racional

    e o planejamento a longo prazo, a reduo do risco e da incerteza e, de modo mais

    geral, a garantia de um vida relativamente pacfica e tranqila para si mesmos.

    Em conseqncia, a mo visvel da empresa, como Chandler a denomina, foi

    muito mais importante para a geografia histrica capitalista do que a mo invisvel

    do mercado, muito alardeada por Adam Smith, e pavoneada

    ad nauseam

    nos

    ltimos anos, como poder diretriz da ideologia neoliberal da

    globalizao

    contempornea. No entanto, aqui que a imagem refletida da primeira contradio

    aparece

    vista com mais clareza: de modo decisivo, os processos de mercado

    dependem do monoplio individual dos capitalistas (de todos os tipos) sobre os

    meios de produo da mais-valia, incluindo as finanas e a terra (toda

    renda,

    lembremos, um retorno proveniente do poder monopolista ela propriedade

    pr iva da

    de qualquer poro do planeta). O poder

    rnonopolisrn

    du

    propr iedad e privu dn

    CAPTULOVIII' A ARTEDA RENDA 223

    portanto, tanto o ponto de par tida como o ponto final de toda a atividade capitalista.

    Um direito jurdico inegocivel existe na origem de todo o negcio capitalista,

    tomando a opo de no-negcio (aambarcamento, sonegao, conduta avarenta)

    um problema importante nos mercados capitalistas. A competio pura de mercado,

    a troca livre de mercadorias e a racional idade perfeita de mercado so, desse

    modo, mecanismos raros e cronicamente instveis para a produo coordenada e

    para as decises de consumo. A di ficuldade consiste na manuteno de relaes

    econmicas suficientemente competitivas, enquanto se sustentam os privilgios

    do indivduo e do monoplio de classe em relao

    propriedade privada, que so

    os alicerces do capitalismo como sistema poltico-econmico.

    Esse ltimo ponto requer uma elaborao adicional para nos aproximar

    ainda mais do assunto em questo. Admite-se, ampla mas equivocadamente, que o

    poder monopolista do tipo supremo e culminante seja mais evidentemente sinalizado

    pela centralizao e concentrao do capital em megaempresas. De modo contrrio,

    tambm equivocadamente, admite-se amplamente que as pequenas empresas so um

    sinal de mercado competitivo. Assim, o antigo capitalismo competitivo se tomou

    cada vez mais monopolizado ao longo do tempo. O erro surge porque a teoria

    econmica da empresa ignora totalmente seu contexto espacial, ainda que aceite

    (nas raras ocasies em que condescende em considerar a questo) que a vantagem

    localizacional envolve competio monopolista. No sculo XIX, por exemplo,

    em grau considervel, os fabricantes de cerveja, po e castiais, nos mercados locais,

    estavam protegidos da competio por causa do alto custo do transporte. O poder

    monopolista local era onipresente e m uito difcil de ser quebrado em todos os setores,

    de energia a suprimento de alimentos. Assim, o capitalismo do sculo XIX era

    muito menos competitivo do que agora. Neste ponto, que as mudanas nas condies

    de transporte e comunicaes entram como variveis determinantes cruciais.

    medida

    que as barreiras espaciais diminuam por meio do pendor capitalista para a anulao

    do espao pelo tempo, muitas indstrias e servios locais perdiam suas protees

    locais e seus privilgios monopolistas. Foram forados

    competio contra produtores

    de outras localidades; de incio, relativamente prximos, mas, depois, contra

    produtores situados em locais muito mais distantes. Sob esse aspecto, a geografia

    histrica do setor cervejeiro muito instruti

    v

    No sculo XIX, a maioria das pessoas

    tomava cerveja local, pois no tinha opo. No final desse mesmo sculo, na

    G r -

    Bretanha, a produo e o consumo de cerveja tinham se regionalizado num grau

    considervel, mantendo-se assim at a dcada de 1960 (as importaes, com exceo

    ela cerveja

    Guinncsx,

    eram inexistentes). No entanto, nessa poca,

    o

    mercado

    se

    (ornuu nuciunul ( 1 1 Ncwcnstlc Brown e a Scottish

    Youngcrs

    nparcccr.un

    em Londres

    , no sut ), IlIiI\\H dI' IW uunur illtcrllll{'iolllll (slIllit:IIIWIII', IIS illl]lO'IIIl'Il\'S virnnuu

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    226

    DAVID,ARVEY

    (a ser autenticada, presumivelmente, pelo Australian Wine and Brandy Corporation's

    Geographical Indications Committee, cr iado para identificar regies vincolas em toda

    a Austrlia). Assim, o produtor do Tahbilk estabelece uma alegao contrria em

    relao s rendas monopolistas, com base numa combinao exclusiva de fatores

    ambientais da regio em que se situa. Faz isso de uma maneira que se assemelha e

    concorre com as alegaes de singularidade concernentes aos termos terroir e

    domaine impostas pelos produtores franceses de vinho.

    Mas, ento, deparamo-nos com a primeira contradio. Todos os vinhos so

    negociveis, e, portanto, em algum sentido, so comparveis, no importa sua origem.

    / Entra Robert Parker, e o seu guia

    Wi ne ad vo cat e

    que ele publica periodicamente.

    Parker avalia os vinhos pelo seu sabor, no dedicando ateno particular ao terroir

    ou a quaisquer outras a legaes histrico-culturais. Ele notoriamente independente

    (a maior parte dos outros guias so patrocinados por setores influentes da indstria do

    vinho). Parker d notas aos vinhos conforme seu prprio e distintivo gosto. Ele tem

    muitos seguidores nos Estados Unidos, um mercado muito importante. Se ele d nota

    65 a um vinho de Bordeaux e 95 a um vinho australiano, os preos so afetados. Os

    produtores de vinho de Bordeaux esto apavorados com ele. Eles processaram,

    denegriram e insultaram Parker, e at o agrediram fisica~ente. Ele desafia a base das

    rendas monopolistas desses produtores. As alegaes monopolistas, podemos concluir,

    so tanto uma influncia do discurso, como resultado do empenho enquanto reflexo

    a respeito das qualidades do produto. No entanto, se for abandonada a linguagem

    relativa ao terroir e tradio, que tipo de discurso pode ser posto em seu lugar?

    os ltimos anos, Parker e muitos outros envolvidos no negcio do vinho inventaram

    uma linguagem em que os vinhos so descritos em termos de sabor de pssego e

    ameixa, com um toque de tomilho e groselha . A linguagem parece bizarra, mas essa

    mudana discursiva, correspondente ascenso da competio e globalizao

    internacional no negcio do vinho, assumiu um papel distintivo, refletindo a

    transformao em

    C 171171di ties

    do consumo do vinho dentro de linhas padronizadas.

    No entanto, o consumo do vinho possui muitas dimenses, abrindo sendas

    para uma investigao proveitosa. Para muitas pessoas, uma experincia esttica.

    Alm do prazer absoluto (para alguns) de um bom vinho acompanhado da comida

    certa, existem todos os tipos de outros referentes da tradio ocidental, que remontam

    mitologia (Dioniso e Baco) , religio (o sangue de Jesus e os rituais de comunho)

    e s tradies celebradas em festivais, na poesia, nas canes na literatura. O

    conhecimento dos vinhos e a apreciao apropriada so, muitas v /, S , 11msinal de

    classe, sendo analisvel como uma forma de u11 i1 < 1 I t'IIIII1I'1 ( '()Illll llourdi iu

    expressaria). O vinho Correio talvez tenha ajudn lt

    .ios

    (qu '111pode .onfinr '1)1;l1'(1'111

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    '1 '

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    nldll'lllIlll' d\ls lillllllt'iNlllS in: 'I'IUI 'i\llwis) Nt' dmWIII 1111'11111\\111''1IIs Pl'I'SPl\ 'livlIS

    lucrnt i

    vux dos poderes mono: olisrus, imcdintumonto p

    'I 'l'1ll0S urnu

    I

    'r' 'i1'11

    contradio: que o mais vido

    adcj

    to da glol ali:t,u

    110

    upolur I os

    dcscnvolvirn

    'nlos

    locais com potencial para produzir rendas monopolistus (m srno se o resulta 10 til:

    tal apoio seja a criao de um clima poltico local contrrio

    globalizacl).

    1 \

    nfase na singularidade e pureza da cultura local balinesa talvez seja e sencial

    r ti '

    }2-0teleira, s empresas areas e indstria turstica, mas o que acontece quando isso

    estimula um movimento balins de resistncia violenta impureza ela

    comercializao? O pas basco talvez seja uma configurao cultural potencialrnent '

    vai iosa, exatamente por causa da sua singularidade, mas o ETA

    48

    no parece recepti

    VI)

    comercializao. Investiguemos com um pouco mais de profundidade essa

    contradio, medida que a mesma afeta a poltica do desenvolvimento urbano.

    Para isso, requer-se situar essa polt ica em relao globalizao. Nas ltimas dcadas,

    o empreendedorismo urbano se tornou importante tanto nacionalmente quanto

    internacionalmente. Por empreendedorismo urbano, entendo o padro de condu Ia

    na govemana urbana que combina poderes estatais (local, metropolitano, regional,

    nacional ou supranacional), diversas formas organizacionais da sociedade civil

    (cmaras de comrcio, sindicatos, igrejas, instituies educacionais e de pesquisa,

    grupos comunitrios, ONGs etc.) e interesses privados (empresariais e individuais),

    formando coalizes para fomentar ou administrar o desenvolvimento urbano/regional

    de um tipo ou outro. H agora uma extensa literatura sobre esse tema, que revela

    que as formas, atividades e objetivos desses sistemas de governana (diversament '

    conhecidos como regimes urbanos, mquinas de crescimento ou coalizes el'

    crescimento regional) variam amplamente, dependendo das condies locais e elo

    arco de foras operantes dentro desses sistemas. O papel desse empreendedorismo

    urbano em relao forma neoliberal ele globalizao tambm foi analisaelo em

    detalhe, mais geralmente sob a rubrica das relaes local-global e da assim chamada

    dialtica espao-lugar. A maior parte dos gegrafos que examinaram o problema

    concluiu corretamente que

    um erro categrico considerar a globalizao uma fora

    causal com respeito ao desenvolvimento local. Nesse caso, o que est em jogo,

    afirmam eles acertadamente, um relacionamento mais complicado atravs das

    escalas, em que as iniciativas locais podem alcanar uma escala global e vice-versa,

    ao mesmo tempo que cer tos processos, dentro de uma definio especfica de escala

    - competio interurbana e inter-regional sendo os exemplos mais evidentes -, podem

    reelaborar as configuraes local/regional da globalizao. Portanto, no se deve

    48. Na Espanha, organizao poltica que quer estabelecer um governo independente para o povo

    basco. e costuma usar mtodos violentos para tentar alcanar seus objetivos (N. T

    vi-r

    1 1 IOhlilli',1Ino

    .on

    O uma

    unidade

    inclilcrcn 'ia

    Ia,

    mas si

    m .omo uma p

    IdrOl1iZII

    no

    ico '1'1I1'i1 1 1 1 \ .ntc articulada elas atividade, e das relae: .apitalistas globais.

    . No entanto, o que significa exatamente falar de uma I adronizur

    geograficamente articulada? H muita evidncia de desenvolvimento lcogrMi 'o

    desigual (numa variedade de escalas) e, ao menos, alguma teorizao convin .cnre

    para entender sua lgica capitalista. Algo disso pode ser entendido em

    I

    rmos

    conv~n~ais, como a busca dos capitais mveis (com o capital financeiro,

    comercial e produtivo tendo capacidades diferentes sob esse aspecto) em aufcrir

    van~gens na produo e na apropriao da mais-valia por meio do giro. De Iato,

    pode se identificar algumas tendncias ajustveis a modelos simples, concernenres

    a uma corrida para a parte mais baixa, em que a fora de trabalho mais barata c

    mais facilmente explorvel se torna o farol guia para a mobilidade do capital '

    para as decises de investimento. No entanto, h mita evidncia

    co mpensatria ,

    que ~ug~r~ ser isso uma simplificao excessi va, quando ressaltada como explicao

    causal urnca a respeito da dinmica do desenvolvimento geogrfico desigual. L:111

    geral, o capital flui com facilidade tanto para regies de altos salrios, como pnrn

    de baixos salrios, e, muitas vezes, parece ser guiado geograficamente por critrios

    diferentes daqueles descritos na economia poltica tanto burguesa quanto marxisui.

    Em parte (mas no inteiramente), o problema resulta do

    h b i t o

    t i

    desconsiderar a categoria de capital fundirio e a importncia consid 'nvel dm,

    investimentos a longo prazo no ambiente construido, que so, por definio, i111(lwi:,

    geograficamente (exceto no sentido de acessibilidade relativa). Tais

    investirn 'nlns.

    especialmente quando so do tipo especulati vo, invariavelmente requerem novas

    ondas de investimento se a primeira onda se provou rentvel (para lotar um e \111'()

    de convenes, precisa-se de hotis, que exigem melhores transportes e cornunica

    S,

    que requerem uma expanso do centro de convenes ...). Assim, h um elemento d '

    causa circular e cumulativa.em funcionamento na dinmica dos investimentos na

    ~rea metropolitana (considere-se, por exemplo, toda a renovao da zona elas docas

    londrina e a viabilidade financeira do Canary

    Wharf,

    que estimulou novos

    investimentos, tanto pblicos quanto privados). Eis o que freqenternent so

    mquinas de crescimento urbano em todas as partes: a orquestrao da dinmica do

    processo de investimento e

    proviso de investimentos pblicos chave, no luuar

    tempo certos, para fomentar o xito na competio interurbana e inter-regional.

    49. Gra~de e moderno empreendimento,

    1

    CIlV Ivcu a construo de residcncias c de cscritriux 11 11

    rcgiao leste do centro de Londres . junto ao, rio

    'I 'mi :

    a, principalmente durante a dcada de

    19RO

    (N.

    '1 '.).

    50. Parte da zona das docas lom':la. que 11 \ '',11 1 o Cnnary Wharf Tower, o cdilicio mais alto da (;ra IIr~I;II ' ;I,

    e multas outros grandes CCItItCIOSe cscru wios. IIIml m construdos na dcada de 1

  • 7/18/2019 HARVEY, David. A Produo Capitalista do Espao..pdf

    9/12

    Nn .ntunro,

    isso 11110

    'riu

    IIssill1 111 0 1Ill'lIl'lllll (rnmo ) H' IUIOI'W lN I ' I1

    man 'ira pela qual ta rnb m pode obter rendas monopnlistu. Jmll 'slrlll ~ ill 11\'111

    conhecida dos incorporadores imobilirios, por exemplo, cons ervur 1111)111mI

    mais alugvel parte do terreno de algum empreendimento para extrair 1\'11(111

    monopolista dessa parte depois da realizao do restante do projeto. s gov '1110

    astutos, com os poderes necessrios, podem adotar as mesmas

    pr ticas .

    'OV('IIIII

    de Hong Kong, como o entendo, custeado largamente pelas vendas controludn .

    a preos monopolistas muito elevados, dos terrenos pblicos para empreendi mculu

    imobilirios. Por sua vez, isso converte os bens imveis em rendas monopolistu .

    tomando Hong Kong muito atraente para o capital de investimento finan

    .ciru

    internacional, que opera por meio do mercado de bens imveis. Naturalm '111,,,

    Hong Kong possui outras alegaes de singularidade, devido sua localizunu,

    sobre a qual pode tambm negociar com muita fora, oferecendo vanta 'l'lI/

    monopolistas. Casualmente, o governo de Cingapura comeou a capturar r ndu

    monopolistas, e foi muito bem-sucedido, de forma quase similar, ainda que

    pOI

    meios poltico-econmicos muito diferentes.

    Esse tipo de govemana urbana se orienta principalmente para a

    c rinrlu

    de padres locais de investimentos, no apenas em infra-estruturas fsicas, conu:

    transportes e comunicaes, instalaes porturias, saneamento bsico, fomecim '11111

    de gua, mas tambm em infra-estruturas sociais de educao, cincia e tecnolo .iu,

    controle social, cultura e qualidade de vida.

    O

    propsito gerar sinergia sufici '1111'

    no processo de urbanizao, para que se criem e se obtenham rendas rnonopolistu

    tanto pelos interesses privados como pelos poderes estatais. Nem todos esse

    esforcos obtm xito. mas mesmo os exemplos de insucesso podem, parcial 011

    inteil~amente, ser en~endidos em termos do seu fracasso em realizar rendus

    monopolistas. No entanto, a busca de rendas monopolistas no se limita s

    pr ticu

    de empreendimentos imobilirios, iniciativas econmicas e recursos

    governamentais. Essa busca possui uma aplicao bem mais ampla.

    capital simblico coletivo, os marcos

    de distino e as rendas monopol istas

    Se as alegaes de singularidade, autenticidade, particularidade e especialidade

    sustentam a capacidade de conquistar rendas monopolistas, ento sobre que melhm

    terreno possvel fazer tais alegaes do qu~ no campo dos artefatos e das prticm,

    culturais historicamente constitudas, assim ~mo no das caractersticas ambienrais

    especiais (incluindo, claro, os ambientes sociais e culturais construdos)? Tod.,

    essas alegaes, como no negcio do vinho, so tanto resultado das construoo,

    di '\lI VII

    '\li 1I\)

    lo~ xmflitos bux .ados m ratos n ai .riuis. Muitus

    1 11 , '11 ;( 'S S' IIP\

    inrn

    '11ll1l1ll'lIlivllSisl

    ir ica s,

    interpreta se entidos das memrias coletivas, si

    inif

    ,,,dos

    das

    prti

    'as culturais etc.: sempre h um forte elemento social e eli 'cursivo 01 .runtc

    na construo de tais alegaes. Logo que estabelecidas, porm, tais alegaes podem

    ser devolvidas com fora ao ponto de origem para a extrao das rendas monopolistas,

    j que, na mente de muitas pessoas ao menos, no existiro lugares outros alm de

    Londres, Cairo, Barcelona, Milo, Istambul, So Francisco, ou seja onde for, para

    obter acesso a tudo quanto seja supostamente nico a tais lugares.

    O

    ponto de referncia mais evidente onde esse processo funciona o turismo

    contemporneo, mas considero um erro basear a questo nisso. Pois o que est em

    jogo o poder do capital simblico coletivo, isto , o poder dos marcos especiais de

    .distino vinculados a algum lugar, dotados de um poder de atrao importante ~m

    relao aos fluxos de capital de modo mais geral. Bourdieu, a quem devemos o uso

    genrico desses termos, infelizmente os restringe aos indivduos (quase como tomos

    t1utuando num mar de juzos estticos estruturados), quando para mim parece que as

    formas coletivas (e a relao dos indivduos com essas formas coletivas) talvez fossem

    de interesse ainda maior. O capital simblico coletivo vinculado a nomes elugares

    como Paris, Atenas, Nova York, Rio de Janeiro, Berlim e Roma elegrande importncia,

    conferindo a tais lugares grandes vantagens econmicas em relao a, por exemplo,

    Baltimore, Liverpool, Essen, Lille e Glasgow. O problema para esses lugares citados

    em segundo lugar elevar seu quociente de capital simblico e aumentar seus marcos

    de distino, para melhor basear suas alegaes relativas singularidade geradora ela

    renda monopolista. Dada a perda _deoutros poderes monopolistas por causa do transporte

    e comunicaco mais fceis e a reduco de outras barreiras para o comrcio, a lutapelo

    ,

    capital simblico coletivo se tomou ainda mais importante como base para as rendas

    monopolistas. De que outro modo podemos explicar o alarde provocado pelo Museu

    Guggenheim, em Bilbao, da grife arquitetnica Gehry? E tambm como podemos

    explicar a disposio de instituies financeiras importantes, com considerveis

    interesses internacionais, de financiar tal projeto?

    A ascenso de Barcelona proeminncia do sistema europeu de cidades,

    para considerar outro exemplo, deu-se, em parte, com base na sua firme acumulao

    tanto de capital simblico como de marcos de distino. Nesse caso, enfatizou-se a

    prospeco da histria e da tradio caracteristicamente catal, o marketing a respeito

    de suas importantes realizaes artsticas e heranas arquitetnicas (Gaud, claro),

    e seus marcos distintivos de estilo

    c I

    viela tradies literrias, com o apoio de uma

    avalanche de publicaes, exibies e eventos culturais celebrantes da distino.

    Alm disso, houve novos ernbc l zarncntos arquitetnicos (a antena de

    radiocomunicao de Norrnan Foxtcr e ()Museu de Arte Moderna branco fulgurante

    A

    11 11 11 1111 11 111 1111

  • 7/18/2019 HARVEY, David. A Produo Capitalista do Espao..pdf

    10/12

    Ir Mel 'r, no m io ti, .onstru '( 'S L i ' iru lu lus

    do

    .id u c lc ve lhu ), i IlV 'S I i Illl'I1l0S P S II los

    P,IIH

    pcu

    itir

    o ',ciI acesso ao port

    praia , r

    .cup .rundo

    1'1'1 ' '110 ,S

    bnld~)s paru

    11

    Vila Olmpica (com referncia sagaz

    utopia elos I c ri o s) , c a uunsformno do 1 1 . 1

    fora antes uma vida noturna lgubre e perigosa num panorama aberto cI csp

    'l

    .ulo

    urbano. Todo esse processo ainda recebeu a ajuda dos Jogos Olmpicos ele 1992, qu '

    propiciou grandes oportunidades para acumulao de rendas monol~o~i, tas (Jua n

    Samaranch, presidente do Comit Olmpico Internacional, por co in c id n c ia , unha

    muitos interesses imobilirios em Barcelona).

    No entanto, o sucesso inicial de Barcelona parece ter tomado o rumo lu

    primeira contradio. Enquanto as oportunidades de apropriao, das ren~las

    -monopolistas se apresentavam em abundncia, com base no capital simblico coletivo

    de Barcelona enquanto cidade (os preos dos imveis explodiram e o Royal Institu to

    of British Architects concedeu, a toda a cidade sua medalha por realizaes

    arquitetnicas), seu irresistvel chamariz atraiu, como conseqncia, mais e mais il

    transformao em

    commodities

    multinacional e homogeneizada. As fases postenor s

    dos empreendimentos margem do mar parecem exatamente como quaisquer ~utros

    empreendimentos do mundo ocidental, os espantosos congestionamentos de transito

    provocam presses para abrir avenidas na cidade velha,' lojas de propned~d'

    multinacional substituem o comrcio local, o

    enobreci mento

    de regiocs

    desvalorizadas da cidade transfere os moradores antigos e destri construes mais

    antigas, e Barcelona perde alguns dos seus marcos de distino. H inclusive sinais

    nada sutis de disneificao. Essa contradio marcada por questronarnentos c

    resistncia. Que memria coletiva deve ser celebrada pela cidade (os anarquistas,

    como os Icrios, que desempenharam papel importante na histria de Barcelona; os

    republicanos, que lutaram to bravamante contra Franco; os nacionalistas catales;

    os migrantes da Andaluzia; ou um velho aliado de Franco, como Sarnaranch)? Qu .

    esttica realmente tem valor (os arquitetos celebremente poderosos de Barcelona,

    como Bohigas)? Por que aceitar a disneificao? Os debates desse tipo no podem

    ser facilmente silenciados, exatamente porque evidente para todos que o capital

    simblico coletivo acumulado por Barcelona deRende dos valores de autenticidad

    singularidade e qualidades especficas irreplicveis. Tais marcos locais de distino

    so de difcil acumulao sem suscitar a questo do exerccio local de poder, mesmo

    dos movimentos populares e oposicionistas. Nesse ponto, normalmente, os

    guardi

    's

    do capital simblico coletivo e do capital cultijral (os museus, as universidade~,

    11

    classe dos mecenas e o aparelho estatal) fecham suas portas, e tratam de manter lol'l

    a ral (ainda que, em Barcelona, o Museu de Arte Moderna, ao contrrio da maiorin

    das instituies desse tipo, continuou, surpreendente e construtivamente, aberto

    ~l;

    sensibilidades populares). Nesse caso, os interesses so significativos. Trata-se dI'

    \11 11 11

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    11/12

    l

    JI1II1 1'11,110

    de urquit '[OS' pl:111jndor 'S 1 0

    ti s

    .om () IIpoio I' .crtu

    parte do aparato es tatal local) procura r validar as rOrmlSar ru itc t ini 'as da 13

    r l im

    dos sculos XVIII e XIX, e,em particular, realar a tradio

    arquitetnica

    de .hinl 'I,

    excluindo quase todo o resto. Essa posio talvez seja vista como simples que .to

    c I

    preferncia esttica elitista, mas possui diversos significados, que tm a ver c m as

    memrias coletivas, a monumentalidade, o poder da histria e a identidade polti 'li

    da cidade. Tambm se associa ao clima opinativo (articulado em uma variedade d '

    discursos) que define quem berlinense e no , e quem tem dire ito cidade, em

    termos bem definidos de estirpe ou de adeso a valores e crenas especficas. Prospecia

    uma histria local e uma herana arquitetnica carregadas de conotaes nacional iSI,IS

    e romnticas. Num contexto em que os maus-tratos e a violncia contra os imigrantes

    so comuns, talvez at oferea legitimao tcita a tais aes. A populao turca

    (grande parte da qual agora natural de Berlim) sofreu muitas afrontas, sendo

    forada a abandonar o centro da cidade. Sua contribuio a Berlim como cidade

    inteiramente ignorada. Alm disso, esse estilo romntico/nacionalista se ajusta i \

    abordagem tradicional concernente monumentalidade, que, nos projetos

    contemporneos (embora sem referncia especfica e at talvez sem saber), replica

    amplamente os projetos de Albert Speer (esboados para Hitler na dcada de 1930)

    para um primeiro plano monumental para o Reichstag.P Felizmente, isso no tudo

    que est entrando em cena em Berlim, na busca por capital simblico coletivo. A

    reconstruo do Reichstag, de autoria de Norman Foster, por exemplo, ou o grupo

    de arquitetos modernistas internacionais importado pelas multinacionais (largamente

    em oposio aos arquitetos locais), para dominar a Potsdamer Platz , so incompatveis

    com a posio inicialmente mencionada. A reao romntica local ameaa

    c I

    dominao multinacional pode simplesmente acabar sendo um elemento de interesse

    inocente num empreendimento complexo relativo a diversos marcos de distino

    para a cidade (Schinkel, afinal, possui considervel mrito arquitetnico, e a

    reconstruo de um castelo do sculo XVIII pode facilmente se prestar ~I

    disneificao). No entanto, o possvel aspecto negativo da histria desperta interesse,

    pois reala como as contradies da renda monopolista podem terminar. Se os projetos

    limitadores, a esttica excludente e as prticas discursivas'se tornarem dominantes,

    o capital simblico coletivo criado dificilmente transacionar com liberdade, pois

    suas qualidades especiais o poro largamente fora da globalizao. O poder

    monopolista coletivo, que a governana urbana capaz de comandar, pode sempre

    ser orquestrado em oposio ao cosmopolitismo banal da globalizao multinacional.

    . 2. O parlamento alemo

    (N.

    T

    () doi .

  • 7/18/2019 HARVEY, David. A Produo Capitalista do Espao..pdf

    12/12

    Ilpm; de outrus dim 'nsO 's 1:1vida social in 'oIl1j1111(v 'is ('0111li llol11o 'l1'idlld'

    prcssup. stu I

    ela produo da mercadoria.

    Para o capital no d

    'slruir

    rotulm 'n~ ,

    li

    singularidade, base para a apropriao das rendas monopolistas (e h muuus

    circunstncias em que o capital fez exatamente isso), dever apoiar formas

    li '

    diferenciao, assim como dever permitir o desenvolvimento cultural local divergente

    e, em algum grau, incontrolvel, que possa ser antagnico ao seu prprio e suav '

    funcionamento. em tai s espaos que todos os tipos de movimen tos oposicionistas

    podem se organizar ; pressupondo, como freqentemente o caso, que os movi

    mentox

    oposicionis tas no estejam firmemente ali entrincheirados . O problema para o capital

    achar os meios de cooptar , subordinar, mercadoriza r e monetizar tais diferenas

    apenas o suficiente para se r capaz de se apropriar. das rendas monopol istas disto. O

    problema para os movimentos oposicion istas usar a va lidao da parti c~la ridad. '

    singula ridade, auten tic idade e signi ficados cul tura is e est ticos de mane ira a abrir

    novas possibi lidades e a lte rnat ivas, em vez de permiti r que essa va lidao seja usada

    Para criar um terreno mais frti l do qua l possam ser ex tradas rendas rnonopolistas

    por aqueles que possuem tanto o poder como a inclinao compulsiva para fazer

    isso. As lu tas resultantes, mui to di fundidas ainda que gera lmente fragmentadas,

    ent re a apropriao capi ta lista e a criat ividade art stica, podem levar um segmento

    da comunidade preocupado com questes culturais para o lado com uma poltica

    contrria ao capitalismo multinacional.

    No entanto, no nada certo que o conservadorisrno e mesmo a prtica

    reacionr ia da excluso, muitas vezes vinculados a valores puros de autenticidade,

    o riginalidade e a uma estti ca de parti cula ridade da cu ltura, sejam bases adequadas

    para uma polt ica progressista de oposio. Pode-se muito facilmente guinar par

    polt icas de identidade local, regional ou nacionalista, do tipo neofascista, das quais

    j h muitos sinais preocupantes por toda a Europa. Essa uma ,contradio bsica,

    que a esquerda deve combater. Os espaos para pol t icas de t ransformao esto ali,

    pois o capital no pode se permitir

    fech -Ios

    completamente, e a oposio de esquerda

    est gradualmente aprendendo a como melhor us-los. Os fragmentados movimentos

    de oposio

    globalizao neol iberal, como revelado em Seat tl e, Praga, Melbourne,

    Bangcoc e Nice, e, agora, mais construtivamente, no Frum.Social Mundial , em

    Porto Alegre (em oposio ao encontro anual, em Davos, das elites empresariais '

    dos lderes governamentais), indica uma polt ica alternativa. No inteiramente

    antagnica

    globaiizao, mas a quer em condies muito diferentes. Naturalmente,

    no por acaso foi Porto Alegre e no Barcelona, Berlim, So Francisco ou Milo

    que se abriu a essa iniciativa. Em Porto Alegre, as. foras da cultura e da histria

    esto sendo mobilizadas por um movimento poltico (liderado pelo Partido cios I

    Trabalhadores) de modo dife rente, buscando um outro tipo de capital simblico

    VIlI 'Iivll llllll'llll 'no no osl nuido no M us 'l i (lu IIm h 'in , 'll113ilbao, ou nu 11

    i11pliU(,:II()

    du

    TIII ' (11111ry,

    11 1 Londres. Os mar

    'Os

    de distino em acumulao em Porto

    AI

    'gr'

    S

    ori iinam da sua luta para moldar uma aiternativa globalizao, que niio

    tire partido

    da'

    rendas monopolistas, em particular, ou se submeta ao capitalismo

    multinacional, em geral . Ao se concentrar na mobil izao popular, est construindo.

    de modo ativo, novas formas culturais e novas definies de autenticidud

    originalidade e tradio. Esse um caminho difcil de ser seguido, como

    1110sl1'11l1l

    exemplos anter iores, como asexperincias notveis na Bolonha vermelha das d ca da s

    de

    1960

    e

    1970.

    O socialismo em uma nica cidade no um conceito vivel.

    No

    entanto, evidente que altemativa alguma forma contempornea de globalizao

    ser apresentada a ns a partir do alto. Ter de vir de dentro dos espaos mltiplos

    locais, l igados num movimento mais amplo.

    Nesse caso, que assumem certa importnc ia estrutural as contrad ies

    enfrentadas pe los capi ta list as quando buscam renda monopo lista . Ao procurarem

    explorar valores de autenticidade, localidade, his tria, cultura, memrias colet ivas

    e tradio, abrem espao para a reflexo e a ao poltica, nas .q.ua s alternativas

    podem ser tanto planejadas como perseguidas. Esse espao merece intensa investigao

    e cultivo pelos movimentos de oposio. um dos espaos chave de esperana para

    a const ruo de um tipo alternativo de globalizao, em que as foras progressistas

    da cultu ra se apropriam dos espaos chave do capital em vez do contr rio.