capitalismo liberal e neoliberal, atualidade do marxismo em david harvey e capitalismo parasitario...

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Uma reflexão sobre o Caitalismo Liberal

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Liberalismo

CAPITALISMO LIBERAL E NEOLIBERAL, ATUALIDADE DO MARXISMO EM DAVID HARVEY E CAPITALISMO PARASITRIO EM BAUMAN1-LIBERALISMO CLSSICOO Liberalismo uma teoria anti-Estado e continua a s-lo, no sentido em que ele d mais valor ao indivduo e as suas iniciativas, do que o coletivo, o pblico.

O Liberalismo uma tica individualista pura e simples. Ele est apoiado numa proposio simples: homens e mulheres lutam para maximizar o prazer, e para atenuar a dor. Mas no cabe a coletividade imp-lo, no cabe ao filsofo ou ao partido poltico determina-lo. Ao contrrio, cabe aos indivduos persegui-lo, e ao faz-lo se auto-realizarem.

As proposies do Liberalismo primitivo se dirigiam contra o Absolutismo do sc. XVIII, e as diversas prticas feudais que ainda persistiam, numa poca em que o crescimento industrial e comercial comearia a abrir novas perspectivas de esforo, explorao, riqueza e mudanas individuais. Os liberais representavam as novas classes ascendentes, e as novas formas de riqueza.

O ensaio Da Liberdade de John Stuart Mill resume muito bem os ideais do liberalismo:

1. Qualquer limitao imposta pelo Estado m.

2. Mesmo se o indivduo no pode fazer bem determinadas coisas, o Estado no deve faz-las, de modo a evitar enfraquecer a independncia e iniciativa do indivduo.

3. Qualquer aumento dos poderes do Estado ruim, prejudicial, diminui a liberdade individual. As pessoas no devem permitir um aumento do poder do Estado.

Assim para Mill o aumento dos poderes do Estado necessariamente envolve o decrscimo dos poderes dos indivduos. A bblia da teoria econmica liberal ainda A Riqueza das Naes (1776) de Adam Smith. Ele defendia a economia de mercado como o melhor instrumento para o crescimento da riqueza, em bases individuais, nacionais e mundiais. O que vale acima de tudo dar liberdade ao individual, e as atribuies do Estado devem se limitar manuteno da ordem e defesa. Adam Smith se opunha a qualquer interveno possvel do Estado em matria comercial, agrcola e industrial.

David Ricardo (1772-1823) acreditava como Adam Smith que, a economia deveria guiar-se por si mesma, norteando-se apenas pela lei econmica da oferta e da procura, isto , atravs do jogo entre produo e consumo.

O Liberalismo possui trs ncleos:

1 - Ncleo Moral Afirma valores e direitos bsicos relacionados natureza do ser humano. Todo indivduo tem qualidades e potencialidades inatas e merecedoras do mais alto respeito como liberdade, dignidade e vida. Por isso o individuo deve ser respeitado, e ter a liberdade de buscar sua auto realizao.

2 - Ncleo Poltico Inclui, sobretudo os direitos polticos como o direito ao voto, de participar, de decidir o tipo de governo quer eleger, e que espcie de poltica seguir. Este elemento est associado democracia representativa.

3 - Ncleo Econmico Est associado ao individualismo econmico. O indivduo o conceito bsico do Liberalismo. Seus pilares tm sido a propriedade privada e uma economia de mercado, livre de controles estatais. O direito de propriedade, o direito de herana, o direito de acumular riqueza e capital liberdade de comprar e vender torna-se parte essencial do liberalismo.

As liberdades econmicas so em geral o ncleo econmico do Liberalismo. Elas assumiam uma importncia muito grande, maior que o ncleo moral e poltico. O direito de propriedade, o direito de herana, o direito de acumular riqueza e capital, liberdade de produo, de comprar e de vender - todas as liberdades contratuais tornou-se uma parte essencial da nova ordem social.

importante a compreenso do Liberalismo, porque o mundo vive atualmente sob a sua gide do neoliberalismo.

O termo Neoliberalismo designa uma doutrina que aspira renovar certas posies do velho Liberalismo, mas, permanecendo fiel a raiz do mesmo. O Neoliberalismo surgiu no sculo XX almejando retirar do Liberalismo sua excessiva carga de individualismo.

O Neoliberalismo continua considerando insubstituvel a iniciativa individual, que cria a economia de mercado, mas j no desconhece a dimenso social do homem.

O Neoliberalismo como escola poltica econmica comeou a ser divulgada em meados do sculo XX, pela Escola de Viena (pregando a doutrina do Estado Mnimo) e, pela Escola de Chicago. O Neoliberalismo se constitui numa reviso e aprimoramento do Liberalismo e do laissez-faire para a nova realidade do Capitalismo no sculo XX. Toma uma posio contrria doutrina Keynesiana que advoga a necessidade da interveno estatal na economia, para fomentar o crescimento econmico. Fiel as suas origens, o Neoliberalismo prega o afastamento do Estado da atividade econmica que deve ser totalmente guiado pela iniciativa privada, devendo o Estado pautar a sua atuao apenas nas reas de fiscalizao e regulamentao das leis.

At o ano de 1978, o Neoliberalismo ficou restrito ao mundo acadmico ,entretanto, em 1979, Margareth Thatcher vencendo as eleies pelo Partido Conservador na Inglaterra resolveu implantar o programa neoliberal naquele pas, atravs da reduo do tamanho do Estado, de um corte de pessoal, em um abrangente programa de privatizaes e enfraquecimento dos sindicatos.

Com o fim da experincia do socialismo real no fim da dcada de 80, o Neoliberalismo comeou a se espalhar pelo resto do mundo, porque viria a atender as necessidades do processo de globalizao mundial j em curso. A histria vem demonstrar que um pensamento ou doutrina poltica se dissemina porque existe um terreno econmico favorvel a ele, que vem legitim-lo.

Com a adoo do Neoliberalismo faz-se necessrio desestatizao, a fragilizao do Estado-Nao atravs das privatizaes, em oposio ao fortalecimento do poder do capital financeiro. Os governos tm que ficarem subservientes ao capital internacional, sem deter mais o controle da economia.O pensamento veiculado que o Estado no pode ser mais responsvel pelo bem-estar da sociedade, e assim deve deixar de cumprir as funes bsicas de sade, educao, moradia que devem ser buscadas por iniciativa do individuo, de forma privada.

O Estado perde a capacidade de proteger o emprego, e a renda das pessoas, perde tambm o controle sobre a produo e comercializao de tecnologia. A ideologia Neoliberal desmonta o Estado. E, exatamente esse pensamento que vem casar com a globalizao, que repassa a idia de que a categoria do Estado-Nao no tem mais razo de ser na nova ordem mundial, para que possa ficar subordinado ao poder do capital.

Procura-se tornar o Estado fraco, ineficiente para possibilitar com mais facilidade a sua desestruturao. Um Estado forte e progressista, autnomo pode resistir e colocar entraves a expanso do capital transnacional. Portanto fica muito mais fcil implantar a nova ordem em um Estado fragilizado, que pode ser facilmente desestruturado, e incapaz de promover atos de rebeldia. Da, para o desmonte do Estado se prev: cortes das verbas pblicas nos setores da sade, educao, pesquisa cientfica e tecnologia, demisso de funcionrios pblicos, reforma da previdncia. O Estado assim responsabilizado por todas as misrias do pas e, que por isso deve ser substitudo pela iniciativa privada.

2-ORIGENS DO NEOLIBERALISMOToda e qualquer doutrina deve ser entendida como resultado de uma oposio. Ela estrutura-se para combater algum princpio que lhe desagrada, ao mesmo tempo em que procura oferecer-lhe uma alternativa. Com o Neoliberalismo no foi diferente. Suas razes tericas mais remotas encontram-se na chamada Escola Austraca - reconhecida por sua ortodoxia no campo do pensamento econmico - que se centralizou em torno do catedrtico da Faculdade de Economia de Viena, Leopold von Wiese, na segunda metade do sculo XIX, e que ficou conhecido por seus trabalhos tericos sobre a estabilidade da moeda. Mais recentemente o Neoliberalismo surgiu pela primeira vez, em 1947, com o clebre encontro entre um grupo de intelectuais conservadores na Sua, onde formaram uma sociedade de ativistas para combater as polticas do Estado de Bem-Estar-Social. Essas polticas tiveram incio em 1942 com a publicao na Inglaterra do Relatrio Beveridge. Segundo ele, depois de vencida a guerra, a poltica inglesa dever-se-ia inclinar doravante para uma programao de aberta distribuio de renda, baseada no trip da Lei da Educao, a Lei do Seguro Nacional e a Lei do Servio Nacional de Sade (associadas aos nomes de Butler, Beveridge e Bevan). A defesa desse programa tornou-se a bandeira com a qual o Partido Trabalhista ingls venceu as eleies de 1945, colocando em prtica os princpios do Estado de Bem-Estar-Social.

Para Hayek o programa do Partido Trabalhista ingls levaria o pas a um retrocesso.

Friedrich Von Hayek (1899-1992) nasceu em Viena, ustria, proveniente de uma famlia de intelectuais, era um austraco dogmtico, austero, desprovido de humor, professor da Escola de Economia de Londres, foi o mentor de Thatcher e Reagan, naturalizou-se britnico em 1958, e ensinou na Escola de Chicago quando foi professor de Milton Friedman. Em 1074 ganhou o prmio Nobel de Economia, com seu trabalho sobre Flutuaes no Mercado.

Escreveu ento um livro inflamado que pode ser considerado como o Manifesto do Neoliberalismo - "O Caminho da Servido" (1944). O Caminho da Servido crtico em relao ao Fascismo, ao Comunismo e, at ao Socialismo-Democrtico, que segundo ele era uma espcie de mistura dos dois primeiros.

Hayek v o socialismo liderando todo tipo de tirania. E, acreditava que o socialismo era responsvel por toda confuso moral e intelectual que ameaa destruir nossa civilizao.Para Hayek o Estado era um mal desnecessrio, exceto na sua forma policial

Na sua obra referida acima, ele exps os princpios mais gerais da doutrina, assegurando que o crescente controle do Estado levaria fatalmente completa perda da liberdade, afirmando que os trabalhistas conduziriam a Gr-Bretanha pelo mesmo caminho dirigista que os nazistas haviam imposto Alemanha. Isso serviu de mote campanha de Churchill, pelo Partido Conservador, que chegou a ponto de dizer que os trabalhistas eram iguais aos nazistas.

A outra vertente do Neoliberalismo surgiu nos Estados Unidos e concentrou-se na chamada Escola de Chicago do prof. Milton Friedman. Combatia a poltica do New Deal do Presidente Franklin Delano Roosevelt, por ser intervencionista e pr-sindicatos. Milton Friedman (1912-2006), economista e estatstico americano da Escola de Chicago, recebeu o Preio Nobel em Cincias Econmicas em 1976, e conhecido por suas pesquisas na rea do consumo, histria e politica monetria e a complexiblidade da politica de estabilizao.

Na dcada de 1960 ele promoveu uma politica macroeconmica chamada de Monetarismo. Ele afirmou que existia uma taxa "natural" de desemprego, e defendeu que os governos somente poderiam aumentar o nvel de emprego acima desta taxa aumentando a demanda agregada e provocando uma acelerao da inflao.

Friedman foi conselheiro econmico do Presidente republicano dos Estados UnidosRonald Reagan. Sua filosofia poltica exaltava as virtudes de um sistema econmico de livre mercado com interveno mnima. Ele era contra qualquer regulamentao que inibisse as empresas, e condenava at o salrio mnimo, na medida em que alterava artificialmente o valor da mo-de-obra pouco qualificada. Tambm se opunha a qualquer piso salarial fixado pelas categorias sindicais, pois terminavam por adulterar os custos produtivos, gerando alta de preos e inflao.

Devido longa era de prosperidade - quase 40 anos de crescimento - que impulsionou o mundo ocidental depois da Segunda Guerra, graas s diversas adoes das polticas keynesianas e sociais democratas, os neoliberais recolheram-se para a sombra. Mas, a partir da crise do petrleo de 1973, seguida pela onda inflacionria que surpreendeu os Estados de Bem-Estar social, o Neoliberalismo gradativamente voltou cena. Ele denunciou a inflao como resultado do Estado demaggico, perdulrio, chantageado ininterruptamente pelos sindicatos e, pelas associaes. Responsabilizou os impostos elevados e os tributos excessivos, juntamente com a regulamentao das atividades econmicas, como os culpados pela queda da produo. O mal se devia, pois a essa aliana espria entre o Estado de Bem-Estar social e os Sindicatos. A reforma que apregoavam devia passar pela substituio do Estado de Bem-Estar-Social, e pela represso aos sindicatos. O Estado deveria ser desmontado e, gradativamente desativado, com a diminuio dos tributos, e a privatizao das empresas estatais, enquanto os sindicatos seriam esvaziados por uma retomada da poltica de desemprego, contraposta poltica keynesiana do pleno emprego. Enfraquecendo a classe trabalhadora e diminuindo ou neutralizando a fora dos sindicatos, haveria novas perspectivas de investimento, atraindo novamente os capitalistas de volta ao mercado.

O primeiro governo ocidental democrtico a inspirar-se em tais princpios foi o da Sra. Thatcher na Inglaterra, a partir de 1980. Enfrentou os sindicatos, fez aprovar leis que lhes limitassem a atividade, privatizou empresas estatais, afrouxou a carga tributria sobre os ricos e sobre as empresas e estabilizou a moeda. O Governo Conservador da Sra. Thatcher serviu de modelo para todas as polticas que se seguiram posteriormente no mesmo roteiro. A hegemonia do Neoliberalismo hoje tamanha que, pases de tradies completamente diferentes, governados por partidos os mais diversos possveis, aplicam a mesma doutrina.

3-ALGUNS PRINCIPIOS BSICOS DO NEOLIBERALISMOFilosofia: Na ideologia neoliberal, os homens no nascem iguais, nem tendem igualdade. Logo, qualquer tentativa de suprimir a desigualdade um ataque irracional prpria natureza das coisas. Deus ou a natureza dotou alguns com talento e inteligncia, mas foi avaro com os demais. Qualquer tentativa de justia social torna-se incua porque novas desigualdades fatalmente ressurgiro. A desigualdade um estimulante, que faz com que os mais talentosos desejem destacar-se, e ascender ajudando dessa forma o progresso geral da sociedade. Tornar iguais os desiguais contraproducente e conduz estagnao. Segundo W. Blake: "A mesma lei para o leo e para o boi opresso!

Excluso e pobreza: a sociedade o cenrio da competio, da concorrncia. Quando aceitamos a existncia de vencedores, devemos tambm concluir que deve haver perdedores. A sociedade teatraliza em todas as instncias a luta pela sobrevivncia. Inspirados no darwinismo, que afirma a vontade do mais apto, concluem que somente os fortes sobrevivem cabendo aos fracos conformar-se com a excluso natural. Esses, por sua vez, devem ser atendidos no pelo Estado de Bem-estar, que estimula o parasitismo e a irresponsabilidade, mas pela caridade feita por associaes e instituies privadas, que ameniza a vida dos infortunados. Qualquer poltica pblica mais intensa joga os pobres nos braos da preguia e da inrcia. Deve-se abolir o salrio mnimo e os custos sociais, porque falsificam o valor da mo-de-obra encarecendo-a, pressionando os preos para o alto, gerando inflao.

Os ricos: Eles so a parte dinmica da sociedade. Deles que saem as iniciativas racionais de investimentos baseados em critrios lucrativos. Irrigam com seus capitais a sociedade inteira, assegurando sua prosperidade. A poltica de tributao sobre eles deve ser amainada o mximo possvel, para no lhes ceifar os lucros ou inibi-los em seus projetos. Igualmente a poltica de taxao sobre a transmisso de heranas deve ser moderada para no afetar seu desejo de amealhar patrimnio e, de deixar para os seus herdeiros legtimos.

Crise: resultado das demandas excessivas feitas pelos sindicatos operrios que pressionam o Estado. Este, sobrecarregado com a poltica previdenciria e assistencial, constrangido a ampliar progressivamente os tributos. O aumento da carga fiscal sobre as empresas e os ricos reduzem suas taxas de lucro, e fazem com que diminuam os investimentos gerais. Sem haver uma justa remunerao, o dinheiro entesourado, ou enviado para o exterior. Somam-se a isso os excessos de regulamentao da economia motivados pela continua burocratizao do Estado, que complicam a produo e sobrecarregam os seus custos.

Inflao: resultado do descontrole da moeda. E esse por sua vez ocorre devido ao aumento constante das demandas sociais (previdncia, seguro-desemprego, aposentadorias especiais, reduo da jornada de trabalho, aumentos salariais alm da capacidade produtiva das empresas, encargos sociais, frias e etc...) que no so compensadas pela produo geral da sociedade. Por mais que o setor produtivo aumente a riqueza, a gula sindical vai frente fazendo sempre mais e mais exigncias. Ocorre ento o crescimento do dficit pblico que tapado com a emisso de moeda.

Estado: no h teologia sem demnio. Para o Neoliberalismo ele se apresenta na forma do Estado. O Estado intervencionista. Dele que partem as polticas restritivas expanso das iniciativas. Incuravelmente paternalista tenta demagogicamente solucionar os problemas de desigualdade e da pobreza por meio de uma poltica tributria e fiscal que termina apenas por provocar mais inflao e desajustes oramentrios. Seu zelo pelas classes trabalhadoras leva-o a uma prtica assistencialista, que se torna um poo sem fim. As demandas por bem-estar e melhoria da qualidade de vida no terminam nunca, fazendo com que seus custos sociais sejam cobrados dos investimentos e das fortunas.

Ao intervir como regulador ou mesmo como Estado-empresrio, ele se desvia das suas funes naturais, limitadas segurana interna e externa. O estrago maior ocorre devido a sua filosofia intervencionista. O mercado autorregulado e autossuficiente dispensa qualquer tipo de controle. um Cosmo prprio, com leis prprias, impulsionadas pelas leis econmicas tradicionais (oferta e procura, taxa decrescente dos lucros, renda da terra, etc.). O Estado deve, pois ser enxugado, diminudo em todos os sentidos. Deve-se limitar o nmero de funcionrios e desestimular a funo pblica.

Mercado: Se h um demnio existe tambm um Cu. Para o Neoliberalismo esse local divino o mercado. Ele quem tudo regula, faz os preos subirem ou baixarem, estimula a produo, elimina o incompetente e premia o sagaz e o empreendedor. Ele o deus perfeito da economia moderna, tudo v e tudo ouve, onisciente e onipresente. Seu poder ilimitado e qualquer tentativa de controla-lo um crime de heresia, na medida em que ele que fixa as suas prprias leis e o ritmo em que elas devem seguir. O mercado um deus, um deus calvinista que no tem contemplao para com o fracassado. A falncia sua condenao. E, aquele que bem sucedido tem um lugar no den.

Socialismo: Segundo demnio da ideologia neoliberal. um sistema poltico completamente avesso aos princpios da iniciativa privada e da propriedade privada. essencialmente demaggico na medida em que tenta implantar uma igualdade social entre homens de natureza desigual. fundamentalmente injusto porque premia o capaz e o incapaz, o til e o intil, o trabalhador e o preguioso. Reduz a sociedade ao nvel de pobreza e graas igualdade e a poltica de salrios equivalentes, termina estimulando a inrcia provocando a baixa produo. Ao excluir os ricos da sociedade, perde sua elite dinmica e seu setor mais imaginativo, passando a ser conduzido por uma burocracia fiscalizadora e parasitria.

Regime poltico: O Neoliberalismo afina-se com qualquer regime que assegure os direitos da propriedade privada. Para ele indiferente se o regime democrata, autoritrio ou mesmo ditatorial. O regime poltico ideal o que consegue neutralizar os sindicatos, e diminuir a carga fiscal sobre os lucros e fortunas, ao mesmo tempo em que desregula o mximo possvel a economia. Pode conviver tanto com a democracia parlamentar inglesa, como durante o governo da Sra. M. Tatcher, como com a ditadura do General Augusto Pinochet no Chile. Sua associao com regimes autoritrios ttica e justificada dentro de uma situao de emergncia (evitar uma revoluo social ou a ascenso de um grupo revolucionrio). Em longo prazo o regime autoritrio, ao assegurar os direitos privados, mais tarde ou mais cedo, dar lugar a uma democracia.

4-CAPITALISMO NA ATUALIDADE, NA VISO DE DAVID HARVEY (EXCERTO DA TESE DE ROSEANA BORGES DE MEDEIROS, MARACATU RURAL: LUTA DE CLASSES OU ESPETCULO. Uma anlise das expresses de resistncia, luta e passivizao das classes subalternas)

Harvey (2000) oferece uma excelente contribuio para o entendimento das modificaes culturais apresentadas na atualidade. Ele postula que as mudanas constatadas a partir de 1972, tanto nas prticas culturais quanto no plano poltico-econmico, podem ser explicadas, quando se faz a relao entre a ascenso de formas culturais ps-modernas com a emergncia de modelos mais flexveis de acumulao do capital e um novo ciclo de "compresso do tempo-espao na organizao do capitalismo".

Essas mudanas, quando confrontadas com as regras bsicas de acumulao capitalista, mostram-se muito mais como transformao de aparncia, superficial, do que como sinais do surgimento de uma sociedade ps-capitalista ou mesmo ps-industrial inteiramente nova. Harvey estuda o ps-modernismo no como um conjunto de ideias, mas, sobretudo, como uma condio histrica que requer maior elucidao. Aponta que Marx oferece uma das mais completas explicaes sobre a modernizao capitalista e esta notavelmente rica em percepes das razes do modernismo e da possibilidade ps-moderna.

As leis coercitivas da competio do mercado foram todos os capitalistas a procurarem mudanas tecnolgicas e organizacionais, que melhorem sua lucratividade. Tambm busca manter o trabalhador sob controle na fbrica e reduzir o seu poder de barganha no mercado (particularmente sob condies de relativa escassez de trabalho e ativa resistncia de classe), estimulando a inovao.

O capitalismo , por necessidade, tecnologicamente dinmico em razo das leis de competio, e das condies de luta de classes que so endmicas. A luta pela manuteno do sistema leva os capitalistas a explorarem todo tipo de possibilidades. Com a abertura de novas linhas de produto, os capitalistas buscam criar novos desejos e necessidades, enfatizando o cultivo de apetites imaginrios e o papel da fantasia, do capricho e do impulso. Harvey (op. cit., p. 107), aponta que Marx constatou no capitalismo a propenso a incertezas e fragmentaes. Tambm ele descreveu os processos sociais que agem no capitalismo e promovem o individualismo, a alienao, a efemeridade, a inovao, a destruio criativa, o desenvolvimento especulativo e as mudanas imprevisveis nos mtodos de produo e de consumo (desejos e necessidade). Ele conclui que a virada para o ps-modernismo no reflete nenhuma mudana fundamental da condio social.

A ascenso do ps-modernismo representa um afastamento de modos de pensar sobre o que pode, ou deve ser feito com relao a essa condio social, ou reflete uma alterao na forma de operao do capitalismo em nossos dias. Portanto, a descrio do capitalismo elaborado por Marx proporciona uma slida base para pensar e entender as relaes gerais entre a modernizao, a modernidade e os movimentos estticos, que extraem energias dessas condies.

H mais continuidade do que diferena entre a histria do modernismo e o movimento denominado ps-modernista. O ps-modernismo uma crise do modernismo, uma crise onde so enfatizados os lados fragmentrios, efmeros e caticos presentes no modo de produo capitalista, que Marx estudou to bem.

"O ps-modernismo quer que aceitemos as reificaes e parties, celebrando a atividade de mascaramento e de simulao, todos os fetichismos de localidade, de lugar ou grupo social, enquanto nega o tipo de metateoria capaz de apreender os processos poltico-econmicos (fluxos de dinheiro, divises internacionais do trabalho, mercados financeiros, etc.), que esto se tornando cada vez mais universalizantes em suas profundidade, intensidade, alcance e poder sobre a vida cotidiana" (HARVEY, op. cit., p.112).Para compreender melhor a cultura ps-moderna, Harvey vai se deter no estudo da transformao poltico-econmica do capitalismo do final do sculo XX, isto , na passagem do fordismo para a acumulao flexvel.

O fordismo se caracterizava pelo capital fixado na produo de massa, nos mercados estveis, padronizados e homogneos e na racionalidade tcnico-cientfica. Abrangia muito mais como um modo de vida total, do que um mero sistema de produo em massa e contribuiu para a esttica do modernismo, sobretudo, na sua inclinao para a funcionalidade e eficincia. Entretanto, o fordismo manteve-se firme at 1973, quando houve uma aguda recesso, e teve incio o processo de acumulao flexvel, marcado pelo confronto direto com a rigidez do fordismo e apoiado na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, produtos e padres de consumo.

A acumulao flexvel cria um grande movimento no chamado "setor de servios" e, em conjuntos industriais novos situados em regies at ento subdesenvolvidas. H um novo movimento que Harvey intitula de "compresso do espao-tempo" no mundo capitalista, isto , os horizontes temporais da tomada de decises privada e pblica se estreitaram. A comunicao via satlite, e a queda dos custos de transportes possibilita, cada vez mais, a difuso imediata dessas decises, num espao cada vez mais amplo.

A acumulao flexvel tem levado a nveis relativamente altos de desemprego "estrutural, ganhos nfimos de salrios reais, desestruturao do poder sindical, o aumento da subcontratao e do trabalho temporrio. A subcontratao organizada abre oportunidade para formao de pequenos negcios e permite que sistemas mais antigos de trabalho domstico, artesanal, familiar e paternalista revivam e floresam no mais como apndices do sistema produtivo, mas como formas centrais. Crescem as economias "informais" ou "subterrneas", e os sistemas paternalistas so territrios perigosos para a organizao dos trabalhadores:

"Com efeito, uma das grandes vantagens do uso dessas formas antigas de processo de trabalho e de produo pequeno-capitalista o solapamento da organizao da classe trabalhadora e a transformao da base objetiva da luta de classes. Nelas, a conscincia de classe j no deriva da clara relao de classe entre capital e trabalho, passando para um terreno muito mais confuso dos conflitos interfamiliares e das lutas pelo poder num sistema de parentescos ou semelhantes a um cl que contenha relaes sociais hierarquicamente ordenadas. A luta contra a explorao capitalista na fbrica bem diferente da luta contra um pai ou tio que organiza o trabalho familiar num esquema de explorao altamente disciplinado e competitivo que atende s encomendas do capital multinacional" (HARVEY, op. cit., p. 146).

Esse sistema de produo flexvel permite uma acelerao do ritmo da inovao do produto. O tempo de giro, que uma chave da lucratividade capitalista, foi reduzido bastante pelas novas formas organizacionais. A acelerao do tempo de giro na produo intil sem a reduo do tempo de giro no consumo. A esttica que era relativamente estvel no modernismo fordista deu lugar instabilidade e qualidades fugidias de uma esttica ps-moderna que se caracteriza pela efemeridade, a diferena, o espetculo, a moda, a mercadificao de formas culturais. O movimento mais flexvel do capital acentua o novo, o fugaz e o contingente da vida moderna, em vez dos valores mais slidos implantados durante o fordismo.

O retorno superexplorao do trabalho em casa e das prticas de trabalho do setor informal no mundo capitalista avanado representa uma viso sombria da histria supostamente progressista do capitalismo. O sistema de acumulao flexvel permite que os sistemas de trabalho alternativos possam existir lado a lado, permitindo que os empreendedores optem. Aponta o exemplo de um molde de camisa que tanto pode ser produzido por fbricas de larga escala situadas na ndia, quanto pelo sistema cooperativo da "Terceira Itlia", quanto por exploradores em Nova York e Londres e, ou, por sistema de trabalho familiar em Hong Kong, mostrando que o ecletismo nas prticas de trabalho tem semelhana com o ecletismo das filosofias e gostos ps-modernos.

Da, a ps-modernidade flexvel ser dominada pela fico, fantasia, pelo imaterial (particularmente do dinheiro), pelo capital fictcio, pelas imagens, pela efemeridade, pelo acaso, pela flexibilidade em tcnicas de produo, mercados de trabalho e nichos de consumo. Entretanto, essas mudanas que ocorreram a partir de 1973 no alteraram a lgica inerente acumulao capitalista e suas tendncias de crise. Essas alteraes assinalam o nascimento de um novo regime de acumulao que, tenta conter as contradies do capitalismo durante a prxima gerao.

A modificao da experincia do tempo e do espao se encontra particularmente na base da impulsiva reviravolta em direo de prticas culturais e discursos filosficos ps-modernistas. Ele vai explorar a ligao entre o ps-modernismo e a transio do fordismo para modalidades mais flexveis de acumulao do capital, porque quem define as prticas materiais, as formas e os sentidos do dinheiro, do tempo ou espao, fixa certas regras bsicas do jogo social.

As materializaes e significados atribudos ao dinheiro, ao tempo e espao tm muita importncia na manuteno do poder poltico. A partir dos anos 70, vm ocorrendo mudanas de fundamental importncia na experincia do espao e tempo, que levaram virada para o ps-modernismo.

Em perodos de dificuldades econmicas, e intensificao da concorrncia, os capitalistas individuais buscam acelerar ao mximo o giro do seu capital e aquele que apresenta mais capacidade de intensificar a produo, a comercializao, etc., possui melhores condies de sobrevivncia. H uma acelerao e intensificao cada vez maior das tarefas. O capital continua dominando e, em parte, graas ao domnio superior do tempo e tambm do espao. As prticas temporais e espaciais nunca so neutras nos assuntos sociais e, expressam sempre algum tipo de contedo de classe.

A histria do capitalismo tem se caracterizado pela acelerao do ritmo de vida e vitria das barreiras espaciais. O ps-modernismo uma espcie de resposta a uma nova rodada de compresso do tempo-espao, trazendo um impacto desorientado sobre as prticas polticas e econmicas, sobre o equilbrio do poder de classe, bem como sobre a vida social e cultural. A sensibilidade ps-moderna evidencia forte simpatia por certos movimentos polticos, culturais e filosficos confusos que ocorreram no comeo deste sculo.

A acelerao do tempo de giro na produo desencadeia acelerao tambm na troca e consumo. A primeira grande consequncia disso o aumento da volatilidade e efemeridade de modas, produtos, tcnicas de produo, processos de trabalho, ideias e ideologias, valores e prticas estabelecidas. Na rea da produo de mercadorias, o efeito primrio foi nfase nos valores e virtudes da instantaneidade e da descartabilidade.

Os smbolos de riqueza e de classe, que sempre tiveram destaque na sociedade burguesa, tm na atualidade muito mais fora, da a importncia da imagem.

Isso leva a considerar o papel do simulacro no ps-modernismo. O simulacro uma rplica to perfeita que se torna difcil distinguir o original da cpia. Como a identidade vai depender cada vez mais de imagens, percebe-se a importncia que os fabricantes de imagens e a mdia assumem na moldagem de identidades polticas.

Em razo disso, Harvey adverte acerca do triunfo da esttica sobre a tica na atualidade. O simulacro tem papel significativo tambm com os modernos materiais de construo, possibilitando a reproduo de prdios antigos e fabricao de antiguidades que parecem autnticas. Numa sociedade dessas, a cultura popular possui um espao muito pequeno e deturpado:

"A afirmao de qualquer identidade dependente de lugar tem de apoiar-se em algum ponto no poder motivacional da tradio. , porm, difcil manter qualquer sentido de continuidade histrica diante de todo o fluxo e efemeridade da acumulao flexvel. A ironia que a tradio agora preservada com frequncia ao ser mercadificada e comercializada como tal. A busca de razes termina, na pior das hipteses, sendo produzida e vendida como imagem, como um simulacro ou pastiche..." (p. 273)

Harvey, diferentemente de outros autores, aprofunda-se na explicao do surgimento das prticas culturais ps-modernas, vinculando-as acumulao flexvel do capital.

Seguindo a tica de Karl Marx, o capitalismo por natureza sujeito incerteza, fragmentao, alienao, propiciando a efemeridade, a inovao que leva no s desestruturao do poder sindical, ao desemprego, ao subemprego, economia informal, mas tambm espetacularizao e aumento da mercadificao de produtos culturais. Esta tese mostra que a proliferao dos produtos culturais ps-modernos encontra-se intimamente ligada ao processo de acumulao capitalista.

5- CAPITALISMO PARASITRIO NA VISO DO SOCIOLOGO ZYGMUNT BAUMAN

HISTORICIZANDO O PENSAMENTO DE ZYMUNT BAUMAN

O socilogoZygmunt Bauman, de famlia judia nasceu no dia 19 de novembro de 1925, em Poznn na Polnia. Foi para a U.R.S.S durante a Segunda Grande Guerra e se alistou ao exercito polons, aliado do exercito vermelho, e lutou contra o Nazismo.

Ele participou com entusiasmo das atividades do mundo capitalista nos anos 40 e 50, quando uma nova Polnia estava sendo construda depois da guerra. Foi ento quando se desiludiu da experincia socialista na URSS e junto com outros acadmicos desenvolveu um marxismo humanista. Ele ainda se intitula socialista e diz que mais do que nunca necessrio um socialismo no mundo. Logo descobriu Gramsci e se distanciou do marxismo ortodoxo. Ele diz que nunca se tornou antimarxista, e que aprendeu muito com Marx.

Ele iniciou suavida na Universidade de Varsvia, mas logo foi obrigado a deixar a academia, em 1968, ao mesmo tempo em que sua obra era proibida neste pas.

Sem muitas perspectivas, o socilogo abandonou sua ptria e partiu para a Inglaterra, depois de passar pelo Canad, EUA e Austrlia. No incio da dcada de 70 ele assumiu o cargode professor titular da Universidade de Leeds, no Reino Unido, permanecendo neste posto por pelo menos vinte anos. A ele teve contato com o intelectual que inspiraria profundamente seu pensamento, o filsofo islands Ji Caze.

Sua obra se caracteriza pela anlise dos problemas sociais do homem contemporneo que denominada pelo autor como Modernidade Lquida, um dos temas mais recorrentes em sua obra. Vivemos tempos lquidos, nada feito para durar, tampouco slido. Os relacionamentos escorrem das nossas mos por entre os dedos feito gua. Vive-se para consumir e as pessoas so transformadas em mercadoria

Numa sociedade marcada pela agitao, pela ansiedade e acima de tudo pela incapacidade de obter uma experincia profunda de felicidade e bem-estar, a disposio consumista desponta como uma forma compensatria do indivduo vir a obter um razovel nvel de prazer em sua vida cotidiana.5.1-RESUMO DO LIVRO CAPITALISMO PARASITRIO DE ZYGMUNT BAUMAN

Este obra se encontra estruturado em cinco captulos.

PRIMEIRO CAPTULO - CAPITALISMO PARASITRIO

O primeiro captulo fala sobre a imperfeio do sistema capitalista. Nesse captulo, ele faz uma comparao entre o capitalismo e o parasitismo, em que para garantir a sua sobrevivncia um parasita busca um organismo saudvel, e ainda no explorado para que este lhe fornea o alimento necessrio, fatalmente prejudicando seu hospedeiro, e destruindo suas chances de prosperidade e, at mesmo de sobrevivncia.

Assim como o parasita o capitalismo explora novas formas, novos recursos em busca da obteno de lucro necessria para alimentar o sistema.

A capacidade de sobrevivncia desse sistema est na perspiccia em que se buscam e encontram-se novos organismos para a explorao, na medida em que os atuais vo perdendo as foras ou extinguem-se, e na rapidez em que o parasita se adapta ao novo organismo.

Os capitalistas sempre se mantero em busca de novas formas de obteno de lucro em busca de adiar a hora em que suas fontes viro a secar, e o faro de qualquer forma e a qualquer custo.

Ainda nesse captulo o autor coloca como exemplo das formas de explorao dos meios capitalistas e suas consequncias, a utilizao dos cartes de crdito.

Os bancos aproveitam-se da atitude consumista das pessoas que para manter seus desejos de consumo adquirem crditos e mais crditos, acabando por afundar-se em uma dvida sem fim. Dvida que cada vez mais alimenta o capitalismo, e engorda os bolsos dos banqueiros.

Esse tipo de prtica tem levado ao endividamento milhares de pessoas, fazendo com que a inadimplncia tome propores catastrficas.

O Estado tambm possui grande importncia para a manuteno desse sistema.

O Estado e o mercado andam lado a lado na maioria das vezes, e mesmo tratando-se de uma democracia ou uma ditadura, a tendncia que o governo caminhe em prol dos interesses do mercado, e no contra. A funo dele garantir que o mercado mantenha-se vivo e saudvel sempre.

George Soros, brilhante analista econmico e praticante das artes do marketing, apresentava o percurso das aventuras capitalistas como uma sucesso de "bolhas" se expande muito alm de sua capacidade, e explodem assim que atingem o limite de resistncia. A atual contrao do crdito no um sinal do fim do capitalismo, mas apenas da exausto de mais um pasto.

A busca de novas pastagens ter incio imediatamente, alimentada, como no passado, pelo Estado capitalista, por meio da mobilizao forada de recursos pblicos (usando os impostos, em lugar do poder de seduo do mercado, agora abalado e temporariamente fora de operao).

Novas "terras virgens" sero encontradas e novos esforos sero feitos para explor-las, por bem ou por mal, at o momento em que sua capacidade de engordar os lucros dos acionistas e as gratificaes dos dirigentes for exaurida.

A introduo dos cartes de crdito foi um sinal do que viria a seguir. Foram lanados "no mercado" cerca de 30 anos atrs, com o slogan exaustivo e extremamente sedutor de "No adie a realizao do seu desejo".

Com um carto de crdito, possvel inverter a ordem dos fatores: desfrute agora e pague depois! Com o carto de crdito voc est livre para administrar sua satisfao, para obter as coisas quando desejar, no quando ganhar o suficiente para obt-las.

"Desfrute agora, pague depois". Para impedir que o efeito dos cartes de crdito e do crdito fcil se reduza a um lucro que o emprestador s realiza uma vez com cada cliente, a dvida contrada tinha de ser (e realmente foi) transformada numa fonte permanente de lucro.

No pode pagar sua dvida? Em primeiro lugar, nem precisa tentar: a ausncia de dbitos no o estado ideal.

Longe disso, oferecemos mais crditos para pagar a velha dvida e ainda ficar com algum dinheiro extra (ou seja, alguma dvida extra) a fim de pagar novas alegrias.

Os bancos credores realmente no querem que seus devedores paguem suas dvidas. Se eles pagassem com diligncia os seus dbitos, no seriam mais devedores. E, so justamente os dbitos (os juros cobrados mensalmente) que os credores modernos e benevolentes (alm de muito engenhosos) resolveram e conseguiram transformar na principal fonte de lucros constantes.

O cliente que paga prontamente o dinheiro que pediu emprestado o pesadelo dos credores.

Para garantir seu lucro, assim como o de seus acionistas, bancos e empresas de cartes de crdito contam mais com o "servio" continuado das dvidas, do que com seu pronto pagamento. Para eles, o "devedor ideal" aquele que jamais paga integralmente suas dvidas.

Resumindo: a atual "contrao do crdito" no resultado do insucesso dos bancos. Ao contrrio, o fruto, plenamente previsvel, embora no previsto, de seu extraordinrio sucesso. Sucesso ao transformar uma enorme maioria de homens, mulheres, velhos e jovens numa raa de devedores.

Alcanaram seu objetivo: uma raa de devedores eternos e a autoperpetuao do "estar endividado", medida que fazer mais dvidas visto como o nico instrumento verdadeiro de salvao das dvidas j contradas.

Essa espcie de Estado assistencial para os ricos (ou, mais exatamente, a poltica de mobilizar, por intermdio do Estado, os recursos pblicos que as empresas capitalistas no conseguem convencer o pblico a lhes entregar diretamente) no novidade: apenas o alcance e a publicidade que o acompanham assumiram propores capazes de causar escndalo.

Antes de qualquer coisa, preciso sublinhar que os dois elefantes, o Estado e o mercado, podem lutar entre si ocasionalmente, mas a relao normal e comum entre eles, num sistema capitalista, tem sido de simbiose.

Pinochet no Chile, Syngman Rhee na Coreia do Sul, Lee Kuan Yew em Singapura, Chiang Kai-Shek em Taiwan, ou os atuais governantes da China foram ou so "ditadores de Estado" em tudo, menos no nome, mas conduziram ou conduzem uma notvel expanso e um rpido crescimento da potncia dos mercados. Se atualmente os pases citados so exemplos do triunfo do mercado, o mrito todo dessas prolongadas "ditaduras do Estado"

bom lembrar, alis, que a acumulao inicial de capital conduz invariavelmente a uma polarizao sem precedentes das condies de vida e, tambm, provoca tenses sociais explosivas. Para a classe empresarial mercantil emergente, necessrio que essas tenses sejam suprimidas por um Estado potente, impiedoso e coercivo.

A cooperao entre Estado e mercado no capitalismo a regra. O conflito entre eles, quando acontece, a exceo.

Em geral, as polticas do Estado capitalista, "ditatorial" ou "democrtico", so construdas e conduzidas de acordo com os interesses do mercado, e no contra o interesse dos mercados. Seu efeito principal (e , intencional, embora no abertamente declarado) avalizar/ permitir/garantir a segurana e a longevidade do domnio do mercado.

Por mais fortes que fossem as consideraes morais que levavam introduo do Estado assistencial, ele dificilmente teria nascido se os donos das fbricas no tivessem percebido que cuidar do "exrcito industrial de reserva" (manter os reservistas em boa forma caso fossem reconvocados para o servio ativo) era um bom investimento, potencialmente rentvel.

Se o Estado assistencial hoje v seus recursos minguarem, cai aos pedaos ou desmantelado de forma deliberada, porque as fontes de lucro do capitalismo se deslocaram ou foram deslocadas da explorao da mo de obra operria para a explorao dos consumidores. E, tambm, porque os pobres, despojados dos recursos necessrios para responder s sedues dos mercados de consumo, precisam de dinheiro - no dos tipos de servio oferecidos pelo Estado assistencial - para se tornarem teis segundo a concepo capitalista de "utilidade".

SEGUNDO CAPTULO A CULTURA DA OFERTA

O segundo captulo do livro intitulado A Cultura da Oferta subdivide-se em trs partes, a primeira parte trata da sociedade em que vivemos, uma sociedade em que se valoriza exageradamente o consumo.

A cultura de hoje feita de ofertas, no de normas.

Como observou Pierre Bourdieu, a cultura vive de seduo, no de regulamentao; de relaes pblicas, no de controle policial; da criao de novas necessidades/ desejos/ exigncias, no de coero. Esta nossa sociedade uma sociedade de consumidores.

E, como o resto do mundo visto e vivido pelos consumidores, a cultura tambm se transforma num armazm de produtos destinados ao consumo, cada qual concorrendo com os outros para conquistar a ateno inconstante/errante dos potenciais consumidores, na esperana de atrai-Ia e conserva-Ia por pouco mais de um breve segundo.

A produo contnua de novas ofertas, e o volume sempre ascendente de bens oferecidos tambm necessria para manter a velocidade da circulao de bens, e reacender constantemente o desejo de substitu-los por outros, "novos e melhorados".

Tambm so necessrios para evitar que a insatisfao dos consumidores com um produto em particular se condense num desapreo geral em relao ao prprio estilo consumista de vida.

Se o mundo habitado por consumidores se transformou num grande magazine onde se vende "tudo aquilo de que voc precisa e com que pode sonhar", a cultura parece ter se transformado atualmente em mais um de seus departamentos.

Como nos outros, suas prateleiras esto lotadas de mercadorias renovadas diariamente, e as caixas so decoradas com anncios de novas ofertas destinadas a desaparecer depressa, como as mercadorias que anunciam.

Tanto as mercadorias quanto os anncios publicitrios so pensados para suscitar desejos e fisgar vontades (para "impacto mximo e obsolescncia instantnea", citando a famosa mxima de George Steiner).

A felicidade sempre encontrada com o ato de consumir, e de se desfazer do que foi adquirido, pois este j considerado obsoleto.

Na parte intitulada Novos Desafios para a Educao que versa sobre a crise atual que a educao est enfrentando. Crise que traz a tona problemas nunca antes enfrentados, problemas de difcil soluo.

No mundo lquido-moderno, a solidez das coisas, assim como a solidez dos vnculos humanos, vista como uma ameaa: qualquer juramento de fidelidade, qualquer compromisso em longo prazo (e mais ainda por prazo indeterminado) prenuncia um futuro prenhe de obrigaes que limitam a liberdade de movimento e a capacidade de perceber novas oportunidades (ainda desconhecidas) assim que elas se apresentarem.

O consumismo de hoje no consiste em acumular objetos, mas em seu gozo descartvel. Sendo assim, por que o "pacote de conhecimentos" adquiridos na universidade deveria escapar dessa regra universal? No turbilho de mudanas, muito mais atraente o conhecimento criado para usar e jogar fora, o conhecimento pronto para utilizao e eliminao instantneas, o tipo de conhecimento prometido pelos programas de computador que entram e saem das prateleiras das lojas num ritmo cada vez mais acelerado. Portanto, a ideia de que a educao pode consistir em um "produto" feito para ser apropriado e conservado desconcertante, e sem dvida no depe a favor da educao institucionalizada.

Num mundo como este, o conhecimento destinado a perseguir eternamente objetos sempre fugidios que, como se no bastasse, comeam a se dissolver no momento em que so apreendidos.

Procura-se o que descartvel, aquilo que possui vida til muito prolongada no chama a ateno.

A educao no foge a regra, o tipo de conhecimento buscado aquele que se aprende e se descarta facilmente, a felicidade nesses casos tambm se encontra do ato de adquirir e se desfazer facilmente, ela tambm se transformou em produto, fator que no favorece a educao institucionalizada.

Ele critica o excesso de informaes a que somos expostos diariamente, que possuem uma capacidade impressionante de reduzir a nossa autoconfiana, pois dificultam ainda mais o encontro de solues, resultando na imediata auto depreciao e no auto escrnio.

A gerao atual no d mais tanta importncia para os contatos mais profundos com algum. Com o advento da internet as relaes so cada vez mais frouxas, os laos entre as pessoas so cada vez mais fracos e so mantidos ou eliminados atravs de um s click.

A internet permite que as pessoas se reinventem o tempo todo e que criem uma nova identidade sempre que assim quiserem.

TERCEIRO CAPTULO A SOCIEDADE DO MEDO

Estamos em uma poca em que as medidas de segurana que adotamos s geram mais insegurana. Somos diariamente perseguidos pelos mais diferentes tipos de medo. Entre as ameaas, est a de ficar para trs, ser substitudo, no acompanhar o ritmo das mudanas.

Os medos agora so difusos, eles se espalharam. difcil definir e localizar as razes desses medos, j que os sentimos, mas no os vemos. isso que faz com que os medos contemporneos sejam to terrivelmente fortes, e os seus efeitos sejam to difceis de amenizar. Eles emanam virtualmente em todos os lugares.

H os trabalhos instveis; as constantes mudanas nos estgios da vida, a fragilidade das parcerias, o reconhecimento social dado s "at segunda ordem" e sujeito a ser retirado sem aviso prvio, a possibilidade de falhar num mercado competitivo por causa de um momento de fraqueza ou de uma temporria falta de falta de ateno, o risco que as pessoas correm nas ruas; a constante possibilidade de perda dos bens materiais etc

Os medos so muitos e diferentes, mas eles alimentam uns aos outros. A combinao desses medos cria um estado na mente e nos sentimentos que s pode ser descrito como ambiente de insegurana. Ns nos sentimos inseguros, ameaados, e no sabemos exatamente de onde vem esta ansiedade nem como proceder.

Os medos no tm raiz. Essa caracterstica lquida do medo faz com que ele seja explorado poltica e comercialmente. Os polticos e os vendedores de bens de consumo acabam transformando esse aspecto em um mercado lucrativo.

O comum tentar reagir, fazer alguma coisa, buscar desvendar as causas da ansiedade, e lutar contra as ameaas invisveis. Isso conveniente do ponto de vista poltico ou comercial. Tal atitude no vai curar a ansiedade, mas alimentar essa indstria do medo. Adquirir bens para obter segurana s alivia uma parte da tenso e mesmo assim, por um breve tempo.

Para os governos e o mercado, interessante manter acesos esses medos e, se possvel, at estimular o aumento da insegurana. Como a fonte das ansiedades parece distante e indefinida, como se dependssemos dos especialistas, das pessoas que entendem do assunto, para mostrar onde esto as causas do sofrimento e como lutar contra ele. No temos como testar a verdade que nos contam. S nos resta ento acreditar no que dizem.No local de onde eu escrevo - e acho que tambm em outros lugares, como o Brasil-, a competio est cada vez mais individualizada. Essa competio guiada por uma preocupao crescente com a sobrevivncia fsica - ou a satisfao das necessidades biolgicas primrias que os instintos de sobrevivncia impem. E tambm pelo poder de escolha individual: decidir quais so os seus objetivos e que tipo de vida cada qual quer viver. Exercer esses direitos parece ser o "dever" de todos.

.O que acontece ao indivduo tende a ser visto como uma confirmao do poder de cada um. Uma vez agindo como indivduos, nos encorajam a buscar reconhecimento social para nossas escolhas. Reconhecimento social significa a aceitao dos outros, a confirmao de que o indivduo optou por uma vida decente, que vale a pena e que merece todo o respeito das outras pessoas. O oposto do reconhecimento social significa a negao da dignidade, a humilhao.

Uma pessoa se sente humilhada quando recebe a mensagem, por palavras ou aes, de que no pode ser quem pensa que . Essa humilhao gera preconceito e ressentimento.

Numa sociedade individualista como a nossa, este um tipo venenoso e implacvel de ressentimento,o e uma das mais comuns causas de conflito, rebelio e revolta.

Ela destri a autoestima, nega o reconhecimento, recusa o respeito e aplica a excluso , substitui a explorao, e assume a discriminao como explicao mais comumente usada para justificar o rancor do indivduo em relao sociedade.

Na sociedade individualizada, porm, as queixas e as explicaes para a dor perdem o foco no grupo, e se deslocam para o indivduo. Mas, em vez de apontar para a injustia e o mal funcionamento do todo social, e de buscar um remdio na reforma da sociedade, os sofrimentos individuais tendem a ser percebidos como ofensa pessoal, uma agresso dignidade pessoal e auto estima. Sendo assim, eles demandariam uma resposta e uma vingana pessoais. Parece haver uma tremenda desigualdade.

QUARTO CAPTULO UM CORPO EM CONTRADIO

O quarto captulo recebeu o nome de O Corpo em Contradio e trata das reaes que nosso corpo sofre mediante os desafios e as contradies presentes no nosso modo de vida. O autor coloca a anorexia e a bulimia como exemplos de patologias cada mais frequentes e relacionadas com a sociedade atual, trata-se de reaes patolgicas que tem como principal causa a dificuldade em encontrar solues para os dilemas e dvidas constantemente presentes em nosso meio.

QUINTO CAPTULO UM HOMEM COM ESPERANAS

O quinto captulo chama-se Um Homem com Esperanas nele Bauman coloca, principalmente, a sua dificuldade de caracterizar-se como algum pessimista ou otimista, pois no acredita se encaixar em nenhum desses polos.

Ele coloca-se como um pertencente da categoria dos homens com esperana, um homem que acredita que os homens so capazes de tomar decises, e que suas escolhas podem sem boas a ponto de criar um mundo melhor.

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