habeas corpus n. o 1.099 - gb....- 116-habeas corpus n. o 1.099 - gb. relator - o ex.mo sr. min....

24
- 116- HABEAS CORPUS N. o 1.099 - GB. Relator - O Ex. mo Sr. Min. Aguiar Dias Paciente - Uraquitan Bezerra Leite Impetrantes - Nelson Hungria e outros Acórdão Prisão preventiva. Fundamentação. Depoimento. de co-réu. O simples depoimento de cOrréu é insuficiente para fundamentar decreto de prisão preventiva. Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Habeas Corpus n. o 1.099, de Guanabara, em que é paciente Uraquitan Bezerra Leite e impetrantes Nelson Hungria e outros: Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão: plena, por maioria de votos, em conceder a ordem, sem prejuízo do processo, tudo conforme consta do relató- rio e notas taquigráficas prece- dentes, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas ex lege. Brasília, 8 de abril de 1963. - Sampaio Costa, Presidente; Hen- rique d'Ãvila, Relator (art. 81 do R.I.) . Relatório O Sr. Min. Aguiar Dias (Rela- tor) - Sr. Presidente, como do- cumento principal dos autos, vem a certidão do despacho da decre- tação da prisão preventiva, fls. 84 a 84 v .. Prestadas as informações, a ilustrada autoridade coatora res- pondeu com as informações de fls. 61/73. Passa o Dr. Juiz a mostrar que a situação do paciente, a seu ver, está comprometida pela declara- ção de outros acusados, que o in- dicam como financiador do crime de fabricação de moeda falsa no país. É o relatório. Voto O Sr. Min. Aguiar Dias (Rela- tor) - Sr. Presidente, pela lei- tura da peça na qual o eminente Dl'. Juiz decretou a prisão preven- tiva do paciente, claro ficou que não foi preenchida a condição do art. 315 do Código Penal, para a decretação da prisão preventiva. Exige êsse dispositivo que, em qualquer caso, o decreto de prisão preventiva seja fundamentado. Fundamentação não é apenas revelar o Dr. Juiz a sua convic- ção, mas indicar, especificamente, as peças, os fatos, as circunstân- cias, as provas da materialidade do delito, e os indícios em que se apresenta a revelação da culpabi- lidade do acusado. Ora, no caso, o Dl'. Juiz limi- tou-se a dizer que havia indícios, sem indicá-los, e a fazer alusão à representação do Sr. delegado, sem também indicar em que essa representação contribuía para o estabelecimento daquela condição

Upload: others

Post on 18-Feb-2021

13 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • - 116-

    HABEAS CORPUS N. o 1.099 - GB.

    Relator - O Ex.mo Sr. Min. Aguiar Dias Paciente - Uraquitan Bezerra Leite Impetrantes - Nelson Hungria e outros

    Acórdão

    Prisão preventiva. Fundamentação. Depoimento. de co-réu.

    O simples depoimento de cOrréu é insuficiente para fundamentar decreto de prisão preventiva.

    Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Habeas Corpus n.o

    1.099, de Guanabara, em que é paciente Uraquitan Bezerra Leite e impetrantes Nelson Hungria e outros:

    Acorda o Tribunal Federal de Recursos, em sessão: plena, por maioria de votos, em conceder a ordem, sem prejuízo do processo, tudo conforme consta do relató-rio e notas taquigráficas prece-dentes, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas ex lege.

    Brasília, 8 de abril de 1963. -Sampaio Costa, Presidente; Hen-rique d'Ãvila, Relator (art. 81 do R.I.) .

    Relatório

    O Sr. Min. Aguiar Dias (Rela-tor) - Sr. Presidente, como do-cumento principal dos autos, vem a certidão do despacho da decre-tação da prisão preventiva, fls. 84 a 84 v ..

    Prestadas as informações, a ilustrada autoridade coatora res-pondeu com as informações de fls. 61/73.

    Passa o Dr. Juiz a mostrar que a situação do paciente, a seu ver, está comprometida pela declara-

    ção de outros acusados, que o in-dicam como financiador do crime de fabricação de moeda falsa no país.

    É o relatório.

    Voto

    O Sr. Min. Aguiar Dias (Rela-tor) - Sr. Presidente, pela lei-tura da peça na qual o eminente Dl'. Juiz decretou a prisão preven-tiva do paciente, claro ficou que não foi preenchida a condição do art. 315 do Código Penal, para a decretação da prisão preventiva. Exige êsse dispositivo que, em qualquer caso, o decreto de prisão preventiva seja fundamentado.

    Fundamentação não é apenas revelar o Dr. Juiz a sua convic-ção, mas indicar, especificamente, as peças, os fatos, as circunstân-cias, as provas da materialidade do delito, e os indícios em que se apresenta a revelação da culpabi-lidade do acusado.

    Ora, no caso, o Dl'. Juiz limi-tou-se a dizer que havia indícios, sem indicá-los, e a fazer alusão à representação do Sr. delegado, sem também indicar em que essa representação contribuía para o estabelecimento daquela condição

  • de fundamentação da pnsao pre-ventiva, com indicação das provas sôbre a materialidade do delito e sôbre os indícios de autoria.

    Pode-se dizer que, quanto à ma-terialidade do delito, a prova fi-'cou feita, porque indicou o Dr. Juiz a apreensão de cédulas, apre-·ensão de farto material de falsifi-·cação de moedas. Todavia, em relação à autoria do paciente, na-da foi indicado, a não ser, já nas informações prestadas a êste Tri-bU'tl,al, a indicaçãiO da confissão

    ,de co-réus que, por melhor que seja apreciada, sempre leva a sus-

    'peita de que os réus estão produ-zindo, antecipadamente, a sua de-'fesa, preparando-a a expensas do paciente.

    De qualquer forma, Sr. Presi-'dente, a decretação da prisão pre. 'ventiva me parece, data venia, ilegal.

    Dou a ordem, para que opa. ·ciente sofra o processo em liber-'.dade.

    ~Ê o meu voto.

    Voto

    O Sr. Min. Djalma da Cunha Mello - Acabamos de ouvir a palavra do advogado da impetra-ção, Professor Nelson Hungria, Ministro aposentado do Supremo . Tribunal Federal. E entendo oportuno ressaltar, mais uma vez: neste País os cargos públicos são providos em pequena parte por merecimento, e em grande parte por compadrio, quase sempre afe-tado de glebarismo. Em conse-qüência, aqui se impõe o proló-quio: o hábito não faz o monge. A poltrona de Ministro do Su-'premo Tribunal Federal não im-

    117 -

    plica em dar ao ocupante foros de jurisconsulto, nem mesmo de mes-tre de Direito, ou de grande Juiz. As palavras de um Juiz do Su-premo podem encerrar, tão-só, um argumento de autoridade, a auto-ridade do cargo, mas quando coin-cide ser o ocupante um mestre de Direito, um Jurisconsulto, um ho-mem de lado diurno, conspícuo, de inteligência peregrina, aí sim, seu voto será recebido no regaço do tempo como uma lição magis-tral, como um alicerce da ordem jurídica, e servirá de almenara pujante para os que se encontrem hesitantes nas estradas do Direi-to. Isso vem a propósito do ho-mem público preclaro que acaba de ocupar, com lustre e eminên-cia, a tribuna desta Côrte de Jus-tiça. Sua palavra, na cátedra de Direito Público Crimin.al, e seus pronunciamentos de Juiz do Su-premo, integram, com o relêvo próprio das águas-fortes, a litera-tura jurídica e a jurisprudência dos nossos Tribunais, sendo obje-to, amiúde, de citações e de lou-vares. Aposentado, por imple-mento de idade, continua, não obs-tante, um tribuno judiciário mag-nífico, um argumentador exímio, um publicista em dia com o que de melhor se publica no mundo da sociologia criminal, da ciência penaL do direito judiciário corre-lato. Depois dos serviços excep-cionais que prestou ao País, na cátedra de Direito Penal e na poltrona de Juiz do Supremo Tri-bunal e do Tribunal Superior Eleitoral, não foi dormir a sesta sob as mangueiras da cidade de Minas onde nasceu, e que tanto tornou conhecida com a projeção do seu nome. Lembrou-se de

  • - 118-

    mais um serviço essencial: o Fôro de Brasília vinha sendo ignorado pelos grandes causídicos. Trans-portada para o Planalto, a tribuna dos grandes Tribunais Federais ficou entregue a um verdadeiro jardim de infância, embora pro. missor. E o Juiz que se fizera paladino da mudança da capital, e viera para Brasília sofrer os primeiros tempos, os tropeços da adaptação, uma vez aposentado por um imperativo constitucional, propôs-se a uma outra etapa, com que quer tornar ainda mais opu-lenta sua vida pública. Veio ati-var, retemperar, os acordes dessa advocacia, veio trazer a essa tri-buna seu dinamismo que não co-nhece crepúsculos, seu entusiasmo, sua confiança esplêndida no Di. reito e na Justiça, mostrando-se, nesse passo, tão grande, tão es-plendente, quanto nos maiores dias da sua vida de professor de Direito e de Juiz. S. Ex.a nos fêz viver horas de palingenesia, de hegemonia do mérito, de espiri-tualidade. Estou aqui a lhe Rgra-decer, Sr. Presidente, antes de en-trar no merecimento dêste pedido de habeas corpus. Passo a dar meu voto.

    Para mim, o paciente deve acompanhar, sôlto, os têrmos da ação penal. Sua prisão preventiva foi decretada com evidente aço-damento. Bastante a prova de materialidade do delito, porém inconsistente, quanto ao indiciado que nos pede habeas corpus, a prova de co-participação np cfi.· me. Onde o suposto infrator não registra antecedentes criminais, onde nada se diz de detrimentoso quanto à vida pregressa, o Juiz que inda não teve contato direto

    com as testemunhas e com os acu-sados, deve por de quarentena a simples referência dos co-réus.

    Concedo o habeas corpus para anular êsse decreto de prisão pre-ventiva.

    Voto

    o Sr. Min. Cândido Lõbo - Sr. Presidente, não serei eu que vou elogiar o Min. Nelson Hungria, meu adversário de concurso para pretor, patrono que fui - e S. Ex.a sabe muito bem disso - da sua candidatura a desembargador, e o escolhido para recebê-lo, em nome de· meus Colegas, ao ser promovido. De modo que vou en-trar no mérito da questão para simplificar, e ao mesmo tempo ser mais rápido no meu entendi-mento.

    Ouvi religiosamente o voto do nobre Min. Relator, e para mim o Juiz está coerente, não podia deixar de fazer senão o que fêz, porque a base de sua fundamenta-ção foi a chamada do co-réu. Ora, se êle, por uma simples referência a êsse paciente, de que êle havia dado dinheiro (que não chegou ao seu destino), decretou a prisão preventiva, realmente, coerente-mente, entendeu que não precisa-va justificar, e a petição que foi levada para despacho apenas di-zia: há indícios e eu indefiro. Mas S. Ex.a não pode fazer isso, é da doutrina e da jurisprudência a chamada do co-réu. Ê uma ex-ceção. :!tle tem que chamar o re-ferido ao processo para sofrer ou não condenação. Do contrário tornar-se-ia regra geral. Bastaria que o réu fizesse referência a um

  • - 119-

    terceiro para ser decretada a pri-são preventiva.

    Sr. Presidente, limito meu en-tendimento a isto, bebendo as pa-lavras do nobre Relator que, como sempre, com aquela acuidade que conhecemos, examinou o proces-so na forma e no fundo, deu a so-lução perfeita para o caso. Não há falta maior do Juiz do que aquela que, em fundamento à pri-são preventiva, chama o co-réu e não explica porque o fêz, mas levo em consideração; S. Ex.a talvez não explica porque o fêz, mas levo damentar, e, principalmente, de-clarar no despacho o porquê dêsse indício.

    Concedo a ordem.

    Voto (Vencido)

    O Sr. Min. Godoy Ilha Sr . Presidente, ainda uma vez ouso divergir do eminente mestre que ocupou a tribuna, porque ain-da não me convenci, data venia, da procedência do que se alega na inicial, para sustentar a ilegitimi-dade do decreto de prisão preven. tiva do paciente.

    Trata-se, Sr. Presidente, de um crime para o qual a lei penal co-mina pena superior a 10 anos, e o p~ciente que é acusado de co-participante no delito, de ter pres" tado auxílio para a sua perpetra-ção, na conformidade do que dis-põe o art. 25 do Cód. Penal, e, neste caso, o nosso estatuto penal impõe a decretação da prisão pre-ventiva no seu art. 312.

    O ilustre Magistrado da Pri-meira Instância assim fundamen-tou seu despacho, como consta da certidão de fls. 12: "Atendendo a que a prova colhida dêste in-

    quérito policial fornece indícios veementes de autoria dos indiví-duos Joaquim Lucimar Aguiar, Raimundo Jorge RuffeiL Ganem N ahum Ganem, Giovanni Bolzat~ ti, Uraquitan Bezerra Leite e Epa-minondas de Souza Gouvêa Sobri-nho, relativamente à falsificação das cédulas referidas, sendo de manifesta procedência as alega-ções que, em relação a êles, faz o ilustre delegado de Roubos e Falsificações, Dl'. Luiz Alexandre Lafayette Stockler, na representa-ção de fls. 66; atendendo a que se trata, no caso, de crime grave, punido no art. 289 do Código Pe-nal, com pena de 12 anos de re-clusão, além de multa, no máximo de Cr$ 15.000,00, sendo, pois,. caso de prisão preventiva obriga-tória, por fôrça do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal; atendendo o mais que dos autos consta: acolho a representação de fls. 66/67 para decretar, como de-creto, a prisão preventiva de Joa-quim Lucimar Aguiar, Raimundo Jorge Ruffeil, Ganem Nahum Ga-nem, Giovanni Bolzatti, Uraqui-tan Bezerra Leite e Epaminondas de Souza Gouvêa Sobrinho, e de-termino que, contra os mesmos, se expeça mandado de prisão, bai-xando, a seguir, os autos à Dele-gacia de origem, pelo prazo legal".

    Nas informaçõ~s, o D. Magis-trado de Primeira Instância dá as razões justificativas do seu enten-dimento.

    Não preciso invocar, aqui, um voto lapidar proferido no Supremo Tribunal Federal pelo Sr. Min. Orozimbo Nonato, em que nos dá o conceito de fundamentação: não há necessidade de que o Juiz desça aos mais insignificantes e

  • -120 -

    ínfimos pormenores da causa; bas-ta que indique as razões do seu convencimento para se considerar cumprida a exigência processual da fundamentação do decreto de prisão preventiva. E essa decisão, Sr. Presidente, enriquece os repo-sitórios de jurisprudência, e tem sido assinalada pelos comentado-res do nosso direito processual como exegese perfeita de quanto se contém no art. 315 do Código de Processo Penal. Tenho, Sr. Presidente, portanto, como funda-mentado, o decreto de prisão pre-ventiva. Não o considero ilegal, abusivo, de modo a ensejar a con-cessão da ordem de habeas cor-pus. Pode acontecer que os pri-meiros elementos, colhidos ainda no limiar da instrução criminal, não sejam decisivos para se con-cluir pela responsabilidade do in-diciado, que poderá ter, afinal, proclamada a sua inocência no julgamento da causa, mas são ele-mentos que concorrem, pelo me-nos, para que o Magistrado que está conduzindo a instrução possa presumir a co-participação do pa-ciente no delito e a necessidade e conveniência da prisão preventiva.

    Ouvi o argumento de que se trata de homem abastado, sobeja-mente afortunado, que tem renda de mais de Cr$ 150.000,00 diá-rios. Não contesto o fato. Pode-se cogitar até de pessoa altamen-te conceituada e considerada. Mas o argumento não me impres-sionou. Não é circunstância bas-tante para excluí-lo da participa-ção do delito. A História está aí a registrar que, quanto mais afor--tunados e ricos, alguns homens, pela deficiência de caráter, mais :ávidos são em querer multiplicar

    seus haveres, sem atenção aos meios ilegítimos ou ilícitos que possam utilizar.

    Sr. Presidente, tenho muito aprêço pela liberdade dos meus concidadãos, e vejo que está em causa pessoa de alta categoria so-cial, pertencente a uma das famÍ-lias mais ilustres do Estado de Pernambuco, e cujo passado, tam-bém irreprochável, constitui, sem dúvida, fator que poderá influir na apreciação de sua responsabi-lidade . Mas reservar-me-ei para julgá-lo no exame do processo. No momento, não considero ile-gal nem abusivo o decreto de pri-são preventiva.

    Denego a ordem.

    Voto

    O Sr. Min. Amarílio Benjamin - Segundo o nosso Código de Processo, a decretação de prisão preventiva, ineg.àvelmente,. exige fundamentação. Quando se trata de prisão preventiva facultativa, além dos elementos materiais de delito e de indiciação de autoria, o Código, e, ao lado dêle, a inter-pretação da jurisprudência, que-rem que o despacho justifique a necessidade e a conveniência da medida excepcional. Quando o caso é de prisão preventiva obri-gatória, a justificação se abranda, por isso que, sendo obrigatória, há de bastar a verificação dos ele-mentos essenciais já apontados.

    Na hipótese sub judice, o Dr. Juiz, no seu despacho, desenvol. veu as considerações que, ainda há pouco, foram lidas e comenta-das pelo Sr. Min. Godoy Ilha. O representante do Ministério Pú-blico, certamente, na denúncia,

  • -121 -

    apontou os elementos em que se baseou para formular a acusação.

    Não obstante, do que ouvi, acu-sação e despacho de prisão pre-ventiva, de natureza obrigatória, na espécie se assentam quanto à indicação de autoria, que é um dos requisitos essenciais ou indis-pensáveis, na palavra do co-réu, isto é, um ou dois co-réus acusam o paciente do presente habeas cor-pus. Tenho para mim que êsse dado exclusivo não basta para dar lugar à decretação da prisão pre-ventiva. Primeiro, a palavra do co-réu tem valor relativo. N eces-sita de outros dados que a confir-mem. E, em segundo lugar, ouvi, como todos ouviram: há hipótese

    sub judice, as acusações dos co-réus são inverossímeis.

    Concedo a ordem.

    Decisão

    Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: For maioria de vo-tos, concederam a ordem, sem pre-juízo do processo. Os Srs. Mins. Henrique d'Ãvila, Djalma da Cunha Mell~, Cândido Lôbo e Amarílio Benjamin votaram com o Sr. Min. Relator. Não compa-receram, por motivo justificado, os Srs. Mins. Cunha Vasconcel-los e Oscar Saraiva. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Sampaio Costa.

    HABEAS CORPUS N.O 1.184 - GB.

    Relator - O Ex.mo Sr. Min. Amarílio Benjamin Paciente - Paulo de Paiva Loures Impetrantes - Antônio Mauro Simões Machado e Fausto

    Geraldo Barbosa

    Acórdão

    Habeas corpus. Prisão do depositário infiel. Admitido. o instituto do habeas corpus corno

    idôneo à apreciação da prisão do depositário infiel, não há por onde se evitar a apuração dos requisitos que excluiriam a ação de depósito correspondente ou permitiriam a própria defesa do réu.

    Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Habeas Corpus n,o 1.184, da Guanabara, em que são partes as acima indicadas:

    Acordam os Juízes do Tribunal Federal de Recursos, em sessão plena, por maioria, preliminar-mente, em conhecer do pedido; de meritis, por unanimidade, em

    9 - 34959

    denegar a ordem, na forma do relatório, votos e resultado do julgamento de fls. 27/48, que fi-cam integrando o presente julga-mento. Custas de lei.

    Brasília, 9 de abril de 1964. -Cunha Vasconcellos Filho, Presi-dente; Amarílio Benjamin, Rela-tor.

  • Relatório

    o Sr. Min. Amarílio Benjamin (Relator) - Os bacharéis Antô-nio Mauro Machado e Fausto Ge-raldo Barbosa impetraram uma ordem de habeas corpus em favor de Paulo de Paiva Loures, sob a alegação de que o mesmo está sofrendo injusta restrição à sua liberdade de ir e vir, por parte do Dr. Juiz de Direito da Comar-ca de Três Pontas.

    A impetração assim resume os fatos relacionados com o habeas corpus: o Instituto Brasileiro do Café propôs, no Estado da Gua-nabara, perante o Juiz da Fazen-da Pública, uma ação de depósito contra a firma Armazéns Gerais Sul de Minas Ltda., de que o pa-ciente é diretor e responsável. Nesses autos foram requeridas duas precatórias para o domicílio da Companhia, e do próprio pa-ciente: uma para apreensão de café porventura existente; e a ou-tra para a prisão do paciente, em caráter civil, nos têrmos da lei respectiva. As precatórias tive-ram a sua tramitação regular. A de apreensão ou seqüestro logrou pleno êxito, ou algum êxito, por-que várias sacas da mercadoria índicada foram apreendidas. Quanto à precatória relativa â pri-são do paciente, o Dr. Juiz local fi dévolveu. Mas o Juiz da Gua-nabara não estêve por isso; fê-la voltlir ao deprecado para que fôs-se dado exato cumprimento à soli-citação. Em conseqüência disso, o Dr, Juiz expediu os mandados de prisão. O paciente nãeJ foi en-contrado porque se for agiu . O habeas corpus visa a restaurá-lo no direito constitucional de loco-

    122 -

    moção, uma vez que argúi moti-vos pelos quais a prisão não tem base legal, ou, se o tivesse, não poderia mais ser cumprida. Os prazos de prescrição ou de deca-dência estão todos ultrapassados.

    Como o habeas corpus foi diri-gido ao Tribunal de Minas, êste processou o pedido, constando dos autos as informações que, a pro-pósito, prestou o Dr. Juiz local, minudenciando tôdas as ocorrên-cias, quer relativamente ao seqües-tro do café, quer quanto ao es-fôrço para prender-se o acusado. O Tribunal de Minas, porém, deu-se por incompetente, achando que a autoridade coatora não era prà-priamente o Juiz de Três Pontas, e sim o Juiz da Fazenda Pública do Estado da Guanabara. Em conseqüência dessa declinação, os autos vieram ao nosso Tribunal, onde a distribuição indicou-me Re-lator. Examin.ei a matéria e, hoje, trago-a a julgamento.

    É o Relatório.

    Voto-preliminar e mérito

    O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Relator) - Srs. Ministros, o as-sunto em causa, pelo menos de-pois que aqui componho a banca-da, o Tribunal vai decidir pela primeira vez. Antes, entretanto, há uma preliminar, que é a de competência. O Tribunal de Mi-nas declinou por achar que a au-toridade coatora era o Juiz da Guanabara, e não o Juiz de Três Pontas, do Estado de Minas Ge-rais, sujeito, portanto, à jurisdição do órgão estadual de Segunda Instância.

    Fôssemos seguir, rigorosamen-te, o mesmo critério do Tribunal

  • 123 -

    de Minas, por certo não seria a competência dêste Tribunal, por-que, em têrmos de jurisdição e disciplina, o Juiz da Guanabara, mesmo Juiz da Fazenda Pública, está sujeito ao Tribunal local. Todavia, ponho a matéria nos têr-mos em que ela deve ser posta, a fim de que possamos examiná-la no seu mérito.

    Conheço do habeas corpus, uma vez que, antes de mais nada, tra-tando-se do Instituto Nacional do Café, o interêsse é da União e, por isso mesmo, sendo de interês-se dela, a matéria está rigorosa-mente sob a jurisdição ou compe-tência dêste Tribunal, pois, como é sabido, o Tribunal Federal de Recursos é o Tribunal próprio de tôdas as questões em que a União, ou melhor, em que o inte-rêsse federal esteja presente. En-tretanto, não posso deixar de in-dagar, como já fiz em certa opor-tunidade no Tribunal da Bahia, ao qual tive a honra de perten-cer: cabe habeas corpus em se tratando de prisão civil? Segundo o Código Penal, o habeas corpus, embora garantia constitucional que tutela o direito de ir e vir, está condicionado diretamente a uma infração criminal. O habeas corpus, portanto, como medida tu-telar da liberdade do direito de ir e vir, está em correlação com a prática ou argüição de um ato criminoso por parte do acusado. Sendo assim, j:larece-me que está na vista que o habeas corpus seja meio impróprio para apre-ciar a prisão civil, decretada de acôrdo com a lei civil, pelo Juiz da ação de natureza cível, que se processa no Juízo da Fazenda PÚ-

    blica. Dir-se-á, como se tem dito noutras oportunidades: de qual-quer forma, o habeas corpus de-veria levar à apreciação a restri-ção da liberdade porque, prisão civil ou não, na sua finalidade, na sua execução, o paciente sofre re-almente uma restrição.

    Embora isso, meu ponto de vista mantém-se no sentido de que o habeas corpus é meio im-próprio. A prisão civil comporta exames diversos, inclusive a pró-pria natureza da obrigação, que, dentro do juízo de habeas corpus, não podemos examinar sem atin-girmos a jurisdição do Juiz da cau-sa cível, ou, pelo menos, correr-mos êsse risco.

    Por outro lado, tenho que a matéria fica completamente resol-vida, na conformidade do meu ponto de vista, por isso que, como Juízes, não faltamos ao nosso de-ver de julgar, nem tão pouco fica-mos presos a formalidades. Digo assim porque, pelo Código de Pro-cesso Civil, do despacho que de-creta a prisão civil cabe agravo, nos têrmos do art. 842: "Dá-se agravo de instrumento das deci-sões: ... VI - que ordenarem a prisão; .. . "

    Ora, se cabe um recurso espe. cífico, evidentemente o interessa-do deveria ter-se utilizado do re-curso específico. É verdade que, em se tratando de agravo de ins-trumento, o interessado poderia ficar exposto ao cumprimento da medida, embora a utilização do recurso. De modo geral assim ocorreria, mas o nosso Código foi sàbiamente avisado, porque, pre-cisamente, em tal hipótese, o Có-digo estabelece exceção à regra

  • - 124-

    geral, que preside a própria natu-reza do agravo de instrumento. O Código concede, quando se tra-ta de despacho que ordena a pri-são, efeito suspensivo.

    O art. 843, § 2.0 , diz: "Nos ca-sos previstos nos n.OS VI, XI e XVII, o Juiz suspenderá o pro-cesso, se não puder suspender ape-nas a execução da ordem".

    De modo que, até sob êsse as-pecto o habeas corpus é meio ab-solutamente inidôneo.

    Voto-preliminar

    O Sr. Min. Armando Rollem-berg - Data venia do eminente Min. Relator, que acaba de pro-ferir voto, sem dúvida dos mais brilhantes, entendo que não é de aceitar-se a tese da improprieda-de do habeas corpus, quando se tratar de coação à liberdade de ir e vir, decorrente de prisão civil. E entendo, porque a regra cons-titucional que assegura tal remé-dio, o § 23, do art. 141, o faz de forma a mais ampla, não admitin-do que se possa distinguir entre a prisão em face de processo penal ou de processo civil. Passo a fa-zer a leitura: "Dar..;se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber-dade de locomoção, por ilegalida-de ou abuso de poder. Nas trans-gressões disciplinares, não cabe habeas corpus".

    Portanto, desde que haja vio-lência ou coação na liberdade de locomoção de qualquer cidadão, e que essa violência ou ilegalidade decorra de abuso de poder, é pró-

    . prio o pedido de habeas corpus.

    Voto-preliminar

    O Sr. M in. Cândido Lôbo Sr. Presidente, estava eu na 3.a Vara Cível, quando engatinhava o Código de Processo. O assunto trazido com o brilhantismo d~ sempre pelo Sr. Min. Amarílio Benjamin, foi objeto preciso, no comêço da vigência do Código, de várias dúvidas perante nós, Juí-zes cíveis, em conflito, quase sem-pre, com Juízes criminais. A Côr-te de Apelação de então, chamada a resolver o impasse ante à possi-bilidade de agravo previsto na lei, ou do pedido de habeas corpus em situação preferencial, resolveu o assunto, a meu ver com eqüidade.

    O Sr. Min. Relator não disse, mas é óbvio que a ação, na Vara da Fazenda, deve ser uma ação de depósito. E, concomitante-mente com essa dúvida, apareceu também, nesta ocasião, no Fôro do antigo Distrito Federal, uma outra, que era a da prisão pelo não pagamento de pensão alimen-tícia. Os Juízes dveis de então - eu, um dêles - ficaram em situação de expectativa, esperan-do a solução do Tribunal. Além disso, entravam no problema, também, os preceitos da Consti-tuição Federal quanto às garan-tias da liberdade individual.

    A Constituição tem preferência sôbre quaisqu~ dispqsitivos, se-jam do Código de Processo, se-jam de leis esparsas, pois por isso que tem tais garantias um âmbito geral, num âmbito de que contra a lei máxima não pode vigorar nenhum dispositivo de lei espe-cial, mormente esta lei processual, porque não se trata de reconhecer o argumento extraído da condu-

  • 125 -

    são do Sr. Min. Relator, de que o efeito suspensivo resolveria a dúvida. Realmente, a princípio parece que resolve a dúvida, por-que por aquêle efeito a prisão não se efetua. Mas o fato é que con-tinua a ordem de prisão, embora não efetuada, sujeita sua revoga-ção - veja bem o Tribunal -a um processo de agravo de ins-trumento, nem de petição é, cuja solução não é imediata. O cons-trangimento, pois, permanece.

    Nessa ocaSlao, tínhamos, na Côrte de Apelações do Distrito Federal, uma câmara especial para agravos, e mesmo assim os agravos levavam dois e três me-ses para serem julgados.

    O Sr. Min. Godoy Ilha -Aí não há nenhuma ameaça do paciente. A execução está sus-pensa.

    O Sr. Min. Cândido Lôbo -Está suspensa tão-sàmente a exe-cução, mas a prisão está decreta-da. E o réu, como tem o direito da sua liberdade de ir e vir ser resguardada de imediato, ainda mais hoje em que há um Juiz es-pecial de plantão nos sábados e domingos atendendo a um crité-rio salutar em favor da liberdade individual, terá que esperar. Acompanho o voto do Sr. Min. Armando Rollemberg para entrar no mérito do habeas corpus, que me parece o meio processual mais garantidor da liberdade indivi-dual, como bem acentuou S. Ex.a.

    Filio-me - conforme filiado também estava à jurisprudência da antiga Côrte de Apelação - à corrente de S. Ex.a, e me resguar-do para negar, ou dar a ordem.

    Conheço do pedido.

    Voto-preliminar (Vencido) .

    O Sr. Min. Godoy Ilha -:-Sr. Presidente, entendo que o preceito constitucional que asse-gura a proteção pelo habeas cor-pus, nos casos de ameaça de cons-trangimento ilegal, ou abuso de autoridade, condiciona a concessão da medida a êstes dois requisitos: ilegalidade da ordem, ou abu-so por parte da autoridade. No caso, trata-se de depositário infiel, contra o qual sempre se ex-pede ordem de prisão até que res-titua a coisa, ou ofereça caução. Não há alternativa: ou o deposi-tário restitui a coisa, ou presta caução. É a regra do Código de Processo Civil.

    O Sr. Amarílio Benjamin V. Ex.a permite um esclarecimen-to? O Min. Relator informou com precisão as ocorrências dos autos. A precatória sôbre a apreensão logrou êxito parcial, porque algu-mas sacas foram apreendidas. Está dito, portanto, que a apreen-são não compôs, integralmente, o pedido.

    De sorte que, foi por isso mes-mo - porque não estava integral-mente composto o pedido - que o Juiz deprecante insistiu pelo cumprimento da ordem de prisão. Esclarecidos os fatos, muito obri-gado.

    O Sr. Min. Godoy Ilha -Mas, como dizia, Sr. Presidente, o art. 650, § 2.0 , do Código de Pro-cesso Penal, estabelece: "Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrativa atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à Fazenda PÚ-blica, alcançados ou omissos em fazer o seu recolhimento n.OS I:Jra-

  • 126 -

    zos, salvo se o pedido fôr acom-panhado de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal" .

    No caso, o depositário infiel está equiparado .à situação do pe-culatário, previsto no dispositivo processual supra transcrito . E o habeas corpus só cabe quando a prisão fôr decretada por Juiz in-competente, ou quando fôr exce-dido o prazo da lei. Mas, nos ca-sos de prisão decretada por Juiz, em caráter administrativo proces-sual, não é de se conhecer do pe-dido, a menos que se tivesse ale-gado a incompetência do Juiz, ou o excesso do prazo de prisão.

    Voto com o Sr. Min. Relator.

    Voto-preliminar

    O Sr. Min. Oscar Saraiva Conheço, data venia, porque estou de acôrdo com a linha de racio-cínio expendida pelo Sr. Min. Ar-mando Rollemberg. O claro ra-ciocínio de S. Ex.a, consubstan-ciado em seu voto, permite-me, apenas, adiar um argumento: o de que o § 23, do art. 141, da Constituição, excetua apenas do conhecimento dos habeas corpus, em matéria de prisão, a prisão por falta disciplinar. De modo que, tôdas as demais prisões, quaisquer que sejam suas origens, estão su-jeitas ao remédio do habeas cor-pus. Agora, se cabe, ou não, no caso concreto, é o que vamos ver a seguir. E, aí, talvez o Sr. Min. Godoy Ilha se antecipasse ao de-bate, tocando no mérito. Mas, na altura em que estamos, conheço do habeas corpus, porque acho que essa medida é meio idôneo,

    examinando-se em concreto se cabe, ou não.

    Voto-mérito (esclarecimento)

    O Sr. Min. Amarílio Benjamin (Relator) - Srs. Ministros, des-de princípio resolvi contornar certa dificuldade de ordem técni-ca. O Tribunal de Minas deixou de conhecer do pedido, por incom-petência. Vindo o caso a êste Tri-bunal, não podia deixar de exami-ná-lo sob êsse mesmo aspecto. Fixou-se, então, a nossa compe-tência, firmando-se, dessa forma, o conhecimento da impetração. No entanto, entendendo que o habeas corpus era impróprio, ini-dôneo ou inadequado, tive escrú-pulo de levantar nova preliminar de conhecimento, temendo que sua aceitação nos levasse a con-flito de jurisdição, fora por com-pleto das linhas clássicas, desde que seriam diferentes os funda-mentos das recusas de julgar dos dois Tribunais. Preferi, assim, co-nhecer da postulação, por estar dentro da competência do Tribu-nal Federal de Recursos, mas a indeferi achando-a descabida. Os eminentes Colegas, no entanto, es-tão dando outra feição ao esque-ma dentro do qual coloquei o exa-me da controvérsia. Obedeço, não obstante, ao critério da maioria, e passo a fornecer mesmo melhores dados para apreciação da segun-da parte, ou seja, do próprio mé-rito do requerido.

    A petição inicial diz assim: "É ilegal porque: a.) segundo o art. 1.287 do Código Civil, dita pri-são não pode exceder de um ano; b) segundo o art. 109, n.O VI, do Código Penal, prescreve em dois

  • anos a pena inferior a um; c) a prisão civil do paciente foi decre-tada em 20 de Março de 1961; d) a prisão civil é inferior a um ano, pois não pode nunca exceder aquêle prazo, sendo que o Tribu-nal de Justiça de Mato Grosso, em Acórdão proferido no Ha-beas Corpus n.o 836, pelo desem-bargador Antônio de Arruda e pub. na Revista da Justiça, órgão que se edita na cidade de São Paulo, de 28-9-1962, decidiu mes-mo que: "Constitui constrangi-mento ilegal, sanável por habeas corpus, a prisão de depositário infiel, por mais de três meses".

    Admitido, porém, o cabimento, ainda assim indeferia o pedido. Fá-lo-ia porque esta argumenta-ção que aí está não atinge a pri-são civil decretada pelo Juiz da Fazenda P6blica . Em primeiro lugar, já disse que é dificílimo exa-minar-se em habeas corpus a regu-laridade da prisão civil. Na maio-ria das vêzes, ter-se-ia que dis-cutir o próprio contrato, ou a obrigação de que estaria resultan-do a sanção. Independentemente disso, as restrições levantadas não têm nenhuma pertinência ao caso dos autos. Em primeiro lugar, a prisão não está efetuada, para que se invoque o Código Civil, que ga-rante o prazo máximo referido, mas. evidentemente, olhando a prisão que se efetua. Ora, se a prisão não está efetuada, é claro que não só a contestação, como qualquer ponto de vista de defesa, que o réu porventura venha a lan-çar mão, fica condicionado ao cumprimento das regras do pro-cesso a respeito. As regras são estas, que passo a ler (Código de Processo Civil, arts. 367/370):

    127 -

    Art. 367 - O autor na petição inicial, instruída com o documen-to de depósito, requererá a cita-ção do réu para entregar, no pra-zo de 48 horas, sob pena de pri-são, o objeto depositado ou seu equivalente em dinheiro, declara-do no título ou estimada pelo au-tor.

    Parágrafo único. N o depósito judicial, a entrega do objeto será requerida no juízo da execução.

    Art. 368 - Se o réu entregar o objeto depositado, lavrar-se-á nos autos o respectivo têrmo.

    Art. 369 - Se o réu, nas 48 horas seguintes à citação, não en-tregar ou não consignar o objeto depositado ou seu equivalente em dinheiro, o juiz expedirá mandado de prisão contra o depositário in-fiel, se o autor o requerer.

    Art. 370 - Contestado o pe-dido no prazo de 10 dias, a ação tomará o curso ordinário.

    Parágrafo único. A contesta-ção não será admitida sem prévio depósito do objeto ou de seu equivalente em dinheiro.

    De modo que, para enfrentar a regularidade da prisão e discu-ti-la fora da incompetência, o réu deverá cumprir as cautelas que a lei re:comenda, ou depósito da causa, ou valor equivalente em dinheiro. Se o réu não fêz isto, evidentemente não pode discutir a regularidade. nem o Tribunal, através de habeas corpus, pode sustar a ordem.

    O meu voto, resumidamente, é o seguinte: indefiro o pedido por ser o habeas corpus incabível na espécie. Indefiriria, ainda, o pedi-do, se, admitindo seu cabimento, tivesse que considerar os argu-mentos da inicial.

  • -128 -

    Voto-mérito

    O Sr. Mino Armando Rollem-berg - Nego a ordem, e o faço porque, nos têrmos dos esclareci-mentos prestados pelo Relator, percebe-se que a ordem ju-cial contra a qual foi impe-trado o habeas corpus, não pade-ce de ilegalidade, assentando-se em texto expresso de lei.

    Voto-mérito

    O Sr. Mino Cândido Lôbo -8r. Presidente, vejo, pela petição inicial, uma alegação que confere com o que eu disse a comêço, sal-vo se ela não representa a verda-de: a mercadoria, em grande par-te, foi entregue. Veja-se a fls. 2 e 3: "No curso da exeqüibilidade da medida coativa foram entre-gues cafés, faltando uma quanti-dade equivalente, segundo alega-ção do IBC, a 35.776 sacas -conforme documento junto. To-dos os armazéns da firma aludida foram abertos e os cafés nêles en-contrados, retirados - documen-to junto.

    Após a retirada de 152.976 sa-cas, foi expedida para a Comarca de Três Pontas uma carta preca-tória, solicitando a prisão civil do paciente.

    Concomitantemente, foi recebi-da pelo Juízo da Comarca de Três Pontas uma outra carta pre-catória, oriunda do mesmo Juízo da Guanabara, solicitando o se-qüestro de cafés, ainda encontra-dos em poder da firma, da qual o paciente é um dos diretores".

    8r. Presidente, digo isso justa-mente para ter argumentos ao invés do que talvez se suponha,

    pelo enunciado que fiz, de que vou conceder a ordem em contrá-rio. :ttste habeas corpus, parado-xalmente ,tem que ser disciplina-do pela lei civil. É uma das ex-ceções da nossa legislação, e den-tro dos arts. 366, do Código de Processo Civil, até 370, é que está a razão do nosso deferimento ou indeferimento do habeas corpus.

    Não temos que estar procuran-do soluções fora dêsses dispositi-vos. Êstes são expressos, inequí-vocos em determinar a prisão do depositário infiel, quando êle não devolve a coisa. Nem mesmo na contestação - diz o Código Civil - poderá êle fazer qualquer ale-gação sem que tenha feito o de-pósito ou o seu equivalente. É o parágrafo único do art. 370: (lê).

    O legislador civil quis, portanto, cercar a ação de depósito de uma, vamos dizer, aparência de violên-cia individual. Mas contra isso não podemos nos rebelar, porque o legislador assim quis determinar a possibilidade de prisão.

    No caso concreto, se o paciente argumentasse que tinha feito a entrega da totalidade das sacas de café que estavam na inicial da ação de depósito, dúvida não teria em conceder o habeas corpus, como os demais Colegas.

    Alega que devolveu 150 mil sa-cas e não devolveu 35 mil. Não estamos aqui para apreciar as ra-zões pelas quais devolveu ou não tudo ou metade. Isto é matéria que cabe ao Juiz da ação resolver. Por enquanto, limito o meu voto a isso: êle não devolveu por in-teiro o objeto do depósito, fican-do assim considerado a sanção como legítima, dentro do art. 366

  • - 129-

    e seguintes, do Código de Proces-so Civil.

    Denego o habeas corpus.

    Voto-mérito

    O Sr. Min. Godoy Ilha -As considerações que acaba de fa-zer o Sr. Min. Cândido Lôbo levaram à conclusão a que eu e o Sr. Min. Relator chegamos, a do descabimento da medida, por-que, como bem acentua S. Ex.a, desde que não se observaram aquêles requisitos estabelecidos no rito processual da ação de de-pósito, não pode o paciente va--ler-se do writ para premunir-se contra a ordem de prisão, decre-tada regularmente na ação de de-pósito por Juiz competente. Ê matéria vencida no Tribunal.

    O paciente não contesta que está em falta. Alega que são só 3S . 000 sacas de café, mas isto re-presenta na época atual uma soma considerável, levando-se em con-ta o preço atual da rubiácea . Ademais, informa o Dr. Juiz que não pode precisar a quantidade da mercadoria que foi devolvida, pois não tinha elementos para isso.

    Por outro lado, não invoca ne-nhuma razão plausível para jus-tificar a recusa e dar cumprimen-to à ordem de apreensão, limitan-do-se a alegar a prescrição regu-lada pelo Código Penal.

    Não podendo a: prisão exceder de um ano, estaria a pena prescri-ta nos têrmos do art. 109 do Có-digo Penal. Pretende estender à ação de depósito os preceitos que disciplinam o exercício da ação penal. Evidentemente, não têm êles nenhuma aplicação, porque o

    depósito é uma medida discipli-nar, uma medida administrativa.

    A ação penal, esta sim, poderá vir a prescrever, se não fôr exer-citada no tempo oportuno, mas, neste caso, mesmo que se acolhes-se argüição de prescrição, ela não se verificaria.

    Diz êle que a pena máxima é de um ano. Neste caso, conside-rando-se como pena esta ordem de detenção - e como o máximo da pena é de um ano - a prisão só tem lugar se o depositário não se desobrigar de compromisso de devolver a coisa. Mas, mesmo que se aceite a tese do impetran-te, a prescriçãO seria de quatro anos, pelo Código Penal. Ação penal prescreve em quatro anos, quando o máximo da pena não excede de quatro anos (Código Penal, art. 109, inciso V) .

    O Sr. Min. Amarílio Benjamin -V. Ex.a me permite? O pacien-te põe mal a questão. A lei civil quando fixa prazo ,de um ano tem em vista a duração da prisão, isto é, prisão já efetuada.

    O Sr. Min. Godoy Ilha- -Obrigado a V. Ex.a . Acolhendo-s:, a tese do paciente, a prescrição nao se teria verificado, dado que o mandado de prisão foi expedido em 1961, de resto não executado

    ~ . ' e nao tenam, assim, decorridos os quatro anos, que é o lapso de tem-po prescricional da ação penal.

    Denego a ordem.

    Voto-mérito

    O Sr. Min. Oscar Saraiva Tão lata é a medida do habeas corpus no âmbito constitucional dirigindo-se contra qualquerpri~ são, quão restrita ela é em seu al-

  • -130 -

    cance, limitada aos casos de ile-galidade ou abuso do poder. Fora disso, seja prisão criminal ou civil, fora dessas hipóteses o mérito não é questionável. N este caso nem se fêz tal alegação. Por estas ra-zões, denego a ordem.

    Decisão

    Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Preliminarmente, por maioria de votos, conheceu-se do pedido, vencidos os Srs. Mins. Relator e Godoy Ilha; e, de meri-

    tis, unânimemente, denegou-se a ordem. Na preliminar os Srs. Mins. Cândido Lôbo e Oscar Sa-raiva votaram com o Sr. Min. Ar-mando Rollemberg, e, no mérito, os Srs. Mins. Armando Rollem-berg, Cândido Lôbo, Godoy Ilha e Oscar Saraiva acompanharam o Sr. Min. Relator. Não compare-ceram, por motivo justificado, os Srs. Mins. Henrique d'Ávila, Djal-ma da Cunha Mello e Aguiar Dias. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos.

    HABEAS-CORPUS N. O 1.248 - CE.

    Relator - O Ex.mo Sr. Min. Antônio Neder Impetrante - Vilebaldo Monteiro Paciente - Sinésio Pereira de Almeida

    Acórdão

    Habeas corpus. Demonstrado nos autos que o paciente praticou o crime do art. 289 do C. P., que é de prisão preventiva obrigatória, denega-se a ordem impetrada.

    Vistos, relatados e discutidos êstes autos de Habeas Corpus, de n.o 1.251, de Estado do Ceará, em que é impetrante Vilebaldo Mon-teiro e paciente Sinésio Pereira de Almeida:

    Acordam, por maioria de votos, os Ministros que compõem o Tri-bunal Federal de Recursos, em denegar a ordem, na forma do relatório e notas taquigráficas das fls. 33 a 47, que ficam integrando esta decisão.

    Custas, como de lei. Brasília, 23 de novembro de

    1964 . Cunha Vasconcellos,

    Presidente; Antônio Neder, Rela-tor.

    Relatório

    O Sr. Min. Antônio Neder (Re-lator) - O Dr. Vilebaldo Mon-teiro, advogado em Fortaleza, Ceará, requer habeas corpus em favor de Sinésio Pereira de Al-meida, que lá se encontra prêso preventivamente por decreto do Dr. Juiz de Direito da 5.a Vara Criminal da Justiça, daquela Co-marca.

    O pedido é do teor seguinte: "Os Bacharéis em Direito abaixo

  • - 131-

    assinados, brasileiros, advogados, inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, resi-dentes e domiciliados nesta Capi-tal, vêm, respeitosamente, impe-trar a essa Conspícua Câmara, or-dem de habeas corpus em favor de Sinésio Pereira de Almeida, brasileiro, casado, comercian.te e proprietário, residente e domici-liado nesta cidade de Fortaleza, distrito de Messejana, funda-mentando-se no art. 654, do Có-digo de Processo Penal, e nas razões que expõem a seguir.

    1 - No dio 7 do mês em curso, investigadores da Polícia desta Capital, por volta das 17 horas, prenderam o indivíduo José Eduardo do Vale Melo, vulgar-mente conhecido por "Mãozinha", que consigo conduzia uma bôlsa de couro, contendo vários clichês e outros instrumentos destinados à falsificação de cédulas de um mil cruzeiros, bem como papéis sôbre os quais estava impressa uma das faces de ditas cédulas.

    2 - Da prisão em flagrante foi lavrado o auto correspondente, através do qual, assim como das demais peças do inquérito poli-cial, chega-se à conclusão de que "não houve fabricação ou altera-ção de uma moeda sequer", mas tão-somente a impressão da gra-vura de uma das faces da cédula de Cr$ 1 .000,00, conforme o exemplar de que trata o documen-to n.o 2 que se anexa ao presente pedido;

    3 - Com efeito, os depoimen-tos que se lêem no mencionado auto são unânimes em ratificar êste fato (v. doc. n.o 1);

    4 - No seu depoimento cons= tante do mencionado auto de pri-

    são, e prêso, dentre outras coisas, declarou: a) que estava hospeda-do no Hotel Ribamar, nesta Ca-pital, ao tempo da prisão; b) que aqui em Fortaleza conheceu Siné sio, que lhe indagou se aceitava entrar com êle na fabricação de cédulas de um mil cruzeiros, acrescentando, naquela ocaSlao, que tinha em seu poder todo o material necessário, isto é, tinta, papel, maquinaria, clichê e outros objetos; c) que, aceitando êsse con~ite, foi à casa de Sinésio, e ali montou a sua "tenda"; d) que Sinésio tinha, além de u'a máqui-na comum impressora, um clichê de mil cruzeiros, "mas estava im-prestável, porque incompleto"; e) que passou na residência de Siné-sio cêrca de dois meses; f) que o "declarante tentou" a confecção de cédulas, mas nunca conseguiu fazer as duas faces; g) que Siné-sio, aborrecido com êle, mandou-o finalmente embora, declarando que não adiantava mais êle tentar a fiscalização.

    5 - Em face de tal depoimen-to o Delegado do 3.° Distrito, a quem estava afeto o caso, promo-veu a busca e aprensão na casa de Sinésio, de que dá notícia o auto junto (doc. n. ° 3), apreenden-do: 1) u'a máquina impressora manual, marca "Janer"; 2) uma cortadeira de papel marca "Aro-sa"; 3) um clichê de mil cruzeiros (anverso não completo); 4) vá-rios pedaços de clichês; 5) grande quantidade de cédulas de um mil cruzeiros, "não completas", sendo parte dessa quantidade com a im-pressão ora do verso e outra com o anverso; 6) tintas e papéis.

    6 - Ao chegar a Fortaleza, proveniente do Recife, aonde fôra

  • a negócio, o paciente tomou co-nhecimento da referida apreensão, e, espontânea e imediatamente, acompanhado do seu advogado, compareceu à Delegacia do 3.° Distrito, onde prestou esclareci-mentos e, irrazoàvelmen,te, ficou prêso por ordem do titular da-quela repartição policial, não obs-tante a inexistência quer de fla-grante quer de qualquer ordem judicial;

    7 - Após proceder a exaustivas investigações em tôrno do fato, o Delegado remeteu o inquérito à Justiça, onde foi distribuído ao Dr. Juiz de Direito da s.a Vara com pedido de prisão preventiva para Sinésio e outro implicado de nome Ivo André Pereira, nos têr-mos que se lêem no documento n.o 1 junto.

    No relatório, diz o Delegado-requerente, com relação a Sinésio: "Sinésio Pereira de Almeida - Ê negociante de automóvel e vive em constantes viagens por todo o Brasil. Financiou "Mãozinha" e cedeu a própria residência, locali-zada em lugar êrmo e distante, para a sede da emprêsa criminosa. Em sua casa foram feitas as apreensões do auto de fls." (que é o documento n.o 3 supra citado).

    E conclui assim: Em face do exposto, lembro a

    V. Ex.a, com fundamento nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal, a necessidade da decreta-ção preventiva contra Sinésio Pe-reira de Almeida e Ivo André Pe-reira como incursos no art. 289 combinado com o art. 12, inciso 11 e 291, todos do C.P.B.;

    8 - O Dr. Juiz de Direito, de pronto, decretou a prisão pre-

    132 -

    ventiva de Sinésio, fazendo, dentre, outras, estas considerações: "Há prova suficiente, nestes autos, que' aponta Sinésio Pereira de Almeida e José Eduardo do Vale Melo como "empenhados" na fabricação de dinheiro falso".

    "Para o decreto de prisão pre-ventiva exige-se pelo menos a existência de indícios veementes que apontam o acusado como au-tor ou cúmplice do crime que lhe é imputado. As peças dêste inqué-rito contêm elementos que apon-tam José Eduardo e Sinésio como co-autores do crime "de fabrica. ção de moeda falsa", provas es-sas que autorizam a decretação da prisão preventiva de Sinésio Pe-reira de Almeida" (v. doc. n.o S);

    9 - Houve, sem dúvida, no-bres Magistrados, evidente e la-mentável engano de autoridade judiciária a quo que, na aprecia-ção dos autos do inquérito, im-pressionou-se apenas com os têr-mos do pedido de prisão preven-tiva formulado pelo Delegado po-licial, referido o art. 289 do Có-digo Penal que "prevê o delito de falsificação de moeda", quando, na realidade, do exame dos elemen-tos que estão nos autos, chega-se, sem nenhum esfôrço, à conclusão indesviável de que não houve fato imputado ao paciente, nem sequer ao dito "Mãozinha", sôbre o qual pudesse incidir o dispositivo da-quela regra penal, como vamos demonstrar;

    10 - Ê bom dizer antes que os autos do inquérito contém, exclu-sivamente, as peças descritas pela certidão narrativa fornecida pelo Cartório Girão, por cujo expe-diente corre o feito (doc. n.o 6).

  • - 133-

    Como bem se pode ilair dos dois únicos autos de apreensão existentes no processo (docs. n.o 1), do auto de prisão em flagran-te e do relatório da autoridade policial prefalada (todos constan-tes do documento n.o 1), é certo que "Mãozinha" nunca conseguiu fazer dinheiro, limitando-se a im-primir ora o verso ora o anverso da cédula de um mil cruzeiros em papéis separados. É fato in-conteste que a própria Polícia, de-pois de vários dias de investigação constante, apurou, e, já agora, re-tifica pelo próprio punho do De-legado-promovente, reafirmando que: a) no papel apreendido e destinado à falsificação, foi im-presso apenas o verso ou o anver-so da cédula de um mil cruzeiros, não tendo sido jamais completada a falsificação; e b) não ficou cons-tatado, até o presente momento, derrame no comércio" (v. doc. n.o );

    11 - Se assim é, nobres Juízes, não existe amparo legal para a atitude do MM. Juiz da s.a Vara, em decretando a prisão preven-tiva de Sinésio, pois (não é de-mais repetir) se os fatos espelha-dos nos autos comprovam que nem o paciente nem o citado "Mãozinha" chegaram a fabricar uma só moeda sequer; se é certo que êsse "Mãozin,ha" (e não Si-nésio) apenas tentou a fabricação de cédulas, chegando no máximo a produzir ora o verso ora o an-verso da cédula de um mil cruzei-ros em papéis distintos, impossí. vel é não considerar o insucesso havido, apurado e reconhecido pelo próprio Delegado, presidente do inquérito, e forçar a aplicação a regr;:l do art. 289, que não in-

    cide sôbre o ato de tentar a fa-bricação de· moeda falsa, mas sôbre o fato de "falsificar, fabri-cando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrageiro";

    12 - Houve, ao que se vê, apenas tentativa por parte de "Mãozinha" (frise-se: de Mãozi-nha, e não de Sinésio) de fabricar moede um mil cruzeiros. O pa-ciente Sinésio, ao que parece, po-deria ser passivo da incidência da regra tida no art. 291 do Có-digo Penal, eis que a sua aplica-ção no fato da tentativo se pren-de a que em sua casa foram en-contrados os objetos de que dá notícia o auto de apren,são suso aludido. O Código, neste artigo que trata de petrechos para falsi-ficação de moeda, ~eza textual-mente: "Fabricar, adquirir, forne-cer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado .à falsificação de moeda".

    13 - Aliás, ainda que Sinésio se tivesse irmanado a "Mãozinha" no ato de se empenhar para a fa-bricação de moeda falsa; se êle não estivesse sob a incidência do art. 291 (petrechos para falsifi-cação), o seu envolvimento seria qualificado pela "tentativa de fal-sificação", como fazem certas pe-ças processuais referidas atrás, principalmente o relatório da au-toridade policial (doc. n.o 1), através dos quais se tem a certeza de que somente "Mãozinha" ten-tou fabricar dinheiro falso e que Sinésio limitou-se a financiar "Mãozinha" cedendo-lhe a própria residência;

  • 134 -

    14 - Nestas condições, cons-pícuos Membros da Egrégia Câ-mara Criminal, improcedente res-salta a decretação da ordem judi-cial que se impugna, por isto: "A prisão preventiva será decretada nos crimes a que fôr cominada pena de reclusão por tempo, no máximo, igualou superior a. dez anos" (art. 312 do Código de Processo Penal), e "Salvo disposi-ção em contrário, pune-se a tenta-tiva com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços" (art. 12, pa-rágrafo único do Código Penal).

    Ora, se a pena cominada no art. 289 (C. P.) é a de reclusão de três a doze anos, o paciente (vamos repetir), se tivesse a mesma cul-pabilidade atribuída a "Mãozinha", estaria sujeito a sofrer reclusão de uma a dois terços da mencionada pena, visto como o crime do art. 289 foi apenas tentado e não-con-sumado. Estamos argumentando a fortiori!

    Daí concluir-se que o preceito do art. 312 do Código de Proces-so Penal não é de ser aplicado, no caso vertente, eis que ali se fala de pena de reclusão por tem-po igualou superior a dez anos. E a pena a aplicar-se a Sinésio, uma vez responsável pela tentati-va de fabricação de moeda falsa, seria, no máximo, de quatro anos (um têrço de doze anos determi-nados pelo art. 289).

    15 - Por outro lado, doutos Desembargadores, não se há de tratar dos pressupostos fáticos pre-vistos no art. 313 de que fala, à voI d'oiseau, o relatório do in-quérito policial, visto como o pa-ciente é proprietário em Messe-jana, é eleitor em Fortaleza, onde

    tem domicílio e negocia no ramo de veonpa de automóveis, tendo ainda a profissão definida de mo-torista (v. doc. n.o 6).

    Referimo-nos ao item 11 do art. 313 aludido, pois o relatório, que é lacônico e capcioso, nada escla-rece em tôrno dos demais. Peça desformalizada, desobediente ao § 1.0, do art. 10 do Código de Processo Penal, dá a entender que a prisão é de ser decretada porque o paciente, como negociante de automóveis, vive em constantes viagen,s por todo o Brasil, o que não é uma mentira. E se fôra verdade seria o fato desprezível à aplicação do art. 313, item lI, do C. P . C., que trata de indiciado va-dio ou que tenha identidade dúbia e não forneça peça ou indique ele-mentos suficientes para esclare-cê-Ia. O paciente, ao contrário, é pessoa vasta mente conhecida nos círculos de Fortaleza, onde goza de real estima. Homem de bons predicados, viu-se, infelizmente, envolvido em fato criminoso co-metido por outrem. Aliás, deve-mos dizer de passagem que o De-legado do 3. Distrito, onde estêve prêso o paciente por vários dias, na sala do próprio Delegado, após diversos contactos com o prêso, após observar a sua conduta, o seu comportamento, o seu cavalheiris-mo, declarou alto e em bom som, na presença do próprio paciente, e na dos muitos funcionários po-liciais, que estava convicto de que prendera um homem de bons predicados, fato que êle próprio, como os demais investigadores, comprovaram depois de insisten-tes sindicâncias.

  • - 135

    16 - Que o paciente tem bons predicados, Senhores, é verdade que ressuma da inexistência nos autos do inquérito de qualquer má referência à sua pessoa, ao contrário do que consta com rela-ção a "Mãozin,ha". Sinésio é um pecador primário, cujo êrro foi o de ter permitido que em sua casa se hospedasse um falsário que êle veio a saber posteriormente, man-dando..io embora ('v. depoimen-to de "Mãozinha", no auto de pri-são em flagrante). É bom termi-nar êste item lembrando o aforis-ma: in dubio pro reo. Se o rela-tório nada traz contra êle ...

    17 - A verdade é que nos au-tos nada faz certo que a medida do art. 313 se impõe. Tanto é assim que o nobre Dr. Juiz a quo, ao decretar a prisão preventiva, jurídica e fàticamente desfundada, nem sequer fala do art. 313; na-turalmente porque não há elemen-tos nos autos a considerar para sustentar a sua aplicação. Des-preza o pedido com relação a esta disposição penal para fundar-se tão-somente no fato de que Siné-sio é co-autor do crime de fabri-cação de moeda falsa, e êste, como está demonstrado à saciedade, não houve, porque imprimir a gravura do verso ou do anverso de uma moeda-papel, como o exemplar anexo (doc. 11,.0 2) não é o crime consumado previsto no art. 289 em que se esteou o Dr. Juiz de Direito.

    18 - O que se narrou, somente até aqui, provado por certidões fornecidas pelo Cartório do feito e pela própria autoridade policial, é suficiente para pôr em relêvo que o Dr. Juiz não tem razão na sua ordem de prisão, que deve

    ser relaxada por essa Egrégia Câ-mara. Entretanto, não é demais ilustrar nossas razões e os fatos explicados com os acórdãos que passamos a transcrever abaixo.

    No crime de fabrico de moeda falsa não se pune a idéia, nem a exteriorização inacabada. Delito formal que é, não se harmoniza, em regra, com a tentativa".

    Vejam V. Ex.as que o Acórdão vai além da nossa tese que favo-rece o paciente, pois nem tenta-tiva é admitida. Éste Acórdão é do Tribuinal Federal de Recur-sos, em que foi Relator o Sr. Min. Henrique d' Á vila (in Rev. For., 1951, pág. 240 - Ap. n.o 82). "Não configura o crime de moeda falsa a posse de cédulas parcial-mente adulteradas".

    Acórdão também do Tribunal Federal de Recursos, in Rev. For., CXIV - 1949 - pág. 234 - Ap. n.o 24 - Relator o Sr. Min. Sampaio Costa.

    "Não constitui crime de adulte-ração de dinheiro papel, quando a perícia afirma que o trabalho de falsificação é incapaz de ludi-briar a pessoa medianamente ob-servadora" (Rev. For., CXV, 1948 - pág. 218 - Acórdão da 3.a

    Câmara do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em 9-6-1947. Ap. n.O 7.373).

    Lancem V. Ex.as os olhos sôbre o citado documento n.O 2 e medi-tem: se não é crime, segundo o Acórdão, até mesmo a fabricação de uma "cédula completa" que não seja, pela má impressão, capaz de ludibriar a pessoa medianamente observadora, que se dirá da par-cela obtida por "Mãozinha" e que fôra encontrada em poder do pa-ciente Sinésio?

  • - 136-

    Dêsses acórdãos há inúmeros de molde a firmar jurisprudência em tôrno do assunto.

    Nestas condições, vêm os supli-cantes pedir a V. Ex.as se dignem de, julgando improcedente a de-cretação da prisão preventiva de Sinésio Pereira de Almeida de au-toria do Dr. Juiz de Direito da S. a Vara Criminal de Fortaleza, relaxarem-na, ordenando a ime-diata soltura do paciente, como é de inteira Justiça."

    O decreto da prisão preventiva, que se encontra por certidão nes-tes autos, é do teor seguinte (lê fls. 16).

    O MM. Juiz que apontado como autoridade coatora prestou as informações seguintes: "Res-pondendo seu telegrama recebido hoje informo Sinésio Pereira Al-meida e outros respondem pro-cesso perante êste Juízo, incurso êle sanções artigo duzentos e no-venta um, combinado artigo vinte cinco ambos Código Penal, con,.. forme denúncia recebida data dois Setembro passado. Contra pa-ciente foi decretada prisão pre-ventiva em dezesseis Julho últi-mo havendo contra êle sérios in-dícios prática ato lhe é imputado, tendo êle hospedado sua residên-cia em Messejana indivíduo José Eduardo Vale Melo, empenhando-se êste, naquela oportunidade, em imprimir c(jdulas valor um mil cruzeiros. Não obstante gran.de afluência e conseqüente acúmulo serviço neste Juízo, foram inter-rogados todos os acusados, estan-do marcado vinte seis corrente para inquirições. - Lourival Soa-res Silva, Juiz de Direito auxiliar Quinta Vara Criminal."

    É o Relatório.

    Voto

    o Sr. Min. Antônio Neder (Re-lator) - Verifico dos autos que o Sr. Delegado de Polícia que fun-cionou no inquérito, ao represen-tar ao MM. Dr. Juiz no sentido de decretar a prisão preventiva do paciente, classificou o crime no art. 289 do C. P., combinado com o art. 12, 11, dessa Lei, ou seja, o crime de tentativa de falsifica-ção de moeda, e, ainda, no art. 291 dêsse Código, isto é, o crime de guardar petrechos para falsifi-cação de moeda.

    Verifico, doutro lado, que, ao prestar informação par instruir o habeas corpus, o MM. Dr. Juiz esclareceu que o paciente teve a sua prisão preventiva decretada, sem mencionar a causa, o que lhe foi denunciado como sendo autor do crime definido no art. 291 do C. P., que é de guardar petrechos para falsificação de moeda.

    O crime do art. 289 do C. P. é de prisão preventiva obrigatória, porque a êle é cominada pena de reclusão por tempo, no máximo, igualou superior a dez anos, como expressa o art. 312 do C.P. P.

    O crime do art. 291 do C. P. é de prisão preventiva, nos têrmos do art. 313 do C.P.P., isto é, pri-são que só se decreta quando hou-ver prova de existência do crime, indícios suficientes da autoria, como diz o art. 311 do C.P.P., e, assim mesmo, como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal ou para asse-gurar a aplicação da lei penal, como se lê no art. 313, caput, do referido Código, norma essa que deve ser vivida, sempre, de ma-

  • -137 -

    neira combinada ou conjugada, com a do art. 311, parte final, dessa Lei.

    Dado que no decreto de prisão o MM. Juiz não invocou, como razão de decidir, qualquer dos fun-damentos acima enumerados, jus-to é que, em princípio, se tenha por ilegal a prisão do paciente, tanto mais procedente esta con-clusão provisória quanto é certo que o art. 315 do C.P.P. ordena que o despacho que decretar a pf1sao preventiva seja sempre fundamentado. Sim, porque fun-damntar o despacho, no caso, é in-dicar os fundamentos de fato e de direito em que se assenta o juiz para decretar a prisão. E os fundamentos de direito são os re-feridos nos arts. 311 e 313 do C . P . P., nenhum dos quais i~vocado pelo Magistrado.

    Assim sendo, Sr. Presidente, em linha de princípio, confesso-me inclinado a conceder o habeas cor-pus impetrado.

    Dá-se, contudo, que, em algu-mas peças que instruem o pedido, e no teor mesmo da petição inicial, verifico que o paciente emprestou sua casa para que um seu compa-nheiro, de nome José Eduardo do Vale Melo, prêso em flagrante, nela fabricasse moeda falsa, sa-bendo que a emprestava para a ação criminosa. Com efeito, está escrito na inicial e no depoimen-to de fls. 13 dêstes autos que o paciente veio a encontrar-se com José Eduardo, chamado vulgar-mente de "Mãozinha", e o convi-dou para fabricar moeda em sua casa, dêle, paciente, no que assen-tiu José Eduardo, que nessa casa fôra prêso em flagrante.

    10 - 34959

    Ora, se o paciente convidou a José Eduardo, ou "Mãozinha", pa-ra fabricar moeda em sua casa (do paciente) I e se o referido José Eduardo aceitou o convite, justa é a conclusão de que o paciente, tanto quanto me é possível infor-mar-me neste processo, praticou, também, a ação criminosa do art. 289 do C. P., como decorre da norma do art. 11 do C. P., que, ao definir a relação de causalida-de, filiando-se à teoria da equiva-lência dos antecedentes ou da conditio sine qua, tornou expressa a definição de que se considera causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorri-do, e como decorre, outrossim, da norma do art. 25 dêsse Código, que expressa: "Quem, de qualquer modo, concorre para o crime inci-de nas penas a êste cominadas". Assim sendo, tudo indica, neste processo, que o paciente, em com-panhia de "Mãozinha", praticou o crime de falsificação de moeda, concorrendo para a ação típica com o emprestar a sua casa para que, nela, "Mãozinha" instalasse os instrumentos de falsificação e, de verdade, se entregasse ao trabalho ou ação de falsificar, como se vê, aliás, da fl. 11 dêstes autos, que passo aos Srs. Ministros.

    Demonstrado que o paciente praticou o crime do art. 289 do C . P., que é de prisão preventiva obrigatória, estou em que não te-nho como lhe conceder o remé-dio jurídico do habeas corpus, por ser justa e legal a prisão.

    Dir-se-á que o paciente foi de-nunciado como sendo autor do crime do art. 291 do C. P' I e que

  • - 138-

    êsse crime não é de prisão preven-tiva obrigatória, e que, portanto, se o MM. Dr. Juiz recebeu a denúncia em que o crime do pa-ciente é classificado nesse disposi-tivo, a essa classificação ter-se-ia vinculado o Magistrado, que, por isso, deveria ordenar a soltura do paciente.

    Respondo a essa objeção libe-ral dizendo que o Juiz, ao receber a denúncia, não se vincula à clas-sificação do crime contida nela, porque, ao final, depois da instru-ção por êle feita, poderá dar-lhe outra classificação ou definição jurídica, agravando ou atenuando a situação do réu, como expressa o art. 383 do C.P.P .. Porque é provisória a classificação feita no decreto da pnsao preventiva, como é provisória e da denúncia.

    O Juiz não está adstrito a uma ou outra.

    O essencial, no caso, é que o agente tenha praticado ação cri-minosa (e êle a praticou), e que a ação mereça ser definida como crime de prisão preventiva obri-gatória (e ela bem merece essa definição) .

    O engano, ou êrro, do Promotor de Justiça, ao classificar o crime ou o engano ou êrro do Juiz no emprestar definição jurídica ao fato, não autoriza a concessão do habeas corpus, porque, no caso, o que vale e importa é o fato, é a ação tipicamente an,tijurídica, culpável e adequada, e não o nome ou classificação que lhe te-nha sido emprestado pelo Promo-tor ou Juiz.

    Portanto, demonstrado que o paciente praticou crime de prisão

    preventiva obrigatória. denego a ordem impetrada.

    É o meu voto.

    (Voto Vencido)

    O Sr. M in. Amarílio Benjamin - Divirjo da maioria que está formada.

    Ouvi, com a devida atenção, o ilustre voto do Sr. Min. Relator. Disse S. Ex.a, com tôdas as letras, que o Dr. Juiz, no despacho de prisão preventiva, deixara de o justificar. Ora, se o Dr. Juiz não justificou a prisão, pela sua con-veniência, pela necessidade, pelo resguardo da formação de culpa, pela garantia de que os réus, se condenados, serão efetivamente punidos, evidentemente o despa-cho não pode prevalecer.

    É verdade que também ouvi, como todos os Srs . Ministros, uma justificação do Sr. Min. Re-lator, para deixar de lado essa imposição, que decorria da falta de sustentação da prisão preven-tiva. S. Ex.a considerou que o crime, conquanto previsto na de-núncia, na modalidade do art. 291, que não determinaria nunca a prisão preventiva obrigatória, na sua realidade legal, seria crime de moeda falsa, o qual é de "prisão obrigatória". Data venia, não nos cabe, como órgão revisor, alterar a classificação, senão nas oportuni-dades próprias. Se o crime está na denúncia, classificado e apon-tado na modalidade do art. 291, só podemos examinar essa classi-ficação, se algum recurso nos pu-sesse a mesma sob nosso juízo ou, então, o Juiz, cumpridas as for-malidades indispensáveis, resol-vesse modificá-la. Fora disso, pre.

  • -139 -

    valece, em tese, para todos os efei-tos, inclusive decretação da pres-crição ou extinção da punibilidade pelo decurso de tempo, a classifi-cação prOVlsona da denúncia. Dessa forma, lamento divergir de S. Ex.a, para conceder a ordem, de acôrdo com o fundamento que resultou das próprias observações que o Sr. Min. Relator deduziu na primeira parte de seu voto. É a minha maneira de pensar.

    Decisão

    Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Denegou-se a or-dem, vencido o Sr. Min. Amarílio Benjamin. Os Srs. Mins. Henri-que d'Ãvila, Djalma da Cunha Mello, Godoy Ilha, Oscar Saraiva e Armando Rollemberg votaram com o Sr. Min. Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Min. Cunha Vasconcellos

    AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA N.O 13.008 - SP.

    Relator - O Ex.mo Sr. Min. Djalma da Cunha Mello Recorrente - Juízo dos Feitos da Fazenda Nacional Agravante - União Federal Agravado - Décio Martins de Almeida

    Acórdão

    Alfândega. Percentagens de seus funcionários nos leilões de mercadorias. Não há que cogitar disso nos casos em que a mercadoria chegar ao pôrto desacom-panhada de licença prévia, ou com fraude quanto à procedência, classificação e quantidade, no concer-nente. Sempre que isso ocorrer o produto integral do, leilão pertence ao Tesouro Público.

    Vistos. relatados e discutidos êstes autos de Agravo em Man-dado de Segurança n.o 13.008, de São Paulo, em que são par-tes as acima indicadas:

    Acordam os Juízes da Segun-da Turma do Tribunal Federal de Recursos, por maioria, em dar provimento, na forma do rela-tório, votos e resultado do jul-gamento de fls. 44/56, que fi-cam integrando o presente jul-gado. Custas de lei.

    Brasília, 20 de junho de 1962. - Cunha Vasconcellos Filho, Pre-

    sidente; Dja.Jma da Cunha Mello~ Relator.

    Relatório

    O Sr. Min. Djalma da Cunha Mello (Relator) - O recurso de ofício e o agravo da União pren-deu-se à sentença de fls. 28 até 31 assim redigida: "A espécie dos autos já foi focalizada em douta decisão proferida pelo ilustrado Juiz Dl'. João Mendes, da qual se destaca o seguinte tópico: "Con-jugando-se as normas dQ!i ar.ts, 26