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CRIME NA CATEDRAL MENSÂRIO CULTURAL RIO DE JANEIRO NOVA FASK ANO 2 N. 0 22 Em PORTUGAL 25 Escudos O JORNAL DE OTTO E FLORENCE, DO TALES. RUIZ E BASTOS MELLO, DA BETÍ E DO DAVf. DO NEIVA, LIGO WAGNER E ANDRÉ, DA ALINA, DO PIRES. JAOIR. GEORG, AGÁGIO VIEIRA E GUSTAVO, DA HELENA, DO ELCIO E LUCIANO, O JORNAL DE VOCÊ - SIM DE VOCÊ TAMBÉM POIS A ABERTURA É PARA VALER. VIDA NA TERRA? Poesias Contos Verdade RESI ECOLÓGICA

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CRIME NA CATEDRAL

MENSÂRIO CULTURAL — RIO DE JANEIRO — NOVA FASK — ANO 2 — N.0 22 — Em PORTUGAL 25 Escudos

O JORNAL DE OTTO E FLORENCE, DO TALES. RUIZ E BASTOS MELLO, DA BETÍ E DO DAVf. DO NEIVA, LIGO WAGNER E ANDRÉ, DA ALINA, DO PIRES. JAOIR. GEORG, AGÁGIO VIEIRA E GUSTAVO, DA HELENA, DO ELCIO E LUCIANO, O JORNAL DE VOCÊ - SIM DE VOCÊ TAMBÉM

POIS A ABERTURA É PARA VALER.

HÁ VIDA NA TERRA?

Poesias

Contos

Verdade

RESI ECOLÓGICA

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Página 2 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 22

Jirnmy Carter: Novas Esperanças Para os Povos da América Latina Chegou ao fim a grande controvér-

sia: Depois de muito suspense, que os meios de comunicação se esmeraram em manter — Jimmy Carter venceu — é ho- je o presidente eleito dos Estados Unidos.

O que surpreende no caso não é esta vitória, mas o fato dos republicanos em geral ter tido condições de manter o seu candidato Ford, com a infeliz esco- lha do seu vice — Dole — imaginá-lo na presidência seria um pesadelo, den- tro do páreo.

Ford aparentemente tinha tudo contra si. Herdeiro de Watergate, autor do perdão a Nixon, com uma atuação presi- dencial apagada, com a personalidade mais anti-carismática que se possa ima- ginar, Ford deveria concorrer previamen- te derrotado e não poder dar um suspen- se de disputa.

De outro lado Carter, um outsider que venceu as eleições prévias com inespe- rada facilidade e conseguiu unir atrás de si o Partido Democrático, amplamente majoritário. Com Carter surgiu indiscuti- velmente uma personalidade forte, com convicções próprias e vontade de exa- minar e julgar as questões ele mesmo.

Os três debates na televisão mostraram um Presidente Ford devidamente treina- do por uma equipe especializada, do jei- to como se treina um candidato para fa- zer as cruzinhas no vestibular e do ou-

tro lado um Carter contido, cauteloso, evitando cuidadosamente de se mostrar, brilhante, pois possivelmente o eleitorado americano não perdoaria isso.

Logo se viu que Ford tinha várias van- tagens: Em primeiro lugar, como presi- dente, tinha a vantagem do cargo— As- sim podia provocar acontecimentos ou tentar provocá-los. Nesta linha se ins- creve a tomada de contato de Kissinger com a África do Sul. Quem sabe seria possível promover um sucesso ao menos aparente e passageiro. Além disso Ford tinha a sua tranqüila mediocridade ates- tada e confirmada. Um homem sem idéias e sem surpresas, uma quantidade conhecida.

Carter de outro lado, livre do fardo fu- nesto das administrações passadas, viu com surpresa que sua posição ética em relação ao mundo seu apelo à decência, bondade, fraternidade e dignidade era recebido por muitos com desconfiança. A política americana esteve nos últimos anos tão divorciada de qualquer ética nacional, que muitos simplesmente não quiseram aceitar o fenômeno Jimmy Cartar. O caso é que Jimmy Car- ter estava cem por cento sincero quando disse aos seus amigos em Plains, num convite para sonhar: "... let us >rok bsck 200 years and try to understand what lhe founders of our nation dreamed

ebout — and make those deams come true." (... deixe-nos olhar 200 anos atrás para tentar entender o que os fun- dadores da nossa nação sonharam — e vamos tornar estes sonhos verdade.)

Os incansáveis partidários do imobi- lismo argumentam: "A posição do can- didato pode ser uma, mas como Presi- dente terá que aceitar as realidades".

"Que realidades são estas?" O tal mundo livre de Nixon e Ford, formado por um cortejo de ditadores? A teoria de um governo de maioria para a Rodésia e a simultânea aceitação de governos de grupos, sem liberdade, sem direitos — em tantos outros países?

O caso é bem diferente: O Presiden- te, ainda mt.s tendo atrás de si o Sena- do e a Câmara, pode dar expressão real a uma política e ética nacional — e ainda mais — terá atrás de si a Nação — que no fundo, quando receios e cau- telas ficaram de lado — aspira por um governo atuante e por um novo ambien- te de dignidade no trato das coisas po- líticas.

Jimmy Carter será também o primeiro presidente cem consciência ecológica. Um presidente que ao assumir o cargo já sabe que o mais importante papel que caberá a ele, será a luta pela sobrevi- vência da espécie humana.

Os que pensam que "tudo fica como» dantes no quartel de Abrantes" podem desde já pôr a barba de molho.

Jimmy Carter, que assumirá a Pre- sidência dos Estados Unidos em janeiro, do próximo ano, é um' homem que tem a quem prestar contas: Não só ao Sena- do e à Câmara, mas na solidão das suas meditações, também a Deus, pois esta- mos diante de um homem com convic- ções.

ABERTURA CULTURAL está com Jlm- mv Carter desde o início. Nos nossos números 17 e 18 deixamos este nosso ponto de vista bem claro, e na nossa correspondência com o Staff de Jimmy Caríer e com ele próprio, como com "Fritz" Mondale, que saudámos como vice-presidente, também.

Desejamos a Jimmy Carter e Rosa- lynn tudo de bom, como também a Wal- ter Mondale, Hamilton Jordan, Jody Po- well, que tanto contribuíram para a vi- tória.

E que Jimmy Carter como Presidente dos Estados Unidos possa efetivamente contribuir para a construção de um mun- do melhor, é o nosso desejo. As Nações da terra, esta gente sofrida do mundo todo, esta gente temerosa de novas vio- lências, novas perseguições e novas guerras, merece um alento, merece uma libertação.

O comentário acima foi escrito algfuns dias antes das eleições norte-america- nas. Diante das previsões de equilíbrio, poderia parecer presunção dizer anteci- padamente: Carter venceu! Mas fazen- do os cálculos Estado por Estado, eu ti- nha não só fé, mas certeza. Na noite das eleições, quando os resultados firmes do Sul eram reforçados por vitórias em New York e Ohio e quando os resulta- dos claros de Washington D.C., cora 85% para Carter, mostraram que a co- munidade negra estava coerentemente com Carter, eu fui dormir tranqüilo, enquanto as emissoras norte-americanas ainda mantinham o suspense da indeci- são. Acordei pouco antes das 6 horas, peguei uma emissora americana e logo ouvi os acordes da canção: Happy days are here again» (Os dias felizes volta- ram) — a velha canção do Partido De- mocrata.

«Happy days are here again!» Acre- dito em mudanças, em profundas mu- danças. Os tempos são maduros para isso. Há 200 anos, na Declaração de In- dependência dos Estados Unidos, já se falou nos direitos inalienáveis dos ho-

mens — direito à vida, liberdade e bus- ca da felicidade, e também no governo constituído pelo consenso do povo. Es- tas idéias fundamentais de qualquer re- gime democrático devem também en- contrar a sua aplicação na América La- tina.

E nã£> se trata apenas estabelecer uma democracia formal, de fachada. Direi- to à vida significa poder alcançar uma vida com d^idade, alimentação ade- quada, saúde e condições sanitárias para eliminar os assustadores índices de mor- talidade infantil, e em suma todas con- dições básicas para viver. Liberdade mesmo, na sua plenitude, que inclui ace?SD à educação e às informações e poder manifestar sua opmão sempre, mesmo se contraria a opinião da maio- ria. Busca da felicidade é um direito necessário e amplo. Nas circunstâncias atuais frustra-se a busca da felicidade de praticamente todos. Na civilização do «ter», na sociedade competitiva, só exis- tem quase pessoas massacradas, manti- das em trote, que correm através da vi- da, ou passando fome, ou sofrendo de indigestão, mas sempre correndo, numa

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organização de produção e consumo tão insensata, que à vista de todos está des- truindo a própria terra na qual vive- mos.

As mudanças necessárias são profun- das. Jimmy Carter como presidente vai mudar tudo isso? Lógico que não. Car- ter tem consciência ecológica, ele com- preende a situação e sabe que estamos numa encruzilhada. Elè pode dar a sua contribuição. Ele pode dar os passos ini- ciais, ele pede ao menos evitar que os Estados Unidos continuem sendo o sus- tentáculo de tudo que é autocrático, corrupto e repressivo no mundo. Ao me- nos isso. Aos povos cabe fazer o resto.

Mas deixe-nos saudar a vitória de Jimmy Carter como inicio de uma nova era, como eu fiz no telegrama que pas- sei no dia seguinte:

Jimmy Carter Plains Geórgia USA Psalms 20/5 and greatfulness ali

marvellous people contributed victory. Otto Buchsbaum

E vejamos o que diz o Psalms 20:5 — primeiro em inglês:

«May there be shouts of joy when we hear the nevvs of ycur victory, flags flyng with praise to God for ali that he has done for you. May he answer- ali your prayers!

Salmos 20:5 — em tradução livre: «De:xe-nos receber com gritos de jú-

bilo a boa nova da sua vitória, bandei- ras desfraldadas em leuvor a Deus por tudo que fez por você. E que todas suas preces sejam atendidas!»

Em 20 de Janeiro de 1977 estaremos em Washington na posse de Jimmy Carter. Sempre coerente com a posição assumida já nos números 17 e 18 de ABERTURA CULTURAL, bem antesr da nomeação de Jimmy Carter pela Convenção: Nossa primeira página bem. no alto já dizia:

COM JIMMY CARTER PELA LI- BERDADE, DIREITOS HUMANOS'^ DIGNIDADE E DEMOCRACIA EM TODAS AS AMÉRICAS.

WITH JIMMY CARTER FOR FRE- EDOM, HUMAN RIGHTS, DIGNTTY AND DEMOCRACY IN ALL AMÉ- RICAS.

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Correspondência para: CAIXA POSTAL 12.193 ZC-07

EXPEDIENTE: ABERTURA CULTURAL Teatro ao Encontro do Povo Publicação mensal da ABERTURA CULTURAL EDITORA LTDA. Diretor responsável: ANDRÉ DELANO BUCHSBAUM 6rgão do movimento TEATRO AO ENCONTRO DO POVO dirigido por OTTO e FLORENCE BUCHSBAUM RIO DE JANEIRO — ANO 2 — N9 21 N9 22 — 1976

Composto e impresso na Gráfica Castro Ltda. Rua Pedro Ernesto, 85 - Tel.: 243-8565 Distribuído em todo território nacional. Dlstribuido em Portugal, Ilhas, Angola, Moçambique, restante Europa, África e Ásia — AGÊNCIA PORTUGUESA DE REVIS- TAS — Rua Saraiva de Carvalho, 207 — Lisboa 3 — Portujja» Em Angola: Rua de Malanga, 83 LUANDA. República Popular do Moçambique: Prédio Negrão 2? andar n? 7 Maputo

RIO ABERTURA CULTURAL é o único

jornal em iíngua portuguesa filiado ao ALTERNATIVE PRESS SYNDICATE, P.O. Box 777 Cooper Station New York, NY, 1003 USA sendo igualmente ligado ao setor do Sindicato acima que coordena a América Latina INDOU-ASP — Sin- dicato de Ia Prensa Alternativa c/o Eco Contemporâneo — C.C. Central 1933 — Buenos Aires — Argentina. Em am- bos locais (Nova York e Buenos Aires), poderão ser obtidos tanto os números atrasados como o atual de ABERTURA CULTURAL.

Pela presente, fica estabelecido que OTTO. BUCHSBAUM assume expressa- mente a responsabilidade com relação a todo conteúdo deste jornal, tanto com relação aos artigos assinados, quanto as matérias sem assinatura.

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Abertura Cultural

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 22 Página 3

Olá Gente Desde que surgiram as primeiras so-

ciedades organizadas a «arte de gover. jiar» foi estudada, julgada, e está na raiz de muitas teorias, estratégias, pla- íiificações e esquematizações.

Em certas fases da evolução, como nas cidades-estado da velha Grécia ou mesmo em certas tribos em estágio pré- "literário, havia formas de democracia direta, onde os cidadãos ou os guerrei- ros (nas tribos), escolhiam diretamente os seus dirigentes, com base em conhe- cimentos que vinham da convivência. Os governantes da época, tanto os elei- tos como os autocráticos, tinham por sua vez informações diretas sobre os problemas e um convívio com os gover- nados.

Nos grandes impérios do passado, co- mo também nos estados modernos es- ta situação é totalmente diferente.

Todas informações, conhecimentos e posições vem de mediações, vem oe maneira indireta, sofrem yma seleção prévia, interpretações e transformações propositais e também involuntárias.

Estas transformações pela mediação agem nos dois sentidos: Nas informa- ções que chegam ao público e nos da- dos obtidos pela cúpula, fi um proble- ma que existe em todos estados mo- dernos, sem comportar uma solução to- talmente satisfatória.

As teorias econômicas do liberalis- mo do século passado ofereceram co. mo solução para aliviar o fardo gover- namental, um pretenso equilíbrio auto- mático: «Se cada qual cuida dos seus p.-óprios interesses de maneira eficien- te — a soma destes interesses indivi- duais cria o bem-estar coletivo.»

O sistema parece ter uma certa lógi- •ca além disso copia os processos auto- reguladores da natureza. Não leva em conta que a natureza usa processos biológicos, onde por exemplo é algo na- tural a formação de nuvens de gafa- nhotos, que aos bilhões devastam enor- mes áreas e depois morrem à mingua ainda mais depressa do que surgiram.

Processos auto-reguladores deste tipo não são aplicáveis aos homens, ou, cer- tamente não podem ser admitidos do .ponto de vista ético.

O tal liberalismo demonstrou na prá- tica rue consagra apenas a vitória do fcrtf. sobre o fraco, do inescrupuloso sobrt. o altruísta.

A participação reguladora do Esta- do no campo, econômico tomou-se assim indispensável. Como no entanto o Es- tado representa sempre os interesses das «lites dominantes, sua ação normalmen- te se restringe a criar certas frontei- ras para a ganância dos mais fortes, em prol da estabilidade e paz social. Dentro da multiplicidade das fun- ções de um estado moderno, no campo econômico, político, social — nas rela- ções internacionais — no planejamen- to coordenado tanto global como local, observam-se vários fenômenos simulta- neamente :

1) Um entumescimento constante da sua própria estrutura. O aparelho bu- rocrático e tecnocrático cresce sem ces- sar. Há inclusive a necessidade de criar cargos condizentes para com o cres- cente número de candidatos, que atra- vés de uma devida preparação univer- sitária foram qualificados para este ti- po de inatividade remunerada. O apa- relho estatal ao mesmo tempo ocupa-se cada vez em maior escala com seus próprios problemas estruturais, seu próprio metabolismo, demonstra a ten- dência de girar em torno do próprio eixo, tornar-se auto-suficiente, autárqu'- co. Naturalmente te trata apenas de uma autarquia estrutural ou quem sabe, poderia-se dizer, filosófica, se este ter- mo cabe ao voo raso das idéias predo- minantes. Economicamente não é au- tárquico, pois sua sobrevivência mate- rial depende totalmente dos setores pri- mários e secundários da economia. Di- ante disso tudo chega a pergunta cru- cial: A estrutura burocrática está ain- da a serviço do Estado, ou já acontece o contrário?

2) Aumenta a mediação nas infor- mações. Os próprios escalões inferiores e intermediários já recebem as infor- mações em forma codificada, em rela- tórios, estatísticas, resumos etc. A me-

diação continua — aos escalões mais altos chegam estratos, sumários, uma realidade descarnada, ou interpretada de acordo com teorias e interesses, tu- do transformado em «digest».

3) No campo administrativo prolife- ra a teoretização, a quantificação, a transposição da realidade em fórmu- las, curvas, a descoberta estonteante de que todo problema pode ser com- putarizado, binarizado, transformado numa seqüência de perguntas com só duas alternativas. Surge um vasto cam- po para o idiota especializado e uma grande tendência para surgirem em ri- validades entre as diversas especializa- ções, mu tas vezes com sacrifício total da riialidade.

4) As conseqüências destas tendên- cias levam à quantificação do não quantificável, à soma de produtos he. terogêneos, como acontece com o famo- so Produto Nacional Bruto, à transfor- mação de tragédias pessoais em núme- ros impessoais, como é o caso da mor- talidade infantil, e além do mais no ci- poal de números, estatísticas, planos, medidas e contra-medidas, o metabolis- mo do aparelho governamental conse. gue cada vez mais primazia, e compli- ca-se através de novas teorias, mas sem- pre influi profundamente no processo: Porque todas funções metabólicas re- querem atendimento imediato, «exigem» o estímulo de certas ações, mesmo se isso a médio ou longo prazo resulte na morte ou em danos graves para o orga- nismo. No meio de tudo isso perde-se de vista a própria realidade do homem, suas aspirações, sua individualidade, suas necessidades materiais, culturais e espirituais.

Esta problemática do estado moder- no é praticamente universal. Nos paí- ses desenvolvidos este fenômeno não aflige tanto os indivíduos, pois apesar disso tudo, a maioria tem um razoável padrão de vida, ao menos do ponto de vista material. Isto acontece em parte porque estes países ditam os termos de comércio, determinam o preço do que compram e do que vendem. Além disso nos países desenvolvidos os cidadãos dispõem geralmente de mecanismos le- gais p&ra influir no governo e tentar modificações, o quç dá a eles um certo sentinHOito de cidadania e co-responsa- bilidadc, o que ao menos psicologica- mente é importante.

Nos países subdesenvolvidos a sltua- ^So já é bem mais grave.

O conjunto —■ burocracia auto-sufi- ciente — desconhecimento da realidade de-, ido à mediação e codificação exces- siva — a teoretização importada e ina- dequada — o culto do Produto Nacional Bruto o da quantificação desumanizado- ra — faz-se sentir de maneira direta em todos campos. E ao mesmo tempo potência as condições desfavoráveis, a

-miséria, a fome, o atraso. A vontade de imitar mistura-se com as teorias absor- vidas em compêndios que estudam a confusão de idéias e coisas que assola os países ricos.

Na floresta de números e teorias per- de-se de vista que para os subdesenvol- vidos os termos de comércio impostos de fora, transformam geralmente to- do comércio exterior na troca de valores por miçangas.

Da mesma maneira embaralha-se todo quadro econômico com o culto da «ex- pansão» do produto Nacional Bruto. Não se pergunta qual foi a expansão, qual a utilidade real dos artigos produ- zidos. Fabricar produtos que requerem uma reposição anual, faz crescer o PNR e aquece a economia. Produzir artigos duráveis, facilmente consertáveis, dimi- nui o PNB, estrangula o fluxo do co- mércio e leva à crise. 15 uma total in- versão de valores: O socialmente útil, que economiza matérias-primas e ener- gia, torna-se prejudicial ao que chamam «'•economia» ou «progresso»». Ao mesmo tempo, o desperdício, o supérfluo, a cor- rente de intermediários, as vendas à prestação que encarecem tudo, tornam- se dentro do sistema de relações, fato- res altamente positivos.

Qualquer empresa particular que ten- tasse viver neste sistema de coordena- das para uso interno, nesta inversão de valores, iria com certeza à falência, pois chegaria o momento da verdade, onde descobririam que todo ativo é fictício ou em ruínas, e todas dívidas reais.

No caso do Estado é diferente. Todas contradições e contra-sensos se resol-

vem através de novas chamadas de ca- pital, que a Nação pressurosameníe atende suportando a carga de impos- tos, ou se socializa com emissões mo- netárias e a correspondente inflação ou ainda se transfere para o futuro, com endividamento interno e externo.

Não adianta procurar defender este tipo de sociedade de consumo e desper- dício e as teorias econômicas que for- mam sua base, com fórmulas matemá- ticas, diagramas e inovações semânti- cas.

Uma economia que adoeceria se as indústrias produzissem geladeiras que funcionam 20 anos ou sapatos que du- ram 5 anos, e que também iria fenecer se os produtos agrícolas chegassem ao varejo sem proporcionar lucros de cen- tenas por cento aos intermediários, uma economia que tropeça se as bolsas ^e vaJores e de mercadorias, as letras de câmbio e as operações overnight não oferecem campo a uma especulação de- senfreada; é uma economia doente, do- ente por si só — e o que chamam no jargão dos economistas de aquecimen- to — é febre mesmo, acompanhada de anemia perniciosa.

Desta inversão de valores, destes pa- radoxos, que se tomam dogmas, e nas nessas Escolas de Economia premissas de ensino, surge a nossa confusa e es- tonteante realidade.

Boa parte do exposto até agora é uma espécie de «mal do século» que em diversas formas afeta a economia de quase todos países do mundo e que se esconde nas dobras das salas das eco- nomias aparentemente mais prósperas.

Mas os problemas alheios — são alheios mesmo — e não devem desviar a nossa atenção dos nossos problemas, e nem servir como justificativa deles.

Não existe nenhum motivo para con- tinv.ar a basear a nossa teoria de valo- res em David Ricardo, nem nossas va- cila^ões — inflação —■ desenvolvimen- to — aquecimento — congelamento em Keynes ou seus seguidores. Da mesma maneira como Levi-Strauss mostrou que «uma nova ciência necessita de uma nova linguagem», também uma diferen- te situação econômica necessita de no- vos estudos, uma nova compreensão das nossas realidades e novas soluções.

Nossa equipe econômica, ao menos a corrente predominante, não se con- venceu ainda, que para este pais-conti- nente, existem soluções e não apenas contingências.

Evidentemente precisamos de uma vi- são global que abarca o país todo, suas possibilidades, seus problemas, seuá reais objetivos nacionais. Precisa um re- exame das prioridades e um rumo fir- me ao encontro de objetivos definidos.

Lênin disse que o processo se efetua com «dois passos para frente e um pas- ro para trás», e possivelmente tinha razão, no sentido que uma evolução não é algo retilíneo, uniforme, sem obstá- culos a contornar, nem paradas para pensar.

Mas entre isso e fazer a economia dançar uma Tarantella ou um Rock maluco, há uma grande diferença.

Nossa Tarantella vem de longe: Washington Luiz já disse: «Governar é construir estradas.» Ele mesmo poucas construiu. Mas sua palavra sempre foi citada, e serviu como justificativa de um rodoviarismo agressivo.

O transporte mais barato é o marí- timo e fluvial. Muitos países ricos são cortados por canais, construídos para baratear os produtos. Outro transporte econômico é o ferroviário. Nós, no en- tanto, deixamos decair as Estradas de Ferro e optamos pela solução mais ca- ra: O caminhão.

Caminhão precisa de gasolina ou die- se!, também de estradas, estradas cha- mam por automóveis — ma5s gasolina.

Uma seqüência de ações interligadas, a inércia de um processo em andamen- to —■ resultado: uma síndrome comple- xa, com graves repercussões sobre o fu- turo nacional.

Vejamos as marchas e contra-mar- chas da política de café. Estímulo ao plantio, devastação de enormes áreas de matas para promover esta monocul- tura. Financiamentos amplos mesmo pa- ra plantio em regiões sujeitas a geadas. Depois mudança de rumo: Prêmio em di- nheiro para cada pé de café arrancado. Nunca tentou-se promover a reintredu- ção do café em terras recuperadas nas regiões cafeeiras antigas, menos sujei-

tas a geadas, e com métodos modernos, como terraceamento e combinação com avicultura para usar o adubo orgânico, A cafeicultura ficou por conta dos aza- res climáticos. Ficou uma planta rara. Mais raro ainda o cafezinho, sinal de hospitalidade dos mais pobres.

Onde está a feijão? Foi substituído pela soja que é exportada?

Diminuiu-se o ritmo da inflação, com o sacrifício do salário real. Na propor- ção em que o salário real baixou, a mor- talidade infantil subiu. São dados esta- tísticos ou destinos humanos? Estas his- tórias tem moral?

Depois a inflação inflou de novo, mas a mortalidade infantil continuou na mesma.

Gasta-se de três a quatro salários- mínimos para manter um presidiário

Continua na página 4

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ABERTURA ÒULTURAL — ANO 2 N9 82

Contra os riscos radioativos por feijão, arroz, rapadura e cultura

Leio

* CULTURAL ~ X

UM MENSÁRIO DIFERENTE

nãO-E/TABELECIDO DE/E/TABELECIDO

Não solte os tecnocratas no gramado-

rÇ/j*.^ eles comem tudo.

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Continuação da pág. S

em condições bem precárias. Um chefe de famiUa com um só saláxio-mínimo precisa sustentar a família.

Existe aí alguma contradição? Planeja-se, aquece-se, desaquece-se e

no fim desplaneja-se. Es as quatro ati- vidades mais bem remuneradas no Bra- ■iU Só tem um defeito. Nada produzem.

Parece que se pretende transformar nosso pais no paraíso das atividades ter- ciárias.

O importante é conservar a imagem. Enquanto isso a produção não pára.

Pcis há as multinacionais que precisam produzir para poder subfaturar, super- faturar Ou simplesmente faturar confor- me as conveniências, desta terra de Marlboro, terra da liberdade, onde a te- levisão diz AMÉM.

Isso não é Tarantella? Não gostaram da expressão? Seja-

mos nacionalistas — é um frevo econô-

mico, maluco — mas a conta na boate já está em 30 bilhões de dólares.

Qual é o tempo útil de bugigangas in- dustriais que se fabrica? 20 anos? 30 anoe? 50 anos no melhor dos casos! E a gasolina que importamos e já quei- mamos? Saiu pelos canos de descarga, poluindo, envenenando.

As florestas amazônicas e outras nes- gas de matas que sobraram da nossa an- tiga exuberância — e que agora derru- bamos, queimamos, destruímos, leiloa- mos. Que vida útil teriam? Em termos de vida humana, seriam eternas, pois sempre se renovam.

Que belo rincão do mundo Pedro Al- vares Cabral encontrou quando chegou aqui há menos de 500 anos!

O que fizemos disso? O frevo de uma economia de devas-

tação continua passando pelo país, com a força de um tufão.

Poucos países dispõem de mais ter- ras férteis per capita, poderíamos nutrir

bem toda nossa gente e ainda matar a fome do Bengla Desh e do Sahel.

Mas nós deixamos a agricultura de lado, não é uma atividade fina, a não ser talvez quando se trata de produzir para exportar, e enveredamos por um indus- triallsmo tão sofisticado, tão complexo — que parece Torre de Babel ou peça do Teatro do Absurdo.

Ao frevo maluco, ainda por cima, fal- ta" orquestração — o que uma mão faz — outra desmancha — e nós estamos EIí observando tudo isso, atordoados, cora vontade de mudar de cardápio (feijoa- da não dá pé) para acostumar-nos a co- mer o que nossa economia produz: Mi- nérics, asfalto, ferro gusa, computadores (a vinagrete são uma especialidade) apa- relhos de TV — para adquirir a tal «vi- são interna* e quem sabe uma pitada de plutônio como sobremesa.

OTTO BUCHJSBATTM

Quem é o Dono Desta Terra? BILL FRITTS

TRADUÇÃO DE ROBERTO TAMARA

"Vender a terra?,.. Por que não vender o ar. as nuvens, o mar imenso?" :

Tecumseh,' chefe da tribo Shawnee — (1768-1813)

Robert Frost disse certa vez quando contemplava um pequeno lago: "Deus permitiu que eu o tomasse emprestado por algum tempo".

A Incalculável pilha de preceitos le- gais que cercam os direitos de proprie- dade é um dos maiores atrevimentos do homem. O homem arrogou a si o direito a todas as terras que existem no mundo como se existissem'só para ele. As montanhas, os vales, os oceanos, tudo lhe pertence, porque ele afirma que assim é.

O homem mata os pássaros, os veados, os peixes, porque de certo modo. Julga que também é dono deles. Estão nas suas terras. Seu rio. Sua lagoa. Quem já ouviu dizer que uma marmota ou um pato de asas azuis tivesse direito de propriedade sobre terras ou lagoas? Que direito têm os peixes aos lugares onde desovam, os pássaros aos pontos aonde vão buscar comida, ou o urso pardo à sua toca, quando contrariam os desejos

do homem ou o seu direito de ganhar dinheiro? , ..O. homem diz "Mas nós estamos pro- curando defender essas coisas. Vejam as nossas leis de conservação, os par- ques onde os animais vivem sob nossa proteção...", . .

Apesar dos pesares, o que sobra de . tudo isso é a Imagem de uma fauna na- tural metida numa garrafa bem arrolha-

. da e exibida numa espécie de imitação da vida. Se tenho vontade de ver um pato de asas azuis, um crocodilo ou um porco-esplnho, basta assinar um com- promisso à porta de uma dessas estufas engarrafadas e sair por ali olhando aque- les, exemplares "vivos". Mas, fora dali, a' Natureza está sendo completamente despojada dos seus direitos.

Penso que a "propriedade" ó um di- reito inerente, a tudo que vive na Ter- ra, se alimenta dela e dela depende para

viver. O homem não tem o direito de destruir essa fonte de vida para as ou- tras espécies. Pode ou não compreender quais são os seus direitos e responsa- bilidades em relação ao "domínio sobre a Terra". Mas, se não tem essa visão, não deveria ser capaz de exercer esse domínio.

(De "Herald Tribune", Sarasota, Flo- rida) . Divulgado pelo Departamento de Conservação Ambiental — FEEMA

À Margem

do Espelho

ROBERTO REIS

Daqui de minha capa vejo uma mu- lher pentear seus longos cabelos negros. Ela fica diante do espelho, penteia-se, vai até a janela, olha para os garotos jogando bola em algazarra na rua, vol- ta para o espelho, desfaz o penteado- com a escova e pehteia-se de novo.

Observo que ela fica pacientemente retirando os fios que aderiram aos pe- los da escova, enrola tudo num novelo e procura o banheiro para jogar na la- trina. Retorna então para diante do es- pelho, admira-se, faz trejeitos para se convencer da própria beleza e penteia- se. Nessa operação ela passa seu dia. Lembro-me que certa noite me dispus a ver se ela penteava os cabelos para sair de casa com algum homem, o que justificaria o interminável pentear. Mas não: ela penteava fazia a bola com os fios que retirava da escova, ia até a sala onde se assistia televisão. Pouco depois estava plantada no espelho — cansado já de refletir sempre a mesma figura.

Houve uma tarde porém que ela se excedeu. Com o binóculo pude ver que ela começava a ficar careca. De tanto se pentear, seu cabelo Ia se acumulan- do na escova e acabava desaparecendo na privada. Continuou se penteando, até que foi para a escova o último fio ne- .jro de sua cabeleira. Deixou o braço sair ao longo do corpo, a escova presa na mão, olhando para o espelho. For- migas começaram a passear sobre sua cabeça calva, tateando a planície lisa e difícil de pisar ganharam seu corpo e ao cair da noite a mulher era um for- migueiro em frente ao espelho.

Cansado de observar, saí da janela. Ao guardar o binóculo senti uma cocei- ra no olho. Quando a coceira passou eu tinha três formiguinhas andando na mão.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 22 Página 5

CRIME NA

CATEDRAL OTTO BUCHSBAUM ]

O teatro dü Europa medieval nâo se limitou ao perio- úo histórico que se denomina Idade Média. A chamada ■Renascença foi um fenômeno que atingiu as camadas cul- tas, assim facilmente o teatro medieval, com base no es- pirito dominante nas classes populares, penetrou Renas- cença e Idade Moderna a dentro, influenciando ainda pro- fundamente trdo teatro posterior.

Ne BCSSO século, dentro do espirito de abertun, para uma renascença das formas, o teatro medieval ressurge ■de diversos maneiras e mostra as vezes as suas influências nas peças mais renovadoras da nossa dramaturgia. O tea- tro épico de Erecht mostra nítidas afinidades, na forma c na concepção. No expreísionismo, no teatro de 0'Neill, de Claudel, os traços de mistáriof; e moralidades reapare- cem constantomento.

T. S. Eliot o grande dramaturgo c poeta anglo-ame- ricano, que marcou profundamente a primeira metade do nosso século cnm sua vigorosa presença, criou com «CRI- ME NA CATERAL-> (Murder in the Cathedral) uma peça íjue une ar- formas de um teatro poético moderno c um coro com raízes na Grécia antiga a nm espírito medieval poderofü e convincente. Não se trata apenas de uma te- mática medieval, quando baseia ;:eu drama no episódio histórico do assassinato de Arcebispo de Canterbury Tho- mas Becket em 1170 a mando do rei Henrique II da In- glaterra. Além do lema, renasce o espírito. O conflito entre o poder do Estado e o poder espiritual, a violência, o mar- tírio, mostram-nas uma visão medieval da busca do abso- luto, e ao mesmo tempo conseguem discutir problemas eter- nos, sempre atuais.

Atravis de alguns trechos queremos dar uma ligeira visão desta peça tão vigorosa, tão comovente.

Já, na segunda parte da peça, quando se sabe que o rei Henrique II mandou quatro cavalheiros para Canterbu- ry para matai- o arcebispo, os padres, querem fechar as portas da igreja, para proteger-se c proteger o arcebispo ameaçado. Mas este diz:

Tíiomas Becket: Tirem as trancas da psrta, escancarem as portas! A casa da oração, a igreja de Cristo, o santuário, não quero transformar em fortaleza. A igreja deve acolher e proteger os perseguidos, conforme seu uso, e não ser como madeira e pedra. Pedra e madeira se desfazem, quebram c racham. Mas a Igreja permanece. A Igreja deve estar aberta, mesmo para os nossos inimigos. Abram as portas!

A porta é aberta. Da cavalheiros entram, um pouco em- "briagados e falam de maneira zombeteira. ■Cavalheiros: Onde está Becket, o traidor

o arrogante padre romeiro? Daniel vem na cova dos leões, Daniel vem, eu marco o cordeiro. Marcaste a testa da vítima? Foste lavado no sangue do cordeiro? Daniel vem na cova dos leões, Daniel, vem dançar o dia inteiro.. Onde está Beaket, o infiel bastardo? Onde está Beoket, o padre romeiro? Daniel vem na cova dos leões Daniel, vem dançar o dia inteiro.

Thomas Becket; o justo deve i Ser um leão, sem medo, sem temor. Eis-me aqui Nenhum traidor! Um sacerdote, Um cristão, resgatado pelo sangue de Cristo, Pronta a sofrer no meu sangue. — Eis para todo sempre a rubrica da fé, A rubrica do sangue. Sangue por sangue.

Seu sangue foi dado, para comprar minha vida, Meu sangue é dado, para pagar Sua morte. Minha morte por Sua morte!

1' Cavalheiro: Resgate todos que excomungaste! 27 Cavalheiro: Devolva todo poder que usurpaste! 3' Cavalheiro: Devolva ao Rei o que lhe tiraste! 4' Cavalheiro: Renove a obediência, tu, que te rebelaste! Thomas Betket: Deus, meu Senhor, chegou a hora...

Paz e Liberdade para a Sua Igreja. Façam a mim o que quiserem, para vossa vergonha e vosso dano, Mas a minha gente. Em nome de Deus, Não toquem, Nem leigos nem padres, Eu proibo!

Cavalheiros: Traidor! Traidor! Traidor! Thomas Berket: Tu, Reginaldo, és três vezes traidor;

Traidor contra mim, como meu vassalo Traidor contra mim, teu bispo consagrado Traidor contra Deus, como profanador do d mo!

1- Cavalheiro: Não te devo nem fidelidade, nem graça.

Renegado! Aqui te pagarei o que te devo! Os quatro cavalheiros avançam contra o arcebispo e o as- sassinam. Enquanto isso ouve-se o coro: Coro: Limpem o ar! Varram o céu!

Lavem o vento! Tomem pedra por pedra para lavar! O país está podre, a água está podre, Todos estamos manchados de sangue. Uma chuva de sangue me cegou. Onde está a Inglaterra? Onde está Kent? Onde está Canterbury? Ficaram longe, longe no passado. Caminho pelo campo cheio de espinhos e galhos secos! So quebro os galhos — eles sangram Caminho pelo campo e toco as pedras — elas sangram. Como acho a volta para os tempos, tranqüilos na paz? Limpem o ar! Varram o céu! Lavem o vento!

A peça de Eliot termina com um diálogo entre três sa- cerdotes, onde se vislumbra o desfecho da história. Tho- mas Beoket é Santo e Mártir e o sangue que profanou a catedral é sua nova sagração.

A história, isto Eliot não conta mais na sua peça, também fez justiça a Thomas Becket. O clamor do sangue derramado, junto ao altar da catedral, comoveu todos, Hen- rique H recuou diante do horror do povo e a repulsa do mundo cristão. Mandou prender os assassinos, mandou emissários ao Papa, prometendo aceitar quaisquer penitên- cias. Diante do silêncio do Papa, resolveu ir a Canterbury como peregrino e penitente. Os últimos 5 quilômetros ca- minhou descalço com os pés sangrando no cascalho. Dian- te do túmulo de Thomas Beaket se ajoelhou e pediu aos monjes que o flagelassem, suportando resignado as ver- gastadas.

A peça de T.S. Eliot não conta este desfecho histó- rico. Para o dramaturgo, ivsta peça tão imbuída do espí- rito medieval, este detalhe não tem importância, não acres- centa nada. No trecho final um dos sacerdotes diz: «Mais forte se torna a Igreja, ela triunfa nas aflições, quanto mais é perseguida, enquanto alguém morrer por ela, dando seu sangue, pelo sangue de Cristo — e a própria escuri- dão presta testemunho diante da glória da iuz.»

O presente artigo tem como base a obra em elaboração «HISTOBIA TO 1JA- TRO MUNDIAL» de Otto Buchsbaum, que estamos publicando em capítulos desde o primeiro número, que iniciou com «Raízes do Teatro» e «Teatro, To- tem e Tabu.»

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Página 6 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N9 22

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Brusque (SC) para o Brasil e o Mundo. Dirigido por um grupo de jovens — des- taca-se entre a imprensa alternativa, marginal — que tantas colaborações tem dado a um Brasil criativo, na luta por uma "NOVA CONSCIÊNCIA", ou como nossos Irmãos argentinos dizem, uma NUEVA SOLIDARIDAD. Assinatura anual CrS 20,00 — Caixa Postal 179 — 88350 — Brusque — SC.

Rock-o-Cock Rock-o-Cock, o Rock-Galo rococó, muito adoidado, disposto a acolher colaborações de todos os tipos, poesia, prosa, desenho, comentário, aforismo, ou o que mais der na telha. Davi Alonso e Betí-da-Costa coordenam.

Símbolo do Cristal VERGILIO AI.BEKTO VIEIRA

(Portugal)

SOL DO SUL MARCUS MENDRA

Convoco o fogo i-ara a respiração

o cristal (Ravel)

Sob o arco em Maio elementar

arde

Cercam a nudez os espelhos

(Visconti)

Como um vinho decepado

assiste *

Fixam-se Nos olhos

;.ob o fogo

Ciogiafia do cristal <

leva-me um vagar de lesma

adensa o combate na íris

enfurece verde

as serpentes

sub

lf\:Mk

Ce eu não falar, vou scfrer, c a verdade que sei. Não po;EO mais esquecer das coisas que eu passei. Perdão América, eu vou dizer, não sou escravo do seu poder, Amém América, eu vou viver.

Terra de Deus, céu o mar, a coisa vai sem ter fim. Xinguem parece notar, eu sinto e penso assim. Perdão América, eu voa dizer, não seu escravo do seu poder, Amém América, eu vou viver.

Sob o scl do sul, o céu é mais azul.

Migalhas vem para mim, fortunas vão pro patrão, pcrisso eu acho ruim ver meu trabalho em vão. Perdão América, eu vou dizer, não sou escravo do seu poder. Amém América, eu vou viver.

COM OS OLHOS NA MADRUGADA Crepúsculo WSSSí

Celina Bittencourt Nepomaceno

Nessa noite longa, nossa noite curta; não se contava o ponteiro por horas, có se mediam os minutos.

Mas tão pequeno era o tempo para o imenso que trazias, que meu corpo à tona dágua angustiado de silêncio, era barco abandonado com os olhos na madrugada medrosos de ver o dia.

Alcançado o porto ancorado à meta, atadas as cordas ao longo da aurora, retomo meu corpo, ponho cs pés na terra, desfaço meu sonho e volto ao que era.

DO LIVKO «BEIBA SOMBRA «EDITORA ARTE NOVA»

iNTERMEMA A QUARTERLY INTERDISCIPLINARY JOURNAL OF THE ARTS, OF RESOURCES & COMMUNICATIONS, BY AND FOR THE COMMUNICATOR/ARTIST. 2431 ECHO PARK AVENUE LOS ANGELES CA 90O26'

ALCIDES BUSS

Lampião vermelho-de instalou-se n'horizonte,

deferindo tinturas de prazer, cor d alma.

A fábric oportur.ou pra libertar seus hom's. — Estás livre. — Até a-manhãd'amanhãdemanha.

As ruas dispararam em poli-direções. As pedras rolar :am e ninguém olhar-olhou o pássaro — a paz — passando.

Lampião caído, lamparina, arrastou o poente, afundando afundando

A mensagem perdeu-se, denegrida.

Alcides Buss, poeta catarinense, es-- tabelece na introdução de AHSIM, que buscou em «Cobra Norato» de Raul Eopp, um ponto fixo de partida. «Lá adiante — o silêncio vai marchando com uma banda de música — Floresta ventrílequa brinca de cidade» diz Raul Bcpp, e Alcides aceita o espaço urba- no e suas limitações para «brincar» e também para questionar.. .

No poema acima que tiramos de AHSIM verificamos como o poeta ma- neja palavras e imagens. São hcm's que a fábrica liberta até um amanhã que se estica no sono da exaustão, ninguém olhar-olheu, talvez nem olhará — o pás- saro — a paz.. .

AHSIM é um retrato, de visões que se juntam, num mundo desconjunta- do . . . Ainda bem que não é AHNÃO.

AHSIM — Alcdes Buss — Editora Lunardelli — Rua Victor Meirelles, 28 — Florianópolis.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 22 Página 7

O que é o Esquema? Estamos no século da comunicação,

da transmissão de informações. No mundo inteiro o estudo global dos

meios e mecanismos de comunicação se intensifica e as ciências de informação se destacam cada vez mais nas univer- sidadeL. Todas as formas pelas quais se processa uma informação de qualquer espécie, é estudada e sistematizada, assim, fala-se atualmente, em lingua- gem da televisão, do filme, dos objetos, da moda, da publicidade, da ação, etc, linguagens que por intermédio dos seus meios específ.ccs transmitem uma in- formação televisiva, filmica, publicitá- ria, ve;rimentária etc.

O esquema não é outra coisa: Uma linguagem, que como toda linguagem tem 03 céus próprios signos, suas re- grar: de eintàxe, réus códiges, seus rela- cionamentos etc.

Na França formou-se um grupo que i eúne f fpecialistas no assunto — Geor- ges Matcre, Abraham Moles, Jacques Eertin, Gilbert Bevllle, Robert Estivais e Pran^ois Moinar — que editam uma revista chamada «Schéma et Schématis- ation:> em cujo primeiro número encon- tramos as conceituações fundamentais do esquema, como meio de comunicação. Abraham Moles o define como «uma representação simples e abstrata de um fenômen ; ou de um objeto» e Jacques Bertin como «a expressão visual e ló- gica de uma informação», ambos cons- tatam que se trata de um ato de cemu- nicação, que depende de um emissor do esquema e de um receptor que o «lê» e compreende na medda que os seus re- pertóries de signos utilizados coincidem, e derde que as regras de sintaxe, pelp qual os cignos se combinam, são de co- nherimento mútuo. Assim quando um eletricista instala um circuito elétrico num edifício, seguindo as instruções de um erquema feito por um engenheiro ou projeter, realiza um ato de lingüís- tica semelhante ao que você realiza len- do esta nota.

O esquema constitui uma redução sis- tematizada do pensamento: «Vale mais um brm esquema que um grande dis- curso;; já dizia Napoleão. Muitos psicó-

CLEMENTE PAD1N

legos costumam atualmente estabelecer como avaliação da inteligência a capa- cidade de sistematizar o pensamento e os conhecimentos. Existem inúmeros ti- pos e categorias de esquemas o as ma- neiras de esquematizar um fenômeno ou um cbjeto são infinitas. Neste campo Moles estabelece uma classificação de acordo com o grau de identificação de- crescente, quer dizer r.a medida que a imagem desaparece e ocorre a substit- tuição por símbolos, da mesma manei- ra, a classificação corresponde ao grau tíc abstração do esquema (por exem- plo: uma fórmula química é mais abs- trata que um mapa). Assim descreve 12 graus de identificação decrescente, o que coincide com uma abstração cres- cente.

1) O modelo bi ou tridimensional no tamanho original.

2) O esquema bi ou tridimensional reduzido eu aumentado (globo terrestre, maquete).

37 A reprodução fotográfica realis. ta num plano (foto, ilustração).

4) Desenhos ou fotos (com reprodu- ção seletiva da realidade).

5) Esquemas anatômicos, de constru- ções ou paisager.-s. (mapa, sistema ner- voso do homem).

6) Esquema que mostra a situação er.r perspectiva das peças ou elementos de um objeto (diagrama de uma má- quina).

7) Esquema que substitui os objetos p.-.r seus símbolos (um plana viário com fignos e convenções".

8) Organogramas (relação hierárqui- ca dos funcionários de uma empresa).

9) Esquema formulado (fórmulas químicas, sociegramas).

10) Esquemas de espaços comple- xos. (Estatística' gráfica).

11) Esquemas de espaços puramente abstratos e esquemas vetoriais. (Gráfi- cos vetoriais).

12) Fórmulas algébricas. O volume excessivo de informações e

a necessidade de sua transmissão exa- ta a possíveis receptores tem feito do esquema um meio cada vez mais apli- cado na comunicação.

Los Gestos Tardios AUN ALBERTO JOSÍ! PEBEZ

«... con ei destino enfrente como un árbol.»

JESUS SERRA

Desespero con Ia mirada fija en lec gestos tardios de un scl

desespero con ei peso de un fuzil imaginário sobre mis espaldas

quiero romper todas estas cosas que nublan mi vista

quiero sentarme y extender Ias manes hacia lugares lejanos

sentir que Ias campanas se desprenden dei templo

voltear y ver Ia gente caminando tranqüila

desespero cada vez que mis pies se alargan para pisar solamente ruínas yo sueno despertar con ei rostro iluminado.

Do livro «Los gestos tardios» do poe- ta venezuelano Alberto José Perez, pu- blicado r.o ano passado. O poeta dirige a revista ICAM — Urb. Manuel Palá- cio Fajardo, Bloque 4, Edif. 01, Apto. 0302 — Barinas — Venezuela.

CONTEMPLAR

LOS GIRASOLES MAKGARITA DURAN

Y sigo Atravesando Este Rompecabezas de canrnoa A mi espalda Crujen ramas doloridas Como ninoc gigantes

Extraviados En Ia feria A los oostaãos Un turbio espantapajaros Ahoga los himnos libertários En ei fondo De los charcos sucios Deje caer Hace tiempo

El amor que mintiercn Ias barajas Mi frente

Cansada de muros y fortones Aguarda Aun

Contemplar les Girascles

Do jornal alternativo argentino RADENAI (que significa sol na língua tarahumara) do Alternativo Press Syn-

dicate (APS): RAIENAI — San Pa- trício, 49 — Tempcrley — 1834 — B.

As. Argentina.

Ilustrações 1 Mapa de uma cidade esquematiza- da (Amsterdam) Grau 5. ?.) O desenhista pode combinar graus de identificação e abstração para facili- tar a compreensão do esquema. No ca- ;.o, ao organograma, juntam-se elemen- tos do seciegrama. Grau 8 e 9. 3) Esquema de um instrumento elétri-

co, cujas funções estão representadas por flechas pretas. Grau 8.

* * *

Vamos poder contar com a colabora- ção regular de Clemente Padín, figura representativa da arte de vanguarda latino-americana, editor de «OVUM», revista de arte internacional, para con- tatos: Lindoro Forteza, 2713 Apto. 3 — Montevidéu —■ Uruguai.

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MUDANÇA OTTO BUCHSBAUM

rarede.;; brancas, um pouso manchadas, na sala uma mesa comprida, dois sofá-camas para cinco crianças, uma televisão meio rouca, tremelicante, para todos.

Uns cadernos rabiscados, precisa estudar, aprender, ajudar o pai, que anda cansado, mas anda — e a mãe que cansou lavar roupa mas lava.

A denúncia é vazia. Para onde levar os trecos? Ou tratar de ficar com aumento e tudo? Aumento do aluguel que já é um dinheirão? Difícil escolher entro vazio e vazo, denúncia eu pratos.

Treccs na rua no caminhão que ronca para Icnge, ;irrsnjar casa, escola nova pra criançada toda.

Tirar da parede a Santa Ceia, Crista quebra o pão, mas alguém já pensa, na denúncia vazia dos trinta dinheiros.

Seu moço! Não vá quebrar o quadro, é Cristo na Ceia, a madrinha que deu.

Seu moço! Cuidado! O armário já tá velho, de perna bamba, não vá quebrar.

Trecos amenteados criançada por cima,

. caminhão bem cheio vai para longe.

A denúncia é vazia, as paredes estão nuas, lá no centro um claro onde a Santa Ceia estava, Cristo para cs apóstolos quebrando o pão.

«SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA> C longo o caminho do caminhão.

E na cozinha, ladrilho quebrado, torneira que pinga. Ô que milagre! No chão solitário deixado prá trás um grão de feijão!

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Página 8 ABERTUftA CULTURAL — ANO 2 N? 2^

0 Berranteíro JOAQUIM JOSÉ MIRANDA BORGES

Boiada caminhava lentamente, mar- cha normal. Poeirão. de feição de nu- vem vermelha, da quadra da seca. Pon- teiro vai executando o berrante, ecoando nas lonjuras das quebradas. Gado obe- decendo o toque. Acompanhando. Uma ou outra rês mais lerda desaparta da ma- nada. E vai se escarafunchando nas moi- tas de japecanga ou de gravata. Berran- teíro é um Neca Pintassilgo. Nsscido e criado das bandas da Campina Verde. Curtindo na profissão de tocador de boi desde idade de doze anos. Só de guia de boiada e tocaçãs de berrante tem pra mais de cinco anos. Fora os tempos pra trás, de peão tocador e buscador de ar- ribada.

Viagem de agora principiou no Carmo, da beirada de cá do Paranaíba, sendo uma leva de umas duzenías cabeças de um Seu Antônio Rodrigues, que virou de aumentar no Patrocínio. Emendação de mais quinhentas novilhotas de Nenen Constcntino. Rebanho inteirado, destina- ção de Barretes. Pouso de boiadeiro, ar- rodeando cidade, dá em cachaçada. Ca- pataz, um Osvaldo Antunes, firma de presença no acampamento, na vigiação do gado. Peonada, no após o banho, se esparrama na cidade. Geraldo Quem- Quem, Bira e Louva-Chuva deram de es- barrar direto na zona. Negro Venceslau, mais Darcisão, botam prazer maior no carteado e na bebeção de pinga. Os co- pões lavrados. De riba do risco. Neca Pintassilgo, questã mesma de gênio, se desagrega de enturmação, vagando so- zinho na rua. Indo quietar-se na lousa do banco da praça. Passação de gente. Mundéu de luzes. Das cores diversas, fuscando a vista castigada já, da poeira do estradão. Curriola de moças. Desfi- lando de penca. Braços dados. Passan- do. Neca espiando, canivetão amolado. Roletando toréu de fumo. Palha de tre- meio os dedos. O vai-vem. Ele assun- tando. A passarela. As donzelas. Pas- santes. Só de distração. De vez que o sentido mesmo voava longe. Na lembran- ça do pretume brilhoso dos olhos de Maria lida.

Formosura de Maria lida destoava do comum da mulherada da Vila Rosário. Trem fulgentoso de atrença. Corpo chon- chudo. Nos torneamentos da natureza. Pele viçosa. De carnadura sensual. Cor que não era puxada em brancura. Nem definida em morenada. A cor mesmo dela só. Vigia que foi numa incerta via- gem, boiada imensa acampada de roda da vila, Neca Pintassilgo, vagando, ab- sorto, no traçado desigual da rua, sor- teou de relampiar os olhos nos olhos de- la Debruçada na janela da casinha caia- da, ela pojou de flertação, trem de en- cantamento e sedução. Que acompanhou o moço berranteíro no restante da via- gem.

No correr de três meses, contratou de ponieiro-guia, missão de conduzir boia- da de Diogo Basilio, passagem forçada na Chapada do Rosário, donde vingou de topar, de novo, com a fascinante cria- tura, impregnada no seu viver de sonho. Curta prosa. Vergonhosa. Entrecortada. Mãe dela, uma Dona Teresa Ló, tremura, debaixo da bruxaria da beleza da moça, Neca não se atreveu de maior Intimidade, ficando só principiado compromisso de namoro. No desatino de escolher itine- rário, na fiúza de querer sempre esbarrar na chapada, razão de gozar presença de Maria lida, beranteiro repassou as quan- tas comitivas existidas. Na volía do ano, firmou compromisso de noivado. Intimi- dade aumentada. Amor evoluído na cha^ megação. Nos promelimentos de primi- cias. Viajação continuada. Gado das bandas da Chapada do Rosário via ra- teando, conforme a temporada, resulian- do de prolongar visiia do Neca, minguan- do os privilégios de noivação.

Da vastidão de terras da Chapada do Rosário, se colocava, de dono maior, um Seu Viriato Pereira, de cuja limitação da fazenda, abrangia da volta da Serra Cor- tada aié a Barra do Ribeirão das Antas, extensão de mais de oitocentos alquei- res. Quantidade de gado. De cria e de engorda. Se esparramando na distância desse mundo de chão. De jeito de manter as burras do fazendeiro atochadas de dinheiro. No diário. De custear seus prazeres e desatinos.

Já fugia pra mais de quatro meses que Seu Viriato vinha perseguindo, com olhos de cobiçamento, os encantos de Maria lida. Desde a topada na venda do Slrie- ma, quando firmou reparo em riba do traçado cscultural de seu corpo de lan- guidez e formosura. Inútil foram os ex- perimentos nos usos da cafeíagem de Dona Manuela do Cabo. Presenteacão de leite a à Dona Teresa Ló, também não ajudou de aliciar a filha. Corria na vila que a menina Maria lida ardia de paixão por um moço berranteíro. Que nas qua- dras de passagem de comitivas de boia- das, ele chegava se desgarrar da com- panheirada, rnode ficar com ela, de um a dois dias, nos cumprimentos do amor. Mo:ivo da recusa da moça, do mereesr casa chique no vila, cortinado de seda, vitrola e os pertences de pompa, das mãos de Seu Viriato. Se Inteirado da razão da recusa, foi que o fazendeiro deu de remoer plano dé afastamento de berranteíro do destino de sua preferida.

Ocasião, boiada de poso de roda da vila, Cabo Asíolio, de dupla com Geral- dão Saldado, tenção armada, a soldo de Seu Viriato, solenizaram intimação de Re- vístemento de riba de Neca Pintassilgo, bem no bradame da porta de Dona Tere- sa, na presença de moça Maria lida, ar- quitetação de humilhar o boiadeiro. Mo- radores, espiando de portas e janelas. Cabo Astolfo desarreou o moço da goiaca e do revólver trinta e dois, passando ameaça, ainda por cima. Sem deslindar o fio da tramação, berranteíro nem opôs resistência. E continuou a conversa, ainda um tempínho. Depois da retirada da polícia. Que se despediu. Saiu an- dando pela rua. Puxando o cavalo. Di- reção da delegacia. Satisfação do acon- tecido o militar não quis se dar à gentile- za. Neca achou de participar aos com- panheiros o sucedido. Foi que os peões se juntaram. Se puseram de armar mu- tirão e ganhar o rumo da delegacia. Jun- to do companheiro, partiram. Foi o cor- re-corre. Zup-zup-zup. Povo correndo nas ruas. Pra dentro das casas. Peonada a cavalo. Na meio da rua. No trote. Poei- ra levantando. Cabo Astolfo, de dentro do compartimento seu, dele, grita por Geraldo. Reforço de auxílio. Geral-

.dão, vendo o grosso da boiadeirama, to- do mundo armado, avia de ponderação. Bando de peões, sacando as armas. Chegava relampiar. No sol da manhã.

Povo olhando. Só nas gretas. Cabo e soldado engullndo seco. Cavaleiros che-

gando. Trac-trac. Manobração de cartu- cheira. Vem descendo um menino. Pu-

xando um jegue. Engarup&do de manli- mentos. Vendo o alvoroço, abandona o

animal e saí correndo no rumo da venda. De dentro de casa, Dona Teresa e Maria lida presenciam, desatinadas do pior.

Silencia na rua. Um ou outro latido de cachorro. Só. Aí, que Esmeraldo dá o

sinal. Se deu o fogaréu de tiro. Todo mundo atirando duma vezeda só. Reben- tando o telhado da delegacia. Os esti- lhaços. Cabo Astolfo e Geraldão princi- piaram gritar por misericórdia. Vences- lau ordena o cessar-fogo. No meio,da fumaceira, grita: ■ '

— Adervorve a arma, meganha!

De imediato. O cabo foi jogando pra fora o revólver de Neca, com goiaca e tudo. Peonada deu meia-volta. Rumo da comitiva. No assentamento da fumaça foi que o povo se encorajou de sair à rua. Num quarto de hora a bolada ganha- va o estradão.

Viagem de Neca transcorreu benfazo- ja. Atinando no solidariedade dos cama- radas. Justo o Esmeraldo. Foi quem teve a idéia do desagravo. Era difícil, agora, até chegar perto dele, cingir de explicação, pedir desculpa da questã da Lagoa Dourada. Ele mesmo, o Esmeral- do da briga, quando ele e Neca se agar- raram de luta no espraiado do acompa- mento, regada de bebedeira. Companhei- ro chamando ele de ladrão, motivo de jogo de cartas. Brigados e de banda um com o outro. Sem meio de conversa no correr de duas viagens. Vem o mesmo dar prova de boa tenção, principiando o desagravo da Vila do Rosário.

Cabo Astolfo e Seu Viriato se puseram de maquinação. Mister de arquitetar desforra. Maria lida segurando propósi- to de donzelice. Cultivação de amor. Vol- ta de Neca demorou de cinco meses. Dosensofrido de saudoso. Cavalo sua- do, atravessando a rua, na vila, cruzou com a pessoa de Cabo Astolfo, cara de ódio ysprivitado. Fez de esquerdo. Pas- sou direto. Noiva recebeu ele no feste- jo do sempre. Coisa assim. De perdição de amor. De saudade. De juração de- sembestada. Já na planejação de casa- mento, foi armado o enchouriço de Intri- ga. Mandado de Seu Viriato, Turco Sa- lem, mascateador de estrada, em noite agourenta, despedaçou a pureza do sen- timento de Neca. Com futrica Inventada, de pôr em dúvida a honra da moça Ma- ria lida, que no dizer do malsinado. ela andava de coito e mangação com um certo Reqínaldo, chofer da firma de um Geraldo Pereira, do Araxá.

Scssegamento de idéia, Neca não go- zou mais de ter. Formigamento da dúvida devorando o juízo do moço. Conduzindo o desleixamento de demora nas idas à Chapada do Rosário. Bebeção de pinga dava de amolecer o rijo da saúde. Repi- cado do berrante saía desentoado. De- mudado no proceder e na convivência. Companheirada chegava comentar o vi- ver de bestagem do berranteíro. Até que não conseguiu mais sujlgar o pensamento e partiu sozinho, procurar Maria lida e esclarecer o trem. De uma vez e sempre. Chegado na vila, coragem não vinha. De- sapeou na Venda Azul. Beriquiíou o íempo. Arrumando as Idéias. O termo de se usar na hora. De apropriado. De não melindrar a noiva. Foi que Seu Viriato, presente na vila, recebeu recado dando conta da presença do berranteíro. Jul- gando o pior, de seu intento, julgou que o integramente do Turco Salém não tinha vingado de desmanchar o laço amoroso dos dois. Riscou de galope, direção da delegacia. Conversa de dois, com o ca- bo.

Neca Pintassilgo sentado na saca de arroz, no tristesse, reinando. Quando re- parou. De dentro mesmo do brilho dos olhos do Ziquita da venda. O jeito dele olhar a rua. Adivinhou a novidade. Tres- leu o trem. Foi só o tempo. Dele se le- vantar. Cabo Astolfo, distância de cinco braças, na rua, abriu a matraca do pa- rabélum. Fogo arrancando feita do portal, arrebentando garrafa nas prateleiras. Ne- ca tomba, com um balaço na perna. Dei- tado, de onde caiu, sacou. Num tiro só,

acertou o soldado no peito. Na confusão

de gente, tropel de correria, atinou de

manquejar até o cavalo. Fugindo no

qteníe da surpresa.

Desguarítando-se, de galope, ganhou

o rumo do Paracatu. Fervilhamento de

povo curioso na vila. Seu Viriato, man-

dando mensageiro. Despacho de telegra-

ma de urgência, para se postar na Es-

tação do Zem, avisando o batalhão de

pclícía da fuga "de cruel assassino do

honrado comandante da polícia de Vila

Rosário".

Desaquartelada dos Patos, seguiu cap- tura de oito soldados e um tenente. Na quentura de dois dias do incidente, Neca fugia, descabreado do ocorrido, cortando volta dos povoados. Na encruzilhada do Unaí, destorceu do caminho, se embre- nhando no cerrado de pau baixo. Re- bentando cerca no tranco de coronhada. Terceiro dia de fuga, cavalo aguado, de- satinou de se apossear de fogoso aiazão que pastava solto numa baixada. Foi que pegou o bicharedo no laço e transladou a arreata, deixando seu velho ruzio no lugar. Meio de paga do malfeito. Ga- nhou de novo o rumo dos gerais. Co- mendo resta à-toa de farofa, inteirando com araticum do mato.

Captura cavalgava avexada. A perse- guição sanguinária. A vingança. O brio da farda. Notícia de telegrama repican- do em tudo que era fio do telégrafo. No sertão inteiro. Tenção de Neca era amoi- tar no inóspito lugar da Serra das Araras aonda se dizia nem Deus não andava. De esquisito e distante do mundo.

Na idéia do Neca o repasse da bre- jeirlce de Maria lida. Ela sorrindo den- gosa. Caminhando em direção dele mesmo. Alazão cortava chão de rédea solta. Da moda de sabedor da persegui- ção. Pensamento de fugitivo voltava a vagar. Agora, a comitiva de bolada. Companheirada alegre, cantando toadas. Os pouses de beira de cidade. Os diver- timentos. Pagodeira. Brigalhadas na zo- na. Cachaça rompendo o juízo, condu- zindo os pescoções e pernadas. Sopra- do do berrante. Gadão acompanhando. Peonada gritando. Maria lida, de volta,, povoando o tino. Seu Viriato, portento- so. Gritando com o povo na rua. No dia da confusão. Que resultou na morte do cabo.

Na travessia da pequena cabeceira, Neca desapeou. A beirada d'água. Deu de beber ao animal. Buritizão frondoso. Esparramando frescor de sombra graúda. Beiços ressequidos de sede. Cavaleiro fez menção de se agachar, pra beber. Quando Irrompeu o tiroteio. Saído de dentro da capoeira. Coisa de dez braças, do lado de lá. Daí que o moço berran- teíro nem teve tempo de beber, nem de- responder aos tiros. Caiu, estrebuchan- do na areia molhada, varado por des- gracenta chusma de balas, de todo cali- bre. Fuzil. Máuser. Parabèlum. No re- puxar do estertor da morte só viu a fi- guração apagado de Maria lida, que se esvaía no relance derradeiro...

* * *

O Conto "Berranteíro" faz parte do

livro ainda inédito Gabrilão Sole de Joa-

quim José Miranda Borges. Berranteíro-

ó quem loca o berrante, a buzina de chi-

fre que se usa para tanger o gado. Para.

o citadino médio, pode de início parecer

que se trata de uma linguagem de en-

tendimento difícil. Mas em leitura aten-

ta, a dificuldade desaparece. Pelo con-

trário, o linguajar regional mostra-se em-

toda sua riqueza. Com nossas cidades:

inchando e transbordando, pode-se jul-

gar, que aí, nas ruas de tráfego conges-

tionado, nas multidões anônimas, nas

frentes fechadas dos edifícios, ou nos subúrbios cinzentos, cidades-dormitórios mal-dormidas — se encontra hoje o Brasil Real. Quem acredita nisso com bese nas estatísticas que dizem que as populações urbanas ultrapassam em nú- mero as rurais, ignora vários fatores: Nas populações metropolitanas, quantos não são apenas refugiados de roças sem fu- turo, de terras amadas, mas ingratas? E nas populações urbanas, das cidades do Interior, as tradições rurais tem ainda plena valia. A pergunta "onde está o Brasil Real?" traz consigo uma outra: onde' nosso país pôde reenconírar-se?

O "Berranteíro" foi tirado de Conver- gência — Revista da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Caixa Postal 46 — Uberaba — MG.

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ABERTURA CULTURAL ANO 2 N? 22 Página 9

MuKos invernos já so passaram, quem sabe quantos, conianco as bagas de dois punhados bem cheios OJ talvez mais, quando na Nação Lakota havia um me- nino chamado Ramawi. Era filho único do chefe Wiankee e da sua mulher Yuki. Ambos eram generosos, amáveis e cora- josos.

As tendas do chefe Wiankee eram umas vinte reunidas casualmente e es- tavam situadas nos campos de verão, porto da confluência do córrego Amaha e o Pequeno-Rio-Branco, nos vales das Mcntanhas-Verdes. Fora um ano muito bom, com grtndes caçadas de búfalos nas pradarias densas de pasto, tendo a leste, bem atrás, o longínquo riacho Ro- sebud. Em toda parte, as bagas estavam amadurecendo, e tinha muitos nabos. Por isso havia festas quase todos dias nos campes do chefe Wiankee com mui- tas visitas de parentes vindos de outros acampamentos espalhados rio abaixo e acima, nas margens do Pequeno-Rio- Branco.

Muitos meninos, amigos de Ramawi tinham dez invernos ou por ai em idado e geralmente ficavam juntos durante as visitas. Os Lakoías mais velhes consi- deravam muito arriscado diexar esses rapazinhos experimentar temerárias proe- zas dignas de nota, próprias de pessoas ilustres e assim esses jovens não acha- vam que deveriam agir como guerreiros responsáveis. Por causa disso ficaram muito travessos, e incomodavam o acam- pamento,, correndo enire as toldas e perseguindo uns aos outros em torno das fogueiras acesas nos crepúsculos, e mes- mo no meio dos outros acampamentos grupos de Lak:ía.

Nas tardes de verão, nos vales das li/!on,.:nhas-Verdes, os ventos, que vi- nham das planícies, não iriam peneirar nas tendas, por isso as mulheres levan- tavam a entrada, apenas cobrindo os cantos para que o vento penetrasse e aproveitassem a fresca.

Naquela época , nas terras arenosas e nas altas paredes calcárias dos ca- nyons próximo ao acampamento do che- fe Wiankee, vivia em muitas cavernas e frestas, a grande Nação dos Arikara, parentes dos Lakota.

Os Arikara também não eram uma ex- ceção e tinham por sua vez o mesmo problema de meninos arteiros, que não paravam quietos, e se metiam censiante- nfento em iravessuras do mau gos!o. Por exemplo, assim que as tendas dos Lakota S3 abriam, os jovens Arikara divertiam-se correndo através do acampamenio La- kota' para encontrar os meninos, deste e persegui-los pelas colinas continuan- do suas correias através das tendas dos Lakotas e dos Arikara. Isso aborre- cia bastante cs mais velhos das duas na- ções.

O chefe Wiankee gostava especialmen- 1e de um Arikara dessa Nação. Era o avô Arikara. Esse Avô Arikara conhecia muitas coisas. Por exemplo quando o chefe Wiankee convidava ele para uma visita, o Avô Arikara entrava na tenda e imediatamente ficava na posição de vi- sita-de-honra, que era totalmente opos- ta à entrada. Somente os Cheyenne e as Nações das Nuvens-Azuis conheciam es- te cestume dos Lakota.

De qualquer maneira, num determinado dia, depois que as formalidades próprias para visitas foram rigorosamente cum- pridas, o velho pai do chefe Wiankee, conhecido como Diewala, levantou o assunto com o Avô Arikara, das péssimas maneiras de comportamento dos jovens destes tempos e como se estavam afas- tando das boas tradições: "É isso mes- mo, disse o Avô Arikara, e recordo-me dos tempos em que ambos éramos jo- vens". Meu neto, ultimamente virou uma praga, barulhento e aríeiro disse o avô Diewala. "Ele ouve os ensinamentos e

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TRADUÇÃO DE FLORENCE BUCHSBAUM

aprende bem, mas esquece cedo demais as instruções quando está junto com seus amigos e a turma da sua idade".

"Ah", replicou o sábio Avô Arikara", a disciplina pessoal, ele mantém consigo e recusa-se a compartilhar com os ou- tros. Nós da Nação Arikara temos os mesmos problemas", ele continuou, "e também queremos restabelecer a ordem o a disciplina entre nossos meninos".

"Penso o mesmo" disse avô Diewala "e por esse motivo eu proponho expo-lcs ao ridículo a fim de mosirar-lhes o re- sultado das suas tolices".

"Meu primo, de fato, uma boa lição seria indicada" disse Avô Arikara, "pro- ponho que planejemos uma, que eles não esquecerão tão cedo".

"Hau" replicou o avô Diewala. "Estou pensando num determinado

sobrinho meu para o nosso empreendi- mento", sugeriu Avô Arikara.

"Também, tenho um neto", replicou Avô Diewala.

E conforme a tarde ia passando, eles forjaram seus planos.

Assim que Avô Arikara voltou às ten- das da sua Nação, à tardinha ele esperou que todos estivessem reunidos antes de ir dormir, aí ele falou num tom de voz que quase todos ouviriam:

"Disseram-me que nos acampamentos dos Lakota, íem uma certa pena que é vigiada por um rapazinho, o valor de- la é muito grande. Eu quero aconselhar que ninguém vá lá importuná-los ama- nhã".

Você nem precisaria ser um Arikara para ter sua curiosidade aguçada a noite toda, com relação àquela pena tão rara. E assim o pequeno sobrinho do avô Ari- kara, já estava vangloriando-se com seus amigos, como ele se iria esgueirar nas tendas dos Lakota e roubar a pena da qual seu avô falara.

"Eu vou roubar essa pena debaixo dos seus próprios narizes", gabou-se, "vou por a correr toda essa meninada. Fi- quem de olho em mim amanhã", ele com- pletou.

Na mesma hora, bem mais longe, na tenda do chefe Wiankee, o avô Diewala estava falando com seu neto: "Ramawi, eu possuo uma pena de águia muito grande. Eu estava guardando-a para o meu reto. já faz algum tempo. É uma pena muito estranha e especial. Por esse motivo eu escolhi o momento para verificar se seu poder é bom ou mau. Amanhã, confiarei a você o dever de vipiá-la e observá-la cuidadosamente".

Ramawi estava começando a sentir-se já como um guerreiro.

O avô Diewala continuou: "Mas você não deverá tocar na pena, sob pretexto nenhum porque poderão acontecer estra- nhas e assustadoras coisas para você".

Ramawi ficou assustado, mas a mis- são estava lhe agradando.

Bem cedo, na próxima manhã, Ramawi acordou e achou a pena de águia, deitada

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no centro da tenda. A pena era tão grande que ela poderia cobrir facilmente Ioda a extensão do seu braço, até a penta dos seus dedos. A sua largura era fora do comum. Sua ponta côncava fora molhada em toda extensão com co- la, ligando frouxamente os tendees que estavam dependurados dos lados.

Rapidamente ele se levantou, e sen- tou-se na entrada da tenda fazendo bu- Iha para mostrar quão ocupado ele es- tava. De fato, ele estava tão ocupado tentando parecer importante e firme em frente a seus amigos, que nem viu um pequeno menino Arikara arrastar-se si- lenciosamente atrás dele, penetrar na tenda do mesmo jeito que sempre faziam nas suas travessuras, que nada prenun- ciavam de bom.

Assim, o menino Arikara agarrou fir- memente com seus dentes a pena pelos tendões grudentos e arrastando a imensa pena atrás das suas costas correu bem em frente de Ramawi.

Realmente era uma aparição assusta- dora. Tão assustadora, que Ramawi ven- do a pena correndo na frente gritou: "Ho, cresceram pernas nela". E rapidamente levantou-se e correu como um raio na direção oposta.

Durante todo esse tempo, o jovem Ari- kara estava rindo à socapa, mas quan- do viu Ramawi fugindo dele com aquele olhar aterrorizado, ele realmente quis começar a rir. Subitamente para sua surpresa, o jovem Arikara notou quê ele não podia abrir a boca!

Na mesma hora os cachorros do acampamento viram uma gigantesca pe- na correndo e começaram a persegui-la, sem saber que debaixo daquilo tinha somente um pequeno menino Arikara, esse, já apavorado nessas alturas, es- tava sacudindo freneticamente sua ca- beça, dum lado para o outro tentando desgrudar de sua boca os tendões vls- cosos. Tudo isso era realmente difícil de fazer, considerando que ele estava fugindo duma matilha de cães terríveis que poderiam virar feras se o pegassem, e além disso a sua carga estava ficando mais e mais pesada.

Enquanto isso, Ramawi estava encos- tado na tenda, observando a misteriosa pena correndo em círculos, perseguida pelos cachorros latindo barulhentamente e levantando um montão de poeira. Ago- ra ele estava convencido de que a pena estava possuída dum poder maligno e se alguém tocasse nela coisas terríveis poderiam acontecer.

Ele estremeceu, pensando que por pou- co ele escapou dela há apenas alguns instantes.

Ao mesmo tempo o perturbado peque- no Arikara vendo Ramawi todo mancha- do de lama, pensou em devolver sua pe- na imediatamente, com receio de que este inocente adorno pudesse malá-io. Assim, para o indizlvel terror de Ramawi,

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a pena com pernas subitamente veio cor- rendo na sua direção. O horrorizado. Ramawi virou-se como um raio nos saus calcanhares e começou a correr através de todo o acampamento, perseguido pe- la pena e a matilha ameaçadora de vira- latas, quebrando cavaletes de carne se- ca, estacas de tendas e pisancío em peles de bufalo recém curtidas.

Foi um espetáculo inesquecível. A Nação dos Arikara observou tudo lá da parede do distante canyon e riam até ar- rebentar.

Todo mundo sabia que algo de real- mente engraçado estava acontecendo. Todos os Lakota do acampamento esta- vam rindo também. Os amigos de Ra- mawi estavam rolando no chão e não podiam parar de rir.

Essa perseguição teria continuado o dia inteiro se Avô Diewala não chamasse os cachorros, pegando o exausto e ofe- gante pequeno Arikara, tirando suavente os pegajosos tendões da sua boca libe- rando-o da pena de águia. O pequeno mandado de volta a seu acampamento e Ramawi foi para tenda dos seus pais. Muitos dias depois disso, ambos os pro- tagonistas não saíram das suas tendas, pois cada vez que tentavam, seus ami- ijos, assim que os viam, começavam a rir novamente e esqueciam seus folguedos.

Realmente, fora uma boa idéia dar-lhes uma lição dessa envergadura, da qual to- dos ficaram sabendo. E Avô Arikara jun- to com Avô Diewala davam grandes ri- sadas quando se lembravam do deleitoso plano que engendraram.

A partir dessa época quando qualquer um desses meninos corria através do acampamento, fazendo arte e incomo'- dando cs Lakota alguém perguntaria: "Primo, vem alguma pena perseguindo você? Aí os garotos lembrariam-se da- quela história e entravam na linha ime- diatamente.

E a Nação dos Arikara não tinha pro- blema de segurar seus jovens dos acam- pamentos Lakota quando eles tentavam Ir. Assim que um jovem Arikara come- çava a dirigir-se aos acampamentos vi^ zinhos, algum dos Arikara diria "Não dei- xe de trazer-nos uma pena". E o jovem Arikara lembraria daquele caso e volta- ria imediatamente.

"Hau!" Assim se fazia nos velhos tempos con-

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 22 Página 11

Há Vida Na Terra? Allen Myers

Companheiros Marcianos,

Como um dos participantes no lançamento de uma nave espacial para o Planeta Terra, quero relatar-lher os resultados da nossa pesquisa

Devem estar lembrados que um pouco mais que meio ano atrás, nossos astrônomos observaram um objeto dei- xando a Terra numa trajetória que visava Marte.

Diante disso resolvemos ser conveniente mandar um ob- servado para verificar se existe vida no Planeta Terra.

Consequentemente os recursos e esforços necessários foram mobilizados para construir uma nave espacial para esta viagem, que logo em seguida foi realizada por Xxsklk, que foi sorteada entre vários voluntários.

Sua viagem para a Terra não encontrou dificuldades e permitiu a ela levar avante várias experiências que serão divulgadas, tão logo que os resultados tenham sido total- mente avaliados.

As experiências da pesquisadora na própria Terra, fo- ram no entanto emocionalmente exaustivas, por este motivo ela não faz pessoalmente este relato.

Quando sua nave circundou a Terra, Xxsklk se surpreen- deu ao descobrir que as condições dos seus habitantes va- riavam em grande escala.

Depois de cuidadosos estudos, ela resolveu aterrizar numa extensão territorial que parecia oferecer um típico corte transversal destas condições. Estas terras ficam no hemisfério sul, são chamadas de Austrália pela maioria das mais desenvolvidas espécies que lá habitam.

Foi fácil por Xxsklk aterrizar sem ser observada pelos terrestres, porque estes, apesar de bem numerosos, não usam todas terras disponíveis. Ao contrário, eles preferem juntar-se em cidades tremendamente congestionadas e in- salubres, enquanto os poucos que moram fora das áreas ur- banas também não estão melhores, por estarem isolados de maicr contato humano e dos benefícios que a pequena ci- vilização dos terrestres produziu.

Infelizmente, este amontoado de gente nas cidades nem é um sinal que a cultura dos terrestres concede um alto valor à solidariedade e coesão social. Ao contrário, os ter- restres parecem juntar-se principalmente com os objetivos de criar entre eles distinções absurdas e artificiais. Eles se descriminam mutuamente com base em fatores tão insig- nificantes como cor da pele, cor do cabelo, sexo, idade, tipo da roupa, etc. decretando de maneira totalmente arbitrária que membros de grupos "inferiores" não podem morar em determinadas áreas ou exercer certas atividades. Os huma- nos também criam distinções com base em certos territó- rios que eles habitam, levando isso ao ponto de periodica- mente tratar de matar em grande número habitantes de áreas vizinhas. Além disso, mesmo dentro de grupos cujos membros são muito parecidos até o ponto que as suas dis-

(ESCRITOR E JORNALISTA - SIDNEY - AUSTRÁLIA)

tinções artificiais o permitem, masmo aí, encontramos ou- tras discriminações e conflitos.

Como se pode julgar o comportamento dos humanos? Este não pode ser explicado com base numa inferioridade biológica: No desenvolvimento mental os terrestres estão, sem dúvida, aproximadamente no mesmo nível que nós.

Aqueles que estudaram a história do passado longínquo do nosso próprio planeta deverão já ter notado as similari- dades entre a Terra de hoje e Marte no passado e devem ter concluído que talvez o comportamento dos humanos possa ssr explicado pelo seu sistema de organização so- cial . Xxsklk decidiu testar esta hipótese, e considerou-a confirmada por todas observações.

Quem desejar conhecer em detalhes a organização so- cial dos terrestres poderá naturalmente estudar o relatório completo de Xxsklk. Aqui quero destacar apenas os aspectos principais. A organização social dos humanos está ainda baseada na propriedade. Na Terra é possível possuir fábri- cas, prédios, matérias primas, e mesmo partes do próprio planeta, da cnesma maneira como eu possuo meu nariz. Sa- bemos que uma situação parecida existiu em nosso próprio passado, mas na Terra esta situação se prolongou demasia- damente, com o resultado que as contradições cresceram de uma maneira bem mais monstruosa do que entre nós.

É difícil imaginar, mas os humanos na atualidade estão impedidos de comer, se eles não possuem a sua "própria" comida! Mesmo crianças pequenas e inermes estão sujeitas à esta exigência!

É fácil de compreender que os que "possuem" ferra- mentas e materiais necessários ao consumo humano, domi-

•nem totalmente a sociedade da Terra. É para o benefício deste punhado de indivíduos que os terrestres lutam entre si, respiram ar poluído, comem alimentos envenenados, tra- balham o dia todo sem produzir qualquer benefício para a sociedade, e se conformam com a fome dos seus filhos. E, como aliás é bem lógico, estes que "possuem" são por sua vez degradados por suas existências parasitárias. Eles usam o poder que deriva da "propriedade" de maneira egoísta, para manter seus privilégios criando gigantescas organiza- ções governamentais com o objetivo de reprimir — nem que seja por fraude e violência — todas aspirações a uma ordem social racional.

Depois de tomar conhecimento desta sucinta descrição da sociedade humana não pode haver dúvida que todos con- cordaremos com as conclusões de Xxsklk de que não há ainda vida real na Terra. Ela recomenda que daqui a 30 ou 40 anos nós deveríamos mandar outro observador para des- cobrir se neste ínterim a vida já surgiu.

Nestas circunstâncias, naturalmente, devemos ocultar a nossa existência aos veículos espaciais que os terrestres mandaram para cá. Até que haja outras sugestões, propo- nho que devemos considerar as conclusões e recomenda- ções de Xxsklk plenamente aceitas.

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Declaração de Direitos dos Dené Tradução de Roberto Ta m ara

A Declaração de Direitos dos Dené, reproduzida a seguir, necessita de apoio em escala mundial para a luta desse po- vo nativo do Território do Noroeste do Canadá (NWT) em prol de seu direito de livre autodeterminação.

A Nação Dené (Dené significa "a gen- te") compõe-se de quatro tribos — os Loucheaux, Dogrib, Slavey e Chippewyen. Os tratados assinados em 1899 e 1921 as reconhecem como uma nação, porém as aluais leis federais do Canadá os classificcm como "cidadãos especiais".

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"Nós, os Dené do Território do No- roeste do Canadá (NWT) insistimos no direito de sermos considerados por nós próprios e pelo mundo como uma na- ção.

Nossa luta é a favor do reconheci- mento da Nação Dené pelo governo e o povo do Canadá e pelos governos e po- vos do mundo.

Assim como Europa foi a terra natal exclusiva dos povos europeus, África a terra natal d:s povos exclusivamente africanos, o Novo Mundo — América do Norte e do Sul — foi a terra natal exclu- sivamente dos povos aborígines do No- vo Mundo — os ameríndios e os Inuit. (Nome que dão aos esquimós, N. do T).

O Novo Mundo, como as outras partes do mundo, sofreu a experiência do colo- nialismo e imperialismo. Outros povos que têm ocupado a nossa terra — fre- qüentemente pela força — e os gover-

nos estrangeiros impuseram-se a nossos povos. As antigas civilizações e estilos de vida foram destruídos.

O colonialismo e o imperialismo estão agora mortes ou agonizantes. Os anos recentes testemunharam o nascimento de novas nações ou o renascimento das nações antigas — das cinzas do colo- nialismo.

Como a Europa é o lugar onde se en- contram os países europeus, com gover- nos europeus, para os povos europeus, ;.:gora encontram-se também na África e na Ásia países africanos e asiáticos, com governos africanos e asiáticos, para os povos africanos e asiáticos.

Os pevos da África e da Ásia — os povos do Terceiro Mundo — têm lutado e conseguido seu direito a livre autode- terminação, o direito de serem reconhe- cidos como povos d;5'inios e o reconhe- cimento dos mssmos como Nações.

Mas no Novo Mundo, os povos nativos não foram tão bem sucedidos. Mesmo nos países da América do Sul, onde os Povos Indígenas formam a grande maio- ria da população, não há um país se- quer que tenha um governo ameríndio, para os povos ameríndios. Em nenhuma parte do Ncvo Mundo os povos nativos têm conseguido o direito a sua própria e livre determinação e o direito de serem reconhecidos pelo mundo como povos distintos e como Nações.

Enquanto os povos indígenas do Ca- nadá são uma minoria em sua própria terra natal, os povos indígenas dos Ter- ritórios do Noroeste (NWT), os Dené e

os Inuit, são a maioria da população do NWT;

Os Dené são parte de um país. Esse país é Canadá. Mas o governo do Ca- nadá não é o governo dos Dené. Esses governos não foram eleitos pelos Dené, e,es foram impostos aos Dené.

Os Dené estão lutando pelo reconheci- mento da Nação Dené pelos governos e povos do mundo.

E enquanto, na realidade, estamos forçados a nos submeter, por exemplo, à existência de um país chamado Canadá, insistimos no direito à livre autodeter- minação como um Povo distinto e ao re- conhecimento da Nação Dené.

Nós — os Dené somos parte do Quarto Mundo. E assim como os povos e as nações do mundo chegaram a reconhe- cer a existência e os direitos dos povos que formam o Terceiro Mundo — o dia há de vir, e virá, quando as nações do Quarto Mundo serão reconhecidas e res- peitadas . O desafio para cs Dené e para o mundo é conseguir o reconhecimento da Nação Dené:

Nosso apelo ao mundo é para que nos ajudem em nossa luta para encontrar- mos um lugar na comunidade mundial, onde pessamos exercer o nosso direito à autodeterminação como Povo distinto e oomo uma Nação.

O que aspiramos alcançar ó a inde- pendèndia e a autodeterminação den- tro do país do Canadá. É o que quere- mos dizer quando exigimos a entrega justa de terra para a Nação Dené. A maior diferença entre nós e o governo

é que nós queremos apresentar-nos ao governo como a Nação Dené, o governo, porém, quer pretender que nós não so- mos uma Nação. Queremos sobreviver como a Nação Dené, mas eles querem "comprar" nossa terra e nossos direitos e nos integrar na sociedade deles, como se não houvesse diferenças entre índios e Brancos!

É um problema de reivindicação de terras. Gente demais não tem compreen- dido do que se trata com todo esse pro- blema de reivindicação de terras. Essa gente pensa que a diferença entre Oi Denó e a posição do governo é que cs Dené estariam pedindo mais terras e mais dinheiro do que o governo nos da- ria. Na realidade, não é este o proble- ma.

A verdade é que queremos sobreviver como um povo, a Nação Dené, com o di- reito de governarmos a nós próprios, fa- rc-inos nossas próprias leis. É o que o governo não aceita. Eles não aceitarão o estilo de vida dos Dené e o direito que ;emos à sobrevivência.

A terra ó um problema central, porque ela representa nossa gente, nossa cultu- ra, nossa maneira de viver e nosso idio- ma. Quando os brancos esperam que aceitemos abandonar nossa terra por uma colônia, eles — na realidade — es- tão exigindo que desapareçamos como povo, como Dené.

Extraído da Revista "Indígena" Ber- keley — Califórnia.

Divulgação da Feema.

ÚLTIMA CARTA DE UM PADRE JESUÍTA 2 de fevereiro de 1945.

Meus caros iimãos, agora precisarei tomar o cutro caminho. A pena de mor- te foi proposta, a atmosfera é de ódio c inimizade, assim, hoje pode-se contar com a sua proclamação e execução. Agradeço à Sociedade de Jesus e a meus irmão.- par toda bondade, fidelidade e ajuda, também o de maneira especial nestas últimas semanas tão penosas. Peço desculpa por tudo em que possa ter errad) e sido injusto, e psço tam-

bém por alguma ajuda e cuidado para meus pais, velhos e doentes.

A razão fundamental da nrnha condenação é que sou jesuíta e perma- neci jesuíta. Todas outras alegações são frágeis, sem provas o forjadas. O que prevaleceu foi o ódio.

A tere fundamental: Um jesuíta é a priori inimigo e antagonista do Ter- ceiro Reich. Assim tudo tomou-se de um lado uma amarga comédia, do ou- tro lado o tema de uma perseguição.

Isto não foi uma corte de justiça, mas a Incarnação da vontade de des- truir.

Que Deus proteja a todos! Peço que orem por mim. Lá do além, me esforçarei a reparar o que fiquei aqui a dever. Ao meio-dia celebrarei meu derradeiro serviço e depois, em nome de Deus, irei o caminho da Sua Provi- dência .

A todos a bênção e a proteção de Deus!

Seu agradecido Alfred Delp S.J.

"P V • V

Alfred Delp S. J. foi executswJo ao entardecer de 2 de fevereiro de 1945.

H* •*• •*•

Fonte: Erich Kuby «Das Ende des Schreckens» — «Dokumente des Unter- ganges».

(O fim do Terror. — Documentos da Derrocada.) Munich 1955.

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Vamos salvar a natureza, a espécie hu- mana, e o conjunto das espécies vivas. A agressão da poluição, a enxurrada de produtos químicos, pesticidas, aditivos aos alimentos, ameaça envenenar o ar, a água, a terra e todos os organismos vivos.

De todas formas de poluição, a mais perigosa, mais definitiva, mais mortífe- ra, é a poluição radioativa. Esta afeta a vida como um todo, através dos efei- tos genéticos ameaça a nossa própria condição humana, atacando diretamente nosso organismo, pode causar câncer, leucemia, e acelera o processo biológi- co do envelhecimento. Além disso as usinas nucleares são uma constante ameaça de enormes catástrofes.

Contra todas estas ameaças a RESIS- TÊNCIA ECOLÓGICA organiza a sua ação. É um combate sem tréguas. Pre- tendemos Intervir decisivamente neste processo de degradação do ambiente natural e também degradação da vida humana.

É uma luta em favor da vida. E esteja certo — vamos fazer história.

Nesta luta necessitamos da colabora- ção de todos.

Inscreva-se você tambéml PARTICIPE! Tem quatro categorias diferentes de

sócios: Sócio Militante Sócio Contribuinte Sócio Fundador Sócio Correspondente (para quem re-

side no exterior) Informe-se com relação às modali-

dades Tenha você também sua cartelrl- nha de membro da RESISTÊNCIA ECO- LÓGICA — seja você também um parti- cipante na luta por um mundo melhor.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 22 Página 15

NA FRANCA: MIL CIENTISTAS CONTRA A ENERGIA NUCLEAR

CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA PÁGINA As economias de energia

Depois de tomar a decisão a favor da energia, nuclear , sem qualquer base concreta, confiando ce- gamente nas informações de círculos interessados, foi em seguida aplicada apressadamente por "pode- res públicos que selecionaram cuidadosamente o que pode ser dito e o que não deve ser divulgado.

O resultado, é, entre outras coisas, uma depen- dência tecnológica sem precedentes. "As normas de construção das centrais são fornecidas pelos Ame- ricanos. Os construtores franceses não têm qualquer precisão sobre a forma como essas normas foram calculadas. Mais ainda, essas normas referem-se a modelos de centrais que só entrarão em serviço nos Estados Unidos depois das centrais francesas atual- mente em construção..' Esta situação permite (ao proprietário da licença americana) fazer os seus pró- prios ensaios à nossa custa. Em caso de enfraqueci- mento de um reator num país qualquer, ele pode exi- gir a parada de todos os reatores que funcionem no mundo e as autoridades locais são bem incapazes de controlar o fundamento de tal exigência".

Em resumo, "ao jogar tudo, imediatamente, so- bre a energia nuclear, privamo-nos dos meios de uma verdadeira independência energética a longo pra- zo, fundada no desenvolvimento de novas energias.

Os autores passam então ao esboço de um "pro- jeto de substituição". Limitam-se voluntariamente ao estreito "horizonte de 1985', pois é impossível defi- nir "uma política energética a longo prazo sem se interrogar previamente que tipo de sociedade quere- mos construir, que tipo de crescimento queremos, que tipo de relações desejamos estabelecer com os paí- ses do terceiro mundo". À falta de poder resolver por si mesmo estas questões, os autores limitam-se a mostrar que é materialmente possível fazer esco- lhas energéticas completamente diferentes. A sua primeira demonstração, é que não ó de modo nenhum necessário que o consumo de energia cresça ao ritmo

previsto nos dez anos vindouros: é possível satisfa- zer melhor as nossas necessidades com menores quantidades de energia. Basta para isso investir nas economias de energia mais que na produção de ener- gia. Esta escolha é tanto mais fundada quanto, em muitos casos, o primeiro tipo de investimento é mais rentável que o segundo. Por exemplo:

— Uma câmara de pré-aquecimento permite eco- nomizar 30% do combustível consumido pelos fornos industriais;

— Uma política dos transportes baseada em es- tradas de ferro, transportes fluviais e transportes co- muns permite satisfazer melhor todas as necessida- des existentes economizando 30% da energia prevista para o transporte, etc.

No conjunto, uma série de medidas absolutamen- te pragmáticas, que não implicam qualquer perturba- ção do modo de vida, permitiria economizar um quar- to de todo o consumo previsto para 1985: perto de 30 mühces de tec (energia produzida por "toneladas equivalente-carvão) podem ser economizadas na in- dústria, cerca de 25 milhões nos transportes e outros 22 milhões no aquecimento e em diversos outros se- tores .

A era do pós-petróleo

Uma política mais racional, favorecendo a dura- bilidade dos produtos industriais, a sua facilidade de manutenção e de reparação, a reciclagem dos resí- duos, etc, permitiria economias ainda mais subs- tanciais.

Além disso, dos 90 milhões de tec de economias possíveis, 43 milhões de tec de energias tradicionais podem ser economizadas graças ao recurso às "novas energias": principalmente a energia geotérmica e a energia solar, cuja exploração para o aquecimento doméstico não põe qualquer problema.

A captação e o transporte destas energias novas não exige nenhuma investigação "pesada", nenhuma

MICHEL BOSQUET técnica "d'avant-garde". As soluções existem e sSo simples.

Qual é o potencial térmico da França? Ninguém o sabe: "o baixo preço do petróleo do Oriente Mé- dio teve por conseqüência um desconhecimento pro- fundo do nosso subsolo". E não só do subsolo: tam- bém para o potencial hidráulico, os autores salientam "uma insuficiência culpável das informações". Com efeito, a exploração das quedas de interesse local, foi negligenciada por um razão doravante familiar: não tendo de ser transportada nem distribuída em grandes distâncias, a eletricidade local faria concorrência às centrais elétricas.

Por isso, os investigadores do I.E.J.E. afirmam que o "desenvolvimento da energia nuclear não cons- titui em nenhum caso a única opção possível". As necessidades da França em energia podem ser co- bertas sem construir uma só central nuclear, e sem importar até o fim do século, mais petróleo, gás ou carvão do que atualmente previsto.

Para os autores, com efeito, 'as energias impor- tadas não apresentam, longe disso, todos os defeitos de que querem sobrecarregá-las". No futuro, as Im- portações deverão necessariamente fazer-se na base de contratos entre Estados que, no seu mútuo inte- resse, se comprometam à troca de bens e de servi- ços. É a única garantia do seu poder de compra que cada parceiro possa esperar em face da desagrega- ção da ordem monetária.

"Segundo este esquema, poder-se-ía assistir a uma reorganização das permutas internacionais numa base mais justa". Segundo os autores, "uma verda- deira atitude de cooperação relativamente aos países produtores de petróleo" consiste em manter com eles uma corrente regular de permutas e em preparar com eles a era do após-petróleo: uma era que não seja dominada pela energia nuclear mas por estas, "energias novas" que uma coligação poderosa pro- cura ainda sacrificar a interesses poucos confessáveis,,

A Terra Está Morrendo! Viva o Progresso! TREODOR HAAKH

Desde há cerca de um século a Hu- manidade chamada civilizada tem um novo Deus. é verdade que pela força do hábito' sitida' se venera e respeita o ve- lho, mas se crê de fato mais, só no no- vo: é Ele que domina a nossa existência, sdb o seu signo queremos vencer a Na- tureza, o passado, o tempo, o espaço e todas as deficiências terrenas. Se o símbolo de vida era outrora a roda viva, agora é o avanço em linha reta: "avança- do" ou "progressista" eis o grito de guerra; ser atrasado ou mesmo retró- grado vale quase como algo de abomi- nável. É lícito por em dúvida todo e qualquer valor, seja a Natureza, a arte, a pátHa, a nacionalidade, a religião, a cul- tura, a piedade, o amor, até mesmo a vida -—menos um: o' Progresso. Dele duvidar significa pecado mortal, que não se perdoa.

Só recentemente, depois da crença obstinada de tantos anos, é que a gente aqui e acolá começa apreensiva a per- guntar para onde mesmo, esse progres- so conduz; deveras nenhum louro de gló- ria para a inteligência humanai E quase cada crítico penosamente se esforça em não tocar no próprio progresso do qual todos tanto se orgulham: "Seria apenas a sua prática exagerada e unilateral que estaria produzindo conseqüências duvi- dosas. As realizações positivas do pro- gresso estão evidentes, não podem ser negadas, nem precisam ser enumeradas numa longa seqüência. Tampouco po- demos dispensá-los; nem sequer o te- mos — é ele que nos tem".

Mas aí deve preocupar-nos a questão de saber com que sacrifícios foram con- seguidos os seus resultados.

Esta enumeração, entretanto, mostra- se menos agradável. Segundo o verbo "Sujeitai a Terra", o progresso, precisa- mente desde há 140 anos — em ritmo sempre mais célere, levou-nos a: destruir o equilíbrio de todas as coisas vivas, violentar a Natureza de todas as formas imagináveis.

desperdiçar, poluir, infestar com petró- leo, iornar putrefata a água vital,

a ponto de julgarem os renomados pesquisadores possível o colapso da economia hídrica e o definhamento bio- lógico até dos oceanos, no decorrer de poucos decênios,

corromper, até as alturas da estratos- fera, o ar que respiramos, a ponto de contarmos pelo menos com uma mudan- ça geral do clima e, no caso extremo, com o gradual desaparecimento do oxi- gênio suficiente, obstruir o solo com edi- ficações e o cobrir de asfalto, desnatu- rá-lo parcialmente por produtos quími- cos e deixar que se torne progressiva- mente estéril,

espoliar, através da exploração exaus- tiva, as riquezas do subsolo, a ponto de esgotar as reservas mais importantes, provavelmente num prazo de 50 anos, devastar extensamente o patrimônio ve-

getal, desnudar regiões sempre mais amplas, acabando por fazer desertos,

matar aos bilhões os animais ou lhes to- mar o espaço vital, de modo que cen- tenas de espécies foram desde então exterminadas, sendo iminente este pe- rigo para outras tantas,

envenenar progressivamente tudo que es- tá vivo, inclusive a nós próprios e a nossa alimentação,

minar a nossa saúde pelo modo de vi- ver contrário à natureza,

desgastar-nos numa correria de ativida- des sem descanso,

matar com barulho toda a quletude, perder — por vaidade cega — qualquer

sentido de medida e não mais respei- tar os limites,

multiplicar ao infinito o gênero humano, deixar as cidades se alastrarem como

úlceras cancerosas, tornando-as sem- pre mais desumanas e Insuportáveis,

urbanizar, da mesma forma, o campo e uniformizar a olhos vistos todas as paisagens, assim desvalorizando tudo que caracteriza a pátria,

morrermos daqui a pouco asfixiados na imundície, nos excrementos da civi-

lização técnica, fomentados pêlo ir- responsável esbanjamento,

pôr em perigo, suplementarmente, a'vi- da na Terra mediante a energia nu- clear.

Ir a ponto de alterar arbitrariamente as disposições hereditárias, humanas, "in- tegrar" as últimas maravilhas desta Terra, quer .dizer> convertê-las em di- nheiro e .prostituir através da barga- nha, . _ .'.

renegar o passado e acabar com,a tra- dição, ., ,....,

sacrificar ■ às exigências modernas os monumentos históricos, além,de-os destruir através de emanações, deleté^ rias, trepidação,, etcv . . -

desembaraçar-nos^ ;s'em ^o menor escrú- pulo, da nossa cultura multissecular, junto com todos os conceitos de ética

e moral, dar prioridade sempre e em tudo à am- bição de lucro e à expansão econômica

e as incentivar com uma desconside- ração total do resto,

cair por inteiro em poder do culto de riquezas, da tecnologia e da velocida- de, a fim de transformar o próprio ho- mem numa moeda sem valor, numa máquina, num inseto tecnológico,

transferir-nos com intensidade sempre maior — para um mundo artificial, não mais dos organismos vivos, mas sim das coisas fabricadas e da perfeição técnica, à mercê da qual somos en- tregues, desamparados,

permitir que uma grande minoria viva em fartura e esbanjando enquanto a gran- de maioria vive à mingua, passando fome,

não termos diminuído, mas sim aumen- tado, as tensões sociais e políticas provocadas,

termos transportado já homens para a Lua e instrumentos para os planetas vizinhos, mas não resolvido um se- quer dos problemas urgentes tíesta nossa Terra,

gastar 'globalmente" 300 bilhões de dó- lares por ano em armamentos, en-

TRADUÇAO DE ROBERTO TAMARA

quanto faltam os recursos para provi- dências de importância vital, fazer pairar a ameaça de morte sobre toda a vida na Terra, com meios de des- truição atômicos, bacteriológicos e químicos chamados "àfmas", repudiar o passado "que não foi dominado" e 6 procurar fugir do presente de difícil assimilação, para os espaços utópicos, do futuro. Traduzido da revista Blaetter fuer Na-

tur and Umweltschútz" (Munich — •Alemanha) por ROBERTO TAMARA do' Departamento de Conservação da Natu-' reza, da Fundação Estadual de Enge- nharia do ■ Mfeio Ambiente, Estrada da Vista Chinesa, 741 — RIO DE JANEIRO.-

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* CULTURAL ^^

Na França: Mil Cientistas Contra a Energia Nuclear O programa nuclear francês é perigoso para a

população; é aventuroso do ponto de vista técnico; ruinoso do ponto de vista econômico; enfim, é Inútil, pois existem outras soluções, sem os riscos radioati- vos, que levariam mais em conta as necessidades energéticas da França.

Os ecólogos, desde algum tempo, \& não estão mais sós nesta afirmação. Qualificados durante' mul- to tempo de rousseauistas, passadistas, obscurantistas, e mesmo de reacionários, acabam de receber o re- forço dcs mais prestigiosos setores da comunidade científica france'sa. No espaço de duas semanas, mais de mil Investigadores, engônfielros/prcrtèssores e técnicos acabam de lançar, sem combinarem pre- viamente, quatro iniciativas distintas para levar a po- pulação a recusar o programa nuclear do governo.

A mais conhecida destas Iniciativas, do grupo de cientistas em questão, tem na orlqem os ffslcos do Colégio da França, da Escola Politécnica e da Facul- dade de Orsay. Foi a Indignação perante as mentiras oficiais que acabou mob:lizando-os. Com efeito, um deles, ao voltar da Bretanha, tinha trazido o folheto através do qual o Ministério da Indústria "informa" os membros locais eleitos sobre as conseqüências provocadas pela Implantação de uma central nuclear.

"Ficamos escandalizados com a falsidade, disse um físico do Col*glo da França. A Incoerência, a má fé, a mentira des^a literatura saltaram-nos aos olhos e nós dissemos: "não podemos deixar abusar das pes- soas desta maneira, é preciso fazer qualquer coisa". Começamos reunir a documentação mais completa passível. Deools redigimos este aoelo. què loao nos primeiros dias reuniu cerca de setecentas assinatu- ras.

"Os nomes e os títulos das assinaturas Importam pouco. Não Drocuramos DrRferencIalmente os nrft- mlos Nobel. Pois. velam, na base de qualnuer investi- gara-» científica, há a recusa do araumento de auto- ridade, é oredso informar as pessoas, fazê-las com- preender, refletir, nSo fazê-las aceitar como oalavra do Evanoelho o que vem do tooo da hleraroula. Um enoenheiro ou um técnico oodem saber multo mais que um arande orofessor sobra o crédito que mere- cem os sistemas de sequranca.

"O que conta é One somos se^ecentos fde mo- menW e que tomos a força para impor um verdadei- ro dphate".

Esoerandr» esse d«bato. a nossa oosl^So sobre O proorama nuclear é ciara: "Penssmns", diz o aneio, "one se trsta d« «ma decisSo irrefletlda cuias consa- ouênclas têm riscos craves... Pensamos oue a ooif- tica Inwarta atiialmente a cabo nS-> tem em e*nta os wrrfarfeifTís interesses da noouiargo n»»m os das oe- raofles fitiiras, e que qualifica de cientifica uma esco- lha pnl'«ca".

? isso o r"'» dizem tamh*m C^TS de fr«T«Mns eie^Mas da Aisínis na c^nVa-oeritsnwm b«s»<>n»e (tatalharfq aUe acabam He dlrMr as snitorM*d»s locais. E é ainda o que diz a Federação francesa das Socieda-

des de Proteção da Natureza na petição que fez cir- cular em toda França.

Mas a Iniciativa mais importante é a de uns quin- ze pesquisadores e professores de Grenobie, membros do Instituto Econômico e Jurídico da Energia (I.E.J, E.): com eles, passa-se da contestação à contra- proposta, da crítica do programa governamental à de- finição de um programa de alternativas.

CÁLCULOS REFEITOS Todos os que até aqui diziam: "De acordo, a

energia nuclear é perigosa mas não temos escolha" encontrarão no trabalho do I.E.J.E., "Alternativas à energia nuclear", a demonstração do contrário. Uma demcnslração precisa, baseada em cálculos Irretor- quíveis, elaborada pelos membros do único instituto independente, que na França, se especializa em problemas energéticos e que tem sido consultado constantemente pelos próprios organismos governa- mentais. Em "Alternativas à energia nuclear" temos um equaclonamento dos problemas que recusa as tentações tecnocráticas.

Os Investigadores do I.E.J.E., com efeito, não se limitam a opor à energia nuclear uma solução téc- nica diferente. Dizem também abertamente, que qualquer solução técnica Implica uma escolha de so- ciedade e que convém não escamotear esta dimen- são, política, do problema: o que está em jogo no de- bate sobre a política enerqétlca, é o Estado, a socie- dade .e a civilização de amanhã.

Aliás, nada mostra melhor a natureza política da escolha nuclear que a fragilidade extrema das jus- tificações que os seus partidários invocam: "Dema- siadas perguntas não foram feitas. Demasiados pro- blemas foram escamoteados. Demasiadas soluções alternativas foram voluntariamente passadas em si- lêncio". E demasiados dados foram falsificados, espe- cialmente sobre a pretendida competitividade da energia nuclear. Sobre este ponto incide o primeiro ataque do I.E.J.E.

Com base em dados totalmente unilaterais, to- dos os organismos oficiais que tratam da política enerqétlca francesa, raciocinaram tomando por base o presumível custo do KW/H no instante em que "sal" da central elétrica. Qracas a este postulado a também utilizando uma avaliação arbitrária e multo exagerada da produção efetiva das centrais nucleares em relação à capacidade instalada (hole sabemos que a produrão energética real é menos que a me- tade das estimativas iniciais), as entidades oficiais "estabeleceram" que a eneroia nuclear se torna competitiva, ouando o preço do barril de petróleo — oue é atualmente 12,50 dólares — ultrapasse 2,68 dólares.

Referendo todos rs cálculos, o I.E.J.E. esta- beleceu Isto: a eletricidade saindo das centrais nu- clesres foma-se comootltlva com a que sai das cen- trais clássicas quando e prece do petróleo se sftus entre 5,75 « 8 dólares por barril. (Desde que haja

MICHEL BOSQUET

estabilidade no preço do urânio e nos custos de construção das usinas nucleares. Desde a realização deste estudo em Janeiro de 1975, estes custos já ti- veram acréscimo de 50 a 100%). Quanto a varia- ção acima na estimativa de custes é conseqüência do grande número de incógnitas que prevalecem na tecnologia e no comportamento das centrais nuclea- res.

Mas, o que é mais grave: nos seus cálculos, os organismos oficiais "esqueceram" um aspecto ca- pital: sendo a finalidade do programa nuclear subs- tltuir ao máximo o consumo de petróleo importado, ô preciso ter também em conta os respectivos custos de transporte, de transformação e de distribuição aos usuários. Ora, esses custos são incomparavelmente mais elevados para a eletricidade do que para os combustíveis fósseis.

Tamb*m em todos os usos (d^os "não esDecffi- cos") onde ela deve servir de substituto do combus- tível, a eletricidade de origem nuclear revela-se de um custo exorbitante: só se torna competitiva na uti- lizarão Industrial quando o preço de importarão do pe*róleo atinge 19 dólares prr barril; no uso domés- tico, torna-se competitiva quando o oreco do barril de petróleo atinge 35 dólares (ou seja três vezes o preço atual).

Uma constelação complexa Além disso, os autores não puderam calcular os

custes complementares, nem os custos da desmonta- gem dos reatores nucleares com a restauração do local, que eqüivale no mínimo ao custo da constru- ção."

Concluindo "o verdadeiro preço da energia nu- clear revela-se multo elevado, sem relação alguma com as previsões Iniciais" o que terá como resultado que o programa atual fará suportar à Indústria fran- cesa "custos energéticos multo mais elevados que os países Industriais que confiam nas fontes de ener- gia clássicas.

Por outro lado, os riscos de acidentes nucleares comportam "conseqüências possíveis tão graves qua dificilmente se pode justificar um programa nuclear intensivo".

A verdadeira questão, nestas condições, é: "Por- que se escolheu desenvolver a energia nuclear tão rapidamente?" A resposta, que os autores se reser- vam desenvolver numa outra ocasião, é que uma cons- telação "particularmente complexa' de interesses pri- vados e públicos permite atualmente "às firmas nu- cleares Impor-nos a escolha nuclear' do mesmo modo que "as firmas petrolíferas souberam, no passado, impor-nos a escolha do petróleo". Em nenhum mo- mento, o fundamento desta escolha nuclear foi ana- lisado; aliás, "nenhum serviço do Estado está apetre- chado pare verificar estes cálcuioe, baseados em da- dos unilaterais a Incompletos.

(Continua m página anterior)

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