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Lisboa cada vez mais estudantes Erasmus na cidade, mas por onde é que eles andam? Págs. 8/9

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LisboaHá cada vez maisestudantes Erasmusna cidade, mas poronde é que elesandam? Págs. 8/9

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ErasmusPassam por nós em Lisboa, e

nós não passamos sem eles

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Pouco mais de um terço dos estudantes estrangeiros que estudaram um ou dois semestresem Portugal fizeram-no na capital portuguesa, onde quase não se vêem, tão diluídos queficam no meio dos 1,7 milhões de turistas anuais. Mas os estudantes Erasmus andam por aíe cada vez mais. Nalguns casos, até pensam em ficar. Esta é a cidade deles. Por Vanessa Jorge

• "Lisboa, não sejas francesa,tu és portuguesa, tu és só paranós." Um dos versos do fado deAmália Rodrigues talvez não se

aplique aos dias de hoje. Nas

ruas da capital, há muita gentea baralhar o cenário. Turistas,sobretudo. Para uns, Lisboa é umponto de passagem. Para outros,é um pouco mais. Chega a seruma segunda casa, durante um oudois semestres, como no caso dosestudantes deslocados ao abrigodo programa de intercâmbio

europeu Erasmus.Muitos escolhem estudar em

Portugal, e facilmente se revelamquando por qualquer motivodestoam da paisagem. Mas numacidade que, em 2009, registou 1,7milhões de hóspedes estrangeiros- dos quais 1,3 milhões europeus-, um estudante estrangeiro é

apenas mais um estrangeiro. Passa

despercebido. A cidade não os vê.

Aos 23 anos, Helen Vinogradovtrocou Talin, capital da Estónia,pela Graça, por um período deoito meses. Já conhecia Porto,Coimbra, Algarve e Fátima, masescolheu a Lisboa que algunscolegas muito elogiavam. "Lisboa é

muito grande, tem muitas pessoas,muitas culturas diferentes e eu

gosto disso", diz Helen, duranteum galão e um sumo de frutas, nobar da Universidade Lusófona, noCampo Grande. "Não sinto que sejatratada de maneira diferente porser estrangeira, penso que todaa gente é simpática e eu tambémtento ser", afirma.

Entre 2000 e 2007, passarampor um curso superior em Lisboa,como Helen, 9895 estrangeiros. É

pouco mais de um terço do total deforasteiros que, nesses sete anos,estudaram um ou dois semestresnuma universidade portuguesa.

Quando o mesmo curso existe

em muitos países, o factorcrítico na escolha passa a ser a

reputação da escola, da cidade, acultura, a imagem que se tem dedeterminado lugar.

Apanha-me, se puderesLisboa, como Porto, Faro, Braga,Guimarães, Aveiro, Évora ouCoimbra tanto atrai por aquiloque tem de único como pelo quepartilha com outros lugares. Mas

naqueles centros urbanos de menordinamismo turístico, os Erasmus

topam-se à légua, ou por causa da

língua, ou por causa do aspecto. Jánuma metrópole, os Erasmus são

indetectáveis.Por estar num país estrangeiro,

cheio de outras culturas, Helensente-se mais livre para fazero que quiser, sem ser julgada.Mas não quer ter o "rótulo"de estudante que apenas se

diverte e não estuda. "Vim para

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ééHá um bar em

Alfama onde

cantam fado, nãoestá identificadonem nada. Batemos

aporta, se falarmosportuguês eles

deixam-nos entrar,muito desconfiados

Helen Vinogradov,estudante, 23 anos _^<^

estudar Cinema e Fotografia. EmPortugal fazem-se filmes para os

portugueses e não para o resto domundo. Na Estónia os filmes são

para os estónios", avalia a futuracineasta.

No fundo, somos todos iguais.O que nos torna todos maisinvisíveis, indistintos. Por isso,como encontrar o rasto dosErasmus em Lisboa? "Há umbar em Alfama onde cantamfado, não está identificado nemnada", destaca Helen. "Batemosà porta, se falarmos portuguêseles deixam-nos entrar, muitodesconfiados" - adjectivo com queHelen caracteriza os portugueses.São as singularidades, como o

fado, que atraíram Helen. "O quemais me agrada é a variedadede peixe e de bolos. Vocêstêm bacalhau todos os dias",acrescenta, a sorrir. "Já viajeimuito, mas nunca vi nenhum local

que tivesse a vossa pastelaria."A gula também é um dos pecados

de André Simover, estudante daFaculdade de Motricidade Humana,da Universidade Técnica de Lisboa.

Apesar de estudar Desporto, nãoresiste às montras das pastelariasportuguesas. Deixou a vila deSillian, na região de Tirol, Oesteda Áustria, e embora a escola porcá fique no concelho de Oeiras, naCruz Quebrada, este austríaco de23 anos preferiu ficar a morar emLisboa. Mesmo que isso signifique45 minutos de viagem entre escolae casa, André dá graças a esta

oportunidade para conhecer umacultura diferente. Em Portugal, "étudo mais vagaroso, mais calmo",aponta. "Aqui as pessoas são maisrelaxadas. Perto de minha casa, háum café e os mais velhos passamas tardes a jogar dominó. Eu atélhes digo olá e tiro fotografias e

eles não se importam". O que,

segundo André, contrasta com a"agressividade, rancor e o estatuto

que as pessoas mais velhas pensamter" no seu país.

Para quem não via uma praia há

quatro ou cinco anos, Portugal é

uma bênção. André foi a uma das

muitas festas na praia organizadaspela associação Erasmuslisboa,que, desde 2004, recebe osestudantes estrangeiros nacapital. Organiza festas, viagensaos principais pontos de Portugale Espanha, têm um site cominformações úteis para os recém-

chegados e um /cif de boas-vindascom mapas, cartões de desconto,passes. A presidente daquelaassociação, Rita Ferraz, sublinha

que o número de Erasmus emLisboa "tem sempre aumentado".E os dados das várias faculdadesaderentes a este programa demobilidade estudantil confirmam-no. Entre 2001 e 2007, o número de

Erasmus em Lisboa quase triplicou.André sente-se bem com o mix

cultural de Lisboa. "Existem muitos

estrangeiros, muitos estudantesde Erasmus, ouve-se muitas

línguas diferentes na rua". E comomostravam os filmes Residência

Espanhola (2002) e BonecasRussas (2005), do cineasta francêsCédric Klapisch, há poucas coisasmais multiculturais do que umaresidência de estudantes Erasmus.

E se não houver regresso?Desde o início deste programa de

mobilidade, em 1987, Portugal é umparticipante assíduo. Há dez anos,apenas 805 alunos escolheramLisboa. Actualmente são 2156. E dos25.413 estudantes que, entre 2000 e

2007, estudaram em Portugal, 9895fizeram-no na capital portuguesa.

O Bairro Alto é claramente osítio onde estes estudantes se

juntam, assim como tantos outros

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portugueses e estrangeiros,trabalhadores ou estudantes.Zsuzsa Kollár diz que adora okaraoke do Tejo Bar. Para estafutura psicóloga, ficar em Portugalé uma opção a ser pensada muitoseriamente. "Estou a pensar emvoltar após a conclusão da minhadissertação", afirma. Com 26 anos,a estudante do Instituto Superior de

Psicologia Aplicada (ISPA) juntou-se à família de 118 estudantes deErasmus que já passaram poreste estabelecimento de ensino.Proveniente de Budapeste(Hungria), afirma que gostavade trabalhar em Portugal, numaárea que a deixasse conviver com

pessoas de diferentes culturas.

"Espero que abra um curso demestrado aqui", acrescenta. Paradar asas ao sonho de ficar porPortugal refere ainda que tem de

aperfeiçoar o seu português.Rita Buzinskaité e Vaiva

Gaspariunaité frequentamBiotecnologia no Instituto Superiorde Engenharia de Lisboa (ISEL)."Dois colegas nossos vêm paracá no Verão por causa das nossas

recomendações", conta.Kamila Koncová poderia ser

outro exemplo. Kamila é invisuale deixou a República Checa paraterminar o seu curso de Estudos

Portugueses, com conhecimentode causa. Estudante da Faculdadede Letras, Kamila afirma que oslisboetas são prestáveis. "Queremmuito ajudar, mas os serviços são

um bocadinho desorganizadospara mim". Com 21 anos, é umados 547 alunos que a Universidadede Lisboa recebeu este ano lectivo.Vive no Lumiar desde Setembro de2009 e quer convencer o namoradoa vir para Portugal. Pelo menos,uma professora de português játerá, pois Kamila fala portuguêsquase na perfeição.

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Onde encontra estes lisboetas "temporários"

Tejo BarUm espaço onde os estudantes se

juntam aos moradores da antigaLisboa. Quem quiser, começa acantar no fim de uma refeição.Beco do Vigário, IA 1100-613Lisboa, www.tejobar.blogspot.com/

Bar do RioEscondido entre os armazéns,mas os estudantes encontram-no. Aqui é onde têm sido asmaiores festas da associaçãoErasmus Lisboa. Basta aparecerno Cais de Santos Armazém A,Porta 7 1200-450 Lisboa Tel. 213470 970

Tasca BelaPara aqueles que queremconhecer o fado, aos domingos àtarde este é o melhor sítio. Umatípica tasca "à portuguesa" naRua dos Remédios, 190 Alfama1100-446 Lisboa. Telemóvel: 964670 964

Crew HassanNem toda a diversão tem deser feita em bares e discotecas.A cooperativa cultural propõeconcertos, exposições e

workshops. Fica na Rua dasPortas de Santo Antão, 159 1.°

1150-267 Lisboa. Telemóvel: 966862 689

Lx FactoryMais um espaço onde a ErasmusLisboa faz as suas festas. Na RuaRodrigues de Faria, 103, 1300Lisboa. Telefone: 213 143 399

Alive BarUm bar onde estudantesestrangeiros trocam as suasexperiência com os portugueses.Fica na Avenida Dom Carlos 1, 59,1200-647 Santos, Lisboa. Telefone:965 697204

GossipPara os que preferem músicaelectrónica, este é o espaço deexcelência. Às quintas-feirassão, como é hábito em Lisboa,noites universitárias, na RuaCintura do Porto, Armazém H -Naves A e 8 1900-649 LisboaTel. 213 955 870

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