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Há no mundo inteiro uma, quando muito, rua difícil de encontrar

Metáfora viagem: palavra do poeta

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Título: Há no mundo inteiro uma, quando muito, rua difícil de encontrar.

Metáfora viagem: palavra do poeta.

Autor: AAVV

Antologia organizada por: Ana Castro e Jorge Roque

Coordenação editorial: Instituto Português do Livro e das Bibliotecas Campo Grande, 83, 1º - 1700-088 Lisboa

[email protected] www.iplb.pt

Design gráfico: TVM Designers

ISBN: 972-8436-35-1

Depósito Legal: 193143/03

Tiragem: 6000 exemplares

Impressão: Gráfica Maiadouro

© IPLB, MARÇO 2003 ______________________________________________________________________ O título toma de empréstimo um dístico de Luiza Neto Jorge (1939-1969). Na contracapa são citados dois versos de Bernardim Ribeiro (1482?-1552?). Para referências bibliográficas, consultar o Índice de autores e edições citadas.

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A FLOR Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros (1893-1970)

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PRÓLOGO SALTO EM ALTURA, V Sente-se a variação na atmosfera do quarto; uma corrente de ar? com a porta, as janelas fechadas? o sopro vem talvez da estante: poemas, dicionários; como se a biblioteca desprendesse substâncias voláteis; ou que tentam voar; o frémito, o pressentimento, acorda os móveis fascinados; pouco a pouco, no aro do abat-jour, onde a diferença é mais sensível, condensa-se o rumor das primeiras palavras: afinal, são elas; e logo que os seus voos; anteriores à escrita; as precipitam no papel, começa-se a escrever.

Carlos de Oliveira (1921-1981)

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VIAGEM DISCURSO AO PRÍNCIPE DE EPAMINONDAS, MANCEBO DE GRANDE FUTURO Despe-te de verdades das grandes primeiro que das pequenas das tuas antes que de quaisquer outras abre uma cova e enterra-as a teu lado primeiro as que te impuseram eras ainda imbele e não possuías mácula senão a de um nome estranho depois as que crescendo penosamente vestiste a verdade do pão a verdade das lágrimas pois não és flor nem luto nem acalanto nem estrêla depois as que ganhaste com o teu sémen onde a manhã ergue um espêlho vazio e uma criança chora entre nuvens e abismos depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato quando lhes forneceres a grande recordação que todos esperam tanto porque a esperam de ti Nada depois, só tu e o teu silêncio e veias de coral rasgando-nos os pulsos Então, meu senhor, poderemos passar pela planície nua o teu corpo com nuvens pelos ombros as minhas mãos cheias de barbas brancas Aí não haverá demora nem abrigo nem chegada mas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeças e uma estrada de pedra até ao fim das luzes e um silêncio de morte à nossa passagem

Mário Cesariny (1923-)

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VIAGEM VARIAÇÕES SOBRE “O JOGADOR DO PIÃO”, I Faz rodar o pião redondo tudo em volta Atira a primavera e recupera o verão Terras e tempos tudo assume esse pião que rodopia e rouba o chão à folha solta Joga tudo no gesto ríspido de vida Reergue o braço a prumo arrisca nessa roda riscada entre parede e tronco a infância toda Tudo é redondo e torna ao ponto de partida O sol a sombra a cal os pássaros os pés o adro a pedra o frio os plátanos... Quem és? Voltas? rodas? regressas? rodopias? nada Mão do breve pião levanta ao céu a enxada e que esta vida extensa para sempre seja – será? – tão bem coberta que nem Deus a veja

Ruy Belo (1933-1978)

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VIAGEM A IDEIA, III Força é pois ir buscar outro caminho! Lançar o arco de outra nova ponte Por onde a alma passe – e um alto monte Aonde se abra à luz o nosso ninho. Se nos negam aqui o pão e o vinho, Avante! é largo, imenso esse horizonte... Não, não se fecha o mundo! e além, defronte, E em toda a parte há luz, vida e carinho! Avante! os mortos ficarão sepultos... Mas os vivos que sigam, sacudindo Como o pó da estrada os velhos cultos! Doce e brando era o seio de Jesus... Que importa? havemos de passar, seguindo, Se além do seio dele houver mais luz!

Antero de Quental (1842-1891)

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VIAGEM HE HUM NÃO QUERER MAIS QUE BEM QUERER, VII São mortos os que nunca acreditaram Que esta vida é somente uma passagem, Um atalho sombrio, uma paisagem Onde os nossos sentidos se poisaram. São mortos os que nunca alevantaram Dentre escombros a Torre de Menagem Dos seus sonhos de orgulho e de coragem, E os que não riram e os que não choraram. Que Deus faça de mim, quando eu morrer, Quando eu partir para o País da Luz, A sombra calma dum entardecer, Tombando, em doces pregas de mortalha, Sobre o teu corpo heróico, posto em cruz, Na solidão dum campo de batalha! Florbela Espanca (1894-1930)

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VIAGEM CAMINHO, II Encontraste-me um dia no caminho Em procura de quê, nem eu o sei. – Bom dia, companheiro, te saudei, Que a jornada é maior indo sozinho. É longe, é muito longe, há muito espinho! Paraste a repousar, eu descansei... Na venda em que poisaste, onde poisei, Bebemos cada um do mesmo vinho. É no monte escabroso, solitário, Corta os pés como a rocha dum calvário, E queima como a areia!... Foi no entanto Que chorámos a dor de cada um... E o vinho em que choraste era comum: Tivemos que beber do mesmo pranto.

Camilo Pessanha (1867-1926)

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VIAGEM

UM ADEUS PORTUGUÊS

Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz de ombros puros e a sombra de uma angústia já purificada Não tu não podias ficar presa comigo à roda em que apodreço apodrecemos a esta pata ensanguentada que vacila quase medita e avança mugindo pelo túnel de uma velha dor Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca do modo funcionário de viver Não podias ficar nesta cama comigo em trânsito mortal até ao dia sórdido canino policial até ao dia que não vem da promessa puríssima da madrugada mas da miséria de uma noite gerada por um dia igual Não podias ficar presa comigo à pequena dor que cada um de nós traz docemente pela mão a esta pequena dor à portuguesa tão mansa quase vegetal Não tu não mereces esta cidade não mereces esta roda de náusea em que giramos até à idiotia esta pequena morte e o seu minucioso e porco ritual esta nossa razão absurda de ser

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VIAGEM

Não tu és da cidade aventureira da cidade onde o amor encontra as suas ruas e o cemitério ardente da sua morte tu és da cidade onde vives por um fio de puro acaso onde morres ou vives não de asfixia mas às mãos de uma aventura de um comércio puro sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti.

Alexandre O’Neill (1924-1986)

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VIAGEM RECADO ouve-me que o dia te seja limpo e a cada esquina de luz possas recolher alimento suficiente para a tua morte vai até onde ninguém te possa falar ou reconhecer – vai por esse campo de crateras extintas – vai por essa porta de água tão vasta quanto a noite deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te e as loucas aveias que o ácido enferrujou erguerem-se na vertigem do voo – deixa que o outono traga os pássaros e as abelhas para pernoitarem na doçura do teu breve coração – ouve-me que o dia te seja limpo e para lá da pele constrói o arco de sal a morada eterna – o mar por onde fugirá o etéreo visitante desta noite não esqueças o navio carregado de lumes de desejos em poeira – não esqueças o ouro o marfim – os sessenta comprimidos letais ao pequeno-almoço

Al Berto (1948-1997)

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VIAGEM SONETO DUM POETA MORTO Bem sei que hei-de morrer cedo e cansado, Alguma cousa triste em mim o diz... E vagarei no mundo, desterrado, Como o Dante, chorando a Beatriz. Pelos reinos, irei talvez curvado, Como um proscrito príncipe infeliz, Ou como o índio pálido e exilado, Chorando o vivo azul do seu país. Mas no entanto, ah! ninguém, ao Sol divino, Abrasou mais as asas, derretidas Ante as duras, ferozes multidões. E ninguém teve a torre d’ouro fino, Aonde, quais princesas perseguidas, Morreram minhas doidas ilusões!

Gomes Leal (1848-1921)

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VIAGEM Homens que são como lugares mal situados Homens que são como lugares mal situados Homens que são como casas saqueadas Que são como sítios fora dos mapas Como pedras fora do chão Como crianças órfãs Homens sem fuso horário Homens agitados sem bússola onde repousem Homens que são como fronteiras invadidas Que são como caminhos barricados Homens que querem passar pelos atalhos sufocados Homens sulfatados por todos os destinos Desempregados das suas vidas Homens que são como a negação das estratégias Que são como os esconderijos dos contrabandistas Homens encarcerados abrindo-se com facas Homens que são como danos irreparáveis Homens que são sobreviventes vivos Homens que são como sítios desviados Do lugar Homens que são como projectos de casas Em suas varandas inclinadas para o mundo Homens nas varandas voltados para a velhice Muito danificados pelas intempéries Homens cheios de vasilhas esperando a chuva Parados à espera De um companheiro possível para o diálogo interior Homens muito voltados para um modo de ver Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro De si mesmo Homens tão impreparados tão desprevenidos Para se receber

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VIAGEM Homens à chuva com as mãos nos olhos Imaginando relâmpagos Homens abrindo lume Para enxugar o rosto para fechar os olhos Tão impreparados tão desprevenidos Tão confusos à espera de um sistema solar Onde seja possível uma sombra maior

Daniel Faria (1971-1999)

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VIAGEM Comigo me desavim Comigo me desavim, sou posto em todo perigo; não posso viver comigo nem posso fugir de mim. Com dor, da gente fugia, antes que esta assi crecesse; agora já fugiria de mim, se de mim pudesse. Que meo espero ou que fim do vão trabalho que sigo, pois que trago a mim comigo, tamanho imigo de mim?

Sá de Miranda (1481?-1558)

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VIAGEM CRISE LAMENTÁVEL

Gostava tanto de mexer na vida, De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe... E não há forma: cada vez perdida Mais a destreza de saber pegar-lhe.

Viver em casa como toda a gente. Não ter juízo nos meus livros – mas Chegar ao fim do mês sempre com as Despesas pagas religiosamente.

Não ter receio de seguir pequenas E convidá-las para me pôr nelas – À minha Torre ebúrnea abrir janelas, Numa palavra, e não fazer mais cenas.

Ter força num dia pra quebrar as roscas Desta engrenagem que empenando vai: – Não mandar telegramas ao meu Pai, – Não andar por Paris, como ando, às moscas.

Levantar-me e sair – não precisar De hora e meia antes de vir prà rua. – Pôr termo a isto de viver na lua, – Perder a “frousse” das correntes de ar.

Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas Por casa dos amigos que frequento – Não me embrenhar por histórias melindrosas Que em fantasia apenas argumento.

Que tudo em mim é fantasia alada, Um crime ou bem que nunca se comete: E sempre o Oiro em chumbo se derrete Por meu Azar ou minha Zoina suada...

Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)

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VIAGEM O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL, IV O tecto fundo de oxigénio, de ar Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras; Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras, Enleva-me a quimera azul de transmigrar. Por baixo, que portões! Que arruamentos! Um parafuso cai nas lajes, às escuras: Colocam-se taipais, ringem as fechaduras, E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos. E eu sigo, como as linhas de uma pauta, A dupla correnteza augusta das fachadas; Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas, As notas pastoris de uma longínqua flauta. Se eu não morresse, nunca! E eternamente Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! Esqueço-me a prever castíssimas esposas, Que aninhem em mansões de vidro transparente! Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis, Pousando, vos trarão a nitidez às vidas! Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas, Numas habitações translúcidas e frágeis. Ah! Como a raça ruiva do porvir, E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes, Nós vamos explorar todos os continentes E pelas vastidões aquáticas seguir!

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VIAGEM Mas se vivemos, os emparedados, Sem árvores, no vale escuro das muralhas!... Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas E os gritos de socorro ouvir, estrangulados. E nestes nebulosos corredores Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas; Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas, Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos; Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes; E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes, Amareladamente, os cães parecem lobos. E os guardas, que revistam as escadas, Caminham de lanterna e servem de chaveiros; Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros, Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas. E, enorme, nesta massa irregular De prédios sepulcrais, com dimensões de montes, A dor humana busca os amplos horizontes, E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Cesário Verde (1855-1886)

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VIAGEM EM CRETA, COM O MINOTAURO I Nascido em Portugal, de pais portugueses, e pai de brasileiros no Brasil, serei talvez norte-americano quando lá estiver. Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem, se usam e se deitam fora, com todo o respeito necessário à roupa que se veste e que prestou serviço. Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações nasci. E a do que faço e de que vivo é esta raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo quando não acredito em outro, e só outro quereria que este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo, espero envelhecer tomando café em Creta com o Minotauro, sob o olhar de deuses sem vergonha. II O Minotauro compreender-me-á. Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida. É metade boi e metade homem, como todos os homens. Violava e devorava virgens, como todas as bestas. Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine, que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da “langue”. Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou. Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta, riu-lhe no focinho respeitável. O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras, cheias de ninfas e de efebos desempregados, se cerrarão dulcíssimas nas chávenas, como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo de investigar as origens da vida.

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VIAGEM III É aí que eu quero reencontrar-me de ter deixado a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque, como toda a gente, não sabe português. Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações. Conversaremos em volapuque, já que nenhum de nós o sabe. O Minotauro não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia, de toda esta merda douta que nos cobre há séculos, cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos os escravos de outros. Ao café, diremos um ao outro as nossas mágoas. IV Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha de não pertencer a elas. Nem eu, nem o Minotauro, teremos nenhuma pátria. Apenas o café, aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil, da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café contudo e que eu, com filial ternura, verei escorrer-lhe do queixo de boi até aos joelhos de homem que não sabe de quem herdou, se do pai, se da mãe, os cornos retorcidos que lhe ornam a nobre fronte anterior a Atenas, e, quem sabe, à Palestina, e outros lugares turísticos, imensamente patrióticos.

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VIAGEM V Em Creta, com o Minotauro, sem versos e sem vida, sem pátrias e sem espírito, sem nada, nem ninguém, que não o dedo sujo, hei-de tomar em paz o meu café.

Jorge de Sena (1919-1978)

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VIAGEM SARÇA ARDENTE, 1 ... Não porque não viajasse! O mundo é vasto Mas repete-se, e é fácil esgotá-lo... Se uma vez viste o céu com olhar casto, Que outro céu poderá ultrapassá-lo? Certo é, sim, que ante mim girei de rasto, Com sempre o mesmo giro e o mesmo embalo; Mas não!, não porque não tenha viajado Longe do escano em que fiquei sentado!

José Régio (1901-1969)

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VIAGEM SEXTINA I OU CANÇÃO DOS QUARENTA ANOS O mordomo do vento é este cedro O correio do Sol aquele pombo Nunca mais Nunca mais vem a notícia Sou mais novo que o escândalo em que vivo Mas vou perdendo aos poucos a memória De secretas paisagens me despeço Só a esperança não Que a não despeço E dou-lhe todo o ouro deste cedro E dou-lhe os dividendos da memória mais o fogo nas vísceras do pombo mais os restos de um sonho que tão vivo como prémio só pede uma notícia Quantas notícias antes da notícia De quantas dia a dia me despeço até que o fim do escândalo em que vivo me seja anunciado pelo cedro Indaga Não descrevas É um pombo que se afoga no sangue da memória Também aquele amor hoje memória morreu na combustão de uma notícia Mas nasce de tais cinzas outro pombo Não olho para trás Nem me despeço Tudo o que se imagina aquém do cedro converte-se em pilar de um amor vivo Se é loucura viver o que não vivo Se é loucura no crivo da memória deixar que passe o pombo e fique o cedro a ver se não censuram a notícia direi mais uma vez Não me despeço Há-de vir a notícia Mais o pombo

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VIAGEM Com asas novas há-de vir o pombo Outro pombo dizer-me que estou vivo louvar-me porque nunca me despeço pedir-me que o recolha na memória E no vento divulga-se a notícia Quem primeiro a transmite é este cedro Canção voa nas asas desse pombo Torna com ele ao Sol E morto ou vivo diz-lhe que nem agora me despeço David Mourão-Ferreira (1927-1996)

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VIAGEM SUL Era verão, havia o muro. Na praça, a única evidência eram os pombos, o ardor da cal. De repente o silêncio sacudiu as crinas, correu para o mar. Pensei: devíamos morrer assim. Assim: explodir no ar.

Eugénio de Andrade (1923-)

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VIAGEM Oh! como se me alonga, de ano em ano Oh! como se me alonga, de ano em ano, a peregrinação cansada minha! Como se encurta, e como ao fim caminha este meu breve e vão discurso humano! Vai-se gastando a idade e cresce o dano; perde-se-me um remédio, que inda tinha; se por experiência se adivinha, qualquer grande esperança é grande engano. Corro após este bem que não se alcança; no meio do caminho me falece, mil vezes caio, e perco a confiança. Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança, se os olhos ergo a ver se inda parece, da vista se me perde e da esperança.

Luís de Camões (1524?-1580)

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VIAGEM ERROS DA VIDA Erramos, logo apenas que nascidos: Erramos inda mais, quando crescidos; E nossos erros, na viril idade, São de mais pesarosa qualidade. Quando velhos nosso erro é já tontice: E se a razão nos luz lá na Velhice, É só para (em mau grado) arrepender-nos. Mas lembram-me inda certos erros ternos, Que me afagam, enquanto a vida dura, E atalha esse erro o eu ir-me à sepultura.

Filinto Elísio (1734-1819)

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VIAGEM Fermoso Tejo meu, quão diferente Fermoso Tejo meu, quão diferente Te vejo e vi, me vês agora e viste: Turvo te vejo a ti, tu a mim triste, Claro te vi eu já, tu a mim contente. A ti foi-te trocando a grossa enchente A quem teu largo campo não resiste; A mim trocou-me a vista em que consiste O meu viver contente ou descontente. Já que somos no mal participantes, Sejamo-lo no bem. Oh! quem me dera Que fôramos em tudo semelhantes! Mas lá virá a fresca Primavera: Tu tornarás a ser quem eras de antes, Eu não sei se serei quem de antes era.

Francisco Rodrigues Lobo (1580?-1622?)

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VIAGEM DEPOIMENTO De seguro, Posso apenas dizer que havia um muro E que foi contra ele que arremeti A vida inteira. Não, nunca o contornei. Nunca tentei Ultrapassá-lo de qualquer maneira. A honra era lutar Sem esperança de vencer. E lutei ferozmente noite e dia, Apesar de saber Que quanto mais lutava mais perdia E mais funda sentia A dor de me perder.

Miguel Torga (1907-1995)

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VIAGEM D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL Louco, sim, louco, porque quis grandeza Qual a sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que há. Minha loucura, outros que me a tomem Com o que nela ia. Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa (1888-1935)

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VIAGEM AQUELE QUE PARTIU Aquele que partiu Precedendo os próprios passos como um jovem morto Deixou-nos a esperança. Ele não ficou para connosco Destruir com amargas mãos seu próprio rosto Intacta é a sua ausência Como a estátua de um deus Poupada pelos invasores de uma cidade em ruínas Ele não ficou para assistir À morte da verdade e à vitória do tempo Que ao longe Na mais longínqua praia Onde só haja espuma sal e vento Ele se perca tendo-se cumprido Segundo a lei do seu próprio pensamento E que ninguém repita o seu nome proibido.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-)

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EPÍLOGO Redivivo. E basta a luz do mundo movida ao toque no interruptor Redivivo. E basta a luz do mundo movida ao toque no interruptor, ou de lado a lado negro, quando se é esquerdo, o amargo e o canhestro à custa de fôlego e lenta bebedeira: o esforço de estar vivo – e lunas e estelas: e as vozes magnificam pequenas coisas das casas, e teias dos elementos pelas janelas, teias portas adentro: da água compacta no corpo das paredes, do ar a circundar as zonas veementes dos utensílios – e a música mirabilíssima que ninguém escuta: o duro, duro nome da tua oficina de mão torta, boca cheia de areia estrita, áspera cabeça, tanto que só pensas: se isto é música, ou condição de música, se isto é para estar redivivo, então não percebo sequer o movimento, digamos, da laranja na fruteira, ou o movimento da luz na lâmpada, ou o movimento do sangue na garganta impura – e menos ainda percebo o movimento que já sinto no papel se se aproxima, por exemplo, pelo tremor da textura do caderno e da força da esferográfica dolorosa, a palavra Deus saída pronta, arrebatada aos limbos, como se diz que se arrebata aos ferros, a poder de tenazes e martelos, um objecto, vá lá, supremo: uma chave, quer se queira quer se não queira, mas que não abre quase coisa alguma: que abre, a partir de como se está de rodilhas, um espaço em cada nome, e nesse espaço se possa dançar, no abismo entre um quarto e outro quarto da terra, dançar dentro do ar como para o ar bater nas paredes, e as paredes estremecerem com a água esmagada contra si própria –

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EPÍLOGO e depois ninguém fala, e cada coisa actua sobre cada coisa, e tudo o que é visível abala o território invisível. Redivivo. E foi por essa mínima palavra que apareceu não se sabe o quê que arrancou à folha e à esferográfica canhota a poderosa superfície de Deus, e assim é que te encontraste redivivo, tu que tinhas morrido um momento antes, apenas.

Herberto Helder (1930-)

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METÁFORA VIAGEM: PALAVRA DO POETA A presente antologia tem por ponto de partida o tema da viagem, na amplitude metafórica do seu sentido: antes de mais, viagem na língua, viagem na terra, no tempo e na memória, por conseguinte, no Homem, viagem ainda na metáfora, entendida ela mesma como deslocação no sentido. Assim, o poema A Flor, inscrição de abertura (mas também flor poema que se destaca e oferece, propondo-se à partilha), deve ser entendido como metáfora da antologia propriamente dita, e poderá ser lido como prefácio que não é. Do ponto de vista dos critérios de selecção, optou-se por excluir autores cuja obra se encontra em aberto, o que implicou a omissão de grande parte dos autores vivos, com excepção de Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny e Herberto Helder, relativamente aos quais a massa crítica do tempo e da obra impõe a sua inclusão. Intentou-se um mínimo de representatividade histórica, com incidência maioritária nos séculos XIX e XX, por razões que se prendem com a facilitação do acesso, tendo em vista um destinatário que se visou tão amplo quanto possível. Aos limites decorrentes dos critérios de selecção adoptados, acrescentaram-se os limites físicos deste pequeno livro, assim como o imperativo de respeitar a integridade do corpo poético, recusando cortes, montagens e outras mutilações no que o autor concebeu inteiro, com excepção da citação integral de secções de sequências, a que o autor concedeu de sua mão unidade própria. Tudo isto determinou a estreita representatividade do corpus, não apenas do ponto de vista histórico, mas também estilístico, forçando a exclusão de composições poéticas de grande extensão que, em alguns autores (como não lembrar, por exemplo, A Margem da Alegria, lugar primordial desse tão vasto continente formado a sangue e lava na poesia de Ruy Belo), seriam mais representativas do furor criativo que rasgou o espaço da sua obra, vibrando da cintilação o seu gume. Uma última palavra para a arquitectónica: optou-se por não aprisionar os poemas nos estritos limites do seu tempo (poema que não subverta a cronologia, interceptando épocas e mundos, poder-se-á dizer que é poema?), mas antes tecer uma narrativa que pudesse também ela reflectir a “viagem” de onde partimos – viagem que é, por fim, não apenas norte temático desta antologia, mas também metáfora da leitura onde a palavra e o seu outro se encontram.

Jorge Roque

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ÍNDICE DE AUTORES E EDIÇÕES CITADAS AL BERTO, O Medo, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997 12 ANDRADE, Eugénio de, O Outro Nome da Terra, Porto,

Limiar, 1989 23 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra Poética, Vol. II,

Lisboa, Caminho, 1998 29 BELO, Ruy, Obra Poética de Ruy Belo, vol. 1, Lisboa, Editorial

Presença, 1981 6 CAMÕES, Luís de, Lírica Completa II, Lisboa, Imprensa Nacional-

-Casa da Moeda, 1980 24 CESARINY, Mário, Manual de Prestidigitação, Lisboa, Assírio

& Alvim, 1981 5 ELÍSIO, Filinto, Obras Completas de Filinto Elísio, tomo V, Braga,

APPACDM, 1999 25 ESPANCA, Florbela, Poesia Completa, Lisboa, Dom Quixote,

2002 8 FARIA, Daniel, Homens que São como Lugares Mal Situados,

Porto, Fundação Manuel Leão, 1998 14 HELDER, Herberto, Ou o Poema Contínuo, Lisboa, Assírio

& Alvim, 2001 30 JORGE, Luiza Neto, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 1993 ♣ LEAL, Gomes, Claridades do Sul, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998 13 LOBO, Francisco Rodrigues, Poesias, Lisboa, Livraria Sá da Costa

Editora, 1968 26 MIRANDA, Sá de, Obras Completas, vol. I, Lisboa, Livraria

Sá da Costa Editora, 2002 15 MOURÃO-FERREIRA, David, Obra Poética, vol. II, Lisboa,

Bertrand, 1980 22 NEGREIROS, José de Almada, Obras Completas, vol. I, Porto,

Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985 3

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OLIVEIRA, Carlos de, Trabalho Poético, Lisboa, Livraria

Sá da Costa Editora, 1998 4 O’NEILL, Alexandre, Poesias Completas 1951/1981, Maia,

Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982 10 PESSANHA, Camilo, Clepsidra e Outros Poemas, Lisboa,

Lello Editores, 1997 9 PESSOA, Fernando, Mensagem, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002 28 QUENTAL, Antero de, Sonetos, Lisboa, Imprensa Nacional -

- Casa da Moeda, 1994 7 RÉGIO, José, As Encruzilhadas de Deus, Lisboa, Brasília Editora,

1981 21 RIBEIRO, Bernardim, Obras Completas, vol. II, Lisboa, Livraria

Sá da Costa Editora, 1982 ♣♣ SÁ-CARNEIRO, Mário de, Poemas Completos, Lisboa, Assírio

& Alvim, 2001 16 SENA, Jorge de, Poesia - III, Lisboa, Edições 70, 1989 19 TORGA, Miguel, Antologia Poética, Coimbra, Coimbra Editores,

1981 27 VERDE, Cesário, Obra Poética e Epistolografia, Porto,

Lello Editores, 1999 17 ______________________________________________________________ ♣ Dístico tomado de empréstimo no título (retirado do poema O sítio em vista).

♣♣ Versos citados na contracapa (retirados de Écloga chamada Jano).

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ÍNDICE GERAL

A Flor (Almada Negreiros) 3

Prólogo

Salto em altura, V (Carlos de Oliveira) 4

Viagem

discurso ao príncipe de epaminondas, mancebo de grande futuro

(Mário Cesariny) 5

Variações sobre “O jogador do pião”, I (Ruy Belo) 6

A Ideia, III (Antero de Quental) 7

He hum não querer mais que bem querer, VII (Florbela Espanca) 8

Caminho, II (Camilo Pessanha) 9

Um adeus português (Alexandre O’Neill) 10

Recado (Al Berto) 12

Soneto dum poeta morto (Gomes Leal) 13

[Homens que são como lugares mal situados] (Daniel Faria) 14

[Comigo me desavim] (Sá de Miranda) 15

Crise lamentável (Mário de Sá Carneiro) 16

O sentimento dum ocidental, IV (Cesário Verde) 17

Em Creta, com o Minotauro (Jorge de Sena) 19

Sarça Ardente, 1 (José Régio) 21

Sextina I ou Canção dos quarenta anos (David Mourão-Ferreira) 22

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Sul (Eugénio de Andrade) 23

[Oh! como se me alonga, de ano em ano] (Luís de Camões) 24

Erros da vida (Filinto Elísio) 25

[Fermoso Tejo meu, quão diferente] (Francisco Rodrigues Lobo) 26

Depoimento (Miguel Torga) 27

D. Sebastião, Rei de Portugal (Fernando Pessoa) 28

Aquele que partiu (Sophia de Mello Breyner Andresen) 29

Epílogo

[Redivivo. E basta a luz do mundo movida ao toque do interruptor]

(Herberto Helder) 30

Metáfora viagem: palavra do poeta 31

Índice de autores e edições citadas 32

Índice geral 34

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