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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROF. MILTON SANTOS PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE KÁTIA MARIA DE SOUZA COSTA A DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO DE APOIO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA À ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS DE CULTURA Salvador 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROF. MILTON SANTOS

PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

CULTURA E SOCIEDADE

KÁTIA MARIA DE SOUZA COSTA

A DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO DE APOIO E

ASSISTÊNCIA TÉCNICA À ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS

DE CULTURA

Salvador

2017

KÁTIA MARIA DE SOUZA COSTA

A DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO DE APOIO E

ASSISTÊNCIA TÉCNICA À ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS

DE CULTURA

Dissertação apresentada ao Programa

Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e

Sociedade do Instituto de Humanidades, Artes e

Ciências Prof. Milton Santos, como parte dos

requisitos para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Márcio Pinto de Moura

Barros

Salvador

2017

C837a Costa, Kátia Maria de Souza

A Diversidade Cultural no Projeto de Apoio e Assistência

Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura / Kátia

Maria de Souza Costa. – Salvador, 2017.

255f. : il.

Orientador: José Márcio Pinto de Moura Barros.

Dissertação (Mestrado – Programa Multidisciplinar de Pós-

Graduação em Cultura e Sociedade) – Universidade Federal da

Bahia, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor

Milton Santos (IHAC/UFBA), 2017.

1. Cultura. 2. Diversidade Cultural. 3. Formação. 4. Projeto

MinC-UFBA. 5. Planos Municipais de Cultura. I. Barros, José

Márcio Pinto de Moura. II. Título.

A Murilo, por compartilhar uma vida inteira de amor, parceria, cuidados e ter sido um grande

companheiro nas longas e exaustivas noites de estudo, sem jamais perder a doçura e a

paciência com o meu processo de reflexão crítica e analítica.

Aos amados filhos Fidel e Vítor, pelo eterno carinho, afeto

e por terem me escolhido como mãe.

Amo vocês.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Quitéria e Manoel, pela liberdade concedida para que eu pudesse correr o

mundo, percorrer territórios e descortinar o universo complexo, diverso e controverso da

cultura.

Aos meus queridos irmãos Márcio e Karina, sempre comigo.

Ao professor Vicente Federico (in memoriam), pelo seu entusiasmo pela arte, cultura, apreço

imensurável pela vida e dedicação extremada ao Projeto MinC-UFBA em sua primeira

edição. Onde quer que você se encontre neste momento, agradeço-lhe pelos ensinamentos e

por nos fazer acreditar que flores também brotam em terra seca.

Ao professor José Márcio Barros, muito obrigada por ter me aceitado como orientanda e ter

estado sempre disponível para escutar com atenção os meus questionamentos, dúvidas e

incertezas, incentivando-me com palavras recheadas com doses generosas de amizade,

respeito e muito humor. Sou-lhe grata pelas horas incansáveis de orientação, dedicação e por

ter estendido a mão e me ajudado a fazer a grande travessia em busca do conhecimento.

A Neuza Brito, pelo grande esforço de síntese e brilhantismo em construir a metodologia para

elaboração de Planos Municipais de Cultura.

A Ângela Andrade, pela determinação e extraordinária capacidade de articular pessoas e

instituições, agregar ideias e buscar a convergência de interesses, expectativas e resultados em

torno do desenvolvimento de políticas públicas no campo da cultura.

Aos coordenadores do Projeto MinC-UFBA Professores Ernani Coelho e Horácio Nelson

Hastenreiter Filho, pela distintiva competência para escutar, dialogar, mediar, valorizar

pessoas e ideias e decidir, de forma compartilhada, propostas e soluções.

Aos queridos amigos e amigas do Projeto, Luana Vilutis, Marcelo Cruvinel, Lisandra

Alcântara, Gleice Menezes, Justina Tellechea, Edivânia Landim, Daniele Canedo, Sérgio de

Azevedo e Plínio Rattes, bem como todos os analistas, consultores, tutores e conteudistas,

pela agradável convivência, aprendizado e construção coletiva de laços de solidariedade,

cooperação, amizade e respeito mútuo.

Às amigas Rafaela Magalhães e Fernanda Oliveira, a primeira pelo apoio na formulação do

projeto de mestrado e a segunda pelo trabalho de revisão da dissertação. A ambas, pelo apoio

e estímulo a esse desafio.

Ao meu querido amigo Juan Brizuela, com quem tenho compartilhado alguns anos de

trabalho, experiências e existência. Agradeço-lhe pela generosidade, parceria sincera,

confiança, simplicidade e abertura para compartilhar ideias, pensamentos e demonstrar

sempre o interesse em aprender com o outro.

Aos queridos amigos Virgínia Da Rin, Kátia Najara, Luiz Marfuz, Elisa Mendes, Nehle

Frank, Cláudia Boettcher, Lêda Ornelas e Augusto Omolu (in memoriam), presenças

constantes em minha vida, pelo que são e representam para mim, agradeço-lhes por terem

contribuído para o meu crescimento pessoal e profissional.

Aos queridos amigos do Espaço Xisto Bahia, onde tive a oportunidade de aprender sobre a

gestão da cultura e descobrir o quanto este é um universo instigante, desafiador e rodeado de

complexidades.

Aos professores Daniele Canedo e Beto Severino pelas pertinentes considerações feitas

durante a banca de qualificação e por terem aceitado o convite para participarem da banca de

defesa desta dissertação.

Às queridas amigas Adriene Oliveira e Vada Menezes, pelos longos anos de amizade, carinho

e cuidado com a nossa família, o que possibilitou ganho adicional de tempo para me dedicar

com afinco às atividades profissionais e de pesquisadora.

Aos amigos do Observatório da Diversidade Cultural pelo trabalho integrado, que tem me

propiciado um movimento em espiral de aprendizagem e crescimento.

Ao Pós-Cultura e seus professores, pelo empenho e dedicação no desafio de contribuir para

um pensamento cada vez mais multi, inter e transdisciplinar dentro da universidade.

A todas as pessoas que acreditam que a universidade pública deve ser um lugar para a

sociedade e todos os gêneros, independente da cor, raça, etnia, religião, espiritualidade e faixa

etária. Que a universidade pública seja livre, plural e diversa!

Sonho que se sonha só

É só um sonho que se sonha só

Mas sonho que se sonha junto é realidade

Raul Seixas, Prelúdio

COSTA, Kátia Maria de Souza. A diversidade cultural no Projeto de Apoio e Assistência

Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura. 255f.:il. 2017. Dissertação (Mestrado)

- Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos, Universidade Federal da

Bahia, Salvador, 2017.

RESUMO

O presente trabalho de pesquisa analisa como o tema da diversidade cultural foi tratado no

âmbito do Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos Municipais de

Cultura (Projeto MinC-UFBA), realizado entre 2011 e 2016 através da iniciativa do

Ministério da Cultura, com coordenação técnica e pedagógica da Escola de Administração da

Universidade Federal da Bahia. Pautamo-nos na análise da metodologia aplicada no Projeto,

no seu processo de desenvolvimento e nos conteúdos compartilhados com os participantes.

Inicialmente, discorremos sobre conceitos centrais para a nossa reflexão, tais como cultura e

diversidade cultural. Em seguida, realizamos uma descrição detalhada do Projeto, delineando

as suas etapas, os conteúdos, a metodologia aplicada em cada uma das edições e os seus

aspectos processuais. Por fim, analisamos se e como o Projeto MinC-UFBA dialogou com a

diversidade cultural. Sustentamos que esse diálogo não ocorreu de forma explícita, havendo a

necessidade de mediação técnico-pedagógica para que a diversidade fosse aplicada no

Projeto. É importante ressaltar que essa iniciativa inaugurou uma ação singular na área de

formação em políticas públicas de cultura, ao prover assessoramento técnico para os

municípios brasileiros desenvolverem os seus planejamentos na área cultural.

Palavras-chave: Cultura. Diversidade Cultural. Formação. Projeto MinC-UFBA. Planos

Municipais de Cultura.

COSTA, Kátia Maria de Souza. La diversidad cultural en el Proyecto de Apoyo y Asistencia

Técnica a la Elaboración de Planes Municipales de Cultura. 255 f.:il. 2017. Disertación

(Maestría) - Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos, Universidade

Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RESUMEN

Este trabajo de investigación analiza como el tema de la diversidad cultural fue tratado en el

ámbito del Proyecto de Apoyo y Asistencia Técnica a la Elaboración de Planes Municipales

de Cultura (Proyecto MinC-UFBA), realizado entre 2011 y 2016 a través de la iniciativa del

Ministerio de Cultura de Brasil, con la coordinación técnica y pedagógica de la Escuela de

Administración de la Universidad Federal de Bahia. Nos basamos en el análisis de la

metodología aplicada en el Proyecto, en su proceso de desarrollo y en los contenidos

compartidos con los participantes. Inicialmente, indagamos en conceptos centrales para

nuestra reflexión, como cultura y diversidad cultural. En seguida, realizamos una descripción

detallada del Proyecto, delineando sus etapas, los contenidos, la metodología aplicada en cada

una de las ediciones y sus aspectos procesuales. Por fin, analizamos si y cómo el Proyecto

MinC-UFBA dialogó con la diversidad cultural. Sostenemos que ese diálogo no ocurrió de

forma explícita, siendo necesaria una mediación técnico-pedagógica para que la diversidad

fuera aplicada en el Proyecto. Es importante resaltar que esa iniciativa inauguró una acción

singular en el área de formación en políticas públicas de cultura, al promover asesoramiento

técnico para que los municipios brasileños desarrollen sus planificaciones en el área cultural.

Palabras-clave: Cultura. Diversidad Cultural. Formación. Proyecto MinC-UFBA. Planes

Municipales de Cultura.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 A Tridimensionalidade da Cultura 36

Figura 2 Elementos Constitutivos do SNC 41

Figura 3 Distribuição dos municípios por região - 1ª Edição 52

Figura 4 Estrutura da Governança do Projeto 54

Figura 5 Diagrama de relacionamento entre objetivos, metas e ações 60

Figura 6 Etapas de elaboração dos Planos Municipais de Cultura 65

Figura 7 Painel de Controle do Template 82

Figura 8 Comentários do Orientador 83

Figura 9 Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos Municipais de

Cultura

86

Figura 10 Percurso Gratificado da Aprendizagem 105

Figura 11 Módulo Análise da Situação Atual 106

Figura 12 Módulo Projeção do Futuro Desejado 107

Figura 13 Módulo Operacionalização do Futuro Desejado 109

Figura 14 Módulo Projeção de Prazos e Recursos 111

Figura 15 Monitoramento do Plano Municipal de Cultura 112

Figura 16 Municípios Participantes da Formação 116

Figura 17 Resultados dos Municípios - 2ª Edição 119

Figura 18 Distribuição dos municípios por região - 2ª Edição 126

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Institucionalidade da Cultura nos Municípios 47

Quadro 2 Municípios atendidos na 1ª Edição 51

Quadro 3 Prazo de elaboração dos PMCs - 1ª Edição 53

Quadro 4 Fases de Execução do Projeto - 1ª Edição 54

Quadro 5 Estrutura de Gestão para o Plano Municipal de Cultura 61

Quadro 6 Fases de Execução - 2ª Edição 74

Quadro 7 Encontros Regionais 76

Quadro 8 Modelo de Gestão da 2ª Edição 77

Quadro 9 Agrupamento dos Municípios 80

Quadro 10 Composição do Grupo Dorival Caymmi 81

Quadro 11 Módulos da Formação 85

Quadro 12 Diferenças entre sociedades ancoradas no lembrar e no esquecer 88

Quadro 13 Resultados da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA 114

Quadro 14 Quantidade de Municípios Participantes - Fase de Monitoramento 118

Quadro 15 Metodologia de PMCs: pontos positivos e a melhorar 121

Quadro 16 Premissas e Princípios 142

Quadro 17 Exemplos adotados no Guia 2 150

Quadro 18 Relação entre Objetivos Gerais, Objetivos Específicos e Metas 153

Quadro 19 Relação entre Metas e Ações 156

Quadro 20 Relação entre Metas, Indicadores, Resultados e Impactos 159

Quadro 21 Aspectos que contribuem para a diversidade cultural 161

Quadro 22 Estratégias 161

Quadro 23 Exemplo de descrição sobre aspecto da caracterização do município 180

Quadro 24 Exemplos de objetivos relacionados à diversidade cultural 192

Quadro 25 Relação entre Resultados e Impactos 196

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 1ª Edição 52

Gráfico 2 Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento - Municípios Respondentes 119

Gráfico 3 Desenvolvimento dos PMCs - Situação dos Municípios - Fev/2016 120

Gráfico 4 Grupos do Projeto e da Amostra 125

Gráfico 5 Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 2ª Edição 127

Gráfico 6 Distribuição dos participantes por área de representação 128

Gráfico 7 Participação na plataforma Moodle e nos fóruns 129

Gráfico 8 Participação dos municípios - acesso na plataforma e participação em

fórum

129

Gráfico 9 Representantes e Tutores - participação e intervenção em Fóruns 130

Gráfico 10 Participação e intervenção nos fóruns, por módulo 130

Gráfico 11 Participação e intervenção nos fóruns, por módulo da amostra 131

Gráfico 12 Participação de municípios no template 133

Gráfico 13 Distribuição regional e participação de municípios 133

Gráfico 14 Completude no preenchimento do template 134

Gráfico 15 Evolução de minutas de Planos no template 134

Gráfico 16 Preenchimento do template: caracterização 135

Gráfico 17 Preenchimento do template: panorama 136

Gráfico 18 Preenchimento do template: diagnóstico 136

Gráfico 19 Preenchimento do template: projeção 137

Gráfico 20 Preenchimento do template: operacionalização 137

Gráfico 21 Preenchimento do template: monitoramento 138

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARPP Análise Racional de Políticas Públicas

CGLU Cidades e Governos Locais Unidos

EaD Educação a Distância

EAUFBA Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia

FAPEX Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IHAC Instituto de Humanidades, Arte e Ciências Professor Milton Santos

MinC Ministério da Cultura

Mondiacult Conferência Mundial sobre Políticas Culturais

ODC Observatório da Diversidade Cultural

OEA Organização dos Estados Americanos

OMC Organização Mundial do Comércio

ONU Organização das Nações Unidas

PMC Plano Municipal de Cultura

PNC Plano Nacional de Cultura

Procultura Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura

Projeto

MinC/UFBA

Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos

Municipais de Cultura

SAI/MinC Secretaria de Articulação Institucional do MinC

Secult/BA Secretaria de Cultura do Estado da Bahia

Sesc/SP Serviço Social do Comércio, Regional São Paulo

SNC Sistema Nacional de Cultura

SNIIC Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais

SPC/MinC Secretaria de Políticas Culturais do MinC

STI/UFBA Superintendência de Tecnologia da Informação da UFBA

UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1 - DIVERSIDADE CULTURAL E POLÍTICAS CULTURAIS:

HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO ..................................................................................... 20

1.1. CULTURA E POLÍTICAS CULTURAIS ................................................................................. 20

1.2 PARA UM CONCEITO DE DIVERSIDADE CULTURAL ............................................................ 26

1.3 A CONVENÇÃO DA UNESCO E O PROTAGONISMO INTERNACIONAL DO BRASIL ................ 32

1.4 A INSTITUCIONALIDADE DA CULTURA NO BRASIL: MUDANÇA DE PARADIGMA, PROCESSOS

EM ANDAMENTO .................................................................................................................... 34

1.5. A GESTÃO DA CULTURA NOS MUNICÍPIOS ........................................................................ 43

CAPÍTULO 2 - CONTEÚDOS, METODOLOGIAS E PROCESSOS ............................. 48

2.1 PROJETO MINC-UFBA: 1ª EDIÇÃO .................................................................................. 50

2.1.1 Estrutura do Projeto ................................................................................................. 54

2.1.2 Desenvolvimento da Metodologia de Planos .......................................................... 56

2.1.3 Núcleos Locais: primeiras orientações para a construção dos PMCs ..................... 58

2.1.4 Conteúdos de apoio e assistência técnica em PMCs ............................................... 59

2.1.5 Premissas e Princípios: balizadores de condutas ..................................................... 61

2.1.6 Descrição dos conteúdos: etapas de elaboração dos Planos .................................... 62

2.1.6.1 Etapa I: como estamos? ........................................................................................ 62

2.1.6.2 Etapa II: onde queremos chegar?.......................................................................... 63

2.1.6.3 Etapa III: como fazer e como chegaremos lá? ...................................................... 63

2.1.6.4 Etapa IV: como gerir avanços? ............................................................................. 64

2.2 METODOLOGIA APLICADA: ROTEIRO METODOLÓGICO E OUTROS PROCEDIMENTOS .......... 65

2.3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ............................................................... 67

2.4 PROJETO MINC-UFBA: 2ª EDIÇÃO .................................................................................. 70

2.4.1 Contextualização ..................................................................................................... 72

2.4.2 Estrutura da 2ª Edição.............................................................................................. 73

2.4.3 Modelo de Gestão .................................................................................................... 76

2.4.4 Equipe pedagógica ................................................................................................... 77

2.5 PLATAFORMA MOODLE: AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM E TEMPLATE – PROCESSO

FORMATIVO ........................................................................................................................... 79

2.6 DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE PREENCHIMENTO DE MINUTAS DE PMC ............................... 81

2.7 CONTEÚDOS DA FORMAÇÃO EAD EM PLANOS MUNICIPAIS DE CULTURA ....................... 84

2.7.1 Módulo Cultura e Produção Simbólica ................................................................... 86

2.7.2 Módulo Políticas Públicas de Cultura ..................................................................... 92

2.7.3 Módulo Planejamento Público................................................................................. 95

2.7.4 Módulo Sistema Nacional de Cultura ...................................................................... 96

2.7.5 Módulo Cultura e Desenvolvimento...................................................................... 100

2.7.6 Módulo I: Visão Geral ........................................................................................... 104

2.7.7 Módulo II: Análise da Situação Atual ................................................................... 105

2.7.8 Módulo III: Projeção do futuro desejado ............................................................... 107

2.7.9 Módulo IV: Operacionalização do futuro desejado ............................................... 109

2.7.10 Módulo V: Projeção de prazos e recursos ........................................................... 111

2.7.11 Módulo VI: Monitoramento do Plano ................................................................. 112

2.8 RESULTADOS OBTIDOS PELO PROJETO ........................................................................... 113

2.8.1 Primeira edição ...................................................................................................... 113

2.8.2 Segunda edição ...................................................................................................... 116

2.8.3 Resultados quantitativos do processo: participação e interação na plataforma

moodle ............................................................................................................................ 123

2.8.4 Participação e preenchimento do template ............................................................ 132

CAPÍTULO 3 - A ANÁLISE DA DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO

MINC/UFBA ......................................................................................................................... 139

3.1 PREMISSAS E PRINCÍPIOS ............................................................................................... 140

3.2 ANÁLISE DA 1 ª EDIÇÃO ................................................................................................. 145

3.2.1 Conteúdo do Guia 1 ............................................................................................... 146

3.2.2 Conteúdo do Guia 2 ............................................................................................... 149

3.2.3 Conteúdo do Guia 3 ............................................................................................... 164

3.2.4 Metodologia ........................................................................................................... 164

3.2.5 Processo ................................................................................................................. 169

3.3 ANÁLISE DA 2ª EDIÇÃO .................................................................................................. 173

3.3.1 Conteúdo dos módulos básicos ............................................................................. 174

3.3.2 Conteúdo do módulo Análise da Situação Atual ................................................... 178

3.3.3 Conteúdo do módulo Projeção do Futuro Desejado .............................................. 189

3.3.4 Conteúdo do módulo Operacionalização do Futuro Desejado .............................. 192

3.3.5 Conteúdo dos módulos Projeção de Prazos e Recursos e Monitoramento do Plano

Municipal ........................................................................................................................ 196

3.3.6 Metodologia ........................................................................................................... 197

3.3.7 Processo formativo: fóruns de discussão teórica ................................................... 201

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 220

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 227

ANEXO 1 - CONTEÚDO PEDAGÓGICO DA FORMAÇÃO – 2ª EDIÇÃO ............... 237

ANEXO 2 - EXPRESSÕES E CONCEITOS ADOTADOS NO GUIA 2 ........................ 241

APÊNDICE 1 - EQUIPE DO NÚCLEO CENTRAL DA UFBA: 1ª EDIÇÃO ............... 242

APÊNDICE 2 - EQUIPES LOCAIS – COORDENADORES E ANALISTAS

TÉCNICOS ........................................................................................................................... 243

APÊNDICE 3 - EQUIPE DA 2ª EDIÇÃO DO PROJETO ............................................... 246

APÊNDICE 4 - TEMAS RELACIONADOS NO QUESTIONÁRIO DE

INFRAESTRUTURA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA ............................. 247

15

INTRODUÇÃO

A formulação e implementação de políticas públicas de cultura, tendo como elemento

fundamental a adoção de princípios que promovam o desenvolvimento cultural através do

reconhecimento e fortalecimento da diversidade, da garantia de direitos culturais e da plena

cidadania, é o principal fator que motivou a presente pesquisa.

Este trabalho está fundamentado na análise do tratamento conceitual e metodológico

dispensado ao tema da diversidade cultural no âmbito do Projeto de Apoio e Assistência

Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura (Projeto MinC-UFBA), uma iniciativa

fruto do acordo de cooperação entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Universidade Federal

da Bahia (UFBA), realizada entre os anos de 2011 e 2016, sob a condução da Escola de

Administração (EAUFBA).

Esse assunto despertou o nosso interesse devido à atuação pessoal desta pesquisadora

nas mais diversas esferas da cultura, inicialmente como dançarina, tendo experimentado desde

o ballet clássico até a dança afro e danças populares contemporâneas, e posteriormente

quando realizamos um dos primeiros eventos de dança da cidade de Salvador, para se discutir

incentivos para a área. Esse evento foi fruto da parceria com instituições como o SEBRAE,

Caixa Econômica Federal, Escola de Dança da UFBA, dentre outras, e se configurou como a

nossa primeira vivência no campo das políticas culturais.

Após passarmos por várias outras experiências nesse âmbito, inclusive na

administração pública, fomos convidados a trabalhar, em 2012, no Projeto MinC-UFBA,

atuando em diferentes setores, como assistência técnica, orientação, supervisão e conteudista.

Percebemos, então, o aspecto transformador desse Projeto, ao contribuir para a formulação

participativa de políticas culturais locais. Eis a motivação para nos debruçarmos sobre essa

iniciativa no mestrado, dessa vez como pesquisadora, afinal, “só investigamos de verdade o

que nos afeta” (Gramsci apud Martín-Barbero, 2004, p. 25). O acesso facilitado às equipes

gestora, técnica e pedagógica, as representantes municipais e aos documentos produzidos nos

possibilitou a produção das informações, análises e reflexões aqui expostas.

Dito isto, esta dissertação gravita em torno do seguinte questionamento: como a

diversidade cultural se apresentou na proposição do Projeto, nos conteúdos aportados e na

metodologia aplicada? Para respondermos a esta indagação, estruturamos o trabalho da

seguinte forma: no primeiro capítulo, realizamos uma revisão bibliográfica sobre os conceitos

que subsidiaram o avanço das reflexões necessárias a este estudo, como o fenômeno da

16

globalização e mundialização, participação social, diversidade cultural, políticas públicas,

políticas culturais e cultura. Nessa abordagem, procuramos contextualizar tais temas a partir

do processo histórico e da perspectiva contemporânea, especialmente no âmbito da realidade

brasileira.

Ainda nesse capítulo, tratamos mais especificamente sobre o Sistema Nacional de

Cultura (SNC) e os desafios para a implementação de políticas para a diversidade,

compreendendo a estruturação do Sistema, a legislação correlata e a relação federativa, o que

nos levou a estabelecer o vínculo com o nosso objeto de pesquisa. Buscamos identificar

eventuais fragilidades e apresentar possibilidades para a consolidação de um processo efetivo

de institucionalidade, no qual a diversidade cultural se faz presente como elemento necessário

para o entendimento de uma política cultural contemporânea.

No segundo capítulo, a partir de documentos administrativos e da análise do material

didático utilizado pelos participantes do Projeto, descrevemos minuciosamente o Projeto

MinC-UFBA, que em sua primeira edição realizou o assessoramento técnico de 20

municípios brasileiros, enquanto na segunda, através do uso de ferramentas de aprendizagem

à distância, desenvolveu um processo formativo para representantes de 439 cidades. Em

ambas as edições, o Projeto abarcou todas as regiões do país. Para cada uma das etapas,

apresentamos: a) o projeto executivo, os objetivos e as fases que o compuseram; b) os

conteúdos trabalhados; c) a metodologia formulada pela equipe da EAUFBA e fases de

execução; d) o processo de realização; e, e) os resultados alcançados, considerando as

limitações decorrentes da (in)disponibilidade de informações.

No terceiro capítulo, apresentamos uma análise detalhada dos conteúdos, da

metodologia e do processo de execução, avaliando como o tema da diversidade cultural foi

tratado. Nesse sentido, analisamos os três Guias de Orientação para a Elaboração de Planos

Municipais de Cultura, utilizados na primeira edição e que apresentaram a metodologia

direcionada ao assessoramento técnico necessário à formulação dos Planos. Analisamos,

ainda, doze módulos teóricos da segunda edição, sendo seis módulos (que apresentaram

conceitos e expressões associadas ao campo da cultura e as principais discussões sobre

políticas culturais na contemporaneidade), e seis módulos que trataram especificamente sobre

a metodologia de elaboração de PMC. Não faz parte do escopo desta pesquisa a análise de

conteúdo das minutas e dos Planos elaborados pelos municípios.

Por fim, apresentamos as nossas conclusões sobre a pesquisa desenvolvida, visando

entender como a diversidade cultural foi tratada no âmbito desse Projeto e estimular um olhar

mais atento para as políticas públicas municipais de cultura.

17

É importante mencionarmos que, para a análise dos Guias, adotamos o seguinte

procedimento metodológico:

a) leitura apurada desses documentos, com o objetivo de verificar o nível de presença

do tema diversidade cultural, bem como de que modo o conteúdo relacionou a metodologia de

Planos com esse assunto. Para isso, grifamos as partes do conteúdo que se relacionavam com

o nosso objeto do estudo;

b) em seguida, elaboramos uma matriz analítica para o registro de textos que

possuíam, a nosso ver, alguma relação com o tema diversidade cultural. Esse instrumento teve

o seguinte formato: um cabeçalho identificando o Projeto, a etapa considerada para a análise e

o período de execução; logo abaixo, dispomos em colunas os tópicos e perguntas que

investigamos, a saber: itens analisados; etapas de itens analisados; texto original; o texto

tem relação com o tema da diversidade cultural? Sim ou Não. Se tem, é de forma direta

ou indireta?; considerações (incluídas ao final do preenchimento de cada linha); e

considerações gerais, que formaram um panorama sobre o conteúdo avaliado.

c) por fim, interpretamos esses conteúdos, considerando que cada edição do Projeto

apresentou assuntos específicos. Para isso, delimitamos em que momento do processo de

elaboração se encontrava o Plano de Cultura. O fato de termos integrado a equipe nos

possibilitou trazermos algumas impressões sobre o processo.

Já a análise dos documentos da 2ª edição do Projeto MinC-UFBA foi realizada a partir

das seguintes etapas:

a) estudo dos módulos básicos; identificação de trechos que, a partir da nossa

observação, poderiam ter relação com a diversidade cultural, e elaboração de

resumos/fichamentos dos mesmos.

b) leitura dos módulos de Planos, destacando trechos que também poderiam conter

relação com a diversidade cultural, e outras passagens que, no nosso entendimento,

mereceram destaque. Para fins de registro, adotamos uma planilha idêntica à utilizada para a

análise dos Guias de Orientação.

c) levantamento de informações sobre o acesso à plataforma moodle e a participação

dos integrantes dos fóruns. Essa investigação consistiu em diferentes fases:

- primeiramente, buscamos a área de atuação dos representantes municipais a partir

dos dados da planilha Participantes Inscritos.xlsx (EAUFBA, 2014c), elaborada pela equipe

do Projeto. Os representantes municipais foram considerados individualmente. Assim, no

caso da substituição de um por outro, foram considerados como dois registros de

18

participantes. Já no caso de um tutor ter atuado em mais de um grupo ou módulo, foi

considerado como um registro de tutor.

- para apuração dessas informações, descartamos o grupo Dorival Caymmi, visto que

entre os 21 grupos constituídos para o Projeto, ele não foi composto por representantes

municipais, mas por membros de entidades diversas, tais como MinC, Territórios de

Identidade, associações etc.;

- entre os 20 grupos restantes, selecionamos dez para a nossa amostra: Adriana

Calcanhotto, Almir Sater, Caetano Veloso, Cazuza, Chico Science, Gonzaguinha, Luiz

Gonzaga, Marisa Monte, Rita Lee e Tom Jobim;

- entre os 11 módulos utilizados na formação, consideramos três para a nossa análise,

sendo dois módulos básicos (Cultura e Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento),

que abordaram claramente a diversidade cultural, e um módulo sobre o processo de

elaboração de Planos (Análise da Situação Atual), que apresentou orientações sobre o

diagnóstico cultural.

Realizamos esse levantamento a partir da estruturação de planilhas eletrônicas e do

uso de tabelas dinâmicas, o que possibilitou o cruzamento de dados relacionados ao escopo

desta pesquisa.

d) analisamos também os 30 fóruns de discussão teórica, disponíveis na plataforma

moodle, e, depois, escolhemos, entre os 10 grupos selecionados para a amostra, os fóruns

correspondentes aos três módulos selecionados. Para essa avaliação, a planilha analítica não

seguiu o mesmo padrão utilizado para a análise dos conteúdos dispostos nos Guias de

Orientação e nos módulos de Planos, devido às características que compuseram esses fóruns

enquanto espaço de discussão e trocas de informações e experiências entre os participantes e

tutores. Vale ressaltar que esses fóruns foram norteados pelos conteúdos dos módulos

correspondentes, contudo, como o debate era aberto, foi comum a abordagem de temas e

assuntos, por vezes, distantes do conteúdo aplicado.

À medida que íamos preenchendo a planilha, realizamos anotações sobre as discussões

de cada um dos fóruns analisados, resultando em resumos que variaram de uma a sete laudas,

dependendo do nível de contribuições postadas nos fóruns pelos participantes e tutores. No

decorrer desse trabalho, destacamos determinadas falas que julgamos importantes.

Mantivemos aqui o sigilo das pessoas, de modo a evitar a exposição de qualquer um dos

integrantes. Porém, é possível identificarmos qualquer uma dessas citações, já que, para cada

fórum, elaboramos uma planilha específica e detalhada. As sínteses serviram como base para

a etapa analítica desta dissertação.

19

Ao passo em que íamos finalizando as tabelas, construímos gráficos. Esse

detalhamento de informações forneceu indicativos sobre o nível de participação dos

municípios e dos participantes e o percentual de intervenções, o que contribuiu para a análise

qualitativa no que se refere à relação do Projeto com a diversidade cultural.

e) apuramos, ainda, as informações registradas no Sistema PMC Modelo de

Referência, conhecido como template. O levantamento quantitativo referente ao

preenchimento dessa ferramenta teve como base os documentos de texto gerados a partir da

ferramenta usada no projeto, com posição de 05 de agosto de 2015. Tais documentos, sendo

um por município, continham as informações lançadas no template pelos participantes para

cada etapa e cada item da metodologia de elaboração do Plano Municipal de Cultura (PMC).

Coletados os documentos, consultamos cada um deles para identificar os itens preenchidos,

sem análise do conteúdo ali inserido, para fins de tabulação, classificando-os da seguinte

forma:

- completo: quando todos os itens da etapa foram preenchidos;

- parcial: quando pelo menos um dos itens foi preenchido;

- não: quando nenhum dos itens foi preenchido.

Além de permitir identificar os municípios que acessaram o template, esse trabalho

teve como objetivo verificar como se deu o preenchimento das informações, considerando as

etapas de elaboração da metodologia, possibilitando observar a dinâmica de preenchimento

adotada pelos participantes e o número final de documentos completos.

Nesse sentido, esperamos que o resultado apresentado nesse trabalho possa contribuir

para o aperfeiçoamento de metodologias e de iniciativas de apoio aos municípios para a

formulação de políticas culturais em âmbito local, com um olhar especial para o tema da

diversidade das expressões culturais.

20

CAPÍTULO 1

DIVERSIDADE CULTURAL E POLÍTICAS CULTURAIS:

HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO

1.1. Cultura e Políticas Culturais

Segundo Canclini (2007), o século XXI registra a intensificação dos fenômenos e

dinâmicas associadas à globalização, caracterizada pela articulação dos mercados em escala

mundial, a partir da associação de inovações tecnológicas e comunicacionais, e que Santos

(2009, p. 23) define como “o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista”.

Para Ortiz (2000), é relevante fazer uma distinção entre os termos “global” e

“mundial”, onde o primeiro se relaciona com processos econômicos e tecnológicos e o

segundo se refere ao domínio da cultura. Segundo o autor, mundialização é "[...] um

fenômeno social total que permeia o conjunto das manifestações culturais. Para existir, ele

deve se localizar, enraizar-se nas práticas cotidianas dos homens, sem o que seria uma

expressão abstrata das relações sociais" (ORTIZ, 2000, p. 31).

São dois fenômenos inter-relacionados, que revelam a transnacionalização e a

vulnerabilidade da cultura frente aos processos globalizantes, que forçam a existência de uma

padronização dos produtos. No entanto, Berger (2004, p.12), entende que a “globalização

ganhou um peso emocional no discurso político”, afirmando que, para alguns, ela dá origem a

uma sociedade civil internacional e, para outros, se configura como um processo de

hegemonia econômica e política americana, atingindo significativamente a cultura.

Seja qual for a abordagem, observamos que a cultura assume um papel estratégico na

contemporaneidade, rompendo com suas fronteiras e se relacionado com outros campos da

vida social, com destaque para o econômico e político. Como ressalta Miguez (2011), a

relação da cultura com a sociedade se amplia e seu papel tem sido redefinido frente a um

conjunto complexo de possibilidades que integram o mundo na atualidade, cuja forma é dada

por elementos e fenômenos que são "[...] novas sócio-tecnologias da comunicação e da

informação, interculturalidades, multiculturalidades, transculturalidades, hibridismo,

espetacularização, turistização, localismos, globalismos, glocalismos" (MIGUEZ, 2011, p. 2).

21

Para Beltrame (2005), a globalização tem o poder de unir coisas e pessoas,

independente das distâncias que lhes conferem, através de elementos materiais e simbólicos,

possibilidade essa que exige de sociedades e governos a adoção de posicionamentos, por meio

das políticas, com o objetivo de enfrentar os efeitos e consequências causados por esse

fenômeno. Para ela, algo que tenha um nível de impacto sobre as pessoas e suas condições

sociais e culturais merece uma atenção especial. O mundo contemporâneo, constituído por

dinâmicas culturais distintas, conflituosas e contraditórias, com características diversas e

adversas, faz surgir uma nova ordem mundial, que exige romper paradigmas e faz emergir

fenômenos baseados na valorização das culturas locais, em outra perspectiva de

desenvolvimento ou mesmo de “uma outra globalização”, como sugere Santos (2009).

Dupin (2009) reitera que o fenômeno da globalização não se constitui necessariamente

como um problema em si, pois a facilitação da circulação de bens e serviços culturais

favorece o encontro entre as culturas. Segundo a autora, o que afeta negativamente esse

processo é o fato de essa interação estar se dando de forma desigual, visto que países

desenvolvidos impõem de forma significativa os seus produtos e serviços aos países em

desenvolvimento, a exemplo da oferta de filmes no mundo, com grande predomínio da

indústria cinematográfica americana.

Na mesma linha, Sader (2010) faz um balanço pessimista dos processos que ocorreram

no século XX, afirmando que ele terminou “com a consolidação da hegemonia do

capitalismo, em sua forma mais selvagem – ideologia norte-americana, neoliberalismo

econômico, dominação do capital especulativo, do consumismo, do egoísmo, da predação

ambiental” (SADER, 2010, p. 14). Ao mesmo tempo, destaca que, apesar dessa visão

negativa, o século XX promoveu importantes acontecimentos democratizantes, como a

eliminação formal da escravidão, o processo de alfabetização e o término formal do

colonialismo.

Nessa direção, os fenômenos da globalização e mundialização são caracterizados pelas

relações de poder, que se dão de fora para dentro, de dentro para fora e no interior das

sociedades, estimulando, assim, novas configurações políticas que incidem sobre os aspectos

sociais e culturais de cada lugar. A partir dessa perspectiva, surgiram no âmbito internacional

movimentos liderados por organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização dos Estados Americanos

(OEA) e a rede Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), com o objetivo de, dentre outras

coisas, promover acordos globais sobre determinados temas.

22

Inúmeras discussões internacionais nos levam a compreender a cultura como elemento

relevante nos campos político e econômico, bem como para a construção de sistemas

democráticos, ao passo que também realçam questões dicotômicas que a cultura pode

apresentar em contextos de conflito e de solidariedade. Um exemplo paradigmático é o

impasse que se apresenta quanto à liberalização do produto cultural como mercadoria em

contraposição a interesses de preservação de mercados internos, o que vem gerar, mais à

frente, debates sobre a diversidade cultural.

Trata-se de um início de século marcado pela emergência de sistemas que buscam

outra compreensão sobre a cultura e o seu papel no mundo contemporâneo e promovem o

entendimento sobre as diferenças, enquanto portadoras de identidades culturais e de inovação,

até então invisibilizadas. Esses novos sistemas culturais assumem um papel importante, com

contribuições relevantes para outra configuração de mundo e, portanto, demandando maior

diálogo e reconhecimento das diferenças para a construção de novas perspectivas de

desenvolvimento econômico e humano.

As discussões internacionais sobre o campo da cultura travam batalhas que giram em

torno do fator econômico e ganham dimensões nacionais/locais, pois conduzem para o

desenvolvimento de uma compreensão sobre os impactos desses fenômenos no cenário

interno, mesmo porque os interesses nem sempre são convergentes e trazem o debate sobre

medidas e políticas de proteção às culturas locais e suas identidades.

Laraia (2009), baseando-se em um esquema formulado por Kessing, busca sintetizar o

conceito moderno de cultura, iniciando pelo entendimento difundido por teóricos

neoevolucionistas, segundo os quais a cultura é um sistema adaptativo, estando ancorada em

pressupostos acumulativos e isentos de descontinuidades, onde o processo de reprodução das

culturas se equivale à seleção natural. Neste sentido, as comunidades humanas, suas

tecnologias e seus modos de organização que se apresentarem mais resistentes ao julgo da

história, dominarão comunidades com características menos resistentes e, assim, executarão a

reprodução da sua própria cultura, promovendo um processo de eliminação.

Em seguida, ele indica três abordagens classificadas como teorias idealistas de cultura.

Uma delas considera a cultura como sistema cognitivo, baseado na linguagem e que

compreende a cultura como um evento observável, ou seja, o sujeito é alheio aos processos

culturais e estes acontecem independentemente do sujeito. Entende-se, aqui, a cultura como

sendo aquisições feitas a partir da observação de meio e do convívio social, atribuindo-se ao

indivíduo o não exercício do compartilhamento da construção cultural.

23

Outra abordagem trazida por Laraia apresenta a cultura como sistemas estruturais –

que o autor indica ser uma perspectiva desenvolvida por Lévi-Strauss – , segundo a qual as

culturas estão sedimentadas em quatro domínios culturais – mito, arte, parentesco e

linguagem – que vão construir uma percepção individual do sujeito a partir das suas

experiências e assimilações nos espaços coletivos. Essa teoria permite uma linha de

interpretação de como se constituem as identidades, que são reveladas quando postas em

contato com sociedades que tenham seus paradigmas diferentes e, por vezes, divergentes.

Essa diferença é o que constitui as distintas sociedades, culturas e, portanto, a diversidade

cultural.

Por fim, o autor relaciona a abordagem que considera a cultura como sistemas

simbólicos, conjunto de mecanismos de controle aptos a moldar comportamentos, reforçando

a ideia de que o homem é geneticamente capaz de receber tais programas, o que define esses

programas como cultura. Por aí, tem-se a cultura como um sistema de símbolos que

compreendem categorias ou regras sobre relações e modos de comportamento.

Essas teorias não são, necessariamente, divergentes, mas mostram pontos que podem

se contrapor ou se alinhar, produzindo o conceito de cultura. Laraia (2009, p. 63), após tratar

das principais teorias modernas da cultura, ressalta que “Uma compreensão exata do conceito

de cultura significa a compreensão da própria natureza humana, tema perene da incansável

reflexão humana”.

Trazendo o debate para o cenário brasileiro contemporâneo, alguns autores se

propõem a demonstrar suas compreensões sobre o conceito de cultura. Para Souza (2013, p.

161), “[...] não há um padrão de explicação sobre: o que é cultura? Ou seja, não há uma

concepção definitiva por ser uma área que carrega em si um caráter orgânico e como tal

multidimensional”. Assim sendo, atribui que a cultura é uma particularidade intrínseca à vida

do homem desde que ele existe, e que se constitui/integra a partir dos seus modos de fazer e

viver.

Na perspectiva de Chauí (2006, p. 68-69), após sua participação na prefeitura de São

Paulo e considerando aqueles que se encontravam à margem da política cultural, a cultura

deve ser entendida como “direito dos cidadãos, sem confundi-los com as figuras do

consumidor e do contribuinte”. Para ela, a cultura se constitui a partir da garantia de direitos, a

saber:

- o direito de produzir cultura, seja pela apropriação dos meios culturais

existentes, seja pela invenção de novos significados culturais;

- o direito de participar das decisões quanto ao fazer cultural;

24

- o direito de usufruir dos bens da cultura, criando locais e condições de

acesso aos bens culturais para a população;

- o direito de estar informado sobre os serviços culturais e sobre a

possibilidade de deles participar ou usufruir;

- o direito à formação cultural e artística pública e gratuita nas Escolas e

Oficinas de Cultura do município;

- o direito à experimentação e à invenção do novo nas artes e nas

humanidades;

- o direito a espaços para reflexão, debates e críticas;

- o direito à informação e à comunicação. (idem, ibidem, p. 70-71)

Em seu Dicionário Crítico, Coelho apresenta um conceito ampliado de cultura que está

imbricado em uma compreensão contemporânea e se insere em um contexto das políticas

culturais, tanto no âmbito nacional como no internacional. Para ele:

[...] o termo “cultura” continua apontando para as atividades determinadas

do ser humano, que, no entanto, não se restringem às tradicionais (literatura,

pintura, cinema – em suma, as que se apresentam sob uma forma estética),

mas se abrem para uma rede de significações ou linguagens incluindo tanto a

cultura popular (carnaval) como a publicidade, a moda, o comportamento

(ou atitude), a festa, o consumo, o estar-junto, etc. (COELHO, 2014, p. 115)

Tomando essa perspectiva, o autor propõe a integração da cultura a outras dimensões

da vida social, assumindo um lugar central, especialmente no rol das políticas culturais. Para

ele, uma ideia de cultura considerada por algumas políticas culturais é a de “Uma longa

conversa entre tudo que é cultura, entre todos os que movem a cultura. Uma longa e franca

conversa. A melhor ideia de liberdade e cultura é essa ideia de cultura” (idem, ibidem, p. 118).

Como uma ideia estimulante para os estudos de cultura e política cultural, Coelho

propõe compreendê-la como arado, uma vez que a palavra e o próprio conceito vêm da

agricultura e a sua raiz estaria na palavra anglo-saxã “coulter, nesse universo considerada uma

cognata de cultura e que significa a lâmina do arado” (COELHO, 2008, p. 18). Defende,

ainda, em lugar de uma visão imobilizadora, a ideia de considerar a cultura como um motor a

contribuir para uma transformação positiva da realidade e para o desenvolvimento humano,

função que, segundo Brant (2009, p. 17), ainda é pouco reconhecida e estimulada como “algo

que identifica o indivíduo em seu espaço, lugar, época, tornando-o capaz de sociabilizar e

formar espírito crítico”.

Para avançarmos na discussão, faz-se necessário estabelecer os conceitos adotados, no

âmbito desta pesquisa, para política pública e política cultural. Sobre política pública,

adotamos o conceito formulado por Saravia (2006, p. 20), que a define como:

[...] um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões,

preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de

um ou vários setores da vida cultural, por meio da definição de objetivos e

25

estratégias de atuação e da alocação dos recursos para atingir os objetivos

estabelecidos.

Relativamente à política cultural, trazemos o conceito formulado por Canclini (1987,

p. 26):

Entenderemos por políticas culturales al conjunto de intervenciones

realizadas por el Estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios

organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las

necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de

orden o de transformación social.

A escolha dos conceitos acima decorre do fato de que os autores apresentam uma

perspectiva democrática, reforçando a figura do Estado como um dos principais atores, mas

não o único, responsável pela realização de ações articuladas para o atendimento a

determinados objetivos e às demandas da sociedade.

A partir de um olhar atento das dinâmicas que envolvem a cultura, em um contexto

internacional onde as relações econômicas ganham relevância sobre o mundo cultural,

considera-se como ponto diferencial a atitude do governo do Brasil, a partir de 2003. Este,

buscando fazer valer os artigos 215, 216 e 216-A da Constituição Federal, que expressam a

garantia ao direito à cultura em toda sua diversidade de expressões culturais, e visando

especialmente o reconhecimento da grande diversidade cultural existente, assume um conceito

ampliado de cultura, que congrega as distintas formas de produção cultural, levando em conta

os modos, o pensar e o fazer cultural de todos os indivíduos formadores da cultura brasileira,

conforme o então ministro Gilberto Gil abordou em seu discurso de posse:

Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para

além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que

produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de

símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade

e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos

gestos, o senso de nossos jeitos. (GIL, 2013, p. 230)

A adoção desse conceito ampliado revela uma compreensão sobre a importância do

reconhecimento das expressões culturais brasileiras, complementada pela associação a um

programa de desenvolvimento para o país, com foco na implantação de políticas que visem

igualdades de direitos e diminuição da pobreza, afetando singularmente as comunidades

negligenciadas pelo poder público em todas as dimensões do Estado. Essa posição coloca o

MinC como protagonista de um processo interno de transformação da realidade cultural

brasileira, repensando assim o papel o Estado frente aos desafios contemporâneos que

envolvem a cultura e suas interfaces.

26

Temos aqui uma abordagem que se aplica no âmbito desta pesquisa, pois a elaboração

de políticas públicas de cultura requer, dentre outros mecanismos e instrumentos de gestão,

uma longa conversa sobre cultura e seus determinados contextos (históricos, geográficos,

políticos, institucionais, sociais e econômicos).

1.2 Para um conceito de diversidade cultural

A passagem do século XX para o século XXI trouxe novos desafios ao mundo

contemporâneo, frutos da globalização, embalados pela ampliação dos mecanismos de

comunicação e pelas novas tecnologias, que redefinem o conceito de distância e trazem para o

centro do debate a relação entre cultura e desenvolvimento, a ampliação do mercado cultural e

os interesses econômicos e de expansão de divisas.

Entre o período pós-guerra e a década de 1970, o conceito de cultura estava associado

à promoção da paz entre os povos, com vistas à cooperação e diálogo interculturais, visando à

reconstrução de sociedades afetadas pelos conflitos, ao tempo em que também se formulava

uma nova ordem econômica mundial, resultando na criação de diversos organismos

multilaterais, dentre eles a Unesco. A partir daquele momento, “[...] deflagra-se uma espécie

de vida epistemológica, quando a organização dilata um conceito de cultura, conferindo-lhe

uma acepção antropológica que privilegia os modos de vida, tradições e valores dos diferentes

povos ao tempo que lhe articula com a noção de desenvolvimento”. (VIEIRA, 2009, p. 67).

Para Obuljen (2005), há uma dificuldade em reconhecer os diversos instrumentos ou

fóruns que vêm tratando a diversidade cultural, considerando a existência de diferentes termos

utilizados para descrever os aspectos relacionados à sua compreensão, como

multiculturalismo, pluralismo cultural, interculturalismo, fusão cultural etc. Nesse sentido,

Obuljen identifica duas abordagens distintas, porém convergentes, sobre o tema. A primeira

se relaciona ao multiculturalismo, que surge inicialmente no Canadá, reconhece o sujeito

como portador de identidades individuais e coletivas, considera a importância dos direitos

humanos e a promoção da democracia, além da participação das minorias de forma igualitária

e as suas distintas categorias (raça, gênero, sexo etc.). A segunda abordagem vem sendo

discutida sobre a ótica da relação entre os Estados-nações, sociedade e/ou culturas e se baseia

nas trocas culturais a partir da estruturação de um mercado de bens e serviços culturais em

função da sustentabilidade da produção interna e de um intercâmbio equilibrado entre

culturas.

27

Sob a perspectiva histórica, a autora afirma que nos debates compreendidos ente 1946

e 2000, quatro momentos refletiram o desenvolvimento das discussões sobre o conceito de

diversidade cultural:

a) quando a cultura era entendida sob o domínio das artes, os Estados-nações eram

vistos como “entidades unitárias” e a ideia de pluralismo estava ligada às diferenças

intranacionais;

b) no contexto da Guerra Fria, nos tempos do imperialismo ideológico, quando o

conceito de cultura foi alargado e ela passou a ser entendida como identidade;

c) quando o conceito de cultura é associado ao de desenvolvimento, trazendo

alterações no contexto do planejamento de políticas e no campo da pesquisa;

iv) quando foi desenvolvida uma relação entre cultura e democracia e também a

necessidade de expandir o conceito de diversidade, com o objetivo de abarcar os desafios e

significados diferentes que ela carrega.

A década de 80 se apresentou como um período de grandes discussões quanto ao

tratamento a ser dado aos bens e serviços culturais, tendo como palco principal as rodadas de

debates da Organização Mundial do Comércio (OMC), com destaque para duas posições

antagônicas. De um lado, Estados Unidos e Japão, que dominavam o mercado internacional

de audiovisual, editorial, fonográfico e de jogos eletrônicos, defendiam a livre

comercialização dos produtos culturais, devendo esses receber o mesmo tratamento que

outros bens e serviços comerciais. De outro, Europa – notadamente a França – e Canadá,

preocupados em desenvolver políticas de proteção aos seus produtos culturais, defendiam o

estabelecimento de cláusula da “exceção cultural” para as regras comerciais (BRANT, 2005),

que posteriormente evoluiu para o discurso da proteção da diversidade cultural, de modo a

evitar preconceitos que a chamada política de exceção suscitava (KAUARK, 2008).

Em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Comissão Mundial sobre

Cultura e Desenvolvimento, reunindo especialistas das mais distintas áreas – economia,

cultura, antropologia etc. – para a realização de um estudo mais apurado sobre a relação entre

cultura e desenvolvimento e a apresentação de propostas que pudessem assessorar a

comunidade internacional a lidar melhor com essa relação. Dentre seus membros, vale

registrar a presença do brasileiro Celso Furtado, economista e ex-ministro da Cultura.

Essa Comissão produziu o Relatório Nossa Diversidade Criadora, que apresenta a tese

de que o “desenvolvimento compreende não apenas o acesso a bens e serviços, mas também a

possibilidade de escolher um estilo de coexistência satisfatório, pleno e agradável”

(CUÉLLAR, 1997, p. 21), ressaltando, de maneira coerente, a importância da diversidade

28

cultural. Esse Relatório aborda ainda a cultura como um eixo fundamental para o

desenvolvimento, no qual o seu fator simbólico passa a ser visto como um diferencial para um

projeto de desenvolvimento que tenha, entre outros interesses, o desenvolvimento humano.

O Relatório coloca para o debate internacional uma compreensão da relação entre

cultura e desenvolvimento pautada por diversos temas que, ora podem ser consensualizados,

ora apresentam-se complexos e distintos, emergindo tensões próprias dos debates que

envolvem o assunto. O documento valoriza a dinamicidade da cultura, sua capacidade de

evoluir e afirma que o pluralismo depende das possibilidades de os atores sociais terem a

liberdade de tomarem iniciativas democráticas e manifestarem livremente sua criatividade.

Reitera também que as tecnologias de comunicação não devem ser utilizadas por

poucos para cercear a liberdade do povo e oprimi-lo, mas sim com o propósito de lutar contra

as desigualdades. Dessa forma, o Relatório ressalta que “são necessários um mercado

competitivo e um equilíbrio entre eficiência e equidade, entre as preocupações locais e

globais” (idem, ibidem, p. 25).

No bojo dessas discussões, a partir da defesa de um novo paradigma que articule os

esforços de governos e seus departamentos, sociedade civil e setor privado, a Comissão

propõe a reformulação das políticas culturais, atrelada à modificação do conceito de

desenvolvimento cultural:

Quando a cultura é entendida como base do desenvolvimento, a própria

noção de política cultural deve ser consideravelmente ampliada. Toda

política de desenvolvimento deve ser profundamente sensível à cultura e

inspirada por ela. […] definir e aplicar esse tipo de política significa

encontrar fatores de coesão que unam sociedades multiétnicas por meio de

um melhor uso das realidades e oportunidades de pluralismos. (idem, ibidem,

p. 305-306)

Na Conferência Intergovernamental em Políticas Culturais, em Estocolmo (1988),

com a ampliação e aprofundamentos sobre a relação entre cultura e desenvolvimento, o tema

da diversidade cultural assumiu lugar de destaque na pauta. Lima (2014) indica que isto se dá

por dois aspectos: pela discussão do vínculo entre cultura e identidade, no contexto de uma

globalização mais acelerada, e pela crescente preocupação com as assimetrias do comércio

internacional a ameaçar as produções e os mercados nacionais de bens e serviços culturais.

Ali, reconhece-se que a cultura se torna imperativa no rol das políticas públicas e que

as políticas culturais são fatores estratégicos para o desenvolvimento, por estimular a

criatividade e a preservação da identidade cultural, fomentar a participação social na vida

29

cultural, estabelecer incentivos para o desenvolvimento da indústria cultural e contribuir para

a diversidade linguística e cultural, além de incentivar financeiramente atividades culturais.

Nesse contexto, nasceram instituições e documentos voltados para o tema, como a

Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002) e a Convenção sobre a,

Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (idem, 2005), sendo que o

segundo se constitui com um “instrumento jurídico internacional, que cria compromisso, cria

vínculos, […] representa a consolidação de um conjunto de instrumentos jurídicos que a

Unesco já possui na área da Cultura” (MACHADO, 2008, p. 28-29). A Convenção, ratificada

pelo Brasil no final de 2006, é mecanismo fundamental, na medida em que, resguardando o

direito à soberania nacional e a autonomia política, cria para os Estados-Membros que a

ratificaram direitos e obrigações a serem incorporados através de políticas públicas de cultura

de cada um deles, visto que, como destaca Dupin (2014), “a diversidade deve ser tratada

como ‘patrimônio comum da humanidade’ e sua defesa ‘um imperativo ético inseparável do

respeito à dignidade do ser humano”.

Já a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural propõe como entendimento de

cultura um “conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que

caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os

modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”

(UNESCO, 2002, p. 1). Esse documento sugere ainda que a cultura deve ocupar um lugar

central nos debates contemporâneos e criar condições para um diálogo entre as civilizações,

em um ambiente de tolerância e cooperação, buscando entendimentos mútuos, o que se

considera como garantias de paz e segurança internacionais.

Observamos que, na construção do conceito de diversidade cultural, a Unesco

procurou congregar os interesses dos países-membros, ao tempo em que ressaltou dois

importantes sentidos: a valorização do fator simbólico da cultura e suas múltiplas formas de

expressão como portadora de identidades; e o seu valor econômico, que deve ser visto a partir

da lógica adotada em cada país, com possibilidades de garantias para a proteção e promoção

das culturas e suas identidades, mas com vias de abertura de mercado, valorizando assim o

fortalecimento do mercado de bens e serviços culturais. Nesse sentido, a Unesco define

diversidade cultural como:

[...] multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades

encontram sua expressão. Tais expressões são transmitidas entre e dentro dos

grupos e sociedades. A diversidade cultural se manifesta não apenas nas

variadas formas pelas quais se expressa, se enriquece e se transmite o

patrimônio cultural da humanidade mediante a variedade das expressões

culturais, mas também através dos diversos modos de criação, produção,

30

difusão, distribuição e fruição das expressões culturais, quaisquer que sejam

os meios e tecnologias empregados. (UNESCO, 2005, p. 5)

Destaca-se, assim, a importância de se reconhecer a diversidade cultural a partir das

diferenças culturais que a constitui, com as singularidades e especificidades contidas em cada

nação, em cada localidade, e a importância que as trocas culturais ganham nesse contexto,

valorizando as diferenças existentes e fortalecendo as capacidades de diálogos entre as

culturas.

Goldsmith, ao explorar como o discurso político internacional reflete as relações entre

globalização e diversidade cultural, destaca que esta pode ser apresentada a partir de três

visões distintas, que “[...] possuem implicações diferentes, apoiam diferentes pontos de vistas

de diversidade cultural e demandam abordagens políticas diferentes” (GOLDSMITH, 2005, p.

93). A primeira visão, entendendo o mundo como uma pluralidade de Estados-nações, traz a

diversidade cultural como mecanismo de distinção das culturas nacionais frente às tendências

gerais de homogeneização; a segunda, ainda tendo o Estado-nação como importante

referencial, relaciona-a ao fortalecimento da democracia cultural e a novas formas de

cidadania, a partir da construção de constituições baseadas no princípio da heterogeneidade; e,

a terceira, a partir do processo cada vez mais acelerado de circulação de pessoas e ideias,

como fomento ao intercâmbio de características culturais heterogêneas, que ocorrem dentro

ou para além das estruturas do Estado-nação, podendo enfraquecê-las.

Ainda tratando da relação entre globalização, cultura e diversidade, Appadurai (2004)

afirma que, localmente, os processos são constituídos de elementos que tornam a cultura

diversa e contraditória, a partir de uma perspectiva de diversidade pautada pelas diferenças

que constituem as culturas e identidades locais, afinal “sociedades diferentes têm modos

diferentes de apropriar os materiais da modernidade” (APPADURAI, 2004, p.

32). Tal característica, segundo o autor, sempre esteve presente no ambiente nacional/local,

contudo a sua importância se amplia num contexto em que a cultura se revela

economicamente rentável e propagadora de possibilidades de expansão de mercados, cujos

interesses estão voltados para um contexto globalizado.

Matterlat (2005), por sua vez, destaca duas posições contraditórias em relação à

diversidade cultural. Uma delas entende a cultura como bem público comum, a partir da qual

estados e instituições defendem a instauração de políticas públicas nacionais e regionais com

vistas ao fortalecimento da diversidade cultural, e a outra, a partir das dinâmicas da

globalização, traz uma posição política em prol do fim do Estado-nação e o surgimento de

31

uma sociedade civil híbrida de dimensão mundial. Esse antagonismo se apresenta como um

desafio, seja para a reconfiguração do conceito de hegemonia, seja para a construção de

estratégias para a esfera pública, reconhecendo a diversidade cultural como fundamento da

democracia.

[...] os debates e as proposições de estratégias que emanam do conjunto

díspar dos debates internacionais fazem surgir projetos constratados de

integração mundial que põem em xeque valores estéticos, éticos e políticos

antagônicos. Eles evidenciam os conflitos em torno do sentido e da

utilização do conceito de diversidade. Eles mostram como o “mercado das

palavras” tende a se alinhar com as “palavras do mercado”. (MATTERLAT,

2005, p.11)

Nesse debate, Bernard (2003) propõe a necessidade de um novo conceito de

diversidade cultural a partir da compreensão de cinco características. Ele defende que a

diversidade cultural tem base no diverso, sendo resultado de um movimento de lutas e

conflitos. Afirma que a diversidade cultural é cultural e não natural, pois as culturas surgem a

partir de conflitos com as condições naturais e também dos encontros com outras culturas. A

partir desses dois conceitos, Bernard defende que a diversidade cultural pretende ser dinâmica

e não estática ou rígida – como ele considera ter sido tratada na Declaração da Unesco –,

destacando que “é preciso valorizar as ambiguidades e as condições inerentes à dinâmica

intercultural: reivindicar que a diversidade cultural seja dinâmica pressupõe renunciar à

ingenuidade da diversidade ‘necessariamente boa’” (BERNARD, 2003). Ou como ressalta

Barros, a diversidade:

não se constitui como um mosaico harmonioso, mas um conjunto de opostos,

divergentes e contraditórios. A diversidade cultural é cultural e não natural,

ou seja, resulta das trocas entre os sujeitos, grupos sociais e instituições a

partir das diferenças, mas também das desigualdades, tensões e conflitos.

(BARROS, 2008, p.18)

A partir da característica de dinamismo atribuída à diversidade cultural, Bernard

classifica-a simultaneamente como questão e reposta, em um processo dialético que leva “o

movimento de cultura mais adiante” (BERNARD, 2003). Dessas cinco características, o autor

conclui que, longe de ser um inventário, a diversidade se torna um projeto, inicialmente

teórico; em seguida, jurídico; e, enfim, um projeto de natureza especialmente política, pois se

dá a partir do reconhecimento das diferenças e do campo permanente de lutas.

Em sintonia com o conceito atribuído por Bernard, Barros desenvolve algumas

contribuições relacionadas aos temas desenvolvimento (2008), gestão pública (2009; 2011) e

formação na área da cultura (BARROS; OLIVEIRA JÚNIOR, 2011). São abordagens que

32

reiteram o poder dinâmico da cultura e permitem o entendimento de que a diversidade cultural

se apresenta como um projeto político, “um campo complexo, indispensável à vida coletiva,

referente simbólico e político obrigatório quando se tem em mente a transformação social”

(BARROS, 2009, p. 61), no qual se congregam visões e percepções de mundo diferenciadas,

onde a sociedade civil é entendida como “um lugar político obrigatório de tensões e

convergências” (idem, ibidem, p. 61).

Nessa perspectiva, o envolvimento cada vez maior da sociedade é fundamental, pois o

movimento de interação entre governos e sociedades tende a seguir em uma direção

multifacetada, promovendo políticas mais coerentes com o conjunto das dinâmicas

desenvolvidas em contextos díspares, em prol do desenvolvimento, proteção e promoção da

diversidade cultural.

1.3 A Convenção da Unesco e o protagonismo internacional do Brasil

Para o âmbito desta pesquisa, consideramos a Convenção sobre a Proteção e

Promoção da Diversidade das Expressões Culturais como componente relevante para a

discussão sobre a importância das políticas culturais para a definição de condutas e ações a

serem adotadas pelos países. São elementos que reforçam a necessidade de estabelecer, a

partir de uma participação ampla da sociedade, dispositivos nacionais/locais públicos de

fortalecimento cultural, tendo a diversidade cultural como motor de desenvolvimento e como

elemento político para o enfrentamento das questões inerentes às dinâmicas culturais locais,

observando o respeito aos direitos humanos e aos direitos fundamentais.

Para além do reconhecimento das indústrias culturais como disparadoras de

desenvolvimento, a Convenção, no contexto do comércio internacional, estabelece que as

atividades, bens e serviços culturais devem ter um tratamento diferenciado e ressalta os

conhecimentos tradicionais e de grupos minoritários como fontes de riqueza e essenciais para

o desenvolvimento sustentável. Reconhece a importância da proteção e promoção das culturas

e comunidades em situação de vulnerabilidade cultural e a necessidade de se manter um

sistema diversificado de comunicação para a fruição das informações culturais e o

florescimento dessas expressões.

A Convenção também enfatiza a necessidade de se criar instrumentos e meios que

promovam as trocas culturais e mitiguem os desequilíbrios nas relações entre países,

considerando que as diferenças estruturais entre os países ricos e os países em

33

desenvolvimento são alarmantes. Tal cuidado é essencial ao considerarmos que a influência

dos primeiros sobre as dinâmicas locais dos segundos apresenta-se como mais uma estratégia

de conquista dos campos simbólicos, com interesses em garantir suas posições hegemônicas.

O Brasil assumiu uma posição destacada nas discussões promovidas no âmbito da

Unesco que resultaram na Convenção. Isto se deu a partir da posse de Luiz Inácio Lula da

Silva como presidente da República e de Gilberto Gil como ministro da cultura, em 2003.

Nesse momento, foi proposta uma mudança de conduta do estado brasileiro, que passou a

adotar como linhas estratégicas a diminuição das desigualdades sociais e um desenvolvimento

inclusivo, com a participação social sendo considerada fator decisivo na construção das

políticas públicas.

Com essa decisão de cunho político, o governo brasileiro vai, assim, ao encontro do

que Gruman (2008) chama de cidadania cultural, postura que se baseia numa concepção

democrática, onde indivíduos são entendidos como sujeitos políticos e não como meros

consumidores e colaboradores, sendo a cultura vista como direito dos cidadãos, que ademais:

[...] têm o direito à informação, ao debate e à reflexão; o direito de produzir

cultura; o direito de usufruir os bens da cultura; o direito à invenção de

novos significados culturais; o direito à formação cultural e artística; o

direito à experimentação e ao trabalho cultural crítico e transformador. Ao

valorizar as múltiplas práticas e demandas culturais, o Estado permite a

expressão da diversidade cultural. (GRUMAN, 2008, p. 180-181)

Kauark (2010), ao discorrer sobre a participação do Brasil nos trabalhos que

resultaram na Convenção, aponta alguns elementos que deram ao país uma posição de

protagonismo nesse processo. Primeiro, a ação articulada dos Ministérios das Relações

Exteriores e da Cultura permitiu a exposição clara para os demais participantes sobre os

interesses do Brasil, em uma estratégia de construir a convergência de aspectos considerados

essenciais:

a) a consagração do direito dos Estados de proteger e promover a

diversidade de seus conteúdos e suas expressões culturais; b) a afirmação da

especificidade dos bens e serviços culturais; e, c) o princípio de que as

políticas culturais na esfera internacional devem favorecer o fortalecimento

da economia da cultura dos países em desenvolvimento por meio de maior

isenção no mercado internacional. (ALVAREZ apud KAUARK, 2010, p. 5)

Depois, a articulação para diálogo e negociações com bloco de países da África e da

América Latina, assim como a União Europeia, China e Canadá em busca de apoio às

propostas brasileiras, auxiliando inclusive na formatação de propostas intermediárias, como

34

no caso dos debates que confrontavam livre comércio e exceção cultural, conforme exposto

pelo Secretário-Executivo do MinC, Alfredo Manevy:

De um lado, vinham os franceses com uma posição muito radical em torno

da exceção cultural, isso desde a época do GATT, com um discurso de

protecionismo, de fechamento da economia cultural a partir de uma presença

muito forte do Estado. De outro, os EUA, com uma posição aberta e liberal,

no sentido de não ter a presença do Estado e de não reconhecer como

legítima uma regulação internacional neste sentido. […] Neste panorama,

Brasil e Canadá despontaram, reconhecendo a importância da regulação do

Estado, mas, por outro lado, reconhecendo a importância da globalização e

das trocas entre os países. […] Essa complexificação da posição do Brasil e

do Canadá foi permitindo construir uma maioria política junto com os

franceses no sentido de criar um marco mais geral, pois se cada país adotasse

exclusivamente uma política doméstica de protecionismo, isso teria um

impacto limitado, não resultaria numa posição consistente que promoveria a

diversidade cultural. (MANEVY apud KAUARK, 2010, p. 5-6)

A destacada participação do Brasil nos trabalhos de formulação e aprovação da

Convenção marcou a nova postura do país em relação ao campo cultural, especialmente

quanto a políticas nacionais de proteção e promoção da diversidade das expressões culturais.

Porém, antes de entrarmos mais detalhadamente nesse tema, cabe apresentar um resumo

histórico sobre as políticas culturais no Brasil.

1.4 A institucionalidade da cultura no Brasil: mudança de paradigma, processos em

andamento

Calabre (2005, p. 10), ao elaborar um inventário histórico de ações governamentais no

campo da cultura, considera que “A elaboração do que se pode chamar de políticas culturais

governamentais no Brasil teve início durante o primeiro governo Vargas” (1930-1945),

ganhou novo fôlego durantes os governos Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1978) e chegou

ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com foco predominante nos incentivos

decorrentes de renúncia fiscal, registrando-se, ao longo do tempo, diversos momentos de

descontinuidades, abandonos e retomadas de ações públicas da área cultural.

Rubim (2008) traça uma retrospectiva idêntica para o período até 2002, apontando

momentos de maior e menor avanço quanto à formulação de políticas públicas nacionais de

cultura. Assim como Calabre, Rubim registra que uma maior ênfase na questão ocorreu em

períodos ditatoriais, quando o principal objetivo era instrumentalizar e domesticar a cultura,

visando legitimar o regime vigente.

35

Barbalho (2007) faz o mesmo percurso, dando ênfase na perspectiva da diversidade

cultural e registrando que, em alguns momentos da história política do país, as identidades

culturais que marcaram a heterogeneidade cultural brasileira eram entendidas sob o princípio

da unidade e não das diferenças. Na Era Vargas, buscou-se valorizar a mestiçagem em um

processo de reconfiguração do homem brasileiro; assim, “a valorização da nacionalidade

como política de Estado orienta a ação do governo na área cultural ao glorificar a cultura

popular mestiça, elevando-a a símbolo nacional” (BARBALHO, 2007, p. 41).

Já na ditadura civil-militar, houve uma preocupação em garantir a integração nacional

e a cultura passou a ser percebida como elemento central desse processo, tendo sido

construída uma visão do nacional-popular, onde “o nacional reforça a identidade diante do

que vem do exterior e o popular atua no reforço no interior do país” (ibidem, p. 41). No

entendimento do autor, trata-se de uma abordagem em que a unidade não descarta a

diversidade, porém esta é entendida sob a perspectiva do idêntico.

Nesse período, foi instituída a Política Nacional de Cultura, primeiro plano de ação

governamental com princípios norteadores de uma política cultural. Nele, encontros nacionais

com a participação de representantes regionais de cultura foram uma estratégia adotada para a

unificação da política cultural, onde a dimensão regional estava submetida à dimensão

nacional, fortalecendo a integração.

Durante o período que durou do Governo Sarney (1985-1990) ao Governo Fernando

Henrique Cardoso (1995-2002), a visão de Estado neoliberal ganhou força, reduzindo a

política cultural a incentivos baseados em renúncia fiscal, onde a cultura ficou submetida à

lógica do mercado, comprometendo, assim, a inclusão de manifestações e expressões culturais

sem apelo mercadológico. Da mesma forma, regiões com menor dinamismo econômico foram

preteridas e os principais centros do país (São Paulo e Rio de Janeiro) foram os principais

beneficiados com o patrocínio de ações culturais.

Podemos observar que, conforme analisado pelos três autores, o histórico das políticas

culturais demonstra que os governos modelavam as políticas públicas de acordo com as suas

ideologias, baseadas especialmente em uma visão elitista e discriminatória. Nesse contexto, as

decisões para o campo da cultura foram predominantemente centralizadas, onde a

participação social se deu de modo secundário.

A partir de 2003, com o advento do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, a

institucionalização das políticas culturais no Brasil ganhou espaço importante nas discussões

públicas, baseada na tridimensionalidade da cultura – simbólica, cidadã e econômica (Figura

1). Para tanto, dois princípios são centrais: a participação ampliada da sociedade na

36

formulação e implantação dessas políticas e o devido reconhecimento e fortalecimento das

expressões culturais. Como consequência da relação entre essas três dimensões, a política

cultural se constitui como um conjunto de ações que garantam os direitos culturais, a proteção

e promoção da diversidade cultural e o pleno exercício da cidadania (BARROS, 2016).

Figura 1 – A Tridimensionalidade da Cultura

Fonte: MINC, 2011, p. 33.

O projeto de institucionalidade empreendido pelo governo brasileiro se manifesta

como uma mudança de paradigma nas políticas culturais, pelo desafio de promover um

conceito de gestão cultural que abarque, como elemento fundamental, a diversidade cultural,

que se constitui a partir das diferenças inerentes às identidades culturais. Também exige do

poder público transformações estruturais, normativas e humanas para atender a esse novo

referencial de atuação, uma vez que:

[...] a experiência com a diversidade exige um olhar que capta o outro na sua

opacidade, ou seja, que não tenta impor a ordem do conhecimento completo

sobre o outro. É preciso a “neblina” para que, respeitando os mistérios do

diferente, a diversidade possa surgir em toda a sua potência. (MELO, 2011,

p. 6).

Adotar a diversidade cultural em toda a sua complexidade, como pressuposto para a

política nacional de cultura, revela uma disposição em romper com uma visão nacionalista,

conservadora e autoritária, a fim de promover uma mudança no comportamento institucional e

social, preparatória para os enfrentamentos necessários, sob os pontos de vista político e

histórico, como os padrões culturais elitizados e os subalternizados. Como a gestão cultural é

37

um campo que abriga uma série de atividades distintas, implica desenvolver e implementar

planos e projetos, reformular estruturas, levantar e aplicar recursos (financeiros, humanos,

físicos e tecnológicos, dentre outros), fazer uso da criatividade e da capacidade de inovação

para que os objetivos propostos sejam alcançados (SARAVIA, 2011).

Além da adoção do conceito ampliado de cultura, o MinC realizou algumas alterações

na sua estrutura, compreendendo a criação de novas secretarias, com destaque para as

Secretarias de Identidade e Diversidade Cultural, de Política Cultural e de Articulação

Institucional, esta última responsável pelo trabalho dedicado ao SNC, e as Regionais do

Ministério, cujo objetivo é proporcionar maior aproximação com os demais entes. Essas

modificações objetivaram imprimir esforços para a construção de uma política de cunho

federativo e um planejamento sistemático, envolvendo a criação do Sistema e Plano Nacional

de Cultura e a aproximação do MinC da realidade cultural brasileira, onde os fazedores,

artistas, instituições e organizações culturais pudessem ter um diálogo permanente.

O Seminário Cultura para Todos, realizado em diversos estados do país, cumpriu o

papel de aprofundar o debate sobre as políticas culturais, tomando como propósito inicial a

discussão sobre o financiamento público da cultura, com ênfase na Lei Rouanet, além de

promover um grande debate sobre uma política pública de cultura para o Brasil (UFBA,

2003). Esse seminário se configurou como a primeira iniciativa de participação social num

contexto das políticas públicas de cultura, dando início à integração e parceria permanente

entre os governos federal, estaduais e municipais nos debates públicos sobre as políticas

culturais, tendo em vista que:

[...] a participação social é condição basilar para a democratização do Estado

e a instauração de uma nova governança. […] Hoje a ideia da participação

social no planejamento, desenho, monitoramento, avaliação e, mesmo, na

própria implementação das ações governamentais é condição fundamental

para o alcance da sustentabilidade. […] Reconhecer que as comunidades têm

muito a aperfeiçoar, enriquecer, contribuir, que podem agregar valor aos

projetos, pois os beneficiários, em geral, conhecem melhor seus próprios

problemas dos que os burocratas. (MACHADO, 2005, p.1)

Em coerência com o projeto político adotado entre 2003 e 2016, entendemos que a

participação social “permite que os sujeitos façam parte das decisões que lhes dizem respeito,

sejam nos aspectos políticos, sociais, culturais ou econômicos” (ALVES apud SIMÕES, G;

SIMÕES J, 2015, p. 1), da mesma forma que pode ser definida como “estratégia de

redistribuição de poder, que permite aos cidadãos excluídos dos processos políticos e

econômicos serem ativamente incluídos como participantes do planejamento do seu futuro”

(ARNSTEIN apud SIMÕES G.; SIMÕES, J., 2015, p. 1). Simões G. e Simões J. (2015)

38

destacam, ainda, a importância de que a participação social ocorra de modo deliberativo em

relação às políticas públicas, caso contrário os participantes se enquadrarão simplesmente

como meros beneficiários das ações ou usuários dos serviços.

Os processos participativos para o campo cultural, realizados no período em questão,

produziram demandas de toda natureza – formação, gestão, capacitação técnica –, envolvendo

o patrimônio cultural, as artes e manifestações, segmentos culturais, gestão e políticas

culturais. Inicialmente, as demandas ainda se mantinham individualizadas. Contudo, a partir

da ampliação do diálogo e da organização setorial, dos órgãos colegiados e da implantação

dos Conselhos de Política Cultural, foi-se criando uma compreensão de que a política

nacional de cultura deve contemplar a sociedade como um todo e não apenas alguns dos

segmentos ou agentes privilegiados pelo sistema político-administrativo do Estado.

Talvez o desafio maior seja efetivamente promover uma democracia participativa e

estabelecer políticas públicas enquanto políticas de Estado, com ampla participação e controle

social, além de viabilizar estruturas organizacionais e recursos humanos e financeiros nas três

esferas de governo, pois:

A Democracia supõe também criar condições para uma ação transformadora

que tenha repercussão nos diferentes âmbitos sociais. Educar para a

Democracia exige educar para a ação político-social e esta, para ser eficaz,

não pode ser reduzida ao plano individual. Educar para a Democracia é

educar para um regime político que dê provas de sua preocupação ética com

todas as dimensões da vida pessoal e social e de sua legitimidade

(governabilidade) entre os governados. (ROCHA, 2009, p. 17)

Coelho (1986) defende que a política cultural deve propiciar às pessoas o máximo de

meios para que elas possam, em ação conjunta, desenvolver seus próprios fins, além de

afirmar que uma política de mercado se baseia na divisão de papéis, onde uns poucos

produzem e a maioria consome. Nessa perspectiva, o autor questiona: “por que não criar

condições para que todos e cada um, particularmente em conjunto, agrupados num coletivo,

possam exprimir-se como bem entenderem?” (COELHO, 1986, p. 13).

Esse autor chama a atenção para o que denomina de uma política de ação cultural, que

busca exatamente contemplar criadores e públicos através de ações de inclusão. Obviamente

que essa reflexão refere-se mais fortemente ao campo das artes, contudo parece-nos relevante

para o nosso debate relacioná-la ao sentido dado à diversidade cultural.

Observamos, então, que o MinC, dentro desse novo paradigma, buscou enfrentar os

desafios da sociedade brasileira no campo da cultura a partir da formulação de uma política

pública nacional de cultura. Para tanto, propôs-se o desenvolvimento de estratégias que

39

garantissem uma gestão articulada e compartilhada entre Estado (contemplando todos os entes

federados) e sociedade; uma atuação pactuada, planejada e complementar, com

compartilhamento de atribuições e responsabilidades; a democratização dos processos

decisórios e a participação social de forma permanente e institucional, merecendo destaque as

Conferências de Cultura e os Conselhos de Política Cultural.

As Conferências, ocorridas na sua maioria no Governo Lula, possibilitaram ampliar o

raio de atuação do Estado para um diálogo cultural, no qual a sociedade civil pôde se

manifestar livremente e as demandas e problemas que atingem as culturas puderam ser

esclarecidos em suas especificidades, viabilizando uma atuação para o avanço das políticas

culturais. Nesse sentido, as Conferências são:

[...] espaços de participação social onde ocorre a articulação entre Estado e

sociedade civil para analisar a conjuntura da área cultural e propor diretrizes

para a formulação de políticas públicas de Cultura, que conformarão os

planos de cultura, nos seus respectivos âmbitos. A representação da

sociedade civil será, no mínimo, paritária em relação ao poder público e seus

delegados serão eleitos. (MINC, 2011, p. 47)

A adoção de uma política cultural de cunho democrático e compartilhada

federativamente pode contribuir para um cenário de colaboração entre instituições e

organizações e, ainda, fomentar o desenvolvimento de possibilidades até então não

consideradas. Um importante problema para que isso se realize é a constatação de que as

ações do Estado estão, de modo geral, postas sob a dependência das ideologias de cada

governo e seus mandatos e da vontade política do governante de plantão. É importante

ressaltar que “A Constituição Brasileira prevê a cultura como dever do Estado, mas não

dispõe de pacto federativo, que constitui responsabilidades diferentes para cada ente (União,

Estados e municípios) na garantia do exercício do direito cultural” (VILUTIS, 2012, p. 4).

Vilutis também aponta outros desafios a serem trilhados para a institucionalidade da

cultura, como a produção de dados e informações; a oferta de ações de formação; a

diversificação de mecanismos de fomento; o desenvolvimento da infraestrutura; o

fortalecimento da institucionalidade; e, a formulação de marcos regulatórios. Isto requer a

formatação de um amplo e complexo arranjo para um planejamento sistêmico e integrado das

políticas culturais no Brasil, sendo seu principal mecanismo o SNC, que

[...] objetiva formular e implantar, democraticamente, políticas públicas de

cultura, como resultado de pactos federativos estabelecidos com a sociedade

civil e os entes federados. Dispõe de princípios, objetivos, estratégias e ações

que orientam a conduta dos atores institucionais responsáveis pelas políticas

públicas de cultura. (BARROS; COSTA, 2016, p. 1)

40

Obviamente que a construção de tais pactos federativos deve ter os entes municipais

como peça fundamental, visto que cada município se constitui como parte importante de um

sistema, cada um deles com distintas características históricas, sociais, culturais, econômicas e

políticas e, portanto, capaz de oferecer subsídios para uma política cultural efetiva, diversa e

plural. Afinal, como afirma Rebón (2014, p. 75):

En el mundo actual, la política cultural de los municipios es esencial para la

creación de elementos que promuevan la integración de la sociedad en torno

a los conceptos de equidad y democracia dado que la misma tiene impacto

directo en el sistema de valores, las tradiciones y creencias de la sociedad

así como también sobre los espacios de expresión y el patrimonio de la

comunidad.

Entendemos, portanto, que o sucesso da política cultural atual depende fortemente de

uma participação mais efetiva dos municípios, o que pode ser um ponto de preocupação,

considerando levantamentos que indicam a adesão de apenas 40% deles ao SNC (MINC,

2017) e baixos índices de avanço em relação à formulação de seus Planos Municipais de

Cultura, a saber: somente 5,9% de PMCs regulamentados por lei; 2,5% não regulamentados e

apenas 23,6% Planos em elaboração (IBGE, 2015). Nesse contexto, as iniciativas do MinC

em prol do fortalecimento da institucionalidade da cultura são de vital importância, entre as

quais se destaca o Projeto MinC-UFBA.

O SNC, cujo marco legal é a Emenda Constitucional nº 71/2012 (BRASIL, 2012), se

constitui como um conjunto articulado de elementos interdependentes e complementares que

dão sustentação à política nacional de cultura, estando nele representados a sociedade civil e

os entes federativos. O Sistema é ancorado em 11 princípios, elencados abaixo:

[...] diversidade das expressões culturais; universalização do acesso aos bens

e serviços culturais; fomento à produção, difusão e circulação de

conhecimento e bens culturais; cooperação entre os entes federados, os

agentes públicos e privados atuantes na área cultural; integração e interação

na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas;

complementaridade nos papéis dos agentes culturais; transversalidade das

políticas culturais; autonomia dos entes federados e das instituições da

sociedade civil; transparência e compartilhamento das informações;

democratização dos processos decisórios com participação e controle social;

descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações.

(MINC, 2011, p. 41)

Os elementos do SNC agrupam-se em um sistema misto, com um núcleo – a

legislação que o regulamenta – e outro dinâmico, composto de elementos nos quais se

estabelecem os processos de negociação e pactuação realizados em instâncias específicas,

41

servindo para a gestão e implementação das políticas culturais (Figura 2). A dinamicidade do

Sistema possibilita, portanto, considerar as especificidades da administração pública e as

características do campo cultural em cada ente, permitindo, com isso, maior flexibilidade na

implantação do SNC (idem, ibidem).

Figura 2 – Elementos Constitutivos do SNC

Fonte: idem, ibidem, p. 45.

O Plano Nacional de Cultura (PNC), apesar de ter sido instituído antes do SNC, é um

dos seus elementos formadores, sendo orientado pelos mesmos princípios do Sistema e

composto de 53 metas, 36 estratégias e 275 ações. Tem como objetivo nortear as políticas

públicas de cultura que visem à criação e à implementação de políticas de valorização e

fortalecimento da diversidade cultural brasileira em direção a um desenvolvimento mais

inclusivo (MINC, 2012c).

Apesar de ter se inspirado em outros sistemas federativos, o SNC não foi desenvolvido

com a finalidade de reproduzir tais modelos. Segundo Cunha Filho (2010), a sua concepção

visou considerar as idiossincrasias próprias da área cultural, com a devida observância aos

princípios constitucionais definidos para o setor, a saber: universalidade; pluralismo cultural;

participação popular; preponderância das iniciativas da sociedade e subsequente atuação

estatal como suporte logístico; respeito e resguardo à memória coletiva, além de outros

congêneres (CUNHA FILHO, 2010, p.71).

Os Sistemas de Cultura apoiam-se em nove elementos – ou oito, no caso dos

42

municípios, já que as Comissões Intergestores ocorrem apenas no âmbito da União e dos

Estados. Também foi estabelecido que, no período de dois anos a partir da adesão, Estados e

municípios são obrigados a instituírem o que se chama de CPF da Cultura: Conselho de

Política Cultural, Plano de Cultura e Fundo de Cultura, considerados elementos que

fortalecem o envolvimento da sociedade no processo da institucionalidade e contribuem para

o reconhecimento da diversidade cultural.

A não obrigatoriedade imediata dos demais elementos demonstra o reconhecimento da

complexidade desses Sistemas, já que a implantação de cada um demanda esforços que, por

vezes, envolvem mais que procedimentos administrativos, requerendo recursos financeiros,

tecnológicos, humanos e de gestão. Isto é mais acentuado na esfera municipal, especialmente

nos pequenos municípios, onde é crítica a cultura de planejamento público.

Os elementos constituintes dos Sistemas se inter-relacionam através das instâncias de

coordenação, articulação, pactuação, deliberação e de gestão, da seguinte forma: coordenação

do Sistema e das políticas culturais, que está a cargo do órgão de cultura, no respectivo ente;

instrumentos de articulação, pactuação e deliberação em que se inserem as Conferências de

Cultura (Nacional, Estaduais e Municipais), Comissões Intergestores (Nacional e Estaduais);

e os instrumentos de gestão, que estão ancorados nos Planos de Cultura, no Fundo de Cultura,

nos instrumentos de fomento (quando houver) e nos sistemas de indicadores culturais (quando

houver), sempre pensando nas três esferas de governo e respeitando as especificidades,

limitações e capacidades de gestão e de recursos de cada ente.

Frutos de diálogos entre o governo e a sociedade civil, o SNC e o PNC são

instrumentos que podem, de fato, promover um avanço nas políticas culturais. O primeiro,

pelo caráter sistêmico, exige das diversas instâncias de governo mudanças institucionais na

administração pública, condizentes com os desafios apresentados no campo cultural. O

segundo, por ser uma peça de planejamento, sistematiza um conjunto de programas, projetos e

ações de curto, médio e longo prazos que darão sustentação às políticas públicas de cultura,

estabelecendo ainda diretrizes e prioridades a serem adotadas num plano de governo, para

incorporação nas peças do orçamento público.

Barros (2016) alerta que há uma descontinuidade no processo de implantação e

implementação das políticas culturais no Brasil, experiência já vivida em outro momento da

história política do nosso país, ao afirmar que a lei que criou o SNC se mantém inexistente e

que há outros instrumentos que se encontram parados no Legislativo – tais como a PEC

150/2003, que estabelece para a cultura um piso mínimo de 2% do orçamento federal, 1,5%

do orçamento estadual e 1% do orçamento municipal; e o Procultura, projeto de atualização

43

da Lei Rouanet que pretende corrigir as distorções na lei atual.

Nesse sentido, vale destacar duas ações, frutos do Programa de Fortalecimento pela

Implementação do Sistema Nacional da Cultura (HORA; BRANDÃO, 2012), consideradas

valiosas para a estruturação dos referidos Sistemas e para as políticas culturais, envolvendo as

cinco regiões do país: o programa de formação na área da cultura, que abarca articulações e

incentivos para o desenvolvimento de cursos para gestores, conselheiros, organizações e para

aqueles que ou estão envolvidos com as dinâmicas políticas do campo da cultura ou se

dedicam a pensar e refletir sobre a cultura e seus desdobramentos; e o Projeto de Apoio à

Elaboração de Planos de Cultura, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de Planos

estaduais e municipais de cultura.

Essa segunda ação vem se desenvolvendo no âmbito dos municípios e provocando

desdobramentos consideráveis, a partir das avaliações realizadas durante o desenvolvimento

desse Projeto, fornecendo subsídios para o seu aprimoramento. Esse aprimoramento foi

perceptível através dos resultados verificados nas duas edições do Projeto, em que na primeira

20 municípios receberam apoio metodológico e assessoramento técnico direto, enquanto na

segunda 439 municípios receberam formação para a elaboração de seus Planos de Cultura.

Essa evolução nos resultados promoveu o envolvimento de um número significativo

de participantes, ampliando o diálogo entre diferentes atores e agentes culturais sobre as

políticas culturais e promovendo uma importante escuta sobre os processos da gestão cultural

municipal. Assim, o processo de planejamento da cultura se constitui por um amplo e perene

debate sobre as implicações ideológicas, políticas, gerenciais e administrativas que envolvem

o setor.

Essa mobilização, entretanto, contrasta com os números apresentados anteriormente

sobre a adesão de municípios ao SNC e da efetiva formulação e implantação de PMCs, com

resultados desanimadores. Nesse sentido, para ajudar a entender esse paradoxo, faz-se

necessário conhecer o importante esforço empregado durante a execução do Projeto MinC-

UFBA, como abordaremos no próximo capítulo.

1.5. A gestão da cultura nos municípios

Para enriquecer a presente análise, é importante refletir sobre a realidade dos

municípios brasileiros quanto à institucionalidade da cultura, entendendo o município como o

local onde a cultura se revela. Um país com extenso território, distintas matrizes culturais e

44

diferentes contextos – históricos, geográficos, políticos, econômicos e sociais – registra uma

diversidade enorme de panoramas, que, por sua vez, demandam outro olhar para as realidades

locais e suas dinâmicas, razão pela qual a consolidação de uma política pública de cultura

requer que a articulação entre os entes federados que ressalte a importância da

municipalidade.

É com essa compreensão que se buscou, a partir de 2003 e com base na Constituição

de 1988, construir uma política pública integrada onde a cultura passa a ser reconhecida a

partir de um conceito alargado, no qual os modos de ser e pensar do povo integram o

entendimento acerca das novas formas de construção social, cultural e econômica. Isso coloca

a cultura como parte de um projeto político que visa, sobretudo, a diminuição da pobreza a

partir de um processo de inclusão cultural, surgindo daí a necessidade de se instituir uma

política nacional pública de cultura estruturada num sistema, com vista à integração federativa

entre os três níveis de governo – União Estados e Municípios –, numa relação de colaboração

e complementaridade.

Sob tal abordagem, Botelho alerta que um dos problemas para a efetividade das ações

da União e dos Estados é o distanciamento da vida dos cidadãos e, daí, destaca, como um

aspecto que considera de ordem estrutural, que

se é possível afirmar que a cultura, do ponto de vista antropológico, é a

expressão das relações que cada indivíduo estabelece com seu universo mais

próximo, em termos de uma política pública, ela solicita, por sua própria

natureza, uma ação privilegiadamente municipal. (BOTELHO, 2011: s/p)

Nessa perspectiva, os municípios brasileiros apresentam-se como entes fundamentais

desse novo projeto político, que recusa a exclusão e assume o desafio de garantir direitos civis

e culturais, os quais podem vir a contribuir para uma cidadania democrática e o

reconhecimento da cultura local como disparadora de desenvolvimento humano.

Além disso, há a necessidade de novas reflexões e atitudes para a consolidação da

democracia em nosso país, constatando-se ser preciso repensar a relação entre Estado e

sociedade a partir de uma maior articulação entre essas duas instâncias. Primar pelo

reconhecimento da diversidade cultural é, antes de tudo, entender o papel da sociedade civil

como ator constituinte de um projeto que promova o desenvolvimento inclusivo, a diminuição

dos níveis de pobreza e o estímulo à capacidade criativa dos cidadãos, a partir da participação.

Obviamente que, como ressaltam Dagnino, Olvera e Panfichi (2006), será preciso

romper paradigmas históricos e estruturais que afetam a relação federativa, além da

construção de novos, que incidam sobre a compreensão da cultura e da diversidade cultural

45

como vetores de transformação e sobre os processos de dominação política que ainda estão

presentes no contexto dos municípios brasileiros, processos esses que podem ser oriundos da

sociedade civil quanto da sociedade política.

Segundo esses autores, a discussão sobre disputa pela construção democrática na

América Latina estava ancorada, por mais de uma década, nos temas da transição e

consolidação democrática, tendo sido substituídos por “novas preocupações teóricas e

políticas” (idem, ibidem: 13). Para uma análise diante de tais preocupações, os autores

trabalharam com a combinação de três instrumentos analíticos, que são a heterogeneidade da

sociedade civil e do Estado, projetos políticos e trajetórias sociedade civil-sociedade política,

configurando-se como “uma crítica do modelo teórico que separa radicalmente a sociedade

civil da sociedade política, construindo uma dicotomia simbólica entre uma sociedade civil

homogênea e virtuosa e um Estado igualmente homogêneo” (idem, ibidem: 15).

A sociedade civil se constitui de um espaço complexo em todos os sentidos da vida

coletiva, que abriga diferentes atores, formas variadas de relações – sociais, políticas e

culturais – e de tensões, no qual se entende que

no interior da sociedade civil coexistem os mais diversos atores, tipos de

práticas e projetos, além de formas variadas de relação com o Estado. (…)

uma sociedade civil composta por uma heterogeneidade de atores sociais

(inclusive com visões conservadoras), que desenvolvem formatos

institucionais diversos (sindicatos, associações, redes, coalizões, mesas,

fóruns) e uma grande pluralidade de projetos políticos, alguns dos quais

podem ser, inclusive, não-civis ou pouco democráticos. (idem, ibidem: 27)

Diante do exposto, reiteramos a ênfase para o desafio da quebra de paradigmas,

considerando tanto um rompimento com práticas políticas conservadoras quanto à reflexão

sobre o próprio modo de pensar da sociedade brasileira, ainda constituído de visões pouco

alargadas sobre o campo da cultura e de carente de um olhar comprometido com o

reconhecimento da diversidade cultural.

Neste sentido, a formação em gestão e políticas culturais não só deve estar alicerçada

em processos técnicos de planejamento para o setor, mas cabe buscar aprofundar conceitos

teóricos e temas próprios do campo da cultura, de modo que os conhecimentos se inter-

relacionem em função da efetividade da gestão e das políticas culturais. Assim, cabe destacar

o Programa de Formação na Área da Gestão Pública da Cultura, realizado entre 2009 e 2010,

através de parceria entre a Secretaria de Articulação Institucional do Ministério da Cultura

(SAI/MINC), a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/BA) e a Regional São Paulo

do Serviço Social do Comércio (Sesc/SP), cujos temas tratados, baseados no tripé vivência-

46

aprendizado-crítica, buscaram fazer com que os participantes se capacitassem para

compreender:

a cultura em sua dimensão simbólica e identitária e sua centralidade para a

cidadania e para o desenvolvimento social e econômico; as políticas públicas

de cultura como respostas a realidades objetivas de bases locais e regionais;

a economia da cultura e os modelos de financiamento público (compreender

e operar);

a importância do aprendizado e da apropriação de ferramentas de gestão

pública;

e, o planejamento estratégico como um momento de reflexão política e de

correção de rumo. (BOTELHO apud CALABRE, 2012: 166)

Merece destaque ainda a questão da territorialização, pois, como registra Calabre

(2014), não é possível impor a todo o País modelos padronizados de construção das políticas

públicas, em especial as políticas públicas de cultura. Tomando como base essa reflexão, cabe

a formulação de processos de formação que considerem, dentre outros fatores, a diferenças de

contextos e realidades locais, pois suas especificidades demandam estratégias distintas para

capacitação de atores e agentes culturais.

Esses são alguns aspectos que nos levam a refletir sobre a gestão e as políticas

culturais municipais tendo em vista o desafio da diversidade cultural, que passa não só pelo

reconhecimento das expressões culturais locais como também pelo reconhecimento da

diversidade cultural enquanto pilar de uma política pública de cultura no âmbito dos

municípios.

Para Barros, a Diversidade Cultural vai além de um conjunto de diferentes expressões,

mas sim “um campo de diferentes e, por vezes, divergentes [...] modos de instituir, de

modelos de gestão” (Barros, 2011: 21). Ele defende que não se pode reconhecer a diversidade

nas suas diferenças estéticas, mas é necessário e fundamental o reconhecimento dos modos de

gestão que estão implicados nos diferentes padrões culturais, portanto investir na formação de

gestores requer, sobretudo, ir “além do acesso a informações, diz respeito à produção de

conhecimento e experiência e isso requer tempo de maturação de conceitos e inauguração de

novas práticas” (idem, ibidem: 30).

Considerando tais abordagens, cabe reconhecer que a gestão e as políticas culturais

municipais requerem gestores que não só compreendam a necessidade de um olhar atento às

questões locais como também traquejo para lidar e liderar processos de demandem articulação

entre aquilo que é tradição e o que se apresenta como novo, entre o local e o global e sobre o

que é específico e o que é transversal na cultura.

Uma gestão cultural pautada na diversidade cultural, dentro de um projeto de

47

transformação da realidade, exigirá dos gestores municipais competências que se alinhem

com práticas criativas e inovadoras para a consolidação de políticas que possam, de fato,

traduzir em ações projetos e programas de valorização e sustentabilidade cultural. Essa

perspectiva nos conduz a compreender sobre a importância da formação de líderes políticos

institucionais capazes de implementar políticas e empreender uma gestão para a cultura

coerentes com os tempos atuais.

Para entendermos melhor sobre os desafios da política cultural nos municípios, vale

trazer para esta pesquisa, no Quadro 1, registros dos levantamentos feitos pelo IBGE sobre a

institucionalidade da cultura, o que nos permite avaliar a evolução da questão nos municípios

brasileiros:

Quadro 1 – Institucionalidade da Cultura nos Municípios

COMPONENTE 2006 2014

Secretaria Exclusiva 4,2% 20,4%

Conselho Municipal 17,0% 38,6%

Conferência N/D 50,1%

Plano Municipal

(regulamentado em lei) 3,8% 5,9%

Fundo Municipal 5,1% 19,9%

Oferta de capacitação 30,4% 36,4%

Fonte: 2006 (IBGE, 2007); 2014 (IBGE, 2015).

Registra-se, aí, uma importante evolução quanto à institucionalidade da cultura, porém

também se observa que há um longo caminho a ser percorrido, especialmente se tivermos em

mente que os números apresentados são superestimados quanto aos municípios de menor

porte.

48

CAPÍTULO 2

CONTEÚDOS, METODOLOGIAS E PROCESSOS

Podemos afirmar que as bases para uma maior e melhor atuação do MinC frente aos

desafios para a construção de políticas públicas consistiram, primeiro, numa compreensão da

historicidade das políticas culturais, conforme abordado por Calabre (2010), Rubim (2008) e

Barbalho (2007), e no entendimento da nova configuração adotada pelo Governo Federal,

quando decidiu assumir que a cultura é um elemento indispensável para a construção de outro

modelo de desenvolvimento e que, associada à participação social, visa o reconhecimento e

fortalecimento da diversidade cultural.

Essa configuração se apresentou a partir de 2003, com a reestruturação do MinC e

com uma maior atuação do órgão na construção dessas políticas, alicerçada nas seguintes

bases: a) nova estruturação física e funcional do próprio Ministério; b) conceito adotado pelo

MinC que amplia a compreensão da cultura; c) diálogo aberto com a sociedade civil; d)

relação institucional e política com os entes federativos, via representações do poder público e

da sociedade, reunidas no Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Cultura e no

Conselho Nacional de Cultura; e, e) iniciativas de indução e intervenção para a construção e

consolidação da política pública nacional, através de projetos e programas de formação na

área da cultura e de apoio técnico aos estados e municípios.

Assim, para incentivar e apoiar a construção dos Planos e atender à demanda

apresentada em 2011, pelo Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Cultura, a

SAI/MinC convidou a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a UFBA para

coordenarem essa empreitada em âmbito nacional. A incumbência de apoiar os Estados ficou

a cargo da UFSC, enquanto a UFBA ficou responsável por apoiar os municípios, cuja

formalização se deu através de Acordos de Cooperação Técnica, como explica Rocha (2014,

p. 86):

De acordo com a UFSC (2011), esse projeto foi fruto de um longo processo

de discussão, iniciado no ano de aprovação do Plano Nacional de Cultura

(PNC), em 2010, quando secretários e dirigentes de cultura alegavam a

necessidade de ações de capacitação e assistência técnica para o

desenvolvimento de seus respectivos planos, mediante apoio metodológico e

técnico de universidades. O embasamento legal da solicitação estava na

própria Lei do PNC (Lei nº 12.343/2010), que, no seu art. 3º, § 4º, afirma

que o MinC poderá oferecer assistência técnica e financeira aos entes da

federação que aderirem ao Plano.

49

A parceria entre a UFBA e o MinC deu origem ao Projeto MinC-UFBA, realizado em

duas edições. A primeira edição, desenvolvida entre novembro de 2011 e setembro de 2013,

promoveu assistência técnica direta e presencial a 20 municípios, entre capitais e cidades de

regiões metropolitanas. A segunda edição, executada entre setembro de 2014 e abril de 2016,

promoveu um processo formativo através do uso do ambiente virtual, para o qual se

inscreveram 439 cidades de todas as regiões do Brasil.

A escolha da UFBA para essa iniciativa pode ser atribuída ao seu histórico de atuação

e competência no campo das artes e da cultura, visto que é pioneira na oferta de cursos de

arte, além de ter se tornado referência também em estudos culturais, com especial ênfase em

políticas culturais, através do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e

Sociedade, vinculado ao Instituto de Humanidades, Arte e Ciências Professor Milton Santos

(IHAC).

Como a missão de assessorar os municípios exigia conhecimentos sobre planejamento

estratégico, políticas públicas e princípios da administração pública, identificou-se na

EAUFBA o ambiente ideal para o desenvolvimento dessa tarefa, o que possibilitou integrar

estrategicamente especialistas tanto da área de cultura como de administração. A UFBA

contou, ainda, com a contribuição da Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (FAPEX)

para a administração financeira do Projeto.

É importante mencionar que o Projeto MinC-UFBA teve como coordenador técnico o

professor Vicente Federico (falecido em 2013), que já havia coordenado, em 2009, também

através da UFBA, uma consultoria técnica para a Secult/BA, visando à implantação de

Sistema Municipais de Cultura junto a 100 municípios baianos. Foi Professor Vicente, como

era mais conhecido, quem sugeriu como epígrafe a frase “A gente precisa sonhar, senão as

coisas não acontecem”, de Oscar Niemeyer (UFBA, 2011: 1), por acreditar que o campo da

cultura passara a concretizar um sonho, qual seja o de se construir uma política nacional de

cultura.

Nessa perspectiva, entre o final de 2011 e fevereiro de 2012, as equipes da UFBA e do

MinC mantiveram diálogo para o desenvolvimento da metodologia de elaboração de Planos

de Cultura no âmbito municipal, quando ocorreu também a indicação e seleção das equipes de

consultores e analistas técnicos que apoiaram localmente o trabalho. Nesse período, foi feito

ainda um levantamento da realidade cultural dos municípios selecionados, através da

aplicação de dois questionários, sendo que o primeiro foi o de Levantamento Institucional

(UFBA, 2012f), sobre a situação do município quanto ao processo de implantação do Sistema

50

de Cultura, e o segundo foi o de Diagnóstico de Infraestrutura (UFBA, 2012d), sobre o

panorama cultural e as políticas para a área, à luz das metas do PNC (Apêndice 4).

O primeiro questionário, de levantamento institucional, foi criado pelo MinC com o

objetivo de atualizar a situação da integração do município ao SNC a partir da obtenção de

informações detalhadas sobre cada elemento constituinte do Sistema Municipal de Cultura

(Apêndice 5). As questões iniciais estavam relacionadas à identificação do município e se

referiram aos seguintes aspectos: localização geográfica, dirigentes municipais, natureza do

órgão municipal de cultura e contatos. O questionário buscou também coletar dados acerca

dos elementos do Sistema de Cultura, os aspectos de implantação e implementação e o

aspecto legal de cada componente.

O segundo instrumento, de diagnóstico de infraestrutura de cultura, possibilitou

conhecer a atuação do município no campo da gestão cultural, com enfoque no

desenvolvimento e execução da política pública de cultura, além de dar ênfase ao tema da

diversidade cultural, tendo servido, ainda, de componente prévio para a elaboração, na etapa

correspondente, do diagnóstico de cada cidade.

Consideramos que o questionário inicial submetido às equipes locais possibilitou

esboçar um primeiro entendimento sobre o campo da cultura, tratando os aspectos

institucionais e de gestão. O segundo questionário contribuiu para que as equipes realizassem

um levantamento inicial sobre a realidade da cultura no município, especificamente sobre a

gestão, considerando o desenvolvimento das suas cadeias produtivas, dando enfoque a temas

relacionados ao fomento, e proteção e promoção do patrimônio cultural. Essa abordagem

destacou a diversidade cultural a partir do reconhecimento da heterogeneidade de expressões

culturais existentes, assunto contemplado por meio de questões específicas.

Também ficou a cargo da UFBA a produção do seminário que serviu como ponto

inicial do trabalho. Como resultado, entre 29 de fevereiro e 02 de março de 2012 ocorreu em

Brasília o I Seminário de Planos de Cultura (SALDANHA; VERDI, 2012), no qual foi

lançado o Programa de Fortalecimento Institucional para Implementação do Sistema Nacional

de Cultura, formatado com o objetivo principal de apoiar estados e municípios na elaboração

de Planos de Cultura. Por fim, a EAUFBA propôs consolidar essa experiência em um material

didático, a ser entregue ao MinC e posteriormente disponibilizado para os municípios.

2.1 Projeto MinC-UFBA: 1ª Edição

51

A primeira edição da parceria entre a UFBA e o MinC foi denominada Projeto de

Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos de Cultura de Capitais e Cidades de

Regiões Metropolitanas, e teve os seguintes objetivos:

a) prover assistência técnica aos municípios participantes;

b) elaborar pesquisas e diagnósticos culturais dos municípios, à luz das diretrizes

estabelecidas no PNC;

c) aplicar metodologias participativas para a construção dos Planos de Cultura; e,

d) disponibilizar guias de orientação e suporte de conteúdos especializados através de

plataforma digital.

Vinte municípios foram selecionados pelo MinC e pelo Fórum Nacional de Secretários

de Cultura de Capitais e Municípios de Regiões Metropolitanas para integrarem essa edição

do Projeto. Segundo Ângela Andrade1, então Coordenadora Geral dos Instrumentos de Gestão

do SNC, três critérios foram considerados nessa escolha, a saber: o estágio de

desenvolvimento do Sistema Municipal de Cultura; a vontade política dos dirigentes de

priorizar a construção do PMC; e o atendimento a capitais e algumas cidades de regiões

metropolitanas que participaram ativamente do Fórum. O Quadro 2 mostra as cidades

participantes:

Quadro 2 - Municípios atendidos na 1ª Edição

Capitais UF Cidades de Região Metropolitana UF

REGIÃO NORTE

1. Manaus AM – –

REGIÃO NORDESTE

2. Aracaju SE 13. Laranjeiras SE

3. Recife PE 14. Olinda PE

4. João Pessoa PB

5. São Luís MA

6. Fortaleza CE

REGIÃO CENTRO-OESTE

7. Campo Grande MS – –

REGIÃO SUDESTE

8. Belo Horizonte MG 15. Betim MG

9. Rio de Janeiro RG 16. Sabará MG

10. Vitória ES 17. Santa Luzia MG

18. São Caetano do Sul SP

REGIÃO SUL

11. Porto Alegre RS 19. São Leopoldo RS

1 Informação obtida em entrevista realizada em 15 de julho de 2015.

52

12. Florianópolis SC 20. Joinville SC

Fonte: a autora, a partir de dados disponibilizados pela UFBA (2011).

Como o foco dessa edição foram capitais e municípios de regiões metropolitanas,

registrou-se a maior presença de municípios de grande e médio porte populacional e com alto

ou muito alto nível de desenvolvimento humano2, conforme dispersão demonstrada no

Gráfico 1.

Gráfico 1 - Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 1ª Edição

Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2011).

Sob o aspecto da distribuição regional, verificou-se a participação predominante de

municípios das regiões Nordeste e Sudeste, as mais populosas e com maior número de

municípios, conforme detalhado na Figura 3.

Figura 3 – Distribuição dos municípios por região - 1ª Edição

2 Para fins desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios para classificação dos municípios: a) Porte

populacional: pequeno: menos de 50 mil habitantes; médio: igual ou mais que 50 mil habitantes e menos que

500 mil habitantes; grande: igual ou mais que 500 mil habitantes; b) Nível de desenvolvimento humano: muito

baixo: menor que 0,500; baixo: igual ou maior que 0,500 e menor que 0,600; médio: igual ou maior que 0,600 e

menor que 0,700; alto: igual ou maior que 0,700 e menor que 0,800; muito alto: igual ou maior que 0,800.

53

Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2011).

Os municípios selecionados tiveram prazos distintos para a elaboração dos seus

Planos, sendo que para a maioria das capitais foi destinado o período de 12 meses e para a

grande parte das cidades de regiões metropolitanas, oito meses, conforme mostra o Quadro 3:

Quadro 3 - Prazo de elaboração dos PMCs - 1ª Edição

PRAZO MUNICÍPIOS

12 meses Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis, Fortaleza, João Pessoa, Manaus,

Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Luís e Vitória.

8 meses Betim, Laranjeiras, Olinda, Sabará, Santa Luzia, São Caetano do Sul e São

Leopoldo.

4 meses Campo Grande, Joinville e Recife.

Fonte: a autora, a partir de dados da UFBA (2011).

O tempo de consultoria foi definido de acordo com a especificidade de cada local,

sendo que Campo Grande, Recife e Joinville tiveram o prazo de quatro meses, pois já tinham

o documento elaborado, faltando apenas a formulação de suas metas. No entanto, nem todas

as cidades conseguiram desenvolver os seus Planos no prazo inicialmente determinado, visto

que cinco capitais (Florianópolis, João Pessoa, Recife, São Luís e Vitória), bem como todas as

54

cidades de região metropolitana, solicitaram prorrogação.

2.1.1 Estrutura do Projeto

Nessa primeira edição, o trabalho desenvolvido pela EAUFBA foi formatado como

um Projeto estruturado em quatro fases e oito etapas, incluindo ações preparatórias, de

execução, de avaliação do processo e dos resultados alcançados, conforme detalhamos no

Quadro 4:

Quadro 4 - Fases de execução do Projeto - 1ª Edição

FASES ETAPAS

Fase preparatória

1. Estruturação física e de comunicação do projeto;

2. Aplicação de questionários para levantamento institucional e do campo da

cultura existente em cada município;

3. Realização do I Seminário de Lançamento Nacional do projeto, em

Brasília/DF;

Fase de execução

4. Montagem e Execução do Plano de Ação de cada Núcleo Executivo

Municipal;

5. Análise dos Planos de Ação e contribuição com as estratégias para que cada

Plano pudesse cumprir os prazos para sua elaboração;

6. Apoio técnico presencial para o desenvolvimento dos Planos de Cultura.

Fase de avaliação

do processo

7. Realização do II Seminário de Integração e Alinhamento Técnico, em

Salvador/BA.

Fase dos resultados

alcançados

8. Realização do III Seminário Final, com apresentação dos resultados obtidos

em dezembro de 2012, em Salvador/BA. Fonte: a autora, a partir de dados da UFBA (2011).

O modelo de gestão adotado foi composto de três instâncias de governança, cada uma

atuando em esferas específicas e complementares de articulação, a saber (Figura 4):

Figura 4 - Estrutura da Governança do Projeto

55

Fonte: a autora, a partir de dados da UFBA (2011).

O Núcleo Gestor Nacional estava composto pelo Fórum Nacional de Secretários e

Dirigentes de Cultura, pela Representação do MinC e pela UFBA; o Núcleo Executivo

Central estava constituído pela equipe da EAUFBA, sendo dois coordenadores, uma

consultora convidada, três analistas técnicos e três estagiários; e os Núcleos Executivos

Municipais, por sua vez, estavam formados por 20 Coordenadores de Plano, 12

Coordenadores Técnicos e 20 Analistas Técnicos contratados pelo Projeto para atuarem

localmente, oferecendo assistência presencial aos municípios3.

A equipe central foi selecionada através de entrevistas realizadas pelos coordenadores

do Projeto, enquanto as equipes locais foram indicadas pelos gestores municipais das cidades

participantes, ficando a cargo da UFBA a avaliação dos currículos. Os critérios adotados na

seleção foram a formação acadêmica e a experiência no campo da cultura.

A fim de conhecer melhor o perfil dos interlocutores municipais e obter elementos que

pudessem somar às estratégias para uma atuação mais eficaz em cada uma das localidades

envolvidas, o Núcleo Central investiu em uma dinâmica de integração com todos os

participantes, realizada em fevereiro de 2012, no I Seminário de Planos de Cultura, em

Brasília. Esse seminário promoveu duas ações: a primeira foi a capacitação dos agentes

selecionados para atuarem nos estados e municípios, assessorando a elaboração dos PMCs; a

segunda foi a realização de um encontro entre secretários e dirigentes de cultura. Nesse

evento, houve ainda a realização de dinâmicas de interação, visando criar laços de confiança e

alinhamento sobre a importância do compromisso assumido frente ao desafio de assessorar os

municípios na construção dos PMCs.

3 Os nomes dos integrantes das equipes central e local estão detalhados nos apêndices 1 e 2 desse trabalho,

respectivamente.

56

2.1.2 Desenvolvimento da Metodologia de Planos

O processo de construção metodológica para a elaboração de Planos Municipais de

Cultura se iniciou em janeiro de 2012, por meio das reuniões internas da equipe da EAUFBA,

em diálogo permanente com o MinC. A metodologia foi desenvolvida a partir do roteiro de

Planos de Cultura elaborado pelo próprio Ministério, disposto no Guia de Orientações para

Municípios: Perguntas e Respostas (MINC, 2012b), pautando-se em um trabalho intenso de

coadunar os princípios da participação social e de fortalecimento da diversidade cultural ao

processo de formulação de políticas públicas de cultura, com estrita observância aos

princípios da Administração Pública.

Os pontos levantados pelas equipes das universidades envolvidas e do MinC, em

reunião realizada em 11 de janeiro de 2012, em Brasília, estabeleceram diretrizes e critérios

para a formulação da metodologia, discriminadas a seguir:

a) uniformização da metodologia de construção de Planos de Cultura, de modo a

atender estados e municípios, com enfoque participativo e contemplando a diversidade

cultural;

b) valorização dos Conselhos Estaduais e Municipais de Cultura como protagonistas

no processo de formulação e validação dos Planos de Cultura;

c) envolvimento de representante do Poder Legislativo no grupo de trabalho para

construção do Plano;

d) incentivo à constituição de GT interno nas Secretarias dos Municípios;

e) diagnóstico do estágio atual dos Sistemas de Informações / Base de dados /

Indicadores Culturais;

f) documentos básicos para consulta: Plano Diretor Municipal, Leis de Cultura etc.;

g) respeito aos princípios de Territorialidade, Participação e Setorialidade;

h) utilização da síntese das demandas levantadas nas Conferências em torno dos cinco

eixos do Plano Nacional de Cultura.

Destacam-se os itens a, b, g e h devido à ênfase dada à importância de se considerar,

na metodologia, aspectos relacionados à participação, à diversidade cultural local e à

territorialização e setorialidade.

Em reunião de consolidação metodológica, realizada em fevereiro de 2012, o então

Secretário de Articulação Institucional do MinC, Roberto Peixe, teceu considerações acerca

57

do caráter inovador e do passo importante para as políticas públicas de cultura no país, tais

como: o ineditismo do trabalho de elaboração de Planos de Cultura, que contribuiu para a

integração na gestão pública, reunindo entes federativos, universidades e o protagonismo da

sociedade; os esforços na direção de transformar a Lei do PNC em realidade, sendo o SNC a

estrutura de articulação global dos Planos e demais mecanismos da política pública nacional;

o fortalecimento dos órgãos de gestão pública, com destaque para o órgão de cultura dos

estados e municípios e os Conselhos de Política Cultural, sendo este a principal instância de

representação social junto à esfera pública; e, por fim, o respeito à autonomia dos entes

federados no processo de elaboração dos PMC4.

Nessa reunião, também estava presente o então assessor da Secretaria de Articulação

Institucional, Bernardo da Mata Machado, que destacou a preocupação com a efetividade dos

direitos culturais, apresentados na Constituição Federal de 1988.

Somado às discussões acerca desse processo, a equipe da EAUFBA apresentou um

roteiro preliminar de elaboração de PMC, e após discussões e alinhamentos realizados,

chegou-se à versão final do Guia de Orientação para a Construção de Plano Municipal de

Cultural (UFBA, 2012c), conhecido como Guia 1, que apresentou as premissas e princípios

que balizaram a conduta dos agentes envolvidos e o roteiro metodológico para o trabalho:

- Diagnóstico do desenvolvimento da cultura;

- Desafios e oportunidades;

- Diretrizes e prioridades;

- Objetivos gerais e específicos;

- Estratégias, metas e ações;

- Prazos de execução;

- Resultados e impactos esperados;

- Recursos materiais, humanos e financeiros disponíveis e necessários;

- Mecanismos e fontes de financiamento; e,

- Indicadores de monitoramento e avaliação. (idem, ibidem, p. 7)

Esse documento foi o primeiro de três Guias de Orientação Técnica, conforme será

explicado melhor adiante, e integrou o material didático entregue aos consultores e analistas

técnicos participantes do I Seminário de Planos de Cultura, material esse composto por

publicações do MinC sobre o SNC e PNC e por um CD contendo documentos nacionais e

internacionais de referência sobre o tema.

De acordo com os representantes do Ministério, consolidar instrumentos institucionais

com a participação social não seria tarefa fácil, muito menos em curto espaço de tempo, pois

4 Registros pessoais da autora, referentes aos pontos abordados pelo então Secretário de Articulação

Institucional do Ministério da Cultura durante reunião de definição da metodologia de Planos de Cultura,

realizada nos dias 8 e 9 de fevereiro de 2012, em Brasília.

58

dependeriam da efetividade das instâncias de participação e representação, como as

Conferências de Cultura e os Conselhos de Política Cultural. Segundo eles, para que os Planos

de Cultura não se tornem um instrumento burocrático, deveriam ser elaborados a partir de

uma metodologia que considerasse instrumentos e estratégias que mitiguem tal risco. Por isso,

deveriam ser desenvolvidos e implementados por meio de abertura à participação e controle

social.

Nesse sentido, foram considerados aspectos que promovessem o acompanhamento

sistemático do Plano de Cultura, prevendo tomadas de decisão ao longo da sua execução e

atentando para que não houvesse desvio daquilo que fora planejado. Para tanto, disciplinas

típicas de gestão de projetos foram sugeridas como dimensões para uma gestão mais eficaz, a

saber:

- Escopo: mudanças necessárias à atualização do Plano;

- Integração: articulação interna do Plano e do Plano com outros Planos

definidos;

- Tempo: prazos internos e prazo total de execução;

- Orçamento e Custos: recursos projetados e aplicados;

- Comunicação: formas, meios e públicos;

- Fatores de Riscos: obstáculos previsíveis e imprevistos. (idem, ibidem, p.

15-16)

Por fim, a metodologia explicou que o Plano deveria ser validado pelo Conselho de

Política Cultural, encaminhado para o Executivo e, deste, submetido à apreciação e votação

no Legislativo, retornando ao prefeito para sanção e conversão em lei específica.

2.1.3 Núcleos Locais: primeiras orientações para a construção dos PMCs

O contato inicial com os Núcleos Locais consistiu em orientá-los sobre a realização de

atividades ligadas ao processo que pudessem dar visibilidade política ao trabalho; atentá-los

para a importância da consistência técnica necessária para a qualidade do documento; e,

principalmente, sensibilizar e mobilizar os diversos atores e agentes públicos e culturais, bem

como a sociedade em geral para a construção coletiva dessa peça de planejamento público.

A primeira atividade consistiu na realização de uma reunião com os gestores

municipais, com o objetivo de explicar a importância do protagonismo do órgão gestor de

cultura na construção do PMC e como seria o andamento do trabalho. Depois, foi formado o

núcleo de gestão de concepção do Plano, intitulado Núcleo Executivo Local, com a sugestão

de que fosse constituído por agentes públicos e sociais, preferencialmente com capacidades e

59

competências correspondentes ao trabalho a ser desenvolvido.

Outra orientação dada foi sobre a necessidade de ampliar o diálogo entre o órgão de

cultura e outros organismos municipais, como as Secretarias de Planejamento e da Fazenda,

de modo que o Núcleo Local tivesse, em sua composição, profissionais especializados para o

momento de discussão e formulação das metas e do orçamento do Plano.

Para a consolidação dessas etapas, sequencialmente foram instituídos, através de

Portaria Municipal, os núcleos executivos, a mobilização do Conselho de Política Cultural do

Município, lideranças culturais e, por fim, a realização do evento público de lançamento do

Projeto. A partir dessa conformação, o Núcleo Local, com apoio do Núcleo Central, iniciou o

estudo da metodologia para aprimorar a capacitação dos seus integrantes.

A seguir, explicaremos cada uma dessas etapas e de como elas orientaram o processo

de elaboração dos PMCs.

2.1.4 Conteúdos de apoio e assistência técnica em PMCs

Os três Guias de Orientação Técnica serviram como aporte metodológico do Projeto

para apoiar o trabalho dos consultores e analistas técnicos envolvidos e garantir a qualidade

requerida na elaboração do PMC. O Guia 1 (UFBA, 2012c) trouxe uma visão geral, com

detalhamento completo da metodologia e a descrição das premissas e princípios que

nortearam o processo, servindo de instrumento para capacitar os consultores lotados nos

Núcleos Executivos Municipais.

O Guia de Orientação 2 (UFBA, 2012a), ou simplesmente Guia 2, instrumentalizou as

equipes quanto à organização do documento e possibilitou uma aplicação mais assertiva da

metodologia, sugerindo algumas ferramentas para a organização e sistematização de dados e

informações nas distintas etapas do processo de elaboração do Plano de Cultura, bem como

elucidando importantes questões aos consultores e analistas, tais como:

a) a coordenação e execução do processo de elaboração e implantação do documento

devem ficar a cargo do órgão gestor de cultura;

b) trata-se de um Plano de Estado – lato sensu – e não de governos, com prazo de

execução de dez anos;

c) é um instrumento concreto da política pública para o desenvolvimento local;

d) os principais insumos para o PMC são as demandas vindas das Conferências de

Cultura, podendo haver outras fontes;

60

e) projeto e programas são entendidos como meios para o alcance dos resultados;

f) a importância da sistematização das demandas das Conferências, com o objetivo de

fazer com que a sociedade enxergasse no Plano aquilo que demandara, possibilitando um

reconhecimento das suas necessidades, quando aplicadas, em formato de política pública.

Ademais, o segundo guia apresentou um diagrama demonstrativo do vínculo entre

objetivos, metas e ações, o que contribuiu para uma maior compreensão dos atores envolvidos

sobre o relacionamento entre esses elementos, conforme mostra a Figura 5:

Figura 5 - Diagrama de relacionamento entre objetivos, metas e ações

Fonte: idem, ibidem, p. 8.

Outra contribuição do Guia 2 foi apresentar um glossário denominado Conceitos de

Referência para os Elos da Cadeia de Cultura (Anexo 2), destacando os seguintes termos: elos

da cadeia de cultura, criação, pesquisa, difusão, fruição, formação e memória.

Por fim, o Guia de Orientação 3 (UFBA, 2012b), ou simplesmente Guia 3, apresentou

orientações sobre o Modelo de Gestão do PMC, exibindo uma estrutura que consistiu

basicamente em duas instâncias: gestão político-institucional e gestão executiva

interinstitucional, conforme ilustrado no Quadro 5:

61

Quadro 5 - Estrutura de Gestão para o Plano Municipal de Cultura

Instância de gestão Envolvidos Papeis

Político-Institucional

Conselho Municipal de

Políticas Culturais; Fóruns

de Cultura; Câmaras

Setoriais, etc. e Órgão

Gestor da Cultura

Apoio político e institucional à consecução.

Apreciação de cronogramas e orçamentos globais.

Acompanhamento e avaliação dos objetivos

alcançados, através de metas e indicadores.

Tratamento de novas demandas. Recomendação de

ajustes.

Executiva

Interinstitucional

Órgãos e entidades com

responsabilidades de

execução de ações e Órgão

Gestor da Cultura

Pactuação de cronogramas e orçamentos

específicos.

Monitoramento de metas e ações.

Avaliação de resultados e processos. Articulação

federativa. Fonte: idem, ibidem, p. 5.

2.1.5 Premissas e Princípios: balizadores de condutas

As premissas e princípios estabelecidos para o processo de elaboração dos PMCs

serviram para orientar os atores e agentes envolvidos acerca da melhor conduta a ser adotada

neste processo, pois destacaram aspectos como o protagonismo local, a autonomia federativa,

aspectos legais e, sobretudo, a importância da participação, da transparência e objetividade

necessárias e fundamentais para a construção de uma peça de planejamento público que

pudesse considerar os princípios democráticos e republicanos.

De acordo com Costa (2014, p.71), as “premissas correspondem às ideias, suposições

ou fatos que balizarão o trabalho a ser desenvolvido e os princípios são as regras que

orientarão a conduta de todos os participantes”. Como premissas, a metodologia destacou que:

a) o processo de elaboração do Plano deve ser participativo, ou seja, propor um

intenso diálogo entre o poder público e a sociedade;

b) o processo de planejamento deve ser político e técnico, exigindo poder de

articulação e negociação política, bem como um trabalho técnico que proporcione um

documento final com a consistência desejada e necessária;

c) o Plano é integrado e compõe o planejamento do desenvolvimento municipal,

isto é, trata-se de mais um plano de desenvolvimento para o município e, portanto, deve ser

integrado às políticas públicas locais. É preciso ter visão ampla das dinâmicas culturais que

constituem o município e suas relações com outras áreas da administração pública;

d) o Plano Municipal é alinhado aos Planos Nacional e Estadual, devendo haver

uma sinergia entre eles, no sentido de proporcionar políticas públicas alinhadas e integradas

62

com foco no desenvolvimento local.

Como princípios, a metodologia destacou:

a) protagonismo municipal – deve ser assumido pelo órgão gestor de cultura, que

terá a função de coordenar a elaboração do PMC e será o responsável pela sua concretização;

b) diálogo interinstitucional e social – deve ocorrer de forma intra e

extrainstitucional, valorizando a participação de outros setores da Administração Pública e

representantes da sociedade civil;

c) legitimidade – reafirma a importância de adotar procedimentos legais e seguir a

legislação correspondente;

d) visão sistêmica e territorial – necessidade de se ter clareza sobre um planejamento

integrado, conhecer amplamente a política pública de cultura aplicada no município e sua

relação com a cultura local. Trata-se também de conhecer a sua integração com as outras

políticas, reconhecendo o território e a relação da cultura para além dele. Esse princípio é de

suma importância para o desenvolvimento das políticas púbicas de cultura, especialmente

pelo fato de que o todo é resultado das partes que o compõem, por isso coloca a relação das

políticas culturais locais em uma dimensão central dentro do planejamento público;

e) transparência e objetividade – consiste em promover ampla comunicação e

divulgação de todas as etapas e o fácil acesso da população aos diversos registros e

documentos produzidos no processo de elaboração do PMC.

2.1.6 Descrição dos conteúdos: etapas de elaboração dos Planos

2.1.6.1 Etapa I: como estamos?

O conteúdo abordou a caracterização do município, a partir do apontamento de

questões relevantes para essa etapa, com temas como o histórico sobre a sua formação, as

condições de vida dos cidadãos e a sua dinâmica social, econômica e cultural. Nessa direção,

têm-se os seguintes pontos a serem trabalhados:

- Aspectos físicos: localização, clima, recursos ambientais;

- Demografia: origem, perfil e dinâmica populacional – etnia, faixa etária,

gênero, ocupação e classe social; distribuição urbana e rural;

- Economia: tradição e vocação econômicas; perfil de produção, distribuição

e consumo; renda da população; contribuição para o produto interno bruto

estadual e nacional;

- Aspectos sociais: especialmente educacionais;

63

- Aspectos culturais: expressões e manifestações relevantes;

- Aspectos político-institucionais: fatos históricos relevantes estruturadores

do poder local, situação de movimentos e organizações sociais, aparato legal.

(UFBA, 2012c, p. 9)

Além disso, inclui a orientação para a elaboração do diagnóstico cultural, de modo a

mapear vocações e potencialidades e fragilidades e obstáculos que se apresentam à realidade

cultural do município, bem como identificar desafios e oportunidades que possam ser tratados

no PMC.

2.1.6.2 Etapa II: onde queremos chegar?

Nesta etapa, diretrizes, prioridades, objetivos, estratégias, metas e ações foram

traçados, ou seja, o que seria necessário atingir, conquistar e superar no prazo de dez anos. Foi

possível obter também uma visão de futuro e projetar uma “situação desejada para o

município, desafiadora e viável no prazo do horizonte temporal do Plano” (idem, ibidem, p.

11).

As diretrizes são linhas de orientação que servem para balizar o alcance de objetivos,

metas e execução das ações. As prioridades, em sintonia com as diretrizes, dão foco ao

planejamento, estabelecendo abordagens que mereçam atenção especial para a visão de

futuro.

Os objetivos, por sua vez, são resultados desejados para o alcance do futuro esperado.

Os objetivos gerais são elaborados numa perspectiva mais abrangente, e os específicos,

focados em alvos mais minuciosos. Estratégias são posicionamentos políticos e técnicos que

servem para promover meios de concretização dos objetivos pretendidos, visando tornar o

plano factível.

As metas são alvos tangíveis, quantificados, projetados e alinhados ao tempo de

execução do PMC, sendo a descrição concreta para que os objetivos possam ser alcançados.

As ações são os projetos e atividades propostos no documento para que as metas sejam

efetivamente concretizadas e, quando realizadas, dão efetividade e eficácia ao Plano de

Cultura.

2.1.6.3 Etapa III: como fazer e como chegaremos lá?

Essa etapa se relacionou com os prazos de execução dos objetivos, resultados e

64

impactos esperados, bem como os recursos disponíveis e necessários e mecanismos de fontes

de financiamento. O objetivo aqui foi estruturar o PMC como uma peça efetiva de

planejamento, integrando-o às peças orçamentárias do município. Para tal, foram consideradas

as fases de execução das ações propostas em função da meta ou metas estabelecidas para o

atendimento do objetivo traçado, que pode ser alcançado em curto, médio e longo prazo, em

um intervalo temporal de dez anos.

De acordo com a descrição no Guia 1, os resultados são as consequências esperadas

pelo cumprimento das metas, enquanto os impactos são o registro dos efeitos que se espera

que ocorra na realidade local, produzindo transformações pela ação pública. Juntos, estão

associados ao monitoramento e à avaliação da execução do PMC, sendo importante que sejam

suficientemente claros e concretos. Cada meta estabelecida no PMC deve possuir resultados e

impactos diretamente ligados à sua execução, que podem ser ampliados a partir do

relacionamento direto entre diferentes metas. Estão associados ao monitoramento e avaliação

da execução do Plano.

Os recursos necessários relacionam-se ao cumprimento das metas e ações, podendo ser

humanos, materiais, tecnológicos, financeiros, dentre outros. Devem ser considerados a partir

da capacidade orçamentária do município, pois se espera a exequibilidade do Plano, para que

ele possa atender de forma plena às demandas da sociedade. Já os mecanismos e fontes de

financiamento para o cumprimento do PMC estão relacionados aos instrumentos de aplicação

das fontes de financiamento.

2.1.6.4 Etapa IV: como gerir avanços?

A quarta e última etapa da metodologia se relacionou aos Indicadores de

Monitoramento e Avaliação e ao Modelo de Gestão do PMC. Os indicadores servem de

parâmetro para medir a situação futura em relação à atual, contribuindo, portanto, para o

monitoramento e avaliação das metas estabelecidas no Plano. Isto acontece a partir da

apuração dos resultados das ações associadas às metas. A metodologia explicou que os

indicadores de monitoramento e avaliação deveriam ter relação direta com os objetivos e

metas do PMC.

Na fase final dessa etapa, o Guia 1 propôs um modelo de gestão baseado em duas

instâncias, uma de acompanhamento e outra de caráter executivo. Sugeriu que o papel de

acompanhamento ficasse a cargo do Conselho de Políticas Culturais, enquanto a instância de

caráter executivo fosse assumida pela Administração Pública.

65

Finalmente, esse Guia apresentou, através do tópico Metodologia Participativa o tema

da participação social como um caráter diferencial e descreveu o que é denominado como “O

Espaço privilegiado dos Conselhos de Política Cultural”, reforçando o caráter participativo do

plano e a importância das instâncias de representação cultural, estimulando a compreensão

sobre “o sujeito político, individual ou coletivo a partir de uma concepção de participação,

que estimule a cidadania e aprofunde a democracia”. (UFBA, 2102a, p. 16)

2.2 Metodologia aplicada: roteiro metodológico e outros procedimentos

A metodologia aplicada nessa edição foi composta do roteiro definido para a

elaboração do PMC (Figura 6). Ela foi dividida em quatro etapas, já descritas anteriormente,

sendo cada uma delas objeto de validação no Conselho de Política Cultural de acordo com o

plano de trabalho definido pela equipe local.

Figura 6 - Etapas de elaboração dos Planos Municipais de Cultura

Fonte: UFBA, 2012c, p. 8.

O trabalho de aplicação da metodologia de Planos foi realizado a partir de visitas

técnicas, realizadas in loco pela equipe central, com vistas a prestar esclarecimentos e

orientações aos gestores municipais sobre o Projeto e procedimentos a serem adotados pelo

município. Essas visitas adotaram os seguintes procedimentos definidos antecipadamente pela

66

equipe central:

a) reunião com o gestor de cultura, com o objetivo de escutar sobre a realidade local,

oferecer explicações sobre o projeto e a dinâmica do trabalho a ser realizado localmente e

assessorá-lo quanto aos procedimentos a serem adotados pelo município para o processo de

realização do Plano;

b) reunião de alinhamento e fortalecimento metodológico com as equipes de execução

do trabalho, evento que durava aproximadamente dois dias;

c) participação em reuniões com o Conselho de Política Cultural, quando necessário,

para oferecer esclarecimentos sobre o Projeto e sobre o seu papel no trabalho de

desenvolvimento dos Planos; e,

d) participação em eventos públicos, sempre com o objetivo de promover

esclarecimentos sobre o projeto, a metodologia e, por conseguinte, como observadores,

visando contribuir com o processo participativo, orientando gestores e equipes locais sobre

procedimentos ou estratégias que pudessem contribuir para a sensibilização e mobilização dos

processos locais. Em alguns casos, o MinC se fazia presente nesses encontros, com o objetivo

de fortalecer o aspecto político que complementaria o trabalho dos Planos.

A equipe central se dividiu para atender os municípios, ficando cada um dos

integrantes responsável por quatro cidades, porém as visitas técnicas eram realizadas sempre

em dupla. Após a realização dessas visitas, a equipe se reunia para compartilhar impressões,

promover um aprendizado coletivo e tomar decisões em relação a cada um dos Planos em

desenvolvimento.

Além das visitas técnicas, foram adotados procedimentos que tinham como objeto a

leitura e avaliação dos documentos dos Planos de Cultura que estavam em processo de

elaboração. Ficou estabelecido que os documentos receberiam três revisões, duas processuais

e uma final, nas quais todas as orientações e avaliações seriam feitas em formato de pareceres

técnicos e, às vezes, complementadas com contato telefônico.

Para que isso fosse eficaz, foi mantida uma prática de comunicação sistemática entre a

equipe central e os núcleos executivos. As equipes de consultores locais receberam

equipamentos telefônicos a fim de facilitar a comunicação, além de fazerem uso dos

instrumentos de comunicação digital, que consistiam basicamente em e-mail e skype (este

último para diálogos mais extensos ou para conversas mais demoradas).

Os núcleos locais foram orientados a elaborarem um plano de ação indicando todas as

atividades a serem desenvolvidas, com prazos definidos e responsáveis pela atividade. Por

fim, ocorreram os três seminários, também já descritos, cuja importância se deu

67

especificamente para reforçar o aspecto técnico e político do Plano, já que eram realizados em

parceria com a equipe da SAI/MinC.

Diferentemente do primeiro e terceiro seminários, o segundo se deu no meio do

processo, em agosto de 2012, e nele foi dedicado maior tempo ao trabalho de aprimoramento

da metodologia, através do Guia 2. Esse encontro resultou na reunião de todos os núcleos

executivos dos Planos, alguns gestores e servidores dos órgãos de cultura, promovendo a

realização de um trabalho integrado e estimulando os diálogos e trocas de experiências, além

da aproximação maior entre as equipes de consultores e analistas da UFBA. Em cada um dos

seminários, foram aplicados questionários avaliativos sobre esses eventos e realizadas

avaliações de processo do Projeto, que incluíam panorama local, condutas das equipes e

desenvolvimento das atividades.

2.3 Processo de desenvolvimento do Projeto

A premissa de se promover um processo participativo exigiu do MinC, da UFBA, dos

municípios e de seus gestores e núcleos executivos empenho para enfrentar os desafios

pertencentes às dinâmicas culturais municipais. Alguns fatores ocorreram de acordo com o

planejado, mas no decorrer da empreitada, foram feitos ajustes no direcionamento e condução

das atividades a serem desempenhadas.

Apesar do trabalho intenso de preparação por parte do MinC e da UFBA, o caminho

trilhado durante o período de preparação e aplicação da metodologia dos Planos foi

permanentemente rodeado de desafios. O primeiro deles teve relação com a estratégia para

contratação das equipes de consultores e analistas locais, sendo atribuição da gestão municipal

indicar tais profissionais, ficando a UFBA com a única responsabilidade de fazer a análise

curricular, o que deixava o coordenador do Projeto extremamente preocupado, por considerar

que isso não era suficiente e que seria necessária a realização de entrevistas ou algo similar,

que pudesse atestar a competência técnica e o comprometimento dos candidatos para as

equipes.

De fato, houve muitos registros de problemas com os representantes selecionados,

resultando, nos casos mais críticos, em desligamento e substituições, prejudicando o ritmo dos

trabalhos em curso. Esses empecilhos também ocorreram em virtude da interferência de

fatores políticos, especialmente pelo Projeto ter se desenrolado durante o período de eleições

municipais.

68

Outro aspecto preocupante ocorreu na etapa preparatória de realização do I Seminário

de Planos de Cultura, quando a equipe da EAUFBA percebeu que possuía informações

superficiais sobre os contextos das políticas e gestão cultural nos municípios indicados. Em

face dessa dificuldade, foram desenvolvidos dois questionários já citados anteriormente – um

relacionado ao aspecto institucional e o outro, à infraestrutura da cultura – para a obtenção de

informações sobre cada município participante.

Apesar de o projeto ter conseguido coletar informações de todos os municípios, alguns

questionários foram parcialmente preenchidos, reflexo da falta de acesso a documentos e

registros que seriam fonte primária das informações requeridas, ou mesmo da falta desses

documentos e registros. Em que pese essa dificuldade, foi possível, a partir dos dados

coletados, subsidiar adequações em pontos da metodologia e definir a conduta a ser adotada

pela equipe de consultores, a exemplo de como atuar junto aos Conselhos de Política Cultural.

A não conclusão, por alguns municípios, dos planos de trabalho orientados para a

organização das atividades a serem realizadas demonstrou a primeira fragilidade quanto às

competências em planejamento. Uma das saídas encontradas foi sugerir que tais documentos

fossem sendo construídos de acordo com cada etapa que iria se iniciar. Essa estratégia

promoveu melhor entendimento de como elaborar um planejamento de atividades e um

melhor acompanhamento por parte da equipe central.

As visitas técnicas inicialmente cumpriram o esperado, mas, conforme o andamento

dos trabalhos e a ocorrência de problemas específicos em algumas cidades, passaram a

demandar mais tempo dos consultores da UFBA, o que exigia uma constante readequação no

cronograma de viagens, prejudicando o planejamento elaborado.

As primeiras visitas técnicas possibilitaram o levantamento do perfil do município

quanto ao Plano de Cultura, levando em conta a postura dos gestores (prefeito e gestor

cultural), sobre a composição e atuação dos Conselhos de Política Cultural e sobre o

envolvimento da sociedade civil. Para cada um desses municípios, foram adotadas estratégias

consideradas adequadas para o caso, muitas delas com a contribuição das equipes de

consultores e servidores comprometidos com a importância do PMC.

Duas situações demandaram maior cautela da equipe central: primeiro, o nível

inadequado de atenção do gestor municipal, tanto quando ele não apresentava disposição e

compreensão necessárias sobre o Plano de Cultura, como quando ele se mostrava interessado,

mas tinha pouca informação; segundo, o interesse precário de diversos segmentos e do

próprio Conselho de Política Cultural em conhecer a metodologia e identificar quais papéis

deveriam desempenhar.

69

Um ponto observado no contexto dos órgãos de cultura foi o pouco envolvimento dos

servidores públicos, sem motivo explícito. Não se apurou a razão, se era pelos parcos recursos

humanos desses órgãos ou pela pouca sensibilização das equipes de servidores, mas parece-

nos que houve uma conjugação de fatores que poderiam explicar essas situações. De qualquer

forma, era evidente que havia um desconhecimento sobre o Plano de Cultura, sua importância

e necessidade.

Um questionamento comum dos representantes municipais e das equipes locais foi o

porquê de o trabalho ter sido conduzido pela UFBA e não por universidades da região. Um

dos principais argumentos utilizado para essa indagação foi que as instituições locais teriam

mais conhecimento sobre a realidade do município do que a universidade baiana. Os

esclarecimentos e as estratégias de abordagem da equipe central permitiram dirimir as dúvidas

e dissipar desconfianças, porém houve casos em que esses receios resultaram em prejuízo

para o andamento dos trabalhos, especialmente nos municípios da região sul do país.

Já em relação à aplicação da metodologia propriamente dita, o trabalho de

fortalecimento metodológico era sempre aberto, podendo agregar quaisquer interessados,

porém o direcionamento era para a equipe de execução. Como dito antes, tinha-se um

panorama diverso e, por mais que se planejasse o encontro, por vezes aconteciam situações

que demandavam a revisão do cronograma de trabalho.

Na etapa de realização do diagnóstico, em que pese a metodologia proposta pela

UFBA, novas metodologias de desenvolvimento dos trabalhos foram surgindo, tendo sido

compartilhadas no II Seminário e algumas delas incorporadas ao Projeto. Destacaram-se,

nesse ponto, a de Fortaleza, voltada para a elaboração de instrumentos de coleta de

informações e organização de seminários, e a de São Caetano do Sul, referente à organização

e sistematização dos documentos municipais sobre o campo cultural.

A cada etapa finalizada, a orientação era de que fosse feita uma reunião com o

Conselho de Políticas Culturais para validação do Plano. Porém, alguns municípios não

possuíam essa instância colegiada ou, quando tinham, ela era inoperante. Nesses casos, essas

cidades foram orientadas a instalar um fórum representativo com atribuições de Conselho e a

equipe da EAUFBA era, em algumas situações, deslocada para o município para contribuir

com a mobilização e capacitação dos integrantes.

De modo geral, o processo participativo dependeu fortemente do entendimento e da

motivação do gestor. Alguns municípios investiram significativamente em ações de

sensibilização, organizando encontros e definindo projetos de articulação social e

administrativa; outros decidiram que seria suficiente centralizar o trabalho no órgão de

70

cultura, com pontuais encontros de escuta; outros municípios, ainda, investiram na realização

de Conferências de Cultura como espaço de escuta (processual) ou de apresentação final do

documento.

As demais etapas de elaboração do Plano se realizaram com menos visitas técnicas,

considerando que a fase preparatória e de capacitação foi cumprida, mas também por

demandarem mais capacidade analítica dos profissionais locais envolvidos para o

cumprimento das etapas subsequentes, ficando a cargo da UFBA revisar tais documentos e

emitir pareceres técnicos com novas orientações de ajustes. Buscou-se respeitar sempre a

autonomia do município em acolher ou não tais recomendações, pois, como ficou claro nas

premissas, a responsabilidade do Plano era do município e não da consultoria.

Por fim, é relevante registrar que os seminários foram considerados componentes

essenciais, por terem sido espaços de integração e de trocas. Com exceção do I Seminário,

que privilegiou o aspecto político, os outros cumpriram com a determinação de estarem

voltados principalmente para orientações técnicas. Apesar disso, poucas foram as equipes que

realmente conseguiram apreender a metodologia de Planos. A questão que fica é: como não

privilegiar os aspectos políticos, se a própria definição de política cultural adotada pelo MinC

envolve, sobretudo, uma mudança de comportamento? A transformação que se deseja não

ocorre apenas pela implantação das políticas, mas também a partir do trabalho de

sensibilização política, a fim de que os diferentes atores e agentes compreendam a sua real

importância, ainda mais considerando que o PMC é um documento que vem alicerçado em

princípios democráticos e que, em um país diverso e plural, estará sempre sujeito a diferentes

interpretações.

Todos os aspectos acima destacados têm relação direta com o processo metodológico.

Apesar de a equipe central ter tido um nível limitado de intervenção nessas questões locais,

um conjunto de deliberações foram tomadas em prol de um bom desenvolvimento dos

trabalhos, a exemplo da decisão de ampliar o cronograma de trabalho para seis meses, de

modo a possibilitar aos municípios concluírem as etapas pendentes, o que melhorou o

resultado geral da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA.

2.4 Projeto MinC-UFBA: 2ª Edição

Para a segunda edição da parceria entre o MinC e a UFBA, consolidada através do

projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem à Distância, foi

71

considerada a experiência inicial realizada com os vinte municípios, notadamente no que se

refere à importância do aporte formativo sobre conteúdos relacionados ao campo da cultura.

A segunda edição também foi fruto da necessidade de ampliar o número de municípios

participantes.

Dessa vez, o foco foi a formação em planejamento público de gestores e

representantes da sociedade civil, visando expandir o conhecimento técnico sobre elaboração

de PMC. Para aumentar o conjunto de municípios simultaneamente atendidos, foi utilizada a

plataforma moodle, específica para educação à distância (EaD) e já empregada em outras

ações formativas realizadas tanto pela EAUFBA como pelo MinC.

A partir dos objetivos postos nas duas edições, foi priorizada a criação de condições

para que os PMCs pudessem ser elaborados em consonância com o SNC e com as metas do

Plano Nacional de Cultura. Além da primeira meta, que demanda que 60% dos municípios

devem estar com seus Sistemas de Cultura institucionalizados, também foi levada em

consideração a meta 36, que demanda a capacitação de gestores e conselheiros de cultura em,

ao menos, 30% dos municípios brasileiros.

A escolha do MinC por um processo de formação EaD decorreu dos resultados obtidos

na primeira edição, principalmente os verificados na fase de avaliação, como explicaremos

melhor posteriormente. Além disso, vale registrar os ganhos obtidos nos Planos Municipais

que foram construídos a partir de processos participativos, entre os quais frisamos o

aprofundamento na discussão sobre a importância do reconhecimento da diversidade cultural

e de como ela se expressa localmente.

O novo escopo do Projeto demandou novas decisões, como a ampliação da equipe

executiva e a contratação de profissionais para a elaboração de conteúdos e orientações

pedagógicas. Além disso, fez-se uso de tecnologias da informação como meio de difusão do

conhecimento e foram construídas ferramentas digitais para dar suporte à etapa de elaboração

de minutas de Planos de Cultura e registros de experiências locais.

O processo formativo foi dividido em três momentos distintos:

a) fase de aplicação dos módulos básicos, com aporte de conteúdos voltados para o

campo da cultura, distribuídos em seis módulos, sendo que o primeiro se dedicou a promover

orientações sobre o ambiente virtual;

72

b) fase de aplicação dos módulos com aporte de conteúdos específicos para a

elaboração de Planos, distribuídos também em seis módulos, simultaneamente com o

preenchimento do template5; e,

c) realização de Encontros Regionais com os municípios que chegaram até o final do

preenchimento do roteiro de plano, tendo sido convidados todos aqueles que, em algum

momento, interagiram na formação através do moodle. Esses encontros serviram também para

oferecer suporte metodológico presencial e realizar, em parceria com os participantes, uma

avaliação da fase formativa.

Desta forma, consideramos que essa edição contribuiu para o aporte de assistência

técnica aos entes municipais e para a maior apropriação, por parte dos representantes locais

envolvidos, de conhecimentos específicos sobre instrumentos de gestão, visando o

cumprimento das metas 01 e 36 do PNC.

2.4.1 Contextualização

A indicação dos municípios para participarem da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA

foi realizada pelo MinC, através de carta-convite, tendo como principal critério de

participação a adesão do município ao SNC. Enquanto isso, a equipe da EAUFBA manteve

reuniões periódicas para o trabalho de planejamento. Novamente, o processo se deu em

consonância com os interesses relacionados à instituição de políticas públicas de cultura de

forma participativa e que considerassem a diversidade cultural.

O início dessa edição ocorreu em setembro de 2014, em consonância com o período da

eleição presidencial, o que dificultou uma maior atuação do MinC na mobilização dos

municípios. Nesse contexto, a equipe teve que realizar um exaustivo trabalho de articulação

municipal, subsidiado pelo envio de correspondências, telefonemas e formulários de

inscrição, elaborados no SurveyMonkey6. Como resultado, 439 municípios se inscreveram e

1.003 pessoas foram cadastradas, o que representou um aumento de mais de vinte vezes do

número de municípios participantes na primeira edição.

Com o escopo quantitativo ampliado, foi necessário aumentar a equipe, incorporando

profissionais da área de tecnologia para atuarem no ambiente virtual, o que deu início a um

5 “Um template é um modelo a ser seguido, com uma estrutura predefinida que facilita o desenvolvimento e

criação do conteúdo a partir de algo construído a priori”. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013) 6 Ferramenta digital gratuita que serve para apoiar o desenvolvimento de pesquisas.

73

novo processo de descobertas, sinergias e compreensão sobre o objeto de trabalho. Uma

equipe complementar se formou em torno do desafio de realizar, pela primeira vez, uma

formação baseada em metodologia EaD para a formulação de políticas públicas de cultura, em

parceria com governos locais.

A metodologia também passou por uma revisão e reestruturação7. Ganhou volume e

considerou os aspectos já descritos como importantes e fundamentais para ampliar a

compreensão sobre cultura, políticas culturais, planejamento público, Sistema Nacional e

Municipal de Cultura, além da própria capacitação em Planos de Cultura. Uma equipe de

conteudistas foi contratada especialmente para promover um alinhamento teórico-conceitual,

elaborando módulos específicos sobre esses temas.

Os módulos de elaboração de planos municipais de cultura, preparados por Neuza

Britto8, foram originados a partir dos Guias de Orientação da 1ª Edição, ganhando robustez ao

apresentarem conhecimentos sobre Administração Pública, além de um maior detalhamento

dos conteúdos relacionados às etapas de elaboração de Planos. Foram incorporados, ainda,

outros temas e conceitos necessários à formação em planejamento e gestão cultural, de modo

que ampliasse a capacitação na construção dessa peça de planejamento.

Diferentemente da primeira edição, o tema da diversidade cultural apareceu mais

claramente nos módulos básicos, que passaram a abarcar também material complementar,

como a Convenção da Unesco (2005), a Agenda 21 da Cultura (CGLU, 2004) e os

documentos do SNC.

2.4.2 Estrutura da 2ª Edição

Para viabilizar o Projeto, foram considerados os seguintes objetivos específicos na

proposta apresentada ao MinC:

i. Pesquisar sobre o papel, sobre as práticas e sobre as peculiaridades do

processo de planejamento da cultura e de institucionalização do Sistema

Nacional de Cultura no âmbito dos municípios brasileiros.

ii. Conceber e estruturar um ambiente virtual de aprendizagem, com recursos

e ferramentas que permitam prover a capacitação e a assistência técnica para

400 municípios ou 800 participantes e acesso a mais 1.200 pessoas

7 O conteúdo pedagógico da formação está detalhado no Anexo 1. 8 Neuza Hafner Britto, especialista em planejamento público, foi consultora convidada do Projeto Minc-UFBA e

principal responsável pela metodologia de Planos Municipais de Cultura. Ela idealizou a metodologia, junto com

o Prof. Vicente Federico, e treinou os consultores e analistas técnicos que atuaram nas duas edições do Projeto.

74

integrantes de grupos de trabalho de elaboração de planos municipais de

cultura.

iii. Criar e realizar uma capacitação em elaboração de planos municipais de

cultura, no formato de ensino à distância (EAD), com carga horária de 120

horas entre conteúdos, atividades dirigidas e elaboração do produto final.

iv. Organizar encontros semipresenciais para reforço e compartilhamento de

conteúdos e relações interpessoais, bem como acompanhamento de tarefas.

v. Organizar uma estrutura flexível de suporte técnico para elaboração de

planos envolvendo assessoramento presencial e à distância. (EAUFBA,

2013, p. 6)

O Projeto, que teve duração de 18 meses, foi estruturado em duas fases, sendo a

primeira de adequação do ambiente moodle e de seleção de municípios e a segunda de

desenvolvimento de ferramentas e estruturas para a formação, como mostra o Quadro 6:

Quadro 6 - Fases de Execução - 2ª Edição

Fase I – Adequação do ambiente moodle e seleção de municípios

Etapa I – Montagem do ambiente virtual de aprendizagem

- Criação da estrutura tecnológica de apoio ao formato EaD;

- Pré-teste do curso;

- Preparação das instalações e seleção das equipes;

- Implantação da estrutura de gestão do Projeto;

- Definição do calendário do curso;

- Registro do curso na Pró-Reitoria de Extensão;

- Criação do modelo de avaliação e monitoramento do Projeto;

Etapa II – Mobilização e seleção dos municípios e capacitação dos formadores

- Processo de articulação com os entes municipais e instâncias representativas;

- Estruturação de meios de comunicação, como páginas web, redes sociais e videoconferências;

- Inscrição dos municípios e seus respectivos representantes;

- Formação da equipe de conteudista e tutores;

Fase II – Desenvolvimento de ferramentas e estruturas tecnológicas e presenciais para a formação

Etapa III – Desenvolvimento do curso EaD

- Estruturação e realização do evento de abertura, de motivação e mobilização;

- Operação das atividades do ensino a distância;

- Gerenciamento das atividades de monitoria, análise e avaliação da participação;

- Desempenho de cada município e de seus representantes;

Etapa IV – Realização de eventos semipresenciais

- Estruturação das condições físicas e tecnológicas; mobilização dos participantes, realização de

videoconferências;

- Articulação com possíveis parceiros;

- Preparação das equipes;

- Avaliação de resultados;

Etapa V – Assistência técnica para a elaboração de Planos Municipais de Cultura

- Encontros de Formação Presencial;

- Atendimento Especializado para Municípios Específicos Fonte: idem, ibidem.

75

A estrutura de suporte pedagógico foi ancorada em uma equipe de conteudistas e em

um grupo inicial de 40 tutores – quantidade reduzida após a primeira avaliação –, que

cumpriram carga horária semanal de 10 horas de trabalho, atuando em duplas. O critério

inicial para a formação das duplas foi que um profissional fosse da área da cultura, políticas e

gestão cultural e o outro fosse da área de planejamento e gestão pública. No entanto, não foi

possível atender rigorosamente a esse critério devido ao número muito reduzido de inscritos e

selecionados da área de planejamento.

Cada dupla atendeu a um grupo de aproximadamente 20 municípios. Os tutores

atuaram como facilitadores, auxiliando os participantes a assimilarem os conteúdos

apresentados na formação. Após a fase de aplicação de conteúdos, alguns tutores trabalharam

como orientadores de template, apoiando os participantes na elaboração de minutas dos

Planos de Cultura. Dessa forma, os participantes tiveram à disposição uma equipe de

profissionais devidamente capacitados para dar suporte técnico através de videoconferências e

orientação personalizada à distância.

Como critério de participação, os municípios selecionados tiveram que indicar dois

representantes municipais, sendo um deles da Administração Pública ou do Conselho de

Política Cultural, que deveriam atuar como coordenadores do processo, e um representante da

sociedade civil, que poderia ser do mesmo Conselho ou uma liderança da comunidade

artística e cultural local.

A estrutura para prover suporte e condições para a realização do trabalho, de acordo

com as orientações do Projeto e do MinC, foram de responsabilidade do órgão gestor de

cultura. Dessa forma, o município deveria assegurar ao representante do poder público que as

atividades fossem realizadas dentro da sua carga horária de trabalho, além de prover

infraestrutura tecnológica adequada que possibilitasse ao participante utilizar o ambiente

virtual de aprendizagem.

Após o término da etapa formativa, foram realizados Encontros Regionais, cuja

finalidade foi avaliar o processo e oferecer reforço metodológico aos municípios que não

tinham finalizado a minuta o PMC. Além disso, esses Encontros se configuraram como um

espaço político e técnico, que permitiu trocas de conhecimento entre os participantes e

imprimiu projeção político-institucional para o MinC, para os municípios e para as instâncias

colegiadas. Esses eventos foram realizados nas oito regionais vinculadas ao MinC, sendo o

Nordeste contemplado com dois encontros, devido à grande distância entre os municípios. O

Quadro 7 mostra como cada regional foi dividida:

76

Quadro 7 - Encontros Regionais

Regional Municípios Local de Realização do

Encontro

Bahia /

Sergipe

Bahia: Andaraí, Antonio Cardoso, Araci, Brejões, Conceição

do Almeida, Ibitiara, Jacobina, Nazaré, Pojuca, Salvador,

Santa Brígida, Simões Filho e Tanquinho; Sergipe:

Japaratuba.

Salvador - BA

Centro-

Oeste Goiás: Luziânia. Brasília - DF

Minas

Gerais

Além Paraíba, Arinos, Baependi, Barra Longa, Belo

Horizonte, Betim, Bom Sucesso, Candeias, Conselheiro

Lafaiete, Esmeraldas, Igarapé, Ipatinga, Itabirito, Iturama,

Jaboticatubas, Jequitinhonha, Manhuaçu, Muriaé, Ouro

Branco, Pouso Alegre, Pará de Minas, Paracatu, Paraopeba,

Passos, Ponte Nova, Santana do Paraíso, São Gonçalo do Rio

Abaixo, São João Nepomuceno e Três Pontas.

Belo Horizonte - MG

Nordeste

Maranhão: Barra do Corda, Guimarães, Joselândia, Lago do

Junco e Passagem Franca; Piauí: Água Branca. São Luís - MA

Paraíba: Baraúna; Pernambuco: Escada; Rio Grande do

Norte: São Miguel. Recife - PE

Norte

Acre: Porto Acre; Pará: Cachoeira do Arari, Curralinho,

Portel e Salvaterra; Rondônia: Guajará Mirim; Roraima:

Amajari, Boa Vista e Mucajaí; Tocantins: Miranorte.

Belém - PA

Rio de

Janeiro /

Espírito

Santo

Espírito Santo: Castelo; Rio de Janeiro: Comendador Levy

Gasparian e Saquarema.

Rio de Janeiro - RJ

São Paulo

Bertioga, Birigui, Buritama, Cubatão, Hortolândia, Itatinga,

Jacareí, Nazaré Paulista, Salto, Santos, São José dos Campos,

São Roque, São Vicente, Ubatuba e Várzea Paulista.

São Paulo - SP

Sul

Paraná: Assaí, Nova Esperança e Piraquara; Rio Grande do

Sul: Cachoeira do Sul, Carazinho, Igrejinha, Imbé, Rolante e

Taquari; Santa Catarina: Balneário Camboriú e Xaxim.

Porto Alegre - RS

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2015d).

Como último item relevante, houve o cuidado permanente de garantir a geração de

informações para subsidiar a ação político-institucional do MinC, estimular o controle social e

promover espaços para reflexões acadêmicas.

2.4.3 Modelo de Gestão

77

A estrutura de gestão do Projeto requereu, nessa edição, duas coordenações, sendo

uma estratégica e outra técnico-operacional, compostas por representantes da UFBA e do

MinC, como mostra o Quadro 8:

Quadro 8 - Modelo de Gestão da 2ª Edição

Coordenações Atores Atribuições Objetivo

Estratégica

Secretaria de

Articulação do MinC

Responsabilidade

institucional

Tomar decisões estratégicas,

promover a convergência

institucional, a integração e o

acompanhamento dos parceiros

envolvidos.

Escola de

Administração da

UFBA

Responsabilidade

Técnica do Projeto

Técnico-

operacional

Equipe técnica de

profissionais

Responsabilidade pelas

atividades de gestão

geral, pedagógica,

administrativa,

tecnológica e execução

operacional.

Executar o Projeto Pedagógico e

promover apoio técnico

especializado para a elaboração das

minutas dos PMCs.

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2015d).

A coordenação estratégica ficou responsável pela tomada de decisões político-

institucionais e à coordenação técnico-operacional coube a responsabilidade pelas atividades

no âmbito da execução do projeto pedagógico. Essa estrutura contou com uma equipe de 15

profissionais (Apêndice 3), que se manteve até o final do processo, destacando que seis

integrantes da primeira edição permaneceram: Ângela Andrade, Ernani Coelho, Kátia Costa,

Lisandra Alcântara, Luana Vilutis, Marcelo Cruvinel e Neuza Britto.

Como produtos finais, foram previstos: a) plataforma de aprendizagem à distância

(moodle); b) material didático composto por doze módulos teórico-conceituais sobre a

elaboração de Planos Municipais de Cultura; c) avaliação de participação e desempenho; d)

realização de dez eventos semipresenciais; e) elaboração de relatórios trimestrais de

acompanhamento do Projeto; e f) formatação e funcionamento do sistema de preenchimento

de minutas de Planos (template) e do sistema de boas práticas.

2.4.4 Equipe pedagógica

O Projeto contou com uma equipe de profissionais especializados em temas adotados

para a formação, incluindo integrantes da equipe gestora que possuíam competências

complementares, sendo eles: um coordenador técnico, um consultor pedagógico, 13

78

conteudistas e 40 tutores, além das equipes de supervisão de tutoria (dois) e de assistência

técnica (quatro). Em virtude da evasão registrada no decorrer da formação, e após a primeira

avaliação de desempenho de tutores, a equipe foi reduzida para 32 tutores.

É importante mencionar que os tutores foram selecionados através de edital público e

a seleção se deu em duas etapas, sendo uma eliminatória e outra classificatória. Profissionais

da primeira edição também participaram desse processo seletivo. Dos 65 inscritos, 44

candidatos eram originários da cidade de Salvador, sete da Região Metropolitana e 14 de

outros estados e regiões brasileiras. Essa equipe possuía, em sua maioria, perfil acadêmico

com experiência na área cultural, alguns deles já atuando, inclusive, na gestão pública da

cultura.

Todos os profissionais envolvidos receberam capacitação específica para o

desenvolvimento do trabalho. Primeiro ocorreu um alinhamento entre os membros da equipe

gestora para promover o reconhecimento das competências. Em fevereiro de 2014, foi

realizada a reunião de conteudistas para apresentação do Projeto, “com ênfase em sua

proposta pedagógica e nos recursos existentes e disponíveis na plataforma Moodle para

operacionalização da formação” (EAUFBA, 2014a, p. 26), que serviu para alinhar a equipe

quanto à definição conjunta das competências a serem estimuladas a partir de cada módulo e

para padronizar a linguagem a ser utilizada, resultando em algumas recomendações acordadas

entre as partes:

. Instrumentalizar os gestores públicos e agentes culturais na

conceitualização de cultura adotada pelo MINC para que os planos de

cultura concebam a tridimensionalidade da cultura em sua formação;

. Proporcionar conhecimentos acerca do Sistema Nacional de Cultura e dos

seus componentes, para que o plano municipal de cultura contemple os

demais elementos do Sistema;

. Prever e criar dispositivos de pertença da formação que podem ser vídeos

ou áudios de 1 minuto, sempre com o mesmo personagem acompanhando

toda a formação;

. O foco da formação e do material didático a ser produzido não é o

participante e sim o município. É preciso que isso apareça no material

didático, especialmente na sugestão de exercícios e questões para o fórum de

discussões, onde os participantes relacionarão os conteúdos apreendidos com

sua realidade local. (idem, ibidem, p. 27)

Entre 04 e 08 de agosto de 2014, foi realizada a Oficina de Capacitação para os tutores

aprovados no edital. O objetivo desse evento foi habilitá-los para o trabalho de orientação

pedagógica dos agentes públicos e representantes da sociedade civil envolvidos na formação

de elaboração dos PMCs e promover maior integração com os conceitos e método utilizados

na formação. Os responsáveis por ministrar essa oficina foram os conteudistas e

79

representantes do MinC, a exemplo de Bernardo da Mata Machado, à época Secretário

Interino da SAI/MinC, que abriu o evento com uma aula magna, além de representantes da

Regional MinC Bahia e Sergipe.

Ainda com o objetivo de fortalecer a equipe, o Projeto contou com dois grupos de

trabalho responsáveis pela condução pedagógica e técnica. Um deles foi a equipe de

supervisão de tutoria, responsável pelo acompanhamento e monitoramento do ambiente

virtual de aprendizagem, controle e avaliação do processo desempenhado pelos tutores. O

segundo foi a equipe de assistência técnica, responsável por assessorar os tutores e

participantes no processo de aplicação e apreensão dos conteúdos relacionados à elaboração

de Plano, sendo que, depois, seus componentes atuaram como orientadores no preenchimento

do template. Essas equipes desenvolveram avaliações conjuntas sobre o processo pedagógico,

sugerindo alterações e intervenções para o aprimoramento do trabalho.

2.5 Plataforma moodle: ambiente virtual de aprendizagem e template – processo

formativo

A plataforma moodle foi estruturada em três espaços distintos. O primeiro, com acesso

exclusivo pela equipe gestora, destinou-se a guardar registros do processo de construção da

formação, incluindo fóruns de discussão da equipe, revisão dos módulos e bibliografia de

organismos internacionais e do MinC. Também foram criadas pastas contendo documentos

administrativos do Projeto, como atas de reuniões. O segundo espaço, disponível para o

acesso dos participantes municipais, foi intitulado Formação para Elaboração de Planos

Municipais de Cultura e composto por quatro áreas, discriminadas a seguir:

a) Introdução ao Ambiente da Formação: espaço inicial com atividades de

ambientação ao moodle, vídeo de boas vindas dos participantes, orientações sobre o ambiente

virtual e sua apropriação, além de fórum de apresentação, onde todos os participantes e equipe

puderam se conhecer. Esse espaço também continha orientações sobre o envio de tarefas

relacionadas aos módulos;

b) Interagindo e Conhecendo o Moodle: composto por um fórum geral, no qual os

participantes puderam postar quaisquer assuntos relacionados à formação, iniciando assim um

diálogo com a equipe; um espaço destinado a tirar dúvidas sobre o moodle e a ferramenta para

chat que, apesar de disponível, foi muito pouco utilizada pelos participantes. Esse item contou

80

também com um espaço intitulado Saiba Mais, destinado a informações adicionais sobre o

ambiente virtual de aprendizagem e outras questões relativas aos conteúdos;

c) Apresentação da Formação: espaço que agrupou o manual do participante, a

apresentação dos módulos e seus objetivos, links para o sítio institucional do Projeto e para a

sua página no facebook, e vídeos elaborados pelos conteudistas;

d) Módulos de Elaboração de Planos: continha os módulos básicos e de elaboração

de Planos. Além disso, incluía também um espaço de interação da equipe com os

participantes, por meio de um fórum geral de discussão; o cronograma da formação; um

quadro de avisos, e links para o template e para o sistema de boas práticas.

Essa estrutura do moodle possibilitou interações entre participantes-conteúdos-tutores;

participantes-equipe; participantes-conteúdos complementares e participantes-participantes.

Para finalizar o preparo da página dessa plataforma, foi feita a customização do

ambiente virtual, com vídeos animados inseridos nas páginas de introdução de cada módulo.

É relevante mencionar que as animações tomaram como base o tema diversidade de

expressões que identificavam a região à qual estava relacionado cada grupo de municípios.

Depois foi realizado o pré-teste da formação, que consistiu na interação dos tutores com a

plataforma moodle, sob a coordenação da supervisão de tutoria. Nessa fase, foi possível

realizar alguns ajustes e correções no ambiente. Por fim, a Superintendência de Tecnologia da

Informação da Universidade Federal da Bahia (STI/UFBA) cadastrou os participantes.

Os municípios foram divididos por Regional MinC e reunidos em 21 grupos de

trabalho, batizados com nomes de compositores brasileiros, como apresenta o Quadro 9.

Quadro 9 - Agrupamento dos Municípios

Regional Organização dos

Municípios

Nome dos

grupos

Número de

Municípios por

grupo

Número de pessoas

cadastradas

Bahia/Sergipe 3 GTs, segundo o número

de habitantes

Caetano Veloso 22 37

Gilberto Gil 22 41

Raul Seixas 23 44

Centro-Oeste

Municípios dos Estados de

Goiás, Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul foram

agrupados junto aos do

Amazonas

Almir Sater 21 33

Minas Gerais 3 GTs, segundo o número

de habitantes

Cazuza 20 34

Chico Science 21 40

Milton

Nascimento 20 37

Nordeste Organizados em 4 GTs Djavan 23 41

81

(AL, CE, MA, PB, PE, PI e

RN)

Lenine 20 40

Luiz Gonzaga 19 34

Zeca Baleiro 34 62

Norte

Municípios do Pará foram

reunidos em um grupo e

municípios de Rondônia,

Roraima e Tocantins, em

outro grupo.

Gonzaguinha 20 30

Zé Ramalho 20 37

Rio de janeiro e

Espírito Santo

Municípios do Espírito

Santo e Rio de Janeiro

reunidos com os do Acre

Tom Jobim 22 45

São Paulo 3 GTs, segundo o número

de habitantes

Cartola 20 40

Chico Buarque 21 39

Rita Lee 21 42

Sul

3 GTs, sendo um grupo

para cada Estado (RS, PR e

SC)

Adriana

Calcanhotto 30 55

Marisa Monte 20 39

Roberto Carlos 20 38

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2014c).

Com o objetivo de alinhar os conhecimentos com as equipes do MinC e da Secult/BA,

foi criado o Grupo Dorival Caymmi, constituído por representantes regionais do MinC,

representantes territoriais daquela secretaria e de cooperativas culturais e organizações da

sociedade civil voltadas para as políticas e a gestão cultural, totalizando 53 participantes

(Quadro 10).

Quadro 10 - Composição do Grupo Dorival Caymmi

Nome da Instituição / Organização Quantidade de participantes

Representações Regionais do MinC 16

Representações territoriais e funcionários da Secult/BA 31

Associação dos Municípios do Norte 3

Associação dos Municípios de Santa Catarina 1

Consórcio Culturando (São Paulo) 2

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2014c).

Finalizada a fase de preparação do ambiente e de toda a equipe, no dia 22 de setembro

de 2014 foi iniciada a formação EaD, com a tarefa de ambientar os participantes quanto ao

formato pedagógico estabelecido e o ambiente virtual de aprendizagem.

2.6 Descrição do sistema de preenchimento de minutas de PMC

82

Visando apoiar os representantes municipais no processo de elaboração dos seus

Planos de Cultura, a EAUFBA desenvolveu o sistema virtual PMC Modelo de Referência,

que ficou conhecido como template. O menu dessa ferramenta obedeceu à mesma concepção

do ambiente de formação (moodle), de modo a manter correlação com os módulos e as

unidades ali apresentados, facilitando o entendimento dos participantes sobre o conteúdo a ser

produzido. À medida que os participantes iam finalizando o aprendizado sobre cada etapa do

Plano, eles tinham um prazo para alimentar o template, de acordo com o estabelecido no

calendário da formação. Visando orientá-los melhor sobre a utilização dessa ferramenta, a

equipe produziu um manual didático e seis videoaulas.

A seção Painel de Controle (dashboard), mostrada na Figura 7, indicou o andamento

de elaboração do PMC, exibindo o total de informações cadastradas no template, o que

possibilitou o monitoramento do processo por qualquer pessoa que teve acesso a esse

ambiente virtual. A ferramenta permitiu incluir, alterar e excluir conteúdo, como dados,

informações digitadas ou arquivos anexados.

Figura 7 – Painel de Controle do Template

Fonte: EAUFBA, 2015g, p. 5.

83

A seção Documentos de Referência permitiu ao participante a anexação de arquivos

considerados relevantes para o processo de elaboração do PMC, como relatórios de

Conferências Municipais e atas do Conselho de Política Cultural. Também constaram nessa

seção documentos inseridos pela equipe do Projeto que foram úteis no trabalho, como as

metas do Plano Nacional de Cultura.

As seções seguintes se relacionaram às etapas de elaboração do PMC. Situação Atual

foi o espaço destinado ao lançamento das informações sobre Caracterização, Panorama

Cultural e Diagnóstico Cultural; na seção Projeção do Futuro, constaram informações sobre

Diretrizes, Prioridades e Objetivos; em Operacionalização do Futuro, dados sobre Estratégias,

Metas, Resultados e Impactos; a seção Prazos e Recursos incluiu Cronograma por Ação e

Cronograma por Meta e informações sobre Recursos; por fim, a seção Monitoramento

contemplou os Indicadores.

O template permitiu ao usuário o livre acesso a qualquer parte do ambiente, conforme

sua preferência, porém foi estruturado para manter a coerência entre as etapas e os itens, por

isso era importante que os participantes seguissem a sequência lógica da metodologia. Assim,

ao inserir uma estratégia (etapa Operacionalização do Futuro), o participante pôde associá-la a

algum objetivo preenchido na etapa anterior (Projeção do Futuro); e a formulação de

indicadores (etapa Monitoramento) dependeu da relação disponível de resultados (etapa

Operacionalização do Futuro).

O conteúdo produzido ficou à disposição dos orientadores para análise da coerência

entre as partes do PMC e aderência aos conceitos e à metodologia apresentados. Cada item

pôde figurar em uma das seguintes situações: não avaliado; inadequado (precisando ser

refeito); requer ajustes e adequado. A Figura 8 ilustra melhor esse cenário.

Figura 8 – Comentários do Orientador

84

Fonte: idem, ibidem, p. 13.

Por fim, a seção Relatório (parcial e final) permitiu ao usuário gerar um documento

com todas as informações inseridas em cada seção do ambiente, respeitando a sequência

lógica da metodologia.

2.7 Conteúdos da Formação EaD em Planos Municipais de Cultura

Os Guias de Orientação utilizados na primeira edição do Projeto MinC-UFBA,

somados às recomendações sobre a necessidade de aprofundamento em conteúdos teórico-

conceituais, contribuíram para a elaboração dos módulos básicos e de Planos utilizados nessa

segunda edição, conforme apresentamos no tópico anterior. Tal tarefa ficou a cargo de um

grupo de professores e profissionais com referência nacional em formação em cultura, gestão

cultural, políticas públicas e planejamento público.

Como resultado desse somatório de informações, um dos pontos a ser considerado foi

a importância de aportar conteúdos teóricos sobre temas específicos do campo cultural. Sendo

assim, a etapa de aplicação metodológica foi dividida em dois momentos, sendo que o

primeiro ocorreu entre setembro e dezembro de 2014, quando os participantes puderam

interagir na plataforma moodle para o estudo dos módulos básicos, enquanto o segundo

ocorreu entre dezembro de 2014 e abril de 2015, quando foram aplicados os seis módulos de

elaboração de Planos.

85

A proposta pedagógica aprovada pelo MinC consistiu em estabelecer prioridade nas

abordagens sobre estrutura e funcionamento do curso, detalhamento do conteúdo da

capacitação por módulo a ser estudado e política de uso desses conteúdos (Quadro 11).

Quadro 11 - Módulos da Formação

Módulos Básicos Conteudistas

Introdução ao Ambiente da Formação Justina Tellechea

Cultura e Produção Simbólica Doia Freire e José Márcio Barros

Políticas Públicas de Cultura Lia Calabre e Rosana Boullosa

Planejamento Público Horácio Nelson Hastenreiter Filho

Sistema Nacional de Cultura Cleide Vilela

Cultura e Desenvolvimento Paulo Miguez

Módulos de Elaboração de Planos Conteudista

Visão Geral

Neuza Britto

Análise da Situação Atual

Projeção do Futuro Desejado

Operacionalização do Futuro Desejado

Projeção de Prazos e Recursos

Monitoramento do Plano Municipal Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2014b, p. 3).

Como observado no Quadro 11, houve dois grandes grupos de módulos. O primeiro

teve carga horária de 67 horas e abordou temas e conceitos relativos ao campo da cultura, à

gestão e às políticas culturais, enquanto o outro grupo modular teve carga horária de 74 horas

e trouxe conteúdos específicos para a elaboração de Planos Municipais de Cultura.

Em ambas as etapas da formação, após a leitura dos conteúdos, os participantes

tiveram atividades práticas de exercícios que objetivaram promover maior aprofundamento

dos assuntos aportados. Estes exercícios foram avaliados pelas duplas de tutores e validados

pelos supervisores de tutoria, que também faziam a gestão do ambiente moodle.

Para a discussão e aplicação didática dos conteúdos, a interação entre o corpo

pedagógico do Projeto e os representantes municipais ocorreu através dos fóruns temáticos,

nos quais foram debatidos os assuntos abordados nos módulos e foram dadas orientações

sobre os exercícios exigidos na formação. As atividades realizadas pelos participantes eram

discutidas nos fóruns, porém a sua entrega se dava através de e-mails, mediados pela equipe

de supervisão de tutoria, ou enviadas diretamente ao tutor.

Na etapa destinada aos módulos de elaboração de Planos de Cultura, além da

apreensão dos conteúdos e aplicação dos exercícios, paralelamente foram adotados dois

instrumentos digitais: um, denominado template, possibilitou aos participantes elaborarem

uma minuta do PMC; e o outro, denominado Registro de boas práticas, era onde deveriam ser

86

registradas informações positivas a respeito da gestão cultural do município, o que não

avançou nem no preenchimento, nem na avaliação das informações coletadas. Ambos foram

construídos ao longo do processo e requereram atenção permanente da equipe do Núcleo

Gestor. O template, por sua vez, recebeu monitoramento permanente da equipe, exigindo

alterações e correções de acordo com a demanda dos participantes, tutores e orientadores.

O roteiro metodológico adotado na primeira edição foi alterado na segunda (Figura 9),

sendo acrescentado o tópico Prazos e Recursos, visto que houve uma demanda de

proporcionar aos participantes conhecimentos de como estimar prazos e recursos para o

cumprimento das metas e ações do PMC.

Figura 9 - Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos Municipais de Cultura

Fonte: BRITTO, 2014f, p. 30.

Os módulos didáticos foram dispostos na página do moodle e apresentados aos

participantes através de uma animação, em que personagens fictícios explicaram os conteúdos

dispostos em cada um deles. Esses módulos foram disponibilizados integralmente na

plataforma, em formato PDF, permitindo o download do material, seja completo ou por

unidade.

Em seguida, descreveremos os conteúdos desses módulos, que expressaram a

metodologia de Planos Municipais de Cultural.

2.7.1 Módulo Cultura e Produção Simbólica

O módulo Cultura e Produção Simbólica (FREIRE; BARROS, 2014), escrito pelos

professores conteudistas Doia Freire e José Márcio Barros, visou ampliar o raio de

compreensão dos participantes do Projeto sobre o universo cultural existente nos territórios

87

em que estão inseridos. Foi um dos módulos que selecionamos para análise dos fóruns de

discussão teórica.

Para além dos conceitos de cultura e diversidade cultural, esse material também

buscou oferecer um aprofundamento conceitual sobre sociedades ancoradas em permanências

e em mudanças; cultura de massa, cultura popular e erudita; o reconhecimento das artes como

parte integrante da diversidade cultural; patrimônio, memórias e identidades. De acordo com

os conteudistas e a equipe do Projeto, esses temas foram considerados essenciais para a

compreensão do complexo campo que constitui o cenário cultural, além de serem pilares para

a construção de um Plano de Cultura.

Dividido em duas unidades, na Unidade I, os conteudistas aprofundaram o conceito

ampliado de cultura, registrando como ele foi sendo tratado historicamente a partir do século

XIX, sua evolução e a sua compreensão no mundo contemporâneo, utilizando como

referências Marilena Chauí e Rigoberta Menchú.

Tendo como base a perspectiva de Chauí e seu conceito de cultura baseado em três

dimensões, foi destacado o grande desafio no que se refere à proteção e promoção das

capacidades humanas em continuar produzindo diferenças e os processos de mediação que

possibilitem as relações entre os diferentes. Sendo assim, o conceito de cultura deve ser

entendido a partir de três perspectivas:

[...] como um sistema de representação, de classificação e de comunicação

de sentidos que se materializam em produtos e práticas, mas que não se

esgotam. Entender e trabalhar a cultura com uma perspectiva de proteção e

promoção da diversidade cultural significa tanto atuar na proteção daquilo

que nos é conhecido e tradicional, quanto na proposição daquilo que é

desconhecido e contemporâneo. Significa o reforço tanto do que nos é

identitário, quanto à proposição de circuitos de trocas e diálogos

interculturais, capazes de oferecer as experiências de pertencimento e de

troca. (idem, ibidem, p. 11)

Segundo a líder indígena guatemalteca e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz (1992)

Rigoberta Menchú, citada no módulo, a interculturalidade considera níveis de verticalidades e

horizontalidades que integram as relações entre os povos e suas culturas na construção de

sociedades plurais, onde sejam reconhecidos os direitos de cada um em defender os seus

princípios e valores. A partir dessa discussão teórica, Freire e Barros ainda destacaram outros

temas que também se associam ao conceito de cultura e diversidade cultural, sendo

importantes para ampliar as percepções no processo de construção de um Plano de Cultura,

tais como civilização, heterogeneidade e alteridade.

88

Nesse módulo, percebemos a introdução ao tema da diversidade cultural, uma vez que

apresentou reflexões sobre diferenças, reconhecimento das identidades e respeito aos distintos

modos de existência, como é possível verificar no seguinte trecho:

Nossas diferenças nos fazem únicos e transformam os outros em desafios à

nossa compreensão. Daí a necessidade de que a experiência cultural nos

prepare ao mesmo tempo para viver entre os iguais, onde experimentamos a

construção de referências de reconhecimento e identidade, mas também o

aprendizado da compreensão e respeito aos modos de ser e existir distintos.

(idem, ibidem, p.10)

Esse módulo também abordou o tema das permanências e mudanças, apresentando um

comparativo entre as sociedades que escolhem lembrar e outras que optam por esquecer;

como essas escolhas definem a forma como cada sociedade entende e respira a cultura, e os

perigos que cada uma dessas concepções pode gerar para si e para a compreensão de um

mundo plural e heterogêneo.

Nessa questão, o texto despertou para uma reflexão de singular importância para o

processo de construção dos PMC, quando reacendeu nos participantes do Projeto o olhar para

o modo como as sociedades percebem e vivem a cultura, e de como esses olhares e

percepções podem impactá-la de forma positiva ou negativa. Considerando que a cultura é

vista como mola propulsora para o desenvolvimento, produzindo sentidos e valores que

podem promover a sustentabilidade, é preciso compreender que o campo cultural é dinâmico,

pois mesmo existindo sociedades que “vivem do lembrar” (tradicionais) e outras que “vivem

do esquecer”, lembrar e esquecer são dois movimentos de toda cultura. O Quadro 12 ressalta

essas diferenças:

Quadro 12 - Diferenças entre sociedades ancoradas no lembrar e no esquecer

Sociedades ancoradas em permanências

(tradicionais)

Sociedades ancoradas em mudanças

Recusam-se a mudar. Recusam-se a se manter.

O lembrar domina a organização social, a

memória, a identidade e as instituições. Não valorizam o passado.

Entende a diferença como ameaça. Fazem do presente e da imagem do futuro seu

centro configurador de identidades e sentidos.

Fazem da sua história a única história (são

sociedades tribais, ortodoxas e totalitárias).

Fazem da mudança “sem filtros” seu modo de

existir.

Organizam sua vida de forma a preservar sentidos

originais e manter as raízes que lhes dão

sustentação. Oferecem a seus integrantes o

sentido necessário de pertencimento.

Vivem do culto à mudança e são aprisionadas à

incompetência de lidar com a memória

Sociedades do mercado, onde o consumo define a

produção e o mercado configura-se como a

principal instituição. Fonte: a autora, a partir das informações de Freire e Barros (2014).

89

De acordo com os conteudistas, ambos os modelos são exclusivistas e, portanto,

podem vir a tornar as diferenças verdadeiras desigualdades, pois enquanto uma apresenta

incapacidade em reconhecer as diferenças, a outra tem dificuldades em reconhecer a memória

como parte da sua realidade. Atualmente, surgiu um novo modelo cultural baseado no que os

pesquisadores chamam de globalização ou mundialização, que tem motivado profunda

transformação na experiência com o tempo e espaço.

Esse modelo resultou em sociedades marcadas pela fragmentação, simultaneidade e

pluralidade, inaugurando o mundo das identidades múltiplas e não mais ancoradas em

certezas cristalizadas. São sociedades marcadas pelo mercado, modeladas pelo consumo e não

pelas instituições, e incumbidas tradicionalmente pela formação dos sujeitos nas sociedades.

Nesse sentido,

Tal predominância da instituição mercado vem instituindo o que Nestor

Garcia Canclini chama da experiência da CULTURA DO EFÊMERO: o

consumo incessante, a “ditadura” da renovação, a transformação da

experiência cultural em experiência do lazer e entretenimento. Sociedades

contemporâneas são sociedades onde grande parte de nossa experiência

identitária e de cidadania foi deslocada para as relações de consumo (idem,

ibidem, p. 3-14).

Para os conteudistas, essas instituições não geram transformações e são motivadas por

circunstâncias e não por conceitos. No entanto, se enxergamos as mudanças culturais, é

preciso compreender os sentidos, tanto aqueles relacionados à sociedade enquanto um

conjunto de práticas, saberes e conhecimentos, como aqueles relacionados aos sujeitos e às

instituições.

Em seguida, o tema central são as diferentes formas de denominar ou classificar a

cultura – popular, de massa ou erudita. Segundo os autores, essa divisão representa uma

postura bastante perigosa, pois cria uma hierarquia desnecessária, estabelecendo um juízo de

valor que não condiz com a compreensão contemporânea atribuída ao conceito de cultura,

havendo implicações que podem vir a surgir caso não tenhamos um entendimento sobre a

importância de olharmos a cultura de forma abrangente e sem hierarquias que venham a criar

modelos culturais superiores e outros subalternizados.

Nesse sentido, a cultura popular é entendida por diferentes autores como dinâmica e

capaz de produzir inovações com possibilidade de manutenção das tradições e identidades

reveladas por ela. Para reiterar essa compreensão, os professores conteudistas destacaram, a

90

partir das Recomendações sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular (UNESCO,

1989), algumas compreensões sobre a cultura popular:

[...] a cultura tradicional e popular é o conjunto de criações que emanam de

uma comunidade cultural, fundadas na tradição, expressas por um grupo ou

por indivíduos e que reconhecidamente respondem às expectativas da

comunidade enquanto expressão de sua identidade cultural e social; as

normas e os valores se transmitem oralmente, por imitação ou de outras

maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a literatura, a

música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato,

a arquitetura e outras artes. (UNESCO, 1989, p. 2)

O módulo também apresentou as ideias de Teixeira Coelho, segundo o qual há

diferentes olhares sobre a definição das culturas populares, pois alguns pesquisadores

defendem que elas têm um caráter preservacionista e outros acreditam que elas podem vir a se

adequar às novas dinâmicas, imprimindo um caráter inovador. De qualquer forma, Coelho

destaca que as culturas populares se apresentam de ambas as formas, podendo oferecer

resistência frente à cultura globalizada, como também se integrar a um contexto mais amplo,

inclusive definindo o seu papel e atuação. Nesse sentido, Freire e Barros apresentam, ainda, a

compreensão do MinC sobre o tema:

As manifestações das culturas populares não são algo estático; constituem

um processo contínuo de transformação, sendo retraduzidas e reapropriadas

pelos seus próprios criadores, segundo rupturas ou incorporações entre a

tradição e a modernização. Isto possibilita a construção e afirmação de novas

identidades, que evidenciam o novo lugar social que esses criadores buscam

afirmar frente à sociedade. A interação entre culturas também é dinâmica e

acontece segundo processos de influências mútuas, em diferentes níveis.

(BRASIL apud FREIRE; BARROS, 2014, p. 17)

No módulo, também foi destacada a importância de, durante o processo de elaboração

de cada PMC, serem considerados os diversos modos culturais existentes, devendo ser

atribuída a eles a mesma importância e compreensão das suas diferenças, riquezas e

potencialidades para o desenvolvimento local, descartando procedimentos discriminatórios.

Por fim, o módulo apresenta a arte como um campo de dissensos e que produz

estéticas variadas, originadas a partir de algo já existente, mas que também reflete os sujeitos

criativos. Ela dialoga com vários aspectos da cultura e da sociedade, imprimindo

características temporais distintas, a partir do que os conteudistas destacam a importância de

considerá-la no PMC:

Tal e qual a cultura, a arte responde a uma necessidade humana, mas não o

faz da mesma maneira em tempos e contextos distintos. Como revela

Frederico Morais, pesquisador e crítico, a arte, melhor entendida também no

plural, além de suas diversas linguagens e técnicas, dialoga de forma

91

dinâmica e processual com vários aspectos da cultura e da sociedade. Ora se

mostra estreitamente ligada ao campo das religiões, ora se desenvolve com

estreita ligação com a tecnologia. Ora exprime modos reflexivos e

acadêmicos, ora reflete a ludicidade e a liberdade individual. […] Pensando

desta forma, um Plano Municipal de Cultura deve trabalhar com a abertura

necessária para identificar, diagnosticar e apresentar propostas para os

diferentes segmentos socioculturais, em suas distintas formas de organização

e expressão por meio de circuitos, grupos, linguagens e sujeitos distintos.

Neste sentido, tanto o cordel e outras formas de poesia popular quanto o

RAP, tanto a quadrilha e os folguedos de boi, quanto o samba e o balé

clássico, devem ser objeto da atenção e da proposição em um Plano

Municipal de Cultura. (FREIRE; BARROS, 2014, p. 21-22)

Na Unidade II, é traçado um breve histórico sobre os processos de mudança de

paradigma no campo da cultura e como esse movimento se coaduna com a redemocratização

brasileira, a partir da década de 70. No período pós-guerra, quando a Unesco voltou o olhar

para a imensa diversidade cultural existente no mundo, surgiram no Brasil diversos estudos

sobre a cultura, novos e revisitados, propondo uma análise das desigualdades

socioeconômicas e do elitismo da política de patrimônio cultural, na qual era mínimo o papel

do Estado para a salvaguarda desse patrimônio.

Sendo assim, destaca-se a importância de uma nova atuação do Estado junto ao

patrimônio cultural brasileiro, para uma reformulação das políticas públicas para a área,

dando ênfase ao protagonismo da sociedade, baseando-se em:

• Continuidade - que vincula a construção da identidade à memória e

defende que, mesmo com rupturas, o processo cultural se caracteriza pela

continuidade;

• Bem cultural - tudo aquilo que é reconhecido, destacado e valorizado pela

sociedade e/ou grupos como referência de seu modo de ser, ao longo da

história. O bem cultural, reconhecido pelas comunidades e uma vez

patrimonializado pelo Estado (união, estados, municípios), sem dúvida,

agrega valor a coisas, manifestações e lugares, mas não se confunde com

produto ou mercadoria;

• Cultura jovem - frágil perante a hegemonia de velhas culturas

sedimentadas, mas dotada de grande energia e porosidade para absorver

influências e se reinventar na dinâmica do contexto em que se mesclam

tradição e inovação. (idem, ibidem, p. 25)

A partir disso, o módulo enfatizou a reiterada busca e esforços para que a Constituição

Federal fosse implementada no contexto das políticas culturais, imprimindo o reconhecimento

da diversidade cultural e integrando a dita cultura elitista a tantas outras que permeiam o país

e que são portadoras de identidades culturais, com formas e modos diferenciados de

manifestação e de comportamentos, costumes e crenças.

92

Para finalizar esse debate, o módulo promoveu explicações sobre a política de

salvaguarda do patrimônio cultural, cujo objetivo é “aumentar a adesão social à causa da

preservação do patrimônio cultural na sua dimensão material e imaterial, e estendê-la como

direito a todos os grupos sociais” (idem, ibidem, p. 28).

2.7.2 Módulo Políticas Públicas de Cultura

O módulo Políticas Públicas de Cultura (CALABRE; BOULLOSA, 2014), de 31

páginas e dividido em quatro unidades, teve como objetivo central oferecer aos participantes

do Projeto informações que pudessem contribuir para a construção democrática e participativa

das políticas públicas de cultura nos seus municípios. Elaborado pelas pesquisadoras Lia

Calabre e Rosana Boullosa, esse material apresentou conceitos sobre o campo das políticas

culturais e os processos e atores envolvidos, de maneira que os PMCs fossem compreendidos

como elementos fundamentais para a institucionalidade e garantia dos direitos culturais locais.

A proposta desse material foi proporcionar aos leitores a compreensão de diferenças

teóricas e considerações sobre os modos de analisar e participar do desenvolvimento das

políticas públicas, bem como compreender a atuação da sociedade e do Estado na construção

e consolidação dessas políticas e os desafios enfrentados pelo Brasil nesse campo. Para tanto,

as autoras iniciam por apresentar uma distinção entre os conceitos de política e política

pública:

Política se refere ao universo das relações de poder, dos partidos políticos e

dos processos decisórios nas esferas parlamentares de deliberação pública,

enquanto políticas públicas se referem aos processos do governo em ação

após a tomada de decisões no parlamento. (idem, ibidem, p.10)

O módulo traz ainda uma apresentação sobre as principais escolas de políticas

públicas: a Análise Racional de Políticas Públicas (ARPP), cuja compreensão se dá a partir da

perspectiva gerencialista, em que são os atores governamentais os protagonistas do processo;

e a Escola de Indagação Política (Policy Inquiry), que busca uma compreensão de políticas

públicas “como processos de construção pública dos governos voltados para problemas

públicos” (idem, ibidem, p.12). Esse modelo de entendimento dialoga com os processos de

elaboração de políticas públicas de cultura a partir de 2003 no Brasil, quando o MinC

entendeu que é dever do Estado e da sociedade buscarem soluções de forma compartilhada.

93

Nesse sentido, segundo as conteudistas, o Plano de Cultura se constitui como um instrumento

de política pública, e não como uma política pública, como defende a ARPP.

Tais modelos também afetam a atuação do gestor municipal, que podem adotar um

comportamento gerencialista ou de maior participação dos atores e agentes envolvidos. Esse

entendimento promove, sobretudo, o aprofundamento sobre a gestão participativa na

elaboração dos Planos de Cultura no âmbito local e ajuda a fortalecer o princípio estabelecido

pelo MinC e contido na Constituição de 1988 sobre a construção de políticas públicas com o

envolvimento e participação social em todos os seus níveis de formulação e implantação. Para

um país de grande dimensão territorial e com características conservadoras como o nosso,

esse processo se apresenta como um diferencial para a construção de novos paradigmas no

contexto das políticas públicas, o que demonstra que essa explicação foi essencial para a

construção dos Planos.

Assim, o módulo conduziu os participantes a refletirem se o PMC podia se apresentar

como um instrumento de política pública e se ele seria capaz de contribuir para a garantia de

direitos cidadãos. Provocou, ainda, a reflexão sobre a importância desse documento para os

municípios, quais ganhos os participantes poderiam ter a partir do contato com os conteúdos

necessários para a elaboração do PMC e como poderiam se preparar para esse trabalho.

Essa didática permitiu aos envolvidos no Projeto correlacionarem os conceitos

apresentados com a realidade local dos seus municípios, possibilitando-os refletirem de forma

prática e construir uma bagagem de conhecimento específico que pudesse dar suporte ao

desenvolvimento dos Planos de Cultura. Nesse sentido, o módulo apresentou uma estrutura

didática que contemplou a diversidade de participantes envolvidos na formação, considerando

seus níveis prévios de conhecimentos teóricos sobre o campo da cultura.

Outro ponto tratado no módulo foi aos atores que deveriam ser contemplados durante

a construção dos PMCs. Considerando que na atualidade somos todos beneficiários de

políticas púbicas, o que reforça a importância da participação social, o módulo destacou que

essa participação é o momento de maior complexidade e mais desafiador, pois é quando é

preciso definir quem entra e quem não entra no processo. De qualquer forma, tanto os atores

governamentais quanto os sociais assumem dupla condição na produção do PMC, como

formuladores e beneficiários e, portanto, como corresponsáveis em níveis e graus distintos.

Temos que imaginar que cada instrumento de políticas públicas define um

quadro de atores sobre e com o qual irá trabalhar. Quase nunca consegue

contemplar todos os atores que poderiam estar envolvidos. A este conjunto

de atores que serão mobilizados pelos instrumentos, damos o nome de

subsistema de atores ou arena de instrumento. Este é provavelmente um dos

pontos mais desafiadores da construção de um instrumento de políticas

94

públicas: quem faz e quem não faz. Um modo bem conhecido é separarmos

os operadores (policy makers ou steakholders) dos beneficiários. Todavia,

esta divisão não reflete mais a complexidade dos nossos atuais instrumentos.

Afinal também somos beneficiários de todos os instrumentos, inclusive

quem os opera. (idem, ibidem, p. 16)

A segunda parte do módulo buscou conduzir o participante a se ater um pouco mais

sobre as políticas culturais a partir do reforço conceitual. A introdução ao tema trouxe um

conceito de política cultural baseado em um consenso de diversos autores, conforme

destacaram as conteudistas: “As políticas culturais são frutos das ações do Estado, instituições

civis e grupos comunitários, ou seja, são decisões partilhadas que devem possuir um grau

significativo de corresponsabilidades entre os agentes envolvidos”. (idem, ibidem, p.19)

Considera-se, portanto, que para que haja uma relação horizontal entre Estado e

sociedade no processo de políticas públicas de cultura, é preciso construir esses instrumentos

com bases democráticas e participativas, o que para as conteudistas deve se dar a partir do

Plano de Cultura, dos Conselhos, de modelos de orçamento participativo e através do

estímulo ao diálogo permanente e de movimentos organizados para a promoção de discussões

sobre as políticas de cultura.

Dessa forma, acreditamos que a diversidade cultural ganhou espaço na discussão

levantada no módulo, considerando o tema da participação. O texto chamou a atenção para o

marco que foi sendo delineado a partir da década de 80, quando foi proposta uma mudança de

modelo de gestão pública, fortalecendo e imprimindo um caráter participativo. Este modelo

reforça o conceito de diversidade ao ressaltar que “a problemática de desenvolvimento

extrapola o campo do econômico, enfatizando um conceito alargado de qualidade de vida e de

ampliação das capacidades humanas”. (idem, ibidem, p. 20)

Portanto, ao trabalhar os conceitos relativos ao campo das políticas públicas e políticas

de cultura, esse módulo reforçou o entendimento sobre a gestão pública na atualidade, na qual

a diversidade de atores é fundamental para a instalação de instrumentos de políticas que

reflitam a realidade local, levando-se em consideração os diferentes sujeitos e suas formas de

visão e de atuação sociocultural. O módulo também foi coerente com o discurso da

diversidade, à medida que ressaltou a importância da arena de negociação que deve existir

durante a formulação de um PMC, visando, sobretudo, o interesse público desse instrumento.

95

2.7.3 Módulo Planejamento Público

O modulo Planejamento Público (HASTENREITER FILHO, 2014), produzido pelo

professor Horácio Nelson Hastenreiter Filho, trabalhou os conceitos associados à gestão

pública e aos instrumentos de planejamento público, permitindo aos participantes entenderem

como o Plano de Cultura se insere dentro do contexto de um planejamento orçamentário.

Também, buscou estabelecer a diferença entre planejamento público e privado, e quais os

critérios, diretrizes e a complexidade da gestão pública ao lidar com diferentes interesses da

sociedade e com a própria falta de clareza do seu planejamento. Apresentou, ainda, dois

avanços obtidos nessa área: a inovação em estabelecer um processo participativo e um modelo

de gestão pautado em resultados.

Houve a abordagem dos conceitos de governança e governabilidade, destacando-se

que, no momento atual, o conceito de planejamento público vem incorporando cada vez mais

a participação de novos atores na formulação e implantação das políticas públicas, o que

indica uma abertura para a inclusão da diversidade cultural, visto que:

As novas tendências da administração pública e da gestão de políticas

públicas valorizam o conhecimento disponível na sociedade em benefício da

melhoria da performance administrativa e da democratização dos processos

decisórios locais. Quando se reconhece a necessidade da ampliação do

número de atores que deve ser envolvido na gestão pública, há o

impulsionamento de novas formas de articulação político administrativa,

frequentemente se aproximando da estrutura de rede como princípio básico

de organização, fenômeno que está cada vez mais presente no atual debate

sobre governança. (FREY apud HASTENREITER FILHO, 2014, p. 10)

De acordo com o conteudista, governança é a capacidade de ação do Estado, enquanto

governabilidade é a capacidade de identificar as necessidades e anseios sociais,

transformando-os em políticas públicas que respondam a esses problemas. Tais definições

foram incorporadas na metodologia de construção dos PMCs, de forma que os Planos

pudessem refletir uma preocupação com os problemas culturais e estabelecer meios ou

mecanismos para a solução dessas questões, através de metas e ações. Nesse sentido, no

módulo foi enfatizado que essa metodologia congregou os princípios democráticos de

valorização da participação social para a formulação dessas políticas.

Hastenreiter Filho tratou ainda dos modelos de planejamento público e destacou a

capacidade de governar, estruturada em três sistemas: propositivo de ações, materializado em

um plano de governo; sistema social, baseado na articulação entre os atores relevantes (e

assim entendemos a importância dos Conselhos de Política Cultural) e o sistema de direção e

96

planejamento, montado a partir de uma rede de governança. Todos os três integram um

arranjo de governança pautado na pluralidade das capacidades de seus diferentes

interlocutores, a partir de uma agenda permanente de negociação, na qual os atores são peças

fundamentais desse quebra-cabeça (o planejamento), mas também serão impactados pelo

mesmo.

O conteudista também discorreu sobre orçamento público, reiterando que atualmente a

participação é fator determinante para a construção de um Estado democrático, tanto na

formulação quanto no monitoramento, e estabeleceu a importância da relação entre o

planejamento e os instrumentos orçamentários.

Por fim, nos exercícios propostos no módulo, as questões exigiram significativo grau

de reflexão dos participantes sobre a gestão municipal de cultura e o planejamento público

associado ao orçamento. Inclusive, o primeiro exercício abordou a temática da diversidade

cultural, levando os participantes a refletirem sobre o tema.

A partir do exposto, observamos a relevância que esse material didático deu à

participação social nos processos de planejamento, considerando as suas etapas de

implantação e monitoramento. Nesse sentido, entendemos que a diversidade cultural, mesmo

sem ter tido uma abordagem explícita no texto, aparecendo apenas nos exercícios, pôde ter

feito parte da interpretação do leitor, a depender do seu nível de compreensão sobre o assunto.

2.7.4 Módulo Sistema Nacional de Cultura

Escrito pela professora Cleide Vilela, o módulo Sistema Nacional de Cultura

(VILELA, 2014) teve como objetivo fazer com que os participantes se apropriassem das

informações sobre o SNC e sua estrutura de funcionamento. Destacou, sobretudo, os

elementos que estão relacionados aos Sistemas Municipais e as possibilidades de interlocução

que podem ocorrer, à medida que os Sistemas vão se tornando instrumentos efetivos da

política pública para a área da cultura, assim como acontece nos Sistemas de outros setores da

administração pública.

Na primeira unidade do módulo, Vilela apresentou as dimensões simbólica, cidadã e

econômica da cultura, estimulando os participantes a compreenderem o novo conceito de

cultura adotado pelo MinC a partir de 2003, bem como o protagonismo assumido pelo órgão

frente aos desafios da política cultural no Brasil. O módulo destacou como principal desafio

para a política de cultura o respeito à diversidade, o que mostra que o SNC, enquanto política

pública, deve primar pela participação social na sua implementação.

97

A criação e implementação do Sistema marca um importante momento da política

cultural do país, especialmente porque rompe com as tristes tradições relatadas por Rubim

(2008), indicando um processo democrático e descentralizado, construído em parceria com a

sociedade civil.

O princípio da diversidade cultural passa, então, a ser entendido a partir dessa

participação ampliada dos agentes e atores culturais, ganhando notoriedade através da

integração de ações que passam a constituir os elementos dos Sistemas, especialmente o

PMC. Este, assim como o PNC, tem o potencial de nortear as políticas culturais, revelar as

riquezas das dinâmicas culturais municipais e também as inconsistências da gestão local.

Ao apresentar um breve histórico das políticas culturais entre 2003 e 2014, Vilela

demonstrou os avanços obtidos no campo cultural, deixando claro que, no período do

primeiro mandato de Lula e com Gil à frente do MinC, essas transformações foram

significativas, especialmente pelas alterações funcionais e administrativas que ocorreram no

âmbito do Ministério, com destaque para a criação da SAI/MinC, responsável pelo SNC.

Outro marco determinante dessa gestão foi o fortalecimento dos encontros de participação

social, através das Conferências, e a criação do Conselho Nacional de Política Cultural,

fundamental para a legitimidade da representação da sociedade civil no processo das políticas

públicas de cultura.

Além disso, o módulo apresentou os marcos legais, entre os quais destaca a Emenda

Constitucional nº 71/2012, que instituiu o SNC, pela inclusão do Artigo 216-A na

Constituição Federal; a Lei n° 12.343/2010, que institui o PNC e cria o Sistema Nacional de

Informações e Indicadores Culturais (SNIIC); a Portaria n° 123/2011, do MinC, que

estabelece as 53 Metas do PNC; e, o Documento Básico do SNC, aprovado pelo Conselho

Nacional de Política Cultural.

Em seguida, descreveu os princípios do SNC, cujo primeiro é a “diversidade das

expressões culturais”, e os elementos constitutivos dos Sistemas de Cultura, apresentando as

diferenças e similaridades entre eles e suas funcionalidades. Destacamos aqui a importância

dos órgãos de cultura, devido à liderança e mediação que realizaram no âmbito da

institucionalidade do campo; dos Conselhos de Política Cultural, que no processo de

construção dos PMCs se constituem como elemento-chave para o diálogo e aproximação

entre os principais atores políticos e culturais; e, das Conferências de Cultura, que se

configuram como espaço de encontro, mas, sobretudo, de discussão e deliberação sobre as

políticas. Vale destacar que, no Brasil, foram realizadas tanto conferências convocadas pelo

98

poder público quanto as chamadas Conferências Livres, que partiram da iniciativa da

sociedade e de grupos organizados.

Para consolidar o entendimento sobre os Sistemas de Cultura, o módulo apresentou, de

forma detalhada, os elementos essenciais para uma gestão qualificada e eficaz, que são o

planejamento, financiamento, informações e formação. Nesse sentido, o PNC é considerado

como a principal peça de planejamento, seja no âmbito nacional, como nos estados e

municípios, pois, assim como apregoa a Constituição Federal, trata-se de um documento que

propõe uma política integrada, com instrumentos que contribuem para o desenvolvimento e

fortalecimento do pacto federativo, algo ainda adormecido.

A diversidade cultural ocupou lugar de destaque neste módulo, visto que Vilela

ressaltou a importância do PNC para a garantia dos direitos culturais por meio “do

fortalecimento da gestão cultural pública baseada no SNC e na participação social, do

reconhecimento e promoção da diversidade das expressões artísticas e culturais, do acesso às

artes e cultura e da perspectiva do desenvolvimento sustentável” (VILELA, 2014, p. 23). A

conteudista destacou, dentre outras informações, os capítulos que constituem o PNC, a saber:

. Do Estado: fortalecer a função do Estado na institucionalização das

políticas culturais, intensificar o planejamento de programas e ações voltadas

ao campo cultural e consolidar a execução de políticas públicas para cultura;

. Da diversidade: reconhecer e valorizar a diversidade, proteger e promover

as artes e expressões culturais;

. Do acesso: universalizar o acesso dos brasileiros à arte e à cultura,

qualificar ambientes e equipamentos culturais para a formação e fruição do

público e permitir aos criadores o acesso às condições e meios de produção

cultural;

. Do desenvolvimento sustentável: ampliar a participação da cultura no

desenvolvimento socioeconômico, promover as condições necessárias para a

consolidação da economia da cultura e induzir estratégias de sustentabilidade

nos processos culturais;

. Da participação social: estimular a organização de instâncias consultivas,

construir mecanismos de participação da sociedade civil e ampliar o diálogo

com os agentes culturais e criadores. (MINC apud VILELA, 2014, p. 23)

Nesse sentido, o PNC funciona como um espelho para a criação dos Planos

Municipais, o que respalda o fato de a metodologia ter destacado, tanto nos Guias de

Orientação quanto no módulo Visão Geral (BRITTO, 2014f), a importância da relação entre

esses documentos, já que algumas das metas no âmbito nacional se refletem no município e só

podem ser efetivadas através de uma colaboração federativa.

Sobre o Sistema de Financiamento à Cultura, o módulo explicou como o Estado se

estrutura em relação a essa questão, e no que se refere ao MinC, apontou que as fontes de

financiamento têm a finalidade de garantir o direito ao acesso e aos meios de produção da

99

cultura9

. Vale destacar que foram realizados encontros, seminários e reuniões com

participação da sociedade para uma discussão ampliada sobre esse tema. Como apontou

Vilela, essas discussões resultaram no Projeto de Lei n°6.722/2010, que instituiu o Programa

Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura), ainda em tramitação no Congresso

Nacional e cujo objetivo é orientar a distribuição de recursos destinados a estados e

municípios.

Dentre os instrumentos de financiamento, o módulo também discorreu sobre o Fundo

Nacional de Cultura, criado em 1986 e principal mecanismo de financiamento no âmbito dos

municípios. No que se refere ao Fundo Municipal de Cultura, cada cidade tem autonomia para

instituir outros mecanismos que melhor lhe convenham para a estruturação e desenvolvimento

econômico da cultura local.

Ademais, abordou o Sistema de Indicadores Culturais, o Programa de Formação na

Área da Cultura e os Sistemas Setoriais. Apesar de o Programa de Formação não ser

obrigatório no âmbito municipal, o MinC orienta que os municípios de médio e grande porte

se articulem para participarem de programas e projetos voltados para a formação na área. Essa

orientação vem sendo seguida, pois é possível verificar que alguns municípios têm se

articulado para desenvolverem sistemas de indicadores culturais e de formação na área, o que

contribui significativamente para a compreensão da cultura como vetor de desenvolvimento.

Por fim, o módulo reservou uma unidade para descrever e orientar como deve ser a

implantação dos Sistemas Municipais de Cultura, suas características e seus marcos legais,

ressaltando a similaridade com o processo de implementação do Plano Nacional. Destacou o

caráter estratégico do PMC, suas finalidades e reiterou o seu caráter participativo, com

observância ao envolvimento do Conselho de Política Cultural e de outras instâncias de

participação. A responsabilidade da elaboração de um PMC é do órgão de cultura local,

cabendo ao Conselho estabelecer diretrizes de uso dos recursos nas políticas definidas no

Plano.

Assim sendo, o módulo Sistema Nacional de Cultura, constituído de quatro unidades,

discorreu sobre os instrumentos de gestão da política cultural, possibilitando aos participantes

do curso uma visão geral da proposta de instrumentalização dessa política e dos elementos

que oportunizam o reconhecimento da cultura como parte de um plano estratégico para o país,

evidenciando a importância da integração federativa para a garantia dos direitos culturais e

fortalecimento da diversidade cultural.

9 Produção entendida como todas as etapas do processo de desenvolvimento da cultura: criação, produção,

circulação, difusão e pesquisa, dentre outras.

100

2.7.5 Módulo Cultura e Desenvolvimento

O módulo Cultura e Desenvolvimento (MIGUEZ, 2014), escrito pelo professor e

pesquisador Paulo Miguez, apresentou uma abordagem histórica sobre a compreensão da

cultura no campo de desenvolvimento, a sua relação com a economia, com o mercado, com as

indústrias culturais, enfocando, sobretudo, a importância da diversidade cultural como eixo

que conecta essas relações. Esse foi outro módulo que selecionamos para análise dos fóruns

de discussão teórica.

Em diálogo com outros autores, Miguez discorreu sobre a centralidade da cultura

como dimensão fundamental do desenvolvimento e procurou estimular um debate crítico

sobre as políticas culturais para o desenvolvimento, especialmente no que se refere à questão

econômica, o mercado e suas implicações, apresentando os principais desafios da relação

entre desenvolvimento e diversidade cultural.

Para essa reflexão, a primeira unidade do módulo abordou o papel assumido pela

cultura na atualidade, demonstrando que ela ultrapassa os limites do seu campo específico,

sendo transversal aos demais campos sociais. Nas palavras de Miguez:

[...] na cena contemporânea, a cultura transbordou os limites do seu campo

específico. […] Já o contexto atual apresenta como uma de suas

características mais importantes o fato da cultura movimentar-se para além

das fronteiras do campo cultural propriamente dito, alcançando, em força,

outros campos da vida social, como, por exemplo, a política e a economia.

[…] Na contemporaneidade, a cultura comparece como um campo social

singular e, de modo simultâneo, perpassa transversalmente todas as outras

esferas societárias, como figura quase onipresente. (idem, ibidem, p. 8-9)

Segundo o professor, no contexto internacional a cultura ultrapassa a relação com as

políticas de educação, saúde e emprego, sendo indispensável em uma agenda considerada

vital para o Estado. Diante disso, entendemos que a cultura adquire centralidade na

atualidade, transcendendo limites que lhe são impostos e agregando valores em campos antes

considerados autônomos e distantes, como o econômico.

A segunda unidade abordou a dimensão que a cultura passou a ter no campo da

produção do conhecimento, ocupando um lugar mais amplo no contexto contemporâneo:

Ao transbordar seu campo específico e impor-se como “fator transversal”, a

cultura experimenta contemporaneamente, também, e por consequência, um

outro movimento, digamos, de enlargamento, este, no campo da produção de

conhecimento. Ora, para dar conta dos enlaces que constitui, a cultura abre

101

um novo campo de reflexão, os chamados “estudos culturais”. Ou seja, deixa

de ser objeto do exclusivo interesse da antropologia e da sociologia,

disciplinas classicamente dedicadas às questões culturais, passando a ocupar

espaço na agenda de pesquisas de diversas novas áreas tais como os estudos

comunicacionais, a ciência política, a história, a geografia, a crítica literária e

até, imagine, invadindo territórios acadêmicos até então não só distantes

como até mesmo hostis à temática cultural, a exemplo da economia, da

gestão e dos saberes tecnológicos. (idem, ibidem, p. 11-12)

Aqui, o conteudista trouxe os conceitos da “politização da cultura e da culturalização

da cultura”, sendo que o primeiro se relaciona com o reconhecimento do tema cultura como

parte indispensável da política. Já o segundo propõe a inclusão desse tema na agenda política,

incorporando assuntos que integram a pauta mundial, mesmo que isso implique em lidar com

tensões e contradições próprias desse campo.

A terceira unidade do módulo, discorrendo sobre a relação cultura e economia,

destacou dois momentos históricos para a cultura: o primeiro, entre os séculos XVIII e XIX,

quando o capitalismo avançou sobre a circulação de bens culturais, transformando-os em

mercadorias; e o segundo, na metade do século XIX, quando o capitalismo ingressou na era

monopolista-oligopolista e os bens culturais passaram a ser tratados a partir da lógica

mercantil, levando à instalação das indústrias culturais. Diante disso, Miguez fez o seguinte

alerta:

Se a “mercantilização da cultura” já no século XIX pôs em movimento uma

“economia das artes”, à entrada deste novo século, os bens e serviços

simbólico-culturais dão corpo a uma “economia da cultura” que, constituída

ao longo do século passado, exibe um gigantesco mercado que é dominado

por grandes conglomerados de produção e distribuição de conteúdos

culturais, funciona em escala global e contabiliza cifras astronômicas (idem,

ibidem, p. 14).

Nesse contexto, o autor afirma que, ao passo em que a cultura ganhou importância

econômica, ela também passou a agregar valor a serviços e produtos inseridos no mercado.

Em outras palavras, a mercantilização da cultura somou-se à culturalização da mercadoria e,

assim, elementos simbólicos como design, marca e origem acabaram determinando o valor

dos produtos.

Ao transpor o seu campo específico, a cultura tem garantido espaço nos diversos

campos e esferas sociais, estabelecendo laços e experimentando transformações na sua forma

de apresentação. Nessa perspectiva, segundo Miguez, emerge o conceito de George Yúdice de

que “cultura pode ser um recurso para promover a inclusão social, requalificar centros

102

urbanos, estimular a geração de emprego e renda” (idem, ibidem, p. 18), enfim, para ativar

políticas que visam promover o desenvolvimento.

O quarto capítulo apresentou uma reflexão sobre a relação entre cultura e

desenvolvimento, assinalando que essa junção pode ser creditada ao processo de

transbordamento da cultura do seu campo específico e pelas “transformações experimentadas

pela própria noção de desenvolvimento a partir da metade dos anos 1970”. (idem, ibidem,

p.19).

Considerando que o pós-guerra iniciou uma ordem mundial marcada pela conquista

econômica, foi preciso ampliar a compreensão internacional acerca da sustentabilidade do

planeta, provocando a necessidade da busca por uma nova ordem econômica global. O

conteudista registra que esse tema foi discutido durante a 7ª Sessão Extraordinária da

Assembleia Geral das Nações Unidas, onde:

[...] o conceito de desenvolvimento tem buscado sua reinvenção numa

perspectiva pluridimensional que se quer, também, histórica, processual e

transdisciplinar, e submetida, simultaneamente, à geração presente e às

gerações futuras, um desenvolvimento que seja, portanto, conforme anota

Ignacy Sachs, (socialmente) includente, (ambientalmente) sustentável e

(economicamente) sustentado. (idem, ibidem, p. 20).

No módulo, também foi destacado alguns marcos importantes no âmbito internacional

que contribuíram para a conjunção cultura e desenvolvimento, a exemplo do Relatório Nossa

Diversidade Criadora, publicado em 1995 pela Comissão Mundial de Cultura e

Desenvolvimento; a Convenção da Proteção e Promoção da Diversidade de Expressões

Culturais, publicada em 2005, e a Conferência Mundial sobre Políticas Culturais

(Mondiacult), realizada no México em 1982. O Mondiacult possibilitou uma compreensão de

que a cultura se constitui como uma dimensão fundamental para o desenvolvimento.

Os documentos resultantes desse encontro registram uma sintonia com os debates

contemporâneos, que reiteram que o objetivo do desenvolvimento deve ser assegurar a

realização individual e coletiva em conjunto com a preservação da natureza. Essa mudança só

será possível se os fatores culturais forem integrados às estratégias de desenvolvimento e em

respeito às dimensões históricas, sociais e culturais de cada sociedade.

Miguez também abordou o processo que antecedeu a discussão sobre a diversidade das

expressões culturais, a exemplo da tese da “exceção cultural”, de caráter protecionista, que

preconizava que os produtos culturais deveriam ter tratamento diferenciado na OMC, devido

às suas características especiais.

103

A quinta unidade desse material didático ressaltou que para avançar em direção a um

desenvolvimento sustentável, é necessária a construção de condições para o florescimento da

diversidade das manifestações e a promoção da inclusão, seja cultural, como social e

econômica. Remetendo a Celso Furtado, Miguez afirmou que:

[...] “uma política de desenvolvimento ser posta a serviço do processo de

enriquecimento cultural” das sociedades, da firme recusa da adoção de uma

visão meramente instrumental da relação entre cultura e desenvolvimento,

cuja tendência é reforçar e proteger os interesses dos agentes culturais já

estabelecidos (os grandes conglomerados das indústrias culturais), em favor

do acionamento das oportunidades que se abrem quanto à expansão do

espaço de criação e de circulação de manifestações culturais, com evidentes

ganhos econômicos mas, também, com ganhos propriamente culturais, com

a produção e a circulação ampliadas de repertórios simbólicos capazes de

oferecer alternativas às produções simbólicas dominantes, incluindo-se aí

diferentes modelos de desenvolvimento. (idem, ibidem, p. 26)

Por fim, a sexta unidade apontou os desafios decorrentes da imbricação entre cultura

(pertencente ao domínio simbólico, constitutivo da sociedade) e desenvolvimento (noção

localizada no domínio da racionalidade e, portanto, datada historicamente). Algumas

dificuldades centradas nessa relação são: a) as posturas românticas que permeiam o campo da

cultura; b) a ideia de desenvolvimento pautada apenas no viés econômico; c) a falta de

indicadores e estatísticas culturais que deem conta de traçar políticas e medidas

verdadeiramente eficazes; e, d) as barreiras que promovem o atraso no avanço do

conhecimento quanto aos enlaces contemporâneos da cultura. Nesse sentido, Miguez destacou

a importância da Convenção da Unesco para a construção de uma relação mais positiva entre

cultura, diversidade cultural e desenvolvimento, pois:

[...] é preciso reconhecer que não cabem dúvidas quanto ao fato de que a

Convenção da Unesco, assumindo como sua premissa básica a diversidade

cultural como patrimônio comum da humanidade, sugere possibilidades para

a relação cultura, diversidade cultural e desenvolvimento que,

simultaneamente, tanto atendem ao imperativo de proteção demandado pela

memória coletiva construída ao longo da história com a contribuição de

todos os povos do mundo, quanto avançam na compreensão de que tal

riqueza exige políticas de promoção capazes de garantir-lhe um lugar

estratégico no desenvolvimento das sociedades, uma vez que sinaliza a dupla

determinação, simbólica e econômica, dos bens culturais. (idem, ibidem, p.

27)

Para contribuir com esse debate, o conteudista registrou alguns argumentos traçados

pelo pesquisador José Márcio Barros, que destaca que o marco inicial para a relação entre

cultura, diversidade e desenvolvimento deve ser: “o reconhecimento de que a cultura expressa

três dimensões básicas e complementares que são, necessariamente, indissociáveis: sua

104

dimensão humanizadora e educativa, sua dimensão coletiva e política, sua dimensão produtiva

e econômica” (BARROS, apud MIGUEZ, 2014, p. 27).

Para esses autores, a diversidade cultural deixa de ser uma certificação da antropologia

e torna-se um projeto político a ser alavancado pelos países, ancorado pelas possibilidades

propostas pela Convenção de 2005 e tornando-se um projeto efetivo que vem fortalecer a

relação entre cultura e desenvolvimento. Além disso, ainda trazendo Barros como referencial

para a discussão, Miguez destacou que o desenvolvimento sustentável passa pela articulação

equilibrada de quatro tipos de capital presentes em uma sociedade:

[...] o capital natural, formado pelos recursos naturais disponíveis; o capital

construído, gerado pela intervenção humana; o capital humano, determinado

pelas condições de vida da população em termos de alimentação, saúde e

educação; e o capital social, formado pelos valores e atitudes compartilhados

que dão sustentação às relações de confiança e de cooperação entre os atores

sociais (MIGUEZ, 2014, p. 28)

Finalizando o módulo, Miguez evidenciou os esforços realizados pelo Governo

Federal para a construção e implementação das políticas públicas para a área cultural e os

desafios a serem trilhados para a obtenção de um desenvolvimento sustentável, deixando claro

que, para tanto, esse trabalho deve passar necessariamente pela identificação de um foco de

ação política.

2.7.6 Módulo I: Visão Geral

O módulo Visão Geral (BRITTO, 2014f) abordou vários aspectos dos conteúdos da

formação e o roteiro de elaboração de um PMC, contextualizando o Plano de Cultura a partir

do SNC, além de ter introduzido os módulos específicos, todos eles elaborados por Neuza

Hafner Britto, consultora convidada do Projeto MinC-UFBA.

Esse módulo abordou as premissas e princípios já destacados na primeira edição e fez

uma breve descrição dos aspectos relacionados à sensibilização e mobilização dos atores e

agentes, fortalecendo o sentido da participação social na elaboração do Plano.

Além disso, o módulo destacou orientações e exemplos sobre as bases de dados e

informações necessárias e legítimas para subsidiar o PMC, como os insumos colhidos nas

Conferências de Cultura; dados e informações obtidas através de fontes reconhecidas, como o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o próprio MinC, o PNC e outros meios

que pudessem fornecer informações sobre o campo da cultura e sua relação com o município.

105

Esse módulo também chamou a atenção para a coerência interna que deve haver entre as

partes que devem compor o PMC, como descrito na Figura 10:

Figura 10 - Percurso Gratificado da Aprendizagem

Fonte: idem, ibidem, p.7.

2.7.7 Módulo II: Análise da Situação Atual

O módulo Análise da Situação Atual (BRITTO, 2014a), o terceiro que selecionamos

para a análise dos fóruns de discussão teórica, apresentou, assim como na primeira edição, a

etapa “Quem somos e como estamos?”, propondo a investigação sobre a realidade local no

que tange à caracterização de três aspectos municipais. O primeiro deles foi o panorama

cultural, que visou o registro de informações sobre manifestações, segmentos e bens de

cultura; o segundo abordou dados sobre a infraestrutura física, como equipamentos culturais,

acessibilidade, serviços de suporte à cultura, situação de serviços e rede de comunicação; e, o

terceiro registrou informações sobre o aspecto institucional/gestão, isto é, a estrutura

administrativa e do SMC, orçamento, instrumentos de financiamento à cultura, organizações

sociais, atuação política da sociedade civil e o relacionamento do poder público com os

demais setores da Administração Pública e os segmentos sociais.

106

De acordo com a metodologia, essa abordagem levaria à análise sobre as vocações,

potencialidades, fragilidades e obstáculos para o desenvolvimento cultural do município

(Figura 11).

Figura 11 - Módulo Análise da Situação Atual

Fonte: idem, ibidem, p. 7.

O segundo módulo apresentou duas unidades didáticas. Na primeira, foi proposto aos

participantes responderem à pergunta “quem somos?”, de forma a traçar a caracterização do

seu município. A ideia era que, ao final da composição desse quesito, fosse possível tornar

conhecido o perfil da cidade. Para isso, a metodologia recomendou que os participantes

buscassem dados e informações em fontes seguras e confiáveis, como organismos de

planejamento dos Estados e da União, instituições de pesquisa, além de documentos

municipais que pudessem subsidiar esse trabalho, como os planos de desenvolvimento de

outros setores da Administração Pública. Os aspectos abordados foram: históricos, físicos,

geográficos, ambientais, demográficos, econômicos, sociais, políticos e institucionais.

A segunda unidade do módulo propôs a realização do diagnóstico cultural, a partir do

levantamento da realidade cultural da cidade. Para isso, as informações coletadas a partir dos

aspectos de caracterização foram importantes. Essa fase também visou promover maior

aproximação com a sociedade civil, pois uma participação mais efetiva dos segmentos e

setores neste processo teriam duas significativas funções: legitimar as informações já

levantadas sobre cada um dos segmentos e setores e complementá-las.

107

Nesse sentido, destacamos algumas recomendações metodológicas, a saber: a) a

indissociabilidade entre a confiabilidade das informações e o reconhecimento da realidade; b)

o entendimento de que o Plano de Cultura deveria ser um plano de desenvolvimento do

município e não setorial, visando traçar um panorama abrangente e integrado com a realidade

cultural municipal; e, c) a consideração do aspecto transversal da cultura, compreendendo

que, a partir desse planejamento, uma nova realidade para esse campo estaria sendo projetada

para um período de dez anos.

2.7.8 Módulo III: Projeção do futuro desejado

O módulo Projeção do Futuro Desejado (BRITTO, 2014e) abordou as estratégias a

serem assumidas no documento para o alcance do futuro desejado para a cultura local. Assim

como o módulo anterior, este também foi dividido em duas unidades: Unidade I – Diretrizes e

Prioridades; Unidade 2 – Objetivos. A Figura 12 demonstra os caminhos percorridos para a

compreensão dessa etapa.

Figura 12 - Módulo Projeção do Futuro Desejado

Fonte: idem, ibidem, p. 7.

108

A primeira unidade orientou os participantes sobre a técnica para elaboração de

diretrizes e prioridades. A metodologia definiu o papel das diretrizes como “Linhas de

orientação que servem como elementos balizadores para o alcance dos objetivos, metas e

execução de ações” e ofereceu cinco recomendações a serem cumpridas quando da sua

formulação: a) deveriam ser voltadas para o futuro, norteando a formulação dos objetivos,

assim como o caminho a percorrer para que fossem alcançados; b) balizariam decisões e

comportamentos dos gestores e técnicos em relação ao PMC; c) não seriam hierarquizáveis,

mas aplicadas para todo o Plano; d) deveriam ser poucas, mas claras e elementares; e, e) seria

preciso estar atento para a sua elaboração, utilizando verbos que não denotassem execução,

colocando sempre no infinitivo.

Já as prioridades visaram dar foco e orientar as escolhas a serem feitas no Plano de

Cultura, tanto na sua elaboração, quanto na execução. Vale destacar que as prioridades

deveriam ser definidas com relação à visão de futuro, o que não quer dizer que elas seriam

executadas primeiro, mas que implicariam em um compromisso assumido pela gestão

municipal frente a demandas prescritas como prioritárias.

A segunda unidade desse módulo tratou dos objetivos, ou seja, como responder à

questão “onde queremos chegar?”, objetivos esses que foram divididos em três categorias:

. Objetivos estratégicos: são amplos, definidos para o longo prazo (em geral

acima de cinco anos) e envolvem um todo. No caso, serão os objetivos

globais do Poder Público Municipal para a cultura. […]

. Objetivos táticos: são de médio prazo, associados a determinados órgãos e

contribuem para a consecução de objetivos estratégicos. No caso, serão os

objetivos para um determinado período de tempo a ser alcançado por um

organismo da Prefeitura que esteja responsável por um resultado específico

ou parcial do objetivo global. […]

. Objetivos operacionais: são de prazo mais curto, a serem alcançados por

unidades das estruturas organizacionais dos órgãos da Prefeitura e também

contribuem para os objetivos táticos e estratégicos. Alguns objetivos

operacionais praticamente se confundem com o enunciado de metas, sem

explicitar quantidades. […] (idem, ibidem, p.18)

A partir da elaboração de diretrizes, prioridades e objetivos, a metodologia ressaltou a

importância da coerência interna do documento, de modo que os tópicos elaborados pudessem

ser correspondentes com tudo o que fora construído, sempre em atenção à situação atual do

município, onde estavam as bases de dados e informações que dariam e dão sentido ao

planejamento cultural.

109

2.7.9 Módulo IV: Operacionalização do futuro desejado

Dividido em três unidades, o módulo Operacionalização do Futuro Desejado (BRITO,

2014c) tratou das estratégias, metas, ações, impactos e resultados. A Figura 13 demonstra

como os participantes da formação continuaram aprendendo as bases estratégias para a

elaboração do PMC.

Figura 13 - Módulo Operacionalização do Futuro Desejado

Fonte: idem, ibidem, p. 7.

As unidades didáticas, assim como nos demais módulos, ensinaram como formular

estratégias, metas, ações, impactos e resultados, enfatizando a importância da coerência

interna entre eles. As estratégias ajudaram a responder a pergunta “onde queremos chegar?”.

Para a sua elaboração, as recomendações foram precisas: a) devem ser focadas no alcance dos

objetivos; b) são posicionamentos racionais; c) são válidas, se possível, executá-las; d) são

claras, manifestas e gerais; e, e) devem ser coerentes com as diretrizes.

A segunda unidade tratou da elaboração de metas e ações, onde metas “representam o

resultado quantitativo a ser atingido no alcance de cada objetivo. São alvos físicos tangíveis,

quantificados, projetados e alinhados em horizontes de tempos definidos” (idem, ibidem, p.

15). Enquanto ação é “uma operação da qual resulta um produto (bem ou serviço), podendo

110

converter-se em projeto ou atividade. […] a ação funciona como instrumento executivo para o

alcance da meta.” (idem, ibidem, p. 15)

A técnica utilizada pela metodologia para definição de metas foi baseada no método

SMART, oriundo da administração por objetivos, constituído por cinco recomendações que

explicam como a meta deve ser formulada:

Recomendação 1: Metas são específicas. Devem demonstrar o que

exatamente se quer alcançar de forma clara, sem necessidade de

interpretações adicionais.

Recomendação 2: Metas são mensuráveis. Metas envolvem quantidades e

essas devem ser passíveis de medição. Neste método de elaboração de plano

municipal de cultura é indicado que o enunciado da meta já se inicie com um

quantitativo, de modo que é imediata a avaliação de como será medida ao

longo do tempo. Recomendação 3: Metas são alcançáveis. Por essa razão realizam objetivos.

São desafiadoras, tanto quanto os objetivos, mas atingíveis. Por isso as metas

levam em conta as condições tratadas na Análise da Situação Atual, em

especial as fragilidades e os obstáculos, bem como se ancoram nas

estratégias para superação dos empecilhos que podem vir a afetá-las.

Recomendação 4: Metas são relevantes em relação aos objetivos. É preciso

haver uma conexão e uma fina sintonia entre objetivos e metas, de modo que

uma vez alcançando estas se tenha a capacidade de avaliar se os primeiros

foram concretizados.

Recomendação 5: Metas possuem prazos de realização. Elas devem ter como

limite o prazo final do plano, mas podem ser fixados prazos menores para

seu alcance. Não há metas sem tempo definido. (idem, ibidem, p.17)

As ações deveriam gerar produtos ou serviços que pudessem ser claramente

identificados, quantificados e avaliados em relação às metas estabelecidas, ou seja, as ações

realizadas contribuiriam para que as metas pudessem ser atingidas com sucesso. Para tanto,

caberia responder às seguintes perguntas prévias: O que fazer? Por que fazer? Quando fazer?

Onde fazer? Quem vai fazer? A metodologia ressaltou que ações eram o resultado a ser

entregue à sociedade e deveriam ser publicizadas, a fim de que todos tomassem conhecimento

do cumprimento das metas propostas.

Entre as recomendações sugeridas para a elaboração de ações, a que mereceu maior

atenção foi a de evitar relacioná-las ao processo, e quando houvesse essa necessidade, a

metodologia orientou associá-las a alguma das etapas de consecução de determinado resultado

final. Em relação às ações que se relacionaram com as peças orçamentárias do município, elas

deveriam ser elaboradas de forma mais próxima do modo como a prefeitura estruturava o seu

orçamento, pois assim seriam mais facilmente incorporadas nas peças orçamentárias. Como as

metas seriam projetadas para atingir objetivos e ações, para cumpri-las seria necessário

realizar primeiramente a análise sobre o que deveria ser feito para se atingir o objetivo.

111

A terceira e última unidade tratou de resultados e impactos. Metodologicamente, os

resultados são consequências esperadas das metas, já os impactos registram os efeitos da

concretização delas, estando relacionados aos três "E" – eficiência, eficácia e efetividade. A

eficiência relaciona-se com o bom uso dos meios para que se atinjam os fins (ação); a eficácia

refere-se aos resultados esperados através do nível de alcance dos fins; e, a efetividade aponta

para os efeitos positivos ou negativos causados, que também podem ser de curto, médio e

longo prazo. Assim, na elaboração do Plano, a combinação desses três conceitos na

identificação dos impactos poderia vir a promover, em maior ou menor escala, transformações

na realidade local por meio da ação pública.

2.7.10 Módulo V: Projeção de prazos e recursos

O módulo Projeção de Prazos e Recursos (BRITTO, 2014d), dividido em duas

unidades didáticas, ofereceu a possibilidade de concretização das metas e ações propostas no

Plano de Cultura. A esta altura, já era esperado pelo Projeto a existência de um documento de

planejamento, cujo escopo estaria embasado nas demandas sociais e da gestão pública, tendo

o formato adequado ao requerido pela Administração Pública municipal. Assim, o momento

seria o de estabelecer prazos, origens e fontes de recursos para a execução do Plano.

O participante da formação teve contato com as técnicas de elaboração de

cronogramas (prazos para a execução) e de projeção de recursos (origem e quantidade

necessária para a execução no prazo determinado). Essa análise pôde promover a

exequibilidade do PMC, a não ser em caso de algum contingenciamento relacionado ao

orçamento municipal. Chegando a esta fase, esperava-se que a equipe de elaboração tivesse

clareza da capacidade orçamentária do município, imprimindo no Plano o aspecto

exequibilidade (Figura 14).

Figura 14 - Módulo Projeção de Prazos e Recursos

112

Fonte: idem, ibidem, p. 7.

2.7.11 Módulo VI: Monitoramento do Plano

Por fim, a metodologia explorou o módulo Monitoramento do Plano Municipal

(BRITTO, 2014b), conteúdo estabelecido no roteiro metodológico de elaboração do PMC que

abordou os temas dos indicadores de monitoramento das metas e o modelo de gestão do

Plano.

Como já destacado, o monitoramento consistiu em trabalhar “parâmetros para

mediação da situação desejada em relação à situação atual encontrada.” (idem, ibidem, p. 8),

com a finalidade principal de acompanhar como as metas estariam sendo executadas (Figura

15). Para isso, a metodologia também descreveu uma série de recomendações que visaram

objetividade e clareza, para que fosse possível apurar se a meta estaria sendo ou não

executada de acordo com os parâmetros acordados no Plano e nas peças orçamentárias.

Figura 15 - Monitoramento do Plano Municipal de Cultura

113

Fonte: idem, ibidem, p. 7.

A segunda unidade desse módulo, assim como explicitado no III Guia de Orientação

para elaboração dos PMC, da primeira edição do Projeto MinC-UFBA, apresentou

orientações sobre o modelo de gestão a ser adotado para o gerenciamento e execução do

Plano.

2.8 Resultados obtidos pelo Projeto

2.8.1 Primeira edição

Como resultado quantitativo, ao final da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA, cinco

municípios haviam concluído a elaboração dos seus Planos, com aprovação na Câmara

Municipal e conversão em lei.

A equipe da EAUFBA realizou uma avaliação que permitiu não somente demonstrar

percepções sobre o trabalho realizado, como também produzir pareceres técnicos que

subsidiassem o MinC em outras ações de apoio à implantação dos Sistemas Municipais de

Cultura. Dentre os pontos relevantes, destacaram-se:

. Aprendizado em processo de planejamento e em conceitos da área cultural;

. Consciência da institucionalização e da importância da estruturação

sistêmica;

. Formato da Assistência Técnica deve ser aprimorado […];

114

. Baixo nível de envolvimento da estrutura das prefeituras;

. Baixo nível de envolvimento de outras esferas e poderes do estado;

. Apropriação da experiência pelo ambiente acadêmico;

. Apropriação dos resultados do planejamento pelas estruturas de poder e

gestão dos municípios. (UFBA, 2013a, p. 22)

Com o objetivo de apurar o comprometimento dos municípios participantes com a

efetiva instituição do respectivo PMC, a UFBA realizou, em 2014, novo levantamento e

identificou um panorama mais favorável, em face da significativa evolução nos resultados,

como abordado no Quadro 13:

Quadro 13 - Resultados da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA

Planos aprovados e sancionados no legislativo

Belo Horizonte (MG)

Campo Grande (MS)

Florianópolis (SC)

Fortaleza (CE)

Joinville (SC)

Laranjeiras (SE)

Porto Alegre (RS)

Recife (PE)

Santa Luzia (MG)

São Caetano do Sul (SP)

São Leopoldo (RS)

São Luís (MA)

Vitória (ES)

Planos aprovados e não sancionados Olinda (PE)

Planos sendo encaminhados ao Legislativo Aracaju (SE)

João Pessoa (PB)

Planos sem encaminhamento a Legislativo

Betim (MG)

Manaus (AM)

Rio de Janeiro (RJ)

Sabará (MG)

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2014).

Como aspecto positivo dessa experiência, observou-se que o processo, alinhado às

diretrizes traçadas pelo MinC para a formatação do Projeto, favoreceu o aspecto participativo.

Além da metodologia e das ações propostas pela UFBA, cada município com Plano finalizado

desenvolveu, no decorrer da elaboração dos PMC, estratégias que, em certa medida, buscaram

proporcionar maior aproximação entre o poder público local e a sociedade civil, fortalecendo,

assim, a participação social na construção do documento.

Isto favoreceu a pluralidade participativa e trouxe para os debates locais profundas

115

discussões sobre identidades e dinâmicas culturais, bem como reforçou a importância do

reconhecimento da diversidade cultural e de seus modos de expressão como elemento

fundamental para a formulação das políticas públicas de cultura.

A equipe da EAUFBA assinalou também outros pontos positivos observados, a saber:

a) ampliação do entendimento sobre a relevância de se promover maior participação social na

elaboração do Plano; b) importância do reconhecimento da diversidade cultural local, suas

formas de expressão e modos de vida dos grupos sociais e culturais que compunham o

município; c) criação de meios de comunicação, virtuais e presenciais, para dar visibilidade ao

processo e promover o diálogo entre o poder público e a sociedade; d) protagonismo

assumido por alguns órgãos de cultura e pelos Conselhos de Políticas Culturais ativos; e)

mapeamentos e cadastros culturais realizados durante o processo; e, f) surgimento de algumas

propostas de articulação interinstitucional realizadas por alguns dos municípios em favor da

transversalidade da cultura.

A respeito dos pontos negativos, foram observados: a) fragilidade de alguns

municípios com relação a conceitos teóricos do campo da cultura; b) despreparo dos

Conselhos de Políticas Culturais para atuarem no processo de elaboração dos Planos; e, c)

órgãos de cultura desprovidos de estrutura física e humana para a gestão.

Serviram de parâmetros para avaliação do MinC os relatórios bimestrais apresentados

pela EAUFBA, pareceres técnicos sobre cada um dos municípios contemplados nesta edição,

relatórios das 64 visitas técnicas presenciais realizadas pela equipe central aos municípios,

além das observações feitas pelo próprio Ministério, através das equipes da SAI/MinC e

Secretaria de Políticas Culturais (SPC/MinC), que acompanharam o trabalho da consultoria.

No entanto, apesar da constatação de que, no geral, essa foi uma experiência rica,

tornou-se inviável para o MinC manter o formato presencial de assessoramento técnico,

devido à dimensão territorial brasileira e à emergência do cumprimento da meta relacionada à

implantação dos Sistemas Municipais de Cultura. Além disso, a equipe da EAUFBA apontou,

como uma das principais questões, a necessidade de associar consultoria técnica a um

processo formativo, no qual gestores, técnicos e representantes da sociedade civil pudessem

ser capacitados para a implantação dos Sistemas de Cultura, com foco nos Planos. Essa

proposta de capacitação objetivaria fazer um alinhamento de conceitos e termos utilizados no

campo da cultura, com a apreensão da metodologia de elaboração de PMC.

Diante dessa análise, o MinC assinou um novo Termo de Cooperação com a UFBA

para a realização de uma nova edição do projeto, dessa vez baseada em ferramentas de

atuação à distância, de modo a promover ganho de escala através da incorporação de um

116

maior número de entes municipais.

A possibilidade de outro Termo de Cooperação já havia sido aventada pelas equipes

da UFBA e do MinC, em virtude das fragilidades detectadas durante o Projeto. Ainda com a

presença do professor Vicente Federico como coordenador técnico, já se cogitava a

continuidade do Projeto em outro formato, atendendo ao desejo e necessidade de ampliar o

raio de atuação. De fato, a segunda edição abarcou um número significativamente maior de

municípios.

Apesar do falecimento de Federico, a equipe da EAUFBA concluiu essa edição em

julho de 2013, apresentando os resultados ao MinC. Neste momento, o MinC passava por

uma mudança na gestão, assumindo a pasta a senadora Marta Suplicy, que, em uma

reorganização do seu corpo de assessores, substituiu o então Secretário de Articulação

Institucional, Roberto Peixe, por Marcelo Pedroso, a quem a equipe da EAUFBA apresentou

os resultados do Projeto.

Nesse momento, foram adotados novos procedimentos para a assinatura de um novo

Acordo de Cooperação, resultando na segunda edição do Projeto MinC-UFBA, denominada

Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem à Distância. O novo Termo foi

assinado em julho de 2013, no entanto, devido às dificuldades na tramitação do processo que

culminou com a contratação da FAPEX para a gestão dos recursos, o trabalho somente foi

iniciado em dezembro do mesmo ano.

2.8.2 Segunda edição

O ambiente virtual de aprendizagem deu suporte ao trabalho e garantiu a escala de

atuação pretendida pelo MinC, atendendo a um número muito maior de municípios em

relação à primeira edição. Tal ferramenta buscou favorecer a interação entre os participantes,

o desenvolvimento da análise crítica, a apropriação e o compartilhamento de conhecimento.

Em números, 439 municípios foram cadastrados na plataforma moodle, sendo que

deste total, 333 atentaram para a metodologia, participando dos fóruns e desenvolvendo as

atividades correlatas. Entre esses municípios, 177 receberam assistência técnica via sistema de

preenchimento de minutas de Planos (template) e 95 finalizaram o documento (Figura 16).

Figura 16 - Municípios Participantes da Formação

117

Fonte: EAUFBA, 2016b, p. 8.

Entre os que participaram dos Encontros Regionais, destacaram-se os integrantes das

Regionais Minas (42 pessoas, de 27 municípios), São Paulo (33 pessoas, de 18 municípios),

Bahia (29 pessoas, de 15 municípios) e Sul (23 pessoas, de 13 municípios). As Regionais

Norte (16 pessoas, de 11 municípios), Rio de Janeiro (sete pessoas, de três municípios) e

Centro-Oeste (três pessoas, de um município) apresentaram menor participação (EAUFBA,

2016e, p. 50).

A partir da decisão compartilhada entre a equipe da EAUFBA e os representantes

presentes nos encontros regionais, ficou estabelecido que haveria prorrogação quanto ao apoio

técnico aos municípios que, embora ainda não houvessem finalizado o documento,

encontravam-se em estado avançado. Dois técnicos foram designados para darem esse apoio

entre os meses de setembro e dezembro de 2015.

A seleção dos municípios que participariam da segunda edição se pautou naqueles que

atuaram ativamente na etapa formativa e que estavam elaborando o PMC com ampla

participação social, tendo sido, para isso, realizada uma pesquisa através do SurveyMonkey,

intitulada Pesquisa de Sensibilização e Mobilização (EAUFBA, 2015e), que objetivou

identificar os municípios que estavam elaborando o PMC por meio de participação social ou

que haviam realizado alguma ação de sensibilização e mobilização, contemplando 333

118

municípios, dos quais 175 responderam resultando na seleção de 65 deles, como detalhado no

Quadro 14.

Quadro 14 - Quantidade de Municípios Participantes - Fase de Monitoramento

Unidades Federativas Total Regiões Total

São Paulo 15 Sudeste 29

Minas Gerais 10 Nordeste 16

Bahia 5 Sul 10

Maranhão 5 Norte 6

Paraná 4 Centro-Oeste 4

Rio Grande do Sul 4 TOTAL 65

Espírito Santo 3

Pará 3

Tocantins 3

Ceará 2

Rio Grande do Norte 2 Regional MinC Total

Santa Catarina 2 São Paulo 15

Acre 1 Minas Gerais 10

Alagoas 1 Nordeste 11

Amazonas 1 Sul 10

Goiás 1 Norte 6

Piauí 1 Bahia e Sergipe 5

Rio de Janeiro 1 Centro-Oeste 4

Roraima 1 Rio de Janeiro e Espírito

Santo 4

TOTAL 65 TOTAL 65

Fonte: idem, ibidem, p. 55-56.

O atendimento oferecido pelos técnicos nessa fase compreendeu comunicações através

da plataforma moodle (fóruns de discussão teórica); ligações telefônicas; reuniões por skype;

visitas presenciais, quando demandadas pelos municípios; e revisão sistemática dos

documentos de Planos das cidades envolvidas.

As regiões brasileiras que se destacaram nesta fase foram o Nordeste, Sudeste e Sul. Já

de acordo com a divisão regional utilizada pelo MinC, as regionais com maior participação

119

foram Nordeste, Sul, São Paulo e Minas Gerais. Entre os 65 municípios atendidos nessa fase,

o resultado alcançado se expressa na Figura 17:

Figura 17 - Resultados dos Municípios - 2ª Edição

Fonte: idem, ibidem, p. 59.

Após a finalização da fase de monitoramento, o Projeto realizou outra pesquisa com o

objetivo de quantificar o número de municípios que desenvolveram os Planos de Cultura.

Intitulada Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento dos Planos Municipais de Cultura

Assessorados pela UFBA, esse instrumental foi aplicado entre 27 de janeiro e 29 de fevereiro

de 2016, através de e-mail. Foram obtidas 193 respostas, representando 167 municípios de 22

estados brasileiros (idem, ibidem, p. 63). Dentre os respondentes, aproximadamente 80% 10

se

identificaram como representantes do poder público e 20% da sociedade civil. Como já

observado em outras pesquisas, os Estados com maior participação foram Bahia (19,17%),

seguido de São Paulo (18,65%) e, logo em seguida, Minas Gerais (12,44%), conforme mostra

o Gráfico 2:

Gráfico 2 - Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento - Municípios Respondentes

10 Nesta fase do projeto, os dados disponíveis sobre a evolução dos PMCs e participantes estão contidos em

relatórios das pesquisas desenvolvidas pela equipe e ainda não foram divulgados para o público externo.

120

Fonte: EAUFBA, 2016b, p. 20.

A partir das respostas recebidas, foi possível verificar a situação de cada município em

relação ao desenvolvimento do seu PMC. O Gráfico 3 demonstra uma grande dispersão, com

municípios nas mais diversas situações, sendo que 15% já possuíam lei sancionada para o

PMC, enquanto parcela semelhante sequer havia começado o trabalho.

Gráfico 3 - Desenvolvimento dos PMCs - Situação dos Municípios - Fev/2016

Fonte: EAUFBA, 2016d, p.6.

121

Nesta pesquisa, também foi verificado que: entre os municípios participantes, 83,85%

elaboraram seus Planos de forma participativa; para 63,64% dos municípios, a metodologia

aplicada pela UFBA foi o único apoio externo para a construção dessa peça de planejamento;

13,64% mantiveram a metodologia, mas contrataram consultores para assessoramento local; e

22,73%, além de contratarem uma consultoria externa, seguiram uma metodologia distinta da

utilizada pela UFBA.

A partir dos dados obtidos, das informações colhidas ao longo do processo e das

comunicações realizadas com as equipes pedagógicas, orientadores e participantes sobre a

importância e efetividade da metodologia, a equipe da EAUFBA propôs ao MinC a promoção

de um aditivo para uma requalificação metodológica, visando aprimorar os conteúdos

conceituais, revisar o roteiro de elaboração do PMC, sistematizar as informações

metodológicas que foram transformadas em manuais e produzir videoaulas sobre os

conteúdos aportados.

Para essa tarefa, foi proposto um grupo de trabalho reunindo a equipe gestora do

Projeto e convidados, que foram envolvidos na elaboração dos Planos de Cultura e na

formação em gestão e políticas culturais. Alguns desses convidados foram os pesquisadores e

docentes Eloise Dellagnelo, da UFSC; José Márcio Barros, docente da Universidade Estadual

de Minas Gerais (UEMG) e diretor do Observatório da Diversidade Cultural (ODC); Rosimeri

Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e, Daniele Canedo, da

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

De acordo com as avaliações sobre a formação, realizadas ao longo do processo,

foram listados pontos positivos e a melhorar, dos quais alguns foram considerados

significativos para o trabalho de requalificação da metodologia adotada. Os pontos avaliados

foram: módulos básicos; módulos de elaboração dos Planos; prática de tutoria e orientação;

moodle e sua gestão; e template, conforme mostra o Quadro 15:

Quadro 15 - Metodologia de PMCs: pontos positivos e a melhorar

Elementos Pontos Positivos Pontos a Melhorar

Requalificação

Módulos Básicos

a) Ampliação da visão de mundo

da cultura;

b) Fundamentação para a

elaboração do PMC.

c) Linguagem e abordagem muitas

vezes difíceis e “acadêmicas”;

d) Necessidade de melhorar e

complementar material pedagógico;

e) Aprofundamento do tema

Mobilização e Participação Social.

122

Módulos para

elaboração do

PMC

f) Linguagem acessível,

objetividade do conteúdo,

abordagem popular e científica,

questões reflexivas;

g) Ajudou a esboçar o PMC.

h) Roteiro não se adapta a todos os

municípios – verificar possibilidade de

versão simplificada;

i) Articular o conteúdo dos módulos

conceituais com os módulos de

elaboração dos planos;

j) Programação visual dos módulos

precisa melhorar.

Prática de

tutoria e

orientação

k) Promoção de redes de

relacionamento e confiança;

l) Diversidade geográfica dos

tutores;

m) Humanização da relação,

aspecto que foi replicado pelos

tutores nos fóruns.

n) Maior interação dos participantes

com os tutores;

o) Maior interação e troca de

experiência entre os tutores;

p) Evitar quebra de relação com tutor

na fase de orientação.

Moodle e sua

gestão

q) Período prévio dado aos tutores

para apropriação e familiarização da

plataforma;

r) Funcional, explicativo.

s) Maior interação dos participantes

com os tutores;

t) Maior interação e troca de

experiência entre os tutores;

u) Evitar quebra de relação com tutor

na fase de orientação.

Template

v) Inovador;

w) Interação entre o conteúdo dos

módulos e os campos do template; x) Qualidade dos Orientadores.

y) Instabilidade da plataforma

template; z) Incluir vídeo com explicações

adicionais sobre informações

demandadas no template.

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2015f).

Após as reuniões de trabalho, o GT propôs várias recomendações acerca da

metodologia, incluindo reformulação de conteúdos, método e instrumentos de suporte à

formação (EAUFBA, 2016a). Foram elas:

- que a formação de gestores e o assessoramento aos municípios para elaboração de

Planos de Cultura fossem organizados de forma semipresencial;

- que fosse promovida uma revisão do material pedagógico, visando tornar a

abordagem dos conteúdos e a linguagem mais acessíveis;

- que fosse oferecida uma versão simplificada do roteiro do Plano Municipal de

Cultura, diminuindo a complexidade e a carga de conteúdos, visando, sobretudo, alcançar os

municípios de pequeno e médio porte;

- que os tutores fossem capacitados para a apreensão da metodologia e dos

conteúdos, bem como para atuar como assistentes técnicos na fase de elaboração do PMC; e,

- que o template fosse reformulado para ser utilizado ao longo de todo o processo de

formação, de modo a reforçar a centralidade do PMC na formação.

123

Sendo assim, em uma futura edição do Projeto, ficou estabelecido que o módulo Visão

Geral apresentaria todo o percurso da formação e faria a ligação entre os módulos conceituais

e os de Planos, ressaltando que os módulos conceituais seriam agrupados em três blocos, além

de ganharem novos temas relacionados à participação social e economia criativa e solidária,

tais como:

- Políticas Públicas + SNC, incluindo mobilização e participação social;

- Cultura e Produção Simbólica + Cultura e Desenvolvimento, incluindo economia

criativa e solidária;

- Planejamento Público, incluindo financiamento e fontes de financiamento público.

Além disso, os Módulos de Elaboração de Planos foram revistos, adotando um roteiro

mais simplificado, mas mantendo o material completo para consultas e, por fim, foi realizado

ajustes no template, de forma a desdobrar a função Diagnóstico da Cultura, que passaria a

suportar as diversas atividades envolvidas.

Associado a isso, foram produzidas as videoaulas e o formulário de preenchimento de

experiências, sendo este último um instrumento que pretendeu possibilitar aos participantes o

registro de práticas da gestão pública municipal, visando à construção de dados, divulgação de

informações e promoção de novas estratégias para a gestão e políticas de cultura.

Com essa atividade, o Projeto de Elaboração de Planos Municipais de Cultura chegou

à etapa final, tendo como produtos entregues ao MinC os módulos básicos e de Planos, as

videoaulas, o template e o banco de experiência.

2.8.3 Resultados quantitativos do processo: participação e interação na plataforma moodle

A fim de embasar as reflexões apresentadas nesse trabalho, foi realizada uma análise

quantitativa do acesso à plataforma moodle e a participação dos representantes e tutores nos

fóruns de discussão teórica dos diferentes temas tratados na formação. Também foi realizado

um mapeamento dos municípios participantes, a partir da sua localização nas regiões, porte

populacional e nível de desenvolvimento humano. Esses levantamentos objetivaram avaliar o

nível do acesso e participação, bem como traçar um perfil dos municípios contemplados no

Projeto.

Evidenciamos que não foi realizada essa análise sobre a primeira edição do projeto,

pois a gestão dos processos locais era de responsabilidade do órgão gestor de cultura, tendo

ocorrido falhas no registro sistemático dos atores e agentes culturais envolvidos, o que

124

comprometeu o adequado registro das participações municipais. Além disso, muitas cidades

deixaram de seguir a orientação de formalizar, através de decreto municipal, as equipes de

elaboração do Plano, o que prejudicou o compromisso legal dos participantes e resultou em

uma rotatividade das equipes locais.

Lembramos ainda que, nessa edição, a participação se deu de forma difusa, sem uma

sistematização fidedigna das atividades de diálogo e participação social que envolveram o

Plano, que além do núcleo de elaboração, contemplou estratégias de sensibilização e

mobilização social, as quais resultaram em diversos encontros para apresentação da

metodologia e para a construção do documento, tornando inviável medir o nível de

participação e o acesso ao material.

Na segunda edição, por meio do registro de acesso dos participantes à plataforma

moodle, foi possível coletar informações e dados sobre a participação dos representantes

municipais, bem como dos tutores, através das suas intervenções nos fóruns de discussão

teórica. Além disso, levantamos uma amostra representativa dos municípios participantes e

sua evolução durante o processo. Esse levantamento foi possível devido à organização e

sistematização do material pela supervisão de tutoria e pela secretaria executiva do Projeto,

que realizaram o controle do ambiente virtual de aprendizagem e foram responsáveis pela

elaboração dos relatórios trimestrais. Esse material, associado a outras fontes, forneceu

importantes subsídios para esta dissertação.

A formação foi composta por 12 módulos, sendo que 11 deles dispuseram sobre o

conteúdo da formação de Planos e um tratou das orientações sobre o uso e manejo na

ferramenta digital11

. 439 municípios e 840 representantes participaram do processo formativo,

e para agrupá-los, foram constituídos 21 grupos temáticos, distribuídos em 11 fóruns de

discussão.

Entre os 21 grupos12

, dez grupos com representantes municipais foram selecionados

para a amostra, enquanto um não foi considerado, pois reuniu agentes públicos e

representantes de organizações sociais, com o objetivo de proporcionar acesso à metodologia

de Planos. Cada um dos municípios dispôs de uma dupla de tutores para tirar dúvidas e

promover orientações.

11 Este módulo não foi utilizado como material de análise para essa pesquisa, já que foi dedicado a orientações

de cunho operacionais da plataforma da formação. 12 Grupos selecionados para a amostra: Adriana Calcanhotto, Almir Sater, Caetano Veloso, Cazuza, Chico

Science, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Marisa Monte, Rita Lee e Tom Jobim. Grupos com representantes

municipais fora da amostra: Cartola, Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, Lenine, Milton Nascimento, Raul

Seixas, Roberto Carlos, Zé Ramalho e Zeca Baleiro; Grupo não considerado: Dorival Caymmi.

125

Entre os 11 módulos da formação, três deles foram selecionados para a análise:

Cultura e Produção Simbólica; Cultura e Desenvolvimento e Análise da Situação Atual. O

principal critério para a escolha desses módulos foi o fato de os dois primeiros terem

abordado, de forma transversal, o tema da diversidade cultural, enquanto o último abordou

aspectos técnicos para formulação do diagnóstico cultural do município.

Os dez grupos selecionados para a amostra foram compostos por 216 municípios

participantes da formação (49,2% do total) e por 401 representantes municipais (48,6% do

total), como mostra o Gráfico 4. De cada um dos dez grupos selecionados, trabalhamos três

fóruns de discussão teórica, totalizando 30 fóruns analisados. Esse levantamento foi feito a

partir da comparação entre as informações disponíveis na plataforma moodle e as constantes

da planilha Participantes Inscritos.xls (EAUFBA, 2014c). A partir dessa análise qualitativa,

cruzamos dados e informações para discutir e promover a compreensão sobre a relação do

Projeto com a diversidade cultural.

Gráfico 4 - Grupos do Projeto e da Amostra

Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).

Para qualificação do conjunto de municípios participantes, consideramos informações

relativas à localização geográfica, população e desenvolvimento humano disponíveis no portal

Cidades@, do IBGE (2016)13

. Tais informações serviram para delimitar o grupo de

13 Para fins desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios para classificação dos municípios: a)

Porte populacional (baseado no Censo Demográfico de 2010): pequeno: menos de 50 mil habitantes; médio:

igual ou mais que 50 mil habitantes e menos que 500 mil habitantes; grande: igual ou mais que 500 mil

habitantes; b) Nível de desenvolvimento humano (baseado no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal –

IDH-M de 2010): muito baixo: menor que 0,500; baixo: igual ou maior que 0,500 e menor que 0,600; médio:

126

municípios contemplados no Projeto, suas similaridades e heterogeneidades, já que o único

critério definido pelo MinC para esse agrupamento foi o nível de adesão dos municípios ao

SNC. A Figura 18 traz a distribuição pelas regiões brasileiras.

Figura 18 - Distribuição dos municípios por região - 2ª Edição

Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).

Entre os 439 municípios participantes do Projeto, 310 (70,6%) eram de pequeno porte;

121 (27,6%) de médio porte; e oito (1,8%) de grande porte, enquanto na composição da nossa

amostra eram, respectivamente, 155 (71,7%), 55 (25,5%) e seis (2,8%). Verificamos, assim,

que cerca de 70% da amostra que selecionamos correspondeu a pequenos municípios,

semelhante ao observado no Projeto como um todo.

Dos 439 municípios participantes do Projeto, seis (1,4%) apresentaram nível de

desenvolvimento humano muito baixo; 95 (21,6%) baixo; 146 (33,3%) médio; 180 (41,0%)

alto; e 12 (2,7%) nível muito alto. Para o âmbito da nossa amostra, composta por 216

municípios, dois deles (0,9%) apresentaram nível de desenvolvimento muito baixo; 26

(12,0%) baixo; 76 (35,2%), médio; 100 (46,3%) alto; e 12 (5,6%), nível muito alto. Dessa

forma, tanto no grupo do Projeto quanto na amostra, cerca de 80% dos municípios

encontravam-se em um patamar de desenvolvimento humano classificado entre médio e alto.

O Gráfico 5 mostra a distribuição dos municípios a partir da combinação entre porte

populacional e nível de desenvolvimento humano. Além de a amostra manter similaridade

igual ou maior que 0,600 e menor que 0,700; alto: igual ou maior que 0,700 e menor que 0,800; muito alto: igual

ou maior que 0,800.

127

com o panorama do Projeto, verificamos que os municípios de menor porte apresentaram

ampla variação em relação ao IDH-M.

Gráfico 5 - Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 2ª Edição

Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).

Houve, assim, uma predominância de municípios de pequeno porte e com nível de

IDH médio ou alto, seja quando tomamos o Projeto como um todo, seja quando consideramos

apenas a amostra. É importante destacar que, embora não houvesse uma relação entre porte

populacional e nível de desenvolvimento, verificamos que, mesmo de modo não intencional, o

Projeto contemplou pequenos e médios municípios, o que caracteriza um ponto positivo pelo

fato desses serem os entes mais desprovidos de elementos voltados para a institucionalidade,

gestão e implementação de políticas públicas na área cultural.

Em relação à atuação dos representantes municipais, verificamos uma significativa

presença do poder público (aproximadamente 60%), enquanto cerca de 40% dos participantes

representaram a sociedade civil. Em relação ao Projeto, dos 840 participantes, o poder público

participou com 478 representantes (56,9%) e a sociedade civil com 343 (40,9%), sendo que

quatro (0,5%) se intitularam representantes simultâneos do poder público e da sociedade civil

e 15 (1,7%) não tiveram a sua área de representação identificada.

Na amostra, a relação é similar, visto que 234 (57,7%) participaram como

representantes institucionais e 163 (40,1%), da sociedade civil, tendo ainda quatro (1%) que

se identificaram como representantes das duas instâncias de poder e cinco (1,2%) não foram

identificados.

Observamos que houve uma convergência em termos de percentuais de participação,

contudo a representação do poder público esteve em maior proporção (Gráfico 6). Vale

128

ressaltar que a indicação do representante da sociedade civil foi feita pelo gestor municipal ou

pelo Conselho de Política Cultural, sendo que, devido ao respeito à autonomia federativa, não

houve ingerência nem do MinC, nem do Projeto, cabendo a este adotar as informações

contidas no formulário de inscrição.

Gráfico 6 - Distribuição dos participantes por área de representação

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).

Para levantar dados sobre o nível de participação, consideramos tanto o acesso e

participação das pessoas quanto dos municípios na formação para a elaboração dos Planos.

Como critério para análise, fizemos as seguintes perguntas: “Acesso à plataforma?” e

“Participação em fórum?”. Para respondê-las, foram adotadas as seguintes combinações: a)

sim/sim: para acesso à plataforma e participação no fórum; b) sim/não: para acesso à

plataforma, mas sem participação em fórum; e c) não/não: para negativa tanto quanto ao

acesso como, por consequência, à participação.

No que se refere ao acesso e participação dos representantes municipais, temos o

seguinte panorama: dos 840 participantes do Projeto, 415 acessaram a plataforma e

participaram do fórum; 193 acessaram a plataforma e não participaram do fórum e 232 nunca

acessaram a plataforma e nem participaram do fórum. Na amostra, verificamos que do total de

406 participantes, 207 acessaram a plataforma e acessaram o fórum; 97 acessaram a

plataforma e não participaram do fórum e 102 nunca acessaram ou participaram da formação.

Desta forma, constatamos que também há uma distribuição similar tanto no Projeto

quanto na amostra (Gráfico 7). Algo em torno de 50% dos representantes acessaram a

plataforma e participaram dos fóruns, cerca de 23% acessaram e não participaram do fórum e,

por fim, aproximadamente 26% nunca acessaram e nunca participaram dos fóruns.

129

Gráfico 7 - Participação na plataforma moodle e nos fóruns

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).

Para o levantamento sobre o acesso e participação nos fóruns (Gráfico 8), os

representantes municipais foram considerados individualmente. Ao longo da formação, foram

realizadas algumas substituições; sendo assim, no caso da troca de um representante por

outro, foram considerados como dois registros de representantes.

Sob o ponto de vista dos municípios, constatamos que pouco menos de dois terços

deles tiveram, ao menos, um representante que acessou a plataforma e participou de fórum,

enquanto cerca de 20% deles tiveram, ao menos, um representante que acessou a plataforma,

mas não participou de fórum. Para quase 20% dos municípios, nenhum representante acessou

a plataforma e, por consequência, nem participou de fórum.

Gráfico 8 - Participação dos municípios - acesso na plataforma e participação em fóruns

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).

130

Para verificar se houve participações ativas nos fóruns de discussão teórica (Gráfico

9), consideramos, além das intervenções dos participantes, aquelas feitas também pelos

tutores. Constatamos que os representantes dos municípios da amostra corresponderam a

cerca de 90% dos participantes dos fóruns, contribuindo com 60% das intervenções

realizadas.

Os tutores dos fóruns, apesar de serem menos de 10% dos participantes, realizaram os

quase 40% restantes das intervenções. É importante mencionar que alguns tutores

participaram de vários grupos, assim a soma de tutores do Projeto é menor que a soma dos

tutores por grupo.

Gráfico 9 - Representantes e Tutores - participação e intervenção em fóruns

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).

Ao analisarmos, no Projeto, a participação e intervenção na formação, é possível

observar que, à medida que a abordagem dos conteúdos avançou, houve uma queda

sistemática do nível de participação e intervenção no fórum de discussão, como mostra o

Gráfico 10.

Gráfico 10 - Participação e intervenção nos fóruns, por módulo

131

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).

Comportamento similar de declínio da participação e intervenção na formação é

verificado quando se analisam mais detidamente os módulos selecionados para a amostra,

conforme demonstra o Gráfico 11:

Gráfico 11 - Participação e intervenção nos fóruns, por módulo da amostra

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).

Nesta etapa da análise, alguns pontos de atenção surgiram no processo de construção

dessas informações, especialmente no que se refere à participação dos municípios no Projeto,

bem como à participação e intervenção dos tutores.

132

Para composição da amostra, adotamos o critério de selecionar dois grupos temáticos

por região. Como a quantidade de municípios por grupo foi similar, ocorreu uma alteração da

participação relativa de cada região na amostra em comparação ao conjunto do Projeto.

Apesar disso, observamos que a amostra demonstra um comportamento similar ao conjunto

dos municípios contemplados, com diferenças percentuais não significativas.

Embora os representantes municipais tivessem em maior quantidade, ocupando mais

de 90% da participação nos fóruns, os tutores também refletiram um percentual significativo

das intervenções, chegando a quase 40% do total, o que se justifica pela função

desempenhada por eles, como: abertura do fórum e apresentação do conteúdo que norteou a

discussão; sensibilização para a participação dos representantes nos fóruns; promoção de

reflexões e aprofundamentos sobre os temas e fornecimento de informações complementares

ao processo da formação.

Por fim, verificamos que houve uma trajetória decrescente tanto de participação

quanto de intervenção nos fóruns, à medida que se avançou nos módulos previstos no Projeto.

Trajetória similar observamos na tabulação da participação e da intervenção dos grupos da

amostra nos módulos selecionados. A involução no nível de participação reflete a evasão

detectada.

Sendo assim, ao compararmos os indicadores acima descritos, observamos que a

amostra se configura como uma representação adequada e equivalente ao Projeto MinC-

UFBA. Do ponto de vista da diversidade cultural, podemos afirmar que o Projeto contemplou

um conjunto de municípios com diferentes características e perfis, abrangendo, assim, uma

ampla diversidade de contextos, o que, a partir da participação dos seus representantes, criou

um espaço para apresentação de diferentes formas de entender a cultura e de enxergar o

mundo.

2.8.4 Participação e preenchimento do template

Aqui apresentaremos os números relativos à participação dos municípios no uso de

template, a distribuição regional dessas cidades, o nível de preenchimento e a evolução ao

longo das etapas. Dos 439 municípios que participaram da formação realizada na 2ª fase do

Projeto MinC-UFBA, verificamos que 178 municípios (40,5%) acessaram o template para

elaboração do PMC e 261 municípios (59,5%) não registraram qualquer participação nessa

fase, como exposto no Gráfico 12.

133

Gráfico 12 - Participação de municípios no template

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

No que se refere à distribuição regional, observamos distintos níveis de participação

por região brasileira. Enquanto o Centro-Oeste registrou o menor percentual, com apenas 15%

dos municípios participantes acessando o template, a região com maior nível de participação

foi a Sudeste, conforme podemos observar no Gráfico 13:

Gráfico 13 - Distribuição regional e participação de municípios

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c) e IBGE (2016).

Na evolução, ao longo das etapas, foi observada uma contínua queda no grau de

completude do preenchimento do template14

. Sem entrar na análise qualitativa do conteúdo

posto, registrou-se que, enquanto 70% de municípios preencheram todos os itens de

14 Para fins desta pesquisa, estabeleceu-se o seguinte critério: a) Completo: quando todos os itens da etapa

foram preenchidos; b) Parcial: quando, sem ser de forma completa, algum item da etapa foi preenchido; c) Não:

quando nenhum item da etapa foi preenchido.

134

Caracterização, as duas últimas etapas, Operacionalização do Futuro Desejado e

Monitoramento do PMC, registraram menos de 20% dos municípios com todos os itens

preenchidos, como representado no Gráfico 14.

Gráfico 14 - Completude no preenchimento do template

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

A metodologia aplicada no Projeto MinC-UFBA pressupunha o preenchimento das

informações num processo sequenciado e incremental, onde o preenchimento do material em

uma etapa era diretamente dependente do preenchimento – e, por óbvio, da qualidade – do

que foi conteúdo em cada etapa anterior. Desse modo, o preenchimento incompleto numa

etapa comprometia o desenvolvimento de todas as etapas subsequentes e, por consequência,

do próprio processo de elaboração da minuta do PMC.

Nesse sentido, foi verificada uma queda sistemática e relevante do nível de

completude no preenchimento do template (Gráfico 15). Enquanto quase 70% dos municípios

(121)15

preencheram completamente a etapa Caracterização do Município, pouco mais de

10% (21) chegaram à última etapa, Monitoramento, com todas as etapas anteriores

preenchidas por completo.

Gráfico 15 - Evolução de minutas de Planos no template

15 Para a análise realizada sobre o preenchimento do template, consideramos como universo amostral o total de

178 municípios, ou seja, aqueles que acessaram a ferramenta.

135

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

Na etapa Caracterização Municipal, preenchida completamente por 121 municípios

(68%), observou-se a queda contínua do nível de preenchimento entre os itens (Gráfico 16).

Enquanto a quase a totalidade (175 ou 98,3%) dos municípios preencheu o primeiro item,

Histórico do Município, cerca de 70% (129) preencheram o último item considerado

obrigatório, Aspectos Políticos e Institucionais. O item Outros Aspectos, devido ao seu

caráter opcional, foi preenchido por apenas 27,5% (49) dos municípios participantes.

Gráfico 16 - Preenchimento do template: caracterização

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

Na etapa Panorama Cultural também observamos uma queda no nível de

preenchimento, apesar de em um ritmo menor do que na etapa anterior (Gráfico 17).

136

Enquanto 75% (134) dos municípios que acessaram o template preencheram o item

Manifestações, o último item, Institucional e Gestão foi preenchido por somente 64% (114).

Gráfico 17 - Preenchimento do template: panorama

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

Na etapa Diagnóstico Cultural, a queda continuou a ocorrer, saindo de 60% dos

municípios (107) no preenchimento do primeiro item para 54% (96), no terceiro e último item

da etapa (Gráfico 18).

Gráfico 18 - Preenchimento do template: diagnóstico

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

137

Na etapa Projeção do Futuro Desejado, em que pese a continuação do processo de

queda observado nas etapas anteriores, registra-se uma estabilização, com percentuais

relativamente próximos, variando entre 58% e 55% de municípios (104, 101 e 98) que

preencheram os itens Diretrizes, Prioridades e Objetivos (Gráfico 19).

Gráfico 19 - Preenchimento do template: projeção

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

Já em Operacionalização do Futuro Desejado, tem-se que todos os itens dessa etapa

foram preenchidos por menos da metade dos municípios, agravando o ritmo de queda

observado ao longo do preenchimento do template (Gráfico 20). Registra-se o preenchimento

do primeiro item por 49% dos municípios (88), enquanto apenas 20% (36) preencheram o

último item dessa etapa.

Gráfico 20 - Preenchimento do template: operacionalização

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

138

A última etapa do template, Monitoramento do PMC, possuía apenas o item

Indicadores, que foi preenchido por menos de 20% (35) dos municípios (Gráfico 21),

deixando patente, quando da comparação entre todos os itens, o processo de queda contínua

da participação dos representantes municipais.

Gráfico 21 - Preenchimento do template: monitoramento

Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).

139

CAPÍTULO 3

A ANÁLISE DA DIVERSIDADE CULTURAL

NO PROJETO MINC/UFBA

A análise apresentada neste capítulo leva em consideração o conteúdo do Projeto

MinC-UFBA, sua metodologia e processo de execução, descritos no capítulo anterior. A ideia

central é analisar como a diversidade cultural foi tratada ao longo do Projeto, já que ela se

constitui como princípio do SNC e do PNC e também foi posta como preceito estabelecido

pelo MinC para o apoio técnico designado à EAUFBA.

Nesse Projeto, o material produzido teve como objetivo oferecer suporte técnico e

formativo, visando capacitar as equipes e os participantes locais em planejamento público,

considerando a participação social como requisito essencial para a construção de políticas

públicas de Cultura, o fortalecimento da democracia e a proteção e promoção da diversidade

cultural brasileira.

Tomada como tema central nos debates sobre desenvolvimento no âmbito

internacional, a cultura se constitui como uma base estruturante para o progresso da

humanidade. Pressupõe políticas coerentes com a sua dinâmica, requerendo uma definição do

conceito de política cultural que possa direcionar os projetos, atividades e ações do governo

em suas diferentes esferas de poder. Nessa perspectiva, o Plano de Cultura “traduz uma visão

contemporânea para o setor e é o resultado corporificado e materializado de um processo de

planejamento participativo em todo território nacional.” (UFBA, 2012c, p. 4)

Políticas públicas formuladas através de processos participativos realçam a

importância do olhar público sobre a diversidade de expressões culturais, podendo contribuir

efetivamente para o reconhecimento das diferenças. Abre também um caminho para o

desenvolvimento inclusivo, reforçando a autonomia do conjunto dos agentes culturais e seus

núcleos, além de possibilitar a criação dos meios necessários para a transformação pretendida,

por isso:

Sendo a cultura uma função de responsabilidade de todos os entes da

Federação, é fundamental que estes também empreendam processos de

planejamento específicos para que, à luz de uma visão sistêmica

compartilhada, assegure que essa transformação seja alcançada com

aderência às especificidades regionais e locais, com respeito à diversidade e

com superação das desigualdades que marcam e maculam historicamente o

desenvolvimento humano no Brasil. (UFBA, 2012c, p.4)

140

Apesar de as questões referentes ao conteúdo, metodologia e processo de realização do

Projeto terem sido apresentadas de forma entrelaçada, a separação didática que adotamos

nesta pesquisa visa permitir uma melhor compreensão de cada uma deles nos resultados do

Projeto.

Para a análise dos conteúdos, faremos uso de reflexões e das anotações realizadas a

partir de leituras e sistematizações contidas nos guias e apostilas, que expressam

enquadramentos conceituais, históricos e informações institucionais consideradas centrais

para o processo da formação. Na análise da metodologia, avaliaremos em que medida o

método desenvolvido esteve atento às diferenças de contexto, perspectivas e realidades de

seus participantes e respectivos territórios, permitindo o respeito a tais diferenças, como

também a emergência de diálogos interculturais que caracterizam a proteção e promoção da

diversidade cultural. Finalmente, analisaremos o processo, buscando delinear o caminho

percorrido, decisões e situações que interferiram no decorrer do Projeto, de forma a identificar

também de que maneira o respeito às diferenças e a promoção dos diálogos interculturais

puderam se fazer presentes.

3.1 Premissas e Princípios

As premissas ditaram as bases para o trabalho e trataram do processo participativo, do

aspecto político e técnico de um planejamento para o desenvolvimento municipal e, por fim,

da associação que deve existir entre o PMC e as outras esferas do governo. Já os princípios

deram orientações sobre a conduta e as práticas adotadas pelos responsáveis pela elaboração

dos Planos.

Premissas e princípios são complementares e suas interpretações nos conduzem a

enxergar a importância da diversidade cultural, por reforçar o caráter participativo que deve

nortear a elaboração de um PMC. Trata-se de um aspecto que levou em consideração a

compreensão da realidade territorial, deu atenção às interfaces da cultura com outros campos

de conhecimento e setores e, especialmente, reforçou a aproximação e debate entre os

diferentes agentes e atores culturais, políticos e sociais envolvidos.

Além disso, esses referenciais ofereceram orientações para um processo democrático,

no qual era preciso constituir um ambiente horizontal, onde a escuta às diferentes visões era

141

pressuposto básico para a construção de um espaço de políticas direcionadas à proteção e

promoção da diversidade das expressões culturais, observando os princípios do SNC. Fica

claro que o Plano de Cultura é fruto de tensões e contradições, compreendidas sob o olhar do

diverso, mas que também deve ser coerente com os aspectos mais relevantes para o

desenvolvimento municipal almejado, por isso um processo permanente de negociação e

pactuação de vários interesses.

Quando o Plano de Cultura é construído em um ambiente diverso, pode promover

desdobramentos que impactam a estruturação do campo cultural, mesmo no curso de sua

elaboração. Seguir as premissas e princípios orientadores do Plano permitiu e permite ao

conjunto dos atores e agentes atuarem com liberdade, autonomia e criatividade, em um

processo que é rico e dinâmico. Quando interpretados sob o ponto de vista de uma gestão

gerencialista da cultura, encurtam-se os caminhos e desencadeia-se um processo

centralizador, com o risco de não atender aos requisitos propostos pelo MinC e nem às

demandas locais, restringindo o raio de atuação das políticas públicas.

As premissas e princípios reforçaram a necessidade de expandir o olhar e a

compreensão sobre as políticas culturais na contemporaneidade, buscando entender as

relações interculturais, a conexão entre cultura e economia em diversos contextos – local,

territorial e regional –, levando em consideração a dinamicidade da cultura e atentando para a

relação federativa. Assim, a sustentabilidade das políticas públicas de cultura deveria se dar,

em princípio e prioritariamente, na relação federativa, quando os Planos de Cultura se tornam

peças complementares e interdependentes no planejamento público nacional.

Apesar de as premissas e princípios terem sido apresentados como orientações a serem

seguidas, o seu aprofundamento indicou relevância e complexidade e, quando não entendidos

plenamente, não passaram de linhas gerais que poderiam se perder no processo, a depender do

interesse do gestor municipal. Peguemos, por exemplo, o fato de que o Plano deveria ser

elaborado a partir de um olhar de reconhecimento das dinâmicas territoriais. Esse tema requer

uma visão ampla da política cultural local, em interface com outros aspectos da cultura no

território, levando a entender que seria preciso analisar as relações institucionais, geográficas

e políticas com outros municípios, verificar a importância da interculturalidade e promover

uma análise crítica sobre cada aspecto que se relacionasse com a premissa e o princípio

correspondentes.

O aprofundamento sobre cada premissa e princípio que orientaram o trabalho de

construção dos PMCs poderia contribuir para uma apropriação mais adequada das linhas

condutoras deste processo, através de suas potenciais inter-relações. Como elas foram e ainda

142

são estruturantes para o Plano de Cultura, caberia dar atenção singular ao seu tratamento,

tanto no aspecto presencial, quanto em um processo de formação à distância. Vemos, então,

que a participação social se torna ponto chave para um Plano construído democraticamente.

Contudo, percebemos que algumas expressões ou temas necessitariam de aprofundamento

para que a diversidade cultural fosse, de fato, contemplada, a exemplo dos temas

transversalidade, interculturalidade e alteridade.

Outros fatores complementam essa preocupação, como o reconhecimento legítimo das

representações sociais e culturais e a formatação de um amplo processo de escuta, não restrito

apenas aos espaços institucionalizados de representação, mas que abarcassem os espaços mais

amplos, a fim de promover sensibilização e mobilização coerentes com a proposta dos Planos.

Nesse sentido, as premissas e princípios, ao reforçarem o sentido da participação,

induziriam a uma valorização de outras formas de representação da sociedade civil, além do

Conselho de Política Cultural, que deve ser coautor do PMC e responsável pela sua validação

parcial e final. Esse reconhecimento reforçaria o caráter democrático do Plano de Cultura e

realçaria a figura do Conselho como elo de articulação, aproximação e diálogo entre o poder

público e os diversos segmentos culturais.

Nos pareceres técnicos emitidos pela equipe da EAUFBA, foi possível verificar como

os municípios da 1ª edição do Projeto deram tratamento a essas linhas balizadoras, mas na

segunda edição essa verificação não foi possível, devido às características próprias dessa fase,

cujo foco principal foi o processo formativo. Para explicarmos melhor essa questão, o Quadro

16 apresenta alguns pareceres realizados pela equipe da EAUFBA:

Quadro 16 - Premissas e Princípios

Município Premissa Princípio

Campo Grande

(MS)

O processo é participativo:

O Conselho Municipal de Políticas Culturais

foi atuante, auxiliou na elaboração das metas

e ações e validou o documento final. As

informações foram disponibilizadas para

consulta pública. Os resultados das

conferências foram inteiramente considerados.

Protagonismo municipal: A prefeitura, através da Fundação de

Cultura, efetivamente atuou como

promotora e coordenadora do

processo de planejamento.

Olinda (PE)

O Processo é político e técnico

O Plano foi produzido com observância à

dimensão política, valorizando as

contribuições e expectativas dos segmentos

culturais que compõem o conjunto da

comunidade artístico-cultural. Os aspectos

Diálogo interinstitucional e social

O intenso diálogo com a sociedade e

com o Conselho qualificou o processo

de elaboração do Plano, no entanto as

articulações interinstitucionais

mostraram-se tímidas ou foram

143

técnicos, notadamente no que concerne à

caracterização e ao diagnóstico cultural

setorial, tiveram pouca evidência, em função

da falta de informações e, em alguns

momentos, pela ausência de interpretação

analítica da realidade encontrada.

inexistentes.

São Leopoldo

(RS)

O Plano é integrado e compõe o

planejamento municipal

A preocupação com as ações transversais da

Cultura estiveram presentes com maior

intensidade no momento da Oficina para

Elaboração do Plano, quando alguns

representantes de outras Secretarias

estiveram presentes e fizeram valer suas

contribuições, especialmente no que tange às

ações transversais com a educação. Por outro

lado, nota-se a ausência de ações transversais

da cultura com o turismo, meio ambiente e

outras áreas da administração pública

municipal.

Transparência e objetividade: A

elaboração pautou-se na transparência

do processo e o produto final é dotado

de clareza e objetividade.

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2013b).

Além do quadro acima, escolhemos fazer uma breve interpretação da presença das

premissas e princípios a partir de tópicos expressos em Planos de Cultura municipais

finalizados e aprovados no legislativo.

O Plano de Cultura de São Caetano do Sul apresentou o desafio de “ampliar a

participação social na gestão pública” (SÃO CAETANO DO SUL, 2013, p. 3), a partir do

qual observamos que esse tema ocupou um espaço especial dentro do processo de construção

desse documento. Já entre as diretrizes do Plano de Cultura de Fortaleza, constam os itens

“VII – descentralização territorial da gestão e das ações culturais do Município” e “VIII –

fortalecimento da intersetorialidade e da transversalidade da cultura” (FORTALEZA, 2013, p.

4), que indicam a preocupação com uma maior descentralização da gestão municipal e com a

interface que a cultura possui com outras áreas.

Esses aspectos requerem, por sua vez, uma reflexão mais ampla sobre a cultura, em

que o fortalecimento da diversidade não se dá considerando-a apenas como beneficiária do

processo, mas como elemento-chave para a integração de diversos programas, projetos e

ações, bem como na interação e integração político-administrativa, observando critérios de

intersetorialidade, transversalidade e territorialidade. Isto significa promover a aproximação

da gestão pública com as práticas culturais e reconhecer como indispensável a relação

transversal entre os órgãos públicos e a iniciativa privada para garantir o desenvolvimento

cultural.

144

Esses tópicos, por si só, não explicitam ou legitimam o comprometimento municipal

com a efetividade do Plano, contudo sinalizam que houve uma discussão sobre o assunto, a

partir do qual esses temas se tornaram itens ou tópicos a serem considerados dentro do Plano

de Cultura. Notamos, assim, a aderência às premissas “O processo de elaboração do Plano é

participativo” e “O Plano é integrado e compõe o planejamento municipal” e aos princípios

“Diálogo interinstitucional e social” e “Visão sistêmica e territorial” (UFBA, 2012c, p. 5-7).

Observamos, entretanto, que a diversidade cultural não aparece como tema central,

mas como algo que se revela a partir do reconhecimento da diversidade de atores e da efetiva

participação deles na elaboração desse documento. Aqui há um problema central: esses temas,

inclusive o da participação social e da diversidade cultural, ficam sujeitos a interpretações

diversas, em especial dos atores políticos, aparecendo, por vezes, como meras discursividades

a partir de uma visão romântica da diversidade cultural. Isto não contribui para o

fortalecimento da democracia e inclusão dos grupos e artistas locais, nem para a proteção e

promoção das expressões culturais, além de não revelar também o compromisso com a

garantia dos direitos humanos.

Na primeira edição do Projeto MinC-UFBA, a condução do processo esteve a cargo do

órgão gestor de cultura local, sendo que as orientações metodológicas foram reforçadas pela

equipe de consultores da EAUFBA durante as visitas técnicas. Foram momentos valiosos de

discussão profunda, em que foi possível ampliar o debate sobre as premissas e princípios.

É fundamental citar, ainda, como fatores relevantes as habilidades e competências de

algumas duplas de consultores em repassar as informações, como também o nível de

mobilização da sociedade para participar do Projeto. Como resultado, em alguns municípios

novas ideias foram geradas, como o desenvolvimento de instrumentos e canais de mídia para

fortalecer a ampliação do debate, apesar de algumas dessas ações terem sido descontinuadas,

resultando em restrição à participação e negligência ao princípio da transparência.

Na segunda edição, essa orientação foi realizada diretamente pelos tutores na

plataforma EaD e observamos, mais uma vez, que os aspectos concernentes a esses temas

foram submetidos à compreensão dos interlocutores locais. Não houve, porém, qualquer

forma de verificação sobre a aplicação efetiva desse conjunto de orientações, a não ser através

dos depoimentos realizados nos fóruns de discussão teórica. Vale destacar que, devido ao

formato dessa edição, não foi possível verificar in loco a aplicação da metodologia, pois o

tempo destinado à elaboração dos Planos pelos municípios que ainda não tinham esse

documento não foi compatível com o tempo atribuído à formação. Ressaltamos, porém, que

durante o processo formativo, foram identificados municípios que já possuíam Planos e outros

145

que se encontravam em processo de construção. Apesar de, nessa edição, o Projeto não ter

tido o escopo de realizar o acompanhamento local, coube, na medida do possível, oferecer

orientações, caso o desenvolvimento do PMC estivesse em curso.

O modo como o tema da diversidade cultural foi tratado em determinados municípios

apareceu diluído nos debates dos fóruns, onde o assunto mais explorado foi o da participação

social, envolvendo reflexões sobre o Conselho de Política Cultural, o Legislativo e a

sociedade civil. Em uma frase retirada do módulo Visão Geral, utilizada por um dos tutores, é

possível verificar a premissa O processo de elaboração do Plano é participativo alinhada a

dois princípios, Diálogo Interinstitucional e social e Legitimidade: “Quanto melhor for a

participação social no planejamento, maior será a legitimidade do plano, ou seja, mais

amplamente reconhecido e valorizado será o documento final, o que contribui para o êxito de

sua execução” (BRITTO, 2014f, p. 12; grifo nosso).

Dessa forma, entendemos que a compreensão sobre as premissas e princípios pelos

participantes não determinou o processo de construção dos Planos, contudo ofereceu

contribuições significativas para a adoção de novas condutas no planejamento público da

cultura, além de reforçar aspectos que conduzem a um processo inclusivo, dialógico e

transversal, que efetivamente possam promover interações horizontais, visando sinergia entre

os atores e agentes envolvidos. Dessa forma, são linhas gerais que induzem uma nova prática

comportamental, que pode impactar as atividades e condutas realizadas, contribuindo para

uma mudança de paradigma na elaboração das políticas culturais.

Cultura é um campo com características muito particulares, por vezes não

compreendidas pela administração pública como importante eixo de desenvolvimento, o que

tende a acarretar um distanciamento entre o que se realiza e o que poderia ser construído,

considerando as abordagens conceituais contemporâneas, especialmente sobre a relação entre

cultura, diversidade cultural e desenvolvimento. É algo que permeia a nossa reflexão,

fazendo-nos crer que a abordagem sobre a diversidade cultural deve ser direta e não de forma

tangencial, considerando uma metodologia que se proponha a tratar as subjetividades do

campo da cultura dentro de uma lógica racionalizada de planejamento público.

3.2 Análise da 1 ª Edição

146

A 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA foi estruturada a partir de três Guias de

Orientação, que subsidiaram a assistência técnica e o apoio metodológico ao processo de

elaboração de PMCs.

O Guia 1 (UFBA, 2012c) aborda a metodologia de elaboração de planos,

contextualizada a partir da iniciativa do Governo Federal em prol da institucionalização das

políticas públicas para a área da Cultura. Nele, são apresentados as premissas e os princípios

norteadores, com ênfase para o processo participativo, e o roteiro metodológico para

concepção dos PMCs.

O Guia 2 (UFBA, 2012a) foi construído com a apresentação de um hipotético trabalho

de elaboração de plano municipal de cultura. Com os exemplos trazidos, teve o propósito de

sedimentar conceitos, dirimir dúvidas e ilustrar a interconexão entre os diversos componentes

do documento a construir.

Por fim, o Guia 3 (UFBA, 2012b) trata da questão do modelo de gestão do PMC e da

estruturação do documento na necessária formatação para que lhe seja dado um caráter legal,

compondo o ordenamento jurídico do Município. Houve sempre a preocupação de destacar a

importância de contextualizar esse processo com a realidade do Ente.

3.2.1 Conteúdo do Guia 1

De modo geral, os Guias de Orientação, nos textos relacionados às etapas de

elaboração dos Planos, não abordaram explicitamente o tema da diversidade, que não foi

tratado com a mesma ênfase dada ao tema da participação social, condição preestabelecida

pelo MinC para a construção de uma metodologia de desenvolvimento de políticas públicas

para a área. Essa característica deixou subentendido que o seu reconhecimento é consequência

de um processo democrático, constituído com ampla participação social.

Em sintonia com esse entendimento, o texto Metodologia Participativa, contido no

Guia 1 (UFBA, 2012c), destacou que “o diferencial dos planos municipais de cultura está em

seu processo participativo de elaboração e gestão” (idem, ibidem, p.16), reforçando o

propósito da metodologia em adotar princípios democráticos, envolvendo a sociedade na

elaboração dos Planos e entendendo o sujeito como participante ativo.

A participação social é uma contribuição imprescindível para a democracia e para o

acesso às informações. Também é um mecanismo de controle, na medida em que se instalam

meios e mecanismos de acompanhamento e monitoramento, tornando a gestão mais

147

transparente, o que pode torná-la mais atenta à heterogeneidade das questões culturais, de

gestão e participação.

O Guia 1 ressaltou a importância de se criar espaços de participação que envolvam

agentes sociais e culturais para a elaboração dos Planos, distinguindo o Conselho de Política

Cultural como espaço institucionalizado e privilegiado para decisões acerca de políticas

públicas de cultura e, também, sobre o PMC, visto que o conteúdo orienta para um modelo de

gestão compartilhado, no qual o Conselho é parte integrante.

Nessa construção, observamos que a participação social apareceu com distinção no

conteúdo produzido para o Projeto MinC-UFBA, sendo considerada condição elementar para

se contemplar a diversidade cultural. Esta, por sua vez, foi abordada de modo indireto ou

implícito, como no caso dos exemplos apresentados, e foi entendida como beneficiária desse

processo, a partir da participação dos diferentes atores e agentes como portadores de ideias e

valores distintos e sujeitos convocados para a estruturação do planejamento público de

cultura.

Para refletirmos, ficam os seguintes questionamentos: além da participação social, a

diversidade cultural não deveria ser realçada como aspecto essencial para a formulação da

política, em vez de entendida apenas como beneficiária dessa construção? Não são as

subjetividades desse campo que expressam toda a complexidade e desafio para essa peça de

planejamento?

A diversidade cultural, porém, não deve ser concebida apenas como uma

multiplicidade de expressões que apresentam diferentes formas de representação. A

participação social só refletirá a diversidade quando entendida como espaço de disputa, de

contradição, o que caracteriza a diversidade como um projeto político, no qual ela apresenta

diferentes modos de instituição ou “diferentes modos de gestão” (BARROS, 2011, p. 21). É

fundamental, como destaca a Unesco (2009), que as políticas incidam positivamente sobre o

aspecto das diferenças, a fim de que pessoas e grupos possam reconhecê-las como um

potencial gerador de transformações e de crescimento e não motivos para se “entrincheirarem

em identidades fechadas” (UNESCO, 2009, p. 4).

Nesse ponto, lidamos com um conjunto de aspectos, normatizações e identidades dos

sujeitos e dos grupos sociais, que ressaltam o caráter transversal, transdisciplinar e sua carga

simbólica, portadora de significados diversos e, por vezes, contraditórios. É com essa

complexidade que se dá o campo da cultura e, portanto, apesar de ser legítima a importância

da participação social, este conceito está sujeito a interpretações políticas de governos e

148

governantes, que nem sempre possuem uma compreensão clara e ampla da questão, além de,

por vezes, não adotarem princípios democráticos e horizontais.

Os textos do Guia 1 relativos aos aspectos técnicos de elaboração do Plano foram

claros e diretos e ofereceram uma visão geral do PMC, bem como as principais informações

para sua elaboração. Observamos, porém, que a sua compreensão pelos participantes não se

deu de forma plena. Levantamos a hipótese que isso pode ter ocorrido em função da falta de

domínio do referencial teórico, combinada com uma margem de subjetividade que existe no

processo de planejamento, algo compensado, em parte, durante as diversas reuniões e eventos

para alinhamento técnico.

O Guia 1 propôs o reconhecimento da realidade cultural e as expectativas de mudança

diante do que se quer transformar. A partir disso, entendemos que a diversidade foi

considerada, embora não mencionada explicitamente. Apesar desse Guia explicar os aspectos

que deveriam ser tratados no diagnóstico, ele não deixou claro que o diagnóstico seria o

primeiro passo para o reconhecimento da diversidade cultural local, já que é a partir dele que

informações e dados específicos sobre as dinâmicas culturais locais são tratados.

Esse processo de coleta ultrapassa a dimensão dos dados estatísticos, pois, apesar de

serem fundamentais para o processo, dados oficiais não são suficientes para relatar as formas

com que a cultura se manifesta na sua diversidade, requerendo também um tratamento que

contemple as subjetividades que abarcam o campo da cultura.

As categorias de análise foram provenientes dessa realidade e deveriam dar

significado ao diagnóstico, registrando o que precisaria ser potencializado, impulsionado ou

superado para, assim, mostrar a realidade cultural do município e destacar as ações públicas

necessárias ao desenvolvimento cultural, com base no reconhecimento da diversidade. O texto

desse Guia foi objetivo e deu preferência às explicações sobre o aspecto técnico para a

elaboração do diagnóstico.

Ainda no Guia 1, observamos que as explicações quanto ao diagnóstico não foram

suficientes, do ponto de vista operacional, para produzir um estudo claro, devido à falta de

explicações mais específicas sobre fragilidades e obstáculos, vocações e potencialidades,

como ocorreu em relação aos desafios e oportunidades. Cabe registrar, porém, que na versão

para o processo formativo na 2ª Edição do Projeto, esse conteúdo ganhou maior robustez, com

explicações e orientações bem mais detalhadas, o que será abordado mais adiante nesta

dissertação.

149

3.2.2 Conteúdo do Guia 2

O Guia 2 (UFBA, 2012a), elaborado para o II Seminário de Planos de Cultura, teve o

objetivo de aprimorar a capacitação dos consultores e analistas, oferecendo um trabalho de

reforço a partir da aplicação prática do conteúdo pelos participantes, sob orientação dos

consultores da UFBA. Esse documento restringiu-se à aplicação do método, ficando a cargo

dos orientadores, ou mesmo dos elaboradores, promover abordagens conceituais e teóricas

para tratar da relação entre o conteúdo e a diversidade cultural, tendo como base os conceitos

trabalhados no Guia 1.

Para avaliar a presença da diversidade cultural no Guia 2, reunimos alguns critérios

que consideramos elementares:

a) aspectos que demandaram ações pontuais, tratando de questões específicas ou

abrangentes, com foco mais geral e que, no levantamento das fragilidades e obstáculos,

evidenciaram as demandas de segmentos e setores culturais, os mais diversos possíveis;

b) pontos fundamentais que mereceram atenção cuidadosa da gestão pública, a partir

de uma compreensão das necessidades culturais no âmbito do município, a exemplo da

necessidade da descentralização de ações culturais; de reconhecimento e valorização das

expressões, com atenção às culturas tradicionais; de recursos públicos para projetos e ações

culturais para diferentes modos de produção e desenvolvimento, dentre outras;

c) identificação de aspectos potenciais, capazes de suscitar ações públicas e

potencializar o conjunto de segmentos e setores culturais, levando em consideração artistas,

grupos e a sociedade enquanto beneficiários dessas ações. São eles: mapeamentos,

levantamento e sistematização de dados e informações sobre o campo da cultura; existência

de uma comunidade cultural pulsante e diversificada, infraestrutura física, localização

geográfica do município etc.

Esses são alguns pontos identificados, elencados no Quadro 17, que, a nosso ver,

deveriam e devem ser considerados em um processo de construção de um Plano

comprometido com a diversidade cultural. Todos esses e outros aspectos, retirados do

diagnóstico da cultura municipal, quando bem sistematizados, podem apresentar níveis de

compreensão dos elaboradores do documento sobre a diversidade cultural local, o que não

quer dizer que serão implementados. A importância dessa reflexão se dá pela relevância do

diagnóstico como um momento singular do Plano, em que são colocadas em prática as

estratégias de mobilização e quando se instala a arena de negociações.

150

Neste momento, apareceram as divergências e convergências, promovidas por um

processo de enfrentamento aos desafios do campo cultural, quando a recomendação é

reconhecer a cultura local e suas dinâmicas próprias, distintas e necessárias à garantia das

identidades, respeitando assim os diferentes modos de entender a realidade local.

Provavelmente o maior desafio do Plano seja refletir tais contradições em um conjunto de

metas e ações que promovam relações de inclusão, de proteção e promoção das expressões

culturais, com o reconhecimento das diferenças como engrenagens de um sistema complexo

de representações.

O Guia 2 não trouxe, no seu conteúdo, nenhuma explicação descritiva sobre um

método que pudesse subsidiar a organização e sistematização das informações coletadas.

Apenas apresentou quadros ou tabelas que serviram de modelo para a formatação final dos

Planos, tendo sido a orientação de uso realizada presencialmente.

Verificamos, contudo, que os exemplos selecionados permitiram a realização de

agrupamento de categorias, tais como: fomento, produção, formação, trocas, participação,

proteção do patrimônio cultural e descentralizações das ações públicas, que podem nos

conduzir a reflexões sobre a presença da diversidade cultural nesse material. Vamos, então, à

observação e análise desses exemplos, listados no Quadro 17, a partir das categorias que

sugerimos anteriormente:

Quadro 17 - Exemplos adotados no Guia 2

Tema Descrição Identificação de acordo com

método de Planos

Acessibilidade

cultural

70% dos alunos da rede municipal de

ensino não frequentam teatro, museu,

biblioteca e cinema

Fragilidade e Obstáculo

Acesso a bens,

produtos e serviços

Democratizar o acesso aos bens, produtos,

serviços e financiamento da cultura Desafio

Acesso amplo à cultura e aos seus meios

de produção e de fomento Prioridade

Formação em arte

cultura

Presença marcante de novos talentos

despontando nos segmentos de artes

visuais e audiovisual

Fragilidade e Obstáculo

Formação cultural Prioridade

Tornar o município centro de referência

em formação cultural Desafio

Gestão cultural

Maioria absoluta de ações e eventos está

concentrada em dois bairros da cidade Fragilidade e Obstáculo

Assegurar a centralidade da cultura no

desenvolvimento municipal, com inclusão

social

Diretrizes

151

Financiamento

público para a

cultura

Há baixo investimento na cultura pelo

Poder Municipal – aplicação média de

0,4% do orçamento nos últimos cinco anos

Fragilidade e Obstáculo

Elevar os investimentos públicos na

cultura Desafios

Participação social

Comunidade artístico-cultural proativa e

interessada no desenvolvimento cultural Vocação e Potencialidade

Desenvolvimento da economia da cultura Prioridade

Proporcionar a participação social na vida

e na gestão cultural nas zonas urbanas e

rurais do município

Diretriz

Economia da

cultura

Oportunizar o uso econômico sustentável

do patrimônio artístico-cultural Desafio

Estimular o crescimento da economia da

cultura Diretriz

Mobilidade social Infraestrutura urbana e de transportes

favorece a circulação dos cidadãos Vocação e Potencialidade

Intercâmbios

culturais

Localização física do município e meios de

acesso aéreo e viário favorecem a

circulação cultural

Vocação e Potencialidade

Diversidade

cultural

Valorizar e promover a diversidade

cultural Diretriz

Valorizar a diversidade cultural Desafio

Diversidade e pluralidade cultural Prioridade

Públicos e

consumo cultural

Ampliar o público nos espaços culturais Desafio

Equipamentos

culturais e/ou de

uso cultural

Espaços físicos da maioria das escolas

municipais são dotados de quadras e/ou

auditórios, propiciando o uso para ações

culturais

Vocação e Potencialidade

Transversalidade e

intersetorialidade

As ações culturais da prefeitura não são

articuladas entre os órgãos municipais Fragilidade e Obstáculo

Promover a integração entre as esferas de

governo e o setor privado para o

desenvolvimento cultural

Diretriz

Estabelecer uma gestão cultural integrada

entre órgãos do município e outras esferas

de governo

Integrar o setor privado nas políticas

culturais

Desafio

Há disponibilidade de recursos nas esferas

estadual e federal para investimentos na

cultura

Vocação e Potencialidade

Reconhecimento

das expressões e

dos bens culturais

Ausência de dados e informações para

planejamento e gestão de políticas

culturais

Fragilidade e Obstáculo

Valorização das tradições culturais Prioridade

Produzir e organizar informações para

planejamento e gestão cultural Desafio

Ausência de dados e informações para

planejamento e gestão de políticas

culturais

Vocação e potencialidade

152

Presença marcante de conjuntos

arquitetônicos e bens móveis de grande

valor histórico e/ou artístico

Vocação e potencialidade

Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2012a).

Os exemplos mostrados apresentam questões que abordam a cultura a partir de

diversos aspectos que a compõem. Nesse sentido, arriscamos dizer que diversidade cultural

foi considerada, não por ter sido explicitada no conteúdo, mas porque os temas abordados

abarcam sentidos que interferem no seu desenvolvimento. Registram-se uma série de

demandas que focalizam ações diversificadas, compreendendo um conjunto de expectativas

oriundas de distintos contextos e realidades.

Podemos verificar também que os temas foram tratados a partir do levantamento de

fragilidades e obstáculos, vocações e potencialidades, desafios, diretrizes e prioridades,

oferecendo a oportunidade de avaliarmos a diversificação de problemas, interesses, soluções e

evidências relativas à cultura. Supõe-se, portanto, que, a partir desses temas, foram ou serão

elaborados distintos meios e instrumentos para dar conta das expectativas culturais que

surgem em um cenário diverso. A análise dessas proposições permite percepções que antes

não eram visíveis aos olhos da gestão e possibilita identificar convergências de interesses que

também não se constituíam nos debates sobre o desenvolvimento cultural.

No que se refere ao tema das diretrizes, vamos tecer alguns comentários que nos

levam a atribuir uma relação com a diversidade cultural. Para tanto, selecionamos três

diretrizes, a saber (UFBA, 2012a, p.6):

a) proporcionar a participação social na vida e na gestão cultural nas zonas urbanas e

rurais do município;

b) assegurar a centralidade da cultura no desenvolvimento municipal, com inclusão

social;

c) valorizar e promover a diversidade cultural.

A primeira trata da participação social e descentralização da gestão, destacando tanto

zonas urbanas quanto rurais; a segunda propõe que a cultura esteja no centro do

desenvolvimento e que este promova a inclusão social; e, a terceira trata especificamente

sobre o tema da diversidade cultural. Inicialmente, vale afirmar que a existência de um tópico

específico para falar sobre esse assunto não implica que a diversidade tenha sido entendida

como relevante na obra, mas sim como mais um aspecto a ser tratado, quando na verdade ela

é constituinte das dinâmicas culturais.

153

Dando prosseguimento à análise do Guia 2, um dos enunciados sobre “desafios”

versou sobre Valorizar a diversidade cultural, enquanto no item “diretrizes” o enunciado

apresentou-se de forma mais ampla: Valorizar e promover a diversidade cultural. O primeiro

diz respeito ao reconhecimento do valor que é dado à cultura e o segundo compreende uma

série de tomadas de decisão que incidem sobre a construção de mecanismos, instrumentos e

procedimentos públicos que possam fortalecer a cultura dentro do contexto do

desenvolvimento.

No nosso entendimento, os exemplos apresentaram uma relação com a diversidade

cultural, pois expuseram um conceito amplo de acesso à cultura e contemplaram as formas e

multiplicidades com que a diversidade se apresenta. Adicionalmente, apesar de sugerirem

uma prioridade para a diversidade cultural, os exemplos também puderam englobar a

valorização das tradições, o que certamente se configura como uma característica específica

da cultura no município em questão, supondo que tenha sido trabalhada no diagnóstico, dando

atenção à questão identitária como elemento importante na construção desse planejamento.

O Guia 2 não deixou claro como as prioridades poderiam ser identificadas, dando a

entender que poderiam ser formuladas a partir das diretrizes estabelecidas. Podemos afirmar

que o diagnóstico cultural apontou o caminho para essas escolhas, mas, para isso, foi preciso

ser claro e objetivo no apontamento das vocações e potencialidade, das fragilidades e

obstáculos e dos desafios a serem superados. O Quadro 18 serve para ilustrar os objetivos

gerais, específicos e metas:

Quadro 18 - Relação entre Objetivos Gerais, Objetivos Específicos e Metas

Objetivos Gerais, Objetivos Específicos e Metas

A – Objetivos Gerais

(qual o resultado esperado, ao

longo do horizonte temporal,

para mudança do status quo?)

B – Objetivos Específicos

(que resultados específicos

devem ser perseguidos?)

C – Metas

(o que atingir, quanto e quando?

Objetivo mensurável, exequível,

relevante, temporal)

1. Ampliar o acesso dos

públicos aos produtos e

serviços culturais.

1.1. Descentralizar as promoções

culturais do município.

1.2. Estimular circulação cultural

diversificada.

C1 – objetivos A1 e A3 – 100%

das regiões urbanas / bairros e

áreas rurais com, pelo menos, 04

(quatro) ações multiculturais por

ano, até 2022.

C2 – objetivos A1, A2 e A3 –

100% das escolas públicas

municipais usadas como espaços

culturais até 2022.

C3 – objetivos A1 e A3 - 100%

dos espaços municipais

adequados a ações multiculturais

e para públicos diversificados até

2. Formar públicos, gestores,

produtores, artistas e agentes

para a fruição cultural.

2.1. Estimular ações culturais

para crianças, jovens e adultos.

2.2. Fortalecer conteúdos de

cultura e arte nas escolas.

2.3. Promover a formação e o

aperfeiçoamento de gestores,

produtores, artistas e agentes

culturais.

3. Oportunizar a fruição da 3.1. Incentivar eventos

154

diversidade cultural. multiculturais.

3.2. Proporcionar a circulação de

ações multiculturais.

3.3. Dar visibilidade às culturas

populares e identitárias.

2022.

C4 – objetivos A1, A2 e A3 –

5.000 pessoas da área cultural

capacitadas até 2022.

Fonte: idem, ibidem, p. 7.

O objetivo 1 – Ampliar o acesso dos públicos aos produtos e serviços culturais destaca

que os beneficiários são os públicos culturais, expressão que, ao ser usada no plural, indica

uma compreensão e preocupação que convergem para o sentido da diversidade cultural. Já os

objetivos específicos desmembram a ideia de acesso aos públicos, considerando dois

aspectos:

a) descentralização de promoções culturais – a interpretação para esse termo é livre,

já que não é feita nenhuma conceituação para ele. Entendemos, para fins desta pesquisa, que

se trata de realizar, de forma descentralizada no município, diversos tipos de ações culturais,

envolvendo os mais variados modos de produção cultural e artística;

b) circulação diversificada – da mesma forma que no tópico anterior, não é

apresentado o conceito e sentido dessa expressão, o que também nos leva a fazer uma

interpretação própria, assim como acontece no processo de elaboração dos Planos. O termo

propõe uma compreensão ampla, dando a entender a importância de promover uma circulação

de produtos e bens culturais que podem contemplar manifestações, linguagens, produtos e

todas as formas de expressão cultural existentes no local.

É bom destacar que as expressões “públicos”, no plural, “promoção cultural” e

“circulação diversificada” necessitariam ser mais bem explicadas, pois, apesar de estarem

coerentes com a proposta metodológica, podem estar suscetíveis a diferentes interpretações,

até mesmo distorcidas, seja pelos elaboradores do Plano, pelos gestores e até mesmo pelos

legisladores municipais. O glossário existente no Guia 2 foi bastante restrito, limitado a

termos associados a elos da cadeia da cultura, sem tratar de diversos outros utilizados no

conteúdo, o que teria sido importante para uma melhor compreensão pelos elaboradores do

PMC.

O objetivo 2 – Formar públicos, gestores, produtores, artistas e agentes para a fruição

cultural tratou da formação para um leque extenso e bastante inclusivo de beneficiários, se

considerarmos que apresenta uma diversidade de modalidades para a formação em cultura. Os

seus objetivos específicos apresentam duas proposições para a formação de crianças e jovens,

sendo que a primeira está diretamente vinculada à experimentação artística e cultural, através

do estímulo à participação desse público em atividades culturais, enquanto a segunda diz

155

respeito à inclusão da cultura no ambiente escolar, através da inserção de conteúdos culturais

no material pedagógico. Os demais públicos entram no rol da formação acadêmica e

profissional.

Essa proposição de objetivos nos dá uma dimensão da atenção que se deve ter com a

inclusão cultural, já que traz como ponto de destaque a formação a partir da experimentação

artística e cultural de crianças e jovens. Essa possibilidade pode proporcionar, dentre outros

fatores, a valorização, assimilação e apropriação pela cultura a partir das heranças culturais,

enfatizando a diversidade, além de estimular o interesse pela atuação artística, construindo

uma consciência cidadã. Vemos claramente uma proposta em longo prazo.

Além da inclusão, esses objetivos também valorizam a questão profissional, ao

conjugar aquisição de conhecimentos culturais com qualificação profissional, o que nos leva a

crer que essas ações, caso implementadas pelo Plano de Cultura, podem estimular, em médio

e longo prazos, um maior desenvolvimento intelectual e cultural da comunidade envolvida,

podendo vir a promover maior valorização da diversidade cultural local.

No objetivo 3 – Oportunizar a fruição da diversidade cultural, a associação dos termos

fruição e diversidade cultural dá a entender que é importante promover o contato do público

com as diversas expressões culturais existentes localmente. Para termos a certeza de que os

participantes do Projeto compreenderam claramente o conceito de diversidade, essa definição

deveria ter sido incluída no glossário, pois essa ausência conceitual pode ter reduzido a

abrangência das discussões sobre o assunto. Já os objetivos específicos focam na promoção,

incentivo e circulação de ações multiculturais. Entendemos por ações e eventos multiculturais

aqueles que privilegiam diferentes atividades e grupos culturais e artísticos. De qualquer

forma, essas expressões também foram utilizadas sem a devida explicação sobre o seu

conceito e significado.

Vale observar que o terceiro exemplo de objetivo específico está diretamente

relacionado às culturas populares e identitárias e tem relação com o exemplo da prioridade

Valorização das tradições culturais. Observamos que a especificidade cultural aparece

novamente como algo que deve ser tomado como fundamental na execução do PMC, ou seja,

há uma questão pela qual, dentro da diversidade cultural existente, as culturas populares e

identitárias ocupam um lugar de destaque no município, assim como na concepção e no

tratamento dado pelas políticas culturais nacionais (tradições culturais). O exemplo das metas

correspondentes aos objetivos propostos tentou demonstrar que não é necessário que a relação

seja de um para um. O Guia 2 buscou esclarecer que elas, a fim de concretizar o que se deseja

alcançar, podem favorecer um ou mais objetivos propostos.

156

A meta C1, "100% das regiões urbanas/bairros e áreas rurais com, pelo menos, 04

(quatro) ações multiculturais por ano, até 2022", contempla o acesso e fruição cultural,

enfatizando que devem acontecer em todos os bairros/zonas, sejam urbanos ou rurais.

Podemos dizer que a diversidade cultural somente é contemplada quando os gestores

entendem o conceito de “multiculturais” como diferentes formas de expressão realizadas por

distintos grupos ou artistas.

Quando o exemplo aborda as regiões urbanas e rurais, vale lembrar do princípio da

visão sistêmica e territorial. Assim, será possível consolidar uma compreensão acerca da

importância, pela gestão municipal, da descentralização de ações culturais, da inclusão

cultural e do fomento aos diversos grupos e artistas envolvidos e localizados em diferentes

lugares.

A meta C2 – 100% das escolas públicas municipais usadas como espaços culturais até

2022 compreende o acesso e a fruição cultural como resultados de condições para que a

cultura aconteça, deduzindo-se assim a importância de adequação dos espaços educacionais

do município. Observamos também que essa meta propõe uma questão estratégica para o

alcance de públicos infantojuvenis, além de fortalecer a ideia de que cultura e educação são

indissociáveis em um processo de formação cidadã. É importante mencionar que de acordo

com o objetivo 3 (que enfatiza as culturas populares e identitárias), quando da execução dessa

meta, supõe-se que deverá haver uma ação específica envolvendo atividades e manifestações

das culturas tradicionais e populares dentro do cronograma de ações multiculturais.

Já a meta C3 – 5.000 pessoas da área cultural capacitadas até 2022 contempla o

quesito formação cultural e estabelece o quantitativo de pessoas capacitadas até o prazo de

vigência do Plano. Notamos que essa meta atende aos três objetivos, sendo que o objetivo 2

esclarece quem são esses públicos e, portanto, as ações propostas para sua concretização

devem privilegiar diferentes públicos em distintos níveis de atuação.

O Quadro 19 traz a relação entre metas e ações, cuja análise vem em seguida.

Quadro 19 - Relação entre metas e ações

Metas e Ações

C1 – 100% das regiões urbanas /

bairros e áreas rurais com, pelo

menos, 04 (quatro) ações

multiculturais por ano, até 2022.

Promover, direta ou indiretamente, ações multiculturais

em todo o Município.

Incentivar, mediante editais, a circulação de eventos

culturais em todo o Município.

Adaptar linhas de transporte coletivo para circulação em

áreas e datas de eventos culturais.

Promover circuitos e eventos de culturas populares e

identitárias.

157

C2 – 100% das escolas públicas

municipais usadas como espaços

culturais até 2022.

Executar adaptações físicas de escolas para funcionarem

como espaços culturais.

Ampliar e capacitar o quadro de professores na área da

cultura.

Realizar eventos e campanhas de sensibilização e

mobilização de crianças e jovens para a área cultural.

Realizar intercâmbio interescolar entre alunos e

professores.

C3 – 100% dos espaços municipais

adequados a ações multiculturais e para

públicos diversificados até 2022.

Criar, ampliar e adaptar equipamentos culturais e espaços

públicos para ações de cultura.

Instituir medidas voltadas para a garantia de acessibilidade

em espaços culturais privados.

C4 – 5.000 pessoas da área cultural

capacitadas até 2022.

Criar uma escola de artes.

Implantar programas de intercâmbio e residência artística e

técnica.

Criar cursos técnicos na área cultural.

Fonte: idem, ibidem, p 7-8.

As ações propostas para a meta C1 – 100% das regiões urbanas / bairros e áreas rurais

com, pelo menos, 04 (quatro) ações multiculturais por ano, até 2022 objetivam desenvolver

atividades ou projetos que a concretizem. No exemplo relacionado à ação 1 – Promover,

direta ou indiretamente, ações multiculturais em todo o município, é possível interpretar que

as ações multiculturais podem ser realizadas diretamente pelo poder público, como também

através de estímulos a grupos, organizações, artistas e instituições culturais, ou mesmo a partir

da interação entre o poder público e possíveis parceiros.

A ação 2 – Incentivar, mediante editais, a circulação de eventos culturais em todo o

município e a ação 4 – Promover circuitos e eventos de culturas populares e identitárias visam

à democratização da cultura, através do acesso público a atividades culturais. Também

podemos considerar que, para além do público, o incentivo à circulação de eventos atinge e

inclui grupos, expressões e manifestações culturais que eventualmente estejam à margem das

políticas públicas, como os provenientes de culturas populares e identitárias.

Vemos, portanto, que o cumprimento da meta se dará a partir da inclusão de diversos

agentes culturais e sociais nas dinâmicas culturais, envolvendo fruição, fomento, circulação.

Além disso, vale destacar a importância de estabelecer a mobilidade dos indivíduos como

fator determinante para o cumprimento da meta, como demonstrado na última ação proposta,

Adaptar linhas de transporte coletivo para circulação em áreas e datas de eventos culturais.

Aqui certamente ocorrerá uma ação transversal ou setorial.

Em relação à meta C2 – 100% das escolas públicas municipais usadas como espaços

culturais até 2022, estabelecem-se ações para adaptação estrutural dos ambientes escolares,

reconhecendo-os como espaços de cultura e arte, profissionalização de educadores, criação de

158

meios de sensibilização e mobilização de crianças e jovens em relação à cultura e criação de

possibilidades de realização de intercâmbios entre escolas, envolvendo alunos e professores.

Esse conjunto de ações procura estabelecer formas de sensibilizar públicos diferentes,

dentro do espaço formal de educação para o exercício cultural pedagógico, levando-nos a crer

que, neste ambiente, é possível iniciar a alfabetização cultural, a construção de uma cidadania

cultural e, por fim, o despertar de novos talentos para as artes e a cultura. Não podemos deixar

passar a ideia de que o ambiente escolar pode ser um forte componente para o

desenvolvimento do espírito de preservação e valorização cultural.

As ações relacionadas à meta C3 – 100% dos espaços municipais adequados a ações

multiculturais e para públicos diversificados até 2022 dispõem sobre a reforma e qualificação

de equipamentos para a cultura, ressaltando a importância de se promover acessibilidade, o

que demanda a inclusão de pessoas com deficiência. Sendo assim, o exemplo apresenta uma

preocupação com a diversidade de público e suas condições individuais.

Para o cumprimento da meta C4 – 5.000 pessoas da área cultural capacitadas até 2022,

as ações decorrem da criação de escolas de arte, promoção de intercâmbios e residências

artísticas e capacitação de profissionais da cultura. Observamos, portanto, uma diversificação

de atividades, com focos distintos, para se capacitar pessoas para a cultura, como espaços para

realização de cursos e eventos de apoio à criação, difusão e circulação de grupos,

programações e intercâmbio cultural.

Para esse conjunto de metas e ações, verificamos uma preocupação do formulador da

metodologia em demonstrar como é possível atingir os mais diversos aspectos para o

desenvolvimento cultural, tomando como base os distintos públicos e suas necessidades, a

estrutura adequada para a difusão cultural e a importância singular na formação diferenciada

para uma ação de proximidade com a cultura e sua diversidade, além de possibilitar a

formação específica para uma atuação técnica e pedagógica junto às dinâmicas culturais

locais.

Dessa forma, consideramos que a diversidade cultural foi tratada adequadamente nesse

tópico, a partir de proposições inclusivas de diferentes públicos (culturais e sociais), como

também foi dado tratamento aos aspectos específicos (acessibilidade e inclusão de grupos

populares e identitários). Também podemos crer que houve atenção ao tema pelo fato de que

as proposições são diversas, levando em conta os vários aspectos e características necessários

à promoção do desenvolvimento, considerando o sujeito social como o principal beneficiário.

O Quadro 20, por sua vez, traz a relação entre metas, indicadores, resultados e

impactos.

159

Quadro 20 - Relação entre Metas, Indicadores, Resultados e Impactos

Metas Indicadores Resultados e Impactos

C1 – 100% das regiões

urbanas / bairros e áreas

rurais com, pelo menos,

04 (quatro) ações

multiculturais por ano, até

2022.

Quantidade de regiões

urbanas/bairros e áreas rurais

atendidas com pelo menos quatro

ações culturais em relação ao total

de regiões /áreas do município em

2022.

Fontes:

- Regiões e áreas oficiais:

Secretaria Municipal de

Planejamento.

- Ações multiculturais: Relatório

de ações por região/área da

Secretaria de Cultura.

Conceito de ações multiculturais: ação com, pelo menos, três

segmentos artístico-culturais

envolvidos sendo pelo menos uma

relacionada com as culturas

populares e identitárias. Situação atual: 10 regiões/áreas

existentes com dois bairros

atendidos, totalizando 20%

(Diagnóstico Cultural). Periodicidade: medição anual,

com alcance total da meta em

2022.

Todas as regiões urbanas / bairros

e áreas rurais contempladas com

o mínimo de quatro ações

multiculturais.

Fruição cultural dinamizada,

descentralizada e democratizada.

Elevação das oportunidades de

acesso dos públicos a ações

culturais.

Economia da cultura estimulada.

Maior reconhecimento e

visibilidade das culturas

populares e identitárias.

C2 – 100% das escolas

públicas municipais

usadas como espaços

culturais até 2022.

Quantidade de escolas usadas

como espaços culturais em relação

ao total da rede municipal de

educação em 2022.

Fontes:

- Número de escolas: Secretaria de

Educação.

- Escolas utilizadas como espaço

cultural: relatórios trimestrais

conjuntos das Secretarias de

Educação e de Cultural.

Conceitos:

Escola como espaço cultural: escola dotada de ambiente físico

adequado e com ações culturais

frequentes. Ambiente adequado: palco ou

outro espaço cênico fechado ou

quadra coberta multiuso. Situação atual: 10% do total de

escolas têm ambiente físico e 5%

promovem ações culturais com

frequência. Periodicidade: semestral, com

Todas as escolas contempladas

com ações culturais continuadas

em seus espaços físicos.

Estímulo ao usufruto cultural por

parte de crianças, jovens e

adultos.

Fruição cultural dinamizada,

descentralizada e democratizada.

Elevação das oportunidades de

acesso dos públicos a ações

culturais.

Formação de públicos para

fruição de ações culturais extra

estabelecimentos de ensino.

160

atingimento total da meta em 2022. C3 – 100% dos espaços

municipais adequados a

ações multiculturais e para

públicos diversificados até

2020.

Quantidade de espaços culturais

adequados em relação ao total de

espaços geridos pela Prefeitura.

Fonte: Secretaria de Cultura Conceitos:

Ações multiculturais: ação com,

pelo menos, três segmentos

artístico-culturais envolvidos sendo

pelo menos uma relacionada com

as culturas populares e identitárias. Espaços adequados:

- dotado de meios de acessibilidade

a deficientes, idosos e pessoas com

dificuldade de locomoção;

- com estrutura física

multifuncional permitindo o uso

por pelo menos duas linguagens.

Situação atual: 20% dos espaços

tem acessibilidade total e 40%

dispõe de estrutura multifuncional. Periodicidade: anual, com

atingimento total da meta em 2022.

Todos os espaços culturais

geridos pela Prefeitura com

acessibilidade plena e dotados de

condições multifuncionais.

Fruição cultural dinamizada.

Elevação de público estimulada.

Maior reconhecimento e

visibilidade das culturas

populares e identitárias.

C4 – 5.000 pessoas da

área cultural capacitadas

até 2022.

Quantidade de pessoas capacitadas

em pelo menos um evento de

formação cultural até 2022.

Fonte: Número de certificados

expedidos pelas unidades

operadoras do programa de

formação cultural até 2022. Conceitos:

- pessoa capacitada: pessoa

submetida a um processo de

capacitação com carga horária

mínima de 40 horas;

- unidades operadoras: qualquer

órgão público ou privado

responsável pela execução de curso

de capacitação cultural em parceria

com a Prefeitura.

Situação atual: 150 pessoas

capacitadas por ano na área

cultural. Periodicidade: semestral, com

atingimento da meta em 2022.

Gestores, produtores, artistas,

técnicos, agentes culturais melhor

qualificados.

Município reconhecido pela

excelência na formação cultural.

Produtos e serviços culturais com

melhor qualidade.

Fonte: idem, ibidem, p. 9-10.

Relembramos que é a partir da verificação dos indicadores, associados aos resultados e

impactos, que será possível medir a efetividade e eficácia do PMC, pois essa análise conjunta

permite apurar em que medida foram realizadas as metas e promovidas as transformações

necessárias à realidade local. Os indicadores, porém, não são suficientes para mediar a relação

161

com a diversidade, pois apenas registram de que forma são mensurados o cumprimento das

metas e a sua evolução ao longo do tempo.

Podemos afirmar que os resultados pretendidos através da concretização das metas

envolvem uma pluralidade de benefícios culturais, que podem convergir com o propósito de

valorizar e fortalecer a diversidade cultural. Vale destacar que os resultados e impactos

esperados com o cumprimento das metas descritas nos exemplos do Guia 2 buscam atingir

diversos aspectos da cultura, como mostra o Quadro 21:

Quadro 21 - Aspectos que contribuem para a diversidade cultural

Aspectos observados que podem

contribuir com a DC Resultados e impactos desejados

Gestão cultural Descentralização de ações culturais por todo o município

Fruição Cultural Oportunizar a diferentes públicos essa possibilidade, considerando

aspectos formativos e de apreciação

Acesso Oportunizar o contato dos diferentes públicos a atividades culturais

e artística, envolvendo ações formativas e de apreciação e contato

com a arte e a cultura

Acessibilidade Tratada do ponto de vista do aprimoramento dos equipamentos

públicos, destinados a eventos e ações culturais, adaptados para o

atendimento a públicos com deficiência, promovendo assim a

inclusão cultural

Inclusão cultura Atenção especial para o público infanto juvenil, como também

para segmentos culturais antes deixados à margem das políticas

públicas de cultura

Formação Atendimento a diferentes públicos, envolvendo formação técnica e

profissional, além de formação cognitiva para a lida com a cultura

Economia da Cultura Apoio a comunidade cultural e aprimoramento dos produtos e

serviços culturais Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2012a).

Passemos, agora, ao conteúdo das estratégias (Quadro 22), que o Guia 2 define como:

[...] posicionamentos políticos e/ou técnicos, convergentes e articulados, de

caráter genérico, para otimizar os recursos existentes, viabilizar objetivos e

metas, potencializar oportunidades e tornar o Plano factível na perspectiva

da visão de futuro projetada para a cultura. (UFBA, 2012a, p. 11)

Quadro 22 - Estratégias

1. Firmar e fortalecer parcerias intra e interinstitucionais;

2. Adotar uma gestão sistêmica da cultura como forma de articulação de esforços entre poderes

públicos, setor privado e sociedade;

3. Diversificar fontes e mecanismos de financiamento à cultura;

4. Apoiar iniciativas parlamentares e da sociedade em torno de temas culturais;

5. Potencializar o uso dos espaços públicos da cidade para realizar ações culturais;

162

6. Consolidar setores nos quais o município já apresenta desenvolvimento autossustentado em matéria

de economia criativa;

7. Incentivar novos talentos em todos os segmentos da cultura, em especial na faixa etária de 10 a 21

anos.

Fonte: idem, ibidem, p. 11.

Observamos que os exemplos de estratégias apresentados nessa simulação de Plano

pretendem agregar os meios necessários para que objetivos e metas sejam cumpridos,

contemplando assim:

a) a construção de parcerias, tanto entre os setores do poder público, quanto destes

com outros atores sociais, políticos e empresariais;

b) a diversificação de mecanismos de financiamento à cultura, que deverá levar em

conta as formas de produção cultural e generalidades, bem como especificidades da cultura;

c) o destaque para a articulação política para a promoção da cultura, ou seja, o

envolvimento direto do legislativo e outras instâncias de interesse cultural;

d) a indução ao reconhecimento das potencialidades que precisam ser alavancadas no

município, como a melhoria, qualificação e criação de infraestrutura física dos espaços

públicos, o incentivo a novos talentos e, por fim, o fortalecimento e a sustentabilidade de

iniciativas em processo de desenvolvimento econômico e criativo existentes no município.

Diante de tais descrições e análises, verificamos que os exemplos dispostos no Guia 2

atendem ao requisito da diversidade cultural. Consideramos que as dicas e exemplos de

conteúdos e formatos para a construção do PMC, apresentados nesse material, estão alinhados

com a ideia de fortalecimento da diversidade, na medida em que contemplam uma variedade

de aspectos e características que se relacionam diretamente com o reconhecimento e

fortalecimento cultural.

Vale ressaltar que o conceito de diversidade está implícito e é apresentado a partir do

entendimento de que a política pública de cultura deve, sobretudo, enxergar a sociedade como

portadora de cultura e, assim, como partícipe dos processos culturais, seja fomentando-a para

o convívio cultural, como mera expectadora ou, ainda, como produtora e promotora de

cultura, exercendo sua cidadania cultural e apresentando-se a partir dos referenciais culturais

de cada um dos sujeitos e grupos que compõem a sociedade. A diversidade cultural deve ser

reconhecida no Plano de Cultura a partir dos modos com que se expressa, bem como a partir

das suas contribuições para uma vida social dinâmica, onde a diferença possa ser

compreendida como ativo para o desenvolvimento.

163

Para encerrar o Guia 2, são apresentadas as Dicas Finais e os Conceitos de Referência

para Elos da Cadeia de Cultura. O primeiro está disposto em seis tópicos que abordam

esclarecimentos sobre o Plano de Cultura, a saber:

a) trata-se de um documento de planejamento público, cuja gestão deve ficar a cargo

do órgão de cultura local. Isso reitera a importância da cultura como eixo estratégico para o

desenvolvimento do município e enfatiza que a sua apropriação deve ser dada pela

administração pública em geral;

b) a importância da legitimidade do Plano, enfatizando que esse documento configura-

se como um Plano de Estado e não de Governo, portanto como uma política pública a ser

implantada ao longo de diferentes gestões;

c) destaca a compreensão do PMC como expressão plena da política pública de

cultura;

d) enfatiza a importância das conferências e seus insumos para o PMC. Portanto,

ressalta que há outros espaços de representação que merecem ser levados em consideração no

processo de elaboração do Plano. Uma forma não exclui a outra;

e) recomenda que, quando necessário, a elaboração das ações de processo deve

preceder a de resultados;

f) atenta para a importância do tratamento a ser dado às demandas oriundas das

Conferências, bem como recorda a necessidade de a memória dessas informações ser mantida,

visando à prestação de contas à sociedade.

Essas dicas agrupam uma série de pontos que contribuem para uma efetiva formulação

e implantação do PMC e recordam a relevância da atenção a ser dada às demandas das

Conferências como principais insumos para a elaboração dos Planos. Além disso, trazem

questões técnicas que orientam para procedimentos e comportamentos em relação ao

documento, reforçando a sua importância para o planejamento municipal, adotando a cultura

como um dos eixos para o alcance do futuro desejado.

Como parte final do conteúdo desse módulo, são apresentados conceitos considerados

relevantes para a compreensão dos participantes, porém limitando-se àqueles relacionados

com os elos da cadeia da cultura.

Concluímos, então, que o Guia 2 demonstra uma relação do Plano de Cultura com a

diversidade cultural, visto que os exemplos apresentados trazem situações que dialogam com

aspectos distintos da realidade cultural e que podem afetar diferentes sujeitos, contribuindo

para a superação de desafios enfrentados pelas políticas culturais. Esses exemplos citam

diferentes mecanismos que se destinam a atender distintas necessidades e contribuir para

164

fortalecer diversas potencialidades da cultura, assim como enfrentar os desafios propostos

para o desenvolvimento cultural.

Ressaltamos que esta análise é fruto da nossa interpretação dos enunciados dos

exemplos contidos no referido material, considerando a ausência de esclarecimentos quanto

aos termos e conceitos usados no documento.

3.2.3 Conteúdo do Guia 3

Os conteúdos do Guia 3 (UFBA, 2012b) resumem-se ao aporte de informações sobre a

estrutura e dimensões básicas de gestão do Plano. Quanto à estrutura de gestão, o texto

apontou para a formatação de duas instâncias: político-institucional e executiva-

interinstitucional. Para ambas, o documento trouxe a indicação das instituições a elas

relacionadas, bem como os papéis a desempenhar. Expressou com clareza um modelo que

contempla representações governamentais, sociais e culturais, com apoio técnico do órgão de

cultura, destacando o processo participativo e o diálogo interinstitucional.

Ao apresentar um modelo de gestão e apontar para uma de suas dimensões, reiterou o

caráter do compartilhamento da gestão do Planos entre órgãos do governos e instâncias de

representações culturais, como o Conselho de Política Cultural, agregando, inclusive, outras

formas de organização da sociedade civil, como os fóruns e câmaras setoriais. Isso revela o

compromisso com a participação social, com a integração de diferentes representações da

sociedade, reforçando o caráter participativo e de controle social, permitindo supor que o

conjunto das expressões culturais do município estará presente.

Em relação às dimensões da gestão, apontamos dois itens vitais para um bom

gerenciamento do Plano: a dimensão orçamentária e a dimensão da comunicação. Ambas

agem de forma específica e fundamental para a garantia das ações e projetos e para uma

transparência dos processos realizados intra e extrainstâncias da gestão do Plano.

3.2.4 Metodologia

A escolha metodológica adotada para o Projeto nessa etapa pautou-se em

procedimentos claros, primeiro quanto à definição dos papéis a serem desempenhados pelos

seus integrantes (modelo de gestão) e, depois, pela dinâmica de atendimento aos municípios

(atividades, procedimentos, condutas e cronograma). Constatamos que a metodologia foi

permanentemente realçada pelo princípio da participação, do diálogo interinstitucional e da

165

atenção aos contextos locais, fatores que permaneceram desde a concepção até o desenrolar

do Projeto MinC-UFBA.

O planejamento das atividades propostas para o desenvolvimento do Projeto ocorreu

sem maiores problemas, visto que todas as etapas previstas para a sua realização foram

realizadas, apesar de algumas terem sofrido ajustes, na sua maioria em função dos processos

locais. Alguns cronogramas de evolução do Plano tiveram o prazo ampliado em virtude de

determinados municípios não terem conseguido finalizar o documento no prazo estipulado.

Orientações pautadas pelas premissas e princípios também nortearam a atuação da

equipe central, possibilitando uma definição de conduta para apoiar o desenvolvimento de

Planos, com vistas a lidar com realidades que apresentavam contextos culturais diversos,

diferentes sujeitos, com formas particulares de percepções sobre o mundo e sobre a cultura

local e que, por vezes, apresentavam uma visão conservadora e preservacionista da cultura,

carregada de contradições.

Tal contexto exigiu a adoção de bases consistentes e bem alinhadas para a condução

das atividades e da metodologia de PMC. Fizeram parte dessa conjuntura ações de mediação

de conflitos e um permanente diálogo para uma melhor convergência em torno do documento.

Essas orientações se mantiveram no processo que analisaremos a seguir.

A metodologia do Projeto não teve, na sua formulação, um conceito fechado, que

inviabilizasse alterações ou complementações no documento produzido pelos municípios,

contudo a orientação se deu para que os procedimentos adotados não desviassem o trabalho

dos princípios, que coadunavam com aqueles aplicados ao conceito de política cultural

adotado pelo Brasil.

O método reproduziu as etapas sugeridas pelo MinC para o PMC e expressas no Guia

de Orientações para os Municípios: Perguntas e Respostas (MINC, 2012b), mas poderia ser

complementado com outros tópicos ou temas que fossem considerados relevantes pelos

participantes. Caso o município não seguisse a metodologia proposta, a UFBA não atestaria

outras metodologias adotadas. Essa atitude resguardou os princípios seguidos pela

universidade federal baiana diante do compromisso assumido e afirmou a responsabilidade do

órgão gestor sobre o Plano de Cultura.

Acreditamos que tais divergências tiveram uma relação com o fato de ser a UFBA a

protagonista dessa iniciativa. Em alguns municípios, houve casos em que foi necessária uma

mediação do MinC para minimizar os fatos e fortalecer o papel da UFBA, chegando a

situações em que foi preciso tomar decisões mais enérgicas, como o afastamento do

166

coordenador local dos Planos, cabendo ao município a substituição dele por outro

profissional.

Sendo assim, consideramos que os problemas que foram surgindo foram sendo

contornados, uma vez que o Projeto foi estruturado para atuar frente a situações de tensão.

Estava muito claro para a equipe o universo diverso que ela deveria lidar, tanto considerando

as equipes de consultores, como os contextos locais e as dinâmicas políticas e culturais que se

davam em torno desse trabalho. A sinergia e coesão da equipe central foi fator determinante

para lidar com as contradições que permearam o trabalho metodológico.

A incorporação dos analistas e consultores locais definidos pelos municípios gerou

uma inquietação por parte da equipe e uma preocupação do gestor do Projeto, que entendia

que era preciso conhecer a diversidade de agentes antes do início do trabalho. Essa

preocupação se tornou evidente quando ocorreram alguns desligamentos de analistas e

consultores locais pouco depois do I Seminário. Alguns consideraram a metodologia

complexa e o tempo destinado à sua aplicação insuficiente, além dos desafios a serem

enfrentados.

Os impactos causados por esse fato se refletiram nas instâncias locais, já que, a cada

substituição de consultores ou analistas, a dinâmica do trabalho mudava, sendo necessário

realizar nova capacitação. Além disso, muitos demonstraram interesse em se apropriar da

metodologia para se tornarem consultores particulares. Dessa forma, via-se um processo

descompromissado, o que se refletiu no fato de alguns Planos não terem sido concluídos.

As definições de pautas, previamente realizadas com os municípios para as visitas

presenciais, facilitaram o trabalho da consultoria, preparada para atender as demandas locais.

Esses encontros visaram atender necessidades específicas dos gestores, reforçar a metodologia

e a participação em eventos e reuniões com Conselhos de Política Cultural. A definição da

agenda foi fundamental para a organização do trabalho in loco.

Os seminários foram realizados com o compromisso maior de atender as demandas

das equipes locais em relação ao aspecto metodológico do Plano, ocasionando pequenas

reuniões, que puderam ser individuais ou em grupo. Individual, quando o assunto era

específico sobre algum fato ocorrido em um município, e em grupo quando havia demandas

similares ou de igual importância.

A atenção e o cuidado com essas questões revelaram a responsabilidade em promover

o devido tratamento ao que foi demandado pelos núcleos, considerando suas diferenças. O

mais importante foi que os espaços dos seminários oportunizaram diálogos, trocas e

interações, revelando uma sinergia com a questão intercultural e, mesmo que compostos por

167

visões tão distintas, esses espaços tiveram o PMC como elemento aglutinador. Portanto, além

de apresentarem um caráter técnico, esses seminários também tiveram um viés político e se

desenvolveram em um ambiente de confluência de interesses, entendendo que as diferentes

práticas poderiam se somar em função do desenvolvimento cultural nos municípios.

A equipe da EAUFBA não só assumiu o desenvolvimento da metodologia, como a

realização de todos os eventos relativos a ele, o que gerou uma sobrecarga de trabalho,

desviando, por vezes, a atenção da equipe do assessoramento técnico para o trabalho de

produção desses eventos.

Procedimentos e estratégias tratados no âmbito da metodologia de Planos

oportunizaram o diálogo e, consequentemente, contribuíram para o compartilhamento de

informações, sendo as decisões, na maioria das vezes, fruto dessas discussões. Isso favoreceu

um processo rico e dinâmico, onde as contribuições abaixo ressaltadas foram fruto da

interação da equipe gestora:

a) o trabalho de desenvolvimento das metodologias foi pautado pelo princípio da

participação, desde a sua concepção (projeto e metodologia de Planos) até a sua aplicação;

b) as decisões foram tomadas com base em reuniões de equipe, promovendo uma

gestão compartilhada entre os gestores e o corpo técnico. Aqui ressaltamos as longas

conversas sobre cada um dos processos, guiadas pelo então coordenador do Projeto, prof.

Vicente Federico;

c) houve uma atenção à diversidade de contextos, na medida em que existiu uma

escuta qualificada às questões locais que impactaram diretamente no Plano;

d) houve o reconhecimento das diferentes visões, fruto da heterogeneidade dos grupos

e núcleos executivos locais;

e) as visitas técnicas foram realizadas, na sua maioria, em duplas de consultores, a fim

de privilegiar olhares diferentes sobre o mesmo contexto;

f) os seminários foram realizados tendo o devido compromisso com a capacitação

técnica, que se fundamentou em um trabalho em grupo, respeitando as especificidades que

surgiram, especialmente em relação à compreensão e/ou aplicação da metodologia.

Em que pese a formulação de um Plano de Cultura ter como objetivo a convergência

de interesses, um dos aspectos mais discutidos disse respeito ao destaque dado pela

metodologia à necessidade de atenção das políticas públicas para determinadas

especificidades de cada lugar. Para que uma dessas particularidades ganhasse lugar de

destaque dentro do Plano de Cultura, foi proposto o reconhecimento público da mesma, ainda

168

que representasse um único segmento cultural, partindo-se, por exemplo, das prioridades dos

itens que integraram o PMC.

Também é importante compreender que esse reconhecimento poderia acontecer a

partir de um diagnóstico apurado que evidenciasse vocações e potencialidades culturais.

Sendo assim, poderia estar relacionada a um setor, a um segmento, a uma atividade ou a

algum comportamento que revelasse a identidade ou as identidades culturais daquele lugar.

Essa discussão mostrou, portanto, que a metodologia provocou reflexões sobre um

entendimento mais amplo relacionado com as prioridades culturais a serem destacadas no

Plano, e sobre o cuidado de não excluir manifestações não encaradas como prioridades, pois a

ideia foi promover tratamentos diferenciados no Plano de Cultura. Do ponto de vista da

diversidade cultural, essa explicação se revelou coerente, pois orientou os participantes a

terem uma compreensão daquilo que ultrapassava as referências identitárias de cada um e a

reconhecerem o outro e suas diferentes perspectivas culturais.

Mesmo destacando a importância desses pontos, cabe registrar que não foi dada a

atenção necessária ao aspecto da diversidade cultural, já que o modo e aplicação da

metodologia de Planos se submeteu aos princípios utilizados pela gestão municipal que, por

vezes, pode não ter compreendido o que significa uma gestão para a diversidade. O Plano de

Cultura, enquanto instrumento de política pública, deve refletir, sobretudo, a realidade local.

Considerando que a pluralidade cultural se apresenta através de diferentes formas de

expressão, a descrição dos exemplos que constam no Guia 2 nos permite identificar temas ou

assuntos tratados nos PMCs que, além de poderem definir a amplitude da política a ser

proposta, oferecem subsídios para avaliarmos se houve, ou não, uma relação entre essa

metodologia e a diversidade cultural.

Ressaltamos que, durante o Projeto, foi detectada uma fragilidade em relação ao

entendimento de temas e expressões próprias do campo cultural e que não foram plenamente

compreendidas pela maioria dos participantes. A publicação de um glossário de termos

tratados nos Guias poderia ter atenuado esse problema. Os debates e encontros para o repasse

da metodologia foram muito ricos, especialmente quando tinham a presença de representantes

de universidades e agitadores culturais.

Notamos que o desenvolvimento de Planos de forma participativa foi reforçado,

primeiro pelas orientações iniciais que elegeram a participação social e a diversidade

169

cultural16

como elementos fundamentais para uma política que atenda aos anseios da

população; segundo, pelo trabalho intenso de reforçar essas características durante o repasse

metodológico, na medida em que foram abertos debates sobre cultura, desenvolvimento,

diversidade e sustentabilidade.

Assim, foi possível uma discussão rica e coerente com as políticas culturais

contemporâneas, fato que influenciou positivamente para uma compreensão alargada do

conceito de cultura e da importância do planejamento. Queremos dizer que a metodologia,

quando ancorada em tais princípios e desenvolvida com expertise, visa criar laços entre

planejamento e realidade cultural e adquire valores coerentes com a diversidade. Uma

metodologia pautada apenas em técnicas de planejamento, sem uma abordagem e relações

consistentes entre as etapas de elaboração do documento, sem aplicação rigorosa dos

princípios considerados estratégicos para um desenvolvimento inclusivo – em especial, a

diversidade – e sem o aparato conceitual necessário, pode fragilizar o processo,

principalmente quando não for mediada por profissionais do campo da cultura com

competências e habilidades necessárias para tal.

3.2.5 Processo

Vamos avaliar essa etapa a partir de questões processuais relativas à compreensão dos

conteúdos, o desenvolvimento e aplicação da metodologia, seja quanto ao que foi proposto

pelo Projeto MinC-UFBA, seja enquanto dinâmica de realização.

Na descrição de desenvolvimento do Projeto, a partir do estímulo do Fórum Nacional

de Secretários e Dirigentes de Cultura, foi possível verificar a relação dialógica que se deu

entre a UFBA e o MinC em relação à construção dessa iniciativa, permitindo agir com

criatividade e levando em conta as experiências dos atores e agentes envolvidos. Durante o

processo, foram realizadas reuniões nas quais a UFBA, a convite do MinC, teve a função de

dirimir possíveis questionamentos ou informações sobre o andamento do trabalho.

O desenvolvimento da metodologia, como já destacamos, se deu em consonância com

o planejamento, porém a sua aplicação mereceu uma significativa atenção. Em termos

estruturais, as atividades de atendimento dos municípios aconteceram de acordo com o

desenho, contudo as distintas realidades e contextos diversos requereram um trabalho de

acompanhamento e monitoramento dos processos locais. Isso levou a um maior número de

16 A diversidade cultural foi destacada a partir das visitas técnicas, onde foi possível aprofundar a relação entre

participação e diversidade, ampliando, assim, o raio de compreensão sobre o Plano de Cultura.

170

visitas e de revisões dos documentos, bem como a alterações nos cronogramas de elaboração

de Planos de alguns municípios.

Apesar de a equipe ter sido preparada para lidar com situações adversas, a resistência

de algumas cidades causou desconforto na equipe. Essa questão foi trabalhada pelos

integrantes, fazendo com que não se desviassem do foco do Projeto, mas em alguns casos foi

necessário que essa escolha fosse reforçada pelo MinC. Em outros municípios, essa questão

não se configurou como um problema e sim como algo positivo, fazendo com que o trabalho

fluísse de forma favorável. Vale como exemplo um trecho de um relatório do município de

São Luís:

A presença dos consultores UFBA/Núcleo Central em São Luís foi muito

salutar, pois fortaleceu e motivou a sociedade civil, assim como, alguns

setores estratégicos da governança municipal como a Secretaria de Educação

do Município. (ARAÚJO; MOREIRA, 2012, p. 2)

Fica evidente a complexidade das atribuições assumidas pela equipe de consultores,

pois o processo de apoio à elaboração do PMC foi além do trabalho de transferência da

metodologia, visto que envolveu também ações de sensibilização e mobilização de atores e

agentes locais, especialmente quando esses fatos apresentaram-se como um dificultador.

Quando isso não era um problema, se configurou como uma atividade a ser cumprida para

confirmar a importância do Plano, de modo a prover maiores informações sobre o

planejamento e reforçar a participação social e a importância do diagnóstico cultural como

fator imprescindível para o reconhecimento das expressões culturais e, portanto, da

diversidade cultural.

Em São Luís, foram realizadas reuniões com a participação de agentes culturais e

públicos, por dois dias, com a presença de aproximadamente 120 artistas, produtores e

fazedores culturais. Verificou-se, assim, uma atenção especial daquele núcleo, ao reforçar a

participação e garantir que o Plano fosse fruto de uma ampla discussão.

Todos os esforços foram feitos no sentido de minimizar eventuais problemas. Em uma

capital, apesar da resistência, a equipe da EAUFBA teve significativo apoio do Conselho de

Política Cultural e, com o afastamento do coordenador do Plano, os trabalhos ganharam

celeridade. Para Marcelo Cruvinel17

, nesse caso, ao final do trabalho de execução do PMC,

surgiram alguns problemas, o que poderia estar associado à vontade da equipe local de mudar

a metodologia para “dar a cara deles”. Em outro caso, foi marcante a resistência encontrada

17 Marcelo Cruvinel é administrador de empresas e atuou como consultor técnico e gestor do Projeto na primeira

edição. Esse depoimento nos foi dado em conversa por e-mail em 12.01.2017.

171

no município, quando o coordenador do Plano chegou a ignorar a presença dos consultores da

Bahia. Contudo, inconveniente esse que foi sanado com o seu afastamento direto e

substituição pela secretária de Cultura. Apesar do contratempo, esse foi um dos primeiros

Planos elaborado e aprovado no Legislativo.

Observamos, assim, que o protagonismo do gestor de cultura foi um fator

determinante e, nesse caso em especial, o trabalho do Plano foi feito por uma equipe de

pessoas com formação em cultura e com atuação profissional e política. De modo geral,

houve um engajamento muito grande de algumas equipes locais, o que não necessariamente

esteve relacionado com o protagonismo do gestor, que, em alguns momentos, deixou evidente

o despreparo para estar à frente da pasta da cultura, além de ter demonstrado falta de

compromisso político com o fato.

Alguns municípios apresentaram um contexto desprovido de condições de

infraestrutura técnica e de pessoal. Mesmo com as visitas técnicas, foi visível uma

desarticulação institucional, que, em algumas situações, foi minimizada com um trabalho de

mobilização política e cultural dos coordenadores – que, às vezes, não era o gestor – e dos

consultores locais, que tinham forte articulação local e promoveram o envolvimento

significativo da sociedade.

Por outro lado, houve situações mais graves que combinaram fragilidade institucional,

quadro de pessoal reduzido e falta de envolvimento e dedicação dos servidores que estavam

participando do Projeto, somando-se a isso o fator político e a falta de articulação do

Conselho de Política Cultural. Circunstâncias complexas como essa muitas vezes

inviabilizaram o trabalho da consultoria.

Situações dessa natureza causaram desarticulação dos núcleos executivos e tensões

entre os integrantes, o que se refletiu no processo metodológico. Na sua maioria, quando

ocorreram problemas assim, foi necessário uma ação conjunta entre a UFBA e o MinC para

revertê-los, a fim de dar continuidade ao Projeto. Essa relação de alinhamento entre as

instituições foi fundamental para manter o fluxo do trabalho e um ambiente favorável ao

desenvolvimento dos Planos.

Nos primeiros seis meses do Projeto, foram feitos ajustes mais frequentes nos

cronogramas de viagem, pois alguns núcleos apresentaram fragilidade em relação à apreensão

dos conceitos e expressões contidas nos Guias ou mesmo sobre termos ou conceitos próprios

do campo da cultura. Durante a realização dos debates, nas reuniões sobre o desenvolvimento

do Plano, os conflitos foram frequentes e, por isso, as agendas se ampliaram, fazendo com que

os consultores da UFBA permanecessem por mais dois dias. O fato é que alguns problemas de

172

ordem conceitual, envolvendo a metodologia, foram equacionados durante a realização do 2º

Seminário de alinhamento técnico, quando ocorreram novas orientações sobre os conceitos

metodológicos e, em especial, sobre a formulação das metas. A possibilidade de colocar as

equipes juntas no meio do processo possibilitou as trocas entre eles, propiciando uma maior

compreensão dos processos e um aprendizado conjunto.

Apesar dos avanços no documento, alguns municípios ainda apresentaram algum tipo

de fragilidade conceitual e domínio metodológico, por isso alguns prazos foram estendidos.

Essa possibilidade impactou positivamente, ocasionando trocas de informações entre as

equipes para além do seminário e promovendo contribuições entre os municípios em relação

ao PMC, com intercâmbio de ideias criativas para solução de possíveis problemas.

Entendemos que isso foi importante para fortalecer um processo que foi e é

fundamentalmente coletivo, além de ter possibilitado o compartilhamento de práticas que se

somaram aos esforços realizados em algumas cidades.

Outro fator que também requereu atenção especial da UFBA e dos consultores locais

foi quanto ao nível de representatividade dos Conselhos de Política Cultural, fator

considerado relevante para o seu protagonismo no processo de elaboração do PMC.

Verificou-se uma diversidade de situações, desde a inexistência dessa instância até o caso de

Conselhos com atuação destacada e proativa, passando pelos que, com forte alinhamento

político com as gestões municipais, exerceram um papel aquém do que lhe caberia e aqueles

que ignoraram as orientações do MinC.

Uma das reclamações foi a inexistência de um processo de formação adequado e

específico para os conselheiros de cultura, visto que os Conselhos muitas vezes eram

formados por pessoas com representatividade, mas sem competências para atuar nessa função.

Além disso, algumas questões rodearam o processo de elaboração dos PMC a ponto de

evidenciar problemas de ordem política e pessoal com quem liderava o processo. Alguns

municípios conseguiram associar um caráter técnico e profissional ao trabalho, mas, mesmo

assim, a UFBA, em alguns desses municípios, atuou junto aos Conselhos, oferecendo

palestras ou realizando longas reuniões para explicar a metodologia, a escolha da UFBA e o

papel a ser desempenhado pelos Conselhos.

Esses fatos mostraram, de forma clara, o terreno arenoso da cultura, a complexidade

do arranjo político em torno das políticas públicas e, acima de tudo, a falta de formação e

capacitação dos atores e agentes culturais em promover condições propícias para uma

compreensão sobre os temas essenciais ao desenvolvimento cultural. A cultura ainda é

entendida, muitas vezes, como moeda de troca no ambiente político ou a partir de uma visão

173

estreita. Um ambiente notadamente pautado por contradições e conflitos, às vezes causados

pela falta de compromisso político, mas também pelo desconhecimento do propósito

estabelecido pelo MinC para um processo de transformação ou, ainda, marcado por fatores

históricos conservadores e de caráter colonizador.

Foram observadas queixas recorrentes sobre a atuação do MinC em relação aos

municípios e o Plano, pois apesar de esta ter sido uma ação indutora, foi recebida como algo a

ser apenas aceito. Nesse aspecto, foi necessária a presença de alguns representantes regionais

do MinC para afinar o discurso sobre o Plano e as ações direcionadas aos municípios, que

vinham sendo propostas pelo próprio Ministério no Programa de Fortalecimento do SNC.

Essa contribuição favoreceu o processo por demonstrar que houve um alinhamento

técnico entre os atores envolvidos; permitir que os municípios tivessem respostas a possíveis

dúvidas sobre o processo e por aproximar o diálogo com o MinC em relação aos Sistemas

Municipais de Cultura. A presença do MinC nos encontros facilitou muito o trabalho dos

consultores, eximindo-os do papel de representante daquele órgão, o que não caberia à UFBA,

apesar do entendimento errôneo por parte dos atores municipais. Além disso, contribuiu para

dirimir possíveis contradições que surgiram.

Essa experiência demonstrou a heterogeneidade dos contextos e a forte presença de

um entendimento de cultura distorcido do conceito contemporâneo: cultura entendida ou

como evento ou como aquilo que reflete as culturas tradicionais, utilizada como instrumento

político e com ausência de estruturas adequadas para o seu desenvolvimento. Por outro lado,

apresenta-se como um campo em formação, com uma grande ansiedade para o aprendizado e

para o alcance do desenvolvimento, que envolve não somente a preservação da cultura, mas a

exploração do aspecto econômico.

Essa experiência também demonstrou grande diversidade cultural, os jeitos e as

formas de pensar o mundo e o seu local, que nem sempre convergem e, por isso, exigem

tratamentos diferenciados, com abordagens distintas. Problemas similares demonstraram que

merecem soluções diferenciadas. Isso nos leva a refletir sobre como aplicar metodologias e

desenvolver políticas para a diversidade cultural, quando esta é a própria expressão da cultura

e, notadamente, requer modos distintos para lidar com questões não necessariamente

diferentes ou iguais.

3.3 Análise da 2ª Edição

174

Comparativamente ao material da edição anterior, o conteúdo da 2ª Edição ganhou

vitalidade, pela incorporação dos conceitos relevantes em cinco módulos denominados

básicos: Cultura e Produção Simbólica, Políticas Públicas de Cultura, Planejamento Público,

Sistema Nacional de Cultura e Cultura e Desenvolvimento. De modo a reforçar o processo

formativo, para cada módulo básico, foi estruturado um fórum de discussão teórica, onde seria

possível debater os conceitos, dirimir dúvidas e apresentar experiências da realidade local

relacionadas a cada tema.

Já o processo de elaboração de planos foi enriquecido e desdobrado em seis módulos:

Visão Geral18

, Análise da Situação Atual, Projeção do Futuro Desejado, Operacionalização do

Futuro Desejado, Projeção de Prazos e Recursos e Monitoramento do Plano Municipal. Como

ferramenta auxiliar, foi disponibilizada aos participantes uma ferramenta de apoio à

elaboração de plano, estruturada de modo a buscar preservar a coerência entre as partes do

documento.

3.3.1 Conteúdo dos módulos básicos

Conforme o novo formato, adotado na 2ª Edição do Projeto, os módulos conceituais,

denominados de módulos básicos, foram integrados ao material didático, fato que já

abordamos no capítulo anterior. Aqui, traremos algumas observações sobre o conteúdo desses

módulos, visando demonstrar como a diversidade cultural foi tratada. Os módulos Cultura e

Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento abordaram de forma mais direta o tema em

análise.

Ao discutir os conceitos de cultura e diversidade, o módulo Cultura e Produção

Simbólica (FREIRE; BARROS, 2014) colocou os participantes para refletirem sobre essa

relação e buscarem promover um alinhamento conceitual com as práticas realizadas

localmente, proposta que incluiu as discussões dos fóruns. Como provocação dos

conteudistas, os participantes também foram estimulados a pensar sobre a importância do

reconhecimento da diversidade cultural, da dinamicidade intrínseca à cultura e como essas

questões se relacionam à identidade e às diferenças culturais que compõem o local onde

vivem.

18 Esta dissertação contém um tópico específico de análise detalhada da metodologia adotada na 2ª Edição do

Projeto, por isso não será objeto desta pesquisa o conteúdo do módulo Visão Geral, que traz apenas um

panorama sobre as etapas que compõem o método adotado para a formulação de planos municipais de cultura.

175

Entendemos, portanto, que esse material ofereceu subsídios para que os conceitos

relacionados ao campo da cultura, e em especial à diversidade cultural, fossem

compreendidos para além do senso comum. Esse módulo qualificou o processo, na medida

em que contribuiu para ampliar a compreensão dos participantes sobre o que envolve o

patrimônio cultural, suas formas de reconhecimento e de proteção e promoção,

desconstruindo uma visão romântica da cultura. O seu aprofundamento ficou prejudicado pela

carência de alguns tutores em conhecimentos específicos sobre o tema e habilidades inerentes

à orientação pedagógica.

Já o módulo Cultura e Desenvolvimento (MIGUEZ, 2014) colocou o desafio de

coadunar cultura, diversidade e desenvolvimento, descrevendo um processo no qual a cultura

passa a ter outra conotação na contemporaneidade, articulada através de eventos e

documentos internacionais que ajudaram a amadurecer os entendimentos sobre o campo,

como a Convenção da Unesco (UNESCO, 2005), importante documento para orientar os

países-membros sobre as políticas para a diversidade.

Apesar de considerar que todos os módulos foram relevantes para a compreensão

conceitual dos participantes, esses documentos colocaram também o tema da diversidade na

discussão central do Plano, pois não só apresentaram os conceitos, como também orientaram

sobre a condição estratégica da diversidade cultural para o planejamento da área. Trata-se de

reconhecer a diversidade, assumindo que as diferenças que existem entre indivíduos e grupos

no âmbito da cultura é condição essencial para ampliar o entendimento da cultura no contexto

contemporâneo.

Podemos afirmar, ainda, que esses dois módulos, quando bem estudados, puderam

oferecer subsídios para um debate consistente sobre o campo da cultura, sua relação com o

desenvolvimento e, sobretudo, trazer clareza sobre os conceitos adotados, de modo a poder

embasar novas e ricas discussões nos municípios.

Todos os módulos, por sua vez, trouxeram o tema da participação social, mas a

discussão trazida pelo módulo Políticas Públicas de Cultura (CALABRE: BOULLOSA,

2014), ao abordar os conceitos de escolas de políticas públicas, ofereceu aos participantes a

possibilidade de refletirem sobre o formato proposto para a construção dessas políticas,

situando-os na perspectiva adotada pelo MinC a partir de 2003.

Discutir e apresentar os avanços realizados para a implantação de políticas públicas de

cultura, que considerem a cultura e sua diversidade cultural, impôs aos participantes a

reflexão sobre suas práticas locais e instigou-os a pensar sobre quais caminhos as políticas

locais deveriam seguir para o alcance de uma integração nacional.

176

Relacionar as políticas públicas com o Plano de Cultura e estimular o leitor a entender

a sua importância para a garantia dos direitos culturais e a cidadania, coloca-o na direção da

diversidade cultural, pois, para que esses direitos sejam garantidos, é preciso ter clareza sobre

o quê o Plano trata. A cidadania, por sua vez, integra todas as condições oferecidas para a

convivência cultural e a liberdade de expressão e participação na vida política e cultural local.

Consideramos que a estrutura do módulo foi bem didática e propôs um diálogo

orientado para a discussão e compreensão da relação entre as políticas públicas e as políticas

públicas de cultura, em consonância com o planejamento estratégico da área. No entanto, duas

ressalvas podem ser feitas a esse conteúdo: primeiro, em sua parte inicial, um complicador

decorreu do fato de ter sido utilizada uma linguagem acadêmica; segundo, esse material só

abordou o histórico das políticas culturais entre 2003 e 2005, deixando de registrar

importantes iniciativas realizadas nos dez anos seguintes.

O módulo do SNC (VILELA, 2014), ao tratar dessa política pública de cultura para o

país, destacou a relação com o tema da diversidade cultural, ao explicitar, em seu início, que a

política de cultura deve levar em conta o caráter participativo e o desenvolvimento da

diversidade. É possível verificar que o próprio Sistema se caracteriza como uma política para

a diversidade, à medida que se estrutura a partir da tridimensionalidade da cultura e se

constitui de elementos que visam criar condições para que a cultura floresça e os indivíduos e

coletividades produzam cultura em seus mais variados níveis. Assim, são oferecidas

possibilidades para promoção da inclusão cultural em um cenário contemporâneo,

reconhecendo suas especificidades e capacidades geradoras. Nessa perspectiva, esse módulo

foi bastante didático e técnico, oferecendo aos participantes uma adequada capacitação para a

institucionalidade da cultura, conhecimento sobre a integração dos Sistemas e sua relação com

a diversidade, considerando-a como diretriz para as políticas desenvolvidas pelo MinC desde

2003.

Tanto esse módulo como o de Políticas Públicas de Cultura afirmaram que a

participação social é fator central para a construção de uma política democrática para a área.

O envolvimento de diferentes agentes e atores públicos, sociais e culturais em todo o processo

de construção de um PMC pode promover, dentre outras questões, um amadurecimento de

todas as partes sobre os campos público e cultural. Inclusive, conforme já afirmamos, o tema

da participação social foi o mais explorado nesses conteúdos e é princípio básico para a

contemplação da diversidade cultural.

Sabemos, contudo, que a participação não é suficiente para a construção de uma

política que tenha uma relação direta com a diversidade, devido às diferentes interpretações às

177

quais pode estar submetida durante o processo de elaboração de Planos de Cultura. Por isso, é

fundamental que o gestor municipal desenvolva uma compreensão clara sobre a cultura

enquanto vetor de desenvolvimento e tenha uma visão ampliada das dinâmicas culturais locais

e dos movimentos sociais atuantes, seja através de representações institucionalizadas ou não.

Além disso, ao abordar o SNC e suas bases legais, esse módulo instruiu os representantes

municipais sobre como se dá a institucionalidade da cultura no âmbito municipal. O tópico

sobre os Sistemas Municipais esclareceu a importância desses Sistemas e a conduta a ser

adotada para fortalecê-lo.

Já o módulo Planejamento Público (HASTENREITER FILHO, 2014), além de ter

apresentado questões iniciais que versaram sobre o tema da diversidade cultural, trouxe

também informações gerais sobre o financiamento da cultura, porém não foi além da

apresentação dos instrumentos já mencionados no módulo sobre o SNC e as peças

orçamentárias. O texto desse material associou a participação social ao orçamento

participativo, mas não abordou, de forma clara e aprofundada, a diversidade cultural. Reiterou

somente questões conceituais necessárias para uma compreensão básica sobre os aspectos

relativos ao campo da cultura e do planejamento.

O que observamos, vale mais uma vez registrar, é que a metodologia do Projeto MinC-

UFBA dialogou pouco com o tema diversidade cultural e não permitiu que os participantes

reconhecessem esse assunto de forma mais direta e central. Por isso, a mediação dos analistas

e dos tutores foi fundamental.

Enquanto os módulos de planos promoveram uma orientação adequada aos

participantes para o trabalho específico de elaboração dos Planos de Cultura, os módulos

básicos, com o apoio de instrutores, privilegiaram o aspecto formativo para conceitos do

campo, sendo essencial para promover maior apropriação e segurança dos formuladores dos

PMCs, à medida que eles conheciam profundamente o objeto do planejamento.

Desta forma, os conteúdos qualificaram a formação para a elaboração dos Planos

Municipais de Cultura, mas ressaltamos que seria preciso trabalhá-los também sob o ponto de

vista regional e territorial. Isso poderia vir a possibilitar interações mais ricas e compreensões

mais coerentes com a ideia de se planejar políticas públicas condizentes com as realidades

locais.

Também acreditamos que, com base na análise dos fóruns de discussão teórica que

abordaremos adiante, a dinâmica de aplicação desses conteúdos merece uma avaliação mais

aprofundada, que permita estabelecer um processo didático mais adequado com os diferentes

grupos envolvidos na formação.

178

Os conteúdos aportados nesses módulos reiteraram a importância da formação em

gestão e políticas culturais, campo que possui uma rotatividade permanente nos quadros

funcionais de secretarias e órgãos de cultura. Essa situação foi observada nas duas

possibilidades de intervenção desse Projeto, especialmente quando foram oferecidas

formações para os municípios baianos em agosto de 2012, março de 2013 e em 2014.

3.3.2 Conteúdo do módulo Análise da Situação Atual

O módulo que trata da etapa de Análise da Situação Atual (BRITTO, 2014a) foi

estruturado com unidades que abordaram a caracterização do município e o diagnóstico

cultural. O texto sobre a caracterização do município integrou o roteiro do Plano, tendo sido

uma consideração proposta pela equipe da EAUFBA e aceita pelo MinC. Teve como objetivo

desenhar o perfil do município, trazendo importantes informações sobre a realidade local.

Através dos aspectos relacionados à caracterização, foi possível conhecer o processo

histórico, a geografia, o ambiente e as condições de vida das pessoas, suas atividades e

economia, as referências étnicas e práticas sociais e culturais.

A equipe da EAUFBA entendeu que não bastava conhecer o contexto das dinâmicas

culturais, os grupos, artistas e suas demandas específicas. Defendeu que a compreensão se dá

a partir de um conjunto de informações que perpassam também sobre o município, quem o

habita e como o habita, quais as características históricas, geográficas, ambientais e tantas

outras que compõem esses municípios e qual relação dessas peculiaridades com os aspectos

culturais. A ideia de unir conhecimentos sobre a cidade e a realidade cultural e como ambos

os fatores se fundem em um grande guarda-chuva de informações ressaltou o aspecto

transversal da cultura e suas imbricações sobre o modo de vida de cada lugar.

A análise da situação atual foi a etapa na qual se deu o reconhecimento do espaço

habitado e propôs uma análise crítica sobre os processos locais, a partir das informações e

dados levantados. Essa análise pôde oferecer subsídios para entender as relações e ligações

que elucidam a importância da cultura e as grandes contribuições que ela oferece para o

sentimento de pertença da sociedade e para o desenvolvimento, fazendo surgir ideias e

estratégias que se cruzam em função das demandas realizadas e das possibilidades de

estruturação de políticas que vão favorecer esse desenvolvimento.

Nesse sentido, a análise da situação atual buscou promover o reconhecimento sobre a

realidade concreta onde as pessoas vivem e se relacionam. Isso se torna contraditório caso o

179

Plano de Cultura não se constitua como um documento que reflita essas realidades, o que

certamente impacta na sua efetividade. As relações transversais ainda são questões a serem

trabalhadas no âmbito governamental e não se restringem aos municípios, envolvendo ainda a

União e os Estados, porém a mudança de paradigma proposta pelo Plano de Cultura incide

necessariamente sobre a forma como ele é elaborado. Essa compreensão está diretamente

relacionada ao desejo de transformação que se quer e como pode contribuir com outro modo

de pertencimento cultural, no qual a autoestima dos cidadãos é um fator essencial. O

reconhecimento a partir da cultura pode revelar novos comportamentos, como valorização das

origens culturais e sentimento de pertença renovado.

Para exemplificar, citamos algumas informações sobre o Plano de Cultura de

Laranjeiras, cuja caracterização e diagnóstico municipais revelam aspectos históricos sobre o

patrimônio cultural e sua relação com o sentimento de pertencimento e a diversidade cultural,

a partir do reconhecimento da cultura para o desenvolvimento. Ressaltamos que a cidade de

Laranjeiras ganhou o título de Patrimônio Cultural do Estado e é referência em manifestações

da cultura popular. Segundo o Plano, esse título promoveu, dentre outras coisas, o sentimento

de pertencimento cultural da comunidade, valorizando e fortalecendo as identidades locais,

como demonstra um pequeno trecho do documento:

Dessa forma, a cidade está repleta de exemplos de patrimônios culturais,

tanto levando em consideração as igrejas da área urbana e rural, como os

casarões que lembram os tempos áureos da economia laranjeirense, ou as

festas, seus ritos e manifestações culturais, a vivacidade do povo, a cultura

dos grupos e a importância de fatos passados. Além disso, é necessário

valorizar os patrimônios nem tão exaltados, mas que fazem parte da

identidade e memória, como as brincadeiras de criança, as cantigas, as

lendas e estórias, as pescarias, os bordados, as rodas de conversa da

vizinhança, as comidas tradicionais, os modos de fazer, os lugares, etc. O

patrimônio cultural é, dessa forma, o primeiro a ser valorizado, para se

conseguir uma identificação com os outros patrimônios, os que não fazem

parte da vivência diária, mas que pela sua presença na cidade e pela sua

história criam o sentimento de pertencimento, de identidade e memória com

o espaço em que se inserem. (LARANJEIRAS, 2013, p. 11)

Além de o Plano tratar a diversidade cultural a partir da importância da valorização e

promoção das culturais populares, observamos coerência entre o que foi registrado na

caracterização e o que foi elaborado enquanto objetivos, metas e ações. Por isso a

caracterização do município foi e é tão importante quanto o diagnóstico dos segmentos e

setores da cultura, pois ambos oferecem subsídios para a construção de uma análise crítica

entre o lugar e as dinâmicas culturais.

180

Nesse exemplo, o objetivo Promover a diversidade cultural local nas singularidades de

cada expressão, relacionado à diversidade cultural, também está associado às metas ligadas à

cartografia cultural, fomento às diversas expressões culturais e infraestrutura de equipamentos

culturais (idem, ibidem, 2013, p. 35-37).

Voltando ao módulo correspondente, a descrição dos tópicos da caracterização ganhou

explicações mais detalhadas no material didático da segunda edição, possibilitando uma

melhor compreensão sobre como elaborá-los, como demonstrado no Quadro 23:

Quadro 23 - Exemplo de descrição sobre aspecto da caracterização do município

2 ª Edição – Projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem à Distância

Aspectos físicos

Área, subdivisão urbana e rural, localização regional, fronteiras, paisagens e

outros aspectos naturais importantes – subdivisão regional

A relação das pessoas com o ambiente é uma referência essencial para a cultura.

Situar geograficamente o município já indica algumas influências importantes

relacionadas ao clima, paisagens e outros aspectos naturais.

A partir de uma localização regional no país, pode ser avaliado como o município

compartilha e se relaciona culturalmente com outros, que imagem constrói e

projeta a partir de suas manifestações e intercâmbios, que construções ele agrega

à região. Para algumas localidades, as fronteiras possuem significado especial

para os diálogos culturais.

Por sua vez, conhecer como o próprio município organiza seu território, suas

áreas urbanas e rurais, seu zoneamento distrital, suas características ambientais e

de ocupação, permite um olhar diferenciado entre o conjunto, uma melhor

compreensão de como os aspectos culturais se manifestam e se entrelaçam. Em

decorrência, esse crescimento situa objetivamente ofertas e demandas culturais e

favorece planejar as ações em função do perfil de cada local. Fonte: BRITTO, 2014a, p. 10.

Observamos que informações mais detalhadas ofereceram aos participantes e

integrantes das equipes de elaboração condições para ampliar a compreensão sobre a cultura e

sua relação com o local que habita e suas dinâmicas. O módulo referente a essa etapa do

Plano aproximou os conteúdos a um discurso mais coerente com as imbricações que há entre

os tópicos da caracterização e a diversidade cultural, mas não explicitou claramente essa

relação. Assim, sentimos falta de uma associação entre esse conteúdo e o conceito de

diversidade, já que o Plano de Cultura se configura como um instrumento de política pública

que deve refletir a realidade local em todas as contradições que lhes são pertencentes.

O conjunto das informações coletadas no âmbito da caracterização do município

ofereceu dados sobre as condições em que vivem as pessoas, suas histórias e suas situações

181

sociopolítica, econômica e social, além de abordarem outros aspectos que se relacionam com

o meio ambiente e a geografia do local, ou seja, o ambiente onde a cultura se manifesta. São

fatores que contribuem para uma compreensão sobre a identidade e diversidade cultural e suas

formas de existência e interação com o conjunto dos traços que compõem as comunidades,

além de induzir um tratamento mais qualificado em relação à transversalidade, que deve

ocorrer no âmbito das políticas públicas, mas que efetivamente não se constitui na sua

concretização, sendo um ponto a ser mais bem trabalhado no rol das políticas públicas.

Reiteraremos a seguir a importância desses aspectos, explicando como cada um

promove um olhar crítico sobre o campo cultural. A certeza é de que mesmo para os analistas,

consultores e tutores, fazer essa relação também foi fruto de aprendizado, e não seria diferente

para os representantes municipais.

Nos aspectos históricos, foram abordadas questões como pertencimento e identidade e

informações e registros sobre a diversidade cultural do município, porém acreditamos que

teria sido necessário aprofundar essa compreensão sob o ponto de vista do entendimento sobre

esse projeto político, considerando que as orientações deveriam ter sido feitas a partir de uma

análise crítica dessas informações, o que certamente apontaria para a renovação das dinâmicas

culturais. São questões tratadas no módulo, mas que precisariam de maior aprofundamento.

Essas relações podem contribuir para uma apropriação adequada sobre um projeto de

política cultural que leva em conta as inquietudes da cultura. A junção entre fatos formais e

observações críticas sobre o local e suas dinâmicas culturais e sociais oferecem uma

arcabouço de informações relevantes para o Plano de Cultura, sobretudo para o entendimento

sobre a participação da diversidade em um projeto de transformação.

A forma como o município se originou é relevante para sua formação

cultural. Para inúmeros municípios, é determinante até hoje, especialmente

quando se associam reflexos de composição demográfica e as contribuições

de povos de diferentes origens. Há fatos que marcaram a trajetória municipal

e que a população reconhece neles relevância para o sentimento de

pertencimento, de identidade e de distinção local. Em geral, esses fatos

possuem conexões com outros de caráter regional, nacional ou internacional.

Aqui não se trata de relato formal de fatos oficiais, mas de um olhar sobre a

história e seus reflexos na diversidade cultural do município - nas suas

manifestações, nas suas paisagens urbanas e rurais, na sua gastronomia,

enfim, nos seus bens de cultura. Vale lembrar que a história de um lugar tem

diferentes versões, dependendo do ponto de vista que se adota. (idem,

ibidem, p. 9)

Apesar de estarmos falando sobre aspectos diretamente ligados aos modos de vida e às

formas de sobrevivência e sustentabilidade de uma comunidade, o termo diversidade cultural

não apareceu nos textos sobre a caracterização do município, com exceção do item

182

relacionado aos aspectos históricos, o que nos parece ter sido tratado em momentos

específicos da metodologia e não como um princípio geral.

Neste material, destacamos a seguinte frase: “Embora nesse tópico do plano não sejam

tratadas especificamente as informações culturais, assunto da unidade seguinte, as

informações devem ser abordadas à luz da cultura e do desenvolvimento cultural.”

(idem, ibidem, p. 9; grifo nosso). Consideramos essa observação de extrema importância para

que os participantes do Projeto pudessem compreender que eles deveriam pensar, refletir,

discutir e analisar o contexto cultural em todos os momentos desse processo, ligando-os às

outras etapas que considerassem pertinentes para o planejamento da cultura. A expressão “à

luz da cultura e do desenvolvimento cultural” nos leva a afirmar que é inevitável considerar as

expressões culturais e suas dinâmicas como elementos constituintes de um conceito de

diversidade que vise, sobretudo, a diminuição das desigualdades tão presentes na realidade

brasileira.

O texto sobre os aspectos físicos, geográficos e ambientais estimulou a compreensão

sobre quais relações de trocas culturais podem acontecer, como compreender os aspectos

identitários de um município, e torná-lo referência local e como ele se posiciona

culturalmente a partir das relações para além das suas fronteiras. A análise desses aspectos

nos reportam a entender como podem se dar as relações interculturais, bem como a

compreender melhor as dinâmicas locais e as relações transversais que podem vir a existir,

possibilitando pensar um desenvolvimento de dentro para fora.

A relação das pessoas com o ambiente é uma referência essencial para a

cultura. Situar geograficamente o município já indica algumas influências

importantes relacionadas ao clima, paisagens e outros aspectos naturais.

A partir de uma localização regional no país, pode ser avaliado como o

município compartilha e se relaciona culturalmente com outros, que imagem

constrói e projeta a partir de suas manifestações e intercâmbios, que

contribuições ele agrega à região. Para algumas localidades as fronteiras

possuem significado especial para os diálogos culturais.

Por sua vez, conhecer como o próprio município organiza seu território, suas

áreas urbanas e rurais, seu zoneamento distrital, suas características

ambientais e de ocupação, permite um olhar diferenciado sobre o conjunto,

uma melhor compreensão de como os aspectos culturais se manifestam e se

entrelaçam. Em decorrência, esse conhecimento situa objetivamente ofertas

e demandas culturais e favorece planejar as ações em função do perfil de

cada local. (idem, ibidem, p. 10)

Os aspectos demográficos apresentaram preocupação com as pessoas e como elas

vivem, se relacionam, se comunicam e produzem suas vidas cotidianas. Esses fatores se

entrelaçam e reforçam a importância de se promover o planejamento para um

183

desenvolvimento em função do humano. Assim, mais uma vez vemos a diversidade cultural

beneficiária de um conjunto de estratégias que visam construir um planejamento pautado na

realidade local.

Tratar a perspectiva econômica da cultura conduz a pensar e analisar as cadeias

produtivas e suas contribuições para a economia local, pois “As bases econômicas […] dizem

respeito ao que predomina como riqueza econômica e os fluxos, às formas de produção de

bens e serviços, de circulação – dos bens e serviços, da força de trabalho e do dinheiro e de

distribuição da riqueza”. (idem, ibidem, p. 11).

Observamos que a relação entre cultura e desenvolvimento, mesmo considerando a

discussão feita a partir do módulo específico sobre tal questão, ainda se deu de forma

incipiente, especialmente na abordagem de políticas de valorização de bens e serviços

culturais e de proteção e promoção das expressões culturais. Trata-se de um referencial

teórico que mereceria aprofundamento, visto que o que se observa, como regra, é uma forte

pressão do mercado, de modo a descaracterizar o produto cultural em função da necessidade

de sua reprodução, comprometendo a diversidade.

Os aspectos sociais demonstram importância sobre as condições de vida, os serviços

públicos e o atendimento à população, assim como provoca o olhar para comunidades e

grupos desprovidos de políticas públicas e em situação de vulnerabilidade social. É evidente

que o Plano de Cultura, nesse sentido, poderia contribuir para a diminuição das desigualdades.

O texto é claro, como podemos ver adiante:

Sob essa abordagem estão análises relacionadas às condições de vida das

pessoas, ao nível e ao acesso a serviços considerados básicos como

educação, saúde, saneamento e segurança, bem como hábitos de lazer e

entretenimento. Há índices importantes a serem observados, e se possível,

considerados espacialmente, como o de Desenvolvimento Humano (IDH).

Para a concepção do plano de cultura, importa salientar as desigualdades

sociais, também as considerando espacialmente, como forma de identificar

áreas e grupos sociais mais carentes de intervenções diferenciadas.

Também pode ser relevante incorporar informações sobre instituições e

programas de desenvolvimento social, de combate à violência e à

discriminação. (idem, ibidem, p. 12)

Fica evidente que um diagnóstico sobre os aspectos sociais do município vai em

direção ao reconhecimento de grupos e comunidades em situações adversas. Esse é um traço

fundamental das políticas públicas para a diversidade cultural adotadas em nível nacional, que

propõem o desenvolvimento de parcerias e interações entre os diversos setores públicos para o

fornecimento de bens e serviços, de modo que venham a coadunar projetos e ações para o

desenvolvimento local, fortalecendo o caráter transversal da cultura.

184

O aspecto político-institucional pode proporcionar o reconhecimento, pela

comunidade, da estrutura organizacional da prefeitura, o grau de mobilização e atuação da

sociedade civil e a relação entre os poderes públicos com a sociedade. A partir daí, é possível

entender a estrutura de gestão, o nível de participação social nas decisões públicas e o nível de

atuação de cada ator ou agente cultural. Esse tópico propôs o fortalecimento das relações e

diálogos entre os atores e agentes sociais, culturais e políticos, ampliando a participação e o

diálogo em direção a uma compreensão mais ampla sobre o papel de cada um na construção

cidadã das políticas.

O texto defendeu que o exercício da cidadania se dá a partir do envolvimento diário

dos munícipes nos processos de construção política. Além do aspecto técnico, é possível

verificar, nas entrelinhas dos textos, uma forte ligação com os fatores que visam promover o

reconhecimento da diversidade social e cultural do município:

A primeira abordagem pode se desdobrar em conhecer melhor a estruturação

da Prefeitura e da Câmara Municipal, como se dá a atuação desses poderes

junto à população e entre si. Isso também pode ser válido para as outras

esferas de governo e outros poderes.

Do ponto de vista da população do município interessa saber quais as

questões que a mobilizam e se assuntos relacionados à cultura estão aí

inseridos. É preciso atentar para os movimentos sociais contemporâneos,

entidades sociais e grupos atuantes, bem como a relação destes com partidos

políticos e os poderes públicos.

Na terceira abordagem mencionada está a compreensão de como essa

relação ocorre na prática, que espaços formais e informais de diálogo e

participação estão estabelecidos e como influenciam as políticas públicas.

Obter uma percepção clara desse ambiente político-institucional é um ganho

considerável para a concepção do plano de cultura, especialmente no que se

refere às estratégias de implementação. (idem, ibidem, p. 12-13)

Concluímos, portanto, que a expressão diversidade cultural foi pouco explorada no

texto da caracterização, contudo é perceptível a preocupação em determinar parâmetros que se

relacionariam com essa questão, especialmente porque o texto, a partir dos aspectos

destacados, abordaram dimensões da vida humana e reforçaram a relação da cultura com a

história local e seu povo, suas práticas sociais e econômicas e seus modos de vida.

Observamos, ainda no módulo Análise da Situação Atual, que os participantes

contaram com uma descrição mais detalhada do conteúdo, mas a abordagem dada ao tema da

diversidade cultural a revelou como uma simples beneficiária e não como componente

diferencial no processo de elaboração do PMC. Apesar de havermos esmiuçado o conteúdo,

consideramos que, para explicarmos melhor a nossa percepção sobre a presença ou relação

185

com a diversidade, faz-se necessário trazermos parte desses conteúdos e também tecer alguns

comentários sobre os propósitos deles no contexto dos Planos.

Especificamente sobre o diagnóstico, reiteramos o que já dissemos anteriormente

sobre os conteúdos e suas abordagens nos diferentes materiais. Enquanto, no Guia 1, a

abordagem quanto ao diagnóstico foi enxuta, a abordagem dada no módulo Análise da

Situação Atual indicou que seria preciso responder à pergunta “como estamos no campo

cultural?” e afirmou que tal etapa deveria ser fruto da análise dos aspectos levantados na

caracterização, sendo possível ocorrer uma revelação sobre a situação das dinâmicas culturais,

envolvendo toda a sua diversidade de expressões e devendo gerar explicações sobre a

realidade na qual se quer atuar.

Além disso, considerou que o diagnóstico deveria ser resultado de um processo

participativo, uma vez que isso constituiria um enriquecimento para a construção do Plano de

Cultura. Por fim, o módulo reiterou a importância de dados e informações que balizassem

percepções e oferecessem qualidade e legitimidade ao diagnóstico, pois segundo a autora:

Como no planejamento é preciso muito mais do que percepções, a qualidade

do diagnóstico é, também e especialmente, resultante dos dados disponíveis

para as pessoas que participam de sua elaboração e do método utilizado para

proporcionar uma validação sistêmica suficientemente abrangente.

(BRITTO, 2014a, p.15)

As recomendações já descritas no capítulo anterior deram consistência ao material e

reforçaram as explicações que foram dadas oralmente pelos analistas e consultores da 1ª

Edição do Projeto ou descritas em revisões de documentos dos Planos.

O tema da participação social foi destacado no módulo Análise da Situação Atual, com

maior aprofundamento e tendo como base a afirmação de que o objetivo de construir um

diagnóstico sólido perpassa pela participação ampla da sociedade, em especial dos diferentes

atores e agentes culturais, com suas formas particulares de enxergar a cultura municipal.

Entendemos, porém, que os textos referentes ao aspecto participativo, nas duas edições

do Projeto, foram complementares e demonstraram a importância dos diferentes atores e

agentes no processo de elaboração de um PMC, considerando que as distintas visões e

experiências são contribuições valiosas para o planejamento do setor.

As recomendações, por sua vez, detalharam os procedimentos a serem adotados e que

seriam fundamentais para a qualidade técnica do documento final. Nesse ponto, consideramos

que houve ricas informações que puderam proporcionar referências sobre a diversidade

cultural. Para ilustrar, destacamos as seguintes recomendações (idem, ibidem, p. 16):

186

a) a recomendação 1 reforçou, dentre outras questões, as demandas das Conferências,

ou seja, aquilo que a comunidade defendeu como sendo prioritário para o desenvolvimento

cultural;

b) a recomendação 2 enfatizou que as diversas percepções e realidades culturais do

município deveriam ser analisadas sob a ótica do conjunto das dinâmicas culturais do

município e não sob as especificidades setoriais. Dessa forma, podemos prever que a

diversidade cultural seria integrada ao planejamento; e,

c) a recomendação 4 enfatizou que o diagnóstico seria fruto da análise das causas e

efeitos dos problemas que atingem o campo cultural, portanto cabe lembrar que abarcaria

questões específicas, mas também gerais do conjunto das dinâmicas culturais que envolvem a

sua diversidade.

O quesito Elaborando o diagnóstico cultural definiu a estrutura do texto do diagnóstico

e, diferentemente da primeira versão do roteiro, considerou que essa investigação deveria

estar baseada na descrição de três aspectos – segmentos culturais, manifestações e bens

culturais; infraestrutura física e tecnológica; e institucional e gestão – e três categorias de

análise – fragilidades e obstáculos; vocações e potencialidades e desafios e oportunidades.

No que se refere a esses aspectos, as explicações do módulo estimularam uma visão

ampla do conjunto de informações que deveria ser levantado, tais como agentes e expressões

culturais, sejam tradicionais ou contemporâneas, cadeias produtivas, os artistas, públicos,

consumo cultural e patrimônio material e imaterial. A essas informações somaram-se aquelas

relacionadas à infraestrutura, como os equipamentos e espaços culturais e suas capacidades de

atendimento, a institucionalidade da área, na qual se destacam os espaços culturais, o mercado

de produtos e serviços culturais, o acesso e acessibilidade e as redes de comunicação. Por fim,

o nível de implantação do SMC, as dinâmicas de articulação entre poder público e sociedade

civil, orçamento e financiamento.

Nesse conteúdo, um ponto a ser destacado em relação ao primeiro foi a importância da

relação entre cultura e comunicação, especialmente por conta dos avanços tecnológicos e pela

relevância que essa relação vem assumindo no campo da cultura. Esse conjunto de dados,

quando bem sistematizados, poderiam oferecer uma base adequada para a elaboração de um

bom diagnóstico, através do qual seja possível reconhecer a existência da diversidade cultural.

O módulo apresentou textos explicativos que direcionaram a atenção do leitor para

uma definição das categorias de análise do ponto de vista técnico, mas não mencionaram

explicitamente a expressão “diversidade cultural”. Ao analisarmos atentamente o material,

187

percebemos, porém, que o tema é abordado de forma indireta, visto que se apresenta nos

exemplos dos tópicos de conteúdo, como exposto a abaixo:

- em Vocações e Potencialidades:

1. Forte presença de grupos tradicionais nas festas carnavalescas e agrícolas;

2. Presença de grandes e médias empresas agroindustriais;

3. Localização física do município e meios de acesso aéreo, fluvial e viário

favorecem a mobilidade regional e nacional;

4. Infraestrutura de transportes favorece a circulação dos cidadãos;

5. Espaços físicos da maioria das escolas municipais são dotados de quadras

e/ou auditórios, propiciando o uso para ações culturais. (idem, ibidem, p. 19)

- em Fragilidades e Obstáculos:

1. Há baixo investimento na cultura pelo Poder Municipal – aplicação média

de 0,4% do orçamento nos últimos cinco anos;

2. Há registros de privilégio e há concentração no acesso a recursos públicos

de fomento à cultura;

3. As ações culturais da Prefeitura não são articuladas entre os órgãos

municipais;

4. Não há percepção pelos cidadãos do valor de suas tradições culturais;

5. Maioria absoluta de ações e eventos está concentrada em dois bairros da

cidade;

6. A rede escolar municipal não possui professores suficientes e qualificados

para ações culturais nas escolas. (idem, ibidem, p. 20-21)

- em Desafios e Oportunidades:

DESAFIOS DA CULTURA

1. Elevar os investimentos públicos na cultura;

2. Oportunizar o uso econômico sustentável do patrimônio artísticocultural;

3. Estabelecer uma gestão cultural integrada entre órgãos do município e

outras esferas de governo.

OPORTUNIDADES DA CULTURA

1. Oportunizar o uso econômico sustentável do patrimônio artísticocultural;

2. Integrar o setor privado nas políticas culturais;

3. Ampliar o público nos equipamentos culturais. (idem, ibidem, p. 20-22)

Através dos exemplos, percebemos que a diversidade cultural apareceu no material

didático do Projeto como beneficiária das ações ou políticas que possam vir a constar no

documento dos Planos. O que para nós ficou ausente foi a falta de tratamento direto sobre o

tema, item fundamental para a formulação do Plano de Cultura, considerando os conceitos

contemporâneos de cultura, políticas públicas culturais e desenvolvimento. Nesse sentido,

verificamos temas que trataram do fomento, da formação, dos equipamentos, da valorização

das identidades culturais, mas não foram relacionados efetivamente à diversidade, o que

demonstra uma abordagem insuficiente sobre esse conceito.

188

O princípio de tratar os diferentes de forma diferente também deveria integrar o

processo de trabalho, no qual seria preciso adotar critérios que pudessem dar conta de uma

análise mais ampla da cultura, sem perder de vista as diferenças e singularidades que ela

carrega. Sendo a diversidade cultural relevante para a cultura do século XXI, eventuais futuras

edições do Projeto Minc-UFBA deveriam abordá-la de modo mais aprofundado, pois:

Como se vê, não basta apenas conhecer o que se tem de positivo e negativo,

as facilidades e as dificuldades objetivas e subjetivas para o

desenvolvimento. É preciso “marcar” as ocorrências que exigirão foco

especial, para não se tratar todas as coisas da mesma forma quando exigem

abordagens diferentes. (idem, ibidem, p. 21)

O roteiro sugerido para o desenvolvimento do diagnóstico cultural, nas duas edições

do Projeto MinC-UFBA, contemplou informações que puderam ser utilizadas para pautar uma

análise crítica sobre a realidade local e seu relacionamento com a diversidade cultural.

Contudo, essa conexão ficou dependente do nível do comprometimento e de entendimento das

equipes locais.

Apesar de discorrer sobre o planejamento para a área da cultura, o módulo Análise da

Situação Atual não logrou, em nossa opinião, tecer uma associação satisfatória com o módulo

Cultura e Produção Simbólica, de modo a estimular o participante a refletir, de forma

integrada e transversal, sobre os conteúdos necessários à compreensão do campo da cultura e

do método de planejamento adotado para esta formação.

Parece-nos que a etapa de construção do diagnóstico foi o momento propício para que

essa relação pudesse ocorrer, uma vez que foi uma etapa que demandou uma participação

coletiva, não somente da comunidade cultural, mas de vários segmentos da sociedade,

propiciando debates e reflexões sobre a cultura local e, assim, buscando o reconhecimento da

diversidade cultural em toda a sua complexidade. Também faltou maior integração com os

temas do módulo Cultura e Desenvolvimento, que apresentou uma discussão sobre a conexão

entre cultura, diversidade e desenvolvimento. Acreditamos que essa relação é de extrema

importância para a elaboração de um diagnóstico cultural mais completo, devido ao

entrelaçamento dos conteúdos já estudados.

Ao trazermos diversas passagens desse módulo, queremos mostrar que foram feitas

observações e orientações no Projeto que reforçaram a importância de os Planos serem

construídos a partir de diferentes visões, ou seja, a partir do reconhecimento da diversidade

cultural. Não há dúvidas de que a cultura exerce um papel fundamental para um

desenvolvimento inclusivo, economicamente viável e capaz de promover a valorização do

189

indivíduo como portador de identidades culturais e com capacidades geradoras de sentido e

inovação. Mas, para que isso se traduza em um documento de planejamento público, é

necessário que a diversidade cultural seja o amálgama das políticas públicas de cultura,

reconhecida como componente indispensável de quaisquer ações de fortalecimento dessas

políticas. O aprofundamento desse tema, portanto, foi fundamental para uma compreensão

mais qualificada dos participantes.

Se a cultura é um campo novo, mas identificada como uma área diferenciada no

âmbito do planejamento público, qual é o aspecto inovador dessa metodologia? O que a difere

das demais? Os textos do módulo Planejamento Público não dialogaram com a expressão

diversidade cultural, apenas com o conceito de cultura. Será que podemos considerá-los

sinônimos? Como, então, isso afeta o processo de elaboração do PMC e, dentro dele, o

reconhecimento da diversidade cultural? São questionamentos que permeiam esta pesquisa e

que continuaremos aprofundando no decorrer desta dissertação.

3.3.3 Conteúdo do módulo Projeção do Futuro Desejado

A etapa de Projeção do Futuro Desejado teve seu módulo (BRITTO, 2014e)

estruturado com unidades que trataram da formulação de diretrizes e prioridades e da

formulação de objetivos. As considerações sobre formulação de diretrizes ofereceram

orientações técnicas para a formulação dos demais itens que compõem o Plano de Cultura. A

partir delas, os guias e os módulos deram orientações sobre os procedimentos a serem

utilizados para a elaboração dos Planos, tomando como base as informações organizadas na

caracterização e no diagnóstico.

As diretrizes priorizaram aspectos técnicos para a formulação do PMC e foram frutos

da compreensão dos elaboradores sobre todos os conteúdos já disponibilizados, estudados e

debatidos, associados às experiências de agentes locais que atuam no campo da cultura. As

diretrizes e prioridades tiveram como papel apontar a escolha a ser tomada para nortear as

políticas para o setor, mas cabe ressaltar que a relação com a diversidade cultural só seria

possível caso esse tema tenha sido devidamente tratado na etapa Análise da Situação Atual,

base para o restante do trabalho de elaboração do PMC.

As informações foram diretas, sendo possível relacionar os exemplos com a

diversidade cultural. Os textos explicativos, por vezes, trouxeram elementos que reforçaram a

importância da arena de reflexões e discussões para a busca de consensos em relação às

190

diretrizes e prioridades adotadas para o Plano de Cultura, levando-nos a crer que, mesmo

superficialmente, houve uma relação com a diversidade cultural.

O texto explicativo sobre formulação de diretrizes, presente nesse módulo, enfatizou a

importância das diversas possibilidades de consultas para a elaboração das diretrizes,

inclusive de documentos da UNESCO, contudo não citou dois documentos fundamentais que

discutem o tema da diversidade cultural em um contexto internacional e orientam os Estados-

membros sobre suas políticas para a diversidade. São eles: a Declaração Universal sobre a

Diversidade Cultural (UNESCO, 2002) e a Convenção sobre a Proteção e Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais (UNESCO, 2005). Ambos foram disponibilizados aos

participantes como material complementar, nas duas edições do Projeto, e só foram

mencionados nos módulos Cultura e Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento.

Acreditamos que, no âmbito dos Planos de Cultura, sendo a diversidade cultural um princípio

adotado nas políticas culturais, caberia não somente a indicação de leitura desse material, mas

também uma discussão mais atenta sobre eles, de forma que a diversidade pudesse ser tratada

como base central no Projeto MinC-UFBA.

O módulo Projeção do Futuro Desejado abordou, ainda, a importância da valorização

da cultura local, da integração federativa para a implantação das políticas públicas e da

democratização do acesso à cultura, pontos que entendemos serem fundamentais para o

fortalecimento da diversidade. Porém, nesse material, tais questões não foram relacionadas

explicitamente ao tema.

O conteúdo também afirmou que, para a elaboração de prioridades na área cultural, é

preciso deixar de lado questões pontuais ou relacionadas a um único segmento. Nessa

perspectiva, indicou que um Plano deve ser formulado com base no que é relevante para o

conjunto das atividades culturais locais.

Aqui não se trata apenas de se estabelecer prioridades para um segmento

específico, para ações ou para resolução imediata de problemas, mas para as

principais questões estratégicas do ponto de vista dos participantes, a partir

da análise da situação atual e das diretrizes estabelecidas. Isso deve ser

confrontado com indicações de prioridades oriundas de conferências de

cultura realizadas e que incluíram essa consulta. O que não está posto como

prioridade não significa que não vai ser viabilizado. […] as prioridades serão

referências essenciais para se formular objetivos e estimar os prazos de cada

meta e respectivas ações. Por sua vez, ao ter como parâmetro uma lista de

prioridades, gestores e técnicos podem, como no caso das diretrizes, balizar

decisões e encaminhamentos no cotidiano da administração. (BRITTO,

2014e, p. 14)

191

Sendo assim, mais uma vez acreditamos que é possível enxergar uma relação com o

tema da diversidade, que nesse caso se traduziu a partir da atenção e uso do material extraído

das Conferências de Cultura. Para ilustrar melhor as nossas percepções, destacamos dois

exemplos do Plano Municipal de Cultura de Campo Grande, apresentados no Guia 1:

- Promover o intercâmbio cultural com outras cidades do Brasil e do mundo,

valorizando a cultura local;

- Promover a atuação transversal da política de cultura com outras políticas

públicas, como educação, turismo, meio ambiente e desenvolvimento

socioeconômico. (UFBA, 2012c, p. 11)

Nesse sentido, o intercâmbio cultural deve ultrapassar os limites territoriais,

promovendo o reconhecimento da interculturalidade. Ao abordar esse tema, o PMC de Campo

Grande (CAMPO GRANDE, 2009) abriu a possibilidade de que sejam traçadas metas e ações

que contemplem as fragilidades e potencialidades relacionadas ao intercâmbio cultural,

oferecendo aos artistas e fazedores culturais um amplo leque de possibilidades de trocas. Já a

atuação transversal da política de cultura com outras políticas públicas pode, de alguma

forma, influenciar na promoção da diversidade cultural, mas não garante o seu

reconhecimento enquanto princípio básico para as políticas públicas.

Como já dissemos, algumas práticas realizadas na primeira edição para a aplicação da

metodologia de elaboração de Planos foram registradas e transformadas em orientação

técnica. O tratamento dado para a elaboração das prioridades revelou a importância das

discussões e reiterou o caráter político que possui, pois, como bem descreve o módulo, as

prioridades são escolhas políticas.

A partir da análise que realizamos sobre as prioridades, observamos questões que

expuseram uma visão ampla da cultura, porém reforçamos que a diversidade cultural foi

apresentada como mais um assunto dentre todos os que foram trabalhados nos conteúdos. É o

que se observa nos exemplos para construção da matriz analítica de prioridade: cultura

tradicional e popular; acesso à cultura; formação cultural; equipamentos culturais; diversidade

cultural; economia da cultura etc.

No módulo Projeção do Futuro Desejado, os objetivos foram divididos em

estratégicos, táticos e operacionais, estes com explicações técnicas coerentes com a função de

cada um dos objetivos. Quando elaborados a partir de uma compreensão ampla das

finalidades a serem alcançadas para o desenvolvimento cultural, espera-se que esses objetivos

atendam às necessidades locais, pois a partir deles começa-se a ter clareza sobre quais

aspectos da cultura são relevantes e potencialmente importantes para o desenvolvimento.

192

Notamos, claramente, que o texto do módulo ganhou um teor técnico muito acentuado,

pois visou orientar os participantes na formulação de objetivos adequados para um documento

de planejamento como o PMC. Nesse material, o tema da diversidade cultural foi apresentado

de forma mais direta. Destacamos, ainda, a preocupação com a coerência interna do Plano,

pois os participantes foram orientados a sempre se remeterem aos itens das etapas anteriores,

reforçando, assim, a importância do diagnóstico cultural para a elaboração dos itens

subsequentes.

O Quadro 24 traz alguns exemplos que relacionam os objetivos e a diversidade

cultural:

Quadro 24 - Exemplos de objetivos relacionados à diversidade cultural

Objetivos do módulo Projeção do Futuro Desejado (2ª Edição)

Objetivo estratégico: Ampliar o acesso dos públicos a ações e eventos culturais

Objetivo tático: Descentralizar ações culturais

Objetivo operacional: Adaptar espaços públicos para eventos multiculturais descentralizados

Fonte: a autora, a partir de dados de BRITTO (2014e, p. 18).

Percebemos que esses objetivos reforçaram a importância da diversidade cultural a

partir de uma compreensão sobre o acesso à cultura, em um processo de fruição e construção

da cidadania cultural. Porém não foi feita uma relação direta com a diversidade, que pudesse

tratá-la como um princípio basilar para o Plano de Cultura.

3.3.4 Conteúdo do módulo Operacionalização do Futuro Desejado

No módulo Operacionalização do Futuro Desejado (BRITTO, 2014c), a abordagem

sobre estratégias veio carregada de informações, como um pequeno histórico sobre a

utilização das estratégias e o caminho percorrido até o conceito atual, de que “são

posicionamentos políticos e/ou técnicos, convergentes e articulados, de caráter genérico, para

tornar o Plano factível na perspectiva da visão de futuro projetada para a cultura.” (idem,

ibidem, p. 9). O Guia 1, da 1ª Edição, trouxe um exemplo, oriundo do PNC, que apresentou

uma estratégia voltada para a institucionalidade da cultura:

Consolidar a implantação do Sistema Nacional de Cultura – SNC como

instrumento de articulação, gestão, informação, formação, fomento e

promoção de políticas públicas de cultura, com participação e controle da

193

sociedade civil e envolvendo as três esferas de governo (federal, estadual e

municipal). (UFBA, 2012c, p. 12)

Trata-se de uma estratégia que ratifica a importância de consolidação do SNC como

instrumento que congrega diversos aspectos para o fortalecimento da cultura, em suas

diversas frentes de promoção, ressaltando a participação e o controle social. Aqui verificamos

a presença da diversidade através da abordagem feita à participação e controle social, que

pressupõem a presença de representações de diferentes formas de expressão na

implementação da política de cultura, reiterando, assim, o que dispõe a Constituição Federal,

nos artigos concernentes ao campo da cultura: art. 215, 216 e 216 A (BRASIL, 2016).

Dessa forma, entendemos que essa estratégia pode contemplar a diversidade cultural a

partir da compreensão de que o SNC é um sistema articulado que visa dar conta da

instrumentalização do poder público em parceria com a sociedade, tendo como um dos seus

princípios a atenção com a diversidade.

Em um segundo exemplo extraído desse módulo, tem-se a estratégia de

“desconcentração territorial” (BRITTO, 2014c, p. 13), onde vemos a preocupação com a

realização de ações culturais nas diversas regiões do município, que pode ter o objetivo de

estimular, na formulação do PMC, a abrangência de manifestações culturais de diversas

localidades, bem como os públicos localizados nos vários pontos do território, tanto em áreas

urbanas como rurais. Isso reforça as premissas e princípios tratados na introdução desses

conteúdos e que se relacionam com o desenvolvimento e com a visão sistêmica e integrada,

promovendo um olhar amplo sobre a cultura e seus lugares de realização. Pressupõe, portanto,

que uma gestão para a diversidade se dá principalmente pela capacidade de enxergar o

conjunto das expressões culturais, seus territórios e a relação entre eles.

Nesse módulo, as informações foram tratadas com mais detalhes e ofereceram bases

para a formulação, redação e interpretação de metas e ações, incluindo um quadro que

apresentou uma relação entre elas e os objetivos. As recomendações para elaboração de metas

foram eminentemente técnicas, sendo uma etapa mais objetiva do Plano. Nessa fase, os

desejos foram transformados em propostas concretas e aplicáveis à realidade, visando à

superação dos desafios e das fragilidades detectados no diagnóstico. Aqui, a subjetividade

exposta em ideias e propostas para a política cultural foi traduzida em tópicos mais objetivos,

em sintonia com a estruturação mais esquemática do planejamento para a área pública.

Nessa fase, profissionais de planejamento e finanças públicas seriam fundamentais,

porém, considerando as realidades locais, nem sempre foi possível garantir a presença desses

194

especialistas nos municípios participantes do Projeto. É importante ressaltar que não

encontramos, em nenhum dos documentos da metodologia, relação desses temas com a

diversidade cultural para além das interpretações que realizamos.

Pelos motivos já expostos ao longo deste trabalho, estamos nos apropriando dos

exemplos para analisar o tratamento dado pelo Projeto à diversidade cultural, por isso, a título

de comparação entres as edições do Projeto, selecionamos o seguinte exemplo da 1ª edição:

Meta 12 do PNC: “100% das escolas públicas de educação básica com a

disciplina de Arte no currículo escolar regular com ênfase em cultura

brasileira, linguagens artísticas e patrimônio cultural”. […]

Ação – Adequar espaços para o ensino e a prática de arte em escolas de

educação básica. (UFBA, 2012c, p. 13)

Os exemplos contidos no Guia 1 trataram do tema de formação em arte e cultura e a

qualificação de equipamentos culturais. A meta considerou o uso do espaço da rede pública de

ensino como adequado à formação nesses campos. Entendemos que a diversidade cultural

ganhou reconhecimento, à medida que foram incorporados elementos que podem favorecer o

entendimento sobre a cultura e a ocupação desse tema em espaços formais e não formais de

educação. A partir disso, consideramos que o tema “diversidade cultural” foi contemplado,

porém, mais uma vez, não diretamente ou como elemento principal.

Já no módulo da 2ª edição, foram postos exemplos mais completos, relacionando

objetivo, meta e ação, entre os quais selecionamos o seguinte:

Meta: Número de pessoas beneficiadas com ações de incentivo ao

empreendedorismo baseado em culturas tradicionais.

Ações: Incentivo ao empreendedorismo baseado em culturas tradicionais etc.

(BRITTO, 2014c, p. 23)

Observamos que nesse exemplo ocorreu um fato novo, que foi a associação do

empreendedorismo às culturais tradicionais, uma dica interessante que pode ter alertado os

participantes da formação a trabalhar as culturas tradicionais a partir de um caráter inovador.

Sendo o planejamento feito de acordo com as premissas e princípios estabelecidos na

metodologia desenvolvida, forneceu uma série de compreensões sobre a cultura e sua

diversidade. O tópico Como redigir e interpretar as metas e ações (idem, ibidem, p 25-27)

apresentou modelos sobre a circulação de eventos culturais em bairros e regiões do município

e sobre a institucionalidade e pontos de cultura.

Um destaque nesse módulo foi a atenção dada à relação entre metas nacionais e locais,

que tanto pode se dar no âmbito das metas quanto das ações. Essa vinculação ressaltou a

relevância da integração federativa, reforçou a consolidação do PNC e do SNC e também

195

incentivou os municípios a relacionarem as metas do PNC com as questões locais,

especialmente em relação à diversidade cultural. Desta forma, verificamos mais uma vez que

o tema da diversidade cultural foi tratado a partir dos exemplos, mas pouco trabalhado nos

conteúdos explicativos.

Para a análise do trecho que trata da identificação de resultados e impacto, cabe,

inicialmente, esclarecer que, como trabalharemos aqui com exemplos de metas já

apresentados e analisados na etapa anterior, não voltaremos a descrevê-los. Procuraremos

abordar outros pontos do conteúdo onde o tema da diversidade cultural apareceu, reforçando

que o nosso objetivo é entender como a diversidade cultural foi tratada no âmbito do Projeto

MinC-UFBA, levando em consideração os conteúdos, a metodologia e o processo adotados.

No que se refere aos resultados e impactos, o Guia 1 resumiu-os a uma nota

explicativa que demonstrou a relação entre eles e as metas, enquanto o módulo

Operacionalização do Futuro Desejado foi mais explicativo e detalhado tecnicamente,

apresentando a relação entre resultados e impactos e os 3Es da administração (eficácia,

efetividade e eficiência). Os resultados estão relacionados à eficácia e os impactos, à

efetividade, ou seja, o que se espera como consequência da implementação de uma política

pública e o que efetivamente constitui uma transformação da realidade.

Nesse sentido, a eficácia é o ponto mais visível para a sociedade, pois é o que se revela

mais facilmente, cujos resultados podem ser observados como “nível de alcance dos fins

projetados; efeitos mensuráveis e demonstráveis” (UFBA, 2014c, p. 29). Dessa forma,

podemos interpretar que é a sociedade que deve validar as políticas, a fim de ser contemplada

em sua diversidade de interesses.

Nas bases de formulação de resultados e impactos, destacamos que é preciso averiguar

a ação realizada e estabelecer critérios de análise para medir os resultados e impactos

ocorridos a partir da efetivação das metas e ações propostas. No âmbito do Projeto MinC-

UFBA, esse tipo de orientação, mesmo com uma abordagem técnica, teve o potencial de

estimular os planejadores e participantes do Plano a se atentarem para o grau de

responsabilidade quanto às ações públicas no campo cultural.

Isso se constituiu como um aprendizado para todos, tanto para aqueles que já possuíam

experiência na gestão pública, como para aqueles que nunca haviam tido contato com a

cultura, bem como para os agentes culturais que nunca haviam desenvolvido capacidades

gerenciais.

196

Mais uma vez, analisaremos os exemplos oferecidos pelo conteúdo, para identificar se

houve ou não uma relação desse assunto, eminentemente técnico, com o tema da diversidade

cultural, conforme Quadro 25:

Quadro 25 - Relação entre resultados e impactos

Resultados previsto Impacto esperado

Eventos e ações culturais em

realização em 70% das regiões

Fruição cultural dinamizada e descentralizada, com maior

número de pessoas usufruindo dos eventos e ações.

Formas de entretenimento de crianças e jovens alterados

positivamente com a introdução de hábitos culturais.

Espaços de sustentabilidade ampliados para

empreendedores, artistas e trabalhadores da cultura.

Postura de cidadania cultural estimulada.

Ações de culturas tradicionais em

realização em 10 regiões

Fruição cultural dinamizada e descentralizada, com maior

número de pessoas usufruindo dos eventos e ações.

Cultura tradicional mais valorizada e preservada. Espaços

de sustentabilidade ampliados para mestres, artistas e

outros integrantes da cultura tradicional.

Postura de cidadania cultural estimulada.

Ações de empreendedorismo

baseadas nas culturas tradicionais

realizadas com 1.000 pessoas

beneficiadas

Espaços de sustentabilidade ampliados para mestres,

artistas e outros integrantes da cultura tradicional.

Economia da cultura dinamizada.

Fonte: BRITTO, 2014c, p. 34.

Podemos observar que tanto os resultados esperados quanto os impactos registraram

aspectos que podem interferir nas dinâmicas culturais, abrangendo diferentes dimensões da

vida cultural de uma localidade. Os resultados focaram na realização ou execução das metas e

ações de um PMC, enquanto os impactos centraram no nível de transformação que se pode ter

ao longo do processo de investimento nas políticas públicas para a cultura.

É importante mencionar, mais uma vez, que a nossa análise se baseia nos enunciados

de exemplos contidos nos conteúdos, portanto não é possível afirmar que realmente houve

transformações na realidade local, fato que só poderia ser avaliado em futuras pesquisas sobre

a efetividades dos PMCs.

3.3.5 Conteúdo dos módulos Projeção de Prazos e Recursos e Monitoramento do Plano

Municipal

O módulo Projeção de Prazos e Recursos (BRITTO, 2014d) trouxe uma abordagem

eminentemente técnica, sem qualquer trecho com menção aos temas participação social e

197

diversidade cultural. Usando como exemplos as mesmas ações fictícias de outros módulos –

Realização de eventos e ações culturais descentralizadas e Construção e reforma de espaços

para uso cultural –, tanto a unidade que tratou de prazos, incluindo a composição de

cronograma, quanto aquela voltada para recursos e fontes de financiamento, deram ênfase ao

aspecto conceitual, tendo o cuidado de apresentar recomendações técnicas para o processo de

elaboração dessa parte do PMC.

De forma análoga, no módulo Monitoramento do Plano Municipal (BRITTO, 2014b),

a unidade de formulação de indicadores abarcou dados conceituais e recomendações a serem

observadas na construção desses elementos, estruturados a partir das metas definidas

anteriormente. Já a unidade sobre monitoramento retomou a questão da participação social,

destacando o protagonismo das instâncias de representação social no plano de gestão do

PMC. Dessa forma, reiteramos mais uma vez que a relação entre método e diversidade

cultural se deu através da afirmação sobre os processos participativos que envolveram e

envolvem um Plano de Cultura, abordando, portanto, a diversidade como beneficiária e não

como elemento balizador.

3.3.6 Metodologia

A metodologia adotada pelo Projeto na sua 2ª Edição, como descrita no capítulo 2, foi

estruturada para oferecer uma formação em Planos Municipais de Cultura em formato EaD,

de modo a abrigar um maior número de municípios e seus representantes. Inicialmente, as

atividades propostas foram realizadas com alterações no cronograma de realização, devido a

acontecimentos próprios de um processo que se encontrava em amadurecimento.

A proposta de realizar uma nova edição do Projeto, com o objetivo de promover maior

celeridade na implantação de PMCs, impulsionou a equipe a definir um novo escopo de

atuação, bem como construir outras estratégias de realização, com um corpo profissional

compatível, com competências específicas para atuarem em diferentes instâncias. Em outras

palavras, foi mantida a preocupação em oferecer um atendimento cuidadoso para os

beneficiários do Projeto.

Com a ampliação da equipe e a maior presença de profissionais vinculados à

EAUFBA, foi necessário construir uma sintonia entre os grupos através de reuniões de

alinhamento e durante o andamento das atividades. Além disso, deu-se uma mudança radical

198

na condução da gestão do Projeto, que passou a ser mais descentralizada e a dar maior

autonomia às equipes, se configurando como proposta de gestão democratizada.

Avaliando tais mudanças em face do resultado, podemos identificar alguns pontos

positivos. O principal deles é que oportunizou maior acesso de pessoas à metodologia de

Planos Municipais de Cultura, ampliando significativamente o número de municípios

envolvidos. Em segundo lugar, possibilitou a formação de uma rede de interlocutores,

envolvendo gestores, conselheiros de cultura, lideranças culturais, profissionais da gestão e

políticas culturais, instituições e organizações da sociedade civil. Em terceiro lugar, ampliou

os conteúdos de elaboração de Planos, considerando que, na edição anterior, foi identificada a

necessidade de aprofundamento de conteúdos teóricos associados ao campo das políticas e

gestão culturais. Nesse sentido, o objetivo foi ampliar o nível de compreensão dos

participantes sobre o conceito de cultura e outros assuntos que incidem sobre o planejamento

e desenvolvimento local, como a diversidade cultural, o SNC e seus correlatos subnacionais.

Além disso, ampliou as informações técnicas sobre o método de elaboração dos Planos, a fim

de melhorar a qualificação dos agentes envolvidos na formação.

Nessa nova edição, a metodologia sofreu alterações no cronograma previsto, como

consequência das dificuldades que os participantes tiveram em assimilar o conteúdo e o

método de elaboração de Planos, associado ao tempo que eles tiveram para se dedicar ao

estudo do material. Em alguns casos, registrou-se ainda que o representante do poder público

era o próprio gestor, que frequentemente utilizava como justificativa a falta de tempo para

conciliar as atividades da função com a dedicação necessária à formação.

Quando esse representante era um funcionário indicado, muitas vezes ele justificava a

ausência com a falta de tempo, dificuldade na assimilação do material e a não inclusão do

tempo de estudo dentro da carga horária de trabalho, apesar de essa inclusão ter sido prescrita

como um dos critérios para a participação do município no Projeto. Na edição anterior, o

tempo de dedicação ao estudo do material também não foi respeitado pelos participantes.

A entrega dos exercícios foi flexibilizada com a extensão de prazos, mas somente isso

não resolveu o problema. Contudo, é importante mencionar que o calendário do Projeto não

considerou o período de festas, tanto em âmbito nacional, como no regional ou local, como

observou um dos tutores: “Um dos graves problemas do Projeto para mim sempre foi o

cronograma. A formação foi muito extensa, iniciou em um período ruim (meados do segundo

semestre) e pegamos todos os feriados de fim e início de ano” (EAUFBA. 2015a, p. 3).

Constatou-se que, para os participantes, o tempo para conclusão das atividades foi

pequeno, contudo, diante do contexto observado, questionamos se apenas a dilatação do prazo

199

resolveria o problema. Já para os representantes da sociedade civil, além do tempo, verificou-

se, em alguns casos, a falta de sinergia entre a dupla de profissionais que representavam o

município. Como exemplo, alguns exercícios que exigiam resolução em dupla foram

respondidos individualmente, decisão aceita pela coordenação do Projeto ao perceber

problemas de relacionamento e falta de diálogo entre os integrantes.

Outra questão recorrente foi a dificuldade de apropriação dos conteúdos apresentados,

alegada em face da densidade e complexidade dos textos acadêmicos e material didático,

gerando a sugestão de aperfeiçoamento do conteúdo a ser trabalhado em futuras edições do

Projeto. Em contraposição a esse problema, houve a falta de dedicação ao estudo dos

módulos, como mencionamos anteriormente, e esse fato foi uma das principais causas da

dificuldade de compreensão dos assuntos. Tal situação poderia ter sido mitigada se o Projeto

contasse com uma coordenação pedagógica que pudesse atuar junto aos assistentes técnicos e

tutores, com o objetivo de identificar essas fragilidades e apontar condutas e decisões.

Esse fato, inclusive, merece atenção, já que, apesar de a equipe de assistentes técnicos

ter sido composta por profissionais formados, com experiência no campo da gestão e das

políticas culturais e estarem prontos para se articularem com os gestores, a orientação

pedagógica ficou à margem do processo. Esse papel, com base nas informações sobre os fatos

que se desenrolaram, teria a importante função de entender os descompassos e articular

possíveis correções. A atuação da equipe de assistência técnica foi marcante nas reuniões da

equipe gestora, contribuindo significativamente para a melhoria do processo nos Encontros

Regionais, mas frágil do ponto de vista da coesão em torno do aspecto pedagógico.

Após a conclusão da etapa dos módulos conceituais, foi realizada a avaliação do grupo

de tutores, resultando no desligamento de alguns deles. Esses desligamentos ocorreram de

forma bastante criteriosa, em conjunto com a equipe de supervisão de tutoria e alguns

integrantes da equipe de assistência técnica, considerando tanto o desempenho na etapa

concluída quanto a familiaridade com formação EaD, que seria a base da etapa seguinte, de

elaboração de Planos.

Essa alteração da equipe de apoio causou insegurança em alguns participantes, pois,

com o início da fase de preenchimento do template, eles passaram a receber orientações de

outros tutores e dos assistentes técnicos, tendo sido essa uma transição delicada, considerando

que a ferramenta não estava pronta. Em poucos casos, o tutor pôde atuar simultaneamente,

orientando as atividades no moodle e no preenchimento do template.

Além do cronograma, foram avaliados os módulos, a equipe e o processo da formação.

As observações realizadas sobre os conteúdos demonstraram que, apesar de a formação ter

200

sido bem avaliada e valorizada pelos participantes, alguns pontos foram considerados de

singular importância para o aprimoramento do trabalho, como:

a) os módulos deveriam ser acompanhados por um material audiovisual, atendendo à

diversidade de pessoas envolvidas e os diferentes graus de instrução das mesmas;

b) os conteúdos deveriam dialogar melhor com as realidades locais, facilitando a

compreensão dos textos, que pareceriam densos e complexos;

c) os conteúdos dos módulos básicos e de Planos poderiam dialogar melhor,

considerando a linguagem, os exemplos e os exercícios; e,

d) a apresentação de textos que tratassem de orçamento (financiamento, prazos e

recursos), relacionados aos instrumentos utilizados, além de promover interação com a

política de financiamento nacional.

A experiência da segunda edição do Projeto, com a participação de representantes da

sociedade civil, demonstrou que, para o êxito de um projeto dessa natureza, é preciso um

conhecimento mínimo da sociedade sobre o PMC, seus propósitos e objetivos, para que ela se

instrumentalize e possa desempenhar bem o controle social. Acompanhar e monitorar aquilo

que não se conhece é um tanto complicado.

As avaliações realizadas ao longo do processo possibilitaram o reconhecimento do

Projeto como ação fundamental para o desenvolvimento dos Planos de Cultura e para a

formação técnica dos envolvidos. Ademais, as percepções obtidas durante o desenvolvimento

do trabalho e as contribuições oferecidas pela equipe e pelos participantes possibilitaram tanto

o ajustamento da metodologia no transcorrer do trabalho, como a apresentação de sugestões

para aplicação em uma eventual nova versão do Projeto.

A realização de um evento desse porte, à distância, ao passo que possibilitou a

participação de um número significativamente maior e mais disperso de representantes

municipais, apresentou-se também como um desafio e exigiu cuidados específicos para

questões inerentes a esse tipo de metodologia. Entre essas questões, podemos destacar a

evasão, tanto pelo simples abandono do participante, como pela priorização de outros

assuntos mais próximos a ele, ou ainda devido ao baixo nível de interação dos representantes

municipais nos espaços de discussão, pela insegurança ou timidez em expor ou defender seus

pontos de vista.

Houve fatores externos não previstos que atuaram como importantes dificultadores e,

por decorrência, comprometeram o nível de participação e de interesse dos representantes

municipais. A carência de infraestrutura adequada foi uma dessas causas, especialmente para

pequenos municípios afastados dos grandes centros urbanos, a exemplo daqueles localizados

201

na Região Norte, onde alguns participantes expressaram dois aspectos significativos: a

dificuldade de conexão com a internet e a dificuldade para o deslocamento a lugares que

pudessem possibilitar acesso diário ao template e ao ambiente moodle.

Os Encontros Regionais, por sua vez, demonstraram que, além de terem sido

encontros para avaliação, foram também momentos de escuta aos problemas enfrentados

pelos participantes e um reforço na capacitação. A exposição da metodologia pela equipe da

EAUFBA corrigiu alguns equívocos de compreensão e estimulou alguns municípios a não

desistirem do processo, mantendo-se na etapa de monitoramento do Plano, que perdurou por

mais três meses e contribuiu significativamente para que municípios mais atrasados pudessem

retomar o trabalho com mais ânimo e esperança de acerto.

Essa edição, sem dúvida, possibilitou a ampliação do Projeto quanto ao número de

municípios e participantes, com a disseminação dos conteúdos em grande escala. Mas, apesar

disso, seu alcance ficou muito limitado, quando observado o número de pessoas que

terminaram a formação e o total de minutas de Planos elaboradas.

A ausência de um mapeamento prévio de informações sobre as realidades locais

resultou no desenvolvimento de uma metodologia padronizada, o que comprometeu um

aporte mais amplo de pontos de vista e a formulação de arranjos diversificados de soluções às

demandas municipais. Isso se mostrou como um obstáculo à participação efetiva e ao

aprendizado e também contribuiu negativamente para o envolvimento superficial ou mesmo

para a evasão dos participantes, talvez por terem se sentido pouco representados no

desenvolvimento do trabalho.

Tais acontecimentos revelam que a aplicação de formação EaD, especialmente no

campo das políticas culturais, deve, antes de qualquer coisa, buscar entender minimamente em

que contexto irá se desenvolver, tendo a preocupação de manter um diálogo prévio ao início

dos trabalhos para se familiarizar com as dinâmicas locais.

3.3.7 Processo formativo: fóruns de discussão teórica

Os fóruns de discussão teórica, realizados na plataforma moodle, integraram a etapa do

processo formativo. A partir das interações dos participantes e do desenrolar dos debates, foi

possível construir um panorama do que ocorreu durante o processo de trabalho, como as

discussões sobre os temas e a própria metodologia e questões que nortearam o período da

formação.

202

Na análise dessa etapa, como detalhado anteriormente, selecionamos os fóruns

associados aos módulos Cultura e Produção Simbólica, Cultura e Desenvolvimento e Análise

da Situação Atual, com recorte na amostra composta por dez grupos formados por

representantes municipais. A seguir, apresentamos um resumo e algumas observações

realizadas a partir das interações dos integrantes da formação – tutores e representantes

municipais – e uma análise sobre alguns aspectos que nortearam a gestão do Projeto nessa

fase.

O fórum Cultura e Produção Simbólica (EAUFBA, 2015d) foi norteado por questões

que levaram os participantes a refletirem sobre o conceito de cultura, sua relação com a

diversidade cultural, com a arte e o Plano de Cultura; se e como ocorre o desenvolvimento em

sociedades ancoradas em permanências e naquelas abertas à mudança; e, por fim, qual a

relação entre memória, patrimônio e identidade existente nos programas e ações no

município. De alguma forma, os temas âncoras para o debate foram discutidos pelos

participantes. O conceito de cultura também foi bastante debatido, o que impulsionou a

abordagem sobre vários aspectos das realidades locais e permitiu um entrelaçamento com

outros assuntos propostos no módulo.

Em geral, as intervenções dos tutores foram sempre no sentido de motivar e estimular

a discussão, porém enquanto em alguns grupos essa mobilização apresentou bons resultados,

como um debate rico e participativo, em outros, a discussão ficou limitada a poucos

representantes municipais. Ademais, não observamos um maior aprofundamento sobre

questões relacionadas à diversidade cultural, apesar de ter sido enfatizada a importância das

liberdades culturais e da participação social para a efetividade do Plano enquanto política de

valorização e fortalecimento cultural.

Para alguns, a compreensão do conceito de cultura pressupôs o reconhecimento de

múltiplas vivências, ambientes e tempos que tornam possíveis o encontro entre a arte e a

cultura, a partir dos saberes e fazeres tradicionais e “transitórios”. Cultura como algo que

favorece a compreensão e o respeito aos modos de ser e existir, peculiares de um povo e do

seu patrimônio, e que assegura uma identidade, ligada aos antepassados e transmitida de

geração a geração.

Nos debates, surgiu uma compreensão mais coerente com o conteúdo apresentado no

módulo, afirmando que cultura possui um conceito abrangente e que contempla as três

dimensões que devem ser integradas em um projeto de desenvolvimento. Isto é, cultura como

sendo:

a) essencial no processo democrático de construção de cidadania;

203

b) tudo que é inerente ao homem; e,

c) vinculada às práticas sociais, culturais, de memória, religiosas, artísticas e

intelectuais que dão conformidade à vida em sociedade.

Daí, evoluiu-se para a afirmação de que, nessa relação, o PMC deve assumir o papel

de promover a participação social nas decisões, na implantação e implementação das políticas

públicas, bem como garantir o acesso dos indivíduos aos bens culturais e ao consumo de bens

materiais e imateriais. Nesse sentido, apesar de as intervenções, por vezes, se mostrarem

inconsistentes em relação aos conceitos, observamos que a maioria dos participantes

demonstrou uma compreensão sobre a cultura como inerente ao ser humano, reforçando o que

foi apresentado no módulo. Alguns enfatizaram, ainda, o caráter transversal da cultura,

especialmente em relação à educação, cujo relacionamento conjunto e fortalecido pode

contribuir para uma cidadania cultural de crianças e jovens e promover, de forma mais ampla,

o desenvolvimento integral da sociedade.

Nas discussões do fórum, tradição foi entendida como pilar para a manutenção das

identidades culturais e para as dinâmicas culturais, e por mais que essas se renovem e inovem,

são referendadas por essa tradição. Ou seja, os participantes consideraram que, mesmo a

tradição tendo sido secularmente abandonada pelas políticas públicas, a preservação cultural é

a base para uma compreensão da diversidade, na medida em que ela imprime uma

personalidade cultural.

As relações estabelecidas entre cultura, diversidade e PMC expressaram um

entendimento sobre a importância da promoção e proteção das expressões culturais,

reiterando que são fruto de modos de ser e pensar e que também incluem divergências e

contradições. O Plano também foi visto como um instrumento capaz de promover um convite

à participação da sociedade no processo cultural:

Conceber as relações entre diversidade, cultura e arte, no âmbito de um

Plano Municipal de Cultura (PMC) desde a sua tematização pressupõe o

entendimento de que há vivências multidimensionais, de que há

multisseções, ambientes e tempos nos quais a cultura e arte contemporânea

se encontram com fazeres e saberes tradicionais e transitórios, sendo um

conjunto de experiências que um PMC não pode deixar de abordar de uma

forma producente. (idem, ibidem)

Assim, o PMC foi visto como instrumento de reconhecimento, preservação e

promoção da cultura e da arte, capaz de contribuir para a organização dos setores e atividades

culturais, ampliação de públicos e descentralização da atuação cultural em todo o município,

revelando um compromisso com a diversidade cultural e uma interseção entre elementos

204

pertencentes a vários conjuntos, dentro de uma dinâmica de mobilidade, pluralidade e

continuidade. Trata-se, então, de um instrumento de articulação de projetos e ações, levando

em conta o caráter da transversalidade e devendo refletir as expressões culturais locais.

Entretanto, percebemos que, no que concerne ao entendimento de cultura, os

participantes demonstraram conceber as manifestações tradicionais como a dimensão mais

visível e legítima da cultura em seus territórios, mesmo quando se reconhecia a diversidade

cultural como um valor positivo. As expressões mais dinâmicas e contemporâneas foram

secundarizadas na construção do conceito de cultura. As discussões revelaram, a todo

instante, a importância de se instituir uma política que desse conta do reconhecimento e

valorização das identidades culturais regionais, consideradas esquecidas pelas políticas

públicas, vinculadas às tradições ou comunidades étnicas.

Durante todo o processo, houve a preocupação em destacar a importância de deixar

claro qual o conceito de cultura sempre esteve presente, em função de sua influência na

própria perspectiva de construção do Plano:

Primeiro é preciso explicitar qual conceito de cultura norteia o plano. Porque

se esse conceito não considera cultura como a expressão das manifestações

humanas, como toda a produção realizada para garantir a existência e

subsistência de um grupo social, dando sentido ao seu mundo, então não há

como conceber a diversidade. Dessa forma é imprescindível que um plano

municipal de cultura expresse a diversidade como um dos seus princípios e

que a arte seja tomada como uma das formas de expressão das manifestações

culturais dos diversos grupos que constituem a população de um município.

Não há como abordar o conceito de cultura dentro de uma concepção de

homogeneidade e muito menos de hierarquia. As culturas são diversas e

apresentam singularidades que as colocam no mesmo patamar de igualdade.

(idem, ibidem)

O debate sobre o assunto também levou os participantes a perceberem a importância

do envolvimento dos diferentes atores e agentes culturais e sociais do município nas

discussões sobre cultura e o PMC. Destacou-se, ainda, que o conhecimento sobre a história

local se constituiu como um fator a influenciar, positiva ou negativamente, o reconhecimento

da cultura como expressão de singularidades e identidades locais que deveriam merecer

proteção e valorização.

Vejo a cultura como algo amplo e vasto, repleto de possibilidades e

identidades. A arte seria parte integrante de nossa cultura e quando penso

especificamente na construção do plano, vivendo na região em que vivo,

acredito que algumas especificidades precisem ser vistas com determinada

atenção, as questões amazônicas, indígenas, caboclas, mas sem deixar de

lado a importância das influências da colonização de outras regiões do nosso

país que migraram cá para o norte e assim contribuíram e se integraram

205

dando então, origem ao cenário que apresentamos atualmente. (idem,

ibidem)

Apesar de menos recorrente, a visão da cultura como algo mais amplo e para além das

tradições também apareceu no fórum, alimentando um discurso afirmativo de que a política

pública de cultura deveria beneficiar todas as expressões culturais, fossem elas tradicionais ou

não. Outra postura recorrente foi a reprodução de uma perspectiva que associou a política

cultural à realização de eventos.

De forma interessante, é possível afirmar que os debates e a leitura do material de

estudo do módulo foram essenciais para ampliar a compreensão sobre essa visão e aprofundar

melhor a discussão, saindo de um entendimento mais voltado para o senso comum e

entendendo-o a partir da lógica da gestão contemporânea da cultura.

Outra preocupação que sempre surgiu no fórum foi sobre o entendimento do conceito

de cultura pelos gestores públicos, que demonstravam, segundo os participantes, pouco saber

sobre a complexidade do campo cultural e sobre o reconhecimento de valores e práticas

culturais, especialmente aquelas que envolviam as culturas juvenis urbanas. Essa negação se

relacionaria à concepção de que essas manifestações expressam um processo de assimilação

de padrões culturais externos, percebido como negativo para a preservação das identidades e

tradições culturais. Outro ponto comum nos debates associou a falta de reconhecimento da

importância da cultura pelos gestores municipais com a sua pouca influência nos pleitos

eleitorais. Segundo os participantes, como a “cultura não dá votos”, ela era colocada fora do

escopo das prioridades de atuação política local.

Já o conceito de diversidade cultural foi pouco explorado no fórum, com intervenções

muito pontuais. O debate mais recorrente explicitou essencialmente a compreensão de que a

diversidade seria uma herança étnica dos diversos povos formadores das culturas nesses

municípios, sendo aquilo que enriquece as culturas, compostas pelas manifestações,

linguagens artísticas, religião e tradição, como exposto na seguinte afirmação:

[...] o brasileiro, e como tal temos uma grande diversidade cultural herdada

dos Africanos, Europeus, Orientais e Índios nesta mistura toda creio que

temos o melhor “caldo” cultural do mundo, onde não é focalizado apenas no

que foi passado de geração em geração mas sim uma mistura de tudo o que

há de melhor e pior destes povos. A cultura sem a diversidade se torna meio

que pobre, a diferença que a diversidade traz é o que enriquece, dança,

linguagem, vestuário, religião, e outras tradições são o que formam tudo o

que acabei de dizer. (idem, ibidem, grifo nosso)

206

Poucas foram as intervenções que apresentaram uma compreensão mais ampla e

complexa do conceito de diversidade cultural, ao reconhecer a relação entre a definição de

cultura e o conjunto de manifestações culturais, tanto tradicionais como contemporâneas.

Entretanto, houve o entendimento de que o PMC, na medida em que, para a sua elaboração,

requer a inclusão de diversas representações culturais locais, exigiria, assim, uma ampliação

da concepção de diversidade. É importante mencionar que alguns participantes expressaram

certo pessimismo sobre o desenvolvimento de um PMC que pudesse refletir a diversidade

cultural, por entenderem que esse tema ainda é desconhecido pela maioria dos gestores e, por

isso, não ganharia um sentido mais apropriado dentro das políticas públicas municipais,

tampouco seria entendido como vetor de desenvolvimento.

Nesse sentido, a falta de apropriação do tema da diversidade cultural pelos gestores

municipais se apresentou como importante dificultador para o processo de planejamento,

reforçando a necessidade de formação em gestão e políticas culturais. Outro dado que

pudemos levantar nesta pesquisa foi a falta de conhecimento ou de informações sobre os

debates em torno da diversidade, o que, tomando como referência as discussões no âmbito da

Convenção da Unesco, compromete uma compreensão adequada sobre a importância das

administrações locais da cultura para um projeto de desenvolvimento inclusivo.

Uma incompreensão por parte dos principais atores locais sobre a relação entre

cultura, diversidade cultural e Planos de Cultura poderia vir a repercutir nos documentos de

Planos, comprometendo uma abordagem mais adequada da proteção e promoção da

diversidade cultural, bem como a formulação de uma política pública de cultura que promova

a inclusão de todas as formas de cultura e arte. Nesse sentido, a diversidade foi reconhecida

como parte de um projeto de transformação social necessário para a quebra de paradigmas.

Ao tratar dos temas do patrimônio e memória, vale destacar o reconhecimento da

relação com o presente e futuro, a partir do entendimento de que a cultura e a diversidade se

apresentam como algo que foi aportado em outros momentos. São temas pautados pelas

influências étnicas e pelo processo de formação do povo e do lugar, mas que se renovam a

cada instante, como um recurso que mantém o registro do passado, do presente e que será

base para um futuro. Neste contexto, considerou-se que o PMC se apresentou e se apresenta

como instrumento de proteção e promoção da diversidade cultural, pelo entendimento de que

o patrimônio e a memória expressam a “identidade histórica”, o registro da formação do

município e ainda podem contribuir economicamente com o local.

Por fim, foram registrados relatos sobre segmentos ou manifestações culturais que

existem de forma isolada e sem condições de sustentabilidade, indo de encontro à valorização

207

da diversidade cultural. Segundo alguns participantes, o isolamento dessas expressões decorre

principalmente do descuido do poder público e, por isso, seria fundamental a implementação

de políticas públicas de cultura específicas, de modo a alterar tal realidade.

Para a discussão no fórum Cultura e Desenvolvimento (EAUFBA, 2015c), as

perguntas disparadoras buscaram debater ações de políticas públicas de cultura realizadas no

município que dariam conta da relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento, e sobre

como essa relação poderia ser expressa em um PMC. Esse foi o último assunto abordado nos

módulos básicos, sendo possível verificar, em comparação com os anteriores, uma

significante queda na participação ao longo dos fóruns, tanto de representantes do poder

público, como de representantes da sociedade civil. Essa queda, que ocorreu em todos os

fóruns conceituais, foi em torno de 25% e, quando avaliamos o volume de intervenções, se

aproximou de 30%, considerando o grupo de representantes municipais.

Mesmo entendendo que o percentual apresentado não retrata necessariamente um

problema inerente ao Projeto, considerando que essa é uma característica dos processos de

formação EaD, os participantes mais ativos perceberam essa situação e demonstraram

preocupação com o enfraquecimento do debate, por reconheceram a importância do processo

formativo frente aos desafios contemporâneos que afetam a gestão municipal. Ressaltamos

que houve um esforço significativo da equipe em criar estratégias para reverter o processo de

evasão.

Apesar desse cenário, a participação ofereceu contribuições significativas, levando-se

em conta as distintas realidades culturais dos municípios. Observamos que a compreensão

sobre a diversidade também foi diversa, assim como o entendimento sobre o conceito

ampliado de cultura e a sua relação com a diversidade e o desenvolvimento. Foi importante,

ainda, o alerta dos tutores para que a discussão se mantivesse focada na questão do

desenvolvimento aplicado à cultura, relacionando-os para além do aspecto econômico.

Inicialmente, verificamos nas postagens do fórum a presença de uma visão

preservacionista, especialmente dos municípios da região Sul, que colocaram como prioritária

a preservação das suas tradições, dando ênfase às culturas de origem europeia. A discussão,

porém, ajudou na compreensão das diversas matrizes culturais que compõem a diversidade

cultural brasileira e da importância de se construir políticas que as reconheçam e as

potencializem, além de estimular um olhar no qual tanto a tradição como a

contemporaneidade sejam entendidos como fonte de riqueza e de identidades, sendo a cultura

elemento central.

208

Ao estímulo feito para a discussão sobre o tema da diversidade, apareceram

depoimentos sobre as dificuldades em travar um diálogo com as comunidades tradicionais

existentes no município, bem como relatos sobre o processo de resistência e de

autorreconhecimento dessas comunidades como tradicionais. Foi destacado, ainda, que essas

comunidades, ao se vincularem a práticas religiosas, desenvolveram um sentimento de

resistência à sua própria cultura, tema tratado no fórum Cultura e Produção Simbólica.

Em alguns grupos, não houve uma participação ampla e a discussão sobre os temas foi

superficial, mas, ainda assim, os participantes demonstraram preocupação com a importância

do reconhecimento da diversidade cultural a partir de um olhar amplo da cultura e da

formulação de um desenvolvimento capaz de promover a economia da cultura e o

desenvolvimento humano. Os conteúdos dos módulos fomentaram o debate e contribuíram

para a troca de experiências realizadas nas cidades, trazendo reflexões sobre a diversidade

cultural, como: “Romper com (pré) conceitos idealistas, ter espírito livre e um pensamento

inquieto é, sem dúvida, um direcionamento para compreendermos a diversidade cultural na

qual estamos imersos” (idem, ibidem).

Os participantes discutiram, ainda, a relação entre cultura e desenvolvimento,

abordando as identidades e diferenças no reconhecimento do outro, em uma perspectiva

humanista. As contribuições revelaram que a identidade de um povo deve ser pautada por

fatores que estão imbricados na esfera social, cultural e religiosa e que a relação do gestor

com diversidade deve se dá a partir do reconhecimento das diferenças e semelhanças e dos

aspectos simbólicos que estão contidos nas dinâmicas territoriais. Dessa forma, a diversidade

foi entendida como um componente da identidade cultural do povo. Além disso, consideraram

que pensar a diversidade cultural é, sobretudo, pensar a cultura de forma ampliada,

considerando o processo de humanização do ser humano, que estabelece conexões de

alteridade no reconhecimento de si e do outro para a democratização da cultura, buscando

atingir a democracia cultural.

O tema da gestão cultural foi abordado com depoimentos sobre as ações aplicadas nos

municípios, considerando-as relevantes na contribuição ao desenvolvimento cultural: ações de

fomento e de cidadania, articuladas com outras áreas da administração pública e que

mobilizam a comunidade, especialmente escolas. Com base nisso, considerou-se que estão

sendo dados os primeiros passos para a consolidação de uma compreensão acerca dessa

interconexão ente cultura e desenvolvimento, como exposto no módulo correspondente:

[...] se formos imaginar uma relação entre cultura e desenvolvimento que

pretenda avançar na direção de um modelo sustentável de desenvolvimento

209

torna-se imperativa a necessidade da criação de condições propícias ao

aumento da diversidade das manifestações culturais e a promoção da

inclusão, simultaneamente cultural, social e econômica, de novos e múltiplos

agentes criadores. (MIGUEZ, 2014, p. 26)

Para alguns participantes, os municípios brasileiros estão vivendo um momento novo

no que se refere às experiências com políticas culturais que possam promover a

sustentabilidade entre cultura, diversidade cultural e desenvolvimento. Destacaram, ainda,

iniciativas de projetos que fomentam a geração de renda e emprego para a população através

de atividades culturais; do empreendedorismo e da divulgação e comercialização de bens

culturais, especialmente em atendimento aos jovens e idosos.

Nos debates, os participantes trataram as políticas públicas como elementos que

desencadeiam aspectos favoráveis ao desenvolvimento e ressaltaram a importância da

necessidade de se ter incentivos públicos para a promoção da cultura, para a fruição e

produção das atividades culturais e artísticas do município, promovendo o acesso à cultura e

criando possibilidades de formação na área, considerando especialmente crianças e jovens.

Apareceu, ainda, a consciência de que esse é um investimento de médio e longo prazo, mas

que é essencial para promover as transformações culturais necessárias e condizentes com a

ideia de um desenvolvimento inclusivo e de valorização das expressões culturais locais.

Foi perceptível o entusiasmo dos participantes no fórum, ao apresentarem propostas

que já acontecem e que seriam tratadas no PMC, como ações, atividades e iniciativas que

consideram relevantes para o desenvolvimento cultural e fortalecimento da diversidade.

Algumas vezes, os participantes confundiam políticas com atividades, como no exemplo dos

eventos que contemplam parte dos artistas locais. Em outros depoimentos, apareceu o registro

das parcerias com outros setores da administração pública, com a iniciativa privada e com

projetos do Governo Federal.

Um entendimento comum foi de que, como a diversidade cultural é um conjunto de

expressões com diferentes formas de fazer cultura, a formulação de políticas também se dá de

diferentes maneiras, requerendo um processo de negociação e busca pela convergência de

interesses comuns. Muitos foram os relatos sobre a importância de uma gestão pública

coerente com as demandas culturais na contemporaneidade, mas foram perceptíveis as

dificuldades ocorridas em seus municípios, como a evasão de artistas locais devido à falta de

apoio e investimento.

A relação do Estado e dos municípios com o desenvolvimento cultural foi

caracterizada ainda como muito frágil, faltando uma compreensão mais coerente sobre a

210

importância da cultura para o desenvolvimento local, o que resulta no direcionamento de

investimentos em cultura para outros fins e para eventos que não traduzem a diversidade

cultural. Consideraram haver uma visão distorcida dos gestores, que limitam a cultura às

expressões artísticas e ao entretenimento, mantendo uma “política de balcão”, sem conseguir

enxergá-la sob um olhar mais ampliado e baseado na transversalidade e no diálogo, o que

favoreceria o empoderamento social e tornaria o Conselho de Cultura menos dependente dos

interesses do gestor e mais comprometido com os anseios da sociedade:

Alguns destes desafios relacionados ao poder público como: necessidade

deste ter um papel mais fomentador; necessidade de planejamento de longo

prazo, de infraestrutura, de investimentos, etc. Outros relativos à sociedade

como: falta de participação; de capacitação; de planejamento também por

parte dos agentes criadores, etc. (EAUFBA, 2015c)

Por outro lado, houve relatos extremamente positivos em relação ao PMC,

considerando-o como um passo fundamental para o desenvolvimento cultural e em prol da

institucionalidade da cultura. Compreenderam que a adesão municipal ao SNC se configura

como um importante passo para que o município possa avançar na direção certa, o que inclui

a existência dos Conselhos de Política Cultural com composição compatível com a

diversidade cultural existente localmente, e os ambientes dos fóruns como espaços de diálogo

importantes, atuando de forma positiva para o desenvolvimento cultural e para a diversidade.

Alguns destacaram a relevância das ações transversais, que atingem diversos

interesses e podem vir a contribuir para o fortalecimento da diversidade, por reunir públicos

diversos e motivações distintas para o desenvolvimento, em um processo democrático de

envolvimento de todos os sujeitos sociais, fundamental para a valorização cultural e humana.

Às discussões nesse fórum, somaram-se as preocupações já relatadas no fórum

anterior, sobre os conceitos de cultura e diversidade cultural. De forma pontual, observamos

forte referência negativa quanto à figura do gestor, atribuindo como fragilidade o seu

desconhecimento sobre a importância da relação entre cultura e desenvolvimento.

Surgiram também relatos sobre como o oposto é fundamental para que se implante

uma política com o comprometimento necessário com a diversidade cultural, entendida como

pilar para o desenvolvimento. Os participantes também demonstraram preocupações quanto

ao fato de que, muitas vezes, o trabalho dos gestores conscientes desse tema se torna

exaustivo, pois exige esforços adicionais para a sensibilização de outros gestores e de outras

esferas da administração pública.

211

Observamos, com muita frequência, a percepção dos municípios da ideia de cultura

como evento, onde a relação entre cultura e desenvolvimento está atrelada ao entretenimento,

sem uma devida valorização das expressões culturais locais. Em alguns depoimentos,

registrou-se a integração entre manifestações religiosas e tradicionais, sem considerar a

existência de uma relação econômica envolvida. Alguns participantes revelaram que não era

simples e fácil compreender a relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento,

especialmente do ponto de vista prático, dentro das dinâmicas culturais realizadas localmente.

Essa dificuldade estimulou a busca pelo aprofundamento do tema, abrindo espaço para a

ampliação do debate.

Ainda no que se refere à associação da cultura a eventos, houve aqueles que

defenderam o ponto de vista de que as festas fomentam o mercado de produção, geram

recursos que podem promover a sustentabilidade e estimulam e fomentam as atividades

culturais da cidade e da região, enquanto outros consideraram que a prática de eventos, no

geral, não tem conexão com outras manifestações, como, por exemplo, a falta de um

calendário integrado. Conforme os defensores do segundo ponto de vista, essa conexão

poderia potencializar ações regionais, porém o que acontece é que esse panorama não

beneficia a comunidade artística como um todo, mas somente poucas iniciativas da sociedade

e de setores privados.

Depoimentos de alguns gestores registraram uma visão otimista, pela qual, mesmo

tendo que lidar com um cenário difícil, acreditavam poder instituir ações que promoveriam o

desenvolvimento cultural e favoreceriam a diversidade, tais como:

a) promoção de feiras para exposição e comercialização de produtos culturais

artesanais, de artistas plásticos e gastronomia;

b) prêmios para a área de literatura;

c) realização de festivais de música e dança; e,

e) busca de parcerias institucionais para a formação em arte e cultura.

A figura do gestor foi considerada fundamental no processo de construção das

políticas públicas e, em especial, para o PMC, reiterando a necessidade de integração entre o

poder público e os atores responsáveis pela gestão cultural. As intervenções dos tutores se

deram no sentido de reforçar a importância do PMC para a ressignificação de valores e

condutas, por expressar o planejamento para a área, induzir uma continuidade das ações

públicas e estimular o diálogo interinstitucional, fortalecendo a relação transversal com os

setores públicos. Nesse sentido, alguns participantes reiteraram que o processo de elaboração

do Plano de Cultura deveria contemplar maior discussão sobre cultura, diversidade e

212

desenvolvimento, pela necessidade de se incluir outras expressões culturais. Vimos que seria

necessário o aprofundamento sobre o tema da diversidade cultural, devido à sua fragilidade

conceitual e prática.

O PMC foi visto como um meio para se promover maiores recursos e o

desenvolvimento que possa contribuir para o reconhecimento da diversidade cultural local,

com a promoção da garantia de direitos culturais. Além disso, a participação social foi tida

como fundamental para o planejamento e reconhecimento da realidade cultural do município.

Isto reitera a importância do processo de elaboração dos Planos e o intenso diálogo com a

sociedade civil, a partir do que podem surgir demandas concretamente vinculadas a ações e

projetos de desenvolvimento, como a criação de incubadoras de projetos culturais, a criação

de associações de artesãos e implantação do fundo de cultura, além de editais de fomento que

contemplem os diversos segmentos culturais.

Houve momentos em que tutores e representantes falaram sobre experiências exitosas

que levaram em consideração a participação social, a intersetorialidade e a transversalidade,

bem como a solidariedade. Além disso, os tutores buscaram estabelecer relação entre as

contribuições dos participantes e o PNC, bem como reconhecer programas desenvolvidos em

nível federal que contribuem para a minimização dos problemas locais.

Os debates puderam reforçar o conteúdo apresentado no módulo sobre a importância

do PMC enquanto um instrumento que ajuda a enfrentar os desafios relativos à

implementação das políticas públicas de cultura, tornando-as fundamentais para a superação

de impasses que não têm contribuído para o desenvolvimento territorial. Também

demonstraram uma compreensão do SNC como um conjunto de instrumentos que visa

potencializar a cultura local frente aos desafios da globalização e das indústrias culturais,

observando as realidades municipais de reconhecimento e fortalecimento da diversidade.

Foi destacada, ainda, a importância de disseminar as dimensões da cultura na

sociedade, imprimindo caráter coletivo e político, econômico e produtivo para que o PMC e o

SMC possam contribuir para o reconhecimento, a manutenção e cuidados necessários à

preservação das identidades culturais locais. Algumas citações demonstraram o compromisso

com a relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento, tais como:

a) promoção de eventos representativos de cada segmento ou setor cultural,

estimulando as relações e as trocas culturais;

b) aumento de editais de fomento, ampliação da comunicação, divulgação e circulação

cultural, de forma descentralizada no município, promovendo espaços de visibilidade cultural

e artística e formação de novos grupos;

213

c) implantação e readequação de espaços culturais para a fruição cultural local e

fortalecimento da economia da cultura e das relações intersetoriais;

d) realização de programas de formação cultural;

e) estímulo à organização setorial, como de artesãos;

f) inclusão de artistas locais nas festividades do município, de forma descentralizada e

responsável, do ponto de vista orçamentário; e,

g) incentivo à produção cultural local.

Para o debate no Fórum Análise da Situação Atual (EAUFBA, 2015b), as perguntas

orientadoras se referiram à gestão pública da cultura, às políticas de inclusão social e a

formação de públicos, essa última considerada como uma das questões mais críticas na

política cultural contemporânea. Verificamos que, nas perguntas propostas para o fórum, o

tema da diversidade apareceu como aquilo que caracteriza a cultura brasileira sem, contudo,

estabelecer uma relação direta com a gestão pública de cultura.

A respeito da importância dada à diversidade cultural como constituidora da cultura

brasileira, pouco se avançou na relação desse assunto com a prática da gestão cultural. Como

alerta Barros (2011, p. 21), o assunto se mostra mais complexo, visto que “Reconhecer na

diversidade cultural apenas a presença de diferenças estéticas é simplificar a questão. […]

Diversidade cultural é a diversidade de modos de se instituir e gerir a relação com a

realidade.”

De qualquer forma, verificamos que o debate sobre a diversidade cultural se fez

presente nesse módulo, tanto por indução dos tutores como por iniciativa dos participantes, na

medida em que a construção de um diagnóstico da realidade cultural exigiu a coleta e

interpretação de informações sobre todas as manifestações culturais do município.

Alguns participantes revelaram uma preocupação com a valorização da cultura pela

sociedade, implicando uma mudança de hábitos e mentalidade, fato que se apresenta como

desafio para a gestão municipal. Além disso, alguns trouxeram ideias sobre instrumentos que

poderiam auxiliar a coleta, além de sinalizarem que poderiam ser contratadas pesquisas, desde

que os municípios tivessem condições financeiras para isso.

Em comparação com o fórum do primeiro módulo da formação, verificamos que o

total de participantes apresentou um importante nível de evasão, superior a 50% (de 179 para

81). Da mesma forma, registrou-se a queda de mais de 30% (de 420 para 282) do total de

intervenções, em comparação com os mesmos fóruns. Além da participação e intervenções,

observamos que não houve uma boa articulação entre os conteúdos e o debate sobre a

caracterização e diagnóstico, o que também afetou uma melhor apreensão do conteúdo. Em

214

determinados momentos, alguns participantes atribuíram como motivo da evasão o fato de o

fórum ter ocorrido no primeiro mês do ano, período normalmente destinado às férias dos

gestores.

Inferindo-se que um maior número de participantes e maior número de intervenções

significaria a apresentação de um conjunto maior de percepções sobre as realidades culturais e

de contribuições diversas sobre as políticas culturais, evidencia-se que o panorama observado

apresentou fragilidade quanto ao princípio da participação e empobrecimento em relação à

diversidade cultural. Em outras palavras, quanto maior a evasão, maior a limitação para

promover a inclusão no debate sobre cultura e, quanto menor a participação, menor a

disseminação das informações gerais e técnicas sobre as políticas culturais e sua construção,

bem como a limitação do acesso de um maior número de participantes interagindo com suas

diferentes percepções sobre as realidades culturais locais.

Um tema presente nesse debate, assim como em outros fóruns, foi a preocupação com

a relação entre a juventude e as novas tecnologias, que podem servir tanto como instrumentos

de divulgação da cultura quanto para limitar o interesse dos jovens a uma cultura de massa,

fazendo com que o aspecto da preservação/manutenção das culturas locais possa ser

esquecido. Os participantes reiteraram, ainda, a importância dos usos dessas ferramentas para

o levantamento de informações sobre o campo da cultura, entendido como um dificultador

para o reconhecimento das expressões culturais.

Em uma participação ativa, os integrantes promoveram trocas de informações sobre as

práticas locais e sugeriram a realização de oficinas de sensibilização com as comunidades do

município, com o objetivo de extrair informações sobre os hábitos culturais ou mesmo

promover o reconhecimento da diversidade cultural local, em atenção às culturas que se

encontram sob a ameaça de desaparecimento. A partir desse debate, os participantes

refletiram sobre a importância do PMC como um instrumento capaz de alavancar projetos e

ações de resgate e de fomento às expressões culturais do território. Mais uma vez, verificamos

a atenção às comunidades e culturas tradicionais, o que reforça o caráter preservacionista da

cultura, já explicado em outras partes desta dissertação, como a restrição do conceito de

diversidade cultural.

Ao tratarem da gestão pública, o tema da descontinuidade na gestão apareceu, mesmo

superficialmente, apontando para o cuidado com os processos transitórios dos governos.

Nesse sentido, uma participante do fórum indicou algumas preocupações, como por exemplo:

a) transição democrática criteriosa entre as administrações, evitando a

descontinuidade, que gera projetos inacabados e desconsidera o interesse da população;

215

b) organização do Sistema Municipal de Cultura baseado no pacto federativo de

colaboração, de forma dinâmica, não burocrática, integrando concretamente os seus

componentes, de forma participativa e articulada com a sociedade;

c) elaboração e implementação do Plano Municipal de Cultura decenal, conforme o

enfoque do Projeto, conduzido de forma a conquistar status de prioridade à cultura junto às

políticas municipais;

d) organização efetiva do órgão gestor da cultura, preferencialmente a Secretaria

Municipal da Cultura, dotando-o criteriosamente de um quadro próprio, enxuto, ágil e

qualificado;

e) desenvolvimento de programa de formação continuada, em parceria com o MinC

com a Secretaria Estadual da Cultura e outras instituições para atualização permanente do

pessoal da área, bem como encaminhá-lo para cursos, seminários, reuniões e outras atividades

presenciais e à distância;

f) prioridade ao orçamento municipal da cultura, garantindo que haja percentuais

compatíveis e investimento no setor, com implantação/implementação do Fundo Municipal de

cultura e da Lei de Incentivo à Cultura, e pleito quanto à participação da União; e,

g) ênfase nas políticas de economia da cultura.

Ainda em relação à gestão cultural, o tema do diagnóstico foi fortemente defendido,

sendo indicados pontos considerados relevantes para uma boa gestão pública da cultura,

especialmente quanto à diversidade. Segundo o debate, um diagnóstico bem elaborado da

realidade cultural no município ofereceria condições para perceber as fraquezas e

potencialidades e promover ações e estratégias mais pontuais e eficazes. Poderia, ainda,

contribuir para uma gestão democrática que envolvesse a comunidade, através de um

Conselho Municipal de Políticas Culturais representativo e atuante; viabilizar o diálogo entre

a administração municipal e a comunidade, por meio da realização de fóruns, conferências e

outros espaços de discussão; e, por fim, alcançar os grupos sociais mais vulneráveis através

do desenvolvimento de estratégias de comunicação direcionadas, com o objetivo de incluí-los

na vida cultural do município.

Os participantes ressaltaram que a gestão deve fazer uso de novas estratégias e

instrumentos de aproximação para o diálogo com a sociedade, promovendo uma

horizontalidade no processo de escuta. Apesar dessa preocupação, alguns relatos

apresentaram práticas exitosas quanto ao aspecto da participação e das contribuições para as

políticas culturais, bem como o desenvolvimento de projetos para atender a demandas

específicas e com impacto municipal. Percebe-se, então, que a participação social foi vista

216

como um problema, na medida em que não é reconhecida como fundamental na perspectiva

da democracia e do desenvolvimento, somado à falta de subsídios para instrumentalizar a

gestão pública municipal, de modo a desenvolver estratégias de aproximação social e cultural.

Com a evolução do debate, os tutores reiteraram a importância da participação ativa da

sociedade civil através das instâncias de poder, como os conselhos, os fóruns, conferências ou

outros espaços que permitam a sociedade civil organizada “participar/propor/intervir” mais

efetivamente no rumo das políticas públicas. Dessa forma, é possível coadunar as relações

entre gestão pública, cultura e diversidade cultural.

Ao tratar da estruturação do setor cultural, a discussão caminhou para a importância da

promoção de concursos públicos, considerando o fortalecimento do órgão gestor de cultura, a

criação de base de dados e indicadores que possam nortear o desenvolvimento de políticas

adequadas à realidade local, a garantia de instâncias de participação social e a organização do

financiamento da cultura. Essas ações, integradas ao devido reconhecimento das expressões

culturais, poderiam proporcionar um desenvolvimento inclusivo, com respeito à diversidade

territorial.

Nesse sentido, as reflexões sobre a diversidade cultural surgiram no fórum, mesmo

sem a explícita ênfase do termo, uma vez que o processo de diagnóstico da realidade se

baseou na perspectiva das trocas de visões entre os diferentes envolvidos:

A troca e o ouvir os outros amplia nossos horizontes, por que cada pessoa

conhece (seu município) a partir de uma ótica, de uma experiência, das

informações que possui, do compartilhamento de opiniões. Que tal unir as

forças!!! Ampliar a rede colaborativa pode ajudar no processo de construção

do PMC. (EAUFBA, 2015b)

Ao abordarem o tema da participação social, tutores e participantes reiteraram as

diversas possibilidades de se promover diálogos necessários para o PMC e a importância da

sensibilização e mobilização social, tanto do poder público quanto da sociedade civil. Nessa

perspectiva, os integrantes do fórum reconheceram que não somente o mapeamento das

expressões culturais seria relevante para a construção do diagnóstico, como também o registro

de instrumentos legais e de demandas da sociedade civil.

Mesmo de forma tímida, o tema da diversidade cultural foi ressaltado na relação com

o diagnóstico. Afirmou-se a importância do entendimento claro sobre a diversidade para o

planejamento do setor cultural, mas foi destacado que um dos obstáculos foi falta de

conhecimento sobre o tema, além da carência do aparato institucional para o desenvolvimento

do trabalho, que requer profissionais especializados e, acima de tudo, um gestor com uma

217

visão clara sobre a cultura e seu papel para o desenvolvimento local. Foi exposto o seguinte

trecho sobre o diagnóstico:

O diagnóstico cultural vai necessariamente ter que revelar os modos, o éthos,

os afãs e elãs da comunidade cultural em questão, passando pelas pessoas em

sua individualidade e coletividade, sendo um caminho possível uma primeira

conversa de partilha sobre atividades mensais e anuais socioculturais que

desenvolvem de forma continuada, reunindo-se de forma descentralizada nos

bairros e comunidades, representantes de movimentos e entidades afins,

registrando esses momentos em meio escrito e audiovisual, com a

autorização dos participantes. (EAUFBA, 2015b)

Mesmo com o estímulo dos tutores para o assunto, buscando trazer o tema da

diversidade cultural para o centro da discussão, as intervenções foram mínimas. Alguns

participantes afirmaram que promover uma boa gestão municipal no campo da cultura seria

proporcionar o reconhecimento da diversidade cultural existente em seu município. Sem esse

reconhecimento, a gestão estaria fragilizada, visto que, “de fato, a gestão pública deve

conhecer e reconhecer as expressões culturais do seu município para, a partir daí, desenhar e

desenvolver políticas públicas, contando com a participação da sociedade civil.” (idem,

ibidem).

Além dos aspectos tratados ao longo desses fóruns, vale destacar outros que

contribuíram para a dinâmica da formação durante a fase de interação com a plataforma

moodle e uso do template. Algumas ocorrências influenciaram no seu desdobramento e foram,

inclusive, apontadas nos encontros de avaliação, valendo destacar:

a) alterações no calendário de realização da formação em função das realidades locais,

com o intuito de atender as demandas dos participantes em relação ao tempo destinado ao

estudo dos conteúdos;

b) não observância aos calendários oficiais de festividades nacionais, regionais e

locais, o que levou a uma maior ausência dos participantes nos fóruns e, em alguns casos, à

evasão;

c) a falta de encontros presenciais, com o objetivo de fortalecer a aplicação

metodológica pelos participantes, o que foi verificado nos depoimentos realizados durante os

Encontros Regionais e que trouxeram alguns elementos importantes do ponto de vista da

diversidade cultural, a saber: o aspecto territorial, que envolveu não somente o conhecimento

dos tutores sobre as realidades onde atuaram; diferentes contextos culturais e regionais, sendo

alguns deles especificidades que exigiam procedimentos diferenciados para a formação; e,

diferentes contextos estruturais (equipes, tecnologia e deslocamento), que influenciaram na

permanência e desempenho dos participantes;

218

d) o desenvolvimento da ferramenta template no processo, causando estranhamento

tanto por parte da equipe pedagógica quanto dos participantes, que tiveram grande dificuldade

no seu manuseio, além de problemas técnicos ocorridos durante a sua utilização, o que levou a

uma desmotivação por parte de alguns participantes, em especial aqueles que tinham

problemas de acesso à internet;

e) falha no acompanhamento pedagógico dos tutores em relação à aplicação da

metodologia, o que pode ter influenciado nos problemas verificados, como a evasão, o

desestímulo de alguns participantes e a fragilidade nas discussões pertinentes aos temas

tratados em cada fórum.

f) falta de critérios objetivos sobre as indicações dos representantes municipais, já que

durante a formação foi observada a ausência de alinhamento entre o representante do poder

público e da sociedade civil, que, por vezes, exigiu uma mediação do tutor e alteração em

procedimentos relativos à realização das tarefas, que demandaram, em alguns exercícios, um

trabalho em dupla. Ficando a cargo dos municípios a indicação dos seus representantes, sem a

imposição de critérios claros, tal situação eximiu a UFBA de quaisquer intervenções que

pudessem mediar os conflitos que surgiram entre os integrantes. Esse problema gerou trocas

de alguns participantes ou mesmo a sua eliminação sem substituição por outro profissional,

mantendo apenas um dos representantes, que na sua maioria era do poder público; e,

g) conteúdos considerados densos, com linguagens técnicas e/ou acadêmicas, o que

dificultou o entendimento dos assuntos por parte dos participantes, que avaliaram que os

textos poderiam ter sido mais pedagógicos, visando atender aos diferentes contextos e perfis

de participantes, independente da sua formação intelectual.

Devemos considerar também os aspectos positivos do Projeto e do processo formativo,

que oportunizaram desdobramentos durante a sua operacionalização:

a) reuniões regulares, que promoveram constantes reflexões sobre procedimentos

administrativos e gerenciais para qualificar as atividades;

b) reuniões semanais para sobre as atividades em desenvolvimento, o que acarretou

em possíveis correções e novas adaptações operacionais;

c) as avaliações realizadas no âmbito da equipe gestora, com o objetivo de ajustar o

curso das atividades, quando necessário, especialmente na formação;

e) os encontros de avaliação com as equipes, buscando qualificar a sua atuação,

promover uma escuta dos possíveis problemas e, ao mesmo tempo, favorecer uma gestão

descentralizada em relação aos aspectos que interferiram na efetividade das atividades e nas

ações direcionadas à formação;

219

f) os nove Encontros Regionais, que possibilitaram a reunião dos representantes da

equipe gestora do Projeto com as Regionais do MinC e os beneficiários da ação; e,

A equipe de representantes municipais foi muito bem avaliada pelos tutores,

considerando que a maioria dos integrantes tinha formação na área cultural e experiência na

gestão de pública da cultura.

Em que pese os problemas verificados, o uso do ambiente virtual para os fóruns de

discussão teórica possibilitou uma rica discussão sobre os temas da formação, quando se

considera a quantidade e a dispersão, pelo território brasileiro, dos municípios participantes. É

possível supor que, caso ocorresse de modo presencial, as limitações seriam muito maiores

ou, até, inviabilizariam o processo, por isso a formação a distância deve ser considerada em

edições futuras e em projeto similares, sempre trabalhando para o seu aperfeiçoamento e

mitigação das questões problemáticas.

220

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fenômeno da globalização se intensificou no século XXI e colocou em evidência as

contradições iniciadas no século anterior, que também se tornaram cada vez mais acentuadas,

atingindo os diversos campos da vida humana: cultural, econômico, social e político.

Nesse contexto, o debate sobre desenvolvimento passou a se desenrolar numa arena de

disputa e negociação que envolveu os temas cultura e economia, tendo de um lado países que

advogavam em favor da livre circulação dos bens e serviços culturais, a partir do entendimento

de que são itens econômicos como outro qualquer; e, de outro, aqueles que defendiam uma

perspectiva soberana e protetora dos bens e serviços culturais, reconhecendo-os como ativos

simbólicos que integram a diversidade constituinte de identidades nacionais.

Desse processo, ganhou corpo a perspectiva de um modelo de desenvolvimento que não

se limita ao viés econômico e onde a cultura e a diversidade cultural são peças fundamentais,

geradoras de sentidos e riquezas. A partir desse ponto de vista, surgiram diversos documentos

produzidos por organismos multilaterais, com destaque para a Convenção sobre a Proteção e

Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, da Unesco, que orienta os países-membros a

desenvolverem políticas e medidas que garantam a proteção de um bem mundial, a diversidade,

evitando ou limitando um movimento de homogeneização.

Alinhado com essa diretriz, o governo brasileiro, a partir de 2003, ancorado nos princípios

de democracia, autonomia e alteridade, propôs uma mudança paradigmática para pensar a cultura,

tendo como fator determinante o envolvimento da sociedade e o fortalecimento da diversidade

cultural. Para tanto, iniciou um trabalho baseado no entendimento da cultura brasileira como algo

diverso e plural, que expressa não somente diferentes formas de se manifestar, mas também

diferentes modelos de gestão, que podem e devem ser considerados em uma agenda de

desenvolvimento. Ancorado nessa visão e tomando como base os conceitos de políticas culturais

e de cultura descritos no primeiro capítulo desta dissertação, o governo brasileiro assumiu um

papel fundamental na construção de políticas públicas de cultura contemporâneas.

Essa mudança revelou uma ruptura no modelo arcaico do Estado na sua forma de pensar a

cultura e representou um novo posicionamento ao enfrentamento dos desafios da diversidade

221

cultural em longo prazo, realizando esforços para que fosse instalada uma política de Estado e

não de governo.

Nessa perspectiva, a gestão pública de cultura, através de ações e projetos de apoio ao

desenvolvimento cultural, abarcaria o reconhecimento de todas as formas de cultura que se

manifestam na sociedade e buscaria revelar o poder criativo que lhe é intrínseco, seja nas suas

especificidades, seja em questões mais gerais. Assim, a política nacional para a área tomou a

diversidade cultural como elemento central, materializada no SNC e no PNC, ambos construídos

em amplo diálogo com a sociedade civil e considerando a articulação federativa.

O SNC congrega elementos que visam fomentar, promover e proteger as diversas

expressões culturais, estimulando suas capacidades geradoras de sentidos e de riquezas, enquanto

o PNC orienta as políticas para a área cultural, com base no reconhecimento da diversidade e na

garantia dos direitos culturais, conforme descrito na Constituição Brasileira.

A política nacional de cultura estabelece uma relação federativa, que converge com a

relação local-global, na qual União, Estados e municípios devem, de forma conjunta e articulada

com a sociedade civil, promover ações individuais e/ou integradas, com vistas ao

desenvolvimento, respeitando as especificidades regionais e locais e permitindo que a cultura

floresça e se amplie, baseada em um conceito de sustentabilidade.

Com base nisso, o PMC se caracteriza como importante instrumento de política pública

para a área, por reforçar a importância dos governos locais para a superação dos desafios que se

apresentam e contribuir para a diminuição das desigualdades e valorização da diversidade. Nesse

ponto, há um fator preponderante para a quebra dos paradigmas que falamos anteriormente, pois

é na busca por uma inclusão e pela sustentabilidade cultural que os municípios se colocam como

elemento-chave desse processo. É nos municípios onde a cultura acontece nas suas formas mais

genuínas e, logo, uma inclusão cultural efetiva se dá à medida que seja possível construir meios

para que isto ocorra no ambiente local.

Uma premissa adotada pelo governo brasileiro foi que a cultura como ativo econômico

deve considerar, antes de qualquer coisa, o desenvolvimento humano, através da associação de

políticas que reconheçam e garantam as liberdades individuais e coletivas, dentre as quais se

destaca o direito à participação na vida cultural. Complementando essa nova postura do governo

brasileiro, observamos a preocupação com o desenvolvimento de ações que visaram

instrumentalizar a gestão cultural, com destaque para o Programa de Fortalecimento do SNC, que

222

objetivou apoiar Estados e municípios na estruturação dos Sistemas de Cultura através de duas

ações basilares: formação em políticas e gestão cultural e assessoramento técnico para o

desenvolvimento de políticas públicas para a área. Foi dentro desse programa que se inseriu o

Projeto MinC-UFBA, objeto de estudo desta pesquisa. A partir da análise dessa ação, que se

desenvolveu em duas edições, buscamos identificar aspectos diferenciados, especialmente no que

se refere ao tratamento dado à diversidade cultural.

Ao se constituir como princípio básico da política pública de cultura, a diversidade

cultural expressa sentidos que mereceram ser destacados para o propósito de elaboração dos

Planos de Cultura, tanto nos conteúdos teórico-conceituais, como na etapa de aplicação do

método desenvolvido. Isso pode contribuir para uma percepção menos romântica da diversidade

cultural, tratando-a como um elemento importante para o desenvolvimento.

Como explicitamos no terceiro capítulo, a nossa análise se deu em três perspectivas:

conteúdo, metodologia e processo. Com a finalidade de promover uma melhor compreensão das

etapas que constituíram o Projeto MinC UFBA, procuramos tratar esses elementos distintamente,

sendo possível, porém, verificar, ao longo do trabalho, que houve um entrelaçamento e

interdependência entre eles, onde cada um interferia nos demais.

Em relação aos conteúdos, observamos que eles deveriam ter dado maior atenção ao tema

da diversidade cultural, como ocorreu com a participação social, abordagem que poderia ser

construída a partir a relação inequívoca que há entre esses dois assuntos. A sua inclusão nos

conteúdos de maneira mais direta e explícita permitiria uma maior aproximação dos

representantes municipais com o tema e suscitaria um debate mais aprofundado, oportunizando a

construção de um novo pensamento sobre o assunto e seu entrelaçamento com a cultura e o

desenvolvimento.

Outra questão que percebemos foi a necessidade de se trabalhar os conteúdos em diálogo

com os contextos locais e o cotidiano da gestão e políticas culturais dos municípios, visando

reforçar a relação entre teoria e prática. Trata-se de uma abordagem que buscaria construir um

aprendizado baseado nas realidades vividas, o que seria um facilitador para compreensão e um

estímulo ao envolvimento dos participantes do Projeto. Para que isso ocorresse de modo mais

efetivo, seria essencial uma maior aproximação da equipe técnica com os representantes

municipais, através de um maior número de encontros presenciais que poderiam acontecer ao

223

longo da execução dos trabalhos. Esse ponto foi mais crítico na 2ª Edição, estruturada para ser

realizada através de acompanhamento a distância.

Reforçamos a importância de premissas e princípios orientadores e sugerimos ampliar o

espaço de debates sobre os temas relacionados, com o objetivo de promover maior apropriação

pelos representantes municipais, exigindo, desse modo, mudança de comportamento para que as

responsabilidades sobre o que é público pudessem se dar de forma articulada entre os diferentes

atores sociais e políticos. Isto tornaria o processo de construção das políticas municipais mais

sólido e com legitimidade, do ponto de vista dos princípios democráticos e como resultado de

parceria entre Estado e sociedade.

Ao longo das duas edições, a metodologia ganhou vitalidade, devido à incorporação de

inovações decorrentes do amadurecimento técnico e pedagógico. Isso incluiu o enriquecimento

do conteúdo e material didático, a realização dos Encontros Regionais, a disponibilização do

template e os espaços de registro de boas práticas e de avaliação sistemática das atividades.

Os conteúdos se complementaram na medida em que, de uma edição para a outra,

ganharam explicações mais abrangentes sobre cada etapa, além da inclusão dos exercícios, que

buscaram promover maior reflexão sobre o objeto estudado, e do material e meios que

complementaram o conhecimento e o desenvolvimento do participante na formação.

O template, modelo de referência incorporado na 2ª edição como suporte ao processo

formativo, permitiu maior apropriação da proposta metodológica pelos representantes municipais.

Os critérios para composição do grupo de representantes, ao prever a indicação de participantes

ligados ao setor público em conjunto com aqueles pertencentes à sociedade civil, ampliaram o

raio de alcance dos conhecimentos associados à metodologia de elaboração de Planos. Faltou, no

entanto, um instrumento de comunicação mais adequado ao formato do Projeto, o que limitou o

acesso da sociedade a um produto de interesse social e político.

Se na 1ª Edição, o Projeto MinC-UFBA atuou junto a municípios maiores e mais bem

estruturados, a 2ª Edição ganhou uma capilaridade excepcional, atingindo grande número de

pequenas cidades, o que deu espaço à diversidade de contextos locais, com suas características

singulares. Isto requereu um olhar diferenciado, abrindo espaço para o questionamento sobre a

homogeneização de um processo formativo. Os aspectos locais mereceram atenção, razão pela

qual modelos ou práticas padronizadas não se constituem mais aceitáveis, exigindo, em seu lugar,

224

estratégias diferenciadas para o desenvolvimento territorial, diante das realidades expostas pelas

novas dinâmicas.

A diversidade como princípio requer um tratamento mais direto, que considere que a

cultura se dá a partir de um conjunto de saberes e práticas que abarcam diferentes jeitos de se

posicionar no mundo. É através do reconhecimento e atenção às diferenças culturais que a

diversidade é percebida e, portanto, é com base nessas diferenças que a política cultural deve ser

formulada.

Com base neste estudo, concluímos que o tema da diversidade cultural se fez presente no

Projeto MinC-UFBA, porém isto não ocorreu de forma mais explícita e direta nos Guias de

Orientação e não houve um devido tratamento conceitual. A diversidade apareceu como

beneficiária e não como base para a política pública de cultura, conforme foi feito em relação à

participação social. Os exemplos expostos nos Guias nos ofereceram subsídios importantes para o

reconhecimento da diversidade cultural, a partir das interpretações que realizamos, considerando

a multiplicidade de fatores abarcados nos conteúdos. Quando analisamos os módulos,

percebemos que esse tema ganhou maior relevância nos conteúdos dos módulos Cultura e

Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento, sendo claramente explicitado e referenciado

no decorrer dos seus textos.

Em Cultura e Produção Simbólica, além da exploração dos conceitos de cultura e

diversidade cultural, o módulo discutiu o aspecto da diferença e da identidade e dos diversos

modos de existência, dialogando com as diferenças e reforçando a necessidade de processos de

mediação. Nesse material, foi demonstrado que a diversidade cultural se constitui a partir de uma

compreensão alargada do conceito de cultura, entendida a partir das dimensões simbólica,

econômica e cidadã.

O tema também foi reforçado quando o módulo relacionou o Plano de Cultura com o

reconhecimento dos diversos modos culturais, suas diferenças, riquezas e potencialidades,

questões fundamentais para o desenvolvimento local. Olhar essas diferenças sem preconceito e

percebê-las como ativos geradores de significados distintos é, sem dúvida, um passo largo em

direção à transformação almejada.

No módulo Cultura e Desenvolvimento, ficou clara a relação entre esses dois

componentes quando a diversidade cultural foi posta no centro dessa discussão, em aderência ao

225

apontado pelos documentos internacionais. Registramos que essa abordagem despertou a atenção

dos participantes da formação.

O módulo sobre o Sistema Nacional de Cultura deixou evidente a importância da

diversidade cultural para a estruturação de uma política democrática e de inclusão. Destacando a

relação federativa, considerou essa iniciativa de política pública como uma quebra de paradigma.

Já nos módulos de planos, foi possível verificar a presença da diversidade cultural a partir

do princípio da participação social, reforçando-a como mera beneficiária do processo e não

questão basilar. Reiteramos que não é o fato de o termo diversidade cultural estar ou não

explícito, mas seria necessário que conceitos e explicações mais claras compusessem o conteúdo

desse material. Isso é fator determinante para o reconhecimento das políticas públicas de cultura,

que para atingirem o propósito de contribuir com a transformação da realidade, devem

contemplar as diferenças culturais.

A participação social pode ser entendida como causa e consequência. Causa quando

realmente consegue agregar uma multiplicidade de agentes culturais de diferentes linguagens e

práticas, e consequência quando, a partir da compreensão sobre a diferença, ocorre o

agrupamento desses diferentes agentes e suas distintas manifestações culturais. Essa compreensão

pode ter facilitado o nivelamento do conceito de participação social junto aos representantes

municipais.

Nas duas edições, a metodologia se somou a esse esforço, quando foi guiada por

princípios e premissas que consideraram o diálogo, a comunicação, a participação e a

legitimidade para a formulação do Plano de Cultura. Isto ocorreu também quando aprofundou a

importância do território e da transversalidade e quando realçou uma política pautada no

reconhecimento das expressões culturais e na garantia dos direitos culturais.

No processo, podemos afirmar que a aplicação da metodologia na primeira etapa reforçou

o caráter da diversidade cultural, na medida em que o discurso dos consultores e analistas

destacou esse tema e atrelaram-no ao da participação. A ampliação do debate e as diversas

reuniões realizadas com diferentes públicos possibilitaram um diálogo mais aberto sobre a

relação entre o Plano Municipal de Cultura e a diversidade.

Na segunda edição, as interações nos fóruns de discussão teórica promoveram um

aprofundamento sobre os temas tratados nos módulos e criaram um ambiente propício para o

diálogo entre os diferentes participantes, agregando ao debate experiências de gestão em cada um

226

dos municípios. Nessas discussões, tanto na primeira quanto na segunda edição, foi possível

realçar o discurso do MinC para a construção das políticas públicas de cultura de forma

participativa e com olhos na diversidade cultural.

Este contexto possibilitou ampliar os conhecimentos sobre um conceito ampliado de

cultura, no qual a diversidade se apresenta como peça central, dando subsídio para o

desenvolvimento de uma política pública verdadeiramente inclusiva e favorecendo uma quebra

de paradigma. Também contribuíram para um melhor entendimento sobre a relação entre cultura,

diversidade e desenvolvimento, quando os participantes reconheceram que a relação entre cultura

e economia se tornaria um diferencial, por agregar o poder simbólico da cultura.

Cabe destacar que, em que pese todo o material produzido para e durante o Projeto MinC-

UFBA, não percebemos a preocupação em preservar o ambiente na internet como um local para o

armazenamento, divulgação e publicização dos conteúdos. O fato é que atualmente, grande parte

desse material está indisponível para a sociedade brasileira, impossibilitando a disseminação em

larga escala dos conceitos, metodologias e processos construídos, sua replicação e a pesquisas

que podem gerar.

Foi considerando essa realidade que esta pesquisa pretende contribuir para o campo das

políticas culturais, observando que a diversidade cultural é condição essencial para uma política

que pretenda promover a inclusão e a diminuição da pobreza. É no reconhecimento das

diferenças que surge a possibilidade de enxergarmos os modos de vida, bem como as formas de

produção próprias de cada lugar e de cada cultura, tornando evidente um mundo plural, com

características distintas de desenvolvimento e que merecem, portanto, tratamentos distintos,

mesmo dentro de um mesmo país. As contradições do campo da cultura, quando internalizadas

nos processos de construção do desenvolvimento, certamente produzirão novas condutas e novas

perspectivas.

Foi com o sentimento e na esperança de um mundo mais igual que esta pesquisa se deu.

227

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_______. I Relatório Trimestral (janeiro, fevereiro, março 2014). Documento da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2014a.

_______. Manual do Participante. Documento da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador,

2014b.

_______. Participantes Inscritos.xlsx. Planilha eletrônica com informação sobre grupos,

municípios e participantes da 2ª Edição do Projeto MinC UFBA. Salvador, 2014c.

_______. Avaliação da Formação – Tutores. Documento da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA.

Salvador. 2015a.

_______. Fórum Análise da Situação Atual. Fórum de discussão teórica da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015b.

_______. Fórum Cultura e Desenvolvimento. Fórum de discussão teórica da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015c.

231

_______. Fórum Cultura e Produção Simbólica. Fórum de discussão teórica da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015d.

_______. Relatório da Pesquisa de Sensibilização e Mobilização. Documento da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2015e.

_______. Relatório das Avaliações dos Encontros Regionais. Documento da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2015f.

_______. Sistema PMC Modelo de Referência. Manual do sistema aplicativo para apoio à

elaboração de Planos Municipais de Cultura. Salvador, 2015g.

_______. VII Relatório Trimestral (julho, agosto, setembro 2015). Documento da 2ª Edição

do Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015h.

_______. Descrição das Principais Alterações no Processo e Formação para Elaboração de

Planos Municipais de Cultura em Ambiente EAD. Documento da 2ª Edição do Projeto MinC-

UFBA. Salvador, 2016a.

_______. PMC – Planos Municipais de Cultura. Apresentação. Documento da 2ª Edição do

Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2016b.

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Cidades de Regiões Metropolitanas: aspectos conceituais e operacionais. Salvador, 2011.

_______. Guia de Orientação 2: Dicas e Exemplos de Conteúdos e Formatos para

Construção de Plano Municipal de Cultura. Projeto de Assistência Técnica à Elaboração de

Planos Culturais de Capitais e Cidades de Regiões Metropolitanas. Salvador, 2012a.

_______. Guia de Orientação 3 – Modelo de Gestão do Plano. Projeto de Assistência Técnica

à Elaboração de Planos Culturais de Capitais e Cidades de Regiões Metropolitanas. Salvador,

2012b.

_______. Guia de Orientação para a Construção de Plano Municipal de Cultura. Projeto de

Assistência Técnica à Elaboração de Planos Culturais de Capitais e Cidades de Regiões

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_______. Projeto MINC-UFBA – Diagnóstico Infraestrutura. Questionário. Documento da 1ª

Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2012d.

_______. Projeto MINC-UFBA – I Relatório de Progresso (Janeiro e Fevereiro). Relatório.

Documento da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2012e.

_______. Projeto MINC-UFBA – Levantamento Institucional. Questionário. Documento da 1ª

Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2012f.

_______. Projeto MINC-UFBA – Relatório de Progresso (abril e maio). Relatório.

Documento da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2013a.

236

_______. Projeto MINC-UFBA – Relatório Final do Projeto (janeiro). Relatório. Documento

da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2013b.

_______. Situação_atual_dos_planos_2014.xlsx. Planilha eletrônica da 1ª Edição do Projeto

MinC-UFBA. Salvador, 2014.

_______. Formação para Elaboração de Planos Municipais de Cultura. Ambiente virtual de

aprendizagem na plataforma moodle. Salvador, 2016.

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Recomendações sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular. 1989. Disponível

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_______. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. 2002. Disponível em

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Culturais. 2005. Disponível em

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_______. Relatório Mundial da Unesco: Investir na diversidade cultural e no diálogo

intercultural. 2009. Disponível em

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VIEIRA, Mariella Pitombo. Reinventando Sentidos para a Cultura: uma leitura do papel

normativo da Unesco através da análise da Convenção para a Promoção e a Proteção para a

Diversidade das Expressões Culturais. 303 fl. Tese (Doutorado). Universidade Federal da Bahia.

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VILELA, Cleide. Sistema Nacional de Cultura. Módulo da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA.

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VILUTIS, Luana. Planos Municipais de Cultura e Participação Social no Fortalecimento de

Políticas Culturais. Políticas Culturais em Revista, 2 (5). Salvador: UFBA, 2012. p. 135-150.

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em 05.01.2017.

237

ANEXO 1

CONTEÚDO PEDAGÓGICO DA FORMAÇÃO - 2ª Edição

MÓDULOS BÁSICOS

MÓDULO:

Introdução ao Ambiente da Formação

HORAS CONTEÚDO:

9 horas

HORAS FIXAÇÃO:

8 horas

OBJETIVO: Familiarizar os participantes com o ambiente computacional e o ambiente Moodle, proporcionado

maior eficácia no uso das ferramentas e recursos requeridos no ensino a distância. Oferecer uma visão

geral da metodologia da formação e do Projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de

Aprendizagem à Distância; apresentar os conteúdos da formação e sua relação com o processo de

elaboração de planos municipais de cultura.

CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Recursos e comandos básicos de um ambiente computacional e do ambiente Moodle de

aprendizagem. Princípios e práticas do trabalho colaborativo em rede. Conteudistas: Horácio Nelson Hastenreiter Filho e Justina Tellechea.

Parte 2: Apresentação do Projeto e da metodologia da Formação. Aula Magna sobre o papel dos

planos de cultura no processo de institucionalização de políticas públicas. Conteudista: Equipe EA-UFBA e Bernardo Novais da Mata Machado (aula magna).

MÓDULO:

Cultura e Produção Simbólica

HORAS CONTEÚDO:

5 horas

HORAS FIXAÇÃO:

4 horas

OBJETIVO: Possibilitar aos participantes uma reflexão crítica sobre o conceito de cultura e suas várias dimensões,

de forma a permitir uma abordagem mais ampla e consistente nos planos municipais de cultura.

CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Abordagens conceituais da cultura e suas dimensões objetivas e subjetivas. Cultura como

processo e suas várias configurações. Diversidade cultural, interculturalidade e pluralismo cultural. O

popular, o tradicional e o contemporâneo e os planos de cultura. Conteudista: José Márcio Pinto de Moura Barros.

Parte 2: A dimensão simbólica da cultura. As artes como expressões da diversidade cultural; o

popular, o massivo, o erudito e as novas configurações contemporâneas. Conteudista: Maria das Dores Freire

Parte 3: Cultura, memória e identidade. Patrimônio cultural material e imaterial. Concepções e

mecanismos de promoção e salvaguarda. Conteudista: Maria das Dores Freire

MÓDULO:

Políticas Públicas de Cultura

HORAS CONTEÚDO:

3 horas

HORAS FIXAÇÃO:

3 horas

OBJETIVO: Apresentar conhecimentos básicos sobre conceitos, processos e atores relacionados às políticas

públicas de cultura, de forma a permitir que os participantes compreendam os planos municipais de

cultura como ferramentas para a institucionalização das ações e para a concretização dos direitos

238

culturais.

CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Estado, sociedade e política pública. Cidadania, representação e participação social.

Dimensões de formulação e análise de políticas públicas. Atores e processos decisórios. Instrumentos

de política pública. Conteudista: Rosana de Freitas Boullosa.

Parte 2: Políticas Públicas de Cultura no Brasil. As principais referências da política nacional de

cultura na atualidade. Os planos municipais de cultura como instrumentos de participação e

pactuação. Conteudista: Lia Calabre de Azevedo.

MÓDULO:

Planejamento Público

HORAS CONTEÚDO:

3 horas

HORAS FIXAÇÃO:

3 horas

OBJETIVO: Proporcionar uma visão geral do planejamento no setor público no Brasil, permitindo aos

participantes associarem os planos municipais de cultura aos processos, ciclos e instrumentos de

gestão pública, com ênfase em planejamento e orçamento nos municípios.

CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Governabilidade, governança e participação social. Modelos de planejamento aplicados ao

setor público. Planejamento nas políticas públicas. O plano municipal de cultura como instrumento de

planejamento. Conteudista: Daniel Ivo Neri Grave

Parte 2: Instrumentos constitucionais do planejamento governamental. O Plano Nacional de Cultura e

a necessária integração com o Plano Plurianual-PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias–LDO e a Lei

Orçamentária Anual-LOA.

Conteudista: Mário Sebastião Nogueira de Freitas.

MÓDULO:

Sistema Nacional de Cultura

HORAS CONTEÚDO:

8 horas

HORAS FIXAÇÃO:

8 horas

OBJETIVO: Possibilitar o conhecimento do Sistema Nacional de Cultura e de seus componentes a partir de sua

concepção e dos marcos legais que o instituíram, subsidiando construir inter-relações entre políticas e

planos locais e nacionais.

CONTEÚDOS GERADORES: Concepção, componentes e marcos legais do Sistema Nacional de Cultura – SNC; processo de

institucionalização do Sistema Municipal de Cultura; mecanismos do Sistema de Financiamento da

Cultura; instrumentos de gestão do SNC com destaque para o Plano de Cultura e mecanismos de

participação. Os planos municipais de cultura e suas relações com o plano estadual e com o Plano

Nacional de Cultura. Conteudista: Cleide Vilela

MÓDULO:

Cultura e Desenvolvimento

HORAS CONTEÚDO:

4 horas

HORAS FIXAÇÃO:

4 horas

OBJETIVO: Proporcionar aos participantes contextualizar a cultura no desenvolvimento humano, econômico e

social, possibilitando reflexão crítica sobre a relação entre essas dimensões no âmbito do

239

desenvolvimento local e dos planos municipais de cultura.

CONTEÚDOS GERADORES: Conceituação de desenvolvimento humano e sustentável. Desenvolvimento territorial e

desenvolvimento local. Economia Solidária. As relações entre cultura e desenvolvimento. Economia

da Cultura, Economia Criativa, Indústria Criativa e Indústria Cultural. Cadeias de valor na área

cultural. Conteudista: Paulo Cesar Miguez de Oliveira.

MÓDULOS DE ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE CULTURA

Horas serão acrescidas de assistência técnica e prazo de elaboração do plano municipal

MÓDULO:

Planos Municipais de Cultura – Visão Geral

HORAS CONTEÚDO:

3 horas

HORAS FIXAÇÃO:

2 horas

OBJETIVO: Oferecer uma visão geral da metodologia objeto da capacitação, relacionando vários aspectos dos

conteúdos da formação e o roteiro de elaboração de um plano municipal de cultura.

CONTEÚDOS GERADORES: O plano municipal no contexto do SNC. Premissas e Princípios Metodológicos. Sensibilização e

participação democrática. Bases de Informação. Visão de cada tópico do roteiro do plano. Análise da

coerência interna.

MÓDULO:

Elaboração do Plano – Análise da Situação

Atual

HORAS CONTEÚDO:

8 horas

HORAS FIXAÇÃO:

8 horas

OBJETIVO: Capacitar os participares a elaborar uma caracterização do município e uma análise da cultura local.

CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de diagnóstico a ser aplicada. Formato do documento de análise da situação atual.

MÓDULO:

Elaboração do Plano – Projeção do Futuro

Desejado

HORAS CONTEÚDO:

8 horas

HORAS FIXAÇÃO:

8 horas

OBJETIVO: Capacitar os participantes a formular as bases estratégicas para o desenvolvimento cultural que

constarão no Plano Municipal.

CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de diretrizes, prioridades e objetivos. Análise de coerência interna. Formato do

documento de visão do futuro.

MÓDULO:

Elaboração do Plano – Operacionalizando o

alcance do futuro desejado

HORAS CONTEÚDO:

10 horas

HORAS FIXAÇÃO:

12 horas

OBJETIVO: Capacitar os participantes a formular a operacionalização das bases estratégicas para o

240

desenvolvimento cultural que constarão no Plano Municipal, identificando impactos e resultados.

CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de estratégias, metas, ações, resultados e impactos. Análise de coerência

interna. Formato do documento final.

MÓDULO:

Elaboração do Plano – Projeção de prazos e

recursos

HORAS CONTEÚDO:

4 horas

HORAS FIXAÇÃO:

6 horas

OBJETIVO: Capacitar os participantes a projetar prazos e recursos necessários para ações que constarão no Plano

Municipal e a analisar associações aos demais instrumentos formais de planejamento, identificando

mecanismos e fontes de financiamento.

CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de cronograma e projeção de custos. Identificação de mecanismos e fontes de

financiamento. Análise de coerência interna. Formato do documento final.

MÓDULO:

Elaboração do Plano – Monitoramento do

Plano Municipal

HORAS CONTEÚDO:

4 horas

HORAS FIXAÇÃO:

6 horas

OBJETIVO: Capacitar os participantes a elaborar indicadores de metas planejadas.

CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de indicadores. Identificação de meios de aferição e fontes de informação.

Análise de coerência interna. Formato do documento final.

Fonte: EAUFBA, 2014a, p. 13-16.

241

ANEXO 2

EXPRESSÕES E CONCEITOS ADOTADOS NO GUIA 2

Termo Conceito sugerido

Elos da cadeia da cultura

“Ligações” identificadas como parte do processo de cultura. Podem

variar conforme o setor cultural e ter interpenetrações, já que

normalmente não existem em “estado puro”. Em geral, são

considerados processos que se iniciam na criação, passam pela

distribuição/interação e se concluem na memória, embora se

reconheça que a memória, por exemplo, está presente em todas as

“ligações” dos processos. A expressão “elos da cadeia” se origina da economia, relacionada à

cadeia produtiva de produtos e serviços, muito aplicada na agricultura

e na indústria, mas acabou por se adaptar, também, a processos

culturais.

São exemplos de elos: criação, pesquisa, produção, difusão, fruição,

formação, memória. Num enfoque mais econômico é agregado ainda

consumo / formação de público.

Criação

Conjunto de atividades e esforços voltados para concepção,

envolvendo bem, produto, serviço ou o processo cultural em si. A

criação não necessariamente resulta em algo tangível e pode estar

relacionada a qualquer aspecto da cultura.

Registros de criações estão relacionados a direito de autor, importante

ramo do direito cultural.

Pesquisa

Ações relacionadas a estudos e pesquisas em áreas de interesse

cultural. A pesquisa em si pode não resultar em produto específico,

mas compor processos de qualquer elo da cadeia.

Difusão

Originária da antropologia que conceitua difusão como a propagação

de elementos de uma cultura para outra, pressupondo algum tipo de

contato. Na política cultural tem o sentido de propagar e disseminar

bens, produtos e serviços. Está relacionada a circulação, a

intercâmbio.

Fruição É o desfrute do bem, produto, serviço ou mesmo de um processo

cultural. Está relacionada ao acesso.

Formação

Numa acepção ampla, envolve conhecimentos, capacidades e atitudes,

sendo um ato (formar) e um efeito (formar-se). Em muitos casos

inclui outros termos como capacitação, treinamento, aperfeiçoamento

e envolve tanto agentes culturais como público.

Memória

Elemento básico constitutivo de identidades e identificações, de

conhecimento e de formação. Envolve um conjunto de ações

relacionadas ao registro, recuperação, preservação, acesso,

transmissão e a salvaguarda (proteção). Fonte: UFBA, 2012a.

242

APÊNDICE 1

EQUIPE DO NÚCLEO CENTRAL DA UFBA - 1ª EDIÇÃO

Coordenador Geral Prof. Dr. Ernani Coelho Neto

Coordenador Técnico Prof. Ms. Vicente Federico

Consultora Sênior Neuza Hafner Britto

Analista Técnico Kátia Costa

Analista Técnico Luana Vilutis

Analista Técnico Marcelo Cruvinel

Estagiário Anderson Marques

Estagiária Lisandra Alcântara

Estagiária Ivone Roque

Fonte: a autora, a partir de UFBA, 2012e, p. 6.

243

APÊNDICE 2

EQUIPES LOCAIS – COORDENADORES E ANALISTAS

TÉCNICOS

UF Município Consultores Formação Período de

Atuação

AM Manaus

Luciana Monteiro da Silva –

coord.

Pós-Graduação em Psicologia

Organizacional e Hospitalar

2005/2007

Fev a Ago

2012

Olavo Cesar Castro Mendes –

analista

Graduado em Direito Fev a Jul

2012

David Rychlewski Lungareze

– analista

Mestrado profissionalizante em

Engenharia de Produção.

Universidade Federal do

Amazonas

Jul a Out

2012

Rila Arruda da Costa –

analista

Mestrando em Sociologia.

Universidade Federal de

Amazonas

Out a Dez

2012

Ewerton Souza de Almeida –

coord.

Pós-Graduação em Gestão

Cultural Faculdades do Serviço

Nacional do Comércio –

SENAC/RIO

Set a Dez

2012

CE Fortaleza

João Paulo Vieira Neto –

coord.

Mestre em Patrimônio Cultural

pelo Programa de Especialização

em Patrimônio

Fev a Dez

2012

David Barbosa de Oliveira –

analista

Mestre em Direito pela

Universidade Federal do Ceará

Fev a Mar

2012

Vanessa Paula da Ponte –

analista

Mestrado em Sociologia

Universidade Federal do Ceará,

UFC, Fortaleza, Brasil

Abr a Dez

2012

ES Vitória

Vitor Graize Magalhães

Batista – coord.

Graduado em Comunicação

Social – Jornalismo pela

Universidade Federal do Espírito

Santo

Fev a Dez

2012

Vitor de Azevedo Lopes –

analista

Graduado em Comunicação

Social – Jornalismo pela

Universidade Federal do Espírito

Santo

Fev a Dez

2012

MA São Luís

Elizandra Rocha Araújo –

coord.

Graduada em Relações Públicas

pela Universidade Federal do

Maranhão

Fev a Dez

2012

Gislenaldo Machado Moreira

– analista

Graduado em Educação Física

pelo Centro Universitário do

Maranhão

Fev a Dez

2012

244

MG

Belo Horizonte

Paula Ziviani – coord. Doutoranda em Comunicação

Social pela Universidade Federal

de Minas Gerais

Fev a Out

2012

Mariana Ramos de Morais –

analista

Doutoranda em Ciências Sociais

pela Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais

Fev a Out

2012

Betim

Joanir Martins de Oliveira –

analista

Pós-Graduado em Gestão

Cultural – Pós-Graduação/MBA

UNA/BH

Fev a Set

2012

Denis Pereira Tavares –

analista

Doutorando em andamento em

História – Universidade Federal

de Minas Gerais, UFMG

Abr a Nov

2012

Sabará

Leonardo Alexandre Santiago

– analista

Pós-graduação em Gestão

Cultural (incompleta) pela UNA

(2010)

Fev a Set

2012

Santa Luzia

Tatiana da Silva Gomes –

analista

Mestre em Arquitetura pela

Universidade Federal de Minas

Gerais

Fev a Nov

2012

MS Campo Grande

Márcia Regina Ledesma –

coord.

Pós-Graduanda em Gestão

Cultural – Campo Grande/MS

Fev a Mai

2012

Lilian Verón Garcia – coord. Pós-Graduanda em Produção

Cultural – RJ

Fev a Jul

2012

Marlei Sigrist – analista Mestrado Fundação

Universidade Federal do Mato

Grosso do Sul – Centro de

Ciências HU

Jun a Jul

2012

PB João Pessoa

Nara Limeira Ferreira dos

Santos – coord.

Mestre em Literatura pela UFPB Fev a Set

2012

Maria Luiza Duarte Melo –

analista

Especializada em Gestão e

Qualidade em Turismo –

UEPB/PB

Fev a Set

2012

Cristiane Guedes Fragoso –

coord.

Graduação em Cinema

Universidade Estácio de Sá/ Rio

de Janeiro – RJ

Out a Dez

2012

Heleno Bernardo Campelo

Neto – analista

Bacharel em Ciências Contábeis

é Produtor Executivo com

formação técnica

cinematográfica em Produção,

Direção, Roteiro, Trilha Sonora

Out a Dez

2012

PE

Olinda José Lopes da Cunha Junior –

analista

Especializado em Antropologia

Social no Museu Nacional RJ

Fev a Nov

2012

Recife

Tarciana Portella – coord. Especialização em Gestão

Cultural – Universidade de

Girona (Espanha) / Itaú Cultural

– cursando

Fev a Nov

2012

Fernando Bitencourt de

Souza Pires – analista

Bacharelado em Ciências Sociais

(direcionado para sociologia da

arte) – UFPE

Fev a Nov

2012

245

RJ Rio de Janeiro

Bruna Gomes Leite de

Carvalho – coord.

Mestre em Bens Culturais e

Projetos Sociais – CPDOC –

FGV

Fev a Dez

2012

Ana Lucia Ribeiro Pardo –

analista

Mestre em Políticas Públicas e

Formação Humana – UERJ

Fev a Dez

2012

RS

Porto Alegre

Laura Cristina Lautert –

coord.

Pós-Graduada em Economia

pela UFRGS – especialização

em Economia da Cultura

Fev a Dez

2012

Izabel Beatriz Gules Franco –

analista

Graduada em Direito –

especializada em Direito do

Autor da área musical

Fev a Jun

2012

Luciana Estácio Vaiçap de

Marchi – analista

Graduanda do curso de Direito –

Ulbra

Jul a Nov

2012

São Leopoldo

Nelson Peres Garcia Junior –

analista

Especializado em Gestão

Educacional pelo Serviço

Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC)

Fev a Jul

2012

Alcido Anildo Arnhold –

analista

Pós-Graduação – Mestrado em

História – Área de concentração:

Estudos Ibero Americanos

Jul a Nov

2012

SC

Florianópolis

Marcelo Pereira Seixas –

coord.

Mestrando em Artes Visuais pela

Universidade do Estado de Santa

Catarina

Fev a Dez

2012

Francisco do Vale Pereira –

analista

Graduado em História Mar a Dez

2012

Joinville

Gabriel Medeiros Chati –

analista

Mestrando em Patrimônio

Cultural pela Universidade da

Região de Joinville

Fev a Jul

2012

SE

Aracaju

Janaína Couvo Teixeira Maia

de Aguiar – coord.

Mestranda do Programa

Multidisciplinar em Cultura e

Sociedade – UFBA

Fev a Dez

2012

Laíze Gabriela Benevides

Pinheiro – analista

Graduada em Direito pela

Universidade Federal de Sergipe

Fev a Dez

2012

Laranjeiras Hildênia Santos de Oliveira –

analista

Graduada em Museologia pela

Universidade Federal de Sergipe

Fev a Nov

2012

SP São Caetano do

Sul

Sérgio de Azevedo – analista Mestre em Artes Ciências pela

Universidade de São Paulo

Fev a Nov

2012

Fonte: a autora, a partir de UFBA, 2013b, p. 4-7.

246

APÊNDICE 3

EQUIPE DA 2ª EDIÇÃO DO PROJETO

Coordenação Geral Prof. Dr. Ernani Coelho Neto

Coordenador Técnico Prof. Dr. Horácio Nelson Hastenreiter Filho

Consultor Pedagógico Prof. Dr. José Márcio Barros

Conteudista e instrutora de equipes Neuza Hafner Britto

Consultora Ângela Andrade

Consultor Marcelo Cruvinel

Instrutora EAD Daniele Canedo

Analista Técnica Kátia Costa

Analista Técnica Luana Vilutis

Pesquisadora Justina Tellechea

Assessora de Comunicação Denise Gomes

Designer Instrucional Ana Paula Moreira

Designer gráfico Anderson Machado

Secretária Executiva Lisandra Alcântara

Estagiária Gleice Meneses

Fonte: a autora, a partir de EAUFBA (2014a, p. 21; 2015h, p. 3).

247

APÊNDICE 4

TEMAS RELACIONADOS NO QUESTIONÁRIO DE

INFRAESTRUTURA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA

Reconhecimento e Promoção da Diversidade Cultural

Informações solicitadas Metas relacionadas

Se havia realizado algum mapeamento da

diversidade cultural e quais segmentos tinham

sido contemplados.

Meta 3. Cartografia da diversidade das expressões

culturais em todo o território brasileiro realizado.

Se o Município conta com instrumentos legais de

proteção e valorização das culturas populares e

tradicionais e quais são. Meta 4. Política nacional de proteção e

valorização dos conhecimentos e expressões das

culturas populares e tradicionais implantada. Se tem Programa de auxílio financeiro para

mestres dos saberes e fazeres das culturas

populares e tradicionais.

Se o Município possuía política pública de cultura

voltada para a infância e juventude. Em caso

afirmativo, informe as ações e programas

desenvolvidos.

Meta 47. 100% dos planos setoriais com

representação no Conselho Nacional de Política

Cultural (CNPC) com diretrizes, ações e metas

voltadas para infância e juventude.

O Município tinha Política de Preservação do

Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e

Natural. Se sim, especificar.

Meta 5. Sistema Nacional de Patrimônio Cultural

implantado, com 100% das Unidades da

Federação (UFs) e 60% dos municípios com

legislação e política de patrimônio, aprovadas.

Desenvolvimento Sustentável da Cultura

Informações solicitadas Metas relacionadas

Se o Município possuía estudo sobre a cadeia

produtiva da economia da cultura e indicar qual o

segmento cultural o estudo foi realizado.

Meta 7. 100% dos segmentos culturais com

cadeias produtivas da economia criativa

mapeadas.

Se o Município reconhecia a existência de algum

território criativo em seus limites geográficos. Meta 8. 110 territórios criativos reconhecidos.

Se existia algum Projeto de apoio a

sustentabilidade econômica da produção cultural

local e especificar, caso exista.

Meta 9. 300 projetos de apoio à sustentabilidade

econômica da produção cultural local.

Se existia alguma ação cultural voltada para o

incremento do turismo no Município, informar

caso exista.

Meta 10. Aumento em 15% do impacto dos

aspectos culturais na média nacional de

competitividade dos destinos turísticos brasileiros.

O Município possuía informação sobre a

quantidade de postos de trabalho existentes no

setor cultural. Se afirmativo, especificar:

Quantidade de empregos formais.? Estimativa de

trabalhadores informais?

Meta 11. Aumento em 95% no emprego formal do

setor cultural.

Existia alguma ação de estímulo a formalização

no mercado de trabalho da cultura?

Se havia informações sobre a participação do

setor cultural no total das receitas próprias do

Meta 53. 4,5% de participação do setor cultural

brasileiro no Produto Interno Bruto (PIB).

248

Município Em caso afirmativo, informe o dado.

Educação e Produção de Conhecimento

Informações solicitadas Metas relacionadas

A disciplina de Arte está contemplada no

currículo escolar regular da Rede Municipal de

Ensino?

Meta 12. 100% das escolas públicas de Educação

básica com a disciplina de Arte no currículo

escolar regular com ênfase em cultura brasileira,

linguagens artísticas e patrimônio cultural.

Havia Programas de Educação continuada para os

professores de Arte. Meta 13. 20 mil professores de Arte de escolas

públicas com formação continuada. Considerando a totalidade dos Professores de

Arte, qual o percentual daqueles que possuem

Licenciatura na área.

Existia alguma iniciativa do Município para

Certificação pelo MEC dos seus Mestres de

Saberes e Fazeres (Rede Certific).

Meta 17. 20 mil trabalhadores da cultura com

saberes reconhecidos e certificados pelo

Ministério da Educação (MEC).

Indicação do número de escolas da educação

básica municipal que estão contempladas no

Programa Mais Educação.

Meta 14. 100 mil escolas públicas de Educação

Básica desenvolvendo permanentemente

atividades de arte e cultura.

Qual a média de livros lidos fora da escola, por

ano, por habitante com idade superior a cinco

anos no âmbito do Município. Meta 20. Média de quatro livros lidos fora do

aprendizado formal por ano, por brasileiro. Existia algum programa do Município, inclusive

em parceria com organizações do terceiro setor,

para incentivar a leitura fora da escola.

Quantas pessoas foram qualificadas por órgãos da

prefeitura em cursos, oficinas, treinamento,

fóruns, seminários com conteúdo de gestão

cultural, linguagens artísticas, patrimônio cultural

e demais áreas da cultura nos anos de 2009, 2010

e 2011.

Meta 18. Aumento em 100% no total de pessoas

qualificadas anualmente em cursos, oficinas,

fóruns e seminários com conteúdo de gestão

cultural, linguagens artísticas, patrimônio cultural

e demais áreas da cultura.

Qual o número de pessoas beneficiadas por ações

de fomento à pesquisa, formação, produção e

difusão do conhecimento, promovidas pela

Prefeitura nos anos de 2009, 2010 e 2011? Entre

as ações de fomento estão: o apoio a participação

em eventos científicos, há publicações e

distribuição de bolsas e prêmios para pesquisa,

formação, desenvolvimento de conhecimento no

campo da cultura, das linguagens artísticas e do

patrimônio cultural.

Meta 19. Aumento em 100% no total de pessoas

beneficiadas anualmente por ações de fomento à

pesquisa, formação, produção e difusão do

conhecimento.

O Município realiza ações de capacitação

destinadas a gestores das instituições e

equipamentos culturais municipais. Em caso

afirmativo, informe o número de gestores

capacitados.

Meta 35. Gestores capacitados em 100% das

instituições e equipamentos culturais apoiados

pelo Ministério da Cultura.

Fomento e Financiamento

Informações solicitadas Metas relacionadas

O Município fomenta a produção ou coprodução Meta 21. 150 filmes brasileiros de longa-

249

de filmes brasileiros de longa-metragem. Em caso

afirmativo indique o número de produções

fomentadas pelo Município nos anos de 2009,

2010 e 2011.

metragem lançados ao ano em salas de cinema.

Há pontos de cultura em funcionamento no

Município. Em caso afirmativo, informe a

modalidade de conveniamento (com a União; o

Estado ou o Município) e o número de pontos de

cultura existentes em cada modalidade.

Meta 23. 15 mil Pontos de Cultura em

funcionamento, compartilhados entre o Governo

Federal, as Unidades da Federação (UFs) e os

municípios integrantes do Sistema Nacional de

Cultura (SNC).

O Município possui política de fomento a núcleos

de produção digital voltada ao desenvolvimento,

formação, pesquisa, produção audiovisual e

experimentação na interface entre cultura,

comunicação, arte e tecnologia. Em caso

afirmativo, informe as ações e programas

desenvolvidos.

Meta 43. 100% das Unidades da Federação (UFs)

com um núcleo de produção digital audiovisual e

um núcleo de arte tecnológica e inovação.

Criação e Fruição

Informações solicitadas Meta relacionada

Há Política Municipal para a valorização e

expansão de grupos de criadores locais e estímulo

a experimentação artística de caráter profissional

ou amador, nas áreas de teatro, dança, circo,

conjuntos musicais, orquestras, corais, bandas,

artes visuais, desenho e pintura, associações

literárias e artesanato. Em caso afirmativo,

informar as ações e programas desenvolvidos.

Meta 22. Aumento em 30% no número de

municípios brasileiros com grupos em atividade

nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes

visuais, literatura e artesanato.

O Município possui núcleos de produção digital

audiovisual independente e núcleos de arte

tecnológica e inovação mapeados. Em caso

afirmativo, informar a quantidade.

O Município dispõe de acervo público de obras

audiovisuais, iconográficas, sonoras, do

patrimônio cultural e artístico que estejam em

domínio público ou licenciadas. Em caso

afirmativo, o acervo está disponível na internet.

Meta 40. Disponibilização na internet de

conteúdos que estejam em domínio público ou

licenciados.

O Município catalogou e inventariou o acervo de

suas bibliotecas públicas municipais, museus e

arquivos. Em caso afirmativo, o acervo está

disponível na internet?

Meta 41. 100% de bibliotecas públicas e 70% de

museus e arquivos disponibilizando informações

sobre seu acervo no SNIIC; Meta 40.

Disponibilização na internet de conteúdos que

estejam em domínio público ou licenciados.

Circulação, Difusão e Consumo

Informações solicitadas Meta relacionada

O Município promove ações de produção e

circulação de espetáculos e atividades artísticas e

culturais fomentadas com recursos públicos

federais? Em caso afirmativo, informe quanto foi

captado para este fim por área beneficiária nos

anos de 2009; 2010 e 2011.

Meta 24. 60% dos municípios de cada

macrorregião do país com produção e circulação

de espetáculos e atividades artísticas e culturais

fomentados com recursos públicos federais.

O Município desenvolve algum Programa de Meta 25. Aumento em 70% nas atividades de

250

incremento a difusão cultural em intercâmbio

nacional e internacional. Se esta atividade for

realizada em parcerias com os Governos Estadual

e Federal, indique o aporte de recursos específicos

por cada esfera, nos anos de 2009, 2010 e 2011.

difusão cultural em intercâmbio nacional e

internacional.

Qual a frequência anual de público nas práticas

artísticas e culturais desenvolvidas em museus,

centros culturais, cinemas, teatros, circo, dança e

música.

Meta 28. Aumento em 60% no número de pessoas

que frequentam museu, centro cultural, cinema,

espetáculos de teatro, circo, dança e música.

Ampliação e Qualificação de Espaços Culturais

Informações solicitadas Meta relacionada

Qual a porcentagem de equipamentos culturais

públicos e privados que atendem aos requisitos

legais de acessibilidade às pessoas com

deficiência.

Meta 29. 100% de bibliotecas públicas, museus,

cinemas, teatros, arquivos públicos e centros

culturais atendendo aos requisitos legais de

acessibilidade e desenvolvendo ações de

promoção da fruição cultural por parte das

pessoas com deficiência.

Existem cineclubes em funcionamento no

Município.

Meta 30. 37% dos municípios brasileiros com

cineclube.

Quantifique o número de equipamentos culturais

existentes no Município, sejam eles públicos ou

privados. Especifique a resposta por equipamento:

bibliotecas; museus; cinemas; teatros ou salas de

espetáculo; arquivos ou centros de documentação;

centros culturais. No caso dos equipamentos

públicos, indique a esfera de governo responsável.

Meta 31. Municípios brasileiros com algum tipo

de instituição ou equipamento cultural, entre

museu, teatro ou sala de espetáculo, arquivo

público ou centro de documentação, cinema e

centro cultural; Meta 32. 100% dos municípios

brasileiros com ao menos uma biblioteca pública

em funcionamento.

As bibliotecas públicas e museus municipais

foram modernizados nos últimos 5 anos? A

modernização dessas instituições refere-se às

ações de aprimoramento de suas instalações ou

aquisição de equipamentos, material permanente

ou acervos, visando atender às suas atividades-

fim.

Meta 34. 50% de bibliotecas públicas e museus

modernizados.

A Prefeitura dispõe de algum espaço cultural

integrando esporte e lazer em funcionamento?

Meta 33. 1.000 espaços culturais integrados a

esporte e lazer em funcionamento.

Participação Social

Informações solicitadas Meta relacionada

O Município indicou delegados para o Colegiado

Setorial do Conselho Nacional de Política

Cultural (CNPC)? Em caso afirmativo, informe se

o Município possui representantes setoriais no

CNPC e quais são eles:

Sem correlação com metas do PNC.

O Município utiliza alguma plataforma de

governança colaborativa como instrumento de

participação social? Em caso afirmativo, informe

o número de usuários:

Meta 48. Plataforma de governança colaborativa

implementada como instrumento de participação

social com 100 mil usuários cadastrados,

observada a distribuição da população nas

macrorregiões do país.

Identifique as lideranças capazes de fazer Sem correlação com metas do PNC.

251

intermediação entre diferentes setores da cultura e

da sociedade. Informe o nome da liderança;

instituição; grupo ou movimento que representa e

o setor de atuação.

Fortalecimento Institucional e Articulação Federativa

Informações solicitadas Meta relacionada

Liste os documentos oficiais que têm repercussão

no campo cultural. Exemplo: Plano Municipal de

Educação; Plano de Desenvolvimento Urbano;

planos e projetos estratégicos; resultados de

conferências municipais – educação, juventude,

mulheres, dentre outras; memória das

conferências municipais de Cultura e conferências

setoriais etc.

Sem correlação com metas do PNC.

Fonte: a autora, a partir de MINC (2012a) e UFBA (2012d).

252

APÊNDICE 5

APRESENTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DA INSTITUCIONALIDADE

DA CULTURA

Tema Informações solicitadas

Integração ao

Sistema Nacional de

Cultura

- Sobre assinatura do protocolo de intenções do SNC;

- Sobre participação do Município na Oficina do SNC;

- Se houve alguma articulação municipal para discussão sobre a sua adesão

ao SNC;

- Quais deliberações e resultados alcançados;

- Sobre a existência e legalidade do SMC;

- Se o Município participou do Seminário Nacional de Cultura.

Órgão Gestor de

Cultura

- Se o Município possui um Órgão de Cultura e qual o seu formato

institucional;

- Informar sobre documentos que legalizam o referido Órgão

(estatutos/leis/organograma/regimento interno).

Conselho Municipal

de Política Cultural

- Se existe Conselho de Política Cultural, sua composição e forma de

escolha;

- Quais os setores e segmentos representados no Conselho, tanto do poder

público quanto da Soc. Civil.

Fóruns de Cultura

- Se existem fóruns organizados, quem são eles e se são vinculados ao

Conselho de Política Cultural;

- Se o Município participa de fóruns de gestores de cultura e quais são eles.

Conferências de

Cultura

- Se o Município já realizou conferências e a data de realização destas, qual o

número de participantes e suas principais deliberações;

- Se o Município participou de conferências estaduais de cultura e se houve

indicação de algum delegado para a conferência nacional de cultura em

2005.

Sistema Municipal de

Financiamento à

Cultura

- Sobre orçamento municipal e orçamento para a cultura e seu percentual em

relação ao orçamento municipal;

- Se o município possui fundo de fomento cultura e qual o volume de

recursos executado anualmente e quais os projetos contemplados;

253

- Se o Município possui lei de incentivo à cultura, qual o volume de recurso

executado anualmente e quais projetos foram contemplados.

Plano Municipal de

Cultura

- Se existe plano de cultura e ano de elaboração;

- Se foi elaborado para ser executado num mandato de quatro anos (plano de

governo) ou ultrapassa a vigência de vários mandatos (plano de estado);

- Se foi transformado em lei pelo legislativo municipal;

- Resumo do andamento do processo de elaboração mais as principais

diretrizes do plano.

Sistemas Setoriais

Municipais de

Cultura

- Se existe sistema setorial de cultura e se estão integrados aos sistemas

setoriais estaduais e nacionais de cultura;

- Se existem conselhos dos sistemas setoriais e informar a sua composição e

forma de escolha dos membros;

- Solicita encaminhamento da legislação existente acerca desses conselhos.

Sistema Municipal de

Informações de

Indicadores Culturais

- Se existe algum tipo de sistema de informações e indicadores culturais e

quais os principais dados cadastrados no sistema;

- Se o sistema já possui formulação de indicadores;

- Quais os principais usos das informações e indicadores;

- Se esse sistema está integrado a outros sistemas, indicando-os.

Programa Municipal

de Formação na Área

da Cultura

- Se existe Programa de Formação na área da cultura, em que áreas, quais os

formatos e quais públicos são beneficiados;

- Se o Município participa de algum programa estadual de cultura e qual;

- Se os gestores municipais já participaram de alguma formação em cultura,

promovida pelo Governo Estadual ou Federal.

Programas

Federativos na Área

da Cultura

- Se o Município desenvolve algum projeto ou ação em parceria com o

MinC, se possuir, indicar os documentos legais relacionados ao projeto ou

ação, como informar sobre objetivos, valor e prazo de vigência.

Fonte: a autora, a partir de UFBA (2012f).