guia de estudos / study guide otanmirror.faap.br/forum2018/pdfs/guia-estudo_otan-v2.pdf ·...
TRANSCRIPT
1
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GUIA DE ESTUDOS / Study Guide
Guia de estudos / Study Guide
OTANOrganização do Tratado do Atlântico Norte
De 30 de maio a 02 de junho de 2018São Paulo
(11) 3662-7262
Guia de estudos / Study Guide
Conselho de Curadores
PresidenteSrª. Celita Procopio de Carvalho
integrantesDr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno
Dr. Octávio Plínio Botelho do AmaralDr. José Antonio de Seixas Pereira Neto
Srª. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti
diretoria exeCutiva
diretor-PresidenteDr. Antonio Bias Bueno Guillon
assessoria da diretoria
assessor administrativo e FinanceiroSr. Tomio Ogassavara
assessor de assuntos acadêmicosProf. Rogério Massaro Suriani
FaCuldade de eConomia
diretoriaProf. Silvio Passarelli
Coordenação Profª. Fernanda Petená Magnotta
Prof. Paulo Dutra Costantin
Fórum FaaP de discussão estudantil - Coordenação Prof. Victor Dias Grinberg
CARTA DE APRESENTAÇÃO
Bem-vindos à 15ª edição do Fórum FAAP de Discussão Estudantil. Estamos ansiosos em conhecê-los e
iniciarmos nossos trabalhos. Mas, antes, vamos nos apresentar e falar um pouquinho do que está por vir!
Dandara Melynna Ferraro está participando de seu 5º Fórum, tendo sido voluntária da AIEA (2015), dire-
tora do CDH (2016) e secretária-geral administrativa das duas edições de 2017. É apaixonada por tudo no
evento, em especial pelas pessoas, e por isso sempre volta! Está animadíssima para trabalhar com vocês
como diretora da OTAN!
Isabella Moraes está participando de seu 4º Fórum FAAP, tendo atuado como voluntária acadêmica da
OIT em 2015, diretora da OTAN em 2016 e diretora da União Africana na 14º edição. Enérgica e muito
engajada com a temática de Direitos Humanos, é apaixonada pelos comitês e pelas aulas de guerra
e está muito feliz e ansiosa para recebê-los e ajudá-los no desenvolvimento das discussões que serão
promovidas nessa edição.
Natália Marioto Siqueira está participando de seu 4º Fórum FAAP. Já foi delegada em 2015 no Gabinete
Russo e, em 2016, no CIDH, trabalhou como staff na 13º edição e como diretora-adjunta da CSNU na 14ª
edição. É encantada pelo Fórum e por tudo o que ele proporciona, pois sabe como pode transformar
alunos em cidadãos. Pretende fazer o possível para tornar essa edição inesquecível para seus delegados!
Giovanna Trindade Santos está participando de seu 2° Fórum FAAP. Na 13ª edição, foi voluntária acadê-
mica do comitê da OMS. Está entusiasmada para ser diretora-adjunta e espera que esse seja o melhor
Fórum, podendo proporcionar aos seus delegados uma experiência nova e motivadora.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte foi criada em 1949 como uma aliança militar entre os
Estados Unidos, Canadá e os principais países da Europa, com a intenção de se contrapor à União Soviética
e seu Pacto de Varsóvia. Com o fim da Guerra Fria, temáticas cada vez mais amplas se fizeram presentes
4
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GUIA DE ESTUDOS / Study Guide
dentro da organização, buscando permanecer relevante perante aos novos desafios da agenda inter-
nacional. Com isso em vista, a OTAN passa a trabalhar não só para a manutenção da segurança de seus
membros, mas também para promover a democracia e a resolução pacífica de disputas. Fica claro,
então, a relevância da temática dos refugiados para o comitê.
Nessa edição do Fórum, vamos ajudá-los a discutir e propor soluções de médio e longo prazo para lidar
da melhor forma possível com o fluxo de refugiados no Mediterrâneo. Para tal, também falaremos sobre
possíveis intervenções e/ou auxílio para os países de origem desse fluxo que enfrentam problemas sérios,
como a Síria, em guerra civil desde 2011. Sabemos dos desafios que estão à frente, mas temos certeza de
que, com preparo e força de vontade, vocês farão da OTAN, da 15ª edição do Fórum FAAP, um comitê
inesquecível! Estaremos ao lado de vocês do início ao fim! Vemo-nos em breve!
5
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
HISTÓRICO DO COMITÊ
O término da Segunda Guerra Mundial abriu
caminho para que uma nova nação liderasse o
globo. Duas estavam aptas para tal empreitada:
os Estados Unidos da América, potência nuclear
capitalista, e a União Soviética, grande potência
socialista. Com isso, em 1947, teve início o conflito
ideológico conhecido como Guerra Fria. Como
ele envolvia constantes ameaças nucleares, os
países capitalistas da Europa decidiram criar um
tratado com o objetivo de conter a crescente
força soviética e sua influência nos países da
Europa Ocidental.
Esse foi o início da Organização do Tratado do Atlân-
tico Norte, assinado no dia 4 de Abril de 1949, por 12
países: Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos
da América, França, Islândia, Itália, Luxemburgo,
Noruega, Países Baixos, Portugal e Reino Unido.
Com o passar dos anos, o tratado foi se expandindo.
Em 1955, a Alemanha o adotou; em 1982, foi a vez
da Espanha; em 1999, a Hungria, a Polônia e a Repú-
blica Tcheca incorporaram o Tratado e cinco anos
mais tarde, a Bulgária, a Eslováquia, a Eslovênia, a
Estônia, a Grécia, a Letônia, a Lituânia, a Romênia
e a Turquia aderiram. Recentemente, em 2009, a
Albânia e a Croácia tornaram-se signatários.
Desde sua criação, os objetivos da Organização
mudaram e se adaptaram de acordo com o
contexto histórico em que estava. Hoje, seu prin-
cipal objetivo é garantir que os Estados-membros
compartilhem os riscos, ganhos e responsabilidades
de ser parte de uma defesa coletiva. Apoiado pelo
artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que defende
o direito inerente de legítima defesa individual
ou coletiva no caso de um ataque contra algum
Estado-membro, o artigo 5 do Tratado reforça o
direito de autodefesa coletiva em caso de ataque
armado contra um dos signatários.
As Partes concordam que um ataque armado contra
um ou mais deles na Europa ou na América do Norte
deve ser considerado um ataque contra todos eles e,
consequentemente, eles concordam que, se ocorrer
tal ataque armado, cada um deles, no exercício do
direito do indivíduo ou autodefesa coletiva reconhecida
pelo Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, ajudará o
Partido ou as Partes a serem atacadas de imediato, de
forma individual e em conjunto com as outras Partes,
as medidas que julgar necessárias, incluindo o uso de
6
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
armas armadas, para forçar, restaurar e manter a segu-
rança da área do Atlântico Norte (OTAN, 1949).
No que se refere à estrutura da OTAN, ela foi cons-
truída com o propósito de defender os interesses de
todos os Estados-membros em relação a assuntos
militares. O órgão supremo é o “North Atlantic
Council” (Conselho do Atlântico Norte) ou NAC, o
único órgão que possui autoridade máxima, desde
que a OTAN se tornou um órgão permanente
em 1952. Ele é encarregado de definir a atuação
da organização pelos órgãos subordinados. Há
também o “Nuclear Planning Group” (Grupo de
Planos Nucleares), responsável por assuntos polí-
ticos relacionados às forças nucleares. Abaixo
desses órgãos, estão os comitês subordinados que
são compostos por especialistas de vários países
signatários.
Para a representação militar, a OTAN dispõe de
três órgãos, o “Military Committee/MC” (Comitê
Militar), o “Allied Command Operations/ACO”
(Operação do Comando Aliado) e o “Allied
Command Transformation/ACT” (Comando Aliado
de Transformação). Os dois últimos formam a “Inte-
grated Military Command Structure” (Estrutura
Integrada do Comando Militar). O Comitê Militar
é o mais alto órgão que trata de ações militares e
tem como função dar assessoria política e estraté-
gica para os Estados quando suas ações implicam
decisões militares. Há também a responsabilidade
de comandar o ACO e o ACT.
O ACO é composto por quartéis generais e tem
o intuito de planejar e executar as ações mili-
tares definidas pelos outros órgãos. O Supremo
Comando Aliado, SACEUR, está localizado na
Bélgica e é responsável pelas operações militares. Já
o ACT tem a função de treinar e exercitar as forças
armadas, conduzindo novos experimentos para
criar estratégias e técnicas militares. O Supremo
Comando Aliado de Transformação é o principal
ACT e está localizado nos Estados Unidos. O secre-
tário-geral é responsável por representar a aliança
que há entre os Estados-membros e garantir que
os acordos sejam cumpridos. Ele também é encar-
regado de liderar os funcionários administrativos,
que trabalham no dia a dia da organização e não
representam nenhum país.
Após anos de atuação, a OTAN não escapou de
críticas internas. Desde sua posse em 2017, o presi-
7
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
dente dos EUA, Donald Trump, mantinha um posi-
cionamento bastante crítico em relação à OTAN e
suas atividades. Em uma entrevista para o jornal
britânico the times, ele chamou a agência de
“obsoleta”, uma vez que ela não estava dando a
atenção necessária ao terrorismo. Trump também
critica a atitude dos outros membros com o compro-
misso financeiro com a OTAN, uma vez que os EUA
é o maior contribuinte, eles arcam com os mais altos
custos, enquanto alguns países deixam de pagar ou
pagam substancialmente menos que outros.
HISTÓRICO DO PROBLEMA
O principal destino dos refugiados que saem da
África e Oriente Médio fugindo de guerras e situa-
ções de perigo tem sido a Europa.
Os países europeus, como Grécia e Itália, constituem
os refúgios mais próximos, por exemplo, para quem
sai da Síria e de algumas regiões do Oriente Médio.
Outro atrativo é a economia europeia e o desenvol-
vimento tecnológico que se observa nos países do
continente. [...] O continente sempre foi visto, depois
da Guerra [Mundial], como estado do bem estar social
por ter conseguido garantir à sua população o acesso
aos bens fundamentais, como educação, saúde, segu-
rança, transporte público. (MARÇAL, 2015)
Essa onda de imigração tem sido, em alguns
aspectos, positiva para o continente, “suprindo
a falta de mão de obra europeia, carente em
algumas áreas que exigem menos qualificação”,
complementando “a população economicamente
ativa europeia em alguns países” (ALCKMIN apud
MARÇAL, 2015). Entretanto, o fluxo cada vez maior
de imigrantes em busca de refúgio dos conflitos
e instabilidades frequentes nos dias de hoje, se
tornou motivo de preocupação para os países esco-
lhidos como destino, o que nem sempre garante
“uma grande abertura para o acolhimento”
(MARÇAL, 2015).
O acolhimento dos refugiados é um tema polê-
mico entre parte das populações locais, principal-
mente aquela que se identifica com movimentos
de extrema direita, em ascensão na política norte-
-americana e europeia, que defendem leis anti-
-imigração, lista de banimentos/impedimentos e
fortalecimento de fronteiras. Esses movimentos
encontram respaldo nos recentes atentados terro-
ristas de lobos solitários como os que aconteceram
8
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
em Paris (França) e Manchester (Inglaterra) para
argumentar que a entrada de refugiados pode ser
uma ameaça à segurança nacional, uma vez que a
identificação de possíveis terroristas seria imprati-
cável. É comum, também, o receio da inclusão dos
imigrantes em economias que ainda se encontram
em vias de recuperação da crise de 2008, argumen-
tando-se que eles poderiam “roubar” empregos e
representar custos excessivos para os governos.
Montagem para campanha eleitoral divulgada por Donald
Trump Jr. pelo Twitter – a inclusão de refugiados seria uma
ameaça à segurança nacional. Fonte: BBC
Embora não haja um consenso nos países de
destino sobre a inserção dos refugiados em
suas sociedades, eles terão de se organizar para
encontrar medidas para lidar com a situação,
uma vez que não são capazes de cessar o fluxo
de pessoas saindo da África e Oriente Médio em
busca de melhores condições de vida. Lidar com
esse fluxo requer um entendimento básico das
origens de sua intensificação. A chanceler da
Alemanha, Angela Merkel, chegou a afirmar ser
necessário agir “contra o que origina esses fluxos
de imigração”, com o objetivo de impedir “que
as pessoas sigam morrendo de maneira tão cruel,
na porta da Europa” (G1, 2015), numa travessia
extremamente perigosa.
Em 2014, a maior parte dos refugiados que
chegaram à Europa pertencia às nacionalidades
eritreia e síria (G1, 2015). Também são pontos de
partida comuns os países que enfrentam com as
consequências da presença do Estado Islâmico e
outros grupos terroristas, como o Iraque, Afega-
nistão, Nigéria, Paquistão e a própria Síria, que
lidera a solicitação de asilo no mundo inteiro
desde 2014. A Líbia também é um dos principais
pontos de saída da África, não só para os líbios
fugindo da instabilidade politica do país, mas de
pessoas de várias nacionalidades, por ser mais
próximo do continente europeu.
9
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
Fonte na imagem.
Desde seu início, em 2011, a guerra civil na Síria
foi responsável pela morte ou deslocamento de
pelo menos metade da população – que antes da
guerra ultrapassava o montante de 11 milhões
de pessoas. Os sírios estão no epicentro da crise
em volta do fl uxo de refugiados no Mediter-
râneo, representando o maior grupo em busca
de refúgio na Europa, enfrentando os desafi os
da travessia e muitas vezes impedidos de seguir
viagem por dentro do continente. No entanto,
a maior parte dos refugiados sírios é acolhida
por seus países vizinhos, como Turquia, Líbano e
Jordânia. Muitos ainda escaparam para o norte
do Iraque, onde agora se encontram presos no
meio de outro confl ito. De acordo com as Nações
Unidas, 4,6 bilhões de dólares foram requisi-
tados, em 2017, para assistência de refugiados
sírios, mas menos da metade do valor foi rece-
bido – 1,7 bilhões (MERCY CORPS, 2017).
Fonte na imagem.
A crise na Síria se origina de manifestações anti-
governo iniciadas em março de 2011, dentro do
contexto da Primavera Árabe, como fi cou conhe-
cida a série de manifestações populares que se
deram na região na época. A resposta do governo
de Bashar al-Assad foi violenta, gerando reações
de grupos de oposição armados, entre eles o
Free Syrian Army (Exército de Libertação Síria),
dando início à guerra civil síria que perdura até
os dias de hoje. De acordo com a Mercy Corps,
em sete anos de guerra, mais de 480 mil pessoas
foram mortas, cidades e vilas foram destruídas
e violações absurdas dos Direitos Humanos têm
10
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GUIA DE ESTUDOS / Study Guide
se tornado comuns, como os ataques com armas
químicas contra civis. Nesse cenário, necessidades
básicas como comida e atendimento médico são
raramente atendidas.
A situação na Síria se tornou mais complexa
com o envolvimento de forças externas, desde
grandes países, como Rússia e Estados Unidos,
a grupos terroristas como o Estado Islâmico. Em
dezembro do ano passado, as partes em conflito
concordaram em evacuar a parte leste da cidade
de Aleppo, intensificando o deslocamento de
civis. No entanto, a evacuação, por parte dos
grupos armados, não foi completa. Enquanto
isso, Raqqa, uma das maiores cidade sírias, loca-
lizada no norte do país, esteve sob domínio do
Estado Islâmico desde 2013, sendo apenas reto-
mada em outubro de 2017 por milícias sírias
apoiadas pelo governo norte-americano com o
nome de Forças Democráticas Sírias. Ainda assim,
de acordo com estimativas das Nações Unidas,
80% da cidade permanece inabitável, fontes
de água foram inutilizáveis e serviços de saúde
estão indisponíveis (MERCY CORPS, 2017). Assim,
o número de deslocados pela crise tem aumen-
tado exponencialmente desde seu início e deve
continuar em ascendência até que a guerra civil
termine.
Fonte na imagem.
Embora a maior parte dos indivíduos tentando
atravessar o Mediterrâneo seja de origem síria,
como já visto anteriormente, outras nacio-
nalidades também fazem parte desse fluxo.
Passamos, então, a traçar brevemente as origens
para o deslocamento de iraquianos, afegãos,
nigerianos, eritreus e líbios. Instabilidade polí-
tica, assim como economias precárias e insegu-
rança, geralmente relacionada com a presença
de grupos terroristas, são fatores comuns para
a migração em massa a partir da Nigéria – prin-
cipal foco de atuação do grupo Boko Haram – e
Afeganistão – que permanece instável desde a
11
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
intervenção e retirada militar norte-americana.
No caso específico do Afeganistão, ironicamente,
muitos fogem para o Paquistão, também ponto
de partida de muitos refugiados com destino à
Europa, por ser também um país que enfrenta
as mesmas instabilidades presentes no Afega-
nistão. Afegãos representaram 20% das pessoas
que chegaram à Europa em busca de refúgio em
2015. (MERCY CORPS, 2017).
A Eritreia é o país africano de onde se originam
a maior parte dos refugiados cruzando o Medi-
terrâneo. “Um dos países mais jovens da África,
a Eritreia viveu uma guerra civil por décadas e a
população sobrevive praticamente com agricul-
tura de subsistência” (G1, 2015). Assim, os eritreus
fogem da ditatura (de acordo com relatório das
Nações Unidas, eleições não são realizadas na
Eritreia desde sua independência, em 1993) e
repressão presentes em seu país, onde milhares
de pessoas são encarceradas sem acusação
formal, o que limita a liberdade de imprensa e
expressão (RAMME, 2016). Muitos jovens eritreus
fazem parte do fluxo de refugiados, em fuga da
obrigação de servir à tropa militar de seu país por
tempo ilimitado e das condições precárias de vida.
Em Asmara, a capital da Eritreia, não é difícil encon-
trar jovens que estão a considerar a hipótese de
fugir, devido às dificuldades em levar uma vida
digna no país. No mercado paralelo, um litro de
óleo custa seis euros. Paga-se o mesmo por meio
quilo de massa. Um litro de gasolina custa três euros.
O salário médio raramente ultrapassa os 50 euros
por mês. A frustração entre os cidadãos é enorme.
(RAMME, 2016)
Há, ainda, uma parcela de iraquianos no fluxo
de refugiados passando pelo Mediterrâneo,
buscando melhores condições do que aquelas
encontradas em seu país de origem, ainda em
recuperação após um período de intenso conflito
armado. Mosul, segunda maior cidade do Iraque,
localizada no norte do país, caiu no controle
do Estado Islâmico em 2014. Uma ofensiva das
forças militares iraquianas em 2015 reconquistou
partes da parcela norte da cidade, que voltou
completamente ao controle do estado iraquiano
no fim de 2016 numa batalha que deslocou apro-
ximadamente 900 mil civis – muitos utilizados
como escudos humanos pelas forças do Estado
Islâmico. Mesmo com o fim do conflito, a região
permanece instável, com falta de comida, água,
12
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
habitação e outros bens básicos, e civis perma-
necem deslocados (MERCY CORPS, 2017). As
condições são ainda mais precárias para os refu-
giados sírios que se deslocaram para a região.
Fonte na imagem
Por fim, cabe se debruçar brevemente sobre os
acontecimentos na Líbia, ponto mais próximo
da Europa no Mediterrâneo. O país esteve no
centro da Primavera Árabe em 2011, quando seu
então chefe de Estado, Muammar Gaddafi, foi
destituído e morto graças à revolta popular e
com auxílio das forças da OTAN. A Líbia, desde
então, é palco de transtornos violentos e insta-
bilidade econômica, com um governo provisório
em busca de legitimidade e cerca de 300 mil
líbios deslocados (ACNUR, 2017). Grande parte
dos deslocados se encontra em centros peniten-
ciários, onde também são direcionados civis de
outras nacionalidades que buscam refúgio fora
de seu país de origem por meio da travessia do
Mediterrâneo.
Problemas relacionados a contrabando tornaram-se
mais frequentes, não somente por conta da insta-
bilidade contínua e da localização da Líbia, mas
também porque os contrabandistas se alimentam
do desespero dos refugiados e dos migrantes que
querem atravessar o mar Mediterrâneo para chegar
na Europa. Mais de 1.364 homens, mulheres e
crianças desapareceram ou morreram ao tentar
fazer essa viagem (ACNUR, 2017).
Assim como nos demais países estudados aqui,
a população da Líbia foi gravemente afetada
pelo colapso da lei e da ordem (ACNUR, 2017),
encontrando dificuldades severas no acesso a
elementos básicos de sobrevivência, como água,
abrigo e alimentação.
[...] estes padrões de migração são muito complexos
– e tratar a raiz do problema, como a pobreza, é
essencial. Também precisamos fortalecer a forma
13
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
com a qual os países de trânsito lidam com os fluxos.
As pessoas chegam aqui por devido a uma varie-
dade de problemas em outros lugares (GRANDI
apud ACNUR, 2017).
Como já visto anteriormente, a Líbia também é
ponto de partida para refugiados originados de
outros países.
Cerca da metade das pessoas que chegam à Líbia está
em busca de trabalho, mas acabam sendo forçadas a
fugir para a Europa para escapar de risco de morte,
instabilidade, condições econômicas difíceis, assim
como exploração e abusos generalizados no país.
[...] Os cidadãos estrangeiros que estão indo para a
Líbia fazem parte de um fluxo migratório misto, ou
seja, composto por pessoas vindas de diferentes
contextos, mas que viajam juntos pelas mesmas
rotas, muitas vezes com o auxílio de contrabandistas
e gangues criminosas. Os grupos são compostos por
refugiados, solicitantes de refúgio, migrantes econô-
micos, menores desacompanhados, deslocados por
motivos de catástrofes ambientais, vítimas de tráfico
humano, entre outros (ONUBR, 2017).
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Nos últimos anos, a Europa recebeu a maioria
dos indivíduos em busca de refúgio. Como vimos,
grande parte desse fluxo se origina de situações
de conflito, como a Guerra Civil na Síria, mas
não somente. Por isso, é importante se debruçar
sobre os critérios para que o status de refugiado
possa ser concedido e qual o ordenamento
jurídico que fundamenta a questão. Para tal, é
preciso estudar algumas termologias específicas:
um migrante é definido como sendo qualquer
pessoa que se desloca ou tenha se deslocado através
de uma fronteira internacional ou dentro de um país,
fora de sua residência habitual, independentemente
de sua situação jurídica; da natureza voluntária ou
involuntária do deslocamento; das causas do deslo-
camento; ou da duração da sua estadia. (OIM apud
ANNONI; DUARTE, 2017).
Os migrantes podem ser separados em catego-
riais, tais como os refugiados, os deslocados inter-
namente e os migrantes econômicos (JUBILUT,
2010). A principal diferença entre eles é o caráter
da migração: voluntária ou forçada.
14
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
a migração voluntária ocorre quando a vontade de
deslocar-se para outra região ou outro país advém
do próprio indivíduo ou família. A oportunidade de
melhores condições de vida em outro lugar faz com
que essas pessoas busquem um lugar com maior
qualidade de vida, seja por motivo social, econômico
ou climático. Nas migrações voluntárias, a decisão
migratória acontece em função das vantagens ofere-
cidas pelo lugar de destino, ainda quando o lugar de
origem não está obrigando a partida e o regresso ao
país de origem não está impossibilitado o retorno.
(ANNONI; DUARTE, 2017)
Migrantes econômicos geralmente se encaixam
nessa categoria, que por sua vez não é objeto de
nenhuma norma do direito internacional, ficando
a critério dos estados que os recebem a permissão,
a duração e as condições de sua estada:
Con el proceso de migración internacional, los dere-
chos humanos tienen dificultades de servir de base
para legitimar políticas. En el momento en que
una persona sale de su Estado, los mecanismos de
protección de derechos humanos se complican,
puesto que estos dependen de los Estados, quienes
tienen el monopolio del “derecho de admisión” y del
“derecho de reconocimiento a través de derechos”.
(ZAPATA-BARRERO, 2004)
O que há são normas internacionais que, ao regu-
larem questões como segurança, nacionalidade,
apatridia, liberdade de circulação de pessoas, unifi-
cação familiar, direitos humanos, saúde, tráfico de
pessoas, refúgio, asilo, tocam na temática das migra-
ções; ou, ainda, normas de proteção geral aos seres
humanos que se aplicam também às pessoas em
movimento. [...] A proteção internacional específica
é bastante precária em relação aos migrantes, o que
deve ser revisto. [...] Dessa forma, ter-se-ia assegu-
rado um mínimo de proteção, enquanto se tenta
coadunar os interesses dos Estados com as neces-
sidades dos migrantes e elaborar documentos mais
específicos de proteção. (JUBILUT, 2010)
Assim, haveria uma diferença crucial entre os
refugiados e os migrantes econômicos que resul-
tariam em ordenamentos jurídicos distintos.
Enquanto no segundo caso a migração é consi-
derada voluntária, no primeiro fala-se de
migração forçada. De acordo com o ACNUR,
os refugiados são caracterizados por estarem
“fora de seus países de origem por fundados
15
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
temores de perseguição, conflito, violência ou
outras circunstâncias que perturbam seriamente
a ordem pública e que, como resultado, neces-
sitam de proteção internacional.” (ANNONI;
DUARTE, 2017). Não podendo retornar aos seu
país de origem, os refugiados contam com um
amparo jurídico internacional.
A Convenção das Nações Unidas relativa ao
Estatuto dos Refugiados, adotada em 28 de
julho de 1951 e seu Protocolo, datado de 1967,
constituem a principal legislação em âmbito
internacional da matéria. Os países signatários
desse ordenamento acordaram que os refu-
giados estão protegidos pelo princípio do non-
-refoulement, ou da não devolução, que define
que um Estado não pode obrigar um indivíduo
a retornar às fronteiras de um território onde
a sua vida ou liberdade estejam ameaças. Esse
princípio previsto pelo artigo 33 da Convenção
de 1951, é considerado um dos mais importantes
alicerces do direito internacional e dos direitos
humanos, possuindo caráter jus cogens, ou seja,
peremptórias ou inderrogáveis pela vontade das
partes (ANNONI; DUARTE, 2017).
Migrações motivadas por fatores ambientais,
políticos ou sociais podem colocar o indivíduo
no mesmo patamar de um refugiado, lhe dando
direito à mesma proteção legal. Logo, definir
se a natureza de uma migração é voluntária ou
forçada pode ser desafiador. De tal modo, é
comum migrantes voluntários solicitarem status
de refúgio como forma de garantir direitos e
proteção amparados pelo direito internacional,
assim como também é comum migrantes forçados,
desinformados sobre seus direitos ou com medo
de serem estigmatizados, não solicitarem o status
de refugiado. O ordenamento jurídico interna-
cional no que tange aos movimentos migratórios
deve servir de pano de fundo para quaisquer deci-
sões e medidas tomadas para lidar com o fluxo de
pessoas passando pelo Mediterrâneo.
A Europa, como visto anteriormente, é um dos
destinos mais cobiçados de uma ampla gama de
migrantes e “o Mediterrâneo tem sido, desde
longa data, e continua a ser uma rota crucial
para o fluxo de migrantes e refugiados” (SASSEN
apud ANNONI; DUARTE). Isso se daria graças à
proximidade entre os países que nele possuem
costa, o que não significa que é uma rota segura.
16
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
Como a entrada pelos Balcãs foi dificultada pela
construção de cercas pela Hungria, Eslovênia
e Bulgária (BBC, 2016) e medidas restritivas
adotadas pelos governos austríaco e macedônio,
as rotas do Mediterrâneo se tornaram as princi-
pais para o atual fluxo de refugiados.
Fonte: Folha de São Paulo
A maior parte dos refugiados acaba se concen-
trando na Itália e na Grécia, ambos com costa
no Mediterrâneo, mesmo que não sejam seus
destinos por escolha – muitas vezes impedidos
de continuar caminho pelo continente, perma-
necem nos países onde conseguiram entrada. A
União Europeia determina que refugiados devem
solicitar asilo no estado-membro pelo qual aden-
trou a zona de integração. Esses países, por sua
vez, se deparam com inúmeros problemas para
atender todos os refugiados aportando em
suas terras, faltando-lhes infraestrutura para
tal. Assim, os governos italiano e grego acabam
permitindo a passagem de pessoas para países
como Alemanha, França e Reino Unido.
Em setembro de 2016, os ministros do interior da
União Europeia chegaram a aprovar um plano
para realocar 120 mil imigrantes pelo continente
por meio de cotas obrigatórias (BBC, 2016).
Entretanto, apesar dos esforços para auxiliar
Itália e Grécia, apenas pequenos grupos de refu-
giados têm sido realocados, com muitos estados
europeus rejeitando-se a aceitá-los. Há anos a
União Europeia encontra dificuldade em adotar
uma política única de asilo, com cada membro
seguindo regras e medidas próprias.
[...] as negociações na UE são marcadas por perma-
nentes tensões entre os países de chegada e trânsito e
os países de acolhimento, com acusações constantes
entre os parceiros europeus de falta de compreensão
e de solidariedade entre si. [...] Assim, atualmente
existem 28 políticas, 28 sensibilidades e 28 interesses
distintos nesta matéria. (FERREIRA, 2016)
17
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
Ainda assim, inúmeras pessoas têm arriscado a
vida tentando a travessia pelo Mediterrâneo.
A travessia do Mediterrâneo é feita em botes ou em
embarcações superlotadas, sem os mínimos requi-
sitos de segurança, por traficantes de pessoas, que
chegam a cobrar até R$ 10 mil por pessoa, as embar-
cações transportam, homens, idosos, mulheres e
crianças. Este tipo de negócio é altamente lucra-
tivo, pois uma única embarcação pode render até 1
milhão de reais, em virtude disso, é comum que os
traficantes em algumas ocasiões cheguem a entrar
em conflito armado com a guarda costeira dos
países europeus, sobretudo, Grécia, Itália, Espanha
e Malta, que servem de porta de entrada para eles.
(ALVES; BARBOSA, 2016)
Survivors often report violence and abuse by people
traffickers, who charge thousands of dollars per
person for their services. The chaos in Libya in
particular has given traffickers freedom to exploit
migrants and refugees desperate to reach Europe.
(BBC, 2016)
Assombrados com o número crescente de mortes
no Mediterrâneo, em 2015, o Parlamento Europeu
aprovou uma nova política de imigração que
visa “impedir esse tipo de tragédia e regular a
entrada de pessoas alheias à Comunidade” e que
“embora traga medidas de proteção às fronteiras
dos países-membros, assim como o melhor apare-
lhamento das agências de proteção desta, é insu-
ficiente para conter o fluxo de imigração vindo
da África e do Oriente Médio via Mar Mediter-
râneo” (ALVES; BARBOSA, 2016). A Agenda Euro-
peia de Migrações recomenda medidas de curto,
médio e longo prazo para lidar com a situação,
já indicando a possibilidade de envolvimento da
OTAN e outros atores fora da UE.
As medidas de caráter urgente adotadas pela UE
para fazer frente à crise migratória inscrevem-se
numa abordagem global das migrações, que tem
como objetivo tratar tanto os sintomas como as suas
causas. Se é certo que este é o objetivo principal
que guia o desenho de uma política de imigração
europeia, constatamos que, na realidade, a maioria
das medidas adotadas são de curto ou médio prazo
e se centram nas questões da gestão de fronteiras.
(FERREIRA, 2016)
Para médio e longo prazo, a Agenda propõe
18
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
quatro grandes orientações, sendo elas: reduzir
incentivos à migração irregular; gerenciar
formas de salvar vidas sem deixar de garantir a
segurança das fronteiras; desenvolver uma polí-
tica comum de asilo, reavaliando o Regulamento
de Dublin; estabelecer uma nova política para
modernizar a migração legal, melhorando as
políticas de integração. (ALVES; BARBOSA, 2016).
No curto prazo, os países europeus acordaram as
seguintes medidas:
1. Intensificar os esforços de resgate.
Destina-se a restaurar o nível de intervenção
obtido quando da vigência da Operação
Mare Nostrum, triplicando o orçamento
destinado às operações Triton e Poseidon,
seus meios de atuação e âmbito geográfico
[...].
2. Perseguir as redes criminosas que
exploram os imigrantes. Utilizando as infor-
mações para identificar e processar os trafi-
cantes, por exemplo, por meio do reforço
da EUROPOL, esse recurso inclui a captura e
destruição sistemática das embarcações utili-
zadas pelos traficantes [...].
3. Melhora nos sistemas de concessão de
asilos dos Estados-membros. Por essa regra,
se propõe que seja ativado o mecanismo de
intervenção de emergência previsto no artí-
culo 78.3 do Tratado de Funcionamento da
União Europeia, por meio do qual se estabe-
leceria um regime de repartição temporária
de refugiados com a finalidade de garantir a
participação equitativa e isonômica de todos
os Estados-membros, desse modo se faria um
regime de distribuição de 20.000 solicitações
de asilo que a ACNUR fixou como objetivo
anual para a UE até o ano 2020.
4. Trabalhar em parceria com países de fora
da UE para tratar o tema da imigração desde
sua origem. Com essa medida, a UE desti-
nará 30 milhões de euros ao fortalecimento
de programas de desenvolvimento regional
e proteção na Nigéria e criará um “centro
piloto polivalente” para facilitar informações,
proporcionar uma proteção a nível local e
oferecer oportunidades de reinstalação para
aqueles que dela necessitam, além de apoiar
também as atividades para países de fora do
bloco, ajudará a reforçar domínio da gestão
19
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
das fronteiras e empreenderá esforços no
sentido de promover a estabilidade, particu-
larmente na Líbia e na Síria [...].
5. Ajudar os Estados-membros com
maiores fluxo de imigração fronteiriça. A
Agenda define a necessidade de imple-
mentar uma nova abordagem, chamada
de “pontos críticos” com base em uma
maior coordenação entre a Oficina Euro-
peia de Apoio ao Asilo (OEAA), a FRONTEX
e a EUROPOL, bem como entre estas e os
Estados-membros na linha de frente das
fronteiras externas, tais como Grécia, Itália
e Espanha, de modo a proceder rapida-
mente a identificação, registro e recolha
de impressões digitais dos imigrantes, bem
como a disponibilização de mais 60 milhões
de euros para o financiamento de meios de
salvamento e prestação de serviços à saúde
desses. (ALVES; BARBOSA, 2016)
Para realizar a primeira medida, a Agenda esti-
pulou a triplicação imediata dos recursos dispo-
níveis para as operações Triton e Poseidon reali-
zadas pela FRONTEX com intuito de desmantelar
redes de tráfico de imigrantes (ALVES; BARBOSA,
2016). Triton e Poseidon substituem a operação
italiana Mare Nostrum, iniciada em 2013, com
quase dois milhões de euros do Fundo para as
Fronteiras Exteriores da UE. Foi bem acolhida
pela comunidade internacional por seu amplo
âmbito geográfico, que compreendia desde
a costa italiana até a zona marítima da costa
da Líbia, resgatando mais de 150 mil pessoas
tentando atravessar o Mediterrâneo (ALVES;
BARBOSA, 2016).
Porém, a operação deixou de contar com apoio
financeiro europeu, encerrando-se em outubro
de 2014, dando lugar às operações Triton e
Poseidon, criticadas por, ao menos inicialmente,
se limitarem ao controle das fronteiras, não
estando autorizadas a realizar resgastes em
casos de emergência, e por seu âmbito geográ-
fico mais restrito. Para uma melhor coorde-
nação e controle das fronteiras exteriores, a UE
também estuda a criação de uma Guarda Euro-
peia de Fronteiras e Costeira, integrada numa
nova agência que incorporaria a atual FRONTEX.
“Este corpo de segurança seria responsável pela
gestão da fronteira externa da UE e teria capaci-
20
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
dade de atuar, em situações de emergência, sem
autorização do país afetado por uma eventual
crise migratória” (FERREIRA, 2016).
Comparativo entre as operações. Créditos na imagem.
Colaboração por país para a operação Triton. Itália entraria
com navios para alto-mar e patrulha, além de aviões.
Créditos na imagem.
Em conjunto com as operações no Mediterrâneo,
a UE também optou por realizar um acordo com
a Turquia, principal país de trânsito nas rotas do
Mediterrâneo Oriental e dos Balcãs.
O acordo celebrado em março de 2016 tem como
objetivo reduzir drasticamente a intensidade dos
fluxos migratórios nesta rota: todos os novos
imigrantes irregulares que cheguem às ilhas gregas
através da Turquia serão devolvidos a este país; por
cada sírio que chegar ilegalmente à Grécia devolvido
à Turquia, outro sírio vindo diretamente da Turquia
será reinstalado num Estado-Membro, com base
numa regra de um-por-um (com um limite máximo de
72 mil). Segundo a UE esta é uma medida com caráter
“extraordinário” e “temporário”. (FERREIRA, 2016)
Dessa forma, a Turquia torna-se elemento-chave
na gestão da crise migratória no Mediterrâneo,
“comprometendo-se a tomar medidas para evitar
a abertura de novas rotas de imigração irregular”
(FERREIRA, 2016). Entretanto, a Agenda Europeia
de Migrações, as operações Triton e Poseidon e
o acordo UE-Turquia não parecem ter sido sufi-
cientes para lidar com a situação, e inúmeros
acidentes continuam ocorrendo no Mediter-
21
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
râneo. A pedido de Alemanha, Grécia e Turquia, a
OTAN se envolveu na região, iniciando operações
próprias. Em fevereiro de 2017, enviou navios de
guerra ao mar Egeu (FOLHA DE SÃO PAULO, 2017)
para interceptar barcos e perseguir as máfias que
realizam o tráfico de pessoas. O envolvimento da
OTAN implica reconhecer o fracasso dos disposi-
tivos da FRONTEX (EL PAÍS, 2016).
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg,
se apressou a esclarecer que o foco da operação
seria monitoramento e vigilância (ESTADÃO,
2017) com aumento nas missões de reconheci-
mento na fronteira entre Turquia e Síria (aten-
dendo pedido do governo de Ancara). A força
empregada pela OTAN na região é liderada
pela Alemanha e busca recolher informações
a respeito do tráfico de pessoas para as autori-
dades turcas e gregas, além da FRONTEX, tendo
como objetivo primordial entender melhor como
os traficantes tem operado. No caso de emer-
gências nas quais a vida de imigrantes seja amea-
çada, as forças da OTAN tentaram resgatá-las e
enviá-las para a Turquia, com consentimento do
governo turco (DW, 2017).
Região na qual a OTAN opera. Fonte: DW
O governo turco afirma que a operação no Mar
Egeu reduziu o fluxo de refugiados na região
próxima à Grécia significativamente, e que suas
forças podem se voltar completamente para
apoiar outra missão separada da União Europeia
na região costeira da Líbia para reduzir o fluxo em
direção à Itália (para qual a OTAN já tem enviado
reforços). Entretanto, dar fim à missão da OTAN
no Mar Egeu parece estar fora de questão para
os europeus, assim havendo um impasse que,
por sua vez, tem gerado tensão política.
Diplomats say Turkey is unhappy with NATO ships
moving about in waters that Turkey and Greece have
long contested and is worried that Greece could gain
the upper hand in a dispute about a group of islets in
the Aegean Sea […] An EU deal with Turkey remains
22
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
in place and is providing Ankara with billions of euros
so long as Turkey keeps refugees on its territory
and stops people smugglers moving them across
the Aegean to Greece. Unlike the EU’s mission off
the Italian coast, which brings rescued migrants to
Europe’s shores, migrants are returned to Turkey
even if they are picked up in Greek waters. Germany
and Britain, with U.S. support, see the presence of
NATO ships patrolling the waters between historic
rivals Greece and Turkey as a way to uphold the EU
agreement with Turkey. NATO Secretary-General
Jens Stoltenberg also defended the mission, saying
NATO ships were able to spot people smugglers
much more quickly than Turkish and Greece coast-
guards. (EMMOTT; SIEBOLD, 2017)
Há tensão, também, na relação entre os governos
europeus e as organizações não governamentais
que vêm atuando no Mar Mediterrâneo. ONGs
foram impedidas de prestar auxílio no resgate
em inúmeros casos, acusadas de estarem traba-
lhando em parceria com traficantes.
It’s a ludicrous accusation that’s diverting atten-
tion from the real problem. The real problem is that
people are dying. There’s a gap in assistance and
we’re starting to wonder whether this is part of a
deliberate plan to step the migration flow…a deadly
deterrent. (ARGENZIANO apud DEARDEN, 2017)
Stefano Argenziano, gerente de operações
da instituição Médicos Sem Fronteiras, afirma
que as intervenções das autoridades euro-
peias, com exceção da guarda costeira italiana,
são usualmente pouco significativas e tardias,
condenando-as por não assegurarem rotas mais
seguras (DEARDEN, 2017). Pelo contrário, elas
têm transferido a responsabilidade de resgate
para a Líbia, onde também prendem imigrantes
em centros de detenções, e tentado evitar que
estes cheguem às suas costas, de onde não
poderiam mais ser enviados de volta sem passar
pelo devido processo de avaliação do pedido de
refúgio. Por esse motivo, autoridades têm urgido
pelo fechamento da rota do Mediterrâneo e
cessão das operações de resgate.
A rescue in the open sea cannot be a ticket to
Europe, because it hands organized traffickers
every argument to persuade people to escape for
economic reasons, [Stopping crossings] is the only
way to end the tragic and senseless deaths in the
Mediterranean. (SOBOTKA apud DEARDEN, 2017)
23
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
PANORAMA
ALEMANHA
Por séculos a Alemanha foi construída por
migrantes “convidados”, porém nunca houve
uma política que os incluísse em sua sociedade
e cultura. Desde 2014, com a intensificação
dos conflitos no Mediterrâneo, o número de
refugiados e migrantes que buscam asilo na
Alemanha cresceu. Com esse histórico, em 7 de
julho de 2016 foi aprovada a primeira Lei de Inte-
gração de Migrantes e Refugiados, que define a
criação de 100 mil oportunidades de trabalho
para eles, garantindo auxílio-moradia e apoio
financeiro, e ainda suspende por três anos uma
lei que dá preferência a alemães e cidadãos da
União Europeia nas vagas de emprego. Com a
aprovação da lei de integração, milhares de cida-
dãos foram às ruas protestar contra a política de
portas abertas de Angela Merkel. Para grande
parte da população alemã, o aumento de refu-
giados no país foi responsável pelo aumento da
criminalidade no mesmo período. O novo chan-
celer Frank-Walter Steinmeier clama por maior
colaboração dos países europeus, alegando que
a Alemanha e a Itália estão carregando o fardo
pela Europa.
CANADá
Ao contrário de seu vizinho, o Canadá abriu
suas fronteiras para os refugiado. De acordo
com o governo de Ottawa, desde o fim do ano
de 2015, o Canadá recebeu mais de 40 mil refu-
giados sírios. Esses estão recebendo cursos de
capacitação e ajuda para achar emprego. Para o
Canadá, receber refugiados é um investimento
já que sua população atingiu um patamar onde
há mais idosos que crianças. Segundo a Orga-
nização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), houve um aumento de 31%
de trabalhadores altamente qualificados desde
2000, 40 anos depois que a “política de portas
abertas” foi imposta. Em setembro de 2017, o
primeiro-ministro, Justin Trudeau, requisitou a
instalação de tendas com energia elétrica para
500 refugiados haitianos que cruzavam a fron-
teira a pé por medo da polícia americana. Sua
meta era receber 300 mil imigrantes no ano de
2017 para diminuir a pressão econômica, tripli-
cando a população até 2020.
24
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
EuROPA OCIDENTAL
A Agência da Organização das Nações Unidas
para Refugiados (ACNUR) estimou que, até 2016,
mais de 65 milhões de pessoas deixaram seus
países e chegaram à Europa Ocidental como refu-
giados. Só em 2017, esse número foi de 2 milhões.
Entre os países mais procurados estão a Áustria, a
Alemanha, a França, a Itália e a Suécia. Em 2014,
a Espanha fortificou as cercas das regiões de
Ceuta e Melilla com o intuito de barrar a entrada
de pessoas por Marrocos. Dois anos mais tarde,
o Reino Unido iniciou uma cerca de segurança
de mais de três quilômetros de comprimento no
norte da França, com o objetivo de impossibilitar
a passagem de refugiados por meio de caminhões
para chegarem até a ilha. Já a Dinamarca anun-
ciou que cortaria os benefícios para quem preci-
sasse de asilo, para assim diminuir o número de
refugiados no país. O mesmo fez a Áustria com
o propósito de tornar o país menos acessível. Em
março de 2016, ocorreu uma negociação entre
os 28 líderes europeus e o primeiro-ministro da
Turquia, Ahmet Davutoglu. Foi decidido que a
Europa daria à Turquia 6 milhões de dólares para
que o país evitasse que os refugiados chegassem
ao continente. Também foi aceito o plano de reas-
sentamento de 60 mil refugiados.
ESTADOS uNIDOS
Apesar da política nacionalista de Donald
Trump, os Estados Unidos são o país que mais
contribui, dispondo de 3,61% de seu PIB, ou seja,
por volta de 670 bilhões de dólares para o finan-
ciamento coletivo que mantém as operações
militares e civis da OTAN. Logo que entrou no
poder, Donald Trump decretou sua nova polí-
tica de imigração, conhecido como Travel Ban,
que proibia por 120 dias a entrada de cidadãos
de sete países nos Estados Unidos, sendo eles
Iraque, Iêmen, Irã, Líbia, Síria, Somália e Sudão.
Isso causou manifestações em Nova Iorque, São
Francisco, Los Angeles e em várias outras cidades
americanas. Em setembro de 2017, a adminis-
tração do republicano barrou mais três países,
Chade, Venezuela e Coreia do Norte. Um mês
depois, no dia 24 de outubro de 2017, o presi-
dente voltou a autorizar a entrada de refugiados
no país. Porém, em um novo decreto, de duração
de 3 meses, ele dificultou o processo de requeri-
mentos de asilo para cidadãos de 11 países, sem
25
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
citar quais são. Enquanto o ex-presidente Barack
Obama colocou um limite de 110.000 refu-
giados, Donald Trump exige que para 2018, esse
número caia para 45.000. Apesar disso, no dia 2
de dezembro, os Estados Unidos anunciaram que
abandonaram o Pacto Mundial da ONU sobre
Proteção de Refugiados e Migração. Este pacto
tinha como objetivo defender os direitos dos
refugiados, ajudando-os em sua educação e na
procura por emprego.
FRANÇA
Em defesa da identidade nacional francesa, a
entrada de migrantes no país é sistemática e
seletiva. No início da crise, em 2014, o ex-presi-
dente François Hollande pediu maior controle
dos países europeus em relação ao fluxo migra-
tório, e em 2015, junto da ex-chanceler alemã,
propuseram aos países vizinhos um mecanismo
que obrigava a todos assumirem uma quanti-
dade obrigatória de refugiados, com o objetivo
de desafogar seus territórios. Em 2017, Édouard
Philippe, primeiro-ministro francês, anunciou
a criação de 12.500 vagas para acolhimento de
refugiados e requisitantes de asilo, porém o
plano não se aplica aos migrantes econômicos,
que serão sistematicamente expulsos. Apesar
da tardia política francesa de acolhimento de
migrantes, parte da população não se sente
confortável com esses migrantes, dificultando
sua integração.
ITáLIA
A maior parte dos refugiados que passam pela
rota do Mediterrâneo aporta em território
italiano e, muitas vezes, lá permanecem graças
às políticas de imigração adotada pelos demais
países, sobretudo os europeus, muito dos quais –
Polônia, Hungria e República Checa, por exemplo
– não tem cumprido com as cotas propostas pelo
governo alemão para auxiliar a Itália. De acordo
com a Organização Internacional de Migrações
(OIM), mais de 100 mil estrangeiros desembar-
caram na Europa nos primeiros seis meses de
2017. Desses, 85% usam a Itália como porta de
entrada, o que tem gerado tensões em algumas
regiões do país (CHADE, 2017) e conflitos entre o
país e seus vizinhos. Assim, “os apelos de Roma
à solidariedade de seus parceiros são ignorados.
O governo italiano ergueu a voz, ameaçando
26
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
restringir a chegada de barcos com imigrantes”
(EL PAÍS, 2017).
A Itália acusa os demais governos europeus de
rejeitar compartilhar os refugiados e imigrantes,
deixando grande parte da carga para os italianos.
“Estamos sob pressão e exigimos uma verdadeira
cooperação europeia”, disse o premiê italiano, Paolo
Gentiloni (CHADE, 2017).
O governo da Áustria chegou a colocar seu exér-
cito em estado de alerta para que pudesse ser
convocado na fronteira com a Itália; parte das
medidas de controle que está colocando em
prática para conter o fluxo de imigrantes e refu-
giados em seu país. Desde 2015, a Áustria já
mantinha controles na fronteira com a Hungria
– um dos fatores que, em conjunto com o
acordo entre UE e Turquia, reduziu a chegada
de imigrantes pela rota dos Balcãs –, mas, dentro
dos acordos de livre circulação em vigência
na Europa, suas fronteiras com demais terri-
tórios permaneciam abertas. “Para o governo
austríaco, o uso de soldados na fronteira com
a Itália será ‘indispensável se o fluxo (vindo do
Mediterrâneo) não for reduzido” (CHADE, 2017).
Policiamento extra também foi utilizado pela
Suíça em sua fronteira com a Itália para conter o
deslocamento de imigrantes.
Roma concordou em abastecer a guarda costeira
do país, acusada de estar intencionalmente
matando e abusando de imigrantes, com novos
barcos e capital para novas iniciativas (DEARDEN,
2017). Entretanto, anunciou, em junho de 2017,
que vai impedir que barcos de outros países trans-
portando imigrantes atraquem em seus portos.
A Guarda Costeira italiana passou a liderar as opera-
ções de resgate no Mediterrâneo Central, mas muitos
dos barcos que transportam migrantes pertencem
a organizações não-governamentais que navegam
com bandeiras de outras nações, incluindo de países
da UE, como Malta e a Alemanha. A possibilidade
de bloquear navios humanitários com bandeiras
estrangeiras e de impedi-los de atracarem em portos
italianos foi discutida (VIANA, 2017).
O procurador-geral italiano já havia acusado
essas organizações operando na costa italiana de
operarem em conluio com os traficantes da Líbia,
baseando-se em supostos telefonemas entre
as partes. “As organizações refutam as acusa-
27
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
ções, garantindo que se têm limitado a fazer os
resgates que as autoridades italianas e a Frontex
se recusam a fazer apesar de estarem obrigadas
a isso pela lei internacional.” (VIANA, 2017).
Filippo Grandi, alto-comissário das Nações
Unidas para Refugiados declarou que a Itália
precisa de assistência internacional para ajudar
aqueles cruzando o Mediterrâneo, declarando
que a situação, hoje, é de uma “tragédia em
desenvolvimento”.
Ele enfatizou que isso não pode ser um problema
italiano apenas. “É, em primeiro lugar, uma questão
de interesse internacional, que exige uma abor-
dagem regional abrangente”. Grandi disse que a
Europa em particular precisa ser mais envolvida
através de um sistema de distribuição urgente, do
aumento do envolvimento externo e de vias legais
adicionais de admissão. Ele também pediu esforços
mais amplos de todos os envolvidos para abordar
as causas profundas das pressões migratórias, criar
uma melhor proteção para as pessoas em trânsito e
enfrentar o contrabando e o tráfico (ONUBR, 2017).
LESTE EuROPEu
Nos países do Leste Europeu, o principal problema
com os refugiados é que seus territórios são o
caminho mais seguro para a Europa. Segundo a
Organização Internacional de Migração (OIM),
em 2015, cerca de 34.900 refugiados fizeram
o percurso rumo à Europa pelo Leste Europeu,
passando pelos Bálcãs, pela Polônia e Hungria.
Alguns países tiveram maior dificuldade em
resolver a crise migratória e acabaram tomando
decisões extremas em ordem de controlar o
fluxo. A República Tcheca, Polônia e a Hungria,
em específico, se recusaram a receber migrantes
por um tempo, até que a União Europeia os pres-
sionou a voltar atrás.
REINO uNIDO
Por sua posição geográfica afastada do conti-
nente europeu, os britânicos seguem um histórico
de atuação mantendo-se afastados na questão
da migração. Com a crise migratória iniciada em
2014 no Mediterrâneo, o Reino Unido tornou-se
um país de desejo dos refugiados, em busca de
segurança e oportunidades. Nesse mesmo ano,
foi aprovada a Lei da Imigração, que visa faci-
28
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
litar a remoção dos imigrantes ilegais do país. Em
2015, Theresa May, líder do partido Conservador,
propôs um sistema de dois níveis que desenco-
rajam as pessoas de arriscar irem para a Ilha,
tentando manter o país fora da crise migratória.
Em 2016, o governo britânico anunciou que até
2020 terá aceito cerca de 20.000 refugiados, e
alegou ter contribuído com mais de 1,1 bilhões
de euros desde 2012 com alimentos e suporte.
TuRquIA
Entre os países que mais recebem refugiados
sírios, a Turquia está em primeiro lugar, visto
que é um estado vizinho e fácil para os refu-
giados escaparam da guerra civil que acontece
na Síria. De acordo com o Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), entre
os anos de 2011 e 2015, o Estado recebeu por
volta de 1.9 milhão de sírios. Em março de 2016, a
primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e o
presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan,
chegaram a um acordo sobre os refugiados. Foi
definido que a Turquia deveria reter os refu-
giados em troca de milhões de euros que a
Europa pagaria para o país, isenção da cobrança
de vistos para turcos e adesão à União Europeia.
Um ano depois, em março de 2017, a Turquia
começou a ameaçar a Europa dizendo que permi-
tiria o envio de 15 mil refugiados por dia para o
continente europeu acusando-o de não cumprir
o pacto. Em junho de 2017, foi estimado que 3
milhões e 50 mil cidadãos sírios foram acolhidos
pela Turquia.
29
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
DOCuMENTO DE POSIÇÃO
OFICIAL (DPO)
Os Documentos de Posição Oficial são os apon-
tamentos formais que sua delegação deve fazer
para que outras delegações conheçam o ponto
de vista de sua nação. Eles podem ser usados
em seus discursos iniciais (que serão realizados
na primeira sessão) e todos estarão disponí-
veis durantes as sessões na mesa diretora para
eventuais consultas. Portanto, o DPO deve ser
entregue por todas as delegações e versar sobre
o fluxo de refugiados e como lidar com o mesmo
no Mediterrâneo perante a política de suas
respectivas delegações.
O DPO deve observar a seguinte formatação:
Margens: 2cm.
Fonte: Times New Roman, tamanho 12.
Texto Justificado com Parágrafo 1,25 cm.
Texto em cor preta.
Brasão do Comitê do lado esquerdo, brasão de
armas ou Emblema Nacional do lado direito, com
o nome oficial do país em caixa-alta, centrali-
zado, com o nome do comitê logo abaixo.
No fim da página, no canto inferior direito, a
assinatura e o cargo do delegado.
O DPO deve conter somente uma página.
30
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
CONCLuSÃO
Em 2017, mais de mil pessoas morreram ou desa-
pareceram tentando atravessar o Mediterrâneo
apenas no trecho entre Líbia e Itália, de acordo com
a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados). Não podendo mais negar o
caráter trágico da situação e a importância de um
tratamento humano para aqueles em busca de
condições de vida mais seguras, nos unimos nesse
comitê para encontrar novas posturas e medidas.
Para reduzir o número de mortes e apaziguar os
conflitos e tensões existentes nos locais de origem e
destino das migrações, esperamos que os senhores
estudem mais profundamente a respeito desse
fluxo, suas origens e consequências, entendendo
este Guia de Estudos apenas como uma base e
não como único material de trabalho. Existem
diversas perspectivas sobre quais medidas devem
ser tomadas e o motivo, entendê-las e procurar um
equilíbrio é nosso maior objetivo. Vocês poderão
propor ações de curto, médio e longo prazo, assim
como a OTAN já tem feito:
Ao mesmo tempo em que conduz a operação
no Mar Mediterrâneo, a OTAN dá continui-
dade às conversas a respeito do conflito na Síria
e a campanha militar contra o Estado Islâmico,
“buscando mais contribuições para o esforço, entre
elas mais treinamento para as forças rebeldes sírias
e os militares iraquianos” (ESTADÃO, 2017)
A ação conjunta de vários Estados e organizações,
privadas e públicas, no sentido de trazer paz ao
evitar novos choques de violência e acidentes é
essencial para a solução do problema.
Nenhum Estado-Membro pode resolver esta crise
sozinho, pelo que os interesses nacionais deverão ser
postos de parte para encontrar uma resposta conjunta.
E o desafio passa por encontrar um equilíbrio entre o
controlo das fronteiras externas para a manutenção da
segurança interna e a sua obrigação internacional para
com os migrantes e refugiados. Uma gestão conjunta e
coordenada dos fluxos migratórios é do interesse parti-
cular de cada um dos estados. (FERREIRA, 2016)
Cientes do desafio que estão prestes a enfrentar
nos próximos dias, mas confiantes na capacidade
e empenho dos senhores, desejamo-lhes bons
estudos e esperamos um bom debate!
31
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
REFERÊNCIAS BIBLIOgRáFICAS
ACNUR. Crise na líbia piora e chefe do aCnur
reitera a necessidade de aumentar a assistência
humanitária. [on-line]. Disponível em: <http://
www.acnur.org/portugues/noticias/noticia/
crise-na-libia-piora-e-chefe-do-acnur-reitera-a-
-necessidade-de-aumentar-a-assistencia-huma-
nitaria/>. Acesso em: 2 dez. 2017.
ALVES, E; BARBOSA, J. A nova política de imigração
da União Europeia e a Violação de Direitos
Humanos de imigrantes e refugiados. Conpedi
law review. v.2. n.2. p.81-100. Espanha, 2016.
ANNONI, D; DUARTE, M. a proteção jurídica apli-
cável aos migrantes e refugiados. Rio Grande do
Sul: UNISC, 2017.
AP; REUTERS; EPA. refugiados na europa: a crise
em mapas e gráficos. Disponível em: <http://www.
bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150904_
graficos_imigracao_europa_rm>. Acesso em: 10
dez. 2017.
BASSANO, Francisco Moisés. um único bairro
turco acolhe 300.000 refugiados sírios. Disponível
em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/11/16/
internacional/1479293415_337401.html>. Acesso
em: 20 dez. 2017.
BBC NEWS. donald trump Jr compares syrian
refugees to skittles. [on-line]. Disponível em:
<https://www.bbc.com/news/amp/election-
-us-2016-37416457>. Acesso em: 2 dez. 2017.
BBC NEWS. Why is eu struggling with migrants
and asylum? [on-line]. Disponível em: <http://
www.bbc.com/news/world-europe-24583286>.
Acesso em: 2 dez. 2017.
CHADE, J. itália recebe 85% dos refugiados
que buscam a europa. [on-line]. Disponível
em: <http://internacional.estadao.com.br/noti-
cias/geral,temendo-refugiados-austria-envia-
tropas-a-fronteira-com-italia-para-conter-refu-
giados,70001876281>. Acesso em: 10 dez. 2017.
COGAN, A. With war over, mosul faces its
next battle: Recovery. [on-line]. Disponível em:
<https://www.mercycorps.org/articles/iraq/
war-over-mosul-faces-its-next-battle-recovery>.
Acesso em: 2 dez. 2017.
DEARDEN, L. refugee death toll passes 1,000
in record 2017 as charities attacked for conduc-
32
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
ting mediterranean rescues. [on-line]. Dispo-
nível em: <http://www.independent.co.uk/
news/world/europe/refugee-crisis-migrants-
-asylum-seekers-mediterranean-see-libya-italy-
-ngos-smugglers-accusations-a7696976.html>.
Acesso em: 2 dez. 2017.
DW. nato’s aegean mission to target
‘smuggling operation’. [on-line]. Disponível em:
<http://www.dw.com/en/natos-aegean-mission-
to-target-smuggling-operation/a-19042128>.
Acesso em: 3 dez. 2017.
EL PAÍS. a otan se envolve. [on-line]. Disponível
em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/14/
opinion/1455479704_747805.amp.html>. Acesso
em: 3 dez. 2017.
EL PAÍS. a pior europa. [on-line]. Disponível
em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/02/
opinion/1499006653_313132.html>. Acesso em:
10 dez. 2017.
EMMOTT, R; SIEBOLD, S. turkey calls for end to
nato’s migrant mission in aegean. [on-line].
Disponível em: <https://www.reuters.com/article/
us-europe-migrants-nato-turkey/turkey-calls-
-for-end-to-natos-migrant-mission-in-aegean-
-idUSKCN12R1A8>. Acesso em: 3 dez. 2017.
ESTADÃO. otan expandirá missão naval no medi-
terrâneo com foco em imigrantes e refugiados.
[on-line]. Disponível em: <https://www.metro-
poles.com/mundo/otan-expandira-missao-naval-
-no-mediterraneo-com-foco-em-imigrantes-e-
-refugiados>. Acesso em: 3 dez. 2017.
FELIPE, Leandra. trump volta atrás e diz que
otan é estratégia para combate ao terrorismo.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/
internacional/noticia/2017-04/trump-volta-atras-
-e-diz-que-otan-e-estrategica-para-comba-
te-ao>. Acesso em: 10 dez. 2017.
FERREIRA, S. orgulho e preconceito: a resposta
europeia à crise de refugiados. Relações Interna-
cionais, Lisboa, n. 50, p. 87-107, jun. 2016.
FOLHA DE SÃO PAULO. otan patrulhará mar egeu
para coibir travessia ilegal de migrantes à europa.
[on-line]. Disponível em: <http://www1.folha.uol.
com.br/mundo/2017/02/1738596-otan-patrulhara-
mar-egeu-para-coibir-travessia-ilegal-de-migrantes-
a-europa.shtml>. Acesso em: 2 dez. 2017.
33
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
G1. entenda a arriscada travessia de imigrantes
no mediterrâneo. [on-line]. Disponível em:
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/04/
entenda-arriscada-travessia-de-imigrantes-no-
-mediterraneo.html>. Acesso em: 2 dez. 2017.
GONÇALVES, Rainer. história da Civilização
turca - Curiosidade da Civilização turca. Dispo-
nível em: <http://historiadomundo.uol.com.br/
turca/historia-da-civilizacao-turca.htm>. Acesso
em: 20 dez. 2017.
GOODENOUGH, P. us Pays 22.1% of nato
Budget; Germany 14.7%; 13 allies Pay less
than 1%. Disponível em: <https://www.cnsnews.
com/news/article/patrick-goodenough/us-pays-
2214-nato-budget-germany-1465-13-allies-pay-
below-1>. Acesso em: 22 nove. 2017.
JUBILUT, L; APOLINÁRIO, S. A necessidade de
proteção internacional no âmbito da migração.
revista direito Gv, vol.6, p. 275-294, São
Paulo, 2010.
KERN, Soeren. europe’s Great migration Crisis.
Disponível em: <https://pt.gatestoneinstitute.
o r g / 6 1 9 2 / e u r o p a - m i g r a c a o > .
Acesso em: 10 dez. 2016.
MARÇAL, J. europa é principal destino dos
refugiados, saiba o porquê. [on-line]. Dispo-
nível em: <https://noticias.cancaonova.com/
destaque/europa-e-principal-destino-dos-refu-
giados-saiba-o-porque/>. Acesso em: 2 dez. 2017.
MERCY CORPS. Quick Facts: what you need to
know about the syria Crisis. [on-line]. Disponível
em: <https://www.mercycorps.org/articles/iraq-
jordan-lebanon-syria-turkey/quick-facts-what-
you-need-know-about-syria-crisis>. Acesso em:
2 dez. 2017.
MERCY CORPS. the World’s 5 Biggest refugee
Crises. [on-line]. Disponível em: <https://www.
mercycorps.org/articles/afghanistan-nigeria-
somalia-south-sudan-syria/worlds-5-biggest-
-refugee-crises>. Acesso em: 2 dez. 2017.
MERCY CORPS. Quick Facts: what is happening in
mosul? [on-line]. Disponível em: <https://www.
mercycorps.org/articles/iraq/quick-facts-what-
-happening-mosul>. Acesso em: 2 dez. 2017.
NATO/OTAN. defense expenditure of nato
Countries (2009-2016). Disponível em: <https://
34
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide
www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/
pdf_2017_03/20170313_170313-pr2017-045.pdf>.
Acesso em: 10 dez. 2017.
ONUBR. Crise econômica e abusos na líbia têm
forçado refugiados e migrantes a fugir para a
europa. [on-line]. Disponível em: <https://naco-
esunidas.org/crise-economica-e-abusos-na-libia-
tem-forcado-refugiados-e-migrantes-a-fugir-
para-a-europa/>. Acesso em: 2 dez. 2017.
ONUBR. onu pede mais solidariedade com
refugiados e migrantes apoiados pela itália.
[on-line]. Disponível em: <https://nacoesu-
nidas.org/onu-pede-mais-solidariedade-com-
-refugiados-e-migrantes-apoiados-pela-italia/>.
Acesso em: 10 dez. 2017.
POZO, F. las fuerzas navales de la otan y la crisis
de los refugiados. Instituto Español de Estudios
Estratégicos. Espanha, 2016.
RAMME, O. de que fogem os refugiados da
eritreia? [on-line]. Disponível em: <http://www.
dw.com/pt-002/de-que-fogem-os-refugiados-
-da-eritreia/a-19191273>. Acesso em: 2 dez. 2017.
SASSEN, S. Três migrações emergentes: uma
mudança histórica. sur- revista internacional de
direitos humanos, v.13, n.23, p.29-42, 2016.
TURRER, Rodrigo. Por que a turquia virou um
alvo contumaz dos terroristas. Disponível em:
<http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/06/
por-que-turquia-virou-um-alvo-contumaz-dos-
-terroristas.html>. Acesso em: 10 dez. 2017.
VIANA, J. Itália ameaça fechar os portos a refu-
giados. [on-line]. Disponível em: <http://expresso.
sapo.pt/internacional/2017-06-29-Italia-ameaca-
fechar-os-portos-a-refugiados>. Acesso em: 10
dez. 2017.
ZAPATA-BARRERO, R. El significado de las migra-
ciones internacionales: justicia global, derechos
humanos y ciudadanía. In: multiculturalidad e
inmigración. Capítulo 2, sección 2.2; p. 94-105.
Madrid: Ed. Síntesis, 2004.
35
Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018GuiA DE EstuDos / Study Guide