"aqui, na propriedade, de tudo produzimos um pouquinho"

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‘‘Aqui, na propriedade, de tudo Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1078 Setembro/2013 Terezinha Na comunidade Cacimba Velha, localizada no município de Terezinha, vivem o casal de agricultores Sebastiana Campos da Silva Lima, 46, e José Zito de Lima, 48. O casal tem três filhas e, há poucos anos, a família aumentou com a chegada de um neto. Apesar de todos morarem numa pequena propriedade, eles provam que tamanho não é problema e consegue cultivar verduras e criar animais de pequeno porte. “Temos pouca terra, mas o que temos, fazemos de tudo nela. Entretanto, a nossa maior dificuldade aqui é a falta de água, pois dependemos dela para tudo. Sem água não é possível plantar ou cuidar dos bichos”, ressaltou. Dona Sebastiana, que antes buscava água numa cacimba que fica próxima à casa onde mora, hoje não precisa mais fazer esse esforço. A mudança de hábito começou há aproximadamente 5 anos atrás, quando ela foi contemplada com uma cisterna de primeira água, uma tecnologia social com capacidade para 16 mil litros, destinada para o consumo humano. Em 2012, foi a vez da família receber uma cisterna enxurrada, que pode armazenar 52 mil litros, através da captação de água da chuva. A implementação faz parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e executado na região pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2. “Recebemos essa cisterna grande, que é uma riqueza. Para nós, a enxurrada é um recurso, porque com as condições que temos, não tínhamos como construir um reservatório desse porte. Nosso objetivo agora é enchê-la, pois assim produziremos mais e teremos água o ano inteiro”, afirmou a agricultora. A partir das cisternas, dona Sebastiana conta que a vida da família começou a mudar. Antes, tudo o que era produzido pela família era destinado ao consumo próprio, mas desde que as tecnologias chegaram no arredor da casa onde vive, a produção aumentou e agora o excedente é comercializado na feira dos municípios de Bom Conselho, nas quartas e sextas- feiras, e em Terezinha, aos domingos. Família de agricultores mostra que tamanho da propriedade não é problema, quando há água para produzir e vontade para trabalhar Dona Sebastiana acompanhada pelo neto produzimos um pouquinho’’

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‘‘Aqui, na propriedade, de tudo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1078

Setembro/2013

Terezinha

Na comunidade Cacimba Velha, localizada no município de Terezinha, vivem o casal de agricultores Sebastiana Campos da Silva Lima, 46, e José Zito de Lima, 48. O casal tem três filhas e, há poucos anos, a família aumentou com a chegada de um neto. Apesar de todos morarem numa pequena propriedade, eles provam que tamanho não é problema e consegue cultivar verduras e criar animais de pequeno porte. “Temos pouca terra, mas o que temos, fazemos de tudo nela. Entretanto, a nossa maior dificuldade aqui é a falta de água, pois dependemos dela para tudo. Sem água não é possível plantar ou cuidar dos bichos”, ressaltou. Dona Sebastiana, que antes buscava água numa cacimba que fica próxima à casa onde mora, hoje não precisa mais fazer esse esforço. A m u d a n ç a d e h á b i t o c o m e ç o u h á aproximadamente 5 anos atrás, quando ela foi contemplada com uma cisterna de primeira água, uma tecnologia social com capacidade para 16 mil litros, destinada para o consumo humano. Em 2012, foi a vez da família receber uma cisterna enxurrada, que pode armazenar 52 mil litros, através da captação de água da chuva. A implementação faz parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e executado na região pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2. “Recebemos essa cisterna grande, que é uma riqueza. Para nós, a enxurrada é um recurso, porque com as condições que temos, não tínhamos como construir um reservatório desse porte. Nosso objetivo agora é enchê-la, pois assim produziremos mais e teremos água o ano inteiro”, afirmou a agricultora. A partir das cisternas, dona Sebastiana conta que a vida da família começou a mudar. Antes, tudo o que era produzido pela família era destinado ao consumo próprio, mas desde que as tecnologias chegaram no arredor da casa onde vive, a produção aumentou e agora o excedente é comercializado na feira dos municípios de Bom Conselho, nas quartas e sextas-feiras, e em Terezinha, aos domingos.

Família de agricultores mostra que tamanho da propriedade não é problema, quando há água para produzir e vontade para trabalhar

Dona Sebastiana acompanhada pelo neto

produzimos um pouquinho’’

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Realização Apoio

Produção Agoecológica

De acordo com dona Sebastiana, Seu Zito é o grande responsável por tornar a área em uma propriedade agroecológica. “Tudo o que encontra, ele planta. É por isso que, de tudo, produzimos um pouquinho aqui e agora com água podemos plantar ainda mais. Hoje é melhor do que antes. É ele que vai bem cedinho para rua vender as coisas”, afirmou.

A preocupação com o bem-estar também é um cuidado tomado pela família de agricultores. Tudo o que é produzido por eles é agroecológico, ou seja, todo o plantio é cultivado sem o uso de venenos. Para afastar as pragas, a família usa estratégias simples, acessíveis e o mais importante: não prejudica a saúde de quem cultiva e nem de quem consome os alimentos. Dona Sebastiana conta que foi orientada pelo articulador de campo, que é técnico em agropecuária, a usar a urina de vaca e de ovelha na produção. Na propriedade, ainda há várias plantações de ervas de cheiro e pimenta para afastar possíveis ameaças à lavoura. “Graças a Deus, nós nunca usamos veneno aqui e nem vamos colocar, porque se utilizarmos vai fazer mal para os outros, mas também para gente que também consome do mesmo lugar”, destacou.

O trabalho no campo, desde criança, fez com que dona Sebastiana criasse muito mais que um vínculo com a agricultura. Ela lembra que na infância ajudava a mãe no serviço da lavoura, arrancando feijão ou quebrando milho. As dificuldades da época nunca estimularam a agricultora a sair da zona rural p a r a i r m o r a r n a c i d a d e e e s s e posicionamento continua até hoje. “Aqui, no sítio, eu posso trabalhar: faço uma coisa, faço outra, mas na rua é diferente. Não penso em morar lá. Na capacitação, pediram para desenharmos nossa propriedade. Na hora, pensei que não tinha nada para mostrar, mas depois do desenho, vi quanta coisa temos, é só prestar atenção. Antigamente, a vida era sofrida, mas agora com as cisternas já facilitou muito e vamos progredir ainda mais”, concluiu.

‘‘Aqui, de tudo, plantamos um pouquinho, graças a Deus, e agora com a água podemos plantar ainda mais’’, disse

Produção agroecológica de alface e cebolinha próxima à cisterna da família

Dona Sebastiana e o neto. Ao fundo, a cisterna enxurrada