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1 GUIA DE ESTUDOS DE FILOSOFIA A origem PHILO = amizade SOPHIA = sabedoria “... a sabedoria pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la, tornando-se filósofos’” (Pitágoras – Sec. V a.C.) ... O filósofo é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar pelo desejo de saber O pensamento filosófico tem sua origem no THAUMA (espanto, admiração, perplexidade) A Filosofia Grega Busca de um conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana; Busca da origem e causas do mundo e suas transformações; Busca da origem e causas das ações humanas; Busca da origem do próprio pensamento Mito e Filosofia O que é um Mito? Explicação da realidade pautada em fatores sobrenaturais. Narrativa sobre a origem de alguma coisa Origem da palavra MITO: do grego MYTHOS = mytheyo (narrar) + mytheo (designar) VERDADE= - poeta - enviado dos deuses - revelação divina Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? 1º) decorrência de relações sexuais entre forças divinas pessoais 2º) Por rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo 3º) Por recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece. Cosmogonias: Gonia (nascimento) + Cosmos (mundo organizado) e teogonias: Gonia+ Theos (seres divinos) “A FILOSOFIA, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação nova e diferente”. (M. Chauí) DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO 1º) MITO:- fixa a narrativa no passado FILOSOFIA: se preocupa em explicar como e porque, no passado, no presente e no futuro 2º) MITO:- narra a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas (Urano, Ponto e Gaia); FILOSOFIA:- explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais (céu, mar e terra). 3º) MITO: - não se importa com contradições, com o fabuloso e o incompreensível Autoridade: confiança religiosa no narrador FILOSOFIA: - não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis; - exige explicação coerente, lógica e racional; Autoridade: vem da razão, que é a mesma em todos os seres humanos, e não da pessoa do filósofo Características da reflexão Filosófica: a) é radical: vai a raiz de todas as coisas, busca a origem; b) é rigorosa: possui um método, caminho; c) é de conjunto: dialoga com as outras áreas do conhecimento, totalidade, abrangência. Origem da Filosofia: A Filosofia nasce no berço do mundo grego como inauguração da razão que expressa a realidade. Foram fatores relevantes para o seu surgimento na Grécia: 1- Os gregos tinham uma situação geográfica favorável; 2- Surgimento da polis (organização social); 3- A filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos em contraste com os mitos; 4- Ágora lugar de reuniões, reflexões; 5- Navegação e comércio. 4- Filosofia antiga 4.1- Pré-socráticos: cosmos / physis. 4.2- Sofistas: “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) a verdade é relativa. 4.3- Sócrates, Platão e Aristóteles: o homem, episteme, ética, política, lógica. DEVIR: vir a ser. Fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes. PRÉ- SOCRÁTICOS: Como surgiu o mundo? Qual a verdadeira origem do ser humano e da natureza? Por que existe uma determinada harmonia física entre o ser humano e a natureza? Estas e outras tantas perguntas também foram feitas pelos filósofos pré-socráticos, ou seja, os filósofos da natureza, os quais, contribuíram significativamente para com o pensamento ocidental. A respeito das principais características do pensamento pré- socrático, complete as lacunas abaixo:

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1

GUIA DE ESTUDOS DE FILOSOFIA

A origem

PHILO = amizade

SOPHIA = sabedoria

“... a sabedoria pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la, tornando-se filósofos’” (Pitágoras – Sec. V a.C.)

... O filósofo é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar pelo desejo de saber

O pensamento filosófico tem sua origem no THAUMA (espanto, admiração, perplexidade)

A Filosofia Grega

Busca de um conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana;

Busca da origem e causas do mundo e suas transformações;

Busca da origem e causas das ações humanas;

Busca da origem do próprio pensamento

Mito e Filosofia

O que é um Mito? Explicação da realidade pautada em fatores sobrenaturais. Narrativa sobre a origem de alguma coisa

Origem da palavra MITO: do grego MYTHOS = mytheyo (narrar) + mytheo (designar)

VERDADE= - poeta - enviado dos deuses - revelação divina

Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? 1º) decorrência de relações sexuais entre forças divinas pessoais

2º) Por rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo

3º) Por recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.

Cosmogonias: Gonia (nascimento) + Cosmos (mundo organizado) e teogonias: Gonia+ Theos (seres divinos)

“A FILOSOFIA, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas,

transformando-as numa outra coisa, numa explicação nova e diferente”. (M. Chauí)

DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO

1º) MITO:- fixa a narrativa no passado

FILOSOFIA: se preocupa em explicar como e porque, no passado, no presente e no futuro

2º) MITO:- narra a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas

(Urano, Ponto e Gaia);

FILOSOFIA:- explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais (céu, mar e terra).

3º) MITO: - não se importa com contradições, com o fabuloso e o incompreensível

Autoridade: confiança religiosa no narrador

FILOSOFIA: - não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis; - exige explicação coerente, lógica e racional;

Autoridade: vem da razão, que é a mesma em todos os seres humanos, e não da pessoa do filósofo

Características da reflexão Filosófica:

a) é radical: vai a raiz de todas as coisas, busca a origem;

b) é rigorosa: possui um método, caminho;

c) é de conjunto: dialoga com as outras áreas do conhecimento, totalidade, abrangência.

Origem da Filosofia:

A Filosofia nasce no berço do mundo grego como inauguração da razão que expressa a realidade. Foram fatores relevantes para o

seu surgimento na Grécia:

1- Os gregos tinham uma situação geográfica favorável;

2- Surgimento da polis (organização social);

3- A filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos em contraste com os mitos;

4- Ágora lugar de reuniões, reflexões;

5- Navegação e comércio.

4- Filosofia antiga

4.1- Pré-socráticos: cosmos / physis.

4.2- Sofistas: “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) a verdade é relativa.

4.3- Sócrates, Platão e Aristóteles: o homem, episteme, ética, política, lógica.

DEVIR: vir a ser. Fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e

transforma todas as realidades existentes.

PRÉ- SOCRÁTICOS:

Como surgiu o mundo? Qual a verdadeira origem do ser humano e da natureza?

Por que existe uma determinada harmonia física entre o ser humano e a natureza?

Estas e outras tantas perguntas também foram feitas pelos filósofos pré-socráticos, ou seja, os filósofos da natureza, os quais,

contribuíram significativamente para com o pensamento ocidental. A respeito das principais características do pensamento pré-

socrático, complete as lacunas abaixo:

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1. Para Heráclito de Éfeso tudo está em constante ______________MOVIMENTO__________________.

2. Segundo Tales de Mileto a ___água _______é o princípio primordial de todas as coisas.

3. No pensamento de Anaximandro___ o “apeíron ___é o ilimitado, indefinível e em movimento perpétuo, o princípio do processo

cosmológico”.

4. Para _____Pitágoras_________ o princípio de todas as coisas é o número.

5. No entendimento de Demócrito todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis,

chamadas de _____átomos_________.

6. Anaxímenes defendia a teoria de que o __ar__ é o elemento originante de todas as coisas: elemento vivo, que constitui as coisas

através da condensação ou rarefação.

HERÁCLITO E PARMÊNIDES

Uma questão de grande importância já aparecia entre os primeiros filósofos: a diferença entre perceber e pensar. Por exemplo:

certos elementos, como os átomos, são invisíveis aos nossos recursos sensoriais, certo? Mas o fato de não podermos percebê-los

através dos nossos sentidos não impede de conhecê-los através do pensamento. Assim, podemos dizer que existe uma distinção entre

aquilo que conhecemos por meio da percepção e aquilo que conhecemos apenas pelo pensamento.

Heráclito e Parmênides notaram essa diferença e acreditavam que a percepção nada mais é que pura ilusão. Mas a concordância

desses dois filósofos parava por aí. Para Heráclito, a percepção dos nossos recursos sensoriais nos dá a ilusão de que as coisas não

mudam, quando, na verdade, elas estão em constante transformação. Já Parmênides pensava de modo contrário: as coisas não

mudam, mas a percepção nos dá a ilusão de que elas estão se modificando sem parar.

No quadro abaixo você verá esse e outros pensamentos que distinguem os dois filósofos:

Apesar de contrárias, as concepções desses filósofos foram muito importantes para formar a base de novas teorias acerca da relação

existente entre o Ser e o pensamento. As proposições de Heráclito, por exemplo, se desdobraram de maneira significativa no

pensamento dialético de Hegel e de Marx.

Já os princípios filosóficos de Parmênides, em maior ou menor grau, tiveram participação no pensamento de filósofos como Platão,

Aristóteles e São Tomás de Aquino, além de Kant e Descartes.

SÓCRATES

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por

isso, os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates não

deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. O estilo

devida de Sócrates assemelhava-se ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em

praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento.

Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais

da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates a

seus discípulos.

Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância. “Só sei que nada sei” é, para Sócrates, o

princípio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa verdadeiramente filosófica de superar o enganoso saber baseado em ideias

pré-concebidas.

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em

dois momentos básicos: a ironia (do grego eironeia, perguntar fingindo ignorar) e a maiêutica (de maieutiké, relativo ao parto). Na

linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido de ironia

socrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O que

é o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciara

s contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o

orgulho, a ignorância e a presunção do saber. A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos

a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgávamos possuir certezas e clarividências. Libertos do

orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias ideias.

Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias ideias. Essa fase do

diálogo socrático, destinada à concepção de ideias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer à luz.

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SOFISTAS:

A carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas concentraram seus esforços no

ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de persuadir as multidões de tudo o que quisessem

que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua prioridade. Consequentemente os sofistas se empenhavam em providenciar

um estoque de argumentos sobre qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Vangloriavam-se de sua

habilidade de fazer com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco. Alguns sofistas como Górgias garantiam que

não era necessário ter nenhum conhecimento sobre um determinado assunto para dar respostas satisfatórias em respeito a ele.

Portanto, Górgias respondia com ostentação qualquer questionamento que lhe faziam sobre qualquer assunto. Para obter seus fins,

utilizava de linguagem evasiva.

Dessa maneira, os sofistas tentavam envolver, enredar e confundir seus oponentes e até mesmo, se isso não fosse possível, derrotá-

los por força e violência. Buscavam também sobrepujar-se por intermédio de metáforas rebuscadas, figuras de linguagem inusitadas,

epigramas e paradoxos, isto é, sendo em geral mais astutos e sagazes ao invés de sinceros e verdadeiros. Através de Platão ficamos

sabendo que havia um certo preconceito sobre o título de "sofista". Na época de Aristóteles esse título sustenta um significado de

insolência à medida que define "sofista" como uma pessoa que faz uso da razão de maneira falsa para obter lucros. Protágoras de

Abdera, nascido em cerca de 445

a.C. é considerado como o primeiro Sofista. Outros que se destacaram foram Górgias de Leontini, Pródico de Ceos e Hípias de Elis.

Onde quer que eles aparecessem, especialmente em Atenas, eram recebidos com entusiasmo e muitos se ajuntavam para ouvi-los.

PLATÃO

Platão parte do pressuposto que existem dois mundos. O primeiro é constituído por ideias eternas, invisíveis e dotadas de uma

existência diferente das coisas concretas. O segundo é constituído por cópias das ideias (coisas sensíveis). Com base neste

pressuposto afirmou que os sentidos estão permanentemente a enganar-nos. A verdadeira realidade não nos é dada pelos sentidos

mas só pode ser intuída através da razão, e está no mundo das ideias. Em resumo, para Platão a realidade se dividia em duas partes.

A primeira parte é o mundo dos sentidos, do qual não podemos ter senão mu conhecimento aproximado ou imperfeito, já que para

tanto fazemos uso de nossos cinco (aproximados e imperfeitos) sentidos. Neste mundo dos sentidos, tudo "flui" e, consequentemente,

nada é perene. Nada é no mundo dos sentidos; nele, as coisas simplesmente surgem e desaparecem. A outra parte é o mundo das

ideias, do qual podemos chegar a ter um conhecimento seguro, se para tanto fizermos uso de nossa razão. Este mundo das ideias não

pode, portanto, ser conhecido através dos sentidos.

A Alegoria da Caverna

Um dos principais escritos de Platão. Alguns dos possíveis temas/problemas abordados na Alegoria: conhecimento, amor,

educação, ética, corporeidade política

MUNDO das IDÉIAS x MUNDO MATERIAL

⇓⇓⇓⇓ ⇓⇓⇓⇓ Imaterial Aparência

Eterno Sombra

Imutável Crença

Conhecimento Opinião

Verdade Ilusão

ARISTÓTELES

Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como física,

metafísica, poesia, teatro, música, lógica, retórica, governo, ética, biologia e zoologia.

Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como uma das figuras mais importantes, e um dos

fundadores, da filosofia ocidental.

O Pensamento Aristotélico

A tradição representa um elemento vital para a compreensão da filosofia aristotélica. Em certo sentido, Aristóteles via o próprio

pensamento como o ponto culminante do processo desencadeado por Tales de Mileto. A filosofia pretendia não apenas rever como

também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores. Ao mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar as

críticas, revisões e novas proposições. Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia. Platão concebia

dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo -

abstrato -, o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. Aristóteles, ao

contrário, defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível não pode

ser nada para nós.

Lógica

Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o conhecimento e baseia-se no silogismo, o

raciocínio formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas previamente para que haja uma conclusão necessária. O

silogismo é dedutivo, parte do universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma,

se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também será.

Psicologia

A Psicologia é a teoria da alma e baseia-se nos conceitos de alma e intelecto. A alma é a forma primordial de um corpo que

possui vida em potência, sendo a essência do corpo. O intelecto, por sua vez, não se restringe a uma relação específica com o corpo;

sua atividade vai além dele.

O organismo, uma vez desenvolvido, recebe a forma que lhe possibilitará perfeição maior, fazendo passar suas potências a ato.

Essa forma é alma. Ela faz com que vegetem, cresçam e se reproduzam os animais e plantas e também faz com que os animais

sintam.

No homem, a alma, além de suas características vegetativas e sensitivas, há também a característica da inteligência, que é capaz

de apreender as essências de modo independente da condição orgânica. Ele acreditava que a mulher era um ser incompleto, um meio

homem. Seria passiva, ao passo que o homem seria ativo.

Metafísica

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O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de filosofia primeira.

Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial.

O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições

para metafísica:

A ciência que indaga e reflete acerca dos princípios e primeiras causas;

A ciência que indaga o ente enquanto aquilo que o constitui, enquanto o ser do ente;

A ciência que investiga as substâncias;

A ciência que investiga a substância supra-sensível, ou seja, que excede o que é percebido através da materialidade e

da experiência sensível.

Quatro causas.

Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:

1. A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);

2. A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);

3. A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila);

4. A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).

Essência e acidente

A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser

reconhecido como sendo ele mesmo

O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser por sua falta.

Potência, ato e movimento.

Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é

algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato).

A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica como Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a

realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de

Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "Ato Puro".

Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato,

da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência. O

ato é portanto, a realização da potência, e essa realização pode ocorrer através da ação (gerada pela potência ativa) e perfeição

(gerada pela potência passiva).

Ética

No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com assuntos passíveis de

modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas,

disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista

da felicidade.

Política

Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que

Aristóteles chamava de filosofia prática. Se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se preocupa

com a felicidade coletiva da Pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as formas de governo e as

instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do estado. Acredita-se que as

reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.

ESCOLAS DO HELENISMO

O helenismo refere-se ao conhecimento filosófico produzido entre a morte do Alexandre e o início da filosofia medieval.

Principal característica do helenismo: fusão entre a tradição grega e a cultura oriental. Disseminação do pensamento grego pela

região da Síria, Egito, Babilônia, etc

O ESTOICISMO, de Zenão de Cítio I U6-263 a.C) – os representantes desta escola, conhecidos como estóicos, defendiam uma

atitude de completa austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal

de vida, designado pelo termo grego apathéia (que costuma ser mal traduzido por "apatia"), era alcançar uma serenidade diante dos

acontecimentos fundada na aceitação da "lei universal do cosmos", que rege toda a vida;

O EPICURISMO, de Epicuro (324-271 a.C) – propunha a ideia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida. No entanto,

distinguia, entre os prazeres, aqueles que são duradouros e aqueles que acarretam dores e sofrimentos, pois o prazer estaria vinculado

a uma conduta virtuosa. Para Epicuro, o supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. Os

epicuristas procuravam a ataraxia, termo grego que usavam para designar o estado em que não havia dor, de quietude, serenidade,

imperturbabilidade da alma. O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do

prazer, mas que não diferencia os tipos de prazeres, tal como faz Epicuro;

O CETICISMO (pirronismo), de Pirro de Élida (365-275 a.C) - segundo suas teorias, nenhum conhecimento é seguro, tudo é

incerto. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos e

viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois seria impossível ao homem saber se as coisas são

efetivamente como aparecem. Assim, o pirronismo é considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade do

conhecimento, da obtenção da verdade absoluta;

O CINISMO - o termo cinismo vem do grego kynos, que significa "cão", e designa a corrente dos filósofos que se propuseram a

viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qual

o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado

dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”, ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as tradições sociais e

procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos. Sãos inúmeras as histórias e

acontecimentos na vida desse filósofo que o tornaram uma figura instigante da história da filosofia.

FILOSOFIA MEDIEVAL

Durante a Idade Média a Igreja, grande detentora do poder ideológico, explicava através da fé todos os fenômenos e acontecimentos.

Na grande maioria das vezes estes eram castigos divinos ou milagres, verdades inquestionáveis escritas na Bíblia. O bom homem

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na Idade Média era aquele que não questionava a submissão a Deus, aceitava todas essas verdades e por elas, se preciso fosse, lutaria

e morreria bravamente.

Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274) foram, respectivamente, os maiores pensadores da Patrística e

da Escolástica. Santo Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cada

qual, em sua época, pode influenciar não só a religião católica como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam.

Tanto Santo Agostinho como Santo Tomás de Aquino afirmam que Deus, sendo eterno, transcendente, todo bondade e todo

sabedoria, criou a matéria do nada e, depois, tudo o que existe no universo. Para Santo Agostinho, as ideias ou formas estavam no

Espírito de Deus (Teoria da Iluminaçao). Santo Tomás de Aquino acrescenta a noção dos universais em seus raciocínios. Dizia que

Deus é a causa da matéria e dos universais. Além disso, Deus está continuamente criando o mundo ao unir universais e matéria para

produzir novos objetos.

Nenhum deles colocava em dúvida a imortalidade da alma. Santo Agostinho dizia que alma e corpo são distintos, mas não soube

explicar como a alma se liga ao corpo. De acordo com Santo Tomás, a alma humana — princípio imaterial, espiritual e vital do

corpo — foi criada por Deus. Acreditava que a alma espiritual é agregada ao corpo por ocasião do nascimento, e continua a existir

depois da morte do corpo, formando, pois, por si mesma, um novo corpo, um corpo espiritual, por meio do qual atua por toda a

eternidade.

Em suas teorias, reportam ao "desprezo do mundo". Contudo, Santo Agostinho mostra-se incapaz de decidir entre o mundo e

desprezo por ele. A despeito dessa dúvida, apega-se firmemente à ideia de que a Igreja, como a encarnação mundana da cidade de

Deus, deve ter supremacia sobre o Estado. Santo Tomás de Aquino, da mesma forma que Aristóteles, doutrinava que o homem é

naturalmente um ser político e procura estar em sociedade. Este homem deve tributar lealdade à Igreja e a Deus, mas tem, também,

que obedecer ao Estado porquanto este, por sua vez, recebeu o seu poder da Igreja.

Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica

na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo

Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia,

distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo.

Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na

revelação.

FILOSOFIA MODERNA

Filosofia de Descartes

A Idade Moderna é marcada por uma série de transformações tanto na área cultural, religiosa, política e social quanto na área

econômica. Tais transformações possibilitaram um novo modo do homem europeu conceber o mundo. O Período Moderno da

história do pensamento filosófico marca uma reviravolta, tanto na maneira de se produzir o conhecimento e as técnicas, quanto na

maneira de as nações se organizarem comercial e socialmente. Com a dúvida metódica, Descartes, em o “Discurso do Método”,

procura estabelecer os princípios de um método, de análise e de desenvolvimento do conhecimento, que não esteja apoiado nas

orientações e flutuantes dos sentidos, mas que se apoiem no uso ordenado da razão (cogito).

As regras:

1° regra da evidência: “Jamais admitir coisa alguma como verdadeira se não reconheço evidentemente como tal”; a não ser que se

imponha a mim como evidente, de modo claro e distinto, não me permitindo a possibilidade de dúvida. Em outras palavras,

precisamos evitar toda precipitação e todos os preconceitos. Só devo aceitar o que for evidente, quer dizer, aquilo do qual não posso

duvidar.

2° regra da análise: “Dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis”.

3° regra da síntese: “Concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de serem

conhecidos para, aos poucos, como que por degraus, chegar aos mais complexos”.

4° regra do desmembramento/inventariar: “Para cada caso, fazer enumerações o mais exatas possíveis... a ponto de estar certo de

nada ter omitido” (Cf. Discurso do Método, II Parte).

⇒⇒⇒⇒ As partes da obra “Discurso do Método” – seis partes.

Na primeira, encontrar-se-ão diversas considerações atinentes às ciências.

Na segunda, as principais regras do método.

Na terceira, algumas das regras da moral que tirou desse método.

Na quarta, as razões pelas quais prova a existência de Deus e da alma humana, que são o fundamento de sua metafísica.

Na quinta, a ordem das questões de física que investigou, e, particularmente, a explicação do movimento do coração e algumas

outras dificuldades que concernem à Medicina, e depois, também a diferença que há entre nossa alma e a dos animais.

E, na última, que coisas crê necessárias para ir amis adiante do que foi na pesquisa da natureza e que razões o levaram a escrever.

⇒⇒⇒⇒ A questão do corpo e da alma:

- A essência do homem está no pensamento. Descartes considera, pelo Cogito (o pensamento), a natureza do SUM (a existência).

Dualismo de espírito e matéria.

- O animal possui como o homem o corpo… o homem, porém, possui a alma (linguagem e liberdade).

- Funcionamento do corpo (máquina) – coração.

- Um aspecto importante na filosofia de Descartes é sua concepção de homem em dualidade corpo-espírito. O universo consiste de

duas diferentes substâncias: as mentes, ou substância pensante, e a matéria, a última sendo basicamente quantitativa, teoreticamente

explicável em leis científicas e fórmulas matemáticas.

⇒⇒⇒⇒ A dúvida cartesiana:

- Não é qualquer tipo de dúvida, ela é metódica; bem diferente das dos céticos.

- A dúvida é o método de sua filosofia.

- É preciso pôr em dúvida todas as coisas, pelo menos uma vez na vida, diz Descartes.

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EMPIRISMO

Os defensores do empirismo afirmam que a razão, a verdade e as ideias racionais são adquiridos por nós através da experiência.

Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma “tábula rasa”, onde nada

foi gravado, como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência venha escrever na folha, gravar na tábula,

dar forma à cera.

- Maior representante é John Locke.

- Emperia / experiência.

- “Nada vem à mente sem antes ter passado pela experiência”

IMMANUEL KANT

Responde à questão de como é possível o conhecimento afirmando o papel constitutivo de mundo pelo sujeito transcendental, isto

é, o sujeito que possui as condições de possibilidade da experiência. O que equivale a responder: "o conhecimento é possível porque

o homem possui faculdades que o tornam possível". Com isso, o filósofo passa a investigar a razão e seus limites, ao invés de

investigar como deve ser o mundo para que se possa conhecê-lo, como a filosofia havia feito até então.

Mas quais são exatamente, segundo Kant, estas faculdades ou formas a priori no homem que o permitem conhecer a realidade ou,

em outros termos, o que são essas tais condições de possibilidade da experiência? Em Kant, há duas principais fontes de

conhecimento no sujeito:

A sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição.

O entendimento, por meio do qual os objetos são pensados nos conceitos.

Kant define sensibilidade como o modo receptivo - passivo - pelo qual somos afetados pelos objetos, e intuição, a maneira direta

de nos referirmos aos objetos. Funciona assim: tenho uma multiplicidade de sensações dos objetos do mundo, como cor, cheiro,

calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar de matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência. Mas

para que todas estas impressões tenham algum sentido e entrem no campo do cognoscível (daquilo que se pode conhecer), elas

precisam, em primeiro lugar, serem colocadas em formas a priori da intuição, que são o espaço e o tempo.

Estas formas puras da intuição surgem antes de qualquer representação mental do objeto; antes que se possa pensar a palavra

"cadeira", a cadeira deve ser apresentada, recebida, na forma a priori do espaço e do tempo. Este é o primeiro passo para que se

possa conhecer algo.

Assim, apreendemos daqui duas coisas: primeiro, o conhecimento só é possível se os objetos da experiência forem dados no espaço

e no tempo; e, segundo, espaço e tempo são propriedades subjetivas, isto é, atributos do sujeito e não do mundo (da coisa-em-si).

Espaço é a forma do sentido externo; e tempo, do sentido interno. Isto é, os objetos externos se apresentam em uma forma espacial;

e os internos, em uma forma temporal.

Como Kant prova isso? Pense em uma cadeira em um espaço qualquer, por exemplo, em uma sala de aula vazia. Agora, mentalmente,

retire esta cadeira da sala de aula. O que sobra? O espaço vazio. Agora tente fazer o contrário, retirar o espaço vazio e deixar só a

cadeira. Não dá, a menos que sua cadeira fique flutuando em uma dimensão extraterrena.

E o tempo? Ele é minha percepção interna. Só posso conceber a existência de um "eu" estando em relação a um passado e a um

futuro. Só concebemos as coisas no tempo, em um antes, um agora e um depois. Voltemos ao exercício mental anterior: podemos

eliminar a cadeira do tempo - ela foi destruída, não existe mais. Porém, não posso eliminar o tempo da cadeira - eu sempre a penso

em uma duração, antes ou depois.

A conclusão é de que é impossível conhecer os objetos externos sem ordená-los em uma forma espacial - e de que nossa percepção

interna destes mesmos objetos fica impossível sem uma forma temporal. Além disso, espaço e tempo preexistem como faculdades

do sujeito - e, portanto, são a priori e universais - quando eliminamos os objetos da experiência. Por isso, segundo Kant, espaço e

tempo são atributos do sujeito e condições de possibilidade de qualquer experiência.

Chegamos, portanto, a uma síntese que Kant faz entre racionalismo e empirismo. Sem o conteúdo da experiência, dados na

intuição, os pensamentos são vazios de mundo (racionalismo); por outro lado, sem os conceitos, eles não têm nenhum sentido para

nós (empirismo). Ou, nas palavras de Kant: "Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria

pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas."

Considerações finais É um lugar-comum dizer que Kant é um divisor de águas na filosofia, mas é verdade. O sistema kantiano foi

contestado pelos filósofos posteriores. No entanto, suas teorias estão na raiz das principais correntes da filosofia moderna, da

fenomenologia e existencialismo à filosofia analítica e pragmatismo. Por esta razão, sua leitura é obrigatória para quem se interessa

pela história do pensamento moderno.

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Abrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX e chega aos nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo

de nós, parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas

nos parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós.

HEGEL

Para entender a filosofia de Hegel, é conveniente situar alguns pontos básicos a partir dos quais se desenvolve a sua reflexão.

O primeiro desses pontos é o entendimento da realidade como Espírito. Esse conceito, desenvolvido a partir da filosofia de Fichte e

Schelling, é ampliado ainda mais em Hegel. Entender a realidade como Espírito, de acordo com a filosofia de Hegel, é entendê-la

não apenas como substância, mas também como sujeito. Isso significa pensar a realidade como processo, como movimento, e não

somente como coisa (substância).

O segundo ponto básico da filosofia hegeliana diz respeito justamente a esse movimento da realidade. A realidade, enquanto Espírito

possui uma vida própria, um movimento dialético. Por movimento dialético, Hegel quer caracterizar os diversos momentos

sucessivos pelos quais determinada realidade se apresenta.

Nesse exemplo, Hegel ressalta que a realidade não é estática, mas dinâmica, e em seu movimento apresenta momentos que se

contradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um crescente auto-enriquecimento.

Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições, Hegel denominou dialética. Embora esse termo

apareça já na Antiguidade, com Platão, em Hegel o conceito de dialética se aplica a algo totalmente distinto: não é um método ou

uma forma de pensar a realidade, mas sim o movimento real da realidade. Por isso, para compreender a realidade, o pensamento

também deve ser dialético.

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Hegel compreende esse movimento do real, ou do Espírito que se realiza, como um movimento que se processa em três momentos:

o primeiro, do ser em-si; o segundo, do ser outro ou fora-de-si; e o terceiro, que seria o retorno, do ser para-si.

A realidade, para Hegel é um contínuo devir, na qual um momento prepara o outro mas, para que esse outro momento aconteça, o

anterior tem de ser negado.

Esses três momentos são comumente chamados de tese, antítese e síntese. Hegel os concebe como um movimento em espiral, ou

seja, um movimento circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a síntese, se torna a tese de um movimento

posterior de caráter mais avançado.

Compreender a dialética da realidade, segundo Hegel, exige um trabalho árduo da razão, que deve se afastar do entendimento comum

e se colocar do ponto de vista do absoluto. Esse caminho da consciência que se afasta do conhecimento comum e se eleva ao saber

absoluto é o objeto de reflexão do autor em sua obra Fenomenologia do Espírito.

Nela, Hegel afirma que a consciência que alcança o saber absoluto atinge a razão, ou seja, supera o entendimento finito e adquire a

certeza de ser toda a realidade. Desse modo, a Razão alcançaria a consciência da unidade entre ser e pensar, harmonizando a

subjetividade e a objetividade

NIETZSCHE

Para Nietzsche existem dois espíritos antagônicos: o apolíneo e o dionisíaco.

a) Dionisíaco: o deus da música e da embriaguez, o deus que não habita o Olimpo (reino do racionalismo); é a força vital, a alegria

o excesso; a ação, a emoção o sentimento.

b) Apolíneo: o surgimento da filosofia representa o que Nietzsche chama o espírito apolíneo, derivado de Apolo, o severo deus da

racionalidade, da medida, da regra, da lei, do método, do equilíbrio, da moralidade.

Segundo nosso filósofo, o papel da filosofia seria libertar o homem dessa tradição (apolínea) para encontrar-se com o niilismo.

O que é niilismo? Do latim – Nihilismus. Doutrina segundo a qual não existe qualquer verdade moral ou hierarquia de valores.

Em Nietzsche é empregado como para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças. Os

valores devem ser afirmativos da existência real do homem, de sua vontade e não da tradição.

⇒⇒⇒⇒ A decadência dos valores teria surgido com Sócrates, que elevou a questão da moral ao comportamento humano,

desvinculando-o do prazer que deveria ser buscado por todos.

⇒⇒⇒⇒ A moral defendida por Nietzsche é radical, anticristã e o seu objetivo é o poder, a força e vê na compaixão uma fraqueza

a ser combatida.

O Eterno Retorno É a fórmula que pode sintetizar todo o pensamento de Nietzsche. Ele ataca o platonismo (dualismo platônico) e

o paraíso cristão (mundo divino). Para ele só esse mundo é real com suas constantes mudanças. Há apenas perspectivas diferentes

sobre um real em transformação e que se repete num eterno retorno→ teste pelo qual o homem deveria passar: a vida, revivida

inúmeras vezes, não trazendo nada de novo o que pode levar o homem à destruição ou exaltação, dependendo de sua capacidade

para superar e admitir essa contínua repetição. Deve-se aceitar a vida como ela é.

O super-homem Übermensch: aceitar a vida não é o mesmo que aceitar o homem. O super-homem é a vontade de poder,

determinando a nova ordem de valores. É o líder guerreiro, altamente disciplinado. É o novo homem que quebrará as velhas cadeias

e criará um novo sentido na terra. É o homem que vai além do homem. O cristianismo doma o espírito e enfraquece a vontade de

poder, da conquista, da paixão. O santo cristão é o resultado do medo do inferno e não do amor à humanidade.

⇒⇒⇒⇒ a racionalização histórica levava o homem a "perder-se ou destruir seu instinto fazendo com que ele não ouse soltar o freio

do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos.

⇒⇒⇒⇒ ideia da necessidade da formação de uma nova elite- não contaminada pelo cristianismo e pelo liberalismo - e que ao

mesmo tempo os transcendesse, acometeu Nietzsche desde muito cedo. Mostrou-se obcecado pela formação de uma seleta falange

intelectual responsável pela transmutação de todos os valores, cuja obrigação e dever maior era a proteção de uma cultura superior

ameaçada pela vulgaridade democrática.

O Crepúsculo dos Ídolos É obra que apresenta uma crítica aniquiladora de todas as "verdades" que se entronizaram no Ocidente.

Crepúsculo do Ídolos é um dos escritos centrais de Nietzsche pela violência com que fustiga a religião, a política, a razão e a ciência,

ao mesmo tempo que promove a imagem do homem vitalmente liberto.

⇒⇒⇒⇒ “Não sou, por exemplo, nenhum bicho-papão, nenhum monstro de moral – sou até mesmo uma natureza oposta à espécie

de homem que até agora se venerou como virtuosa. Entre nós, parece-me que precisamente isso faz parte de meu orgulho. Sou um

discípulo do filósofo Dionísio, preferiria antes ser um sátiro do que um santo”. (Ecce Homo, prólogo). É assim que Nietzsche se

descreve em sua autobiografia. Idolatrado por alguns, menosprezado por outros, ele é, de fato, um irreverente – ou talvez, melhor

seria dizer, um extemporâneo.

EDMUND HUSSERL (1859-1938)

Matemático e filósofo alemão que ficou conhecido como o fundador da fenomenologia.

Em suas primeiras pesquisas, Husserl tenta combinar matemática com a filosofia empírica pela qual tinha sido iniciado em Viena.

Seu objetivo central será contribuir no fornecimento de fundações sólidas para a ciência matemática.

Contrário a todos de sua época, Husserl queria que a filosofia tivesse as bases de uma ciência rigorosa. Porém seria difícil dar rigor

a pensamentos e raciocínios filosóficos tão variáveis.

Fenomenologia

E o estudo da consciência, afirma a importância da consciência, tudo que podemos saber sobre o mundo resume-se a esses

fenômenos, esses objetos ideais que existem na mente, designados por palavras que representam sua essência.

MARTIN HEIDEGGER

A partir da influência que adquiriu do professor Husserl, escreveu o livro que marcaria a sua vida, o “Ser e Tempo”. Em 1933,

ocupou a cátedra deixada pelo seu mestre.

A teoria de Heidegger baseia-se na ideia de que o homem é um ser que busca aquilo que não é. Seu projeto de vida pode ser eliminado

pelas pressões da vida e pelo cotidiano, o que leva o homem a isolar-se de si mesmo.

Heidegger também trabalhou o conceito de angústia, a partir do qual o homem transcende suas dificuldades ou deixa-se dominar

por elas. Assim, o homem seria um projeto inacabado.

Procurou reconstruir metafísica em novas bases, mediante a aplicação do método fenomenológico do estudo ser.

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A primeira especulação Martin Heidegger, puramente ontológica, é dirigida para a solução do problema do ser. Embora já tenha

sido estudada pela filosofia de todos os tempos, jamais foi resolvido, porque em vez de estudarem o ser como tal os filósofos sempre,

estudaram um modo, particular de ser (Platão as ideias, Aristóteles a substância).

Na verdade, porém, “a respeito do problema do ser”, não só se tem a solução, como também o problema que é obscuro e confuso: é

preciso abordá-lo desde o começo e fixar uma posição autêntica a seu respeito.

A FENOMENOLOGIA DO HOMEM... O ser nunca se manifesta diretamente, imediatamente, em si mesmo, mas sempre como o

ser deste ou daquele ente.

Segundo Heidegger, a compreensão do ser é, ao mesmo tempo uma determinação do ser do homem. O homem é a porta de acesso

ao ser. Aqui Heidegger aplica o método fenomenológico: parte do homem de fato, deixa que ele se manifeste tal qual é, e procura

compreender, sua manifestação.

Na sua pesquisa antropológica, ele descobre no homem alguns traços fundamentais, característicos do seu ser, traços os quais ele dá

a denominação de existenciais.

O primeiro existencial é o ser-no-mundo que se encontra em situação (chamado de Daisen ser-em-situação, por Heidegger), num

círculo de afeto e interesses; o homem que está sempre aberto para se tornar algo novo. A própria situação presente é determina por

aquilo que ele pretende fazer no futuro: muito do que ele faz hoje, senão tudo, ele o faz em vista do que ele quer ser amanhã.

Segundo existencial Heidegger chama se existência a esta característica do homem de ser fora de si, diante de si, por seus ideais,

por seus planos, por sua possibilidades.

Heidegger afirma que a essência, isto é, a natureza do homem, consiste na sua existência.

O terceiro existencial é a temporalidade. O homem é um existente porque está essencialmente ligado ao tempo. Isso faz com que

ele se encontre sempre além de si mesmo, nas possibilidades futuras. Neste sentido o homem é futuro. Mas para pôr em ato essa

possibilidade, ele parte sempre de uma situação, na qual ele já se encontra, neste sentido ele é passado. Finalmente, enquanto ele faz

uso das coisas que o cercam, ele é presente.

A temporalidade tem a função de unir a essência com a existência.

As três “estases” temporais (passado, futuro e presente) correspondem, no homem, três modos de conhecer: o sentir, o entender e o

discorrer. Pelo sentir está em comunicação com o passado; Pelo entender, está em comunicação com futuro, com as suas

possibilidades; Pelo discorrer, ele está em comunicação com o presente.

Entre os dois primeiros existenciais, ser-no-mundo e existência, há uma clara diferença. Um prende o homem ao passado, o outro

projeta o futuro. A vida do homem será inautêntica ou autêntica conforme ele se guiar pelo primeiro ou pelo segundo.

Tem uma vida a inautêntica ou banal quem se deixa dominar pela situação, o desejo de saber se torna vão, o inautêntico sabe na

aquilo que a massa sabe e submete-se prazerosamente à lei da massa. Observa Heidegger, ela (a massa) o dispensa de

responsabilidades, como a responsabilidade de tomar iniciativas e decisões: tudo está decidido na vida de cada dia.

Leva a vida autêntica quem assume como própria e constrói um plano próprio. Autêntica é a vida de quem deve o apelo do futuro,

as próprias possibilidades. E já que entre as possibilidades humanas a última é a morte. Vive autenticamente aquele que leva em

consideração a morte como a possibilidade de deixar de existir “aqui”, cessar.

Segundo Heidegger, a morte pertence à estrutura fundamental do homem, é um existencial ela não é uma possibilidade distante, mas

constantemente presente. O ser está sempre nesta possibilidade, depois dela não há outras. O homem. Apenas começa existir, já está

atirado nesta possibilidade. Com a morte o homem conquista a totalidade de sua vida. Enquanto ela chega ela não chega, falta a ele

alguma coisa que ainda não pode ser e que será. O homem adquire consciência da sua submissão à morte através da angústia, outra

disposição fundamental do ser.

Heidegger chama a morte de “princípio de individuação”, o princípio formal da vida humana: a vida humana se torna um todo

somente mediante a morte, que a limita. Só a morte permite ao homem ser completo.

Para Heidegger o ser é definido como aquilo que se faz presente no ente, que o ilumina e se manifesta nele. Embora o ser esteja no

ente, não há nada no ente que revele a natureza do ser. O homem é “o guarda do ser”, mas só cumprirá essa missão se souber

preservar a dignidade do ser. O homem permanece sempre só com a natureza, isto é, com mediato jamais poderá ele encontrar

imediatamente “o próprio ser”. Mas o homem sabe que o ser dá a todo ente a “garantia de ser”. Sem ela, todo o ente permaneceria

no nada, na privação absoluta do ser. Mas o modo pelo qual se dá este “construir-se” do ente por meio do ser é coisa que não lhe é

dado saber. Em consequência disso, a explicação do grande segredo do “constituir-se” da existência e o esclarecimento de sua

relação com seu fundamento são impossíveis, estando esta questão oculta em mística obscuridade. A filosofia de é Heidegger é também filosofia de linguagem, uma vez que é no homem, ser-em-situação, é através da linguagem que

se dá a epifania do ser.

JEAN-PAUL SARTRE (Paris, 1905 — Paris, 1980)

Filósofo, escritor e crítico francês, acreditava que os intelectuais tinham o dever de representar um papel mais ativo na sociedade.

Ficou conhecido como representante do existencialismo. Sartre era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com

a sua vida e obras.

Recusou-se a receber o Nobel de Literatura por ser contra distinções oficiais. A existência precede a essência era isso que sua

filosofia dizia sobre o ser humano, pois primeiro o homem existe para depois se definir ou seja o que define o ser são seus atos

durante sua existência, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir.

"O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós." JEAN PAUL SARTRE (1905-1980).

Antes de chegar nesta tão celebre frase, Sartre passou por toda uma construção anterior desse pensamento desembocando

posteriormente no pensamento conhecido como existencialista. Em L´Imaginaire desenvolve um pensamento separativista da

percepção e da imaginação, em L´Être et le néant contesta o subconsciente freudiano desvinculando-se do determinismo religioso,

e no qual no decorrer da leitura vê-se o cerne da ideia posterior de responsabilizar o homem pelos seus próprios atos expondo a ideia

de liberdade como um aprisionamento do ser (“Não somos livres de ser livres”) já que o homem é o único ser capaz de criar o nada:

“Ao tomar uma decisão, percebo com angústia que nada me impede de voltar atrás. Minha liberdade é o único fundamento dos

valores.”

Desta forma gera no homem a angustia de saber que nada o impede de voltar atrás, o medo de arcar com sua própria liberdade.

Assim, condenados a uma liberdade insatisfatória, jamais alcançando o que realmente desejamos sendo, portanto, uma liberdade

irrealizável.

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A Existência precede a essência?

Para o pensamento de Sartre Deus não existe, portanto o homem nasce despido de tudo, qual seja um ser que existe antes de poder

ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem, o que significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge

no mundo; e que só depois se define. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la, a única natureza pré-

existente é a biológica, ou seja; a sobrevivência, o resto se adquire de tal forma que não vem do sujeito é ensinado a ele pelo mundo

exterior.

Se Deus não existe não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim não teremos

justificativa para nosso comportamento. Estamos sós, sem desculpas.

É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre (pensamento desenvolvido em o ser e o nada). Condenado,

porque não se criou a si mesmo, mas por estar livre no mundo estamos condenados a ser livres, mas se verdadeiramente a existência

precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é, ou seja;

“Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.

O homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de subjetividade. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo

é de pôr todo o homem na posse do que ele é e de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Para o existencialista não

ter a quem culpar já que Deus não existe, e o subconsciente não existe é o que leva ao pensamento da liberdade não livre, pois, junto

com eles, desaparecem toda e qualquer possibilidade de encontrar valores inteligíveis, nem um modelinho pré-definido a ser

cumprido.

A fórmula "ser livre" não significa "obter o que se quer", e sim "determinar-se a escolher”. Segundo Sartre o êxito não

importa em absoluto à liberdade. Um prisioneiro não é livre para sair da prisão, nem sempre livre para desejar sua libertação, mas é

sempre livre para tentar escapar.

Sendo livres somos responsáveis por nossas ações consequentemente somos livres para pensar e conceber nossos próprios

paradigmas, não sendo então aquilo que fizeram de nós e sim nos criando a partir do que fizeram de nós. Somos o que escolhemos

ser.

POLÍTICA Problema político: Estado, sociedade e poder

Questões de referência:

A questão da democracia.

A questão da constituição da cidadania.

A questão do jusnaturalismo e contratualismo.

A questão do poder

Autores de referência: Platão, Aristóteles, Hobbes, Locke, Rousseau, Maquiavel...

O analfabeto político O pior a analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha,

do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia política.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos,

que é o político vigarista, pilantra, corrupto. E lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Bertolt Brecht

1. Uma reflexão sobre política e democracia

Podemos falar de política como a arte de governar, de gerir os destinos da cidade; aliás, etimologicamente política vem de

polis (cidade). A palavra democracia vem do grego demos (povo) e kratia, de krátos (governo, poder, autoridade). Historicamente,

consideramos os atenienses o primeiro povo a elaborar o ideal democrático, dando ao cidadão a capacidade de decidir os destinos

da polis (cidade - estado grega). Povo habituado ao discurso, encontra na ágora (praça pública) o espaço social para o debate e o

exercício da persuasão. (*Vários eram excluídos do direito à cidadania e poucos detinham efetivamente o poder.) Grifo nosso. O ideal democrático reaparece na história, com roupas diferentes, ora no liberalismo, ora exaltado na utopia rousseauniana,

ora nos ideais socialistas e anarquistas. Nunca foi possível evitar que, em nome da democracia, conceito abstrato, valores que na verdade pertenciam a uma classe

apenas fossem considerados universais. A Revolução Francesa se fez sob o lema “Igualdade, Liberdade, Fraternidade”, e sabemos

que foi uma revolução que visava interesses burgueses e não populares. No mundo contemporâneo, tanto os EUA como a URSS se consideram governos democráticos. Se a política significa o que se refere ao poder, na democracia, onde é o lugar do poder?

A personalização do Poder O que caracteriza os governos não democráticos é que o poder é investido numa pessoa que pretende exercê-lo durante toda

a sua vida, como se dele fosse proprietário. O faraó do Egito, o césar romano, o rei cristão medieval, em virtude de privilégios, se

apropriam do poder, identificando-o com o seu próprio corpo. É a pessoa do príncipe que se torna o intermediário entre os homens

e Deus, ou o intérprete humano da suprema Razão. Identificado com determinada pessoa ou grupo, o poder personalizado é um poder de fato, e não de direito, pois não é

legitimado pelo consentimento da maioria, mas depende do prestígio e da força dos que o possuem. Trata-se de uma usurpação do

poder, que perde o seu lugar público quando é incorporado na figura do príncipe.

Que tipo de unidade decorre desse poder? Como não se funda na expressão da maioria, ele precisa estar sempre vigiando e

controlando o surgimento de divergências que poderão abalá-lo. Busca então a uniformização das crenças, das opiniões, dos

costumes, evitando o pensamento divergente e destruindo a oposição.

Eis aí o risco do totalitarismo, quando o poder é incorporado ao partido único, representado por um homem todo- poderoso.

O filósofo político contemporâneo Claude Lefort diz que o escritor soviético dissidente Soljenitsin costumava se referir a Stálin

como sendo o Egocrata (que significa o poder personalizado; etimologicamente, “poder do eu”). O Egocrata é o ser todo – poderoso

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que faz apagar a distinção entre a esfera do Estado e a da sociedade civil: o partido, onipresente, se incumbe de difundir a ideologia

dominante por todos os setores de atividades, a todos unificando, o que permite a reprodução das relações sociais conforme o modelo

geral.

A institucionalização do Poder A Idade Moderna promove uma profunda mudança na maneira de pensar medieval, que era predominantemente religiosa. Ocorre a

secularização da consciência, ou seja, o abandono das explicações religiosas, para se usar o recurso da razão. Essa transformação se

verifica nas artes, nas ciências, na política.

À tese de que todo poder emana de Deus, se contrapõe a origem social do pacto feito pelo consentimento dos homens. A

legitimação do poder se encontra no próprio homem que o institui.

Para ilustrar o caráter divino do poder no pensamento medieval, veja-se Jean Bodin (1530 – 1596): jurista e filósofo francês,

que defendeu, em sua obra A República, o conceito do soberano perpétuo e absoluto, cuja autoridade representava a vontade de

Deus. Assim, todo aquele que não se submetesse à autoridade do rei deveria ser consideradao um inimigo da ordem pública e do

progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir um poder supremo sobre o Estado, respeitando, apenas, o direito de

propriedade dos súditos. (COTRIM, 1987, p 134)

Com a emergência da burguesia no panorama político, dá-se a criação do Estado como organismo distinto da sociedade civil.

Em outras palavras, na Idade Média, o poder político pertencia ao senhor feudal, dono de terras, e era transmitido como herança

juntamente com seus bens; com as revoluções burguesas, essas duas esferas dissociam-se: o poder não é herdado, mas conquistado

pelo voto. Assim, separa-se o público do privado. O espírito da democracia está em descobrir o valor da coisa pública, separada dos

interesses particulares.

Desse modo, ocorre a institucionalização do poder, que não mais se identifica com aquele que o detém, pois este é mero

depositário da soberania popular. O poder se torna um poder de direito, e sua legitimidade repousa, não no privilégio, não no uso da

violência, mas do mandato popular.

O súdito, na verdade, torna-se cidadão, já que participa da comunidade cívica. Não havendo privilégios, todos são iguais e

têm os mesmos direitos e deveres.

Isto se torna possível pela criação de instituições baseadas na pluralidade de opiniões e na elaboração de leis para orientar a

ação dos cidadãos, garantindo seu direitos e evitando o arbítrio. A institucionalização implica a elaboração de uma Constituição,

que é a lei magna.

Portanto, o poder torna-se legítimos porque emana do povo e se faz em conformidade com a lei.

Retomando a pergunta “Onde é o lugar do poder na democracia?” respondemos que é o lugar do vazio, ou seja, é o poder

com o qual ninguém pode se identificar e que será exercido transitoriamente por quem for escolhido para tal.

No entanto, como já dissemos, a democracia burguesa se mostrou deficiente no exercício desse ideal, pois redundou em uma

forma elitista, privilegiando os segmentos da sociedade que possuem propriedades e excluindo do acesso ao poder a grande maioria

Com a ajuda da ideologia, as classes privilegiadas dissimulam a divisão e mostram a sociedade como una, harmônica e

igualitária. Asseguram, assim, a tranquilidade e o progresso”. Entretanto, a outra parte da sociedade se acha reduzida ao silêncio e à

incapacidade de pensar a sua própria condição. Como seria a verdadeira democracia?

Segundo Marilena Chauí, as três características da democracia são as ideias de conflito, abertura e rotatividade.

O conflito: se a democracia supõe o pensamento divergente, isto é, os múltiplos discursos, ela tem de admitir um

heterogeneidade essencial. Então, o conflito é inevitável. A palavra conflito sempre teve sentido pejorativo, de algo que

devesse ser evitado a qualquer custo. Ao contrário, divergir é inerente a uma sociedade pluralista. O que a sociedade

democrática deve fazer com o conflito é trabalhá-lo, de modo que, a partir da discussão, do confronto, os próprios homens

encontrem a possibilidade de superá-lo.

A abertura: significa que na democracia a informação circula livremente, e a cultura não é privilégio de poucos.

A rotatividade: significa tornar o poder na democracia realmente o lugar vazio por excelência, sem o privilégio de um

grupo ou classe. É permitir que todos os setores da sociedade possam ser legitimamente representados.

A fragilidade da democracia A construção da democracia é uma tarefa difícil, devido à incompletude essencial da democracia. Não havendo modelos a

seguir, a democracia se autoproduz no seu percurso, e a árdua tarefa em que todos se empenham está sujeita aos riscos dos enganos

e dos desvios. Por isso, a democracia é frágil e não há como evitar o que faz parte da sua própria natureza.

O principal risco é a emergência do totalitarismo, representado nos grupos que sucumbem à sedução do absoluto e desejam

restabelecer a “ordem” e a hierarquia.

A condição do fortalecimento da democracia encontra-se na politização das pessoas, que devem deixar o hábito (ou vício? )

da cidadania passiva, do individualismo, para se tornarem mais participantes e conscientes da coisa pública.

Questões para reflexão:

1. Qual a mensagem do poema “O analfabeto político”?

2. Qual é a etimologia das palavras política e democracia?

3. O que significa a personalização do poder?

4. O que significa s separação entre a sociedade política e a sociedade civil?

5. Por que a burguesia não representa ainda o ideal democrático?

6. Quais são as três características da democracia?

7. Em que consiste a fragilidade da democracia e que significa cidadania passiva?

Sugestão de leitura : ARANHA & MARTINS. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna,1986. (Capítulo 18 a 27 - pgs 206 a 299)

DEMOCRACIA E CIDADANIA

Se até hoje temos nos contentado com a democracia representativa, não há como deixar de sonhar com mecanismos típicos

da democracia direta que possibilitem a presença mais constante do povo nas decisões de interesse coletivo.

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Na Constituição brasileira de 1988 foi introduzida a “iniciativa popular de projetos de leis”, através de manifestação do

eleitorado, mediante porcentagem mínima estipulada conforme o caso. Essa forma de atuação ainda será regulamentada e devem

ser enfrentadas dificuldades as mais diversas para o exercício efetivo.

Mas alguns poderiam argumentar: para participar enquanto cidadão pleno é preciso que haja politização, caso contrário

haverá apatia ou manipulação. Daí o desafio: quem educa o cidadão?

Cidadania se aprende no exercício mesmo da cidadania. Embora a escola seja aliada importante, não é nela fundamentalmente

que se dá a aprendizagem, pois há o risco da ideologia e do discurso vazio, quando o ensino não é acompanhado de fato pela

ampliação dos espaços de atuação política do cidadão na sociedade.

A participação popular se intensifica com as já referidas organizações saídas da sociedade civil. Essas organizações, ao

colocarem seus representantes em confronto com o poder constituído, tornam-se verdadeiras escolas de cidadania. O importante do

processo é que, ao lado dos outros poderes, como o poder oficial do município, do estado e federal, e o poder das elites econômicas,

desenvolve-se o poder alternativo. Ou seja, o esforço coletivo na defesa de interesses comuns transforma a população amorfa,

inexpressiva e despolitizada em comunidade verdadeira.

Na luta contra a tirania e o poder arbitrário, nem as regras da moral, nem apenas as leis impedirão o abuso do poder. Na

verdade, como já dizia Montesquieu, só o poder controla o poder. Sugestão de leitura : ARANHA & MARTINS. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna,1992.(cap. 13 )

MAQUIAVEL O Renascimento trouxe uma série de inovações no campo cultural. Uma delas foi desenvolvida por um autor italiano, Maquiavel,

que procurava fundamentar uma filosofia política tendo em vista a dominação dos homens. Essa pretensão tinha como modelo as

ciências naturais que estavam em plena descoberta (física, medicina, etc.), estabelecidas por Galileu e com o próprio ideal

renascentista de domínio da natureza.

Maquiavel pretendia que essa forma de conhecimento fosse aplicada também à política enquanto ciência do domínio dos homens e

que tinha como pressuposto uma natureza humana imutável. Para ele, se há uniformidade nas leis gerais das ciências naturais,

também deveria haver para as ciências humanas. Isso foi necessário para manter a ordem dentro do Estado burguês então nascente,

que precisava desenvolver suas atividades e prosperar.

O problema para Maquiavel, entretanto, é saber a quem serve a ciência política e o que fazer para se manter no poder. Apesar de,

obviamente, ser um defensor da burguesia, não se sabe ao certo qual a sua preferência de forma de governo. Mesmo assim, ele tende

ora para a República, ora para a Monarquia. Para ele, essa questão é secundária, pois a sua concepção de história era cíclica e os

governos sempre se degeneravam: da monarquia à tirania, desta à oligarquia e à aristocracia, que, por sua vez, recaíam na democracia

que, enfim, só terá solução com um ditador. Isso acontece (e se repete) porque os seres humanos têm uma essência universal: é o

desejo de poder e os vícios a que são acometidos os homens (governantes e seus sucessores) que fazem com que o governo se

degenere.

Por isso, Maquiavel lança mão de dois conceitos chaves: virtu e fortuna. Este diz respeito à grande maioria dos homens, é a sorte, o

destino a que estão determinados; e aquele é a excelência que poucos homens têm de previsão, capazes de fazê-los manter o poder

máximo possível e para isso podem matar, roubar, mentir, sem nenhum escrúpulo.

AS TEORIAS CONTRATUALISTAS Nos séculos XVII e XVIII a principal preocupação da filosofia política é o fundamento racional do poder soberano. Ou seja, o que

se procura não é resolver a questão da justiça, nem justificar o poder pela intervenção divina, mas colocar o problema da legitimidade

do poder. É por isso que filósofos tão diferentes como Hobbes, Locke e Rousseau têm idêntico propósito: investigar a origem do Estado. Não

propriamente a origem no tempo, mas o “princípio”, a “razão de ser” do Estado. Todos partem da hipótese do homem em estado

de natureza, isto é, antes de qualquer sociabilidade, e, portanto, dono exclusivo de si e dos seus poderes. Procuram então compreender

o que justifica abandonar o estado de natureza para constituir o Estado, mediante o contrato. Também discutem o tipo de soberania

resultante do pacto feito entre os homens. Hobbes, advertindo que o homem natural vive em guerra com seus semelhantes, conclui que a única maneira de garantir a paz

consiste na delegação de um poder absoluto ao soberano. - Thomas Hobbes (1558-1679): filósofo inglês, escreveu o livro Leviatã

(o título refere-se ao monstro bíblico, citado no livro de Jó, que governava o caos primitivo), no qual compara o Estado a um monstro

todo-poderoso, especialmente criado para acabar com a anarquia da sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas

“o homem era o lobo do próprio homem”, vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir sua própria

sobrevivência. Só havia uma solução para dar fim à brutalidade: entregar o poder a um só homem, que seria o rei, para que ele

governasse todos os demais, eliminando a desordem e dando segurança a todos. (COTRIM, 1987, p. 134) Locke, como arauto do liberalismo, critica o absolutismo. John Locke (1632 – 1704): filósofo inglês, considerado por muitos como

o “Pai do Iluminismo”. Sua principal obra é o Ensaio sobre o entendimento humano, em que afirma que nossa mente é uma tábula

rasa, sem nenhuma ideia. Tudo o que adquirimos é devido à e experiência. Para ele, nossas primeiras ideias vêm à mente através

dos sentidos. Depois, combinando e associando as primeiras ideias simples, a mente forma ideias cada vez mais complexas. Em

resumo, todo o conhecimento humano chega à nossa mente através dos sentidos e, depois, desenvolve-se pelo esforço da razão. Em

termos políticos, Locke condenou o absolutismo monárquico, revelando sua grande preocupação em proteger a liberdade individual

do cidadão. (COTRIM, 1987, p.140) Para ele, o consentimento dos homens ao aceitarem o poder do corpo político instituído não

retira seu direito de insurreição

Apesar das diferenças, o que existe em comum nas teorias contratualistas é a ênfase no caráter racional e laico (não-

religiosos) da origem do poder. É o próprio homem que dá o consentimento para a instauração do poder, reafirmando

assim o valor absoluto do indivíduo e do cidadão.

Além disso, as teorias contratualistas se baseiam em uma concepção individualista da sociedade, o que é típico do pensamento

liberal. A sociedade é compreendida como a somatória dos indivíduos, e o Estado tem por fim garantir que os interesses

particulares possam coexistir em harmonia. Esta concepção será criticada pelas teorias socialistas. Sugestão de leitura ARANHA & MARTINS. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna,1992. ( cap. 14 )

12

CONCEITOS HOBBES LOCKE ROUSSEAU MONTESQUIEU

Poder Meio para atingir um

bem visível para mim.

Poder

Natural (do corpo).

Poder instrumental

(meios para melhorar o

poder natural)

É criado pelo homem através de

suas experiências.

Poder emana do povo. O povo e

soberano, a vontade geral

representa o poder de um estado.

Quem tem poder possui razão,

logo é capaz de fazer leis.

Estado de

Natureza

Estado de guerra.

Cada um se auto

governa, e caso se sinta

ameaçado pode fazer

tudo para eliminar o

outro. Não há

propriedade.

Os homens vivem um estágio

pré-social e pré-político na mais

perfeita igualdade e liberdade.

Não é um estado de guerra, mas

um estado de paz, concórdia e

harmonia. Mas este não está isento

de conflitos.

Há propriedade.

Somos seres que nascemos livres e

iguais pela condição de razão.

Nascemos numa condição animal

por instinto, e vivemos numa

condição básica de natureza, até

que seja necessário ao homem

criar instrumentos para alterá-la.

Homem é piedoso e bom para o

outro.

Homem procura sua

sobrevivência, busca pela paz.

O homem se preocupa com a

necessidade de sobrevivência

e reprodução.

Concepção de

Natureza

Humana

Razão proíbe o homem

de fazer tudo que vá

destruir sua vida ou

privá-la dos meios para

preservá-la.

Tábula rasa. Não existem ideias

inatas no homem. O homem

adquire ideias, conhecimento,

através das experiências

vivenciadas. Todos os seres

humanos nascem bons, iguais e

independentes

Bom selvagem. Indivíduos vivem

isolados, vivendo do que a

natureza os fornece, não existem

conflitos.

Os homens se temem e o medo

os impede de se atacarem

fazendo com que cada um se

sinta inferior em relação ao

outro.

Estado civil Fruto do poder

individual dos homens

reunidos em assembleia.

Supera estado de guerra.

Assegura vida e

propriedade.

Conservação da propriedade.

Poder legislativo é superior aos

outros. Controle do governo pela

sociedade.

Cria-se quando a desigualdade se

instala (estado de guerra). Tira a

liberdade natural do homem e seu

direito de fazer o que bem querer,

mas o fornece liberdade civil e

propriedade de tudo que possui.

O melhor e o moderado, que

consegue equilibrar os 3

poderes. Acabar com o estado

de guerra gerado por uma

desigualdade.

Contrato Acordo civil.

Transferência mútua de

direitos.

Mesmo o estado de natureza sendo

pacifico, não está isento de

conflitos, e este leva os homens ao

fazerem o contrato. Formado por

um corpo político único, visa

preservação da propriedade e a

proteção da comunidade

internamente e externamente.

Pela vontade geral, o que e comum

nos interesses de todos, escolhe-se

um governante que não e

soberano, mas representa a

soberania popular. O povo e

soberano.

Criado quando um homem

tem mais que o outro, assim

instaura-se o estado de guerra.

O medo recíproco entre os

homens levam a união deles.

Pacto Reunião em assembleia

dando poder a um

soberano que não

participa da assembleia.

Transferência de poder

ao soberano. Pacto de

Submissão.

Uma decisão da maioria através

de uma assembleia sobre o

ordenamento político. Pacto de

Consentimento.

Pacto de Consenso. São os

elementos comuns a vontade de

todos (vontade geral). Volto a

liberdade que tinha no Estado de

natureza. Só na lei tenho

igualdade. A liberdade está na

autonomia.

Pacto simples. Esfera pública

e privada. O estado precisa ser

controlado e por isso são

necessárias as leis. A lei busca

a paz social. Lei expressa

vontade, cultura.

Soberania Advém do povo.

Legitima o poder do

monarca sobre seus

súditos.

Não reside no Estado, mas sim na

população. Embora seja soberano,

o estado deve respeitar as leis

naturais e civis.

Poder supremo do povo. Exercício

da vontade geral. Inalienável e

indivisível. Vontade única por

consenso em assembleia.

Ocorre com as leis positivas.

Propriedade Autonomia para fazer

com seus bens o que

bem entende.

Bem coletivo. Está no próprio

homem, no trabalho e ações que

executa. É anterior à sociedade e,

portanto direito natural do homem.

Causa maior da desigualdade,

porém é direito de todo cidadão.

Vem do esforço humano. O

homem deve produzir o que

ele precisa para sobreviver.

Direito de

Resistência

O súdito pode

desobedecer ao

soberano, caso este não

esteja garantindo a sua

vida.

Direito do povo contra a opressão

e a tirania do governo (violação da

propriedade) e de se libertar de

uma nação estrangeira.

Qualquer quebra da vontade geral

por parte do monarca, dá direito a

insurgência.

A partir do momento que os

direitos individuais são

violados.

Cidadania O homem renuncia a seu

poder para fazer o pacto.

Somente os que possuem

propriedade privada são cidadãos.

Os indivíduos aceitam perder a

liberdade civil e a posse natural

para ganhar a individualidade

civil.

O homem adquire quando há o

equilíbrio dos poderes no

Estado.

Formas de

governo

Estado Absolutista Democracia; Oligarquia;

Monarquia

Democracia; Aristocracia;

Monarquia.

Monarquia Constitucional;

Republica; Despotismo

(Tirania)

Sobre os

poderes do

Estado

Não há divisão. O poder

está no rei. Poder

absoluto.

Divisão do poder em 3:

Legislativo, Executivo e

Federativo.

Só existe o poder legislativo, que

cria as leis.

Equilíbrio entre os 3 poderes.

Um poder controla o outro.

Gera estabilidade política.

Legitimidade O Estado só é legítimo, porque o povo deu poder a ele.

13

ÉTICA Área da Filosofia que estuda os valores morais. Reflete sobre o bem e o mal, o que é certo ou errado, e procura responder, por

exemplo, se os fins justificam os meios ou os meios justificam os fins.

Moral é o conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos em um grupo social. De modo simplificado, o

sujeito moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras morais admitidas em determinada época

ou por um grupo de pessoas. Diz respeito à ação moral concreta, quando nos perguntamos: O que devo fazer? Como devo agir nessa

situação? O que é certo? O que é condenável? e assim por diante.

Ética é a reflexão sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral. Essa reflexão orienta-se nas mais diversas

direções, dependendo da concepção de ser humano tomada como ponto de partida. Por exemplo, à pergunta "O que é o bem e o

mal?", respondemos diferentemente, caso o fundamento da moral esteja na ordem cósmica, na vontade de Deus ou em nenhuma

ordem exterior à própria consciência humana.

Do ponto de vista da ética, podemos ainda perguntar: Há uma hierarquia de valores a obedecer? Se houver, o bem supremo é a

felicidade? O prazer? A utilidade? O dever? A justiça? Igualmente, é possível questionar: Os valores são essências? Têm conteúdo

determinado, universal, válido em todos os tempos e lugares? (Caráter histórico e social da moral)

A partir de Sócrates (469 – 399 a. C.), a Filosofia, que antes estudava a natureza, passa a se ocupar de problemas relativos ao

valor da vida, ou seja, das virtudes. O primeiro a organizar essas questões é o filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a. C.). Em sua

obra, entre outros pontos, destacam-se os estudos da relação entre a ética individual e a social, e entre a vida teórica e a prática. Ele

também classifica as virtudes. A justiça, a amizade e os valores morais derivam dos costumes e servem para promover a ordem

política. A sabedoria e a prudência estão vinculadas à inteligência ou à razão. Na Idade Média, predomina a ética cristã baseada no amor ao próximo, que incorpora as noções gregas de que a felicidade é

um objetivo do homem e a prática do bem constitui um meio de atingi-la. Os filósofos cristãos partem do pressuposto de que a

natureza humana tem um destino predeterminado e de que Deus é o princípio da felicidade e da virtude.

Entre a idade Média e a modernidade, o italiano Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) apresenta-se como “o Colombo do novo

mundo moral” e provoca uma revolução na ética. Nega as concepções grega e cristã de virtude e busca seu modelo moral na virilidade

dos antigos romanos. Para ele, a ética cristã é “efeminada”. Maquiavel influencia o inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679) e o

holandês Benedito Spinoza (1632 –1677), pensadores modernos extremamente realistas no que se refere à ética.

Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean – Jacques Rousseau (1712 –1778) e os alemães Emmanuel Kant (1724 – 1804) e

Friedrich Hegel (1770 –1831) são os principais filósofos que discutem ética. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza e

seu espírito pode sofrer um aprimoramento quase ilimitado. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo regras universais com

as quais todos concordam. O reconhecimento dos outros homens é o principal motivador da conduta individual. Hegel transforma a ética em uma Filosofia do Direito. Ele a divide em ética subjetiva ou pessoal, e ética objetiva, ou social. A

primeira é uma consciência de dever e a segunda é formada pelos costumes, leis e normas de uma sociedade. O Estado, para Hegel,

reúne esses dois aspectos numa “totalidade ética”. Na Filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciam o conceito de ética, que ganha traços de moral utilitária.

Os indivíduos devem buscar a felicidade e, para isso, fazer as melhores escolhas entre as alternativas existentes. Para o filósofo

inglês Bertrand Russel (1872 – 1970), a ética é subjetiva. Não contém afirmações verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos

de um grupo. Mas Russel diz que o homem deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou o

equilíbrio

Desde a antiguidade, a ética percorreu um longo caminho, distinguindo-se da moral e se segmentando, adquirindo

contemporaneamente um sentido amplo e outro mais estreito.

Atualmente, existe uma ética da humanidade que pauta comportamentos pensando em pressupostos maiores; e outra que

padroniza ações no interior de um grupo especifico.

As duas vertentes nem sempre caminharam juntas, gerando recomendações contraditórias e paradoxais.

Para entender o que e como se configurou a chamada ética profissional, apenas um dos ramos da ética normativa, é necessário

percorrer o desenvolvimento conceitual da ética ao longo da história.

A ÉTICA NA ANTIGUIDADE.

A ética nasceu na Grécia, praticamente junto com a filosofia, embora seus preceitos fossem praticados entre outros povos desde

os primórdios da humanidade, mesclados ao contexto mítico e religioso, tentando pautar regras de comportamento para permitir o

convívio entre indivíduos agrupados no conjunto da sociedade.

A rigor, os gregos foram os primeiros a racionalizar as relações entre as pessoas, repensando posturas e sistematizando ações.

Momento em que surgiram discussões que até hoje fomentam reflexões éticas.

Apesar dos pré-socráticos se inserirem neste contexto, a maioria dos autores atribuem a tradição socrática um olhar mais atento

sobre problemáticas em torno da ética.

Para Sócrates, o verdadeiro objeto do conhecimento seria a alma humana, onde reside a verdade e a possibilidade de alcançar a

felicidade.

O grande problema é que o indivíduo não está preparado para encontrar a verdade dentro de seu espírito.

Tentando eliminar os próprios erros, ocultos em sentimentos confundidos com a felicidade, o sujeito acaba buscando somente o

prazer puramente hedonista.

Por esta razão, seria missão do filósofo conduzir o sujeito ao conhecimento, direcionando para eudaimonia, a verdadeira

felicidade.

Um conceito importante para os gregos, tanto que a palavra eudeimon tem a mesma origem etimológica, denotando riqueza e

denominando um homem poderoso e com boa fortuna.

Para a tradição socrática, a felicidade só pode ser alcançada pela conduta reta, a verdade só pode ser contemplada pelo

conhecimento virtuoso do mundo, pelo comportamento orientado pela bondade.

A virtude é o centro da ética socrática, podendo ser definida como uma disposição para praticar o bem, suprimir os desejos

despertados pelos sentimentos, racionalizando as ações em benefício da coletividade.

14

O indivíduo virtuoso, bom, é aquele que se preocupa em aperfeiçoar a convivência comunitária, em tornar-se o cidadão perfeito.

Neste sentido, devemos notar que a ética é uma busca pela felicidade coletiva, mas envolve apenas a eudaimonia entre iguais.

A preocupação ética abarca a comunidade, a Pólis, onde estrangeiros e escravos estão excluídos em meio à hierarquização da

sociedade.

Os sofistas, tendo um conceito relativizado de verdade, duvidaram da possibilidade da virtude poder ser ensinada, contudo,

admitiram que poderia ser desenvolvida pelo sujeito através do despertar da consciência.

O conhecimento seria o meio do indivíduo se aperfeiçoar, tornando-se virtuoso pelo amadurecimento intelectual; enquanto a

ignorância representa o vício.

Desta concepção decorreu a fundamentação da ética em volta da liberdade, virtude e bondade.

Parâmetros que nortearam o pensamento ético aristotélico, onde a felicidade é definida como a própria virtude, garantia da

liberdade.

Antes de Aristóteles, herdeiro da tradição socrática, Platão tratou a ética como componente indissociável da vida política, da

harmonia entre os habitantes da Pólis.

Sua tarefa seria promover o nivelamento entre os indivíduos, diluindo as diferenças em prol do bem comum.

A ética deveria permitir que os indivíduos partilhassem o poder, impedindo a concentração do governo da Polis nas mãos de um

segmento da sociedade ou de um indivíduo.

Portanto, fornecendo limites à liberdade, equalizando diferenças sociais e econômicas, a ética deveria fazer o sujeito se preocupar

com o outro, partilhando o poder.

A questão é que a tentativa de organizar a distribuição do poder desvirtua o homem, corrompe a busca da felicidade coletiva em

favor da ilusão hedonista individualizada.

Para Platão, todas as formas de governo poderiam ser resumidas em quatro, todas produtoras de homens não éticos:

1. Timocracia. O regime dos amantes da riqueza, onde o poder é partilhado apenas entre os membros das oligarquias, palavra

que em grego significa “governo de poucos”, restringindo-se ao controle exercido pelas famílias mais ricas e proeminentes que

formam a nobreza.

O poder é transmitido hereditariamente, sem possibilidade de alternância ou de compartilhamento.

2. Oligarquia. O regime decidido pela transação de fortunas, governado pelos ricos, independente de sua origem familiar, sem

nenhuma participação dos pobres.

Onde o que é valorizado é a capacidade econômica e não a virtude.

3. Democracia. O governo da Pólis ao gosto de cada um, com representantes eleitos ou cidadãos participando diretamente,

estabelecendo acordos para pautar leis, as quais os indivíduos devem se adaptar.

O problema deste regime é que tende a anarquia, a desorganização em meio a discussões intermináveis que defendem interesses

múltiplos, sem alcançar resultados práticos.

Além do fato que, o crescimento populacional, inviabiliza a sua efetivação, conduzindo a uma das outras três formas de governo,

disfarçadas em democracia.

4. Tirania. O sistema em que um homem, o tirano, assume o poder sob pretexto de beneficiar o coletivo, mas que na verdade

representa seu desejo por bajulações, demonstrando total ausência de virtude e pobreza de alma.

Uma vez que todas as formas de governo conduzem ao vicio, inviabilizando a existência ética do indivíduo e da Pólis; Platão

propôs a construção de um Estado Ideal, onde a virtude pudesse ser cultivada, garantindo a liberdade efetivada no exercício da

justiça, o que ficou conhecido como República Platônica (Res Pública = coisa pública).

O Estado deveria ser governado pelos reis filósofos, sendo a racionalidade o que permitiria dirigir o destino coletivo com

sabedoria e virtude. Os guardiões deste sistema de governo seriam os soldados, selecionados entre os mais corajosos e obedientes.

Aos artesãos caberia viabilizar economicamente o Estado, constituindo a base da sociedade, composta por indivíduos governados

pelas coisas sensíveis. Os filósofos possuiriam alma de ouro, cultivando a virtude da sabedoria; os soldados teriam alma de prata,

possuindo a virtude da coragem; e os artesãos seriam dotados de alma de bronze, devendo cultivar a virtude da moderação para

conter seus desejos pelos bens materiais.

Esta concepção leva em consideração que haveria escravos para cultivar alimentos para suprir a população.

Estes não estão incluídos nas preocupações da ética platônica, pois não passam de animais vocais, capazes de falar, mas não de

interiorizar virtudes e a razão.

Assim como também, neste mundo perfeito, não havia espaço para as mulheres, consideradas serem inferiores por se entregarem

aos sentimentos.

Um segmento indesejado seria composto pelos poetas, que deveriam ser expulsos da Pólis, já que despertam sentimentos,

fazendo o sujeito deixar a racionalidade de lado.

Modernamente, poderíamos traça uma analogia dos poetas com os meios de comunicação, que constroem verdades e desviam a

atenção das massas das questões realmente importantes, iludindo os indivíduos e manipulando suas ações.

ARISTÓTELES

Também considerava a ética como possibilidade de eliminar a desigualdade, harmonizando o convívio coletivo; mas envolve,

antes, o equilíbrio interno do indivíduo, externalizado pela eudaimonia coletiva.

Ao inverso de Platão, para ele não é o sistema político que corrompe o homem, este é que desvirtua o regime.

É por isto que Aristóteles foi um grande defensor da democracia, relacionando a liberdade com a responsabilidade para

compartilhar o poder de forma igualitária, através do conceito de representatividade.

Para tal, seria necessário preparar o indivíduo para o exercício virtuoso da política, cultivando virtudes como prudência, sabedoria

e justiça.

Não sendo possível determinar a essência destes conceitos, sendo relativos no tempo e espaço; é difícil definir parâmetros para

um comportamento virtuoso.

Problema contornado pela repetição de ações consideradas boas para a coletividade, garantindo a ordem das coisas para atingir

a felicidade.

15

O papel da ética é justamente convencionar o que deve ser repetido, racionalizando comportamentos benéficos ao indivíduo e

à Pólis.

Para racionalizar o convívio entre as pessoas, seria preciso assimilar três tipos de conhecimentos que compõem o que Aristóteles

chamou de sabedoria voltada para o bem, o belo e o honesto:

1. Conhecimentos Teóricos. A averiguação do que ocorre no mundo, transformado em conhecimento sistematizado, em Ciência

e, portanto, naquilo que hoje chamamos de ética.

2. Conhecimentos Produzidos. Normas de orientação técnica, necessárias à efetivação da prática, correspondentes às leis e ao

Direito.

3. Conhecimentos Práticos. Orientações obtidas pela vivência diária, conduzindo a maneira justa e saudável de viver em

harmonia com a natureza e o outro, condizente com a moral.

Em outras palavras, a ética aristotélica propõe observar as necessidades do homem como indivíduo e membro da coletividade, o

que é possível estabelecer como norma em dado contexto, teorizar e refletir para padronizar como correto.

A ética se constitui como Ciência normativa da conduta individual e coletiva em sentido amplo.

Diferente da concepção platônica, onde a ética é inerente a um grupo e padronizada de forma segmentada, origem do que hoje

chamamos ética profissional.

Ainda na antiguidade, os romanos tiveram que lidar com a oposição antagônica proposta por Platão e Aristóteles, entre o padrão

de comportamento da sociedade e de grupos inseridos nela.

O que originou a moral e sua distinção com relação à ética, o Direito e a justiça.

A conclusão foi que a existência coletiva precisa de regras para efetivar-se, percorrendo esferas distintas que vão do privado ao

convencionado para o conjunto, do indivíduo ao grupo e deste para o contexto mais amplo; comportando paradoxos, distinções e

segmentações.

A ÉTICA MEDIEVAL.

A Idade Média foi dominada pelo catolicismo na Europa Ocidental, pautando uma ética vinculada com a religião e dogmas

cristãos, dominando o panorama conceitual entre o século XI e XIX; a despeito de mudanças significativas com o renascimento e,

depois, a entrada na modernidade e o iluminismo.

Dentre as concepções filosóficas que influenciaram fortemente o conceito de ética medieval, cabe destacar as ideias de Santo

Agostinho, Santo Anselmo e São Tomás de Aquino.

Para Santo Agostinho a verdade é uma questão de fé, é revelada por Deus, superando a razão; subordinando o Estado e a política

à autoridade da Igreja.

Houve também uma subordinação da ética à moral; com a última sobrepondo-se a primeira e invertendo a ótica a favor da

heteronomia pautada pelo cristianismo.

O catolicismo alterou profundamente a ética, introduzindo a ideia de que a bondade, uma vida virtuosa, só podia ser alcançada

pela vontade de Deus, desvinculando a felicidade da racionalização do mundo.

Embora a máxima cristã - fazer ao outro o que queres para ti - seja perfeitamente condizente com a concepção original de ética;

o ascetismo e o martírio modificaram o conceito, operando uma releitura das ideias filosóficas de Platão e Aristóteles.

O ascetismo cristão - do grego ascese = exercitar - consistia na renúncia ao prazer e mesmo a satisfação de qualquer espécie,

aplicada a tudo que é terreno e material, fomentando práticas como mutilação genital, celibato e jejum.

Um grande problema para fundamentação ética, visto que a mesma se caracteriza pela busca do prazer, representado pela

felicidade, configurando um hedonismo relativo e satisfação consigo mesmo e o próprio papel no coletivo.

Uma concepção considerada pecado da vaidade pelo cristianismo, razão que tornava a moral mais importante que a ética na

idade Média.

O martírio implicava em valorizar a dor em nome da fé - do grego martys = testemunha - implicando em agir de acordo com a

vontade de Deus, mesmo quando contrário à razão, guiando-se pelos dogmas estabelecidos pela igreja, independente do que é

determinado pela ética.

Mais um fator de fortalecimento da moral, aumentando a ignorância da maior parte da população europeia quanto ao

discernimento conceitual da ética.

Neste contexto, o mundo sensível e inteligível platônico foram reinterpretados; identificados com a vida mundana em oposição

ao paraíso nos céus, com a verdade só podendo ser contemplada através da fé em Deus e a felicidade alcançada somente após a

morte.

Tudo, desde que os preceitos católicos tivessem sido seguidos à risca em vida.

A ética cristã, através do pensamento de São Tomás de Aquino, também fez uma releitura do pensamento aristotélico.

O tomismo procurou conciliar a fé e a razão, condicionando os atos dos indivíduos à natureza humana.

No entanto, ao afirmar que a dita natureza humana estaria na essência divina, inclinada a bondade, como pretendia Aristóteles;

não fez mais que reafirmar a subordinação da razão à fé.

Para Tomás de Aquino, o caminho para a felicidade passaria pela “grande ética”, caracterizada pelo justo equilíbrio divino,

projetado na ordenação da sociedade.

Portanto, em aceitar as contradições sociais e econômicas, a desigualdade, como vontade de Deus, esperando receber a

recompensa no além, quando finalmente a contemplação do paraíso permitiria atingir a felicidade plena, individual e coletiva,

participando e retornando ao espírito divino.

O que representou uma relativização da ética, fragmentada e aplicada apenas a um contexto especifico de estamento e grupo

social.

Segundo ele, “os princípios comuns da lei natural não podem ser aplicados do mesmo modo indiscriminadamente a todos os

homens, devido à grande variedade de raças, costumes e assuntos humanos; por isto, existe a diversidade das leis positivas nos

diversos povos”.

Para harmonizar a sociedade, ao invés da ética, dada sua segmentação, caberia a moral servir de referencial.

Santo Anselmo, pai da escolástica, tendência filosófica que propunha a educação como meio de vencer o ceticismo e doutrinar

o homem na fé cristã, mostrando sua superioridade frente à razão; afirmou que os princípios morais seriam intuitivamente auto-

evidentes, condicionando as ações à vontade de Deus.

16

Relegada ao segundo plano na efetivação da justiça, a ética passou a ser entendida como aplicada a contextos específicos; abrindo

caminho para a visualização conceitual dos aspectos éticos erroneamente apenas vinculados com a atuação profissional, com regras

que valeriam somente entre iguais.

Assim, a tendência de interpretação conceitual da ética platônica prevaleceu sobre as demais abordagens, sendo acentuada pela

visão cristã que valorizou a moral em detrimento da uma concepção ética universalizadora.

A ÉTICA MODERNA.

Entre os séculos XVI e XVIII, as discussões éticas estiveram centralizadas no embate entre racionalismo e empirismo.

A Idade Moderna foi à época da formação e consolidação dos Estados Nacionais europeus, precedendo a Revolução Francesa e

Industrial, quando a separação entre Estado e igreja tornou-se definitiva, com a preponderância do antropocentrismo e a aceleração

do avanço da Ciência.

Foi também um período de transição para a Idade Contemporânea, registrando contradições de cunho ainda medieval e forte

influência da religião na vida das pessoas.

Qualquer que seja a tendência teórica, a ética passou a ser vista novamente enquanto voltada para a busca da felicidade coletiva,

retomando seu sentido original grego, vinculado com a política, compondo orientações para a realização plena do cidadão.

Diante de múltiplos caminhos para chegar a eudaimonia, a ética foi pensada como garantia de condições para que o sujeito se

aprimore por meios legítimos.

Onde entraria o Estado como fomentador e garantidor de condições de condições transformadoras, providenciando educação,

direitos individuais, justiça e subsistência.

Neste sentido, os preceitos religiosos começaram a perder força, em uma tentativa da ética se sobrepor a moral, universalizando

e discutindo princípios de convivência em sociedade.

O que tornou atributo da ética realizar uma reflexão sobre a construção dos valores que balizam a moral, instituindo uma crítica

sobre práticas e ações humanas no âmbito da axiologia e da teoria dos valores.

Embora Descartes não tenha pensando especificamente a ética, sua concepção filosófica remete a uma transição entre a Idade

Média e Moderna, pois Deus é a garantia de existência do eu físico, fator significativo que compôs a ética racionalista em meio à

dúvida que origina o cogito.

O caminho da dúvida cartesiana conduziu Descartes a estabelecer uma moral provisória, baseado em recomendações como

obedecer às leis e costumes do país, mantendo a religião e a fé em Deus, guiando-se pelas opiniões mais moderadas e aceitas pela

prática, evitando excessos e cultivando o bom senso.

Em primeiro lugar, existe uma defesa da ética vinculada com as necessidades do Estado, estando subordinada ao Direito.

Depois, uma normatização ética atrelada à razão, obrigando o indivíduo a refletir e tomar decisões, sob pena de entregar-se ao

azar.

Outro racionalista, Baruch Spinoza, delineou com maior precisão as questões éticas na obra Ethica, publicada em 1677.

Ele fixou como parâmetro de definição do que é bom ou mau as necessidades e interesses humanos, inserindo a razão como

elemento capaz de frear as paixões, permitindo alcançar prazer e felicidade.

É interessante notar que, também para Spinoza, o amor intelectual a Deus é garantia da virtude, esta, definida como a própria

felicidade advinda da contemplação da totalidade do universo mental e físico, através da natureza divina, sendo ela inata.

Os empiristas adotaram uma postura diferente, apesar de não totalmente desvinculada da metafísica, porém mais próxima da

política e do contexto padronizador do comportamento coletivo.

Thomas Hobbes forneceu a base de sustentação para o Estado Absolutista, ligando a monarquia com a vontade de Deus; mas

defendeu a ideia de que a natureza humana é desonesta, solitária e violenta, expressa pela máxima “O homem é o lobo do homem”.

Como consequência seria necessário organizar a sociedade, estabelecendo um contrato social para eliminar a guerra de todos

contra todos, fortalecendo o Estado para reprimir a maldade humana.

A implicação ética estaria fixada na figura do cidadão, o qual, para integrar-se a sociedade, precisaria refletir sobre si mesmo e

seu papel coletivo.

Influenciado por esta concepção, John Locke retomou o conceito de contrato social como limitador do poder absoluto da

autoridade, promovendo a felicidade através da garantia de liberdade individual restrita.

David Hume também complementou a concepção de Hobbes, afirmando que as ideias inatas não existiam, sendo regras

compostas pela experiência, exigindo a padronização de comportamentos éticos a partir daquilo que fosse útil e prazeroso para a

maioria.

Portanto, a ética moderna, a despeito de ainda vinculada com a religião, começou a tentar sobrepujar a moral, resgatando

discussões presentes na antiguidade, avançando alguns passos rumo à vinculação com a liberdade.

Entretanto, foi pensada como instrumento de sustentação do poder do Estado perante a vida coletiva e individual.

A ÉTICA CONTEMPORÂNEA.

Ao separar o conhecimento da religião, no século XVIII, o iluminismo inaugurou uma releitura da ética, estabelecendo críticas

que voltaram a centralizar o foco na razão, apostando na autonomia humana e na crença otimista no progresso.

Foi estabelecida uma visão ética por um viés mais amplo, não só circunscrito ao grupo, mas sim ao contexto do conjunto da

humanidade.

É por isto que a Revolução Francesa pregou o ideal de liberdade, igualdade e fraternidade; tendo como centro a questão da

tolerância para com as diferenças e o estabelecimento de um pacto social.

O que deveria ser garantido pelo Estado para permitir uma igualdade efetivada pela restrição parcial da liberdade.

Neste período, pela primeira vez, iniciou-se um diálogo em torno dos direitos humanos, culminando com a “Declaração dos

Direitos do Homem e do Cidadão” em 1789.

Representando o iluminismo alemão, Immanuel Kant exerceu forte influência na universalização dos preceitos conceituais da

ética humana.

Segundo o qual, não é tarefa da ética normatizar, pois, sendo de caráter puramente racional, é guiada apenas pela boa vontade.

Esta é relativa e fixada pela lei moral, porém deve se isentar da vontade emotiva, dos gostos e desejos particulares.

Assim, a ética segue os mesmos parâmetros da moral, mas ao racionalizar os atos, seleciona como corretos apenas o que está em

concordância com a razão.

A ética passa a se distinguir da moral por ser autônoma, enquanto os preceitos morais são fixados pela heteronomia.

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O agir corretamente passa, não só pelo conceito de liberdade, mas também de responsabilidade pelos próprios atos e intenções.

O problema é que o ato pode não corresponder à intenção, motivado pela inclinação moral, onde a racionalização serve de

parâmetro.

Reside neste ponto outro problema, já que o homem encontra-se na menoridade, sendo incapaz de fazer uso do próprio

entendimento.

Os ideais iluministas aparecem como início da maioridade humana, justamente por proporem o conhecimento como base da

racionalidade.

No entanto, pensando na natureza falha da razão humana, Kant propõe que imperativos passem a servir de referência para o agir.

O imperativo é uma regra obrigatória que deve nortear a normatização da vida racional.

O imperativo categórico, aquele que deveria ser dever de toda pessoa, estando também vinculado com a moral, é definido como

agir pela vontade, de tal forma que a ação possa ser tomada como uma lei universal da natureza.

Portanto, tornar padrão o comportamento que seria aprovado como correto em qualquer caso e por qualquer pessoa.

Deste imperativo decorrem outros, todos baseados na fraternidade para com o outro, expresso na máxima de desejar a todos o

que se deseja para si mesmo, estreitando este conceito com o de liberdade, responsabilidade e igualdade.

Entretanto, mesclada a esta concepção de ética, a tendência utilitarista, inaugurada pelo empirismo, também ganhou força a partir

do século XVIII, principalmente por conta dos avanços da Ciência.

A partir das leis da física de Isaac Newton, a sociedade passou a ser vista como máquina, onde a ética atenderia e regularia seu

funcionamento.

Enquanto a teoria evolucionista de Charles Darwin possibilitou conceber a moral como produto da evolução do comportamento

humano.

Tendências que transformaram a ética em Ciência do julgamento dos atos morais, alterando normas de comportamento, pensadas

em benefício da utilidade para a vida coletiva harmoniosa.

A rigor, o utilitarismo surgiu na Grã-Bretanha, representado por Jeremy Bentham e John Stuart Mill, contrapondo-se a ética

kantiana ao relativizar o conceito de eudaimonia, afirmando que o correto é aquilo que traz felicidade para o maior número de

pessoas.

Não é a intenção que importa, como no caso da ética kantiana, mas sim o resultado; relativizando igualmente as regras, indo na

contramão dos imperativos, condicionando os comportamentos a sua utilidade aparente, extremamente vinculada ao Direito.

O que levou Friedrich Hegel, no século XIX, a discutir se os princípios éticos condicionam a história, ou, ao contrário, esta

modifica os parâmetros.

Algo que poderia conferir a ética uma grande semelhança com a moral.

Embora Hegel nunca tenha escrito especificamente sobre a ética, até porque considerava esta como mero sinônimo de moral,

sua concepção foi herdeira das discussões do século XVIII, vinculando a vivência ética com a política, a sociedade e a história.

Para ele, como também para a tradição estabelecida a partir do século XVI, o Estado deveria garantir a vivência ética.

Destarte, Friedrich Nietzsche, na segunda metade do século XIX, tornou a ética definitivamente uma Ciência, totalmente

desvinculada da religião.

Para ele, a ética seria o centro, justificativa e fundamentação das ações humanas; constituindo o elemento que torna possível a

convivência, estabelecendo padrões de comportamento que reprime a natureza.

É neste contexto que se insere o conceito de além-do-homem - Übermensch -, erroneamente traduzido como super-homem.

Trata-se da defesa do sujeito superar sua humanidade, sua natureza falha, para ir além do bem e do mal, da moral estabelecida,

racionalizando as ações para transformar-se de escravo em senhor, guiado pela autonomia de pensamento.

Um processo ligado à ideia de “eterno retorno”, envolvendo tentar superar-se contínua e infinitamente em busca do prazer

dionisíaco.

No entender de Nietzsche, o único imperativo ético existente.

Esta conjuntura formou o conceito e ética como Ciência normativa, baseado na construção interna do sujeito e externalizada na

preocupação racional com o outro; a despeito de sua ramificação circunscrita a contextos específicos, como a ética profissional.

A CRISE DA ÉTICA.

O século XX, centralizado na sociedade de consumo e no individualismo, desvirtuou o caminho da preocupação com a

coletividade no mundo Ocidental capitalista, inaugurando a crise da ética em sentido amplo.

A preocupação com o outro foi substituída pelo egoísmo focado apenas no eu em detrimento do nós, com um ambiente de

permanente competição.

A despeito de alguns pensadores terem tentado retomar a tradição grega, agregando elementos desenvolvidos posteriormente, a

tendência platônica de normatização de comportamentos, diferenciada entre grupos, é que prevaleceu no século XXI.

A ética passou a ser um termo comum na boca de todos, mas esvaziada de sentido concreto, conceitualmente interpretada pelo

senso comum de forma torta e equivocada.

Simultaneamente, a ética profissional passou a dominar o cenário globalizado, igualmente contextualizada em um sentido

extremamente especifico, aplicada apenas entre supostamente equivalentes.

O grande problema é que a ética deveria justamente repensar posturas que fazem de alguns mais iguais que outros, refletindo

sobre sua natureza generalizadora e universalizante, racionalizando as ações humanas até o limite do possível, diante da natureza

emotiva e movida por sentimentos individualistas.

A QUESTÃO DA JUSTIÇA

Se o direito constitui a ordem da comunidade, compete à justiça “salvaguardar” e “restabelecer” essa ordem, na medida em que

as circunstâncias existentes não formem uma ordenação verdadeira e acertada daquela, ou seja uma ordenação que garanta a

realização do bem comum. Dentro de uma ordem existente, devem tomar-se em consideração, primeiramente, as normas que visam

a comunidade ( o bem comum) ou leis, sobre as quais repousa a dita ordem: justiça geral ou legal ( inexatamente chamada também

“social”). – Relativamente aos membros da comunidade, tem de ser protegida a repartição de ônus e obrigações, bem como a de

honras e vantagens, de acordo m com sua situação, aptidões e capacidades: justiça distributiva. Por sua vez, os membros da

comunidade têm de defender reciprocamente o que de direito compete a cada um. Uma aplicação capital deste princípio consiste em

proteger a equivalência de prestação e contraprestação, por conseguinte, a proteção da igualdade de valor no trato econômico; daí,

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a designação desta justiça como justiça geral, mencionada em primeiro lugar, incluímos as duas últimas sob o rótulo de justiças

particulares.

De fato, a ordem existente nunca é inteiramente aquela que deveria ser; para ser pura e perfeita expressão do direito e, desse

modo, “ordem”, no sentido prenhe da palavra, precisaria de ser continuamente retocada e adaptada às situações reais que se vão

modificando: normas, que um tempo foram a expressão de um pensamento jurídico, podem, variadas as circunstâncias, deixar de

Ter sentido, tornar-se nocivas à comunidade e altamente ilegais. O beneficiário empenhar-se á em mantê-las como seu direito escrito;

o prejudicado será inclinado a quebrantá-las, por meio da violência, como injustas. À comunidade só interessa um desenvolvimento

orgânico: o esforço nesse sentido e a boa vontade para levá-lo a cabo constituem a justiça em ordem ao bem comum (justiça social),

assim denominada, porque cria de novo, em cada momento, a verdadeira ordem da comunidade e protege de modo permanente o

bem comum – (Nell – Breuning , in BRUGGER, Dicionário de Filosofia, São Paulo: EPU, 1973)

LIBERDADE

A democracia deve assegurar liberdade a seus cidadãos. Liberdade política, de organização e de trabalho são aspectos

freqüentemente lembrados da vida democrática.

Platão adverte que o Estado (ele usa a palavra cidade) democrático, corre o risco de, embriagado pela ânsia de liberdade, erigir

governantes sempre mais frouxos, que não tenham coragem ou princípios para conter o relaxamento crescente. Afirma que na

democracia o mesmo espírito anárquico penetra os domicílios privados: "o pai se acostuma a igualar-se com os filhos e a temê-los,

e os filhos a igualar-se com os pais e não lhes ter respeito nem temor algum... Jovens e velhos, todos se equiparam; os rapazes

rivalizam com seus maiores em palavras e ações; e estes condescendem com eles, mostrando-se cheios de bom humor e jocosidade,

para imitá-los e não parecerem casmurros e autoritários". Fala ainda da igualdade dos sexos, da confusão entre cidadãos e

estrangeiros, e termina com uma frase antológica: "as cadelas valem tanto quanto as suas donas, e os cavalos e os asnos andam às

soltas, como importantes personagens, empurrando pelos caminhos a quem não lhes cede o passo; e por toda a parte se vê a mesma

pletora de liberdade". Embora Platão tenha escrito em sentido simbólico, não se pode deixar de pensar nos inúmeros institutos de

beleza canina espalhados pelas cidades contemporâneas, ao lado de milhões de pessoas que não têm o que comer.

É nas profundezas de cada coração e no recôndito das consciências que nasce a verdadeira restauração da ordem política.

"Quando numa cidade são honrados a riqueza e os ricos, a virtude e os virtuosos tornam-se alvo de desdém". “Considerando a cadeia inquebrantável dos acontecimentos naturais, é possível dizer que a liberdade é nada menos que uma ilusão”(Immanuel Kant, Crítica

da Razão Pura)

Diz Aristóteles que é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de

sua ação ou da decisão de agir ou não agir. A liberdade é concebida como o poder pleno e incondicional da vontade para determinar

a si mesma ou para ser autodeterminada. É pensada, também como a ausência de constrangimentos externos e internos, isto é, como

uma capacidade que não encontra obstáculos para se realizar, nem é forçada por coisa alguma para agir. Trata-se da espontaneidade

plena do agente, que dá a si mesmo os motivos e os fins de sua ação, sem ser constrangido ou forçado por nada e por ninguém.

Assim, na concepção aristotélica, a liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão

e ato voluntário. Contrariamente ao necessário ou à necessidade, sob a qual o agente sofre a ação de uma causa externa que o obriga

a agir sempre de uma determinada maneira, no ato voluntário livre o agente é causa de si , isto é, causa integral de sua ação. Sem

dúvida, poder-se-ia dizer que a vontade livre é determinada pela razão ou pela inteligência e, nesse caso, seria preciso admitir que

não é causa de si ou incondicionada, mas que é causada pelo raciocínio ou pelo pensamento. Sugestão de leitura: Fonte: Convite à Filosofia, de Marilena Chauí – Ed. Ática Unidade 8 – capítulo 6 “A Liberdade” - pg. 357ss

VIVENCIANDO A LIBERDADE

No âmbito das experiências cotidianas, o conceito de liberdade tem sido entendido como: possibilidade de autodeterminação;

possibilidade de escolha; ato voluntário; espontaneidade; ausência de interferência; .... Outras

Desde cedo, o homem se habitua a conceber todas as coisas sob a forma de oposição expressa no sim e no não: movimentos à

direita e à esquerda; desejo e aversão; afirmação e negação; semelhança e diferença. A noção de diversidade sob a forma de

alternativa dos contrários, é o primeiro elemento constitutivo da ideia de liberdade.

Porque o ser humano é capaz de raciocinar, compreender, julgar e discernir, o homem é também capaz de perceber a diversidade,

a pluralidade, a alternativa de contrários e se posicionar fazendo escolhas e opções livres. Porque o ser humano não apenas faz o

que quer, mas, acima de tudo, pode efetivar a realização de metas e fins estabelecidos, caracteriza-se como um ser livre. Livre porque

possui, em determinado grau e medida, possibilidades objetivas de concretizar escolhas motivadas.

Porque o ser humano, como ser racional, tem poder de escolha, capacidade de autodeterminação ou autocausalidade, orienta e

organiza suas ações de forma autônoma e independente: jamais realiza qualquer atividade sem prévio acordo interior, o que expressa

sua independência e sua condição de homem livre. Porque o ser humano pode agir independentemente de coações exteriores, bem

como de determinação interior, ele se caracteriza como um ser livre.

Essas afirmações conduzem a um tema correlato ao da liberdade: o livre-arbítrio.

O homem tem capacidade de discernimento, o que lhe possibilita fazer escolhas voluntárias, autônomas e independentes de

qualquer pressão interna ou externa.

A noção de livre –arbítrio foi objeto de debates calorosos durante parte da Idade Média e nos séculos XVI e XVII, especialmente

ao suscitar a questão da declarada incompatibilidade entre a onipotência divina e a liberdade humana

LIBERDADE E DETERMINISMO

A liberdade tem tido muitos adversários na história, há um verdadeiro temor à liberdade. Há uma série de conceitos que vêm a

ser a negação da liberdade; podemos chamá-los, em conjunto, determinismo. Um dos pontos centrais do problema da liberdade

humana consiste no esclarecimento da compatibilidade entre liberdade e determinismo.

Entende-se por determinismo uma doutrina segundo a qual toda e qualquer ação é resultado de uma causa ou grupo de causas,

sendo por estas determinada e condicionada. Crê-se na universalidade do princípio causal e, conseqüentemente, na determinação

necessária das ações humanas pelos seus motivos.

Inegavelmente, a existência humana transcorre dentro de um contexto previamente determinado, tanto do ponto de vista dos

condicionamentos naturais (elementos do meio ambiente, como água, terra, fauna, flora, etc.) como dos condicionamentos culturais

( instituições, ciências, técnicas, etc.)

O filósofo holandês de origem judaica, Spinoza, afirma:

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“Deve-se notar que, embora a alma humana seja determinada pelas coisas exteriores para afirmar ou negar , não é determinada

a ponto de ser constrangida por elas, mas permanece sempre livre, pois nenhuma coisa tem o poder de destruir a essência dela.

Portanto, aquilo que afirma e nega, afirma e nega livremente. [...] Se, depois disso, alguém perguntar: por que a alma quer isto e

não aquilo? responderemos: porque a alma é uma coisa pensante, isto é uma coisa que por sua natureza tem o poder de querer e

não querer, de afirmar e de negar, pois é isto ser uma coisa pensante.”

Na verdade, não há contradição entre liberdade e determinismo, mas é possível o estabelecimento de uma relação de

complementaridade entre ambos os conceitos.

Liberdade é, antes de tudo, autodeterminação. Liberdade só tem sentido positivo por seu poder de determinação. O homem é

princípio determinante, que recebe os influxos de determinações externas e internas, mas é capaz de lhes dar uma nova dimensão e

um novo valor que decorre de sua ação pessoal. Ele é assim causa original. Ele é fonte de iniciativa. Ele determina pelo que aceita

e pelo que impõe

O problema da liberdade humana não se reduz, portanto, apenas a uma possibilidade de escolha entre objetos ou objetivos que

são apresentados ao homem numa dada situação. Ele pode reelaborar tais dados por uma projeção que vem de si mesmo, bem como

se dimensiona por um processo de continuada criação. E nesse ponto é que se decide a sua liberdade.

O grande desafio para aqueles que desejam encarar de frente o problema da liberdade humana consiste em aprender a conviver

com as coações, as determinações, as necessidades presentes a todo momento no decorrer da existência concreta e superá-las pela

capacidade criadora e inteligente de ordená-las e submetê-las a uma direção determinada, privilégio exclusivo do ser humano como

único ser vivo racional. Sugestão de leitura: Fonte: “Um outro olhar” , de Sonia Maria Ribeiro de Souza- Editora FTD - Capítulo 11 – “Liberdade- há limites para o ser humano?

VOCÊ QUER SER UM (A) VENCEDOR (A)?

Então, reflita,

Você já imaginou como a vida seria aborrecida se apenas a lógica prevalecesse? O filho do pobre seria sempre pobre, e o do

rico, sempre rico. Mas não é o que normalmente acontece. A delícia da vida é seu mistério, que apronta uma surpresa à lógica todos

os dias, que destrói as previsões dos analistas mais competentes, que faz com que aquele aluno desprezado pelos professores, se

torne um Einstein.

Lembre-se: o futuro é resultado, o futuro é a colheita do que você plantou e está plantando. Sucesso no passado não é garantia

de vitórias no futuro. Então, o que vai acontecer daqui a dez anos será conseqüência de algo que você está fazendo hoje.

O futuro vai sendo construído a cada decisão que você toma na vida. Todos os dias estamos dizendo sim ou não às oportunidades

da vida, às situações que se apresentam. É a qualidade do “sim” e do “não” que você diz hoje que definirá como será sua vida

amanhã.

Algumas pessoas estão sendo capazes de construir um amanhã em que sucesso e felicidade estarão integrados como uma força

única.

Competência, planejamento, determinação, espírito de equipe e amor são qualidades essenciais para seu uma pessoa de sucesso.

Lute por seus sonhos, você não estará sozinho.

A única forma de cada um de nós realizar seus sonhos é trabalhar para que eles se concretizem.

É enfrentando as dificuldades que você fica forte. É superando seus limites que você cresce. É resolvendo problemas que você

desenvolve a maturidade. É desfiando os perigos que você descobre a coragem. Arrisque e descobrirá como as pessoas crescem

quando exigem mais de si próprias.

Ser responsável pela própria vida é, principalmente, ser responsável pelos resultados: parar de acusar os outros, de reclamar, de

dar desculpas. É admitir: “Estou obtendo esses resultados porque os produzi. Esses resultados são compatíveis com as minhas

ações”. Perceba isso e passe imediatamente a trabalhar para assumir a responsabilidade por você próprio. “Consegui esse resultado

porque essa é a minha capacidade e vou melhorar meus resultados à medida que ampliar minha capacidade”.

Corte as desculpas. Quanto mais utilizamos desculpas para nossos fracassos, mais elas roubam a energia que temos para

transformar nossa vida.

Pare de acusar seus pais. Eles deram a você o que acharam ser o melhor. Você cresceu: dê agora a você o que acha que precisa.

Lembre-se: você está colhendo os resultados que plantou. Não anda dando certo? Pois mude! Vá atrás do resultado que você

quer. Verá que delícia é viver das próprias vitórias.

Todo sonho tem um preço. E um dos segredos do sucesso é estar disposto a pagar esse preço. Pague à vista. Você ficará mais

tranquilo para realiza-lo.

É preciso acabar com a fantasia de que as vitórias caem do céu!

Ao sucesso, (texto adaptado – fonte: SHINYASHIKI, Roberto. Os donos do futuro. Ed. Infinito: São Paulo, 2000)