guia de estudo o jesus que eu nunca conheci

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  • IBAM Escola Bblica Dominical Page 1

    Guia de Estudo

    do Livro

    O JESUS QUE EU NUNCA CONHECI

    de Philip Yancey

  • IBAM Escola Bblica Dominical Page 2

    ndice

    Guia de Estudo: O JESUS QUE EU NUNCA CONHECI .......................................................................................................... 3

    INTRODUO ............................................................................................................................................................................ 4

    1. Nascimento O Planeta Visitado .................................................................................................................................. 5

    2. Antecedentes: razes e solo judeus .............................................................................................................................. 9

    3. A tentao: revelaes no deserto ............................................................................................................................. 15

    4. Perfil: o que eu deveria ter percebido? ................................................................................................................... 20

    5. As Bem-aventuranas - Felizes so os infelizes ................................................................................................... 26

    6. Mensagem: Um sermo ofensivo ............................................................................................................................... 32

    7. Misso: uma revoluo da graa ................................................................................................................................ 37

    8. Milagres: instantneos do sobrenatural ................................................................................................................. 42

    9. O Mestre e Suas parbolas ........................................................................................................................................... 48

    10. A tempestade se aproxima ........................................................................................................................................ 54

    11. A Morte - A semana final ............................................................................................................................................. 59

    12. Ressurreio: uma manh alm da f.................................................................................................................... 66

    Anexos ....................................................................................................................................................................................... 73

    I. Seguindo os passos de Jesus ....................................................................................................................................... 74

    II. Os principais acontecimentos da vida de Jesus .................................................................................................. 87

    III. Os milagres realizados por Jesus ............................................................................................................................. 92

    IV. As Parbolas narradas por Jesus .............................................................................................................................. 93

    Referncias Bibliogrficas ................................................................................................................................................. 94

  • IBAM Escola Bblica Dominical Page 3

    Guia de Estudo: O JESUS QUE EU NUNCA CONHECI

    Apresentao

    Este Guia de Estudo foi elaborado com o objetivo de promover e facilitar o estudo do livro O JESUS QUE EU NUNCA CONHECI de Philip Yancey em classes de Escola Bblica Dominical. Embora tenhamos tomado este livro como base, no nos limitamos somente a ele. Veja a sesso Referncias Bibliogrficas ao final deste guia, onde relacionamos todas as demais fontes das quais lanamos mo para aprofundarmos nos temas trabalhados em cada captulo, de modo a fundamentar e buscar posies de consenso, especialmente em alguns pontos mais delicados. Dentre estas fontes destacamos: JESUS O MAIOR DE TODOS de Charles Swindoll e CONTRACULTURA CRIST de John Stott, cuja leitura recomendamos.

    Quem dizem os homens que eu sou?, perguntou Jesus a seus discpulos. Andrew Lloyd Webber apresenta-o como um rebelde do rock-n-roll no musical Jesus Cristo Superstar. Muitos o vem como um filsofo, como um mestre e o imaginam com o aspecto de um europeu de boa aparncia. Ativistas das lutas sociais o colocam ao lado de Gandhi em sua defesa dos oprimidos. Mas segundo Philip Yancey, o verdadeiro Jesus teria deixado a maioria das pessoas coando suas cabeas, e como aconteceu com os discpulos, se perguntando: "Quem esse homem?"

    O que acontece quando um respeitado jornalista cristo decide colocar seus preconceitos de lado e examinar de perto a pessoa de Jesus descrita nos Evangelhos? Yancey se prope neste livro, como ele mesmo explica, "captar da melhor maneira possvel o que teria sido poder observar pessoalmente aqueles acontecimentos extraordinrios que se desenrolam na Galilia e na Judia". O Jesus que eu nunca conheci desvenda um Jesus que brilhante, criativo, desafiador, intrpido, compassivo, imprevisvel e plenamente satisfatrio. "Ningum que se encontra com Jesus permanece sempre o mesmo", diz Yancey. Jesus abalou meus prprios preconceitos e me levou a enfrentar perguntas difceis sobre por que ns, que levamos o seu nome, no nos empenhamos mais em segui-lo de fato"

    Philip Yancey

    Philip D. Yancey jornalista e escritor. Formou-se com louvor na Columbia Bible College e obteve dois diplomas de mestrado: um em Comunicao na Escola de Ps-graduao Wheaton College e outro em Lngua Inglesa na Universidade de Chicago.

    "Eu escrevo livros para mim mesmo", diz. "Escrevo livros para resolver questes que me incomodam, questes para as quais no tenho resposta. Meus livros so um processo de explorao e investigao. Ento, eu tento resolver diferentes problemas relacionados a f, coisas relativas a mim, que quero aprender ou que me preocupam". Ao todo, o autor escreveu mais de dezesseis livros, entre eles Decepcionado com Deus e Alma Sobrevivente (Editora Mundo Cristo), Igreja: por que se importar (Editora Sepal), Perguntas que precisam de respostas (Editora Textus) e Maravilhosa graa, Deus sabe que sofremos, A Bblia que Jesus lia, O Deus (in)visvel, estes ltimos publicados pela Editora Vida.

    Nestas lies alguns trechos do livro O JESUS QUE EU NUNCA CONHECI de Philip Yancey sero transcritos na ntegra. Quando suas citaes no forem explicitamente mencionadas, estes trechos sero identificados com o seguinte layout grfico:

    Jamais algum que tenha encontrado Jesus permanece igual. Ao final das contas, o processo de composio deste livro se afigurou um grande ato de fortalecimento da f. Jesus abalou minhas estruturas preconceituosas e me conduziu a fazer perguntas severas sobre a razo por que ns cristos no nos empenhamos para segui-lo melhor. [PY]

  • IBAM Escola Bblica Dominical Page 4

    INTRODUO

    Pr. Abrao da Silva

    Conhecer mais a Cristo implica essencialmente em segui-Lo de uma forma muito mais intensa e comprometida. O cristianismo moderno marcado por uma certa descolorao. como se o brilho do verdadeiro evangelho tivesse se desvanecido em funo da tendncia atual vivida pela nossa sociedade de democratizar demais, de misturar demais as verdades e no defender mais as convices com afinco sob pretexto de que cada um segue o que lhe convm.

    Yansey diz que escreve livros para si mesmo, para satisfazer sua curiosidade e descobrir respostas para os seus dilemas. E voc, porque estuda na EBD? Analisando honestamente suas motivaes, anote pelo menos 3 razes que justifiquem o tempo que voc empreender ouvindo, estudando e meditando neste tema:

    1.

    2.

    3.

    Eu sugiro que voc transforme suas respostas em objetivos e os persiga com muita convico, firmeza e determinao. Do contrrio, todo empenho e dedicao dos que se esmeraram para que este material chegasse s suas mos ter sido um esforo intil e infrutfero. No basta ter pessoas para ensinar, necessrio haver um esprito pronto para aprender e discernimento prtico para aplicar o ensino. Tanto quanto eu, voc deve estar cansado de ver pessoas que acreditam deter o conhecimento, mas no possuem sabedoria e amor cristo. Uma boa dose de humildade e esprito ensinvel sero ingredientes eficientes para combater este cncer.

    Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica ser comparado a um homem prudente

    que edificou a sua casa sobre a rocha

    Mateus 7:24

    E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, oua.

    Marcos 4:9

    Visto que muitos houve que empreenderam uma narrao coordenada dos fatos que entre ns se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o

    princpio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigao de tudo

    desde sua origem, dar-te por escrito, excelentssimo Tefilo, uma exposio em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instrudo.

    Lucas 1:1-4

    Na verdade, fez Jesus diante dos discpulos muitos outros sinais que no esto escritos neste livro.

    Estes, porm, foram registrados para que creiais que Jesus o Cristo, o Filho de Deus,

    e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

    Joo 20:30-31

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    1. Nascimento O Planeta Visitado

    O Deus de Poder, enquanto percorria Em suas majestosas roupagens de glria,

    Resolveu parar; e assim um dia Ele desceu, e pelo caminho se despia.

    George Herbert

    ... a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhana de homens

    Filipenses 2:7

    Estamos iniciando uma srie de lies sobre os Evangelhos, e mais especificamente, sobre o tema central da narrativa de cada um deles: a pessoa de Jesus de Nazar. Tivemos recentemente a oportunidade de estudar sobre os Atributos de Deus, tendo como referncia, o livro com este nome escrito por A. W. Tozer. Este livro, que traz impresso em sua capa o desafio de empreendermos Uma Jornada ao Corao do Pai, nos levou a perceber a extraordinria grandeza do Criador e de quo pouco conhecemos sobre Ele, e mesmo este pouco, precisou ser revisto e corrigido em vrios aspectos. Agora vamos empreender uma nova jornada. Mais fcil? Creio que podemos dizer que sim. Afinal, o grande e misterioso Deus se revela a humanidade tornando-se um de ns. E o Verbo se fez carne e habitou entre ns. Esta jornada pelas estradas da Judia e da Galillia ser, digamos assim, menos difcil, mas trar consigo os seus prprios desafios. Desta vez, o nosso guia de viagem ser o escritor Philip Yancey. Seu livro, O JESUS QUE EU NUNCA CONHECI ser a principal referncia - depois da Bblia Sagrada, claro - no qual estaremos nos baseando no desenvolvimento de nossas lies.

    Maria

    Nos dias atuais, seja por experincia prpria, seja atravs de situaes vividas por pessoas prximas a ns, temos uma clara noo dos problemas e desdobramentos relacionados a um casamento que ocorre sem a aprovao dos pais e de uma gravidez no planejada, em especial se a me uma jovem solteira. O nascimento da criana acarreta novas demandas e dificuldades para os jovens pais - marinheiros de primeira viagem - que precisam lidar com o trabalho e os desafios que envolvem o cuidado de uma criana em crescimento.

    Agora transporte tudo isso para a Palestina de 2 mil anos atrs. Tente imaginar toda esta situao num cenrio de uma cultura extremamente rgida, quanto a questes desta natureza; de escassos ou nenhum recurso de assistncia mdica e de um parto que acontece aps uma longa viagem. A regio muito rida e de clima nada confortvel os leva a uma cidade onde no existem maternidades, nem hotis, no mximo, rsticas pousadas ou hospedarias todas elas com a sua lotao esgotada. Tente se colocar por instantes na pele de Jos ou de Maria e procure imaginar a aflio, as preocupaes em meio s dores que se tornavam cada vez mais intensas do processo de trabalho de parto de uma mulher virgem que ainda procurava desvendar os mistrios que cercam sua gravidez, e se acostumar com a idia que a criana que estava por nascer era o Filho de Deus, o esperado Messias prometido a seu povo Israel!

    Nos Estados Unidos atualmente, onde todos os anos um milho de adolescentes ficam grvidas fora do casamento, o problema de Maria sem dvida perderia um pouco a fora, mas numa comunidade judaica fortemente unida no sculo I, a notcia que o anjo trouxe no poderia ter sido de todo bem-vinda. A lei considerava adltera a mulher comprometida, [mas no casada], que ficasse grvida, sujeita portanto morte por apedrejamento. [PY]

    Ento disse Maria: Aqui est a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. (Lucas 1:38)

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    Com frequncia a obra de Deus vem com dois gumes, grande alegria e grande sofrimento, e nessa resposta prosaica Maria abraou os dois. Foi a primeira pessoa a aceitar Jesus com todas as suas condies, apesar do custo pessoal. [PY]

    Mas ns, supostamente, conhecemos esta histria muito bem. Ns a celebramos ano aps ano, estamos familiarizados com os detalhes registrados na Bblia e provavelmente sabemos at mesmo alguns textos bblicos de cor. So incontveis os hinos e cnticos de adorao escritos para exaltar o nascimento de Cristo. A questo que nos acostumamos com isso, e pouco a pouco, perdemos a capacidade de perceber de uma forma mais viva e real o profundo significado desse evento.

    O Nascimento de Jesus

    O nascimento de Jesus narrado pelos evangelistas por diferentes ngulos, cada um deles destaca aspectos que, juntos, complementam a grandeza deste acontecimento. Joo nos diz E o verbo se fez carne e habitou entre ns... Lucas narra como aos humildes pastores que estavam no campo foi anunciado o nascimento do Messias por um grande coro de anjos. Mateus acrescenta a visita dos magos que vieram do oriente seguindo a estrela que os guiou at Belm. Apenas Marcos inicia sua narrativa com o batismo de Jesus, cerca de 30 anos aps o seu nascimento.

    Os evangelistas se fixam na referncia aos fatos e s profecias que claramente se cumpriam neles. As narrativas so singelas e o simbolismo moderno dos prespios de natal confere ao evento uma percepo de simplicidade rural bastante amena. Tudo isso contrasta fortemente com outro relato de uma mulher grvida, prestes a dar luz uma criana numa situao adversa e aterrorizante, registrado no captulo 12 do livro de Apocalipse. Embora a mulher e a criana deste ltimo relato possam ser tipificadas em Maria e em Jesus, os estudiosos da Bblia vem um sentido escatolgico futuro envolvendo a igreja e o povo de Deus. Mas creio ser vlido afirmar que h um paralelismo claro entre esta profecia apocalptica com as circunstncias e os desdobramentos que cercaram o mistrio da encarnao de Deus.

    Ela estava grvida e gritava de dor, pois estava para dar a luz... O drago colocou-se diante da mulher que estava para dar a luz, para devorar o seu filho no momento que nascesse. Ela deu luz um filho, um homem que governar as naes com cetro de ferro. Seu filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono... O grande drago foi lanado fora. Ele a antiga serpente chamada Diabo ou Satans, que engana todo o mundo todo.

    Satans no estava alheio e indiferente ao que acontecia na pequena vila de Belm. Desde os primeiros humanos que foram enganados por ele no Jardim do den, j lhe havia sido anunciado qual seria a resposta de Deus a esta tragdia: Porei inimizada entre voc e a mulher, entre a sua descendncia e o descendente dela; este lhe ferir a cabea, e voc lhe ferir o calcanhar. (Gn 3:15) Deitada naquela humilde manjedoura, aquela frgil criana iniciava um novo e decisivo captulo no plano eterno de Deus para a redeno da humanidade. Ali estava aquele que esmagaria a cabea da serpente, mas no sem antes ser ferido por ela. C. S. Lewis em seu livro Cristianismo Puro e Simples assim descreve o cenrio: Um territrio ocupado pelo inimigo assim o mundo. O cristianismo a histria de como o Rei por direito desembarcou disfarado em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande campanha de sabotagem.

    Na terra um nen nasceu, um rei o farejou, uma caada comeou. No cu comeou a Grande Invaso, um ousado ataque encetado pelo governador das foras do bem no trono universal do mal.[PY]

    Dizer que o nascimento daquela humilde criana tem dimenses picas dizer muito pouco. O velho Simeo teve um vislumbre da grandiosidade daquele acontecimento ao tomar a criana em seus braos: Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz a teu servo. Pois os meus olhos j viram a tua salvao, que preparaste vista de todos os povos: luz para revelao dos gentios e para a glria de Israel, teu povo. (Lc 2:29-32) Ele, ento, se dirige a Maria e acrescenta: Este menino est destinado a causar a queda e o soerguimento de muitos em Israel, e a ser um sinal de contradio, de modo que o pensamento de muitos coraes ser revelado. Quanto a voc, uma espada atravessar a sua alma. (Gn 2:34-35)

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    Um sinal de contradio

    Estranha esta afirmao do velho Simeo. Mas o que se pode esperar de um Deus que se torna homem e de homem que o Filho de Deus? Algum que identificado ora como um leo e ora como um Cordeiro? Philip Yancey nos lana a seguinte questo: Se Jesus veio para nos revelar Deus, ento o que aprendo acerca de Deus nesse primeiro Natal?

    Humilde. Antes de Jesus, quase nenhum escritor pago utilizou a palavra humilde como elogio. Mas os acontecimentos do Natal apontam inevitavelmente para o que parece um paradoxo: um Deus humilde. O Deus que veio terra, mas no veio num redemoinho arrasador, nem num fogo devorador. O Criador de todas as coisas encolheu-se alm da imaginao, tanto, tanto, tanto que se tornou um vulo, um simples ovo fertilizado, quase invisvel, um vulo que se dividiria e se redividiria at que um feto fosse formado, expandindo-se clula por clula dentro de uma irrequieta jovem. A imensido enclausurada em teu amado ventre, maravilhou-se o poeta John Donne. Ele a si mesmo se esvaziou [...] humilhou-se a si mesmo, disse o apstolo Paulo de forma mais prosaica. [PY]

    Acessvel. Precisava ser, pois para isso ele encarnou e se tornou como um de ns. Ele o Verbo de Deus, a Palavra de Deus que precisa ser ouvida, entendida e recebida. Acessvel. No clamar, nem gritar... No esmagar a cana quebrada, nem apagar a torcida que fumega; em verdade, promulgar o direito. (Is 42:2-3). Deixai vir a mim as criancinhas, os leprosos, as mulheres de reputao duvidosa, cobradores de impostos corruptos, rudes pescadores e muitos mais.

    "E, vindo, evangelizou paz a vs outros que estveis longe e paz tambm aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Esprito." (Ef 2:17-18)

    Oprimido: Talvez a melhor maneira de perceber a natureza oprimida da encarnao seja traduzi-la em termos que possamos entender hoje. Uma me solteira, sem lar, foi forada a procurar abrigo enquanto viajava para obedecer s pesadas exigncias tributrias de um governo colonialista. Vivia em uma terra que se recuperava da violncia das guerras civis e ainda estava tumultuada uma situao muito parecida com a atual Bsnia, com Ruanda ou com a Somlia. Como metade de todas as mes que do luz hoje, ela o fez na sia, no extremo oeste, a parte do mundo que se mostraria menos receptiva ao filho que tinha. Esse filho tornou-se refugiado na frica, o continente em que ainda podemos encontrar o maior nmero de refugiados. [PY]

    Corajoso: O quarto atributo que Yancey destaca para traar o perfil de Jesus a Sua coragem. Jesus nasceu e cresceu em um ambiente hostil, foi rejeitado at por seus familiares, sentiu fome, dor, tristeza e enfrentou a forma mais cruel de morte jamais imaginada em toda histria da humanidade. Enfrentou tudo isso como homem e no como Deus. Ele no usou seus super-poderes divinos para sua prpria defesa e proteo. Para isso Ele precisava ter muita coragem. Certamente a coragem tambm demonstrada por Maria e Jos o inspiraram e ajudaram a forjar nele esta mesma caracterstica que o acompanhou at a sua morte na cruz, mas j vivida por Ele nos primeiros anos de sua infncia em Nazar, onde cresceu.

    Fico impressionado pelo fato de que o Filho de Deus, ao se tornar humano, jogou de acordo com as regras, severas regras: cidades pequenas no tratam com delicadeza os meninos que crescem sob paternidade questionvel. [PY]

    O menino Jesus cresceu

    Esta uma afirmao simples, porm notvel. No percebemos nada de especial quanto ao seu crescimento fsico. Ele nasceu um beb, depois deve ter comeado a engatinhar, a firmar sobre os ps e ensaiar os primeiros passos na terra. Este crescimento fez dele o adolescente que encontramos no templo discutindo com os doutores da lei, aos 12 anos de idade. No relato dos evangelhos, a histria prossegue 18 anos depois quando ento ele inicia seu ministrio que duraria cerca de 3 anos.

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    A aparente omisso sobre os fatos decorridos entre os 12 e os 30 anos de idade preenchida por uma breve referncia do evangelho de Lucas.

    "E desceu com eles para Nazar; e era-lhes submisso. Sua me, porm, guardava todas estas coisas no corao. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graa, diante de Deus e dos homens." (Lc 2:51-52)

    Jesus cresceu no apenas em estatura, mas tambm em sabedoria e em graa. Sua submisso a Maria e Jos revela que, por vezes, estes o impediram de fazer alguma coisa que no era apropriada. E ele obedeceu. Aprendeu a ler (Lucas 4:16-17) e a escrever (Joo 8:5). No nasceu sabendo, aprendeu. Sua identidade e misso foram se formando gradualmente ao longo dos anos.

    Concluso e Aplicao - Pr. Abrao da Silva

    A extraordinria histria do cristianismo desdobra-se em um cenrio de uma simplicidade rural amena que contrasta com a fora aterrorizante de Apocalipse 12, onde a autoridade messinica revelada com requintes de glria e fora. Isto nos ensina que foi na humildade e simplicidade, permeadas de autoridade divina, que Jesus invadiu o territrio do inimigo para arrebanhar seus seguidores e torn-los parte de um plano de sabotagem ameaador ao imprio das trevas. Exatamente como profetizou Simeo, Jesus seria um sinal de contradio.

    Yansey diz que antes de Jesus, nenhum escritor pago usou a palavra humilde como um elogio. Receio que em dias atuais o mesmo esteja acontecendo, inclusive no meio chamado evanglico. O suposto liberalismo evanglico parece ter contaminado o que seria uma das maiores virtudes do cristianismo e ao mesmo tempo o maior sinal de fracasso para os cristos progressistas e liberais: a humildade.

    Quer ser grande? Seja humilde! Isso o que Jesus nos ensina com sua histria e suas palavras. (Lc 1:52, Mt 18:4). assim, e somente assim, que funciona no Reino de Deus.

    Jesus no nos ensina uma humildade qualquer, fruto apenas de uma ideologia filosfica. Mas nos ensina a humildade permeada pela autoridade que vem de Deus, caracterizada por:

    1. Reconhecimento de que tudo o que sabemos ainda no nada. Ainda temos muito que aprender. Leia: Pv 3:7 e Ec 4:13.

    2. Prontido para ouvir. Ouvir a Deus (Ele est acessvel) e quem Ele desejar usar para falar conosco (este um dos maiores testes da humildade). Leia: Tg 1:19, Sl 50:7, Pv 19:20.

    3. Obedincia irrestrita, jamais seletiva e plena em suas implicaes. Uma forte implicao dessa obedincia tem a ver com submisso s autoridades. Leia: Dt 5:27, Rm 13:1-7, I Pe 2:13-18

    4. Coragem de crer no que Deus diz e agir sem temer ser ridicularizado, rejeitado ou abandonado pelas pessoas que no acreditam na nossa f e no a celebram. Leia: Mt 5:10-12.

    Reflexo: Honestamente, analisando seus ltimos dias, as expresses da sua f e seu esprito interior, voc tem encontrado dentro de si mesmo indcios de um cristianismo humilde, autntico e pleno? Em que reas voc tem observado progresso espiritual? Quanto mais voc conhece a Bblia e cristianismo, mais humilde tem se tornado? Com quem voc aprende? Voc escolhe textos bblicos para obedecer e outros para questionar e relativizar?

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    2. Antecedentes: razes e solo judeus

    "... vindo, porm, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei"

    Glatas 4:4

    Introduo

    Jesus nasceu em uma famlia judia. O primeiro verso do Novo Testamento em nossas Bblias declara que este o "Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abrao." (Mateus 1:1) Ele era descendente do grande rei Davi e do patriarca Abrao. Como todo beb do sexo masculino nascido em Israel, Jesus foi circuncidado com oito dias de nascido (Lucas 2:21-24). O mesmo texto nos d uma evidncia clara de que sua famlia era pobre: "Se ela no tiver recursos para oferecer um cordeiro, poder trazer duas rolinhas ou dois pombinhos, um para o holocausto e o outro para a oferta pelo pecado. Assim o sacerdote far propiciao por ela, e ela ficar pura."(Levtico 12:8). Jos e Maria no puderam levar um cordeiro, mas cumpriram a lei levando duas rolinhas e dois pombinhos.

    Aps o parto em Belm, a ida ao templo para a circunciso de Jesus e o ritual de purificao de Maria, a famlia se v obrigada a partir para o exlio no Egito, fugindo de Herodes, o Grande, que procurava matar a criana. Naquela poca Csar Augusto era o Imperador de Roma (Lucas 2:1).

    A Palestina no primeiro sculo

    Para entender com maior clareza o contexto scio-cultural da Palestina na poca do nascimento de Jesus, teremos que retroceder alguns sculos na histria e rever profecias bblicas que nos ajudaro a compreender as circunstncias que cercaram esse nascimento. Outra questo importante a ser revista est relacionada a reao do povo quando ele, aos 30 anos, passa a exercer o seu ministrio e se manifestar como o Messias prometido ao povo de Israel.

    No livro do profeta Daniel, encontramos o relato de um sonho, de fato, uma revelao dada por Deus ao rei Nabucodonosor: "Tu, rei estavas vendo, e eis que uma grande esttua ..." (Daniel 2:31-45 - Leia o texto todo). Daniel recebe de Deus o conhecimento e a interpretao do sonho que deixara o rei da Babilnia to perturbado: a grande esttua figurava quatro imprios que se seguiriam ao imprio Babilnico representado pela cabea de ouro da esttua. A profecia se cumpriu fielmente e a histria relata o surgimento do imprio medo-persa, ainda nos tempos de Daniel. Aps a queda do imprio Medo-Persa, surge o imprio Grego, cujo pice se estabelece durante o perodo de Alexandre, o Grande.

    Alexandre Magno, ou o Grande, foi provavelmente o mais clebre conquistador do mundo antigo. Em sua juventude teve como preceptor o filsofo Aristteles. Tornou-se rei aos 20 anos e morreu depois de 12 anos de conquistas militares, antes de completar 33 anos. Conquistou a Palestina em 332 a.C. Durante o reinado de Alexandre, os judeus gozavam de certa liberdade. Isto se deve ao fato de Alexandre, ao dominar a regio de Israel, ter permitido que os judeus continuassem a seguir sua f e decidiu no intervir em sua vida religiosa j que eles se mostraram pacficos a sua dominao.

    Aps a sua morte, seu reino foi dividido entre seus generais. Com isso dois imprios emergiram: o dos Selucidas (Grcia e oeste da sia) e dos Ptolomeus (norte da frica). A Palestina, localizada exatamente entre estes dois imprios, foi disputada por muitos anos entre eles, terminando por ser anexada ao Imprio Selucida em 198 a.C.

    Antoco IV Epifnio, rei da dinastia Selucida nutria, por alguma razo obscura, um profundo dio ao povo judeu, e movido por este sentimento planejou a conquista e a helenizao (difuso da cultura grega) deste povo. Jerusalm foi conquistada no ano 167 a.C. Foi proibido o culto judaico, a celebrao do Shabbat, as restries aos alimentos da lei mosaica e a circunciso. Foi erigida uma

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    esttua ao deus grego Zeus e colocado no templo de Jerusalm. Este talvez tenha sido o perodo de maior opresso, humilhao e sofrimento jamais vivido pelo povo de Deus.

    Por causa deles, os habitantes de Jerusalm fugiram, e s ficaram l os estrangeiros. Jerusalm tornou-se estranha a seus prprios filhos e estes a abandonaram.Seu templo ficou desolado como um deserto, seus dias de festa se transformaram em dias de luto, seus sbados, em dias de vergonha, e sua glria em desonra. Quanto fora ela honrada, agora foi desprezada, e sua exaltao converteu-se em tormento. Ento o rei Antoco publicou para todo o reino um edito, prescrevendo que todos os povos formassem um nico povo e que abandonassem suas leis particulares. Todos os gentios se conformaram com essa ordem do rei, e muitos de Israel adotaram a sua religio, sacrificando aos dolos e violando o sbado. Por intermdio de mensageiros, o rei enviou, a Jerusalm e s cidades de Jud, cartas prescrevendo que aceitassem os costumes dos outros povos da terra, suspendessem os holocaustos, os sacrifcios e as libaes no templo, violassem os sbados e as festas, profanassem o santurio e os santos, erigissem altares, templos e dolos, sacrificassem porcos e animais imundos, deixassem seus filhos incircuncidados e maculassem suas almas com toda sorte de impurezas e abominaes, de maneira a obrigarem-nos a esquecer a lei e a transgredir as prescries. Todo aquele que no obedecesse ordem do rei seria morto.

    I Macabeus 1:38-501

    A revolta contra a dominao de Antoco Epifnio foi liderada pelos irmos Macabeus que, depois de uma srie de batalhas, obtiveram finalmente a vitria em 142 a.C. (I Macabeus 13:41-42). Forma-se novamente um estado Judaico independente. Os costumes e rituais de culto foram restaurados aps tantos anos de sofrimento. Para celebrar esta vitria foi instituda a celebrao da Festa da Dedicao (I Macabeus 4:47-59) que passaria a ser comemorada anualmente no dia 25 de ms de Quisleu e que durava 8 dias, com um formato muito semelhante a festa dos Tabernculos. Ainda hoje os judeus celebram o Hanukah em comemorao a essa vitria.

    Foi no dia do aniversrio da profanao do templo pelos estrangeiros, isto , no dia vinte e cinco do ms de Casleu, que eles o purificaram. Prolongaram as cerimnias e os festejos por oito dias, como na ocasio da festa dos tabernculos, recordando-se de que, pouco antes, na ocasio dessa festa, habitavam nas montanhas e nas cavernas como animais selvagens. (II Macabeus 10:5-6).

    Anos mais tarde, iremos encontrar nos evangelhos uma referncia a este evento quando Jesus comparece ao templo durante a celebrao anual da Festa da Dedicao:

    Celebrava-se em Jerusalm a Festa da Dedicao. Era inverno. Jesus passeava no templo, no Prtico de Salomo. (Joo 10:22)

    No entanto, esta liberdade duraria poucas dcadas. Quando a vitria dos Macabeus aconteceu, o imprio Selucida j se encontrava em declnio e Roma avanava em suas conquistas. No ano 63 a.C. o general romano Pompeu tomou Jerusalm, se apossou do templo sagrado dos judeus e forou um acordo tornando a Palestina um protetorado romano.

    Este novo imprio se notabilizou por sua lngua, filosofia, artes e letras. Em 29 a.C. Augusto instaurou a"Pax Romana", (paz romana), um perodo de paz relativa e artificial, quando o Imprio Romano declarou, pelo poder das armas e do autoritarismo, o fim das guerras civis. Este cenrio se estendeu durante todo o tempo da vida de Cristo na terra.

    Havia grande anseio por uma nova ordem dos tempos na poca do nascimento de Jesus. O poeta romano Virglio cunhou essa expresso, como um profeta do Antigo Testamento, ao declarar que uma nova raa humana est descendo das alturas dos cus, mudana que viria a se realizar por causa do nascimento de uma criana, com quem a idade do ferro da humanidade acabar e a idade de ouro vai comear. Virglio escreveu essas palavras messinicas no acerca de Jesus, mas de

    1 Os livros de I e II Macabeus se incluem entre os chamados livros Apcrifos. Estes foram anexados Bblia pela Igreja Catlica em 8 de abril de 1546 no Conclio de Trento (1545-1563). So citados aqui apenas como referncia a fatos histricos, mas estes livros no so aceitos pelas igrejas protestantes como sendo divinamente inspirados.

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    Csar Augusto, a divindade presente, o restaurador do mundo" que conseguiu reunir o Imprio depois da guerra civil inflamada pelo assassinato de Jlio Csar.

    Aos leais sditos romanos, Augusto oferecia paz, segurana e entretenimento: em duas palavras, po e circo. A Pax Romana garantia que os cidados tivessem a proteo contra os inimigos de fora e desfrutassem dos benefcios da justia e do governo civil romano. Enquanto isso, uma alma grega enchia o corpo poltico romano. As pessoas por todo o Imprio se vestiam como os gregos, construam seus prdios no estilo grego, jogavam os desportos gregos e falavam a lngua grega. Exceto na Palestina. [PY]

    A resistncia contra a helenizao se mantinha viva. Como os judeus poderiam se esquecer de tudo que lhes acontecera durante o perodo em que estiveram sob o jugo de Antoco Epifnio? Mudara o imprio que os dominava, os governantes eram outros, mas a ameaa era a mesma. Roma havia adotado toda a cultura grega e trouxe junto todo o seu exrcito de deuses e semi-deuses que diziam habitar o Monte Olimpo. Trocaram apenas os nomes: Zeus agora se chamava Jpiter. Este, segundo a mitologia grega importada, era o pai de Marte, o deus romano da guerra, e av de Rmulo e Remo, os gmeos que foram alimentados por uma loba, os lendrios fundadores da cidade de Roma.

    Contrariando a tolerncia romana para com muitos deuses, os judeus apegavam-se, tenazmente, noo de um Deus, o seu Deus, que lhes revelara uma cultura diferente de Povo Escolhido. William Barclay explica o que aconteceu quando essas duas sociedades colidiram. fato histrico que nos trinta anos de 67 a 37 a.C, antes do surgimento de Herodes, o Grande, nada menos que 150 mil homens pereceram na Palestina em levantes revolucionrios. No havia outro pas mais explosivo e mais inflamado no mundo do que a Palestina.

    Herodes, chamado o Grande, foi assim um rei vassalo, um fantoche do imprio romano, que se submeteu e assumiu a estratgia romana para fazer curvar a rebeldia daquele povo. A histria o descreve como um louco que assassinou sua prpria famlia e inmeros rabinos. Mas tornou-se tambm conhecido por projetos de construo monumentais, fortalezas e palcios, tendo inclusive reconstrudo o Templo de Jerusalm que fora erigido por Zorobabel no retorno do exlio na Babilnia. Herodes fundou as cidades de Cesaria e de Samaria, qual ele chamou Sebaste que, em grego, significa "Augusta". Ele fazia de tudo para manter uma boa relao com Csar Augusto e assim assegurar seu lugar no poder.

    Herodes, no entanto, no tinha legitimidade como rei dos Judeus, pois descendia dos Idumeus e sua me era rabe. Seu poder se amparava na sua submisso vontade de Roma. Foi durante os ltimos anos do reinado de Herodes, o Grande (Lucas 1:5 e Mateus 2:1-18) que uma criana que recebeu o nome de Jesus nasceu na pequena vila de Belm na Judia.

    Mas, nos dias destes reis, o Deus do cu suscitar um reino que no ser jamais destrudo; este reino no passar a outro povo; esmiuar e consumir todos estes reinos, mas ele mesmo subsistir para sempre, como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxlio de mos, e ela esmiuou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que h de ser futuramente. Certo o sonho, e fiel, a sua interpretao. (Daniel 2:44-45)

    "Veio para os que eram seus, e o seus no o receberam"

    Certamente todo judeu ao pensar sobre o Messias prometido de forma imediata o associaria a Moiss, aquele que os libertara da escravido no Egito, ou a Josu que cruzara o Jordo e, com o poder de Deus, invadiu Cana derrubando as muralhas da cidade fortificada de Jeric. A imagem da "pedra cortada sem o auxlio de mos", mencionada na profecia de Daniel, d fora a esta idia.

    Cada profeta hebreu havia ensinado que um dia Deus instalaria o seu reino na terra, e por isso que os rumores sobre o Filho de Davi inflamaram tanto as esperanas judias. Deus provaria pessoalmente que no os abandonara. Oh! se fendesses os cus e descesses, como proclamara Isaas, se os montes tremessem diante da tua face! para fazer que as naes tremam na tua presena!.

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    Mas sejamos honestos; Quando Joo entrou em cena, nem as montanhas nem as naes tremeram. Jesus no veio satisfazer as esperanas prdigas dos judeus. O oposto aconteceu: dentro de uma gerao, os soldados romanos aniquilaram Jerusalm at o cho. A jovem igreja aceitou a destruio do templo como sinal do fim da aliana entre Deus e Israel, e depois do sculo I muito poucos judeus se converteram ao cristianismo. Os cristos apropriaram-se das Escrituras judaicas, trocando o seu nome para Antigo Testamento e acabaram com a maioria dos costumes judeus. [PY]

    pergunta feita por Pncio Pilatos, "respondeu Jesus: O meu reino no deste mundo." (Joo 18:36), mas antes Jesus lhe retruca dizendo "Vem de ti mesmo esta pergunta, ou to disseram outros a meu respeito?" Parece que luz de todo o panorama histrico descrito acima, podemos compreender melhor a resistncia do povo judeu em aceit-lo como Messias e Rei. Como cada um de ns teria reagido, vivendo nas mesmas circunstncias que eles viveram? A bblia revela que o prprio Joo Batista, que o batizara, um dia se volta para seus discpulos e "chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntar: s tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? Quando os homens chegaram junto dele, disseram: Joo Batista enviou-nos para te perguntar: s tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro?" (Lucas 7:18-20)

    Os Partidos Polticos

    Como j vimos, ntida a tenso entre os judeus e as autoridades romanas. Alm da afronta a sua f e a tradio da lei mosaica, tinham que suportar um rei ilegtimo e cruel como Herodes e eram espoliados pelos corruptos cobradores de impostos nomeados por ele. Cada um reagia a sua maneira. Uns se rebelavam e procuravam meios de buscar a libertao, outros passivamente ou no, preferiam colaborar e sobreviver.

    Essnios

    Os essnios eram os mais separados de todos. Pacifistas, no resistiam ativamente a Herodes ou aos romanos, mas antes retiravam-se para comunidades monacais nas cavernas de um deserto estril. Convencidos de que a invaso romana viera como castigo por seu fracasso em guardar a Lei, dedicavam-se pureza. Os essnios tomavam banhos rituais todos os dias, mantinham uma dieta restrita, no defecavam no sbado, no usavam jias, no juravam e tinham todos os bens materiais em comum. Esperavam que a sua fidelidade incentivasse o advento do Messias. [PY]

    "Guardai-vos de exercer a vossa justia diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, no tereis galardo junto de vosso Pai celeste. Quando, pois, deres esmola, no toques trombeta diante de ti, como fazem os hipcritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles j receberam a recompensa. Tu, porm, ao dares a esmola, ignore a tua mo esquerda o que faz a tua mo direita; para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que v em secreto, te recompensar." (Mat 6:1-4)

    Sindrio

    Os romanos garantiram autoridade limitada a um concilio judeu chamado Sindrio, e em troca de privilgios, este cooperava com os romanos em repelir qualquer sinal de insurreio. Era do seu maior interesse prevenir os levantes e as duras represlias que certamente trariam. [PY]

    "Ora, os principais sacerdotes e todo o Sindrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem morte."(Mateus 26:59)

    "No julgueis, para que no sejais julgados. Pois, com o critrio com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos mediro tambm. Por que vs tu o argueiro no olho de teu irmo, porm no reparas na trave que est no teu prprio? Ou como dirs a teu irmo: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipcrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, ento, vers claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmo. No deis aos ces o que santo, nem lanceis ante os porcos as vossas prolas, para que no as pisem com os ps e, voltando-se, vos dilacerem." (Mat 7:1-6)

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    Zelotes

    Os zelotes, representantes de uma estratgia diferente de separativismo, advogavam a revolta armada para expulsar os estrangeiros impuros. Um ramo dos zelotes especializava-se em atos de terrorismo poltico contra os romanos, enquanto outro operava como uma espcie de polcia moral para manter os judeus na linha. Em uma primeira verso de purificao tnica, os zelotes declaravam que qualquer pessoa que se casasse com um indivduo de outra raa seria linchado. Durante os anos do ministrio de Jesus, observadores certamente notaram que em seu grupo de discpulos estava Simo, o Zelote. [PY]

    "Andr, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tom, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simo, o Zelote," (Marcos 3:18)

    "Ento, Simo Pedro puxou da espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita; e o nome do servo era Malco."(Joo 18:10)

    Saduceus

    Os saduceus eram os colaboracionistas mais espalhafatosos. Foram antes helenizados ainda sob os gregos, depois cooperaram com os macabeus, com os romanos e agora com Herodes. Humanistas na teologia, os saduceus no criam na vida aps a morte nem na interveno divina aqui na terra. O que acontece, acontece, e, considerando-se que no h sistema futuro de recompensa e de castigo, uma pessoa poderia muito bem desfrutar do tempo limitado na terra. Pelos palcios e utenslios de prata e de ouro de suas cozinhas, que os arquelogos descobriram, parece que os saduceus desfrutaram da vida realmente muito bem. De todos os partidos da Palestina, os mandarins saduceus eram os que mais tinham a perder diante de qualquer ameaa ao status quo. [PY]

    "Naquele dia, aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem no haver ressurreio, e lhe perguntaram:"(Mateus 22:23)

    "No penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; no vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: at que o cu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passar da Lei, at que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, ser considerado mnimo no reino dos cus; aquele, porm, que os observar e ensinar, esse ser considerado grande no reino dos cus. Porque vos digo que, se a vossa justia no exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos cus." (Mateus 5:17-20)

    Fariseus

    Os fariseus, partido popular da classe mdia, muitas vezes se encontravam em cima do muro vacilando entre o separatismo e o colaboracionismo. Mantinham altos padres de pureza, sobretudo em questes como a guarda do sbado, a pureza ritual e o tempo exato dos dias festivos. Tratavam os judeus que no agiam assim como gentios excluindo-os dos conclios locais, boicotando seus negcios e banindo-os dos banquetes e dos acontecimentos sociais. Mas os fariseus j haviam sofrido o seu quinho de perseguio: uma vez oitocentos fariseus foram crucificados em um s dia. Embora cressem apaixonadamente no Messias, hesitavam em seguir muito depressa a qualquer impostor ou operador de milagres que pudesse atrair desgraa para a nao. [PY]

    "Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, reuniram-se em conselho. E um deles, intrprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:" (Mateus 22:34-35)

    "Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que tambm o seu exterior fique limpo!" (Mateus 23:26)

    A esta altura, Philip Yancey formula para si uma pergunta quase inevitvel: "Se eu vivesse naquela poca com qual destes grupos eu me identificaria?" Ele confessa "que muito provavelmente ele acabaria no partido dos fariseus." E ele vai ainda mais longe com outra pergunta ainda mais contundente: "Jesus teria me conquistado?"

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    Olhando para trs, agora, pode parecer difcil escolher as nuanas que dividiam um partido do outro, ou entender por que a controvrsia girava em torno de aspectos menores dos ensinos de Jesus. Mas apesar de todas as suas diferenas, essnios, zelotes, fariseus e at mesmo saduceus partilhavam de um alvo: preservar o que era distintamente judeu, no importava o que fosse. Para esse alvo, Jesus representava uma ameaa, e estou certo de que eu perceberia essa ameaa.

    Os judeus estavam, realmente, levantando uma cerca ao redor de sua cultura, na esperana de salvar sua pequenina nao dos elevados ideais pagos que a rodeavam. Deus os libertaria de Roma como uma vez os libertara do Egito? [PY]

    Concluso e Aplicao - Pr. Abrao da Silva

    Esta extraordinria lio nos ajuda a perceber quo improvvel de ser aceita era a histria de Jesus dentro do cenrio social e poltico em que ela se desenvolveu. Como Yansey, eu tambm me pergunto: Se vivesse naquela poca, com qual dos grupos iria me identificar?

    No simples invadir uma cultura erigida por anos seguidos de variados aspectos culturais e sociais e querer modificar todas as coisas a toque de caixa. Jesus invade o cenrio histrico repleto de resistncias construdas ao longo de anos de conquistas, fracassos, convices, traies, e sobretudo, de convincentes tradies religiosas.

    Ns cristos, precisamos entender bem quem eram os protagonistas do cenrio poltico-social nos tempos de Jesus para que possamos compreender melhor alguns dos seus ensinamentos. Passar despercebido por um zelote, ou um fariseu, ou um essnio, ou um simples membro do sindrio, significaria amputar a lgica de Jesus na defesa do Reino de Deus. Voc no compreender o que Ele disse na sua totalidade se no compreender tambm a quem Ele dirigiu suas palavras e em que condio isso aconteceu. Precisamos aprender a ler a Bblia com conhecimento para no dar a ela uma interpretao causal que poder reduzir a sua significncia, ou pior ainda, criar mais uma heresia.

    Precisamos tambm tomar muito cuidado quando invadirmos o campo alheio. fundamental respeitar as escolhas religiosas ou filosficas de outras pessoas, mas tambm igualmente importante saber confront-las com conhecimento e sobretudo, autoridade divina.

    fundamental destacar que, sem a autoridade de Deus e sem a veracidade desta mensagem to poderosa que o evangelho, ningum conseguiria desmontar aquele tipo de cenrio poltico-social-religioso. O fato de Jesus desarticular aspectos culturais to arraigados e cristalizados autentica sua histria e seus ensinamentos.

    Para refletir:

    Voc percebeu que todos os grupos destacados acreditavam ser detentores da verdade? No eram maus elementos e no estavam propositadamente tentando desviar o povo para um caminho errado. Eram religiosos convictos de que estavam vivendo no centro da verdade.

    No entanto, a boa inteno deles no os impediu de errar grotescamente e fazer com que muitos descambassem no precipcio da ignorncia espiritual e perdio.

    Cuidado. Como cristo, voc precisa estar convicto da sua f, alicerado em um profundo conhecimento das escrituras e vivendo de forma ntima com Deus, mantendo seu corao humilde e sempre pronto para ser ensinados.

    Atos 17:30 diz: Mas Deus, no levando em conta os tempos da ignorncia, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam;

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    3. A tentao: revelaes no deserto

    "Jesus, porm, respondeu: Est escrito..."

    Mateus 4:4

    Uma pessoa nica vivendo uma vida comum

    Este o entendimento da maioria dos telogos e estudiosos quanto a natureza da pessoa de Jesus. Ele Deus e tornou-se homem. Temporariamente ele abdicou de suas prerrogativas e poderes divinos e, voluntariamente, decidiu assumir a condio humana e viver na terra. O lugar, as circunstncias e a classe social de sua famlia provavelmente refletem a realidade mdia e comum da grande maioria das pessoas em todas as pocas da histria e em diferentes regies e culturas. Ao tornar-se humano, ele abriu mo de fazer para si uma escolha cercada de alguns privilgios e facilidades que muitos outros humanos desfrutam, "antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhana de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente at morte e morte de cruz."(Filipenses 2:7-8)

    Jesus foi uma pessoa nica, que viveu uma vida comum. Ele dependeu dos cuidados e do leite de sua me para sobreviver e crescer. Certamente brincava com outras crianas principalmente com seus irmos e irms, e todos eles deveriam ajudar Maria e Jos, tanto nos afazeres domsticos quanto no trabalho de Jos, que era carpinteiro, o que assegurava o sustento da famlia. Aos treze anos de idade um garoto judeu passava a ser bar mitzvah, isto , filho do mandamento. At ento os pais eram os responsveis pelos atos do filho, mas a partir da, este assume responsabilidade perante a lei judaica, ritual e tica. Jesus deve ter, como todos os outros garotos de sua idade, passado por um rigoroso programa de educao e treinamento preparando-se para este ritual de passagem. Em inmeros relatos das escrituras sagradas, Jesus demonstra um vasto e profundo conhecimento da Tor, e este conhecimento evidenciado quando Ele enfrenta o tentador no deserto.

    Jesus e sua misso

    Em seu livro JESUS O MAIOR DE TODOS, Charles Swindoll abre uma questo de profundo impacto e significado acerca da pessoa do jovem Jesus: Eu gostaria de saber como e quando Jesus tomou conscincia de sua misso. Para Swindoll, Jesus teria comeado como qualquer outra pessoa, sem conhecimento prvio de nada. Esta descoberta pode muito bem ter brotado do fundo de sua mente, despertado em seus sentimentos pela forma como ele percebia e reagia s situaes ao seu redor, de suas prprias habilidades naturais, algo de certa forma semelhante a um jovem que descobre uma vocao para a msica, para um determinado esporte, medicina ou arquitetura.

    Diversos outros fatores foram pouco a pouco se encaixando para consolidar esta posio. O estudo da Tor e das profecias messinicas podem t-lo levado a identificar os ntidos paralelos entre estas profecias, e os detalhes de sua prpria realidade. Maria teria contado a Ele sobre a viso e a mensagem dos anjos e como ela engravidara ainda virgem pela ao sobrenatural do poder de Deus? Ou teria ela guardado em seu corao (Lc 2:19 e 51) e jamais revelado a Ele este fato, esperando que o prprio Deus, como agira com ela e com Jos, a Seu tempo revelasse ao garoto quem Ele de fato era e qual era o propsito para Sua vida neste mundo? assim com tantos homens e mulheres que so chamados por Deus para servi-Lo no ministrio sagrado: o Esprito Santo ir lhe falar ao corao, sensibilizando-o para a misso para a qual eles so chamados a cumprir.

    Charles Swindoll prossegue neste tema, concluindo que no temos certeza de como as coisas de fato se passaram. Ns apenas sabemos que ele j tinha conscincia de sua vocao divina aos doze anos de idade. Mesmo com este conhecimento ele se manteve humilde e em silncio at o momento oportuno.

    Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua me lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos tua procura. Ele lhes respondeu: Por que me procurveis? No sabeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? (Lucas 2:48-49)

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    A primeira vista, a resposta de Jesus pode parecer rude e inadequada, mas o texto impresso no transmite a inflexo de sua voz ou a expresso de sua face ao falar com Maria e Jos, o que pode dar um tom bem diferente e mais brando ao sentido da resposta. Parece tambm surpreendente que seus pais no se lembrassem de tudo que se passara com eles desde a primeira visita do anjo a Maria, mais tarde a Jos, nem as palavras profticas do velho Simeo. De qualquer forma, eles no ligaram os pontos. No compreenderam, porm, as palavras que lhes dissera. (Lucas 2:50). Uma coisa saber que algo tremendo vai acontecer, outra enfrentar a realidade concreta quando chega a hora.

    Este o meu Filho amado

    Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galilia para o Jordo, a fim de que Joo o batizasse. (Mateus 2:13). Jesus de forma decidida parte de Nazar at a regio onde Joo Batista estava pregando uma mensagem de arrependimento e batizando as pessoas que criam. Primo de Jesus, ele inicia seu ministrio j consciente do seu papel secundrio no plano de Deus para redeno da humanidade. Ele no deixa dvidas quanto a isso: E pregava dizendo: Aps mim vem aquele que mais poderoso do que eu, do qual no sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as correias das sandlias. (Marcos 1:7)

    Foi uma grande surpresa para Joo ver Jesus entrando na gua para ser batizado. Ele protesta e tenta dissuadir Jesus dizendo: Eu que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? (Mateus 3:14) Mas Jesus o convence e batizado por Joo.

    Batizado Jesus, saiu logo da gua, e eis que se lhe abriram os cus, e viu o Esprito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos cus, que dizia: Este o meu Filho amando, em quem me comprazo. (Mateus 3:16-17)

    Com este epsdio, se d o incio do ministrio de Jesus. Uma manifestao nica e extraordinria da Trindade Santa: Jesus o Filho, sendo batizado, o Esprito descendo sobre ele na forma de uma pomba e a declarao de autoridade e amor de Deus.

    E Joo testemunhou, dizendo: Vi o Esprito descer do cu como pomba e pousar sobre ele. Eu no o conhecia; aquele porm, que me enviou a batizar com gua me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Esprito, esse o que batiza com o Esprito Santo. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele o Filho de Deus. (Joo 1:32-34)

    Ao longo dos seus 30 anos Jesus foi passo a passo se preparando para este momento. Ele estava de fato preparado e pronto para isso? Como saber ao certo? Ele precisaria ser testado.

    A tentao de Jesus

    Num jardim, um homem e uma mulher caram na promessa feita por Satans de um caminho para sobrepujar o estado que lhes fora atribudo. Milnios depois, outro representante o Segundo Ado, na expresso de Paulo enfrentou teste semelhante, embora curiosamente inverso. "Voc pode ser igual a Deus?", a serpente perguntou no den. "Voc pode ser verdadeiramente humano?" perguntou o tentador no deserto. [PY]

    Jesus estava mesmo preparado para realizar a sua misso como um homem, restrito as leis da natureza, sem lanar mo de recursos sobrenaturais e de suas prerrogativas divinas em seu prprio favor? Philip Yancey cr que a tentao absolutamente real, um conflito genuno, no um papel que Jesus representou com um resultado predeterminado. No era uma mera encenao.

    Dois gigantes do cosmo dirigiram-se para um cenrio desolado. Um apenas iniciando sua misso no territrio do inimigo, chegou em estado de grave fraqueza. O outro, confiante em seu territrio tomou a iniciativa. [PY]

    Aps 40 dias de jejum, parecia bvio qual seria o ponto mais vulnervel a ser atacado. A fome e o instinto de sobrevivncia podem levar uma pessoa a agir de forma impensada, sem medir consequncias. Profundamente enfraquecido e com o estmago doendo, nada mais desejvel que

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    um bom pedao de po para trazer alvio aquele tormento. "Disse-lhe, ento, o diabo: Se s o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em po." (Lucas 4:3).

    Parecia uma sugesto at razovel. E por que no? Jesus mais tarde iria transformar gua em vinho de excelente qualidade e com apenas alguns poucos pes daria de comer a cinco mil pessoas. Mas quando o fez, foi movido por compaixo ao v-los famintos, e depois os repreendeu: Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vs me procurais, no porque vistes sinais, mas porque comestes dos pes e vos fartastes. (Joo 26:26)

    Ele era de fato o Filho de Deus e tinha poder para transformar pedras em pes. Onde ento residia o problema com a sugesto do tentador? Em primeiro lugar, como j temos aprendido, Jesus de fato assumiu no somente a forma, mas tambm as limitaes humanos. Seu poder divino ainda estava a sua disposio, mas o plano da redeno implicava em renunciar e abrir mo dos recursos sobrenaturais em seu prprio favor. Ele se esvaziou e assim vazio seguiria firme at a sua morte na cruz. O que Satans propunha era um atalho bem mais cmodo para a sua trajetria na terra. Tivesse ele transformado uma nica pedra em po para matar a prpria fome, todo o plano da redeno da humanidade estaria comprometido.

    No clssico da literatura russa "Os Irmos Karamazov", escrito por Fidor Dostoivski em 1879, encontramos uma passagem impressionante sobre a tentao de Cristo, numa pea de fico ambientada na cidade de Sevilha do sculo XVI, no auge da Inquisio. Neste trecho imaginrio, Jesus confrontado pelo Grande Inquisidor em torno do embate com o tentador no deserto e, de uma forma extraordinria, ele apresenta o sentido mais profundo da tentao.

    Vs aquelas pedras naquele deserto rido? Muda-as em po e atrs de ti correr a humanidade, como um rebanho dcil e reconhecido, tremendo, no entanto, no receio de que tua mo se retire e no tenham eles mais po. Mas tu no quiseste privar o homem da liberdade e recusaste, estimando que era ela incompatvel com a obedincia comprada por meio de pes.

    (...) Tu lhes prometias po do cu; ainda uma vez, ele comparvel ao da terra aos olhos da fraca raa humana, eternamente ingrata e depravada? Milhares e dezenas de milhares de almas seguir-te-o por causa desse po, mas o que acontecer aos milhes e bilhes que no tero a coragem de preferir o po do cu ao da terra?

    (...) Mas, para dispor da liberdade dos homens, preciso dar-lhes a paz da conscincia. O po te garantia o xito; o homem se inclina diante de quem lhe d, porque uma coisa incontestvel, mas, se um outro se torna senhor da conscincia humana, largar ali mesmo o teu po para seguir aquele que cativa sua conscincia. Nisto tu tinhas razo, porque o segredo da existncia humana consiste no somente em viver, mas ainda em encontrar um motivo de viver. Sem uma idia ntida da finalidade da existncia, prefere o homem a ela renunciar e se destruir em vez de ficar na terra, embora cercado de montes de po.2

    A resposta de Jesus foi firme e clara: "Est escrito: Nem s de po viver o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mateus 4:4) e assim supera o primeiro round desta luta. Mas o tentador persistente, no desiste e parte para uma outra abordagem: "Ento, o diabo o levou Cidade Santa, colocou-o sobre o pinculo do templo e lhe disse: Se s Filho de Deus, atira-te abaixo, porque est escrito: Aos seus anjos ordenar a teu respeito que te guardem; e: Eles te sustero nas suas mos, para no tropeares nalguma pedra."(Mateus 4:5-6). Pela segunda vez Jesus desafiado pelo diabo a apresentar uma prova de que ele era Filho de Deus. Do alto do pinculo do templo, o salto de Jesus seria visto por uma multido e o espetculo de anjos amparando-o e levando-o a flutuar seguro at o ptio do templo resultaria num efeito retumbante. Quem iria duvidar de sua autoridade e poder? Novamente, a mesma estratgia: Jesus incitado a cumprir sua misso de uma forma alternativa, que lhe pouparia de todo o sofrimento pelo qual ele teria que passar e certamente com sucesso garantido. Pelo menos era essa a insinuao do tentador.

    2 Dostoievski, Fiodor M. OS IRMOS KARAMAZOV. So Paulo: Editora Martin Claret Ltda, 2007, Livro Quinto,

    Cap. V - O Grande Inquisidor.

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    Autoridade, po e circo

    evidente o paralelo entre as propostas de Satans a Jesus com a Pax Romana implantada atravs da autoridade e da poltica do panem et circenses, ou po e circo oferecido pelo poder imperial romano. Jesus incitado a conquistar o povo usando os mesmos recursos que Csar Augusto empregava. Pedras que so transformadas em pes e o grande espetculo do salto no vazio, sem rede de proteo, e a interferncia protetora dos anjos.

    Sem nenhuma originalidade o tentador investe pela terceira vez: "Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glria deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares." (Mateus 4:8-9). Po, circo e agora autoridade delegada. O trip perfeito para uma receita de dominao e conquista.

    A tentao no deserto revela uma profunda diferena entre o poder de Deus e o poder de Satans. Satans tem o poder de coagir, de estontear, de forar a obedincia, de destruir. Os seres humanos aprenderam muito desse poder, e os governos beberam fundo desse reservatrio. O poder de Satans externo e coercitivo. O poder de Deus, em contrapartida, interno e no coercivo.

    Sren Kierkegaard escreveu sobre o leve toque de Deus: A onipotncia que pode colocar a sua mo fortemente sobre o mundo pode tambm tornar o seu toque to leve que a criatura recebe independncia. s vezes, concordo, desejaria que Deus usasse um toque mais pesado. Minha f sofre com liberdade em demasia, com demasiadas tentaes para descrer. s vezes desejo que Deus me esmague, para vencer minhas dvidas com a certeza, para me dar provas finais de sua existncia e de seu interesse. [PY]

    Mas este no modo de Deus nem foi esse o caminho escolhido por Jesus. A tentao e a vitria de Jesus se destacam de uma forma muito especial neste incio do Seu ministrio. Aps os quarenta dias de jejum e a luta no deserto, Jesus se fortalece ainda mais e prossegue na jornada traada pelo Pai para nossa redeno.

    Os milagres que Satans sugeriu, os sinais e as maravilhas que os fariseus exigiram, as provas irrefutveis pelas quais anseio nenhum deles ofereceria srio obstculo a um Deus onipotente. Mais espantosa a sua recusa de agir e de esmagar. A terrvel insistncia de Deus na liberdade humana to absoluta que ele nos garantiu o poder de viver como se ele no existisse, de cuspir na sua face, de crucific-lo. Tudo isso Jesus devia saber quando enfrentou a tentao no deserto, focalizando seu imenso poder na energia da restrio.

    Creio que Deus insiste em tal restrio porque nenhuma exibio pirotcnica de onipotncia vai alcanar a reao que ele deseja. Embora o poder possa forar a obedincia, apenas o amor pode provocar a reao de amor, que a nica coisa que Deus deseja de ns, sendo a razo de nos ter criado. Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim, disse Jesus.

    Quando sinto essas tentaes surgirem dentro de mim, volto para a histria de Jesus e Satans no deserto. A resistncia de Jesus contra as tentaes de Satans preservaram para mim a prpria liberdade que exercito quando enfrento minhas prprias tentaes. Oro pela mesma confiana e pacincia que Jesus demonstrou. E me regozijo porque, como disse a carta aos Hebreus: no temos um sumo sacerdote que no possa compadecer-se das nossas fraquezas, porm um que, como ns, em tudo foi tentado, mas sem pecado [...] Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que so tentados. [PY]

    Concluso e Aplicao - Pr. Abrao da Silva

    Uma coisa saber que algo tremendo vai acontecer. Outra estar preparado quando chega a hora. Voc acha que est preparado? Jesus foi tentado pelo diabo. Voc acha que no ser? E quando for, como reagir?

    Sabemos que Satans ardiloso e ousado. Sua estratgia usada de forma to insistente na tentao de Cristo, revela seu carter e sua forma de agir tambm em nossas vidas. No entanto, a reao de

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    Cristo, preservando nossa liberdade de escolha e deciso, nos ajuda a compreender o que Paulo diz em II Corintios 5:14: O amor de Cristo nos constrange.

    Sim, Deus poderia nos dar provas da sua existncia todos os dias, poderia indicar atravs de feitos sobrenaturais a veracidade de Cristo e do evangelho. Sim, Ele poderia solucionar cada um dos nossos problemas, medida em que fossem surgindo, permitindo-nos ser meros expectadores e testemunhas oculares da sua ao sobrenatural. Mas Ele decidiu no fazer assim e, contrariando algumas das nossas expectativas e exigncias, Ele nos permitiu (e, ainda permite) ser expostos s tentaes vindas de satans e seus agentes. E no meio delas, Sua Graa se revela sobre ns. A Palavra introduzida indelevelmente na nossa mente se aglutina gerando poder espiritual. No uma ao nossa, mas sim do Esprito de Deus. E desta forma, Deus opera em ns o que intrinsecamente mais importante do que a resoluo dos nossos dilemas ou a proviso das nossas necessidades. Ele fere o nosso eu, revela nossa fraqueza ante a fora do maligno, mas nos permeia com Seu amor e nos constrange atravs dele.

    H 4 pensamentos importantes que precisam ser considerados e jamais esquecidos:

    1. O Deus-homem foi alvo da ao maligna e premeditada de satans exatamente na mesma proporo em que somos tentados todos os dias. E exatamente por isso, Ele pode nos socorrer em meio s tentaes e nos ensinar a lidar com elas. Hebreus 2:18.

    2. Apesar de Onipotente, Deus no est interessado em nos atrair usando o peso de sua mo, ainda que nossa conscincia culpada por vezes clame por isso. At 17:30.

    3. O homem nunca foi um especialista ao lidar com a liberdade. Ela o atrai, mas tambm o trai. Se Deus no nos obriga a tomar a deciso de segui-Lo usando para isso a Sua fora, ento corremos perigo e precisamos aprender a submeter nosso EU completamente a Cristo, sendo voluntariamente escravos dEle. Gl 5:13

    4. Cuidado quando po e circo lhe forem propostos como soluo para o vazio da vida. Quem tem tudo correr o risco de achar que no precisa ser quebrantado, arrepender-se e humilhar-se na presena de Deus. Talvez seja por isso que, quanto mais as pessoas tm, mais presunosas ficam.

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    4. Perfil: o que eu deveria ter percebido?

    ... como est escrito: Eis que ponho em Sio uma pedra de tropeo e rocha de escndalo, e aquele que nela cr no ser confundido.

    (Romanos 9:33)

    mas ns pregamos a Cristo crucificado, escndalo para os judeus, loucura para os gentios;

    (1Corntios 1:23)

    Charles Swindoll em seu livro "Jesus - O maior de todos" faz aos leitores uma proposta bastante ousada: "Se voc sabe alguma coisa sobre o nascimento de Jesus, melhor esquecer e comear do zero." Diante deste desafio instigante, percebo que este captulo de nosso estudo um dos mais difceis a ser desenvolvido. Creio no ser inteiramente possvel partir do zero, mas deveremos juntos procurar ao longo da nossa caminhada ir descartando algumas impresses para as quais no encontramos um bom fundamento, idias que adquirimos sem saber direito como e porque surgiram, e substituir tudo isso pelas verdades que a genuna Palavra de Deus nos revela. Vamos direto a fonte, na prpria Bblia e em particular nos evangelhos, com o objetivo de criar o retrato falado do Mestre e captar com maior clareza a essncia da Sua pessoa e do Seu jeito de ser.

    O retrato de Cristo

    Falando em retrato, acho que este um bom ponto de partida. Nenhum dos quatro evangelistas faz qualquer meno sobre o bitipo de Jesus: alto ou baixo, gordo ou magro, olhos claros ou escuros, cabelo crespo ou encaracolado? No temos como saber. Existe apenas uma nica descrio nas escrituras, que no um relato histrico, mas uma palavra proftica.

    Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; no tinha aparncia nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele no fizemos caso.(Isaas 53:2-3)

    O texto no afirma que Jesus era feio ou portador de alguma deformidade que o tornasse repulsivo vista. Examinando o texto com mais ateno, percebemos que ele sugere que Jesus no viria ao mundo com uma aparncia fsica que o assemelhasse ao ideal de beleza da cultura grega de ento. Nada que desse a ele o porte de uma celebridade, semelhana de Saul o primeiro rei de Israel: ... Saul, moo e to belo, que entre os filhos de Israel no havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima, sobressaa a todo o povo. (1Samuel 9:2). No era sua inteno atrair a ateno das pessoas por este meio.

    Outra deduo que podemos nos arriscar a fazer que ele tinha um corpo normal e saudvel. Suas constantes viagens pelas estradas inspitas da Galilia e da Judia, onde o clima em geral hostil, com temperaturas extremas de frio ou calor eram, sem dvida, bastante cansativas. Homem de dores e que sabe o que padecer. Jesus no deveria ser portador de nenhuma doena gentica, nem de nenhum fator hereditrio que o predispusesse a patologias de qualquer natureza. Seu DNA era puro e seus hbitos de vida e alimentares saudveis. Mas seus ps doam, seus msculos sofriam os efeitos da fadiga, suas mos poderiam se ferir em espinhos ou nas pedras em que ele se apoiasse para transpor alguma passagem de terreno mais ngreme.

    Deus, se posso empregar esta linguagem, descobriu como a vida nos confins do planeta Terra. Jesus se familiarizou com o sofrimento em pessoa, em uma vida curta, perturbada, no muito longe das plancies poeirentas em que J havia sofrido. Das muitas razes para a encarnao, certamente uma foi para responder acusao de J: Tens olhos de carne?. Durante algum tempo, Deus teve. [PY]

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    O perfil de Jesus que temos em nossa mente uma enorme colagem de imagens, idias e conceitos que recebemos desde a escola infantil na igreja, nos quadros dos grandes pintores, nas cenas dos inmeros filmes que Hollywood produziu sobre ele, tudo isso mesclado com o produto da nossa prpria imaginao e com o vis da nossa prpria etnia e cultura. Mas este nosso perfil de fato se assemelha ao Jesus que eu nunca conheci? certo que no chegaremos a uma posio definida e conclusiva, mas importante que apaguemos de nossa mente a imagem de um Jesus elaborado pela nossa imaginao e criatividade, visando atender ao gosto de cada um.

    No podemos responder com certeza pergunta: Qual era a aparncia de Jesus? Creio que isso muito bom. Nossas representaes glamourizadas de Jesus falam mais a nosso respeito do que a respeito dele. Ele no tinha nenhum brilho sobrenatural ao redor de si: Joo Batista admitiu que nunca o teria reconhecido no fosse uma revelao especial. [PY]

    Seus bigrafos: Mateus, Marcos, Lucas e Joo

    Cada um ao seu prprio estilo, a partir de fontes diferentes, e sob uma ptica particular, nos apresenta os relatos da vida de Jesus. So eles os responsveis pela biografia oficial e autorizada de Jesus. Mais do que isso, receberam de Deus no s a delegao para esta misso, mas foram por Deus capacitados e inspirados para cumpri-la.

    Seus relatos so iguais? No. Concordam em tudo e coincidem exatamente em cada detalhe? Tambm no. Deveria ser assim? Com certeza, no. Se fossem no seriam aceitos como testemunhas fiis. Pessoas diferentes, com percepes e cultura peculiares a cada um, estilo prprio, naturalmente narram a mesma histria sob diferentes pontos de vista. As narrativas se complementam e ganham autenticidade e credibilidade. Caso contrrio seriam tidas como algo forjado para dar sustentao a uma histria inventada e irreal.

    A ordem em que estes quatro livros aparece na Bblia, no cronolgica. A maioria dos estudiosos concorda que Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito (entre 50 e 70 d.C.). Seu autor, Joo Marcos era primo de Barnab e foi companheiro de Paulo em sua primeira viagem missionria, mas sua principal fonte de informao foi o apstolo Pedro, que se refere a ele como meu filho Marcos (I Pedro 5:13). Papias, um dos pais da igreja no primeiro sculo assim se refere a Marcos:

    Marcos que era intrprete de Pedro, registrou com exatido tudo quanto relembrava, quer as declaraes quer os feitos de Cristo, mas no de forma ordenada. Pois no foi nem ouvinte nem companheiro do Senhor... Portanto, Marcos no se equivocou quando registrou assim algumas coisas conforme se relembrava; pois se concentrou exclusivamente nisto no omitir coisa alguma daquilo que tinha ouvido, nem incluir qualquer afirmao falsa entre elas

    Marcos dirige seu evangelho aos Romanos e apresenta Jesus com servo. No registra a sua genealogia, ningum estaria preocupado com a ascendncia de um simples servo. Ele d especial destaque aos milagres de Jesus, mais que os outros trs evangelistas. Jesus viera ao mundo para servir. Como ele escreve para os gentios, tem cuidado de explicar algumas expresses do aramaico -"Tomando-a pela mo, disse: Talit cumi!, que quer dizer: Menina, eu te mando, levanta- te! Mc 5:41), e dos costumes dos judeus - ...pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradio dos ancios, no comem sem lavar cuidadosamente as mos; quando voltam da praa, no comem sem se aspergirem; e h muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal [e cama]...Mc 7:3-4), e faz poucas referncias ao Antigo Testamento.

    Dois dos evangelistas foram discpulos de Jesus: Mateus e Joo. Mateus, antes do convite de Jesus para segui-lo, era um funcionrio pblico em Cafarnaum, a servio dos interesses de Roma como cobrador de impostos. A sua converso de publicano, certamente envolvido em falcatruas e corrupo, para, no somente um simples seguidor de Jesus Cristo, mas integrante dos seleto grupo dos 12 apstolos, certamente causou grande impacto em Mateus. Seu evangelho destaca o ensino tico de Jesus mais do que qualquer outra poro do Novo Testamento.

    Mateus escreve o evangelho endereado preferencialmente ao povo judeu e apresenta Jesus como Rei. assim que ele inicia: Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abrao. Mais

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    que qualquer outro evangelista ele cita o Antigo Testamento. So 29 citaes, sendo que em 13 delas ele diz que determinado acontecimento se deu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta. Ele procura demonstrar aos judeus que Jesus era o Messias prometido por Deus nas antigas profecias que eles conheciam muito bem.

    Lucas era mdico e escreve como um historiador. Seu relato se inicia nos dias de Herodes, rei da Judia. Ele muito cuidadoso com datas e referncias de tempo. Seu estilo revela sua cultura e formao intelectual. minucioso em detalhes e no mtodo de sua pesquisa. Entrevistou muitas testemunhas oculares da vida de Jesus Cristo, e fez como ele declara, uma acurada investigao de tudo desde sua origem

    Visto que muitos houve que empreenderam uma narrao coordenada dos fatos que entre ns se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princpio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigao de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentssimo Tefilo, uma exposio em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instrudo. (Lucas 1:1-4)

    Dirige seu evangelho ao povo grego, e apresenta Jesus como o homem ideal. Enquanto Mateus traa a genealogia de Jesus a partir de Abrao, Lucas recua na ascendncia do Mestre at Ado, o primeiro homem. As evidncias do texto bblico indicam que o evangelho de Lucas foi escrito em Cesaria, durante o tempo em que Paulo esteve aguardando seu julgamento por volta do ano 60 d.C.

    Estes trs evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas so chamados de sinpticos. A palavra sinopse deriva de duas palavras gregas que significam ver em conjunto. Eles so complementares e juntos apresentam uma viso tridimensional do perfil e da vida de Jesus Cristo entre os homens. A narrativa dos evangelhos sinpticos se concentra mais no ministrio de Jesus na Galilia.

    J o evangelho de Joo tem caractersticas bem prprias. Enquanto os trs outros mostram Jesus em ao, realizando milagres, contando parbolas e ensinando s multides, Joo foca sua narrativa nos contatos mais pessoais de Jesus com seus apstolos, seus discursos mais profundos e mais contundentes. o mais intimista dos evangelhos e os fatos narrados se deram em sua maioria na Judia.

    Lucas apresenta Jesus como o Filho do Homem. Joo o apresenta como o Filho de Deus. Lucas traa a genealogia de Jesus desde Ado, Joo diz: No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... Jesus, como Filho de Deus, precede a Abrao e Ado.

    Mateus conclui com uma declarao de autoridade feita pelo Rei e uma misso dada a seus sditos: Toda a autoridade me foi dada no cu e na terra. Ide, portanto, fazei discpulos de todas as naes... (Mateus 28:18-20). O ltimo verso de Marcos, mostra que Jesus, o Servo, continuaria servindo, cooperando com seus discpulos: E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam. (Marcos 16:20). Em Lucas, Jesus, o Filho do Homem sobe para o Pai vitorioso: Aconteceu que, enquanto os abenoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o cu. (Lucas 24:51). Joo termina, confessando que o testemunho de sua obra era fiel e verdadeiro, mas que nunca poderia ser acabada. Como algum poderia contar a histria completa daquele que foi nada menos que o Filho de Deus? H, porm, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos. (Joo 21:25)

    Sua equipe.

    ... mas o prprio Jesus no se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E no precisava de que algum lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana. (Joo 2:24-25) Admito que no sei exatamente o que Joo estava querendo transmitir com este texto. No sei se ele referia ao poder da oniscincia de Jesus Deus ou a uma capacidade bem desenvolvida e uma grande sensibilidade de Jesus Homem para perceber o lado oculto de cada pessoa com as quais ele se relacionava. Parece-me que as duas opes so vlidas. Mas o fato que

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    ao tomar a deciso para a escolha dos doze, Jesus o fez aps algumas horas conversando com o Pai: Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discpulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu tambm o nome de apstolos. (Lucas 6:12-13).

    No foi uma escolha aleatria, emocional ou impulsiva, mas sob a perspectiva humana, no parecia ser a escolha certa para algum que pretendesse levar adiante um grande projeto. Um deles, coletor de impostos, a servio do imprio que os oprimia, era certamente mal visto at por seus vizinhos. Outros eram homens rudes, pescadores iletrados, gente sem nenhuma expresso, sem dinheiro ou influncia junto ao povo. Todos eram seus conterrneos, gente da Galilia, exceo de um que era proveniente da Judia: Judas Iscariotes.

    Pedro negou conhecer Jesus trs vezes, e antes j havia sido duramente repreendido pelo Mestre por tentar dissuadi-lo de enfrentar a cruz. Jesus neste episdio faz um trocadilho com o nome que ele dera a Simo, dizendo que ele estava ali servindo como pedra de tropeo. Tom adquiriu grande notoriedade, que perdura at hoje, inclusive entre os no crentes, como um ctico, algum que precisa ver para crer. Quanto aos irmos Tiago e Joo, Jesus deu-lhes um apelido pela maneira impetuosa como eles costumavam agir: Ele os chamou de Boanerges, que significa filhos do trovo. Entre eles, se alistava um chamado Simo, que pertencia ao partido dos Zelotes, algo parecido com o Hamas ou Fatah da Palestina atual, que defendem a luta armada e at o terrorismo. Alguns deles permaneceram no semi-anonimato. Judas Iscariotes foi um caso a parte, e a este, Jesus que conhecia o corao do homem, deu a responsabilidade de ser o tesoureiro do grupo e no momento em que este estava para tra-Lo, Jesus o chama de amigo.

    Seu estilo

    Agora eu pergunto: este o Jesus que voc conhece? Algum que rene este grupo estranho, que faz trocadilhos com seus nomes, brinca com eles atribuindo-lhes apelidos, e s vezes chega s raias de quase perder a pacincia com eles? At quando estarei convosco e vos sofrerei? (Lucas 9:41). E quanto aos seus ensinamentos? Perdoar e amar aos inimigos, dar a outra face, coisas assim.

    Jesus no se prendia a um padro ou a clichs. Suas respostas eram sempre surpreendentes. Ele era absolutamente imprevisvel. Creio que intencionalmente ele no fundou e organizou uma igreja como os apstolos fizeram aps a sua partida. No escreveu nenhum salmo ou provrbio. O que dele se sabe fruto do relato dos quatro evangelistas.

    Nunca se preocupou em agradar queles que o procuravam. Interrogado por um jovem rico e influente, que o procurou em busca de conselhos, em lugar de conquistar a amizade do jovem e, quem sabe, obter dele algum subsdio financeiro para financiar seus projetos, mandou que este vendesse seus bens, distribusse com os pobres e depois viesse procur-lo. Por alguma razo adquiriu a reputao de "um gluto e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!" (Lucas 7:34).

    Confrontou e irritou as autoridades polticas e religiosas de sua poca. Tinha sempre mais tempo para o povo, os pobres, criminosos, as vivas e as crianas.

    Suas palavras eram to intensas e poderosas que at um grupo de soldados que foram enviados para prend-lo, preferiram desobedecer a seus superiores e se justificaram: Jamais algum falou como este homem. (Joo 7:46)

    Perto de sua morte, chega a Jerusalm e no templo, indignado com o que via, ...expulsou todos os que ali vendiam e compravam; tambm derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. (Mateus 21:12).

    Quando liguei o meu computador hoje de manh, o Microsoft Windows piscou a data, implicitamente reconhecendo que, quer voc creia, quer no, o nascimento de Jesus foi to importante que dividiu a histria em duas partes. Tudo o que j aconteceu neste planeta encaixa-se em uma categoria de antes de Cristo ou depois de Cristo.

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    Richard Nixon empolgou-se em 1969 quando os astronautas da Apolo pousaram pela primeira vez na lua. o maior dia desde a Criao!, exclamou o presidente, at que Billy Graham solenemente o lembrou do Natal e da Pscoa. Segundo qualquer medida histrica, Graham estava certo. Esse galileu, que em vida falou a menos pessoas do que as que lotariam apenas um dos muitos estdios que Graham lotou, mudou o mundo mais do que qualquer outra pessoa. Ele apresentou um novo campo de fora na histria, e agora mantm segura a fidelidade de um tero de todas as pessoas da terra.

    Sinto-me atrado por Jesus, irresistivelmente, porque ele se posicionou como o divisor de guas da vida minha vida. Digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens tambm o Filho do homem o confessar diante dos anjos de Deus, ele disse. De acordo com Jesus, o que penso dele e como reajo vai determinar meu destino por toda a eternidade. [PY]

    Tudo em Cristo me deixa perplexo. Seu esprito me intimida, e sua vontade me confunde. Entre ele e qualquer outra pessoa do mundo, no existe termo

    possvel de comparao. Ele verdadeiramente um ser por si mesmo [...] Procuro em vo na histria encontrar o semelhante a Jesus Cristo, ou

    qualquer coisa que se possa aproximar do evangelho. Nem a histria, nem a humanidade, nem os sculos, nem a natureza me oferecem qualquer coisa

    com a qual possa compar-lo ou explic-lo. Aqui tudo extraordinrio.

    Napoleo Bonaparte

    "Como so insignificantes os livros dos filsofos, como toda sua pompa, quando comparados aos evangelhos! Ser que escritos, ao mesmo tempo to sublimes e to simples, podem ser obras de homens? Ser que Cristo,

    cuja vida eles contam, poderia ser nada alm de um mero homem? [...] Onde est o homem, onde est o sbio que sabe como agir, sofrer e morrer sem

    fraqueza e sem fazer disso uma exibio? Meu amigo, homens no inventam coisas assim; e os fatos que atestam Scrates, sem dvida, no so to bem atestados quanto os fatos sobre Jesus Cristo. Esses judeus nunca poderiam

    ter chegado a tal tom em seu pensamento sobre a moralidade, e os evangelhos tm caractersticas de veracidade to grandiosas, to notveis,

    to perfeitamente inimitveis, que seus inventores seriam ainda mais maravilhosos do que aquele que descrevem. Sim, a morte de Scrates a de

    um sbio, a vida e a morte de Jesus so a de um Deus.

    Jean-Jacques Rousseau

    Concluso e Aplicao - Pr. Abrao da Silva

    Dentre as vrias aplicaes desta fantstica lio, quero destacar trs:

    1. Aparncias enganam. (I Sm 16:7). O retrato de Jesus profetizado por Isaas e narrado pelos evangelistas no coadunava com o retrato mental que o povo de Israel fazia do Messias to esperado. O mtodo de Deus era diferente dos homens. Jesus veio e no fez fama em cima da sua aparncia fsica, da sua autoridade, do seu tom de voz, da sua forma de vestir ou mesmo da sua inteligncia. Ele era Deus, mas exerceu seu ministrio esvaziado, aniquilado, humilde e obediente at a morte. (Fl 2:1-11). Por isso, tome muito cuidado quando voc for desafiado a acreditar em algum apenas pela aparncia. Tome muito cuidado quando voc achar que Deus deve agir de uma forma convencional mentalidade dos homens. provvel que no ser assim.

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    2. Por vezes, unidade em torno de palavras ou conceitos pode ser sinal de fracasso e no de autenticidade. As supostas e to criticadas diferenas na narrao dos evangelistas, no esvaziam a mensagem, mas a fortalecem. Cada um d uma nfase especial aos variados pontos de vista que se complementam revelando Jesus em profundidade. Leia: II Tm 3:16, II Pe 3:15-16.

    3. A escolha e livre opo de Jesus aos seus seguidores mais prximos, to limitados e deficientes, mas que receberiam dEle todo o treinamento necessrio e o poder extraordinrio para construrem a Sua Igreja neste mundo, so para ns fortes indicativos que nos preenchem de profunda esperana: Se homens como os discpulos puderam receber to nobre investimento e misso, h esperana para cada um de ns. E tal esperana, no est jamais respaldada na nossa capacidade ou nas vantagens que podemos obter, mas simplesmente na Graa maravilhosa deste ser to extraordinrio que Jesus. Aleluia. Leia: Joo 15:16

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    5. As Bem-aventuranas - Felizes so os infelizes

    Santo aquele que exagera o que o mundo negligencia.

    G. K. Chesterton

    O Sermo do Monte relatado por Mateus logo nos captulos iniciais do seu livro. Jesus havia sido batizado por Joo no rio Jordo, e em seguida experimentara o confronto com o adversrio no deserto de onde o Mestre sai vitorioso e comea a realizar o seu ministrio.

    "Percorria Jesus toda a Galilia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenas e enfermidades entre o povo. E a sua fama correu por toda a Sria; trouxeram-lhe, ento, todos os doentes, acometidos de vrias enfermidades e tormentos: endemoninhados, lunticos e paralticos. E ele os curou. E da Galilia, Decpolis, Jerusalm, Judia e dalm do Jordo numerosas multides o seguiam." (Mat 4:23-25)

    A popularidade de Jesus crescia rapidamente. Ele fascinava o povo com seus ensinos e lhes dava alvio de muitos sofrimentos, curando pessoas acometidas de diferentes tipos de doenas. O texto acima detalha: endemoninhados, lunticos e paralticos. Os primeiros viviam atormentados por possesses malignas que lhes roubavam a paz, promoviam conflitos interiores que os impedia de manter relacionamentos saudveis e os tornavam violentos e insanos. Mas o texto distingue outro tipo de insanidade, que recebe o diagnstico genrico de "luntico". Estes eram os portadores de doentes mentais, como a esquizofrenia, que na atualidade teriam indicao para tratamento psiquitrico. Como as crises que ocorrem nestas doenas se intercalam com perodos de aparente normalidade, os antigos as associavam s fases da lua, e por isso eles eram rotulados de lunticos. Os paralticos, referidos no texto de Mateus, representam todos os portadores de doenas fsicas, congnitas ou adquiridas, sejam elas infecciosas, degenerativas ou de outras naturezas. O texto afirma que "todos os doentes, acometidos de vrias enfermidades e tormentos" eram trazidos a Jesus e "ele os curou".

    John Stott, em seu livro "Contracultura Crist", afirma que "no h dvida de que o propsito principal de Jesus ao subir uma colina ou montanha para ensinar era fugir das numerosas multides da Galilia, Decpolis, Jerusalm, Judia e dalm do Jordo, qu