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Universidade Politécnica A POLITÉCNICA Escola Superior Aberta GUIA DE ESTUDO Direito Administrativo II Curso de Ciências jurídicas (4º Semestre) Moçambique

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Universidade Politcnica A POLITCNICA Escola Superior Aberta GUIA DE ESTUDO Direito Administrativo II Curso de Cincias jurdicas (4 Semestre) Moambique FICHA TCNICA Maputo, Julho de 2014 SriedeGuiasdeEstudoparaoCursodeCincias Jurdicas (Ensino a Distncia). Todos os direitos reservados Universidade Politcnica Ttulo: Guia de Direito Administrativo II Edio: 1 Organizao e Edio Escola Superior Aberta (ESA) Elaborao Mateus Jaime Mondlane (Contedo) (Reviso Textual) UNIDADES TEMTICAS O ACTO ADMINISTRATIVO O CONTRATO ADMINISTRATIVO A RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAO PBLICA AS GARANTIAS DOS PARTICULARES AS GARANTIAS JURISDICIONAIS APRESENTAO Caro(a) estudante EstnassuasmosoGuiadeEstudodadisciplinadeDireito Administrativo II que integra a grelha curricular do Curso de Cincias JurdicasoferecidopelaUniversidadePolitcnicanamodalidadede Educao a Distncia. Esteguiatemporfinalidadeorientarosseusestudosindividuais nestesemestredocurso.AoestudaradisciplinadeDireito Administrativo II, voc irestabelecer um contacto com as matrias operacionaisdoDireitoAdministrativoquelhepermitiro compreenderosmecanismosdefuncionamentodaAdministrao Pblica e os meios legais de garantias dos particulares. EsteGuiadeEstudocontemplatextosintrodutriosparasituaro assuntoqueserestudado;osobjectivosespecficosaserem alcanadosaotrminodecadaunidadetemtica,aindicaode textoscomoleiturascomplementaresisto,indicaesdeoutros textos,livrosemateriaisrelacionadosaotemaemestudo,para ampliarassuaspossibilidadesdereflectir,investigaredialogar sobreaspectosdoseuinteresse;asdiversasactividadesque favorecemacompreensodostextoslidoseachavedecorreco dasactividadesquelhepermiteverificarsevocesta compreender o que est a estudar.Estaanossapropostaparaoestudodecadadisciplinadeste curso. Ao receb-la, sinta-se como um actor que se apropria de um texto para expressar a sua inteligncia, sensibilidade e emoo, pois voctambmo(a)autor(a)noprocessodasuaformaoem Cincias Jurdicas. Os seus estudos individuais, a partir destes guias, nos conduziro a muitos dilogos e a novos encontros. A equipa de professores que se dedicou elaborao, adaptao e organizaodesteguiasente-sehonradaemte-locomo interlocutor(a)emconstantesdilogosmotivadosporuminteresse comum a educao de pessoas e a melhoria contnua dos negcios, base para o aumento do emprego e renda no pas. Seja muito bemvindo(a) ao nosso convvio. A Equipa da ESA Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 1 UNIDADE TEMTICA 1 O ACTO ADMINISTRATIVO Elaborado porMateus Jaime Mondlane Objectivos

No fim desta unidade, o Estudante dever ser capaz de:Compreender as formas de actuao da Administrao Pblica Identificarascaractersticas,oselementosaclassificaodoacto administrativo Conhecer os vcios do acto administrativo Conhecer as formas de extino do acto administrativo Conceito de acto administrativo Actoadministrativo-umactojurdicounilateralpraticadono exerccio de poder administrativo, por um rgo da administrao ou por uma entidade pblica ou privada para tal habilitada por lei, e que traduzumadecisotendenteaproduzirefeitosjurdicossobreuma situao individual e concreta. Noconceitodoactoadministrativodescobrem-sequatroelementos essenciais.Oactoadministrativo,antesdemais,umactojurdico,ouseja, umacondutavoluntriageradoradeefeitosdedireito.Note-sea determinao da voluntariedade da conduta nem sempre feita com recurso a chamada vontade psicolgica, isto , a vontade tal como a Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 2 concebe a teoria de negcio jurdico: com muita frequncia, no acto administrativo,avontadereconstrudaapartirdeelementosde carcternormativo,quesesobrepemaoselementospsicolgicos. Digamos, de forma simplificada, que no a vontade que realmente se teve mas a vontade que, nos termos da lei, se deveria ter tido.Fala-se, por isso, em vontade normativa. Aexignciadavoluntariedadedacondutamesmocoma especificidadeapontada,permiteexcluirdoactoadministrativoos factos jurdicos em sentido estrito, nos quais se no revela qualquer condutavoluntria,aindaquereconstruidacombasenavontade normativaporexemplo,odecursodotempo,comosefeitos jurdicosconhecidosnomeadamenteacaducidadeeprescrioe as chamadas operaes materiais da Administrao Pblica, em que ocorrecondutasvoluntriasmasnoorientadaparaaproduode efeitojurdicosespecficospr-determinadosoquesucede quando uma mquina operada por trabalhador municipal e ocupada naaberturadeumavala,corta,acidentalmente,oscabosque garantiamofuncionamentodaenergiaelctrica,provocandoa paralisaodaactividadedesta,ouquandoummdicodeum hospitalpblicoministraumacidentadoumanestsicoaqueele alrgico, causando lhe a morte enquanto preparava uma interveno cirrgica de urgncia.ComosevernooutropontoestaactividadedeAdministrao Pblica, dita operaes materiais, no se chamam assim por serem estranhasaodireito,umavezqueproduzemconsequncias jurdicasnoplanodaresponsabilidadedaAdministraoPblica. Elasnoso,porm,condutasorientadas,paraaproduode efeitosjurdicos,nointegrando,porisso,oconceitodeacto administrativo.Masexignciadavoluntariedadedaconduta,nodeve,nonosso entender,conduziraexclusodoactoadministrativodecertos Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 3 comportamentosadministrativosque,noconsubstanciando propriamentemanifestaesdevontade,declaraesdecinciaou deinteligncia.Referimo-nosaactoscomoosatestados,as certideseoscertificados,queso,aindaassim,condutas voluntriasdaAdministraoPblicaorientadasparaosefeitos jurdicosfazerprovadeumasituaooudeumestado,por exemplo. Cabem, por isso, no conceito de acto administrativo. O acto administrativo um acto unilateral, isto , uma declarao de vontadeparacujaperfeiodesnecessriaacontribuiode qualqueroutra;nistosedistinguedeumcontratoquesempre um negcio jurdico bilateral.Pode suceder que o acto administrativo somente possa ser praticado apsumamanifestaodevontadedeoutrem;ouqueaproduo dosseusefeitosestejamdependentedeumamanifestaode vontade da parte de algum. Exemplos da primeira situao so os actosadministrativospermissivos,comoaslicenaseas autorizaesadministrativasquesomentepodemseremitidasa favordequem,preenchendoosrequisitoslegais,ashouver requerido(orequerimento,veiculandoavontadedointeressado, pressuposto da prtica do acto administrativo). Exemplo da segunda situaoumactoadministrativodeprovimento(nomeaodeum funcionriopblicoparaumlugardoquadrodeumaentidade pblica): se o nomeado no aceitar o provimento, no ser investido no lugar quedando-se o acto de provimento desprovido de efeitos (a aceitaodonomeadoaconduodeeficciadoacto administrativo).Muitoemboraadistinoconceptualentreactoadministrativoe contratosejaclara,nomenoscertoqueatendncia,jreferida nooutroponto,parasubstituiraactividadeunilateralda AdministraoPblicaporformasparticipadas,concertadasou Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 4 contratualizadasdeactividadeadministrativatendeareduzirno plano prtico, o seu alcance. Tendoemcontaqueoactoadministrativonasceunoquadrodo princpio da separao de poderes, ele deveria ser sempre um acto daAdministraoPblica,istoumactopraticadoporumrgo pertencente a uma organizao pblica. Cedosepercebeu,contudo,queosoutrospoderesdoEstado designadamenteopoderlegislativoeopoderjudicial,tambm praticam, completamente com os actos que os caracterizam actos legislativoseactosjurisdicionais,respectivamente-,actosqueem nadasedistinguemdostipicamentepraticadosporrgosda AdministraoPblica.Imagina-seumasanodisciplinaraplicada peloPresidentedaAssembleiadaRepblicaaumfuncionriodo parlamentoouoindeferimento,pelojuizdeumtribunal,deum requerimentodeumfuncionriojudicialquepretendiagozarfrias interpoladas.Estesactossoexactamenteiguaisamuitosoutros quotidianamentepraticadospelosrgosdaAdministraoPblica. Forandoumpoucoalgica,passouentoaconsiderar-seque estes actos tambm eram actos administrativos.Independentementedaexactaqualificaojurdicadoseuautor,o actoadministrativosempreumcomportamentoadoptadono exercciodeumaactividadedenaturezaadministrativapblica(ou, se preferir, no desempenho da funo administrativa). Esta preciso torna-setantomaisnecessrioquanto,comodissemos,umcerto nmerodeautoresdeactosadministrativosnosorgoda AdministraoPblica.Assimsecompreendequeseexcluamda jurisdio administrativa os actos polticos, os actos legislativos e os actos de gesto privada: nenhuns deles so actos administrativos.

Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 5 Oactocontrape-senorma,estatradicionalmentemarcadapela generalidadepluralidadededestinatriosepelaabstraco multiplicidadedesituaesabrangidas.Note-sequeestadistino enfrentadificuldadescrescentes,devidas,nomeadamente, proliferaodasleis-medidaouleisprovidncia,queno apresentam asusceptibilidade deaplicao potencialmentelimitada tpicadasnormasjurdicastradicionais.Sejacomofor,este elementodoconceitodeactoadministrativoindispensvel,sendo elequepossibilitaadistinoentreoactoadministrativoeo regulamento administrativo. Principais caractersticas do acto administrativo Ascaractersticasmaismarcantesdoactoadministrativoso,em nosso entender, as seguintes: a)Aautoridade,consequnciadopoderdedecisounilateral da Administrao Pblica, que se traduz na obrigatoriedade do acto administrativoparatodosaquelesrelativamenteaquemele produzida os seus efeitos;b)Arevogabilidadelimitada,resultantedanecessidadede buscarumpontodeequilbrioentreapermeabilidadedosactos administrativosvariaodosinteressespblicosquevisam promover e a proteco da confiana dos particulares, sem a qual se inviabilizaaindispensvelcolaboraodestescomaAdministrao Pblica; Oactoadministrativo umactojurdicounilateralpraticado noexercciodeumaactividadeadministrativapblicae destinadoaproduzirefeitosjurdicosnumasituao individual e concreta. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 6 c)Achamadapresunodalegalidade,quedecorredo princpiodalegalidade,justificaaspectoscomoailegalidadeda oposio do direito de resistncia a actos administrativos anulveis e o efeito meramente devolutivo do recurso contencioso. Note-sequeestapresunodeveserentendidacomoprudncia: elanopodequerersignificarquetodososactosadministrativos praticadosporrgosdaAdministraoPblicaquenosejam nulos so, ipso facto, conforme lei-com a consequncia de que os particularesteriamsempredefazerprovaplenadetodosos aspectossupostamenteilegaisquenelescontestam.Esta presuno tem de ser entendida no contexto procedimental, isto , tendo em conta que a montante do acto administrativo impugnado se encontraumahistriaadministrativa.Bempodesucederque, apontadooiter procedimentalnumcertosentidoesendoadeciso tomada a final de sentido diverso, deva ser o seu autor a fazer prova dalegalidadeenoaquelequeaimpugnaademonstrara respectiva ilegalidade. Natureza Jurdica do acto administrativo Debatem-se nesta temtica trs orientaes principais: a)A primeira orientao considera o acto administrativo umaespcie de negcio jurdico; b)A segunda descobre nele analogia com a sentena judicial. c)A ltima orientao atribui-lhe natureza suis generis nemumacoisanemoutra,antesumactounilateraldaautoridade pblica ao servio de um fim administrativo. Pelanossaparteobservaremosqueoactoadministrativo, contrariamente sentena judicial: Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 7 No visa a composio de um litgio, embora possa encerr-lo ou inicia-lo; Encaraaaplicaododireitocomoummeiodeprosseguir interesses pblicos e no como um fim em justia; modificvel,notendoovalordeverdadelegalassociado ao caso julgado. Relativamente ao negcio, o acto administrativo distingue-se por no prosseguirumfimprivadoeporapresentarfrequentementecomo suporte a vontade normativa, em vez da vontade psicolgicaDetodoomodo,entendemosque,consideradaamaioroumenor latitude da componente discricionria do acto administrativo, este se encontra bem mais prximo do negcio jurdico do que da sentena judicial. Estrutura do acto administrativo a)Elementos subjectivos: OautordoactoadministrativoumrgodaAdministrao Pblica; O destinatrio do acto administrativo um particular ou outra pessoa colectiva pblica.b)Elementos objectivos Ocontedo(ouobjectoimediato)doactoadministrativo integradopelacondutavoluntriaentendidanostermos supra referidos e pelas clusulas, termos, etc.; Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 8 O objecto (mediato) do acto administrativo a realidade sobre queoactoincideoterrenoexpropriado,aesplanadacuja instalao na via pblica foi licenciada, etc. c)Elementos funcionais: Os motivos do acto administrativo so as razes de decidir do seu autor (porqu?); Constituem o fim do acto administrativo os objectivos que com ele se prosseguem (para qu).d)Elementos formais:A forma do acto administrativo o modo de exteriorizao da vontadeadministrativa;note-seque,entrens,aforma escritaaregrageralparaosactosdosrgossingulares, enquantoosactosdosrgoscolegiaisapresentam habitualidade forma oral; As formalidades do acto administrativo so ritos destinados a garantiracorrectaformaoouexecuodavontade administrativaouorespeitopelosdireitoseinteressesdos particulares; Das formalidades em especial Asformalidadesjustificamumaespecialatenodevido circunstncia,jassinalada,deaactividadeadministrativapblica apresentar um elevado ndice de formalizao. As formalidades podem classificar-se: Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 9 a) Segundoocritriodasuaindispensabilidade-so essenciais as formalidades que no possvel dispensar, na medida emqueasuafaltaafectairremediavelmenteavontadeoua eficincia do acto administrativo; so no essenciais as formalidades que podem ser dispensadas; b)Segundoocritriodapossibilidadederemediarasua faltasosuprveisasformalidadescujafaltanomomento adequadoaindapodesercorrigidapelarespectivaprticaactual, semprejuzodoobjectivoquealeiprocuravaatingircomasua imposionaquelemomento;soinsuprveisasformalidadescuja preterionosusceptveldeserremediada,umavezquejfoi preludiado o objectivo prosseguido pela lei com a sua imposio.Oprincpiogeralnestamatriaodequetodasasformalidades legalmente prescritas so essenciais, com excepo: Daquelas que a lei considere dispensveis; Daquelas que registam a natureza meramente interna;Daquelascujapreterionohajaobstadoaoalcancedo objectivo visado pela lei ao prescrev-las. As principais formalidades prescritas pela lei (e pela CRM) so: a)A audincia dos interessados previamente a tomada dedecisesadministrativassusceptveisdecontender com os seus interesses (cfr. artigos 65. do LPA); b)A fundamentao dos actos administrativos, queconsistedaexposiodasrazesdasuaprtica(cfr. artigos 121 LPA); c)A notificao dos actos administrativos, instrumentospara levar estes ao conhecimento dos interessados (cfr. artigos 71 do LPA).Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 10 Os artigos 121. a 123. do LPA so as principais disposies legais vigentes em matria de fundamentao. Oartigo121.enumeraosactosadministrativosquedevemser fundamentados,podendoafirmar-se,emlinhasgerais,quedevem ser fundamentados: a)Os actos desfavorveis aos interessados (cfr. alnea a)do n. 1);b)Os actos que incidam sobre anteriores actosadministrativos (cfr. alneas d) e e) do n. 1;c)Os actos que reflictam variaes no comportamentoadministrativo (cfr, alneas f)do n 1). Oartigo122.,peloseulado,estabeleceasregrasaquedeve obedecer a fundamentao; a)Deve ser expressa; b)Deve ser de facto e de direito, isto, no s tem deindicarasregrasjurdicasqueimpemoupermitema tomadadadeciso,mastambmh-deexplicarem que medida que a situao factual sobre a qual incide estasesubsumesprevisesnormativasdasregras aplicveis;d)A fundamentao deve ainda ser clara, coerente ecompleta;quandoafundamentaonoseconseguecompreender,noclara,obscura; quandoafundamentao,sendoembora compreensvelemsimesma,nopodeser consideradacomopressupostolgicodadeciso,no coerente,contraditria;quandoafundamentao A faltadaindicaodos fundamentosdedireito oudefacto,bemcomo aobscuridade, contradioou insuficinciada fundamentao equivalemsuafalta (cfr. n. 2 do artigo 122). Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 11 no bastante para explicar a deciso, no completa, insuficiente. Enquantoafaltadeaudiodosinteresseseasdeficinciasda fundamentaodoactoadministrativoserepercutemnavalidade deste - uma vez que se trata de formalidades condicionantes desta - omesmojnosucedecomafaltadenotificao:comoestase destinaasseguraraproduodeefeitosdoactoadministrativo,a sua falta somente afecta a eficcia, no a respectiva validade. FUNDAMENTOS DO ACTO ADMINISTRATIVO1 Anlise feitaantesda entradaemvigordaLPAque, peloseuvalor terico, vamos mant-lo. Afundamentao odeverde enunciarexpressaesucintamente as razes ou motivos de facto e de direito do acto administrativo ou, sequisermos,deindicaraspremissasdosilogismoemquea deciso corresponde a concluso. Nos termos do artigo 12 das normas de funcionamento dos Servios deAdministraoPblica,aprovadaspelodecreton.30/2001,de 15deOutubro,comaepgrafePrincpiosdafundamentaodos actos administrativos, a Administrao Pblica deve fundamentar os seusactosadministrativosqueimpliquemdesignadamenteo indeferimento do pedido ou a revogao, alterao ou suspenso de outros actos administrativos anteriores.Daleituracuidadadesteartigoresultaquedevemser obrigatoriamente fundamentados: (i)Os actos de indeferimento, porque o particular interessado e 1 1 Guibunda, Janurio Fernando. Dvidas em Direito Administrativo. Alcance Editores. Maputo. 2012. Pg 25-34 Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 12 visadopeloacto,obviamente,estarnanecessidadede conhecerasbaseslegaisefactuaisquesustentamtaldeciso desfavorvel,paraefeitosdeaccionaraspertinentesgarantias, caso no se conforme com elas, ou para melhor elucidao que possalevarasuaconformao.Senoseconformarcoma deciso, precisar, naturalmente, de atacar os seus fundamentos, mostrandoatquepontoelaviolaosseusdireitossubjectivos, reconhecidospelosdispositivoslegaisqueeleesgrimir.Com efeito, sabido que a natureza do recurso contencioso, entre ns (se optar por este), e de mera legalidade, o que implica, inter alia, que o recorrente deve, na sua petio, atacar o vcio invalidante enolimitar-seapedirjustia, formulando, peranteotribunal, o pedido que lhe foi recusado pelo acto que o impugna. A causa de pedir,nestemeiocontencioso,eainvalidadedoacto.Se atentarmos ao disposto no n.3 do artigo 253 da Constituio da Repblica (2004), aperceber-nos-emos desta imposio. (ii) Os actos revogatrios de outros, o que compreensvel, emprimeirolugar,porqueaactividadeadministrativadeveinspirar certeza jurdica nos particulares. Uma revogao pode implicar a cessaodedireitosadquiridosougoraraespectativado exercciodeoutrosquepodiamresultardavignciadoacto revogado.Destemodo,parecelgicoquehaja,porpartede quemprticaoactorevogatrio,odeverdeexplanarasrazes que o fundamente. (iii) Quando alterao e suspenso, podemos, com asnecessriasadaptaes,usar os fundamentosusadosnaalnea anterior. ComrelevnciaparaalisuraetransparnciadaAdministrao,de fora deste leque ficam os actos que atendem ao pedido do particular e os que, de uma forma geral, decidem de forma diversa de habitual, para casos semelhantes, bem assim os actos punitivos e podamos agregar a estes os que decidem em sentido diverso dos pareceres e propostas que formam parte do procedimento administrativo que lhe d lugar.Configuremosumactoque,atendendooudeferindoopedidode umaparticular,lesadireitoseinteresseslegtimosdeterceiros. Comoqueessesterceiros(contra-interessados)atacaroaquele Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 13 acto?Tero,primeiramente,quefazereclodirumprocesso grandiosoquelhesforneafundamentosdedireitoedefactopara atac-loscontenciosamente?Serbastantequeelesesgrimamos seus direitos subjectivos violados, sem se terem estrutura do acto lesivo? J dissemos que a causa de pedir, no recurso contencioso, a invalidade do acto. So os seus vcios. Como, pois atac-los sem os conhecer? Parece-nos, pois, bvio que mesmo os actos de deferimento, atenta asusceptibilidadedeumaeventuallesodedireitosdeterceiros, deviam ser fundamentados. Alis, a recm-aprovada Constituio da Repblica tambm sustenta, de alguma forma, o nosso entendimento. que, nos termos do n. 2 doartigo253Osactosadministrativossonotificadosaos interessadosnostermosenosprazosdaleiesofundamentados quandoafectemdireitosouinteressesdoscidadoslegalmente tutelados. Conforme se pode notar, esta formulao no restringe o mbitosubjectivodosafectadosnosseusdireitoseinteresses legalmentetuteladosquelesqueparticipamouquederamorigem aoprocedimentoadministrativo,masatodoouniversodosque possamserefectivamenteafectados,desdequetenhaminteresse directo e legtimo, ou seja, tenham legitimidade activa, onde se inclui, obviamente, toda a categoria de contra-interessados. Por outro lado, quando um titular de um rgo concede um licena para prtica de uma actividade privada, relativamente proibida, como acaaouapesca,dispesobreumbemcomum,quesoo recursos faunsticos. curial que toda a gente saiba que aquele acto funda-seemdeterminadaleipermissivaeosrespectivosrequisitos foram preenchidos pelo beneficirio. Quando se concede um terreno para determinado fim, quem dispe nesse sentido no esta a alienar umapropriedadesua,masumbemdetodos.Deve,porisso, exteriorizar as razes de facto e de direito que a tal levam. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 14 Quantoaosactosquedecidemdeformadiversadaanteriormente adoptada,comaplicaodomesmoregimento,devemos,em primeiro lugar, recordar o princpio de que um precedente ilegal no constitui um precedente vinculante. Assim,adespeitodeumajurisprudnciaadministrativaemquese possaterancoradoumasriededecisesanteriores,orgoque, perante um caso concreto posto sua considerao, se apercebera dailegalidadedoscasosprecedentes,noobrigadoalaborarno mesmo erro, pelo que devia ser obrigado a fundamentar a sua nova deciso,independentedoseusentido(deferimentoou indeferimento).Deresto,ensinaMarcelloCaetanoqueoparticular queconsiderecertainterpretaoburocrticavioladorado verdadeirosentidodaleipoderecorrerdosactospraticadosao abrigo dessa orientao.Quer dizer dos actos punitivos, que nos termos das disposies que analisamosnosoobjectodefundamentaoobrigatria? Imaginemos um acto de demisso ou de expulso de um funcionrio, quetangecomumdireitofundamental,odireitodotrabalho, estabelecido nos artigos 88 e seguintes da Constituio (hoje artigos 84eseguintes).Deviaounoserobjectodefundamentao obrigatria? sintomtica a excepo estabelecida pelo nmero 3 do artigo 109 dalein.9/2001,de7deJulho,aodispensaraexigibilidadede provar o prejuzo irreparvel ou de difcil reparao par que o tribunal decreteasuspenso de eficciadestetipo de actos. Aleipartiu do pressupostodequeumaactopunitivocausaimediatamenteleso nosdireitosdovisadoequiirreparveloudedifcilreparao. Assim, e uma vez que para se decretar a suspenso da eficcia no setomaemcontaaverosimilhanadodireito,elemento indispensvel par se obter uma providencia cautelar em direito civil, sendo bastante, neste meio (pedido de suspenso de eficcia), que Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 15 orequerenteproveaexistnciadoactopunitivoparobteruma medidacautelar,consistentedasuspensodaeficciadoacto geradordacontroversa,aidoneidadeounodesteactopunitivo deviasairdomundodoequivoco,atravsdasuamotivao obrigatria. O tratamento especial dado pela lei a este tipo de actos s revela a sua importncia na esfera jurdica dos visados. Veja-se, por exemplo, o estabelecido na parte final no n. 4 do artigo 13 da Lei n. 25/2009, de28deSetembro,nombitodoinstitutodedeclaraode ilegalidade de normas. Noquetangeaosactosquedecidamdeformadiversadas propostasepareceres,pensamosqueanoestatuioda obrigatoriedadedasuafundamentao,nodiplomaqueestamosa analisar, para alm dos inconvenientes apontados aos outros, aqui o rgoquedecidetemumanecessidadeacrescidadefundament-lospara,emprimeirolugar,convencerosseuscolaboradoresque emitiramosparecereseaspropostasdejustezadamedidaporai tomada. Ele reforaria a sua autoridade pblica. Poroutrolado,comafundamentaoevitar-se-iaqueoseuautor caiaemilegalidades,setomamosemlinhadecontaqueamaior parte dos rgos (ou os respectivos titulares) com poder de deciso no so nem tcnicos nem especialistas das matrias em preo.Veja-seocasoRomoJulioRomoeoutros,decididopela PrimeiraSecodoTribunalAdministrativo,em2deSetembrode 2004,onde,noprocessoadministrativo,oinstrutordoprocesso disciplinarpropunhaaaplicaodapenaderepressopblica,ao abrigododispositivonaalneag)doartigo180doEstatutoGeral dosFuncionriosdoEstado,aDirectoraMunicipaldeGestode recursosHumanosdoConcelhoMunicipaldeMaputopropunha,a suaInformao/Proposta,queosarguidosfossempunidoscoma Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 16 pena deDemisso,aoabrigodoartigo183daquele diploma,tendo sido secundada pelo vereador do pelouro.Contudo,oPresidentedoMunicpio,queobviamentenoesta vinculado a decidir nos termos propostos, proferiu um despacho com o seguinte teor: Visto. Concordo com a proposto, Expulso. caso para perguntar: concordo com qu, se a deciso tomada no foi nem derepreensopblicanemadedemisso,propostaspelosseus colaboradores,massimdeexpulso.Nofundamentouoseu despacho, o qual, no ter optado por nenhuma das penas propostas, a no podia absorver os fundamentos da proposta.Aquitemos,inequivocamenteumactoadministrativono fundamentado. Estessoalgunsdosexemplosdecasosqueocorremna Administrao. A rematar, diremos que para uma administrao no estgio da nossa, odeverdafundamentaodosactosadministrativosdeviaser universalenoselectivo,eventualmentesalvaguardadosalguns actospraticadosnoexercciodepoderesdiscricionrios,osquais, ao menos, deveriam conter a base legal permissiva. DiogoFreitasdoAmaraleumaequipadeco-autoresdoCdigodo ProcedimentoAdministrativo,IVEdio,pgina229,afirmamque Odeverdefundamentaoconstituiumadasmaisrelevantes garantiasdosparticulares,facilitandoocontrolodalegalidadedos actose,nocasodosactospraticadosnousodepoderes discricionrios,podemesmomostra-seimprescindvelparaquea fiscalizaocontenciosapossaocorrer.Afundamentaoconstitui, deigualmodo,umimportanteelementodeinterpretaodosactos administrativos. Afundamentaoumactodeumaboagestoeatdeauto-controlo por parte dos rgos emissores de tais actos. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 17 Oartigo12dasNormasdeFuncionamentodosServiosda AdministraoPblicacontmdoisgruposdeactoscuja fundamentaoobrigatria:osactoslesivosdosdireitose/ou interesseslegtimosdosparticulares(ouqueneguemaintroduo de alterao na esfera jurdica destes), que so de indeferimento; e osqueimportemamodificaooususpendemoutrosactos anteriores). Desteagrupamentopodedepreender-sequeolegisladorquis atenderadoisobjectivosimportantes,envolvendo,apartirdeum conhecimentomaisexactodoalcancedadeciso,asvertentesda possibilidade de uma opo consciente entre a aceitao do acto ou oaccionamentodosmeiosdedefesa,poroutrolado,eamaior transparnciaeaberturaparacomosadministrados,quetambm contribui para a previsibilidade da actuao da Administrao. Mascomaselectividadedanorma,aindaqueaenumeraose apresentedeformaexplicativa,continuamosconvictosdequeos aspectosporelaabrangidossomanifestamenteinsuficientespara a nossa realidade. Elementos, requisitos e pressupostos do acto administrativo a)Oselementosdoactoadministrativosooscomponentes doactoocasodoautor,emregraumrgodaAdministrao Pblica; b)Osrequisitosdoactoadministrativosoasexignciasfeitas pelaleirelativamenteacadaelementodoactoporexemplo,um rgodaAdministraoPblicaquesejacompetente.Ver-se- noutropontoqueestesrequisitospodemconstituircondiesde validade ou condies de eficcia do acto administrativo; Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 18 c)Ospressupostosdoactoadministrativosoassituaesde facto de que a lei faz depender a possibilidade de praticar um certo acto-pressupostodeumactodenomeaoparaumlugarda AdministraoPblicaqueesselugarseencontrevago,isto desprovidodetitular,umavezqueduaspessoasnopodemestar simultaneamente providas no mesmo lugar. O acto administrativo definitivo Oactodefinitivooactodeautoridadeporexcelncia,aquele comportamentodeumrgodaAdministraoPblicaque manifestaoseupoderUnilateraldedeciso(aresoluofinalde que falava MARCELLO CAETANO).Esta caracterstica da definitividade foi objecto de grande elaborao doutrinria por parte de FREITAS DO AMARAL, que a decomps em trs planos de anlise: a)Adefinitividadehorizontal,caractersticadoacto administrativoquepetermoaoprocedimentoadministrativooua umincidenteautnomodeste,ouaindaqueexcluiuminteressado de um procedimento em curso; b)A definitividade vertical caracterstica do acto administrativo ligadaao modelo hierrquicodeorganizaodosserviospblicos, cujaexignciarestringeocarcterdefinitivoaosactos administrativospraticadosporrgosrgosmximosdeuma hierarquiaadministrativa,rgosindependentes,subordinadoscom competnciaexclusiva,delegadosdealgumdestes.Comosever noutroponto,estaexigncia,hojemuitocontroversa,apresenta significativas repercusses nas garantias dos particulares; c)Adefinitividadematerial,caractersticadoactoadministrativo quedefine asituao jurdicadaAdministraoPblica perante um Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 19 particularoudesteperanteaquela.Exemplosdecomportamos desprovidosdestacaractersticasoosactosinternoscujos efeitos se no projectam no exterior da pessoa colectiva pblica cujo rgo os praticou - os pareceres e as informaes burocrticas. OPrincipiodatripladefinitividade,talcomofoiformuladopor FREITASDOAMARAL,determinaquesomentesejaconsiderado definitivo,isto,queapenasconstituaumadecisoadministrativa emsentidoprprio,oactoadministrativoqueseapresentar cumulativamente nos trs planos de anlise referidos. conveniente ter considerao que nem sempre o significado de um acto administrativo claro unvoco: o sentido de acto como visto, aguardemelhoroportunidade,etc.apenaspodeser determinadoatendendoaocontextoprocedimentalemqueforam proferidos. Seumactodesignificadopolivalenteouambguo,verticalmente definitivo,fornotificadoaointeressadonotermodeprocedimento administrativo,semsatisfazerapretensoapresentadaporaquele, tem necessariamente o sentido de um indeferimento, uma deciso negativa.Anoseentenderassim,aAdministraoPblicateria ummeioprticodecercearasgarantiasdoscidadosnodiria que sim nem que no diria talvez (seria mesmo melhor para ela do que no dizer coisa nenhuma, considerando o mecanismo do acto tcito). Factoresaquejfizemosreferencianoutropontoligadosas condicionantestemporaisdadecisoadministrativaforam enriquecidos a teoria administrativa com diversas espcies de actos administrativascujacaractersticacomumafaltaoua insuficientedefinitividade.Entreessesactosadmitidopela Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 20 jurisprudncia. Alguns, adiantados pela doutrina, os outros podem apontar-se:a)Apromessa,actoatravsdoqualumrgodaAdministrao anuncia para um momento determinado, posterior, a adopo de um certo comportamento, auto- vinculando-se perante um particular;b)Adecisoprvia,actopeloqualorgodaAdministrao aprecia a existncia de certos pressupostos de facto e a observncia de certas exigncias legais, sendo que de uns e de outros depende a prtica de uma deciso final permissiva; c)Adecisoparcial,actoporviadoqualumrgoda Administraoantecipaumapartedadecisofinalrelativaao objecto de um acto permissivo, possibilitando desde logo a adopo pelo particular de um determinado comportamento;d)Adecisoprovisria,actoatravsdoqualumrgoda Administrao,recorrendoaumaaveriguaosumriados pressupostosde umtipolegaldoacto,defineumasituaojurdica ataprticadeumadecisofinal,tomadaentocombasena averiguao completa de tais pressupostos; e)Adecisoprecria,actopormeiodoqualorgode Administrao define uma situao jurdica com base na ponderao de um interesse pblico especialmente estvel ou voltil, sujeitando arespectivaconsolidaoaconcordnciadointeressadonasua revogaoouapondo-lheumacondiosuspensiva,que concretizarnaeventualprticadeumactosecundrio desintegrativo ou modificativo. Acto administrativo executrio Seoactoadministrativodefinitivomanifestaopoderdedeciso unilateral da Administrao Pblica, o acto administrativo executrio Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 21 manifesta o seu poder do autotutela executiva. O acto executrio o acto administrativo que obriga por si, e cuja execuo coerciva sem prvio recurso aos tribunais, a lei permite.Nota-sequesomentefazsentidofalaremexecutoriedadeem sentidoprpriorelativamenteaosactossusceptveisdemedidas administrativasdeexecuo,ouseja,aquelesactosqueimpem condutasaoscidados.Quantoaosoutrosumalicena,o indeferimentodeumpedido,porexemplofalaremexecuo significaria confundir este conceito com o de eficcia. Seja como for, estmuitogeneralizadaumaconcepoampla(e,emnosso entender,incorrecta)deactoexecutrioqueesbatequase totalmente a diferencia entre eficcia executoriedade. Entre os actos no executrios - para alm, naturalmente, dos actos ineficazes, como aqueles que, estando dependentes de aprovaes deoutrosrgos,aindanoobtiveramesta(trata-sedeactosque ainda no so executrios) contam-se os actos de que tenha sido interpostorecursocomefeitosuspensivo;osactossujeitosa aprovao e os actos confirmativos de actos executrios. Aexecuodeactoadministrativoestsujeitaaosprincpiose regras escritos nos artigos 143. a 157. da LPA. Destacam-se entre estes:a)OPrincipiodaautotutelaexecutivaouprivilegiodeexecuo prvia, (cfr. artigo 143. n.2 LPA); b)Oprincpiodaobservnciadosdireitosfundamentaisede respeito devido pessoa humana (cfr. artigo 146. n.1, do LPA);c) A proibio de embargos (cfr. artigo 148. da LPA). Tipologia dos actos administrativos primriosCincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 22 Actos primrios e actos secundrios: enquanto o acto primrio incide sobreumasituao,davida,oactosecundriotemporobjectoo acto primrio anterior. Os actos primrios dividem-se em:Actosimpositivos,queimpemumacondutaousujeitamo destinatrio a certos efeitos jurdicos;Eactospermissivosquepossibilitamodestinatrioadopo de um comportamento positivo ou negativo. Os actos impositivos podem ser:Comandos, actos que impem uma conduta, positiva (ordens) ou negativa (proibies); Directivas,quedeterminamoresultadoaatingirmasdeixam liberdade quanto aos meios a utilizar; Actos punitivos que aplicam sanes; Actos ablativos, que sujeita o destinatrio a um sacrifcio (ex: expropriao por utilidade pblica): Juzos,quesoactosdequalificao(ex:classificaese notaes). Osactospermissivospodemconferirumouampliarvantagens,ou eliminar ou reduzir encargos. Entre os primeiros contam-se: Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 23 Aautorizao,porviadaqualumrgodaAdministrao Pblicapossibilitaumexercciodeumdireitodeuma competncia de outrem.AlicenaatravsdaqualorgodaAdministraoPblica atribuiaumparticularodireitodeexercerumaactividade privada relativamente proibida por lei;Asubveno,pelaqualumrgodaAdministraoPblica atribuiaumparticularumaquantiaemdinheirodestinadaa custear a prossecuo de um interesse pblico especfico; Aconcesso,pormeiodaqualumrgodaAdministrao Pblicatransfereparaumparticularodesempenhodeuma actividade pblica; A delegao, que j foi objecto de estudo, atravs da qual um rgodaAdministraoPblicapossibilitaoexercciode algumas das suas competncias por parte de outrorgo ou agente a quem a lei tambm as confere. Aadmisso,porviadaqualumrgodaAdministrao Publicainvesteumparticularnumacategorialegal,deque decorrem direitos e deveres. Entreosactospermissivosqueeliminamoureduzemencargos distinguem-se: Adispensa,quelegitimaoincumprimentodeumaobrigao legal,sejaematenoaoutrointeressepblico(iseno), seja como forma de procurar garantir o respeito pelo princpio da imparcialidade da Administrao Pblica (escusa); Arenncia,atravsdaqualaAdministraoPblicase despoja da titularidade de um direito disponvel. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 24 Principais classificaes dos actos administrativos Quando aos sujeitos: a)Decises, actos de rgo singulares, e deliberaes, actos de rgos colegiais; b)Actossimples,queapenastmumautor,ecomplexos,que apresentam dois ou mais autores; estes podem consubstanciar uma situaodeco-autoria,seaumavontadedosdiversosautorestem relevoidntico,ouumasituaodeco-responsabilidade,casotal no acontea. Quanto aos efeitos: Actosexternos,quandoosseusefeitosseprojectamnasrelaes jurdicasdapessoacolectivapblicacujosrgosospraticamcom os cidados ou outras entidades, e actos internos, no caso oposto. a)Actosdeexecuoinstantnea,cujosefeitosseesgotamno momentodarespectivapratica,eactosdeexecuocontinuada, cujos efeitos perduram por cero perodo de tempo: b)Actospositivos,quedeferempretensesdoscidados,e actos negativos, que indeferem;c)Actosconstitutivos,quecriam,modificamouextinguem relaes jurdicas, e actos declarativos, que o no faz (ex: certides, certificados, atestados) Validade e Eficcia do Acto Administrativo Noes Gerais Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 25 Asnoesdevalidadeedeeficcia,emboraprximas,nose confundem nem sobrepem. Validadedoactoadministrativoaaptidointrnsecadoactopara produzirosefeitosjurdicoscorrespondentesaotipolegalaque pertence,emconsequnciadasuaconformidadecomaordem jurdica. Eficciadoactoadministrativoaefectivaproduodeefeitos jurdicos. Requisitos de validade a)Quanto aos sujeitos: Competncia do autor do acto Identificao do destinatrio do acto b)Quanto forma Observncia da forma legal Cumprimento das formalidades essenciais c)Quantoaofim.Exercciodospoderesdiscricionriosporum motivoprincipalmentedeterminantecorrespondente finalidade para que a lei atribui ao autor do acto administrativo a competncia para o praticar. Requisitos de eficcia Constituem requisitos de eficcia. a)Apublicidadedoacto,consubstanciadanarespectiva publicao,quandoexigida,ounanotificaoaos interessados Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 26 b)A aprovao tutelar de que o acto, eventualmente, carea e o controlopreventivodoTribunaldeContas,quandoaele houver lugar. Invalidade do acto administrativo suas causas Ainvalidadedoactoadministrativoojuzodedesvaloremitido sobreeleemresultadodasuadesconformidadecomaordem jurdica.Asduascausasgeralmenteadmitidasdainvalidadesoa ilegalidade e os vcios de vontade. Ailegalidadedoactoadministrativotradicionalmenteapreciada entrensatravsdaverificaodoschamadosvciosdoacto, modalidadetpicasquetalilegalidadepoderevestireque historicamenteassumiramopapeldelimitaraimpugnabilidade contenciosa dos actos administrativos. Sistematizaremososvciosporrefernciaaoelementodoacto administrativo afectado: Vciosorgnicos,ouseja,relativosaossujeitosdoacto administrativo mais precisamente, ao seu autor: AUsurpaodepoderconsistenaofensaporum rgo da Administrao Pblica do princpio da separao depoderes,porviadaprticadeactoincludonassuas atribuies do poder judicial ou do poder legislativo, AIncompetnciaconsubstancia-senaprticaporum rgodeumapessoalcolectivapblicadeumacto includonasatribuiesdeoutrapessoacolectivapblica (incompetnciaabsoluta)ounacompetnciadeoutro rgo da mesma pessoa colectiva (incompetncia relativa); Deacordocomumsegundocritriopode-sedistinguirquatro modalidades: Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 27 1.Incompetnciaemrazodamatria:quandoumrgoda Administrao invade os poderes conferidos a outro rgo da Administrao em funo da natureza dos assuntos. 2. Incompetncia em razo da hierarquia: quando se invadem ospoderesconferidosaoutrorgoemfunodograu hierrquico,nomeadamentequandoosubalternoinvadea competnciadosuperior,ouquandoosuperiorinvadea competncia prpria ou exclusiva do subalterno. 3.Incompetnciaemrazodolugar:quandoumrgoda Administrao invade os poderes conferidos a outro rgo em funo do territrio. 4.Incompetnciaemrazodotempo:quandoumrgoda Administraoexerceosseuspodereslegaisemrelaoao passadoouemrelaoaofuturo(salvosealei, excepcionalmente, o permitir). Vciosformais:ovciodeformaconsistenacarnciade forma legal ou na preterio de formalidades essenciais, Vcios materiais, relativos ao objecto, ao contedo ou aos motivos do acto: i)Odesviodepodertraduz-senoexercciodeum poderdiscricionrioporummotivoprincipalmente determinante desconforme com a finalidade para que a lei atribuiu tal poder ii)Aviolaodaleiconsistenadiscrepnciaentreo objecto ou contedo do acto e as normas jurdicas com queestesdeveriamconformar-se. Integramestevcio, nomeadamente,afaltadebaselegaldoacto administrativo,aimpossibilidadeouinintelegilibilidade Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 28 do objecto ou do contedo do acto e a ilegalidade dos elementos acessrios deste. Osvciosdavontadepodemgerarainvalidadedoacto administrativo,namedidaemqueaformaodavontadedos rgosdaadministraoPblicadeveserlivreeesclarecida.Uma vontadeadministrativadeformadapeloerro,pelodolo,porcoaco ouporincapacidadeacidentalnoemsiumailegalidade,mas deve, em princpio, constituir causa da invalidade daquele. Regimes da invalidade A prtica de um acto administrativo invlido no se encontra sempre sujeitaaomesmoregimelegal;deacordocomagravidadeda invalidade, pode ser aplicvel o regime da nulidade, mais severo, ou o regime da anulabilidade so modalidades da invalidade. O regime da nulidade 1. O acto nulo ineficaz desde o incio,no produz qualquer efeito. Porissoqueaestesactos,sechamamactosnulosede nenhum efeito; 2.Anulidadeinsanvel,querpelodecursodotempo,querpor ratificao, reforma ou converso. O acto nulo no susceptvel de ser transformado em acto vlido; 3.Osparticulareseosfuncionriospblicostmodireitode desobedeceraquaisquerordensqueconstemdeumactonulo. Namedidaemqueestenoproduzefeitos,nenhumdosseus imperativos obrigatrio; 4.SemesmoassimaAdministraoquiserimporpelaforaa execuodeumactonulo,osparticularestmodireitode Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 29 resistncia passiva. A resistncia passiva execuo de um acto nulo legtima. 5.Umactonulopodeserimpugnadoatodootempo,isto,asua impugnao no est sujeita a prazo; 6. O pedido de reconhecimento da existncia de uma nulidade num actoadministrativopodeserfeitojuntodequalquerTribunal,e no apenas perante os Tribunais Administrativos; o que significa que qualquer Tribunal, mesmo um Tribunal Civil, pode declarar a nulidade deum actoadministrativo(desdequecompetente para a causa); 7.Oreconhecimentojudicialdaexistnciadeumanulidadetomaa forma de declarao de nulidade Regime da anulabilidade umaformamenosgravedainvalidadeetemcaractersticas contrrias s da nulidade: 1.Oactoanulvel,emborainvlido,juridicamenteeficazat ao momento em que venha a ser anulado. Enquanto no for anulado eficaz, produz efeitos jurdicos como se fosse vlido oqueresultadapresunodelegalidadedosactos administrativos; 2.Aanulabilidadesanvel,querpelodecursodotempo,quer por ratificao, reforma ou converso; 3.Oactoanulvelobrigatrio,querparaosfuncionrios pblicos, quer para os particulares, enquanto no for anulado. 4.Consequentemente,nopossveloporqualquer resistnciaexecuoforadadeumactoanulvel.A Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 30 execuocoactivadeumactoanulvellegtima,salvosea respectiva eficcia for suspensa; 5.Oactoanulvelspodeserimpugnadodentrodeumcerto prazo que a lei estabelece; 6. O pedido de anulao s pode ser feito perante um Tribunal Administrativo,nopodeserfeitoperantequalqueroutro Tribunal; 7.Oreconhecimentodequeoactoanulvelporpartedo Tribunaldeterminaasuaanulao.Asentenaproferida sobreumactoanulvelumasentenadeanulao, enquantoasentenaproferiasobreoactonulouma declarao de nulidade. Aanulaocontenciosadeumatemefeitosretroactivos:tudose passanaordemjurdica,comoseoactonuncativessesido praticado. mbito de Aplicao da Nulidade e da Anulabilidade Anulidadetemcarcterexcepcional;aanulabilidadequetem carcter geral. A regra a de que o acto invlido anulvel; se ao fim de um certo prazoningumpedirasuaanulao,eleconverte-senumacto vlido. Como s excepcionalmente os actos so nulos, isto significa que, na prtica, o que se tem de apurar em face de um acto cuja a validade se est a analisar, e se ou no nulo: porque se for invlido e no for nulo, cai na regra geral, anulvel. Seconsideradasascausasdeinvalidadedoacto,estefor simultaneamente anulvel e nulo, prevalecer o regime da nulidade. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 31 Correspondnciaentreascausasdainvalidadeeos respectivos regimes So designadamente nulos: - Os actos viciados de usurpao de poder; - Os actos viciados de incompetncia absoluta; -Osactosquesoframdevciodeforma,namodalidadede carncia absoluta de forma legal; - Os actos praticados sob coaco; - Os actos de contedo ou objecto impossvel ou ininteligvel; - Os actos que consubstanciam a prtica de um crime; -OsactosquelesemocontedoessencialdeumDireito fundamental. So designadamente anulveis: - Os actos viciados de incompetncia relativa; -Osactosviciadosdevciodeforma,nasmodalidadesde carnciarelativadeformalegale,salvosealeiestabelecer paraocasodanulidade,depreteriodeformalidades essenciais; - Os actos viciados por desvio de poder; - Os actos praticados por erro, dolo ou incapacidade acidental. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 32 A Sanao dos Actos Administrativos Ilegais Ofenmenodasanaoconsisteprecisamentenatransformao de um acto ilegal, e por isso invlido perante a ordem jurdica. O fundamento jurdico da sanao dos actos ilegais a necessidade de segurana na ordem jurdica. pois necessrio que, decorrido algum tempo sobre a prtica de um acto administrativo, se possa saber com certeza se esse acto legal ou ilegal, vlido ou invlido. Aobtenodestacertezapodeserconseguidaporvianegativa permitindoaleiqueoacto,porserilegal,sejarevogadopela AdministraoouanuladopelosTribunaisouporviapositiva consentidoaleique,aofimdeumcertotempo,oactoilegalseja sanado,tornando-sevlidoparatodososefeitosperanteaordem jurdica, e portanto, em princpio, inatacvel; A sanao dos actos administrativos pode operar-se por um de dois modos: - Por um acto administrativo secundrio; - Por efeito automtico da lei. EXTINO E MODIFICAO DO ACTO ADMINISTRATIVO Da Extino do Acto Administrativo em Geral Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 33 Osefeitosjurdicosdoactoadministrativopodemextinguir-sepor vrios modos. Assim,edesdelogo,emcertoscasosessesefeitoscessam imediatamentecomaprticadoacto:oquesepassacomos actosdeexecuoinstantnea,cujosefeitosjurdicosseesgotam ou consomem num s momento, numa aplicao isolada. Noutros casos, os efeitos do acto administrativo perduram no tempo, sseextinguindoumavezdecorridoumcertoperodo:oque acontece com os actos de execuo continuada. A certos actos administrativos, por seu turno, podem ter sido apostos umtermofinalouumacondioresolutiva:eento,umavez atingido o termo ou verificada a condio, cessam os efeitos de tais actos. Maspodeaindasucederqueosactosadministrativosseextingam por ter sido praticado ulteriormente um outro acto cujo o contedo oposto ao contedo do primitivo acto. Nestes casos, o segundo acto como que toma o lugar do primeiro, passando a ocupar o espao at a preenchido pelo acto originariamente praticado. A Revogao o acto administrativo que se destina a extinguir os efeitos de outro acto administrativo anterior. Com a prtica da revogao, ou acto revogatrio, extinguem-se os efeitos jurdicos do acto revogado. Osseusefeitosjurdicosrecaemsobreumactoanteriormente praticado,noseconcebendoasuaprticadesligadadesseacto preexistente. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 34 Ocontedodarevogaoaextinodosefeitosjurdicos produzidospeloactorevogadoou,sesepreferir,adecisode extinguir esses efeitos. Oobjectodarevogaosempreoactorevogado,justamente porque a revogao um acto secundrio, um dos mais importantes actos sobre os actos. fundamentalsublinharquerevogao,elamesma,umacto administrativo:comotal,so-lheaplicveistodasasregrase princpioscaractersticosdoregimejurdicodosactos administrativos. Espcies de revogao Asespciesderevogaopodemapurar-seluzdediversos critrios, dos quais destacam-se quatro: 1. Quanto iniciativa: a revogao pode ser espontnea (ou oficiosa), praticada pelo rgo competente independentemente dequalquersolicitaonessesentido;ouprovocada(art.138 CPA), motivada por um requerimento do interessado, dirigido a um rgo com competncia revogatria. 2.Quantoao autor:arevogaopodeserfeitapeloprprio autordoactorevogadoest-seperantearetractao;ou porrgoadministrativodiferente,oactorevogatrio praticadopelosuperiorhierrquicodoautordoactorevogado oupelodelegante,relativamenteaactosanteriormente praticados por um subalterno ou por um delegado. 3.Quantoaofundamento:arevogaopode-sebasear-sena ilegalidade(ouanulaograciosa),comelavisa-se reintegraraordemjurdicaviolada,suprimindo-seainfraco cometidacomapraticadeumactoilegal;ouna Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 35 inconvenincia do acto que seu objecto, a prtica do acto revogatrioencontraasuarazoporserumjuzodemrito, isto,numanovavaloraodointeressepblicofeitapelo rgocompetente,independentementedequalquerjuzode legalidade sobre o acto objecto da revogao. 4.Ocontedodarevogao,queconsistenaextinodos efeitosdoactorevogado,poderevestirumadeduas modalidades:ameracessao,adfuturum,dosefeitos jurdicosdoactorevogadoadenominadarevogaoab-rogatria , ou a destruio total dos efeitos jurdicos do acto revogado,mesmodosquetenhamsidoproduzidosno passado a chamada revogao anulatria.Diz-se que a eficcia da revogao ab-rogatria ex nunc (desde agora),earevogaoanulatria,temeficciaextunc(desde ento). Assim,arevogaoab-rogatriaajusta-seaoscasosemqueo rgo administrativo competente mude de critrio e resolva extinguir umactoanteriorporconsiderarinconveniente;aopassoquea revogao anulatria reservada pela lei para os casos em que acto a revogar tenha sido praticado com ilegalidade. Regime da Revogabilidade dos Actos Administrativos Pode afirmar-se que entre ns vigora o princpio da revogabilidade dosactosadministrativos,nostermosdoqualaAdministrao Pblicadispedafaculdadedeextinguirosefeitosjurdicosdeum actoqueanteriormentepraticou,desdequeoreputeilegalou inconvenientemente. Com que limites, porm? Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 36 Aestepropsitohadistinguirdoistiposdesituaes:casosde revogao impossvel e casos de revogao proibida. A) Os casos de revogao impossvel. Arevogaonopodeterlugar,porque,puraesimplesmente, faltam os efeitos jurdicos a extinguir. Nestescasos,arevogaonopodeproduzir-se,nemlgica nem juridicamente. E quais so os casos de impossibilidade da revogao. 1)impossvelarevogaodeactosinexistentesoudeactos nulos; 2) impossvel a revogao de actos cujos efeitos j tenham sido destrudos, seja atravs de anulao contenciosa, seja atravs de revogao anulatria; 3) E impossvel a revogao de actos j integralmente executados; 4) tambm impossvel a revogao de actos caducados. B) Os casos de revogao proibida. Diferentemente,outrassituaeshemqueaAdministrao, nodeparandojcomumaimpossibilidade absolutaderevogao, nodeve,todavia,sobpenadeilegalidade,revogaractosquehaja anteriormente praticado. So fundamentalmente duas as situaes que, importa referir: 1.AAdministraonodeverevogaraquelesactosquetenham sidopraticadosnoexercciodepoderesvinculadoseem estritaobedinciadeumaimposiolegal.Hcontudo, algumas excepes, nomeadamente, so revogveis os actos vinculadosseconferiremdireitosrenunciveiseostitulares destes validamente renunciarem a esses direitos. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 37 2.Tambmnodevemserobjectoderevogaoosactos constitutivosdedireitosquetenhamsidolegalmente praticadospelaAdministraoPblica,aindaquenousode poderesdiscricionrios:assimodeterminam,comefeito,o princpiodasegurananasrelaesjurdicaseaprprialei expressa Actos Constitutivos de Direitos EstesnosorevogveispelaAdministrao,amenosquesejam ilegais. Isto porque, de acordo com a lei, atriburam direitos a algum. A partir desse momento, a pessoa a que os direitos foram atribudos temdepoderconfiarnapalavradadapelaAdministraoetemde poderdesenvolverasuavidajurdicacombasenosdireitosque legislativamenteadquiriu.oprincpiodorespeitopelosdireitos adquiridos, base da confiana na palavra dada. Pelocontrrio,osactosnoconstitutivosdedireitossolivremente revogveispelaAdministraoemqualquermomentoecom qualquerfundamento. Justamente porque,notendocriado direitos paraningum,nohqueteremcontaaprotecodosdireitos adquiridos. So actos constitutivos de Direitos, todos os actos administrativos queatribuemaoutremdireitossubjectivosnovos,ouqueampliam direitossubjectivosexistentes,ouqueextinguemrestriesao exerccio dum direito j existente. O conceito de acto constitutivo de direitos deve ir to longe quanto a suaprpriarazodeser:oraarazodeserdesteconceitoa necessidadedeprotecodedireitosadquiridospelosparticulares, para sua segurana e certeza das relaes jurdicas. Entende-sequedeve-seconsiderarcomoactosconstitutivosde direitos: Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 38 1. Os actos criadores de direitos, poderes, faculdades e, em geral, situaes jurdicas subjectivas; 2.Osactosqueampliamoureforamessesdireitos,poderes, faculdades ou situaes jurdicas subjectivas; 3.Osactosqueextingamrestriesaoexercciodedireitos, nomeadamente as autorizaes; 4. Os actos meramente declarativos que reconheam a existncia ouavalidadededireitos,poderes,faculdadesousituaes jurdicassubjectivas.Soosactosaqueadoutrinachama verificaes-constitutivas. Devemserconsiderados,pelocontrrio,comoactosno constitutivos de direitos: 1. Actos administrativos internos; 2.Actosdeclarativosquenoconsistamnoreconhecimentoda existnciadedireitos,poderes,faculdadesousituaes jurdicas subjectivas; 3. Actos constitutivos de deveres ou encargos; 4. Autorizaes e licenas de natureza policial; 5. Actos precrios por natureza; 6.ActosemqueaAdministraoPblicatenhavalidamente includo uma clusula do tipo reserva de revogao; 7.Actosadministrativossujeitos,porleiouclusulaacessria, condio sem prejuzo dos direitos de terceiros; 8. Actos inexistentes e actos nulos. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 39 RegimedeRevogaodosActosConstitutivosdeDireitos Ilegais Ostraosprincipaisdoregimejurdicodarevogaodeactos constitutivos de direitos so os seguintes: 1)Ofundamentoexclusivodarevogaoailegalidadedoacto anterior; 2) A revogao de actos constitutivos de direitos ilegais deve ser feita: a) Dentro do prazo fixado na lei para o recurso contencioso que no caso caiba; b)Setiversidoefectivamenteinterpostoumrecurso contencioso,podeoactorecorridoserrevogadonotodo ouemparteataotermodoprazoparaarespostaou contestao da autoridade recorrida. Regime de Revogao dos Actos No Constitutivos de Direitos Os aspectos principais deste regime so: 1. A revogao de actos no constitutivos de direitos pode ter por fundamentoasuailegalidade,asuainconvenincia,ou ambas:afectivamente,aleidispequeessarevogaopode ter lugar em todos os casos; 2. A revogao destes actos pode ter lugar a todo o tempo. Efectivamente,arevogaodeactosnoconstitutivosdedireitos com fundamento em ilegalidade tambm s pode ter lugar dentro do prazo de recurso contencioso fixado na lei.Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 40 Revogao, reforma e converso das deliberaes: As deliberaes dos rgos autrquicos, bem como as decises dos respectivostitulares,podemserporele,revogadas,reformadasou convertidas, nos termos seguintes:a)Seno foremconstitutivasdedireitos,emtodososcasosea todo o tempo; b)Seforemconstitutivasdedireitos,apenasquandoilegaise dentro do prazo fixado na lei para o recurso contencioso ou at interposio deste). Competncia para a Revogao Pertence ao autor do acto, aos seus superiores hierrquicos (salvo, poriniciativadestes,sesetratardeactodacompetnciaexclusiva dosubordinado),aodelegantee,excepcionalmenteenoscasos previstos na lei, ao rgo que exercer tutela revogatria.A lei no confere ao rgo competente numa determinada matria o poderrevogaroactoviciadodeincompetnciarelativapraticado nessamatriaporoutrorgo.Julgamosquefazmal,poisdeveria sertambmpossvelaotitulardacompetnciadispositiva,com fundamentonainvasodestapelorgoincompetente,revogaro actoadministrativopraticadoporestergo.Noparecerazovel que apenas lhe assista a possibilidade de recorrer de tal acto. Efeitos Jurdicos da Revogao Osseusefeitosjurdicos,arevogaopodeserdedoistipos: revogao anulatria, retroage, os seus efeitos jurdicos ao momento da prtica do acto revogado, a revogao opera ex tunc; aqui tudo se passa, como se o acto revogado nunca tivesse existido o que, Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 41 consequncia da ilegalidade que originariamente afectava esse acto. E revogao ab-rogatria, aqui respeitam-se os efeitos j produzidos pelo acto inconveniente, apenas cessando, para o futuro, os efeitos que tal acto ainda estivesse em condies de produzir. A revogao s opera ex nunc. A revogao no produz efeitos apenas em relao a quem solicitou, massimemrelaoatodos(ergaomnes),devendo,portanto,os seusefeitosseracatadospeloparticularinteressado,pela Administrao e por terceiros. Ratificao, Reforma e Converso do Acto Administrativo Pertencemcategoriadosactossobreosactos,porissoqueos seusefeitosjurdicossevorepercutirsobreosefeitosdoacto ratificado,reformadoouconvertido,comoe,pornatureza,tais efeitosproduzem-seextunc,isto,retroagemaomomentoda prtica do acto cuja ilegalmente visam sanar. Aratificao(ouratificaosanao),oactoadministrativo peloqualorgocompetentedecidesanarumactoinvlido anteriormente praticado, suprido a ilegalidade que o vicia. Areforma,oactoadministrativopeloqualseconservadeum acto anterior a parte no afectada de ilegalidade. Aconverso,oactoadministrativopeloqualseaproveitamos elementosvlidosdeumactoilegalparacomelessecomporum outro que seja legal. Leituras complementares Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 42 CAETANO,Marcello.ManualdeDireitoAdministrativo-Vol.I. Coimbra. Almedina. 10 edio. 2010. CAUPERS,Joo.IntroduoaoDireitoAdministrativo.Lisboa. ncora Editora. 2000. Para esta matria recomenda-se a leitura das pginas 165 a 205. MACIE,Albano.LiesdeDireitoAdministrativo.Vol.I.Maputo. Escolar Editora. 2012. Obrabastantedidctica,quedenfoquerealidadejurdica moambique.Para esta matria recomenda-se a leitura das pginas 65 a 96. Tambmleraspginas137a183queexplicamosprincpios informadores do Direito Administrativo. LegislaoConstituiodaRepblicadeMoambiqueaprovadana Assembleia da Repblica em 16 de Novembro de 2004. Decreton30/2001de15deOutubro-AprovaasNormasde Funcionamento dos servios da Administrao Pblica. Lein14/2011de10 deAgosto Regula a Formao da Vontade daAdministraoPblica,estabeleceasnormasdedefesados direitos e interesses dos particulares.Lein7/2012,de08deFevereiroAprovaaLeidebaseda Organizao e Funcionamento da Administrao Pblica LOAP. Decreton62/2009,de08deSetembro Aprova o Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionrios e Agentes do Estado. Lein14/2009,de17deMaroAprovaoEstatutoGeraldos Funcionrios e Agentes do Estado. Actividade 1. Defina acto administrativo definitivo e executrio. 3. Qual a estrutura do acto administrativo? 2. O que e em que consiste o vcio de usurpao de poder? Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 43 UNIDADE TEMTICA 2 O CONTRATO ADMINISTRATIVO Elaborado porMateus Jaime Mondlane Objectivos No fim desta unidade, o Estudante dever ser capaz de: Distinguir o Contrato Admnistrativo do Contrato Privado Conhecer as peculiaridades do contrato AdministrativoCompreenderosprincpiosenformadoresdoContrato Administrativo Compreenderoprocedimentodeformaoeexecuodo Contrato Administrativo Distinguir as espcies de Contrato Administrativo ContratosdaAdministraoPblicaeContratos Administrativos NemsempreseadmitiuapossibilidadedeaAdministraoPblica sevincularatravsdecontratos:aligaoentreaactividade administrativapblicaeaideiadeautoridade,compreensvelnuma pocaemestaactividadetinhanaturezaessencialmenteablativa, Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 44 caractersticadaquela.Naturalmentequenumperodovezmais diversificadas,muitasdelasdeprestaoedeconformao,e intensifica o apelo colaborao dos cidados na prossecuo dos interessespblicostendo,porissomesmo,aexibircadavez menososgalesdasuaautoridade-,taisreservasdeixaramde fazer sentido. indispensvel ter presente que, para se poder falar em contrato, essencialqueamanifestaodevontadedeambasaspartesseja condio da respectiva existncia. Se a manifestao de vontade do cidadosomentecondicionaoinciodoprocedimentotendente prticadeumacto(comosucedenosprocedimentosdeiniciativa particular),ouapenascondiodeeficciadeumacto(como sucede,paraamaioriadadoutrina,comainvestiduranumcargo publico,relativamenteaoactodenomeao),encontramo-nos perante comportamentos unilaterais da Administrao e no em face de verdadeiros contratos.OsreconhecimentosdacapacidadedaAdministraoPublicapara se vincular por contrato no implica que se considerasse que esta se vinculavacontratualmenteemtermosidnticosaosparticulares. NasceuentoaideiadequeoscontratosemqueaAdministrao Publicaoutorgavaconstituamnecessariamenteumaespciede contratosdiferentedosoutros,contratostpicosdaAdministrao Publica,contratosadministrativos,enfim(oprincipiodaigualdade daspartespareciadificilmenteconcilivelcomaautoridadeda Administrao).Dosdiversoscritriospropostosparadistinguiroscontratos administrativos dos contratos privados, os mais utilizados foram: a) O critrio da sujeio, assente na ideia de inferioridade do contraente privado; Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 45 b)Ocritriodoobjectivo,combasenoqualseconsidera administrativoaquelequeconstitui,modificaouextingueuma relao jurdica de direito administrativo;c) O critrio estaturio, que entronca na concepo do direito.A LPA definiu contrato administrativo no n. 1 do artigo 176, como acordodevontadespeloqualconstituda,modificadaou extinta uma relao jurdica administrativa. CORREIA, combina o critrio do objecto com critrio estatutrio: O contrato administrativo constitui um processo prprio de agir daAdministraoPblicaquecria,modificaouextingue relaesjurdicas,disciplinadasemtermosespecficosdo sujeitoadministrativo,entrepessoascolectivasda Administrao ou entre a Administrao e os particulares.Note-sequeoLPAnoselimitoudefiniodecontrato administrativo e enumerao das suas espcies mais conhecidas: incluiunoartigo179.umaverdadeiranormadehabilitaoem matria de celebrao de contratos administrativos: a no ser que a leioimpeaouquetalresultedanaturezadasrelaesa estabelecer,ascompetnciasdosrgosdaAdministraoPblica podem ser exercidas por via da outorga de contratos administrativos. UmavezreconhecidaacapacidadedaAdministraoPblicapara contratar, a evoluo no parou, comeando a admitir-se que aquela, paraalmdaoutorgadecontratosadministrativos,tambmse poderiavincularatravsdecontratosdenaturezajurdico-privada, designadamentecontratoscivis,idnticosquelesqueos particularescelebramentresi,regularizadosessencialmentepelo direitociviloupelodireitocomercial(porexemplo,tornarde arrendamento um imvel para nele instalar um servio pblico). Ocontrato administrativoest colocadohojeno mesmo plano do acto administrativo, enquantomeio normaldeexerccio daactividade administrativa pblica Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 46 E,admitidaestapossibilidade,surgiuedesenvolveu-seaideiade queseriavantajososubmeteracontrataoprivadada Administrao Pblica a regras idnticas s aplicveis aos contratos administrativos, nomeadamente no plano da formao do contrato. Caractersticas gerais do Contrato Administrativo Logicamente distintos, mas intimamente ligados na prtica, pem-se dois problemas:porqueindciossereconhecequeumcontratoe administrativo?Desdequeumcontratoadministrativo,porquetraos fundamentais se distingue o seu regime do contrato privado? Critrios do contrato administrativo Noexistequalquercritrioformalquepermitereconhecer primeira vista o contrato administrativo. Em presena de um contrato celebradopelaAdministrao,porexemplo:deumacomprade paraleleppedosdestinadosareparaodeumaviapblica, podemoshesitar,aprimeiravistasobreocaractercivilou administrativodocontrato:compraevendaregidapelocdigocivil, oucontratodefornecimento?Consoanteseopteporumououtro sentido,oregimedocontrato,querdizer,osdireitoseobrigaes dasparteseacompetnciaparadelesconhecer,sercivilou administrativo. Emcertoscasosostextosresolvemexpressamenteaquesto; atribuem a competncia administrativa que implica a aplicao das regrasprpriasdoscontratosadministrativosumacertacategoria de contratos n 2 doa artigo 176 da LPA. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 47 Mas,paraalmdoscontratosadministrativospordeterminaoda lei,foiajurisprudnciaquetevederesolveroproblemaedefinir critriosdanaturezadoscritriosdoscontratospornatureza.As solues que ela desenvolveu ligam-se a trs elementos: 1Aspartesdocontrato:umcontratos administrativose uma das partes for uma pessoa colectiva de direito pblico. 2Oobjetivodocontrato:administrativotodoocontratocujo objecto se liga prpria execuo do servio pblico. 3Asclusulasdocontrato:quandoumcontratonotempor objectoconfiaraexecuodoservioaumparticular,s administrativo se contiver uma clusula exorbitante do direito comum. precisocompreenderbemqueestesdoiselementosso alternativos:umcontratocelebradoporumapessoapblica administrativodesdequerespondaprimeiraousegundadas condies indicadas. A aplicao destes critrios nunca foi fcil. Mas nestes ltimos anos ajurisprudnciaintroduziuexcepesematizesquelevamcertos autoresapremcausaosseusprprioscritrios.Noentanto continuam a ser a base do direito positivo, e a partir deles que se pode compreender a sua evoluo.Aspartesdocontrato.Seumcontratocelebradoentresdois particulares, certo salvo raras excepes que no se trata de um contrato administrativo. Seumadaspartespessoapblica(sendoaoutraoupessoa privadaoupessoapblica),ocontratopodeseradministrativose paraalmdissoapresentarumadasduascaractersticasaseguir analisadas. A condio relativa s partes pois necessria, mas no suficiente. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 48 O objecto do contrato:a prpria execuo do servio pblico. A doutrina, interpretando certas frmulas jurisprudncias, pensou durante algum tempo poder afirmar que um contrato administrativo quandotemporobjectoajudaraofuncionamentodeumservio pblico. A frmula era inexacta: com efeito, os contratos de servios industriaisecomerciais,sebemquetenhamporobjectoo funcionamentodeserviospblicos,sonormalmentecontratosde direitoprivado;osprpriosserviosadministrativospodemcelebrar tais contratos. Nestecasoocontratotocaacompetnciaadministrativa,eos princpiosgeraisdoscontratosadministrativosaplicam-ses relaesentreaspartes,semquesejaprecisointerrogarmo-nos sobre a existncia no contrato de clusulas exorbitantes.As clusulas do contrato: a clusula exorbitante. Fora dos casos de participao na prpria execuo de servio, um contrato, mesmo que tenha por objecto um servio pblico, s administrativo seaspartestiveremmanifestadovontadedesesubtraremao direito civil, adoptando clusulas que se afastam dele. Neste caso a clusula exorbitante ou derrogatria do direito comum que constitui pois o critrio decisivo do contrato administrativo. Mas quando que a clusula derrogatria? difcil responder com segurana, dado que o direito civil consagra o princpio da liberdade contratual,autorizandoaspartesaadoptarasclusulasmais variadas.Socertamentederrogatriasasclusulasqueexcedem essaliberdadeequeporissomesmosoinsusceptveisdefigurar num contrato entre particulares, por contrrias ordem pblica. Por vezes consideram-se como tais as que, na prtica, no so normais nasrelaesprivadas,porquerespondemapreocupaesde interesse geral, estranhas aos particulares. Osprincpiosqueacabamosdeindicarcomportamnoentantouma excepo:oscontratoscelebradospelosserviospblicos Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 49 industriaisecomerciaiscomosseusutentessoconsiderados contratosdedireitoprivado,mesmoquecontenhamclusulas exorbitantes, e esto subordinados competncia jurdica.Pela relevncia desta matria apresentamos uma transcrio de um textodeGuibunda(2012:25-34)extradodaobra-Dvidasem Direito Administrativo. Alcance Editores. 1 ed. Maputo. 2012: A FIGURA DO CONTRATO NA ADMINISTRACAO PBLICA2 Nodomnioterico,umaspectoquereteveaminhaateno,ao longo do meu magistrio e deve ser particularmente explicado, tem a vercomofactodeosdiscentesexacerbaremocarcterdas clusulasexorbitantes,aopontodeequipararemumcontrato administrativocomumcontratodeadeso,ondeocontraente privado no tem mais do que a liberdade de contratar ou no. verdadequeafiguradocontratoadministrativocaracterizada, dentreoutros,porumconjuntodospoderesderrogatrios (consubstanciadores das chamadas clusulas exorbitantes) que, em defesa do interesse pblico prosseguido, a Administrao deve deter, masnosedeveconsiderar,nemseesta,efectivamente,perante umcontratoemqueocontraenteprivadocarecedeliberdade contratual e de estipulao. Comefeito,aolongodetodooprocessodeformaodemtuo consenso, o particular tem formas de manifestar a sua vontade e de negociar o contedo do contrato nos seus mais diversos aspectos. assimquedepoisdeaAdministraoanunciaraintenodese vincularcontratualmenteelanofazpropostasdecontrato,mas recebe-as dos concorrentes. 2 Guibunda, Janurio Fernando. Dvidas em Direito Administrativo. Alcance Editores. 1 ed.Maputo. 2012. Pg 25-34 Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 50 Oconcurso(principalviadebuscadocontraenteparticulare pressuposto-regraparaacelebraodecontratosadministrativos, deacordocomoartigo180,infineoprocessoresultantedo convite,feitoaopublicoouquelesquerenamdeterminados requisitos,paraapresentaodepropostasdecontratoem regime de concorrncia e de modo a permitir Administrao a escolha do proponente que lhe convier. verdade que o concurso, geralmente, aberto para a formao de umcontratocujasclusulasobedecemaumapautapreviamente fornecidapelaAdministraoaosconcorrentes,atravsdocaderno deencargosedoprogramadeconcurso,masestestemcomo finalidadetosomentesimplificareorientaraorganizaodos preliminaresdocontrato.Apropostaapresentadapeloconcorrente serve, pois, para, em primeiro lugar, demostrar adeso do particular todo o contedo do caderno e, em segundo lugar, para preencher os seus vazios, particularmente, mo que ao preo diz respeito. AAdministraoPblica,porseuturno,nesteprocesso,conhece algumas restries estabelecidas por princpios, leis e regulamentos, a tal ponto que, mesmo quando se tenha optado pelo ajuste directo paraadjudicaoarespectivadeciso,muitasvezes,talnoretira nem significa a inexistncia de liberdade contratual, quer da parte do particular, quer da Administrao. Deve-se,assim,explicarquenocontratoadministrativoest plasmadooprincpiodaliberdadecontratual,oquetem,porm,a particularidade de, derivado do interesse pblico que lhe subjaz, nele a Administrao deter alguns poderes que extravasam o comum das regrascontratuaisaceitesemdireitoprivado,poderesesses consubstanciadoresdaschamadasclusulasexorbitantes,quando expressonocontrato.Mas,nodemais,est-seperanteum verdadeiro contrato. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 51 sclusulasepoderesexorbitantesdetidospelaAdministraono contratoadministrativo,comoemtodaarelaojurdico-administrativa,contrape-seumsistemadegarantiasdos particulares,quesalvaguardaosseusdireitoseinteressesfacea violaes ou ameaas de violao provindas da Administrao. Doutraforma,eseelas(asclusulasexorbitantes)significassem vantagensepoderesapenasparaumadaspartesoPoderPublico jamais encontraria com quem contratar. Resumindo:ointeressepblicovertidoesubjacenteaocontrato administrativo ano elimina a vontade do particular nem coarcta a sua liberdade contratual. Srvulo Correia, a este propsito, escreveu que:asmanifestaes daliberdadecontratualpodemresumir-senaliberdadede celebrao a liberdade de contratar ou de no contratar isto ,oreconhecimentopelaOrdemjurdicadequequemquiser contratarpodefaz-loedequemnoquiseraissoser obrigado nem ser sancionado por forca de uma recusa. Continuandocomexplicao,refereesteinsignemestreque:A liberdadedecelebraosignifica,emprimeirolugar,opoder genricodaspessoasderecorreremaoinstitutocontratual comomeioderegulamentaodeinteressesatravsda produo acordada de efeitos de direito. Amaterializaodaqueleconceito,emtermosprticos,implicaas seguintesfaculdades:porumlado,adeformulaodepropostas contratuais,processoqueseresume,nocasoconcretodeum contratodeempreitadadeobraspblicas precedidoeconcurso, no preenchimentodoconjuntodequesitoslanadopelocadernode encargosenaapresentaodeumapropostadepreo;poroutro, significaafaculdadedeescolherapessoadecontraenteeade aderir s referidas propostas contratuais. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 52 verdadeque,seatendermosaqueamassificaodas operaeseconmicastrouxeconsigo,nosnossostempos,uma estandardizao dos contratos, transformados, boa parte das vezes, emcontratosdeadesoouemcontratosmaioritariamente integradosporclusulascontratuaisgerais,quemanifestamuma tendnciaparaauniformizaoeageneralizaodocontedodos negciosjurdicosbilaterais,normalmenteembeneficiodaparte maisforte,podemos,facilmente,entenderqueestaliberdade contratualacha-semuitoprximodaliberdadedeaderiramuitas propostas contratuais.Verifica-se no dia a dia que, praticamente, j no se minuta qualquer contrato, mas preenche-se apenas alguns campos de um formulrio previamente concebido, e assina-se. Mas, tal como explicamos atrs, isto no significa a ausncia de liberdade contratual. Soganhosdeumaevoluoeconmicaedeprticasnomundo dos negcios. O Direito Contratual, de uma forma geral, ganhou, nos ltimos tempos, formulas consubstanciadoras de uma praxis comum eatinternacionalmenteaceite.Lembre-sequeemtermosdos grandesnegciospblicos,hojerecorre-secomfrequnciaa concursos internacionais. Variassoasrazesparaessefacto,indodesdeabuscadas verdadeirascapacidadesevantagenscomparativasforadoslimites nacionais,atobservnciadoscondicionalismosimpostospelos financiadores.Estaparticularidade,emdeterminadosquadrantes, temavercomrazesdeordemcomunitria,noutros,atende simplesexignciadosorganismosenvolvidosnoprocessode financiamento. Poroutrolado,aagressividadedaconcorrncia,nosdiversos domnios, tende a estabelecer bitolas comuns, em termos de preos e outras condies contratuais. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 53 Vemestaincursoapropsitoofactodetransparecerquetodoo contratoadministrativoumaespciedecontratodeadeso,em queoenteprivadoestadestitudodeliberdadededeterminaro clausuladocontratualeacha-se,emtudo,submissovontade soberana da Administrao. verdadequeasclusulasexorbitantes(caractersticasdestetipo decontratos)abalamou,pelomenos,tmavirtudedebulircoma estabilidade contratual, mas esse carcter estabilizador, muito longe de significar que o entre privado no contrata livremente, representa a principal garantia do interesse pblico, que, em ultima anlise, e de forma remota e reflexa, tambm do contraente privado. porissoquesefalanoprincpiodacolaboraoqueabrange, particularmente,oenteprivado.Ele(contraenteprivado)est adstritocolaboraoparacomaAdministrao,colaboraoque semanifestanaaceitaodosefeitosdasclusulasexorbitantese no acompanhar da mutabilidade do interesse publico. Contudo,ambasaspartes(publicaeprivada)conhecemalgumas restries,narelaocontratualpublica.Opropsitopoderde rescisounilateraldetidopeloentepblicoumpodervinculado, como vermos mais adiante. Soapontados,talcomotivemosaoportunidadedereferiralguns emnotaderodap,doisprincpiosfundamentaisquesuportamo regime jurdico exorbitante do contrato administrativo: - princpio do consensualismo; - princpio da prossecuo do interesse pblico. De acordo com o princpio do consensualismo. O contrato, que seja administrativo ou civil ele sempre a expresso da inteno comum daspartes,dondedecorrequeocontedodasobrigaeseelas Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 54 adstritasdeveserdeterminadoemfunodavontadeporestas manifestada no momento d celebrao do contrato. Porseuturno,doprincpiodaprossecuodointeressepblico resultamtrstraosessnciasdoregimejurdicodocontrato administrativo: a mutabilidade do contrato administrativo; aposiodocontraenteparticularcomocolaboradorda Administrao; oexercciopelaentidadepublicadeprerrogativasde autoridade. esteoprincpiodaprossecuodointeressepblicoque responsvelpelocarcteressencialmenteflexveldocontrato administrativo,emcontrastecomamaiorrigidezqueencontramos nos contratos privados, alicerados no princpio pacta sunt servada. AcolaboraodoenteprivadocomaAdministrao,comoj tivemosdeafirm-loatrs,consubstancia-senasuavinculao mutabilidadedocontrato,oparticularcomprometer-se-ia inevitavelmenteaacompanharasprpriasalteraesdointeresse pblico, adaptando as suas prestaes s novas exigncias.Contudo,earematar,reiteramosqueoumcontratoadministrativo, apesardetodasasnuancesatrsapontadas,,paratodosos efeitos,umcontrato,ondeaautonomiadavontadeeliberdade contratualdosrespectivoscontraentesneleestoinelutavelmente presentes. Aindanodomniodoscontratosadministrativos,mereceaquia nossa ateno particular a problemtica atinente ao efectivo recurso aocontedodasclusulasexorbitantesearazoabilidadedetal recurso, pela Administrao Pblica, em caso de desinteligncias na execuo. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 55 Perante um caso pratico com este teor: EntreoMinistriodaEducaoeCETA,Obrasde Engenharia,foifirmadoumcontratodeempreitadadeobras pblicas para a construo de dois mdulos de salas de aulas, na Escola Secundaria 25 de Junho. As obras decorrem desde Janeiro do corrente ano. DehquatrosemanasaestapartequeaCETAnotem estado a observar os padres de qualidade acordados nem o calendrioestabelecido, factonotificado eestaempresapelo dono da obra, atravs do fiscal. Noentanto,atpresentedata,oempreiteiroaindano tomounenhumamediadatendenteasanaroseu incumprimento. OMinistriodaEducaosolicitouosseusprstimos,como advogado que . Digaasmediadasqueaconselhariaoseucliente(Ministrio daEducao)atomar,umapercentagem consideravelmentealtadosexaminadosrespondeuque aconselharia oMinistriodaEducaoarescindir,atitulo de sano, o contrato de empreitada. Ora,sebemquesejaverdadequearescisoconstituiuumadas possveis, dentro da panplia das consubstanciadoras das clusulas exorbitantes, parece-nos excessivo aplica-la como a primeira, numa situaocomoesta,emqueoenunciadolacnicoquanto verdadeiraexpresso,circunstncias,dimensoerepercussesdo alegado incumprimento.Pelasuanatureza,arescisoummedidaextrema.Marcello Caetano,aestepropsito,referequeopoderdeaplicar vinculado,devendofundar-seemgravesfaltasdecumprimentodo Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 56 pactuadosusceptveisdeproduzirdanosapreciveispara Administrao.ParaDiogoFreitasdeAmaral,Arescisodo contrato, a ttulo de sano, mais severa e mais grave sano em queocontratantepodeincorrereacrescenta,queVerifica-se quandoocontraenteparticularnocumpre,ounocumpre plenamente,deformaculposa,assuasobrigaespormodoa determinargraveprejuzoparaoserviopblico.Vemosaquium conjuntoderequisitosparaaadopodestamedida:(i)ono cumprimento;(ii)aculpae(iii)asusceptibilidadedeacusarum grave prejuzo para o servio pblico, e ns acrescentamos a estes requisitos a constituio do contraente faltoso em mora. ParaPedroGonalves,eladeveserconsiderada,nocatlogodas sanesdisponveis,umasanoexcepcional,quedeveser aplicada como ultima ratio. Uma violao menos grave, no dizer de DiogoFreitasdoAmaral,dar,emprincpio,lugaramultas contratuais. Aestepropsito,MariaJooEstorninhoadiantaqueafuno principaldasanonoscontratosadministrativosno,nemade reprimirasviolaescontratuaisnemadecompensara Administraopelosprejuzossofridos,massimdeobrigaro particularacumpriraprestaoaqueestadstritoe,destaforma, assegurar a razo pela qual se tem entendido serem insuficientes as sanes tpicas do direito privado. Estaafirmaosvemconfirmaranaturezaextremadarescisoe assimjustificaroseurecursotambmemcasodeextrema necessidade,eapenasquandoafastaapossibilidade(til)da manuteno do contrato.Nostermosdon.1doartigo174.doRegimedeEmpreitadasde ObrasPblicas,aprovadopeloDecreto-Lein.48871,de8de Fevereirode1969,Quandoafiscalizaoreconheaquenaobra existemdefeitosdeexecuoouquenelaforamobservadasas Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 57 condiesdocontrato,lavrarautoaverificarofactoenotificaro empreiteiro para, dentro do prazo razovel, que lhe ser consignado, remediarosdefeitosdaobra,notificaodaqualoempreiteiro poderreclamar,nostermosecomosfundamentosdescritosno numero 4 deste artigo. Porsuavez,oartigo175.dodiplomaquetemosvindoareferir estabelecequeSeoempreiteironoconcluiraobranoprazo contratualmenteestabelecido,acrescidodeprorrogaesgraciosas ou legais, ser-lhe- aplicada, at ao fim dos trabalhos ou resciso docontrato,aseguintemultadiria,seoutranoforfixadano caderno de encargos:a.1pormildovalordaadjudicao,noprimeiroperodo correspondente a um dcimo do referido prazo; b.Emcadaperodosubsequentedeigualdurao,amulta sofrer um aumento de 0,5 por mil at atingir o mximo de 5 por mil. Vemos, nestes dois preceitos, dois aspectos importantes: o primeiro, aconstituioemmoradocontratantefaltoso,aointerpel-loe fixar-lhe um prazo para remediar os defeitos da obra; o segundo, o gradualismodaprpriamulta,dentrodaestruturadopreceitolegal queaconstitui,tudoistodireccionado,fundamentalmente,a compelirocontraentefaltosoaocumprimentodassuasobrigaes contratuais. Destemodo,odocente,nassuasprelecesouaoorientaros seminrios,deveenfatizarestegradualismodassaneseo carcter reparador referido por Maria Joo Estorninho. Reparador no sentidodeumaespciedeexecuoforada.que,mesmoesta execuoforada,nostermosdoartigo186daLPA,spodeser prosseguidaatravsdoTribunalAdministrativoedostribunais, exceptodispositivolegalemcontrrio.Deve,poroutrolado,fazer veraosdiscentesquearescisoacarretaconsequnciasgravosas Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 58 paraambasaspartesdocontrato,edelassedevelanarmo comvistaaevitarmalesmaioresdoqueosjproduzidospela dificuldadeouimpossibilidadedecumprimentodopacto,porparte do empreiteiro. Assanesdevemfazerpartedoclausuladocontratual,esempre que possvel, acompanhadas das circunstncias que lhes do lugar. Veja-seocasodoContratodConcessodeEstradasePontes, disciplinado pelo Regime aprovado pelo Decreto n.31/96, de Julho alnea H) do artigo 18. Este diploma estabelece, no seu atrigo 42, que: 1.Emcasodeincumprimento,porpartedasociedade concessionaria,dasobrigaesquelhesoimpostaspelocontrato deconcesso,oMinistrodasObrasPblicaseHabitaopoder rescindiroreferidocontratodeconcessopelosfundamentos seguintes; a)Abandonodaconstruo,conservaoouexplorao da concesso; b)Nocumprimentodeobrigaesassumidasapsa explicao da multa, nos termos prescritos no contrato de concesso; c)Subconcessooutrepassedaconcesso,notodoou em parte, ano precedia de autorizao; d)Faltadeprestaodacauonoprazoquefor estipulado no contrato de concesso; e)DesobedinciareiteradasdeterminaesdoMinistro daObrasPublicasehabitaooudaautoridade nacionaldeestradascomprejuzoouatrasoparaa execuo ou explorao do empreendimento. Peloelencodecircunstnciasquepodemdarlugarrescisoa ttulodesano,acimatranscritas,apercebemo-nosdocarcter extremoegravosadestamedida,porumlado,edocarcter vinculadoaqueAdministraoestsujeita(entenda-sevinculada), para tomar uma tal deciso. Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 59 Analisandocadaumdosrequisitosoupressupostos,apercebemo-nos de que: Ascircunstnciasdaalneaa)mostram,claramente,ainviabilidade da prossecuo do contrato. Com efeito, o concessionrio demitiu-se, literalmente,dassuasobrigaescontratuais,violandoocontrato em toda a sua extenso e objectivos. Nocasodaalneab)oconcessionrioporfianoincumprimento, mesmodepoisdelhehaversidoaplicadaumasanomaisleve, dandomostrasclarasdequecontraentefaltosoaoprincpiodo pacta sunt servanda. Acircunstnciareferidanaalneac)consubstanciaainobservncia deumadascaractersticasdocontratoadministrativo:oscontratos administrativossocontratosintuitopersonae,ouseja,atendems qualidadesdapessoaouentidadescontraenteprivado,aquem estvedadaafaculdadedetrespassarocontratosemo consentimentodocontraentepblico.Aserlivrementeaceiteeste trespasse,desnaturar-se-iatodo ocarcter pessoal,oupelomenos selectivoeelectivoquesepretendeucomoconcurso.Todaa transparnciaeasalvaguardadaigualdadedosconcorrentesque justificaram o concurso perderiam qualquer utilidade e sentido. Afaltadeprestaodacauonaformaestabelecidanocontrato viola, em primeiro lugar, uma prescrio legal, alnea g) do artigo 18 do decreto que temos vindo a analisar, e, em segundo lugar, violar, obviamente,umaclusulacontratual.Acauoumelementoque emprestaseriedadepropostacontratual,significandoqueelavai ser mantida e cumprida. Ela constitui a garantia do exacto e pontual cumprimento das obrigaes assumidas. importante que o estudante saiba que a interpelao, em qualquer contrato, deve ser privilegiada, como forma de constituir o contraente faltosoemmora,ouseja,chamaraatenodomesmo,com Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 60 carctervinculativo,dasuasituaodeinadimplente,para,em consequncia, corrigir o seu comportamento, em prol do reequilbrio enormalidadepactual.Tambmintuitivoqueaaplicaodas penasterqueserconsentneacomagravidadedaviolaoem presena e o recurso s penas geradoras de ruptura do acordo deve ser considerada em casos extremos. Concluindo:aaplicaodaspenas,numcontrato administrativo, dever atender: a) gravidade de violao; b)Aocomportamentodoinfractor,nasequnciada interpelao c) repercusso das consequncias; d)Aopactuadocontratualmentequandossanes aplicveis; e)Ao estabelecido na lei. Finalizando,diremosqueopoderdeaplicarsanesdetidopela Administraonodeveserusadocomoumameraformade demostraodeforca,mas,emprimeirolugar,comomedidade persuaso para que o contraente faltoso cumpra as suas obrigaes contratuaise,emgeral,comoinstrumentodesalvaguardado interesse pblico subjacente ao contrato. O regime do contrato administrativo Traosgerais.Oregimedoscontratosadministrativos,talcomo decorrequerdasclusulasexorbitantes,querdasregras estabelecidaspelostextosoupelajurisprudncia,recebecertos traosdedireitoprivado,porexemplonoquetocaacondiesde validadedocontrato.Masdistingue-sedelemaisemdoissentidos essenciais.Cincias Jurdicas Direito Administrativo II Semestre 4Escola Superior Aberta/A Politcnica Ensino Distncia 61 1Ocontratoprivadoresultadoencontrodeduasvontades juridicamenteiguais;eessaigualdademanifesta-senaformaoe na execuo do contrato. Nocontratoadministrativo,pelocontrrio,apessoapblicautiliza umcertonmerodeprerrogativasligadasaoprimadodointeresse geralquetemsuacura,equeacolocam,relativamenteaoseu contraente,emposiodesuperioridade.Opoderpblico,quese afirmanadecisoexecutria,reaparecenoseiodoprocedimento contratual;certoquehacordodevontades,masnumabasede desigualdade jurdica. 2. O contrato privado pe em contacto duas vontades autnomas, comliberdade,noquadrodalei,deescolheremosfinseas modalidades do seu acordo. Ora a vontade da Administrao nunca inteiramente livre; o interesse geral impe sua actividade limites a que a vontade privada no est sujeita; numerosas regras prprias docontratoadministrativotmporfinalidadeestabeleceressas limitaes liberdade contratual da Administrao. Oregimedoscontratosadministrativosafasta-sepoisdodireito comumdoscontratos,tantopelasprerrogativasqueconsagraem benefciodaAdministrao,comopelassujeiesquelheimpe, encontrandoapenasumaseoutrasoseuprincpionointeresse geral.Ocontenciosodoscontratosadministrativos.Pertence competnciadojuizadministrativonormalmente,dostribunais administrativostantonoquerespeitavalidadeeinterpretao docontratocomosuaexecuo;constituiumadaspeas essenciais do poder no tem aplicao nesta matria, com ressalva da teoria chamada do acto destacvel.

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