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28 GALILEU ESPECIAL VESTIBULAR 2009 NOVO CONFLITO COM O GRUPO RADICAL HAMAS PõE EM XEQUE A POSSIBILIDADE DE UM ACORDO DE PAZ NA FAIXA DE GAZA GUERRA SEMFIM aprovou uma proposta de cessar- fogo, que logo foi rejeitada pelos dois lados. O Hamas, grupo extre- mista que governa Gaza, afirmou que a resolução não atendia aos interesses do povo palestino. E o governo israelense afirmou que a ofensiva continuaria até que o Exército completasse sua missão. O governo israelense buscou transformar uma vitória militar (previsível, dada a diferença de for- ças) em um novo e imponente obs- táculo para a paz.“Há muitos anos o governo de Israel acredita que será capaz de jogar a população palestina contra seus líderes. Jamais conseguiu”, diz o historia- dor israelense Tom Segev. Foi por isso que, ante a vitória do Hamas nas eleições municipais de 2006 e a posterior expulsão do grupo rival, Fatah, com quem Israel mantém negociações de paz, o go- verno israelense optou por reforçar o bloqueio a Gaza, enquanto dei- xava a economia da Cisjordânia (a outra parte dos territórios pales- tinos) prosperar, com crescimento de 10% ao ano. A ideia era que, com menos roupas, frutas e até água, os palestinos deixariam de apoiar o Hamas. Só conseguiu au- mentar o ódio contra Israel. A ofensiva israelense, que teve início em 27 de dezembro, termi- nou oficialmente no dia 21 de ja- neiro, logo após a posse do presi- dente americano Barack Obama. Com a ajuda do Egito, um novo acordo de paz foi firmado. Ficou definido que as agressões mútuas seriam suspensas por um ano, com possibilidade de renovação por mais um — tempo conside- rado suficiente para que se elabo- re um plano mais consistente para a pacificação da Palestina. O governo israelense não gosta da ideia de uma trégua com data marcada nem vê no Hamas um compromisso efetivo em parar de receber armas contrabandeadas lançamento de 3.484 foguetes contra Israel desde a desocupação da Faixa de Gaza pelas tropas israelenses, em agosto de 2005, parecia prenunciar com clareza uma resposta dura. E Israel não poupou esforços: bom- bardeou seus alvos não só com ataques aéreos, mas armou uma ofensiva por terra em Gaza em re- taliação aos ataques palestinos. O conflito, que se estendeu por 22 dias e causou a morte de cerca de 1.300 palestinos — entre eles 700 civis —, mostra o quão difícil é firmar um cessar-fogo duradouro na região e indica que um acordo de paz entre israelenses e palesti- nos é cada vez mais uma utopia. Os ataques israelenses serviram não apenas como resposta aos fo- guetes que estavam sendo lançados pelos palestinos a seu território, mas também como uma demons- tração de força de seu Exército e, principalmente, para reduzir a ca- pacidade militar do Hamas, acer- tando prédios e construções do grupo político palestino. Para tentar conter os conflitos, o Conselho de Segurança da ONU ISRAEL MUNDO O DESTRUIÇÃO Ataques à Faixa de Gaza mataram 1.300 palestinos e adiaram a possibilidade de trégua na região

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Page 1: Guerrasemfim - Galileugalileu.globo.com/vestibular2009_2/pdfs/02.pdf · Entre 600 e 800 mil palestinos foram expulsos de suas casas. Em 1967, os países de origem árabe (Egito, Síria

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Novo coNflito com o Grupo radical Hamaspõe em xeque a possibilidade de um acordode paz Na faixa de Gaza

Guerrasemfim

aprovou uma proposta de cessar-fogo, que logo foi rejeitada pelosdois lados. O Hamas, grupo extre-mista que governa Gaza, afirmouque a resolução não atendia aosinteresses do povo palestino. E ogoverno israelense afirmou que aofensiva continuaria até que oExército completasse sua missão.

O governo israelense buscoutransformar uma vitória militar(previsível, dada a diferença de for-ças) em um novo e imponente obs-táculo para a paz.“Há muitos anoso governo de Israel acredita queserá capaz de jogar a populaçãopalestina contra seus líderes.Jamais conseguiu”, diz o historia-dor israelense Tom Segev.

Foi por isso que, ante a vitóriado Hamas nas eleições municipaisde 2006 e a posterior expulsão dogrupo rival, Fatah, com quem Israelmantém negociações de paz, o go-verno israelense optou por reforçaro bloqueio a Gaza, enquanto dei-xava a economia da Cisjordânia (aoutra parte dos territórios pales-tinos) prosperar, com crescimentode 10% ao ano. A ideia era que,com menos roupas, frutas e atéágua, os palestinos deixariam deapoiar o Hamas. Só conseguiu au-mentar o ódio contra Israel.

A ofensiva israelense, que teveinício em 27 de dezembro, termi-nou oficialmente no dia 21 de ja-neiro, logo após a posse do presi-dente americano Barack Obama.

Com a ajuda do Egito, um novoacordo de paz foi firmado. Ficoudefinido que as agressões mútuasseriam suspensas por um ano,com possibilidade de renovaçãopor mais um — tempo conside-rado suficiente para que se elabo-re um plano mais consistentepara a pacificação da Palestina. Ogoverno israelense não gosta daideia de uma trégua com datamarcada nem vê no Hamas umcompromisso efetivo em parar dereceber armas contrabandeadas

lançamento de 3.484foguetes contra Israeldesde a desocupaçãoda Faixa de Gaza pelastropas israelenses, em

agosto de 2005, parecia prenunciarcom clareza uma resposta dura. EIsrael não poupou esforços: bom-bardeou seus alvos não só comataques aéreos, mas armou umaofensiva por terra em Gaza em re-taliação aos ataques palestinos. Oconflito, que se estendeu por 22dias e causou a morte de cerca de1.300 palestinos — entre eles 700civis —, mostra o quão difícil é

firmar um cessar-fogo duradourona região e indica que um acordode paz entre israelenses e palesti-nos é cada vez mais uma utopia.

Os ataques israelenses serviramnão apenas como resposta aos fo-guetes que estavam sendo lançadospelos palestinos a seu território,mas também como uma demons-tração de força de seu Exército e,principalmente, para reduzir a ca-pacidade militar do Hamas, acer-tando prédios e construções dogrupo político palestino.

Para tentar conter os conflitos,o Conselho de Segurança da ONU

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DESTRUIÇÃOataques à faixa deGaza mataram 1.300palestinos e adiarama possibilidade detrégua na região

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Tom Segev, histo-riador, é especializado noconflito entre árabes eisraelenses. Com acessoaos documentos oficiaisde Israel, construiu umaobra polêmica sobre ahistória do país.

Como avaliar as mortes decivis em Gaza?Tom Segev – Elas nãoprecisavam ter ocorrido.É claro que o Exércitoisraelense não enviou umtanque para atacar umaescola de crianças. Mas,quando você resolve levara guerra para dentro deuma cidade superpopulo-sa como Gaza, já sabe queisso poderá acontecer.

É possível negociar como Hamas?Segev – Acho que deve-mos negociar, emboraestejamos falando depessoas que não sãoboas nem confiáveis. Elasnão consideram a vidahumana como o principalvalor. Pensam que Deus ea sua ideologia são maisimportantes. Por essarazão, conseguem enviarum garoto de 15 anospara explodir bombas nocentro de Tel Aviv e matarpessoas. O Hamas écapaz de esconder mísseisnas áreas residenciais dascidades, o que é uma ma-neira de forçar a popula-ção a aderir à luta armada.Mesmo assim, a negocia-ção é a única saída.

2 perguntas

conheça os principaisfatos Do embate entreisraelenses e palestinos:

Após a Segunda GuerraMundial, os judeus tomamparte da Palestina e criam em1948 o Estado de Israel. Atomada do território obrigaos palestinos que moravamlá a se refugiar na Cisjordâniae na Faixa de Gaza. Entre600 e 800 mil palestinosforam expulsos de suas casas.

Em 1967, os países deorigem árabe (Egito, Síria eJordânia) entram em guerracom Israel, por não aceitarema existência do país. O episó-dio, conhecido como Guerrados Seis Dias, terminoucom a vitória de Israel, queconquistou a Faixa de Gaza, aCisjordânia e a zona orientalde Jerusalém. Cerca de 800pessoas foram mortas.

Em 1987, os palestinosorganizam um levante contraa ocupação de Israel em Gazae na Cisjordânia. O movimen-to, chamado de primeira In-tifada, estendeu-se até 1993.Durante a revolta, é criado oHamas, grupo radical políticoe militar que luta pela criaçãode um Estado palestino.

Em 2005, após acordointernacional, Israel retiraseus colonos e tropas deGaza, mas mantém o controledas fronteiras. Dois anosdepois, o grupo islâmicoHamas ganha as eleições epassa a governar o território.Também em 2007, Israel eEgito impõem um bloqueioeconômico à região, por nãoaceitarem a vitória do Hamas.

60 anoSde confliTo

vÁ fundo

para ler• Israel e a Palestina, Gilberto Dupas. unesp• Israel, fábio bourbon. manole

para navegar• www.galileu.globo.com/vestibular2009

por meio de túneis clandestinos— a fonte dos foguetes que ater-rorizam as cidades perto da fron-teira com Gaza. Já o grupo pales-tino discordou da proposta egíp-cia no que se referia à retomadado diálogo com o Fatah, partidosecular que governa a Cisjordâniae que foi expulso de Gaza em2007. O Hamas defende a instau-ração de um regime islâmico emtoda a região — seu projeto incluia destruição do Estado de Israel.

Desde 1947, a comunidade inter-nacional propõe a solução de doisEstados na região, um para os ára-bes e outro para os judeus. Era es-se o teor da resolução da ONU queos árabes não aceitaram e que, apósuma guerra, levou à criação doEstado de Israel, em 1948. Com oacordo de Oslo, 45 anos depois, osdois lados pareciam ter finalmen-te rompido o impasse. Foi esseacordo que estabeleceu a adminis-tração da Autoridade Palestinasobre Gaza e a Cisjordânia. Logoficou claro que, se as negociaçõesentre os dois lados é difícil, as di-visões dentro de cada lado sãoainda mais complicadas.

Existe outra proposta: um Estadoúnico para judeus e palestinos, ad-ministrado por um governo secu-lar. “Se este modelo persistir, osterritórios palestinos vão virarguetos, e o sentimento de segrega-ção aumentará”, diz Naseer Aruri,do Instituto de Pesquisas Trans-Árabes. O problema é que emborao quadro final pareça ideal, é difícilimaginar as etapas que levariamaté ele sem que antes seja derra-mado muito sangue.

Da revista Época

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